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1 UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E O IMPACTO NA ECONOMIA ANDRÉ ALEXANDRE MAES PROFESSOR ORIENTADOR: LUCIANO MORAES COELHO Joinville – SC 2008

DISTRIBUICAO DE RENDA

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UNIVERSIDADE DA REGIÃO DE JOINVILLE – UNIVILLE

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E O IMPACTO NA

ECONOMIA

ANDRÉ ALEXANDRE MAES

PROFESSOR ORIENTADOR: LUCIANO MORAES COELHO

Joinville – SC

2008

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ANDRÉ ALEXANDRE MAES

A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E O IMPACTO NA

ECONOMIA

Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas da Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE) como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Ciências Econômicas, sob orientação do professor Luciano Moraes Coelho.

Joinville - SC

2008

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TERMO DE APROVAÇÃO

O aluno André Alexandre Maes, regularmente matriculado no 4º ano do curso de

Ciências Econômicas, apresentou e defendeu a Monografia, obtendo da Banca

Examinadora a média final ______ (___________________________), tendo sido

considerado aprovado.

Joinville,_____de_____________________de 2008.

_________________ __________________ ____________________

Prof. (A) Prof. (B) Orientador Específico

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AGRADECIMENTOS

Aos professores que fizeram parte de minha vida nesses quatro anos dentro

do universo acadêmico. Também aos colegas que estiveram juntos nessa

caminhada pela busca do conhecimento.

Aos meus amigos, que estiveram ao meu lado em vários momentos,

colaborando para um melhor entendimento da vida e da sociedade.

Aos meus familiares que sempre me incentivaram em todos os momentos

difíceis a fim de que eu pudesse superá-los.

À minha grande e amada esposa e ao meu filho que estiveram sempre ao

meu lado.

Meu agradecimento também ao professor e orientador Luciano Moraes

Coelho que me auxiliou indicando materiais e obras necessárias para o

desenvolvimento de meu trabalho.

Em especial, meu agradecimento a DEUS que sempre esteve presente em

minha vida, caminhando comigo em busca do conhecimento, dando-me clareza,

força e entendimento para superar os obstáculos e fazer de mim um ser humano

melhor.

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Participação Regional na Renda do País – 1970 (em %)......................25

TABELA 2 - Indicadores de Desigualdade de Renda – Brasil, 1992/1999 – ( %) .....27

TABELA 3 - Indicadores de Desigualdade de Renda por região – NORTE - Brasil,

1992/1999 (%)...........................................................................................................27

TABELA 4 - Indicadores de Desigualdade de Renda por região – NORDESTE -

Brasil, 1992/1999 – (%).............................................................................................28

TABELA 5 - Indicadores de Desigualdade de Renda por região – CENTRO-OESTE -

Brasil, 1992/1999 (%)................................................................................................28

TABELA 6 - Indicadores de desigualdade de renda p/ região – SUDESTE - Brasil,

1992/1999 – (%).........................................................................................................28

TABELA 7 - Indicadores de desigualdade de renda por região – SUL - Brasil,

1992/1999 – (%)........................................................................................................29

TABELA 8 – Pobres e indigentes – Brasil e grandes regiões, 1992/1999 – (%) .......29

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LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 1 – Evolução da carga tributária/ Comprometimento, 1996 – 2003 (%)...35

GRÁFICO 2 – Carga tributária por grupos de renda .................................................35

GRÁFICO 3 – Renda, 1997 – 2007 (em R$).............................................................36

GRÁFICO 4 – Índice de Gini, 1997 – 2007 (%).........................................................36

GRÁFICO 5 – População brasileira dividida em três estratos, 2007 (%) ..................38

GRÁFICO 6 – População brasileira dividida em três estratos, 2001 (%) ..................39

GRÁFICO 7 – População brasileira dividida em três estratos, 2007 (%) ..................40

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LISTA DE SIGLAS

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INPC – Índice Nacional de Preço ao Consumidor

IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

PIB – Produto Interno Bruto

PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

POF – Pesquisa de Orçamentos Familiares

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

LISTA DE TABELAS ...................................................................................................05

LISTA DE GRÁFICOS .................................................................................................06

LISTA DE SIGLAS .......................................................................................................07

RESUMO.......................................................................................................................09

INTRODUÇÃO .............................................................................................................10

1 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA .....................................................................................14

1.1 DEFINIÇÃO DE RENDA ........................................................................................17

1.2 RENDA MARGINALISTA .......................................................................................18

1.3 A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E A VISÃO UTILITARISTA ....................................20

1.4 DISTRIBUINDO RENDA SEGUNDO O LIBERALISMO .........................................21

1.5 IMPACTO ECONÔMICO ........................................................................................22

2 EFEITOS DE UMA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA EFICAZ ........................................24

2.1 DESIGUALDADE DE RENDA ................................................................................25

2.2 EDUCAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ..........................................................30

2.3 EFICÁCIA E DIMINUIÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL E UMA MELHOR

DISTRIBUIÇÃO DE RENDA ........................................................................................31

3 TRIBUTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO ............................................................................34

3.1 A QUEDA DA DESIGUALDADE DE RENDA ........................................................38

CONSIDERAÇÕES FINAIS .........................................................................................42

REFERÊNCIAS ............................................................................................................46

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RESUMO

Este trabalho tem por finalidade verificar as relações do impacto na economia referente à distribuição de renda nos períodos entre 1970 a 2007, mostrando a relevância do esclarecimento dessas relações para a implementação de políticas públicas que visem à melhoria das condições sociais. Inicialmente, o estudo mostra as conseqüências da má distribuição de renda, a partir do momento em que foram divulgados os dados do censo de 1970. Neste trabalho será também evidenciado o impacto na renda sofrido pelas regiões brasileiras em relação à sua má distribuição. Tornar-se-á evidente que, mesmo depois de várias tentativas para melhorar essa situação, é possível verificar que permanece uma disparidade tanto no que se refere ao desenvolvimento social quanto em relação à distribuição de renda nas regiões Norte e Nordeste, detentoras dos piores índices de distribuição de renda no País. Será comprovado também que mesmo havendo uma melhoria nesse sentido, isso não implica necessariamente na elevação da renda per capita da população menos privilegiada, pois os pobres continuam pagando mais impostos do que os ricos. Finalmente, serão elencadas algumas sugestões, salientando-se aquelas que podem contribuir efetivamente para uma melhor distribuição de renda. Serão destacadas as que estão ligadas a políticas públicas mais robustas, que busquem trabalhar e direcionar medidas e ações para cada necessidade regional do País, visando ao desenvolvimento e ao crescimento, com o apoio das elites econômicas e políticas do País.

Palavras-chave: Distribuição. Políticas efetivas. Renda.

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INTRODUÇÃO

Partindo das evidências de que o alto índice de pobreza no Brasil está

associado à elevada desigualdade de renda, este trabalho fará uma retrospectiva de

sua evolução nas últimas três décadas, atentando especialmente para o impacto da

má distribuição de renda sobre a economia brasileira e os problemas enfrentados

pela população menos favorecida. Apontará também de que forma as crises

existentes podem exercer influência no estabelecimento de estratégias que

viabilizem, ao mesmo tempo, o crescimento econômico sem deixar de valorizar o

papel das políticas redistributivas ao buscar uma maior eqüidade social como

elemento central de uma ferramenta de combate à pobreza.

A relevância desse trabalho se dá principalmente pela valorização da própria

vida humana, podendo inclusive contribuir com futuras pesquisas relacionadas aos

planos de desenvolvimento e crescimento do País. Encaixa-se, igualmente, aos

princípios, objetivos e funções do profissional de Economia, que deve atuar de forma

comprometida com seu país e seu povo.

Quanto ao método utilizado para a execução deste estudo, optou-se pelo

dedutivo, pois partirá do pressuposto de que com o aumento populacional mundial e

as crises no setor econômico, ocasionados principalmente pela concentração de

renda nas mãos da classe capitalista, o poder aquisitivo da população enfraqueceu

fortemente, forçando-a a sobreviver num nível subsistência.

A pesquisa apóia-se basicamente em revisão bibliográfica sobre temas

inerentes à distribuição de renda, focando os resultados de outros estudos e os

principais métodos que geram os indicadores de desigualdade de renda.

Por intermédio da pesquisa descritiva serão retratados os problemas que a

má distribuição de renda pode ocasionar na economia de um país, revelando os

efeitos causados ao longo dos anos e quais as conseqüências que já estamos

sofrendo. Serão apresentadas ainda as possibilidades que o País possui para uma

melhor distribuição da renda, bem como as alternativas que já fazem parte das

políticas vigentes.

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Por intermédio da pesquisa explicativa será possível visualizar as relações

causais pela escolha entre a continuidade da má distribuição de renda, ou pela

escolha por políticas mais efetivas a fim de melhorar a qualidade de vida da

população; havendo também esclarecimentos no tocante aos efeitos econômicos

ocasionados pela má distribuição de renda.

Enfim, parte-se do pressuposto que o Brasil não é um país pobre, mas um

país com muitos pobres. Na verdade, os elevados níveis de pobreza que afligem a

sociedade encontram seu principal determinante na estrutura da desigualdade, uma

cruel desigualdade na distribuição de renda e das oportunidades de inclusão

econômica e social.

A partir daí, faz-se necessário, em primeira instância, uma análise global do

tema abordado, tanto no tocante aos aspectos históricos como conceituais, para em

seguida adentrar especificamente nas questões inerentes ao Brasil.

Sabe-se que a questão da má distribuição de renda não atinge apenas o

nosso País, é um problema mundial que tem avançado nos últimos anos,

principalmente após a implantação de políticas econômicas neoliberais que vêm

varrendo o planeta desde os anos 80.

Souza (1996, p.46) afirma que o sucesso neoliberal veio de mãos dadas com

a inversão especulativa, com uma drástica redução dos salários, gerando com isso o

aumento das desigualdades em âmbito global.

Já a escola dos utilitaristas, fundada pelos ingleses, Jeremy Bentham (1748-

1832) e John Stuart Mill, desconsideravam que ocorressem diferenças em

habilidades e esforços que justificassem a desigualdade na distribuição de renda, e

que indivíduos diferentes associam níveis diferentes de utilidade para níveis de

renda iguais.

De acordo com Langonni (1973, p.32), “A única conclusão prática é o pouco

sentido em querer avaliar o problema do bem-estar econômico e social pela óptica

exclusiva de medidas de desigualdade, principalmente quando baixos índices de

concentração estão associados com níveis extremamente baixos de renda”.

Suplicy (1998, p.09) assevera que “Todas as pessoas devem ter direito

inalienável a uma modesta, porém, incondicional renda garantida, não importa sua

origem, raça, sexo, condição civil ou socioeconômica: uma renda de cidadania”.

Baseando-se nas colocações anteriores convém ressaltar que as

controvérsias e o debate em torno das questões sociais, como a pobreza e a

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distribuição de renda são também resultados de um abismo existente no meio

científico.

Sabe-se que apesar de a eficiência dos gastos públicos poder ser medida,

ainda não existem estatísticas mundiais completas para fazer um levantamento

preciso sobre o problema. Assim sendo, mais uma vez é inegável que a sociedade

deve assumir a sua função de credora, exigindo transparência por parte do governo

e, à área acadêmica cabe propor alternativas e indicar os impactos dessas escolhas.

No tocante ao Brasil propriamente dito, há mais de quinhentos anos a renda é

mal distribuída. Atualmente, no entanto, o tema tomou corpo a partir do momento em

que se divulgaram os dados do censo de 1970, os quais, comparados com os do

censo de 1960, demonstraram que a distribuição tinha se tornado ainda mais

regressiva ao longo dessa década.

A publicação do censo de 1970 com a revelação da crescente concentração

da renda pessoal, que conheceu o processo de desenvolvimento brasileiro durante a

década de 60, reabriu o debate no Brasil sobre o modo de apropriação dos frutos do

progresso.

Daí infere-se que, indubitavelmente, em função do grande número de

pessoas que vivem abaixo da linha de pobreza, conseqüentemente grande parte das

crianças deste País não têm condições de estudar, pois precisam trabalhar para

ajudar seus pais no sustento da casa. Para piorar a situação, a educação pública é

deficitária, impedindo que o pobre integre-se ao mercado de trabalho e possa

enriquecer ou até mesmo ter uma estabilidade financeira.

Outros grandes vilões que compõem esse cenário desolador são os altos

preços dos alimentos, que afetam muito mais as pessoas de baixa renda; o flagelo

da fome que diminui a expectativa de vida; a elevada taxa de mortalidade infantil e

um sem número de doenças relacionadas à carência de nutrientes.

Isso se deve grandemente ao fato de que no Brasil, o gasto público é

financiado por um sistema tributário regressivo e a intervenção social do Estado não

é capaz de desempenhar um papel importante no que se refere à distribuição de

renda.

Não se pode negar, no entanto, que graças ao elevado índice de pobreza no

País, o analfabetismo e a exploração do trabalho infantil, o Brasil vem se esforçando

para encontrar políticas eficazes e efetivas, tanto socialmente como

economicamente, a fim de combater e sanar todos esses problemas.

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Além disso, outros fatores que levam o País a buscar soluções devem-se ao

fato de que outros países estão de olho no governo e no modo como este exerce as

políticas econômicas e sociais sobre a população.

Por outro lado, ao contrário do que clamam vários setores da sociedade

brasileira, há os que argumentam que o centro da discussão sobre gastos sociais

deve se deslocar do volume da despesa para se concentrar em ações realmente

eficientes e confiáveis que atendam preferencialmente aos mais necessitados.

A literatura econômica tem enfatizado que somente o crescimento econômico

não garante acesso aos seus benefícios por todos os segmentos da sociedade. No

Brasil, a experiência dos últimos 30 anos tem mostrado que o crescimento

econômico, que resultou no aumento da renda per capita e queda na pobreza, foi

acompanhado pelo aumento da desigualdade da distribuição de renda.

Dessa forma, o que se almeja, entre outras ações, é a implementação de um

programa de renda mínima que esteja diretamente vinculado às áreas de

desenvolvimento, como a Educação e a Economia, alicerces estes que garantem a

sobrevivência e o crescimento de um país.

Partindo da constatação de que o recente processo de concentração de renda

está na base da crise econômica brasileira, os defensores dessa tese salientam que

para melhorar a distribuição de renda no País as políticas não podem ser de caráter

paliativo. O que ocorre é a necessidade de desenvolver programas efetivos, mas de

longo prazo, garantindo sua validação e sucesso em todas as regiões do País. Em

resumo, o que se propõem é uma política econômica de redistribuição da renda.

A primeira parte desse trabalho é dedicada a uma abordagem geral do

problema e sua importância por meio de fundamentação teórica, trazendo definições

fundamentais referentes à distribuição de renda. Na segunda parte serão apontadas

discussões inerentes ao desenvolvimento do tema. Na terceira e última seção,

seguirão as conclusões sobre a pesquisa e as suas relações causais para o

entendimento do tema.

Finalizando, salienta-se que o tema em questão desperta no autor o desejo

de conhecer melhor essa situação, pois considera a prática de uma política efetiva

de redistribuição de renda um fator decisivo, a partir do momento em que acredita

que todos devem dispor de um mínimo de condições para usufruir de uma vida

digna e um futuro amplo de possibilidades.

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1 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

A publicação do censo de 1970 com a revelação da crescente concentração

da renda pessoal, que conheceu o processo de desenvolvimento brasileiro durante a

década de 60, desencadeou o debate no Brasil sobre o modo de apropriação dos

frutos do progresso.

O tema despertou a atenção do País a partir do momento em que foram

divulgados e comparados os dados do censo de 1970 com os do censo de 1960,

evidenciando uma distribuição de renda ainda mais regressiva ao longo dessa

década.

Nessa mesma época, em 1970, o governo militar de Emílio Garrastazu Médici

reduziu os salários reais, visando a diminuir o poder de barganha dos trabalhadores;

proibiu também as greves e tomou outras medidas coibidoras contra a classe

operária.

Segundo MENDONÇA (2002, p.77),

O que torna o caso brasileiro único e paradoxal é que o Brasil é um país rico, está entre as maiores economias do mundo e tem passado por uma transformação admirável nos últimos 25 anos. Comparando 1977, nem parece ser o mesmo país. Nesse período, o PIB aumentou 85%, o número de domicílios com televisão subiu 150%, o total de residências com telefone triplicou e a frota de veículos mais que triplicou; infelizmente a miséria e todas as suas mazelas permaneceram praticamente inalteradas. Isto leva a conjecturar que o Brasil é o mais rico entre os países com maior número de pessoas miseráveis, fato este que demonstra a incrível concentração de renda no país. Esta constatação levou o economista Edmar Bacha, em 1974, a cunhar a expressão: “Belíndia”, ou seja, o Brasil seria uma mistura entre uma pequena e rica Bélgica e uma grande e pobre Índia.

O ponto de análise de todo esse assunto teve seu start em torno da

aplicabilidade da perspectiva de capital humano, vis-à-vis de análises baseadas em

elementos da distribuição funcional de renda e de modelos de segmentação do

mercado de trabalho para explicar a questão distributiva em economias em

desenvolvimento.

David Ricardo nasceu em Londres (1772 – 1823), terceiro de dezessete filhos

de uma família neerlandesa de classe média, descendentes de judeus, escreveu sua

grande obra prima, “Princípios de Economia Política e Tributação” publicado em

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1817. Foi o primeiro economista a sugerir uma teoria relativamente acabada para o

processo de distribuição de renda, procurando explicar os mecanismos a reger sua

repartição entre os três principais fatores de produção, a saber: trabalho, capital e

terra.

Em seu modelo, o aluguel da terra ocupava um papel proeminente: no longo

prazo, os salários situam-se ao nível de subsistência, enquanto a taxa de lucros é

apenas alta o suficiente para a manutenção do capital. O restante da produção é

apropriado pelos donos da terra a título de aluguel. Embora salário e taxa de lucros

possam situar-se acima dos níveis mínimos no curto prazo, isso apenas serve para

estimular a expansão da população até os níveis de remuneração de longo prazo a

serem atingidos. Nesta teoria, a demanda por produtos finais não tem influência na

questão distributiva.

Segundo Stonier e Hague (1970, p.388),

O conceito de renda econômica corresponde ao excedente econômico. São os ganhos de um fator de produção que excedem a quantia mínima necessária para mantê-lo em seu emprego e impedir o seu deslocamento para outros usos. A idéia de que os trabalhadores recebem um salário fixado ao nível de subsistência também está presente na concepção marxista do processo distributivo. Os capitalistas se apossam da mais-valia, como base para a acumulação contínua de capital e conseqüente geração de novos “empregos”. Os salários não crescem devido à existência de um “exército de reserva” de trabalhadores, constantemente renovado via crescimento populacional, inovações tecnológicas poupadoras de mão-de-obra ou simples incorporações de uma parcela de mão-de-obra ocupada em atividades inferiores ao processo capitalista. Uma característica marcante nessa linha de pensamento é a visão das relações entre os fatores de produção, capital e trabalho, como sendo de antagonismo e conflito, que se transfere também para esfera distributiva: por um lado tem-se a tentativa dos trabalhadores de melhorar suas condições de vida via obtenção de salários mais altos, e, por outro, o desejo dos capitalistas em mantê-los a níveis mínimos como forma de garantir a acumulação de capital e a expansão do sistema.

Michael Kalecki (1899 – 1970) nasceu na Polônia, pensador e economista

especializado em macroeconomia, introduziu muitos princípios estabelecidos na

obra “Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda”, de Keynes. Sua teoria

chamada também de Teoria Kaleckiana, considera explicitamente salientando as

imperfeições de mercado e a existência de relações conflituosas entre capital e

trabalho. O modelo assume que as firmas determinam o preço de seus produtos via

aplicação de uma margem (mark-up) em cima de seus custos varáveis, as firmas

acabam por neutralizar em grande parte o poder reivindicatório dos trabalhadores,

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na medida em que aumentos de salários são automaticamente traduzidos em

aumento de preços. Aceitando-se a hipótese de que a margem utilizada pelas firmas

varia inversamente com a intensidade da competição na economia, é imediato que

tanto maior for a participação dos salários na renda total quanto menor será o grau

de monopólio do sistema, e, portanto, a distribuição funcional da renda é função do

grau de imperfeição existente no funcionamento dos mercados.

Outro grande economista, Nicholas Kaldor (1908 – 1986), que nasceu na

antiga Tchecoslováquia, formado em Economia pela universidade de Cambridge,

produziu estudos pioneiros sobre os impactos distributivos no contexto de um

sistema tributário moderno. Dentre suas preocupações, a tributação, a poupança e a

distribuição de renda foram marcantes.

O modelo Kaldor se encaixa dentro da tradição keynesiana. De construção

extremamente simples, suas implicações para fins de crescimento e

desenvolvimento são surpreendentemente fortes. O modelo assume inicialmente

que o nível de investimento é determinado a priori, como decorrência das

necessidades ditadas por alguma meta de crescimento econômico preestabelecida.

Partindo da pressuposição de que capitalistas e trabalhadores possuem diferentes

propensões a poupar, tem-se que, para promover o equilíbrio macroeconômico entre

poupança e investimento, faz-se necessária uma distribuição adequada da renda

entre os fatores de produção.

Assim, alterações nos níveis desejados para o investimento requerem a

redistribuição dessa renda. Se, por exemplo, as metas de crescimento são revistas e

os níveis desejados de investimento são elevados, e assume-se que os capitalistas

apresentam uma propensão marginal a poupar maior do que os trabalhadores,

tornando necessária uma apropriação maior da renda por parte dos capitalistas - o

que ocorre via elevação dos preços dos produtos finais e conseqüente redução do

salário real - de modo a viabilizar um aumento na taxa média de poupança para que

se atinja um novo patamar de equilíbrio na economia.

Assim, quanto maior a taxa de crescimento almejada, mais enviesada em

direção ao capital deve tornar-se a distribuição funcional da renda. Além disso, vale

notar a função eminente distributiva dos preços dos fatores neste modelo

neokeynesiano, servindo como o canal de ajustamento para a promoção do

equilíbrio entre poupança e investimento, o que se contrapõe à sua função alocativa

no paradigma neoclássico.

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Segundo Sandroni (2000, p.524),

A quantia mínima, dependente das oportunidades de emprego alternativo disponível para fator de produção é denominada como: custo de oportunidade ou ganhos de transferência. A doutrina do excedente econômico ou renda econômica tem sido utilizada para fundamentar políticas fiscais destinadas a tributar rendas consideradas ‘não ganhas’, particularmente as rendas da terra. Atualmente, porém a renda econômica é reconhecida como componente provável de todos os fatores de produção.

1.1 DEFINIÇÃO DE RENDA

Sendo o tema de estudo desta pesquisa A Distribuição de Renda e o Impacto

na Economia, faz-se necessário expor algumas considerações sobre a variável

Renda.

Num sentido amplo, o termo é utilizado para designar a renda nacional,

denominada também fluxo de unidade monetária por unidade de tempo.

As teorias clássicas sobre renda buscavam explicar os rendimentos da terra.

O tipo de pagamento que ordinariamente se conhece como renda, pode incluir um

pagamento pelo aluguel da terra. O aluguel de uma casa, por exemplo, abrangerá

geralmente uma soma que seja suficiente para cobrir o valor anual da terra em que

se situa a casa, mas constitui, igualmente, pagamento de outras coisas. O

proprietário investiu seu dinheiro nos materiais de construção e espera que tal

investimento lhe traga um rendimento.

Segundo Smith (1983, p.151),

A renda da terra considerada como preço pago pelo uso da terra, é naturalmente a maior que o arrendatário pode permitir-se pagar, nas circunstâncias efetivas da terra. Ao ajustar as cláusulas do arrendamento, o dono da terra faz o possível para deixar ao arrendatário uma parcela da produção não superior ao que é suficiente para pagar ao arrendatário o capital do qual ele fornece as sementes, paga a mão-de-obra, compra e mantém o gado e outros instrumentos e dispositivos agrícolas, juntamente com o lucro normal do capital empregado, segundo a taxa vigente na região.

O que interessa é qualquer pagamento ao proprietário pelo uso da terra. Esse

conceito, de que renda é uma recompensa pela mera propriedade de um fator de

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produção, e não um pagamento pelo esforço feito e é muito importante e está

firmemente estabelecido na economia.

Segundo Stonier e Hague (1970, p.386),

A palavra renda pode referir-se a qualquer provento periódico e regular, em troca de cessão de um bem. Como exemplos temos os aluguéis pagos pelo uso de automóveis, casas, apartamentos, lojas e o mais, quando não são adquiridos de uma vez. Em teoria econômica, por outro lado, o termo renda significa algo diferente. Só é aplicado a pagamentos feitos por fatores de produção que se apresentam em oferta imperfeitamente elástica sendo a terra o principal exemplo.

1.2 RENDA MARGINALISTA

Algumas formulações filosóficas e econômicas de como a renda deve ser

redistribuída na sociedade devem ser analisadas, inclusive destacando o papel do

governo no processo.

Sob o ponto de vista de uma distribuição funcional, a repartição da renda é

feita segundo os fatores de produção: trabalho, capital e recursos naturais. Essa

repartição se realiza por meio de pagamento de salários, juros, lucros e da renda da

terra.

Segundo Ricardo apud Hunt (1981, p.111),

O produto da terra – tudo que é retirado de sua superfície pelo emprego conjunto do trabalho, das máquinas e do capital – é dividido entre três classes da comunidade, a saber: o proprietário da terra, o dono do capital necessário para o seu cultivo e os trabalhadores que entram para o cultivo da terra. O principal problema da Economia política é determinar as leis que regem esta distribuição.

A partir de 1870, o centro de preocupações de um grande número de

economistas se desloca, é o que alguns autores chamam de deslocamento de

revolução marginalista, pois a idéia central que o preside é o chamado princípio

marginal.

Os economistas clássicos teorizavam que os preços eram determinados pelos

custos de produção. A crítica que os economistas marginalistas enfatizaram sobre a

teoria neoclássica, era a de que os preços também dependiam de um grau de

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demanda, que por sua vez dependiam da satisfação dos consumidores em relação

às mercadorias e serviços individualmente.

Para os marginalistas, a produtividade marginal pressupõe que a

remuneração oferecida a cada agente da produção tende a ser igual ao valor da

porção do produto que não existiria sem a atuação desse agente. Numa produção

global, portanto, devem ser determinadas as partes devidas, respectivamente, à

produtividade do trabalho. Segundo essa teoria, cada fator de produção é

empregado numa quantidade tal que a produtividade da última unidade equivale ao

rendimento desse fator. Em regime de liberdade econômica, o justo emprego de

cada fator determina sua justa remuneração.

Segundo Fusfeld (2001, p.116),

Os economistas que usavam a análise marginal não ignoravam os problemas de distribuição de renda. Aceitando o desafio marxista, os novos teólogos da sociedade industrial desenvolveram uma teoria provando que todos os fatores de produção – trabalho, terra ou capital – recebiam exatamente o equivalente à sua contribuição para o valor do produto. Ninguém explorava ninguém, não havia nenhuma mais-valia apropriada indevidamente pelos proprietários do capital e a completa justiça prevalecia na distribuição de renda. O trabalhador recebia o que merecia, nem mais nem menos.

A repartição da renda é também estudada do ponto de vista de uma

distribuição pessoal, recorrendo a métodos que visam a proporcionar um panorama

de dispersão dessa renda entre os indivíduos e as famílias. A curva de Lorenz, que

busca tal objetivo, consiste na tabulação e ordenação dos rendimentos pessoais,

das categorias mais baixas às mais altas.

A curva de Lorenz é utilizada pelos analistas econômicos para realçar,

sobretudo, a desigualdade da repartição do rendimento ou da riqueza. O método

proposto traduz-se pela construção de uma curva de distribuição do rendimento ou

da riqueza relacionando ao % das famílias (valores acumulados) com o % do

rendimento ou riqueza (valores acumulados). Em Y - 60% das famílias (pobres)

possuem somente 20% do rendimento - 40% das famílias possuem 80% do

rendimento. A análise da curva de Lorenz permite aos governantes tomar medidas

para reduzir as assimetrias existentes por meio das chamadas políticas de

redistribuição do rendimento. A curva de concentração de Lorenz também se utiliza

na relação com outras variáveis. Por exemplo, no estudo da concentração dos

Page 20: DISTRIBUICAO DE RENDA

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mercados, esta curva estabelece a relação entre o número de empresas vendedoras

e as respectivas quotas de mercado.

Conforme Candelori (2002, p.63) o desenvolvimento de um país não pode ser

avaliado considerando-se apenas os números de sua economia. Por isso, além da

renda per capita, considera – se também a taxa de escolaridade, o analfabetismo

adulto e a expectativa de vida.

1.3 A DISTRIBUIÇÃO DE RENDA E A VISÃO UTILITARISTA

Uma escola proeminente acerca da distribuição de renda é o utilitarismo.

Seus fundadores foram os ingleses, Jeremy Bentham (1748 – 1832) e John Stuart

Mill (1806 – 1873). O objetivo dos utilitaristas é aplicar a lógica da decisão individual

às questões relativas à moralidade e às políticas públicas. O ponto de partida do

utilitarismo é a noção de utilidade, o nível de felicidade ou satisfação que a pessoa

obtém de suas circunstâncias. A utilidade é uma medida de bem-estar e, de acordo

com os utilitaristas, é o objetivo último de todas as ações privadas e públicas. O

objetivo adequado do governo seria maximizar a soma de utilidade de todos na

sociedade.

Segundo Mankiw (1999, p.437),

A base utilitarista para a redistribuição de renda é o conceito de utilidade marginal decrescente. Segundo este conceito à medida que a renda de uma pessoa aumenta, o bem-estar adicional derivado de uma unidade adicional de renda diminui. Esta conjectura plausível, aliada ao objetivo utilitarista de maximização da utilidade total, implica que o governo deve tentar atingir uma distribuição de renda mais igualitária.

Esse argumento utilitarista parece sugerir que o governo continue distribuindo

a renda até que todos na sociedade tenham exatamente a mesma renda, (pelo

critério da utilidade marginal). Os utilitaristas diriam que é melhor distribuir a renda,

de modo a maximizar o bem-estar de toda a sociedade. De acordo com esse critério,

o indivíduo “A” deveria receber mais renda em relação ao indivíduo “B” se a utilidade

marginal da renda de “A” fosse maior do que a de “B”.

Page 21: DISTRIBUICAO DE RENDA

21

Os utilitaristas desconsideram que ocorram diferenças em habilidade e

esforço que justifiquem a desigualdade na distribuição de renda, e que indivíduos

diferentes associam níveis diferentes de utilidade para níveis de renda iguais.

De acordo com Longo e Troster (1992, p.46),

O problema da redistribuição de renda em termos de utilidade marginal é algo artificial. A sociedade afinal de contas, consiste de indivíduos, não de uma soma de indivíduos. Portanto, as necessidades básicas dos indivíduos devido a fatores objetivos, como o tamanho da família ou saúde, possuem correlação e relevâncias para a determinação de renda e não há variações subjetivas na capacidade de apreciar a renda.

1.4 DISTRIBUIÇÃO DE RENDA SEGUNDO O LIBERALISMO

John Rawls, o mais conhecido e celebrado filósofo político norte-americano,

falecido aos 81 anos, em 2002, é tido como o principal teórico da Democracia Liberal

nos dias de hoje. O seu grande tratado jurídico-político foi “A Teoria da Justiça”, de

1971, e o alinhou entre os grandes pensadores sociais do século XX.

Uma maneira de pensar a desigualdade pode ser chamada de liberalismo.

Essa filosofia foi desenvolvida por John Rawls, uma teoria da justiça, afirmando que

as instituições, as leis e as políticas da sociedade deveriam ser justas. Então levanta

a questão natural do que seria uma sociedade justa? Poderia parecer que do ponto

de vista de cada pessoa que tenha mais ou menos talento, se é diligente ou

displicente, instruída ou não, de família rica ou pobre. Poderia de alguma forma,

determinar objetivamente o que seria uma sociedade justa?

De acordo com Rawls (2002, p.253), “devemos estabelecer políticas públicas

que procuram aumentar o bem-estar das pessoas que estão em pior situação

social”.

Em vez de maximizar a soma de todas as utilidades, como faria o utilitarismo.

Rawls maximizaria a utilidade mínima. A regra de Rawls é conhecida como: critério

maximin.

As teorias do utilitarismo e do liberalismo no tocante à distribuição de renda

consideram a renda total da sociedade um recurso do qual um planejador social

(governo) pode fazer uso a fim de redistribuí-la livremente para atingir algum objetivo

social. Os liberalistas afirmam que a sociedade não aufere nenhuma renda, apenas

Page 22: DISTRIBUICAO DE RENDA

22

membros individuais da sociedade auferem renda. As bases teóricas dos liberalistas

estão na idéias do filósofo Robert Nozick que, em seu livro de 1974, - “Anarquia,

Estado e Utopia” - discordou acerca da renda das pessoas. De acordo com essa

corrente, o governo não deveria tirar renda de alguns indivíduos para dar a outros a

fim de alcançar qualquer distribuição de renda particular.

Nozick apud Mankiw (1999, p.439) leciona que,

Não estamos na posição de crianças que ganharam porções de bolo de alguém que agora faz correções de última hora para retificar um corte descuidado. Não existe distribuição central, nem pessoa ou grupo com o direito de controlar todos os recursos, decidindo em conjunto como deverão ser repartidos. O que cada pessoa recebe, ela o recebe de outros que o dão em troca de alguma coisa ou como presente. Em uma sociedade livre, entre diferentes pessoas que controlam, recursos diferentes e propriedades novas que decorrem de trocas voluntárias de ações pessoais.

Enquanto os utilitaristas e os liberais tentam avaliar a desigualdade desejável

em sociedade, Nozick nega a validade da própria questão. Os liberalistas afirmam

que a igualdade de oportunidades é mais importante do que a igualdade de rendas.

Acreditam que o governo deveria garantir os direitos individuais para assegurar que

todos tenham as mesmas oportunidades de usar seus talentos e obter sucesso.

Uma vez estabelecidas essas regras do jogo, o governo não tem motivos para

alterar a distribuição de renda resultante.

1.5 IMPACTO ECONÔMICO

Uma economia de mercado distribui a renda individual pela venda dos

serviços dos fatores de produção. Nesse contexto, a distribuição de renda depende

da distribuição da propriedade dos fatores de produção. A distribuição da renda do

fator trabalho depende da distribuição das habilidades para ganhar tal renda e o

desejo de ganhá-la. A renda do capital envolve a distribuição do patrimônio, que por

sua vez, decorre de poupanças, heranças, etc.

Dada a distribuição da propriedade de fatores, a distribuição de renda

depende ainda dos preços dos fatores. Num mercado competitivo, esses preços são

iguais ao valor do produto marginal dos fatores, o preço dos fatores depende de um

amplo conjunto de variáveis, que inclui a oferta de fatores, a tecnologia e as

Page 23: DISTRIBUICAO DE RENDA

23

preferências dos consumidores. Em muitos casos, entretanto, a renda é determinada

em mercados imperfeitos, nos quais os fatores institucionais, como o salário mínimo,

o status, o sexo e a cor desempenham papel importante.

É onde entra a importância da participação do governo no processo de

distribuição de renda, a fim de corrigir distorções onde o mercado imperfeito não

está apto ou não quer corrigir.

Segundo Mankiw (1999, p.427),

A mão invisível do mercado age para alocar os recursos de forma eficiente, mas não assegura necessariamente que os recursos sejam alocados de modo justo. Em conseqüência muitos economistas – mas nem todos – acreditam que o governo deveria redistribuir a renda para obter mais igualdade.

Os governos adotam diversas maneiras para implementar a redistribuição de

renda na sociedade, por meio de políticas fiscais que promovam um esquema de

transferências fiscais que combine tributação progressiva de renda com subsídios

para famílias de baixa renda. Essa transferência de renda pode ser percebida na

sociedade por meio de diversos serviços que o governo presta à sociedade.

Segundo Longo e Troster (1999, p.22),

De fato, as medidas de redistribuição de renda são adotadas todos os dias, considerando que têm uma idéia do valor dos benefícios das despesas públicas e de como a carga tributária incide sobre as diferentes classes de renda. Opiniões sobre estes assuntos emergem através do processo político e são refletidas na ação do governo sobre a legislação tributária e a distribuição dos gastos públicos. Considerações desse tipo estão por trás de discussões sobre programas de assistência social, fixação de escala de progressividade do imposto de renda e avaliação dos benefícios das empresas públicas.

Assim como não existe mercado perfeito, também não existem políticas

governamentais de redistribuição de renda perfeitas. Apesar de existirem

dificuldades para corrigir as distorções do mercado, uma redistribuição da renda,

ajuda a eliminar focos de ineficiência que podem existir neste mercado. Devido à

certa rigidez institucional, a distribuição de renda pode não ser somente muito

desigual, mas também ineficiente, de modo que uma redistribuição de renda pode

resultar em maior renda total. Por isso, a presença do governo na distribuição de

renda é tão importante para definir qual será o impacto econômico do país, conforme

sua ação.

Page 24: DISTRIBUICAO DE RENDA

24

2 EFEITOS DE UMA DISTRIBUIÇÃO DE RENDA EFICAZ

Apesar do intenso ritmo de crescimento econômico no País, que vem

experimentando transformações e modernizações em todos os setores da economia

brasileira nos últimos cinqüenta anos, a questão da má distribuição de renda

permaneceu praticamente inalterada.

A eficácia de uma distribuição de renda não está ligada apenas ao fato de seu

aumento entre a população para todas as regiões do País. Devemos levar em conta

as questões sociais, como a qualidade de vida, proporcionando saúde, educação,

segurança e lazer.

Conforme Romão apud Castro (2000, p.97) “o corolário dessa inércia

traduziu-se pela persistência, no país, de profunda diferenciação espacial,

quantitativa e qualitativa, em termos de produção, de tecnologia e, sobretudo de

qualidade de vida”.

Durante o século XX, as revoluções socialistas em países como a Rússia, a

China e Cuba não apenas romperam com o modo de produção capitalista, bem

como, promoveram transferências no estoque de riqueza. Por meio de mudança

radical no patrimônio urbano e rural, determinados setores privilegiados pela

dinâmica de mercado, foram desbancados de suas posições originais, o que alterou

profundamente o processo de distribuição de renda.

Nas economias do centro capitalista, desde a Grande Depressão de 1929,

promoveram reformas graduais no perfil distributivo, sem romper com a dinâmica do

modo de produção capitalista, alcançou-se um estágio superior no processo primário

de repartição de renda. Favoreceu-se a redução das desigualdades de renda,

proporcionada por estrutura secundária de divisão de renda, por meio de reformas

tributárias e nos gastos do governo.

Segundo Cardoso Jr. e Pochmann (2002, p.02),

Não constitui novidades na história do capitalismo a presença em maior ou menor escala, da divisão desigual da renda gerada. Ela não decorreria apenas da repartição diferenciada do fluxo de renda, expresso por posições muito distintas quanto à participação no complexo processo de produção, mas de heranças consolidadas pela formação da sociedade, responsáveis pela definição prévia da alocação dos estoques de riqueza e poder

Page 25: DISTRIBUICAO DE RENDA

25

O modo de produção capitalista é essencialmente concentrador, portanto não

existem mecanismos econômicos capazes de redistribuir a renda de forma igualitária

entre a população ocupada.

2.1 DESIGUALDADE DE RENDA

Há um conjunto de fatores que explicam a origem e continuação de tais

disparidades de desenvolvimento entre regiões de um mesmo país, fatores esses

normalmente relacionados com as diferentes dotações de recursos físicos, naturais

e humanos e, evidentemente, com as formas de utilização desses recursos.

TABELA 1 - Participação Regional na Renda do País – 1970 (%)

REGIÃO PARTICIPAÇÃO PERCENTUAL

NORTE

NORDESTE

CENTRO OESTE

SULDESTE E SUL

2,1%

3,3%

14,5%

80,1%

TOTAL 100%

Fonte: IBGE – censo de 1970 apud Brum (2000)

O primeiro quadro mostra dados coletados do censo de 1970, como estava a

distribuição no País entre as regiões e a influência na questão desenvolvimento e

distribuição. Por meio dos dados, constata-se que um dos resultados dessa política

foi a ocorrência do acelerado crescimento econômico, com base industrial, na região

Sudeste, em parte à custa da estagnação, do atraso e mesmo da perda relativa de

terreno das demais regiões do País.

Ao invés de uma progressiva distribuição da produção, propriedade, da

riqueza e da renda, nas diversas regiões do País, como se esperava nos meios

oficiais, aconteceu exatamente o contrário, isto é, uma forte concentração

econômica. É nesse período que ocorre um desajuste no desenvolvimento das

diferentes regiões brasileiras.

Page 26: DISTRIBUICAO DE RENDA

26

Segundo Brum (2000, p.250),

O Sudeste e o Sul, representando 18% da superfície e 61% da população do país, eram responsáveis, em 1970, de acordo com dados do censo, por 80% da renda nacional e 92% da produção industrial. Enquanto, por outro lado, as outras três regiões, (Norte, Nordeste e Centro Oeste), representando 82% da superfície e 39% da população do país, respondiam, no mesmo ano, por apenas 20% da renda nacional e 8% da produção industrial.

Com a consolidação de uma de uma cadeia industrial complexamente

articulada, a economia brasileira começou a se comportar segundo uma dinâmica

cíclica, inerente ao capitalismo. Após a fase de expansão devida ao Plano de Metas,

o sistema entrou numa fase de desaceleração, marcado por quedas nas taxas de

crescimento do produto e do emprego, desequilíbrio da balança de pagamentos e

por aumento nos níveis de inflação.

O aspecto fundamental deste momento era o descolamento entre a estrutura

de consumo interna (que se vinha gerando desde 1930) e a nova estrutura de

produção que se sobrepunha à estrutura vigente, isso num curto espaço de tempo.

A concentração de renda pessoal operava como solução não definitiva aos novos

problemas de realização que passariam a fazer parte da economia brasileira.

De acordo com Cardoso Jr. e Pochmann (2002, p.7),

A nova descontinuidade que se coloca para a distribuição de renda pessoal surge quando uma vez internalizado o efeito-demonstração de padrões de consumo das classes altas na própria configuração do aparato distributivo, se requer expandir o mercado interno das novas indústrias de consumo durável instaladas sob forte proteção do exterior, e cujos preços absolutos requerem consumidores com rendas muito superiores à média nacional. O problema não reside no efeito demonstração, mas na necessidade de antecipar a demanda, quer dizer, distribuir a renda de modo mais concentrado, uma vez esgotada a reserva de mercado existente.

A redistribuição de renda pessoal em favor de uma nova classe de

consumidores de base gerou uma grande dispersão na estrutura de remuneração da

economia brasileira. Enquanto uma minoria bem-remunerada se beneficiava das

potencialidades do capitalismo como consumidores, a maior parte da população

permanecia à margem do processo produtivo e do mercado consumidor em larga

escala. Juntamente com o problema do desemprego estrutural, pois as novas

plantas industriais eram poupadoras de mão-de-obra; e os baixos salários pagos, a

Page 27: DISTRIBUICAO DE RENDA

27

conformação de um forte mercado consumidor interno ficava comprometida, criando

assim um ciclo vicioso que gerava uma perversa concentração de renda no País.

Entretanto, tratando-se da proporção de renda apropriada pelas diferentes

classes sociais, observa-se que os níveis de concentração de renda existem em

todas as regiões.

Poderemos acompanhar a os dados por meio dos quadros que iremos

apresentar mostrando as variações e as regiões mais pobres e mais ricas e por

quanto cada uma responde percentualmente.

TABELA 2 - Indicadores de Desigualdade de Renda – Brasil, 1992/1999 – (%). Obs.: A renda considerada foi a renda domiciliar per capita

ANO INDICADORES

Proporção de Renda Apropriada 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

10% mais pobres

20% mais pobres

40% mais pobres

40% mais ricos

20% mais ricos

10% mais ricos

0,7

2,3

8,5

80,7

61,9

45,4

0,6

2,2

8

81,9

64,2

48,3

0,7

2,3

8

81,9

64

47,6

0,6

2,2

7,8

82,1

63,9

47,3

0,6

2,2

7,8

82,1

64

47,5

0,7

2,3

8

82

64

47,6

0,7

2,4

8,2

81,6

63,6

47,2

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: IBGE, PNAD apud Boletim do IPEA/Políticas Sociais (2001).

TABELA 3 - Indicadores de Desigualdade de Renda p/ região – NORTE - Brasil, 1992/1999 (%). Obs. 1: A renda considerada foi a renda domiciliar per capita Obs. 2: Não inclui área rural

ANO INDICADORES

Proporção de Renda Apropriada 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

10% mais pobres 0,8 1,1 0,9 0,8 0,9 0,8

20% mais pobres 2,8 3,2 2,9 2,8 2,8 2,8

0,8

2,8

40% mais pobres 9,4 9,8 9,3 9,2 9 9 9,4

40% mais ricos 79,2 79,8 80,3 80,2 80,7 80,6 79,2

20% mais ricos 59,6 62,1 62,8 62,3 62,9 62,4 59,6

10% mais ricos 43,1 46,8 46,9 45,8 46,6 46,4 43,1

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: IBGE, PNAD apud Boletim do IPEA/Políticas Sociais (2001).

Page 28: DISTRIBUICAO DE RENDA

28

TABELA 4 – Ind. de Desigualdade de Renda p/ região – NORDESTE – Br. 1992/1999 – (%). Obs. 1: A renda considerada foi a renda domiciliar per capita

INDICADORES ANO

Proporção de Renda Apropriada 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

10% mais pobres 0,7 0,6 0,8 0,6 0,7 0,9 0,7

20% mais pobres 2,3 2,1 2,6 2,3 2,4 2,6 2,3

40% mais pobres 8,3 7,5 8,6 7,9 8,1 8,4 8,3

40% mais ricos 81,2 83,1 81,5 82,4 82,4 81,9 81,2

20% mais ricos 62,9 66,4 64,6 65,7 65,7 65,3 62,9

10% mais ricos 47 51,7 50 51,1 50,9 50,7 47

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: IBGE, PNAD apud Boletim do IPEA/Políticas Sociais (2001).

TABELA 5 – Ind. de Desigualdade de Renda p/ região – CENTRO-OESTE - Brasil, 1992/1999 (%). Obs. 1: A renda considerada foi a renda domiciliar per capita

INDICADORES ANO

Proporção de Renda Apropriada 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

10% mais pobres 0,9 0,9 0,9 0,8 0,8 0,89 0,92

20% mais pobres 2,9 2,8 2,8 2,6 2,7 2,79 2,9

40% mais pobres 9,3 8,7 9 8,5 8,7 8,73 9,31

40% mais ricos 80,4 81,8 80,8 81,8 81,5 81,7 80,4

20% mais ricos 63,3 65,3 63,2 64,5 64,6 65,2 63,3

10% mais ricos 48,4 49,9 47 48,5 48,7 49,7 48,4

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: IBGE, PNAD apud Boletim do IPEA/Políticas Sociais (2001). TABELA 6 - Indicadores de Desigualdade de Renda p/ região – SUDESTE - Brasil, 1992/1999 – (%). Obs. 1: A renda considerada foi a renda domiciliar per capita

ANO INDICADORES

Proporção de Renda Apropriada 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

10% mais pobres 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9 0,9

20% mais pobres 3 2,9 2,8 2,8 2,8 2,8 3

40% mais pobres 10,1 9,4 9,4 9,4 9,4 9,4 10,1

40% mais ricos 78,4 79,8 79,8 79,5 79,7 79,7 78,4

20% mais ricos 59,1 61,7 61,1 60,5 60,9 61,2 59,1

10% mais ricos 42,6 45,6 44,7 43,9 44,5 44,8 42,6

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: IBGE, PNAD apud Boletim do IPEA/Políticas Sociais (2001).

Page 29: DISTRIBUICAO DE RENDA

29

TABELA 7 - Indicadores de Desigualdade de Renda por região – SUL - Brasil, 1992/1999 – (%). Obs.: A renda considerada foi a renda domiciliar per capita

INDICADORES ANO

Proporção de Renda Apropriada 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

10% mais pobres 0,9 1,1 0,9 0,9 1 0,9 0,9

20% mais pobres 3,1 3,2 2,9 2,9 3 2,9 3,1

40% mais pobres 10,2 10,1 9,6 9,7 9,7 9,7 10,2

40% mais ricos 78,1 78,6 79,5 79,3 79 79,1 78,1

20% mais ricos 58,9 60,2 61,1 60,6 59,9 60,1 58,9

10% mais ricos 42,9 44,6 44,6 44,2 43,4 43,7 42,9

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: IBGE, PNAD apud Boletim do IPEA/Políticas Sociais (2001).

A desigualdade social é tanto mais perceptível quanto forem comparados os

níveis de pobreza e indigência das regiões brasileiras. As regiões Norte e Nordeste

apresentam os índices mais elevados.

TABELA 8 – Pobres e Indigentes – Brasil e Grandes Regiões, 1992/1999 – (%).

Ano Regiões Indicadores 1992 1993 1995 1996 1997 1998 1999

BRASIL Pobres 40,6 41,5 33,8 33,4 33,7 32,6 33,8

Indigentes 19,2 19,4 14,5 14,9 14,8 13,9 14,3 Centro-Oeste

Pobres 33,6 32,2 26,1 26,2 23,7 22,6 24,9 Indigentes 11,7 11,1 8,7 8,9 7,6 6,8 7,9

Nordeste Pobres 65,4 66,5 58,8 58,8 59,6 57,4 58,3

Indigentes 38,2 40,4 30 31,8 31,9 29,1 29,4 Norte

Pobres 52,5 52,1 42,8 43,7 45,2 45,1 45,6

Indigentes 27,4 22,9 17,4 18,1 19,4 19,5 19 Sudeste

Pobres 27,4 29,4 20,1 19,5 19,7 19,3 20,6 Indigentes 9,7 9,8 6,5 6,2 6,3 6,1 6,5

Sul Pobres 32,1 30,2 25,5 24,5 24,5 25,7 24

Indigentes 12,1 10,2 9,4 9 8,2 8,6 9,4 Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: IBGE, PNAD apud Boletim do IPEA/Políticas Sociais (2001).

Page 30: DISTRIBUICAO DE RENDA

30

Os níveis mais elevados de pobreza e indigência nas regiões Norte e

Nordeste são devidos, principalmente, ao fato de ter ocorrido um menor

desenvolvimento das forças produtivas tradicionais, disponibilizando menor renda

para as pessoas e conseqüentemente, aumentando os níveis de pobreza daquelas

regiões em relação a outras mais desenvolvidas. Entretanto, analisando a proporção

de renda apropriada pelas diferentes classes sociais, observa-se que os níveis de

concentração de renda estão presentes em todas as regiões.

Conforme Bacha apud Zioni (1999, p.11),

Convivem, no mesmo território, estados escandalosamente diferenciados. Alguns, se não têm padrão europeus, pelo menos estão no grupo dos países mais bem situados do Terceiro Mundo: Coréia, Costa Rica, Uruguai, Chile. E há o Nordeste, que varia entre o subcontinente indiano e os piores países da África.

2.2 EDUCAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

Muitas vezes nos perguntamos por que estudamos? Provavelmente as

respostas seriam variadas se a pergunta fosse feita a diferentes pessoas, pois várias

respostas alternativas surgiriam: porque assim podemos entender melhor a

sociedade em que vivemos, porque é uma maneira de aprender uma profissão,

porque o estudo é necessário para a sobrevivência. No fundo, todas as respostas se

baseiam em uma pessoa instruída que venha e receba um salário, via de regra, é

tão mais alto quanto maior o nível de instrução da pessoa.

Segundo Leal e Werlang (2000, p.83),

O mesmo raciocínio poderia ser aplicado a todos os graus da educação formal e primária, secundária e superior. Um ano a mais de estudo propicia informações adicionais que tornam a pessoa mão-de-obra mais valiosa. Está é a teoria do capital humano. Um indivíduo pode ser visto como se fosse um acumulador de informações obtidas, principalmente, por meio de instrução formal. Ocorre que para adquirir conhecimento uma pessoa precisa de tempo. Durante esse tempo, a pessoa poderia ter se decidido a trabalhar, em vez de se instruir, É por esse motivo que diferentes indivíduos escolhem complementar diferentes graus de ensino formal. Embora saibam que, normalmente, um ano a mais de estudo aumente sua renda, podem preferir sacrificar essa maior renda futura em prol de uma renda auferida de imediato.

Page 31: DISTRIBUICAO DE RENDA

31

São vários os fatores que levam os indivíduos a não completarem seus

currículos, entre eles as necessidades financeiras ou simplesmente por

considerarem o tempo dispensado aos estudos longo e enfadonho. Do ponto de

vista econômico, não há distinção, afinal a escolha do individuo é que determina o

seu grau de instrução, sendo que o grau de instrução é um dos principais fatores

para uma renda proporcional.

A decisão que um indivíduo toma ao estudar um ano a mais ou ao começar a

trabalhar imediatamente está muito relacionada à decisão de um empresário ao

investir num projeto.

Segundo Leal e Werlang (2000, p.84),

A decisão dos indivíduos, de estudar um ano a mais ou não, é feita, nos mesmos moldes. O individuo deve levar em consideração a taxa de retorno pessoal da decisão de estudar um ano a mais. Do lado dos custos o componente mais importante é o salário que seria ganho caso entrasse imediatamente no mercado de trabalho. A esse custo deve – se adicionar o valor pago pelo ano extra de estudos. Em geral este item do custo é bem mais baixo que o anterior, uma vez que boa parte do ensino é pública, e mesmo o ensino privado não tem custo muito elevado, já que há muitos subsídios governamentais e controles de preços. Dessa forma, é comum desprezar – se esse custo adicional.

2.3 EFICÁCIA E DIMINUIÇÃO DA DESIGUALDADE SOCIAL E UMA MELHOR DISTRIBUIÇÃO DE RENDA

A proposta de uma melhor distribuição de renda é uma alternativa séria que

não pode ser tratada levianamente por segmentos populistas da política brasileira,

tampouco deve ser desprezada como importante meio de promover justiça a

parcelas desprivilegiadas da população. Entretanto, existem vários aspectos que

devem ser avaliados, como a fonte dos recursos e de que forma ocorrerá a

distribuição dessa renda.

A uma importância e necessidade que políticas, que acompanhem um

programa de imposto de renda negativo, tal projeto deve ter um caráter mais

funcional e menos assistencialista, pois não é o assistencialismo que promoverá a

justiça social, mas a ampliação e a democratização das oportunidades para toda a

população.

Page 32: DISTRIBUICAO DE RENDA

32

De acordo com Sandroni (2000, p.292),

Criado por Milton Friedmann, ao apresentar um esquema sintético do sistema no seu livro, Capitalism and Freedom, 1962, o Imposto de Renda Negativo tem sido preocupação de economistas convencidos da necessidade de ampliar transferências como um componente da redução da pobreza, em vista da ineficácia dos programas então existentes. A idéia básica do Imposto de Renda Negativo é fixar um nível de Renda Mínima, e todos aqueles que não alcançassem esse nível receberiam uma quantia em dinheiro para complementar a sua renda.

Outra forma de promover melhorias no fluxo de renda do País é por meio do

crescimento econômico, combinando políticas que estimulem o crescimento

econômico e diminuam a desigualdade, aumentando, por sua vez, a distribuição de

renda nas regiões de todo o País, que aparentam conceder maior eficácia e

velocidade ao processo de combate à pobreza.

Barros (2001, p.20) assevera que,

Um crescimento de 3% ao ano na renda per capita, por exemplo, tende a reduzir a pobreza em um valor aproximado de um percentual a cada dois pontos. Ou, ainda, um crescimento contínuo e sustentado de 3% ao ano na renda per capita levaria, no Brasil, mais de 25 anos para reduzir a proporção de pobres abaixo de 15%.

Embora reduza a pobreza, a via de crescimento econômico necessita durar

um longo período para produzir alguma transformação relativamente satisfatória.

Apesar de produzir resultados, o crescimento econômico não constitui, por si só,

condição suficiente para diminuir a desigualdade social, como já aconteceu em

outros momentos da história brasileira. São necessários instrumentos que

promovam ganhos de renda para todos os envolvidos no processo de agregado

produtivo, a fim de não incorrer na perpetuação da concentração de renda.

Cardoso Jr. e Pochmann (2002, p.17) esclarecem que,

Em primeiro lugar, seria preciso que uma parte maior dos ganhos de produtividade do trabalho fosse repassada continuamente para os salários reais, em comparação com o que até hoje tem se verificado na economia brasileira. Esta possibilidade é concreta diante da tendência histórica à redução no custo do trabalho no custo total dos bens e serviços produzidos, bem como em função do tamanho da apropriação feita em nome de uma maior acumulação de capital, tal qual verificada pelos incrementos de produtividade alcançados nos anos 90 no Brasil. O meio político para estas conquistas deveria passar pelo fortalecimento da representação sindical nos locais do trabalho e por negociações mais amplas, como no caso das câmaras setoriais, cujas agendas de reivindicação não estavam limitadas simplesmente à reposições salariais, estendendo-se também para temas como qualificação profissional, (re) emprego, sistemas de previdência privados, participação nos lucros, etc. Em segundo lugar, seria preciso,

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além do crescimento econômico, políticas sociais e de mercado de trabalho ativas. As primeiras deveriam orientar-se pelo princípio da progressividade distributiva, seja nos marcos da universalização, seja, nos da focalização. As segundas deveriam articular as atividades clássicas de capacitação profissional e intermediação de mão-de-obra com políticas setorialmente definidas de geração de emprego e renda, sem as quais as políticas fincadas no lado da oferta do mercado de trabalho perderiam o sentido e a eficácia.

Portanto, existe uma importância para que sejam adotadas políticas que

intensifiquem a melhoria do fluxo de renda, diminuam a concentração de renda e

promovam o desenvolvimento social. Entretanto, deve-se salientar que as soluções

para amenizar a desigualdade social no País passam longe de uma abordagem

estática, localizada apenas na melhoria do fluxo de renda.

Lima (2002, p.7) confirma essa idéia ao argumentar que,

As preeminências gerais dos direitos políticos e civis básicos exerceriam assim, três papéis essenciais; Importância direta para a vida humana; Papel instrumental: aumenta o grau em que as pessoas são ouvidas quando expressam ou defendem suas reivindicações de atenção e necessidades políticas; Papel construtivo na conceituação de “necessidades”. Os direitos políticos, incluindo a liberdade de expressão e discussão, são não apenas centrais na indução de respostas sociais às necessidades econômicas, mas também para a conceituação e definição das próprias necessidades econômicas.

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3 TRIBUTAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO

Ao longo dos anos o Brasil tem trabalhado para combater a desigualdade

social, por meio de políticas voltadas a uma melhor distribuição de renda. Todos os

anos são investidos milhões de reais em programas e projetos para melhorar a vida

da população. Mesmo com as mudanças no regime político e no padrão de

desenvolvimento, a riqueza permanece mal distribuída no Brasil.

Os 10% mais pobres da população brasileira pagam o equivalente a 32,8%

da renda em tributos. Para os 10% mais ricos, essa carga é de apenas 22,7%. Pelos

cálculos do presidente do IPEA, os pobres pagam 44% mais impostos do que os

mais ricos. “Quem é pobre no Brasil está condenado a pagar mais imposto”.

De acordo com Pochmann (2008), presidente do IPEA, “[...] a tributação

direta, que incide sobre renda e o patrimônio e afeta os mais ricos, ainda representa

uma fatia reduzida do bolo tributário”.

A participação dos 10% mais ricos na riqueza total das cidades brasileiras, no

final do século XX, chegou a 75,4%. Essa concentração atingiu 73,4% em São

Paulo, 67% em Salvador e 62,9% no Rio de Janeiro.

Com base em dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) de 2003,

do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os pesquisadores do IPEA

concluíram que a faixa dos 10% mais pobres no Brasil têm uma carga tributária

indireta de 29,1%. Na outra ponta, a carga indireta para os 10% mais ricos é de

10,7%.

De acordo com estudo do IPEA (2008), o sistema tributário brasileiro só

contribui para aumentar a desigualdade social no País, porque faz com que os mais

pobres paguem mais impostos que os ricos.

Por meio de um comparativo entre 1996 a 2003 podemos analisar a evolução

da carga tributária e o comprometimento da população com os impostos.

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GRÁFICO 1 – Evolução da Carga Tributária – Comprometimento, 1996 – 2003, em %. Fonte: IPEA (2008).

GRÁFICO 2 – Carga Tributária, por grupos de renda - Dividindo-se a população em 10 grupos, percebe-se que o grupo mais pobre paga mais imposto que o mais rico. Carga tributária em %. Fonte: IPEA (2008).

A partir dos dados apontados no GRÁFICO acima, identificamos que a

concentração de renda, continua sendo um dos mais graves e duradouros

problemas do País, apesar de ter diminuído um pouco nos últimos anos. Porém, os

10% mais pobres continuam no mesmo patamar dos anos anteriores: detêm 1,1%

dos rendimentos do País. Os 10% mais ricos, porém, perderam um pouco de sua

imensa fatia. Em 2006, eles tinham 44,4% da renda do Brasil, já em 2007, esse

número passou para 43,2%.

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Segundo os dados apresentados, a renda média do trabalhador chegou em

2007 a R$960 por mês, com um índice de 3,2% maior do que no ano anterior,

ajudando a recuperar perdas que os brasileiros registraram em anos anteriores.

A renda do brasileiro subiu em 2007, mas ainda ficou abaixo do que há 11

anos, quando foi registrado um valor de R$1.011.

GRÁFICO 3 – Renda, 1997 – 2007 (em R$). Fonte: IPEA (2008).

Apesar de a renda do brasileiro, em 2007, ter ficado abaixo da renda de 1997,

o índice de Gini caiu, revelando uma menor concentração de renda.

GRÁFICO 4 – Índice de Gini, 1997 – 2007 (em %). Quanto mais próximo de zero, mais justa e igualitária é a distribuição de renda. Fonte: IPEA (2008).

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Paul Singer, professor de economia da USP, lembra que segundo dados

divulgados em 2002 pelo Banco Mundial, somente três países africanos

(Suazilândia, República Centro-Africana e Serra Leoa) apresentam distribuição de

renda mais desigual do que a nossa. Para chegar a essa classificação usa-se o

índice de Gini, que varia de zero a 1. Quanto mais próximo de zero, mais justa e

igualitária é a distribuição de renda. O índice da Suécia, um dos países onde a renda

é mais bem distribuída, é de 0,24.

Se a igualdade ocorresse de um dia para o outro, o consumo de produtos

básicos, como alimentos, subiria bastante.

Segundo o IBGE, em dezembro de 2007, o Brasil possuía 54 milhões de

pessoas vivendo com menos de meio salário mínimo. Agora imagine toda essa

gente comprando. Não só arroz com feijão, mas iogurtes, chocolates e bolos. Nos

primeiros meses, os preços iriam às alturas e haveria muita gente se estapeando no

supermercado. O risco de inflação crônica seria enorme. O mercado precisaria de

um tempo para se ajustar.

Aos poucos, haveria um aumento da produção agrícola, gerando maior oferta

de empregos no campo e uma produção mais voltada ao mercado interno. Quem

optasse por trabalhar na lavoura teria mais chances de ser bem-sucedido,

diminuindo o inchaço nas grandes cidades. "Por outro lado, o consumo ostensivo

diminuiria, uma vez que os muito ricos já não seriam tão ricos assim".

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3.1 A QUEDA DA DESIGUALDADE DE RENDA

Segundo o coeficiente de Gini, o grau de desigualdade de renda no País caiu

de maneira acelerada e contínua neste século e declinou 7%, passando de 0,593

em 2001 para 0,552 em 2007, correspondendo a uma taxa de redução média anual

de 1,2%.

GRÁFICO 5 – População brasileira dividida em três estratos, 2007 (em %). Fonte: Estimativas produzidas com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 1977 a 2007.

Os resultados obtidos mostram um comportamento de declínio acentuado da

desigualdade na distribuição de renda entre 2001 e 2007.

Entre 2001 e 2007, o PIB brasileiro cresceu, em termos reais, 23,8%. Porém,

com o crescimento da população, o crescimento da renda familiar per capita ficou

em 15,6%.

Em pesquisa realizada pela PNAD, em 2001, a partir da divisão da população

em três grupos com igual número de pessoas, organizaram-se os dados sobre a

população por ordem crescente de renda. Depois se dividiu o conjunto em três

grupos com um terço dos habitantes.

Feito isso, observou-se qual a era renda máxima entre as pessoas de cada

grupo e ficou estabelecido um limite superior de renda por grupo. Assim, por meio da

PNAD 2001, estimaram-se os limites de cada um dos três grupos. Esses limites de

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rendimento foram deflacionados pelo INPC, entre 2001 e 2007, gerando novos

valores atualizados em 2007.

Deste modo, os limites aplicados à PNAD 2007 foram:

• Grupo 1 (de menor renda): de R$ 0,00 a R$ 545,66 de renda familiar por mês;

• Grupo 2 (de renda intermediária): R$ 545,66 a R$ 1.350,82 de renda familiar

por mês;

• Grupo 3 ( maior renda): de R$ 1.350,82 e mais de renda familiar por mês.

A região Norte, embora também possua um percentual elevado da sua gente

no Grupo 1 (40,9% ou 4 milhões de pessoas), representa apenas 7,2% da

população do País nesse grupo.

O Sudeste e o Sul, por outro lado, apresentam as melhores situações, ambos

com 21,4% da população; o Sudeste, com 15,4 milhões de pessoas e o Sul com 5,4

milhões, vivendo no grupo 1 de renda. Em termos, proporcionais e absolutos, ambos

possuem os maiores contingentes de pessoas vivendo no estrato superior de renda.

GRÁFICO 6 – População brasileira dividida em três estratos, 2001 (em %). Fonte: IBGE. PNAD 2001. (Elaboração IPEA).

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Houve uma queda significativa da população vivendo no Grupo 1 de renda,

que passa a representar apenas 27,4% da população. Se o crescimento

populacional do País fosse aplicado a cada um dos grupos, estes deveriam passar

de 55,5 milhões de pessoas para 60,4 milhões.

No entanto, os grupos 1, 2 e 3 chegam a 2007, respectivamente com 49,7

milhões, 66,5 milhões e 64,9 milhões, mostrando como a ascensão se deu nos três

níveis claramente.

A queda, inclusive absoluta, do Grupo 1 implicou no crescimento do Grupo 2,

do qual pessoas também ascenderam ao grupo mais rico. Em números, 13,8

milhões de pessoas subiram de faixa social: 10,2 milhões do grupo 1 para grupo 2 e

3,6 milhões do grupo 2 para o grupo 3.

A maior mudança está concentrada na passagem do Grupo 1 para o Grupo 2,

representando 74,0% do conjunto dos indivíduos que lograram ascender

socialmente.

Contudo, esses movimentos não foram homogêneos por todo o País,

revelando que, apesar dos avanços, as desigualdades regionais continuam muito

significativas.

GRÁFICO 7 – População brasileira dividida em três estratos, 2007 (em %). Fonte: IBGE. PNAD 2007. (Elaboração IPEA).

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A partir dos dados coletados e analisados, evidencia-se claramente que há

uma melhor distribuição de renda, porém seria muito cedo para comemorarmos tais

resultados, já que as regiões Norte e Nordeste continuam apresentando as maiores

concentrações de má distribuição de renda do País.

É evidente, portanto, a necessidade de que o Estado continue investindo em

políticas a fim de melhorar cada vez mais a distribuição de renda, eliminando,

conseqüentemente, a desigualdade entre as regiões e as pessoas.

De acordo com Keynes (1983, p.33) “é incorreto e mistificador colocar sobre o

indivíduo a responsabilidade por sua ascensão ou queda dentro de uma sociedade

capitalista”.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No tocante à problemática inerente à má distribuição de renda no Brasil, esta

pesquisa objetivou, principalmente, estudar e analisar o impacto na economia

causado pela concentração de renda.

Inferiu-se, dessa forma, que uma distribuição de renda mais proporcional às

micro e macrorregiões do País incidem num padrão de vida mais digno e qualitativo

a cada cidadão.

A distribuição de renda é um problema que não aflige exclusivamente o Brasil,

mas toda a humanidade, sendo inerente ao capitalismo que acalenta uma divisão

desproporcional de renda em todas as regiões e cidades de cada país do Globo.

Essa tendência de cunho capitalista se reflete também na economia

brasileira, de forma assustadora, a tal ponto que foi comprovado, por meio deste

estudo, que a concentração de renda é o principal motivo da má distribuição de

renda e da desigualdade social no País.

Esta pesquisa confirmou também que houve uma discrepância na distribuição

de renda funcional muito grande durante o processo de industrialização no Brasil. A

partir de 1960, desencadeou-se uma política econômica que provocou uma

acentuada concentração de renda no País, favorecendo um aumento de renda à

classe mais rica, facilitado pelas oportunidades em melhorar a qualificação

profissional e pela ampliação do potencial para adquirir produtos de maior valor

agregado.

Partindo do pressuposto que o aumento de renda das classes mais abastadas

incentivou a poupança e os investimentos e, conseqüentemente, o crescimento da

produção; então o mercado de trabalho brasileiro passou a ser caracterizado por

forte arrocho salarial e desemprego estrutural. O governo passou a insistir em

medidas que coibiram a organização operária, o que inevitavelmente enfraqueceu os

sindicatos e suas reivindicações salariais, como, por exemplo, os ganhos sobre

produtividade, os quais não eram repassados aos trabalhadores.

Observou-se também, que nos anos 90, o fraco crescimento econômico e o

desemprego estrutural, advindos da reestruturação produtiva após a abertura

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comercial, desencadearam um aumento do mercado de trabalho informal, gerando

um processo de redução no nível salarial dos trabalhadores.

Infelizmente, o Brasil ainda figura no cenário mundial como um dos países

que apresenta uma das piores distribuições renda, apontando para uma grave

desigualdade social, com milhões de pobres e indigentes. Dezenas de milhões de

pobres e outros milhões de famintos. Governos e mais governos passaram e a

situação apenas piorou.

Apesar de todas as medidas tomadas ano após ano, a fim de diminuir o

problema, é preciso focar em medidas mais robustas que venham efetivar uma

distribuição mais eqüitativa do fluxo de renda. Para tanto, é preciso discutir a

instituição de políticas públicas efetivas ao combate da pobreza e da desigualdade

social, como por exemplo, a implantação de um programa de Imposto de Renda

Negativo.

Igualmente, é necessário efetuar uma revisão nas políticas tributárias, pois

como foi ressaltado, mesmo havendo uma melhor distribuição de renda e/ou

aumento da renda per capita, isso não implicaria em razões suficientes para resolver

os problemas da população mais desfavorecida, visto que os pobres continuam

pagando mais impostos que os mais ricos.

Outra providência valiosa seria estimular o crescimento econômico,

objetivando a geração de mais empregos e renda. No que concerne aos aspectos

institucionais importantes, é primordial instituir políticas públicas que atendam ao

binômio, educação e democracia, imprescindíveis para fortalecer a participação

política de todos os indivíduos na sociedade, bem como otimizar o acesso às

oportunidades, a fim de que não se perpetue o modelo social excludente que se

criou no País. Dentre os aspectos estruturais relevantes destacou-se a diminuição

das desigualdades regionais por meio de políticas públicas que ataquem

particularidades inerentes ao subdesenvolvimento das regiões mais pobres do País.

A cada ano, o Brasil está propenso a uma economia mais sólida, porém não

ocorrerá uma distribuição de renda melhor aplicada sem o envolvimento das elites

econômicas e políticas do País, que sempre se eximiram dessa responsabilidade,

transferindo para o Estado a solução das mazelas da sociedade brasileira.

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