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PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO GRANDE DO SUL
FACULDADE DE ADMINISTRAO, CONTABILIDADE E ECONOMIA
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ECONOMIA
MESTRADO EM ECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO
VANIA ALBERTON
DISTRIBUIO DOS GANHOS
DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
NO COMPLEXO METAL-MECNICO BRASILEIRO
Porto Alegre
Junho de 2006
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VANIA ALBERTON
DISTRIBUIO DOS GANHOS
DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
NO COMPLEXO METAL-MECNICO BRASILEIRO
Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de mestre pelo Programa dePs-Graduao em Economia da Faculdade deAdministrao, Contabilidade e Economia daPontifcia Universidade Catlica do Rio Grandedo Sul.
Orientador: Prof. Dr. Dulio de Avila Brni
Porto Alegre
Junho de 2006
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VANIA ALBERTON
DISTRIBUIO DOS GANHOS
DA PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
NO COMPLEXO METAL-MECNICO BRASILEIRO
Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre pelo Programa dePs-Graduao em Economia da Faculdade deAdministrao, Contabilidade e Economia daPontifcia Universidade Catlica do Rio Grandedo Sul.
Aprovada em 30 de junho de 2006, pela banca examinadora.
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Dr. Dulio de vila Brni(PUCRS)
Prof. Dr Nali de Jesus de Sousa(PUCRS)
Prof. Dr. Raul Lus Assumpo Bastos(FEE)
Prof. Dr. Valter Stulp(PUCRS)
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filha
Michele
Nenhuma sociedade pode ser florescente e feliz,se a grande maioria de seus membros
forem pobres e miserveis.Adam Smith
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AGRADECIMENTOS
Os agradecimentos costumam ser a parte menosprezada nas dissertaes. Sempre
deixada para o final, e, no final, normalmente no se tem tempo. O que acaba sendo
apresentado uma lista de pessoas, afinal os agradecimentos no so avaliados pela banca.
Apesar desse menosprezo, pode-se dizer que deveria ser considerado injusto, pois quem
reparte conosco essa empreitada de nossa vida merece ter um reconhecimento altura. E so
os agradecimentos o lugar onde o autor pode escrever algo de cunho pessoal, sem ter que se
questionar o tempo todo sobre fundamento terico ou emprico de cada afirmao. E o
escrever os agradecimentos sinal de que a dissertao est em sua redao final ou de que o
autor tem a certeza de que vai terminar.
Por onde comear a agradecer? Normalmente, v-se que os autores iniciam os
agradecimentos pela academia e, depois, agradecem a famlia. Eu decidi comear
agradecendo a Deus, a quem me apego em todos os momentos da minha vida, tanto nos
alegres como nos difceis. Depois, agradeo minha famlia: a meus pais, Luiz Antnio e
Terezinha, a meus irmos, Vanir e Vanderlia, minha cunhada Marli e minha filha
Michele. No fcil para uma filha no ter a presena da me, j que a mesma precisa se
afastar para trabalhar e ainda tem a dissertao para fazer (No posso ir visit-la, nem lev-la
ao cinema, nem lev-la na escola, nem s festas, isso tudo fica para depois, e nas frias
tambm no d, pois tem que trabalhar na dissertao, etc...). Nunca poderei recuperar o
tempo que no pude conviver com ela e cumprir o meu papel de me, por isso, agradeo
muito minha cunhada Marli, por ter assumido esse papel que cabia a mim.
Em terceiro lugar, agradeo aos amigos, sempre presentes, com quem nos socorremos
para partilhar a vida, lembranas, angstias e vitrias. Aos meus ex-colegas do DIEESE, pelo
apoio e estmulo para que eu realizasse essa nova etapa na minha vida. Aos professores do
passado e do presente, que formaram e continuam a formar conscincias e exemplos; mais
importantes do que conhecimento. Em especial, meu agradecimento aos professores do
Programa de Ps-Graduao em Economia da PUCRS, pelos ensinamentos em todo o perodo
do mestrado. Aos colegas de Mestrado, em especial a Tamara Dal Maso e ao Newton
Guaran, por provarem que os grandes desafios devem ser vencidos com muita unio.
Agradeo ao contribuinte brasileiro mais humilde, que, sem saber ou consentir, desde muito
ajuda a custear meus estudos em Economia e a quem espero possa estar contribuindo com
idias e aes. CAPES pela bolsa de pesquisa.
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Por ltimo, e no menos importante, quero agradecer a uma pessoa muito especial e
que muito tem contribudo com o meu crescimento pessoal e profissional, o Professor Doutor
Dulio, meu primeiro professor de Economia na poca de graduao da UFRGS. Hoje,
orientador, amigo e pessoa de grande liberdade de esprito e pensamento, responsvel por me
ajudar a colocar algumas idias no papel e que dedicou horas discutindo e contribuindo para
ampliar a minha viso de mundo como economista e a quem eu agradeo a sorte que tenho.
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RESUMO
O papel da produtividade no desenvolvimento econmico tem recebido grande ateno
no Brasil nos ltimos anos, devido s expressivas taxas de crescimento, no setor industrial, na
dcada de 90. Esta dissertao tem como foco realizar uma anlise do que est ocorrendo com
a produtividade da mo-de-obra do complexo metal-mecnico brasileiro, por meio da matriz
de insumo-produto de 1996 e 2002. Este objetivo se desdobra primeiramente num desafio: o
de definir o complexo metal-mecnico, indo alm das classificaes existentes at o
momento, adotando a metodologia de Furtuoso e Guilhoto (2003), criado como referncia ao
agronegcio. Definido o complexo, percebe-se que ele responde por cerca de 13% do valor
adicionado e 11% do emprego remunerado do Pas, em ambos os anos. Analisa-se a posio
relativa de alguns indicadores de produtividade da mo-de-obra do complexo metal-mecnico
com a produtividade geral do sistema econmico. Para ambos os anos analisados, a
produtividade da mo-de-obra do complexo metal-mecnico situa-se acima da mdia dos
setores da economia.
Palavras-Chave: produtividade, trabalhadores, complexo metal-mecnico, matriz insumo-
produto.
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ABSTRACT
The role of productivity in economic development has received great deal of attention in
Brazil in the past years due to the expressive growth rates of the industrial sector in the 1990s.
The aim of this dissertation is to analyze what is happening to the labor productivity of the
Brazilian metal-mechanic complex through the input-product matrices of 1996 and 2002. At
first, this objective leads to the challenge of defining the metal-mechanic complex in such a
way that it is more comprehensive than the existing classifications so far. Furtuoso and
Guilhotos (2003) methodology initially created as a reference to agribusiness - was
adopted. Once the complex was defined, we noticed it responded to about 13% of the added
value and 11% of the remunerated jobs in both years. We analyzed the relative location of
some productivity indicators of the labor of the metal-mechanic complex with the general
productivity of the economic system. For both years analyzed, labor productivity of the metal-
mechanic complex was above average in relation to other sectors of the economy.
Key words: productivity, labor, metal-mechanic complex, input-product matrix
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LISTA DE GRFICOS
Grfico 3.1 Estrutura das variveis resolvidas do complexo metal-mecnico erestante da economia no Brasil 1996 e 2002 .............................................................. 53
LISTA DE QUADROS
Quadro 2.1 Matriz de insumo-produto simplificada conforme Leontief ...................
Quadro 2.2 Setores cuja representatividade superior a 5% ....................................
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LISTA DE TABELAS
Tabela 3.1 ?Y Estrutura percentual da demanda final dos setores econmicosselecionados, no Brasil ?| 1996 e 2002 .........................................................................
Tabela 3.2 ?Estrutura percentual das variveis resolvidas dos setores econmicosselecionados no Brasil ?1996 e 2002 .........................................................................
Tabela 3.3 ?, Encadeamentos para frente e para trs dos setores econmicos ?, 1996e 2002 ............................................................................................................................
Tabela 3.4 ? Estrutura percentual do valor adicionado, do salrio e do emprego noBrasil ?s1996 e 2002 .....................................................................................................
Tabela 3.5 ?Taxa de Crescimento do valor adicionado, do salrio e do emprego, noBrasil 1996-02 ............................................................................................................
Tabela 3.6 ?Determinantes da produtividade, dos setores econmicos no Brasil ?1996 e 2002 ...................................................................................................................
Tabela 3.7 ? Produtividade Setorial Relativa, dos setores econmicos, no Brasil,1996/2002 ......................................................................................................................
Tabela 3.8 ?Decomposio setorial da produtividade no Brasil ?1996 e 2002 .........
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SUMRIO
INTRODUO..........................................................................................................
1 PRODUTIVIDADE E SUAS CONCEITUAES
TERICAS...................................................................................................................1.1 Conceitos de produtividade e suas medies..............................................................
1.2 Contribuies tericas relevantes ...............................................................................
1.3 Alguns resultados empricos sobre a produtividade .................................................
2 A MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO...................................................2.1 O modelo de Leontief ...................................................................................................
2.2 O complexo metal-mecnico e o modelo de anlise ..................................................
3 ANLISE DOS RESULTADOS .................................................................3.1 Variveis resolvidas ......................................................................................................
3.2 A matriz e as linkagens............................................................................................
3.3 Produto, emprego e salrio ..........................................................................................
3.4 Diferenas na produtividade setorial e suas causas ..................................................
CONCLUSO.............................................................................................................
REFERNCIAS..........................................................................................................APNDICE A......................................................................................................................
APNDICE B......................................................................................................................
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INTRODUOO Brasil foi uma das economias que mais cresceu at a dcada de 80. A partir de
ento, a economia brasileira ingressou num perodo de estagnao econmica, levando a uma
estagnao social, com uma grande parcela da populao mantendo-se excluda da atividade
econmica formal ou mesmo condenada pobreza. A taxa mdia de crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB), no perodo de 1964-80, foi de 7,1%, com pico de 14,0% no ano de 1973,
no auge do chamado milagre brasileiro. Nos anos seguintes, o Pas passou a apresentar um
crescimento mdio de 2,0% a.a.
No incio da dcada de 90, frente combinao de abertura comercial e forte recesso,
as empresas fizeram um ajuste defensivo, com reduo de pessoal, introduo de inovaes
organizacionais e melhoria no sistema de qualidade, terceirizao de atividades e
especializao da produo, caracterizando um aumento da produtividade industrial. Segundo
Rossi Jr. e Ferreira (1999), ao comparar o perodo ps com o pr-abertura, v-se que, de 1991
a 1997, o conceito de produtividade-homem mostrou um crescimento de 7,5% a.a.,
contrastando com o perodo de 1985 a 1990, quando a abertura ainda era incipiente, e a taxa
ficou em -0,3%. Utilizando o conceito produtividade-hora, a taxa de crescimento, aps a
abertura comercial, foi de 7,6%, em comparao com o crescimento de 0,25% no perodo pr-
abertura, ou seja, ambos os conceitos apontam uma diferena substantiva no crescimento da
produtividade entre esses dois perodos. Pode-se dizer que os nmeros foram elevados, dado
que as taxas de investimento do perodo foram baixas.
A discusso sobre esse tema passou a ganhar mais espao, na agenda econmica, aps
o perodo de estabilidade econmica trazida pelo Plano Real, ainda que acompanhada de um
elevado aumento do dficit comercial. Sob o ponto de vista macroeconmico, o aumento da
produtividade foi, algumas vezes, utilizado pelo Governo como argumento para no se alterar
a poltica de pequenas desvalorizaes no cmbio ? visto que o ganho de eficincia estaria
compensando as perdas cambiais dos exportadores. Uma maior eficincia do setor industrial
resultaria, no mdio prazo, em um maior crescimento da produo e do emprego ?sabendo-se
que, no curto prazo, os postos de trabalho diminuem, graas ao ajuste provocado pelo
incremento da produtividade. Os aumentos de produtividade tambm seriam fundamentais
para neutralizar eventuais presses inflacionrias sobre os custos das empresas, podendo at
reduzir preos em alguns setores.
No campo microeconmico, aps o fim da legislao de reajustes salariais
automticos, em 1996, a discusso sobre como repartir os ganhos de produtividade passou a
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ganhar peso nas negociaes coletivas. Essa discusso foi reforada pela difuso de tcnicas
gerenciais que realam o comprometimento dos funcionrios nos objetivos da empresa, tendo
como contrapartida algum tipo de participao nos resultados. Nas empresas, a
competitividade tambm passou a ser alvo de preocupao, no s devido diminuio dos
ganhos financeiros provocados pela inflao, mas tambm devido a uma exposio maior
concorrncia externa com a abertura da economia.
Alguns estudos foram realizados para avaliar se a abertura comercial afetou o aumento
da produtividade. Como resultado de uma anlise realizada, por Rossi Jr. e Ferreira (1999, p.
20) concluram que, independentemente de utilizarem o conceito produtividade-hora ou
produtividade-homem, os resultados obtidos so de que [...] quanto maior a tarifa nominal, a
taxa de proteo efetiva e a razo exportao sobre o PIB menor ser a taxa de crescimento da
produtividade do trabalho. J as importaes exercem um efeito positivo e significativo sobre
a produtividade do trabalho. O efeito negativo que as exportaes estariam exercendo sobre
o crescimento da produtividade foi analisado tambm por Okuta (apud ROSSI JR.;
FERREIRA, 1999, p. 21), quando examinou o efeito das exportaes sobre a taxa de
crescimento da produtividade na Coria e na Tailndia e obteve o mesmo resultado. A
explicao que algumas indstrias de baixa produtividade s estariam exportando devido ao
subsdio recebido pelo Governo. Porm no h uma srie setorial de subsdios para verificar a
veracidade da hiptese no caso brasileiro.
Dessa forma, o problema de pesquisa diz respeito questo: o quem vem ocorrendo
com a produtividade dos 42 setores econmicos brasileiros aps a abertura comercial, em
especial o complexo metal-mecnico? Vrios estudos sobre a produtividade industrial
brasileira mostraram que, a cada ano, alguns apresentaram crescimento.
Havendo ganhos de produtividade, cabe indagar quem est se apropriando desses
ganhos: os trabalhadores integrados ao processo produtivo, atravs de melhores salrios; os
capitalistas, atravs do aumento de seus lucros; ou os consumidores, atravs da reduo de
preos. Dado que o complexo metal-mecnico pode estar aumentando a sua competitividade,
ento, os preos podem estar muito prximos dos custos. Nesse caso, como os custos caram,
os preos tambm podem cair.
Para alcanar os objetivos propostos, dividiu-se a dissertao em trs captulos, alm
desta Introduo e da Concluso. O Captulo 1 dedica-se a apresentar a produtividade e a
esclarecer seus conceitos tericos e as formas de sua medio, alm da apresentao de
resultados empricos realizados por alguns autores referentes ao caso brasileiro. No Captulo 2
apresenta-se a teoria bsica dos modelos de insumo-produto, com destaque para o modelo de
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insumo-produto aberto de Leontief, onde o setor famlias considerado exogenamente. Ainda
nessa seo, discute-se a natureza do complexo metal-mecnico, sua importncia analtica e a
construo do modelo de anlise a ser utilizado no trabalho emprico desta dissertao. Aps a
montagem do modelo e a aplicao da metodologia, chega-se ao Captulo 3 onde so
analisados os resultados obtidos para os dois anos que esto sendo examinados, 1996 e 2002.
Por fim, tem-se a concluso final da dissertao, na qual so traadas as principais concluses
do trabalho e avaliado o grau com que seus dois principais objetivos foram atingidos.
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1 PRODUTIVIDADE E SUAS CONCEITUAES TERICAS
1.1 Conceitos de produtividade e suas medies
Neste captulo, so estudados os conceitos de produtividade e as principais formas de
medio. Alm disso, apresenta-se algumas contribuies tericas relevantes para o
entendimento dos fatores determinantes da produtividade, tanto de carter microeconmico
(evolucionistas, eficincia-X, teorias gerenciais e comportamentais da empresa, organizao
industrial) como as macroeconmicas (Kaldor-Verdoorn, crescimento endgeno). No final,
so expostos alguns resultados empricos sobre o clculo da produtividade.
Pode-se definir produtividade como a relao entre a produo e um ou mais de seus
fatores de produo, sendo normalmente calculada em termos fsicos ou reais. Sabe-se que a
Economia a cincia que mais claramente trata do problema da escassez e que evidente que
os recursos disponveis pela sociedade nunca so ilimitados. Produzir mais com o que se tem
?o que significa aumentar a produtividade ? fundamental para a elevao do bem-estar.
O aumento da produtividade em nvel nacional um importante fator explicativo do
progresso que rege o bem-estar econmico. J em nvel setorial, o crescimento da
produtividade tende a reduzir custos e preos industriais e, conseqentemente, a induzir a um
aumento da competitividade e da produo ? o que contribui para a mudana na estrutura
industrial. Quando analisado o aumento da produtividade na empresa, percebe-se que ele
fundamental para elevar sua lucratividade e sua competitividade. Porm no basta a empresa
aumentar a sua produtividade, necessrio que esse crescimento seja superior ao da mdia do
setor, para que, coeteris paribus, ela seja considerada bem-sucedida. No que se refere fora
de trabalho, em pases desenvolvidos, no Ps-Guerra, o ganho de produtividade associou-se a
maiores salrios.
A cada ano que passa, um maior nmero de pesquisadores dedica-se a estudar a
produtividade. De acordo com Moreira (1994, p. 2), a palavra produtividade tem vrios
sentidos, cada qual adaptado a determinados objetivos e usos, mas nem sempre de maneira
muito clara: O estudo da produtividade envolve problemas conceituais, problemas de
medidas e problemas de anlise e interpretao.
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Segundo Moreira (1991, p. 2), o termo produtividade definido como a relao entre
o que foi produzido e os insumos utilizados num certo perodo de tempo. A produtividade
aumenta, se a mesma quantidade de fatores produtivos d origem a maior produo, ou se a
mesma produo obtida com menor quantidade de fatores. Segundo Villela e Silva (1994), a
produtividade, de maneira geral, definida como a relao entre a produo e os insumos em
termos reais (tais como capital, trabalho e recursos naturais), ou seja, em termos de volume
fsico.
Jean Fourasti (1955, p. 56) conceituou produtividade como [...] o coeficiente da
produo por um dos fatores de produo. Fala-se, portanto, da produtividade do capital, dos
investimentos, das matrias-primas, conforme se relaciona a produo com o capital,
investimentos, matrias-primas, etc. A mais conhecida a produtividade do trabalho.
No estudo realizado por Cardoso Jr. (2000), ao adotar o conceito de produtividade
mdia do trabalho, dividindo o valor agregado pelo pessoal ocupado dos complexos da
atividade econmica industrial e dos servios, pode-se verificar que a ocorrncia de ganhos
foi fenmeno geral para todos os grandes segmentos, mesmo que o dos servios tenha puxado
para baixo a mdia da economia como um todo, apresentando uma evoluo mdia de
2,6%a.a.
O aumento da produtividade um fator explicativo do progresso econmico. Kendrick
(apud CARVALHO, 2000) sustenta que, nas duas primeiras dcadas do Ps-Guerra, a
elevao da produtividade total dos fatores respondeu por mais da metade do crescimento do
Produto Nacional Bruto dos Estados Unidos. Para Brenner (1991, p. 61), o crescimento da
produtividade uma exigncia para os setores econmicos competitivos e para aqueles que
tm influncia da abertura comercial.
Para Carvalho (2000), o aumento da produtividade fundamental para neutralizar
eventuais presses inflacionrias sobre os custos das empresas. Em nvel setorial, o aumento
da produtividade tende a reduzir os preos e os custos industriais, induzindo a um aumento da
competitividade do setor. Alm disso, a empresa que consegue aumentar a sua produtividade
logra ser mais competitiva e obter mais lucros. De acordo com Carvalho (2000), em termos da
fora de trabalho, os ganhos de produtividade tendem a estar associados a maiores salrios.
No Brasil, com o final da poltica salarial, em 1996, que garantia reajustes automticos, o
tema produtividade comeou a ganhar peso nas negociaes salariais, com o intuito de
repartir os ganhos.
Para Moreira (1994), os principais beneficirios do aumento da produtividade so os
trabalhadores atravs do aumento dos salrios reais, as empresas atravs do aumento ou da
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manuteno da taxa de lucro e a sociedade atravs da oferta de novos e variados produtos,
com a manuteno ou da queda dos preos.
Uma das preocupaes a respeito da produtividade que os pases, cada vez mais,
necessitam assegurar sua competitividade dentro do cenrio globalizado. Segundo Rossi Jr. e
Ferreira (1999), pases que desejam garantir seu espao no cenrio internacional e assegurar
seu crescimento econmico devem estar atentos aos ganhos de produtividade.
Nesta seo, sero analisadas as duas principais formas de medir a produtividade: a
parcial e a total dos fatores.1 A produtividade parcial a razo entre a produo de um fator
produtivo e o insumo, sendo a mais utilizada, pois exige menos informaes estatsticas.
Talvez pela sua simplicidade e facilidade de clculo, j que sries de produo e de mo-de-
obra so praticamente o mnimo de informao disponvel para vrios agregados em muitos
pases, o mais comum o clculo da produtividade do trabalho, tambm sendo usual calcular
a produtividade da terra. A produtividade do trabalho a relao entre o valor agregado e
nmero de horas trabalhadas ou pessoas ocupadas.
Segundo Moreira (1994), esse clculo no pode ser utilizado, quando analisado
como medida de eficcia do processo produtivo, sem que se faam consideraes adicionais.
Uma medida perfeita de eficcia produtiva deveria levar em conta todos os insumos, j que
podem estar sendo economizados custa de outros (MOREIRA, 1994, p. 14). De acordo
com Rossi Jr. e Ferreira (1999), a produtividade do trabalho guarda estreita correspondncia
com o crescimento da renda per capita, sendo, assim, a medida mais apropriada quando o
interesse est centrado no bem-estar econmico, em uma economia competitiva.
No Brasil, a partir de dados mensais das pesquisas conjunturais da Fundao Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), faz-se o clculo da produtividade do trabalho.
Esse indicador calculado dividindo-se o ndice de produo fsica pelo de pessoal ocupado
ou horas pagas na produo.
A produtividade total dos fatores (PTF) constitui o referencial terico do mainstream
(Denison, Kendrick e, principalmente, Solow), em estudos relacionados produtividade e ao
crescimento. Os dois ndices mais conhecidos so o ndice aritmtico, ou ndice de Kendrick,
e o ndice geomtrico, ou ndice de Solow. O ndice aritmtico esteve presente em alguns
1 A terceira forma ?e a menos utilizada ?que consiste em regredir a produo com seus fatores numa srietemporal, no ser tratada neste estudo, podendo ser verificada em Kendrick (1993, apud CARVALHO, 2000).
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trabalhos norte-americanos do final da dcada de 40 e do incio da dcada de 50. Esse ndice
reputado a Kendrick, pois ele o popularizou em seu livro Productivity Trends in the United
States, publicado em 1961. J o ndice geomtrico foi desenvolvido pelo Economista Robert
Solow em 1957.
De acordo com Moreira (1994, p. 16) [...] os dois ndices consideram o capital e a
mo-de-obra como insumos bsicos, de forma que ambos medem a produtividade total dos
fatores. A medida de produo, nos dois ndices, o valor adicionado. A equao (1.1)
mostra o ndice de Kendrick calculado a partir de ndices do valor adicionado (VAt/VA0), da
mo-de-obra (Lt/L0) e do capital (Kt/K0), todos eles referentes ao perodo base onde se tomou
a0 e b02. Seu denominador a mdia aritmtica ponderada entre os ndices de crescimento do
trabalho e do capital, com os pesos dados pela participao do rendimento de dado fator no
total do valor adicionado.
100)()(
0000
0 xKKbLLa
VAVAPTFtt
tt
+
= (1.1)
Segundo Moreira (1994, p. 18), os pesos de a0 e b0 devem ser mudados
periodicamente, com o objetivo de refletir as mudanas ocorridas na produo e nos preos
relativos do trabalho e do capital. Caso elas no ocorram, esse autor alega que o agregado que
comparece no denominador ser maior com os pesos antigos do que com os novos sistemas de
pesos. O reflexo disso de que o crescimento de um insumo inversamente proporcional ao
seu preo, ou seja, o insumo que apresentou um maior crescimento da quantidade tende a ter
um menor preo relativo nos perodos mais recentes. Porm existem os autores que defendem
a manuteno dos pesos a cada perodo, pois isso conduziria sempre igualdade, perdendo,
dessa forma, o sentido do clculo. Moreira, em seu trabalho, adota pesos de um ano base, sem
mudana posterior.
De acordo com Bonelli (1976), o primeiro trabalho importante sobre a produtividade
total de fatores foi realizado por Abramovitz (e publicado, originalmente, em 1956). Nesse
trabalho, Abramovitz procurou explicar o crescimento do Produto Nacional Lquido per
capita dos Estados Unidos no perodo de 1870 a 1946. Conforme Carvalho (2000, p. 24),
Ambramovitz:
2 Essas idias esto discutidas na obra de Moreira (1994, p. 17-19).
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[...] divide o ndice dessa varivel por uma mdia aritmtica ponderada de doisindicadores de insumos per capita: homens-hora e capital. A ponderao utilizadafoi a participao desses fatores no produto. Essa frmula de clculo traz implcitauma funo de produo e tem por finalidade desagregar o incremento do produtoem termos das contribuies dos fatores produtivos do resduo. (...) uma parcelamuito pequena do aumento do produto (10%) explicada pelo maior consumoindividual de insumos. Conseqentemente, a produtividade do conjunto dos fatores? estimada como resduo ? a principal responsvel (90%) pelo incremento daproduo.
Abramovitz (apud BONELLI, 1976, p. 9) ficou surpreso com o resultado. O trecho a
seguir expressa sua opinio:
Este resultado surpreendente na importncia assimtrica que parece atribuir aoaumento da produtividade e deve, em certo sentido, sugerir cautela, se no fordesencorajador, aos estudiosos do crescimento econmico. Dado que pouco sabemosacerca das causas do aumento da produtividade, a importncia indicada desseelemento pode ser considerada como sendo uma espcie de medida da nossaignorncia sobre as causas do crescimento econmico nos Estados Unidos e umaespcie de indicao acerca de onde devemos concentrar nossa ateno.
O ndice de Solow, tambm conhecido como ndice geomtrico, apareceu pela
primeira vez em um artigo considerado clssico na literatura sobre a produtividade, chamado
Technical Change and the Aggregate Production Function, publicado em 1957. Ele partiu
da funo de produo
Q = f(L, K, t),
na qual Q representa o valor adicionado, K o capital, L a mo-de-obra e t uma varivel que
indica o tempo e aparece na funo para captar mudana tecnolgica, a qual Solow utiliza
para explicar o tipo de salto na funo de produo Q.3
De acordo com Moreira (1994), a funo de Solow pode ser escrita como
Q = A (t) f (K,L),
onde A(t) mede o efeito acumulado de saltos na funo ao longo do tempo e que pode ser
interpretado como um ndice de produtividade, que leva em conta o capital e a mo-de-obra.
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O prprio Solow faz uma aplicao do seu modelo ao setor privado no agrcola daeconomia norte americana para o perodo 1909/49, encontrando uma razo decrescimento da produtividade total dos fatores de 1% ao ano para a primeira metadedesse perodo e 2% ao ano para a segunda metade. Determinou que quase 90% doaumento da produtividade da mo-de-obra no perodo era devido mudanatecnolgica e pouco mais de 10% ao aumento do capital empregado por trabalhador.(MOREIRA, 1994, p. 19)
A contribuio de Solow no foi importante somente para os estudos relacionados
produtividade, mas, principalmente, para aqueles da rea de crescimento econmico. At a
sua contribuio, predominavam os modelos de crescimento keynesianos, como os de Harrod
e Domar, em que a demanda explica o crescimento. A partir de sua contribuio, a funo de
produo passou a ser utilizada nos modelos de crescimento, ou seja, o que determina o
crescimento so a oferta de fatores e o progresso tcnico exgeno.
O ndice de Solow tornou-se um dos mais populares para o clculo da produtividade
total dos fatores, juntamente com o ndice de Kendrick. Em seu trabalho, Solow enfatiza o
termo mudana tcnica ou tecnolgica, mas no se preocupa em analisar quais as
influncias sobre a produtividade da mo-de-obra. Porm abriu caminhos para Denison, com
sua contabilidade de crescimento, o qual se tornou o grande expoente dessa corrente e
passou a trabalhar com o que chamou de fontes de crescimento do produto.
Carvalho (2000) explica que, em sua metodologia, Denison realizou uma diviso do
crescimento da produo nacional em duas partes: o incremento dos fatores produtivos e o
aumento da produo por unidade de insumo. As duas parcelas passam a ser desagregadas
conforme a contribuio das vrias fontes de crescimento. A parcela no explicada (resduo)
foi chamada de avano do conhecimento e fatores no especificados e alocada na
produo por unidade de produto. O maior detalhamento inevitavelmente acarreta a
diminuio do resduo final.
3 Segundo Moreira (1994, p. 19): Imaginando o grfico da funo de produo, os saltos na funo deproduo so definidos como deslocamentos da funo aos eixos (K e L) de forma que, com idnticasquantidades de mo-de-obra e capital, possvel obter valores cada vez maiores da produo.
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1.2 Contribuies tericas relevantes
Alm das contribuies tericas sobre a produtividade parcial e sobre o referencial
terico do mainstream (Denison, Kendrick e Solow), que foram apontadas anteriormente,
aqui sero apresentadas outras contribuies tericas relevantes para o entendimento dos
fatores determinantes da produtividade. Essas podem ser divididas em dois grupos. O
primeiro abrange as explicaes de carter microeconmico, envolvendo os evolucionistas, as
teorias gerenciais e comportamentais da empresa, a teoria da eficincia-X e o paradigma da
organizao industrial. No segundo grupo, encontram-se a macroeconmica de Kaldor-
Verdoorn e a teoria do progresso tcnico endgeno. A seguir, discuti-se cada uma delas.
A explicao evolucionista privilegia o progresso tcnico como causa do aumento da
produtividade. De acordo com Kupfer (1996, p.355), [...] a preocupao central desses
autores a lgica dos processos de inovao e seus impactos sobre a atividade econmica.
Contrapondo-se microeconomia tradicional, ela assume que as empresas so motivadas pelo
lucro e procuram meios de aument-lo. Nessa teoria, as empresas tm regras e capacidade de
deciso que, com o passar do tempo, se modificam em funo tanto de aes deliberadas para
resolver problemas quanto eventos aleatrios. As empresas que no so lucrativas no
sobrevivem, como ocorre num processo de seleo natural. As empresas tm rotinas, e essas
so similares ao papel dos genes da Biologia. Isso ocorre porque, na medida em que
determinam o seu comportamento, que no absoluto ?dado que, no meio ambiente fatores
aleatrios podem interferir ?, so hereditrias e passveis de serem transmitida para novos
empreendimentos, fazendo com que somente as rotinas bem-sucedidas sobrevivam
(NELSON; WINTER, 1996 apud CARVALHO, 2000).
Conforme apontado por Carvalho (2000, p. 48), h trs tipos de rotinas:
[...] as de comportamento de curto prazo, relativas ao dia-a-dia de operaes daempresa; as de relativas ao aumento do estoque de capital; as que visam alterar asprprias rotinas existentes, chamadas de procura. Em funo dessas ltimas queocorrem as mutaes, processo em que a empresa se transforma. Essa procura podelevar a empresa a imitar empresas de seu setor ou de outros setores. A outraalternativa seria partir para a inovao.
Dosi (1988, apud CARVALHO, 2000) adota um enfoque alternativo. Ele trabalha com
os conceitos de paradigma e trajetrias tecnolgicas. O conceito de paradigma cientfico
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atribudo a Kuhn, em sua obra The Structure of Scientific Revolutions, publicada em 1962.
Porm Dosi, em seu artigo publicado na revista Research Policy, em 1982, intitulado
Technological Paradigms and Technological Trajectories, faz uma adaptao ao conceito
de Kuhn, em que lanou, pioneiramente, o conceito de paradigma tecnolgico.
Segundo Kupfer (1996, p. 355), um paradigma tecnolgico [...] um pacote de
procedimentos que orientam a investigao sobre um problema tecnolgico, definindo o
contexto, os objetivos a serem alcanados, os recursos a serem utilizados, enfim um padro de
soluo de problemas tcnico-econmicos selecionados e que direciona os esforos
tecnolgicos e o progresso tcnico. Para Dosi (1988 apud CARVALHO, 2000, p. 49):
O progresso tcnico seria produto da interao entre capacidades e estmulosgerados nas empresas e indstrias e causas externas mais amplas, como odesenvolvimento da cincia, facilidades na difuso de conhecimentos, condies demercado, padres de financiamento, tendncias macroeconmicas, etc.
Freeman e Perez (1988 apud CARVALHO, 2000) identificam um paradigma, que
designam como paradigma tecno-econmico. Eles possuem como ponto de partida a
taxonomia de inovaes, que podem ser incrementais, radicais, de mudanas do sistema
tecnolgico e de alterao do paradigma tecno-econmico. As inovaes incrementais no
seriam fruto de um esforo deliberado, mas derivadas do learning by doing e do learning by
using4. As inovaes radicais so resultado de um esforo que visa inovao, mas em que,
normalmente, o impacto imediato sobre o agregado da economia baixo. J as inovaes de
mudana no sistema tecnolgico afetam vrios ramos da economia e podem fazer surgir
setores totalmente novos. As inovaes de alterao do paradigma tecno-econmico possuem
grande influncia sobre o comportamento de toda a economia, afetando-a de forma direta ou
indireta.5
Um ponto importante, alm dos paradigmas apontados anteriormente, refere-se s
mudanas organizacionais, ou seja, adoo de tcnicas gerenciais japonesas, que tm grande
influncia na explicao do salto dado pela produtividade brasileira nos anos 90. A grande
maioria das empresas iniciou a sua modernizao pelas mudanas organizacionais, j que
podem ser adotadas com baixo investimento e resultados visveis a curto prazo. Porm
4 O learning by using so as inovaes que so fruto da interao com os usurios.
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investimentos em inovao de produtos e processos, que pressupem gastos com P&D e
novos equipamentos, fazem-se necessrios para atingir uma melhor produtividade no mdio e
no longo prazo. (PEREZ apud CARVALHO, 2000).
Ainda integrantes do primeiro grupo de explicaes tericas para o progresso
tecnolgico, Possas (1987, p. 43) menciona as teorias gerenciais e comportamentais. Diz o
autor que essas so classificadas [...] conforme dem mais destaque ao papel da
administrao da empresa na definio de objetivos, ou ao processo de decises como tal,
envolvendo permanente modificao e adaptao de objetivos. Nelson e Winter (1996 apud
CARVALHO, 2000) consideram essas teorias como correntes que antecederam e que esto
prximas ao pensamento evolucionista.
As teorias comportamentais da firma possuem como autor pioneiro dessa linha de
estudos Simon, que [...] confere uma importncia particular incerteza no processo de
deciso e formulao das metas mltiplas da empresa, ao lado da distino entre as aspiraes
e o comportamento dos administradores e dos proprietrios (POSSAS, 1987, p. 61). Segundo
ele, em situaes de incerteza, no possvel para os tomadores de deciso da firma saberem
se esto ou no maximizando o lucro, pelo fato de no disporem de informaes necessrias
para avaliarem.
Um dos primeiros representantes das teorias gerenciais foi Baumol, que constri um
modelo de comportamento no qual o valor das vendas maximizado no longo prazo, tendo
como restrio uma possvel lucratividade aceitvel por parte dos acionistas. Um aumento das
vendas em detrimento da elevao dos lucros pode garantir aos gerentes um certo prestgio,
conseqentemente, estabilidade no emprego e bons salrios. De acordo com Baumol:
[...]a maximizao das vendas em lugar dos lucros garante maior estabilidade emenor risco na operao da empresa a longo prazo, particularmente em condies(que so as normais) de incerteza e flutuaes da demanda, alm de fortalecer suaposio competitiva frente s rivais. (POSSAS, 1987, p. 44)
A existncia de um lucro mnimo necessria para sustentar as campanhas de venda e
os investimentos em capital fixo, em busca da prpria expanso, e, indiretamente, influencia
5 De acordo com Freeman e Perez (1988 apud CARVALHO, 2000, p. 49) [...] as mudanas envolvidas voalm de trajetrias de engenharia para produtos especficos ou tecnologias de processo e afetam o custo daestrutura de insumos e as condies de produo e distribuio por todo o sistema.
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de modo positivo a disponibilidade de recursos financeiros externos por meio de emprstimos,
lanamento de aes, etc., que requerem o pagamento de juros e a distribuio de dividendos.
Williamson (POSSAS, 1987), em seu modelo centrado no comportamento gerencial
discricionrio, parte do pressuposto de que a dissociao entre o controle da grande
empresa moderna e a propriedade faz com que se reduza a influncia dos acionistas na
definio do comportamento da empresa. Para ele, a empresa no tem como objetivo central a
maximizao de lucros, mas, sim, substitudo por diversos objetivos parciais relacionados
administrao. De acordo com Williamson, os gerentes buscam maximizar a sua prpria
utilidade, a qual compreende basicamente salrio, segurana, prestgio profissional e
despesas discricionrias (POSSAS, 1987, p. 47), sujeita restrio de um nvel mnimo de
lucro.
Robin Marris tem como hiptese central a noo de que [...] uma firma tem como
objetivo maximizar a taxa de crescimento (dos ativos ou vendas), sujeita restrio de uma
lucratividade (taxa de lucros) mnima, imposta pela segurana ?basicamente financeira ?que
a administrao julga apropriada (POSSAS, 1987, p. 48). H uma relativa independncia da
administrao frente aos acionistas. A partir de certo ponto, ocorreria um trade off entre
eficincia e crescimento, pois, com a expanso da empresa, gerentes menos experientes
passariam a integrar a empresa, o que afetaria a produtividade. A contribuio de Cyert e
March [...] sugere que as empresas normalmente procuram alcanar lucros satisfatrios e que
somente quando isso possvel que procuram aprimorar produtos e mtodos de produo
(SIMON apud CARVALHO, 2000, p. 61).
Segundo Leibenstein (1966 apud CARVALHO, 2000, p. 62), a [...] teoria
microeconmica se concentra na eficincia alocativa, excluindo outros tipos de eficincias
que so muito mais significativas. Alm disso, o aprimoramento da eficincia no alocativa
um importante aspecto do processo de crescimento. Nesse contexto, ele criou o que
chamou de teoria da eficincia-X, que integra a terceira teoria pertencente ao primeiro grupo.
Na teoria da produo, a ineficincia alocativa ocorre quando os preos dos fatores de
produo esto distorcidos, devido, por exemplo, existncia de monoplios. Devido a isso, o
empresrio combina, por meio da funo de produo, quantidades incorretas de capital e
trabalho e tem como resultado uma perda de bem-estar para a sociedade. A eficincia-X a
situao em que os custos totais de uma empresa no so minimizados, porque a produo
decorrente de uma determinada quantidade de insumos inferior produo mxima
possvel. A eficincia-X uma decorrncia direta dos mercados controlados por monoplios
ou oligoplios, quando as presses da concorrncia so pouco presentes.
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A ltima contribuio terica relevante ao entendimento dos fatores determinantes da
produtividade, pertencente ao primeiro grupo de explicaes de carter microeconmico, o
paradigma organizao industrial. So vrias as teorias e estudos empricos relacionados a ela,
tais como: estruturas de mercado e inovao, estruturas de mercado e difuso, mercados
contestveis e estruturas de mercado e economias de escala.
A teoria schumpeteriana a base da relao entre estruturas de mercado e inovao.
Para Schumpeter (1982), o elemento motor da evoluo do capitalismo a inovao, seja ela
em forma de introduo de novos bens ou tcnicas de produo, seja mesmo, atravs do
surgimento de novos mercados, fontes de oferta de matrias-primas ou composies
industriais. Grandes empresas em mercados concentrados seriam as maiores fontes de
progresso tcnico, pois teriam mais recursos e motivao para investir em novas tecnologias.
Segundo Carvalho (2000, p. 71): [...] o progresso tcnico ? para muitos autores ? a
principal causa do aumento da produtividade no longo prazo, e tambm porque tamanho da
empresa e concentrao industrial so fatores mais fceis de serem mensurados do que
progresso tcnico.
Empresas oligopolistas teriam a seu favor maior facilidade de se apropriar do
progresso tcnico por meio de acordos comerciais e canais de distribuio, maior economia de
escala em P&D, maiores recursos para investir em projetos de P&D que tenham retornos
incertos6 e que, por isso, tem maior dificuldade de serem financiados pelo setor financeiro.
Por outro lado, teriam como desvantagem a possibilidade de se tornarem burocratizadas,
dando pouca ateno s inovaes e levando a uma situao de acomodamento. As opinies a
respeito de a tese shumpeteriana7 estar ou no correta dividem-se entre os que descartam
inteiramente a mesma e os que admitem que baixa a correlao.
Analisando a relao entre produtividade e concentrao, Scherer e Ross fizeram a
seguinte observao:
6 De acordo com Possas (1987), a incerteza do retorno do gasto em P&D costuma ser alta, mas isso minimizado pelo fato de as empresas fazerem sobretudo pesquisa econmica aplicada. As pesquisas bsicasainda se concentram nas universidades.
7 De acordo com Coombs, Saviotti e Walsh (apud CARVALHO, 2000, p. 72): Para efeito de teste emprico, atese schumpeteriana costuma ser dividida em duas, com a seguinte formulao: 1) a intensidade dos gastos emP&D aumenta mais do que proporcionalmente concentrao do mercado; 2) a intensidade dos gastos emP&D aumenta mais do que proporcionalmente ao tamanho da firma. Um indicador de intensidade dos gastosem P&D muito utilizado sua participao no valor da produo da empresa.
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Encontrou-se uma relao positiva e estatisticamente significativa entre crescimentoda produtividade e concentrao de vendas nas indstrias manufatureiras americanasem perodos que vo de 1919 at 1978. No entanto, quando so includos comovarivel explanatria adicional os gastos em P&D em produtos e processos,divididos pela receita de vendas, essa tira o poder explicativo do ndice deconcentrao, reduzindo-o insignificncia estatstica. Portanto, a cadeia decausao parece ir de maiores gastos em P&D ?6 que correlacionado concentrao de vendas ?para maior crescimento da produtividade. Mas a questocontinua: qual a natureza da relao P&D-concentrao ? (SCHERER; ROSS apudCARVALHO, 2000, p. 74).
De acordo com Carvalho (2000), Scherer & Ross chegaram a concluir que, para um
rpido progresso tecnolgico, necessria uma combinao de competio e monoplio, com
mais nfase, em geral, no primeiro do que no segundo, e que o papel dos elementos
monopolsticos deve diminuir quando existem boas oportunidades tecnolgicas. Davies, ao
analisar uma srie de estudos sobre a relao entre concentrao e produtividade, percebeu
que os resultados exibiram relaes positiva, negativa e inexistente. O autor concluiu que
[...] a maioria dos estudos sugere que a concentrao tem pequeno efeito (DAVIES, 1991
apud CARVALHO, 2000). Ele ressalta tambm que, ao realizar um estudo para explicar a
produtividade, cuja varivel dependente a concentrao, necessrio explicitar qual a
intensidade do capital como varivel explicativa, caso contrrio, a concentrao acaba
incorporando o capital.
A estrutura de mercado e difuso so a segunda teoria relacionada ao paradigma da
organizao industrial. Uma inovao s tem impacto sobre um segmento econmico e sobre
a produtividade setorial quando ocorre o processo de difuso do uso dessa inovao. Segundo
Carvalho (2000), os modelos mais utilizados para analisar esse fenmeno so os chamados
epidmicos, onde a curva de difuso interempresas, ao logo do tempo, tem o formato de
parbola de terceiro grau. No incio, o crescimento seria exponencial, devido combinao da
disseminao de informaes sobre a nova tecnologia e as experincias de adoo bem-
sucedidas com a presso competitiva. Com a saturao do mercado aps um determinado
momento, os rendimentos decrescentes passam a se fazer presentes.
De acordo com Coobs, Saviotti e Walsh (apud CARVALHO, 2000, p. 75), a taxa de
difuso seria influenciada pelos seguintes fatores: tamanho da empresa, taxa de crescimento
da indstria, qualidade da administrao, lucratividade prevista e custo de adoo.
Segundo Stoneman e Karshenas,
[...] a maioria dos trabalhos empricos sobre difuso interempresas encontra umarelao positiva entre o tamanho da empresa e a rapidez na adoo de uma grandevariedade de tecnologias em diferentes indstrias... (no entanto) a evidncia do
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efeito da estrutura do mercado sobre a rapidez na difuso mais ambgua(STONEMAN; KARSHENAS apud CARVALHO, 2000, p. 76)
Dentro do paradigma da organizao industrial, podem-se ressaltar tambm as
economias de escala. Elas resultam da racionalizao intensiva da atividade produtiva, graas
ao empenho sistemtico de novos engenhos tecnolgicos e de processos avanados de
automao, organizao e especializao do trabalho. Existem economias de escala, porque o
custo unitrio de um produto tende a cair com o aumento do tamanho da planta, da empresa e
da produo. As economias de escala so sujeitas a rendimentos decrescentes, at se atingir a
escala mnima eficiente (EME), onde ento as economias de escala se esgotam.
De acordo com Lootty e Szapiro (2002), as economias de escala costumam ser
divididas em reais e pecunirias. Na primeira, medida que cresce a escala de produo, so
necessrios menos insumos para a produo da mesma quantidade do produto, ou seja, trata-
se de uma economia fsica de recursos. Enquanto, na segunda, a economia se d nos menores
preos pagos aos fatores de produo, insumos e demais componentes dos custos, muitas
vezes associados ao poder de barganha de uma grande empresa (POSSAS, 1987). Portanto, as
economias de escala reais so as relevantes para o estudo da produtividade e podem ser
divididas em quatro categorias: produo, vendas e marketing, gerncia e estoques e
transporte.
De acordo com Pinho e Vasconcellos (2003), as economias de escalas reais podem
decorrer de vrios fatores, dentre eles:
a) economias de trabalho, derivadas da diviso do trabalho, que permite ganhos
de especializao da mo-de-obra e economia de tempo entre as tarefas;
b) economias fsicas, advindas da indivisibilidade do capital;
c) economias de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos, onde o custo
fixo, independentemente da quantidade produzida;
d) economias de reservas financeiras e estoques, que a medida que se expande a
escala de produo, podem ser reduzidas;
e) economias de propaganda e marketing, que se fazem necessrias para obter
algum efeito sobre a demanda.
Todos os fatores integrantes das economias de escala esto fora de alcance das
pequenas e mdias empresas, uma vez que sua existncia est diretamente ligada ao consumo
em massa, capaz de absorver, em todos os nveis, a produo em srie. Outro ponto
importante que, para uma firma entrante que pretenda operar em escala elevadas, ainda h
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barreira entrada. A deciso de uma nova firma entrar ou no no mercado deve levar em
considerao a reao da firma j estabelecida.
Por fim, a ltima teoria relacionada ao paradigma da organizao industrial e que faz
parte do primeiro grupo, no qual se encontram explicaes de carter microeconmico, a
teoria dos mercados contestveis. Ela comeou a ser construda no incio dos anos 1970,
porm foi trazida a pblico, de forma mais completa, em 1982, com a publicao do livro, de
Baumol, Panzar e Willig, Contestable Markets and the Theory of Industry Structure.
Para Baumol (1982, p. 3), [...] um mercado contestvel aquele no qual a entrada
absolutamente livre e a sada absolutamente sem custo.
A teoria dos mercados contestveis procura examinar as condies nas quais um
mercado concentrado, oligopolstico ou at monopolstico pode apresentar desempenho
competitivo nos preos (conduta) e nos custos (eficincia-performance), apenas sob ameaa
de entrada da concorrncia potencial, sem necessidade de reduzir a estrutura condio
atomstica da concorrncia perfeita, visando ainda extrair da implicaes normativas
(BAUMOL, 1982).
Baumol (1982, p. 3) reconhece, no entanto, que [...] os mercados reais raramente so
perfeitamente contestveis. Contestabilidade apenas um ideal mais amplo, uma referncia de
aplicabilidade mais ampla que a concorrncia perfeita. No caso de perfeita contestabilidade,
alm de no haver espao para a realizao de lucros extraordinrios, a estrutura de mercado
ser eficiente, apresentando uma configurao que o leve ao menor custo possvel. A
contestabilidade de um mercado estimularia o aumento da produtividade. Mensurar a
contestabilidade envolveria mensurar os custos de entrada e de sada das empresas dos
mercados e que so quase inviveis para a economia como um todo.
Concludo o exame das quatro teorias relevantes para o entendimento da produtividade
constituintes do grupo que enfatiza o carter microeconmico, passa-se duas vertentes
macroeconmicas. A primeira vertente associa-se s quatro leis de Kaldor. Juntas, elas tentam
explicar por que as taxas de crescimento entre os pases divergem. Sua preocupao com o
desenvolvimento econmico foi oferecer uma viso alternativa teoria do crescimento
neoclssica. Kaldor no apresentou suas proposies explicitamente como leis, porm, por
meio dos escritos de Targetti e Thirlwall, essa foi a forma como ficaram registradas na
literatura. Aqui sero apresentadas sucintamente todas as quatro leis, mas a segunda ?a lei de
Kaldor-Verdoorn ? ter um destaque principal, pois est diretamente relacionada
produtividade, que o objeto de estudo.
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A primeira lei de Kaldor situa a indstria como motor do crescimento. Como o
objetivo de Kaldor era explicar o crescimento desigual dos pases, ele se voltou para a
indstria, que seria o motor do crescimento. Ele trabalhou, no desenvolvimento de sua teoria,
com a hiptese de retornos crescentes de escala, em contraposio s hipteses de retornos
decrescentes e de retornos constantes presentes nos modelos tradicionais.
Sua primeira lei estabelece que existe uma forte relao entre o crescimento da
produo industrial e o crescimento do produto nacional bruto (PNB), e mais, que o
acrscimo do PNB ser tanto mais elevado quanto maior for o incremento da indstria em
relao aos demais setores. Kaldor chegou a tal concluso a partir de uma anlise de 12 pases
(ustria, Blgica, Canad, Dinamarca, Frana, Alemanha, Japo, Itlia, Holanda, Noruega,
Reino Unido e Estado Unidos) entre 1954 a 1964. Ele fez uma regresso entre o crescimento
anual da indstria manufatureira (varivel independente) contra o crescimento do PNB
(varivel dependente) (FEIJ e CARVALHO, 2002). Para Kaldor (apud FEIJ e
CARVALHO, 2002), a indstria o motor do crescimento econmico, pois a industrializao
acelera a taxa de mudana tecnolgica de toda a economia.
A segunda lei de Kaldor ? tambm conhecida como lei de Kaldor-Verdoorn ?
estabelece que [...] h uma relao positiva entre a taxa de crescimento da produtividade na
indstria e a taxa de crescimento da produo industrial (THIRLWALL apud FEIJ e
CARVALHO, 2002, p. 62). Nessa regresso, a varivel independente a taxa de crescimento
da produo industrial, e a dependente a taxa de crescimento da produtividade industrial.
Segundo o teste feito por Kaldor para todos os setores produtivos, os coeficientes dessa
relao s explicariam a produtividade para a indstria.8 Kaldor tentou mostrar que o
progresso tcnico endgeno na indstria e no exgeno, como outros autores defendiam.
De acordo com Feij e Carvalho (2002), a lei de Verdoorn, na interpretao de Kaldor,
estabeleceu que a relao de causalidade entre a taxa de produtividade e a taxa de crescimento
da produo no sentido do aumento da produo, induzido pelo aumento da demanda, que
8 De acordo com Feij e Carvalho (2002), tal relao foi originalmente descoberta por Verdoorn, mas, apesar deKaldor se basear na anlise de Verdoorn, existem diferenas muito significativas entre os dois autores.Segundo Targetti (1992 apud FEIJO e CARVALHO, 2002, p. 62), Verdoorn deduz os coeficientes de suaequao de funes de produo estticas, enquanto para Kaldor o fenmeno dos retornos crescentes eraintrinsecamente dinmico. Kaldor, diferentemente de Verdoorn e autores posteriores, relaciona estasregularidades apenas s atividades do setor secundrio da economia e no s atividades dos setores primrio etercirio. Finalmente, Verdoorn usou esta relao para indstrias individuais, enquanto Kaldor tratava ofenmeno como macroeconmico. Ele como Young (1928) acreditavam que as economias de escaladerivavam menos da expanso de cada indstria individualmente e mais da expanso do sistema manufatureirocomo um todo.
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acarreta um aumento da produtividade em setores onde se verifica a presena de economias
de escala.
Uma das conseqncias dessa abordagem que as taxas de crescimento da
produtividade entre setores no precisam convergir. Setores com retornos crescentes de escala
tendero sistematicamente a apresentar um nvel de produtividade mais elevado e maior
dinamismo na sua evoluo, medida que a demanda agregada se expande.
A terceira lei de Kaldor define a dinmica do crescimento da produtividade agregada
da economia como estando associada ao crescimento da produo e do emprego na indstria.
Segundo a terceira lei de Kaldor:
[...] quanto maior o crescimento da produo industrial, maior ser a taxa detransferncia de mo-de-obra de setores no industriais para a indstria, portanto aprodutividade da economia est positivamente relacionada ao crescimento daproduo e do emprego na indstria e negativamente associada ao crescimento doemprego fora da indstria (THIRLWALL apud FEIJO e CARVALHO, 2002, p. 63).
Essa relao foi testada, regredindo a taxa de variao do PNB (varivel dependente)
com a taxa de crescimento do emprego industrial (varivel independente). Kaldor verificou
que essa correlao no espria, pois no existe associao entre o aumento do PNB e o
emprego total da economia e a correlao entre o PNB e o emprego no industrial negativa.
Kaldor recebeu muitas crticas a respeito da transferncia de mo-de-obra. Ao analisar
a Gr-Bretanha, ele afirmou que ela apresentava baixo crescimento no perodo estudado,
devido prematura maturidade industrial. Porm recebeu diversas crticas a esse respeito, at
que passou a defender que a causa da m performance da Gr-Bretanha no seriam as
restries de oferta, mas sim, de demanda. De acordo com Feij e Carvalho (2002, p. 65):
Com essa autocrtica, ele deixou claro que o crescimento econmico fundamentalmente
induzido pela demanda, no sendo restringido pela oferta de fatores.
Por fim, a quarta lei de Kaldor busca explicar o papel da demanda externa no seu
modelo. Segundo Targetti (1992 apud FEIJO e CARVALHO, 2000), a lei de Kaldor-
Thirlwall considera que a taxa de crescimento do produto de cada pas ou regio
determinada principalmente pela demanda externa. Assim, o crescimento das exportaes
deve ser entendido como o resultado dos esforos dos produtores em procurar mais mercados
potenciais e adaptar sua estrutura produtiva a esse propsito. A variao das importaes
deve-se variao da renda real e no dos preos. A principal restrio de um pas dada pela
sua balana de pagamento.
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O ponto de partida de Kaldor para a elaborao dessa lei foram os escritos de Hicks e
Harrod sobre o multiplicador keynesiano. De acordo com Feij e Carvalho (2002), o aumento
das exportaes aciona tanto o multiplicador do comrcio exterior quanto o acelerador,
levando a um aumento da renda agregada, do consumo e do investimento. De acordo com
Kaldor (apud FEIJO e CARVALHO, 2002, p. 65), a condio do equilbrio de comrcio
exterior [...] ser alcanada quando a renda se iguala soma das exportaes com os
componentes endgenos da demanda (consumo e investimento) geradas pelas exportaes.
Devido importncia das exportaes, para Kaldor (apud CARVALHO, 2000), o que
determina essa varivel a taxa de crescimento da demanda mundial pelos produtos de um
determinado pas ou regio (fator exgeno) e o movimento do salrio-eficincia9 em relao a
outras regies produtoras (fator endgeno).
A segunda vertente associa-se ao crescimento endgeno. Os modelos de crescimento
endgeno seguem a tradio de Solow ?que tem como base uma funo de produo, a qual
se destaca por um parmetro de progresso tecnolgico. A grande diferena que o progresso
tecnolgico considerado endgeno, deixando de ser um bem pblico puro, de acesso
universal a todas as empresas e pases. Como ocorre no modelo de Solow, a varivel
dependente a produtividade da economia, mensurada pela renda per capita.
O principal modelo dessa corrente o de Romer, de 1990, que considera o progresso
tcnico como o motor do crescimento, e este como produto de aes internacionais de agentes
econmicos que reagem a incentivos de mercado para introduo de inovaes. O
crescimento da economia uma funo direta do montante de capital humano alocado no
setor de pesquisa, e da produtividade deste setor (ALBUQUERQUE apud CARVALHO,
2000, p. 92). A produtividade desse setor vai depender do estoque de projetos de pesquisa
disponveis.
9 O salrio-eficincia definido por Kaldor ?segundo ele, inspirado em Keynes ? muito prximo do que hojese chama de custo unitrio do trabalho, que representa o salrio mdio (ou custo do trabalho real) dividido pelaprodutividade. (FEIJO e CARVALHO, 2002, p. 66)
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31
1.3 Alguns resultados empricos sobre a produtividade
Na literatura terica, a vertente emprica abordou, de diferentes maneiras, o efeito da
abertura sobre a taxa de crescimento da produtividade e, conseqentemente, sobre a taxa de
crescimento da economia para diversos pases. Porm, para o caso brasileiro, ainda so
poucos os estudos empricos que estimam a evoluo da produtividade e, dessa maneira,
analisam os principais fatores que influenciaram a sua trajetria.
O fato de a abertura comercial brasileira ter promovido um grande aumento da
exposio da economia concorrncia internacional ocorreu devido, principalmente,
reduo das tarifas alfandegrias. Pode-se dizer que o maior impacto so o rebaixamento e a
fragilizao da base industrial, pois alguns setores industriais apresentavam atraso tcnico-
cientfico, devido ao perodo de estagnao que haviam passado.
De acordo com Cardoso Jr. (2000, p.8):
Uma das variveis que melhor expressa o comportamento do sistema o valor quecada segmento da atividade econmica adiciona produo. Por meio do valoradicionado possvel dimensionar, em termos de valor, a contribuio de cada setor,ao longo da respectiva cadeia produtiva, ao conjunto de riquezas geradas anualmentepelo pas.
Ao tentar analisar a participao dos 17 principais grandes complexos10 nos trs setores
da economia brasileira (agricultura, indstria e servios), antes e aps a abertura comercial,
Cardoso Jr. (2000) observou que a indstria diminuiu 16,0% a sua participao no valor
adicionado, no perodo de 1985 a 1990, dando espao para o setor de servios. Dentre os
complexos acima citados, 11 so os complexos que compem a indstria, e, dentre esses, est
o metal-mecnico e material de transporte, objeto de estudo nesta dissertao, que teve uma
queda de 34,9% no perodo de 1985 a 1990. Sua queda permaneceu at 1993, quando passou
a apresentar uma pequena melhora a partir de 1994.
10 Cardoso Jr. (2000) agrupou os 42 setores de classificao do IBGE em 17 complexos, sendo eles: complexoagropecurio; complexo industrial extrativo e mineral no-metlico; complexo metal-mecnico e de material detransporte; complexo eletroeletrnico; complexo madeireiro; complexo do papel, papelo, editorial e grfico;complexo qumico, petroqumico, farmacutico, borracha e plsticos; complexo txtil e couros; complexoalimentar, bebidas e fumo; complexo industrial diverso; complexo industrial de utilidade pblica; complexo daconstruo civil; complexo de servios distributivos; complexo de servios produtivos; complexo de serviospessoais; complexo de servios sociais e complexo de servios diversos.
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Aps a abertura abrupta da economia, houve queda no pessoal ocupado na indstria ?
passou de 23,0% em 1985 para 19,9% em 1996 ? e uma elevao do emprego no Setor
Tercirio, que representava 45,2% em 1985 e passou para 56,9% em 1996. Em um estudo
realizado por Rossi Jr. e Ferreira (1990, p. 5), o efeito da abertura sobre a produtividade do
trabalho11 e sobre a PTF foi analisado. Os autores encontraram como resposta que [...]
polticas de proteo levam perda de produtividade e ao retardo no progresso nacional,
exercendo uma influncia negativa sobre a taxa de crescimento do pas no longo prazo.
Segundo Carvalho (2000, p. 240) [...] a abertura da economia difundiu, entre as
empresas, novos mtodos de gesto da produo e teve impacto sobre o aumento do
investimento ?sobretudo aps o Plano Real. H um consenso de que a dcada de 90 marcou
a ruptura na tendncia de queda da taxa de crescimento da produtividade. De acordo com
Rossi Jr. e Ferreira (1999, p. 25), [...] o processo de abertura pode ser definido como um dos
principais causadores dos ganhos de produtividade.
Nas ltimas duas dcadas, a economia brasileira passou por um processo de mudana
tanto institucional como produtiva. Houve mudanas na dinmica do emprego no Brasil,
principalmente no setor secundrio, devido principalmente s mudanas organizacionais das
empresas, apresentando uma reduo drstica na ocupao. De acordo com Fochezatto,
Marques e Santos (2003, p. 267), [...] o aumento da produtividade industrial nos anos 90 veio
acompanhado do aumento da taxa de desemprego industrial e no impulsionado pelo
crescimento da produo do setor.
Houve tambm uma reduo da participao da indstria no PIB brasileiro, nos anos
90, conforme apontado por Haguenauer et al. (2001), reduo essa que decorreu devido
retrao relativa nos complexos txtil, metal-mecnico e qumico. Porm, os prprios autores
salientam que outros estudos apontam relativa estabilidade na estrutura interna do setor
industrial.
No estudo realizado por Haguenauer et al. (2001), o complexo metal-mecnico
brasileiro12 apresentou uma queda de cerca 15,0% de sua participao no PIB, sendo que, em
1990, sua participao era de 9,0%, passando para 8,0% em 1996. Dentro do complexo, a
11 Analisaram os dois conceitos: produtividade-hora e produtividade-homem.12 Para Haguenauer et al. (2001), fazem parte do complexo metal-mecnico: material de transporte, eletrnicos,
material e aparelhos eltricos, mquinas e equipamentos, produtos metalrgicos, metalurgia dos no ferrosos ea siderurgia. Porm, pela classificao de Cardoso Jr. (2000, p. 9), o complexo metal-mecnico tem umapequena alterao: siderurgia, metalurgia dos no ferrosos, outros metalrgicos; mquinas e tratores;automveis, nibus e caminhes; peas e outros veculos.
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cadeia materiais e aparelhos eltricos foi a que mais perdeu participao, devido
principalmente ao aumento das importaes, tanto de produtos finais como de insumos.
Porm a cadeia material de transporte teve um comportamento diferenciado das demais, pois
acabou perdendo pouca participao, devido ao regime de regulao do setor. Este protegeu a
indstria automobilstica local das condies adversas enfrentadas pelas demais atividades,
favorecendo a sua expanso relativa.
No mesmo estudo realizado por Haguenauer et al. (2001), verifica-se que, para o
perodo de 1996 a 1999, o complexo metal-mecnico continuou reduzindo sua participao na
estrutura produtiva nacional, devido a uma contrao nas taxas de produo de todas as
indstrias que fazem parte do complexo.13
Moreira (1994), em uma anlise a respeito da produtividade na indstria de
transformao brasileira, abrindo por gneros, no perodo 1950-84, verificou que, apesar do
aumento da produtividade, a mesma no conduziu a melhores salrios. Segundo ele:
Como a produtividade da mo-de-obra cresceu para todas as indstrias, exceo deMatrias Plsticas, e como a participao dos salrios no valor adicionado diminuiuao longo do tempo, torna-se claro de imediato que os salrios no conseguiramaumentar na mesma proporo da produtividade da mo-de-obra. (Moreira, p. 79)
Nesse estudo, Moreira observa que, no Brasil, o que ocorreu para a maioria dos
gneros industriais, no perodo, foi um aumento dos salrios reais, porm abaixo do
crescimento da produtividade da mo-de-obra.
Em outro estudo, Rossi Jr. e Ferreira (1999, p. 7) concluem que:
[...] ao contrrio do afirmado por Silva et al. (1993) e Considera (1995), aprodutividade continuou durante a dcada de 90 com uma forte tendncia decrescimento, mesmo com a recuperao da atividade econmico no perodo ps-Plano Real. O emprego industrial no mostrou sinais de recuperao, havendo aseqncia da diminuio dos postos de trabalho da indstria brasileira.
De acordo com Vieira (1999), a principal argumentao dos que defendem o aumentode produtividade que, na dcada de 90, foram introduzidos novos mtodos de gerenciamentona produo, dispensando parte dos trabalhadores.
13 Ver Haguenauer et al. (2001, p. 23).
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Uma das correntes afirmava que o crescimento da produtividade era resultado daabertura comercial, da regulao da economia, da adoo de programas de qualidadee da introduo de novos mtodos de gesto altamente poupadores de mo-de-obra,o que provocou grandes mudanas estruturais baseadas em novo paradigmatecnolgico gerencial. Essa corrente de autores afirmava que o crescimento daprodutividade seria fruto de uma modernizao tecnolgica indicada pelo aumentode mquinas e equipamentos. Feij e Carvalho (apud VIEIRA, 1999)
Rossi Jr. e Ferreira (1999) citam que os defensores da idia da reestruturao
produtiva identificam que a abertura comercial foi a principal mola propulsora do recente
crescimento da produtividade brasileira. Com a queda das barreiras comerciais, teria
aumentado o acesso aos insumos de melhor qualidade, e, com o aumento da competio, a
indstria brasileira teria sido forada a melhorar os seus mtodos de produo e os seus
produtos.
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2 A MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO
2.1 O modelo de Leontief
A matriz de insumo-produto apresenta qual o destino da produo e qual a origem dos
insumos. Em cada linha da tabela, so visualizadas a origem ou a oferta da produo nacional,
ou seja, cada setor vende para si prprio, para os demais setores e para a demanda final. Essa
a soma do consumo, investimento, compras do governo e exportaes. As colunas mostram
o destino, a demanda e as compras dos insumos intermedirios ou primrios.
Franois Quesnay considerado o precursor da anlise insumo-produto. Ele publicou,
em 1758, o estudo chamado de Tableau conomique, que pode ser considerado um trabalho
embrionrio da anlise de interdependncia econmica. Sua obra procurou demonstrar os
fluxos circulares da economia francesa entre trs classes sociais: a dos produtores rurais, a dos
nobres proprietrios e a dos artesos urbanos. O estudo mostrou graficamente como eram as
conexes econmicas entre as classes diferenciadas. O encadeamento dessas transaes
ajudou a compreender os fluxos circulares da atividade econmica e tambm mostrou a
interdependncia entre as diferentes unidades que interagem nos sistemas econmicos
nacionais.
Em 1874, Lon Walras, ao publicar lements d`conomie Politique Pure, deu um
novo passo para a questo relacionada anlise de interdependncia. O modelo walrasiano
consiste em um sistema de equaes que tenta explicar a determinao simultnea de todos os
preos em uma economia ?tanto os bens e servios finais e intermedirios como os de fatores
de produo.
Walras, em sua teoria da produo, utilizou os coeficientes de produo, que so
determinados pela tecnologia empregada e pelos fatores e insumos requeridos para a gerao
de cada tipo de bem ou servio final. Em seu modelo, Walras tentou mostrar a
interdependncia entre os setores de produo da economia e as demandas decorrentes de
cada setor na obteno dos fatores de produo.
Porm foi a partir da dcada de 30 que o Economista Wassily Leontief desenvolveu,
pela primeira vez, a anlise de grandes agregados macroeconmicos em termos de insumo-
produto. Ele iniciou seus trabalhos sobre o assunto em Harvard, em 1931, mas somente em
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agosto de 1936, no volume 18 da Review of Economics e Statistics, as suas idias bsicas
foram apresentadas no artigo Quantitative Input-Output Relations in the Economic
System of the United States. Para isso, Leontief utilizou o sistema de equilbrio geral de
Walras, dando-lhe contedo e aplicabilidade emprica, atravs da simplificao de equaes
que o tornou mais inteligvel (LANGONI apud LEONTIEF, 1983, p. VII).
De acordo com Dorfman (apud RICHARDSON, 1978, p. 17) [...] o que Leontief fez
foi simplificar drasticamente o modelo generalizado de Walras, de modo que as equaes do
modelo pudessem ser estimadas empiricamente. Porm Leontief agregou o grande nmero
de mercadorias do modelo de Walras em poucos produtos, um para cada setor industrial da
economia. Alm disso, ele abandonou a equao de oferta de trabalho e as equaes de
demanda por consumo final, e as equaes de produo foram expressas de forma mais
simples.
A anlise do insumo-produto passou a constituir uma extenso prtica da teoriaclssica de interdependncia geral, que v a economia inteira de uma regio, de umpas ou inclusive do mundo, como um s sistema, propondo que se interpretem todasas suas funes em termos de propriedades especficas mensurveis de sua estrutura(LEONTIEF, 1983, p. 5).
Dentro desse contexto, possvel detectar quais as conseqncias que uma mudana
em um setor da economia pode exercer sobre outro setor ou o conjunto de setores. O modelo
de insumo-produto, conforme Leontief apresentou em 1936, considera o sistema fechado.
Todos os setores que aparecem na demanda final so incorporados matriz de produo.
Porm, com o passar dos anos, percebeu-se que alguns setores deveriam ser exgenos e, a
partir disso, criou-se o setor demanda final, formado pelo consumo das famlias, pelas
exportaes e pelo consumo do governo. Dessa forma, tem-se o modelo aberto. Embora esse
seja bastante utilizado, alguns estudos tornam o consumo das famlias endgeno, e, assim,
tem-se o modelo de insumo-produto fechado em relao s famlias. Dessa forma, o setor
famlias descrito por meio de equaes de comportamento, e seu consumo de bens e
servios determinado endogenamente. A seguir, so analisadas essas duas maneiras de
abordar o modelo de insumo-produto.
Iniciando com o modelo fechado, cabe salientar que o trabalho de Leontief trouxe para
a cincia econmica uma maior aproximao emprica com os fenmenos reais. O modelo
tratado aqui o modelo fechado em relao s famlias, ou seja, o consumo das famlias
endogeneizado. Leontief mostrou os inter-relacionamentos entre os setores produtivos da
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economia norte-americana para 1919 e 1929. Nesse modelo, props-se a informar que se trata
de um modelo em que as famlias recebem o mesmo tratamento analtico dado a qualquer dos
demais subsetores institucionais. Ou seja, o setor famlias, no modelo de insumo-produto,
aparece como endgeno.
Porm, anos depois, Leontief desenvolveu um novo modelo, o chamado modelo aberto
de Leontief. No modelo aberto de Leontief, todos os componentes da demanda final so
considerados exgenos. Os spillovers resultantes do uso das remuneraes dos agentes que
compem a demanda final na aquisio de produtos no so computados nas relaes
intersetoriais da economia (PORSSE, 2002, p. 7). J o modelo de insumo-produto
tradicional, ou seja, modelo fechado, considera o consumo das famlias endgeno ao sistema,
incorporando o efeito-renda. As remuneraes recebidas so revertidas para novas aquisies
de produtos, favorecendo um crculo virtuoso no sistema. No "[...] modelo de multiplicadores
da Matriz de Contabilidade Social, a combinao do setor governo, conta de capital e resto do
mundo constitui o conjunto exgeno (Robinson, 2003, p. 4). Desse modo, faz-se endgeno o
fluxo da renda entre o setor produtivo, a remunerao dos fatores e o consumo das famlias.
Com vistas a facilitar a visualizao e a integrao de um sistema econmico, as
informaes do modelo de insumo-produto podem ser organizadas em um quadro que
descreve os insumos e as produes dos diferentes setores num determinado perodo de tempo
(Quadro 2.1). As linhas representam a distribuio da produo, e as colunas, os insumos
absorvidos pelos setores da produo.
Quadro 2.1Matriz de insumo-produto simplificada conforme Leontief.
COMPRAS (j)
Demanda Intermediria Demanda FinalSETORESSetor 1 Setor 2 Setor 3 C I G E
VALORBRUTO
DAPRODUO
Setor 1 z11 z12 z13 C1 I1 G1 E1 X1Setor 2 z21 z22 z23 C2 I2 G2 E2 X2Vendas
(i) Setor 3 z31 z32 z33 C3 I3 G3 E3 X3Importaes M1 M2 M3 MC MI MG ME
Tributos IndiretosLquidos
T1 T2 T3 TC TI TG TE
Salrios L1 L2 L3Lucros Lu1 Lu2 Lu3
Valor Adicionado VA1 VA2 VA3Valor Bruto da
ProduoX1 X2 X3
FONTE DOS DADOS BRUTOS: MILLER, Ronald E.; BLAIR, Peter. Input-Output Analysis:foundations and extensions. Englewood Cliffs: Prentice-Hall,1985.
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Sendo:
Xi a produo total do setor i (consumo intermedirio e demanda final);
zij a produo do setor i utilizada como insumo intermedirio pelo setor j (consumo
intermedirio);
Ci a produo do setor i que consumida pelas famlias;
I1 a produo do setor i destinada ao investimento;
Gi a produo do setor i que consumida pelo governo;
Ei a produo do setor i que destinada exportao;
Xj o custo de produo total do setor j;
Mj as importaes feitas pelo setor j;
MC as importaes feitas para o consumo das famlias;
MI as importaes destinadas ao investimento;
MG as importaes destinadas ao governo;
ME as importaes destinadas exportao, ressaltando-se que essas passam por
alguma transformao para serem reexportadas;
Lj os salrios pagos pelo setor j no processo de produo;
Luj os lucros obtidos pelo setor j no processo de produo
VAj o total do valor adicionado do setor j; e
Tj o total dos impostos indiretos lquidos recolhidos pelo setor j (aluguis, juros,
lucros, impostos indiretos lquidos e depreciaes).
Na situao imaginada por Leontief, ou seja, no modelo aberto, a economia dividida
em n setores, produzindo e consumindo n bens, e a ateno fixou-se nas trocas entre os
setores. Nesse modelo aberto ocorrem alguns pressupostos:
a) existem n setores, produzindo n bens, indexados por i = 1, 2, ..., n, que so
consumidos, comercializados ou investidos;
b) cada setor produz um nico e exclusivo bem; setores diferentes produzem bens
diferentes;
c) cada setor produz o bem j correspondente atravs do consumo dos bens i = 1, 2, ..., n
em propores fixas.
Na elaborao da teoria do insumo-produto, o suposto fundamental consiste na
aceitao de que existe equilbrio simultneo entre os mercados consumidor e produtor. Esses
pressupostos ocorrem dentro da microeconomia clssica, em que no existe iluso monetria
dos agentes econmicos, o que permite estabelecer-se a identidade bsica do modelo. Em
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outras palavras, pode-se dizer que tudo o que foi produzido com destino aos setores
intermedirios, mais os montantes destinados absoro final, igual demanda total da
economia. Para um melhor esclarecimento, as transaes especificadas no Quadro 2.1 podem
ser representadas nas seguintes maneiras. Em primeiro lugar, o vetor linha representa a
distribuio do produto atravs do prprio setor, dos demais setores da economia e dos
componentes da demanda final. Assim, estabelece-se a seguinte igualdade:
iiiiiniii EGICzzzX +++++++= ...21 (2.1)
Fazendo
iiiii EGICY +++= , (2.2)
pode-se reescrever (2.1) como:
i
n
jiji YzX +=
=1
(2.3)
A expresso mostra que, para cada produto i, o total da demanda igual ao total da
oferta. Em seguida, tem-se que o vetor-coluna representa a distribuio dos insumos atravs
de todos os setores da economia e a despesa com os produtos importados e com os
componentes do valor adicionado bruto do setor.
jjjnjjjj TLMzzzX ++++++= ...21 . (2.4)
Compactando os insumos intermedirios, tem-se:
jj
n
iijj VAMzX ++=
=1
.(2.5)
A expresso (2.5) indica que a produo total do setor corresponde ao valor dos
insumos comprados dos outros setores, inclusive os importados, mais o valor adicionado
nesse setor. Por ser um sistema de equilbrio geral, a soma dos elementos nas linhas igual
soma dos elementos nas colunas, ou seja:
= ji XX (2.6)
Em cada economia com n setores, existe um fluxo contnuo de produtos entre eles.
Esse fluxo pode ser determinado por fatores econmicos e tecnolgicos, que podem ser
descritos por um sistema de equaes lineares e simultneas, representadas da seguinte
maneira:
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X1 z11 + z12 + ... + z1n + Y1X2 z21 + z22 + ... + z2n + Y2
.
.
.Xn zn1 + zn2 + ... + znn + Yn
(2.7)
Admitindo-se a hiptese de que a quantidade do insumo do setor i utilizada pelo setor j
diretamente proporcional produo do setor j, pode-se estabelecer uma constante de
proporcionalidade para as duas variveis, chamadas de coeficiente tcnico de produo, que
pode ser representada pela seguinte equao:
Xza jijij =(2.8)
o que leva a
jij Xz = (2.9)
Substituindo a equao (2.9) no desdobramento da equao (2.7), tem-se como
resultado um sistema de equaes lineares simultneas que possuem como parmetro os
coeficientes tcnicos de produo. Esse pode ser descrito da seguinte forma:
X1 = a11x1 + a12x2 + ... + a1nxn + Y1 .X2 = a21x1 + a22x2 + ... + a2nxn + Y2 .
.
.
.Xn = an1x1 + an2x2 + ... + annxn + Yn .
(2.10)
Isolando Y1 e colocando X1 em evidncia, tem-se, por exemplo, para a primeira
equao de (2.10):
(1 a11) X1 a12X2 ... a1nXn = Y1 (2.11)
A partir disso, possvel definir, de forma genrica, as seguintes matrizes:
=
nnn2n1
2n2221
1n1211
aaa
aaaaaa
K
MOMM
K
K
A ,
=
n
2
1
x
xx
MX e
=
n
2
1
y
yy
MY .
em que
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41
A a matriz dos coeficientes tcnicos, de ordem (n x n);
X o vetor do valor bruto da produo, de ordem (n x 1); e
Y o vetor da demanda final, de ordem (n x 1).
Colocando na forma de notao matricial, as matrizes anteriores podem ser expressas
da seguinte forma:
X = AX + Y (2.12)
X AX = Y (2.13)
(I A)X = Y (2.14)
X = (I A)-1 Y (2.15)
A matriz (I A)-1 denominada matriz inversa de Leontief, ou matriz de coeficientes
tcnicos de insumos diretos e indiretos. Ela capta os efeitos das modificaes exgenas da
demanda final sobre a produo dos n setores. A partir da expresso X = (I - A)-1Y, podem ser
avaliados os impactos de polticas setoriais sobre os outros setores da economia. Sendo
B=(I - A)-1, cada elemento bij da matriz inversa de Leontief corresponde aos requisitos diretos
e indiretos da produo total do setor i necessrios para produzir uma unidade de demanda
final do setor j. Os elementos bij apresentam as seguintes caractersticas:
a) bij =aij, ou seja, cada elemento da matriz inversa de Leontief maior ou igual ao
respectivo elemento da matriz tecnolgica, uma vez que o elemento bij indica os
efeitos diretos e indiretos sobre a produo do setor i para atender a uma unidade
monetria de demanda final do setor j. O elemento aij indica apenas os efeitos diretos.
A igualdade entre os dois coeficientes ocorre no caso particular em que os efeitos
diretos so nulos;
b) bij =0, querendo dizer que no h a possibilidade de substituio de insumos, uma vez
que os coeficientes tcnicos de produo so fixos, de tal forma que uma expanso na
demanda final do setor j ir provocar efeito positivo ou nulo sobre a produo do setor
i, nunca efeito negativo. O efeito nulo surgir se no houver interdependncia direta
entre os setores i e j;
c) bij =1, para i = j, isto , os elementos da diagonal principal da matriz inversa de
Leontief sero sempre iguais ou maiores de 1, uma vez que o acrscimo de uma
unidade monetria na demanda final de um setor dever provocar a expanso na
produo desse setor de pelo menos uma unidade monetria.
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2.2 O complexo metal-mecnico e o modelo de anlise
Nesta seo, discute-se a natureza do complexo metal-mecnico, sua importncia
analtica e a construo do modelo de anlise a ser utilizado no trabalho emprico desta
dissertao. O termo complexo industrial pode ser definido como [...] um conjunto de
indstrias que se articulam, de forma direta ou mediatizada, a partir de relaes significativas
de compra e venda de mercadorias a serem posteriormente reincorporadas e transformadas no
processo de produo (HAGUENAUER et al. apud BAHIA, FURTADO e SOUZA, 2002, p.
12).
No Brasil, o conceito de complexo industrial foi formulado por Haguenauer et al., em
1984, cuja obra se intitulava Os Complexos Industriais na Economia Brasileira. Eles
delimitaram seis complexos industriais, a partir da matriz intersetorial produzida pelo IBGE,
do ano de 1975: construo civil; metal-mecnico; qumico; txtil e calados; papel e grfico;
e agroindustrial. Porm os estudos mais recentes realizados pela prpria Haguenauer
ressaltam que, atravs da matriz intersetorial atualizada, o nvel de agregao relativamente
mais elevado. De acordo com Coutinho e Ferraz (1995), fazem parte do complexo metal-
mecnico os setores: siderurgia, extrao e beneficiamento de minrio de ferro, metalurgia
dos no ferrosos, equipamentos para energia eltrica, mquinas-ferramenta, mquinas
agrcolas, automobilstica, autopeas e aeronutica.
Para este estudo, a agregao utilizada foi a de Cardoso Jr. (2000), em que os 42
setores da matri