Ditos e Malditos: Desejos Da Clausura - O processo de criação da Terpsí Teatro de Dança

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Em “Ditos e Malditos: Desejos da Clausura – O processo de criação da Terpsí Teatro de Dança”, Wagner Ferraz apresenta de forma simples alguns pontos que foram importantes na constituição do espetáculo, que estreou em 2009, de uma Cia de Dança gaúcha que contribuiu e contribui para a história da dança contemporânea no Brasil. Textos e imagens indicam neste trabalho como se deu o processo criativo coreográfico e dos demais elementos envolvidos como o figurino e a instalação de arte que fez parte do cenário externo, além de depoimentos da coreógrafa, histórico da Cia e fotos do processo inicial. Nossos desejos enclausurados quando ditos podem nos tornar malditos. Qual é o seu desejo?

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  • Wagner Ferraz

    DITOS E MALDITOS: Desejos da Clausura

    O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

    Porto Alegre; 2011

  • Autor: Wagner Ferraz

    Organizao e Projeto: Processo C3 Grupo de Pesquisa

    Colaboradores:Anderson de Souza, Carlota Albuquerque,

    Francine Pressi e Luciane Coccaro

    Foto da Capa:Anderson de Souza

    Arte da Capa e Edio de Imagens:Anderson de Souza e Wagner Ferraz

    Intrprete da Capa:Angela Spiazzi

    Layout e Diagramao:Wagner Ferraz

    Reviso de texto:Gilmar Lus Silva Jnior

    Reviso geral:Anderson de Souza

    Fotos:Cludio Etges

    Antnio Carlos CardosoAnderson de Souza

    Wagner Ferraz

    FERRAZ, Wagner.iiiiiiiDitos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana. Porto Alegre, 2011.

    ISBN 978-85-910338-0-5

    ----1. Dana 2. Processo de Criao 3. Pesquisa em Dana 4. Dana Teatral 5. Corpo 6. Cultura

    CDD - 790 e 793CDU - 792.8

    2011

    Copyrigth @ 2011 Wagner Ferraz

    www.processoc3.com

  • www.processoc3.com

    Agradecimentos

    Agradeo a todos que colaboraram direta ou indiretamente para a realizao deste trabalho, porm farei alguns agradecimentos especficos:

    Terps Teatro de Dana (motivo desta iniciativa) - Carlota Albuquerque, An-gela Spiazzi, Gabriela Peixoto, Raul Voges, Francine Pressi pela apresenta-o, Gelson Farias, Edson Ferraz e a convidada Simone Rorato; Museu do Trabalho; Luciane Coccaro pelo prefcio; Gilmar Lus Silva Jnior pela re-viso; Ao curso de Graduao em Dana/ULBRA especialmente as professo-ras/amigas - Flvia Pilla do Valle, Lcia Brunelli e Luciana Paludo; Arquivo Temporrio pela participao com a instalao de arte - Ana Cristina Froner, Carla Meyer e Anderson de Souza (este tambm integrante do Processo C3 que acompanhou e apoio esta produo alm de fazer a reviso geral e final);

    Antnio Carlos Cardoso pelas fotogrias cedidas; Cludio Etges pelas foto-grias cedidas; Senac Canoas Moda & Beleza pelo apoio e participao no projeto de figurino do espetculo; Agradeo tambm minha famlia: me, pai,

    irms e sobrinhos. Apesar de no ser uma pesquisa cientfica fao questo de

    agradecer meus (sempre) professores que me desacomodam e me fazem pensar de outras formas: Samuel Edmundo Lopez Bello, Camilo Darsie Souza, Fabiana Marcello, Maura Corcine Lopes e Alfredo Veiga-Neto, alm da j citada Luciane Coccaro.

    Porto Alegre, janeiro de 2011Wagner Ferraz

    www.terpsi.com.br

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  • Sumrio

    - Prefcio ............................................................................................

    - Apresentao ....................................................................................

    - Palavras de Grupo ............................................................................

    - O incio: Da Instalao aos Desejos da Clausura .....................

    - Esperto e Desperto: O papel da coregrafa .....................................

    - O corpo dito, maldito e no dito ......................................................

    - Despir os vcios: O que se estabelece hoje

    pode ser alterado amanh ...........................................................

    - A obra nunca ser a mesma? ............................................................

    - Palavra da Coregrafa ......................................................................

    - Extras:

    Quem Terps? Breve histrico .............................................

    Ordem do Mrito Cultural ..........................................................

    Fitas dos Desejos ........................................................................

    O dito figurino Terps .................................................................

    Sinopse do espetculo ................................................................

    Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - Ficha Tcnica da

    estria do espetculo ..................................................................

    - Anexos:

    Ditos e Malditos: Uma Instalao Coreogrfica ........................

    Cronologia das Obras .................................................................

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  • 8 L a v o m i n h a s m o s ! L a v o m i n h a s m o s ! L a v o m i n h a s m o s ! L a v o m i n h a s m o s ! Lavo mi-nhas mos! Lavo mi-nhas mos!

  • Lavo minhas m

    o s!

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  • Prefcio

    Tenho sempre a impresso de que escrever sobre uma grande obra cnica um pouco tentar encapsular percepes da ordem do no dito. Falar sobre um espetculo uma metalinguagem, no reproduzir o momento vivido, mas procurar sentidos ou-tros. A escrita sobre Ditos e Malditos: desejos da clausura, da Terps teatro de dan-a, serve como um exerccio e uma tentativa de pisar sempre pela primeira vez um terri-trio desconhecido. Um no lugar habitado por incertezas e repleto dos nossos vrios e diversos eus possveis e proibidos. Um achar que j no mais, um tempo descontnuo e no reconhecvel, uma cena mutvel e cambiante. Do ponto de vista do espectador, Carlota, sagaz em sua direo, consegue-nos tirar o cho e nos distanciar de nossas certezas mais mundanas. A vida cotidiana some e, numa outra atmosfera, somos convidados a estar numa viagem xamnica, a senti-la e a faz-la, para dentro, ao centro das nossas emoes. Somos, enquanto plateia, provo-cados a revelar nossos desejos num pedacinho de papel. Imediatamente somos levados a revelar publicamente um desejo ntimo e latente; assim, samos de uma posio de conforto. Neste instante, as cartas esto dadas e sentimos fazer parte de algo intangvel a se desenrolar numa cena cheia de surpresas. A ambincia criada no espetculo nos coloca fora do tempo presente, sentimo-nos deriva. As referncias a autores hoje consagrados e ora malditos estabelecem rupturas e ressignificaes. Estamos na fronteira. Cada cena pode ou no representar

    fragmentos do que somos, do que desejamos ser, do que nunca seremos. Jung diria que o artista quem se permite com toda propriedade estar nesta borda da loucura, quem vive, na prtica, o inconsciente. Porque, num mundo to cheio de regras, difcil estar despido delas, estar no limbo. Ditos e Malditos nos insere nesse contexto limite do ser. Agora, como exerccio mesmo, tendo que escrever sobre o espetculo, cai a ficha do papel da arte, se que tem, mas de uma possibilidade de a gente necessitar da

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    arte pra refletir sobre quem somos. Kohlberg (apud Hanna,1999) nos fala da teoria da

    modelagem:

    Um indivduo tende a reproduzir atitudes, atos e emoes exibi-das por um modelo observado (...). Um modelo pode ser cogniti-vamente registrado e usado ou permanecer na memria subcons-ciente at que uma situao relevante o estimule.

    Acho que a Carlota consegue criar e deixar visvel ao pblico materiais do inconsciente. Algo que se elabora no momento do espetculo ou que vai se revelar e ser elaborado tempos depois, mas no importa. O que tem acesso afinal um simples espec-tador do Ditos e Malditos? Uma obra da Carlota, vejo como um evento performtico, do qual emergem significados mais profundos de mundo. Uma experincia sensorial e

    ontolgica. Viver e coabitar nunca foram tarefas simples, Carlota nos proporciona em seu espetculo esta dimenso de nossa prpria complexidade, cheia de contradies. Assisti duas vezes ao espetculo em movimento; minhas impresses, sinceras e afetivas, podem ser lidas apenas como pistas pra desvendar os mistrios de um pro-cesso que aposta nele mesmo, num espetculo que a cada dia se modifica, criando novos

    horizontes. Ningum capaz de entrar na cabea do criador, este texto apenas um esboo de uma possibilidade de anlise do espetculo, que, por ser to complexo como cada um de ns individualmente, por si s nico. No sou neutra, tenho uma admirao mpar pelo trabalho da Carlota no Terp-s, tenho dito no privado e agora publicamente que a Carlota tem conseguido fazer o que chamamos de grande arte, aquela que move e modifica o mundo a sua volta. Num

    mundo completamente banalizado e padronizado, vislumbro o Terps e a Carlota, cria-dora do circo todo, como um respiro Mais uma vez, nunca mais. Eu, se fosse voc, no perderia a chance de assistir ao espetculo Ditos e Mal-ditos: desejos de clausura. Que outra oportunidade voc tem de se encontrar consigo mesmo em suas mltiplas faces?

    Luciane CoccaroAntroploga e uma vez bailarina do Terps

    1 - HANNA, Judith Lynne. Dana, Sexo e Gnero. Rio de Janeiro: Rocco, 1999.

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    A lngua chicote da

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  • Apresentao

    O olhar atento de Wagner Ferraz ao longo do processo de criao do espetcu-lo Ditos e Malditos: Desejos da Clausura, que foi acompanhado desde os primeiros encontros, ainda em 2008, traz sob diferentes perspectivas inmeras anotaes sobre tudo o que observou no decorrer desse processo. Dessas anotaes, surgiu o Cader-no Registro, o qual acabou servindo como experimento para a elaborao deste livro. Logo, pode-se dizer que esta obra uma extenso, uma verso ampliada e atualizada do Caderno Registro - Ditos e Malditos: Desejos da Clausura. O Caderno Registro traz, alm das anotaes de todo o processo de criao da obra, uma apresentao da Terps Teatro de Dana e tambm d voz s palavras da diretora e coregrafa Carlota Albuquerque e do figurinista Anderson de Souza. As fotos

    apresentadas no Caderno eram ainda de Ditos e Malditos: Uma Instalao Coreogrfi-ca, mas o livro oferta as imagens do espetculo Ditos e Malditos: Desejos da Clausu-ra e algumas observaes sobre o espetculo. Nas palavras de FERRAZ, referindo-se ao Caderno Registro, este trabalho no se trata de uma pesquisa sobre os elementos, textos, autores e artistas pesquisados por Carlota Albuquerque e pelos intrpretes durante o processo de criao desta obra. E sim, apresenta observaes sobre o que foi acompanhado durante este processo. (FERRAZ, 2009, Pg. 13) Quanto obra Desejos da Clausura, mais uma vez a Terps Teatro de Dan-a destaca-se com a apresentao de seu trabalho, e escrever sobre ele ter a chance de relatar um pouco sobre a forma como ocorreu toda a gestao e o nascimento de uma obra muito dinmica e rica em detalhes, que possibilita ao pblico assistir a ela inme-ras vezes, sem conseguir mesmo assim, ver tudo o que acontece em cena. A cada rea-presentao assistida, possvel se surpreender com textos, gestos, expresses, detalhes que, mesmo que j se tenha assistido obra, talvez no se tenha percebido. Mas outro ponto que se deve levar em considerao o fato de que as obras da Terps Teatro de Dana esto em constante construo, transformao e modificao. FERRAZ salienta:

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    A lngua chicote da

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  • necessrio no focar em um talvez imaginado resultado final. Mas dar ateno para

    todo o processo que se d atravs de infinitas experimentaes, que buscam construir

    sentindo para cada escolha resultante de opes e descobertas nesses experimentos. (FERRAZ, 2009, pg.11) Para muitos, pode at parecer estranho a primeira vista, no conseguir assistir ao espetculo com tudo o que nele h de uma s vez. Segundo anotaes de Wagner, Carlota costuma falar de um intrprete esperto e desperto. Esperto ou atento para o espao, para o outro, para a msica, para o silncio, para as sensaes... E desperto para reagir ou interagir com tudo isso, para perceber o corpo em diferentes espaos com diferentes estmulos. E a partir disso se permitir despertar para aes calculadas ou impulsivas. E a partir disso, Wagner Ferraz faz analogia s palavras de Carlota Al-buquerque e diz que o espectador deve tambm estar esperto e desperto sem se pre-ocupar onde est um ou outro. Estar esperto e desperto para talvez sair da clausura. (FERRAZ, 2009, pg. 15 e 18) No que se refere aos corpos, a obra no traz uma noo de corpo estabelecida, mas sim uma noo de corpo que transita por vrios territrios imaginrios a partir de estmulos lanados pela coregrafa. O autor esclarece que, ao longo da Instalao Coreogrfica, os corpos foram preparados para o Desejos da Clausura. Os corpos

    antes em silncio, enclausurados e cheio de desejos, agora gritam ao sair da clausura. Mas, ao contrrio da Instalao, agora os corpos apresentam-se mais manipuladores e calculistas, como se toda a euforia, todos os desejos enclausurados e reprimidos, que eram o motivo de possveis inquietaes, fosse esfriado e acalmado. (FERRAZ, 2009, pg. 21) A obra traz um corpo que, como diz Carlota Albuquerque, busca referncias em BECKETT quando diz MAIS UMA VEZ e em ALLAN POE quando diz NUNCA MAIS. Um corpo de limites extremos, que de um ponto de vista acredita e se prope ao exerccio ritualstico da repetio, e de outro ponto, afirma a descrena e desistncia,

    pensando e declarando nunca mais. Um corpo de contrapontos que leva a buscar motivos para seguir em frente e tambm faz escolhas para dar certos assuntos por en-cerrados. (FERRAZ, 2009, pg. 27).

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  • Em Desejos da Clausura, tudo acontece em intenso movimento, a partir do qual todas as alteraes e modificaes realizadas fazem com que o estabelecido sim-plesmente no exista. No h um final, h uma eterna construo, uma ressignificao

    de sentidos, em cujo espao no h uma dinmica de trabalho, mas sim um trnsito por diferentes dinmicas, explica FERRAZ. Com tudo, resta-me apenas nessas poucas palavras dizer que o espetculo Ditos e Malditos: Desejos da Clausura uma obra para ser vista vrias vezes, sob diferentes pontos, e este livro pode ser lido por quem tem o interesse em conhecer um pouco sobre a Terps e sua obra, na tentativa de lanar sempre um olhar questionador, inquietante, esperto e desperto para tudo o que est em cena.

    Francine PressiBailarina estagiria da

    Terps Teatro de Dana

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  • Durante a segunda metade do ano de 2008, por uma necessidade (desejo) de voltar cena, decidimos compartilhar com o pblico nosso processo de criao e pesquisas da obra Ditos e Malditos: Desejos da Clau-sura. Considerando que uma das premissas recorrentes de nosso trabalho de grupo criar uma dramaturgia a partir de referncias pr-estabelecidas, tomamos como ponto de partida, textos literrios de autores conside-rados transgressores (malditos) e ditos populares. A escolha dos autores malditos fala de uma sociedade e esttica na contramo do consenso, e os textos literrios desses autores entram nas nossas vidas como frmulas de compreenso da mesma. Assim como os ditos popu-lares, aparecem como sntese da vida, Duchamp (1887-1968), Allan Poe (1809-1849), Augusto dos Anjos (1884-1914), Caio Fernando de Abreu (1948-1996), Al-fred Jarry (1873-1907) e Samuel Beckett (1906-1989), autores selecionados, desconstroem certos padres. De cada um destes autores, foram escolhidos fragmentos de textos, poemas ou imagens, alm de alguns ditos po-pulares que deram vazo para inmeras partituras core-ogrficas.

    Terps Teatro de Dana

    Palavras de Grupo

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  • Foto: Antnio Carlos Cardoso

    O incio:Da Instalao aos Desejos da Clausura

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  • Ditos e Malditos: Desejos da Clausura uma das obras da Terps Teatro de Dana que, como tantas de suas outras obras, impressionou com o resultado cnico e provocou muitos a pensarem sobre seus desejos. A Terps sempre conta com o outro em suas obras e processos de criao, seja o outro que convidado a estar presente, seja o outro que se manifesta publicamente ou entre os seus (mas esse manifesto chega a Terps), seja o outro denominado como espectador. Porm, o processo colaborativo da Terps est em todas suas obras, nem sempre com a participao presente colaborativa em cena, mas com a colaborao no processo criativo. Para a Terps, o que o outro diz sempre vai colaborar com suas propostas. O que dito, mesmo que muitas vezes maldito, pode vir a colaborar. Para compreender um pouco sobre processo de criao da Terps, necessrio no ter o foco voltado para um imaginado resultado final. Mas estar atento para todo o

    processo que se d atravs de infinitas experimentaes, que buscam construir sentido

    para cada escolha resultante de opes e descobertas nesses experimentos. Durante as buscas, as quais levam, grande parte das vezes, para infinitas possi-bilidades, e que em seguida levam a escolhas que contribuem para construir um discur-so para a cena, a Terps costuma levantar questionamentos voltados para os envolvidos, provocando assim uma instabilidade que serve de estmulo para a criao. As tentativas de provocaes que podem ser utilizadas para desacomodar os espectadores so mo-tores que perturbam os intrpretes. Como se o feitio virasse contra o feiticeiro!, como se criasse a possibilidade de provar do prprio veneno. Isto auxilia a perceber que possibilidades para criar so desveladas por provocaes e desacomodaes. Essas desacomodaes levam a tentar solucionar as problematizaes cria-das para a produo de uma cena da dana. O que pode ser compreendido como ten-tar esclarecer certos assuntos, ensinar, relacionar, relativizar, provocar e tencionar as formas de pensar-fazer e/ou fazer-pensar na dana. Assim, pode-se perceber a ligao dessas tentativas com o ato, o processo, o exerccio e vivncias do fazer criativo. Em muitos momentos na dana, e aqui pontuo a dana da Terps, faz-se neces-srio buscar intensamente possibilidades que talvez at possam ser consideradas novas em determinados contextos (ou no), para interrogar o que est em jogo, em evidncia

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  • Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

    ou vigente em uma situao ou momento da e na criao, da cena e na cena. Atravs do exerccio de observao durante o processo de criao de Ditos e Malditos: Uma Instalao Coreogrfica e do espetculo DITOS E MALDITOS:

    Desejos da Claurusa, compreendi o que NOVAES (1971, 17) diz quando fala etimo-logicamente sobre criatividade, que nas palavras dele dar existncia a, sair do nada, estabelecer relaes at ento no estabelecidas pelo universo do indivduo, visando a determinados fins. Porm importante estar atento para essas relaes at ento enten-didas como no estabelecidas, pois podem j terem sido estabelecidas para algum em algum momento/contexto. Ento como falar do j dito de forma que interesse o outro, que interesse o espectador? Esse um dos desafios que movem a Terps Teatro de Dan-a, falar de coisas ditas de formas ainda no ditas. Nos primeiro encontros, ainda no incio de 2008, para discutir e pensar a mon-tagem de algo que futuramente passou receber o nome de Ditos e Malditos Uma Instalao Coreogrfica, pode-se perceber a instaurao de uma crise extremamente

    positiva para esse processo. Muitas foram as idias e provocaes vindas de Carlota Al-buquerque (diretora e coregrafa da Terps), que em sua intensa crise que alimenta seu imaginrio, estimulava todos a responderem as ideias apresentadas. Aos poucos, pois devagar se vai ao longe, muitos sentidos foram construdos, para em alguns casos serem desconstrudos ou at destrudos, esquecidos ou guardados, pensando sempre no que poderia mover todos os envolvidos. Tudo isso somado ao desejo descrito pelos intrpretes de irem para a cena, para o palco, com um novo espetculo. E esse desejo passou a ser o motor que acionou os mecanismos necessrios para que se construsse essa Instalao Coreogrfica, como

    forma de experimentar e observar as diferentes ideias sendo contextualizadas para a cena. Pensando sempre em um laboratrio que futuramente serviria para construir um novo espetculo aps a Instalao Ditos e Malditos: Desejos da Clausura. Assim, esse desejo enclausurado nos intrpretes, passa a ser um desejo dito e descrito que direciona a Terps em um novo processo de criao para desenvolver uma nova produo. Saindo da clausura, do no dito e de outras escolhas que mantiveram a Terps por algum tempo em outros projetos de busca por espaos para a dana e de diviso de conhecimento atravs de oficinas gratuitas para tantos novos artistas, para

    descobrir outras formas de se falar dos desejos sufocados e no ditos. E assim surgiu a pergunta no processo de criao: Qual o seu desejo?. Um longo processo resultou em Ditos e Malditos: Uma Instalao Coreo-

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  • Foto: Cludio Etges

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    grfica, que foi apresentada ao pblico em duas

    temporadas. A Instalao serviu de laboratrio e es-pao de experimentao para a criao de Ditos e Malditos: Desejos da Clausura, onde passou a se pensar intensamente nos desejos enclausurados, nos desejos que guardamos dentro de ns que quando ditos nos fazem malditos para algumas pessoas. Muitas vezes, deixa-se de dizer o que se quer por medo de ser visto pelo outro como maldito, como diferente, como fora da norma, por ter um desejo que, para muitos, no faz sentido ou no est no pa-dro do que aceitvel como desejvel em alguns contextos e grupos sociais. Os desejos foram ditos pelos intrpretes envolvidos neste projeto e se encon-traram rapidamente com as ideias de Carlota Albuquerque em falar sobre alguns Ditos Populares e sobre alguns autores reconhecidos como Malditos. Ditos, Malditos, Bendi-tos, No Ditos... Apenas a bendita iniciao a uma pesquisa coreogrfica, a bendita ex-perimentao que resultaria em algo que seria chamado de Ditos e Malditos.... Assim se poderia falar de muitos Ditos e de muitos Malditos, para depois se fazerem escolhas e definir o que seria no dito, o que ficaria no silncio, o que ficaria na clausura, o que

    ficaria escondido... E, quem sabe assim, despertar o desejo de ouvir, ver ou sentir tudo

    o que no for dito.Dizer ou no dizer,

    calar, engolir e sofrer,dito e no dito,talvez bendito,

    e muitas vezes maldito!(clich, porm dito...)

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  • Foto: Antonio Carlos Cardoso

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  • Esperto e Desperto: O papel da coregrafa

    2 - Esperto e Desperto: Expresso Utilizada por Carlota Albuquerque.

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    O trabalho da Terps no se resume ao resultado cnico, que fantstico. Este resultado cnico efeito de tudo que tencionado para constituir o que aqui podemos compreender como criao. A Terps se diferencia no cenrio da dana contempornea por seu instigante trabalho de pesquisa cnica, o qual faz perceber que a investigao em dana fundamental durante a construo de suas obras, ou seja, fundamental para seu processo de criao estimulado pela coregrafa. Porm, importante localizar que, neste contexto, a investigao apresenta um resultado muito subjetivo com diferentes sentidos construdos que sero reconstrudos pela recepo e olhar do espectador. Durante a montagem de Ditos e Malditos - Uma Instalao Coreogrfica e

    Ditos e Malditos: Desejos da Clausura Carlota Albuquerque, diretora e coregrafa da Terps, experimentou diferentes formas de mediar a relao entre o corpo e a criao em dana. Carlota costuma falar de um intrprete esperto e desperto. Esperto ou atento para o espao, para o outro, para a msica, para o silncio, para as sensaes... E desperto para reagir ou interagir com tudo isso, para perceber o corpo em diferentes espaos com diferentes estmulos. E, a partir disso, permitir-se despertar para aes calculadas ou impulsivas, para as quais o corpo do intrprete movido por diferentes informaes investigadas para uma determinada dana. ALBUQUERQUE (2008, 09), em um artigo para o jornal Varanda Cultural, declara que:

    O corpo que dana mltiplo, um corpo falante que pode acu-mular treinamentos de tcnicas codificadas ou propor novas re-flexes onde o foco principal, criando outros treinamentos em busca de conhecimentos do corpo/instrumento. A dana de nosso sculo necessita de uma completa disponibilidade corporal...

    Sem inteno alguma de fazer comparaes, mas sim de apresentar que alguns criadores muitas vezes apontam para os mesmos focos, apresento a contribuio de CYPRIANO (2005,27), quando esclarece que a coregrafa alem Pina Bausch no tem por objetivo valorizar o desempenho tcnico dos bailarinos, mas exprimir individu-alidades em suas especificidades. O que pode ser compreendido como partir do outro,

    do intrprete, do que o outro tem a oferecer para o processo de criao. Algo que talvez

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    3 - Escolha minha fala falar do coregrafo como algum que atua entre sujeitos e o processo coreogrfico ou obra finalizada.

    s o coregrafo muitas vezes percebe, algo que talvez no esteja pronto no intrprete, algo inacabado e que seja lapidado com o que o processo possa estimular. Mas, para isso, necessrio que os envolvi-dos estejam disponveis, espertos e despertos. Nesse contexto proposto por Pina Bausch, percebe-se o papel do coregrafo enquanto mediador entre os bailarinos/intrpretes/corpos e o processo criativo. Seria o core-grafo um manipulador, que se utiliza das ferramentas disponveis nesses corpos para conduzi-los ao cominho considerado talvez como mais adequado? Ou o core-grafo seria os olhos que guiam esses corpos por um caminho cheio de possibilidades que talvez no sejam percebidas por esses intrpretes? Assim, percebe-se um tabuleiro onde um jogo cnico acontece e suas estratgias so traadas. Porm, toda disponibilidade pode ser provocadora de um caos capaz de desestruturar os processos coreogrficos (cria-tivos) em andamento. Talvez essa desestruturao faa parte da provocao. ALBUQUERQUE na sua experi-ncia e grande inteligncia mediadora, que ouve, olha e compreende o outro, o intrprete, o espectador, aprovei-ta-se desse caos como estmulo para pensar o que est sendo feito, e para apresentar aos envolvidos os cami-nhos que esto sendo escolhidos e legitimados. Dessa forma, busca contextualizar as reaes e manifestaes dentro do processo criativo/coreo-grfico onde o corpo esperto e desperto se apresenta.

    Mesmo que muitas vezes de forma discreta, mesmo que muitas vezes os prprios intrpretes no percebam em alguns momentos. Mas est l... Estar esperto e desperto talvez possa ser vis-to por muitos como algo simples e comum. Mas o que

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    chama a ateno no trabalho de Carlota Albuquer-que com a Terps Teatro de Dana o fato de no precisar dizer o que o esperto e o que o des-perto. Pois, em Ditos e Malditos: Desejos da Clau-sura, as cenas no se resumem ao dito movimento pelo movimento. E sim a obra constituda por movimentos que so ditos e que podem ser vistos por alguns espectadores como movimentos maldi-tos, tudo vai depender da lente e de como o olhar de cada um se contextualiza com o despertar para o ver e o dizer. A cena criada pela Terps prope o des-pertar para observar de diferentes ngulos, o que s possvel pelos indcios apresentados que, au-tomaticamente, colocam o espectador no seu mais

    Wagner Ferraz

    intenso estado de esperto. Esperto e desperto sem se preocupar onde est um ou est o outro. Estar esperto e desperto para talvez sair da clausura onde o despertar inimigo desta. O coregrafo, muitas vezes, alm de estabelecer as relaes entre observador (espectador) e observado (intrprete), cria um currculo onde os intrpretes vo apre-sentar o contedo disponvel para conhecimento, para observao, para escolhas. Um leque de possibilidade apresentado aos espectadores, mas suas escolhas so limitadas e dirigidas pelo nmero de propostas neste leque. E este limite definido durante a

    construo da obra. Em Ditos e Malditos - A Instalao e Ditos e Malditos: Desejos da Clausura, esse leque de possibilidade apresentado e, logo aps, provoca uma rup-tura no qual o espetculo, a obra, a Terps, a coregrafa e os intrpretes perguntam ao pblico no meio do espetculo: Qual o seu desejo? Seria essa uma forma de despertar o espectador para se dar conta de seus dese-jos enclausurados?

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    Mais uma vez...

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  • Foto: Anderson de Souza

    Nunca mais!

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    Nunca mais!

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    Nunca mais!Nunca mais!

    Nunca mais!Nunca mais!Nunca mais!

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  • Foto: Cludio Etges

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  • O corpo dito, maldito e no dito

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  • Wagner Ferraz

    Falar da dana da Terps falar, dentre tantas outras coisas, do mover em cena, do mover dos corpos, de significaes, de sentidos e de ideias. Ao falar do mover dos

    corpos, refiro-me no somente do mover de estruturas sseas e musculares claro

    que o mover dessas estruturas tambm pode ser compreendido como um mover de ideias, pois corpo e mente devem ser compreendidos como indissociveis, opondo-se ao legado dualista cartesiano no qual corpo e mente podem ser compreendidos como separados. O que nos encaminha para o mover do corpo com um todo. Os corpos que apresentam e compe as obras da Terps esto em constante alterao, mas no como as alteraes realizadas por adeptos do body modification e

    outros movimentos culturais que buscam alteraes corporais. Mas como o corpo mo-dificado por uma cultura especfica de grupo que dana, com seus costumes e valores

    que apontam para modificaes constantes nos movimentos que sero definidos para a

    cena. E isto pode ser percebido por quem assistiu a Ditos e Malditos - Uma Insta-lao Coreogrfica no ano de 2008 e tambm o viu em setembro de 2009. Mudanas

    aconteceram, mudanas que podem ser percebidas nos corpos/movimentos e automati-camente na cena. A Instalao Coreogrfica vista em 2008 manteve a mesma ideia em

    2009, porm podem-se perceber mudanas que esclarecem o movimento, o trnsito e o percurso traado pela Terps. Essas mudanas foram constituindo os corpos durante a Instalao e, auto-maticamente, preparou-os para Desejos da Clausura. Assim, os corpos que estavam em silncio durante a Instalao passaram a gritar durante o processo de Desejos da Clausura. Como o grito da intrprete Angela Spiazzi, do qual se percebe a inteno e a boca aberta de um grito de desespero, porm no se ouve voz alguma. Os corpos estavam silenciados, enclausurados e cheios de desejos. Isso foi apresentado por Carlota Albuquerque, o que levou esses corpos para a cena sobre um cho de sangue (na Instalao, o cho era coberto por um linleo vermelho), o qual se tornou um cho branco e frio em Desejos da Clausura (linleo branco). Como se toda a euforia, todos os desejos enclausurados e reprimidos, que eram o motor de possveis inquietaes, fossem esfriados e acalmados. Dessa forma, deixa-se de pensar no corpo

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  • Foto: Antnio Carlos Cardoso

    eufrico e passa-se a pensar em um corpo frio, mani-pulador, calculista que desperta dvidas quando se v sujo de sangue. Quem ser o assassino? Mas houve um assassinato? E esse sangue nas mos? Ditos e Malditos: Desejos da Clausura fala de corpos que vo-se descobrindo na cena, pois, no processo de criao desta obra, no se via uma noo estabelecida de corpo, mas sim uma noo de corpo que transita por diferentes territrios imaginrios que foram surgindo nos encontros atravs de estmulos como lavar as mos em um recipiente com gua. O que parece apenas uma cena cotidiana torna-se movimento para a obra aps repeties, alteraes, e tentativas de se lavar essas mos de outras formas, diferente do jeito que eram lavadas na primeira experimentao. O corpo que se abaixa, mergulha suas mos na gua e as esfrega, torna-se elemento de estudo e de experimentao no qual diferentes intenes de movi-mentos so testadas, exploradas e, a partir disto, esco-lhas so feitas. E dependendo da escolha, o corpo que tinha intenes enclausuradas passa a falar de aes movidas por desejos. O corpo reprimido torna-se um corpo declarado. Dessa forma, percebe-se o corpo dito, descri-to, apresentado, o corpo indicado e colocado em cena, um corpo que fala por si s, quando constri esta cena. Mas ao mesmo tempo fala de um corpo maldito, que transita entre limites e oposies, muitas vezes se arris-cando para ter o prazer de provocar o outro. Vai at o seu considerado limite para realizar seu desejo influen-ciando, provocando ou interagindo com o outro.

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  • Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

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    um corpo que, como diz Carlota Albuquerque, busca referncias em BE-CKETT, quando diz MAIS UMA VEZ, e em ALLAN POE, quando diz NUNCA

    MAIS. Um corpo com limites e ao mesmo tempo ilimitado, que de um ponto de vista acredita e se prope ao exerccio ritualstico da repetio, e de outro ponto firma a des-crena e desistncia pensando e declarando nunca mais. Um corpo de contrapontos que leva a buscar motivos para seguir em frente e tambm faz escolhas para dar certos assuntos por encerrados. Que corpo esse que enclausura desejos? Que desejos so estes? Que desejos so estes que movem estes corpos a esconderem esses mesmos desejos pelo medo de serem identificados como malditos ao torn-los explicitamente declarados? Essas dvi-das evidenciadas nos corpos dos intrpretes estimularam a criao. Um corpo dito ou maldito, ou mesmo que esteja silenciado, um corpo com possibilidades, um corpo que constri cenas e pode ser construdo por elas, um corpo que desperta interesses, um corpo que carrega cultura e elemento da cultura, produ-to da cultura, resultado e processo da cultura. Um corpo que dana dana, produto da dana e produz dana... Um corpo em Ditos e Malditos: Desejos da Clausura um corpo que se permite dizer o que est enclausurado, mas ao mesmo tempo trancafia

    outros desejos em si, corpo que se arrisca a falar para que outros no falem por si. E tambm, em alguns momentos da obra, um corpo que tambm necessita saber calar para no ser calado pelo outro ou por certas circunstncias.

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  • Despir os vcios:O que se estabelece hoje

    pode ser alterado amanh

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    A Terps Teatro de Dana apresenta possibilidades de criar cenas nas quais tan-to o conjunto como cada parte, cada movimento, cada momento, cada elemento cnico leva a pensar em despir alguns vcios que podem ser encontrados facilmente em alguns espetculos. Talvez a palavra vcio possa ser substituda por outra, mas aqui ela usa-da para designar cdigos, imagens, lembranas e elementos muito comuns e repetitivos que muitas vezes no surpreendem. No que toda obra coreogrfica deva surpreender,

    pois um espetculo ou processo criativo em dana pode falar de alguns clichs ou de imagens extremamente comuns. Porm a forma como o coregrafo ir apresentar isso que faz a diferena. Muitas vezes, algumas pessoas repetem o tempo todo para outras que as amam. Para quem ouve pode ser algo interessante, mas com o tempo tambm pode se tornar algo to simples, to comum que pode passar a ser visto e compreendido com banalida-de. Pois o dito Eu te amo dito tantas vezes e para tantas pessoas que j no surpre-ende mais. Mas, quando algum est passando por uma situao considerada maldita e precisa simplesmente de algum ao seu lado para segurar a mo, sem nem mesmo dizer nada, talvez considere isso mais importante do que ouvir, eu te amo. Assim, pode-se compreender que dizer que se ama algum pode ser algo simples, comum, corriqueiro sem surpresas e tantas outras coisas que leve a refletir sobre isto. Mas o modo como

    se diz isso que faz a diferena. Pode-se dizer atravs de atitudes de ajuda, atravs de ateno, atravs de respeito, atravs de um abrao, atravs de um presente e, at mesmo, atravs do silncio, do no dito. Sem pronunciar em nenhum momento a frase: EU TE AMO. Ou repetir quantas vezes quiser, pois contrariando o que j foi dito, o fato de usar uma determinada frase pronta tambm tem muita importncia. apenas uma questo de escolha que pode definir se um dito ou no dito pode se tornar maldito.

    Na dana, tambm se pode perceber isso. Pode-se falar de coisas simples, co-muns e extremamente cotidianas, mas a forma como se fala sobre isso que surpreende, emociona, leva a refletir sobre. Algumas cenas na dana viraram to comuns em tantos

    espetculos, que acabam tornando algumas obras previsveis. Mas como foi dito, pode-se falar de que algumas cenas na dana em muitos casos so previsveis, no todas.

  • Assim, no caso de trabalhos que fogem do clich, que surpreendem de forma simples, que prendem o espectador e que levam a pensar sobre muitos assuntos, identifico as

    obras da Cia Terps Teatro de Dana e, em especfico, Ditos e Malditos: Desejos da

    Clausura. A Terps fala da dor sem que os intrpretes necessitem fazer uma expresso reconhecida como de dor no rosto, uma expresso cansativa, uma expresso que no se sabe se pra falar da dor ou se para esfregar na cara do espectador, de forma mastigada, o que est se querendo dizer. s vezes, as palavras no so necessrias, s vezes o dito torna a situao maldita, s vezes, na dana contempornea, pode-se pensar em despir o intrprete de alguns exageros que podem muitas vezes prejudicar a obra. importante pensar em estimular os intrpretes, dar asas a estes para que tenham coragem de se despir de posturas to duras e formatadas que parecem gritos dizendo quais tcnicas e costumes construram aquele corpo para a dana. Se for se falar de uma tcnica especfica, talvez seja interessante apresent-la e assumi-la. Mas

    se for falar de algo sem a inteno de se utilizar fielmente de uma tcnica especfica,

    importante que no se tenha medo de se despir dela, de utilizar o que for necessrio, de explorar as intenes e dinmicas aprendidas nos anos de aperfeioamento tcnico. No tenha medo de se despir.

    Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

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    Carlota Albuquerque permite que seus intr-pretes tentem abrir mo do que carregam consigo e os auxilia nisso, para fazer um exerccio de observao e anlise e, a partir disso, decidir o que se pode ou se deve usar, o que se pode ou deve-se vestir, tudo de acor-do com o contexto proposto na obra. Ento um cons-tante despir para depois escolher e se vestir. Mas no estou querendo dizer com isso que todo o aprendizado e preparao de anos de vida devam ser esquecidos e deixados de lado, a partir deste aprendizado e conhe-cimento que se faz exerccio de observao para depois fazer escolhas. O despir em Desejos da Clausura no chega a ser um despir-se do figurino, um entrar em cena sem

    roupas. Mas tenta-se ao mximo despir os intrpretes de tudo o que possuem, de tudo que os construiu. Isso pa-rece algo difcil, impossvel... Seja o que for, a tentativa um exerccio importante, um exerccio apresentado e vivenciado sempre pela Terps, e que percebido quan-do os intrpretes esto em cena e no do indcios ou anncios do que vai acontecer, e as coisas acontecem. Diferente de alguns intrpretes que so estimulados a se armarem, a se inflarem, preparando visualmente

    um movimento como se fosse um jogador de futebol se preparando para bater um pnalti. O pnalti extre-mamente importante em uma partida de futebol, mas a partida no se constitui apenas de pnaltis. E, se ob-servarmos os jogadores de futebol, perceberemos que a ao do outro e o resultado que apresenta atravs da bola faz com que escolhas devam ser tomadas de ime-diato e automaticamente, talvez tendo que se despir de alguns vcios para no perder a chance de chutar a bola no drible. Mas o ato de se armar e se inflar talvez

    seja proposital em alguns casos e faa parte da propos-

  • Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

    ta; nessas situaes, deve-se observar de outro ponto e compreender a importncia da ao. Mas voltando ao exemplo do futebol... Dana dana, futebol futebol, mas nos dois casos o que constri a cena o movimento, mesmo que seja s o movimento dos olhos que observa a hora adequada de se despir dos vcios. Porm, nos dois casos, se no se estiver preparado para se despir, essa roupa simblica e fundamental pode vir a atrapalhar. Em Ditos e Malditos: Desejos da Clausura, pode-se perceber que o intrpre-te constri a cena despindo-se e vestindo-se o tempo todo. um jogo no qual as estra-tgias so traadas atravs de escolhas premeditadas em longas horas de ensaios. Todos os intrpretes exercitam que a cena construda a partir do camarim, e o intrprete entra na cena onde o pblico se encontra com objetivo de falar algo, com objetivo de falar do assunto que j se iniciou fora do palco. Dessa forma, fogem de algumas situaes como as situaes em que os intrpretes entram em cena como se estivessem dizendo estou entrando em cena e vou danar e, em seguida, realizam seus movimentos, cumprem com suas obrigaes e concluem como se estivessem dizendo conclui, estou saindo da cena. Mas Carlota Albuquerque estimulou e provocou o tempo todo os intrpretes a dizer ou no dizer, mas convencer o espectador, convencer o outro sobre o que se est sendo proposto. Se fosse algo duvidoso, seria necessrio convencer sobre a dvida. A Terps Teatro de Dana convida de uma forma to sutil o espectador a se despir de suas lentes, a buscar outros pontos para assistir. Lentes essas que apontam muitas vezes para um nico formato de dana, lentes que definem muitas vezes se al-gum maldito ou bendito. Despir-se das lentes durante o espetculo como se despir do mundo l fora e vestir um mundo novo que cria possibilidades de vestimentas as quais escorrem sobre cada sujeito. Talvez impossvel, mas importante tentar. E, ao fim do espetculo, busca vestir o traje social/cultural construdo pelos meios onde cada

    um transita, saindo com lembranas das cenas nas quais os corpos cobertos se despiam o tempo todo de certos vcios, estimulando o espectador, pelas imagens, a se despir de certos cdigos que podem nos marcar como malditos e/ou benditos.

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  • A obra nunca ser a mesma?

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    Nunca mais!

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    Para quem j teve a oportunidade de assistir algumas vezes a uma mesma obra coreogrfica da Terps, pode perceber que a cada temporada e at mesmo a cada dia de

    apresentao suas obras passam por modificaes, alteraes, ressignificaes e recon-textualizaes. E, nesses momentos, possvel perceber o quanto existe pesquisa, ten-tativas e experimentaes nos trabalhos da Terps. Pois como suas obras esto sempre em processo, impossvel perceber os intrpretes acomodados nas estruturas e imagens j criadas. Na Terps, a cultura de grupo, que vive em constante construo, estabelece um fluxo no qual no se percebe uma dinmica de trabalho, mas sim o trnsito por diferen-tes dinmicas. Automaticamente, as obras e processos desenvolvidos pela coregrafa Carlota Albuquerque, pelos intrpretes e por toda a equipe esto sempre sofrendo modi-ficaes que podem ser identificadas como buscas por uma coerncia entre as ideias, e

    o que possvel realizar de acordo com tudo que est disponvel ou acessvel. Malditos e/ou benditos momentos nos quais se percebe a necessidade de mo-dificar/alterar. Em Ditos e Malditos: Desejos da Clausura, a maldita/bendita modifi-cao e alterao, que faz com que o estabelecido no exista ou deixe de existir, res-ponsvel pela constante construo onde tudo vive em intenso movimento. Os desejos so esquecidos ou realizados, outros surgem acompanhados de propostas de realizao. E assim tudo vai se modificando, continuando, recomeando, reiniciando, reconfiguran-do... O que leva a pensar que a dita finalizao da obra/espetculo cai por terra

    a cada ensaio no qual cada final se torna um recomeo. Esse recomeo faz com que os

    envolvidos tornem seus desejos ditos, fazendo com que saiam da clausura. E, logo aps, novos desejos so enclausurados para se tornarem malditos causando uma crise, uma instabilidade, uma necessidade de mover que faz com que os intrpretes tentem respon-der alguns questionamentos da coregrafa. um ciclo que alimenta a obra, ou que tenta alimentar, porm no se percebe uma finalizao. possvel perceber uma interrupo,

    uma pausa, um instante congelado, uma obra engavetada, guardada, esquecida por al-guns, mas no finalizada.

    Ditos e Malditos: Desejos da Clausura no est finalizado e nunca estar.

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  • Est fomentando o desejo que serve de alimento para estratgias que mantm a prpria obra em constante construo, em constante construo de sentido e, ao mesmo tempo, em constante congelamento, como a carne, quando congelada, fica em conser-vao para servir de alimento e manter a vida de quem a consumir. Ento, ainda h muito que ser dito, muitas escolhas a serem feitas e muitas definies sobre o que no se vai dizer. Ento ser que esses no ditos sero algum dia

    declarados? Talvez no, eles podem se tornar malditos quando forem ditos. Ento assim se mantm alguns segredos para que nem tudo fique claro e explcito, para que nem tudo

    seja declarado... A cada dia novos desejos, novos segredos, novas declaraes, novos sentidos... A obra com certeza nunca ser a mesma!

    Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

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  • Wagner Ferraz

    Referncias:CYPRIANO, Fabio. Pina Bausch. So Paulo: Cosac Nayfi, 2005.

    ALBUQUERQUE, Carlota. Braos Abertos. In. Varanda Cultural. Ano 03. Edio 08. Porto Alegre, 2008.

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  • Foto: Anderson de Souza Foto: Anderson de Souza

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    Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

  • Foto: Antonio Carlos Cardoso Foto: Antonio Carlos Cardoso

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    Wagner Ferraz

  • Foto: Antonio Carlos Cardoso

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  • Ao longo de uma trajetria de vinte e dois anos ao lado do Terps Teatro de Dana, partilhamos inmeras experincias em busca de espao de criao, sobrevivncia grupal e pessoal, criando espetculos ou aes multi-plicadoras junto a diversos artistas de diferentes reas e comunidade. Duran-te estes anos, dezenas de projetos direcionados a formao e incluso atravs da dana, construram uma linguagem cnica que representa a identidade do grupo na qual o processo de investigao possa ser continuado, transformado e transformador... A cada novo projeto, um olhar para o processo de compo-sio da obra. No Terps, cada obra soberana, cada processo nico e, em cada momento, transformamo-nos, talvez por acreditarmos que faremos tudo de forma intensa como da primeira vez... Estamos sempre buscando retratar alguns questionamentos sobre o processo de criao dentro do Terps Teatro de Dana, baseando-se em vivncias e experincias deste grupo de dana de trabalho continuado.

    Carlota AlbuquerqueDiretora e Coregrafa da

    Terps Teatro de Dana

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    Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

    Palavra da Coregrafa

  • Foto: Cludio Etges69

  • Quem Terps?Breve histrico

    Extras

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  • Wagner Ferraz

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    Terps Teatro de Dana uma companhia de Dana Contempornea, de Porto Alegre/RS/Brasil, criada em 1987 pela unio de alguns artistas gachos. Sua trajetria tem sido dedicada pesquisa de uma linguagem, que resgata as experincias humanas e rompe a barreira que separa os intrpretes da obra, pois eles so a obra. Tendo, seus processos e resultados identificados muitas vezes como dana teatral.

    Atravs de sua pesquisa em Teatro de Dana, como traz em seu nome, vem tecendo processos artsticos e articulaes com diferentes reas atravs de colaboraes que so fundamentais para suas experimentaes, processos e possveis resultados. Nos seus 24 anos de trabalho bem caracterizado em sua maturidade cnica e profissionalis-mo, est sempre em fase de reinveno e reconstruo. Pois os dilogos estabelecidos embasam sempre novos discursos incorporados pela Cia, o que a faz sempre jovem no se fixando a um resultado cnico. Mas sim, sempre na busca de muitas e atuais refern-cias que podem ser observadas atravs da subjetividade em cena. Ao longo de sua trajetria, acumulou prmios e reconhecimentos, sendo con-siderada pela crtica especializada do centro do pas como uma renovadora da dana brasileira. Foi uma das duas companhias a representar o Brasil no Carlton Dance Fes-tival em 1990, ao lado de companhias como Nikolais and Murrais Louis e Tanzthea-ter Wuppertal de Pina Bausch. Entre os diversos prmios recebidos ao longo de duas dcadas, destaca-se o Prmio Estmulo de Teatro e Dana concedido pelo Ministrio da Cultura Funarte/IBAC (Instituto Brasileiro de Arte e Cultura). A convite, se apre-sentou no festival Danza Libre (Uruguai). Em 1996, foi a nica companhia de dana a representar sua cidade de origem no I Porto Alegre em Buenos Aires (Argentina) a convite da Secretaria Municipal de Cultura e Secretaria de Cultura de la Nacion (Ar-gentina). Participou do 1, 3, 6, 9, 10 e 16 edies do Porto Alegre em Cena (Brasil). Foi o nico grupo representante de dana a participar do Projeto PETROBRAS Um dilogo entre Sul e Norte - As Artes Cnicas Aproximando o Brasil (Manaus, Belm, So Luiz, Fortaleza em 2002). Integrou o Circuito Brasil Telecom Dana (Brasil) na 1, 2 e 3 edies. Apresentou-se no Rio de Janeiro em O Globo em Movimento ao lado da Cia. canadense O Vertigo. Participou do I Frum Social Mundial (2000) e da I USI-NA BRASILTELECOM DANAS (2001). Em 2000 realizou o espetculo O Banho no Cais do Porto de Porto alegre com patrocnio Brasil Telecon. Em 2006, em associao com o diretor teatral Dcio Antunes (Produo e Rea-

  • Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

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    lizao: Jogo de Cena/Dramaturgia e Direo: Dcio Antunes), apresentou o espetculo Mulheres Insones, vencedor em diversas categorias do Prmio Quero-Quero (SATED-RS e Assemblia Legislativa - RS) e Prmio Aorianos de Dana (Secretaria Municipal de Cultura de Porto Alegre), sendo que em ambos foi eleito o Melhor Espetculo de Dana de 2006. No ano comemorativo de seus 20 anos, a Terps Teatro de Dana realizou, em Porto Alegre, o Projeto Protenas Terps, de abril a julho de 2007. Esse projeto recebeu do Ministrio da Cultura, por meio da Fundao Nacional de Arte (Funarte), o Prmio Klauss Vianna, que tem viabilizado a produo de diversos projetos em Dana no Bra-sil. Tambm recebeu apoio cultural do projeto Usina das Artes do Centro Cultural Usina do Gasmetro, Secretaria de Cultura da Prefeitura Municipal de Porto Alegre e Museu do Trabalho. No ano de 2008, desenvolveu o Projeto PTerPs Pum PBrinPcanPte Pno PMuPseu, financiado pelo Fumproarte com o especial objetivo de inaugurar o CEC

    Terps (Centro de Estudos Coreogrficos Terps), estabelecendo uma parceria com o

    Teatro do Museu do Trabalho distribuindo 50 bolsas integrais de formao em dana para sociedade. Em 2008 recebeu novamente o Prmio Funarte de Dana Klauss Vianna que

    possibilitou a montagem do Espetculo Ditos e Malditos: Desejos da Clausura no ano de 2009. Foi novamente contemplada com este prmio no ano de 2010 possibilitando que um novo espetculo seja criado e produzido no ano de 2011. O reconhecido trabalho da Terps atravs do trabalho de sua diretora e core-grafa Carlota Albuquerque, foi destaque e obteve reconhecimento no ano de 2010 quando Carlota foi agraciada na 16 Edio da Ordem do Mrito Cultural em cerimnia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro promovida pelo Ministrio da Cultura. Atualmente conta com o Projeto Terps em Obra(s) para manuteno de gru-po recebido atravs do 1 Prmio de Fomento ao Trabalho Continuado em Artes Cnicas de Porto Alegre. Conta com o apoio do Museu do Trabalho onde residente e d conti-nuidade ao projetos do CEC - Centro de Estudos Coreogrficos Terps.

    Projetos Especiais- Projeto Begegnung - (encontro/1999) intercambio - Kulturamt Stadt Essen/ Fond

    Darstellenden Kunst/ Goethe Institut Porto Alegre/ Sayonara Pereira com a coreografia

    Caleidoscpio das guas para a Terpsi Teatro de Dana;- 15 Valsas de 15 - Comemorao dos 15 da Terps na Usina do Gasmetro - Patrocnio FUMPROARTE;

  • Carlota Albuquerque, diretora e coregrafa da Terps Teatro de Dana (POA/RS) foi agraciada na 16 Edio da Ordem do Mrito Cultural em cerimnia no Theatro Municipal do Rio de Janeiro promovida pelo Ministrio da Cultura. A entrega do prmio foi na noite de 02/12/2010 onde 40 personalidades da cultura brasileira receberam esta homenagem na presena do ento Presidente da Re-pblica Luiz Incio Lula da Silva, do ministro da Cultura, Juca Ferreira, do governador do estado do RJ, Srgio Cabral Filho, e do prefeito do Rio, Eduardo Paes. A OMC o maior reconhecimento do Governo Federal a personalidades que contribuem para o desenvolvimento da identidade cultural brasileira.

    Para receber a Ordem do Mrito Cultural foram escolhidas pessoas que exprimem a nossa tradio, a nossa vanguarda, as dife-rentes correntes de criao cultural e artstica do nosso povo, conta Juca Ferreira. Muitos dos agraciados no se conhecem entre si e isto mais uma mostra de que o Brasil mltiplo, plural, e que cabe aos brasileiros revelar uns aos outros o pas que esto criando em conjunto, comemora o ministro. Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/2010/12/01/ordem-do-merito-cultural-2010-5/

    Wagner Ferraz

    Ordem do Mrito Cultural

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    - O Banho (2000) com a artsta Zo Degani;- Projeto Petrobras As Artes Cnicas Aproximando O Pas (2002)- Grupos Associados de Teatro e Dana do RS, produo Stravaganzza;- Antgona - Direo Luciano Alabarse (2005/2006);- Sagrao da Primavera (2007) - intercmbio ULBRA- Curso superior de Licenciatura em Dana e Usina das Artes do Centro Cultural Usina do Gasmetro;- Protenas - Prmio Klauss Vianna Intercmbio com o Teatro Escola de Antnio N-brega (2006) FUNARTE/PETROBRAS e Usina das Artes;- Projeto PterPs Pum PbrinpCanPte Pno PmuPseu - Financiamento FUMPROARTE;- Ditos e Malditos - Desejos da Clausura - Prmio Funarte de Dana Klauss

    Vianna/2008;- Das Obras nascem as Obras - Prmio Funarte de Dana Klauss Vianna/2010;

    - Terps em Obra(s) - 1 Prmio de Fomento ao Trabalho Continuado em Artes Cnicas de Porto Alegre.

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  • Fitas dos Desejos

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  • Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

    Titulo: Fitas dos Desejos, 2009.

    Instalao: Arame, tecido, tinta serigrfica.Artistas: Grupo Arquivo Temporrio - Ana Froner, Anderson de Souza, Carla Meyer.

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  • Wagner Ferraz

    Durante a temporada (2009) de Ditos e Malditos: Dese-jos da Clausura o Grupo Arquivo Temporrio criou uma instalao de arte na entrada do Teatro do Mu-seu do Trabalho, onde a idia do espetculo era sutilmente apresenta-da.

    A Instalao de Arte A instalao Fitas dos Desejos criada pelo grupo de artistas Arquivo Tempo-rrio, faz uma aluso a algumas das temticas que serviram de inspirao para a criao do espetculo Ditos e Malditos: Desejos da Clausura da Terps Teatro de Dana. As fitas que em tamanho ampliado trazem a frase Lembrana de um Dito

    Maldito, podem ser compreendidas como fitinhas religiosas lembrando as fitas do Nos-so Sr. do Bom Fim ou de Nossa Sra. Aparecida. Fitas estas que so amarradas nos pulsos como promessa para que os desejos se realizem at que as fitas se arrebentem.

    A idia das fitinhas que surgiu durante a concepo

    do espetculo, mas que no chegavam a compor a cena, prope aos expectadores a lembrana de um dito popular, que para muitos pode estar adormecido em algum lugar na memria, a lembrana de um dito cujo, a lembrana de algo que deveria ter sido dito (ou no). A instalao prope que os expectadores levem na memria as lembranas de Ditos e Malditos: Desejos da Clausura.

    Anderson de Souza

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  • O dito figurino Terps

    A criao do figurino para o espetculo Ditos e Malditos: Desejos da Clau-sura, se deu paralelo a criao do espetculo onde os envolvidos estiveram sempre prximos do elenco e da coregrafo. Dessa forma bousco-se desenvolver uma proposta que foi se transformando de acordo com a criao da Obra.

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  • O convite para desenvolver os figurinos do dito espetculo veio acompanhada

    da proposta de desenvolv-los com o apoio do Senac Canoas Moda e Beleza, que gentilmente cedeu o espao e toda sua infraestrutura de salas, mquinas de costura entre outros materiais, assim como o auxlio de alguns dos profissionais que lecionam nesta

    instituio, a exemplo da professora Carla Meyer que desempenhou um papel impor-tantssimo na realizao deste projeto, acompanhando toda concepo e desenvolvi-mento do incio ao fim (fim ao qual me refiro como final da temporada do espetculo),

    e tambm a no menos importante, e sim fundamental participao dos alunos do Curso Tcnico em Moda. Os alunos que participaram deste projeto, iniciado em agosto de 2009, con-triburam com o desenvolvimento do figurino por meio de oficinas desenvolvidas em

    encontros semanais, onde se buscou inicialmente apresentar a eles a Terps atravs de informaes e registros de alguns trabalhos anteriores, de modo que os alunos pudessem despertar para o que estava por vir, j que muitos dos alunos envolvidos traziam uma ideia, digamos que mais formal, do que poderia ser um figurino de dana, e como to-dos no conheciam o trabalho da Terps, foi necessrio romper com alguns modelos. Onde s ento foram apresentadas as propostas iniciais de criao do Ditos e Malditos: Desejos da Clausura, que tinha como principais referncias a Instalao Coreogrfica

    que deu origem ao espetculo e a ideia de que tudo se passasse dentro de um frigorfi-co. Ao longo dos encontros foram surgindo muitas ideias, propostas e possibilida-des para a criao tanto do figurino quanto do espetculo. Processo que s foi possvel

    por ter se estabelecido um contato muito prximo da coregrafa e de seus intrpretes, o que permitiu que algumas propostas geradas nas oficinas fossem testadas e incorporadas

    ao novo espetculo a exemplo do uso das botas de PVC, o avental de aougueiro e os espartilhos para os homens. Assim como a construo de alguns figurinos quase que

    diretamente no corpo do intrprete, a exemplo do vestido usado por Gabriela Peixoto que foi se transformando medida que o sua performance em cena ia se estabelecendo. Vestido que iniciou como uma folha em branco, e que no decorrer do processo foi sendo escrita, desenhada, redesenhada e adaptada s leituras, percepes e interpretaes do espetculo em construo.

    Wagner Ferraz

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  • Foto: Cludio Etges

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  • Foto: Antonio Carlos Cardoso

    Foto: Antonio Carlos Cardoso

    Foto: Antonio Carlos Cardoso

    Foto: Anderson de Souza

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    Tudo o que surgia durante a concepo do espetculo e em meio aos ensaios, aos pou-cos ia sendo utilizado para compor a criao dos figurinos. Gerando uma grande rede de informa-es de onde foram surgindo muitas ideias, al-gumas que nos conduziram para imagens muito literais, perpassando absurdos at se chegar ao que viria a ser o ideal. Muitos rabiscos, esboos, croquis foram sendo alterados medida que o espetculo ia sendo concebido. A mudana foi uma constante. Mais uma vez, muda perso-nagem, muda proposta, muda a cor, muda for-ma, muda caimento, muda comprimento e o que parecia que nunca mais seria alterado, mais uma vez, era substitudo, trocado, manchado, rasgado e suturado. E de um aparente caos, cada figurino ia quase que ordenadamente tomando

    forma, um a um. Posso dizer que cada figurino foi de

    certa forma esculpido, pois se partiu de for-mas brutas que foram sendo alteradas pouco a pouco ao longo de muitas horas de trabalho. Cada pea exclusiva e dificilmente se conse-guir produzir outra idntica, parecidas talvez, mas idnticas, acredito que no. E as maiores recompensas por todo o esforo dedicado a estas criaes foram a indicao ao prmio Aorianos de Dana (2009) na categoria melhor figurino, e

    a satisfao e admirao que a coregrafa e os intrpretes expressam ao se referirem aos seus trajes de cena.

    Anderson de SouzaFigurinista

    ProcessoC3

  • Foto: Antonio Carlos Cardoso

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  • Foto: Anderson de Souza

    Foto: Claudio Etges Foto: Claudio Etges

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    Foto: Antonio Carlos Cardoso

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  • Foto: Cludio Etges

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  • Foto: Claudio Etges

    Foto: Anderson de Souza

    Foto: Antonio Carlos Cardoso

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    Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qaul

    o seu desejo

  • Sinopse do espetculo:

    DITOS MALDITOS: Desejos da Clausura o novo processo de pesquisa e criao da Terps Teatro de Dana que recebeu o Prmio FUNARTE de Dana Klauss

    Vianna 2008. Refere-se s inquietudes sobre o amor, solido, poder e morte que per-passam as obras de escritores e artistas considerados malditos como: Jarry (Ubu Rei), Beckett (A Cadeira de Balano), Alan Poe (O Corvo), Caio Fernando Abreu, Augusto dos Anjos, e interferncia de Sartre, Duchamp e Van Gogh. A proposta busca enfo-car a ambigidade dos personagens que desvendada a partir do olhar do observador. Desejos da Clausura surgiu dos desejos da prpria Terps Teatro de Dana e dos es-pectadores que colaboraram durante a Instalao Coreogrfica em 2008/2009. Dessa

    forma foi surgindo a imagem de desejos congelados em um frigorfico que evidenciam

    o paradoxo entre, o congelar para preservar e o congelar para destruir salvaguardando a morte que serve de alimento para a vida. Atravs de alguns ditos populares busca-se o alvio para justificar o maldito e o no dito que se apresenta por meio de metforas.

    Assim como BECKETT diz: Mais uma vez.... POE diz: Nunca mais!. Quando nos

    percebem ou nos percebemos malditos? Existe um maldito limite que nos enclausura em um no dito? Qual o seu desejo?

    Wagner Ferraz

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    Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qual o seu desejo? Qaul

    o seu desejo

  • - Intrpretes Colaboradores:Angela SpiazziGabriela PeixotoRaul VogesDbora WegnerGelson FariaEdson Ferraz (na Instalao Coreogrfica)

    - Participao Especial e Direo de Ensaios:Simone Roratto

    - Direo e concepo: Carlota Albuquerque

    - Orientao de Ensaios e professora convidada:Simone Roratto

    - Preparao Fsica:Anjos do Corpo

    - Iluminao:Guto Grecca

    - Trilha IncidentalAlvaro Rosacosta

    Ditos e Malditos: Desejos da ClausuraFicha Tcnica da estria do espetculo

    Trilha pesquisada:Terps Teatro de Dana

    - Figurinos:Curso Tcnico em Moda - SENAC/Canoas - Moda e BelezaCoordenao e Criao: Anderson de SouzaCriao/aluna: Luciana BernardesCriao/colaborao: Carla Meyer/Eunice Carvalho Bernardes

    - Cenrio:Criao e Finalizao - Terps Teatro de Dana;Proposta de criao inicial - Curso de Design de Interiores/ULBRA;Alunos: Ismael Bertamoni e Gabriela Sou-za/Designer: Marco Chiela;Prof: Mnica Heydrich (Artista Plstica); Rosane Dariva Machado (Arquiteta).

    - Cenotcnico:Paulinho Pereira Tio Paulinho

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  • - Assistentes de Montagem e Palco:S.O.S Daughters

    - Assistente de Produo:Alana Haase

    - Montagem e Edio de udio:Murilo Assenato

    - Operao de luz:Gilmar Rosa

    - Descrio do Processo de Criao (Caderno Registro):

    Wagner Ferraz Processo C3

    - Fotgrafo:Cludio Etges

    - Assessoria de Pesquisa:Processo C3 Grupo de Pesquisa

    Anderson de Souza, Francine Pressi, Wagner Ferraz - www.processoc3.com

    Ditos e Malditos: Desejos da ClausuraFicha Tcnica da estria do espetculo

    Foto: Wagner Ferraz

    - Direo Administrativa:Angela Spiazzi

    - Coordenao de Comunicao e Arte Grfica:

    Anderson de SouzaWagner Ferraz

    - Elaborao e Gesto de Projetos Culturais:

    Angela Spiazzi - Azzis, projetos, consultores e produtores

    associados Ltda;Gabriela de Souza Peixoto -

    Terps Teatro de Dana;Wagner Ferraz - Processo C3

    Grupo de Pesquisa

    - Durao do espetculo:50

    - web: Terps Teatro de Danawww.terpsi.com.br

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    Pr-estria - Festival Internacional de Dana Mesa VerdeDia 20 de Novembro de 2009 - 19:30 horas no Teatro de Museu do Trabalho

    Estria- Encontro Estadual das Universidades de Dana RS/ULBRADia 28 de novembro de 2009 - 20:30 horas no Teatro de Museu do Trabalho

    Temporada30/11/2009 e 01, 05, 06, 07 e 08, 12, 13, 14 e 15/12/2009Teatro do Museu do Trabalho

  • Foto: Cludio Etges

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  • Anexos

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  • Fotos: Cludio Etges

    Ditos e Malditos:Uma Instalao

    Coreogrfica

    Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

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  • 103

  • 104

  • 105

  • Cronologia das Obras

    2009

    DITOS E MALDITOS:Desejos da Clausura

    2008

    DITOS E MALDITOS:Uma Instalao Coreogrfica

    2001

    I LA NAVE NO VA I

    2001

    O BANHO

    Associado com a artsta plstica Zo Degani

    1996

    ORLANDOS

    1993

    LAUTREC...FIN DE SICLE

    Ditos e Malditos: Desejos da Clausura - O Processo de Criao da Terps Teatro de Dana

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  • 2006MULHERES

    INSONESProduo e Realizao: Jogo de CenaDramaturgia e Direo: Decio Antunes

    2003

    I LA NAVE NO VA II

    1999A FAMLIA DO BEB&CALEIDOS-CPIO DAS GUASCoreografia de

    Sayonara Pereira

    1998

    ESCAPEA DANA DOS LOUCOS

    1989

    QUEM ?

    1988AS TRS PARCAS

    1987AS QUATRO ESTAES

    Wagner Ferraz

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  • Fotos: Wagner Ferraz

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    Fotos: Wagner Ferraz Fotos: Wagner Ferraz

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  • Wagner FerrazCoordenador de Dana do Instituto Estadual de Artes Cncias (IEACEN) da Secretaria de Estado da Cultura RS (SEDAC). Especialista em Gesto Cultural - SENAC/RS. Cursa Especializao em Educao Especial - UNISINOS/RS. Graduado em Dana - ULBRA/RS. Atuou como Assessor da Coordenao de Cultura da ULBRA 2009/2010. Coordenador Processo C3, idealizador e editor do Peridico Eletrnico Informe C3 (Corpo, Cultura, Artes e Moda - www.processoc3.com/ISSN: 2177-6954). Professor do Instituto de Desenvolvimento Educacional e Profissional Integrado Indepim no curso

    de Elaborao de Projetos Culturais, nas unidades de Criao e Criatividade do Curso de Criao de Figurino e Coordenador dos cursos nas reas de cultura, artes e moda; Coordenador da Indepin Editora; Coordenou Projetos e Pesquisa da Terps Teatro de Dana. Presta Assessoria para a elaborao de Projetos Culturais. Cursou formao em Intrprete/Tradutor de LIBRAS (no finalizado). J dirigiu coreografou e atuou em

    vrios espetculos, performances, festivais e mostras de dana sendo premiado vrias vezes. Integrou o elenco da Cia Terps Teatro de Dana (2006/2007). Ministrou aulas e oficinas de dana, processo criativo em dana, dana contempornea e expresso corpo-ral no ensino regular e no ensino especial para pessoas com deficincia fsica, mental/

    intelectual, auditiva e visual, alm de diferentes sndromes. Ministrou oficinas de dana

    para pessoas com deficincia em instituies de ensino com ULBRA/Canoas e UFRGS/

    Porto Alegre. Ministrou palestras e pesquisou sobre: Processo Criativo , Construo de Sentindo na Cena, Corpo, Territrio e Moda , Corpo e Cultura , Expresso Corpo-ral e Adaptaes para pessoas com deficincia , e Dana e Adaptaes para pessoas

    com deficincia . Desenvolveu trabalhos como assistente de fotografia e webdesigner.

    Idealizador e Coordenador da 1 Reunio Moda como Cultura/RS. Atuou como Baila-rino, coregrafo, professor de dana e pesquisador em dana com nfase em linguagens contemporneas, tem como foco investigar a relao movimento, corpo e cultura. De-senvolve trabalhos de pesquisa com coreografia e LIBRAS. Atua principalmente nos se-guintes temas: corpo, cultura, corpo-moda, projetos culturais, cultura e acessibilidade, dana, criao/criatividade e coreografia. Endereo para acessar este CV: http://lattes.

    cnpq.br/7662816443281769E-mail: [email protected]

    Sobre o autor

    Wagner Ferraz

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    Foto: Cludio Etges

    O pior cego

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