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ENTREVISTA I ZELIA PINHEIRO "Do ponto de vista tecnico, 0 balan~o e positivo" A rede urbana de frio e calor do Parque das Na~oes ja tern onze anos e Joao Castanheira, director-geral da Clirnaespa~o, faz 0 balan~o. Garante que os pre~os SaGcornpeti- tivos com elevada eficiencia energe- tica, mas diz que a recupera~ao do investimento esta ser rnais lenta do que 0 esperado. A crise imobiliaria, com os edificios ocupados ainda a 50%, afectou 0 turn-over do pro- jecto. Mas considera que 0 pior e a falta de ernpenho dos poderes publicos: mantem-se a penaliza~ao fiscal em sede de IVA e a Cidade Judiciaria, que devia ser urn dos maiores dientes, esta em tribunal por ter decidido nao se ligar it rede. Qual 0 conceito e objectivos do pro- jecto de rede de frio e calor do Parque das Na~oes? o projecto Climaespa~o surgiu no ambito da Expo 98. Na altura em que se pensou organizar a exposi~ao mundial pensou- se em reabilitar um espa~o degradado da cidade e tambem, nas diferentes are- as, em irbuscar aquilo que fosse state of the artnagestao urbana.Por exemplo, nesta zona nao existe a normal recolha de lixo em contentores, mas um sistema de recolha pneumatica de resfduos Foi af quesurgiu 0 conceito da distribui~ao centralizada de frio e de calor, quee um conceitomuito antigo - existem redes de distribui~ao de calor commais de 100 anos. 0 conceito da distribui~ao centralizada de frio e um pouco mais recente mas tambem ja existem redes de frio com umas decadas. Em Lisboa articulamos os dois e construfmos uma rede quedistribuisimultaneamente frio e calor. 0 conceito basicoeque em vez de existir uma produ~ao localizada em cada edificio com os seus pr6prios sistemas de climatiza~ao, existe uma central unica para toda esta zona da cidade onde eproduzida a energia. 0 objectivo primordial deste projecto foi teruma produ~ao de frio e calor que consumisse 0 mlnimo de energia pri- maria possivel e quetivesse 0 minimo de emissoes poluentes. 0 sistema pro- porcionauma economia de emissoes de CO 2 na ordem dos 40%. Houve depois um segundo objectivo, delimpar as fachadas dos ediffcios dos aparelhos de ar condicionado que descaracteri-

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ENTREVISTAI ZELIA PINHEIRO

"Do ponto de vistatecnico, 0 balan~o

e positivo"A rede urbana de frio e calor do

Parque das Na~oes ja tern onze anose Joao Castanheira, director-geral

da Clirnaespa~o, faz 0 balan~o.Garante que os pre~os SaGcornpeti-

tivos com elevada eficiencia energe-tica, mas diz que a recupera~ao do

investimento esta ser rnais lenta doque 0 esperado. A crise imobiliaria,

com os edificios ocupados aindaa 50%, afectou 0 turn-over do pro-

jecto. Mas considera que 0 pior ea falta de ernpenho dos poderes

publicos: mantem-se a penaliza~aofiscal em sede de IVA e a CidadeJudiciaria, que devia ser urn dos

maiores dientes, esta em tribunalpor ter decidido nao se ligar it rede.

Qual 0 conceito e objectivos do pro-jecto de rede de frio e calor do Parquedas Na~oes?o projecto Climaespa~o surgiu no ambitoda Expo 98. Na altura em que se pensouorganizar a exposi~ao mundial pensou-se em reabilitar um espa~o degradadoda cidade e tambem, nas diferentes are-as, em ir buscar aquilo que fosse state ofthe art na gestao urbana. Por exemplo,nesta zona nao existe a normal recolhade lixo em contentores, mas um sistemade recolha pneumatica de resfduos Foi

af que surgiu 0 conceito da distribui~aocentralizada de frio e de calor, que e umconceito muito antigo - existem redesde distribui~ao de calor com mais de100 anos. 0 conceito da distribui~aocentralizada de frio e um pouco maisrecente mas tambem ja existem redesde frio com umas decadas. Em Lisboaarticulamos os dois e construfmos umarede que distribui simultaneamente frioe calor. 0 conceito basico e que emvez de existir uma produ~ao localizadaem cada edificio com os seus pr6prios

sistemas de climatiza~ao, existe umacentral unica para toda esta zona dacidade onde e produzida a energia. 0objectivo primordial deste projecto foiter uma produ~ao de frio e calor queconsumisse 0 mlnimo de energia pri-maria possivel e que tivesse 0 minimode emissoes poluentes. 0 sistema pro-porciona uma economia de emissoes deCO2 na ordem dos 40%. Houve depoisum segundo objectivo, de limpar asfachadas dos ediffcios dos aparelhosde ar condicionado que descaracteri-

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zam as fachadas. Nesta zona, uma vezque nao ha produ~ao localizada de frioe calor nos ediffcios, as fachadas saocompletamente limpas.

Como e que 0 sistema funciona?Existe uma central de produ~ao de ener-gia, existe uma rede de distribui~ao aosediffcios utilizadores e depois existemas chamadas subesta~oes, dentro decada um dos edificios utilizadores, ondese processa a transferencia de frio ede calor para 0 interior dos ediffcios.A central utiliza uma tecnologia de tri-gera~ao, 0 que significa que e umacentral on de se produz electricidade,mas ao contrario das centra is electricasconvencionais, 0 calor que e libertadoda produ~ao de electricidade nao edesperdi~ado. Uma central termoelec-trica como a de Sines, onde se produzelectricidade com base em carvao, temum rendimento de cerca de 37%, 0 quesignifica que quase 2/3 da energia quee queimada e desperdi~ada sob a formade calor. As centra is de cicio combinadocomo a do carregado ou da tapada doouteiro tem rendimentos da ordem dos55%. N6s temos uma central que aoproduzir simultaneamente frio e calortem um rendimento de 84%. I

Por que motivo estas tecnologiasde cogera~ao nao sao usadas emmaior escala?Para haver co e trigera~ao tem quehaver quem consuma a componentetermica, ou seja 0 calor e 0 frio. Quandose constr6i uma central electrica emSines, ha uma quantidade enorme deelectricidade que e produzida, mas 56se houvesse ali ao lado um grandecomplexo ou uma grande cidade e quepodia haver uma rede de distribui~aoa fazer uso do calor. Caso contra rio, 0calor e libertado e nao ha consumi-dores. 0 que n6s fazemos com estetipo de centrais que sao de pequenadimensao e construir a central Juntoaos consumidores - a central esta aqui,no Parque das Na~oes - e com isso

diminuimos as perdas de distribui~aoporque se encontram consumidoresmesmo a volta da central.

Trata-se de uma central em meiourbano, que produz decerto emis-soes...A central fica na zona Norte, ja a ca-minho da ponte Vasco da Gama, bemdisfar~ada, porque esta em ambienteurbano e tera sempre emissoes, que saosempre controladas, e muito inferioresas de qualquer outra tecnologia.

Quantas pessoas estao ligadas a rededa Climaespa~o?o Parque das Na~oes esta concebidopara uma popula~ao de 40.000 pessoas,entre habita~ao e terciario, que aindaesta longe de ser atingida. Mas temosligados cerca de l20 ediffcios ou conJun-tos de ediHcios e temos cerca de 3000clientes / frac~oes, que correspondem amuito mais pessoas do que isso. Dentrodos clientes temos os muito grandesclientes - Centro Comercial Vasco daGama, Oceanario, sede da Vodafone,Casino Lisboa - mas tambem temoso pequeno cliente - 0 apartamento, aloja, 0 escrit6rio individual e isso e umamais-valia deste projecto. Normalmenteneste tipo de redes no resto da Europao que acontece quanta aos ediffcios dehabita~ao e que existe um contrato como condominia do ediffcio, 0 fornecedorde energia entrega energia ao condo-mfnio e a factura e repartida por todosos cond6minos. 1550desresponsabilizaas pessoas pelos seus consumos e naoincentiva a economia e a eficiencia, poisa factura e indexada a permilagem. 0que nos fizemos aqui foi levar a entregade energia a porta de cada consumidor,cada cliente tem 0 seu contador deenergia e cada pessoa, cada casa oucada loja e responsavel pelo seu consu-mo. [550e mais uma forma de incentivara utiliza~ao racional de energia que ea nossa preocupa~ao de base.

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cionamento. Qual e 0 balan~o?Do ponto de vista tecnico 0 balancoe muitfssimo positivo. E evidente quequando um conceito novo e introduzidoas pessoas tem alguma desconfiancae isso aconteceu em 1998 e na alturafoi um bocado diffcil de ultrapassar,mas hoje em dia, passados onze anos,podemos dizer que foi um sucesso.Temos um servico com uma fiabilidadeelevadissima, com pouquissimas horasde interrupcao do servico e sob 0 pontode vista tecnico os clientes estao muitosatisfeitos. Os objectivos em termosde ligacao de editrcios estao alcanca-dos. Praticamente todos os edifrciosclimatizados do Parque das Nacoestem ligacao a Climaespa~o e quem lahabita, na maioria, tem 0 servico. Adificuldade que temos e que uma partedos ediffcios ja esta construida mas naoesta ainda habitada. Ha uma grandequantidade de escrit6rios que nao estaoocupados e de apartamentos que naoestao vendidos e isso tem a ver com aconjuntura econ6mica do Pais e como excesso de oferta imobiliaria que hano mercado.

Mas parece haver pessoas que desis-tiram do contrato com a Climaespa~o,porque nao estao satisfeitas com ostarifarios.A Climaespa~o nao tem liberdade deescolher pre~os, os nossos precos devenda de energia depend em de umconjunto de indices que saD indicespublicados oficialmente, um dos quais eo pre~o do gas natural. Fruto da recenteevolucao e da liberaliza~ao do mercadodo gas baixamos 0 preco de venda danossa energia ja a partir deste mes deJulho 24%. Ou seja, se 0 servico ja eracompetitivo a partir de agora vai serainda mais.Mas temos que recusar a questao datarifa com numeros. Neste momentatemos uma tarifa de venda de calorque e de cerca de 0,035 euros por KWjhora, que e igual para 0 aquecimentoambiente e para 0 aquecimento deaguas. 0 valor da electricidade ou dogas e varias vezes superior A tarifa daelectricidade e na casa dos 0,11, ou0,12 euros por KWjhora, ou seJa,variasvezes mais caro. Nao e verdade queo servi~o seja mais caro, sendo certoque com a Climaespa~o nao existem

equipamentos de producao de energianos pr6prios ediffcios, 0 que significaque as pessoas nao tem que se preocu-par com a sua aquisicao, substituicao emanuten~ao. Simplesmente, as pessoasabrem a "torneira" e sai agua quentee sai agua fria.Esta ideia de que haveria um pre~o maiscarD tem mais a ver com a parte de frio:o aquecimento e muito mais barato doque qualquer algum tipo de alternati-va. Na parte do frio, e n6s corrigimosisso a meio do percurso, 0 tarifario foipensado inicialmente sobretudo paragrandes clientes, ediffcios de escrit6rios,museus, hoteis, que precisam de muitaclimatizacao durante grande parte do~no - a estrutura tinha uma componentefixa da factura elevada, com um precoda energia muito baixo. Para quem 56usa frio durante 3 ou 4 meses por anapodia estar a pagar uma componen-te fixa da qual nao tirava vantagem,enquanto um grande cliente que usafrio todo 0 ana beneficia de 0 preco daenergia ser muito baixo. N6s resolve-mos esse problema ha varios anos masadmito que a informacao nao estejaainda disponivel no mercado, criandoum tarifario opcional para os clientesresidenciais que baixou ao mlnimo estacomponente fixa e hoje em dia 0 unicocusto fixo para a componente frio e nacasa dos 5 euros por meso Oepois paga-se aquilo que se consumir.

Pode entao afirmar positivamenteQue e compensador para um c1ienteresidencial contratar 0 servi~o daClimaespa~o face as demais op~oesde c1imatiza~ao do mercado, mesmoincluindo 0 frio?Sim, com nfveis de custo fixo tao baixos- no frio estamos a falar de 60 eurosjano, 56 mesmo para alguem que naoesteja a habitar a casa e nao use 0 ser-vi~o e que eu admito que nao seja.

Tendo em conta 0 Quediz, parece que56 por falta de informa~ao e que naoestao ainda todas as pessoas ligadasao sistema da Climaespa~o ...o numero de pessoas que nao estaoutilizar 0 servico e muito baixo. Temostaxas de utilizacao que saD muito pr6-ximas das taxas de ocupa~ao dos edi-flcios. Se eu tiver uma taxa de liga~aodo editrcio de 70%, essa taxa e muito

Nao e verdade que 0 servi~oseja mais caro, sendo certo quecom a Climaespa~o nao existemequipamentos de produ~ao deenergia nos pr6prios edificios,o que significa que as pessoasnao tern que se preocupar coma sua aquisi~ao, substitui~ao emanuten~ao. Simplesmente, aspessoas abrem a "torneira" esai agua quente e sai agua fria.

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proxima da taxa de ocupaeao do edifi-cio. as outros 30% nao estao a utilizaro servieo e simplesmente porque naovivem la, porque de facto ha um certonumero de apartamentos que foramcomprados para investimento, outrosque nao foram ainda vendidos. E certotambem que 0 numero de clientes decalor e superior ao numero de clientesde frio.

Em que termos esta prevista a liga-{aO dos edificios desta zona a rede daClimaespa{o? Quem quiser pode op-tar pelo gas para agua quente e poroutros sistemas de c1imatiza{ao?Nesta zona da cidade ha uma legislaeaoespecffica Ha uma porta ria que regu- /la 0 plano de urbanizaeao, prevendoa questao da climatizaeao e diz que,se os edifrcios desta zona da cidadetiverem aquecimento ou arrefecimentoambiente, entao devem usar ou ener-gias renovaveis ou a rede de frio e calorfornecida pela Climaespaeo. Nao hauma obrigaeao de ligaeao a rede, haduas alternativas que san oferecidas eque san ambientalmente comparaveis.Mas a agua quente nao tem nenhumtipo de limitaeao, as pessoas pod emusar os sistemas que quiserem. Se qui-serem usar esquentadores a gas ouacumuladores electricos, podem usarE evidente que existindo uma rede defrio e calor, ela e, do ponto de vistaeconomico, mais vantajosa do que estessistemas. Usar a electricidade para fazeraquecimento de agua e, para alem deum crime ambiental, quase um crimeeconomico, pelo que isso custa. E hauma outra questao que e a da seguran-ea - pelo facto de existir esta rede defrio e calor significa que nao existemesquentadores e caldeiras dentro dascasas e isso significa uma redueao deriscos que tem a ver com a queima degas para aquecimento de agua.

A Climaespa{o esta sujeita a regu-la{ao da ERSE(Entidade Reguladorados Servi{os Energeticos)?A nossa actividade nao e regulada pelaERSE,mas como existe um contrato deconcessao existe um concedente, queem nome do Estado portugues regulaa nossa actividade. A Parque EXpo, quetem ainda a gestao dos servieos urbanosdesta zona, e a ainda a entidade que

regula a nossa actividade, pensa-seque no futuro possam ser as camarasmunicipais.

Passando a questoes mais globais.Como avalia hoje a execu{ao docontrato de concessao celebradoem 1997?Isto e um investimento totalmente pri-vado, sem nenhuma comparticipaeao doEstado portugues, e a contra partida quenos foi dada foi a de poder operar estesistema durante 25 anos, findos os quaishavera um novo concurso e podera serescolhida uma outra entidade. Este pro-jecto quando surgiu aqui em Lisboa foipioneiro em muitas coisas. Ja existiammuitas redes de calor pelo mundo in-teiro, ja existiam algumas redes de frio,mas nao existia este conceito ter frio ecalor no mesmo sistema e diferentestecnologias na mesma central, tanto eque 0 nosso grupo - 0 grupo GDF Suez- tem construfdo varias outras redes emvarios pafses a imagem de Lisboa e nostemos muito orgulho nisso. Construfmosredes semelhante a esta em Barcelonana zona do Forum 2004, em Saragoea,para a Expo 2008, e estamos a construiruma rede bastante maior em Londres,para a zona dos jogos Olfmpicos de2012. E aprendemos muito com esteprojecto, para 0 bem e para 0 mal.Houve de facto coisas que correrammenos bem neste projecto. Desde logo,ha uma nota importante: neste projectode Lisboa todo 0 investimento foi feito

Desde logo, ha urna nota irntante: neste projecto de Usb -todo 0 investirnento foi feitopelo operador privado, 0 quesignifica que todo 0 investirre -to e repercutido nas tarifas aconsurnidores finais. A verda _e que a rnais-valia arnbientae energetica que este projectern para 0 pais nao e levadaem conta, nao houve nenhlitipo de participa~ao das enti -des publicas neste projecto.

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pel a operador privado, a que significaque todo a investimento e repercutidonas tarifas aos consumidores finais. Averdade e que a mais-valia ambiental eenergetica que este projecto tem para apais nao e levada em conta, nao houvenenhum tipo de participa~ao das enti-dades publicas neste projecto.

As tarifas sao entao tarifas rea is,em linha do que tem sido defendi-do como boa pratica em materia deconsumo de recursos natura is...As tarifas sao reais, elas reflectem ascustos do servi~o, mas nao a beneficiaambiental deste servi~o. Aquilo queacontece em projectos semelhantesa este mais recentes e que pel a factode a projecto contribuir para a redu~aodas emissoes de CO2 do pais, para aredu~ao das importa~oes de petr61eo ede gas, os pr6prios Estados participame saG financiadores do projecto, e issopermite que as tarifas de energia se-jam um pouco mais baixas. Este tipode projecto e de capital intensivo, tem

~Quinta sao loa<>NUdeo Empresarial deArruda Vinhos• Escr. E22630·310 ARRUDA DOS VINHOS

um investimento enorme na constru~aoda central, da rede e das subesta~oes,e a recupera~ao deste investimento efeita a muito longo pram Nem todosas investidores estao preparados paratrabalhar neste tipo de projectos e epreciso saber esperar para conseguirrecuperar 0 investimento em muitolongo pram

E por isso que, onze anos depois,esta continua a ser a (mica rede defrio e calor em Portugal?Esta e uma questao importante, sen-do este tipo de sistemas bom para aambiente. Por um lado, 0 conceito eainda novo em Portugal e ha algumarelutancia em aceitar este conceito. Paroutro lado, ha algumas barreiras impor-tantes, de que posso dar um exemploparadigmatico: os clientes da Climaes-pa~o pagam IVA a 20% enquanto queos consumidores de electricidade oude gas natural pagam IVA a 5%, a quesignifica que em Portugal temos umafiscalidade que em vez de ser verde e

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vermelha. Ha um incentivo a electrici-dade e ao gas. Somos 0 unico pais daEuropa onde isto acontece Ja fizemosexposi~6es ao governo portugues eexplicamos que nao e justa que os con-sumidores de uma energia amiga doambiente sejam penalizados face aosconsumidores de electricidade e de gas,mas, mais do que isso, um pais queimpoe estas barreiras e um pais quenao quer receber mais investimentosdeste tipo. Ha apoios especiais para asenergias renovaveis, que estao muitoem voga, mas a eficiencia energetica,e e disso que estamos aqui a fa/arte ainda um parente pobre em Portu-gal. Enos dias de hoje, nao e possfvelsuprir todas as nossas necessidadesenergeticas com recurso as energiasrenovaveis. Vamos ter ainda, durantenao sabemos quantos anos, que usarcombustrveis fosseis e temos que 0fazer da forma mais eficiente possf-vel. E af que a eficiencia energetica efundamental, e por isso que a politicaeuropeia na area da energia promovea cogera~ao, a trigera~ao, as redes defrio e calor.

E somos 0 unico pais da Uniao quenao 0 faz?Em 2006 foi alterada a directiva doIVA, passando a permitir baixar 0 IVApara a electricidade e para 0 gas etambem para 0 aquecimento urbano.Em Portugal nao se fez uso desta pos-sibilidade e somos neste momento 0unico pais onde 0 IVA do aquecimentourbano e superior. Esta descida teriapeso praticamente zero em termos dereceita fiscal perdida, porque os gran-des consumidores ja recuperam 0 IVAe teria impacto apenas para os clien-tes residenciais. E em term os do sinalque se da ao mercado era importante,estamos a dar a mensagem errada.Nao e apenas a rede de frio e calordo Parque das Na~oes que esta emcausa - enquanto houver este tipo debarreiras em Portugal os investidoresVaG escolher outros parses. As entida-des publicas deviam envolver-se maisnestes projectos, se calhar nem semprefinanciando ou subsidiando, mas naofaz sentido que vivam a margem destesprojectos - faz sentido que ajudem aresolver os problemas, por exemplonesta questao do IVA.

oar que, no passado, a (lirnaespa~otenha cornprado electricidade a EDP,em vez de a produzir? Isso continuaa ser cornpensador?Nos produzimos a electricidade queconsumimos, mas ha situa~oes em que,se tivermos que parar a nossa turbinadurante dois dias para fazer manuten-~ao, paramos de produzir electricidadee temos que a comprar. Isso acontece,mas apenas pontualmente. A questaotem a ver com 0 interesse economicoem comprar electricidade em vez de aproduzir e de facto houve uma fase emque isso aconteceu, a trigera~ao deixoude funcionar e nos passamos nessassemanas a adquirir electricidade parap(odu~ao de frio e 0 gas era apenas paraprodu~ao de calor. 1550 foi uma situa~ao-limite em que as tarifas de venda degas eram de tal forma inadequadasque tornavam impossivel a opera~ao.Foi uma decisao polftica, para marcaruma posi~ao, mas 0 nosso objectivo naoe esse, mas sim 0 de ter a trigera~aoa funcionar e a nao ser que haja con-di~oes absolutamente anormais, 0 quenao e 0 caso, nos vamos funcionar deacordo com 0 principio que definimosa partida e e isso que temos feito em99,99% da nossa opera~ao.

A nao existencia de obriga~ao deliga~ao dos edificios e urn factor Ii-rnitante?A liberdade de contratar deve existir.Eu nao digo que se deva obrigar umapessoa ou uma empresa a contratarum servi~o que nao quer. Agora, quempretender ter um servi~o deve respei-tar as regras existentes. As regras sansuficientes: quem quer ter um siste-ma de climatiza~ao, usa a rede, que eum sistema eficiente, ou usa energiasrenovaveis - nao pode e usar outracoisa. E preciso e que isto seja cum-prido e eu diria que e quase semprecumprido, mas nem sempre. 0 sistemae mais vantajoso para os utilizadoresfinais, mas para quem constroi ele naoe necessariamente mais barato. Quembeneficia e quem usa, e ha quem penseassim: 0 meu edificio nao precisa de cli-matiza~ao, e depois quem vem habitaraquele edificio vai chegar a conclusaode que ate precisa. E ainda existe umdiferendo com um promotor desta zonaque decidiu nao se ligar a Climaespa~o

A liberdade de contratar deveexistir. Eu nao digo que se devaobrigar uma pessoa ou umaempresa a contratar urn servi-~oque nao quer. Agora, quempretender ter urn servi~o deverespeitar as regras existen-tes. As regras SaDsuficientes:quem quer ter urn sistema dec1imatiza~ao, usa a rede, quee urn sistema eficiente, ou usaenergias renovaveis - nao podee usar outra coisa.

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nem utilizar um sistema com recurso aenergias renovaveis.

A cidade judicia ria?Sim. Esse complexo, que seria um clien-te da dimensao do Vasco da Gama, defacto nao tem liga~ao a rede da Climaes-pa~o nem energias renovaveis, tem umsistema convencional, 0 que e como terum edifrcio numa cidade com uma redede esgotos que em vez de se ligar a redefaz uma fossa I 0 problema aqui foi quea propria Camara Municipal de Lisboalicenciou 0 edifrcio nestas condi~oes,em nossa opiniao em clara viola~aoda lei, que recentemente foi refor~adapela propria regulamenta~ao energeticaque diz que se existir na zona ou nasproximidades uma rede de frio e calor,entao a liga~ao e obrigatoria, desde queeconomicamente justificavel 0 casoesta em tribunal porque a Climaespa~oaccionou a Camara com 0 argumentode que foi licenciada uma constru~aoque nao respeita a legisla~ao aplicavelnesta zona da cidade, mas para alem daquestao legal, ha aqui uma questao deconceito - que sentido e que faz numazona destas on de existe esta rede naoter aquele conjunto de edifrcios ligadoa esta rede7 Isto acontece porque haainda pouca consciencia destas ques-toes e ha outros valores que se sobre-poem apesar de 0 discurso ambientale energetico estar muito presente nodiscurso politico.

o que pode concluir-se entao do pro-jecto de c1imatiza~ao do Parque das

Na~oes, apesar de as condi~oes naoserem as idea is?Visto a luz daquilo que nos sabemoshoje, se soubessemos que ia ser assime que ia levar tanto tempo a recuperaro investimento, se calhar nao tfnhamosfeito 0 investimento - essa e a questao.Nos vamos la chegar, mas so ao fim demuitos anos.

Essas contas nao estavam feitas apartida?Estavam feitas mas nao sarram comoesperado, porque aconteceu uma se-rie de situa~oes que nao estavam pre-vistas inicialmente, nomeadamente acrise economica e a excesso de ofertaimobiliaria no mercado, a existenciade edificios sem consumidores. Essaquestao nao estava equacionada. 0resto das questOes, como a do IVA, queconstitui mais uma barreira a replica~aodeste tipo de sistema, foi-se descobrin-do posteriormente.

Mesmo assim, a Climaespa~o vaicontinuar a apostar neste neg6cioem Portugal?o nosso grupo esta, apesar das barrei-ras, atento a este mercado e esta emvias de constituir uma nova empresa emPortugal, dedicada aos servi~os ener-geticos, que vai ter como prioridadeprecisamente a area da cogera~ao, dadistribui~ao centralizada de frio e calore em que vamos activamente procurarnovas oportunidades de negocio nestaarea. Nos proximos tempos havera no-vidades quanta a isso.

Visto a luz daquilo que nossabemos hoje, se soubesse-mos que ia ser assim e que ialevar tanto tempo a recuperaro investimento, se calhar naotinhamos feito 0 investimento -essa e a questao. N6s vamosla chegar, mas s6 ao fimde muitos anos.