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Monografia final do curso de bacharelado em museologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO UNIRIO
TALITA DE CASTRO MIRANDA
DOCUMENTAO MUSEOLGICA: caminho para a identificao da impresso
digital de objetos de coleo.
Rio de Janeiro 2007
UNIRIO - CCH - DEPM ESCOLA DE MUSEOLOGIA GRADUAO EM MUSEOLOGIA 1.o. semestre 2007
DOCUMENTAO MUSEOLGICA: caminho para a identificao da impresso digital de objetos de coleo
Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda
Talita de Castro Miranda
DOCUMENTAO MUSEOLGICA:
caminho para a identificao da impresso digital de objetos de coleo.
Trabalho de Concluso de Curso, apresentado Escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro como requisito parcial obteno do grau de Bacharel em Museologia.
Orientador: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima
Rio de Janeiro 2007
UNIRIO - CCH - DEPM ESCOLA DE MUSEOLOGIA GRADUAO EM MUSEOLOGIA 1.o. semestre 2007
DOCUMENTAO MUSEOLGICA: caminho para a identificao da impresso digital de objetos de coleo
Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda
Talita de Castro Miranda
DOCUMENTAO MUSEOLGICA: caminho para a identificao da impresso
digital de objetos de coleo.
Trabalho de Concluso de Curso, apresentado Escola de Museologia da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro como requisito parcial obteno do grau de Bacharel em Museologia.
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________ Prof. Anaildo Bernardo Baraal - UNIRIO
____________________________________________________ Profa. Avelina Addor UNIRIO
____________________________________________________ Profa. Diana Farjalla Correia Lima - Orientador UNIRIO
Dra. em Cincia da Informao IBICT/ UFRJ
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DOCUMENTAO MUSEOLGICA: caminho para a identificao da impresso digital de objetos de coleo
Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda
Aos meus pais, pelo apoio incondicional.
Ao meu irmo, por cuidar to bem do seu maior presente de aniversrio
(... eu!...).
Carol, pela pacincia, amizade e companheirismo nestes 5 anos.
Roque Meilick, pelas reflexes e toda alegria e tristeza que isto me trouxe,
pilares de minha edificao como indivduo, mulher e profissional.
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DOCUMENTAO MUSEOLGICA: caminho para a identificao da impresso digital de objetos de coleo
Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda
AGRADECIMENTOS
A Diana Farjalla Correia Lima, orientadora, que abriu meus olhos para o instigante universo de possibilidades gerado pela Documentao Museolgica.
E a todos que contriburam para a realizao desta monografia.
Rita Esteves, chefe e amiga, pelo apoio, incentivo e pelas frias do estgio durante a reta final.
Elizabeth Paiva, pelos valiosos ensinamentos e trocas de idias sobre a prtica museolgica.
Ana Carolina de Souza Cruz, pelo emprstimo dos imprescindveis dicionrios, sem os quais esta monografia no existiria...
Caroline Lodi, Gisele Guimares, Fernanda Santos Silva, Silvia R. P. de Souza, colegas de orientao, pelas dicas, sugestes e troca de material.
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DOCUMENTAO MUSEOLGICA: caminho para a identificao da impresso digital de objetos de coleo
Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda
RESUMO A Documentao Museolgica possui como alguns de seus objetivos a segurana da informao sobre os objetos e o gerenciamento de acervo, portanto,
promove tambm a segurana fsica dos mesmos. Os manuais para Documentao
Museolgica padronizam os procedimentos de catalogao de bens culturais. A
catalogao de aspectos formais dos objetos primordial para sua identificao,
principalmente em caso de roubo. Entretanto verifica-se que alguns manuais para
catalogao de acervo museolgico no enfatizam a identificao de caractersticas
fsicas dos objetos.
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DOCUMENTAO MUSEOLGICA: caminho para a identificao da impresso digital de objetos de coleo
Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda
SUMRIO
1. CONSIDERAES INICIAIS. 8
2. OBJETIVOS 14
3. DOCUMENTAO E SUA APLICAO EM MUSEUS: ou Documentao Museolgica
15-49
3.1 Conhecendo a Documentao: conceito, histrico e prticas
15
3.2 Documentao Museolgica Museum Documentation 32
Algumas Consideraes 38
Sistema de Documentao Museolgica 40
4. DIRETRIZES INTERNACIONAIS PARA DOCUMENTAO MUSEOLGICA EM TRS TEMPOS
50-72
4.1 Conselho Internacional de Museus (International Council of Museums) ICOM, Instituio de Referncia em Museologia.
51
4.2 Diretrizes para Documentao Museolgica. 59
4.2.1 Object ID - Introduction to Objetct ID: guidelines for making records that describe art, antiques, and antiquities.
59
4.2.2 CIDOC Fact Sheet 1 - Registration step by step: when an object enters the museum.
64
4.2.3 AFRICOM - Handbook of Standards. Documenting African Collections.
67
5. UMA PERSPECTIVA ANALTICA SOBRE OS MANUAIS. 73-97
Registro passo a passo: quando um objeto entra no museu CIDOC Ficha Tcnica 1(Registration step by step: when an object enters the museum CIDOC Fact Sheet 1)
76
Manual para Padronizao: documentando as Colees Africanas - AFRICOM (Handbook of Standards. Documenting African Collections - AFRICOM).
84
6. CONSIDERAES FINAIS. 98
REFERNCIAS 102
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ANEXO A - Objeto ID: categorias de informao 108
ANEXO B - CIDOC Ficha Tcnica 1 126
ANEXO C - Categorias de Informao AFRICOM 131
ANEXO D - Minimum Data List AFRICOM 135
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1. CONSIDERAES INICIAIS
Ao empregar o conceito impresso digital de objetos de colees, considera-
se o conjunto de dados bsicos/ imprescindveis para a identificao das
caractersticas fsicas do objeto na qualidade de pea nica, fornecidos pela
catalogao de acervo no campo da Museologia. Faz-se referncia s categorias de
informao descritivas que compem um Sistema de Recuperao de Informao
Museolgica.
A Documentao Museolgica consiste na aplicao das tcnicas da
disciplina cientfica Documentao, referentes catalogao e indexao de
documentos, no campo especfico da Museologia, na qual o documento
representado pelo objeto de coleo. Esta [] intermdia [intermdia] fontes de
informao e usurios e se estrutura em funo do objetivo de atender s
necessidades de sua clientela. 1 Desta forma, age como o pilar da estrutura do
Museu, fornece informaes para todos os setores da Instituio e reconhecida
como primordial para a segurana da coleo; no s no caso de roubo, para dar
suporte busca do objeto, como para provar sua posse legal pelo Museu, mas
tambm como preventiva, j que atravs da gesto do acervo, que se mantm o
controle sobre os objetos.2
No processo de catalogao, registram-se tanto as caractersticas fsicas,
dados intrnsecos dos objetos, composio material, construo tcnica e
morfologia, 3 quanto dados extrnsecos, que os contextualizam em mbito scio-
cultural e institucional, com a finalidade reconstituir a trajetria do objeto de coleo
dentro da sociedade que o produziu e valorizou na qualidade de documento, e
construir sua histria dentro da Instituio responsvel pelo mesmo.
O Manual de Catalogao Pintura, Escultura, Desenho e Gravura, do
Museu Nacional de Belas Artes (MNBA) considera na categoria de fontes principais
1 FERREZ, op. cit., p. 70. (grifo nosso) 2 THORNES, Robin; DORRELL, Peter; LIE, Henry. Introduction to Objetct ID: guidelines for making records that describe art, antiques, and antiquities. Los Angeles: Getty Information Institute, 1998. p. 1 3 MENSCH, 1987 apud FERREZ, Helena D. Documentao museolgica: teoria para uma boa prtica. In: Estudos Museolgicos. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994, p. 66
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de informao: (1) a obra de arte [objeto] em si; 2) as inscries nelas manuscritas ou impressas pelo autor ou grupo de autores; 3) textos fornecidos pelo autor ou grupo de autores. 4 Portanto, pode-se entender que a anlise fsica do objeto a
principal fonte de informao de um Sistema de Documentao Museolgica, um
conjunto composto de partes inter-relacionadas, desenvolvido para assegurar as
informaes sobre os objetos e facilitar o acesso a estas. 5
Levou-se em considerao na elaborao deste trabalho, alguns fatos
importantes. Nestes ltimos anos museus, bibliotecas e arquivos pblicos da cidade
do Rio de Janeiro tiveram importantes peas de seus acervos roubadas, o que
alertou a comunidade museolgica e as instncias de governo para a segurana dos
mesmos. Ainda assim, o processamento documental do patrimnio material nas
Instituies Pblicas no visto, de forma abrangente, como medida de preveno/
segurana.
Portanto, este trabalho enfatiza o registro dos dados intrnsecos dos objetos,
pois enfoca a importncia da Documentao Museolgica na qualidade de
instrumento de auxlio busca de objetos roubados e para a preveno de roubo.
A base para a atuao da Documentao Museolgica neste sentido est na
identificao visual dos objetos de coleo, portanto o registro das caractersticas
intrnsecas dos mesmos confere a esta disciplina as funes mencionadas.
Agncias para a aplicao da lei, em particular, h muito reconhecem que a documentao crucial para a proteo de objetos culturais, visto que oficiais que atuam na aplicao da lei raramente podem recuperar e devolver objetos que no tenham sido fotografados e descritos adequadamente.6
Em situao de desaparecimento ou roubo de acervo, necessrio o
compartilhamento de informaes sobre os mesmos entre as Instituies envolvidas
na recuperao da pea, assim, torna-se imprescindvel o estabelecimento de
4 MUSEU NACIONAL DE BELAS ARTES. Manual de Catalogao de pinturas, esculturas, desenhos e gravuras. Compilao de Helena Dodd Ferrez e Maria Elizabete Santos Peixoto. Rio de Janeiro, 1995, p. 10. (grifo em negrito do original) 5 Ibidem, p. 71 (grifo nosso) 6 Law-enforcement agencies, in particular, have long recognized that documentation is crucial to the protection of cultural objects, for law-enforcement officials can rarely recover and return objects that have not been photographed and adequately described. THORNES, Robin; DORRELL, Peter; LIE, Henry. Introduction to Object ID: guidelines for making records that describe art, antiques, and antiquities. Los Angeles: Getty Information Institute, 1998, p. 1
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padres e normas para a catalogao de tais dados e o controle do vocabulrio
empregado nos Sistemas de Informao.
No campo da Museologia existem vrios manuais desenvolvidos com a
finalidade de estabelecer padres para a catalogao de acervo, e em alguns casos,
estabelecer normas a fim de controlar o vocabulrio utilizado, ao fornecer listas de
termos autorizados. Cada um com suas aplicaes especficas seja na rea das
Artes: Manual de Catalogao Pintura, Escultura, Desenho e Gravura, do Museu
Nacional de Belas Artes (MNBA), Arqueologia: Padres em ao: trabalhando com
arqueologia (Standards in Action Working with Archaeology - MDA), da Associao
de Documentao Museolgica (Museum Documentation Association), ou
desenvolvidos para normalizar a catalogao dos bens culturais de um pas, como a
base de dados Joconde do Ministrio da Cultura da Frana, para citar alguns.
Os manuais, ao estabelecerem normas para catalogao, constituem-se na
qualidade de instrumentos para o controle da informao sobre acervos e promovem
a intercomunicao do campo, importante no caso de roubo.
Considerando-se que a informao provida pela Documentao Museolgica
deve auxiliar, dentre outras funes, na identificao visual de um objeto, que esta
reconhecidamente importante em caso de recuperao e devoluo de objetos
roubados e que os manuais desta rea de atuao tm como principal finalidade a
orientao e normalizao quanto ao registro dos dados sobre o objeto, fontes de
tais informaes, questiona-se se os manuais desenvolvidos para a padronizao
dos procedimentos relativos catalogao de acervo enfatizam a descrio fsica
dos mesmos, com o objetivo de possibilitar sua identificao visual.
No se poderia ignorar dentro da questo levantada a realidade dos museus
brasileiros, os quais em muitos casos no possuem corpo tcnico especializado no
tratamento de acervos, como tambm, em vrios casos encontram-se colees no
inventariadas, at mesmo sem nenhum registro de sua existncia. Outra situao
observada a predominncia de Instituies voltadas para o colecionismo de bens
culturais referentes s Cincias Humanas (histria, etnografia, arqueologia, etc.,) e
Lingstica, Letras e Artes, neste caso, especficos dos campos artsticos,
principalmente as Artes Plsticas.
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Assim, foram selecionados como objeto de estudo desta monografia os
seguintes manuais para Documentao Museolgica:
--- Registration step by step: when an object enters the museum CIDOC Fact
Sheet 1 (Registro passo a passo: quando um objeto entra no museu CIDOC Ficha
Tcnica 1), do International Committee for Documentation - CIDOC (Comit
Internacional para Documentao CIDOC), instituio subordinada ao International Council of Museums ICOM (Conselho Internacional de Museus - ICOM).
Estabelece padres relativos aos processos de um Sistema de
Documentao, orientando sobre as diferentes situaes pelas quais passam os
objetos ao ingressarem em um Museu at a concluso de seu processamento.
--- Handbook of Standards: documenting African Collections AFRICOM (Manual
para Padronizao: documentando as colees africanas - AFRICOM). Co-produo
ICOM e CIDOC;
Padroniza a catalogao de acervos referentes s grandes reas do
conhecimento, Cincias Humanas e Naturais, aplicado em museus africanos.
Na qualidade de matriz para anlise dos referidos manuais, tomou-se uma
publicao, referncia na rea, que estabelece as categorias de informao
imprescindveis para a identificao de um objeto de coleo, portanto referentes s
suas caractersticas fsicas: Introduction to Objetct ID: guidelines for making records
that describe art, antiques, and antiquities (Introduo ao Objeto ID: diretrizes para o
registro de descrio de artes e antigidades).
O padro utilizado para anlise corresponde ao conjunto de informaes
sugeridas pela referida Diretriz (Objeto ID), (sua impresso digital), fruto de
consenso entre diferentes comunidades que lidam com patrimnio cultural, com a
finalidade de auxiliar na busca por bens culturais roubados ou desaparecidos.
Dentre os usos atribudos ao Objeto ID consta, diretriz para Documentao que
estabelece o nvel mnimo [bsico] de informaes necessrias para identificar um
objeto. 7
7 as a documentation standard that establishes the minimum level of information needed to identify an object; THORNES; DORRELL; LIE, op. cit., p. 1
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Tomou-se por base para o desenvolvimento do contedo apresentado,
publicaes em lngua inglesa, pois so referenciadas no campo museolgico e
devido ausncia de tradues para o portugus de tais publicaes.
A presente monografia expe o desenvolvimento argumentativo dividido em
trs momentos.
No primeiro (seo 3.), tendo em vista a carncia de profissionais
especializados existente nos museus brasileiros, apresenta a Documentao, traa
brevemente o histrico de desenvolvimento de tal disciplina, das Instituies
envolvidas neste processo e das prticas estabelecidas pelo campo. Apresenta
tambm a aplicao a Documentao na Museologia, estabelecendo os
procedimentos da Documentao Museolgica (Museum Documentation) e
inserindo-a no contexto da tica profissional fundamentada pelo Cdigo de tica
para Museus do ICOM.
J no segundo momento (seo 4.), descreve os documentos considerados
na qualidade de objetos de estudo. Apresenta o ICOM e o Comit CIDOC,
realizadores de tais normas. No caso do Objeto ID, realizao conjunta com o Getty
Instituto de Informao (Getty Information Institut), entre outros.
No ltimo (seo 5.), analisam-se os manuais para Documentao
Museolgica com base na matriz escolhida.
A metodologia utilizada consistiu em levantar, nos referidos manuais, todos os
itens de informao relativos a dados intrnsecos, que refletem a materialidade do
objeto, portanto, sua composio material, construo tcnica e morfologia. 8 Com
a finalidade de estabelecer comparaes entre as categorias de informao, e se
houver, as subcategorias encontradas e as categorias de informao apresentadas
pela Matriz no que tange a terminologia e contedo.
Como mtodo de anlise empregaram-se tabelas comparativas
correlacionando as categorias de informao fornecidas pela matriz Introduo ao
Objeto ID: diretrizes para o registro de artes e antigidades, (Introduction to Objetct
ID: guidelines for making records that describe art, antiques, and antiquities), com as
8 MENSCH, 1987 apud FERREZ, Helena D. Documentao museolgica: teoria para uma boa prtica. In: Estudos Museolgicos. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994, p. 66
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categorias sugeridas, no primeiro momento, pelo CIDOC Ficha Tcnica 1 (CIDOC
Fact Sheet 1) e, no segundo momento, pelo Manual para Padronizao:
documentando as Colees Africanas - AFRICOM (Handbook of Standards.
Documenting African Collections - AFRICOM).
As correlaes estabelecidas foram explicitadas caso a caso, de forma
descritiva, aps a apresentao de cada tabela.
Por fim, observa-se que apenas um dos manuais para Documentao
Museolgica escolhidos para anlise atende de forma efetiva o padro estabelecido
pela Matriz.
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2. OBJETIVOS Geral:
Identificar a partir do que foi denominado por impresso digital do objeto, ou
critrio de dados bsicos para a identificao de objetos expresso na matriz
Introduo ao Objeto ID: diretrizes para o registro de artes e antigidades,
(Introduction to Objetct ID: guidelines for making records that describe art, antiques,
and antiquities), normas/ padres de segurana que orientam o campo Museolgico
contra o trfico ilcito de bens culturais, com a finalidade de verificar se existe efetivo
atendimento a este padro de segurana em duas situaes diferentes.
Modelo para Documentao Museolgica, em formato simples da rea de
Documentao do ICOM Conselho Internacional de Museus, (International Council
of Museums), considerado sob o aspecto de sugesto de campos informacionais
fundamentais para catalogao museolgica.
Modelo estabelecido para a catalogao de diversas colees de museus
cobrindo as grandes reas do conhecimento, Cincias Humanas e Naturais,
considerado sob o aspecto de exemplar efetivamente implantado.
Especficos:
--- Analisar comparativamente o modelo simplificado do CIDOC Comit
Internacional para Documentao (International Committee for Documentation)
CIDOC Ficha Tcnica 1 (CIDOC Fact Sheet 1) que sugere categorias de informao
fundamentais para a catalogao museolgica, a respeito especificamente das
categorias que descrevem as caractersticas fsicas do objeto, com o padro bsico
exposto no Objeto ID.
--- Analisar e comparar o Manual para Padronizao: documentando as Colees
Africanas - AFRICOM (Handbook of Standards. Documenting African Collections -
AFRICOM), modelo implantado em museus do Continente Africano, concernente aos
campos de informao que descrevem caractersticas fsicas do objeto, com o
padro bsico apresentado pelo Objeto ID.
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3. DOCUMENTAO E SUA APLICAO EM MUSEUS: ou Documentao Museolgica
Esta seo trata vrios aspectos da Documentao.
Inicia identificando os dois usos do conceito, na qualidade de registro do
conhecimento e como tcnica e suporte de anlise de documentos.
Traa a histria das Instituies fomentadoras desta disciplina, dede a criao
do Escritrio Internacional de Bibliografia (Office International de Bibliographie) at
as modalidades atuais de Organismos de Documentao.
Apresenta a metodologia de aplicao da Documentao, utilizada por
qualquer campo que se valha de suas tcnicas.
Num segundo momento, trata da Documentao no mbito da Museologia,
denominada Documentao Museolgica (Museum Documentation), como
aplicada, suas particularidades e objetivos. Traa tambm um paralelo com os
dispositivos do Cdigo de tica para Museus do Conselho Internacional de Museus
(International Council of Museums) - ICOM, com a finalidade de demonstrar que a
Documentao Museolgica um dever da Instituio Social Museu e de seus
funcionrios especializados, ao mesmo tempo em que um direito o acesso pblico
s informaes geradas neste processo.
3.1 Conhecendo a Documentao: conceito, histrico e prticas. O termo Documentao empregado comumente, no sentido de fixar
materialmente o conhecimento humano atravs de meios como, inicialmente,
pedra, argila, papiro, e mais tarde, atravs do livro, o qual foi durante longo tempo
o mais importante dos meios de difuso do pensamento.1
Com o processo de desenvolvimento ocorrido na Europa -- final do sculo
XVIII; que levou Revoluo Industrial a partir de 1750, e Revoluo Francesa em
1 MINELLI, Maria Carolina Motta. Os instrumentos e as tcnicas de documentao. In: DASP. Diretrizes da documentao. [S.l.]: Servio de Documentao, 1964, p. 142
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1789, os meios de produo se modificaram e tambm a ordem social e poltica
sofreu importantes alteraes. Conforme Mesquita, 2
com o irrompimento da evoluo industrial, que modificou o equilbrio dos sistemas vigorantes nas sociedades, acontecimentos polticos e sociais de grande repercusso transformaram a constituio e distribuio dos Estados.
Este novo sistema econmico e social exigia novas demandas na rea de
desenvolvimento tecnolgico, assim, com rapidez extraordinria progridem as
cincias, surgem as tcnicas, tendo em conseqncia invenes, descobertas e
criaes [].3
Neste ambiente frtil para a produo de informao, desenvolveram-se os
peridicos cientficos, j a partir do fim do sculo 18, 4 e desde ento sua
importncia para a difuso da informao cresceu de forma vertiginosa, se em 1800
uma centena de revistas cientficas era publicada pelo mundo afora, em 1850 j
eram mil e em 1911 contavam dez mil. Em 1975 supunha-se que mais ou menos
cem mil revistas estavam circulando.5 Ao longo destes dois sculos que nos traz
aos dias de hoje, surgiram outras formas de documentar e difundir o pensamento
humano, como a fotografia, a fonografia e a cinematografia, [], a radiodifuso e a
televiso, 6 e finalmente a Internet.
Durante o processo de desenvolvimento tecnolgico e cientfico ocorrido
nestes ltimos sculos, ficou progressivamente mais difcil ter acesso s publicaes
referentes produo do conhecimento, cada vez mais numerosas, com isso, surgiu
a idia de explorao da informao conservada, 7 ou seja, a necessidade,
primeiramente, de sistematizar e organizar esses dados. Assim, a partir do final do
sculo XIX, o termo Documentao passa a ser usado como reflexo e como
tcnica, referindo-se ao processo de tratamento da informao conservada.
A documentao origina-se da necessidade de colocar em ordem os processos de adquirir, preservar, resumir e proporcionar, na medida do necessrio, livro, artigos e relatrios, dados e
2 MESQUITA, Esprito Santo. Objeto, conceito e meios de documentao. In: DASP. Diretrizes da documentao. [S.l.]: Servio de Documentao, 1964, p. 122 3 Ibidem, loc. cit. 4 MINELLI, op. cit., p. 142. 5 SMIT, Johanna. O que documentao? So Paulo: Brasiliense, 1986, p. 19 6 MINELLI, loc. cit. 7 CHAUMIER, Jacques. As tcnicas documentais. [S.l.]: Publicaes Europa Amrica, [s.d.], p. 7
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documentos de todas as espcies. o resultado da compreenso do abismo existente entre o preparo de um registro em qualquer esfera de atividade e a colocao desse registro nas mos daquele que pode us-lo como base para uma realizao nova.8
Fundamentados nestas necessidades, foram criados, primeiramente, os
catlogos por autor, por assunto, depois vieram os digest, as referncias, as
notas bibliogrficas categorizadas que selecionam, relacionam e sintetizam os
informes sobre todos os assuntos.9
As formas de tratamento da informao acima citadas funcionam de maneira
satisfatria apenas em documentos escritos, mas como foi dito anteriormente,
possu-se hoje, outros modos de fixar [] o conhecimento humano e difundi-lo,
como a fotografia, o rdio, a televiso, a Internet. Ao levar estes meios em
considerao, esses sistemas de processamento da informao no so adequados
para aqueles tipos de suportes, com isso,
se a documentao, como disse La Fontaine nasceu da necessidade de pr em ordem o processo de aquisio, preservao, eliminao e distribuio de escritos, desenvolveu-se posteriormente, [], a ponto de interessar-se no s pelo processo acima referido mas, tambm, pela produo, coleta e divulgao de todos os elementos informativos e instrutivos, escritos ou no, de natureza, forma e substncia diversas.10
A abrangncia do interesse pela Documentao significou que mais
importante que o documento em si, a informao que contm. Essa mudana
ocorreu aps a Segunda Guerra Mundial, perodo em que as polticas pblicas se
voltaram para a reconstruo de um continente destrudo e para tal, a produo de
conhecimento foi fomentada.11
De fato, o fabuloso esforo de pesquisa realizado nos pases avanados, a partir da metade da dcada de 40, determinou uma enorme demanda de informao, especialmente de artigos de peridicos, de patentes, de relatrios, de publicaes tcnicas diversas, [].12
8 BRADFORD, S. C. Documentao. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961. Cap. 1, p. 68 9 MESQUITA, op. cit., p. 101 10 Ibidem, p. 100 11 ROBREDO, Jaime. Biblioteconomia, Documentao e Cincia da Informao. In: Documentao de hoje e de amanh: uma abordagem informatizada da biblioteconomia e dos sistemas de informao. So Paulo: Global, 1994. p 3; SARACEVIC, Tefko. Cincia da informao: origem, evoluo e relaes. Perspectivas em Cincia da Informao. Traduo Ana Maria P. Cardoso, Belo Horizonte, v. 1, n. 1, 1996. p. 42 12 ROBREDO, op. cit., p. 4
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Na dcada de 60, o termo exploso informacional13 passou a ser corrente e
viu-se no mundo todo, cientistas, governos e empresas privadas, direcionarem
esforos ao controle da massa informativa, pois a informao passou a ter uma
funo social, passou a ser imprescindvel para o desenvolvimento da economia, de
polticas pblicas voltadas para questes estruturais como transporte, segurana,
sade, etc.14
Nos Estados Unidos, o Congresso e outras agncias governamentais aprovaram, durante os anos 50 e 60, inmeros programas estratgicos que financiaram os esforos em larga escala para controlar a exploso informacional, primeiro na cincia e tecnologia, e depois em todos os outros campos. Empresas privadas uniram-se a eles.15
Um exemplo destes esforos foi a elaborao do primeiro thesaurus, em 1959, nos
Estados Unidos, pela empresa Dupont, e o primeiro deles com larga utilizao ser o
do Departamento de Defesa dos EUA, a partir de 1960.16
Em meio a todas estas mudanas, da profuso de conhecimento produzido,
do dilogo entre os diferentes campos do conhecimento, com o desenvolvimento da
interdisciplinaridade, que segundo Lima, 17
[] delineia seu carter alcanando viso polimorfa, multifocal, inspira movimentos conectivos, prope superar as facetas parciais de anlise e de crtica, estimulando parcerias que se prestam construo espistemolgica da unidade do conhecimento.
Traou-se um novo campo de conhecimento, que tomou por base a Bibliografia e a
Documentao e sofisticou suas tcnicas para suprir a grande demanda por acesso
em tempo real de informaes, denominada Cincia da Informao.
Este domnio do conhecimento, conforme Saracevic, 18
[] um campo dedicado s questes cientficas e prtica profissional voltadas para os problemas da efetiva comunicao do conhecimento e de seus registros entre os seres humanos, no contexto social, institucional ou individual do uso e das necessidades
13 BUSH, Vannevar, 1945, apud SARACEVIC, op. cit., p.42 14 SARACEVIC, op. cit., p. 43 15 Ibidem, loc. cit. 16 SMIT, op. cit., p. 52 17 LIMA, Diana Farjalla Correia. Cincia da Informao, Museologia, Arte: trptico em moldura integrada. In: Cincia da Informao, Museologia e fertilizao interdisciplinar: informao em Arte, um novo campo do saber. 2003. Tese. Orientadora Lena Vnia Ribeiro Pinheiro.(Doutorado em Cincia da Informao) IBICT/ PPGCI-UFRJ/ECO, Rio de Janeiro, 2003. p. 16 18 SARACEVIC, op. cit., p. 47
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de informao. No tratamento destas questes so consideradas de particular interesse as vantagens das modernas tecnologias informacionais.
A Documentao passou, ento, a ser uma das disciplinas formadoras deste
campo. E hoje, tendo em vista o avano tecnolgico do meio virtual, ela no se
restringe apenas aos documentos fisicamente presentes, com suportes tangveis,
mas organiza as informaes relacionadas a um assunto, sem restries quanto ao
acervo, 19 e visa tornar os dados processados accessveis a todos os interessados
em utiliz-los, de maneira eficiente, ou seja, que toda a busca por informao
obtenha as respostas mais completas. Tornou-se uma disciplina cientfica, com
suas tcnicas e mtodos prprios. Apela para cincias como a lingstica, a
matemtica, a informtica.20
Na qualidade de disciplina especfica, a Documentao surgiu a partir do final
do sculo XIX, poca durante a qual os bibliotecrios europeus se tornavam
indiferentes aos elementos do processo de documentao dentro de sua profisso,
interessando-se cada vez mais pela democratizao da educao. Assim, cientistas
preocupados com a organizao da literatura cientfica, tomaram a si as tarefas de
organizao bibliogrfica, no ponto em que haviam sido abandonadas pelos
bibliotecrios, 21 utilizando-se, inicialmente, das mesmas tcnicas.
At ento, as bibliografias existentes eram elaboradas por autor; os cientistas
compreenderam que essa forma de organizao no supria as carncias no que se
referia ao acesso s publicaes, que era necessrio uma organizao por assunto
e que as publicaes nacionais deveriam ser tratadas em mbito internacional. 22
Segundo Coblans, 23 o primeiro estmulo veio dos Estados Unidos, o
cientista
Joseph Henry, diretor do Smithsonian Institution de Washington, sugeriu que a British Association for the Advancement of Science
19 SMIT, op. cit., p. 10 20 CHAUMIER, op. cit., p. 12 21 SERRA, Jess H., EGAN, Margareth E. Exame do estado atual da biblioteconomia e da documentao. In: BRADFORD, S. C. Documentao. Rio de Janeiro: Editora Fundo de Cultura, 1961, p. 28 22 COBLANS, Herbert. Introduo ao estudo de documentao. Rio de Janeiro: D.A.S.P. S.D., 1957, p. 20 23 Ibidem, p. 21
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[Associao Britnica para o Progresso da Cincia] publicasse um ndice de assunto de trabalhos cientficos universais.
A partir de 1858, a Royal Society of London 24 (Real Sociedade Inglesa)
assumiu a responsabilidade sobre este trabalho. Os catlogos publicados --
Catalogue of Scientific Papers --, e os especficos nas reas da matemtica e fsica
foram fruto do esforo de especialistas que no dominavam as tcnicas
bibliogrficas, com isso, em 1902, quando apareceu o ltimo volume do
Catalogue, inclua toda a literatura do sculo, mas somente em ordem alfabtica de
autor, 25 tentaram publicar ndices por assunto, mas devido falta de investimento
nesta rea, apenas os referentes matemtica e algumas reas da fsica o foram. 26
Todavia, a Documentao teve suas tcnicas desenvolvidas a partir dos
esforos de um advogado belga, Paul Otlet (1868-1944), 27 considerado o pai da
Documentao. Vale mencionar que anteriormente, em 1830 e em 1885 foram
publicados boletins de resumos, Chemisches Zentralblatt e Engineering Index,
respectivamente. Contudo, seu trabalho efetivou a separao entre a Documentao
e a Biblioteconomia, estabelecendo uma nova disciplina, a Organizao
Bibliogrfica.
24 A Academia Nacional de Cincia do Reino Unido possui um corpo independente e beneficente cuja legitimidade e competncia vem dos seus 1400 filiados e membros estrangeiros. Suas origens remontam ao colgio invisvel formado pelos filsofos naturais, que comearam a se encontrar em meados de 1640 para discutir as idias de Francis Bacon. A data de sua fundao oficial 28 de Novembro de 1660, quando 12 destes filsofos decidiram fundar um Colgio para a promoo do aprendizado fsico-matemtico experimental. Neste grupo, estavam inclusos Christopher Wren, Robert Boyle, John Wilkins, Sir Robert Moray, e William e Viscount Brouncker. No incio aparentemente sem denominao, o nome Real Sociedade publicado pela primeira vez em 1661. A Sociedade rapidamente comea a formar uma biblioteca e um depsito/ storage, ou museu de espcimes de interesse cientfico. Em 1662, a Sociedade recebe Autorizao Real para publicar. Em 1665, o primeiro nmero do Philosophical Transactions (Negociaes Filosficas) foi editado. A Sociedade deu continuidade publicao aps alguns anos e Philosophical Transactions hoje o mais antigo jornal cientfico ainda publicado. (texto adaptado). Royal Society. Disponvel em: http://www.royalsoc.ac.uk/. Acesso em: 12 abr. 2007 25 COBLANS, op. cit., p. 21 26 Ibidem, loc. cit. 27 A partir de 1895, Otlet se dedica criao do Mundaneum e elaborao de seu projeto. Durante a Primeira Grande Guerra, passa a trabalhar em um projeto da Sociedade das Naes, para pr fim aos conflitos. Em Outubro de 1914, publica o Tratado da paz geral, carta mundial que declara os direitos humanos e organiza a Confederao dos Estados. Em 1916 preside, em Lausanne, o Congresso das Nacionalidades. (texto adaptado). Mundaneum. Paul Otlet. Disponvel em: http://www.mundaneum.be/index.asp?ID=246. Acesso em: 12 abr. 2007
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atravs de sua atuao na rea de compilao de bibliografias de direito
que se une a Henri La Fontaine (1853-1943), 28 poltico interessado em sociologia e
professor de direito internacional na Universidade de Bruxelas, quem tambm
possua trabalho semelhante na rea de sociologia, e formaram, em 1893 o Office
International de Bibliographie, com a finalidade de organizar um catlogo universal
por assunto, sediado na casa de Otlet em Bruxelas. Ambos compreenderam que
bibliografias impressas, especialmente sob forma de bibliografias nacionais por
autor, no eram as mais adequadas para controlar a documentao. Viram a
necessidade de manejar o conhecimento como um todo atravs da cooperao
internacional.29
Patrocinados pelo governo belga, Otlet e La Fontaine deram incio ao trabalho
de organizar o Repertoire Universelle, que consistia em recortar o Catalogue of
Printed Books (Catlogo de Livros Impressos) do Museu Britnico e fixar os verbetes
em fichas, cada ficha representaria um documento publicado, com as informaes
resumidas moda dos bibliotecrios (autor, ttulo, editor, ano, etc.).30 Com o tempo
perceberam que era utpico querer abranger todos os campos do conhecimento
humano e passaram a restringir sua atuao aos campos da Cincia e Tecnologia,
reas com maior demanda pelo servio.31
Conforme Mesquita32, Otlet foi o primeiro bibligrafo a sentir a necessidade
da classificao na documentao, assim, procuraram um sistema de classificao
que se adaptasse a todos os ramos do conhecimento e pudesse ser usado e
28 Advogado por formao, La Fontaine lutou pela paz, pelo fim de conflitos atravs da diplomacia, internacionalismo, voto universal, pelo direito educao, direito das mulheres e direitos trabalhistas. Como membro do Partido Trabalhista belga foi eleito senador em 1895 e, entre 1919 e 1932, ocupou a vice-presidncia do Senado. Fundou a Sociedade Belga para Diplomacia e Paz em 1883 e entre 1907 e 1943 ocupou o cargo de presidente da Agncia da Paz Internacional. Foi um dos membros da delegao belga na Conferncia da Paz, em Paris em 1919 e, no ano seguinte, representou seu pas na primeira Assemblia Geral da Liga das Naes. Ele publicou numerosos artigos e obras a partir dos anos 1880, tanto sobre questes de direito como nas reas literria, poltica e esportiva, especificamente sobre esqui. Fervoroso admirador de Wagner, ele traduziu a caderneta das Valqurias. (texto adaptado). Mundaneum. Henri La Fontaine. Disponvel em: http://www.mundaneum.be/index.asp?ID=246. Belgium.be. Henri La Fontaine. Disponvel em: http://www.belgium.be/eportal/application?languageParameter=en&pageid=contentPage&docId=5869. Acesso em: 12 abr. 2007 29 COBLANS, op. cit., p. 21 30 SMIT, op. cit., p. 12 31 COBLANS, op. cit., p. 22-23, passim 32 MESQUITA, op. cit., p. 123
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compreendido em tda parte, 33 e a fim de adquirir a cooperao de bibligrafos do
mundo todo, prepararam a primeira Conferncia Internacional de Bibliografia que se
realizou em Bruxelas em 1895. Durante esta conferncia, os delegados resolveram
formar um Instituto Internacional de Bibliografia, sob a base de scios individuais. A
finalidade do Instituto seria organizar em fichas, com a cooperao internacional,
uma bibliografia classificada completa dos conhecimentos registrados e fornecer, a
pedido, bibliografias sobre qualquer assunto. Foi durante a conferncia que
apresentaram a adaptao do sistema de classificao desenvolvido por Melville
Dewey, e transformando-o num sistema de classificao detalhado, como era
necessrio documentao, 34 desenvolveram a Classificao Decimal Universal
(CDU). De acordo com Coblans, 35 at 1913, o Instituto reunia 13 milhes de fichas
classificadas em seu ndice Universal.
O Instituto Internacional de Bibliografia lanou o primeiro peridico voltado s
questes da Documentao, ento chamado Bulletim. Apesar das importantes
inovaes concernentes rea, o Instituto crescia lentamente, passava por grandes
dificuldades financeiras e sofria duras crticas. Sobre a ciso entre Biblioteconomia e
Documentao, isto no foi compreendido na poca porque documentao e
bibliografia eram sinnimos.36 Em 1913, pelos seus esforos voltados ao
estabelecimento da paz mundial, La Fontaine ganhou o prmio Nobel da Paz e o
doou ao Instituto, o que liquidou a dificuldade financeira pela qual passava a
instituio.37
Coblans38 relata que concomitante s inovaes de Otlet e La Fontaine, outra
iniciativa foi posta em prtica pela Real Sociedade Inglesa, que tambm estava
interessada no controle da literatura cientfica.39 Concordavam com os dois
bibligrafos acima citados no que tange elaborao de um catlogo por assunto e
na busca por apoio internacional e para tal, organizaram uma conferncia em
Londres no ano de 1896 e mais outras duas em 1898 e 1900 a fim de criar um
33 COBLANS, op. cit., p. 22 34 COBLANS, op. cit., p. 23 35 Ibidem, p. 24 36 Ibidem, p. 20 37 Ibidem, p. 23-24, passim 38 Ibidem, loc. cit. 39 Ibidem, p. 23
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projeto internacional voltado para o controle da literatura cientfica. [] fica,
finalmente, decidido que uma Conveno Internacional regular o projeto, sendo
ste administrado por um Conselho Internacional constitudo por um Bureau Central,
[estabelecido na Real Sociedade] e Bureaux (agncias) nacionais.40 Resolveram
estabelecer uma classificao diferente da adotada pelo Instituto Internacional de
Bibliografia e concluir o trabalho com catlogos impressos, o International Catalogue
of Scientific Papers, publicado anualmente no perodo de 1900 a 1914, o qual na sua
primeira publicao contou com vinte e dois (22) volumes divididos em dezessete
(17) ramos das cincias naturais da nova classificao. Com o tempo, esta
iniciativa se mostrou ineficiente, os escritrios nacionais eram muito lentos e no
mereciam inteira confiana. As despesas aumentavam, e, em 1914, a publicao j
estava atrasada mais de 2 anos e o Bureau quase falido.41
Entre 1914 e 1918 a Europa viveu e sofreu as conseqncias da Primeira
Guerra Mundial e assim tambm o foi para estas duas organizaes voltadas para o
controle bibliogrfico, o Instituto Internacional de Bibliografia e as Agncias da Real
Sociedade Inglesa. Conforme Mesquita,42 o projeto do International Catalogue of
Scientific Papers sofreu perdas irreparveis, a Agncia Central foi quase que
completamente destruda, perdendo-se arquivos, materiais diversos e at mesmo
dinheiro em espcie. Em 1922, o Conselho Internacional que regulamentava o
projeto, votou pela sua extino.
Nesta poca o Instituto tambm sofreu com a desarticulao de sua estrutura,
o pessoal dispersou-se, o edifcio foi destrudo e perdeu o auxlio financeiro do
govrno belga, 43 felizmente o ndice Universal no sofreu nenhum dano e foi
transferido para o Mundaneum.
importante destacar o que foi e o que o Palcio Mundial
Mundaneum.44 A origem do projeto Mundaneum remonta ao fim do sculo XIX.
Criado por iniciativa de Otlet e La Fontaine, visava reunir o conjunto dos
conhecimentos do mundo para classific-los segundo o sistema de Classificao
40 MESQUITA, op. cit., p.124 41 COBLANS, op. cit., p.24 42 MESQUITA, op. cit., p.124 43 COBLANS, op. cit., p. 25 44 Mundaneum. Project. (texto adaptado). Disponvel em: http://www.mundaneum.be. Acesso em: 12 abr. 2007
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda Decimal Universal (CDU), e unificar as grandes Instituies do trabalho intelectual:
bibliotecas, museus e universidades. Durante a primeira metade do sculo XX, foi o
bero das instituies internacionais humanistas dedicadas ao Saber e
Fraternidade universal. O Palcio Mundial Mundaneum hoje o centro de
arquivos da comunidade francesa, possui em sua estrutura um museu de gnero
particular, museu da humanidade tcnica e cientfica concebido sobre uma
perspectiva internacionalista, com carter didtico e social. Dentre as atividades que
realiza, est a recepo de escolas, a realizao de conferncias sobre temas
variveis, e tambm a organizao de uma universidade popular durante o vero.
Prosseguindo o relato, La Fontaine e Otlet reorganizaram o Instituto na base
de associao de organizaes cientficas internacionais e associaes nacionais de
documentalistas. A primeira destas sees nacionais foi o Nederlands Instituut voor
Documentatie en Registratuur, fundado em 1921 45 e desde ento, o Instituto
ganhou novo impulso.
A partir do fim da primeira guerra mundial d-se cada vez maior importncia utilizao dos recursos das bibliotecas. Passa-se resolutamente da simples conservao para a explorao dos documentos. A revista e o peridico assumem uma importncia maior e aumenta grandemente o nmero de ttulos publicados.46
Em 1931 o Instituto Internacional de Bibliografia passou a ser denominado
Instituto Internacional de Documentao, esta mudana de nome significativa e
traduz a nova importncia da documentao no mundo.47 Foi neste contexto que a
Documentao se organizou e se estabeleceu na categoria de rea especfica de
atuao. 48
O Instituto, pela sua nova estrutura organizacional, adquiriu o carter
federativo, portanto, em 1938 passou a chamar-se Federao Internacional de
Documentao (FID) e transferiu sua sede para Haia, esta Instituio teve papel
importante na difuso da CDU. Segundo Coblans,49 graas sua estrutura
federativa descentralizada, a FID estava numa posio mais firme para sobreviver
segunda Guerra Mundial.
45 COBLANS, op. cit., p. 25 46 CHAUMIER, op. cit., p. 8 47 Ibidem, loc. cit. 48 Ibidem, p. 8; SMIT, op. cit., p.12 49 COBLANS, loc. cit.
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda Durante o perodo entre-guerras, por iniciativa da Liga das Naes, criou-se o
Instituto Internacional de Cooperao Intelectual (IICI), com sede em Paris,
financiado principalmente pelo governo francs e cujo intuito era organizar
atividades culturais conjuntas. 50 Dentre as suas vrias atuaes, duas tinham
relao prxima com a Documentao:
a) Cooperao entre universidades e instituies culturais pela permuta, coordenando bibliotecas, museus e exposies de arte.
b) Difuso de trabalhos de imaginao atravs de tradues das obras-primas da literatura, do progresso da bibliografia e do emprstimo internacional entre bibliotecas.51
Esta Instituio contou com os mais renomados cientistas da poca,
entretanto sua atuao foi restrita pelo fato dos mesmos no possurem influncia
poltica em seus pases de origem e desta forma no puderam contribuir com a
colaborao internacional entre governos.52 Portanto,
na prtica, a cooperao intelectual foi uma cooperao entre intelectuais, []. E assim, a no ser pela definio dos problemas, no auxiliou a controlar a confuso crescente na organizao bibliogrfica internacional.53
Realizaram duas publicaes, a saber: Index Bibliographicus, 1925 (lista de
peridicos que contm abstracts) e Index Translationum, 1932-34, 10 ns.
(repertrio bibliogrfico das tradues segundo o pas de origem).54
Suas atividades neste ramo e suas finalidades foram transferidas para a
Organizao das Naes Unidas para Educao, Cincia e Cultura (United Nations
Educational, Scientific and Cultural Organization - UNESCO)55, a qual foi fundada
em 16 de novembro de 1945 com o propsito de propagar a paz. Hoje, a UNESCO
funciona como um laboratrio de idias e elabora diretrizes para moldar acordos
universais sobre questes ticas, tambm atua na disseminao e
compartilhamento de informao e conhecimento.56
50 COBLANS, op. cit.,p. 25 51 Ibidem, loc. cit. (grifo nosso) 52 Ibidem, p. 25-26, passim. 53 Ibidem, p. 26 54 MESQUITA, op. cit., p. 125 55 COBLANS, loc. cit. 56 [] functions as a laboratory of ideas and a standard-setter to forge universal agreements on emerging ethical issues. The Organization also serves as a clearinghouse for the dissemination and
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Especificamente em relao Documentao em Museus, a UNESCO
mantm junto ao Conselho Internacional de Museus (International Council of
Museums -ICOM) um centro de documentao, Centro de Informao Museolgica
(UNESCO-ICOM Museum Information Centre). O ICOM, por sua vez, possui um
comit internacional voltado para questes da Documentao Museolgica (Museum
Documentation), o Comit Internacional para Documentao (International
Committee for Documentation CIDOC).
Conforme Coblans, 57 a histria da documentao desde aqule perodo ,
na verdade, a histria da bibliografia por assunto aplicada principalmente ao controle
da literatura em peridicos cientficos e tcnicos.
Como foi visto, as tentativas de modelos alternativos ao proposto por Otlet e
La Fontaine no obtiveram xito, e a Federao Internacional para Documentao
FID continuou seus esforos para o controle da produo de conhecimento.
Existem diferentes Organismos de Documentao 58 os quais esto
divididos segundo o tipo de documento com que trabalham, sua finalidade e
organizao jurdica.
Os Servios de Documentao so setores subordinados a Instituies,
realizam um trabalho com perfil de busca especfico, dentro dos interesses e
necessidades das mesmas, pesquisam a documentao, elaboram-na e a
distribuem no interior dessa emprsa ou administrao. 59 Apesar de estarem
voltados ao uso exclusivo do grupo a que so subordinados, podem ser abertos ao
pblico.
Centros de Documentao tm carter autnomo, so centros especializados,
e renem todo material relativo ao assunto tratado. Nas palavras de Minelli, 60 []
reunindo os documentos originais de toda espcie, ou suas reprodues,
analisando-os, extraindo-lhes dados numricos, adaptando-os [],realizam tambm
produes prprias de documentos e a difuso da informao de acordo com perfis
sharing of information and knowledge []. UNESCO. Disponvel em: www. unesco.org. Acesso em: 27 mai. 2007 57 COBLANS, op. cit., p. 20 58 MINELLI, op. cit., p. 148 59 Ibidem, p. 150 60 Ibidem, p. 149
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de interesse. Um exemplo o Instituto Brasileiro de Informao em Cincia e
Tecnologia (IBICT), fundado em 1954 com sob a denominao Instituto Brasileiro de
Bibliografia e Documentao (IBBD) e renomeado em 1976. 61
J os rgos de Documentao, so autnomos e prestam servios aos
interessados em qualquer assunto. Utilizam as publicaes dos Centros de
Documentao e, caso necessrio, realizam a anlise de documentos no
encontrados. Esto voltados especificamente ao usurio e trabalham em funo de
seu interesse.
As Centrais Documentrias, so, essencialmente, depsitos de documentos
originais, 62 e diferenciam-se pelo tipo de documento que preservam. Alm da
conservao dos bens culturais, estes organismos processam a informao e a
difundem, atravs de catlogos, bibliografias, entre outros.
Minelli 63 separa os documentos em:
grficos: manuscritos, livros, peridicos, outros impressos (diplomas, balanos, etc), msica;
iconogrficos: desenhos, gravuras e estampas, cartazes, fotografias, cartas, Atlas; e
plsticos: medalhas, espcimes, modelos, maquetes, material didtico, registros de imagens, registros fnicos.
Exemplificando, algumas instituies responsveis por cada grupo:
grficos arquivos, bibliotecas, hemerotecas, museus - casa;
iconogrficos fonotecas, cinematecas; museus;
plsticos: museus, jardins botnicos.
Estas instituies podem ser autnomas ou estarem subordinadas a algum grupo e
os documentos, privados ou pblicos.
V-se que o Museu est em todas as categorias, pois os tipos de acervos
museolgicos so ricamente variados e a diferena entre as Instituies
61 IBICT. Histrico. Disponvel em: http://www.ibict.br/secao.php?cat=Histrico. Acesso em: 7 jul. 2007 62 MINELLI, op. cit., p. 148 63 Ibidem, p. 146
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mencionadas estabelecida, tambm, com base nas particularidades de aplicao
da metodologia da Documentao em cada um destes campos do conhecimento,
para o processamento da informao sobre o objeto. Adiante ser abordado o
processo de catalogao de colees museolgicas.
O processamento da informao consiste em um conjunto de operaes
efectuadas para a transformao, ou formao, a memorizao e a restituio,
segundo as necessidades das informaes contidas nos documentos recolhidos.64
Estas operaes recolha (de documentos), tratamento (anlise e procura) e
difuso (produtos documentais) 65 - fazem parte de uma Cadeia Documental, 66 na
qual, cada elemento depende do seu precedente.
A recolha, ou coleta 67 de documentos a funo elementar de qualquer
Centro de Documentao. Critrios devem ser seguidos para a seleo do que ser
adquirido, pois coletas e selees bem feitas levam a uma noo de qualidade e
confiabilidade das informaes repertoriadas pelo centro de documentao.68
O tratamento da informao, hoje chamado processamento devido
automao dos Sistemas Documentais, que est contida nos documentos engloba
duas atividades bem complexas, a anlise do contedo dos mesmos - a
representao da informao - e sua posterior recuperao, atravs a indexao.
A anlise consiste em uma operao, ou um conjunto de operaes, que se
destina a representar o contedo de um documento numa forma diferente da sua
forma original, a fim de facilitar a consulta. Uma das tcnicas de representao da
informao utilizadas o resumo, cujo intuito extrair os assuntos principais do item
a ser avaliado, podem ser resumos sinalticos com poucas linhas, resumos
analticos com dez (10) ou mais linhas e resumos crticos 69 podendo ter vrias
pginas.
Entretanto, o mtodo mais utilizado a indexao, que segundo a museloga
Auta Barreto a atribuio de um ou mais termos a um documento de forma a
64 CHAUMIER, op. cit., p. 14 65 Ibidem, p. 13 66 Relatrio de Weinberg apud CHAUMIER, op. cit., p. 13 67 MESQUITA, op. cit., p. 102; SMIT, op. cit., p. 13 68 SMIT, op. cit., p. 14 69 CHAUMIER, op. cit., p. 15
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda representar seu contedo atravs de palavras. 70 Os termos escolhidos,
indexadores, so a conexo entre o documento e o usurio do sistema, pois so os
instrumentos de busca pela informao, portanto, para que a pesquisa em uma base
de dados seja satisfatria, utiliza-se a linguagem de indexao 71 que alm do
aspecto de representao do contedo dos documentos, empregada para
normalizar a expresso desse contedo e organizar os termos do vocabulrio, 72
com isso, determina-se o vocabulrio utilizado, e facilita-se a pesquisa. Esta
linguagem tcnica, linguagem documentria, representada, por exemplo, pelas
listas de termos, como as Classificaes, de Dewey e a CDU as quais possuem
estrutura hierrquica, ou seja, uma subclasse que designa uma noo
inteiramente englobada na classe que a precede e engloba a noo representada
pelo grupo imediatamente abaixo.73 E pelo thesaurus, o qual se pode definir por,
um conjunto de conceitos ordenados, de modo claro e livre de ambigidade, a partir do estabelecimento de relaes entre os mesmos [] um vocabulrio controlado e dinmico de termos que tm entre si relaes semnticas e genricas, e que se aplica a uma rea particular do conhecimento. 74
Efetuada a anlise e a insero dos dados no sistema, seja o thesaurus ou
uma lista de termos, com base em um vocabulrio controlado, a informao pode ser
memorizada segundo uma organizao por documento ou por idia.
A organizao por documento consiste em estabelecer uma ficha para cada
documento na qual so registradas todas as suas caractersticas, ou termos de
indexao. Pode ocorrer tambm a utilizao de ficha-documento, na qual a
unidade de registro uma caracterstica do documento, neste caso, h tantas
fichas-documentos para esse documento quantas as caractersticas consideradas na
indexificao, 75 ou indexao. Quanto organizao por idia, h uma ficha para
70 BARRETO, Auta. Museu e informtica. In: Boletim Associao Basileira de Museologia ABM. Rio de Janeiro, n. 10/11, set/ dez. 1985, jan/ mar. 1986, p.10 71 GONALVES, Jerusa Borges. Recuperao e disseminao de informao. Rio de Janeiro: Fundao Getlio Vargas: Instituto de Documentao, 1973, p. 62 72 CHAUMIER, op. cit., p.51 (grifo nosso) 73 Ibidem, op. cit., p. 52 74 FERREZ, Helena Dodd, BIANCHINI, Maria Helena S. Introduo. In: Thesaurus para acervos museolgicos. Rio de Janeiro: Fundao Nacional Pr-Memria: Coordenadoria Geral de Acervos Museolgicos, 1987, 1 v., p. xv 75 CHAUMIER, op.cit., p.17 18, passim
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda cada termo de indexao em que constam todos os documentos nos quais esta
caracterstica aparece.
A procura documental ou recuperao da informao ocorre atravs das
relaes lgicas, ou operaes boleanas, reunio de classes, a interseco e a
excluso determinadas pelas operaes ou, e, exceto, outros operadores como
menor que, maior que, seguido por so usados em buscas refinadas. Na reunio
de classes, so utilizados os operadores ou e e, por exemplo, todos os documentos
caracterizados por A ou por B ou por A e B em conjunto. J a interseco de
classes presume a operao e, por exemplo, todos os documentos caracterizados
ao mesmo tempo por A e por B. Finalmente, a excluso de classes, vale-se do
operador exceto, por exemplo, todos os documentos caracterizados por A com
excluso dos caracterizados por B. 76 Na busca em um Sistema de Informao, a
linguagem aplicada na pergunta tem que estar em conformidade com a linguagem
do sistema, por isso a normalizao do vocabulrio, mas mesmo assim, todo
sistema documental se define pelas percentagens de rudo, silncio e pertinncia.
O rudo ocorre quando documentos que no respondem pergunta
formulada so selecionados, em conseqncia, essencialmente, de combinaes
acidentais de caractersticas ou de confuses de sentido quanto aos termos de
caracterizao. A situao oposta denominada silncio, que corresponde aos
documentos pertinentes questo formulada, mas no selecionados e acontece
devido ao emprego de caractersticas no concordantes quando da anlise do
documento e da formulao da questo. 77 A pertinncia refere-se aos documentos
que respondem pergunta formulada e que so selecionados pelo sistema. A
linguagem documentria visa diminuir a quantidade de silncio e rudo na
comunicao, atravs da normalizao da entrada de vocabulrio em um sistema e
do estabelecimento da correspondncia entre termos da linguagem comum, utilizada
pelo pesquisador, e a linguagem tcnica.
A ltima etapa da Cadeia Documental a difuso da informao colhida e
processada. Para Chaumier 78 apresenta dois aspectos principais, de acordo com os
76 CHAUMIER, op.cit., p. 18 - 19, passim 77 Ibidem, p.18 - 20, passim 78 Ibidem, p. 20
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda
objetivos de cada Sistema de Documentao, difuso geral e difuso selectiva. A
primeira tem como meta redistribuio global da informao ao conjunto das
pessoas interessadas no sistema, neste caso, a informao divulgada pode ter sido
tratada, o caso dos subprodutos como catlogos de bibliografia, ou no, como as
fotocpias de sumrios de revistas.79 E no segundo tipo, a difuso parcial e
personalizada de acordo com os perfis dos usurios ou grupo de usurios, seus
perfis so definidos segundo os domnios de interesse, hoje, com larga utilizao via
Internet.
Viu-se, ao longo desta explanao que, durante todo o desenvolvimento da
Documentao a disciplina se aproximou, e at hoje o faz, de diferentes campos do
conhecimento com o propsito de tirar o mximo proveito das novas tcnicas e
cincias (informtica, lingstica, inteligncia artificial, traduo e classificao
automticas) para [] [aproximar-se] [] de seu objetivo 80, ou seja, tratar a
informao para torn-la facilmente accessvel aos usurios.
79 CHAUMIER, op.cit., p. 21 80 SMIT, op. cit., p. 12
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda 3.2 Documentao Museolgica Museum Documentation
A Documentao, na qualidade de disciplina cientfica que dialoga com diversos campos do conhecimento, aplicada tambm ao campo da Museologia de
forma a realizar o processamento da informao sobre as colees, a isto denomina-
se Documentao Museolgica. O interesse em documentar, no campo da
Museologia, remonta ao incio do sculo passado, quando os profissionais de
Museus comearam a reconhecer a necessidade de acessar sistematicamente o
acervo, tendo assim que catalog-lo e fotograf-lo.
O Metropolitan Museum of Art, por exemplo, passou a registrar e catalogar
seu acervo em 1906. 81
Nesta perspectiva, o Cdigo de tica para Museus 82 do ICOM, documento
em resposta necessidade do campo por uma regulamentao de condutas,
estabelece,
Princpio: Os museus tm a responsabilidade de adquirir, preservar e promover suas colees, contribuindo para salvaguardar o patrimnio natural, cultural e cientfico. Seus acervos constituem um patrimnio pblico significativo, tm um estatuto legal especial e so protegidos por legislao internacional. Intrnseco a esta confiana pblica est o conceito de guarda, que abrange a propriedade legtima, a permanncia, a documentao, o acesso e a alienao responsvel. (grifo em negrito do original; sublinhado nosso).
Pode-se entender a Documentao Museolgica como o conjunto de
informaes sobre cada um dos seus itens e, por conseguinte, a representao
destes por meio da palavra e da imagem (fotografia). 83 Ao processar as
informaes sobre cada item da coleo, a Documentao Museolgica vale-se do
conjunto de conhecimentos especficos dos domnios da Museologia, da natureza/
81 HARTY, Marcia Cottis, VILCEK, Marica, RHYNE, Brice. Cataloguing in the Metropolitan Museum of Art, with a note on adaptations for small museums. In: DUDLY, Dorothy H., WILKINSON, Irma Bezold, et al. Museum Registration Methods. 3. ed. Washington D.C: American Association of Museums. 1979, p. 219 82 INTERNATIONAL COUNCIL OF MUSEUMS (ICOM). Cdigo de tica para Museus. Seul. 2004. No paginado. 83 FERREZ, Helena D. Documentao museolgica: teoria para uma boa prtica. In: Estudos Museolgicos. Rio de Janeiro: IPHAN, 1994. p. 65
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda rea da coleo do acervo em questo e da Informao, 84 e com base nesse
processo, que os objetos passam a ser fontes de conhecimento. Mais do que um
conjunto de informaes sobre cada item da coleo, um sistema composto de
partes inter-relacionadas que formam um todo coerente, unitrio [], que intermdia
fontes de informao e usurios e se estrutura em funo do objetivo de atender s
necessidades de sua clientela. 85 importante ressaltar que todos os objetos sob
responsabilidade do Museu devem ser registrados, seja os em situao de
emprstimo temporrio ou de longa durao, concesso e em situao de baixa.
2.18 Permanncia de acervo O museu deve estabelecer e aplicar normas para garantir que seu acervo (tanto permanente quanto temporrio) e as informaes associadas sejam devidamente registrados, estejam disponveis para uso corrente e possam ser repassados para as geraes futuras nas melhores condies possveis, considerando o conhecimento e os recursos contemporneos disponveis.86 (grifo em itlico do original)
O objetivo primrio do ato de registrar conhecer os objetos. atravs deste
processo que os profissionais de museus passam a conhec-los - seu formato, suas
particularidades, sua origem, tcnica de construo, a reconstituir e construir a
histria de vida de cada pea, e a identificar suas necessidades de conservao, em
suma, uma anlise que abrange a forma e o significado do objeto. A partir desta
base informacional, a catalogao do acervo pode ser aprofundada e passa tambm
a dar suporte a outras atividades da Instituio. As Diretrizes Internacionais para
Informao de Objetos Museolgicos 87 (International Guidelines for Museum Object
84 LIMA, Diana Farjalla Correia. Cincia da Informao e Museologia em tempo de conhecimento fronteirio: aplicao ou interdisciplinaridade? In: Cincia da Informao, Museologia e fertilizao interdisciplinar: informao em Arte, um novo campo do saber. 2003. Tese. Orientadora Lena Vnia Ribeiro Pinheiro. (Doutorado em Cincia da Informao) IBICT/ PPGCI-UFRJ/ECO, Rio de Janeiro, 2003. p.135 85 FERREZ, op. cit., p. 70. (grifo nosso) 86 INTERNATIONAL COUNCIL OF MUSEUMS (ICOM). Cdigo de tica para Museus. Seul. 2004. No paginado. 87 CIDOC International Committee for Documentation, International Council of Museums (ICOM). Objectives of museum documentation. In: International Guidelines for Museum Object Information: the CIDOC Information Categories. [S.l]: CIDOC, 1995. (traduo nossa)
ensure accountability for objects: they can be used to define the objects that are owned by a museum, identify the objects, and record their location;
aid the security of objects: they can be used to maintain information about the status of objects and provide descriptions and evidence of ownership in the event of theft;
provide an historic archive about objects: they can be used to maintain information about the production, collection, ownership, and use of objects and as a means of protecting the long term value of data;
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda
Information) do CIDOC/ ICOM, reconhece quatro principais indicadores para a
Documentao Museolgica,
Assegurar a gesto do acervo: podem ser usados para estabelecer a posse legal dos objetos pelo museu, a identificao dos mesmos, e registrar a sua localizao;
Auxiliar na segurana dos objetos: podem ser usados para conservar a informao sobre as condies dos objetos, prover descries e provar a posse legal no caso de roubo;
Fornecer um arquivo histrico dos objetos: podem ser usados para conservar as informaes sobre produo, coleo, propriedade legal e o uso dos objetos e com o intuito de proteger a longo prazo essas informaes de valor atemporal;
Ajudar no acesso intelectual e fsico aos objetos: podem ser usados para auxiliar no acesso aos prprios objetos, bem como s informaes sobre eles.
Desta forma, a Documentao Museolgica age como o pilar da estrutura do
Museu, fornece informaes para todos os setores da Instituio e reconhecida
como primordial para a segurana da coleo, no s no caso de roubo, para dar
suporte busca do objeto, como para provar sua posse legal pelo Museu, mas
tambm como preventiva, j que atravs da gesto do acervo, que se mantm o
controle sobre os objetos.88
Ainda em relao ao uso atribudo a esta prtica, o Spectrum, Normas para
Documentao Museolgica do Reino Unido (Spectrum, The UK Museum
Documentation Standard), elaborado pela Associao de Documentao
Museolgica MDA (Museum Documentation Association), fornece interessantes
exemplos de como os setores das Instituies podem utilizar as bases de dados
sobre acervos.
Citando alguns exemplos voltados parte administrativa:
-- o sistema pode auxiliar na elaborao de material de propaganda;
-- no delineamento do perfil da Instituio e na credibilidade perante rgos
governamentais e patrocinadores;
support physical and intellectual access to objects: they can be used to support access to
objects themselves and information about the objects. 88 THORNES, Robin; DORRELL, Peter; LIE, Henry. Introduction to Objetct ID: guidelines for making records that describe art, antiques, and antiquities. Los Angeles: Getty Information Institute, 1998. p. 1
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda -- assegurar que as informaes sobre a coleo permaneam na Instituio mesmo
que haja mudana no quadro de funcionrios;
E para as atividades votadas ao pblico:
-- auxiliar na pesquisa sobre o acervo, e na elaborao de material didtico. 89
Como se v, os objetos/ documentos so a razo de ser do Museu, nas
palavras de Paul Otlet, 90
para efetuar as operaes de documentao, para conservar o documento, foram criados organismos. H as Bibliotecas, os Arquivos, os Centros de Documentao, os Museus. So os grandes depsitos de tesouros intelectuais da Humanidade.
Assim, a atividade de documentar baseia-se primeiramente e prioritariamente no
objeto em si.
Em se tratando do patrimnio cultural, existem os bens tangveis nos quais
[] o concreto constitui o prprio suporte da informao, fornece a base para iniciar o processo da sua construo que considera na categoria de dado informacional: os artefatos produzidos pela humanidade e demais objetos elaborados pelos seres vivos []; os exemplares e os espcimes de diferentes ordens originrios da natureza, inclusive os seres vivos []. 91 (grifo do original)
e os intangveis, conceito que abrange as manifestaes culturais, como danas,
receitas, festas, costumes, etc., manifestaes de
[] carter imaterial [], portanto, necessitando que sejam representados por registros de imagens e/ou textuais e/ou sonoros a fim de poder estabelecer formas tangveis para o dado informacional a ser construdo e sobretudo, para permitir que seja avaliada na informao museolgica a relevncia da representao do conhecimento daquele tipo de costume tradicional, atendendo descrio detalhada dos valores de forma e contedo desses aspectos culturais nas suas varincias locais, ao modo da catalogao dos objetos concretos (tridimensionais).92
Pode-se concluir, ento, que tanto nas expresses culturais tangveis, ou
concretas, quanto nas intangveis ou imateriais a informao provm primeiramente
da anlise fsica do documento ou de contedo do suporte, ou seja, as informaes 89 MCKENNA, Gordon; PATSATZI, Efthymia (Ed.). SPECTRUM: The UK Museum Documentation Standard. Revised with the participation of the museum community. Cambridge: MDA, 2007. p. 21 90 OTLET, Paul. Os Organismos de Documentao. Biblioteca. Centro de Documentao. In: Documentos e Documentao. Introduo aos trabalhos do Congresso Mundial da Documentao Universal, realizado em Paris, em 1937. 91 LIMA, op. cit., p. 131 92 Ibidem, p. 132
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda intrnsecas que abrangem, no primeiro caso, a composio material, construo
tcnica e morfologia 93 e, no segundo caso, a anlise de contedo ser de acordo
com o assunto documentado. Esta anlise pode, e deve, ser complementada com
dados colhidos em outras fontes, chamadas informaes extrnsecas, 94 as quais
contextualizam os objetos e reconstituem sua histria e, por conseguinte, so a
razo de sua presena no museu.95 Estas duas atividades exigem conhecimento
sobre o item a ser analisado e estudo em fontes especializadas e confiveis.96
Assim, chega-se ao Sistema de Documentao Museolgica, um conjunto
composto de partes inter-relacionadas, desenvolvido para assegurar as
informaes e facilitar seu acesso. Em um Sistema de Documentao Museolgica o
nmero de campos de informao deve abranger todas as caractersticas do
documento (ttulo, fonte de aquisio, descrio, nmero de inventrio, etc.,), de
acordo com Ferrez, 97 o sistema no s deve poder abrigar um nmero ilimitado de
campos de informao, como estes precisam ser definidos de acordo com a
estrutura informativa dos objetos e com as necessidades de informao de seus
usurios [],neste caso, tanto os funcionrios da Instituio, como pesquisadores e
o pblico interessado.
2.20 Documentao das colees As colees dos museus devem ser documentadas de acordo com padres profissionais. Esta catalogao deve incluir [] identificao e descrio completa de cada item, seu contexto, procedncia, estado de conservao, tratamento e localizao atual. Estes registros devem ser mantidos em ambiente seguro e estar apoiados por sistemas de recuperao que permitam o acesso aos dados por funcionrios e usurios habilitados.98 (grifo em itlico do original; sublinhado nosso)
No campo da Museologia, o processo da Documentao, referente ao
conhecimento da Cincia da Informao, o mesmo em relao ao aplicado nas
reas da Biblioteconomia e Arquivologia; so os chamados sistemas de
93 MENSCH, 1987 apud FERREZ, 1994, p. 66 94 FERREZ, op. cit., p. 68 95 Ibidem, p.69 96 Ibidem, loc. cit. 97 Ibidem, p. 71 (grifo nosso) 98 INTERNATIONAL COUNCIL OF MUSEUMS (ICOM). Cdigo de tica para Museus. Seul. 2004. No paginado.
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda recuperao de informao que compreendem as fases de pesquisa, coleta,
classificao e catalogao, guarda e divulgao do documento. 99
Os objetivos, funo e componentes de um Sistema de Informao
Museolgico se apresentam da seguinte forma:
Objetivos: conservar os itens da coleo, maximizar o acesso aos itens, maximizar o uso da informao contida nos itens;
Funo: estabelecer contato efetivo entre as fontes de informao (itens) e os usurios, isto , fazer com que estes, atravs da informao relevante, transformem suas estruturas cognitivas ou os conjuntos de conhecimento acumulado;
Componentes: Entradas: seleo, aquisio;
Organizao e controle: registro, nmero de identificao/ marcao, armazenagem/ localizao, classificao/ catalogao, indexao;
Sadas: recuperao, disseminao. 100 (grifo em
itlico do original; sublinhado nosso)
Um bom Sistema de Documentao Museolgica deve possibilitar a entrada
de informaes que precedem a aquisio do objeto, por exemplo, a respeito de ex-
proprietrios, utilidade atribuda ao objeto, origem, etc., 101 e tambm atravs de
pesquisas em fontes bibliogrficas e documentais diversas. So estas informaes
que possibilitam aos objetos serem explorados pelas diversas atividades da
Instituio.
Recomenda-se que os museus estabeleam regras para o processo de
classificao dos objetos, esta prtica possibilita Instituio armazenamento de
informao o catlogo une e guarda de forma segura a informao sobre cada
item da coleo; [ter e dar] acesso informao o catlogo estrutura esta
informao de forma que a possibilite de ser pesquisada fcil e confivelmente. 102
99 MINELLI, Maria Carolina Motta. Os instrumentos e as tcnicas de documentao. In: DASP. Diretrizes da documentao. [S.l.]: Servio de Documentao, 1964, p. 150 100 FERREZ, op. cit., p. 68 101 Ibidem., p. 70 102 Storage of information the catalogue brings together and keeps securely information about each item in the collection; Accessibility of information the catalogue structures this information so that it can be searched easily and reliably. MCKENNA; PATSATZI (Ed.). op. cit., p. 100. (grifo nosso)
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Orientadora: Profa. Dra. Diana Farjalla Correia Lima -Aluna:Talita de Castro Miranda
Algumas Consideraes
Antes iniciar a descrio de um Sistema de Documentao Museolgica,
deve-se discutir alguns pontos para melhor entendimento das questes a serem
tratadas pelo presente trabalho.
No texto, Documentao Museolgica: teoria para uma boa prtica, Ferrez
aborda o Sistema de Documentao Museolgica em um sentido que engloba todos
os procedimentos pelos quais os objetos passam ao serem adquiridos/ admitidos
pelo Museu, representados, pelas etapas aquisio, registro, marcao e
armazenagem (citao referida anteriormente p. 23). Pode-se traar, assim, um
paralelo com o manual CIDOC Fact Sheet 1, que descreve em oito (8) passos os
procedimentos a serem realizados desde a entrada do objeto na Instituio e Ferrez
aborda desde a aquisio dos objetos/ documentos. Os passos de 1 a 4 podem ser
equiparados aos componentes entrada e organizao e controle, denominados
por Ferrez, como ser visto mais adiante, na seo 4.2.2.
Isto posto, o Sistema de Documentao Museolgica ser aqui descrito de
acordo com o que est sendo expresso e ser feita analogia aos termos
empregados anteriormente (3.1) para descrever um Sistema de Documentao.
Seguindo a ordenao descrita por Ferrez, o registro da pea seria o primeiro
procedimento. Em seu texto, embora no haja definio deste termo, fica evidente
pelo recorte citado que registro e catalogao no so equivalentes.
Far-se- analogia a outros documentos que estabelecem diferenas entre
inventrio e catalogao, como as Diretrizes Internacionais para Informao de
Objetos Museolgicos: as categorias de informao do CIDOC (International
Guidelines for Museum Object Information: the CIDOC Information Categories), j mencionado, e o Manual para Padronizao: documentando as colees africanas
(Handbook of Standards: documenting African Collections), do Conselho
Internacional de Museus Africanos (International Council of African Museums)
AFRICOM.
Cada um destes Manuais define o termo inventrio da seguinte forma:
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-- CIDOC - Diretrizes Internacionais para Informao de Objetos Museolgicos: as
categorias de informao do CIDOC 103 (International Guidelines for Museum Object
Information: the CIDOC Information Categories): um inventrio consiste nas informaes bsicas sobre cada objeto da coleo, referentes ao gerenciamento de
colees, incluindo detalhes que so essenciais para provar a propriedade sobre o
objeto e manter sua segurana;
-- AFRICOM - Manual para Padronizao: documentando as colees africanas 104
(Handbook of Standards: documenting African Collections): [] informaes
inventariadas, as quais o museu deve ter sua disposio para cada objeto para
que o museu possa justificar a condio dos objetos e garantir sua conservao e
segurana [].
Ou seja, as informaes bsicas (conceito aplicado no sentido de
fundamental) necessrias para manter o controle sobre os objetos.
Em relao catalogao, as definies so as seguintes:
-- CIDOC - Diretrizes Internacionais para Informao de Objetos Museolgicos: as
categorias de informao do CIDOC 105 (International Guidelines for Museum Object
Information: the CIDOC Information Categories): [] um registro completo com detalhes adicionais sobre a significncia histrica dos objetos.
-- AFRICOM - Manual para Padronizao: documentando as colees africanas 106
(Handbook of Standards: documenting African Collections): [] informaes
catalogadas, as quais documentam o objeto de forma a possibilitar seu
103 [] an inventory consists of the basic collections management information about each object in a collection, including the details that are essential for accountability and security;. CIDOC International Committee for Documentation, International Council of Museums (ICOM). Objectives of museum documentation. In: International Guidelines for Museum Object Information: the CIDOC Information Categories. [S.l.]: CIDOC, 1995. No paginado. 1