Upload
others
View
0
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
SSSeeeggguuurrraaannnçççaaa eee SSSaaaúúúdddeee dddooo TTTrrraaabbbaaalllhhhooo
eee aaa PPPrrreeevvveeennnçççãããooo dddooo CCCooonnnsssuuummmooo dddeee
SSSuuubbbssstttââânnnccciiiaaasss PPPsssiiicccoooaaaccctttiiivvvaaasss:::
LLLiiinnnhhhaaasss OOOrrriiieeennntttaaadddooorrraaasss pppaaarrraaa
IIInnnttteeerrrvvveeennnçççãããooo eeemmm MMMeeeiiiooo LLLaaabbbooorrraaalll
DDDOOOCCCUUUMMMEEENNNTTTOOO DDDEEE TTTRRRAAABBBAAALLLHHHOOO
8ª VERSÃO
13 de Janeiro 2010
INDICE
Preâmbulo ....................................................................................................................... 4
Parte I Intervenção em Meio Laboral ............................................................................. 7
I.1 Substâncias Psicoactivas ............................................................................................ 9
I.2 Padrões de Consumo de substâncias ......................................................................... 9
I.3 O Consumo de Substâncias Psicoactivas no Local de Trabalho ............................... 10
I.4 Conceitos no Âmbito da Intervenção em Meio Laboral .......................................... 13
I.4.1 Programa de Assistência aos Trabalhadores (PAT) .............................................. 14
I.4.2 Regulamento ......................................................................................................... 14
I.4.3 Detecção ............................................................................................................... 15
I.5 Paradigma de Intervenção em Meio Laboral ........................................................... 17
I.6 Enquadramento Legal e Normativo Referente a Substâncias Psicoactivas em Meio
Laboral .......................................................................................................................... 17
I.7 Objectivos da Intervenção em Meio Laboral ........................................................... 19
I.8 Princípios orientadores da Intervenção em Meio Laboral ...................................... 21
Parte II Contributo para a Política de segurança e saúde das Organizações ............... 23
II.1Criação de uma Política de segurança e saúde no âmbito do Consumo de
Substâncias Psicoactivas ............................................................................................... 23
II.1.1 Sensibilização, Informação, Educação e Formação ............................................. 26
II.1.2 Acesso a Serviços de Aconselhamento, Tratamento e de Reabilitação .............. 27
II.2 Programa de Assistência aos Trabalhadores no âmbito do Consumo de
Substâncias Psicoactivas ............................................................................................... 29
II.2.1 Concepção ............................................................................................................ 30
II.2.2 Implementação e Gestão ..................................................................................... 30
II.3 Redução dos Factores de Risco e Potenciação dos Factores de Protecção ........... 30
II.4 Definição e aplicação da política de saúde da organização .................................... 32
II.5 Avaliação da Política de Segurança e Saúde no Âmbito do Consumo de Substâncias
Psicoactivas ................................................................................................................... 33
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 3
II.6 Operacionalização da Detecção .............................................................................. 33
II.4.2 Pontos para Incluir na Minuta‐Tipo para a Elaboração de um Regulamento ..... 34
Parte III Intervenção em Micro, Pequenas e Médias Empresas ................................... 38
Considerações Finais ..................................................................................................... 39
Bibliografia .................................................................................................................... 41
ANEXOS ......................................................................................................................... 45
ANEXO 1 ........................................................................................................................ 46
ANEXO 2 ........................................................................................................................ 47
ANEXO 3 ........................................................................................................................ 48
Glossário ....................................................................................................................... 49
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 4
PREÂMBULO
O estímulo da motivação pessoal para a segurança e saúde do trabalho reforçada por
estratégias colectivas é um imperativo de natureza ética, revelador da concepção
humanista em que assenta uma sociedade e que o IDT, I.P e a ACT preconizam como
base de toda a sua actuação. Neste sentido, as linhas orientadoras para a intervenção
em ambiente de trabalho baseiam‐se nos seguintes referenciais:
• Conselho Económico e Social da Organização das Nações Unidas;
• Conselho Económico e Social do Tratado de Lisboa,
• Plano Nacional de Combate à Droga e às Toxicodependências 2005‐2012;
• Plano Acção para a Redução dos Problemas Ligados ao Álcool 2009‐2012;
• Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde do Trabalho 2008‐2012;
• Plano Operacional para a Segurança e Saúde do Trabalho.
Destes documentos, destacam‐se os seguintes princípios:
• a centralidade no indivíduo que trabalha;
• o diálogo e a concertação social
• a parceria activa com a sociedade civil e a responsabilidade partilhada;
• a proactividade organizacional e políticas de proximidade;
• a prevenção em ambiente de trabalho, baseada na evidência;
• o reconhecimento da importância da reabilitação;
• a elaboração de planos de intervenção em meio laboral, numa lógica de respostas
integradas;
• a construção de conhecimento do indivíduo sobre a própria segurança e saúde;
• a promoção de mudanças de comportamentos de risco;
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 5
• incidir na redução da procura de substâncias psicoactivas e não só na redução da
oferta;
• a elaboração de programas de prevenção em ambiente de trabalho para reduzir o
consumo nocivo de álcool e outras substâncias psicoactivas;
• a elaboração de guias dirigidos em especial às micro, pequenas, médias e micro
empresas que permitam a divulgação, em linguagem simples, de informações e
orientações de fácil compreensão e execução de normas legais;
• o investimento na prevenção da doença e promoção da saúde como forma de
diminuir a probabilidade de riscos tardios, como sejam as declarações de
incapacidade temporária ou os subsídios de doença.
As representações que o indivíduo tem sobre o seu estado de saúde são parte
integrante do processo de saúde da pessoa (Reis, 1999). Este processo de interpretar
ou de dar um significado à saúde é um processo autónomo, ainda que se enquadre no
âmbito de uma interacção social ou de uma cultura organizacional, como é o caso do
local de trabalho.
Na promoção da segurança e saúde do trabalho o indivíduo tem um papel activo e é
responsável por gerir a sua acção, nomeadamente no que diz respeito ao consumo de
substâncias psicoactivas. Neste sentido, a ênfase coloca‐se ao nível dos consumos
(que são da responsabilidade do próprio) e não na substância propriamente dita, seja
esta o álcool ou qualquer outra substância psicoactiva.
Os indivíduos passam cerca de um terço da vida adulta no local de trabalho. O facto
de permanecer no local de trabalho sob a influência de substâncias psicoactivas
depende da conjugação de múltiplos factores, alguns dos quais ligados a
características individuais e hábitos de vida e outros de natureza profissional,
relacionados por exemplo com a tipologia do trabalho, ritmos e cadências, trabalho
por turnos, stress, entre outros. Cerca de 70% das pessoas com problemas ligados ao
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 6
consumo de álcool e 62% das pessoas com problemas associados ao consumo de
outras substâncias psicoactivas encontram‐se enquadradas profissionalmente
(Silva, 2001). Os padrões de consumo nocivo, particularmente no que respeita a
bebidas alcoólicas, são uma das principais causas de morte prematura e doenças
evitáveis, tendo, para além disso, efeitos prejudiciais sobre a capacidade de trabalho.
O absentismo associado ao consumo de substâncias psicoactivas afecta o
desempenho profissional e, por conseguinte, a competitividade e produtividade, e a
própria riqueza do país.
A promoção da segurança e saúde do trabalho é uma abordagem recente, que
introduz uma perspectiva inovadora e integrada do conceito de saúde. Já em 1981 a
Convenção nº 155 da OIT, considerava que os serviços de medicina no trabalho não
se deviam restringir ao domínio da vigilância e exames médicos de avaliação da
saúde, devendo estender‐se ao controlo dos elementos físicos e mentais que a
possam afectar. Neste quadro conceptual, a responsabilidade das organizações para
garantir a segurança e saúde dos seus trabalhadores não se pode limitar aos
tradicionais exames de vigilância da saúde.
No quadro da definição de políticas gerais de promoção da saúde, é importante o
enfoque nos estilos de vida saudáveis e na responsabilidade individual na
manutenção da saúde. Problemas como oconsumo de álcool e drogas, consumo de
tabaco, alimentação desequilibrada, os acidentes de automóvel, doenças
sexualmente transmissíveis, devem ser abordadas e discutidas com o mesmo à‐
vontade com que se abordam questões directamente ligadas à saúde do trabalho.
A Organização Mundial de Saúde em 1984 definiu a promoção da saúde,
fundamentada no modelo ecológico de saúde, não só como a mera ausência de
doença, mas sim como um estado de bem‐estar físico, psicológico e social. Trata‐se
de uma definição mais abrangente, que abarca todas as dimensões do indivíduo e
exige uma intervenção alargada e sistémica. Este conceito de promoção da saúde foi
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 7
adaptado pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Trabalho
(European Foundation for the Improvement of Living and Working Conditions, 1997)
para utilização no local de trabalho, partindo dos seguintes princípios: a) pode ser
aplicada a todos os grupos de trabalhadores; b) coloca o enfoque nas causas
subjacentes de falta de saúde; c) combina diversos métodos de abordagem; d) tem
como objectivo a participação estratégica do indivíduo; e) não é primariamente uma
actividade médica, e deverá fazer parte da organização do trabalho e das condições
de trabalho;
Esta abordagem exige a implementação de um conjunto diversificado de acções,
susceptíveis de afectar positivamente a segurança e saúde e o bem‐estar dos
trabalhadores, os seus conhecimentos, atitudes e comportamentos, bem como as
suas condições de vida e de trabalho. Implica também que as questões da segurança
e saúde não sejam tratadas separadamente. Devem ser entendidas como um todo,
interdependentes e complementares, devendo resultar em políticas operacionais
concertadas e integradas.
PARTE I INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
Na linha da abordagem do Grupo Pompidou, em que a actuação em meio laboral no
que concerne a substâncias psicoactivas se refere indistintamente ao álcool e a
substâncias ilícitas procurou‐se enfatizar uma visão globalizante, não discriminando
procedimentos em função das substâncias. De facto definem‐se linhas de orientação
suficientemente flexíveis e adaptáveis às diferentes realidades organizacionais e às
diferentes problemáticas individuais.
Na mesma perspectiva, entre as competências do Instituto da Droga e da
Toxicodependência, assumidas com a publicação da Lei Orgânica do Instituto
(Decreto‐Lei n.º 221/2007, de 29 de Maio), consagra‐se como missão “promover a
redução do consumo de drogas lícitas e ilícitas, bem como a diminuição das
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 8
toxicodependências” ; de entre as competências destaca‐se “a) Apoiar o membro do
Governo responsável pela área da saúde na definição da estratégia nacional e das
politicas de luta contra a droga, o álcool e as toxicodependências e na sua avaliação;”.
Também a Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde do Trabalho, aprovada pela
Resolução do Conselho de Ministros n.º 59/2008 de 12 de Março prevê na sua
medida 1.7 “desenvolver em articulação com o Plano Nacional contra a Droga e as
Toxicodependências, programas de prevenção em meio laboral para combater o
alcoolismo e outras toxicodependências”.
Paulo Vitória (1994) refere que, já em 1988 a Organização das Nações Unidas
considerava o meio laboral, a par das escolas, das pequenas associações e grupos
comunitários, um meio privilegiado para o desenvolvimento de acções com o
objectivo de prevenir e reduzir o consumo de substâncias psicoactivas. Neste
documento é recomendado o envolvimento das organizações, sindicatos e
associações sócio‐profissionais na abordagem destes problemas.
Qualquer melhoria e mudança operada no comportamento dos trabalhadores será
transportada para fora da organização, conduzindo a transformações significativas na
vida familiar, com reflexos importantes na sociedade. A responsabilidade das
organizações não deverá terminar na produção de bens e serviços, deve igualmente
promover o desenvolvimento e formação pessoal dos trabalhadores, no sentido de
contribuir para a construção de sociedades mais equilibradas, instruídas e coesas.
A prevenção e a dissuasão dos problemas associados ao consumo de substância
psicoactivas em ambiente de trabalho deve ser uma intervenção global, que deve
envolver a participação de todos os actores da organização: órgãos decisores,
departamentos com implicações nesta matéria nomeadamente a Medicina do
Trabalho, a Segurança do Trabalho, os Recursos Humanos, a Acção Social, as chefias
intermédias e directas, os representantes para a segurança e saúde do trabalho,
representantes dos trabalhadores e os próprios trabalhadores.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 9
A intervenção em micro, pequenas e médias empresas, que representam uma larga
parcela do mundo laboral português, será abordada num capítulo específico desde
documento dada a sua organização (Parte III).
Cabe aqui reiterar a importância de incrementar políticas gerais de prevenção das
dependências que contemplem iniciativas ao nível preventivo e no tratamento das
situações detectadas, tendo em vista a manutenção do trabalhador na organização.
Conforme refere a Declaração de Lisboa, as dependências, mesmo a de evolução mais
prolongada, devem ser encaradas como uma situação transitória.
I.1 SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS
Substâncias psicoactivas são aquelas que, quando ingeridas, bebidas, injectadas,
fumadas, inaladas, afectam o sistema nervoso central. Segundo a Organização
Mundial de Saúde, podem classificar‐se como:
Depressoras: diminuem e inibem a actividade do sistema nervoso central, a
actividade motora, a reacção à dor e a ansiedade, sendo frequente um efeito
euforizante inicial (diminuição das inibições) e posteriormente um aumento da
sonolência, no caso do álcool. Os principais depressores do sistema nervoso central
são: álcool, opiáceos e fármacos sedativo‐hipnóticos.
Estimulantes: aumentam o estado de alerta e a aceleração dos processos psíquicos, a
actividade do sistema nervoso central e, como consequência, a taxa metabólica do
organismo. São exemplos: anfetaminas, cocaína, nicotina e cafeína.
Perturbadoras: São substâncias que levam ao aparecimento de diversos fenómenos
psíquicos anormais como alucinações e delírios, sem que haja inibição ou
estimulação global do sistema nervoso central. Modificam o curso do pensamento e
as percepções sensoriais e podem provocar hiperestesias e ilusões de movimento.
Estas drogas, também chamadas psicadélicas, alteram a nossa percepção do mundo.
O LSD e os canabinóides são exemplos desta categoria.
I.2 PADRÕES DE CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 10
Nos vários documentos produzidos por diferentes instâncias e organizações nacionais
e internacionais constam uma série de evidências científicas, conceitos, orientações e
recomendações, que dão fundamento aos pressupostos essenciais a respeito do
consumo de substâncias. Neste sentido, podem‐se diferenciar três padrões de
consumo problemático distintos:
O consumo de risco, que corresponde a um tipo ou padrão de consumo, mesmo que
ocasional, que provoca dano se o consumo persistir e que aumenta o risco de sofrer
doenças, acidentes, lesões, transtornos mentais ou de comportamento.
O consumo nocivo que é definido como um “padrão de consumo que provoca danos
à saúde tanto física como mental” mas que não preenche os critérios de dependência.
A dependência, que se reporta a um conjunto de fenómenos fisiológicos, cognitivos e
comportamentais que podem desenvolver‐se após repetido uso da substância. Inclui
um desejo intenso do consumo, descontrolo sobre o seu uso, continuação dos
consumos independentemente das consequências, uma alta prioridade dada aos
consumos em detrimento de outras actividades e obrigações, aumento da tolerância
e sintomas de privação quando o consumo é descontinuado (World Health
Organization, 1992). Trata‐se de uma doença primária, crónica, cujo desenvolvimento
e manifestações são influenciados por factores genéticos, psicológicos, sociais e
ambientais; a doença é frequentemente progressiva e potencialmente fatal;
caracteriza‐se por uma perda de controlo do consumo, permanente ou temporária,
apesar das consequências negativas e acompanha‐se de distorções cognitivas, com
particular ênfase para a negação.
A Classificação Internacional de Doenças, publicada no DR II Série de 22/07/1997
pp8703‐8704 reporta‐se igualmente às perturbações mentais e de comportamento
associadas ao uso de substâncias psicoactivas.
I.3 O CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS NO LOCAL DE TRABALHO Os factores inerentes a algumas condições de trabalho (trabalhos perigosos, horários
prolongados, trabalho por turnos, ritmos excessivos, distress, frustração, falta de
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 11
estímulo, baixos salários, insegurança no emprego...) são susceptíveis de afectar
negativamente a saúde dos trabalhadores, comportando múltiplos factores de risco,
quer físicos, quer psicossociais, interagindo e potenciando os problemas laborais
ligados ao consumo de álcool e outras drogas.
De uma forma geral, sempre que existem consumos de substâncias psicoactivas,
existem consequências biológicas, sociais e comportamentais (Carrilho, 2002) que
podem:
• Interferir com o exercício da actividade profissional;
• Colocar em risco a integridade física dos trabalhadores e do equipamento;
• Prejudicar a segurança e a saúde do trabalho e a aptidão para o
desempenho;
• Gerar um fardo administrativo e ocasionar problemas financeiros;
• Criar uma imagem negativa, desacreditar e desprestigiar a organização.
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) ( 2003):
• Os trabalhadores que consomem substâncias ilícitas têm maior probabilidade
de ocorrência de acidente de trabalho do que a população geral;
• Até 40% dos acidentes de trabalho envolvem ou estão relacionados com o
consumo do álcool;
• Os trabalhadores que consomem substâncias psicoactivas tendem a ausentar‐
se mais frequentemente do trabalho;
• Cometem mais erros e faltam mais no primeiro dia útil da semana;
• Tendem a chegar ao trabalho mais tarde e a sair mais cedo do a população
trabalhadora geral;
• Apresentam mais comportamentos de risco para a segurança (intoxicação
aguda, negligência e diminuição da capacidade de julgamento) do que a
população geral;
• Envolvem‐se mais frequentemente em conflitos, comportamentos violentos e
furtos e são mais repetidamente alvo de queixas do que a população geral.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________ 12
No esquema seguinte (Cook, 1996) figuram as principais dimensões envolvidas no
processo:
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
13
I.4 CONCEITOS NO ÂMBITO DA INTERVENÇÃO EM
MEIO LABORAL
Toda a actividade profissional está condicionada pelo estado de segurança
e saúde dos seus actores. Parece fundamental existir um equilíbrio a nível
físico, psíquico e social, para que o trabalhador esteja em condições de
desempenhar com qualidade a sua função e as suas tarefas. Cerca de 50%
dos acidentes de trabalho ocorrem com trabalhadores deprimidos,
perturbados emocionalmente, preocupados ou receosos (Rolo, 1999).
Actualmente, parece claro que as políticas de promoção da segurança e
saúde no trabalho devem contemplar a questão das dependências, no que
respeita à prevenção e ao acompanhamento de situações concretas de
consumo continuado de substâncias psicoactivas, detectado no seio da
empresa ou organização. O problema doconsumo de substâncias
psicoactivas existe nas empresas ou organizações, tal como na sociedade
exterior.
As medidas implementadas nas empresas e organizações no âmbito das
dependências traduzem‐se a breve prazo em benefícios relevantes para os
trabalhadores e para as próprias organizações, embora dificilmente
quantificáveis. Politicas de recursos humanos voltadas para a promoção da
segurança, saúde e bem‐estar dos trabalhadores, que integrem Programas
de Assistência aos Trabalhadores, Campanhas Informativas, e outras
intervenções neste domínio reflectem culturas organizacionais que
incorporam conceitos e princípios de cidadania empresarial, incentivando
os empresários a boa práticas, à produção de códigos de conduta, de ética
ou deontológicos o que valoriza a imagem da empresa ou organização e
dos seus produtos finais.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
14
I.4.1 PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA AOS
TRABALHADORES (PAT)
Os PAT (Programas de Assistência a Trabalhadores) são uma forma de
enquadramento, criada (opcionalmente) por algumas organizações, para
abordar a dimensão psicossocial da saúde dos trabalhadores. Consistem
num conjunto de linhas de intervenção que prevêem o apoio a
trabalhadores e, frequentemente, às suas famílias, com problemas que
afectam ou podem vir a afectar o seu desempenho profissional. Um PAT
pode dar assistência a trabalhadores com problemas relacionados com o
consumo de substâncias psicoactivas, mas é frequente dar resposta a
outras questões que podem afectar a vida pessoal nas suas várias
dimensões. Porventura o PAT poderá utilizar os recursos da comunidade
para a abordagem dos problemas relacionados com o consumo de
substâncias psicoactivas. Embora centrados no local de trabalho, a tónica
dos PAT é colocada ao nível individual. O objectivo último desta
abordagem é a melhor adaptação social do indivíduo, designadamente nas
suas relações pessoais, saúde física, estabilidade emocional e familiar e na
própria adaptação profissional. Pretende‐se, desta forma, uma maior
eficácia profissional com melhorias significativas ao nível do desempenho
e do rendimento.
I.4.2 POLÍTICA DE SAÚDE E SEGURANÇA DA ORGANIZAÇÃO
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
15
Pretende dar a conhecer a política de segurança e saúde da organização:
quais os objectivos, as respostas disponibilizadas no decurso de acção e
quais os procedimentos a adoptar, caso esta política venha a ser
infringida. Através deste documento todos os trabalhadores deverão ficar
a saber que a organização está empenhada em criar um ambiente de
trabalho promotor da segurança e da saúde. As políticas e as respectivas
medidas devem ser aplicadas a todos os elementos do sistema
organizacional. No regulamento, os problemas relacionados com o
consumo de substâncias psicoactivas devem ser considerados como
problemas de saúde, e consequentemente ser tratados tal como os outros
problemas de saúde no contexto laboral.
I.4.3 DETECÇÃO A detecção pode ou não fazer parte dos procedimentos da política de
segurança e saúde da organização. A ser considerada a possibilidade de
criar um programa que inclua a aplicação de testes de detecção de
substâncias, deve ser elaborado um documento escrito formal explanando
a política subjacente, nomeadamente através da indicação do objectivo,
do regulamento, direitos e responsabilidades de todas as partes
envolvidas.
Na elaboração desse documento devem ficar bem explícitas as questões
sobre a Protecção de Dados Pessoais e da aplicação de testes e exames
médicos, de acordo com os Artigos 17º e 19º do Código do Trabalho.
Salvaguarda‐se, que não se deve generalizar, para todas as profissões ou
tarefas, o limite máximo que foi estabelecido para o Código da Estrada. O
controlo de alcoolémia geralmente é feito através da análise do ar
expirado (TAE), utilizando‐se um alcoolímetro que se baseia na relação
teórica que é definida na Lei 18/2007, referente ao teor de álcool no
sangue (TAS): 1 mg/L (TAE) = 2,3 g/L (TAS). A determinação do Teor de
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
16
Álcool no Sangue (TAS) pode ser conhecida também através da colheita
deste meio biológico.
Quanto à detecção de substâncias ilícitas, será efectuada através de
análises toxicológicas diversos meios biológicos. Em qualquer dos casos
dever‐se‐á ponderar a relação dose‐efeito individual, bem como os
resultados dos exames médico‐periciais da Medicina do Trabalho, que
avalia os 3 eixos principais designadamente, funções mentais globais,
funções mentais específicas e funções de movimento, o que permitirá
avaliar o estado de influência da substância sobre o trabalhador naquele
momento. Nos últimos quatro anos o Grupo Pompidou do Conselho da
Europa tem vindo a trabalhar no âmbito da Plataforma Ética que
procurou, entre outras matérias, definir orientações para a aplicação de
procedimentos de detecção. Assim, preconiza que:
A aplicação dos testes deverá ser encarada para um número restrito de profissões ligadas a altos níveis de segurança e performance e de acordo com parâmetros bem definidos pela organização, na relação dose laboratorial toxicológica da substância psicoactiva recreativa versus o seu efeito na afectação funcional e na capacidade de funções mentais e de movimento, conforme a CIF‐OMS (2001)
Os testes deverão ser aplicados por profissionais de saúde sujeitos ao dever da confidencialidade
Quando realizados no âmbito de pedidos das autoridades de aplicação da lei ou judiciais, os testes deverão ser executados no estrito cumprimento do que é ordenado
Neste documento subscrevem‐se genericamente as orientações da
Plataforma Ética do Grupo Pompidou e da Comissão Nacional de
Protecção de Dados nesta matéria, que salvaguardam direitos universais.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
17
I.5 PARADIGMA DE INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL Na abordagem ao consumo de substâncias psicoactivas nos locais de
trabalho, o enfoque tem sido tradicionalmente colocado no tratamento e
reabilitação dos trabalhadores dependentes. Contudo, a maioria dos
trabalhadores não é dependente de substâncias psicoactivas, mesmo que
ocorram consumos em padrão nocivo ou de intoxicação aguda, por álcool
ou por outras substâncias psicoactivas. Estima‐se que, em alguns países,
apenas 10 em cada 100 pessoas apresentam um problema relacionado
com substâncias psicoactivas e dessas, apenas 3 se tornaram dependentes
(Carrilho, 1987, 1991, 2002, 2007). Assistimos hoje a uma mudança de
paradigma, uma evolução do tratamento para a prevenção dos consumos.
I.6 ENQUADRAMENTO LEGAL E NORMATIVO REFERENTE A SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS EM MEIO LABORAL São amplamente reconhecidas por todos as lacunas legais que permitem
frequentemente às organizações ignorar os problemas ou optar por
medidas predominantemente disciplinares como resposta, relegando
para segundo plano a promoção da segurança e da saúde.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
18
A prevenção de riscos profissionais tem sede no Novo Regime Jurídico da
Segurança e Saúde do Trabalho: Lei 102/2009, de 10 de Setembro que
estabelece que aquela deve assentar numa correcta e permanente
avaliação de riscos e ser desenvolvida segundo princípios, políticas,
normas e programas que visem, nomeadamente, a implementação da
Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde do Trabalho, a promoção e a
vigilância da saúde do trabalhador e o incremento da investigação técnica
e científica aplicadas no domínio da segurança e da saúde no trabalho, em
particular no que se refere à emergência de novos factores de risco;
(Artigo 5º)
Constitui obrigação geral do empregador “assegurar ao trabalhador
condições de segurança e de saúde em todos os aspectos do seu trabalho”,
devendo zelar, de forma continuada e permanente, pelo exercício da
actividade em condições de segurança e de saúde para o trabalhador,
identificando todos os riscos previsíveis em todas as actividades da
organização; deve, ainda atenuar o trabalho monótono e o trabalho
repetitivo e reduzir os riscos psicossociais. Estes estão muitas vezes na
origem de consumos aditivos que são factor de risco de acidente e
potenciadores de doenças relacionadas com o trabalho.
A vigilância da saúde dos trabalhadores é também uma obrigação geral do
empregador que, nos termos da Lei 102/2009, de 10 de Setembro, deve
ser assegurada em função dos riscos a que o trabalhador estiver
potencialmente exposto no local de trabalho, devendo o empregador para
o efeito vigiar as condições de trabalho, preservar a saúde dos
trabalhadores em situações mais vulneráveis, respeitando a legislação
disciplinadora da protecção de dados.
A realização de exames médicos situa‐se no âmbito da organização dos
serviços de Segurança e Saúde no Trabalho e tem que ter em conta os
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
19
O Regime Jurídico para a SST obriga o empregador a consultar por escrito,
previamente ou em tempo útil, os representantes dos trabalhadores para
a segurança e saúde ou, na sua falta, os próprios trabalhadores, sobre a
avaliação dos riscos para a segurança e a saúde no trabalho. Aqui incluem‐
se os respeitantes aos grupos de trabalhadores sujeitos a riscos especiais,
bem como sobre as medidas de protecção e de prevenção e a forma como
se aplicam, quer em relação à actividade desenvolvida quer em relação à
organização.
I.7 OBJECTIVOS DA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL A filosofia básica da intervenção dirigida aos problemas ligados ao álcool e
a outras substâncias psicoactivas nos locais de trabalho consiste em
considerar que os consumos são um problema de segurança e saúde que
pode ser alvo de detecção precoce e encaminhamento para tratamento,
com o menor tempo de afastamento possível do local de trabalho.
As razões principais para implementar um programa de prevenção de
consumos de risco são as seguintes:
Promover estilos de vida saudáveis;
Diminuir a sinistralidade e promover a segurança e saúde no
trabalho.
A adopção de programas de prevenção dos problemas associados ao
consumo de substâncias psicoactivas beneficia as organizações. Vários
estudos epidemiológicos demonstram que a incidência de problemas
relacionados com o consumo de substâncias psicoactivas está relacionada
com as quantidades consumidas; quanto maior for o consumo, maior a
probabilidade de ocorrência de problemas como os acidentes, o
absentismo, a violência e o assédio. Além disso, a implementação de um
programa de prevenção é menos dispendiosa do que o tratamento dos
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
20
trabalhadores dependentes ou a reparação de danos relacionados com os
consumos. Deste modo, a produtividade e a competitividade das
organizações aumenta.
Assim, os objectivos da intervenção em meio laboral são:
• Eleger os locais de trabalho como contextos privilegiados para a
prevenção de consumos problemáticos de substâncias
psicoactivas;
• Proceder ao enfoque na segurança e saúde do trabalho e na
promoção e sensibilização para estilos de vida saudáveis;
• Centrar estratégias no âmbito da responsabilidade e ética
organizacionais, apoiando as organizações, os trabalhadores e
alargando a sua intervenção às famílias e comunidades onde
estes se inserem;
• Contribuir para a prevenção do risco de acidentes de trabalho e
para a promoção dos níveis de segurança, minimizando o
consumo de substâncias psicoactivas;
• Dar suporte à criação e ao desenvolvimento de políticas de
segurança e saúde nas organizações;
• Escrever e divulgar as referidas políticas.
A participação dos trabalhadores e dos seus representantes na concepção
de um plano de promoção de saúde ocupacional e na definição das
políticas a preconizar representa uma questão de princípio
desempenhando, indiscutivelmente, um papel importante na
implementação dos programas de prevenção. Com efeito, a sua
participação é imprescindível e inalienável pelo princípio de legalidade
(Código do Trabalho, subsecção IV, artigo 46º e seguintes):
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
21
‐ Contribui para a aceitação do programa por parte dos trabalhadores,
constituindo‐se como agentes facilitadores para a criação de um ambiente
positivo de real aceitação do programa;
‐ Capacita os representantes dos trabalhadores para intervir junto dos
seus pares, quando existem situações de consumo, impedindo que muitas
vezes se passe de uma situação de consumo de baixo risco para uma
condição de consumo nocivo e dependência, dado que têm uma relação
de proximidade com estes;
‐ Facilita (promove) o esclarecimento de dúvidas que possam subsistir no
que respeita aos direitos individuais dos trabalhadores, especialmente nas
situações de tratamento e reentrada no posto de trabalho;
Nos casos em que a própria organização não disponha de um serviço
interno de segurança e saúde no trabalho (SST), os parâmetros constantes
deste documento orientador deverão ser assumidos pelas entidades
prestadoras de SST (serviços externos), obviamente em sintonia com as
politicas e estratégias de gestão de recursos humanos. Refira‐se que são
obrigatórios os SSST internos em organizações com mais de 400
trabalhadores ou com mais de 30 trabalhadores nas quais existam
trabalhadores expostos a actividades consideradas de risco elevado. (Lei
102/2009, de 10 de Setembro).
I.8 PRINCÍPIOS ORIENTADORES DA INTERVENÇÃO EM MEIO LABORAL A adopção de políticas e programas de prevenção do consumo de
substâncias psicoactivas representa um alargamento da intervenção à
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
22
totalidade dos trabalhadores. Neste sentido, as aprendizagens ao nível da
auto‐avaliação de nível de consumo de substâncias psicoactivas
(nomeadamente a contagem de unidades de bebida padrão no caso do
álcool), a correlação entre o desempenho profissional e os consumos e o
enfoque na promoção de estilos de vida saudáveis são componentes
fundamentais a desenvolver neste âmbito.
Assim, consideram‐se os seguintes pontos essenciais:
As políticas e os programas em matéria do consumo de substâncias psicoactivas devem promover a prevenção e o tratamento dos problemas ligados ao consumo de substâncias psicoactivas no local de trabalho;
Os problemas ligados ao consumo de substâncias psicoactivas no local de trabalho são considerados problemas de saúde e por isso devem ser tratados sem nenhuma discriminação, como qualquer outro problema de saúde e com recurso aos correspondentes serviços de saúde;
Para fomentar a segurança e saúde do local de trabalho devem ser levados a cabo programas de informação, formação e qualificação sobre substâncias psicoactivas que devem, na medida do possível, ser integrados em programas de segurança e saúde mais amplos;
Deve estabelecer‐se um sistema que assegure o carácter confidencial de toda a informação, em todos os pontos da cadeia de custódia assim como durante o tratamento e a reabilitação;
Os trabalhadores que desejem ser alvo de intervenção clínica para os seus problemas ligados ao consumo de substâncias psicoactivas, não devem ser objecto de discriminação por parte do empregador e devem gozar da segurança do emprego e das mesmas oportunidades de promoção dos seus pares;
O tratamento e a reabilitação só poderão processar‐se mediante a aceitação voluntária do trabalhador, no respeito pela liberdade
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
23
pessoal, não podendo ser impostos, designadamente por recurso a formas de coacção;
A dependência de drogas ou álcool deve ser entendida como uma doença e tratada como tal no que respeita a incapacidade temporária, subsídio de doença e outros benefícios sociais, especialmente nos períodos em que o trabalhador se encontra em tratamento;
Todas as informações relativas ao processo de reabilitação e tratamento deverão manter‐se estritamente confidenciais;
Durante o tratamento, o empregador deve garantir a manutenção do posto de trabalho do trabalhador enquanto este se encontrar em tratamento ou garantir a sua transferência para outras funções que não constituam risco para a segurança do próprio ou de terceiros, sem perda de direitos ou outras regalias.
PARTE II CONTRIBUTO PARA A POLÍTICA DE SEGURANÇA E SAÚDE DAS ORGANIZAÇÕES
II.1 CRIAÇÃO DE UMA POLÍTICA DE SEGURANÇA E
SAÚDE NO ÂMBITO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS
PSICOACTIVAS
A prevenção de riscos na segurança e saúde dos trabalhadores dentro de
um ambiente laboral, implica não somente abordar as condições
profissionais que possam actuar como factores de risco para o consumo
de substâncias psicoactivas, mas também ponderar mudanças na cultura
organizacional de forma a promover a melhoria da qualidade de vida no
trabalho, de forma integradora.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
24
A participação dos trabalhadores, ou dos seus representantes, na
concepção de um plano para a promoção da segurança e saúde, na
definição das políticas a preconizar, representa uma obrigação legal. Da
mesma forma, é incontornável e imperioso que, previamente à efectiva
introdução das iniciativas que fazem parte deste Plano, se proceda à sua
divulgação clara e precisa.
A forma de conduzir estes processos varia, em função das especificidades
sectoriais e das diferenças culturais dos cenários em mudança. As
organizações podem começar por adoptar uma declaração de missão, um
código de conduta ou uma declaração de princípios, em que se anunciam
os objectivos, os valores fundamentais e as responsabilidades para com as
diversas partes interessadas.
Assim, para a definição da política de promoção da segurança e saúde
ocupacional, que contemple a componente das dependências, dever‐se‐á:
• Assumir uma política (escrita) sobre o tema;
• Realizar um diagnóstico organizacional;
• Aferir, por amostragem, o nível de conhecimentos sobre os
problemas do consumo de substâncias, níveis de consumo,
atitudes face ao consumo e a sua regulamentação;
• Implicar todos os trabalhadores, através das estruturas
representativas;
• Definir os objectivos da política de segurança e saúde, com a
participação de toda a organização;
• Elaborar um plano de intervenção, com ampla participação;
• Propor, especificamente, mecanismos de apoio a quem apresente
problemas ligados ao consumo de substâncias psicoactivas,
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
25
através, por exemplo, da definição de um PAT ou mesmo da
referenciação a estruturas de saúde;
• Implicar os elementos directivos ou executivos, chefias,
supervisores e todos os trabalhadores de todas as áreas da
organização;
• Fundamentar para compromisso, a difusão e a avaliação da política
de segurança e saúde da organização, devendo esta ser conhecida
por todos os trabalhadores.
O esquema seguinte apresenta detalhadamente as dimensões a
contemplar na definição da política de segurança e saúde da organização.
Política de Saúde da Organização
Compromisso da equipa directiva
Constituição da equipa
Diagnóstico Inicial
Adesão e compromisso em toda a organização
Grupo da implementação da política
Sensibilização e informação de toda a organização
Reconhecer factores de risco e de protecção na cultura organizacional
Elaboração da política e do plano de prevenção
Directivas de compromisso, supervisão e difusão da política
Trabalho com representantes da organização, definição de objectivos e acções da política
Avaliação de processo e de resultados.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
26
II.1.1 SENSIBILIZAÇÃO, INFORMAÇÃO, EDUCAÇÃO E
FORMAÇÃO
A implementação e gestão de programas de intervenção em meio laboral,
no âmbito das dependências de substâncias psicoactivas, deverá ser
precedida de acções de sensibilização, informação e formação
generalizadas a todos os elementos da hierarquia da empresa. As chefias,
a par dos representantes dos trabalhadores, são a chave para o sucesso de
uma política de redução dos problemas relacionados com substâncias
psicoactivas em meio laboral, uma vez que estão em contacto com os
trabalhadores.
Assim as chefias são responsáveis por:
• Estarem informadas sobre a política de redução do consumo de
substâncias psicoactivas, serem capazes de transmitir informação
sobre essa política aos trabalhadores e saberem quando agir;
• Falar com os trabalhadores sobre problemas ligados ao
desempenho profissional e discutir como resolvê‐los;
• Documentar e referenciar para o Serviço de Saúde Ocupacional ou
de Segurança e Saúde no Trabalho um desempenho profissional ou
comportamentos desadequados reiterados (que podem ou não
estar associados a consumos de risco).
As chefias não podem ser responsáveis por:
• Diagnosticar clinicamente problemas de consumo de substâncias
psicoactivas;
• Tratar problemas relacionados com os consumos;
• Encaminhar para o tratamento, (somente referenciar).
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
27
As sessões de informação e de sensibilização deverão incluir:
• Aspectos gerais de promoção da saúde nos locais de trabalho;
• Estratégias de prevenção e de educação e actividades de promoção
de segurança e saúde;
• Noções gerais sobre substâncias psicoactivas e sobre a relação
dose‐efeito na capacidade e na funcionalidade (CID‐10‐OMS; CIF‐
OMS);
• Estratégias de detecção precoce em Medicina do Trabalho;
• Informação sobre os recursos da comunidade para o
encaminhamento.
II.1.2 ACESSO A SERVIÇOS DE ACONSELHAMENTO,
TRATAMENTO E DE REABILITAÇÃO
Sempre que um trabalhador inicie o tratamento de uma dependência,
deve ser mantida a garantia da estabilidade profissional durante e após o
tratamento, tornando‐se este um dos factores facilitadores da
recuperação. Uma boa reintegração profissional faz parte do processo de
prevenção de recaídas, sendo que durante este período de readaptação se
deverá salvaguardar que o desempenho do trabalhador dependa da
qualidade do processo de recuperação. Ao trabalhador poderá ser dada a
oportunidade de escolher uma rede de suporte durante a recuperação, de
forma a eleger figuras de interlocução para a sua evolução.
A prestação de cuidados em função das necessidades das populações exige o
estabelecimento criterioso do circuito de atendimento dos doentes com
problemas ligados ao consumo de substâncias psicoactivas seja de consumo
nocivo ou dependência. Estes serviços devem estar articulados no sentido de
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
28
dar as respostas necessárias, quer em termos de detecção do problema e
tratamento, quer de eventual reabilitação, envolvendo sempre que tal seja
necessário múltiplos agentes e diferentes sectores além dos serviços de
saúde, nomeadamente os sectores da segurança social, do trabalho, da
justiça e da comunidade em geral, garantindo uma arquitectura de respostas
coordenadas.
Por forma a que o circuito do utente seja feito de maneira a dar a resposta
mais atempada às necessidades identificadas em termos de diagnóstico,
tratamento e reabilitação, há que estruturar, por níveis de intervenção, a
articulação a partir dos Cuidados de Saúde Primários, Unidades do IDT, I.P. e
da Saúde Mental, Instituições das Ordens Hospitaleiras, das Misericórdias, e
Organizações Não Governamentais.
Devem ainda ser disponibilizadas respostas, de forma a estabelecer uma comunicação
que privilegie o doente, melhorando a acessibilidade, a continuidade, a prevenção de
recaídas, a complementaridade e a qualidade dos cuidados prestados, assim como
estruturar cuidados tendo em vista doentes sem recursos e sem apoios familiares.
O circuito do utente deverá ser:
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
29
Assim, num primeiro nível o trabalhador deveria recorrer à medicina do trabalho ou ao médico de família para um diagnóstico precoce, de forma a determinar o modo de intervir junto do indivíduo em causa. A referenciação destes casos deverá ser feita para os Centros de Resposta Integrada do IDT ou outras estruturas especializadas, como é o caso das Unidades de Alcoologia, dos Serviços de Saúde Mental ou para os Hospitais. II.2 PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA AOS
TRABALHADORES NO ÂMBITO DO CONSUMO DE
SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS
Da elaboração da política de segurança e de saúde da organização poderá
fazer parte a criação e desenvolvimento de um Programa de Assistência
aos Trabalhadores (PAT), sendo que este deverá obedecer aos seguintes
pontos:
PAT
Concepção
Implementação e Gestão
Estudo de viabilidade e das necessidades
Acordo dentro da organização
Nomeação e formação do grupo de coordenação
Redução dos factores de
risco
Documento de política
sobre a segurança, saúde e
bem‐estar
Sensibilização, Informação,
Educação e Formação
Acesso a serviços de
aconselhamento,
tratamento e reabilitação
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
30
II.2.1 CONCEPÇÃO A formação de um grupo coordenador de PAT deve ser precedida de um
estudo de viabilidade e da avaliação das necessidades. Este deverá,
preferencialmente, incluir representantes da Administração,
representantes dos trabalhadores nos domínios da Segurança e Saúde no
Trabalho, da Área de Recursos Humanos e eventualmente da Área de
Formação. Estes elementos devem, em conjunto, avaliar os efeitos do uso
de substâncias psicoactivas no local de trabalho, e cooperar para uma
política de promoção da segurança e saúde que inclua os consumos
considerados problemáticos para a organização.
II.2.2 IMPLEMENTAÇÃO E GESTÃO Ao equacionar‐se uma politica de intervenção em meio laboral, deverão
ser garantidas as condições técnico‐financeiras adequadas para a
prossecução dos objectivos.
Deverão ser contemplados os seguintes aspectos:
• Requisitos estatutários ou normativos;
• Normas contra a discriminação por incapacidade;
• Acordos colectivos de trabalho;
• Quaisquer outros requisitos em vigor.
O rastreio de consumos, se for entendido como necessário, deverá ser o
último passo do programa global.
II.3 REDUÇÃO DOS FACTORES DE RISCO E POTENCIAÇÃO DOS FACTORES DE PROTECÇÃO
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
31
No âmbito da epidemiologia, o conceito de risco é definido como a
probabilidade de ocorrência de um acontecimento desfavorável. A
presença de vários factores de risco no local de trabalho e a sua eventual
interacção podem conduzir à potenciação de efeitos negativos para a
segurança e para a saúde do trabalhador.
Os problemas ligados ao consumo de substâncias psicoactivas, tal como
outros comportamentos de risco, não se submetem a relações causais
explícitas. A etiologia é multifactorial, complexa e reporta‐se a aspectos de
natureza biológica, psicológica, social e cultural.
São factores de risco de consumo de substâncias psicoactivas no meio
laboral:
• Factores relacionados com a actividade laboral (repetitividade das
tarefas, trabalho por turnos, stressores, etc.);
• Factores individuais (baixa tolerância à frustração, impulsividade,
género masculino, locus de controlo externo, etc.);
• Factores organizacionais / psicossociais (ritmos intensos de trabalho,
monotonia das tarefas, insuficiente suporte social, etc.).
A presença de vários factores de risco pode potenciar a probabilidade de
consumos. Nesse sentido, as intervenções centradas na organização do
trabalho, e mais especificamente na redução dos factores de risco para
um grupo mais ou menos extenso de trabalhadores, constituem medidas
de prevenção ou de resolução orientada para o problema. (Uva, 2006)
Numa revisão efectuada por Williamson (1994, cit. por European Agency
for Safety and Health at Work, 2000), o autor verificou que as
intervenções a nível organizacional que têm por objectivos eliminar e
controlar os factores de risco no ambiente de trabalho, foram
identificadas como sendo as mais vantajosas apesar de pouco frequentes
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
32
(Williamson cit. por European Agency for Safety and Health at Work,
2000).
II.4 DEFINIÇÃO E APLICAÇÃO DA POLÍTICA DE SAÚDE DA ORGANIZAÇÃO O documento que operacionaliza a política de saúde deverá:
• Contextualizar e fundamentar a política de saúde (segurança no
trabalho, segurança e saúde do trabalhador, qualidade do produto,
produtividade, responsabilidade social pública, etc.);
• Incluir, de forma clara, as normas de conduta no local de trabalho
relacionadas com substâncias psicoactivas, de acordo com a
legislação vigente;
• Incluir a forma de nomeação e a constituição do grupo de
coordenação e implementação deste plano;
• Estabelecer a forma de participação dos trabalhadores;
• Referir as modalidades de informação, sensibilização e formação,
bem como os respectivos destinatários, relacionados com a
implementação da política de saúde;
• Indicar os mecanismos através dos quais os trabalhadores com
problemas de uso de substâncias podem ter respostas de
acompanhamento, internas ou externas à organização;
• Incluir a forma de avaliação periódica da implementação do
processo;
• Assegurar o cumprimento das disposições negociadas em sede de
contratação colectiva.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
33
II.5 AVALIAÇÃO DA POLÍTICA DE SEGURANÇA E
SAÚDE NO ÂMBITO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS
PSICOACTIVAS
O objectivo de um processo de avaliação é determinar em que medida a
intervenção atinge os objectivos inicialmente definidos. No essencial,
deverá identificar os pontos fortes e os fracos, indicar as oportunidades e
os constrangimentos às diferentes etapas de aplicação da política de
saúde. A avaliação poderá incidir sobre:
• O processo
• Os resultados
• O impacto
II.6 OPERACIONALIZAÇÃO DA DETECÇÃO
Os testes de álcool ou de detecção de drogas apenas serão lícitos em
casos excepcionais, quando estejam em causa interesses para a saúde e
bem‐estar do trabalhador, do empregador, ou de terceiros (Código do
Trabalho – artigo 19º, nº 1). No entanto, o rastreio já não será aceitável
em termos legais de princípios de proporcionalidade, adequabilidade e
razoabilidade, quando não exista uma razão objectiva para o realizar em
função da segurança para outros trabalhadores, para os utentes dos
serviços ou para a comunidade em geral ou quando, desse ponto de vista,
os riscos sejam mínimos.
No que respeita à detecção, o regulamento deverá ser explícito em
relação a vários aspectos, designadamente, que profissionais poderão
ser submetidos a teste. À partida, a aplicação do teste deverá cingir‐se
apenas a certas categorias profissionais, dedicadas a tarefas que envolvam
especiais riscos, para os próprios ou para a sociedade em geral, desde que
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
34
devida e concretamente fundamentados, segundo a Comissão Nacional de
Protecção de Dados, que vai igualmente ao encontro da perspectiva da
Plataforma Ética do Grupo Pompidou. Podemos mencionar como
exemplos de actividades que envolvem riscos graves para o próprio e para
terceiros os agentes de segurança, os técnicos de energia, os motoristas
de transportes pesados e ligeiros, e as actividades que constam do DL
102/2009.
Por outro lado, o procedimento da detecção deverá estar inserido numa
política de saúde, sendo que a detecção não deverá existir em quaisquer
outros contextos que não seja o de uma política de promoção de
segurança e saúde no trabalho (que inclua ou não um PAT).
A detecção deverá acontecer unicamente no âmbito da Medicina do
Trabalho.
Os tratamentos de dados resultantes dos rastreios devem ser notificados à
CNPD. Juntamente deverá ser anexado o regulamento que o fundamenta.
Do regulamento deverá constar: que substâncias deverão ser alvo de
detecção; as circunstâncias da aplicação dos testes; os profissionais
envolvidos na detecção (sempre obrigados ao dever da confidencialidade),
sendo que a responsabilidade da aplicação do teste deve ser do médico de
trabalho; qual a frequência dos testes; a oportunidade de contraprova por
organismo credenciado; os procedimentos a adoptar no caso de resultado
positivo.
II.6.2 PONTOS PARA INCLUIR NA MINUTA‐TIPO PARA
A ELABORAÇÃO DE UM REGULAMENTO
Em matéria de realização de testes clínicos importa ter presente que as
empresas não podem, com legitimidade, invocar nesta matéria a
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
35
obrigatoriedade de realização dos testes clínicos previstos no Código do
Trabalho e na Lei 102/2009, de 10 de Setembro. A obrigatoriedade de
realização de testes clínicos encontra‐se devidamente tipificada na
legislação – exame de admissão, exames ocasionais, exames
complementares – sendo o seu objectivo “verificar a aptidão física e
psíquica do trabalhador para o exercício da sua profissão, bem como a
repercussão do trabalho e das suas condições na saúde do trabalhador”
(art.º n.º 16). A realização obrigatória de testes de despistagem de
consumos põe em causa direitos, liberdades e garantias pessoais
consagrados na Constituição, nomeadamente o direito à integridade
pessoal (artigo 25º) e o direito à reserva da intimidade da vida privada
(artigo 26). Para além disto, a criação, por regulamento interno, de uma
justa causa de despedimento, não prevista na lei, viola o princípio da
segurança no emprego, direito fundamental dos trabalhadores,
consagrado no artigo 53º da Constituição. Neste sentido, ainda que se
considere justificada a realização de testes de despistagem obrigatórios a
determinadas categorias de trabalhadores e em determinadas situações,
nomeadamente quando se encontrem em causa a saúde e a segurança
públicas, terá de ser a lei a impor tal obrigação, salvaguardando
devidamente todos os direitos, liberdades e garantias, em suma todos os
interesses em causa. Assim sendo, tal obrigatoriedade nunca poderá ser
imposta por um mero regulamento ou circular interna emitido pela
entidade empregadora;
Do documento deverão constar os seguintes pontos:
• O regulamento enquadra‐se no âmbito da criação e
implementação da política global de segurança e saúde da
empresa;
• As acções previstas no regulamento inserem‐se numa atitude
preventiva;
Comentário [C1]: Revogado– novas referências ao diploma no documento da ACT
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
36
• Enquadramento Legal: Lei nº 102/2009, de 10 de Setembro; Lei nº
59/2008, de 11 de Setembro; Portaria nº 390/2002 de 11 de Abril;
• Operacionalização de conceitos
• Previsão de acções de sensibilização, informação e formação,
tendo em vista a diminuição do consumo de substâncias
psicoactivas no local de trabalho;
• Definição de situações, locais e quantidades em que o consumo de
álcool é admitido;
• Definição do universo de aplicação da detecção da presença de
álcool ou outras substâncias psicoactivas e do exame médico
pericial, conforme o previsto na CIF‐OMS ;
• Obrigatoriedade ou não do teste a grupo ou grupos profissionais a
serem abrangidos pela detecção – apenas as actividades
profissionais consideradas de risco elevado, para o próprio ou para
terceiros;
• Enquadramento científico: fundamentação do limiar de TAS
adoptada na detecção e referência às fontes documentais;
• O controlo de substâncias efectiva‐se através de meios biológicos;
• Possibilidade de solicitar a presença de uma testemunha que se
encontre no local;
• A responsabilidade da aplicação do teste de detecção é
inteiramente do médico do trabalho;
• Sigilo profissional e garantia da confidencialidade das informações:
o médico do trabalho na sequência de exames (admissão,
periódicos ou ocasionais) apenas deve fazer uma avaliação se o
trabalhador está apto ou não apto para desempenhar as suas
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
37
funções, mas nunca deverá comunicar o resultado dos testes à
entidade patronal (Código do Trabalho ‐ Artigo 17º n.º 2);
• Informação dos resultados ao próprio;
• Consequências de um resultado positivo: pode implicar a inaptidão
para o serviço;
• Contraprova: realização de exame médico para confirmação dos
resultados e exame médico pericial, conforme CIF‐OMS;
• Custos referentes à contraprova e à detecção: são sempre da
responsabilidade da entidade patronal (Código do Trabalho);
• Incluir a cadeia de custódia e seus elementos, caso exista uma
componente de análises toxicológicas;
• Indicar claramente que substâncias estão abrangidas pelo
normativo;
• Mencionar a entidade que homologa os instrumentos de detecção
que deverão ser validados, calibrados, fiáveis e que sejam passíveis
de contraprova;
• Dada a existência de falsos positivos em qualquer instrumento de
detecção, a aplicação inicial do teste pressupõe sempre uma
confirmação, que pode ser requerida pelo trabalhador na
eventualidade de um resultado positivo. Essa contraprova deverá
realizar‐se num laboratório de referência de toxicologia
ocupacional indicado pelo Instituto Nacional de Saúde Ricardo
Jorge;
• Ter em conta questões que se colocam ao nível da aplicação de
testes de detecção, como sejam a detecção de consumos que
ocorrem fora do horário de trabalho, sem evidência de estar sob
influência;
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
38
• Referir as normas para acompanhamento ou encaminhamento,
bem como as normas sancionatórias em caso de sinalização e
reincidência;
• Estabelecer um sistema que assegure a confidencialidade de todas
as informações respeitantes aos problemas relacionados com
substâncias psicoactivas, bem como quem integra a cadeia de
custódia;
• Esclarecer que a participação num programa de tratamento é
confidencial e não coloca em risco nem o emprego nem a
progressão na carreira, mas que a participação não o protege de
acção disciplinar face a uma prestação laboral considerada fraca e
inaceitável ou à violação das normas estabelecidas.
PARTE III INTERVENÇÃO EM MICRO, PEQUENAS E
MÉDIAS EMPRESAS
A maior parte do tecido empresarial nacional não se enquadra no modelo
clássico caracterizado anteriormente, uma vez que esse universo é
composto principalmente por micro, pequenas e médias empresas. De
uma forma geral, estas não dispõem de recursos próprios em matéria de
promoção e vigilância de saúde e poderão não ter capacidade de
implementar algumas das acções atrás descritas. Desta forma, propõe‐se
que nestes casos a abordagem no âmbito da política de segurança e saúde
do trabalho nessas empresas passe prioritariamente pela implementação
de acções de prevenção (sensibilização/informação/formação) e de
referenciação para o tratamento em matéria de problemas ligados ao
consumo de substâncias psicoactivas, tendo em vista a prevenção da
desinserção;
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
39
A empresa deve ter uma política global de segurança e saúde e nessa
medida proporcionar formação transversal à globalidade da organização,
independentemente de recorrerem a empresas prestadoras de segurança
e saúde no trabalho. Para a promoção dessa política, deverão contar com
o apoio técnico do IDT e da ACT. O Serviço Nacional de Saúde poderá
deverá ter um papel importante nas respostas a algumas das situações
neste âmbito.
As empresas prestadoras de serviços de segurança e saúde no trabalho
devem, por seu turno, ser sensibilizadas para a temática e estar
capacitadas para desenvolverem políticas de saúde.
CONSIDERAÇÕES FINAIS As medidas adoptadas de promoção da segurança e saúde em contexto
laboral, nomeadamente na área do consumo de substâncias psicoactivas,
contribuem, sem ser a solução definitiva, para a melhoria da qualidade de
vida dentro da organização, aumentando a eficácia e a eficiência no
trabalho. Contribuem igualmente para o aumento da produtividade e da
segurança e, de uma maneira geral, melhoram as condições de trabalho.
Indiscutivelmente, promovem o desenvolvimento dos trabalhadores, bem
como a imagem da organização na comunidade onde se insere.
No actual contexto mundial de liberalização económica e globalização,
exige‐se a cada empresa níveis de produtividade e de competitividade que
não se compadecem com culturas de gestão que não promovam o
desenvolvimento e o bem‐estar dos seus colaboradores, dimensão
definida no âmbito da responsabilidade social organizacional.
Parece axiomático a interdependência entre o sistema económico e o
sistema social, e o papel de regulação da cultura organizacional nesta
dialéctica. As estratégias e políticas de gestão que preconizam uma cultura
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
40
organizacional criadora de climas motivadores, criativos e inovadores,
solidários, facilitadores do desenvolvimento profissional e pessoal dos
trabalhadores, parecem influenciar as performances individuais e
colectivas, e consequentemente, os níveis de produção e os índices
económicos.
As organizações que investem na qualificação, no desenvolvimento, na
valorização e na promoção do bem‐estar dos recursos humanos,
constituem instrumentos estratégicos para promover a mudança a nível
societal e ocupam um lugar preponderante nas sociedades
contemporâneas. Representam também um universo social
extremamente importante e autónomo, com capacidade e potencial para
influenciar o sistema social global. As mudanças operadas dentro da
organização reflectem‐se no conjunto dos relacionamentos sociais de
interdependências entre indivíduos e grupos, no quadro cultural dos
trabalhadores e dos grupos profissionais, e serão transportadas para fora
da empresa, para as relações familiares, de vizinhança, sociais.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
41
BIBLIOGRAFIA
Abrantes, J. J. (2007). Álcool e drogas em meio laboral. Lisboa: Almedina.
ACT (2008) Estratégia Nacional para a Segurança e Saúde no Trabalho,
Lisboa: Autoridade para as Condições de Trabalho.
Anderson, P., Gual, A., & Colom, J. (2005). Alcohol and primary health care:
Clinical guidelines on identification and brief interventions. Barcelona:
Health Department of the Government of Catalonia.
Briner, R. (1997). Improving stress assessment: Toward an evidence‐based
approach to organizational stress interventions. Journal of Psychosomatic
Research, 43(1), 61‐71.
Campbell, Drusilla e Graham, Marilyn (1991) Drogas e álcool no local de
trabalho, Rio de Janeiro: Editorial Nórdica.
Carrilho, J.M. (1987). Manual prático de recuperação do alcoolismo e uso
de drogas: Modelo Minnesota. Lisboa: Editora Tempo Medicina/Nova
Nórdica.
Carrilho, J.M. (1991). Novos avanços na reabilitação da dependência
química: Álcool e droga. Lisboa: Tupam Editores. ISBN 972‐9385‐27‐0
Carrilho, J. M. (2002). Programas de assistência a empregados: Álcool e
outras drogas em meio laboral. Anais do Clube Militar Naval, CXXXII, 325‐
356.
Carrilho, J.M. (2007). Medicina na segurança social: Psiquiatria forense em
direito público e verificação de incapacidades psiquiátricas no âmbito da
segurança socia. Lisboa: Permanyer Portugal. ISBN 978‐972‐733‐234‐2
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
42
Confederación Sindical de Comisiones Obreras (2003) Alcohol y Drogas en
el local de Trabajo, Madrid: Secretaria Confederal de Medio Ambiente y
Salud Laboral.
Cook, R.F. (1996). Substance abuse prevention in the workplace: Recent
findings and and an expanded conceptual model. The Journal of Primary
Prevention, 16(3), 319‐339.
European Agency for Safety and Health at Work. (2000). Research on
work‐related stress. Luxembourg: Office for Official Publications of the
European Communities.
European Foundation for the Improvement of Living and Working
Conditions. (1997). Workplace health promotion in Europe: Research
summary. Luxembourg: Office for Official Publications of the European
Communities.
Freire, J., & Rego, R. (2001). Segurança e saúde no trabalho: que sentido
para as mudanças em curso? Organização e Trabalho, nº 25, Novembro
2001, 21‐33.
Independent Inquiry into Drug Testing at Work. (2004). Drug testing in the
workplace: the report. York: Joseph Rowntree Foundation. ISBN 1‐85935‐
211‐1
Instituto da Droga e da Toxicodependência, I.P. (2005). Plano nacional
contra a droga e as toxicodependências 2005‐2012. Lisboa: I.D.T.
Instituto da Droga e da Toxicodependência, I.P. (2009). Plano nacional
para a redução dos problemas ligados ao álcool 2009‐2012. Lisboa: I.D.T.
Ló, A. B. (2007) Contextos de trabalho e processos de integração de
toxicodependentes, Lisboa: IDT.
NSW Health, (2007) Mental Health reference resource for drug and alcohol
workers, North Sidney: NSW Department of Health.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
43
Organização Internacional do Trabalho. (1988). Iniciativas en el lugar de
trabajo para prevenir y reducir los problemas causados por el consumo de
drogas y de alcohol. Ginebra: OIT.
Organização Internacional do Trabalho. (2003). Problemas ligados ao
álcool e a drogas no local de trabalho: Uma evolução para a prevenção
(edição portuguesa de 2008). Lisboa: Autoridade para as Condições aos
Trabalho.
Pompidou Group, Committee on Ethical Issues and Professional Standards
(2008). Drug Testing at School and in the Workplace (P‐PG/Ethics (2008)5).
Strasbourg: Council of Europe.
Pompidou Group, Co‐operation Group to Combact Drug Abuse and Illicit
Trafficking in Drugs. (2003). Ethics and drug use: seminar on ethics,
professional standards and drug addiction (P‐PG/Ethics (2003)4).
Strasbourg: Council of Europe.
Pompidou Group, Expert Committee on Ethical Issues and Professional
Standards (2007). Opinion on Drug Testing at School and in the Workplace
(P‐PG/Ethics (2007)5). Strasbourg: Council of Europe.
PROSALIS, (S/D) Guia de Empresas para lidar com o abuso de drogas,
Lisboa, PROSALIS.
Reis, J. (1999). Modelo metateórico da psicologia da saúde para o séc. XXI:
Interacção ou integração biopsicossocial? Análise Psicológica, 3(XVII), 415‐
433.
Rolo, João Carvalho (1999). Sociologia da saúde e da segurança no
trabalho. Lisboa : SLE ‐ Electricidade do Sul.
Silva, A. Vieira da (2001). Consumo de álcool em docentes. Dissertação de
Mestrado em Saúde Escolar, Faculdade de Medicina, Universidade de
Lisboa.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
44
Uva, A. S. (2006). Diagnóstico e gestão do risco em saúde ocupacional.
Lisboa: Instituto da Segurança, Higiene e Saúde no Trabalho.
Vitória, Paulo (1994). Consumo de álcool e drogas ilegais em empresas do
Distrito de Lisboa. Cascais: Fund. Port. para Estudo, Prevenção e
Tratamento da Toxicodependência. Tese de Mestrado.
Uva, A. S. & Graça, L. (2004). Cadernos/Avulso #4 Glossario, Lisboa:
Sociedade Portuguesa Medicina no Trabalho.
World Health Organization (1992). The ICD‐10 Classification of Mental and
Behavioural Disorders: Clinical Descriptions and Diagnostic Guidelines.
Geneva: WHO.
World Health Organization (2001). The International Classification of
Functioning, Disability and Health: ICF. Geneva: WHO.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
45
ANEXOS
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
46
ANEXO 1
Tabela referente à detecção de substâncias psicoactivas, tempos de detecção e fiabilidade
urina saliva suor sangue cabelo
fiabilidade 2 a 3 dias 24 horas 24 horas a 2/3
dias Até 31 horas
1 semana a 18
meses
A mais
utilizada desde
há 20 anos. A
mais
adequada para
a pesquisa de
canabinóides
preservadas .
A mais sujeita
a fraudes
(substituição
das amostras).
Exige
confirmação
laboratorial.
Adequada para
consumo recente,
particularmente
canabinóides e
opiáceos.
Facilmente
adulterável com
uma lavagem da
boca. As amostras
precisam de
refrigeração. Exige
confirmação.
Procedimento à
base do uso de
adesivos. Usado
maioritariamente
para a
monitorização.
Não são muito
fiáveis (…)
Sujeita a fraude
(substituição das
amostras).
Necessários
procedimentos
laboratoriais.
Não detecta
consumos de
álcool. Não é
apropriada para
detectar
consumos
recentes.
Necessários
procedimentos
laboratoriais.
DrugLink, Vol. 19, No. 2, March/April 2004.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
47
ANEXO 2
Tabela referente à detecção de substâncias psicoactivas, tempos de detecção e fiabilidade
Substância/Tipo de Substância Psicoactiva Tempos de Detecção
Álcool 6 horas a 1 dia
Anfetaminas 1 a 4 dias
Benzodiazepinas Uso terapêutico a curto prazo: três dias
Uso crónico: 4 a 6 semanas
Cocaína 2 a 5 dias
LSD 1 a 4 dias
Marijuana Consumo ocasional: atá sete dias; consumo crónico: até 30 dias ou mais
MDMA 1 a 4 dias
Mescalina 1 a 4 dias
Metadona 1 a 7 dias
Metanfetaminas 1 a 4 dias
Nicotina 1 a 2 dias
Opiáceos 1 a 4 dias
Propoxyphene 1 a 7 dias
Cogumelos Mágicos 1 a 3 dias
Esteróides Orais: 2 a 3 semanas; Injectados: 1 a 3 meses; Nandrolone: até 9 meses
Antidepressivos triciclicos 1 a 9 dias
DrugLink, Vol. 19, No. 2, March/April 2004.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
48
ANEXO 3
A OMS preconiza que uma unidade de bebida padrão corresponde a:
330ml de cerveja com (graduação de 5%)
140ml de vinho (graduação de 12%)
70ml de bebida licorosa (graduação de 25%)
40ml de bebida destilada (graduação a 40%)
Cada ml de álcool contém 0,785g de álcool, o que pressupõe que, segundo a OMS, a definição de unidade de
bebida padrão seja de 13g de álcool. Na Europa, as bebidas standard contém habitualmente 10g de álcool.
Assim o consumo de baixo risco para indivíduos de sexo masculino reporta‐se a um máximo de duas bebidas
por dia e para os de sexo feminino, a não mais de uma bebida diária.
(Anderson, Gual & Colom, 2005)
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
49
GLOSSÁRIO
Absentismo
1.Não comparência ao trabalho de um trabalhador por razões de saúde ou
outras, nas condições em que seria de esperar a sua comparência.
2.Período exacto, em horas ou em dias, durante o qual o assalariado não
se apresenta fisicamente no seu posto de trabalho, mesmo sabendo que
deveria estar. Essa ausência é independente das razões invocadas para
justificar a ausência.
Em sentido lato, é um comportamento individual de ausência ao trabalho,
exterior à empresa, que esta não pode prever e que remete para o âmbito
das relações individuais de trabalho. Essa ausência pode ser devida a
doença, a acidente ou a outras causas, incluindo, entre outros, a licença
de maternidade/paternidade, a assistência inadiável e imprescindível, em
caso de doença ou acidente, a filhos, adoptados ou enteados menores de
dez anos, o exercício do direito de representação dos trabalhadores e a
suspensão disciplinar.
No âmbito do Balanço Social, é sinónimo de “ausências do trabalhador
durante o período normal de trabalho a que está obrigado, devendo
atribuir‐se todas essas ausências ao trabalhador, independentemente das
suas causas e de se converterem em faltas justificadas ou não. Nesse
sentido, são excluídos outros fenómenos de ausência ao trabalho, uns por
serem do foro das relações colectivas de trabalho (por ex., greves e
paralisações), e outros por resultarem do exercício das prerrogativas da
gestão ou da vida interna da empresa (por exº, formação profissional,
compensação por trabalho suplementar, desemprego tecnológico).
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
50
Abstinência
É o não utilização de uma determinada substância psicoactiva com
potencial aditivo
Acidente de Trabalho
1.O acidente de trabalho é um acontecimento que resulta portanto de um
factor profissional “determinante” para a sua ocorrência. As suas
diferenças essenciais do conceito de doença profissional, em que também
são determinantes os factores profissionais, são: o tempo de ocorrência
muito curto (no máximo alguns minutos); a fácil identificação do agente
causal (profissional) e a fácil identificação da lesão.
São considerados acidentes de trabalho os acidentes de viagem, de
transporte ou de circulação, nos quais os trabalhadores sofrem lesões e
que ocorrem por causa ou no decurso do trabalho, isto é, quando exercem
uma actividade económica, estão a trabalhar, ou realizam tarefas para o
empregador.
2.Todo o acontecimento inesperado e imprevisto, incluindo os actos de
violência, derivado do trabalho ou com ele relacionado, do qual resulta
uma lesão corporal, uma doença ou a morte, de um ou vários
trabalhadores.
3.Em termos legais é acidente de trabalho o sinistro, entendido como
acontecimento súbito e imprevisto, sofrido pelo trabalhador que se
verifique no local e no tempo de trabalho.
Considera‐se também acidente de trabalho o ocorrido: no trajecto de ida
para o local de trabalho ou de regresso deste, nos termos definidos em
legislação especial; na execução de serviços espontaneamente prestados
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
51
e de que possa resultar proveito económico para a entidade empregadora;
no local de trabalho, quando no exercício do direito de reunião ou de
actividade de representante dos trabalhadores, nos termos pelo Código;
no local de trabalho, quando em frequência de curso de formação
profissional ou, fora do local de trabalho, quando exista autorização
expressa da entidade empregadora para tal frequência; em actividade de
procura de emprego durante o crédito de horas para tal concedido por lei
aos trabalhadores com processo de cessação de contrato de trabalho em
curso; fora do local ou do tempo de trabalho, quando verificado na
execução de serviços determinados pela empregador ou por este
consentidos.
4.Um acidente que se verifique no local e tempo de trabalho e produza
directa ou indirectamente lesão corporal, perturbação funcional ou
doença de que resulte redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou
a morte.
O acidente de trabalho é um acontecimento que resulta portanto de um
factor profissional “determinante” para a sua ocorrência de aparecimento
“inesperado”, de que resulta “dano” ou, numa acepção mais ampla a
probabilidade de tal ocorrência (incidente ou “quase acidente”). A
denominação incidente também é por vezes aplicada à existência de
danos materiais.
Adicção
Processo patológico caracterizado pelo uso continuado de uma substância
psicoactiva específica, apesar do dano físico, psicológico ou social que
provoca.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
52
Ambiente Profissional
Tudo o que é exterior ao indivíduo no local de trabalho e que pode
influenciar, positiva ou negativamente, o seu estado de saúde.
Amostragem
Processo ou técnica que permite a obtenção de uma amostra de uma
população, de acordo com certos requisitos definidos a priori.
A amostragem pode ser probabilística (quando todos os elementos da
população têm uma probabilidade conhecida e superior a zero de integrar
a amostra) ou não‐probabilística (intencional, quando subordinada a
objectivos específicos ou não intencional, regida por critérios de
conveniência).
Aptidão para o trabalho
Capacidade de um trabalhador desempenhar um determinado trabalho.
O conceito de aptidão para o trabalho abrange o “impacto” da
incapacidade (impairment) nas exigências do trabalho (disability).
O conceito de aptidão para o trabalho está sempre associado a um
horizonte temporal.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
53
Bebida Alcoólica
Toda a bebida que, por fermentação, destilação ou adição, contenha um
título alcoométrico superior a 0,5L, segundo a Portaria 390/2002 de 11 de
Abril.
Cadeia de Custódia
É um procedimento que obedece a princípios rigorosos para assegurar a
preservação da integridade da amostra, para manter a confidencialidade
em todas as circunstâncias e garantir a validade dos resultados dos testes.
Envolve o registo administrativo de todos os passos no manuseamento e
armazenamento da amostra de urina desde a sua colheita até à sua
destruição.
Classificação Internacional das Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde (CID‐10)
Uma classificação de doenças é organizada por um sistema de categorias
às quais correspondem, segundo determinados critérios, entidades
mórbidas.
A 10ª revisão da Classificação Internacional das Doenças e Problemas
Relacionados com a Saúde é a última de uma série de edições, a primeira
das quais oficializada em 1893 com a denominação Classificação de
Bertillon ou Lista Internacional de causas de morte.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
54
Classificação Internacional de Funcionalidade (CIF)
Documento publicado pela OMS em 2001 que oferece um quadro
conceptual de referência para a classificação da funcionalidade e da
incapacidade humana.
Comissão de Trabalhadores
A comissão de trabalhadores (CT), cuja criação está prevista na
Constituição da República Portuguesa (art. 54º, n.º 2), como um direito
colectivo de participação na gestão da empresa, é um órgão
representativo dos trabalhadores de uma organização que se rege por
estatutos próprios aprovados pelos seus trabalhadores e que tem por
missão a defesa dos interesses dos trabalhadores que estão previstos na
lei.
Comportamento de Risco
Determinada forma de comportamento sobre a qual há já suficiente
evidência empírica (clínica e epidemiológica) de estar associada a uma
aumento da susceptibilidade a uma dada doença ou problema de saúde.
Na perspectiva mais tradicional da prevenção da doença, a mudança de
comportamentos de risco, a operar sobretudo através da educação para a
saúde, tende a ser vista como um importante objectivo. Na perspectiva
hoje mais integrada da promoção da saúde, o comportamento de risco
(v.g., fumar) é visto sobretudo como uma resposta ou como um
mecanismo para lidar com condições de vida e de trabalho adversas (v.g.,
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
55
stresse). A intervenção de saúde, nesse caso, não pode centrar‐se apenas
no indivíduo mas também no ambiente em que vive e em que trabalha.
Comportamento de Saúde
Qualquer actividade levada a cabo por um indivíduo, com o propósito de
promover, proteger ou manter a sua saúde.
Essa actividade pode ser independentemente do estado de saúde do
indivíduo ou das suas necessidades objectivas ou subjectivas de saúde. O
comportamento de saúde opõe‐se ao comportamento de risco. Além
disso, pode ser ou não ser efectivo no sentido de alcançar a promoção, a
protecção ou a manutenção da saúde.
Condições de Trabalho
Numa perspectiva mais propriamente sociológica, entende‐se por
condições de trabalho, tudo o que tem a ver com o trabalho em si (os
factores intrínsecos, associados ao conteúdo e à organização do trabalho);
e tudo o que gira à volta do trabalhador (os demais componentes
materiais e imateriais de trabalho ou factores extrínsecos), do ponto de
vista da sua incidência, não apenas negativa mas também positiva, na
saúde do trabalhador, a nível físico, psicológico, mental e social (1, 2).
Os componentes materiais do trabalho compreendem os locais ou
instalações, o ambiente físico, as ferramentas, as máquinas e os materiais,
incluindo as matérias‐primas usadas nos processos de fabrico, as
substâncias e agentes químicos, físicos e biológicos, os processos de
produção, a par da organização e tempo de trabalho… Em contrapartida,
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
56
os componentes imateriais são mais dificilmente objectiváveis e incidem,
no essencial, os factores psicossociais e organizacionais (por ex., cultura da
empresa, o clima organizacional, os processos de liderança, os estilos de
gestão dos conflitos, a comunicação, a dinâmica de grupo, as
representações simbólicas, as identidades profissionais). O seu
conhecimento é relevante para a avaliação da situação de trabalho (3).
Há também a definição mais propriamente jurídico‐normativa do
conceito: vd. art. 8º do Código do Trabalho. Nesta acepção, também se
incluem “a segurança, a higiene e a saúde no trabalho”.
Confidencialidade
Propriedade da informação em saúde: esta só pode ser conhecida pelas
pessoas e/ou organismos autorizados, além do próprio doente ou utente.
Em geral, é este que controla a distribuição desta informação (com
algumas raras excepções, como no caso de certas doenças sexualmente
transmissíveis).
Condição ética e profissional segundo a qual um prestador de cuidados de
saúde não pode revelar as informações do foro clínico. Em países como a
Itália e a Holanda, por exemplo, a utilização de um dado confidencial
implica sempre a autorização expressa do doente ou utente.
A confidencialidade da informação em saúde é particularmente sensível
no local de trabalho. O Código Internacional de Ética para os profissionais
de Saúde Ocupacional integra, nos três grandes princípios de ética a “…
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
57
protecção da confidencialidade dos dados de saúde e da privacidade do
trabalhador”.
Dano
Considera‐se dano a lesão corporal, perturbação funcional ou doença que
determine redução na capacidade de trabalho ou de ganho ou a morte do
trabalhador.
Dependência
Ver Padrões de Consumo
Determinantes de Saúde
Factores (pessoais, sociais, económicos, profissionais ou ambientais) que
produzem, causam, influenciam, condicionam ou explicam o estado de
saúde dos indivíduos ou das populações, incluindo a morbimortalidade.
Direito à intimidade da vida privada
Segundo o artº 16º do Código do Trabalho, tanto o empregador como o
trabalhador devem respeitar os direitos da contraparte, cabendo‐lhes
designadamente guardar reserva quanto à intimidade da vida privada.
Este direito abrange tanto o acesso como a divulgação de aspectos
atinentes à esfera da vida íntima e pessoal das partes (vd., vida familiar,
afectiva e sexual, estado de saúde, convicções políticas e religiosas).
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
58
Doença
Em língua inglesa, o termo doença é mais rido em termos semânticos e
conceptuais do que nas línguas latinas: por exemplo, disease (por oposição
a ease) significa algo que não está bem. Na perspectiva biomédica, a
doença (disease) é vista como um desvio da normalidade, seja no plano
genético, fisiológico ou psicológico. A doença é, pois, o outro extremo do
continuum health/disease. Trata‐se de algo que é objectivamente
observável e diagnosticável; é, além disso, susceptível de codificação
(veja‐se a CAE – Classificação Internacional das Doenças, em inglês,
Internacional Classification Diseases, da OMS).
Doença Agravada pelo Trabalho
É a situação em que a influência dos factores profissionais, não dizendo
respeito à génese da doença, incide apenas na sua evolução e no
correspondente resultado final.
Doença Ligada ao Trabalho
As situações patológicas em que os factores profissionais contribuem, de
alguma forma, para a etiologia, predisposição ou agravamento de doenças
ou lesões.
Eliminação
É uma das quatro grandes fases do ciclo toxicológico:
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
59
Absorção ‐ Distribuição – Biotransformação ‐ Eliminação
Empregador
Pessoa singular ou colectiva com um ou mais trabalhadores ao seu serviço
e responsabilidade pela empresa ou estabelecimento ou, quando se trate
de organismos sem fins lucrativos, que detenha competência para a
contratação de trabalhadores.
No caso de empregadores na Administração Pública, trata‐se do dirigente
máximo do serviço ou do organismo que tenha a competência própria
prevista na lei para gestão e administração do pessoal.
Empresa
Entidade económica que desenvolve uma determinada actividade, sendo
constituída por uma sede social e podendo ter um ou mais
estabelecimentos com localizações diversas.
A noção de estabelecimento remete, por sua vez, para uma unidade local
que, sob um único regime de propriedade ou de controlo, produz
exclusiva ou principalmente um grupo homogéneo de bens ou serviços,
num único local.
Exame de Saúde
Avaliação do estado de saúde individual, utilizando um ou mais métodos
(v.g., questionários; exame clínico; biomarcadores; exames
complementares;...) objectivando: identificar possíveis efeitos para a
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
60
saúde ou avaliar as consequências para a saúde da progressão de uma
doença ou de um factor de risco já conhecidos.
Avaliação do estado de saúde, objectivando: avaliar a capacidade
(aptidão) para o desempenho de determinada actividade profissional;
avaliar globalmente a situação de saúde; detectar precocemente
eventuais casos de doença profissional; detectar indivíduos
hipersusceptíveis e controlar a eficácia da prevenção técnica ambiental.
São os exames de saúde com vista a verificar a aptidão física e psíquica do
trabalhador para o exercício da sua profissão, bem como as implicações na
sua saúde do conteúdo, organização e demais condições de trabalho.
Sem prejuízo do disposto em legislação especial (por ex., trabalhadores
expostos a determinados substâncias perigosas como o chumbo ou o
cloreto de vinilo monómero), devem ser realizados os seguintes exames
de saúde: exame de admissão (v.g., antes do início da prestação de
trabalho ou, quando a urgência da admissão o justificar, nos 10 dias
seguintes); exames periódicos (v.g., anuais para os menores de 18 anos e
para os maiores de 50 anos e de dois em dois anos para os restantes
trabalhadores ou com a periodicidade que for estabelecida pelo médico
do trabalho); exames ocasionais (v.g., sempre que haja alterações
substanciais nos meios utilizados, no ambiente e na organização do
trabalho susceptíveis de repercussão nociva na saúde do trabalhador, bem
como no caso de regresso ao trabalho depois de uma ausência superior a
30 dias por motivo de acidente ou de doença, ou sempre que o médico do
trabalho achar oportuno e conveniente).
Factor de Risco (profissional)
Factor (profissional) susceptível de provocar um efeito adverso.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
61
Uma fonte de efeito adverso potencial ou uma situação capaz de causar
efeito adverso em termos de saúde, lesão, ambiente ou uma sua
combinação.
Factores (profissionais) de risco de natureza psico‐
social
Um grupo de peritos da Organização Mundial de Saúde (OMS) definiu‐os
como “aqueles que, influenciando a saúde e o bem‐estar do indivíduo e do
grupo, derivam da psicologia do indivíduo bem como da estrutura e
função da organização do trabalho”. E neles incluíam tanto características
sociais e culturais (por ex. padrões de interacção grupal) e culturais (por
ex. modelos tradicionais de liderança, de tomada de decisão e de
resolução de conflitos) como psicológicas (por ex. atitudes, valores,
representações, personalidade).
Graduação Alcoólica
Percentagem volumétrica de álcool puro numa bebida. Por exemplo, um
vinho de 10o significa que um litro dessa bebida contém 10% de álcool
puro.
Inaptidão para o Trabalho
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
62
É uma limitação do indivíduo, que o impede de desempenhar as funções
profissionais, em consequência de uma deficiência (“impairment”) ou de
uma incapacidade (“disability”).
Incapacidade para o trabalho
É a limitação substancial da vida activa das pessoas afectadas por uma
deficiência. É, por isso, uma consequência da deficiência.
Na perspectiva da incapacidade por lesão profissional, é a incapacidade da
pessoa com lesão (devida ao trabalho) para executar as tarefas habituais
correspondentes, no emprego ou porto de trabalho que ocupava no
momento em que sofreu o acidente de trabalho.
Local de Trabalho
Todo o lugar em que o trabalhador se encontra, ou donde ou para onde
deve dirigir‐se em virtude do seu trabalho, e em que esteja, directa ou
indirectamente, sujeito ao controlo do empregador.
Medicina do Trabalho
É o ramo da Medicina Preventiva cuja população‐alvo é constituída pelos
trabalhadores no exercício das respectivas actividades profissionais,
ocupando‐se especificamente das múltiplas repercussões do trabalho
sobre a saúde (e da saúde do trabalho).
Comité Misto OIT/OMS (1950) – A medicina do Trabalho objectiva a
promoção e a manutenção do bem‐estar físico, mental e social dos
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
63
trabalhadores em todas as profissões; a prevenção das doenças “ligadas”
ao trabalho; a protecção dos trabalhadores no seu trabalho contra os
riscos profissionais e a manutenção do trabalhador num ambiente de
trabalho adaptado às suas capacidades físicas e psicológicas. Resumindo, a
adaptação do trabalho ao homem e de cada homem ao seu trabalho.
É o ramo da medicina que objectiva a protecção e a promoção da saúde
dos trabalhadores nos seus locais de trabalho.
É a especialidade médica que tem por finalidade a protecção da saúde
contra os riscos profissionais.
MPE (Micro e Pequena Empresas)
Segundo um recente recomendações da Comissão Europeia, de 6 de Maio
de 2003, uma pequena é empresa é aquela que emprega menos de
cinquenta trabalhadores e o seu volume de negócios (e/ou balanço anual)
não excede os 40 milhões de euros.
Por seu turno, a microempresa é a que tem ao seu serviço menos de 10
trabalhadores e não podendo o seu volume de vendas (e/ou balanço
anual) ultrapassar os 2 milhões de euros).
Padrões de consumo
Existem essencialmente três tipos de padrões de consumo de substâncias
psicoactivas: consumo de risco, que corresponde a um tipo ou padrão de
consumo, mesmo que ocasional, que provoca dano se o consumo persistir
e que aumenta o risco de sofrer doenças, acidentes, lesões, transtornos
mentais ou de comportamento; O consumo nocivo que é definido como
um “padrão de consumo que provoca danos à saúde tanto física como
mental” mas que não preenche os critérios de dependência; A
dependência, que se reporta a um conjunto de fenómenos fisiológicos,
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
64
cognitivos e comportamentais que podem desenvolver‐se após repetido
uso da substância. Inclui um desejo intenso do consumo, descontrolo
sobre o seu uso, continuação dos consumos independentemente das
consequências, uma alta prioridade dada aos consumos em detrimento de
outras actividades e obrigações, aumento da tolerância e sintomas de
privação quando o consumo é descontinuado.
Prevenção da Doença
Um conjunto de medidas destinadas não só a prevenir a ocorrência da
doença, designadamente a eliminação ou a redução de factores de risco
(prevenção primordial e primária), mas também, uma vez estabelecida a
doença, a conter a sua evolução e reduzir as suas consequências
(prevenção secundária e terciária).
Acções com vista a: reduzir o impacto dos factores determinantes das
doenças ou dos problemas de saúde, evitar a sua ocorrência, conter a sua
progressão ou limitar as suas consequências. O termo prevenção utiliza‐se
para um leque muito vasto de medidas que podem, por exemplo, incluir a
intervenção do médico do trabalho, o controlo dos factores de risco
ambientais, a promulgação de medidas legislativas, a educação para a
saúde ou, por exemplo, a adopção de comportamentos saudáveis.
Prevenção de Recaída
Programa de psicoterapia e tratamento que se baseia na capacidade
individual da modificação de comportamentos adictivos. O objectivo
principal deste tipo de intervenção é dotar os indivíduos de competências
que lhes permitam identificar, antecipar e lidar com as pressões e os
problemas que podem levar a uma recaída.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
65
Problemas Ligados ao Álcool
Consequências nocivas do consumo do álcool que abrangem não só o
consumidor mas também a família e a comunidade. As perturbações
podem ser físicas, mentais ou sociais e resultam de episódios agudos ou
de um consumo inoportuno ou prolongado.
Produtividade do Trabalho
Resulta da comparação entre uma dada produção (por ex. número de
automóveis montados numa fábrica) e a quantidade de trabalho utilizada
nessa produção (por ex. número de trabalhadores), num dado período de
tempo.
Na acepção que lhe é dada no balanço Social (Dec. Lei nº. 141/85 de 14 de
Novembro; Dec. Lei 9/92 de 22 de Janeiro), a produtividade do Trabalho é
um indicador sociolaboral que se calcula divindo o Valor Acrescentado
Bruto (VAB) da empresa pelo número médio de trabalhadores.
Programas de Assistência a Trabalhadores
São uma forma de enquadramento, criada (opcionalmente) por algumas
organizações, para abordar a dimensão psicossocial da saúde dos
trabalhadores. Consistem num conjunto de linhas de intervenção que
prevêem o apoio a trabalhadores e, frequentemente, às suas famílias, com
problemas que afectam ou podem vir a afectar o seu desempenho
profissional.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
66
Promoção da Saúde
Segundo a consagrada definição de um grupo de trabalho da OMS (1984)
e da Carta de Otava (1986); é o processo dos indivíduos e das
comunidades terem a capacidade de aumentar o controlo sobre os
determinantes da saúde e, dessa forma, melhorar a saúde (individual e
comunitária) (em inglês, “the processo of enabling people to increse
controlo ver, and to improve their health”).
É a ciência e a arte de ajudar os indivíduos e os grupos a alterarem o seu
estilo de vida com vista a alcançar um estado de saúde óptimo, ou seja,
um equilíbrio da saúde física, emocional, social, espiritual e intelectual. A
mudança do estilo de vida pode ser facilitada, através da combinação de
esforços para aumentar a consciencialização, alterar comportamentos e
criar ambientes que favoreçam práticas de boa saúde.
É a ciência e a arte de ajudar as pessoas a mudar os seus estilos de vida
para obter uma saúde óptima.
Rastreio
É o processo pelo qual doenças ou alterações não conhecidos do estado
de saúde são identificadas por testes que podem ser aplicadas
rapidamente e em larga escala.
É o conjunto de exames e testes que se faz numa população
aparentemente sadia para descobrir doenças latentes ou numa fase
precoce.
É um processo de detecção de doenças assintomáticas, de anomalias ou
factores de risco através da realização de teste simples, exames ou outros
procedimentos, de aplicação rápida e em grande escala. O rastreio detecta
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
67
pessoas aparentemente saudáveis que podem ter a doença ou o factor de
risco.
Recolocação Profissional
Em saúde e segurança do trabalho o termo recolocação refere‐se, no
essencial, à mudança (temporária ou definitiva) de posto de trabalho, na
mesma profissão ou categoria profissional)
Reconversão Profissional
Atribuição de formação para qualificação diferente da que o trabalhador
possui, com vista a exercer uma nova actividade profissional.
Reinserção
Processo que se inicia no primeiro contacto, com o pedido de ajuda, e
mantêm‐se até ao momento em que o indivíduo readquire autonomia e
estabilidade e integra como cidadão de plenos direitos a sociedade em
que vive.
Do ponto de vista técnico a reinserção actua a dois níveis: na
reparametrização das rotinas quotidianas dos consumidores e,
concomitantemente, nos sistemas sociais, de forma a enquadrar, dar
consistência e sequência às mudanças operadas nos indivíduos.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
68
Concomitantemente ao objectivo primordial de criar condições para a
empregabilidade, a reinserção inclui também diversos objectivos de
percurso, como o acesso a condições de vida condignas, a escolaridade e a
formação profissional, o acesso à saúde, o enquadramento da ocupação
do tempo, entre outros, constituem dimensões fundamentais num
processo que garante os direitos fundamentais da pessoa e respeita o
princípio humanista e da centralidade no cidadão.
Representantes dos Trabalhadores
Trabalhador eleito para exercer funções de representante dos
trabalhadores nos diferentes domínios.
Representante dos trabalhadores para a segurança e
saúde no trabalho
Trabalhador eleito nos termos da lei para exercer funções de
representação dos trabalhadores nos domínios da segurança e saúde no
trabalho.
Não é um técnico de SST, mas um trabalhador devidamente legitimado
pelo processo eleitoral, mandatado por um período de 3 anos para exigir e
defender os direitos dos trabalhadores no que se refere à segurança e
saúde no trabalho.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
69
Risco (Profissional)
Probabilidade de ocorrência de um efeito adverso.
Probabilidade de lesão potencial nas condições de utilização ou de
exposição e a amplitude eventual da lesão.
Combinação da probabilidade e da(s) consequência(s) da ocorrência de
um determinado acontecimento perigoso.
Probabilidade de ocorrer um efeito, por exemplo, uma doença ou a morte
num determinado intervalo de tempo.
Saúde
Tal como vem definida na Constituição da OMS de 1984, a saúde é “um
estado de completo bem‐estar físico, mental e social, e não apenas a
ausência de doença ou enfermidade”. No contexto da protecção e da
promoção da saúde, deve se considerada não como um estado abstracto
mas como um estado abstracto mas como um meio para atingir um fim.
Em termos funcionais pode‐se dizer que é um recurso que permite às
pessoas levar uma vida individual, social e economicamente activa e
produtiva.
Saúde Ocupacional
Segundo o Comité Misto OIT/OMS (1950), a Saúde Ocupacional deve
orientar‐se para a promoção e a manutenção do maior bem‐estar físico e
social dos trabalhadores de todas as profissões, independentemente da
sua situação no emprego (trabalhadores por conta de outrem,
trabalhadores por conta própria, ou familiares não remunerados); para a
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
70
prevenção da doença relacionada com as condições de trabalho; a
protecção dos trabalhadores dos riscos profissionais; a colocação e
manutenção dos trabalhadores num ambiente de trabalho adaptado às
suas capacidades físicas e psicológicas. Resumindo, a Saúde Ocupacional
visa a adaptação do trabalho ao homem e do homem ao seu trabalho.
Manutenção, protecção e promoção da saúde dos trabalhadores no seu
local de trabalho.
A Saúde Ocupacional centra‐se principalmente em três objectivos:
A promoção da saúde e a manutenção da capacidade de trabalho dos
trabalhadores;
A melhoria do conteúdo, da organização e das demais condições de
trabalho de modo a favorecerem a saúde e a segurança dos trabalhadores
e o desenvolvimento de sistemas técnicos e organizacionais de trabalho
que, além de favorecedores da saúde e da segurança dos trabalhadores,
promovam um bom clima social de trabalho a par da melhoria da
produtividade, qualidade e competitividade da empresa.
Na 12ª Sessão do Comité Misto OMS/OIT (1994) o conceito de Saúde
Ocupacional foi revisto dando ênfase à manutenção de um ambiente de
trabalho são e seguro, aos aspectos não sé da protecção da saúde mas
também a acções tendentes a manter a capacidade de trabalho e à
necessidade da participação dos trabalhadores na gestão desses
objectivos.
A nível europeu o objectivo da Saúde Ocupacional (que aparece
actualmente com a denominação Saúde e Segurança do Trabalho –
“Occupational Safety and Health”) é fixado da seguinte forma: Cada
trabalhador deve beneficiar, no seu ambiente de trabalho de condições de
saúde e segurança satisfatórias.
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
71
Segurança e Saúde do Trabalho
Conjunto das intervenções (médicas, de engenharia ou outras) que
objectivam a prevenção dos ricos profissionais e a promoção da saúde dos
trabalhadores.
Substâncias psicoactivas
São aquelas que, quando ingeridas, bebidas, injectadas, fumadas, inaladas,
afectam o sistema nervoso central.
Substâncias psicoactivas de consumo recreativo
Segundo o léxico da OMS, as substâncias psicoactivas que não são
administradas em contexto terapêutico, são consideradas como tendo
uma função recreativa.
Trabalhador
Pessoa singular que, mediante retribuição se obriga a prestar um serviço a
um empregador e bem assim, o tirocinante, o estagiário e o aprendiz que
estejam na dependência económica do empregador em razão dos meios
de trabalho e do resultado da sua actividade.
Trabalhador por Conta de Outrem
SEGURANÇA E SAÚDE DO TRABALHO E A PREVENÇÃO DO CONSUMO DE SUBSTÂNCIAS PSICOACTIVAS:LINHAS ORIENTADORAS PARA INTERVENÇÃO
EM MEIO LABORAL
_________________________________________________________________________
72
O indivíduo que exerce a sua profissão dependente de outro e na base de
um contrato de trabalho, e recebe um remuneração em dinheiro ou em
géneros.
Trabalhador por Conta Própria
Indivíduo que exerce uma actividade independente, isolado ou com um ou
vários associados, obtendo uma remuneração que está directamente
dependente dos lucros (realizados ou potenciais provenientes de bens ou
serviços produzidos e que, habitualmente não contrata trabalhador(es)
por conta de outrem para com ele trabalhar(em) Os associados podem
ser, ou não, membros do agregado familiar.
Unidade de Bebida Padrão
Quantidade de bebida alcoólica, que corresponde geralmente à
capacidade de um copo, que contém aproximadamente a mesma
quantidade de etanol, independentemente da bebida.