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DOCUMENTO SÍNTESE
Ix Seminário de Feiras Livrese Políticas Públicas do Vale do Jequitinhonha 19 de outubro de 2017 - Jequitinhonha - MG
Realização: Apoio:
Prefeitura Municipal de Jequitinhonha
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Jequitinhonha
CMDRS(Jequitinhonha)
ASFEJEAssociação dos AgricultoresFeirantes de Jequitinhonha
Feira Livre é uma das instituições mais sólidas de Minas Gerais, principalmente no norte, nordeste e noroeste do Estado.
Ela faz parte da economia e da cultura dessas regiões: abastece as cidades pequenas e distantes das rotas de distribuição de alimentos,
escoa a produção dos lavradores, aquece o comércio urbano com as compras dos feirantes.
Nas madrugadas dos sábados eles levam à feira suas frutas de estação e verduras - que, no longo “tempo-da-seca”, parecem ser milagres renovados - ,
as variedades de farinhas, “gomas” ou polvilhos e rapaduras saídas das prensas, engenhos e fornos da indústria doméstica rural;
levam a algazarra dos frangos vivos e dos leitões, e lá sempre estão as cozinheiras, as doceiras e o “homem-da-cobra”
- que tem remédio para todos os males do corpo, menos para “dor-de-cotovelo”.
Em todos os municípios do vale do Jequitinhonha mineiro existem feiras. Aos sábados, os feirantes amanhecem na cidade carregando a produção da semana.
Vão vender, comprar, barganhar e participar do grande evento social que é a feira livre. Nela a oferta é variada: no “tempo-das-águas” os lavradores vendem mantimentos saídos da lavoura,
como milho e feijão verdes, ou produto das criações, como leite fresco, queijo, requeijão e doce de leite, e, principalmente, os frutos da coleta
- pequi, jatobá, panã, jaca, marolo, cagaita, coquinho-azedo, mangaba, coco-sapucaia, que aparecem nas praças de mercado de novembro a fevereiro.
Começa o “tempo-da-seca” e a oferta muda, e aparecem os produtos com valor agregado processados no sítio, como as farinhas, cachaças e doces; mas, principalmente,
é a época dos produtos das hortas, que exigem muito trabalho, enchem os cestos dos feirantes e os olhos dos fregueses.
Mesmo sendo tão constantes e barulhentas, as feiras são diluídas na paisagem local, fazem um movimento de comércio que costuma ser considerado insignificante e,
como atendem a um público muito localizado e geram um movimento que “soverte” na economia informal, raramente se tornam assunto para programas de geração de renda ou desenvolvimento rural.
Trecho do livro organizado por Eduardo Magalhães Ribeiro:
Feiras do Jequitinhonha: Mercados, Cultura e Trabalho de Famílias Rurais no Semiárido de Minas Gerais.
UFLA, 2007
Agradecemos ao município de Jequitinhonha por acolher a nona edição deste espaço de construção coletiva em prol do fortalecimento das feiras livres
do Vale do Jequitinhonha. Nosso muito obrigado a cada participante, organização parceira e colaborador (a) que acreditou nesta causa e
contribuiu para o sucesso do evento.
Além dos apoiadores já citados, estendemos nossos agradecimentos a outros parceiros locais pela colaboração estratégica:
Ao CVT (Centro Vocacional Tecnológico); ao Grupo Renascer; e
à Sra. Lucineide Helena de Paiva.
A organizaçãoJaneiro/2018
Este seminário faz parte do Programa de Apoio às Feiras Livres do Vale do
Jequitinhonha, um trabalho pioneiro iniciado no ano 2000, a partir da parceria do Centro
de Agricultura Alternativa Vicente Nica (CAV) com o Núcleo de Pesquisa e Apoio à
Agricultura Familiar Justino Obers (Núcleo PPJ).
Ainda nesta época foram iniciadas as pesquisas em feiras livres do Vale, sendo a
primeira realizada no município de Turmalina, Alto Jequitinhonha. A partir da
identificação das potencialidades e dos desafios daquele empreendimento, os
resultados foram debatidos e divulgados. Em parceria com os agricultores (as) feirantes
nasceu uma proposta de trabalho e novas pesquisas foram realizadas em feiras livres
da região. Com o apoio de organizações locais, nacionais e internacionais este trabalho
se consolidou em um programa de ação, desenvolvido pelo CAV, que já alcançou
resultados efetivos, sobretudo nos municípios do Alto Jequitinhonha.
O Seminário de Feiras Livres e Políticas Públicas do Vale do Jequitinhonha é uma das
ações deste programa, que nasceu a partir da necessidade de fortalecer o debate e a
construção de políticas em prol das feiras livres municipais, assim como promover a
atuação conjunta da sociedade civil e poder público. A cada ano a proposta agrega
novos parceiros, como é o caso da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário
de Minas Gerais (SEDA), que tem contribuído para fortalecer este debate em nível
estadual.
A primeira e a segunda edições deste seminário foram realizadas município de
Turmalina, com início no ano de . Com o avanço do programa de apoio às feiras 2005
livres, o evento começou a ser realizado de modo itinerante. Dessa forma, já percorreu
nos municípios de Veredinha, Chapada do Norte, Berilo, Minas Novas, Araçuaí e sua
nona edição foi realizada no município de Jequitinhonha, no dia 19 de outubro de 2017,
no auditório da Prefeitura Municipal.
A cada ano o seminário tem um foco central de debate. Em 2017 buscou-se construir
proposições que subsidiem a criação de leis, normas e políticas públicas municipais de
fomento às feiras livres. Esta nona edição contou com participantes advindos de 20
municípios do Vale e de outras regiões de Minas Gerais (ver anexo 01). Foram cerca de
150 participantes, dentre eles agricultores (as) familiares, sociedade civil organizada,
acadêmicos e poder público em nível municipal e estadual. Esta diversidade de público
e representações contribuiu significativamente para qualificar o debate e a troca de
experiências.
Este documento é uma síntese da metodologia, discussão e encaminhamentos deste
nono seminário, sendo construído com o objetivo de dar subsídio à continuidade da
discussão nos diferentes seguimentos da sociedade. 02
A INICIATIVA
A ABERTURA
O seminário foi iniciado com uma feira livre de
produtos da agricultura familiar
A acolhida dos participantes foi feita através de
uma mesa de abertura composta pelos
seguintes representantes:
Prefeito Municipal de Jequitinhonha, o Sr. Roberto
Alcântara Botelho
Vou erguer a minha voz Nos quatro cantos deste chão
Convocando nossa gente Para um grande mutirão
Venham meninos e meninasVenham senhoras e senhores
As moças e os rapazesTodas as raças e cores
Neste grande mutirão Ninguém vai car de fora
Vamos mostrar os valores Que engrandecem
nossa história (...)
Vamos juntos defender O mais sagrado que há
Nossa vida, nosso sangue A cultura popular
Poema “Arte em mutirão”Livro “Entre a Arte e a Peleja”
De Gilmar Souza
03
Presidente da Cáritas Diocesana de
Almenara, o Sr. Adão Pereira dos Santos
Representante da Empresa de Assistência técnica e
Extensão Rural de Minas Gerais (EMATER), a Sra.
Dilmaria Gonçalves de Jesus
Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais
de Jequitinhonha, o Sr. Renan Fernandes
Presidente do Conselho de Desenvolvimento Rural
Sustentável de Jequitinhonha, o Sr. Gilberto
Rodrigues dos Santos
Presidente da Associação dos Agricultores
Feirantes de Jequitinhonha (ASFEJE), o Sr.
Manoel Messias Neves da Silva
Representante do Instituto Federal do Norte de
Minas Gerais (Campus Almenara) e do Núcleo de
Pequisa e Apoio à Agricultura Familiar Justino
Obers (Núcleo PPJ), o Sr. Eduardo Charles
Barbosa Ayres
A agricultora familiar do médio Jequitinhonha e
representante do ITAVALE (Instituto dos
Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura do
Vale do Jequitinhonha), Sra. Evina Teixeira.
O artista Willer Lemos, do município de Minas
Novas, também enriqueceu a abertura com a
música popular.
TROCANDO EXPERIÊNCIAS
Foi apresentado o resultado da pesquisa
sobre as feiras livres do Baixo
Jequitinhonha realizada através da
parceria entre Instituto Federal do Norte de
Minas Gerais (IFNMG) e Núcleo de
Pesquisa e apoio à Agricultura Familiar
Justino Obers (Núcleo PPJ).
Três iniciativas de apoio às feiras livres
foram apresentadas e debatidas em
plenária, sendo elas:
A associação dos Agricultores Feirantes de
Jequitinhonha (ASFEJE)
A parceria entre o poder público de Minas
Novas e a Associação Municipal dos
Agricultores Familiares Feirantes (AFeM)
Centro de Agricultura Alternativa Vicente
Nica (CAV)
Ao final das apresentações foi realizado
um debate com participação da plenária
04
TRABALHO EM GRUPOS
No momento seguinte os participantes do seminário foram divididos em 05 grupos para debater duas questões principais:
01) O que é necessário fazer nos nossos municípios para garantir a continuidade e a qualidade das feiras livres?
02) Quais leis, normas e políticas públicas o legislativo e o poder público municipal podem criar para garantir as feiras livres?
05
03 grupos de debate formados por agricultores (as) familiares e suas organizações
01 grupo composto principalmente por técnicos (as) e acadêmicos (as)
01 grupo formado pelos representantes do poder público
Posteriormente, os grupos apresentaram para a plenária os principais pontos
discutidos e as propostas de encaminhamento.
MESA DE DEBATE FINAL
O seminário foi
encerrado com uma
homenagem ao Sr. Adão
Pereira dos Santos pelos
muitos anos dedicados à
agricultura familiar e à
luta pelos direitos sociais
do povo do Vale do
Jequitinhonha.
Assessora de Planejamento da Secretaria de Estado de
Desenvolvimento Agrário, a Sra. Natália Caroline de
Souza.
O moderador do debate, o Sr. Eduardo Charles;
Representante da Cáritas Brasileira Regional Minas
Gerais e do Conselho Estadual de Economia Solidária,
o Sr. Samuel da Silva;
Sócio fundador do Centro de Agricultura Alternativa
Vicente Nica (CAV), o Sr. Boaventura Soares;
No momento final do evento foi formada uma mesa de
debate composta por atores da sociedade civil e do
poder público. A partir dos subsídios trazidos pelos
grupos, a mesa teve como tema Política de Fomento às
Feiras Livres no Vale do Jequitinhonha, sendo composta,
respectivamente pelo (a):
06
07
DISCUSSÕES E ENCAMINHAMENTOS
A partir dos trabalhos em grupos e da mesa de debate do seminário, os participantes construíram propostas para o fortalecimento das feiras livres do Vale do Jequitinhonha. Estas propostas foram sistematizadas a partir de cada pergunta geradora, como descrito a seguir:
1) O que é necessário fazer em nossos municípios para garantir a continuidade e a qualidade das feiras livres?
Garantir mais acesso à água nas comunidades rurais;
Criar programas de extensão rural para viabilizar assistência técnica de qualidade aos agricultores (as) voltada para a produção agroecológica e orgânica;
Incentivar e promover a troca de experiências entre agricultores (as) para fins de fomentar o planejamento produtivo dos feirantes e a diversidade de produtos ofertados;
Aproveitar as Universidades como forma de potencializar as ações voltadas à assistência técnica e extensão rural;
Promover a criação de bancos de sementes crioulas nos municípios e incentivos para que os agricultores (as) produzam suas próprias sementes;
Investir na organização e na ampliação das associações municipais de feirantes;
Equipar de forma adequada os feirantes (estrutura física, bancas, forros, cestos, etc.);
Garantir que o agricultor (a) tenha acesso ao espaço da feira, investindo principalmente em transporte seguro, regular e de qualidade, tanto para os feirantes quanto para os produtos;
Estimular a relação entre o agricultor (a) familiar, o comércio local e os consumidores;
Investir na divulgação das feiras livres para a população em geral, sendo citada as rádios comunitárias como um importante instrumento;
Criar estratégias para que o agricultor (a) tenha maior acesso aos serviços burocráticos ligados à comercialização dos produtos, como por exemplo as notas fiscais eletrônicas;
Melhorar a organização logística das feiras, como na montagem de barracas;
Promover organização suficiente a fim de eliminar ou minimizar a ação dos “atravessadores”;
Conscientizar os consumidores para que frequentem as feiras e consumam produtos daagricultura familiar.
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2) Quais leis, normas e políticas públicas o legislativo e o poder público podem criar para garantir as feiras livres?
Criação de leis municipais que disponham sobre o funcionamento e a utilização dos espaços das feiras livres (exemplo do município de Minas Novas);
Aumentar o diálogo entre poder público e feirantes para fins de diagnosticar problemas e encontrar soluções de acordo com a realidade de cada município;
Atuação mais presente das Secretarias Municipais de Agricultura no fomento às feiras livres;
Buscar meios de que os agricultores familiares locais tenham prioridade de venda, como por exemplo criar taxas (impostos) para produtores de fora do município e fiscalização regular no espaço das feiras;
Criação de “Vale-Feira” para funcionários públicos e/ou populações de baixa renda;
Criar regulamentação sobre a segurança e higiene do espaço de comercialização, de forma a aprimorar a questão sanitária;
Investir na promoção de diálogo entre gestores públicos dos diferentes municípios para troca de experiências e debate sobre políticas de fortalecimento das feiras livres;
Estabelecer nos orçamentos do município e do estado recursos específicos para garantir a produção agrícola, assim como a continuidade e o fortalecimento das feiras livres, principalmente em relação à assistência técnica, infraestrutura e transporte;
Criação de setoriais para discussão das feiras nos instrumentos orçamentários (Plano Plurianual, Lei Orçamentária Anual e Lei de Diretrizes Orçamentárias) dos municípios.
ANEXO 1 RELAÇÃO DOS MUNICÍPIOS REPRESENTADOS NO SEMINÁRIO
(em ordem alfabética)
Feira livre é saúde, cultura
e riqueza.Valorize
a feira livre de seu
município.
01 - Almenara
02 - Bandeira
03 - Belo Horizonte 04 - Berilo
05 - Carbonita
06 - Chapada do Norte
07 - Curral de Dentro
08 - Itaobim
09 - Januária
10 - Jequitinhonha
11 - Jordania
12 - Leme do Prado
13 - Mata Verde
14 - Medina
15 - Minas Novas
16 - Montes Claros
17 - Ponto dos Volantes
18 - Recife
19 - Rio do Prado
20 - Rubim
21 - Salto da Divisa
22 - Santo Antônio do Jacinto
23 - Turmalina
24 - Veredinha