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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
FAMÍLIAS MONOPARENTAIS
Por: Débora Luciane da Silva de Aguiar
Orientador
Prof. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2015
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
FAMÍLIAS MONOPARENTAIS
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Terapia de Família
Por: Débora Luciane da Silva de Aguiar.
3
AGRADECIMENTO.
• Agradeço em primeiro lugar a Deus, porque sem Ele não teria
conseguido chegar até aqui. Sempre me abençoando e me concedendo
sabedoria para enfrentar minhas dificuldades;
• Ao meu marido Elias, pelo carinho, apoio e paciência nesse tempo em
que não me deixou desistir quando encontrava alguma dificuldade;
• Ao meu amado filho Pedro, pela compreensão e apoio na minha
ausência;
• A minha mãe (in memória) que sempre me motivou aos estudos;
• Ao meu pai, irmãos e sobrinhos pelo apoio nesse tempo em que estive
ausente algumas vezes;
• Aos meus amigos que sempre me motivaram a continuar quando
pensava em desistir;
4
DEDICATÓRIA
Dedico esse trabalho à Deus por que até
aqui tem me ajudado. A Ele toda Honra e
Glória!
5
RESUMO
Este trabalho propõe estudar as transformações da família, tendo como
objetivo as famílias monoparentais na sociedade contemporânea, onde
diversas vezes mulheres são chefes de família. A família monoparental em sua
maioria é chefiada por mulheres, que se veem no duplo papel de pai e mãe.
Levando em consideração o Censo do IBGE (2010) houve um aumento nos
lares que possuem mulheres como responsáveis por manter o sustento dos
membros da família. A monoparentlidade está relacionada a diversos fatores
como: viuvez, divorcio, celibato, as mães solteiras, entre outros. Não sendo um
estado fixo, pode modificar-se a partir das novas relações a serem vivenciadas
por essas mulheres. O texto apresenta alguns dados sobre a
monoparentalidade, as transformações da família e como a legislação trata
esse fenômeno.
6
METODOLOGIA
A metodologia adotada para a coleta de dados é de fonte secundária,
sendo uma pesquisa bibliográfica, com dados obtidos através de textos e
fontes que me forneceram embasamento teórico. Quanto á abordagem é uma
pesquisa qualitativa e quanto ao nível da pesquisa, à utilizada é a pura.
Referente aos objetivos descrevi sobre o que se reflete a monoparentalidade.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - A FAMÍLIA 10
1.1 – O conceito de família
1.2 - Estruturas familiares desde a antiguidade até os dias atuais. 13
CAPÍTULO II - OS DIREITOS DA FAMÍLIA 19
2.1 – Como a família é vista na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil
2.2 – Família e marco legal ECA, LOAS, PNAS 22
CAPÍTULO III – MONOPARENTALIDADE 29
3.1 – Definição de monoparentalidade e as principais causas que provocam a
monoparentalidade
3.2 – Dificuldades das mulheres em situação de monoparentalidade 34
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41
ÍNDICE 48
FOLHA DE AVALIAÇÃO 49
8
INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso desenvolve um estudo
sobre a monoparentalidade, expondo causas e diversas dificuldades sofridas
por essa família, principalmente para aquelas em situação de pobreza.
Podemos constatar que na sociedade moderna temos diversos elementos que
constituíram para o surgimento do modelo de família monoparental. Diante os
mais comuns estão à viuvez, divórcio, celibato, mães solteiras, etc.
Ao longo da história a família passou por diversas transformações, e
nos últimos anos ocorreram várias mudanças no plano social, político e
econômico que interferiram na estrutura familiar e mudaram o seu padrão de
organização.
Na sociedade contemporânea a situação da mulher responsável por
sua família tem uma dupla dimensão, já que a maioria representa os dois
papéis com a ausência do companheiro, que acabam se afastando, não dando
apoio financeiro e nem afetivo aos filhos.
Com base nas leituras, percebi que a família monoparental atinge
diferentes patamares na sociedade. Por isso, resolvi estudar os direitos
voltados para estas famílias, principalmente as chefiadas por mulheres, que
compreende a grande maioria. Onde, a mesma passou a ter um lugar de
destaque na família, deixando de ser a reprodutora e passando a ser
responsável por sua prole e sustento do lar.
Tenho como objetivo conhecer o estudo sobre as famílias
monoparentais. Como objetivos específicos: apresentar várias definições de
família e suas diferentes estruturas; estudar os direitos a essa famílias;
conhecer as dificuldades sofridas por essas famílias em seu cotidiano,
pesquisando autores que discutam essa demanda.
O caminho metodológico desse trabalho é uma pesquisa bibliográfica
com dados obtidos através de textos e fontes que me forneceram
embasamento teórico. O tema escolhido é de grande importância, pois
passamos a conhecer a família monoparental que vem crescendo no decorrer
dos anos.
9
Com base nisso, este trabalho se encontra estruturado em três
capítulos: o primeiro intitulado Família aborda o conceito de família e as
transformações familiares.
No segundo capítulo intitulado Os direitos da família, apresentará os
aparatos jurídicos que auxiliam as famílias.
Já no terceiro capítulo intitulado Monoparentalidade, apresentará a
monoparentalidade no seu aspecto de definição e as principais causas e
dificuldades sofridas por mulheres que chefiam seus lares.
10
CAPÍTULO I - A FAMÍLIA
O presente capítulo abordará o conceito de família e suas
transformações, com mudanças significativas em todo segmento da população
brasileira. Apresentará as mudanças nas estruturas familiares desde a
antiguidade até a família moderna. Mostrando que a família é à base de
referência para o indivíduo e para a construção de identidades de seus
membros, onde assim se constituí os valores.
1.1 - O conceito de família.
Definir o conceito família não é algo fácil, pois existem diversos tipos
de famílias e a concepção que cada uma delas precisa e deve ser respeitada.
Portanto, não se pode afirmar se uma família é certa ou errada, no entanto, se
faz necessário entender que cada núcleo familiar é único dentro da sociedade,
ou seja, a família é vista como um grupo de pessoas de mesmo “sangue” ou
unidas legalmente (como no casamento e na adoção), ou a família pode ser
compreendida como uma instituição normalizada por uma série de
regulamentos, de filiação e alianças aceitos por seus membros,
No dicionário Michaelis (1998), podemos achar essas definições:
fa.mí.lia sf (lat família)
1- Conjunto de pessoas em geral ligadas por laços de parentescos, que
vivem sob o mesmo teto, particularmente o pai, a mãe e os filhos;
2- Conjunto de ascendentes;
3- Pessoas do mesmo sangue ou não ligadas entre si por casamento,
filiação ou mesmo adoção;
4- Grupos de pessoas unidas por convicções, interesses ou origens
comuns.
A palavra família foi utilizada a primeira vez por volta de 1337, termo
derivado do latim “famulus”, que serviu para designar na Roma Antiga,
escravos que viviam sob o mesmo teto.
11
A família são as pessoas importantes em nossa vida, cuja função é
estruturar a base da nossa personalidade. Uma instituição tão antiga, que
garantiu sua própria existência por atender às necessidades mais básicas da
vida humana: alimento, segurança e afeto, pois sem essas coisas o homem
não conseguiria viver, com a fragilidade que nasce. .
Para a maioria das pessoas a concepção de família está relacionada à
ideia de casamento e amor, sendo um modelo ideal de instituição universal e
histórica (SANTANA, 2010).
De acordo com Nascimento (2006), a instituição familiar é um conjunto
de pessoas que se estruturam em laços afetivos, residindo no mesmo lar ou
não. Suas classificações vão desde as famílias clássicas, nuclear, extensa e
composta, ainda as mais modernas que transformaram o âmbito familiar.
Segundo o autor, essa instituição sofre transformações desde sua origem.
No passado os padrões de família era o conjugal, essa era formada por
casais, alianças e filhos, sendo estes basicamente do mesmo casal. A autora
Bruchini (1989), citada por Nascimento (2006), entende família como um grupo
de indivíduos ligados por elos de sangue, de adoção ou de aliança socialmente
reconhecidos e organizados em núcleos de reprodução social.
Para Szymanski (2002), a família vai além de laços sanguíneos, e sim
uma associação de pessoas que escolhem viver razões afetivas e cuidados
mútuos. Sendo assim, segundo a autora, a família contemporânea cria novas
articulações no arranjo familiar. Portanto, a família hoje não tem como definir.
São laços com pessoas sem ser sanguíneos e só afetivos.
Já Gueiros (2010), diz que a noção de família remete a relacionamento
entre pessoas, que não necessariamente compartilham o mesmo domicílio e
os mesmo laços de parentesco.
Segundo Mioto (1997), ao definir família, ultrapassa conceitos
anteriores. Entende-se como fato cultural, historicamente condicionado que
não se constitui, a priori, como lugar de felicidade. Diante dessa abordagem a
autora aponta que A família pode se construir no decorrer de sua vida, ou em,
alguns momentos dela, tanto num espaço de felicidades como infelicidade.
12
Tanto num espaço de desenvolvimento pra si e seus membros, como num
espaço de limitações e sofrimentos. (MIOTO, 1997:117)
As trocas afetivas na família imprimem marcas que as pessoas
carregam na vida toda, definindo direções no modo de ser com os outros
afetivamente e no modo de agir com as pessoas. Que para Mioto (1997), é
através do convívio que seus membros constroem laços afetivos. E na
conjuntura familiar que se expressam os sentimentos (amor, ódio, inveja,
gratidão), que a criança aprende a reconhecer-se como única identidade e
como parte do grupo. Então, a família está presente em toda sociedade e é um
dos primeiros ambientes de socialização do individuo.
A família é à base de referência para os indivíduos, é a construção da
identidade de seus membros, e onde constituímos nossos valores, ou seja, a
função social está atribuída na família. Afirma Carvalho (2002), que a maior
expectativa é que ela produza cuidados, proteção, aprendizados dos afetos,
construção de identidades e vínculos relacionais e pertencimentos de
promover melhor qualidade de vida a seus membros.
Conforme Nascimento (2006), a família tem como objetivo proteger e
desenvolver bem-estar aos seus membros e transmitir valores. Ainda segundo
o autor, muitas vezes é nela que encontramos proteção. É na família que os
indivíduos se relacionam e trocam experiências, visto que ela é ao mesmo
tempo, um espaço de conflito cooperativo e um espaço determinante de bem-
estar, passando por muitas vezes a refletir diretamente dúvidas, aspirações e
questões pessoais.
De acordo com Mioto (1997), a família brasileira a partir dos 90,
apresenta mudanças significativas em todos os segmentos da população,
mudanças essas decorrentes do processo de modernização da sociedade na
segunda metade do século XX. A autora apresenta dados da PNAD (Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios – IBGE), quanto à configuração da família
nos anos 90: número reduzido de filhos; concentração de vida reprodutiva das
mulheres nas idades mais jovens; aumento da concepção em idade precoce;
aumento da co-habitação e da união consensual; predomínio das famílias
13
nucleares (pai, mãe, filhos); aumento significativo das famílias monoparentais ,
com predominância das mulheres chefes como chefe de casa.
Num mundo de mudanças, certos padrões que regiam a estrutura
familiar precisam ser modificados para atender às novas exigências.
Essas mudanças que correm afetam a dinâmica familiar como um todo
e, de forma particular, cada família conforme sua composição, história e
pertencimento social (SZYMANSKY, 2002).
Existem tipos de composição familiar que podem ser considerados
“família”, como ressalta Szymansky (2002): Família Nuclear – 2 gerações com
filhos biológicos; Família Extensa – 3 ou 4 gerações; Família Adotiva
Temporária; Família Adotiva – pode ser multicultural ou bi racial; Casais;
Famílias Monoparentais – apenas 1 dos genitores; Famílias Homossexuais –
com ou sem crianças; Famílias Reconstituídas depois do divórcio; várias
pessoas vivendo juntas, sem laços legais, mas com forte compromisso mútuo;
Unipessoal ou Uniparental – famílias constituídas pelas pessoas que vivem
sozinhas com idades jovens ou então, pessoas idosas em decorrências do
aumento da expectativa de vida.
De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas) em 1994,
passa a definir a família como: “Família é gente com quem se conta”.
Sendo assim, o que pode afirmar é que por mais que haja modificações
e situações diversas, a família sempre será a instituição mais importante na
vida do ser humano (MIOTO, 1997).
1.2 – Estruturas familiares desde a antiguidade até os dias
atuais.
Serão apresentadas as mudanças nas estruturas e composições
familiares desde a antiguidade até a família moderna, segundo Barbosa e
Sales (2008) e Prado (1989).
14
As profundas modificações na estrutura familiar se deram através dos
tempos com as transformações econômicas, culturais e sociais. Mas sempre
em algum momento se pensou na família.
Gueiros (2002) propõe um breve histórico da construção da família, e
nos relata que até o século X, esta não tinha expressão; porém, a partir do
século XVIII, a composição familiar foi se modificando e os “modelos” de
família foram sofrendo mudanças, devido à influência de alterações na própria
dinâmica da sociedade, como o declínio da classe operária, a entrada das
mulheres no mercado de trabalho, nas universidades e na esfera pública.
De acordo com Barbosa e Sales (2008), coloca-se que nas civilizações
primitivas, o ajuntamento familiar não se assinalava pelas suas relações
individuais, os relacionamentos sexuais ocorriam entre todos os integrantes da
tribo. Ainda segundo os autores, com o passar dos anos, os homens passaram
a se relacionar com mulheres de outras tribos predominando as relações
individuais, assim gerando a monogamia, ainda que a poligamia seja cultivada
por alguns povos. Sendo assim, Barbosa e Sales (2008) e Prado (1989)
afirmam que essas relações foram primordiais para o desenvolvimento das
sociedades. Ate que se formou a família monogâmica. A prevalência entre os
povos forçou o reconhecimento da paternidade beneficiando os filhos com o
exercício da obrigação paternal e assistência.
Para Barbosa e Sales (2008), a sociedade romana atribuía à família
papel relevantíssimo, pois a mesma abarcava não só o setor social, mas
também os aspectos econômicos, religiosos, políticos e jurídicos.
A família romana baseava-se no poder paternal ou paterfamilias, o pater
era o membro de maior importância na família romana. De acordo com os
autores, o pater administrava todo o patrimônio familiar, sendo também
responsável pela preservação e direção do culto às divindades de seus
antepassados. Tendo outras atribuições, o autor ressalta que o pater ainda
distribuía a justiça, fazendo parte do senado romano por um longo período. Ele
era o único membro sui júris da família, ou seja, sujeito de seu próprio direito, e
exercia seu poder absoluto sobre a mulher, os filhos e o escravos, todos alieni
15
júris, isto é, aquele que não goza de direito próprio e está sujeito à autoridade
de alguém. (BARBOSA E SALES, 2008)
A materfamilias com o casamento perdia a relação com o culto de seus
antepassados passando a cultuar os deuses do marido, de modo que jamais
transmitia aos filhos traços de sua própria família. Os filhos eram tratados
conforme o sexo, que de acordo os autores, o filho só adquiria a condição de
sui júri com a morte do pai e a filha iria casar e fazer parte de outra família.
Apenas os filhos poderiam herdar.
Sendo assim, a mulher era vista como responsável pela harmonia e
cuidados com o marido, filhos e com a casa.
Para Prado (1989), esta família era composta do núcleo conjugal e sua
prole, um grande número de criado, parentes agregados e escravos. Todos
submetidos ao único poder do chefe da família. Neste modelo, todos os
membros se submetiam ao chefe da família que era chamado de “pater-
familias”. Ainda segundo o autor, a mulher da família patriarcal – sinhazinha –
era submissa ao patriarca. Suas características eram mansas e dóceis e
possuíam atribuições voltadas para o lar.
Durante toda a Idade Média, é notório o domínio da igreja católica sobre
as relações familiares. O que é demonstrado pelo fato de o casamento
religioso ser o único conhecido por muitos séculos. Já o casamento civil surgiu
apenas em 1767 na França. (BARBOSA E SALES, 2008).
Mesmo neste tempo, possuindo a mesma destinação romana e
manutenção do culto religioso, o casamento se manteve distante de qualquer
relação afetiva. Como na sociedade romana, na medieval era imprescindível o
nascimento de um filho para atingir tal finalidade. A família medieval vivia sob o
regime social em que o pai era a autoridade máxima denominado de
patriarcado. De acordo com os autores, entretanto o casamento também servia
para unir as famílias do casal e, além disto, era a única forma de adentrar no
esquema social tradicional, pois de outro modo ocorreria à marginalização.
O casamento era visto como o aumento da prosperidade do patrimônio
e a quantidade de filhos também eram importantes para demonstrar a virilidade
do chefe da família.
16
O papel da família era de orientar os jovens quanto à profissão que
seguiria. Responsável também pela educação e ensinamentos religiosos.
Como a família era numerosa e o desempenho das atividades necessitava de
bastante mão-de-obra, a economia era baseada na agricultura. (BABOSA E
SALES 2008)
No século XVI tem início o desenvolvimento da família moderna, com
preocupações voltadas à infância. Ao mesmo tempo, a mulher torna-se quase
que incapaz face o poder paterno. Até então não havia intimidade da família.
As casas eram muito povoadas, tipo casa graúda, misturando-se atividades
profissional, comerciais e sociais.
Na França, desde o século XVII, a família começou a recolher-se à
intimidade do lar. A casa perdia o caráter público e a vida social passou para
cafés, clubes, etc. Em geral os filhos eram incumbidos de serviços domésticos
que se aproximavam muito dos servidores. A criança passava a ser alvo de
atenção e a ser separada do mundo dos adultos.
No final do século XVIII e principalmente no século XIX, a legislação
reforça o poder do marido e dos homens em geral, estabelecendo a
desigualdade entre o homem e a mulher. A expressão disso é o fato da
escolaridade passar a fazer parte da vida dos meninos desde o século XV, ao
passo em que a educação escolar das meninas se desenvolve paulatinamente
e mais precisamente no final do século XVIII e início do século XIX.
Conforme Babosa e Sales (2008) e Prado (1989), a industrialização se
configurou em decorrência da concepção familiar, onde só o homem possuía o
poder absoluto sobre os membros da família. E a mulher, ingressa no mercado
de trabalho, com o fim de ajudar no sustento da família, causando profundas
transformações na hierarquia familiar, pois começam a surgir os ideais da
igualdade de direitos. De acordo com os autores, no século XX a família
adquire nova estruturação. Dentro dos lares a situação demonstra de modo
mais forte as transformações. A mulher adquire na maioria das legislações os
mesmo direitos dos maridos, de modo que os cônjuges passam a ocupar o
mesmo patamar dentro da família e perante a sociedade.
17
A família no século XX adquire nova estruturação. A educação passa a
ser de responsabilidade da escola, onde a criança passa a maior parte do
tempo. O catolicismo abre espaço para outras religiões e a influência religiosa
se torna mais fraca, pois passa a ser direito constitucional a liberdade de
crença (BARBOSA E SALES, 2008)
Em meados da década de 1970, surgem as famílias monoparentais, isto
é, as famílias formadas por um dos genitores e a prole. O primeiro país a tratar
deste tema foi à Inglaterra, em 1960. Em 1981, através da França, a
monoparentalidade foi empregada em um estudo realizado pelo Instituto
Nacional de Estatísticas e de Estudos Econômicos (INSEE), com o fim de
distinguir as uniões constituídas por um casal, das famílias constituídas por um
genitor solteiro, separado, divorciado ou viúvo e sua prole. (BARBOSA E
SALES, 2008).
Como ressalta Santana (2010), podemos citar além do chamado núcleo
familiar composto por pai, mãe e filhos, alguns arranjos familiares: Família
ampliada, Família monoparental, Família reconstituída, Família homoparental
entre outros.Tendo a Família monoparental como objeto de estudo da
pesquisa, na qual veremos mais adiante.
O fato é que hoje, diferente do passado, não se tem clareza quanto aos
papéis da família.
Elizabeth Roudinesco citada por Teles (2003) afirma: “família humana se
reinventa permanentemente, mantendo-se desde os inícios dos tempos, como
uma instituição insubstituível para nossa própria constituição de sujeitos
humanos.”
Gueiros (2002) ressalta que a complementaridade Família-Estado
parece cada vez mais tênue, depositando-se nas famílias uma sobrecarga que
na maioria das vezes não conseguem suportar, tendo em vista as precárias
condições socioeconômicas em que parcela considerável da população está
submetida. A autora enfatiza que muitas famílias sofrem com esta situação, e
uma vez que o Estado influi com o mínimo, acabam recorrendo ao terceiro
18
setor, em busca de alguns recursos que os auxilia em situações de
vulnerabilidade, de forma compensatória para que possam se manter.
A família é responsável pelo cuidado de seus membros, devendo assisti-
los, criá-los e educá-los. Porém, as famílias mais vulnerabilizadas, não tem
condições de cumprir esse papel que lhe é social e legalmente atribuído,
necessitando da inclusão em políticas e programas sociais que lhe permitam
prover sua autonomia, e terem condições básicas e efetivas de inserção social
e de cidadania. E os que veremos no próximo capítulo, são alguns direitos
conquistados pela família.
19
CAPÍTULO II – OS DIREITOS DA FAMÍLIA
O presente capítulo apresentará os direitos da família com os aparatos
jurídicos: Constituição Federal de 1988, Código Civil, ECA, LOAS e PNAS,
que ampliaram e reconheceram os direitos de vários segmentos da
sociedade, dentre eles os da família.
2.1 – Como a família é vista na Constituição Federal de 1988
e no Código Civil.
De acordo com Gueiros (2002), a família, ao longo da história moderna,
foi se caracterizando como um espaço de inserção e apoio para o indivíduo, e
nas últimas décadas, a sociabilidade familiar parece estar sendo ainda mais
valorizada. Entre outros aspectos a autora acrescenta que a família condensa
uma história, uma linguagem e códigos morais próprios, e a partir deles e de
sua condição social, organiza sua forma de inserção na sociedade e de
socialização de seus membros.
Diante de todas essas considerações Dias (2010), utiliza a terminologia
‘’direito das famílias’’ para expressar essa constitucionalização do direito de
família, com a finalidade de proteger e não discriminar nenhuma nova entidade
familiar.
Segundo Barbosa (2008), a Constituição Federal Brasileira de 1988
trouxe inovações no ramo do Direito de Família, nas constituições anteriores o
autor aborda que, na carta de 1824, nada se fala das relações familiares. A
Constituição de 1891 traz somente um dispositivo, a república só reconhece o
casamento civil.
Na Constituição de 1934 dedica um capítulo inteiro a família, onde
aparece a referência à proteção especial do Estado. Na década de 1937,
que trouxe de volta o casamento religioso atribuindo efeitos civis ao mesmo.
20
Na Constituição de 1946 estimula a prole numerosa e assegura assistência
à maternidade, à infância e à adolescência.
Ainda sobre os estudos do autor, na Constituição de 1967 é a abordado
em quatro parágrafos, o que versa sobre a família e o casamento, tido como
indissolúvel e se celebrado no religioso, poderá a ter efeitos civis.
Já na Constituição de 1988 alterou-se o modelo familiar, fundado em
única e exclusiva no casamento, que tinha como finalidade a preservação
do patrimônio. Consagrando a pluralidade de formas de famílias, é
reconhecida a união estável e da família monoparental. A entidade familiar
passa a ser entendida como um meio de promoção da felicidade de cada
um dos seus membros.
De acordo com Barbosa e Sales (2012), o reconhecimento da família
monoparental na Constituição de 1988, provocou uma enorme
transformação na sociedade. Esse tipo de família rompeu com a ideia
preconcebida de que o núcleo familiar deve ser oriundo do casamento e
compreender o pai, a mãe e os filhos. Entretanto, mesmo legalizando a
existência deste tipo familiar, a Constituição não colocou no mesmo patamar
da família oriunda do matrimônio civil.
Pois de acordo com Dias (2010), a família assim tutelada pelo Estado
sempre teve um perfil patriarcal, sendo uma relação hierarquizada,
patrimonializada e heterossexual.
No artigo 226 diz que: “a família, base da sociedade, tem especial
proteção do Estado”. De modo que a confirmação contida neste dispositivo
legal abrange os artigos 3º e 4º de todas as espécies de família:
§3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre
o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua
conversão em casamento.
§4º - Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por
qualquer dos pais e seus descendentes.
Assim, afirma Dias (2010) que a Constituição de 1988 alargou o
conceito de família ao integrá-lo as relações monoparentais: de um pai com
seus filhos. Esse redimensionamento, calcado na realidade que se impôs,
21
acabou afastando da ideia de família o pressuposto de casamento. Também a
Carta Magna emprestou juridicidade ao relacionamento existente fora do
casamento, chamando de entidade familiar à união estável entre o homem e a
mulher.
Para Santana (2010), com o reconhecimento da família monoparental a
Constituição Federal de 1988, buscou garantir aos seus componentes a
proteção recomendada para a vida familiar. Ainda de acordo com a autora, um
dos direitos adquiridos por esta família foi impenhorabilidade do Bem da
Família, que tem por finalidade garantir direito a moradia. A proteção ao bem
de família não pertence apenas à família matrimonizalizada, mas também das
famílias procedidas de união estável e família monoparentais.
No artigo 227 da Constituição Federal de 1988, diz na integra:
É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência família re comunitária, alem de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
Desta forma, a Constituição Federal de 1988 ampliou e reconheceu os
direitos de vários segmentos da sociedade, dentre eles os da família.
De acordo com Dias (2010), no artigo 227 da Constituicao Federal de
1988, o Estado passa a ter responsabilidade como o cuidado da criança e do
adolescente, junto com a família e a sociedade. O que se observa segundo
análise da autora, é que o Estado delega esta função e coloca-se em
confortável terceira posição, e com isso o Estado gera sua própria
irresponsabilidade e tenta se livrar de suas obrigações.
O Código Civil procurou atualizar os aspectos essenciais do direito da
família instituído com base em nossa atual Carta Magna, garantindo este
direito, preservando a estrutura anterior do Código Civil, todavia, com a devida
incorporação e as mudanças legislativas ocorridas por meio da legislação
dispersa (DIAS, 2010).
Para a autora, o Código Civil busca determinar a igualdade absoluta dos
cônjuges e dos filhos, não havendo mais diferenças de direitos e deveres entre
marido e a mulher, bem como entre os filhos havidos ou não da relação de
22
casamento, ou por adoção, tendo os mesmos direitos e qualificações,
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação. Conforme
descrito nos artigos 1.511, 1.567, 1.568 do Código Civil.
Ao consultar o Código Civil constatamos o que trata estes artigos:
Art. 1.511 – O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges. Art. 1.567 – A direção da sociedade conjugal será exercida em colaboração, pelo marido e pela mulher, sempre no interesse do casal e dosa filhos. Art. 1.568 – Os cônjuges são obrigados a concorrer, na proporção de seus bens e dos rendimentos do trabalho, para o sustento da família e educação dos filhos, qualquer que seja o regime patrimonial.
Um dos grandes méritos do atual Código Civil tem sido afastar toda uma
termologia discriminatória, não só com relação à mulher, mas também com
referência à família e à filiação (DIAS, 2010).
Sendo assim, o reconhecimento das novas entidades familiares tem o
objetivo de afirmar os direitos e garantias fundamentais e com esse
reconhecimento, a família monoparental tem todos os direitos constitucionais
garantidos, assim como as famílias matrimonializadas (Santana, 2013).
2.2 – Família e marco legal ECA, LOAS, PNAS.
O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei nº8068/90)
regulamenta os artigos 227 e 228 da Constituição Federal, com o intuito de
proteção legal da criança e do adolescente em desenvolvimento,
independente de sua classe social. O ECA institui os direitos fundamentais e
as medidas socioeducativas e protetivas, estabelecem as linhas de ação da
política de atendimento, com as políticas e programas sociais, serviços de
prevenção, entidade de atendimento, prioriza a participação e reinserção
familiar, institui o Conselhor Tutelar e a justiça da infância e da juventude,
seus procedimentos e a participação do Ministério Público, por meio de seus
promotores e dos advogados ou defensores, nomeados pelo juiz. É o que
ressalta Tonon (2009):
23
Os princípios constitucionais, que inspiram o ECA, espelham-se no direito internacional, especialmente, entre outras, nas seguintes normas da ONU: Declaração do Direitos da Criança (1959); Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça da Infância e da Juventude (1985); Diretrizes das Nações para a Prevenção da Delinquência Juvenil (1988).
O objetivo principal desta lei está em preservar e efetivar os direitos,
zelar pelo bem estar da criança e do adolescente de maneira universal, não só
aos que encontram em risco de vulnerabilidade, mas a toda sociedade infanto-
juvenil (TONON, 2009).
De acordo com o autor, o Estatuto da Criança e do Adolescente sofre
em nossa sociedade várias críticas e acreditam que isto se dá pelo precário
conhecimento da Lei e pela distorção histórica dos direitos. O problema talvez
esteja na questão de poder, pois se dá direito às crianças e tira-o dos adultos.
A comunidade infanto-juvenil apresenta um contexto marcado pelo abandono,
pela negligência e exploração (trabalho infantil, abuso sexual). Ainda para
Tonon (2009), colocam que outro ponto, também é a rejeição por parte de
alguns pais que interpretam o ECA como obstáculo que veio para dificultar a
educação dos filhos.
Conforme Dill e Calderan (S/D), a proteção ao direito familiar está
prevista no ECA em seus artigos 4º, caput e 19 a 52, em especial na
Constituição Federal em seu artigo 227. Desta forma, a legislação prevê que é
direito da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos fundamentais e
das crianças e adolescentes, entre outros, o direito à dignidade e à convivência
familiar e comunitária.
Afirma Tonon (2009), que mesmo uma das legislações mais completas
de proteção, o ECA nunca irá dar aos seus usuários a proteção integral que
elenca em seu texto. Os autores continuam que, a família se encontra como
primeira responsável pela garantia do direito à vida e à saúde das crianças e
adolescentes.
A Constituição Federal de 1988 traz uma nova concepção para a
Assistência Social brasileira. Incluída no âmbito da seguridade social e
24
regulamentada pela Lei Orgânica da Assistência Social – LOAS em dezembro
de 1993, como política pública, a assistência social inicia seu transito para um
campo novo: o campo dos direitos, da universalização dos acessos e da
responsabilidade estatal.
A Assistência Social destaca-se como importante fonte de melhoria das
condições de vida e de cidadania da população. Segundo Pereira (s/d), com a
Constituição vigente, promulgada em 1988, a Assistência Social também
ganhou nova constitucionalidade, que a fez pautar-se pelo paradigma da
cidadania ampliada e a funcionar como política pública concretizadora de
direitos socais básicos particularmente de crianças, idosos pessoas com
deficiência, famílias e pessoas social e economicamente vulneráveis.
A Lei Orgânica de Assistência Social - Lei 8. 742/ 1993 modificada pela
Lei 12.435/ 2001, expressa uma mudança fundamental na concepção da
Assistência Social que se afirma como direito, como uma das políticas
estratégicas de combate à pobreza, à discriminação e à subalternidade em que
vive grande parte da população brasileira. De acordo com Pereira (s/d), a
LOAS conferiu características que a fizeram distanciar-se de práticas
assistencialistas.
A LOAS introduz um novo significado à assistência social diferenciando-
a do assistencialismo e situado-a como política de seguridade (Yasbeck,
1998). A referida Lei cria uma nova matriz para a Política de Assistência
Social, inserindo-a no sistema do bem-estar social brasileiro concebido como
campo da Seguridade Social, configurando o triângulo juntamente com a
saúde e a previdência social.
A Política de Assistência Social é regida por princípios e critérios
identificados com a igualdade, a equidade e a justiça social, bem como com a
perspectiva de promoção da autonomia do individuo (PEREIRA, sd). De acordo
com a autora como constitui Política de Seguridade Social, deve contribuir para
ampliação da cidadania à medida que incorpora no circuito de bens, serviços e
direitos usufruídos por uma minoria, parcelas da população excluídas desse
circuito.
25
A Lei 8.742/93 da Assistência Social (LOAS) registra em seu art.1º a
Assistência Social como direito do cidadão e dever do Estado, sendo Política
de Seguridade Social não contributiva que prevê os mínimos sociais para
garantir o atendimento às necessidades básicas do cidadão.
A Assistência Social tem dentre seus objetivos: a proteção à família, à
maternidade, à infância, à adolescência e a velhice; a garantia de 1(um) salário
mínimo de benefício mensal á pessoa com deficiência e ao idoso que
comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção ou tê-la provida
por sua família; a vigilância sócio assistencial, que visa a analisar
territorialmente a capacidade protetiva das famílias e nela ocorrências de
vulnerabilidades, de ameaças, de vitimizações e danos.
Dentre as diretrizes da LOAS, baseadas na Constituição Federal de
1988 está a centralidade na família para a concepção e implementação dos
benefícios, serviços, programas e projetos. Tem como princípios democráticos,
o respeito à dignidade do cidadão, à sua autonomia e ao seu direito a
benefícios e serviços de qualidade, bem como à convivência familiar e
comunitária, vedando-se qualquer comprovação vexatória de necessidade.
Segundo Ramos (2011), a política de Assistência Social é reconhecida
como direito estatal e dever estatal regulamentado pela Constituição Federal
de 1988 e pela Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS), porém é
imprescindível a integração com outras sociais, buscando assim estabelecer
um amplo sistema de proteção social.
No que se refere à Política Nacional de Assistência Social (PNAS): É
uma política que junto com as políticas setoriais, considera as desigualdades
sócio-territorais, visando seu enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais,
ao provimento de condições para atender à sociedade e à unviersalizacao dos
direitos sociais. O público dessa política são os cidadãos e grupos se
encontram em situação de risco. Ela significa garantir a todos, que dela
necessitar, e sem contribuição prévia a provisão dessa proteção.
A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) busca incorporar as
demandas presentes na sociedade brasileira no que tange à responsabilidade
política, objetivando tornar claras as suas diretrizes na efetivação da
26
assistência social como direito de cidadania e responsabilidade do Estado
(Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, 2004).
De acordo com a PNAS, assistência social dá primazia à atenção as
famílias e seus membros, a partir do seu território de vivencia, com prioridade
aqueles com registros de fragilidades, vulnerabilidade e presença de
vitimizações entre seus membros. A atenção às famílias tem por perspectivas
fazer avançar o caráter preventivo de proteção social, de modo a fortalecer
laços e vínculos sociais de pertencimento entre seus membros e indivíduos,
para que suas capacidades e qualidade de vida levem à concretização de
direitos humanos e sociais. Um dos objetivos da PNAS é de assegurar que as
ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que
garantem a convivência familiar e comunitária.
Podemos encontrar na Política Nacional de Assistência Social, serviços
de proteção básica como os CRAS (Centro de Referencia de Assistência
Social), que tem a família como eixo central, entre eles: Programa de Atenção
Integral às Famílias (PAIF) – trata-se de um trabalho de caráter continuado que
visa a fortalecer a função de proteção das famílias, prevenindo a ruptura de
laços, promovendo o acesso e usufruto de direitos e contribuindo para a
melhoria da qualidade de vida onde suas ações são desenvolvidas por meio de trabalho social com as famílias aprendendo as origens, os significados
atribuídos e as possibilidades de enfrentamento das situações de
vulnerabilidade vivenciadas, contribuindo para sua proteção de forma integral;
os serviços para crianças de 0 à 6 anos, que visam o fortalecimento dos
vínculos familiares, o direito de brincar, ações de socialização e de
sensibilização para a defesa dos direitos das crianças; os serviços
socioeducativos para crianças, adolescentes e jovens na faixa de 06 à 24
anos, visando sua proteção, socialização e o fortalecimento dos vínculos
familiares e comunitários; Programas de incentivo ao protagonismo juvenil, e
de fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários; e o CREAS (Centro
de Referência Especializada da Assistência Social) que visa o atendimento as
famílias e indivíduos com seus direitos violados, mas cujo vinculo familiar e
27
comunitário não foram violados. Requer maior estruturação técnico-
operacional, e atenção especializada e mais individualizada.
A Política Nacional de Assistência Social (PNAS) aborda aspectos
importantes no que se refere às famílias, mas diante dos avanços muito ainda
precisa ser feito. Pois, os objetivos dessa política não conseguem atingir de
forma efetiva o foco dos problemas, que é a contradição das classes sociais.
No entanto, as propostas da PNAS solucionam na verdade problemas
emergenciais.
Embora haja o reconhecimento explícito sobre a importância da família
na vida social e, portanto, merecedora de proteção do Estado, tal proteção tem
sido cada vez mais debatida, na medida em que a realidade tem dado sinais
cada vez mais evidentes de processos de penalização e deportação das
famílias brasileiras.
Neste sentido, a matricialidade sócio familiar passa a ter o papel de
destaque no âmbito da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Esta
ênfase na centralidade da família e a superação da focalização, no âmbito da
política de Assistência Social, repousam no pressuposto de que para a família
prevenir, proteger, e incluir seus membros é necessário, em primeiro lugar,
garantir condições de sustentabilidade. Dessa forma, a política de Assistência
Social é pautada nas necessidades das famílias, seus membros e dos
indivíduos. (POLÍTICA NACIONAL DE ASSISTÊNCIA SOCIAL, 2004)
Sendo assim, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento Social
(MDS), a PNAS aborda a questão da proteção social em uma perspectiva de
articulação com outras políticas do campo social que são dirigidas a uma
estrutura de garantias de direitos e de condições dignas de vida.
Contudo para Carloto (2005), a condição de gênero, a responsabilidade
pela esfera doméstica, pelo cuidado dos filhos, sem acesso a um trabalho com
salário digno potencializa a condição de vulnerabilidade, ficando a mulher
dependente de benefícios providos pela política de assistência, que por sua
vez, além de quantitativamente baixo, são seletivos, focalizados e temporários.
E de acordo com a autora citada, precisa de um olhar bifocal que contemple a
dimensão da distribuição e dimensão do reconhecimento/status, considerando
28
que a condição de vulnerabilidade destas mulheres está marcada pela
condição de gênero, classe e etnia.
Embora alguns direitos conquistados, para Gueiros (2002), o Estado
ainda tem restringido sua participação nas questões que envolvem a dinâmica
familiar, e esta, tem sido chamada a preencher esta lacuna sem receber a
devida assistência por parte do poder público. Neste sentido, a autora destaca
a importância de se ter clareza das questões mais relevantes que envolvem as
famílias.
29
CAPÍTULO III – MONOPARENTALIDADE
O presente capítulo abordará o conceito de monoparentalidade, bem
como as principais causas que provocam esse novo modelo de família. Assim,
como as dificuldades encontradas por mulheres por estarem em situação de
monoparentalidade.
3.1 – Definição de monoparentalidade e as principais causas
que provocam a monoparentalidade.
O termo família monoparental, encontra-se vinculado ao próprio sentido
do vocabulário família. A monoparentalidade pode ser fruto de uma decisão
voluntária ou involuntária do genitor. Existem várias possibilidades de
situações que originam a monoparentalidade, entre elas, o divórcio, a viuvez,
abandono de um dos cônjuges, etc. (BARBOSA E SALES, 2008)
Para uma melhor definição sobre a expressão famílias monoparentais,
Vitale (2000) ressalta, que foi utilizada segundo Nadine Lefaucher, na França,
desde a metade dos anos setenta para designar as unidades domésticas em
que as pessoas vivem sem cônjuges, com um ou vários filhos com menos de
25 anos e solteiros. (VITALE, 2000:47)
Segundo Santana (2013), a família monoparental no decorrer dos anos
ganhou intensidade e visibilidade. No Brasil, em decorrência do seu número
expressivo, esse novo modelo de família adquiriu direitos e deveres,
reconhecidos a partir da Constituição Federal de 1988, como sendo família um
lar formado por um os pais e seus descendentes. Ainda de acordo com a
autora, deve-se entender por família monoparental uma pessoa adulta, homem
ou mulher responsável por uma ou várias crianças.
A família monoparental foi reconhecida pela Carta Magna como
entidade familiar e de acordo com a mesma é conceituada como “a
comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendente (BARBOSA E
SALES, 2008).
30
A respeito desse modelo familiar, Diniz (2002), expõe:
A família monoparental ou unilinear desvincula-se da ideia de um casal relacionado com seus filhos, pois estes vivem apenas com um dos seus genitores, em razão de viuvez, separação judicial, divórcio, adoção unilateral, não reconhecimento de sua filiação pelo outro genitor, produção independente, etc. (DINIZ, 2002:11)
Sendo assim, Dias (2007) ressalta que na atualidade família não se
define somente pela clássica formação de pai, mãe e filhos. Dentre vários
modelos existentes autora mostra que temos a família de irmãos que com a
morte dos genitores constituem uma família monoparental, da mesma forma
que tios ou avós que possuem a guarda de seus sobrinhos e netos também
são considerados famílias monoparentais.
Mesmo estando em minoria, às famílias moparentais estão crescendo
incessantemente, principalmente nas camadas mais pobres da sociedade
brasileira, e esse fato é preocupante já que a maioria delas é chefiadas por
mulheres sozinhas com crianças (SANTANA, 2013).
As famílias monoparentais tem uma fragilidade em sua estrutura, os
cuidados com os filhos são redobrados, por isso, podem precisar de ajuda de
diversas formas. Em razão disso Dias (2007), sugere que o “Estado atenda a
essas especialidades e de auxílio especial a esses grupos familiares.”
Entretanto, segundo dados do IBGE (2010), a formação clássica das
famílias, composta pelo pai, mãe e os filhos deixa de ser predominante e
representam 49,9% dos domicílios. Havendo assim uma queda já que nos
anos 80 era 75% das formações familiares. Na década de 90 diminuiu para
65% e no ano 2000 caiu para 60% das famílias. Ainda em 2010, as formações
familiares se dão da seguinte forma: homens sozinhos com filhos representam
2,3%, outros tipos 4,1%, homens ou mulheres morando sozinhos 12,2%,
mulheres sozinhas com filhos 15,5%, casais sem filhos 16%, casais com filhos
49,9%.
Santana (2013), afirma que muitas vezes a monoparentalidade é uma
opção de um dos genitores. Pode ser mães solteiras que foram abandonadas
por seus parceiros que não queriam a paternidade, outras vezes por opção do
tanto do homem quanto da mulher, outra situação é o divórcio no qual o pai
31
assume a guarda dos filhos e a mãe conserva o direito de visita. De acordo
com a autora, não importa a estrutura da família e seus laços sanguíneos, o
que realmente importa é fazer da essência, do seu interior a verdadeira família,
aquela onde existem esforços de todos para o alcance de um bem comum.
A monoparentalidade não pode ser observada com um fenômeno
ocidental moderno. Ela sempre existiu, e tem evoluído nos últimos vinte anos
(BARBOSA E SALES, 2008).
Sobre as principais causas que provocam a monoparentalidade Santana
(2013) ressalta que a viuvez foi à responsável pelo surgimento desse modelo
familiar, mas que também ela é decorrente do divórcio, visto que muitos casais
não possuem a estrutura para a vida conjugal. Além dessas causas, o celibato
também é considerado uma razão da origem da mesma, sendo mais comum
em classes mais ricas, motivado a partir das escolhas profissionais e sociais
especialmente das mulheres.
O aumento da expectativa média de vida dos homens, ou o fato de que
o divórcio ou a separação ocorra antes da morte do outro cônjuge pode ser a
principal causa da viuvez. O problema deste fator determinante da
monoparentalidade é que a maioria destas viúvas é da geração onde a mulher
vivia apenas para o serviço doméstico. O que significa a falta de qualificação
profissional e muito de experiência no setor, apresentando grandes
dificuldades no mercado de trabalho. Desta forma, as grandes maiorias das
viúvas nesta situação se sustentam de duas formas: ou sobrevivem com valor
de seus benefícios, geralmente um salário mínimo, ou estão ativas
trabalhando, muitas vezes, como empregadas domésticas ou operarias, e
acabam ocupando cargos de menor qualificação e remuneração (BARBOSA E
SALES, 2008).
Para os autores, no divórcio ou na separação, a monoparentalidade
torna-se cada vez mais frequente devido ao crescimento constante deste fato.
Diversas vezes, podem ser decorrente da precocidade com que as pessoas se
casam, revelando a falta de estrutura para a vida conjugal. Pode também,
ocorrer da fragilidade das uniões, pois a mentalidade moderna não mais
concebe casamentos frustrados e duradores. O divórcio é mais requisitado nas
32
camadas mais pobres da sociedade, do que nas camadas ricas. Outro fato
importante é que a maioria dos pedidos de divórcios diretos efetivados, no
Brasil, é de iniciativa das mulheres (BARBOSA E SALES, 2008).
Sobre este contexto Leite (2003), afirma:
Os motivos da separação, geralmente, de duas ordens: 1 – ou elas se sentem anuladas no lar, em decorrência de uma relação de dependência, ou pela ausência de interesses comuns com seu marido. 2 – ou elas compreendem que seu marido não correspondeu aquilo que elas desejam ou, na maioria das vezes, haviam imaginado. (LEITE. 2003:43)
De acordo com Barbosa e Sales (2008), quando se trata de separação
judicial litigiosa a iniciativa das mulheres é quatro vezes maior que a dos
homens. Já no caso das separações de fato os dados revelam a iniciativa
feminina duas vezes maior. A questão é que, independente do autor do pedido,
o número de divórcios e separações no nosso país tem crescido
consideravelmente.
O celibato talvez seja o que expressa de forma mais intensa à vontade
como elemento da monoparentalidade atual. É um novo estilo de vida bastante
utilizado, mas ele não significa vida solitária. O que ocorre é a existência de
casamento. A ideia central é não se comprometer, é não ter compromisso.
(BARBOSA E SALES, 2008). De acordo com os autores, a monoparentalidade
decorrente deste fator não preocupa o governo, pois refere-se a vida privada
das pessoas, contudo s filhos dela oriundos, este sim, o Estado tem o dever de
proteger, assegurando a vida digna e uma ambiente favorável ao exercício da
cidadania.
Ainda segundo Barbosa e Sales (2008), com o reconhecimento como
entidade familiar na Constituição Federal de 1988, no seu artigo 226, § 3º, “a
constituída pela união estável entre o homem e a mulher devendo a lei facilitar
sua conversão em casamento.” Regulamentada como Lei 9.278/96, o artigo 1º
dispõe que “é reconhecida como entidade familiar a convivência duradoura,
pública e contínua, de um homem e mulher, estabelecida com o objetivo de
constituição e família.” Com isto foram determinados os direitos e deveres
igualitários, o regime de bens e a assistência material em caso de dissolução.
33
Sendo assim, a união estável perde o status da sociedade de fato e
ganha o de entidade familiar, logo não pode ser confundida com a união livre,
pois nesta, duas pessoas de sexos diferentes além de não optarem pelo
casamento, não tem qualquer incentivo de constituir família, como ressalta
Diniz (2002).
Porém, afirma Barbosa e Sales (2008), que a união estável não pode
ser excluída definitivamente destes fatores, pois, também não objetiva esta
formação, no que se refere ao casamento. Os autores ressaltam, que neste
caso a monoparentalidade pode ser visualizada nas uniões estáveis onde
apenas um dos membros é genitor biológico da prole e vive com um
companheiro.
Conforme os autores, temos a categoria das mães solteiras, que sempre
sofreu muita discriminação tanto da sociedade e como da própria legislação.
Além, das questões sociais e legais, ainda existe outro problema que atinge as
mães solteiras, o fator econômico. Entre as mulheres de camadas inferiores,
existe o problema da falta de estudos, e consequentemente falta qualificação
profissional. Ainda de acordo com os respectivos autores, por outro lado há a
precariedade das medidas assistenciais prestadas pelo governo, pois não
existem creches ou escolas em número suficiente para todas as crianças,
mesmo sendo direito da criança como diz no artigo 4º do Estatuto da Criança e
do Adolescente, que é dever do poder público assegurar o direito das crianças
e adolescentes à educação. O artigo 54 do ECA, inciso IV, expressa que é
dever do Estado assegurar à criança atendimento em creche e pré-escola às
crianças de 0 a 06 anos de idade. Sendo assim, a dificuldade de arrumar um
emprego formal é grande, e muitas dessas mulheres exercem suas atividades
laborativas como autônomas.
Já as mulheres de camadas superiores não são atingidas por tais
problemas. No entanto, todas as mães solteiras, independente da classe social
e do poder aquisitivo, tende a enfrentar uma dupla jornada de trabalho, pois
tem, de conciliar o seu tempo entre os filhos e o trabalho (BARBOSA E
SALES, 2008).
34
Portanto, a mulher é vista como elemento estabilizador de sua família,
arcando com todas as responsabilidades de provedor e social. Enfrentando
muitos problemas, atingindo as áreas básicas de alimentação, moradia e
proteção à criança. Isso faz com que filhos mais velhos dessas mulheres que
são chefes da família amadureçam antecipados, desempenhando papéis de
responsabilidades, como o cuidado dos irmãos menores ou ingressando no
mercado de trabalho antecipadamente para ajudar no sustento do lar,
ocorrendo assim à evasão escolar. Muitas dessas dificuldades enfrentadas por
mulheres que são provedoras de seu lar veremos no capítulo seguinte.
3.2 – Dificuldades das mulheres em situação de
monoparentalidade.
De acordo com Carloto (2005), cresce nos últimos anos o número de
famílias cujo principal provedor é a mulher.
As mulheres vêm sofrendo exclusões por questões de gênero, em
família, na sociedade em geral. Pelo fato da mulher ser a procriadora e passar
a maior parte do tempo cuidando dos filhos e o marido do sustento do lar, ela é
considerada um ser mais natural e o homem, um ser mais social (SANTANA,
2010). Quando ocorre a monoparentalidade, são as mulheres que mais
carrega o peso deste fenômeno, principalmente se ocorre da ruptura do
casamento. Pois, a maioria das vezes, os filhos ficam sob os cuidados das
mulheres. Diante disso, Barbosa e Sales (2008), afirmam que os problemas
enfrentados pela mulher na monoparentalidade estão expressos nos planos
econômicos, social e emocional dessas chefes de família.
É necessário ressalta que as famílias chefiadas por mulheres não
são necessariamente monoparentais.
O que podemos observar é que a maior parte das mulheres chefes de
família monoparental é pobre, e muitas vezes chefiam seus lares sozinhas por
motivo de viuvez, separação, entre outros como já vimos. Ao longo do tempo, a
posição das mulheres nas famílias vem sofrendo transformações; antes a
35
mulher era vista somente pra cuidar do lar e seus filhos, hoje em dia, na
maioria das vezes é ela que é a provedora do lar.
Segundo Scott (2002), a mulher se designa chefe da família quase
sempre na completa ausência de um parceiro masculino coresidente, enquanto
exatamente o contrário acontece com os homens: eles se designam chefes na
efetiva presença de uma esposa e filhos.
De acordo com Barbosa e Sales (2008), a maioria dos problemas das
mulheres é o difícil acesso ao mercado de trabalho. As jovens enfrentam o
problema da gravidez na adolescência, com isso causa baixo nível de
instrução e uma insignificante qualificação profissional, enquanto as mulheres
de idade média por razão de separação ou divórcio, muitas não possuem um
nível de instrução adequado.
As mulheres sofrem discriminações por várias áreas como ressalta
Barbosa e Sales, (2008):
No setor social, muitas sofrem discriminação, pois caso seja sozinha, não é bem vista aos olhos da sociedade, ou opte por outra união, sem formalidades, é tida como promíscua. Já no aspecto emocional, a monoparentalidade provoca desgaste crescente na mulher, devido tentar abraçar dois papéis, o de pai e de mãe, não sobra para as mulheres tempo para si, isto culmina, com o fim da vida sexual.
A mulher Chefe de família monoparental, enfrenta jornadas de trabalho
árduas de trabalho extra e intrafamiliar. Os desafios referem-se da conciliação
entre o trabalho e vida familiar, da mulher mãe e provedora do sustento da
família e de uma participação mais efetiva junto de seus filhos e ao ambiente
familiar (VITALE, 2000).
Neste aspecto, há mulheres que sem ter onde deixar seus filhos
menores, quando estes saem da creche, leva para seus respectivos trabalho,
como um acordo com seu chefe, ficando ali até terminar sua jornada de
trabalho. Mas, isso é mais fácil quando se trata de um determinado número de
filhos e como seu ambiente de trabalho é definido. E nem sempre esse apoio
existe.
Afirma Mioto (1997), que na sociedade capitalista, as dificuldades
econômicas e as necessidades de sobrevivência forçam as mulheres a
36
ingressarem no mercado de trabalho mesmo que tenham filhos, tornando
assim, cada vez maior o número de famílias chefiadas por mulheres.
As famílias monoparentais femininas e pobreza constroem outro
estigma, de que as mulheres são menos capazes de cuidar de sua prole ou
administrar sua família sem um homem. De outro lado, é apontado que as
mulheres ganharam maior independência, e, portanto podem assumir sua
família (VIATLE, 2000:51). Sendo assim, chefiar a família não está apenas
relacionado com a manutenção econômica, mas também a responsabilidade
com seus filhos.
Entre 1981 a 1987, constataram-se grandes transformações nos
padrões familiares. Mioto, 1997, expõe que essas mudanças foram três
ordens: “redução no tamanho das famílias, expressivo crescimento das
famílias chefiadas por mulher sem cônjuge com filhos, e aumento do número
de pessoas ocupadas nas famílias”. Essas duas últimas referem-se à
monoparentalidade. Em 1987, verificou-se um aumento de famílias chefiadas
por mulheres sem seus cônjuges.
A mulher sempre simbolizou afetividade, com a capacidade apenas de
procriar, de cuidar e zelar pela sua prole, ficando responsável pela formação
moral dos filhos, valores que continuam impregnados na sociedade (DIAS,
2010).
Para Vitale (2000), o problema dessas mulheres chefes de famílias,
quando pertencem a uma classe inferior, vai além da dificuldade econômica e
chega a uma estrutura pública capaz de garantir a educação de seus filhos.
De acordo com Barbosa e Sales (2008), diante de todos os desafios
enfrentados pelos genitores de uma família monoparental, o maior é a falta de
auxílio específico por falta do Estado. A proteção da entidade familiar, em
questão é de responsabilidade estatal. A monoparentalidade não pode ser
restrita a órbita privada, deve haver intervenção estatal.
Carloto (2005) afirma, que as famílias monoparentais chefiadas por
mulheres negras tem se mostrado com menos condições de oferecer cuidados
básicos parra seus filhos.
37
Para Mioto (1997), faz-se necessário que o Estado tome medidas de
caráter imperativo para regulamentar diversos itens que ainda precisam de
regulamentação, bem como que a sociedade seja conscientizada das
existências das famílias monoparentais.
Portanto, a evolução da mulher, não se produziu isolada.
Desencadearam-se sobre o homem uma série de transformação procedentes
dela, da família e do social, uma vez que as exigências atuais desafiam o até
concebido como inerente masculino, agora partilhado. Essa competição
crescente entre o casal moderno frequentemente perturba a relação e a
identidade de gênero a ser transmitida aos filhos (SOUZA E DIAS, 2010).
Afirma Scott (2002), que a mulher como chefe afasta o homem, o
distancia de casa, e ela se afirma como ápice na hierarquia de idade e
gerações. Os filhos subordinados pelo menos até que alcancem uma idade
quando pode almejar uma maior autonomia, entram na rede redistributiva
comandada pela mãe, formando um conjunto de dependente, e no passar do
tempo, de aliado, na procura, seja ela solidária ou revoltada de recursos. São
estas relações, muitos estreitas, com filhos que caracterizam muitas demandas
especiais de mulheres chefes de família.
A citada autora ainda, que a mulher chefe de família é uma condição
recheada de particularidades bem identificáveis, mas extraordinariamente
diversificada na sua ocorrência e implicações.
Mesmo existindo várias dificuldades, de acordo com Santana (2013), as
famílias produzem resultados excelentes no futuro de uma pessoa e não
importa se há ou não casamento, se é monoparental ou biparental, ela existe
de variadas formas e arranjos e o importante é que ela exista. A autora
continua, enfatizando que não importa a estrutura familiar e seus laços
sanguíneos, o que realmente importa é fazer parte da essência familiar, do seu
interior, a verdadeira família é aquela onde existem esforços de todos para o
alcance de um bem comum.
Mesmo reconhecendo que muitas mulheres necessitam de programas
sociais para manter sua família, e que o modelo de família monoparental
feminina é crescente, tais programas, em sua forma de execução, não
38
priorizam esse tipo de família quando ao foco de sua atuação, e não vêem
essas mulheres como um agente privilegiado.
O que observamos é que as políticas sociais públicas e os programas
sociais vêm reafirmando a condição de gênero, contribuindo pouco para
transformações, o que nos faz afirmar aqui que as famílias não precisam, por
parte do Estado, de uma intervenção paliativa e sim eficiente, eficaz, efetiva,
comprometida, ética e, principalmente democrática, pois é preciso saber
dessas mulheres chefes de seus lares o que elas realmente precisam e como
essas intervenções devem ser realizadas a fim de beneficiá-las de forma
concreta e real.
39
CONCLUSÃO
Sabemos que a família sofre transformações desde sua origem, e o
posicionamento das mulheres na família também sofreram mudanças. Antes a
família era comandada pelo homem, que era baseada no poder paternal, o
pater, era o membro de maior importância na família e todos eram
subordinados a ele. A mulher era vista só pra cuidar da sua prole e das
atribuições voltadas ao lar.
Devido a industrialização, as famílias foram perdendo essas
características e foram se modificando ao longo dos anos. A mulher ingressou
no mercado de trabalho e passou a dividir as responsabilidades com o
cônjuge. Devido a essa mudança, as famílias não eram mais tão numerosas, e
os filhos passaram a ser planejados.
A sociedade e a família sofreram modificações ao longo dos anos e
atualmente temos vários arranjos familiares, dentro desses novos modelos
destaca-se a família monoparental que vem aumentando a cada ano.
Reconhecida como entidade familiar pela Constituição Federal de 1988 (CF
226 §4º), esse tipo de família é constituído por um genitor e seus
descendentes menores de idade. A Constituição Federal de 1988 ampliou e
reconheceu os direitos de vários segmentos da sociedade, dentre eles o da
família. A monoparentalidade pode ocorrer de diversas formas como: viuvez,
divórcio, celibato, mães solteiras, união livre, etc.
A monoparentalidade vem crescendo no Brasil, e o divórcio seguida da
separação, são as maiores responsáveis por esse aumento. Porém, devemos
ressaltar que a família monoparental feminina é muito superior que as famílias
monoparentais masculinas. A monoparentalidade feminina na sua maioria é
formada por mulheres da classe subalterna, que enfrentam muitas dificuldades
de prover os mínimos necessários pra sua prole e encontrando difícil acesso
ao mercado de trabalho. As famílias monoparentais estão crescendo nas
camadas mais pobres da sociedade brasileira e em sua grande maioria são
chefiadas por mulheres. E essas mulheres são vistas como elemento
40
estabilizador de sua família, arcando com todas as responsabilidades de
provedor e social.
Na sociedade contemporânea a situação da mulher responsável por sua
família tem uma dupla dimensão, já que a maioria representa os dois papéis
com a ausência do companheiro, que acabam se afastando, não dando apoio
financeiro e nem afetivo aos filhos
Ao poder público cabe criar políticas e programas sociais que venham
intervir de forma eficiente, eficaz, comprometida e democrática para o
atendimento das famílias, sendo esta monoparental ou não. Pois, o que
importa para uma estrutura familiar é que existam esforços de todos para o
alcance de um bem comum. De acordo com o que podemos ver é que hoje,
diferente do passado, não se tem clareza quanto aos papéis da família, mas o
que importa é que mesmo existindo variadas formas e arranjos familiares o
importante é que a família exista e produz resultados fundamentais em nossa
vida. Sendo necessário um olhar de cuidado e respeito a todos os modelos de
família.
41
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Janeiro, 2003.
48
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - A FAMÍLIA 10
1.1 - O conceito de família 1.2 – Estruturas familiares desde a antiguidade até os dias atuais 13
CAPÍTULO II – OS DIREITOS DA FAMÍLIA 19 2.1 – Como a família é vista na Constituição Federal de 1988 e no Código Civil
2.2 – Família e marco legal ECA, LOAS e PNAS 22
CAPÍTULO III – MONOPARENTALIDADE 29
3.1 – Definição de monoparentalidade e as principais causas que provocam a
moparentalidade
3.2 – Dificuldades das mulheres em situação de monoparentalidade 34
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 41
WEBGRAFIA 43
BIBLIOGRAFIA CITADA 46
ÍNDICE 48