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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
JUSTIÇA COMUM FEDERAL OU JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO: COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIMES
AMBIENTAIS COMETIDOS EM LUGAR SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR
Servio Thulio da Silva Oliveira Filho
ORIENTADOR: Prof. Luiz Eduardo Chauvet
Rio de Janeiro 2016
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Direito Ambiental. Por: Servio Thulio da Silva Oliveira Filho
JUSTIÇA COMUM FEDERAL OU JUSTIÇA MILITAR DA
UNIÃO: COMPETÊNCIA PARA JULGAR CRIMES
AMBIENTAIS COMETIDOS EM LUGAR SUJEITO À
ADMINISTRAÇÃO MILITAR
Rio de Janeiro 2016
3
AGRADECIMENTOS
À minha avó Adília e tia Angela, aos meus pais
Verônica e Thulio, aos meus irmãos Caio e Thalia,
que sempre me apoiaram nessa caminhada etc.
4
DEDICATÓRIA
Dedica-se à minha esposa Renata, que é também
a minha melhor amiga e companheira, e minha
maior incentivadora.
5
RESUMO
O presente trabalho objetivou analisar acerca da competência para
processamento e julgamento de crimes contra o meio ambiente perpetrados
em lugar sujeito à administração militar.
O estudo observa aspectos e características relacionados aos temas
Direito Ambiental, Direito Penal Comum, e Direito Penal Militar, e os seus
pontos de contato.
A solução encontrada foi a possibilidade de existência de crimes
contra o meio ambiente serem da competência da Justiça Castrense. Tratam-
se dos crimes de incêndio, e difusão de doença ou praga.
Apesar de praticamente todos os crimes ambientais praticados em
lugar sujeito à administração militar serem de competência da Justiça Comum
Federal, existem casos em que essa assertiva não se faz verdadeira. Trata-se
de exceção à regra.
A regra é que crimes contra o meio ambiente praticados em lugar
sujeito à administração militas são da competência da Justiça Comum Federal.
Contudo, caso haja a prática dos crimes previstos nos art. 268 e 259, do
Código Penal Militar; delitos identificados com os art. 250 e 278, do Código
Penal Comum, e art. 41 e 61 da Lei 9.605/98, e forem preenchidas as
circunstâncias do art. 9º do Código Penal Militar, estaremos diante da
mencionada exceção. Tratando-se no caso de crimes militares contra o meio
ambiente, de competência para processamento e julgamento, da Justiça Militar
da União.
6
METODOLOGIA
Para atingir aos objetivos propostos, a pesquisa foi estruturada nas
seguintes etapas:
I. Escolha do Tema: Esclarecer quem é competente para julgar a prática
de crimes ambientais cometidos em lugar sujeito à administração militar.
II. Revisão Bibliográfica: fase dedicada à pesquisa de obras já
consolidadas que tratem sobre Direito Ambiental, Direito Penal Militar, Direito
Penal Comum, Direito Processual Penal Militar, Direito Processual Penal
Comum, e Direito Constitucional.
III. Organização e Síntese dos Assuntos: etapa onde foram selecionados os
principais assuntos tratados ao longo do trabalho e as principais fontes
bibliográficas utilizadas.
IV. Análise da Relevância: após a conclusão sobre qual a Justiça
competente para o julgamento de crimes ambientais cometidos em lugar sujeito
à administração militar, torna - se possível a avaliação da relevância das
informações para alcance dos objetivos propostos no início do trabalho,
apontamento das falhas e sucessos.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
DIREITO AMBIENTAL 11
CAPÍTULO II
DIREITO PENAL 17
CAPÍTULO III
DIREITO PENAL MILITAR 24
CONCLUSÃO 40
BIBLIOGRAFIA 42
ÍNDICE 44
8
INTRODUÇÃO
Uma tendência cada vez mais protecionista está se tornando
bastante evidente, tendo em vista a velocidade que tudo está se
transformando, como causa de ações antrópicas. E, nesta esteira,
respondendo a essas necessidades sociais, o Brasil apresenta um arcabouço
legislativo e doutrinário acerca de temas ambientais dos mais completos e bem
desenvolvidos do mundo. Para exemplificar o exposto, podemos citar como
exemplo a Lei 6.938/81, lei instituidora da Política Nacional do Meio Ambiente,
e a Lei 9.605/98, que trata de crimes ambientais.
A designação da Justiça competente para o julgamento de crimes
ambientais perpetrados em lugar sujeito a administração militar, torna-se
necessária na medida em que a determinação da competência para processar
e julgar os agentes que perpetram tais delitos, encontra-se em uma zona
obscura, não havendo clareza se seria na Justiça Comum Federal, ou na
Justiça Militar da União.
Partindo desta lógica, o entendimento dos conceitos, e dos termos
básicos dessas matérias passa a ter uma importância diferencial para
compreensão, e conclusão do assunto.
Com o objetivo de estabelecer e promover a paz social, entendeu-se
que se fazia necessário punir aqueles indivíduos que de alguma maneira
transgrediam as leis. Isso repercute de forma muito significativa e aparente no
Direito Penal, pois a instituição de penas evidencia muito o seu caráter prático.
Pela transgressão, o indivíduo poderá responder judicialmente. Será
processado ou não, julgado ou não, condenado ou não, punido ou não. Porém,
sejam quais forem as etapas percorridas, todas deverão estar abalizadas pelo
princípio do devido processo legal.
9
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
LIII - ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal. ”
Relativamente ao inciso LIII, art. 5º da Constituição Federal de 1988,
em se tratando de competência em matéria criminal ambiental, no
ordenamento jurídico pátrio, existem ainda outras regras cuja observação é
imprescindível. Segundo o Código de Processo Penal Comum, Decreto – Lei nº
3.689/41, em seu art. 69, encontra-se disposto que:
“Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:
I - o lugar da infração:
II - o domicílio ou residência do réu;
III - a natureza da infração;
IV - a distribuição;
V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
VII - a prerrogativa de função. ”
O assunto apesar de parecer simples, não é simplista. Fosse assim,
estaria resolvido. Bastaria a aplicação do art. 69 do Código de Processo Penal.
10
Contudo, como observa-se pelo título do presente trabalho “Justiça Comum
Federal ou Justiça Militar da União: competência para julgar crimes ambientais
cometidos em lugar sujeito à administração militar”, não haverá restrição
conceitual, ideológica e legal ao ramo Processual Penal Comum, sendo
necessária a imersão em questões relativas ao Direito Militar.
Na seção VII, art. 124, da Carta Magna, observa-se a designação “à
Justiça Militar para o processamento e julgamento dos crimes militares
definidos em lei”. A referida definição encontra-se no Código Penal Militar,
Decreto – Lei 1.001/69, e o assunto por ser consideravelmente complexo,
receberá o devido tratamento em um capítulo exclusivamente dedicado a ele.
“Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. ”
Outrossim, a demanda pela pesquisa nesta área surgiu a partir do
momento em que se observa a existência de uma tendência de restrição cada
vez maior do âmbito de atuação da Justiça Castrense, no ordenamento jurídico
pátrio.
Existe uma carência de produção de materiais relativos a esse ponto
de contato entre o Direito Ambiental e o Direito Militar, mais especificamente o
Direito Penal Militar, o que pode dar ensejo à uma série de dúvidas e
problemas de ordem prática, como por exemplo a definição da competência.
Portanto, os objetivos do presente trabalho são esclarecer qual a
Justiça competente para o julgamento de crimes ambientais cometidos em
lugar sujeito à administração militar, e entender se há conflito de competência
entre a Justiça Comum Federal e a Justiça Militar da União, e em caso de
haver, compreender os motivos e fundamentos que indicam qual a Justiça
competente para julgá-los.
11
CAPÍTULO I
DIREITO AMBIENTAL
Podemos dar inúmeras definições para meio ambiente. Uma delas,
foi trazida pelo legislador no diploma que traçou as diretrizes do que hoje
conhecemos como Política Nacional do Meio Ambiente. Trata-se do conceito
legal contido no art. 3º da Lei 6938 de 1981:
“Art. 3º - Para os fins previstos nesta Lei, entende-se por:
I - meio ambiente, o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Entretanto, o conceito apresentado na lei diz respeito somente ao
meio ambiente natural, sendo, portanto, uma conceituação absolutamente
restrita para as nossas necessidades atuais. Ele acaba excluindo aspectos
(meio ambiente sob o ponto de vista artificial, cultural, do trabalho, patrimônio
genético, etc.) imprescindíveis para o completo entendimento do termo.
A expressão meio ambiente, talvez no momento da escolha dos
termos utilizados, trouxe em si a capacidade de tornar impossível a criação de
um conceito único. Conforme ensina Edis Milaré (2001):
“Tanto a palavra meio quanto o vocábulo ambiente passam por conotações, quer na linguagem científica quer na vulgar. Nenhum destes termos é unívoco (detentor de um significado único), mas ambos são equívocos (mesma palavra com significados diferentes). Meio pode significar: aritmeticamente, a metade de um inteiro; um dado contexto físico ou social; um recurso ou insumo para se alcançar ou produzir algo. Já ambiente pode representar um espaço geográfico ou social, físico ou psicológico, natural ou artificial. Não chega, pois, a ser redundante a expressão meio ambiente, embora no sentido vulgar a palavra identifique o lugar, o sítio, o recinto, o espaço que envolve os seres vivos e as coisas. De qualquer forma, trata-se de expressão consagrada na língua portuguesa, pacificamente usada pela doutrina, lei e jurisprudência de
12
nosso país, que, amiúde, falam em meio ambiente, em vez de ambiente apenas. ”
Percebe-se, portanto, como é complexo o termo em sua essência. E
como o mesmo autor (2003) afirma, “meio ambiente pertence a uma daquelas
categorias cujo conteúdo é mais facilmente intuído que definível, em virtude da
riqueza e complexidade do que encerra”.
1.1. Conceito
De acordo com Coelho (2008), Direito Ambiental é um “sistema de
normas jurídicas que, estabelecendo limitações ao direito de propriedade e ao
direito de exploração econômica dos recursos da natureza, objetivam a
preservação do meio ambiente com vistas à melhor qualidade da vida
humana”.
É datada de 1975 a conferência na qual o mesmo autor inaugurou
essa denominação, e a propositura da sua definição à matéria Direito
Ambiental. Percebemos que em data anterior a concepção da lei instituidora da
Política Nacional do Meio Ambiente, Lei 6938/81, já havia a demanda pela
sistematização e automação do Direito Ambiental.
Define Mukai (2002) que Direito Ambiental é o ramo da Ciência
Jurídica que cuida da proteção do meio ambiente.
Dentre diversas conceituações, sem, contudo, uma anular a outra,
parece ser mais acertada a mais acepção de Milaré (2004), por ser a mais
abrangente. Segundo ele, Direito Ambiental é um conjunto de princípios e
normas que objetivam regular atividades humanas habilitadas a afetar direta ou
indiretamente o meio ambiente, tendo em vista a sustentabilidade das
presentes e futuras gerações.
13
Portanto, quanto mais abrangente, maior será a sua capacidade de
efetivar e concretizar todos aqueles objetivos almejados pelo arcabouço
ideológico existente, no que se refere à preservação do meio ambiente em sua
totalidade considerado.
1.2. Destinatários do Direito Ambiental
O presente subtópico é tema de bastante controvérsia. Qual, quais,
ou quem são os destinatários do Direito Ambiental? Os seres humanos
exclusivamente? A fauna, flora, recursos naturais? O meio ambiente
globalmente considerado, e nele incluídos tanto os seres humanos, quanto
toda a natureza, de uma forma geral?
Trata-se o Direito Ambiental de um direito de 3ª dimensão, ou seja,
está ligado a qualidade de vida, o que se deu principalmente no pós-guerra. É
certamente um direito difuso, e assim sendo, ele apresenta algumas
características, como por exemplo a transindividualidade, a titularidade
indeterminada, etc.
A nossa Constituição Federal de 1988, em seu art. 225, é incisiva ao
dizer que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao
Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as
presentes e futuras gerações”.
É fato também que o já mencionado art. 3º da Lei nº 6.938/81 traz
em sua essência a ideia de acepção global, ou seja, a ideia de inserção do ser
humano na natureza, quando expressa que meio ambiente é “o conjunto de
condições, leis, influências e interações de ordem física, química e biológica,
que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
14
Os exemplos legislativos supracitados compõem as fileiras dos
argumentos e instrumentos utilizados como modo de proteger o meio ambiente
sob um ponto de vista ético-ecológico.
Há aqueles que entendem ser o ser humano o destinatário exclusivo
do Direito Ambiental. Tudo dependerá do referencial utilizado. Ao aceitarmos
que nós seres humanos fazemos, sim, parte da natureza; que somos
beneficiadores e beneficiados da preservação do meio ambiente,
conseguiremos entender que o Direito Ambiental é destinado ao meio ambiente
globalmente considerado, expressão cunhada por Milaré (2004), ou seja, seres
humanos e natureza fazendo parte de um mesmo todo.
Logo, no que diz respeito ao meio ambiente globalmente
considerado, cumpre nos filiarmos à corrente preservacionista, na medida em
que se tem o Direito Ambiental como um ramo protetivo do meio ambiente (ser
humano/natureza), e o mesmo deve ser prezado independentemente dos
interesses exclusivos do homem.
1.3. Autonomia do Direito Ambiental
Muito embora seja o Direito Ambiental uma ciência holística devido a
sua transdisciplinaridade, ele é hoje um ramo autônomo do Direito.
O Direito Ambiental pode ser considerado transdisciplinar porque,
conforme conceituou Santos (2005), “ele busca a unidade do conhecimento
para encontrar um sentido para a existência do Universo, da vida e da espécie
humana”.
Ao mesmo tempo que está interligado com praticamente todos os
ramos do Direito, transitando e agregando suas especificidades e
funcionalidades, com o passar do tempo, mais especificamente com o advento
15
da Lei 6938/81 que trouxe consigo uma série de instrumentos, mecanismos,
particularidades, o Direito Ambiental adquiriu plena autonomia.
Autonomia essa que, longe de excluir, fortalece a conectividade com
as diversas áreas da ciência jurídica e demais outras ciências. Por exemplo,
acerca das áreas referidas no presente trabalho, podemos observar no Direito
Penal, o Direito Ambiental aparecendo sob o prisma das normas
criminalizadoras das condutas prejudiciais ao meio ambiente; no Direito
Processual Penal o Direito Ambiental se apresenta nas ações penais
ambientais, e nas especificidades dos seus procedimentos.
Esse trânsito contínuo do Direito Ambiental pelos vários ramos do
Direito, que é o que faz com que ele seja considerado uma ciência holística,
permite que as abordagens e os entendimentos sobre determinados assuntos
sejam realizados de maneira transdisciplinar.
Muitas questões podem ser levantadas em posse dessas
informações. Uma delas, diz respeito à limitação material dos âmbitos diversos
do Direito. Sobretudo quando se tem entendimentos e interpretações
transdisciplinares sobre determinados assuntos. Qual o limite de atuação de
determinada matéria sobre o caso concreto? A legislação aplicável sobre
determinado assunto será a relacionada ao Direito Ambiental? No caso da
apresentação de mais de uma alternativa aplicável, a especificidade normativa
será prevalente?
O presente trabalho irá se debruçar sobre um determinado aspecto
relacionado a esse assunto. Mais especificamente sobre a definição de
competência para julgamento de crimes ambientais cometidos em lugar sujeito
à administração militar.
Essa relação do Direito Ambiental com o Direito Penal, e Direito
Penal Militar é o que se seguirá nos próximos capítulos.
16
17
CAPÍTULO II
DIREITO PENAL
A finalidade do Direito Penal é a proteção da sociedade e do
indivíduo, ou, nas sábias palavras de Greco (2013), “é proteger os bens mais
importantes e necessários para a própria sobrevivência da sociedade.
O Direito Penal é então o responsável pela tutela dos bens jurídicos
mais caros e valiosos existentes, a saber, principalmente, a vida e a liberdade.
2.1. Princípios
Para efetivamente exercer essa proteção, ele busca respaldo e força
nos princípios constitucionais que podem ser tanto explícitos, quanto implícitos,
sendo os princípios explícitos aqueles que se encontram no texto
constitucional, e os implícitos aqueles aduzidos pela interpretação da
Constituição, e pelo entendimento dos doutrinadores.
Destarte, com o intuito de proteger a sociedade, tais princípios
podem funcionar de forma a limitar o poder estatal a fim de evitar possíveis
abusos.
Podemos citar como exemplo o princípio da legalidade que se
encontra expresso no inciso XXXIX, art. 5º da Constituição Federal de 1988, no
qual observamos que:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
(...)
18
XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.
Neste mesmo inciso, encontramos ainda os princípios da reserva
legal, e da anterioridade, quando o legislador constituinte fez menção aos
termos lei, e anterior, respectivamente. Ou seja, não haverá crime se
anteriormente a conduta praticada, não houver um uma lei tipificando o fato.
Ainda nesta esteira, citaremos o princípio da culpabilidade, que se
trata de um princípio constitucional implícito, buscando a sua validade no
princípio da dignidade da pessoa humana. Segundo o entendimento a respeito
desse princípio, ao agente só serão imputadas às condutas se ele houver agido
ao menos culposamente.
E, por fim, o princípio da intervenção mínima, conforme os breves,
porém esclarecedores dizeres de Greco (2013), “o Direito Penal só deve
preocupar-se com a proteção dos bens mais importantes e necessários à vida
em sociedade”.
2.2. Crime
2.2.1. Conceito analítico de crime
Não existe no nosso ordenamento jurídico atual qualquer dispositivo
legal que nos traga o conceito de crime. Portanto, o conceito de matéria
essencialmente doutrinária.
A saber, conforme ponto de vista analítico, crime é toda conduta
praticada por um agente que congrega, obrigatoriamente, um fato típico,
antijurídico e culpável. Trata-se da teoria finalista da ação.
2.2.2. Elementos do conceito analítico de crime
19
O fato típico é a conduta comissiva ou omissiva, dolosa ou culposa,
legalmente tipificada, que conforme determinado nexo de causalidade é
responsável pela criação de um resultado. Podemos entender, portanto, a
inclusão do dolo e da culpa na conduta, logo, estão no tipo penal. Dolo é
natural, é psicológico, e não normativo.
A ilicitude, ou antijuridicidade, segundo Greco (2013) é a relação de
contrariedade entre a conduta praticada pelo agente e o ordenamento jurídico
como um todo. Como um todo, pois o ilícito é um só. A ilicitude ataca todos os
ramos do Direito. O ilícito para um ramo, é também para os demais.
A culpabilidade conforme o mesmo autor (2013), “é o juízo de
reprovação pessoal que se faz sobre a conduta ilícita do agente”. Não existe
um só elemento psicológico na culpabilidade. O Direito Penal Comum adota a
Teoria Normativa pura, em consequência da adoção da teoria finalista da ação.
A doutrina sinaliza como sendo elementos da culpabilidade a imputabilidade, a
exigibilidade de conduta diversa, e a consciência potencial da ilicitude.
A imputabilidade relaciona-se diretamente com o fato de a pessoa,
no exato momento da prática da conduta, ter duas plenas capacidades: ter
plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato; e ter plena capacidade
de determinar-se de acordo com esse entendimento.
A exigibilidade de conduta diversa quer dizer que no momento da
prática da conduta, a pessoa poderia agir de outro modo, mas optou por
praticar a conduta ilícita.
Consciência potencial da ilicitude significa que o agente tinha
condições de entender o caráter criminoso da conduta praticada, no exato
momento do seu cometimento.
2.3. Direito Penal Comum
20
2.3.1. Código Penal Comum
O Código Penal é datado de 07 de dezembro de 1940. Ele foi
sistematizado de forma a englobar de forma satisfatória os anseios da
sociedade daquela época.
A principal lei do ordenamento jurídico no que diz respeito a
respostas àqueles causadores de um mal a sociedade dispõe de duas partes,
sendo a primeira a sua Parte Geral, na qual encontra-se particularidades como
a aplicação da lei penal, do crime, da imputabilidade penal, do concurso de
pessoas, das penas, das medidas de segurança, da ação penal, da extinção da
punibilidade.
Na sua segunda parte, a Parte Especial, encontram-se tipificados os
crimes contra os bens jurídicos a serem protegidos pelo Código Penal, os
crimes contra a pessoa, contra o patrimônio, a propriedade imaterial, a
organização do trabalho, o sentimento religioso e respeito aos mortos, a
dignidade sexual, a família, a incolumidade pública, a paz pública, a fé pública,
a administração pública.
É impossível conceber que, desde 1940, a sociedade não tenha se
modificado a ponto de conter no Código Penal tudo o que a sociedade espera
como resposta punitiva aos males causados.
Ante as novas demandas, surgiram novos entendimentos, novas
necessidades, e também novas leis. A essas inovações legislativas, no tocante
ao Direito Penal, dá-se o nome de leis especiais, ou leis extravagantes. E isso
se deu em diversas áreas do Direito Penal, inclusive relacionado ao Direito
Ambiental.
2.3.2. Lei Penal Extravagante - Lei 9.605/98
21
Como um bom exemplo de lei penal extravagante, temos a Lei 9.605
de 1998, que trata dos chamados crimes ambientais. Esse diploma discorre
acerca das sanções penais e administrativas derivadas de condutas e
atividades lesivas ao meio ambiente.
No seu Capítulo V, encontramos os artigos referentes aos crimes
contra o meio ambiente, propriamente ditos, e eles estão subdivididos nas
seções dos crimes contra a fauna; contra a flora; da poluição e outros crimes
ambientais; contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural, contra a
administração ambiental.
No capítulo IV, observamos especificidades acerca da ação e do
processo penal. Conforme art. 26, a ação penal é pública incondicionada nas
infrações penais previstas nesse diploma. Nos art. 27 e 28, encontramos
informação da especialização nos casos de crimes ambientais de menor
potencial ofensivo.
Ou seja, somente nesses três artigos estão apresentadas
especificidades relacionadas a questão processual penal nos casos de Direito
Penal Ambiental.
2.4. Direito Processual Penal Comum
O Código de Processo Penal, Decreto-Lei nº 3.689 de 1941, dispõe
em seu primeiro artigo que:
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
(...)
III - os processos da competência da Justiça Militar”.
22
Observamos que no inciso III do art. 1º temos uma peculiaridade
relacionada ao tema do presente trabalho. Os processos da competência da
Justiça Militar representam exceções. Eles não são regidos pelo Código de
Processo Penal Comum.
Segundo o art. 124 da Constituição Federal de 1988, a competência
para processar e julgar os crimes militares, é da Justiça Militar.
Como regra, a competência jurisdicional é determinada no Título V
Da Competência, no art. 69:
Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:
I - o lugar da infração:
II - o domicílio ou residência do réu;
III - a natureza da infração;
IV - a distribuição;
V - a conexão ou continência;
VI - a prevenção;
VII - a prerrogativa de função.
Conforme o art. 70 do Código de Processo Penal, a competência
será determinada, como regra, pelo lugar onde a infração se consumar.
E para o caso de estarmos diante de um crime perpetrado em lugar
sujeito a administração militar? Ainda assim utilizaremos a regra da
determinação da competência pelo lugar da infração, ou algum outro inciso
presente neste artigo? Qual diploma legal será utilizado para a determinação
23
dessa competência? O Código de Processo Penal Comum, ou o Código de
Processo Penal Militar?
Para entendermos tais questionamentos, deveremos primeiramente,
nos aprofundarmos no assunto Direito Penal Militar, que será o tema do
próximo capítulo.
24
CAPÍTULO III
DIREITO PENAL MILITAR
Depois de todo o exposto, cabe agora analisar o assunto Direito
Penal Militar. Trata-se a Justiça Militar da União de ramo da Justiça Federal da
União especializada, e em tese, sua jurisdição é todo o território nacional.
A Constituição Federal de 1988, nos mostra no art. 124:
“Art. 124. à Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei.”
Sabemos agora, que a competência para processar e julgar da
Justiça Militar é restrita aos casos de crimes militares.
No presente trabalho, todos os assuntos relacionados ao militarismo
serão referentes à Justiça Militar da União.
Os crimes considerados militares encontram-se no Decreto-Lei
1.001 de 1969, o chamado Código Penal Militar.
3.1. Crimes militares próprios e impróprios
Antes de darmos prosseguimento ao tema, precisamos entender que
existe diferença entre crimes comuns, e crimes militares. Sendo os primeiros,
crimes de competência da Justiça Comum, e os segundos da competência da
Justiça Militar.
Os crimes militares apresentam também a divisão entre crimes
militares próprios, e crimes militares impróprios. Para essa classificação
existem dois entendimentos sobre as suas definições.
25
A primeira corrente diz que crimes militares próprios são aqueles
somente previstos no Código Penal Militar, e com sujeito ativo
necessariamente militar, e crimes militares impróprios são aqueles que estão
previstos no Código Penal Militar, ou no Código Penal Comum, e com sujeito
ativo civil.
Essa corrente, apesar de ser muito forte, apresenta um problema de
ordem prática. Para que ela vigore, seria necessário o preenchimento dos dois
requisitos. Acontece que existe o chamado crime militar de insubmissão,
presente no art. 183 do Código Penal Militar, segundo o qual:
“Art. 183. Deixar de apresentar-se o convocado à incorporação, dentro do prazo que lhe foi marcado, ou, apresentando-se, ausentar-se antes do ato oficial de incorporação:
Pena - impedimento, de três meses a um ano”.
No referido crime, o sujeito ativo tem que ser necessariamente um
civil. E não existe previsão legal desse crime, senão no Código Penal Militar.
Tal impasse é facilmente solucionado pela segunda corrente, que
parece ser a mais acertada, e que nos informa que os crimes militares próprios
são aqueles previstos somente no Código Penal Militar, ou na legislação penal
comum de modo diverso, qualquer que seja o agente.
3.2. Crimes militares em tempo de paz e em tempo de guerra
Conforme se verá em tópico próximo, a Parte Especial do Código
Penal Militar se divide em duas partes, e elas se referem ao tempo em que os
crimes militares são praticados. Ela prevê a divisão entre crimes militares em
tempo de paz, e crimes militares em tempo de guerra.
26
Tal divisão, apesar de todo o seu detalhamento legal, apresenta
aplicação simples.
Aplicam-se a parte referente aos crimes militares em tempo de paz,
aos crimes militares praticados em tempo de paz; e a parte concernente aos
crimes militares em tempo de guerra, aos crimes militares praticados em tempo
de guerra.
A única conceituação de conhecimento necessário para que se faça
essa distinção é sobre o que seria tempo de guerra.
Considera-se tempo de guerra o momento de conflito armado
externo. Como se apresenta de forma expressa em nossa Constituição Federal
de 1988, aqui no Brasil, a declaração de guerra é uma atribuição do Presidente
da República, sendo sua competência privativa.
“Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República:
(...)
XIX - declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional ou referendado por ele, quando ocorrida no intervalo das sessões legislativas, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional”.
3.3. Justiça Militar Federal e Estadual
Temos que a Justiça Militar Federal pode processar e julgar
qualquer um, seja militar das forças armadas, seja militar estadual, seja civil.
A Justiça Militar Estadual é competente somente para o
processamento e o julgamento dos militares estaduais. Jamais um civil, ou
militar das forças armadas pode ser processado e julgado aqui.
27
Como anteriormente mencionado, o presente trabalho irá tratar
somente dos casos da Justiça Militar Federal, muito embora caibam, nesse
momento, levarmos em consideração o que a Constituição Federal de 1988
nos traz acerca da competência da Justiça Militar Estadual, senão vejamos:
“Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição.
(...)
§ 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.
§ 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares. ”
3.4. Conceito de crime militar
Crime militar em tempo de paz é todo aquele crime definido na parte
especial do Código Penal Militar, somado à circunstância do art. 9º, do mesmo
diploma.
Ambos são requisitos necessários. São obrigatórios. Na falta de
qualquer um, não é crime militar.
Como exemplo, podemos citar o crime de tortura, abuso de
autoridade, contra a ordem tributária, contra o sistema financeiro, contra as
relações de consumo, crimes de trânsito, econômicos, etc. Não há previsão de
nenhum desses crimes na parte especial do Código Penal Militar.
28
Crime militar em tempo de guerra é aquele que consta, ou não, na
parte especial do Código Penal Militar, e encontra-se estabelecido nas
hipóteses do art. 10, do CPM.
3.4.1. Crimes militares em tempo de paz (CPM, art. 9º)
Para a total compreensão do conceito de crime militar devemos nos
debruçar sobre os artigos 9º e 10, do Código Penal Militar.
No art. 9º, I, do CPM, encontram-se os crimes propriamente
militares, segundo a corrente que define que crimes militares próprios são
aqueles previstos somente no Código Penal Militar, ou na legislação penal
comum de modo diverso, qualquer que seja o agente. Senão vejamos:
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
I - os crimes de que trata este Código, quando definidos de modo diverso na lei penal comum, ou nela não previstos, qualquer que seja o agente, salvo disposição especial”.
No que se refere a crimes previstos somente no CPM, existem duas
óticas de análise acerca da tipificação pelo Código Penal Militar. Segundo
Nucci (2013):
“O incido I cuida de hipóteses específicas dos delitos tipificados pelo Código Penal Militar em dois enfoques: a) de modo exclusivo, sem qualquer correspondente em legislação penal comum, podendo ser próprio ou impróprio; b) de modo peculiar, pois a redação difere da legislação penal comum, sendo impróprio”.
O inciso II, do art. 9º, do CPM, apresenta um conjunto de alíneas em
que cada uma representa uma hipótese a ser considerada. Neste inciso está
definido que será crime militar aquele que estiver tipificado tanto no Código
Penal Militar, quanto na legislação penal comum de modo idêntico, e o agente
for militar da ativa.
29
Algumas observações cabem à alínea a. Primeiro a situação de
atividade mencionada é equivalente a expressão militar da ativa. Segundo, vale
ressaltar que não existe mais a figura do assemelhado.
Trata a mencionada alínea de crime praticado por militar da ativa
contra militar da ativa. Não há necessidade de que qualquer um dos envolvidos
esteja de serviço. Ambos podem estar de serviço, ou não. Ou apenas um pode
estar. Esse é o atual entendimento do Superior Tribunal Militar.
Contudo, entende de modo diverso o Supremo Tribunal Federal.
Crime não relacionado com valores da caserna, fora do quartel, não estando
nenhum envolvido de serviço, afirma o STF ser caso de crime comum.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
a) por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado ”.
Nos traz a alínea b que o sujeito ativo é um militar da ativa, o sujeito
passivo é um militar da reserva, reformado ou civil. Não importando, se
militares, se estão ou não de serviço.
O ponto mais importante a ser observado nesta alínea é a
obrigatoriedade de o crime ser praticado em lugar sujeito à administração
militar.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
30
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
(...)
b) por militar em situação de atividade ou assemelhado, em lugar sujeito à administração militar, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil”.
Ao contrário da alínea anterior, na alínea c, do art. 9º, do CPM, não
interessa o lugar onde se pratica a ação. A necessidade demonstrada é que o
delito seja praticado por militar em serviço, seja atuando em razão da função,
em comissão de natureza militar, ou em formatura.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
(...)
c) por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar, ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou reformado, ou civil”.
Encontra-se expresso na alínea d que o sujeito ativo é militar da
ativa, o sujeito passivo militar da reserva, reformado ou civil, não importando o
lugar, tampouco se estão ou não de serviço. No caso em tela, o importante é
que seja durante período de manobra ou exercício.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
31
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
(...)
d) por militar durante o período de manobras ou exercício, contra militar da reserva, ou reformado, ou assemelhado, ou civil”.
Tratam-se dos casos, na alínea e dos crimes patrimoniais militares.
O patrimônio afetado pelas Forças Armadas é da União, e não das Forças
Armadas. Estas são somente administradoras dos bens da União. Aqui temos
o sujeito ativo sendo militar da ativa, o sujeito passivo o patrimônio sob
administração militar ou a ordem administrativa militar, não importando o lugar,
bem como se os envolvidos estão ou não de serviço.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
II - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum, quando praticados:
(...)
e) por militar em situação de atividade, ou assemelhado, contra o patrimônio sob a administração militar, ou a ordem administrativa militar”.
Nos casos do art. 9º, III, do CPM, todos os sujeitos ativos são
militares da reserva, reformados, ou civis, e o requisito a ser preenchido é que
seja contra instituições militares.
A alínea a desse inciso é idêntica a alínea e do inciso anterior. O que
muda é o sujeito ativo. Estamos falando dos crimes patrimoniais, seja contra
patrimônio sob administração militar, seja contra a administração pública
militar. Na presente situação, o sujeito ativo deve ser um militar da reserva,
32
reformado, ou civil, o sujeito passivo, como mencionado acima acerca da sua
identidade com a última alínea do inciso anterior, o sujeito passivo é o
patrimônio sob administração militar ou a ordem administrativa militar, não
importando o lugar, bem como se os envolvidos estão ou não de serviço.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
a) contra o patrimônio sob a administração militar, ou contra a ordem administrativa militar”.
Na alínea seguinte, temos que o crime tem que ser praticado em
lugar sujeito a administração militar. O sujeito ativo deve ser militar da reserva,
reformado ou civil. O sujeito passivo poderá ser militar da ativa, funcionário de
ministério militar (pode ser civil; servidor público federal do Ministério da
Defesa), funcionário da Justiça Militar (como os analistas, técnicos, oficiais de
justiça, etc.) no exercício de função inerente ao cargo.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
(...)
b) em lugar sujeito à administração militar contra militar em situação de atividade ou assemelhado, ou contra funcionário de
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Ministério militar ou da Justiça Militar, no exercício de função inerente ao seu cargo”.
Na alínea c, não importando o local da prática do crime, nem se os
envolvidos estão de serviço, ou não, encontramos a figura do sujeito ativo
sendo militar da reserva, reformado ou civil, e a figura do sujeito passivo como
sendo o militar da ativa em formatura, durante o período de manobra, exercício,
prontidão, vigilância, observação, acampamento ou acantonamento.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
(...)
c) contra militar em formatura, ou durante o período de prontidão, vigilância, observação, exploração, exercício, acampamento, acantonamento ou manobras”.
Já na alínea d percebe-se a necessidade de o sujeito passivo estar
em serviço para a caracterização da atividade delituosa. O sujeito ativo militar
da reserva, reformado ou civil. Pouco importando o lugar da prática criminosa.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
III - os crimes praticados por militar da reserva, ou reformado, ou por civil, contra as instituições militares, considerando-se como tais não só os compreendidos no inciso I, como os do inciso II, nos seguintes casos:
(...)
34
d) ainda que fora do lugar sujeito à administração militar, contra militar em função de natureza militar, ou no desempenho de serviço de vigilância, garantia e preservação da ordem pública, administrativa ou judiciária, quando legalmente requisitado para aquele fim, ou em obediência a determinação legal superior”.
Por fim, ainda relacionado ao art.9º, do Código Penal Militar, temos o
polêmico parágrafo único. Apesar de fugir um pouco da temática do presente
trabalho, teceremos breves comentários acerca deste dispositivo que trata de
crime doloso contra a vida cometido contra civil.
“Art. 9º Consideram-se crimes militares, em tempo de paz:
(...)
Parágrafo único. Os crimes de que trata este artigo quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil serão da competência da justiça comum, salvo quando praticados no contexto de ação militar realizada na forma do art. 303 da Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica”.
Existem duas correntes a respeito do assunto. Entende o Superior
Tribunal Militar que a aplicação do dispositivo só se dá quando o crime é
praticado por militar estadual contra civil. Essa é a primeira corrente.
O entendimento diverso, do Supremo Tribunal Federal, que inclusive
é o entendimento majoritário, apresenta cinco desdobramentos.
Quando o crime for praticado por militar federal estadual ou distrital,
em qualquer lugar, sendo militar da ativa ou não, estando de serviço ou não,
contra civil, entende o STF se tratar de caso de crime comum, da competência
do Tribunal do Júri.
O segundo desdobramento é sobre a ressalva presente no
dispositivo, qual seja o art. 303, do CBA, Código Brasileiro da Aeronáutica, Lei
7.565 de 1986. O artigo mencionado fala sobre um instituto chamado tiro de
35
destruição, ou lei do abate. Nesse caso, o crime praticado por militar contra civil
será considerado crime militar. Segundo o mencionado artigo:
“Art. 303. A aeronave poderá ser detida por autoridades aeronáuticas, fazendárias ou da Polícia Federal, nos seguintes casos:
(...)
§ 1° A autoridade aeronáutica poderá empregar os meios que julgar necessários para compelir a aeronave a efetuar o pouso no aeródromo que lhe for indicado.
§ 2° Esgotados os meios coercitivos legalmente previstos, a aeronave será classificada como hostil, ficando sujeita à medida de destruição, nos casos dos incisos do caput deste artigo e após autorização do Presidente da República ou autoridade por ele delegada”.
3.4.2. Crimes militares em tempo de guerra (CPM, art. 10)
Além das situações em que os crimes são considerados crimes
militares em tempo de paz, existem também aqueles em que são considerados
crimes militares em tempo de guerra. Estes estão previstos no art. 10, do
Código Penal Militar.
O art. 10, do CPM, é organizado em quatro incisos. Cada inciso
trazendo suas particularidades.
No inciso I temos que serão considerados crimes militares em tempo
de guerra todos aqueles crimes previstos na parte especial do Código Penal
Militar, para o tempo de guerra.
Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:
I - os especialmente previstos neste Código para o tempo de guerra”.
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No inciso II, sem maiores dificuldades, observamos que são crimes
militares em tempo de guerra aqueles crimes militares previstos para o tempo
de paz.
Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:
(...)
II - os crimes militares previstos para o tempo de paz”.
O terceiro inciso traz a informação de que serão crimes militares em
tempo de guerra, os crimes com previsão no Código Penal Militar, bem como
aqueles previstos na legislação penal comum de maneira idêntica, qualquer
que seja o agente, quando praticados em território nacional ou estrangeiro
militarmente ocupado, ou em qualquer lugar, se comprometerem operações
militares, ou atentarem contra a segurança externa do país.
Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:
(...)
III - os crimes previstos neste Código, embora também o sejam com igual definição na lei penal comum ou especial, quando praticados, qualquer que seja o agente:
a) em território nacional, ou estrangeiro, militarmente ocupado;
b) em qualquer lugar, se comprometem ou podem comprometer a preparação, a eficiência ou as operações militares ou, de qualquer outra forma, atentam contra a segurança externa do País ou podem expô-la a perigo”.
Consta no inciso IV, que serão crimes militares em tempo de guerra
aqueles existentes somente na legislação penal comum, quando praticados em
zonas de efetivas operações militares, ou território estrangeiro militarmente
ocupado.
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Art. 10. Consideram-se crimes militares, em tempo de guerra:
(...)
IV - os crimes definidos na lei penal comum ou especial, embora não previstos neste Código, quando praticados em zona de efetivas operações militares ou em território estrangeiro, militarmente ocupado”.
Na hipótese desse último inciso, serão crimes militares inclusive os
crimes de tortura, abuso de autoridade, tributários, financeiros, do ECA, todos
os crimes contra o meio ambiente, etc.
É importante destacar o significado do termo tempo de guerra, para
que se possa aplicar efetivamente o dispositivo supramencionado. Tal definição
encontra-se no art. 15, do Código Penal Militar:
“Art. 15. O tempo de guerra, para os efeitos da aplicação da lei penal militar, começa com a declaração ou o reconhecimento do estado de guerra, ou com o decreto de mobilização se nele estiver compreendido aquele reconhecimento; e termina quando ordenada a cessação das hostilidades”.
Como anteriormente comentado, vale lembrar que a declaração de
guerra é uma atribuição do Presidente da República, sendo sua competência
privativa, segundo expresso no art. 84, da Constituição Federal de 1988.
3.5. Crimes contra o meio ambiente no Código Penal Militar
Ao realizarmos uma análise pormenorizada do Código Penal Militar,
principalmente no que se refere à parte especial, ainda mais especificamente
dos crimes militares em tempo de paz, encontraremos sim a tipificação de
crimes contra o meio ambiente.
Podemos citar artigos do título que trata dos crimes contra a
incolumidade pública, no capítulo referente aos crimes de perigo comum.
38
É o que ocorre, por exemplo com o crime de incêndio, que apresenta
identidade de previsão no art. 268, do Código Penal Militar:
“Art. 268. Causar incêndio em lugar sujeito à administração militar, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a oito anos.
§ 1º A pena é agravada:
(...)
II - se o incêndio é:
(...)
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta”.
No art. 250, do Código Penal Comum:
“Art. 250 - Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outrem:
Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.
(...)
§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:
(...)
II - se o incêndio é:
(...)
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta”.
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E no art. 41, da Lei 9.605 de 1998:
“Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta:
Pena - reclusão, de dois a quatro anos, e multa”.
O mesmo acontece com o crime de difusão de epizootia ou praga vegetal, previsto no art. 278, do CPM:
“Art. 278. Difundir doença ou praga que possa causar dano a floresta, plantação, pastagem ou animais de utilidade econômica ou militar, em lugar sob administração militar:
Pena - reclusão, até três anos”.
No art. 259, do Código Penal:
“Art. 259 - Difundir doença ou praga que possa causar dano a floresta, plantação ou animais de utilidade econômica:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa”.
E no art. 61, da Lei 9.605/98:
“Art. 61. Disseminar doença ou praga ou espécies que possam causar dano à agricultura, à pecuária, à fauna, à flora ou aos ecossistemas:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa”.
Ou seja, ocorrendo os crimes previstos nos art. 268 e 278 do Código
Penal Militar, e for preenchida circunstância do art. 9º, do mesmo diploma legal,
estaremos diante de um crime militar, sendo, portanto, competente para
processá-los e julgá-los, a Justiça Castrense.
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CONCLUSÃO
É inegável a evolução ideológica e política que se faz presente na
legislação pátria quando estamos nos referindo ao assunto meio ambiente.
No ínterim dessas progressões, encontra-se a especialização cada
vez maior das matérias relacionadas ao mundo jurídico. Aquilo que era matéria
de um ramo ontem, agora tem previsão e competência específica, se
desvinculando e pertencendo à outra área do Direito. Com as matérias
relacionadas no presente trabalho não se faz diferente, existe uma tendência
de restrição cada vez maior do âmbito de atuação da Justiça Castrense no
ordenamento jurídico pátrio. O mesmo acontece com o Direito Penal Comum, e
também com o Direito Ambiental.
O presente trabalho analisou a competência para processamento e
julgamento de crimes contra o meio ambiente perpetrados em lugar sujeito à
administração militar. Observou aspectos e características relacionados aos
temas Direito Ambiental, Direito Penal Comum, e Direito Penal Militar, e os
seus pontos de contato.
Concluiu-se acerca da possibilidade de existência de crimes contra o
meio ambiente serem da competência da Justiça Castrense. Tratam-se dos
crimes de incêndio, presentes no art. 268, do Código Penal Militar, do art. 250,
do Código Penal Comum, e do art. 41, da Lei 9.605/98; e difusão de doença ou
praga, conforme art. 278, do CPM, art. 259, e art. 61, da Lei 9.605/98.
Apesar de praticamente todos os crimes ambientais praticados em
lugar sujeito à administração militar serem da competência da Justiça Comum
Federal, existem casos em que essa assertiva não se faz verdadeira. São
exceções à regra.
41
A regra é que crimes contra o meio ambiente praticados em lugar
sujeito à administração militas são da competência da Justiça Comum Federal.
Contudo, caso haja a prática dos crimes supramencionados, e forem
preenchidas as circunstâncias do art. 9º do Código Penal Militar, estaremos
diante de exceção à regra. Tratando-se, nos casos, de crimes militares contra o
meio ambiente, de competência para processamento e julgamento, da Justiça
Militar da União.
42
BIBLIOGRAFIA
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2004.
MUKAI, Toshio. Direito ambiental sistematizado. 4ª ed. Rio de Janeiro: Forense
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COELHO, L. F. Dogmática, Zetética E Crítica Do Direito Ambiental. Rev. Ciên.
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COELHO, Luiz Fernando, Aspectos Jurídicos da Proteção Ambiental. Curso da
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43
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<http://www.ufrrj.br/leptrans/arquivos/O_QUE_e_TRANSDISCIPLINARIDADE.p
df>. Acesso em:17/03/2016.
44
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I DIREITO AMBIENTAL 11 1.1. Conceito 12 1.2. Destinatários do Direito Ambiental 13 1.3. Autonomia do Direito Ambiental 14 CAPÍTULO II DIREITO PENAL 17 2.1. Princípios 17 2.2. Crime 18 2.2.1 Conceito analítico de crime 18 2.2.2 Elementos do conceito analítico de crime 19 2.3. Direito Penal Comum 20 2.3.1 Código Penal Comum 20 2.3.2 Lei Penal Extravagante – Lei 9.605/98 21 2.4. Direito Processual Penal Comum 21 CAPÍTULO III DIREITO PENAL MILITAR 24 3.1. Crimes militares próprios e impróprios 24 3.2. Crimes militares em tempo de paz e em tempo de guerra 25 3.3. Justiça Militar Federal e Estadual 26 3.4. Conceito de crime militar 27 3.4.1 Crimes militares em tempo de paz (CPM, art. 9º) 28 3.4.2 Crimes militares em tempo de guerra (CPM, art. 10) 35 3.5. Crimes contra o meio ambiente no Código Penal Militar 37 CONCLUSÃO 40 BIBLIOGRAFIA 42 ÍNDICE 44