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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A DEGRADAÇÃO DO
CERRADO GOIANO
SEVERINA ALVES DOS SANTOS SILVA.
ORIENTADOR (A)
PROF: Celso Sánchez
POSSE – GO
2008.
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2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A DEGRADAÇÃO DO
CERRADO GOIANO
SEVERINA ALVES DOS SANTOS SILVA
POSSE – GO
2008
Trabalho monográfico apresentado como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Especialista em Educação Ambiental de Severina
Alves dos Santos Silva.
3
Dedico esse trabalho a meu esposo
Claudionor, a meus filhos Caroline, Paulo Henrique e
Camila que foram presença, que compreenderam
minha ausência, dando-me o apoio necessário para
continuar nesta luta, suas companhias, seus
sorrisos, suas palavras e mesmo suas ausências
foram expressões de profundo amor nos méritos
desta grande conquista
4
A Deus, que se fez presente em todos os momentos
passo a passo pude sentir a sua mão segurando a minha,
transmitindo-me a segurança necessária para enfrentar
meu caminho e seguir.
Aos meus colegas de trabalho que me incentivaram
para que pudesse alcançar a segunda vitória.
Ao professor Celso Sánchez, meu orientador, que
disponibilizou em ajudar-me todas as vezes que tive
dúvidas no decorrer do curso, o meu muito obrigado pelo
carinho e dedicação.
5
“Não importa onde você parou. Em que momento
da vida você cansou. O que importa é que sempre é
possível e necessário Recomeçar”.
Carlos Drummond de Andrade.
6
RESUMO
Indubitavelmente a sociedade atual caracteriza-se pelo avanço técnico-
científico e informacional que lhe confere peculiaridades nunca antes
imaginadas. É predominantemente urbana, da comunicação instantânea, das
distâncias reduzidas, da robótica, da cibernética. Em contrapartida, é a
sociedade do ter em detrimento do ser, da rapidez frenética, da competição
acirrada, e, porque não dizer, marcada por profundas crises.
Essas crises refletem objetivamente a esgotabilidade de um processo
produtivo que, ao expandir-se globalmente, escancara sua face perversa,
através de várias formas de degradação sócio-ambiental. Assim, há duas
questões-chave que se apresentam como os grandes desafios para a
sociedade do século XXI: produzir de forma sustentada, não esquecendo que
há o dever ético de garantir o abastecimento para as futuras gerações, e
distribuir de forma eqüitativa a produção.
O despertar da humanidade já se iniciou, pois é inegável que nas últimas
décadas demos alguns passos em direção a uma nova postura diante do
Planeta e seus recursos. Com certeza as questões ambientais ganharam
espaço no Primeiro Encontro Mundial sobre o Meio Ambiente em
Estocolmo, Suécia, em 1972, eclodindo na Conferência das Nações
Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, conhecida como Rio -92
ou Cúpula da Terra. Esses encontros constituíram um marco definitivo na longa
batalha para aumentar a tomada de consciência internacional quanto à
verdadeira natureza e escala da crise ambiental, embora muitos estudiosos
afirmam que deram origem a acordos fracos e inexpressivos, incapazes de
mudar a conduta das nações.
No entanto, é fato que após a Rio -92, o mundo acordou para a
realidade de que o desenvolvimento está indissoluvelmente ligado às políticas
de conservação do meio ambiente e à administração planejada de nossos
recursos naturais.
Esse despertar talvez tenha sido o mais importante resultado da Rio -92,
como nos diz Oliveira e Machado (op. cit.): “da mesma forma que as primeiras
7
fotos da Terra flutuando no espaço sobre o horizonte da Lua provocaram
profunda mudança na maneira de perceber nosso planeta, a Rio-92 provocou
profunda mudança na maneira pela qual as nações do mundo passaram a
encarar suas relações e responsabilidades mútuas”.
Estamos agora diante de um novo compromisso: avançar na questão
das políticas públicas praticando nossas decisões que devem sair dos papéis e
ser incorporada ao nosso cotidiano. Essa tarefa não é nada fácil, nem na
escala local, quiçá no plano mundial, já que os conflitos perceptivos são
profundos e resolvê-los implica, além de contrariar interesses, atribuir outro
valor à nossa própria vida no Planeta Terra, buscando romper os atuais
padrões civilizatórios.
Especificamente no Brasil não há dúvidas que a implantação da política
ambiental alcançou significativos resultados, todavia, apesar do enorme
potencial em biodiversidade - apontada por muitos estudiosos como a riqueza
estratégica para o futuro – o Brasil mantém seu secular modelo de
desenvolvimento econômico, baseado na exploração indiscriminada dos
recursos naturais e sem uma preocupação conservacionistas. Até mesmo o
recente estabelecimento de uma política de meio ambiente no Brasil se
assenta ainda no mito desenvolvimentista do pós-guerra.
Um bioma brasileiro de extrema importância, mas, muitas vezes
esquecido, é o Cerrado. Este ocupa cerca de 25% (equivalente a 2 milhões de
km2) do território nacional e é considerado a savana mais rica em
biodiversidade do mundo por apresentar cerca de 5% da fauna e flora mundiais
em seus domínios. É denominado, por isso, como sendo um hot spot (região
biologicamente rica, porém ameaçada). Apresenta ainda, diversos tipos de
fisionomias vegetais, desde campos abertos, como os campos limpos até
formações florestais, como os cerradões (Cavassan, 2002).
A degradação observada é resultado da falta de fiscalização dos órgãos
responsáveis e de uma legislação efetiva que vise à conservação e
recuperação do ecossistema. Se nada for feito neste sentido, daqui a alguns
anos não haverão mais áreas de cerrado. Muitas espécies estão correndo o
risco de extinção sem terem sido identificadas.
8
Vale ressaltar também que qualquer estudo sobre o cerrado, deve
considerar o regime de fogo, intimamente associado a esta paisagem e que
ocorre naturalmente ou como conseqüência da ação humana.
A importância do fogo para o entendimento da ecologia desse ambiente
é ainda mal conhecida e, geralmente, marcada por questões mais ideológicas
que científicas.
Nesse contexto é que se tem buscado inserir a prática da Educação
Ambiental. Com ações organizadas e efetivas, a sociedade passa a refletir, se
questionar, mudar de comportamento e reconstruir valores sobre a relação
homem natureza, surgindo, portanto, a consciência de que as atitudes do
homem influenciam muito o ambiente e geram conseqüências às futuras
gerações. Surge, então, a busca pela harmonia entre a conservação dos
ambientes e a sustentabilidade da sociedade.
9
METODOLOGIA
Pesquisa significa busca, inquirição, indagação, diligência (Caldas
Aulete, 1970, v.4, p.2793), já a extensão bibliográfica é termo derivado de
bibliografia, que significa descrição, conhecimento dos livros (Caldas Aulete,
1970, v.1, p.482). Pela interpretação das definições apresentadas na citada
obra de referência, o termo pesquisa bibliográfica pode ser entendido como o
ato de indagar, buscar explicações em documentos escritos sobre determinado
assunto.
A pesquisa bibliográfica é um dos procedimentos iniciais após a escolha
do tema da pesquisa, é a coleta de material para estudo. Para que isso se
desencadeie de forma ordenada e visando a obter a indicação precisa de todas
as fontes de consulta, é conveniente considerar algumas recomendações
essenciais (Eco, 1995; Minayo, 1994): Immanuel Kant (1689- 1755).
A metodologia a ser aplicada será a busca e a análise bibliográfica
capaz de direcionar a pesquisa no sentido de visualizar como a Educação
ambiental, fauna e flora do nordeste goiano são trabalhados nas escolas de
Ensino Fundamental. A bibliografia até aqui estudada será básica na
argumentação sem, contudo, deixar a possibilidade de consultar novas
bibliografias.
“... Os argumentos dedutivos ou, estão
corretos ou incorretos, ou as premissas sustentam de modo
completo a conclusão ou, quando a forma é logicamente incorreta,
não a sustentam de forma alguma; portanto, não há graduações
intermediárias. Contrariamente, os argumentos indutivos admitem
diferentes graus de força, dependendo da capacidade das premissas
de sustentarem a conclusão. Resumindo, os argumentos indutivos
aumentam o conteúdo das premissas, com sacrifícios da precisão,
ao passo que os argumentos dedutivos sacrificam a ampliação do
conteúdo para atingir a ‘certeza’” (LAKATOS et. MARCONI, 1991,
p.57,58).
10
Vive-se atualmente em um mundo que passa por grandes mudanças.
Nas estratégias geopolíticas dos dominantes, formam-se blocos econômicos
que integram mercados em uma nova ordem mundial, mas, ao permanecer a
lógica de acumulação e concentração de capital em escala ampliada, agravem-
se mundialmente as desigualdades sociais. O neoliberalismo em expansão,
que influencia hegemonicamente essa reestruturação mundial, confessa o
credo do mercado e destina-se apenas a quem for de interesse desse
mercado.
Educação Ambiental é uma forma de educar e aprender, tendo como
objetivo o próprio meio ambiente em que vivemos e a melhoria da qualidade de
vida. A Educação Ambiental inclui estudos de problemas ecológicos e regras
de conservação da natureza, ao mesmo tempo em que desenvolve tópicos de
outras matérias, buscando e aplicando toda aprendizagem no próprio ambiente
que envolve a classe. Através da Educação Ambiental você fará descobertas
valiosas, compreenderá melhor o meio em que vive e passará a admirá-lo e
protegê-lo mais.
Segundo o Diário O Popular Via Internet de 26/01/2005
“Os principais agentes causadores da
degradação do solo, segundo a ONU, são pastejo excessivo,
descuido das práticas de conservação do solo e desmatamento sem
critérios técnicos. No que diz respeito ao desmatamento, dados da
Embrapa, de 1996, informam que as florestas tropicais estão
reduzidas a 44% de sua área original e que o Brasil está entre os
países que mais desmatam suas florestas no mundo. O solo é um
dos recursos naturais mais duramente castigados pelo
desmatamento desordenado. As queimadas, quando praticadas em
larga escala, retiram os nutrientes do solo, desprotegendo e
diminuindo sua fertilidade e proporcionando as erosões. Estas, por
sua vez, causam assoreamento de rios, lagos e represas, causando
as inundações. As erosões podem ser classificadas em dois tipos.
Hídrica: causada pelas chuvas. É a forma mais comum de erosão.
Geralmente ocorrem pelo uso inadequado do solo, como
desmatamento e superexploração do solo. Pode evoluir para
voçorocas.
11
As queimadas e desmatamentos deixam o solo desprotegido,
facilitando a erosão e provocam a perda de nutrientes, diminuindo a
fertilidade; O solo sem cobertura causa o assoreamento dos rios, o que
produz inundações; As represas recebem grande quantidade de terra,
sofrendo contínuo processo de assoreamento e prejudicando a vida
aquática; Formam-se novas ilhas nos santuários dos rios, impedindo a
subida dos peixes e dificultando o transporte fluvial.
12
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................13
CAPÍTULO I Meio Ambiente e degradação do cerrado goiano e o que os
brasileiros pensam do meio ambiente, do desenvolvimento e da
sustentabilidade.................................................................................................19
CAPÍTULO II Onde existe cerrado no Brasil; tipos de cerrado, principais
reservas e frutos do cerrado goiano..................................................................42
CAPÍTULO III condições que se encontram o cerrado goiano; maiores
agressões sofridas e as ações que estão sendo desenvolvida para sua
preservação.......................................................................................................55
CONCLUSÃO..................................................................................61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...............................................63
ANEXOS..........................................................................................66
FOLHA DE AVALIAÇÃO................................................................69
13
INTRODUÇÃO
O tema deste trabalho monográfico é Educação Ambiental e a
degradação do cerrado goiano. O foco deste trabalho está em saber se a
educação ambiental é uma das dimensões presentes na educação e quais as
conseqüências sofridas pelo homem e pelos animais com as queimadas e o
desmatamento do cerrado. Atualmente a questão Ambiental se impõe perante
a sociedade, a discussão sobre a relação educação e meio ambiente
contextualiza-se em um cenário atual de crise nas diferentes dimensões:
econômica, política, cultural, social, ética e ambiental.
A necessidade de se trabalhar Educação Ambiental e de formar
profissionais aptos para trabalhar com essa nova dimensão no processo
educativo nas escolas é decorrente dos aspectos legais e dos problemas
ambientais vivenciados por toda a sociedade.
Segundo a CI (Conservation Internacional), o cerrado já lista na relação
dos 17 ecossistemas mais degradados do planeta, carecendo urgentemente de
medidas que contemplem a preservação da camada nativa existente e
recuperação das áreas ilegalmente ocupadas, pois preservar a biodiversidade
do cerrado é com certeza assegurar novos remédios, fibras, alimentos e outras
matérias primas que bem aproveitadas pela tecnologia moderna trarão mais
conforto e bem-estar à humanidade. São, portanto, objetivos deste trabalho:
-Levar informações, orientar professores e todas as pessoas interessadas em
desenvolverem ações de preservação e conservação do meio ambiente para
resolver problemas atuais, pessoais e futuro,
-Identificar onde existe cerrado no Brasil
-Conhecer as principais reservas do cerrado Goiano
-Conhecer os frutos do cerrado goiano
-Saber em que condições se encontram o cerrado goiano e as ações que estão
sendo desenvolvidas.
14
-Identificar as maiores agressões sofridas pelo serrado goiano
-Saber o que os brasileiros pensam do meio ambiente, do desenvolvimento e
da sustentabilidade?
A história da humanidade foi construída pelo conhecimento e pela
intenção, adequados a uma finalidade, tratando-se tanto da produção de bens
materiais como da produção de idéias, conceitos, valores, símbolos, hábitos,
atitudes e habilidades. E o processo de produção da existência humana (ou
sua história) foi construído e assimilado pela educação. Esta é, portanto, um
fenômeno próprio do seres humanos, sendo o ato de produzir direta e
intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida
histórica e coletivamente, pelo conjunto dos homens (Saviani, 1994)
Por ser um fenômeno próprio dos seres humanos, a educação é
fundamental no processo de conscientização, individual ou coletiva, tanto sobre
a problemática ambiental, quanto sobre suas causas e conseqüências na vida
do homem, possibilitando o surgimento de novos comportamentos/atitudes.
E este pensamento sobre mudança de atitude frente à questão
ambiental não é atual. Há muito tempo existe a preocupação de manter uma
relação saudável, sustentável e harmônica entre o homem e a natureza.
Podemos identificar o surgimento do ambientalismo na década de 60, época
marcada por diversas manifestações, grandes movimentações sociais, políticas
e culturais, que questionavam os valores da sociedade, a emergência de
processos de degradação do ambiente, o desenvolvimento do modo de
produção capitalista e o risco de guerra nuclear entre as superpotências da
época (Cascino, 2000).
Estes questionamentos aliados aos avanços tecnológicos, à
crescente industrialização e à conseqüente deterioração da qualidade de vida
contribuíram para o início discussões e lutas mais consistentes e globais sobre
a questão ambiental, que enfatizavam a relação homem-natureza e buscavam
propostas para a formação de um ser humano mais consciente de seus limites
e possibilidades (Cascino, 2000).
Segundo Saviani (1994), para sobreviver, o homem necessita
extrair da natureza, ativa e intencionalmente, os meios de sua subsistência.
Desta forma, cria um mundo humano (o da cultura) ao transformar a natureza.
15
Porém, as formas históricas dos processos de transformação e criação
antrópicas têm causado, principalmente após a Revolução Industrial, danos à
qualidade ambiental, a degradação de ecossistemas, assim como diversos
problemas à sobrevivência do próprio homem no planeta.
Devido ao caráter predatório desse modelo de desenvolvimento
da atividade humana na Terra, surgiu a necessidade de se criar uma nova
estratégia de educação, visando à sensibilização, a mudança de atitudes e a
participação na resolução dos problemas ambientais por parte de grupos sócio-
culturais a eles relacionados (Sato, 2002). Assim, o movimento ambientalista
criou como estratégia, a Educação Ambiental (EA). Pedrini (1997) a define
como sendo uma reivindicação legítima e um processo contínuo de
aprendizagem de conhecimentos para o exercício da cidadania. Deve capacitar
o cidadão para a leitura crítica da realidade e uma participação consciente no
espaço social.
Para se fazer EA deve-se, portanto, observar um conjunto de
relações sociais que refletem a dinâmica de mundo (Sato, 2002). Desta forma,
projetos de EA são necessários para fortalecer a consciência crítica,
habilitando a ação social de grupos (Cascino, 2000).
Para Ab’Saber (1994) a Educação ambiental tem como tarefa
garantir a existência de um ambiente sadio para toda a humanidade implica
uma conscientização realmente abrangente, que só pode ter ressonância e
maturidade através da educação ambiental. Um processo educativo que
envolva ciência e ética, e uma renovada filosofia de vida. Um chamamento à
responsabilidade planetária dos membros de uma assembléia de vida, dotados
de atributos e valores essenciais: capacidade de escrever sua própria História;
informar-se permanentemente do que está acontecendo em todo mundo; criar
culturas e recuperar valores essenciais da condição humana. E, acima de tudo,
refletir sobre o futuro do planeta.
No Brasil, as pesquisas e ações em Educação ambiental vêm
aumentando a cada ano. Em 1999, aprovou-se uma legislação que institui a
Política de Educação Ambiental. Esta afirma que a EA é:
16
“... um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os
níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e
não-formal. Diz, também que esta atividade deve ser desenvolvida
como prática educativa, integrada, contínua e permanente em todos
os níveis e modalidades do ensino formal, sem, no entanto, ser uma
disciplina específica no currículo de ensino (MMA, 1999).
Ainda, pela lei 9.795, a EA é o processo pelo qual os indivíduos e a
coletividade constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e
competências voltadas para a conservação do ambiente.
A idéia de conservação é muito comentada e difundida hoje em dia no
Brasil, devido ao fato de nosso país deter grande parte da biodiversidade
mundial. Uma das “tarefas” da Educação Ambiental é contribuir para a
conservação da biodiversidade dos ecossistemas.
Um bioma brasileiro de extrema importância, mas, muitas vezes
esquecido, é o Cerrado. Este ocupa cerca de 25% (equivalente a 2 milhões de
km2) do território nacional e é considerado a savana mais rica em
biodiversidade do mundo por apresentar cerca de 5% da fauna e flora mundiais
em seus domínios. É denominado, por isso, como sendo um hot spot (região
biologicamente rica, porém ameaçada). Apresenta ainda, diversos tipos de
fisionomias vegetais, desde campos abertos, como os campos limpos até
formações florestais, como os cerradões (Cavassan, 2002).
A degradação observada é resultado da falta de fiscalização dos órgãos
responsáveis e de uma legislação efetiva que vise a conservação e
recuperação do ecossistema. Se nada for feito neste sentido, daqui a alguns
anos não haverão mais áreas de cerrado. Muitas espécies estão correndo o
risco de extinção sem terem sido identificadas.
Nesse contexto é que se tem buscado inserir a prática da Educação
Ambiental com ações organizadas e efetivas, a sociedade passa a refletir, se
questionar, mudar de comportamento e reconstruir valores sobre a relação
homem natureza, surgindo, portanto, a consciência de que as atitudes do
homem influenciam muito o ambiente e geram conseqüências às futuras
gerações. Surge, então, a busca pela harmonia entre a conservação dos
ambientes e a sustentabilidade da sociedade.
17
A depredação Ambiental é grave, somente através de ações
desenvolvidas a partir da escola é que vamos encontrar um caminho para
amenizá-la.
A pequisa-ação-participativa, segundo Thiollent (2000) é:
“... um tipo de pesquisa social com base
empírica que é concebida e realizada em estreita associação
com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e
no qual os pesquisadores e os participantes, representativos
da situação ou do problema, estão envolvidos de modo
cooperativo ou participativo.”
Este tipo de pesquisa, também denominada alternativa, surgiu em
oposição à pesquisa tradicional, onde os grupos observados não têm nenhum
poder sobre a pesquisa feita sobre eles (e não com eles). São apenas objetos
de estudo (Demo, 1989).
Segundo Demo (1989) a pesquisa participativa procura levantar dados
junto aos objetos de pesquisa e não apenas sobre eles. É aproximativa,
podendo, de alguma forma, contribuir para transformar a realidade de um
grupo. Quando acontece de forma efetiva, proporciona percepção sobre fatos
ignorados anteriormente, planejamento e organização para lidar com o fato
descoberto.
É preciso que os seres humanos reaprendam a sua existência na Terra
para poder enxergar e entender que a teia da vida é um intricado movimento de
aprendizagem que vem ocorrendo há bilhões de anos e compreendam que são
mais um elo da corrente de subsistência da vida na terra e que suas
ediossincrasias sejam respeitadas. É preciso a realização da aplicação de
medidas de preservação e conservação, repensando o modelo de
desenvolvimento e criando políticas econômicas que conciliam prosperidade,
crescimento financeiro e preservação (desenvolvimento sustentável).
As queimadas e os desmatamentos desordenado, provocado pelo
homem contribuem para extinção do cerrado é preciso que as leis ambientais
sejam compridas na íntegra.
18
No primeiro capítulo discutiremos sobre Meio Ambiente e degradação
do cerrado goiano e o que os brasileiros pensam do meio ambiente, do
desenvolvimento e da sustentabilidade, tendo como base, Mauro
Guimarães e Revista “Noções Básicas de Educação Ambiental
depoimentos e obra de Samuel Murgel Branco. e outros.
No capítulo dois, registraremos onde existe cerrado no Brasil e os tipos
de cerrado, principais reservas e frutos do cerrado goiano, IBAMA.
No terceiro capítulo discutiremos sobre as condições que se encontram
o cerrado goiano e identificaremos as maiores agressões sofridas e as ações
que estão sendo desenvolvida para sua preservação, Revista “Noções Básicas
de Educação ambiental” e outros.
19
CAPÍTULO I
MEIO AMBIENTE E DEGRADAÇÃO DO
CERRADO GOIANO E O OS BRASILEIROS PENSAM
DO MEIO AMBIENTE, DO DESENVOLVIMENTO E DA
SUSTENTABILIDADE.
1.1 MEIO AMBIENTE E DEGRADAÇÃO DO CERRADO GOIANO
De acordo com a resolução CONAMA 306:2002: “Meio Ambiente é o
conjunto de condições, leis, influencia e interações de ordem física, química,
biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em
todas as suas formas”.
Meio ambiente “... um conjunto de fatores naturais, sociais e culturais
que envolvem um indivíduo e com os quais ele interage, influenciando e sendo
influenciado por eles” (LIMA-E-SILVA in TRIGUEIRO, 2005, 77).
Lima (1984) ressalta o paradoxo da EA diante de uma educação voltada
para objetivos essencialmente econômicos, por “postular a substituição do
valor competitividade por solidariedade”. Sobre essas colocações Lima (1984)
conclui:
(...) a educação ambiental exige uma
postura crítica e um corpo de conhecimento produzido a partir de
uma reflexão sobre a realidade vivenciada. Sendo uma proposta
essencialmente comunitária, materializa-se através de uma prática
cujo objetivo maior é a promoção de um comportamento adequado à
proteção ambiental. Comporta uma concepção desalienante,
porquanto pressupõe ações voltadas para o surgimento de novos
valores, onde a participação é um princípio fundamental.
(Guimarães, 1995, p. 23).
20
Concluindo Gonçalves (1990) conceitua:
A EA é, então, um processo de aprendizagem logo é contínuo que:
1) Procura aclarar conceitos e fomentar
valores éticos, de forma a desenvolver atitudes racionais,
responsáveis, solidárias entre os homens;
2) Visa instrumentalizar os indivíduos,
dando-os de competência para agir consciente e responsavelmente
sobre o meio ambiente, através da interpretação correta da
complexidade que encerra a temática ambiental e da inter-relação
existente entre temática e os fatores políticos, econômicos e sociais
(Guimarães, 1995, p. 27).
Uma organização é responsável pelo meio ambiente que a cerca,
devendo, portanto, respeitá-lo, agir como não poluente e cumprir as legislações
e normas pertinentes (ISO 14001).
No Art. 225 da Constituição Federal há a seguinte frase: “Todos têm
direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do
povo e essencial à qualidade de vida impondo-se ao Poder público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras
gerações”.
Segundo Emídio (2006),
21
“a sociedade como um todo é
responsável pela preservação do meio ambiente, então, é preciso
agir da melhor maneira possível para não modificá-lo de forma
negativa, pois isso terá conseqüências para a qualidade de vida da
atual e das futuras gerações, entendendo que: “O meio ambiente
concebido, inicialmente, como as condições físicas e químicas,
juntamente com os ecossistemas do mundo natural, e que constitui o
habitat do homem, também é, por outro lado, uma realidade com
dimensão do tempo e espaço. Essa realidade pode ser tanto
histórica (do ponto de vista do processo de transformação dos
aspectos estruturais e naturais desse meio pelo próprio homem, por
causa de suas atividades) como social (na medida em que o homem
vive e se organiza em sociedade, produzindo bens e serviços
destinados a atender “as necessidades e sobrevivência de sua
espécie” (p.127).
O cerrado é um bioma ainda pouco estudado, o que não o impediu que
sofresse recentemente uma vertiginosa destruição. O processo de
modernização da agricultura, intensificado nas décadas de 1980 e 1990 avança
sobre as veredas, as matas ciliares e as nascentes, especialmente nas áreas
mais planas, substituindo a vegetação nativa por imensos “mares” de soja.
Outro grande risco para o cerrado é a expansão do atual modelo energético,
que ameaça seus rios com a construção de barragens para a geração de
energia. A proposta de construção de oitenta barragens nos rios de Goiás, se
concretizada, provocará desastre no ambiente e na sociedade, com efeitos
irreversíveis a curto, médio e longo prazo.
O Cerrado brasileiro, localizado basicamente no Planalto Central é o
segundo maior bioma do país em área. Apresenta aproximadamente 2 milhões
de Km2 que correspondem a 23% do território nacional. Denominado por
alguns como savana2, devido à relação ecológica e fisionômica existente, sua
fauna é bastante rica em espécies nativas. Sua flora, também muito rica,
possui uma fisionomia única, que tem sido atribuída a fatores decorrentes da
ação combinada do fogo e de deficiências pedológicas, além do que, em menor
grau, da deficiência hídrica em alguns períodos do ano (CAMARGO, 1962 in
FERRI, 1976).
22
Na Região Centro-Oeste estão localizadas as áreas nucleares do Bioma
Cerrado, onde se concentram as principais nascentes das grandes Bacias
Hidrográficas Brasileiras, que junto às veredas e o cerrado, formam o berço
das águas do continente Sul Americano. Mas as águas do cerrado estão
ameaçadas, tanto quantitativas, quanto qualitativamente pela ação antrópicas,
através dos desmatamentos descontrolados, destruição e utilização indevida
das veredas, a irrigação clandestina com pivôs centrais, uso indiscriminado de
agrotóxicos, lançamento direto de efluentes químicos, industriais e esgotos
urbanos sem tratamento. E potencializando estes efeitos negativos, a
construção de barragens para fins de geração de energia elétrica cria
ambientes artificiais, alterando drasticamente a qualidade hídrica, físico-
química e biológica, comprometendo as águas do cerrado.
O atual modelo energético brasileiro, unimodal, dependente das
hidrelétricas é altamente predatório para a natureza e para a sociedade. Além
disso, a expansão das hidrelétricas não resolve a questão da vulnerabilidade
do setor, concentrado apenas em uma matriz energética.
A preocupação com os impactos regionais sobre os meios natural e
social vem crescendo à medida que se conhecem os exemplos de barragens já
construídas no Estado de Goiás, com destaque para Serra da Mesa e Cana
Brava.
É no ambiente de cerrado, ecossistema marginalizado pelas leis
ambientais e pelos diversos programas governamentais, que vários projetos
estão em fase de estudo, licenciamento e de construção, especificamente para
geração de energia elétrica, tais como: AHE de Nova Aurora, Goiandira, Serra
do Paredão II e Foz da Laje II no Rio Veríssimo; Serra do Facão, Paraíso,
Paulistas e Mundo Novo no Rio São Marcos; Serra da Bocaina no Rio
Paranaíba; Corumbá II, Corumbá III e Corumbá IV no Rio Corumbá; Farofa,
Rancho, Quilombo e Tabocas no Rio Meia Ponte. Estamos na iminência de
vivermos um brutal desastre ambiental se alguma medida não for tomada em
defesa do ambiente e da sociedade.
23
Metade dos municípios goianos (132 de um total de 246) possui menos
de 20% de cobertura nativa de cerrado, percentual de devastação considerado
crítico e a partir do qual se torna quase impossível reverter o quadro de perda
da diversidade de espécies animais e vegetais. Em Goiás, apenas seis
municípios ainda possuem mais de 80% de suas áreas preservadas. Os dados
são do Sistema Integrado de Alerta ao Desmatamento (Siad), da Secretaria
Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), que utiliza imagens
de satélite para visualizar as regiões mais devastadas.
O monitoramento permite traçar um mapa do desmatamento no estado,
delimitando os pontos onde ainda existe concentração de mata nativa. Entre os
mais preservados estão os municípios da região do Nordeste Goiano, como
Teresina de Goiás (98,4% de área de vegetação nativa remanescente),
Cavalcante (95,9%) e Colina do Sul (88,5%). Em contrapartida, as cidades de
Goianira, na Região Metropolitana de Goiânia, e Damolândia, na Região
Central, estão quase que totalmente devastadas, com zero por cento de
cobertura vegetal nativa. É ainda nesta região que se encontram 11 dos 15
municípios mais degradados.
Os dados também revelam que o processo de urbanização e ocupação
demográfica das cidades goianas se dá num processo inversamente
proporcional à preservação do meio ambiente. As cidades mais populosas do
estado - Goiânia, Aparecida de Goiânia e Anápolis - apresentam baixos índices
de cobertura vegetal nativa - 3,45%, 9,46% e 3,84%, respectivamente. É
justamente nesses locais que o processo de industrialização se encontra em
ritmo mais acelerado.
Metade dos municípios goianos está em situação crítica de degradação.
Mapa do desmatamento revela pontos onde praticamente não há mais
vegetação nativa
24
Fonte: http://www.tribunadoplanalto.com.br
O que impulsionou a inserção dos cerrados nas áreas produtivas, e
conseqüentemente o desenvolvimento agrícola da região Centro-Oeste, foram
alguns programas específicos implementados nessa região. Dentre os
principais, pode-se destacar o POLOCENTRO (Programa de Desenvolvimento
dos Cerrados) e o PRODECER (Programa de Cooperação Nipo-Brasileira para
Desenvolvimento dos Cerrados). O POLOCENTRO foi criado em 1975 e teve
como objetivo o desenvolvimento e a modernização das atividades
agropecuárias da região Centro-Oeste e do oeste do estado de Minas Gerais,
mediante a ocupação racional de áreas com características dos cerrados e seu
aproveitamento em escala empresarial. O programa selecionou áreas
específicas para atuação e, posteriormente, forneceu crédito altamente
subsidiado a todos os produtores que desejassem investir em exploração
agropecuária empresarial (GOBBI, 2004).
Apesar de o POLOCENTRO ter sido um programa voltado para abertura
de fronteira agrícola, as políticas favoreceram os grandes e médios produtores
em detrimento dos pequenos. Na realidade, foi um programa para o estímulo
25
da média e da grande agricultura empresarial, mediante o fornecimento de
crédito subsidiado, de assistência técnica e da remoção do obstáculo ao seu
funcionamento. A pequena agricultura das áreas atingidas quase não foi
beneficiada. Os objetivos do POLOCENTRO, “enunciados nos seus
documentos básicos, foram desvirtuados pela ação de setores influentes, que
conseguiram voltar à administração do programa a seu favor” (MULLER, 1990,
p.55).
O maior impacto do POLOCENTRO na região Centro-Oeste ocorreu no
estado de Goiás, especificamente em Rio Verde, onde segundo Muller (1990),
42% da área dos cerrados foram incapacitadas ao processo produtivo, com
destaque para a soja.
Nesse contexto, o recente desenvolvimento do estado de Goiás, deve
ser compreendido dentro do próprio processo de crescimento da região Centro-
Oeste, que é um território do qual se pode afirmar que o auge da sua ocupação
econômica é bastante recente, o que significa que seus potenciais de
desenvolvimento ainda estão sendo definidos. A região Centro-Oeste vem se
consolidando nos últimos trinta anos, com uma economia baseada na pecuária
de corte e de leite extensiva, na produção intensiva de grãos, especialmente
milho e soja, e, ultimamente, na agroindústria que se utiliza dessa matéria-
prima - carne e grãos.
A produção de grãos se destaca, na microrregião do sudoeste goiano,
que desde a década de 1960 sofreu uma forte e acelerada mudança em sua
base produtiva, com o importante apoio do Estado, como provedor das políticas
públicas e dos fundos necessários para essa execução.
No entanto, essa modernização agrícola, ao mesmo tempo em que
inseriu a região Centro-Oeste na nova dinâmica econômica do trouxe drásticas
conseqüências para deterioração do meio ambiente e social.
Alguns exemplos desta realidade são: a perda da biodiversidade, a
erosão e compactação dos solos, o êxodo rural, a concentração de renda e
muitos outros problemas relacionados ao desenvolvimento urbano.
26
As regiões e/ou municípios que se beneficiam são aquelas que possuem
certa infra-estrutura, e produzem matéria-prima relacionada com o que a
empresa deseja transformar, ou seja, que atendam o modelo econômico
vigente, e os municípios que realmente precisam se desenvolver se tornam
vulneráveis ao modelo capitalista.
As políticas públicas, quando executadas corretamente, são de extrema
importância para o desenvolvimento regional, uma vez que muitas regiões não
se desenvolvem por falta de infra-estrutura básica.
Para Sawyer (2002, p. 292), a construção de uma visão integrada que
estabelece sinergismos positivos entre população, meio ambiente e
desenvolvimento, evitando a degradação do ambiente e dos seres humanos,
implica, necessariamente, mudar as políticas públicas. Lista-se a seguir, alguns
processos significativos:
1.1.1 Causas da Degradação Ambiental
Industrialização e Crescimento Económico
A Industrialização e o aumento da poluição
O processo de industrialização e o consequente crescimento explosivo
da população, em resultado da redução das taxas de mortalidade, fizeram
aumentar de forma exponencial:
-A Poluição: as actividades humanas lançam para a atmosfera uma grande
diversidade de gases. Os países industrializados do Norte são os principais
produtores mundiais e também os mais poluentes.
-O consumo dos recursos do nosso planeta (água-energia-minerais): O
crescimento económico ilimitado determinou níveis de consumo de recursos
insustentáveis.
-A Produção alimentar: aumenta todos os anos para satisfazer uma população
em crescimento. A prática da agricultura intensiva e o aumento das áreas
cultivadas têm reflexos negativos no ambiente acelerando o esgotamento dos
solo e a desflorestação.
27
O nível de desenvolvimento e os impactos ambientais:
O Impacto ambiental do crescimento económico reflecte-se de modo
diferente de acordo com o desenvolvimento económico dos países.
Países Industrializados: Podem atenuar os efeitos da
industrialização:
-Utilização de novas tecnologias, que têm conduzido à desaceleração do
consumo de recursos escassos e à redução dos níveis de poluição.
-Utilização, com grau crescente de importância, de novos materiais e energias
alternativas, em resultado de investimentos consideráveis e de longos períodos
de análise e pesquisa.
A aposta na investigação e utilização de novos materiais e fontes de
energia, reflecte uma nova atitude ecológica por parte dos governos nacionais
e das instituições internacionais.
Países em Desenvolvimento:
-As indústrias que mais se apoiam nos recursos naturais e que são fortemente
poluentes aumentam rapidamente nestes países.
-Deslocalização de indústrias feita pelos países industrializados;
-Necessidade de crescimento destes países.
-A degradação ambiental é mais visível e dramática.
-A redução dos efeitos secundários revela-se mais difícil nos países cujo
domínio das tecnologias ainda não foi conseguido.
Os impactos ambientais são mais violentos devido à sua incapacidade
tecnológica para fazer face à adversidade.
-A inserção dos países do Sul na lógica da DIT dificulta a sua própria
capacidade para reduzir o impacto ambiental das actividades humanas, na
28
medida em que eles surgem como fornecedores de matérias-primas e mão-de-
obra.
A degradação dos termos de troca, provocando um aumento da dívida
externa, leva a tentativas desesperadas de aumentar as receitas que passam,
inevitavelmente, pela sobreexploração dos solos e pela delapidação dos
recursos do subsolo.
Embora as causas possam ser diversas e a sua origem geográfica muito
distante, as consequências da acção do homem reflectem-se em todo o
planeta, destruindo ecossistemas e pondo em causa o equilíbrio bioclimático
global.
A problemática da contabilização dos custos da poluição:
A atitude de desresponsabilização dos actos de degradação ambiental
assumida pelos governos e instituições internacionais um pouco por todo o
mundo, tem-se revelado preocupante.
A não contabilização dos custos de poluição no cálculo dos custos de
produção reflecte a irresponsabilidade de quem tem de definir as políticas
ambientais e económicas a seguir em cada país, com prejuízos para as futuras
gerações.
-O alastramento e agudização da crise ambiental constituem uma ameaça à
segurança nacional – e até à sobrevivência – mais perigosa do que podem vir a
ser nações vizinhas com arsenal bélico considerável e mau génio.
Um pouco por todo o planeta surgem focos de tensão política e social,
em resultado da degradação ambiental.
-As despesas com a defesa continuam a ocupar uma parcela significativa dos
orçamentos dos Estados, comprometendo o processo de desenvolvimento,
nomeadamente na sua vertente ecológica:
-Redução dos níveis de consumo dos recursos;
-Redução da emissão de gases e outras formas de poluição.
29
Crescimento Demográfico e Urbano
Impacto ambiental do Crescimento populacional:
-O crescimento explosivo da população constitui um dos principais problemas
no início deste século.
O extraordinário crescimento demográfico, que os países em
desenvolvimento têm conhecido no último século, ultrapassa largamente a
estagnação demográfica recente dos países industrializados e tem
determinado uma taxa de crescimento populacional global muito elevada.
-O crescimento da população mundial aumentou o consumo dos recursos do
planeta, na medida em que cada pessoa necessita de satisfazer as suas
necessidades básicas.
Danos nos ecossistemas resultantes das actividades humanas:
-desflorestação;
-poluição (industrial, agrícola e doméstica);
-contaminação de águas e solos;
-esgotamento dos solos resultante de práticas agrícolas e da pressão
alimentar;
-diminuição do número de efectivos de algumas espécies e extinção de outras,
resultante da pesca e caça excessiva.
-Quanto maior o número de habitantes, maiores as exigências impostas ao
meio ambiente, não só ao nível da exploração dos seus recursos, mas também
no modo como serão absorvidos pela biosfera as grandes quantidades de
resíduos e gases poluentes.
Impacto ambiental das elevadas concentrações urbanas:
Apesar da diversidade de situações o crescimento urbano não foi
acompanhado, na maioria dos países, por um investimento do Estado na
30
organização de sistemas eficazes de fornecimento de água limpa, de esgotos,
de transportes e de escolas.
Países desenvolvidos:
-A taxa de urbanização é maior.
-O crescimento urbano estagnou há já alguns anos, o que de algum modo
permituiu atenuar ou diminuir os níveis de poluição registados.
-A inovação tecnológica, a produção de legislação restritiva e os investimentos
significativos contribuíram para melhorar a qualidade do ar.
-No entanto, os padrões de vida e o domínio tecnológico elevado acabam por
implicar a utilização de quantidades de energia muitas vezes superiores às dos
PED.
-O desemprego, a deterioração das infra-estruturas, a decadência dos bairros
centrais e dos subúrbios e a própria degradação ambiental, podem conduzir à
inversão do processo de desenvolvimento, ao declínio económico e à
decadência das cidades.
-O problema do tratamento e armazenamento dos resíduos sólidos atinge uma
dimensão preocupante.
-O controlo da poluição resultante do aumento dos resíduos sólidos requer
grandes investimentos. A aplicação de novos sistemas de armazenamento e
tratamento de lixos tem sido realizada de forma muito lenta.
-Há ainda uma elevada percentagem de resíduos sólidos que são incinerados
ou lançados em lixeiras a céu aberto sem qualquer tratamento.
-A compostagem ou os aterros sanitários, como formas de armazenamento dos
lixos, e a reciclagem de materiais, como processo de tratamento e
reaproveitamento do lixo, representam valores relativamente baixos apesar da
evolução considerável nos últimos anos.
Países em Desenvolvimento:
-Verifica-se um forte êxodo rural devido à procura de melhores condições de
vida e bem-estar.
31
-A progressão das taxas de urbanização é mais elevada nestes países, pelo
que os efeitos ambientais são mais gravosos, particularmente em relação ao
saneamento e à poluição atmosférica.
-O problema da poluição do ar e da água, os ruídos e a poluição por resíduos
sólidos assumem assim nestes países maior gravidade.
-A expansão descontrolada das cidades, a insuficiência das infra-estruturas
essenciais e o seu estado avançado de degradação dão origem à proliferação
de doenças.
-A deterioração das canalizações e da rede de esgotos contamina a água
potável.
-As indústrias lançam os seus resíduos para os rios sem qualquer tratamento,
em redor dos quais se amontoa uma parte considerável da população, que vive
assim numa grande promiscuidade, em terrenos que ninguém quer.
-Os lixos acumulam-se nas ruas ou em lixeiras a céu aberto sem preocupações
especiais com a impermeabilização dos solos. A recolha e tratamento dos
resíduos sólidos é
-O crescimento urbano tem vindo a fazer-se em terrenos de boa aptidão
agrícola.
-Inexistência de uma estratégia explícita que possa controlar o crescimento das
megacidades, a degradação urbana e o aumento da poluição.
1.1.2 A Abrangência dos Problemas Ambientais
Por vezes com origens ou causas bem definidas/localizadas, a
degradação ambiental multiplica-se a um ritmo mais acelerado; as suas
consequências são imprevisíveis mas estão em marcha e não deixarão de
afectar todos os países sem excepção.
Com as catástrofes locais de amplas consequências percebemos que os
problemas ambientais ignoram as fronteiras nacionais afectando vastas regiões
do planeta.
Quase todos os países industrializados se debatem com um conjunto
de fenómenos de degradação ambiental resultantes do aumento da poluição:
-contaminação das águas e inquinação de toalhas freáticas;
32
-saturação dos solos por excesso de utilização de fertilizantes e pesticidas;
-urbanização intensa de regiões ecologicamente frágeis como as zonas
costeiras;
-chuvas ácidas resultantes das emissões de CO₂, metano ou ácido sulfúrico
para a atmosfera;
-produção de resíduos nocivos e o seu lançamento no solo, no ar e na água.
Nos países em desenvolvimento a degradação do ambiente
generaliza-se atingindo dimensões consideráveis tais como:
-desertificação
-desflorestação
-erosão e salinização dos solos
-inundações
-urbanização selvagem das áreas periféricas das megacidades envolvidas por
uma atmosfera irrespirável constituída por dióxido de enxofre, CO e NO₂
(causadores de doenças respiratórias, cardíacas, cerebrais e depressivas).
A consciencialização da globalização dos fenómenos é fundamental.
O perigo da ruptura definitiva dos equilíbrios bioclimáticos é real.
Grau de interdependência entre os fenómenos locais e globais:
-Os problemas ambientais ignoram as fronteiras nacionais.
-Os problemas ambientais globais resultam do somatório de desiquilíbrios
ecológicos à escala global.
-A dinâmica de funcionamento do planeta Terra distancia espacialmente a
origem, da zona ou região onde se repercutem com maior intensidade os
fenómenos de degradação ambiental.
Os problemas globais que perturbam o planeta mostram-nos a
precaridade desses equilíbrios, pela complexidade e generalização dos
fenómenos que hoje afectam a «nossa casa», tais como:
-intensificação do efeito de estufa devido ao aumento das emissões de CO₂;
-contaminação da cadeia alimentar e redução da diversidade de espécies;
-redução da espessura da camada de ozono, nomeadamente sobre a
Antárctida.
33
1.2 O OS BRASILEIROS PENSAM DO MEIO AMBIENTE, DO DESENVOLVIMENTO E DA SUSTENTABILIDADE.
1.2.1 O desenvolvimento sustentável
Desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades
do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações
futuras atenderem as suas próprias necessidades. Ele contém dois
conceitos-chaves: conceito de necessidades... sobretudo as
necessidades dos pobres do mundo, que devem receber a máxima
prioridade; noção das limitações que o estágio da tecnologia e da
organização social impõe ao meio ambiente, impedindo-o de atender
às necessidades presentes e futuras.. (. Nosso Futuro Comum. - Rio
de Janeiro - FGV 91 - Comissão Mundial sobre meio ambiente e
desenvolvimento)
O processo de caminhar para um desenvolvimento sustentável
subentende que é preciso minimizar os impactos adversos sobre a qualidade
do ar, da água e de outros elementos naturais, a fim de manter a integridade
global do ecossistema.
O desenvolvimento sustentável também requer a promoção de valores
que mantenham os padrões de consumo dentro do limite das possibilidades
ecológicas a que todos podem aspirar. 18
Este tipo de desenvolvimento é mais do que crescimento. Ele exige uma
mudança no teor qualitativo do crescimento, a fim de torná-lo menos intensivo
de matérias-primas e de energia, e mais eqüitativo em seu impacto.
As representações sobre o meio ambiente são múltiplas. O que
aceitarmos como verdadeiro e adequado às circunstâncias locais, determinará
nossas ações no campo das relações que se estabelecem entre o ser humano
e a natureza, mediatizada pelos complexos sistemas sociais. A natureza nunca
pode ser separada de alguém que a percebe, ela nunca pode existir
efetivamente em si porque suas articulações são as mesmas de nossa
existência e porque ela se estabelece no fim de um olhar ou ao término de uma
exploração sensorial que a investe de humanidade. Nesta medida, toda
34
percepção é uma comunicação ou uma comunhão, a retomada ou o fim para
nós de uma intenção estranha ou, inversamente, a realização fora de nossas
forças perceptivas e como que um acasalamento de nosso corpo com as
coisas (Merleau-Ponty, 1971).
Todavia, reconhecemos que cada pessoa ou grupo social pode ter a sua
própria representação, ou a sua própria trajetória. O que é inadmissível é que
as pessoas livrem-se do poder da criticidade e reproduza discursos e práticas
orientadas para uma desmobilização da EA, ora como gestão ambiental, ora
como somente uma prática educativa qualquer.
Silva (2006) define Desenvolvimento Sustentável como
“o processo político, participativo que
integra a sustentabilidade econômica, ambiental, espacial, social e
cultural, sejam elas coletivas ou individuais, tendo em vista o alcance
e a manutenção da qualidade de vida, seja nos momentos de
disponibilização de recursos, seja nos períodos de escassez, tendo
como perspectivas a cooperação e a solidariedade entre os povos e
as gerações” (132).
1.2.2 IDEC entrevista a secretária executiva do ISER- Samyra
Crespo( O que os brasileiros pensam do meio ambiente e do
desenvolvimento sustentável)
Uma das principais pesquisas do Instituto de Estudos da Religião (Iser),
"O que os brasileiros pensam do meio ambiente e do desenvolvimento
sustentável?", feita em parceria com o Ministério do Meio Ambiente (MMA), já
revelou muitas mudanças no país. Se, em 1992, 46% das pessoas não citariam
um problema ambiental de sua cidade ou bairro, em 2005 esse índice se
reduziu a 11%. O Idec, inclusive, já foi citado entre as principais organizações
que defendem o meio ambiente. Criado em 1970, o Iser é uma das ONGs mais
antigas e atuantes do Brasil. Na direção da organização atualmente, a cientista
social Samyra Crespo foi quem concebeu o programa de meio ambiente do
35
Iser, há 14 anos. Em meados de setembro, ela concedeu esta entrevista à
Revista do Idec, por e-mail
Idec: A Amazônia continua sendo o centro das atenções, seja da população,
do governo, da mídia ou de entidades ambientalistas. Por que outros biomas
também importantíssimos, como o Cerrado ou os manguezais, são
praticamente esquecidos?
Samyra Crespo: A atenção dada aos biomas ameaçados é pautada pela mídia
nacional e pela internacional. Desde os anos 80, com Chico Mendes, a
Amazônia virou hotspot [ou área prioritária] de conservação e nunca mais
deixou de ser. Ao contrário, sua importância aumenta para o Brasil e para o
mundo, pois é a última grande floresta tropical, com uma das bacias de água
doce mais expressiva em termos de extensão e volume. Além disso, a
Amazônia está no imaginário dos brasileiros desde os anos 70, com a política
de desbravamento e ocupação dos militares. Toda a nossa concepção de selva
e natureza está ligada à Amazônia. Com relação à Mata Atlântica, nossa
relação com ela foi utilitária. Até há pouco tempo, aterrar manguezais era
comum. Parte da cidade do Rio de Janeiro é território conquistado ao mar. A
alfabetização ecológica de nossa população é recente, e a concepção de que
cada ecossistema tem sua função e sua vulnerabilidade não está na
consciência do cidadão comum. Quando olho a agenda ambiental de hoje, sou
da opinião de que somos poucas organizações para dar conta de um país tão
grande e diverso como o nosso. Quanto ao Estado, ele só se move quando
pressionado. Ainda é assim, apesar de já haver muitas lideranças
ambientalistas em governos.
Idec: Você acha que a pesquisa do Iser "O que os brasileiros pensam do meio
ambiente e do desenvolvimento sustentável?", em alguma medida, pauta ações
de governos?
SC: Sem dúvida. A idéia inicial da série era justamente realizar uma pesquisa
que pudesse ser reconhecida como séria e útil tanto pelo governo quanto pela
sociedade civil. Ela é mencionada na maioria dos documentos do governo
36
[federal]. Também tem servido de modelo para muitas outras pesquisas.
Idec: Como os resultados da pesquisa evoluíram no decorrer de suas quatro
edições?
SC: O resultado mais expressivo que a pesquisa mostra é o seguinte: em
1992, 46% da população não conseguiam, espontaneamente, citar nenhum
problema ambiental na sua cidade ou no seu bairro. Na segunda edição, em
1997, esse percentual caiu para 36%. Em 2001, diminuiu para 27%, e em
2005, para 11%. Quando olho esse gráfico, meu coração acelera. É
impressionante.
Idec: A pesquisa revela que houve avanços. Mais brasileiros também
conhecem termos como biodiversidade ou transgênico, e mais pessoas
consideram que a destruição das florestas ou a poluição dos rios são um
grande problema. Por outro lado, o levantamento verifica que, embora aumente
a consciência ambiental, as pessoas não mudam os hábitos. A teoria ainda
está longe da prática?
SC: A teoria, na prática, é outra, diz um ditado maroto. Mas isso não diz
respeito somente ao meio ambiente. Há estudos mostrando que a informação
não é suficiente para mudar hábitos arraigados. Veja, por exemplo, o que
acontece com o tabagismo e o controle de doenças mortais como o HIV.
Depois de um período intenso de campanhas públicas mostrando o perigo do
tabagismo e do sexo inseguro, a taxa de fumantes, sobretudo entre jovens,
volta a crescer. E a taxa de Aids também, sobretudo fora dos chamados grupos
de risco. Com relação ao meio ambiente se dá coisa parecida. As pessoas se
assustam com o desmatamento da Amazônia, mas quem foi à Amazônia? É
longe e é caro ir lá. Ela é desconhecida, está longe dos nossos olhos. E se a
madeira que consumimos vem de lá, como saber? O lixo também é um bom
exemplo. As pessoas já sabem que dá para reciclar boa parte, que existe uma
economia do lixo etc. Mas as nossas cidades são sujas, as pessoas jogam lixo
nas ruas e geram uma quantidade de lixo absurda. Porém, não podemos
desconsiderar o fato positivo de que o aumento progressivo e expressivo da
consciência dos brasileiros, em relação à necessidade de adotar padrões mais
37
responsáveis com o uso dos recursos naturais, terá conseqüências virtuosas.
A médio e longo prazo, em comportamentos e hábitos de consumo. Uma mídia
global e a importância do tema, que agora está "bombando" com o
aquecimento global, vão ajudar a acelerar essa consciência.
Idec: Entre as ações pessoais citadas por uma parcela dos entrevistados,
estão à separação do lixo para reciclagem e a redução do consumo de água.
Você sabe dizer quanto da população brasileira efetivamente adota esse tipo
de prática?
SC: Não, pois a pesquisa não mede quanto da população efetivamente faz o
que considera ético ou simpático. O que a pesquisa quer mostrar é o enorme
potencial de adesão que as campanhas contra o desperdício teriam se levadas
a cabo por governos e organizações. O potencial de adesão varia de 60 a 70%,
o que é bastante alto para estes itens citados: água e energia.
Idec: De qualquer maneira, a adoção de práticas ecologicamente corretas não
depende só do consumidor. Ele precisará dispor de um destino para o lixo
reciclável, por exemplo. Ou ter acesso a produtos fabricados de maneira
sustentável. Assim, em que medida é realmente possível consumir
sustentavelmente no Brasil?
SC: Um consumo 100% sustentável não existe em nenhum lugar do mundo,
nem em comunidades isoladas. A sustentabilidade é um conceito complexo e
deve ser buscada na cadeia produtiva. Dificilmente um serviço ou um produto é
inteiramente sustentável. Até porque ainda estamos na era dos combustíveis
fósseis, não é? Mas o consumo consciente, que é praticado ainda por uma
pequena parcela da população - urbana em sua maioria, e bem posicionada
economicamente -, é crescente. E já viabiliza uma série de negócios,
estruturando mercados que não existiam no Brasil há 15 anos, como o de
alimentos orgânicos, ervas medicinais, equipamentos ecoeficientes, biodiesel
etc.
38
Idec: É certo que o poder público e as empresas, por sua vez, já sabem que
precisam mudar algumas práticas. No entanto, às vezes é difícil para o cidadão
diferenciar entre o discurso e a realidade. Isto é, vê-se muita propaganda
carregada na maquiagem. Você acha que, ainda assim, esses agentes estão
avançando no sentido de uma atuação ambientalmente mais sustentável?
SC: As empresas estão fazendo uma revolução em suas práticas. De novo, é
uma pequena elite de grandes empresas globalizadas, antenadas com as
novas tendências do mercado e que pensam em longo prazo. A maquiagem
verde ou marketing ecológico existe, sim, e se caracteriza quando uma
empresa faz menos do que diz, ou nem faz. Há também propagandas
enganosas. Cito a que vi na televisão outro dia, dos postos Ipiranga, em que
induzem o consumidor a acreditar que, ao consumir gasolina em um posto da
rede, ele entrará em um programa de "carbono zero". O narrador da
propaganda fala que, para cada compra de gasolina, uma árvore será plantada.
Todos sabem que não neutralizaremos as emissões assim (veja matéria
“Neutra em culpa”).
Idec: Você conhece mudanças de hábitos ligados ao meio ambiente devida a
alguma pressão financeira?
SC: No caso do consumidor individual, vejo as pessoas migrando para os
aparelhos que economizam energia. Já as empresas só passaram a responder
à legislação ambiental com seriedade quando passaram a pagar pesadas
multas e indenizações.
Idec: Você já trabalhou na implementação da Agenda 21 em prefeituras e no
governo federal. Qual é a situação do documento, que propõe ações para o
estabelecimento de um padrão de desenvolvimento sustentável, hoje em dia?
SC: A Agenda 21 é uma das minhas grandes paixões. Vejo, na sua
metodologia e nos arranjos institucionais que ela sugere, muitas virtudes. Ela
foi um roteiro excelente para ser adotado por países, cidades e organizações
que buscam a sustentabilidade. Mas acredito que em 1992, quando foi
elaborada, o contexto não favoreceu. Trazia uma visão em longo prazo para
39
uma sociedade que não estava madura para tal. Por incrível que pareça, hoje,
15 anos após a Rio-92 [Conferência das Nações Unidas sobre o Meio
Ambiente], é que a Agenda 21 começa a ganhar a importância que merece. A
dificuldade é que ela carrega a idéia da democracia participativa, e isso
definitivamente não é simpático para muita gente, especialmente para o tipo de
poder tradicional, pouco transparente, que vigora na maioria dos municípios
brasileiros. Na maioria das cidades onde eu pude acompanhar processos de
elaboração da Agenda 21 local, o que ocorreu foi um esforço de elefante para
parir ratos. Com relação à Agenda 21 brasileira, acho que está na hora de se
fazer uma revisão. Entre os acertos e defeitos, foi elaborada uma agenda, mas
não um sistema de monitoramento. Temos aí oportunidades, não considero
correto jogar a criança junto com a água do banho. A Agenda 21 encerra
processos interessantíssimos de formação de lideranças locais, de
envolvimento da população nos problemas e soluções de suas cidades ou
comunidades, e merece ser mais bem avaliada. Tenho conversado com os
técnicos do MMA sobre a necessidade de se eleger indicadores para avaliar
quanto têm sido efetivas as ações que são realizadas com o nome de Agenda
21.
Idec: Considerando os problemas ambientais, o que é preciso solucionar mais
urgentemente nas cidades?
SC: Disposição de lixo, pois a maioria das cidades não tem mais espaços para
aterros sanitários. Saneamento básico, o que inclui fornecimento de água de
boa qualidade e esgotamento sanitário. Com o aquecimento global em nossos
calcanhares, destaco também a necessidade de se controlar as emissões,
taxando a frota de veículos particulares de um lado, pressionando as
montadoras de outro, e o governo de outro, para que programas como o
Proconve [Programa de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores]
cumpram suas metas.
Idec: E no meio rural?
SC: Controlar os agro químicos e a conversão de mata nativa em lavoura. O
terceiro problema é a erosão dos solos.
40
Idec: O Iser existe há 37 anos e deve ter uma boa noção da atuação das
ONGs no Brasil. Como elas vêm evoluindo?
SC: Eu acho, pela minha atuação em ONGs há mais de 20 anos, que estamos
vivendo uma crise de identidade e uma crise de modelo. A crise de identidade
é vivida por uma tipologia cada vez mais variada de organizações que surgem
para prestar serviços sociais, sem ter necessariamente uma história política
que lastreie suas ações. E a crise do modelo é vivida pela necessidade cada
vez maior de atuarmos em escala, o que é difícil com organizações pequenas
com eterna dificuldade de se financiarem em longo prazo. O marco regulatório
brasileiro não ajuda na transferência de recursos para as organizações sociais.
Em nome da necessidade de se combater a corrupção e o desvio de dinheiro
público, estão sendo criados um cipoal jurídico e uma série de
constrangimentos às ONGs. Acho que estamos muito passivos diante de
problemas que só têm feito piorar. Enfim, este é um tema que mobiliza e
preocupa.
Idec: Os graves problemas sociais do Brasil influenciam muito o perfil das
organizações não-governamentais?
SC: É claro. As organizações sociais surgem como respostas à necessidade
de organizar demandas, advogarem direitos ou prestar serviços onde o Estado
está ausente ou é insuficiente. Eu diria que houve três grandes ondas na
criação de ONGs. Uma primeira surgiu para promover a democratização e lutar
contra o Estado autoritário (anos 60 e 70). Uma segunda onda surgiu para
organizar demandas da sociedade urbana complexa, como o acesso a serviços
básicos e o direito das minorias (anos 80 e 90). E uma terceira surgiu a partir
de 2000, com foco especial no combate à pobreza e na inclusão social. O
boom das organizações ambientalistas só ocorreu após a Rio-92. A
globalização e a conexão em tempo real pela internet também modificaram
bastante o perfil de atuação das ONGs.
Idec: Em sua opinião, uma ONG pode ter ligações com empresas? Isso não
pode acabar por desvirtuá-la de sua função?
41
SC: Depende da ligação. Acho a parceria entre ONGs e empresas bastante
saudável para ambas, e totalmente virtuosa para a sociedade, que precisa
tanto da expertise das ONGs quanto do recurso das empresas. Além do mais,
em parcerias sérias, ONGs e empresas aprendem umas com as outras. A
cooptação não precisa necessariamente acontecer em uma parceria ONG -
empresa ou ONG - poder público. Mas se isso ocorre é por falta de caráter e de
ética, não porque a parceria em si seja questionável. A desconfiança que
imperava entre empresas e ONGs tem erodido e dado origem a experiências
muito interessantes. O Iser mesmo tem explorado essa possibilidade há cinco
anos, no campo da responsabilidade social e ambiental. Para nós, tem sido
uma experiência positiva.
42
CAPÍTULO II
ONDE EXISTE CERRADO NO BRASIL; TIPOS DE
CERRADO; PRINCIPAIS RESERVAS, O CERRADO
GOIANO E SEUS FRUTOS.
ONDE EXISTE CERRADO NO BRASIL
É caracterizado pela formação vegetal típica do Brasil Central. Impressiona
pelas árvores e arbustos retorcidos, caules recobertos de espessas cascas e
folhas grossas, brilhantes ou revestidas por um denso conjunto de pêlos. A
aparência do Cerrado não decorre da falta de água, mas sim dos solos
profundos de baixa fertilidade e alta permeabilidade, aliados à topografia plana
e períodos secos e chuvosos bem definidos.
O Cerrado ocupa originariamente cerca de um quarto do território
brasileiro e é um dos mais ricos ecossistemas do planeta. Situa-se no Planalto
Central Brasileiro, estendendo-se pelos estados de Goiás, Tocantins, Distrito
Federal e parte dos estados do Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
Gerais, Bahia, Maranhão, Piauí, Pará, Rondônia, Amapá e São Paulo.
Segundo o ecólogo Leopoldo Magno Coutinho, "estima-se que a área "core" ou
nuclear do Domínio do Cerrado tenha aproximadamente 1,5 milhão de km². Se
adicionarmos as áreas periféricas, que se acham encravadas em outros
domínios vizinhos e nas faixas de transição, este valor poderá chegar a 1,8 ou
2,0 milhões de km²". Porém, por ser desconhecido foi alvo de exploração
indiscriminada, dando lugar a monoculturas como soja, cana-de-açúcar e
pastagem. Menos de 3% do Cerrado está protegido por Unidades de
Conservação, o que torna vulnerável a parte desprotegida.
O desmatamento do Cerrado goiano vem ocorrendo devido à ação de
um conjunto de variáveis indutoras, tais como fatores naturais, principalmente
relacionadas ao tipo de relevo, e fatores que beneficiam a implantação de
atividades econômicas, tais como disponibilidade de infra-estrutura para
deslocamento de mercadorias e insumos, necessários para a prática de
agricultura e pecuária, somados à proximidade de centros consumidores
43
economicamente desenvolvidos e com grande quantidade de população. Essas
variáveis acabam por induzir ao desmatamento, pois, de um lado, aumentam o
interesse na construção do espaço de produção econômica e, por outro lado,
esta construção faz com que o espaço (antes ocupado pelo cerrado nativo)
passe a ter maior valor de mercado (Miziara & Ferreira, 2006).
TIPOS DE CERRADO
Fisionomia do Cerrado - A maior ou menor densidade de árvores e
arbustos diferencia os tipos de cerrado:
• Campo cerrado - caracteriza-se por vegetação
predominante rasteira com ocorrência de árvores e arbustos bastante
espaçados entre si.
• Cerrado - Apresenta vegetação retorcida de até 05 metros,
revestida de casca espessa, galhos baixos, e copas assimétricas.
• Cerradão - É uma formação florestal constituída por três
estratos distintos: Superior, com árvores esparsas que podem atingir de
06 a 12 metros, predominando as de madeira dura; intermediário com
árvores e arbustos retorcidos; e inferior constituído por vegetação
rasteira.
• Campo sujo - possui cerca de 15% de árvores e arbustos,
os quais concentram-se geralmente em "ilhas" de vegetação chamados
de campos de murundus.
• Campo limpo - com vegetação de gramíneas.
PRINCIPAIS RESERVAS (GOIÁS)
Reserva Biológica Lagoa Grande criada em 1976 no município de São Miguel
do Araguaia.
44
Reserva Florestal Nacional de Serra Dourada, ocupa 144 ha. de área dos
municípios de Goiás e Mossâmedes.
Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, criado em 1961 com 65.515 ha
nos municípios de Alto Paraíso e Cavalcante.
Parque Estadual de Terra Ronca, criado em 1989 com 14.493 ha. no município
de São Domingos.
Parque Estadual dos Pirineus, criado em 1987 no município de Pirinópolis.
Parque Nacional das Emas, criado em 1961 com 131.868 ha. nos municípios
de Aporé e Mineiros.
Reserva Biológica Estadual de Parúna, criada em 1979 com 2.812 ha. no
município de Paraúna.
Parque Estadual da Serra de Caldas, criado em 1970 com 12.315 ha. no
município de Caldas Novas.
O Cerrado Goiano
O Sistema Biogeográfico dos Cerrados abrange área de uma grandeza
espacial, que recobre quase dois milhões de quilômetros quadrados. A área
contínua dos cerrados inclui praticamente a totalidade dos Estados de Goiás e
Tocantins, oeste de Minas Gerais e Bahia, leste e sul de Mato Grosso, quase a
totalidade do Estado do Mato Grosso do Sul, sul dos estados do Maranhão e
Piauí.
O que se procura definir com o termo cerrado não é apenas um tipo
vegetação, mas um conjunto de tipos fisionomicamente distribuídos dentro de
um gradiente que temos como limites, de um lado o campo limpo e de outro
lado o cerradão. Nesse contexto, podem ser agregadas as linhas de matas e
matas galerias, integrantes decisivas desse ecossistema.
45
Ao estudar a ecologia dos cerrados que uma das características mais
marcantes de sua biocenose é a dependência de alguns de seus componentes
dos ecossistemas vizinhos. Muitos animais têm seu nicho distribuído entre o
subsistema do cerrado propriamente dito e das matas podem, por exemplo,
passar grande parte do dia no cerrado e abrigar-se à noite nas matas, ou vice-
versa.
Não se pode levar adiante qualquer estudo sobre os cerrados, se não se
tomar em consideração o fogo, elemento intimamente associado a esta
paisagem. Apesar de sua importância para o entendimento da ecologia desse
ambiente enquanto conjunto biogeográfico, a ação do fogo nos cerrados é
ainda mal conhecida e geralmente marcada por questões mais ideológicas do
que científicas.
O estudo do fogo como agente, será mais completo se também se
observar a comunidade faunística e os hábitos que certos animais
desenvolveram e que estão intimamente associados à sua ação, cuja
assimilação, sem dúvida, necessita de arranjos evolutivos caracterizados por
tempo relativamente longo. De algumas observações constata-se, por exemplo,
que a perdiz só faz seu ninho em macegas, tufos de gramíneas queimadas no
ano anterior. Da visita a várias áreas do cerrado imediatamente após grande
queimada, tem-se constatado que apesar das características das árvores e
arbustos enegrecidos superficialmente, estes continuam com vida, ostentando
ainda entre a casca energecida e o tronco, intensa microfauna. Fenômeno
semelhante acontece com o estrato gramíneo: poucos dias após a queimada,
mostra sinais de rebrota, que constitui elemento fundamental para
concentração de certas espécies animais. O fogo, portanto, é um elemento
extremamente comum no cerrado, e de tal forma antigo, que a maioria das
plantas parece estar adaptada a ele.
A diversificação em variados ambientes é que atribui ao Sistema dos
Cerrados o caráter fundamental da biodiversidade. Compreender a distribuição
dos elementos da flora e fauna pelos diversos subsistemas e seu ciclo anual é
muito importante para uma visão de globalidade.
46
No que se refere à frutífera, o Sistema dos Cerrados se apresenta como
um dos mais ricos, oferecendo uma grande quantidade de frutos comestíveis,
alguns de excelente qualidade, cujo aproveitamento por populações humanas,
se dá desde os primórdios da ocupação e, em épocas atuais são aproveitados
de forma artesanal. Associados aos frutos, outros recursos vegetais de caráter
medicinal, madeireiro, venífero, etc., podem ser listados em grande quantidade.
Alguns desses recursos, frutíferos ou não, constituem potenciais fontes de
exploração econômica de certa grandeza, cuja pesquisa e o desenvolvimento
de tecnologias podem viabilizar seu aproveitamento em curto prazo.
O sistema dos Cerrados também apresenta uma fauna variada
representada essencialmente por animais de médio e pequeno porte. A
distribuição dos recursos vegetais, principalmente os frutos, tem sua maior
concentração nos meses de novembro, dezembro e janeiro. Época que
coincide com auge da estação chuvosa. Essa concentração diminui
proporcionalmente à medida que se distância da época chuvosa. Todavia, com
exceção de maio, os meses que correspondem à época seca, mesmo em
quantidade menor, apresentam certa quantidade de recursos.
Embora possam ser visíveis durante todo ano, os mamíferos
campestres estão mais concentrados nos meses de setembro à janeiro. Esta
época coincide com as floradas e rebrota dos pastos afetados por queimadas,
naturais ou antrópicas do ano anterior, coincide também, principalmente, a
partir de novembro com a época de maturação dos frutos. As espécies,
insetívoras também encontram, nesta época, farto recurso, proporcionado pela
revoada e multiplicação de certas espécies de insetos.
Os Carnívoros também estão mais concentrados em setembro, outubro,
novembro, dezembro e janeiro, acompanhado a concentração dos mamíferos
campestres. Os mamíferos habitantes do bioma ribeirinho, podem ser mais
visíveis e concentrados nos meses secos, principalmente junho, julho, agosto e
setembro. A maior parte das aves do Sistema dos Cerrados põe seus ovos
durante a estação seca mais especificamente em junho, julho e agosto. As
aves campestres estão mais concentradas no início da estação chuvosa.
47
Frutos do cerrado
Pequi - Caryocar brasiliense Camb.
Nomes populares: pequi, piqui, grão-de-cavalo, amêndoa-de-espinho, piquiá-bravo, pequiá, pequiá-pedra, pequerim, suari e piquiá. Nome científico: Caryocar brasiliense Camb.
O pequizeiro é uma planta típica do Cerrado, que consiste num bioma
de grande variedade de sistemas ecológicos, tipos de solo, clima, relevo e
altitude, e com uma vegetação caracterizada por coberturas rasteiras, arbustos,
árvores esparsas e tortuosas, de casca grossa, folhas largas e raízes
profundas, formando desde paisagens campestres a florestas.Com uma vida
útil estimada de aproximadamente 50 anos, o pequizeiro atinge até 10 m de
altura. Sua fase reprodutiva inicia-se a partir do oitavo ano, com floração
ocorrendo normalmente entre os meses de setembro a novembro.
A frutificação acontece de outubro a fevereiro, produzindo frutos por 20 a
40 dias em média, com produção variável podendo chegar a 1000 frutos por
pé.
O fruto do pequizeiro apresenta gosto inconfundível tendo seu nome
ligado às suas características botânicas, e etimologicamente ligado à língua
tupi: py = casca e qui = espinho (Simões, 2005).
Contém normalmente entre 1 a 4 caroços, cientificamente chamados de
putâmens. No Norte de Minas Gerais já foram encontrados frutos contendo até
7 caroços.
48
O caroço é composto por um endocarpo lenhoso com inúmeros
espinhos, contendo internamente a semente, ou castanha, e envolta por uma
polpa de coloração amarela intensa, carnosa e com alto teor de óleo.
Características Físicas do Pequi Parâmetros média
Peso por fruto (g) 76,41 Peso de caroço por fruto (g) 30,75 Peso de polpa por fruto (g) 7,41 Peso das sementes por fruto (g) 22,87 Diâmetro longitudinal (mm) 32,17 Diâmetro equatorial (mm) 41,16 Rendimento de polpa (%) 8,98 Rendimento de caroço (%) 28,81 Rendimento em casca (%) 61,66
Características Químicas da polpa do Pequi
Parâmetros Quantidade por porção de 100 g de polpa
Umidade (%) 50,61 Proteínas (%) 4,97 Gordura (%) 21,76 Cinza (%) 1,1 Fibra (%) 12,61 Carboidratos (%) 8,95 Calorias Kcal/100g 251,47 Cálcio (mg/100g) 0,1 Fósforo (mg/100g) 0,1 Sódio (mg/100g) 9,17 Vitamina C (mg/100g) 103,15
Fonte: Relatório Institucional – Núcleo de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais, Montes Claros, 2003.
49
Uma das maiores virtudes do Cerrado brasileiro é a diversidade
biológica deste bioma, representado por uma série de espécies vegetais que
produzem frutos utilizados na alimentação humana, podendo-se destacar o
pequi. Espécies medicinais e outras plantas úteis vêm sendo largamente
utilizadas no cotidiano da população local, constituindo uma reserva
farmacológica, nutricional e utilitária de riqueza inigualável para os povos das
regiões ocupadas pelo Cerrado (Simões, 2005).
Assim como numerosos e exuberantes estames em sua flor, múltiplas
são as formas de uso e significado do pequi para esses povos.
Elemento de base de a cultura alimentar de várias regiões brasileiras, o
fruto do pequi, compõe receitas tradicionais, como o Arroz com Pequi,
Galinhada, alguns doces, licores, sorvetes, caracterizando fortemente, junto a
outras especiarias, o bouquet de sabores das culinárias regionais aonde ele se
encontra.
Popularmente, seu uso fototerápico é apontado em diversos
tratamentos, pelo uso do seu óleo, flores e folhas.
Baru - Dpyteryx alata Vog.
Nomes populares: Castanha de baru, cumbaru, cumaru, castanha de burro, viagra do cerrado, coco barata, coco feijão. Nome científico: Dipteryx alata Vog
Ocorrência
Ocorre nas matas e cerrados do Brasil Central,
envolvendo terras dos Estados de São Paulo, Minas Gerais,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Tocantins, Bahia, Piauí, Maranhão e
Distrito Federal.
Aspectos botânicos e ecológicos
50
Leguminosa arbórea da família Fabaceae.
Árvore de grande porte chegando a medir 25 metros de altura, podendo
atingir 70 cm de diâmetro com vida útil em torno de 60 anos.
O baru está ameaçado de extinção em função da procura pela madeira e
pelo nível de desmatamento do Cerrado.
Ocorre corte indiscriminado do baru para fabricação de carvão vegetal,
instalação de cercas (moirões), indústria moveleira, construção civil, entre
outros usos.
O baru é encontrado em terras férteis e seus ecossistemas de
ocorrência têm sido massivamente desmatado em função do avanço da
fronteira agropecuária sobre o Cerrado.
Crescimento rápido sendo importante para fixação de carbono da
atmosfera.
Ingá (Ingá edulis)
Muito comum nas margens de rios e lagos, é muito procurada pela fauna e pelo
homem por suas sementes com arilo branco e adocicado. Existem várias
espécies, que se diferenciam pelo tamanho do fruto. Costuma apresentar
floração mais de uma vez por ano, porém a mais forte é entre Setembro e
Outubro.
51
Pitanga do mato
Árvore frutífera nativa de médio porte, encontrada na região com pouca
freqüência. Da família das Myrtaceae, é chamada popularmente de Pitanga do
mato. Suas principais características são o tronco com cascas finas se soltando
como papel, folhas levemente pubescentes, fruto pequeno, parecido com uma
pitanga menor e mais comprida. Quando maduro fica de cor preta. Comestível
e muito procurado pela fauna, tem um sabor acido levemente adstringente não
muito agradável. Possivelmente seria a Myrcia crocea.
Gabiroba
A gabirobeira pertence à família Myrtaceae, a mesma da goiabeira, e ao
gênero Campomanesia, que apresenta 25 espécies distribuídas do México à
Argentina sendo 15 delas nativas do Brasil. A espécie C. xanthocarpa
subdivide-se atualmente em duas variedades: xanthocarpa e littoralis. O nome
Campomanesia é uma homenagem ao naturalista espanhol Rodrigues de
Campomanes e xanthocarpa é uma palavra grega que significa fruto (carpos)
amarelo (xanthos). O nome gabiroba tem suas raízes na língua tupi-guarani e
significa casca amarga. Dentre os seus nomes vulgares, destacam-se
guavirova, guabiroba-miúda e guabirobeira-do-mato.
Marmelada bola (Alibertia edulis) Família Rubiaceae
Árvore de baixo a médio porte. Seus frutos se assemelham ao marmelo,
52
ficando roxos quando maduros. São comestíveis e atraem a fauna. Também
conhecida como Marmelada de cachorro.
Araçá
Nome popular: Araçá; araçazeiro; araçá-verdadeiro.
Nome científico: Psidium araçá Raddi
Família botânica: Myrtaceae
Origem: Brasil (Amazônia), Guianas até São Paulo.
Características da planta: Árvores que podem variar de 70 cm a 10 m de
altura, de casca lisa escamosa e copa esparsa. Folhas geralmente
avermelhada quando jovens. Flores são branco-esverdeadas.
Fruto: Arredondado, de coloração verde, amarela ou vermelha de acordo
com a espécie. Polpa branco-amareladas ou avermelhadas, mucilaginosa,
aromática, contendo muitas sementes.
Cultivo: Encontrado no Brasil em estado silvestre. Prefere solos secos e
não é exigente quanto ao clima, resistindo a geadas.
Propaga-se Dor sementes e enxertia. Frutifica de janeiro a maio.
Cagaita
Eugenia dysenterica
Já o nome cagaita refere-se ao sintoma provocado
pelo consumo excessivo dessa pequena fruta amarelada
e arredondada. Exposta ao sol, ela sofre fermentação,
que pode estimular excessivamente a função intestinal e
causar uma sensação parecida à embriaguez. Por isso, é
recomendada moderação ao saboreá-la. É uma fruta de
sabor agradavelmente ácido e refrescante devido a seu
53
teor de aproximadamente 90% de suco. Para suprir o desconforto do consumo
in natura, ela pode ser preparada como doce, suco, geléia, sorvete e licor.
Do topo de altas árvores são retiradas pencas de
buriti, um coquinho de cor marrom com escamas dura e
que, ao amadurecer, escurecem. Para retirar a polpa é
necessário amolecer as escamas imergindo em água ou
abafando em sacos plásticos. Ela representa em torno de
30% do peso do fruto seco e contém 23% de óleo. Possui,
ainda, grandes quantidades de ácidos graxos instaurados e é rica em pró-
vitamina A. A polpa amarelo-ouro pode ser consumida in natura ou usada na
preparação de óleo, compotas, sorvetes e, especialmente, na forma de doce,
bem conhecido na região.
O jatobá é uma fruta de rígida casca marrom, tendo em seu interior uma
polpa branca amarelada e farinácea
envolvendo poucas sementes. Para obtê-la,
é necessário utilizar um martelo ou pedra
para quebrar o fruto. Raspando a semente, é
obtida uma farinha granulada adocicada e de
sabor característico e forte, que, após ser
peneirada, pode ser usada na preparação de
pães, bolos, biscoitos, geléias e licores.
Foram também os índios que
identificaram e deram nome à mangaba,
cujo significado é “coisa boa de comer”.
Trata-se de uma fruta de cor amarelo-
avermelhado, delicada e viscosa. Sua
polpa branca e fibrosa recobre as
54
sementes arredondadas. Deve ser consumida somente após cair das árvores
(mesmo que na árvore pareça madura), sob o risco de causar problemas de
saúde. O fruto apresenta cheiro apreciável e um sabor exótico. Tem boa
aceitação mercadológica para consumo in natura e para uso da indústria na
elaboração de doces, sucos, licores e sorvetes, auxiliando no sustento informal
de muitas pessoas. Traz, ainda, grandes quantidades de vitaminas A, B1, B2,
bem como ferro, fósforo, cálcio, em poucas calorias (43 kcal/100g). Seu teor de
vitamina C permite considerada fonte desse nutriente.
Há, ainda, o araticum, que significa “fruto mole”, justamente o aspecto
que essa fruta de casca escamosa apresenta
após amadurecer. No seu interior há uma
polpa mole, com cerca de 52 kcal/100g, que
envolve várias sementes marrom escuras. É
a polpa que define a qualidade: a rosada é
mais doce e macia, enquanto a amarelada é
mais firme e um pouco ácida. Pode ser
consumida in natura ou como doces, batidas,
licores, sorvetes, geléias. Ela exala um aroma característico forte ao cair das
árvores, podendo denunciar a presença da fruta a certa distância. Estudos têm
sido conduzidos para aproveitamento da semente (parte geralmente
desprezada) para produção de óleo, já que ela contém 84% de ácidos graxos
insaturados, sendo 50% de ácido oléico e 34% de linoléico.
55
CAPÍTULO III
CONDIÇÕES EM QUE SE ENCONTRA O CERRADO
GOIANO E AS AÇÕES QUE ESTÃO SENDO
DESENVOLVIDAS PARA SUA PRESERVAÇÃO
Devido à intensa ocupação do Cerrado goiano, houve também uma
intensa fragmentação da vegetação nativa, resultando em uma grande
quantidade de pequenos fragmentos que, por muitas vezes, estão localizados
próximos de áreas já antropizadas, como é o caso das rodovias e das
localidades de grande densidade populacional, elevado índice de
desenvolvimento humano e alto produto interno bruto. Tais áreas podem ainda
apresentar um relevo favorável às prática agro-pastoris. Desta forma, 86% dos
fragmentos de Cerrado remanescente em Goiás estão correndo altos risco de
serem desmatados.
Isto equivale a uma área aproximada de 105.612,30 Km2. Somente
14% do Cerrado goiano estão em localidades que não atendem a todos
os critérios considerados nesta análise e, portanto, correm baixo risco de
serem desmatados.
Sob uma perspectiva regional (mesorregiões), a situação da vegetação
nativa em Goiás é bastante crítica.
Mapa do Potencial de Regeneração da Cobertura Vegetal Nativa do
Estado de Goiás.
56
Em todo o Estado de Goiás, 87.189,17 Km2 (ou 25,21%) apresenta alto
potencial de regeneração da cobertura vegetal nativa, seguido por 192.785,95
Km2 (ou 55,75%) com médio potencial de regeneração e, finalmente,
65.847,76 Km2 (ou 19,04%) com baixo potencial de regeneração. Ainda
com base no mapa da figura 6, é possível observar que as regiões norte e
nordeste de Goiás apresentam as maiores áreas com alto potencial de
regeneração.
Contudo, na porção central e sul do estado, onde a agricultura é mais
intensa, estão as maiores áreas com baixo e médio potencial de regeneração.
Na Tabela pode-se observar o potencial de regeneração da cobertura
vegetal por mesorregiões no Estado de Goiás.
Os levantamentos de áreas desmatadas a partir de imagens de satélite
tiveram início no final da década de 1970, principalmente na floresta amazônica
57
(Ferreira et al., 2007). No bioma Cerrado, os levantamentos de desmatamentos
começaram de forma mais intensa nos últimos anos (Ferreira et al., 2006; Sano
et al., 2006).
Normalmente, os levantamentos das áreas desmatadas têm como
objetivo principal quantificar as áreas convertidas, por exemplo, em agricultura,
pastagem e área urbana, sem, no entanto, realizar análises sobre os impactos
causados aos remanescentes de vegetação, ao solo e aos demais elementos
físicos da paisagem.
Figura 4: Mapa de risco de desmatamentos.
58
A partir dos mapeamentos sobre o risco de desmatamentos da
vegetação nativa no Estado de Goiás, obteve-se um mapa que qualifica o risco
de desmatamento do Cerrado goiano em alto e baixo, conforme ilustrado na
figura acima.
Quadro 1- Políticas Públicas para o desenvolvimento sustentável no Cerrado
Nome/ sigla do programa Objetivos a serem alcançados
Grupo de Trabalho de Cerrado e
Pantanal
Autorizado pelo Ministério do Meio
Ambiente (MMA), tem como objetivo
elaborar um plano de ação e uma
estratégia ambiental integrada para o
Cerrado e Pantanal, atualmente em
desenvolvimento por meio de um
Grupo de Trabalho que inclui
representantes da sociedade indicados
pela Rede Cerrado de ONGs.
GEF
O governo brasileiro sinalizou que
pretende apresentar um projeto de
U$150 milhões ao GEF para o
Cerrado. Além do MMA, a elaboração
da proposta concreta e sua execução
dependerão muito dos Estados e da
sociedade na região.
PPP – Programa de Pequenos
Projetos
Esse programa do GEF e PNUD
apoiou 51 projetos de entidades não
governamentais no Cerrado. O valor
máximo é de U$30 mil. Os projetos
visam principalmente à identificação e
replicação de meios de vida
sustentáveis (GEF, PNUD e ISPN,
1999).
59
Programa Pantanal
É um programa de desenvolvimento
sustentável que conta com recursos do
Banco Interamericano de
Desenvolvimento (BID) e do Governo
japonês, num total previsto de U$400
mil, não se restringe ao Pantanal, mas
inclui toda a bacia do Alto Paraguai.
Lei do Cerrado
O Secretário de Biodiversidade do
MMA propõe às ONGs “cerradistas” a
elaboração de uma Lei do Cerrado
semelhante à Lei da Mata Atlântica,
que regulamenta o uso do bioma.
ICMS Ecológico
Goiás e Mato Grosso estão
implantando o ICMS ecológico, no qual
as transferências dos Estados para os
municípios são feitas segundo critérios
ambientais, a exemplo do que já foi
feito em MG e PR. A idéia poderia ser
estendida a outros Estados.
Sistemas Agros ambientais
O Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA) e o Instituto Nacional de
Reforma Agrária estão buscando
programar um modelo de sistemas
agro ambientais entre assentados da
reforma agrária e outros agricultores
familiares, a começar por Goiás.
Comissão Estadual de Agricultura
Orgânica em Goiás
O estado de Goiás formou uma
comissão para regulamentar a
agricultura orgânica, na qual os
representantes da sociedade estão
incluindo a produção extrativa vegetal
e a criação de animais silvestres, além
60
da lavoura e da pecuária.
Hidrovia Araguaia-Tocantins
O projeto está parado na justiça por
causa de decisões decorrentes de
questionamentos por parte de ONGs a
respeito dos estudos de impacto
ambiental e dos impactos das obras
sobre populações indígenas. Deveria
ser considerado, também, o impacto
regional.
FCO - Fundo Constitucional do
Centro-Oeste
Conta com 1,5% da arrecadação
federal, podendo ser um instrumento
de desenvolvimento sustentável no
Cerrado, como também a eventual
recriação da SUDECO, desta vez, se
possível, com o propósito de
desenvolvimento sustentável.
Fonte: SAWYER/2002, pg. 292- 294
Org.; PEDROSO, I. L. P. B/2004.
61
CONCLUSÃO
Chaves (2003, p.27) ressalta: “de alguma forma, o argumento da
necessidade do progresso tem sobrepujado os limites ecossistêmicos,
dissociando as práticas produtivas do potencial ecológico e das questões
sociais e culturais”.
Talvez a maior dificuldade para o pleno funcionamento da Política
Nacional de Meio Ambiente está no fato de que ela exige uma articulação entre
os organismos públicos que a compõem. No plano concreto das ações,
verifica-se que são fornecidas ao órgão executor e aos órgãos seccionais
muitas atribuições sem o correspondente apoio técnico e logístico.
Chaves (op.cit, p.31) destaca que há enorme dificuldade de se formular
uma política ambiental de caráter nacional. Não existe um efetivo plano de
ação governamental integrando a União, os Estados e os Municípios, com
vistas à preservação do meio ambiente. Tal dificuldade suscita conflitos de
competência de gestão sempre que qualquer tipo de estudo, laudo técnico ou
análise de impacto ambiental é solicitado.
A esse conflito de competência, soma-se ainda o despreparo técnico e
até mesmo teórico e metodológico das instituições destinadas a administrar as
questões ambientais. Incontáveis são os Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(2):
81-86, dezembro - 2004 (ISSN 1678—698X)
Deve-se ter claro que desenvolvimento almejamos e, mais ainda, se
buscamos o desenvolvimento qualitativo ele é fruto de uma complexa equação
entre as instituições públicas e privadas, os valores, a educação e a saúde, as
políticas públicas e as comunidades locais e nenhum setor, isoladamente, será
capaz de promovê-lo e se não houver uma mudança de postura os pobres
continuarão pobres, o planeta mais degradado e o crescimento cada vez mais
insustentável.
Essa é a realidade que temos que enfrentar no século que se inicia,
partindo da concepção que onde o significado do meio ambiente não for
atribuído adequadamente, o desenvolvimento com sustentabilidade fracassará.
62
Finalizando esta reflexão, gostaríamos de levantar uma questão: “qual a
esperança que podemos ter para o futuro da humanidade?”. Em nossa opinião
a resposta mais inspiradora a essa questão existencial foi dada por Capra
(2002, p.273):
“O tipo de esperança sobre a qual penso freqüentemente,...
compreendo-a acima de tudo como um estado da mente, não um estado do
mundo. Ou nós temos a esperança dentro de nós ou não temos; ela é uma
dimensão da alma, e não depende essencialmente de uma determinada
observação do mundo ou de uma avaliação da situação... (A esperança) não é
a convicção de que as coisas vão dar certo, mas a certeza de que as coisas
têm sentido, como quer que venha a terminar.”
63
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66
ANEXO
Publicado em: 13/01/2008
Febre amarela e desequilíbrio ambiental
Os últimos noticiários são ricos de fatos e ocorrências a respeito da
febre amarela. Em Goiás, meia centena de municípios está sob suspeita de
mortes de animais silvestres, como macaca, pelo vírus causador da doença.
Ao mesmo tempo, a imprensa nos informa que carvoeiros instalam, em alta
escala, fornos para produzir carvão a partir do Cerrado nativo. Em média, 70
mil hectares do Cerrado goiano são transformados anualmente em carvão
para abastecer as siderúrgicas mineiras. Mais de 40% dos municípios goianos
sequer possuem os 20% de reserva legal. O Cerrado nativo desaparece a
olhos vistos, estando confinado às regiões norte e nordeste do Estado de
Goiás.
O trabalhador rural que morreu no último dia 4de janeiro sob suspeita de febre
amarela, morava em Aparecida de Goiânia e estava trabalhando em Uruaçu,
onde realizava o serviço de desmatamento de uma fazenda, quando contraiu a
doença. A manifestação desta endemia explicita fatores ambientais
relacionados ao avanço do surto de doenças que se julgava controladas. Isto
nos requer algumas reflexões em torno da relação entre elas e a degradação
socioambiental.
O desafio da atualidade consiste na construção histórica de sociedades
com desenvolvimento sócio-ambiental, fundadas na eqüidade social e na
relação sustentável com o meio. Esse desafio já demonstra avanços, mas
carece ainda de maior consideração da sociedade contemporânea para com a
saúde e o meio ambiente. Assiste-se historicamente à ampliação das
populações potencialmente expostas aos riscos, como os casos de
trabalhadores rurais, em áreas endêmicas, que são picados pelo mosquito
silvestre, transmissor do vírus da febre amarela, contraem a doença e podem ir
a óbito. As pessoas infectadas migram para as cidades e os mosquitos,
transmissores urbanos, disseminam o agente etiológico para novas populações
e estratos sociais.
67
Os efeitos agressivos do desequilíbrio ambiental podem deflagrar
processos à primeira vista imperceptíveis, complexos, sinérgicos e letais. São
claros exemplos deste fenômeno o desmatamento, a simplificação do ambiente
e a elevação da temperatura que promovem a migração de populações de
espécies vetores, hospedeiras e reservatórias de agentes patogênicos, como o
vírus da febre amarela, os insetos transmissores do tipo silvestre e urbano, e
os macacos, expondo populações humanas a maiores incidências de
patogenias.
As ameaças à saúde pública, decorrentes dos desequilíbrios do ambiente, são
causadas pelo próprio homem. A reflexão teórico-conceitual e o conhecimento
destinam-se a resolver/solucionar problemas como este, estabelecer
prioridades, definir indicadores e dar praticidades às decisões. O nosso país
está experimentando mudanças ambientais enormes, ainda que estas estejam
ocorrendo de maneira diferenciada conforme a cidade, o estado ou a região. O
aumento no número de casos de doenças relacionado ao desequilíbrio
ambiental vem merecendo preocupações crescentes. As mudanças climáticas
podem agravar as ameaças de doenças infecciosas. Em primeiro lugar, devido
ao aumento das temperaturas, muitas doenças e seus vetores podem surgir e,
em segundo lugar, o aumento da poluição e a destruição dos biomas naturais
podem causar o ressurgimento de doenças recentes e antigas.
Podemos destacar a ligação entre febre amarela, dengue, entre outras
doenças, ao desmatamento e seus efeitos imprevistos. Os desmatamentos,
construção de estradas e de barragens podem freqüentemente destruir
sistemas florestais e fluviais, alterando hábitats dos mosquitos vetores da
doença. A migração de trabalhadores para áreas previamente inacessíveis
também faz aumentar a população de risco.
Percebe-se a complexa relação entre mudanças ambientais e a
ocorrência de doenças emergentes no Brasil. Grandes epidemias urbanas da
atualidade, como tuberculose, hanseníase, dengue, febre amarela urbana, são
doenças infecciosas enquadradas como emergentes. Elas têm em comum o
fato de serem ocasionadas por parasitas, que são agentes etiológicos vivos
adquiridos, em algum momento, pelos hospedeiros (no caso, o homem) a partir
do meio ambiente externo.
68
O desmatamento causa desequilíbrio na interação entre patógeno e seu
ambiente, proporciona a proliferação de vetores e parasitas e cria oportunidade
para as epidemias. As doenças infecciosas são, portanto, marcadores de
processos ecológicos nas quais participam ao menos duas populações, a do
hospedeiro e do parasita e, freqüentemente, várias outras, entre vetores e
reservatórios.
Apesar da contribuição da tecnologia médica moderna na redução das
doenças infecciosas, a forma da organização social brasileira e a ocupação do
território determinam que certas doenças encontrem espaço para emergirem
ou adquirirem novas faces. As previsões de que a medicina erradicaria essas
doenças não se confirmaram em função das alterações dos ambientes
naturais. A sociedade precisa se conscientizar a respeito dos impactos
causados à saúde pública pelo desequilíbrio do meio ambiente.
Osmar Pires Martins Júnior é biólogo, mestre em Ecologia, professor
da disciplina Saneamento Ambiental do curso de Especialização em Saúde
Pública do CEEN/UCG e da disciplina Saúde Ambiental e Vigilância Sanitária
do curso de Enfermagem da UNIP.
Texto: Osmar Pires Martins Júnior
Fonte: Viva Cerrado - Foto: Desmatamento ilegal do cerrado (divulgação
69
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ – REITORIA DE PLANEJAMENTO DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE.
EDUCAÇÃO AMBIENTAL E A DEGRADAÇÃO DO
CERRADO GOIANO
SEVERINA ALVES DOS SANTOS SILVA
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Avaliado por: Conceito:
70