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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSO AVM FACULDADE INTEGRADA
O programa de internação domiciliar e sua relevância no contexto histórico do sistema único de saúde - SUS.
Por: LINDIMARA RAMALHO BARCELOS
Orientador: prof. Antônio Fernando Vieira Ney Co-orientador: prof.Marcelo Oliveira
Goiânia 2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSO AVM FACULDADE INTEGRADA
O programa de internação domiciliar e sua relevância no contexto
histórico do sistema único de saúde - SUS.
Monografia apresentada ao Instituto A Vez do Mestre como requisito parcial para a obtenção do titulo de especialista em gestão pública
Por: Lindimara Ramalho Barcelos
3
AGRADECIMENTOS
Aos meus familiares e amigos, que sempre
estiveram comigo, sempre ao meu lado, cuidando de mim
e me acompanhando com grandes vitórias e
especialmente ao professor Marcelo Oliveira, que com
paciência e dedicação me incentivou e procurou
conduzir-me ao término deste trabalho.
4
DEDICATÓRIA
Dedico esta monografia aos meus familiares,
amigos, professores que de alguma forma contribuíram
com a minha aprendizagem.
5
RESUMO
O objetivo do estudo, é analisar o contexto de inserção do programa de
internação domiciliar, com suas características, dificuldades e possibilidades
atuais na saúde pública.
Visando compreender como se deu o desenvolvimento dessa internação
domiciliar no contexto histórico do SUS, esta monografia está divida em três
capítulos. O primeiro refere-se à internação domiciliar, de forma ampla,
iniciando-se pela constituição da internação domiciliar no âmbito do SUS,
perpassando suas legislações e definições/conceitos específicos, chegando a
uma análise histórica, seguida de uma análise bibliográfica sobre o tema. No
segundo capítulo são enfocadas a saúde pública e suas dificuldades,
compreendendo seu cenário atual e desenvolvendo um percurso das políticas
públicas de saúde, que culminam na criação do SUS. No terceiro capítulo, por
sua vez, encontramos uma verticalização teórica no Programa Melhor em
Casa, analisando-se desde o surgimento da Política Nacional de Humanização
até o desenvolvimento da Política Nacional de Internação Domiciliar,
propriamente dita, objetivando-se ampliar as discussões e questionamentos
sobre esse tema que demanda constantes interlocuções.
Muitos avanços foram notados no contexto da saúde pública brasileira,
entretanto, as dificuldades e os empecilhos ainda demandam reflexões diárias
e soluções iminentes. Tem em vista que novos programas são continuamente
criados, readaptados com o intuito de tornar cada vez melhor o Sistema Único
de Saúde do país. E a internação domiciliar no contexto do Sistema Único de
Saúde é um desses programas que deverá sofrer ao longo do tempo
adaptações e que oferecerá grandes benefícios a Saúde Pública brasileira.
Palavras-chave: Internação domiciliar, Saúde pública, SUS
6
Metodologia
Este trabalho foi realizado através da pesquisa bibliográfica em livros,
revistas e sites. Durante a analise foi possível colher dados que tornaram
possível a realização deste, proporcionando o conhecimento do tema, que
apesar de ser algo novo na realidade do SUS, possui muitos autores que se
interessam e estuda o assunto, neste trabalho analisamos as seguintes obras:
ALBUQUERQUE, A.B.B.; BOSI, M.L.M. Visita domiciliar no âmbito da
Estratégia saúde da Família: percepções de usuários no Município de
Fortaleza, Ceará, Brasil. Cad. Saúde Pública, v.25, n.5, p. 1103-1112, 2009.
AMARAL, N.N.; CUNHA, M.C.B.; LABRONICI, R.H.D.D.; OLIVEIRA, A.S.B.;
GABBAI, A.A. Assistência Domiciliar à saúde ( Home Health Care): sua História
e sua Relevância para o Sistema de Saúde Atual. Revista Neurociências, v.9,
n.3, p.111-117, 2001.
BEN, L.W.D.; GAIDIZNSKI, R.R. Sistema de classificação de pacientes em
assistência domiciliária. Acta Paul Enferm, v.19, n.1, p.100-108, 2006.
BERTI, H.W.; ALMEIDA, E.S. Percepção de Gestores Municipais de Saúde
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BERTOLOZZI, M.R. O sistema de Saúde Brasileiro: em que ponto estamos?.
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BRASIL, Ministério da Saúde. Constituição Brasileira de 1988.
BRASIL, Ministério da Saúde. Portaria nº 2.416, de 23 de março de 1998.
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7
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do cuidado no contexto da internação domiciliar. Revista Gaúcha Enfermagem,
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FABRÍCIO, S.C.C.; WEHBE, G.; NASSUR, F. B.; ANDRADE, J.I. Assistência
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FEUERWERKER, L.C.M.; MERHY, E.E. A contribuição da atenção domiciliar
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FIGUEIREDO, N.M.A. Ensinando a cuidar em Saúde Pública. Difusão
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FILHO, S.B.S. perspectivas da avaliação na Política Nacional de Humanização
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GOUVEIA, M.L.; SCHUMACKER, R.C.; MOREIRA, R.M. Satisfação do cliente
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MARIN, M.J.S.; LALUNA, M.C.C.; CAETANO, F.B.; PALASSON, R.R. As
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OLIVEIRA, J.G. Percepção de gestores municipais de saúde sobre qualidade
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RIZZOTO, M.L.F. História da Enfermagem e sua relação com a Saúde Pública.
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SILVA, K.L.; SENA, R.; LEITE, J.C.A.; SEIXAS, C.T.; GONÇALVES, A.M.
Internação domiciliar no Sistema Único de Saúde. Revista Saúde Púbçica,
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SOARES, L.G. Políticas públicas e organização do sistema de saúde:
antecedentes, reforma sanitária e o SUS. História da Saúde Pública no Brasil.
Ebah, 2012.
9
Introdução ................................................................................................. .........9
Capítulo I – Internação Domiciliar
1.1- Saúde e Internação Domiciliar no âmbito do SUS..................................11 1.2- Legislações.............................................................................................12
1.3- Definições/ conceitos..............................................................................13
1.4- Análise do cuidado domiciliar..................................................14
1.5- Análise Bibliográfica................................................................................16
Capítulo II- Saúde Pública e suas dificuldades
2.1- O cenário atual do sistema de saúde pública.............................................18
2.2- Evolução das políticas públicas de saúde..................................................19
2.3- Modelo Campanhista..................................................................................19
2.4- Plano de pactuação social e início da previdência....................................21
2.5- O nascimento do SUS................................................................................24
Capítulo III- Programa Melhor em Casa
3.1- Política Nacional de Humanização............................................................28
3.2- Política Nacional de Internação Domiciliar.................................................29
Considerações Finais........................................................................................33
Referências Bibliográficas.................................................................................35
10
Introdução
Quase 25 anos após a sua criação, o Sistema Único de Saúde (SUS)
continua buscando a implementação de seus princípios básicos de
universalidade; equidade; integralidade; descentralização; resolutividade;
regionalização e hierarquização; e participação popular. Apesar dos evidentes
avanços com a concepção do SUS, seus conflitos e dificuldades ainda são
evidentes. Há a insuficiência de recursos financeiros e materiais; bem como
excesso de demanda e falta de leitos e atendimentos, que se refletem nas
longas filas e na falta de estrutura física; expressando a baixa
institucionalização alcançada, nesse período, entre a formulação e a prática
efetiva das ações no contexto da saúde.
Frente ao exposto, há a necessidade de construção de formas
particulares de visualização e intervenção neste âmbito, que possam ir para
além do tradicional modelo hospitalocêntrico que sempre prevaleceu na saúde.
Uma das grandes propostas de melhoria no SUS foi a criação, em 2003, da
Política Nacional de Humanização, cujo objetivo central é “efetivar os princípios
do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão, qualificando a saúde
pública no Brasil e incentivando trocas solidárias entre gestores, trabalhadores
e usuários” (BRASIL, 2012).
Em ampliação a essa extensa política, foram desenvolvidos outros
planos de ação mais específicos. Em novembro de 2011 foi lançado o
Programa Melhor em Casa, que tem como objetivo maior possibilitar uma
assistência multiprofissional gratuita nos lares de pessoas com necessidade de
reabilitação motora, idosos, pacientes crônicos sem agravamento ou em
situação pós-cirúrgica, permanecendo os pacientes mais próximos da família.
Obviamente, objetiva também a redução das filas nos hospitais de emergência,
além da liberação de leitos hospitalares.
Visando compreender como se deu o desenvolvimento dessa internação
domiciliar no contexto histórico do SUS, esta monografia está divida em três
11
capítulos. O primeiro refere-se à internação domiciliar, de forma ampla,
iniciando-se pela constituição da internação domiciliar no âmbito do SUS,
perpassando suas legislações e definições/conceitos específicos, chegando a
uma análise histórica, seguida de uma análise bibliográfica sobre o tema.
No segundo capítulo são enfocadas a saúde pública e suas dificuldades,
compreendendo seu cenário atual e desenvolvendo um percurso histórico das
políticas públicas de saúde, que culminam na criação do SUS.
No terceiro capítulo, por sua vez, encontramos uma verticalização
teórica no Programa Melhor em Casa, analisando-se desde o surgimento da
Política Nacional de Humanização até o desenvolvimento da Política Nacional
de Internação Domiciliar, propriamente dita, objetivando-se ampliar as
discussões e questionamentos sobre esse tema que demanda constantes
interlocuções.
12
Capítulo I
Internação domiciliar
1.1- Saúde e Internação Domiciliar no âmbito do SUS
A Constituição Brasileira de 1988 inscreveu a saúde dentre os direitos
sociais, reconhecendo-a como um direito de cidadania estendido a todos os
brasileiros, redefinindo seu conceito e incorporando novas dimensões. Em seu
artigo 196 cita que “saúde é direito de todos e dever do estado, garantido
mediante políticas sociais’’. Assim, não é um “bem de troca”, mas um “bem
comum”, um bem e um direito social, em que é assegurado a todos o exercício
e a prática do direito à saúde, a partir da aplicação e utilização de toda a
riqueza disponível, conhecimentos e tecnologia desenvolvida pela sociedade
científica nesse campo, adequados às suas necessidades, abrangendo
promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento e reabilitação. Em
outras palavras, considerar esse bem e esse direito como componente e
exercício da cidadania é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo
poder público para o balizamento e orientação de sua conduta, decisões,
estratégias e ações (BRASIL, 1988).
Assim, a saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como
componente da qualidade de vida. No Brasil foi instituído em 1988 o Sistema
Único de Saúde (SUS), ao qual cabe identificar e divulgar fatores
condicionantes e determinantes da saúde; formular políticas destinadas a
promover suas ações e serviços; bem como assistir as pessoas por meio de
ações de promoção, proteção e recuperação da saúde. Assim, são percebidas
modificações claras dos valores que regem a assistência à saúde, ampliando
seus efeitos para além da simples ausência de doença, incrementando a
qualidade desta assistência de acordo com as novas demandas.
Aproxima-se então um novo panorama, ainda em construção em
nossas políticas públicas: a internação domiciliar, que se apresenta através da
necessidade do aprimoramento do cuidado ofertado aos usuários do sistema
de saúde hospitalar e a implantação de alternativas de cuidado que contribuem
13
para a integralidade na rede de serviços e resolutividade na assistência ao
usuário, princípios estes já definidos na criação do SUS.
Neste contexto, a Internação Domiciliar é descrita como um conjunto
de atividades prestadas no domicílio, a pacientes que exijam atenção mais
intensa, mas que possam ser mantidos em casa, desde que disponham de
atenção contínua, de um cuidador treinado e de supervisão de uma equipe
multiprofissional assistente exclusiva para este fim.
O processo de Internação Domiciliar é complexo, não sendo específico
de patologias e ou de grupo etário. Requer articulações entre paciente, família,
profissionais e serviços de saúde, devendo se pautar nos princípios da
Integralidade, Universalidade e Equidade em suas ações. A assistência pode
ocorrer de forma preventiva: com o objetivo de evitar a doença ou o
agravamento das já existentes; de forma terapêutica: como continuidade de um
tratamento; ou de forma paliativa: quando visa à assistência a pacientes com
diagnóstico de patologias sem prognóstico de cura, proporcionando assim
qualidade de vida (GOUVEIA, 2011).
Sendo assim, as equipes multiprofissionais de Internação Domiciliar
são compostas por no mínimo os seguintes profissionais: médico, enfermeiro,
técnico ou auxiliar de enfermagem e outros profissionais, levando em
consideração o perfil de atenção a ser prestado e os protocolos firmados.
1.2- Legislações
No panorama da assistência domiciliar, existem legislações
importantes pertinentes ao tema:
a. Portaria 2.416 de 23 de março de 1998, estabelecida pelo Ministro de
Estado da Saúde: versa sobre os requisitos para credenciamento de
hospitais e critérios para a realização de internação domiciliar no âmbito
do SUS, considerando que “a internação domiciliar proporcionará a
humanização do atendimento e acompanhamento de pacientes
cronicamente dependentes do hospital e que a adequada
desospitalização proporciona um maior contato do paciente com a
família favorecendo sua recuperação e diminuindo o risco de infecções”
(BRASIL, 1998)
14
b. Lei 10.424/02, que complementa a lei 8.080/90, que é a lei orgânica da
Saúde: acrescenta o Capítulo VI e o art. 19-I: “do subsistema de
atendimento e Internação Domiciliar, estabelecendo no âmbito do
Sistema Único de Saúde, o atendimento e a Internação Domiciliar”, com
ênfase ao atendimento por equipes multidisciplinares nos níveis da
medicina preventiva, terapêutica e reabilitadora, viabilizando o cuidado
integral dos pacientes em seu domicílio;
c. Portaria 2.529 de 19 de outubro de 2006: institui a internação hospitalar
no âmbito do SUS, com menção aos aspectos teóricos e práticos de sua
proposta e com roteiro técnico para elaboração do projeto de sua
implantação.
Em 2006 a Resolução - RDC/ANVISA Nº11, de 26 de janeiro de 2006,
que dispõe sobre o regulamento técnico de funcionamento de serviços que
prestam Atenção Domiciliar, sendo ele público ou privado, considera a
necessidade de propor requisitos mínimos de segurança para o funcionamento
dos serviços de Atenção Domiciliar.
Portanto, o Ministério da Saúde preconiza a internação domiciliar como
uma diretriz para a equipe básica de saúde, destacando-se que a mesma não
substitui a internação hospitalar e que deve ser sempre utilizada no intuito de
humanizar e garantir maior conforto à população. Para tanto, o atendimento e a
internação domiciliar só poderão ser realizados por indicação médica e com
expressa concordância do paciente e de sua família.
1.3- Definições/ conceitos
De acordo com a RDC N° 11/2006, que tem como objetivo estabelecer
os requisitos de funcionamento para os serviços de Atenção Domiciliar, são
preconizadas algumas definições que serão demonstradas a seguir:
a. Admissão em Atenção Domiciliar: início da prestação da assistência
domiciliar, que é feita após a indicação e a elaboração do plano de
atenção domiciliar - um documento que contém um conjunto de medidas
que orienta a atuação de todos os profissionais envolvidos de forma
direta ou indireta na assistência domiciliar;
15
b. Atenção domiciliar: termo genérico que envolve ações de promoção à
saúde, prevenção, tratamento de doenças e reabilitação desenvolvidos
no domicílio do paciente;
c. Assistência domiciliar: conjunto de atividades de caráter ambulatorial,
programadas e continuadas, desenvolvidas em domicílio;
d. Internação Domiciliar: um conjunto de atividades prestadas no domicílio
a pessoas clinicamente estáveis, que exijam intensidade de cuidados
acima das modalidades ambulatoriais, mas que possam ser mantidas
em casa, atendidas por uma equipe multiprofissional;
e. Equipe Multiprofissional de Atenção Domiciliar - EMAD: profissionais que
compõem a equipe técnica da atenção domiciliar, com a função de
prestar assistência clínico-terapêutica e psicossocial ao paciente em seu
domicílio;
f. Cuidador: pessoa com ou sem vínculo familiar capacitada para auxiliar o
paciente em suas necessidades e atividades da vida cotidiana. É
fundamental no processo de internação domiciliar, pois é ele que irá
gerir os cuidados dos quais o paciente necessita, intermediando a
relação entre os profissionais de saúde e o paciente.
1.4- Análise do cuidado domiciliar
No Brasil não há muitos registros formais sobre a história da
assistência domiciliar. Encontram-se alguns registros como: a criação do
serviço de Enfermeiras Visitadoras no Estado do Rio de Janeiro no século XX
e, em 1949, a criação do Serviço de Assistência Médica e de Urgência
(SAMDU), onde o atendimento era destinado exclusivamente aos
previdenciários vinculados aos sindicatos de trabalhadores. Os atendimentos
eram acionados via chamada telefônica, quando um médico saía para prestar o
atendimento de emergência. Havia, ainda, as visitas domiciliares frequentes,
destinadas a pacientes com doenças crônicas (GOUVEIA, 2011).
No início da década de 90, seguindo uma tendência mundial, surgiu o
serviço organizado na forma de cuidado domiciliar denominado home care,
concentrado em empresas privadas e instaladas em grandes centros
(FEUERWERKER & MERHY, 2008).
16
Tendo em vista que a internação domiciliar é algo recente na realidade
da saúde pública brasileira. Elencou-se como objeto deste estudo a internação
domiciliar no contexto histórico- social das políticas de saúde pública no país,
associando as características e dificuldades de implantação desse programa.
O objetivo do estudo, portanto, é analisar o contexto de inserção do
programa de internação domiciliar, com suas características, dificuldades e
possibilidades atuais na saúde pública.
1.5 – Análise Bibliográfica
Alguns autores compreendem a internação domiciliar enquanto uma
estratégia na reversão da atenção centrada nos hospitais, que propicia uma
nova lógica de atenção, com enfoque na promoção de saúde, na prevenção e
na humanização, como mostra BRONDANI & BEUTER (2009). Outros autores
ressaltam essa proposta como uma nova maneira de reorientar os
investimentos que prioritariamente eram destinados a instituições hospitalares
e aprofundar o conhecimento anteriormente focalizado nas doenças
transmissíveis para o relacionado com as doenças crônicas, como retrata
AMARAL et al (2001) avalia a internação hospitalar de forma positiva,
relatando que o atendimento domiciliar pode acelerar a recuperação do
paciente visto que o mesmo ficará afastado do risco de infecção hospitalar e do
estresse da internação. Há, ainda, uma redução dos custos, sendo uma
alternativa mais humana, por considerar a colaboração para a qualidade de
vida do paciente e seus familiares.
Para KLOCK et al (2005), a ação do cuidado domiciliar foi alavancado
pelo propósito de ampliação da integralidade na atenção e no cuidado à saúde,
no sentido de construção de um novo modelo assistencial, sendo que o
cuidado no espaço domiciliar possibilita fortalecer as relações familiares.
FABRÍCIO et al (2004) destaca que são vários os fatores que justificam
a implantação e implementação de programas de cuidado domiciliar, sendo
eles: a humanização no tratamento que proporciona melhor qualidade de vida
ao usuário, a diminuição de internações e de tempo de permanência em
hospitais, e ainda podendo ser levado em consideração outro benefício muito
17
importante, porém de difícil mensuração, que seria a satisfação do paciente e
de seus familiares ao ter seu tratamento realizado em seu lar.
GIACOMOZZI & LACERDA (2006) enfatiza a atenção domiciliar
enquanto uma modalidade ampla, que envolve as ações de promoção à saúde
em sua totalidade, incluindo a prática de políticas econômicas e sociais, que
influenciam o processo de saúde-doença dos usuários. Envolve ações
preventivas e assistenciais, transpondo as práticas institucionalizadas, visando
construir uma nova ação com base na inserção dos profissionais de saúde no
local de vida, interações e relações dos indivíduos, em sua comunidade e,
principalmente, em seu domicílio.
SILVA et al (2005) afirma que na internação domiciliar as relações
cuidador/usuário, equipe/usuário, família/usuário, cuidador/família, são
otimizados pelo vínculo cotidiano que se estabelece e são considerados como
positivo na implantação do cuidado e melhoria para o usuário, reafirmando a
importância das tecnologias leves na qualificação do cuidado. Referem ainda a
necessidade de utilização de tecnologias leves-duras sustentadas por
protocolos para o cuidado na internação domiciliar.
Um grupo característico da internação domiciliar são os idosos, MARIN
et al (2003) em sua discussão referente às dificuldades de idosos após alta da
internação domiciliar, e conclui que assistência ao idoso deve ser baseada na
continuidade, uma vez que o atendimento esporádico e restrito às
complicações não atendendo as necessidades da população. Acrescenta ainda
que estrutura e funcionamento do sistema de referência e contra-referência
como mecanismo de troca de informação evitando-se a duplicação de esforços
e consequentemente melhorando a qualidade da assistência.
BEN & GAIDIZNSKI (2006) ressalta que os cuidados de enfermagem,
cuidados básicos e cuidados de ajuda em domicílio, são classificados em
ações sociais, ações familiares e outras prestações de cuidados. Os cuidados
de ajuda em domicílio são oferecidos, em especial aos idosos, e incluem a
estrutura de manutenção das atividades de vida diária, todos os dias da
semana e podendo ser estendida às 24 horas por dia.
BRONDONI & BEUTER (2009) constataram que cuidar é uma
experiência inerente ao ser humano, adquirido no dia a dia, no cuidado aos
filhos, aos irmãos menores, aos pais, logo, a equipe multiprofissional ao atuar
18
no domicílio, deve considerar esses saberes e conhecimentos adquiridos
durante a trajetória de vida dos cuidadores familiares, envolvidos no processo
de cuidado ao doente, respeitando a singularidade de cada um, tornando-os
sujeitos ativos desta ação.
A internação domiciliar é uma modalidade de atenção humanizadora e
inovadora, que visa inverter a lógica de atuação dos profissionais de saúde. A
partir do momento que a equipe de saúde vai até o domicílio do doente, abre-
se espaço para o estabelecimento de uma relação de confiança ajuda mútua,
entre os profissionais de enfermagem e o cuidador, pautada no respeito à
individualidade e a singularidade de cada família, possibilitando a construção
de novos saberes (BRONDANI & BEUTER, 2009).
Segundo GIACOMOZZI & LACERDA (2006) prestar assistência à
saúde no domicílio, é muito mais que simplesmente levar a equipe ao encontro
do paciente com dificuldade de locomoção, ou de realizar orientações com
relação à higiene e alimentação, é de fato compreender o contexto sócio-
econômico e cultural que o envolve, os hábitos de higiene e alimentação da
família, e o significado da dificuldade de locomoção para o paciente, e sua
influência na dinâmica familiar, é avançar na compreensão do contexto, no qual
estas pessoas se inserem.
19
Capítulo II
Saúde Pública e suas dificuldades
2.1 - O cenário atual do sistema de saúde pública
No Brasil, a crise no setor de saúde pública vem sendo apontada como
um desafio no processo de reestruturação do setor. Constantes iniquidades em
termo de acessos e atendimentos às necessidades da população se fazem
presente, piorando as condições de vida e de saúde de uma grande parcela da
população brasileira que depende dos serviços públicos de saúde (MARIN et
al, 2003).
Encontramos diariamente pacientes em busca de atendimentos nos
serviços de saúde, onde se deparam com filas quilométricas, falta de leitos
hospitalares e de atendimentos especializados, escassez de recursos materiais
e humanos, unidades sucateadas por falta de investimentos no setor, e por
vezes, suspensão de atendimento por falta de materiais e insumos (SOARES,
2012). Tal realidade é divulgada diariamente pela mídia e confirmada nas
portas das unidades de saúde.
A incompetência de gestão é também apontada como um fator
condicionante da crise. Sabe-se que existe uma escassez de recursos
financeiros e quando este se alia à incompetência administrativa, os resultados
são negativos e confirmados através do cenário atual da saúde pública, como
mostra o parágrafo anterior (BERTI & ALMEIDA, 2005).
Como a capacidade de resolução dos serviços de saúde em todos os
níveis de assistência constitui um dos princípios do SUS, ela requer uma
estrutura e um financiamento adequado, equipamentos e materiais adequados,
recursos humanos capacitado e em números suficientes, medicamentos
disponíveis de acordo com a necessidade de assistência que o serviço se
propõe a prestar. E quando gestores e profissionais se empenham em oferecer
uma assistência de qualidade, os recursos, mesmo que escassos, têm uma
utilização mais apropriada, oferecendo, assim, um serviço de melhor qualidade
(BERTI & ALMEIDA, 2005).
20
2.2 - Evolução das políticas públicas de saúde
Para que possamos analisar a realidade hoje existente, devemos
percorrer a evolução histórica das políticas de saúde e todo o contexto político-
social e econômico do país, não sendo possível uma dissociação.
No Brasil, as políticas de saúde pública, enquanto ações objetivas, sob
responsabilidade do Estado, só começaram a existir no início do século XX.
Devido ao elevado número de mortes provocadas por agravos infecciosos,
relacionados às condições precárias nas áreas de habitação, higiene, trabalho,
alimentação, dentre outros. Epidemias como febre amarela, varíola e malária
eram perpetuadas entre a população principalmente nas capitais portuária dos
estados, causando sérias consequências na saúde coletiva (FIGUEIREDO,
2004).
Não dispondo de uma estrutura sanitária mínima, uma situação caótica
de endemias e epidemias se instalou nas cidades. Navios estrangeiros não
queriam atracar em portos brasileiros em função da situação sanitária
existente, o que acabou gerando sérias consequências, que repercutiram
significativamente, de forma negativa, na economia capitalista, na época
agricultura de exportação (RIZZOTO, 1999).
Com essa repercussão negativa do quadro sanitário brasileiro na
economia capitalista é que a saúde passa a ser alvo de maior atenção por
parte das autoridades do governo, que passam a pensar na formulação de
políticas de saúde pública ou, pelo menos, inserem o tema no discurso
institucional (ALBUQUERQUE, 2009).
2.3 - Modelo Campanhista
O modelo campanhista foi instituído durante o governo do então
presidente do Brasil, Rodrigo Alves, que nomeou o cientista Osvaldo Cruz
como diretor do departamento federal de saúde pública, onde o mesmo se
propôs a melhorar o perfil da saúde e erradicar a epidemia de febre amarela
existente no período (SOARES, 2012).
Teve início, então, a realização de práticas sanitárias, que foram
realizadas pelo serviço público e executadas pela polícia sanitária, criando um
21
verdadeiro exército, que passou a exercer atividades que se concentravam na
desordem urbana, na desinfecção e combate ao mosquito vetor da febre
amarela, no combate às doenças epidêmicas, na higiene e controle dos hábitos
da sociedade (FIGUEIREDO, 2004).
E apesar de não constituírem de fato uma política nacional de saúde,
as campanhas sanitárias representaram uma importante iniciativa instituída
nesse período de crise; e sob o ponto de vista epidemiológico, tais medidas
apresentaram certa eficiência, apesar de serem executadas dentro de uma
visão militar (autoritarismo, imposição, arbitrariedade), com uma visão de que
os fins justificam os meios (RIZOTTO, 1999). A falta de esclarecimento e o
método empregado nas ações causaram indignação e revolta na população,
que não percebia nenhuma melhoria na qualidade de vida, percebendo apenas
a imposição e o direito do estado sobre ela.
Esse quadro se agravou ainda mais após a criação da lei Federal nº
1261, de 31 de outubro de 1904, que institui a vacina anti-varíola obrigatória
em todo território nacional, ocasionando uma grande manifestação popular,
que ficou amplamente conhecida como a Revolta da Vacina. Durante muito
tempo, tal fato foi visto como um movimento de revolta de pessoas ignorantes
contra o avanço da ciência, mas a população, humilhada pelo poder público,
autoritário e violento, não acreditava na eficácia da vacina e se manifestou,
recebendo o apoio de grupos positivistas, estudantis, imprensa, e intelectuais
da época (PORTO, 2003).
Apesar das práticas de atuação, conduzidas de forma arbitrária, sem
os necessários esclarecimentos à população, o modelo campanhista obteve
importantes vitórias no controle das doenças epidêmicas, fortalecendo a
proposta de intervenção na área de saúde coletiva e a articulação entre o
conhecimento científico, competência técnica e a organização do processo de
trabalho em saúde, contribuindo para a promoção da saúde de toda
a população brasileira (BRASIL, 2012).
Gradativamente, com o controle das epidemias nas grandes cidades
brasileiras, o modelo campanhista deslocou a sua ação de campo para o
combate das denominadas endemias rurais, dado ser a agricultura a atividade
hegemônica da economia da época (FIGUEIREDO, 2004).
22
Na reforma promovida por Oswaldo Cruz foram incorporados como
elementos das ações de saúde: o registro demográfico, que possibilitava
conhecer a composição e os fatos vitais de importância da população; a
introdução laboratorial, como auxiliar do diagnóstico etiológico; e a fabricação
organizada de produtos profiláticos para uso em massa (BRASIL, 2012).
Em 1920, Carlos Chagas se tornou sucessor de Osvaldo Cruz,
reestruturando o departamento nacional de saúde. Introduziu a educação
sanitária e a propaganda como técnica rotineira de ação, o que inovou o
modelo campanhista, que antes era puramente fiscal e policial, dando início
também à aplicação de métodos estatísticos para contabilizar as mortes e
identificar diferenças de risco de morrer entre lugares e grupos sociais.
Contribuiu, assim, para o debate que marcou o período, sobre a importância da
determinação ambiental ou social (POLIGNANO, 2012).
A partir de então, a educação sanitária passa a ganhar destaque, tendo
como objetivo interromper a cadeia de transmissão através da difusão do
conhecimento. Direcionado ao saneamento do ambiente urbano, mudanças
nos padrões sócio culturais da população, através de práticas normativas e
educativas, diferentemente dos períodos anteriores, a participação do Estado
na área da saúde tornou-se global e contínua, não se limitando às épocas de
surtos epidêmicos, mas estendendo-se por todo tempo e todos os setores da
sociedade, originando a criação de uma ‘política de saúde’ (IYDA, 1994).
2.4- Plano de pactuação social e início da previdência
A década de 30 foi considerada um marco no processo de
industrialização e, sobretudo, de urbanização no Brasil, beneficiada pela Crise
de 1929 e pela Revolução de 1930. A acumulação capitalista advinda do
comércio exterior tornou possível o início do processo de industrialização no
país. O eixo do poder político e econômico deixava de ser a elite
agroexportadora, criando condições para o desenvolvimento industrial
brasileiro, que se deu, principalmente, no eixo Rio São Paulo, devido à
presença de uma infraestrutura herdada do ciclo do café (FIGUEIREDO, 2004).
A crescente urbanização nos grandes centros contribuiu para a
formação de um mercado consumidor potencial, proporcionando uma
23
acelerada expansão industrial, quase sempre dedicada à produção de bens de
consumo não duráveis. Surgiram, então, muitas fábricas e indústrias, e com
elas, muitos empregos e a utilização de imigrantes, especialmente Europeus
como mão de obra qualificada, visto que os mesmos já possuíam grande
experiência neste setor, que já era muito desenvolvido na Europa.
Nesta época, os operários não tinham quaisquer garantias trabalhistas
e as condições de trabalho eram precárias, o que gerou uma grande
insatisfação social dos setores produtivos em relação à ineficiência estatal em
manter os trabalhadores assalariados em estado de higidez, porém os
imigrantes traziam consigo a história do movimento operário na Europa e os
direitos trabalhistas já conquistados e, desta forma, procuraram mobilizar a
classe operária no Brasil na luta pela conquista dos seus direitos, realizando
duas greves gerais no país: uma em 1917 e outra em 1919, o que resultou na
conquista de alguns direitos sociais e trabalhistas.
Destaca-se, neste contexto, a importância da lei Eloy Chaves, instituída
em 24 de janeiro de 1923, criando o departamento nacional de saúde pública,
marco da atuação do governo federal na saúde e início da previdência social
no Brasil. Através desta lei foram instituídas as Caixas de Aposentadoria e
Pensões (CAPs), com o intuito de organizar a assistência médica para os
trabalhadores dos setores econômicos estratégicos (OLIVEIRA, 2007).
As CAPs eram organizadas por empresas e mantidas pelos patrões e
empregados. Seu sistema de financiamento consistia no modelo tripartite: o
empregado contribuía, juntamente com a empresa e o governo federal. Seus
benefícios cobriam quatro situações de risco: assistência médico-curativa;
aposentadoria: por invalidez, por tempo de serviço e velhice; pensões para os
dependentes; e por último, um adicional para cobertura de funeral. Entretanto,
com o crescimento dos CAPs são criados os Institutos de Aposentadorias e
Pensões (IAPs), quando a participação do Estado se dá de forma mais clara. A
contribuição passa a ser tripartite, entrando o Estado como contribuinte. A partir
de então, os IAPs passam a se organizarem por categorias profissionais.
Passamos então a observar um novo tipo de direito à saúde: a
medicina previdenciária. Voltada para aqueles que tinham um trabalho formal
ou, principalmente, para as categorias profissionais que impulsionavam a
economia brasileira, pode ser entendida como resposta do empresariado e do
24
Estado às reivindicações operárias e à crescente importância da questão
social.
O modelo médico-assistencial privatista consistia em manter e
recuperar a força de trabalho como forma de aumentar a capacidade produtiva
do trabalhador. Foi um modelo altamente excludente, que privilegiava a prática
curativa individual especializada, não contemplando o conjunto dos problemas
de saúde de toda a população. A compra de serviços privados de saúde pelo
Estado expandiu-se, neste momento.
A crescente massa assalariada urbana passa a constituir o ponto de
sustentação política do governo, sendo promulgadas as leis trabalhistas, que
procuram estabelecer um contrato capital-trabalho, garantindo direitos sociais
aos trabalhadores e criando, ao mesmo tempo, uma estrutura sindical do
Estado. Tais ações transparecem como dádivas do governo e do Estado e não
como conquista dos trabalhadores. Desta forma, o Estado pode manter o
movimento trabalhista contido dentro de seu poder.
Os IAPs formaram a base da política de assistência médica
previdenciária, dando origem ao Instituto Nacional de Previdência Social
(INPS). Muitas siglas se sucederam a esta, assim como aumentou o número de
órgãos ligados à previdência social. O último elo responsável pela assistência
hospitalar foi o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social
(INAMPS), extinto no final dos anos de 1980. A criação de todos esses órgãos
dificultou ainda mais o controle do orçamento da Previdência, favorecendo o
desvio de verbas e a corrupção, já que era praticamente inexistente a
fiscalização. Assim, o modelo proposto entrou em crise (FIGUEIREDO, 2004).
O modelo econômico implantado pela ditadura militar entra em crise. A
população, com baixos salários e contida pela repressão, passou a conviver
com o desemprego e suas graves consequências sociais, mostrando a
fragilidade do modelo previdenciário, que priorizou a medicina curativa.
Percebe-se ser um modelo altamente excludente, que fornecia atenção médica
somente para a parcela da população que tinha condições financeiras de arcar
com o setor. O modelo proposto foi incapaz de solucionar os primeiros
problemas de saúde coletiva, devido à escassez de recursos para sua
manutenção e o descrédito social, fazendo com que o poder público
redescobrisse a saúde pública e a necessidade de investir nesse setor que
25
trabalhava com um custo menor e atendendo a grande parcela da população
carente de assistência (POLIGNANO, 2012).
Passa-se a pensar em uma estratégia coletiva que promova a
universalização do acesso a saúde, a concepção de saúde como direito social
e dever do Estado, a reestruturação setorial com um olhar sobre a saúde
individual e coletiva, a descentralização do processo decisório para as esferas
estadual e municipal, o financiamento efetivo e a democratização do poder
local através de novos mecanismos de gestão, ou seja, através dos conselhos
de saúde. A definição dessas novas diretrizes da política de saúde foi
fundamentada nas recomendações aprovadas na XV Congresso Brasileiro de
Higiene e na 3ª Conferência Nacional de Saúde. O golpe militar de 1964
inviabilizou a implementação das medidas propostas, mas suas deliberações
alimentaram muitos dos debates realizados por movimentos sociais a partir do
proposto, incluindo as quatro demais conferências, fato que só iriam se
concretizar após o início do processo de redemocratização do país (BRASIL,
2009).
2.5- O nascimento do SUS
O sistema de saúde centralizado, fragmentado institucionalmente, com
permanente descontinuidade administrativa, verticalizado e excludente que se
havia consolidado nas últimas décadas, não respondia às necessidades
expressas por amplos setores da sociedade e o processo decisório fechado no
espaço governamental era fortemente contestado pelo movimento social que
se organizara em torno do setor.
Então foi chegada à hora de mudanças. Um amplo processo de
mobilização popular pedia para garantir a saúde de cada indivíduo como
interesse coletivo e como dever do Estado, a ser contemplado de forma
prioritária por parte das políticas públicas sociais.
Sendo, então, realizada a 8ª Conferência Nacional de Saúde, onde o
temário da conferência era composto pelos seguintes itens: saúde como direito,
reformulação do Sistema Nacional de Saúde e financiamento do setor. Uma
ampla participação popular se fez presente nas discussões, juntamente com
trabalhadores da saúde, governo e parte dos prestadores de serviço da saúde.
26
De um total de mais de quatro mil participantes, quase mil eram delegados com
direito a voz e voto. Impulsionados pelo movimento da reforma sanitária
propuseram a criação de uma ação institucional correspondente ao novo
conceito ampliado de saúde, que envolve promoção, proteção e recuperação.
As propostas foram contempladas tanto no texto da Constituição Federal como
nas leis orgânicas da saúde, sendo um marco na formulação das mudanças no
setor de saúde (BRASIL, 2009).
Como resultado dos debates, o relatório da 8ª Conferência explicitou as
diretrizes para a reorganização do sistema e estabeleceu que a mesma
deveria:
[...] resultar na criação de um Sistema Único de
Saúde que efetivamente represente a construção de
um novo arcabouço institucional, separando
totalmente saúde de previdência, através de uma
ampla Reforma Sanitária (Idem, Resolução 1, do
tema 2) SUS.
O Sistema Único de Saúde – SUS foi criado pela Constituição Federal
de 1998 e regulamentado pela Lei n° 8080/90, que é a Lei Orgânica da Saúde.
Tendo como finalidade, alterar a situação de desigualdade na assistência à
Saúde, garantindo acesso universal, igualitário e gratuito a toda população
brasileira. Para isso redefine o conceito de saúde e cita como fatores
determinantes e condicionantes de saúde: alimentação; moradia; educação,
lazer; trabalho e renda, entre outros.
Fica então estabelecido um novo conceito de saúde, visto de forma
ampliada. Saúde é o resultado das condições de alimentação, habitação,
educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer,
liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. Essa
definição envolve reconhecer o ser humano como ser integral e a saúde como
qualidade de vida (FALK, 2006).
Em seu artigo 196 cita que a saúde é um direito de todos e dever do
Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco de doença e outros agravos mediante políticas sociais. Suas
ações devem ser voltadas para promoção, proteção e recuperação da saúde,
27
contemplando o individuo em sua totalidade. Com este artigo fica definida a
universalidade da cobertura do SUS.
De acordo com a Constituição Federal de 1988, as ações e serviços
públicos de saúde integram uma rede regionalizada e hierarquizada,
constituindo um Sistema Único, organizado com as seguintes diretrizes:
a- Descentralização, com direção única em cada esfera do governo;
b- Atendimento Integral, com prioridade para as atividades preventivas,
sem prejuízo dos serviços assistenciais;
c- Participação da comunidade.
Em 1990 com a promulgação das Leis 8080 e 8142, se deu a
efetivação e regulação do SUS, a primeira refere-se à promoção da saúde e a
organização dos serviços; e a segunda, à participação da comunidade e o
repasse de recursos do governo federal para as demais instâncias. Foram
também criados os princípios do SUS, sendo eles: Doutrinário: Universalidade;
integralidade; Equidade; e Organizacionais: Descentralização; Hierarquização e
Regionalização.
O SUS é considerado como uma grande conquista social. Visto que
sua criação se deu através de lutas e reivindicações da base da sociedade.
Sua abrangência Nacional promove a inclusão social. Sendo visto como a
materialização de uma nova concepção na saúde; do estado de não doente,
onde o cuidado priorizava a medicina curativa; para uma nova noção, centrada
na prevenção dos agravos e na promoção da saúde. Neste cenário a saúde
passa a ser relacionada à qualidade de vida.
O Sistema Único de Saúde não tem significado imediatamente a
solução dos principais problemas que envolvem o processo de atenção à
saúde no país. Além das dificuldades inerentes à operacionalização dos
princípios e diretrizes somam-se as consequências de um sucateamento
progressivo das unidades, precariedade de infraestrutura e piora das condições
de vida da população (BERTOLOZZI, 2003).
Constantes crises no setor de saúde, como fora descrito no início do
capítulo, evidencia inadequações entre as teorias institucionais do SUS e sua
implantação prática. Mesmo já havendo decorrido mais de duas décadas da
sua criação, e ainda não conseguindo alcançar sua legitimidade junto à
população, medidas que contribuam para a produção da integralidade na rede
28
de serviços de saúde vem sendo propostas (FEUERWERKER & MERHY,
2008).
O atual contexto do sistema de saúde pública brasileiro, ponta para
necessidade de criações de medidas, que visem solucionar os problemas
existentes.
29
Capítulo III
Programa Melhor em Casa
3.1- Política Nacional de Humanização
Os inúmeros avanços no campo da saúde pública brasileira foram
operados especialmente ao longo das últimas duas décadas, porém convivem
de modo contraditório, com problemas de diversas ordens, como descritos
anteriormente. Se podemos, por um lado, apontar avanços na descentralização
e na regionalização da atenção e da gestão da saúde, com ampliação dos
níveis de universalidade, equidade, integralidade e controle social, por outro, a
fragmentação e a verticalização dos processos de trabalho separam as re-
lações entre os diferentes profissionais da saúde e entre estes e os usuários; o
trabalho em equipe, assim como o preparo para lidar com as dimensões sociais
e subjetivas presentes nas práticas de atenção, fica fragilizado (BRASIL, 2004).
Diante de tal quadro, surge a proposta da Política Nacional de
Humanização (PNH), criada em 2003 pelo Ministério da Saúde, visa efetivar os
princípios do SUS no cotidiano das práticas de atenção e gestão a saúde.
Qualificando a saúde pública enfatizando a necessidade de assegurar atenção
integral à população e estratégias para ampliar a condição de direitos de
cidadania das pessoas e também a valorização dos trabalhadores (FILHO,
2007).
Tematizar a humanização da assistência abre, assim, questões
fundamentais que podem orientar a construção das políticas em saúde.
Humanizar é, então, ofertar atendimento de qualidade articulando os avanços
tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e das
condições de trabalho dos profissionais (BRASIL, 2004).
As orientações desta política, portanto, partem do SUS que já dá certo
na realidade atual, com a “valorização dos diferentes sujeitos implicados no
processo de produção de saúde: usuários, trabalhadores e gestores; fomento
30
da autonomia e do protagonismo desses sujeitos e dos coletivos; aumento do
grau de co-responsabilidade na produção de saúde e de sujeitos;
estabelecimento de vínculos solidários e de participação coletiva no processo
de gestão; mapeamento e interação com as demandas sociais, coletivas e
subjetivas de saúde; defesa de um SUS que reconhece a diversidade do povo
brasileiro e a todos oferece a mesma atenção à saúde, sem distinção de idade,
etnia, origem, gênero e orientação sexual; mudança nos modelos de atenção e
gestão em sua indissociabilidade, tendo como foco as necessidades dos
cidadãos, a produção de saúde e o próprio processo de trabalho em saúde,
valorizando os trabalhadores e as relações sociais no trabalho; proposta de um
trabalho coletivo para que o SUS seja mais acolhedor, mais ágil e mais
resolutivo; compromisso com a qualificação da ambiência, melhorando as
condições de trabalho e de atendimento; compromisso com a articulação dos
processos de formação com os serviços e práticas de saúde; luta por um SUS
mais humano, porque construído com a participação de todos e comprometido
com a qualidade dos seus serviços e com a saúde integral para todos e
qualquer um” (BRASIL, 2012).
3.2- Política Nacional de Internação Domiciliar
No Brasil a transformação dos modos de organizar a atenção à saúde
vem sendo considerada indispensável para a consolidação do SUS. A
realidade enfrentada pelos usuários do sistema de saúde nós mostra há
necessidade de adotar modos mais eficientes para utilizar os escassos
recursos destinados ao setor e que tragam resultados positivos aos problemas
enfrentados, além de promover mudança do padrão de atenção à saúde
priorizando a prevenção (FEUERWERKER & MERHY, 2008).
Para isso os valores que regem a assistência à saúde têm sido
modificados, e o SUS em busca de alternativas para incrementar a qualidade
da assistência, institui a política nacional de internação domiciliar que foi
lançada em 2006 considerando a necessidade do aprimoramento do cuidado
oferecido aos usuários do sistema de saúde, e a implementação de alternativas
de cuidado que contribuem para a integralidade da assistência (GIACOMOZZI
& LACERDA, 2006).
31
Sedo assim o programa de internação domiciliar representa uma
estratégia na reversão da atenção hospitalocêntrico, propiciando uma
alternativa de atenção voltada para prevenção, promoção, vigilância à saúde e
na humanização da assistência, contribuindo para a efetivação dos princípios
do SUS, além de racionalizar os leitos hospitalares e os custos da atenção
(SILVA et al, 2005).
A atenção domiciliar diferencia-se por constituir uma modalidade ampla
que envolve as ações de promoção à saúde em sua totalidade, incluindo a
prática de políticas econômicas, sociais e de saúde, que influenciam o
processo saúde-doença dos indivíduos, envolvendo ações preventivas e
assistenciais prestadas no domicílio, ou seja, a incorporação desta modalidade
à saúde pública aponta para uma reestruturação e reorganização das práticas
de saúde transpondo as práticas institucionais (GIACOMOZZI & LACERDA,
2006).
O Ministério da Saúde propõe como objetivo da política nacional de
internação domiciliar, disponibilizar a população um conjunto de atividades
prestadas no domicilio, caracterizadas pela atenção ao paciente com quadro
clínico que exijam cuidados e necessidades de tecnologia especializada, mas
que não necessitam de internação hospitalar com a finalidade de: Evitar a
hospitalização desnecessária, ofertando uma melhor alternativa assistencial;
Humanização do cuidado; Resgate da autonomia do usuário/família; Processos
de alta assistida; Períodos maiores livres de intercorrências hospitalares em
pacientes crônicos; Redução do sofrimento de forma humanizada em situação
de cuidados paliativos.
Existe ainda a perspectiva de promover a desospitalização. Sendo à
atenção hospitalar caracterizada pelo seu elevado custo aos cofres públicos,
atribuído ao emprego de altas tecnologias denominadas tecnologia pesada, e
as elevadas taxas de internações, respaldadas na hegemonia do modelo
hospitalocêntrico, fazendo com que haja uma disparidade entre os gastos
hospitalares e os gastos na atenção básica, mostrando a necessidade de
priorizar novas formas e espaços de atuação em saúde que minimize os
custos, ou seja, a ampliação da atenção básica (SILVA et al, 2005).
Existe ainda uma resposta insatisfatória demonstrada pelos indicadores
de saúde acerca da atenção a saúde centrada nos hospitais, pois são cuidados
32
focados na doença o que implica custos crescentes, particularmente em função
do envelhecimento da população, da transição epidemiológica e, sobretudo, da
incorporação tecnológica orientada pela lógica do mercado, não sendo capaz
de responder às necessidades de saúde da população (FEUERWERKER &
MERHY, 2008).
Diante de tal fato o atendimento domiciliar pode ser caracterizado por
objetivar diversos benefícios, entre eles o social e econômico colaborando para
a melhoria da qualidade de vida do paciente e de seus familiares revisando o
conceito saúde/doença/cuidado comprometido em estabelecer uma relação
mais acolhedora e humana.
A utilização do domicílio como espaço de atenção, busca humanizar a
assistência ou racionalizar a utilização dos leitos hospitalares e os custos da
atenção. Devemos avaliar se tais tentativas para racionalizar os gastos não
produzem efeitos contraditórios com os princípios do SUS, já que têm levado a
estratégias de focalização, de simplificação do cuidado e de instituição de
mecanismo de controle, que buscam retirar decisões da esfera de operação do
trabalho no cuidado, sem falar dos riscos em relação à qualidade da atenção
prestada (FEUERWERKER & MERHY, 2008). E também incentivando o
processo de alta precoce, para ampliar a rotatividade dos leitos hospitalares,
porém justificando-se evitar complicações advindas de internações
prolongadas, não pode ser vista como uma transferência da instituição
hospitalar para o espaço extra-institucional.
Alguns autores apontam para uma nova questão, o do manuseio de
determinadas formas de tecnologias não se relacionar mais exclusivamente
com a educação profissional especializada. Os familiares são incentivados a se
tornarem cuidadores, o que implica uma exploração de suas habilidades
pessoais, condições emocionais e formação cultural/social. Pesquisas sugerem
experiência de isolamento social, privação do sono, stress e depressão, nos
cuidadores domiciliares que manuseiam tecnologias da assistência, que é
então descrita como fonte de ansiedade porque a natureza do cuidado pode
não ser somente potencialmente perigosa, como também, em alguns casos,
envolver parentes em procedimentos dolorosos.
A autonomia e a mobilidade, contidas na idéia da liberdade que seria
proporcionada pela alta hospitalar, tornam-se problemáticas na medida em que
33
tais espaços sofrem o impacto da inovação exercendo influência sobre a
dinâmica familiar. Sendo assim o usuário recebe o que o sistema considera
melhor, mas sem a devida consulta àquele que é seu alvo, é preciso detectar
as dificuldades e as deficiências encontradas e para atingir-se sua meta devem
ser realizados questionamentos mais efetivos e dirigidos, com ênfase no que
se pode melhorar, mas, sobretudo buscar maneiras de viabilizar recursos na
direção certa do saneamento das falhas, visando alcançar o completo bem-
estar biopsicossocial do indivíduo (AMARAL et al, 2001).
O contexto domiciliar deve ser percebido por parte dos profissionais
que ali atuam, de forma mais abrangente, ou seja, ir além do espaço físico,
considerar este ambiente como um conjunto de coisas, eventos e seres
humanos correlacionados entre si e de certo modo, cujas entidades
representam caráter particular e interferente mútuo e simultâneo. O profissional
deve-se inserir, de forma a desenvolver suas ações e interações evitando
considerar somente os problemas físicos, apresentados pelo paciente; mas
observando também os fatores sociais, econômicos, espirituais e culturais,
tanto do paciente como de seu grupo familiar, atuando com vista à
integralidade de suas ações (GIACOMOZZI & LACERDA, 2006).
Outra questão que merece destaque no sistema público de saúde SUS
se refere a dos recursos humanos, trinta por cento dos empregados são
precários e são raros os exemplos em que se conta com planos de carreira e
de desenvolvimento que possibilitem ao trabalhador fixar-se e desejar seguir
carreira, ao contrário existem mecanismos de terceirização, que não vinculam o
trabalhador ao sistema. No contexto do SUS, tomar por estratégico a formação
e qualificação permanente de quadros profissionais é condições para
estabilidade e continuidade de suas ações.
34
Considerações Finais
Como se pôde perceber, muitos avanços foram notados no contexto da
saúde pública brasileira, entretanto, as dificuldades e os empecilhos ainda
demandam reflexões diárias e soluções iminentes. Tem em vista que novos
programas são continuamente criados, readaptados com o intuito de tornar
cada vez melhor o Sistema Único de Saúde do país.
Apesar de todas as ambivalências que os programas governamentais
apresentam, avocando críticas, inclusive, em relação a quais são os seus
objetivos primordiais nesse contexto; acabam propiciando formas alternativas
de melhora do ambiente caótico da saúde pública atual.
O Programa Melhor em Casa, de forma indiscutível, abrange conceitos
claros de humanização, de cuidados paliativos e de proximidade do paciente
com o contexto familiar, o que efetivamente melhora sua reabilitação.
Logo a internação domiciliar no contexto do Sistema Único de Saúde é
um desses programas que deverá sofrer ao longo do tempo adaptações e que
oferecerá grandes benefícios a Saúde Pública brasileira.
Observou-se que no cuidado domiciliar é necessário que o profissional
da saúde busque encontrar uma identificação com o meio ao qual será
inserido, uma vez que no cuidado domiciliar existe o envolvimento do
profissional no ambiente familiar, tornando-se de extrema importância o
conhecimento de crenças, hábitos, normas, valores e cultura dos pacientes e
de seus familiares, através do diálogo constante, pautados no respeito e
solidariedade.
Verificou-se ainda, que o programa de internação domiciliar é
potencialmente capaz de dar seguimento aos tratamentos de saúde iniciados
nos hospitais, atuando na promoção da saúde e prevenção das doenças,
através da redução do tempo da internação hospitalar daqueles pacientes que
possuem condições de ter o tratamento estendido para suas residências.
Assim promove a disponibilidade dos leitos hospitalares e a redução da
infecção hospitalar e evidentemente a redução dos custos para o SUS.
Desse modo, a internação domiciliar, surge como uma opção para
reverter situações antigas e que causava grandes preocupações ao SUS e
seus usuários, sendo que o seu principal objetivo, alem da redução da
35
internação hospitalar, é principalmente promover a saúde, permitindo a
interação de pacientes, familiares e profissionais da saúde, levando
humanização para os serviços oferecidos aos seus usuários.
Portanto, ao final desse trabalho, concluiu-se que o sistema único de
saúde –SUS- apesar das muitas dificuldades, enfrentadas desde o seu
surgimento, vem progredindo, e através de programas como a internação
domiciliar, procura atender seus usuários de forma eficaz. Sabemos que ainda
falta muito, mas através dessa lógica de prestação de serviços, atendendo
reivindicações antigas da sociedade, estamos caminhando para a otimização
dos serviços públicos de saúde. Nesse contexto, a internação domiciliar deve
ser alvo de reflexão, devendo receber devida atenção nas políticas nacionais
de saúde.
36
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