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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA FAMÍLIA E O PROCESSO DE ADOÇÃO Por: Silvia Quintanilha de Oliveira Orientador Prof. Fabiane Muniz Niterói 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

FAMÍLIA E O PROCESSO DE ADOÇÃO

Por: Silvia Quintanilha de Oliveira

Orientador

Prof. Fabiane Muniz

Niterói

2014

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Família e o processo de adoção

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Terapia de Família

Por Silvia Quintanilha de Oliveira

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus por ter me iluminado durante esses

meses todos principalmente dentro da academia, por ter me dado ânimo para

prosseguir diante de tantos obstáculos percorridos pelo caminho.

Durante a construção deste trabalho contei com o apoio de muitas

colegas de sala Elaine Barreto, Verônica, Bárbara Francisconi, Kássia Chagas

e Nilsen Adriao. Para todas elas declaro o meu afeto e gratidão.

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DEDICATÓRIA

Agradeço aos meus pais por ter acreditado no meu potencial e na minha

força de vontade, pois mesmo eles não tendo o nível superior, mas sempre

buscaram para que eu tivesse, para eu ser alguém na vida. Por tudo o que eles

representam na minha vida, por tudo o que eles me ensinaram e por terem

semeado a ideia de direitos em nossa família. Se eu conseguir ser a metade

do que eles são e representam para mim, já me dou por satisfeita. “Para o meu

pai, será um orgulho maior, ter seis filhos e apenas uma (EU) estar sendo pós

graduada”.

Ao meu marido agradeço pelo amor, carinho e dedicação, antes,

durante e após o término desse trabalho.

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DURANTE ESTE TRABALHO...

As dificuldades não foram poucas...

Os desafios foram muitos...

Os obstáculos, muitas vezes, pareciam intransponíveis.

Muitas vezes nos sentimos só, e, assim, o estivemos...

O desânimo quis contagiar, porém, a garra e a tenacidade foram mais

fortes, sobrepondo esse sentimento, fazendo-nos seguir a caminhada,

apesar da sinuosidade do caminho.

Agora, ao olharmos para trás, a sensação do dever cumprido se faz

presente e podemos constatar que as noites de sono perdidas, as viagens e

visitas realizadas; o cansaço dos encontros, os longos tempos de leitura,

digitação, discussão; a ansiedade em querer fazer e a angústia de muitas

vezes não o conseguir, por problemas estruturais; não foram em vão.

Aqui estamos, como sobreviventes de uma longa batalha, porém, muito

mais fortes e hábeis, com coragem suficiente para mudar a nossa postura,

apesar de todos os percalços...

Como dizia Antoine Saint Exupèry em sua obra prima “O Pequeno

Príncipe”:

“Foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que fez a tua rosa tão

importante.”

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RESUMO

Este trabalho tematiza a sucessão das relações familiares e o processo

de adoção, como uma das formas de possibilidade na colocação em família

substituta. Tal temática encontra-se em discussão no cenário nacional.

Neste sentido a adoção está sendo tratada na legislação, principalmente

em relação ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ao Novo Código

Civil e à Constituição Federal Brasileira.

Estaremos buscando debater sobre a adoção no Brasil e traçar uma

relação tanto no que tange as relações de gênero e família como no que tange

à legislação, buscando possibilitar a percepção do que vem a ser os novos

arranjos familiares da sociedade contemporânea brasileira, juntamente com a

temática do curso que é Terapia de Família.

PALAVRAS-CHAVES: relações familiares e adoção.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - O que é família 11

1.1 Família como instituição social e histórica 15 1.2 Para que serve a família 19 1.3 A questão de gênero na relação familiar 21 CAPÍTULO II - O que e adoção 35

1.1 Motivos dos rompimentos dos vínculos familiares 30 1.2 Legislação vigente 35 1.3 Debate teórico na problemática da adoção 37 CAPÍTULO III - O trabalho do assistente social no processo de adoção 40

1.1 A importância da discussão para o Serviço Social 40 CAPITULO IV - A discussão para a terapia de família com as famílias dos

assistidos 42

1.1 Terapia de família e seus objetivos 45 1.2 Papel do terapeuta e as técnicas realizadas 46 1.3 O papel da família no processo terapêutico do paciente 47 CONCLUSÃO 50

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS 54

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho irá propor uma discussão sobre as relações

familiares, buscando possibilitar a reflexão sobre o processo da adoção com

vistas à constituição de uma família para a criança.

Ao refletir sobre esse assunto, essa discussão originou uma pesquisa

bibliográfica sobre o levantamento do perfil psicossocial de crianças e

adolescentes institucionalizados.

No Brasil, a adoção é regida pelo Novo Código Civil de 2003, pelo

Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e pela Constituição Federal de

1988. Logo, podemos contar com algumas garantias, tais como: a de que,

obrigatoriamente, o adotante seja pessoa maior de dezoito anos

(absolutamente capaz de acordo com o Novo Código Civil – no que tange à

maioridade), independente do estado civil, ou casal, ligado por matrimônio ou

união estável. Além disso, a diferença de idade entre o adotante e o adotado

deve ser de, no mínimo, dezesseis anos. Nesse quesito é importante atentar

que independente de casos de emancipação tanto por casamento como por

questão judicial, só poderá adotar pessoa maior de dezoito anos. Ressaltando

ainda que, a adoção é irrevogável, mesmo que os adotantes venham a ter

filhos, aos quais o adotado está equiparado, tendo os mesmos deveres e

direitos, proibindo-se qualquer discriminação.

Esta interpretação se deve ao Art. 20 do Estatuto da Criança e do

Adolescente – ECA que diz que: “Os filhos, havidos ou não da relação do

casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas

quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”, garantindo,

portanto, a coerência no processo, visando a permanência do vínculo na

constituição da nova família.

Ressaltando-se que o conceito de adoção, trata-se de um ato jurídico no

qual um indivíduo é permanentemente assumido como filho por uma pessoa

ou por um casal, ou seja, aqueles que não possuam uma ligação de

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ascendência sanguínea com o adotado. Ainda quando isto acontece, as

responsabilidades e os direitos, tais como o poder familiar, antigo pátrio poder,

dos pais biológicos em relação ao adotado são transferidos de forma integral

ou parcial para os adotantes. Devendo sempre haver, a intervenção do juiz, em

processo judicial, com participação do Ministério Público.

A extinção do vínculo da adoção ocorre apenas em hipóteses especiais,

tais como: deserdação, não dignidade, pelo reconhecimento de paternidade do

pai biológico e pela morte do adotante ou do adotado.

Demarcando o preconceito inicial que permeia toda uma construção

cultural social embebido de preceitos morais que apregoam a não

discriminação, realizam exatamente o contrário. Para realizar o vínculo da

adoção existe um procedimento onde as crianças disponibilizadas para

adoção, geralmente em instituições, devem primeiramente ser destituídas de

suas famílias biológicas (destituição do Poder Familiar) por meio de um

processo legal, levado a cabo pelo Juizado, publicado em Diário Oficial, para

então, serem adotadas pela família pretendente (outro processo legal). A

família pretendente passa por uma análise de assistentes sociais, psicólogos,

Promotoria Pública, e recebe finalmente a guarda provisória do adotando. Após

o final do processo de adoção, os pais adotivos são autorizados a substituir a

certidão de nascimento original pela nova certidão de nascimento, em tudo

igual à anterior, mudando-se somente os nomes dos pais, avós, e

eventualmente o nome da criança. Data, local de nascimento são mantidos.

No Capítulo III, Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária, Seção I

- Disposições Gerais Art.19 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe

que:

“Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua família substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes”.

Uma das principais preocupações é a existência do seio familiar livre de

vícios e propício para o desenvolvimento da criança. Para ela, isso é

fundamental inclusive no seio da família substituta que tem uma grande

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responsabilidade que é a de suprir a carência causada pela ausência familiar

anterior, como também superar os desgastes no caso de crianças de idade

superior a 01 ano, cuja adaptação familiar costuma ser um pouco mais

complexa.

Lembrando-se que aos pais é incumbido o dever de sustento, guarda e

educação dos filhos menores, cabendo ainda, no interesse destes, a obrigação

de cumprir e fazer cumprir as determinações judiciais.

Sendo assim, buscamos primeiro capítulo analisar o retrospecto das

relações familiares, como se deu essa história a partir do século XVI até os

dias atuais. Encontraremos o conceito de família para diversos doutrinadores e

dessa forma iniciamos a discussão sobre o que realmente pode ser

considerado como família e algumas de suas implicações ao longo da história.

Nesse capítulo, surge à questão do novo modelo de família e de como a

construção do elo familiar é de extrema relevância para a sociedade. Fica,

também, destacado para que serve a família, de que forma foi pensada essa

família no Brasil e a questão de gênero na relação familiar .

Dessa forma, no segundo capítulo as análises estão focadas sobre o

que é adoção, o que motiva a perda dos vínculos familiares, de como se dá

essa entrega de um filho para adoção, suas implicações, posto que, a

denominação surge permeada por alguns preconceitos, sobre a legislação

vigente e o debate teórico na problemática da adoção.

O terceiro capítulo surge a partir dos questionamentos relativos ao

debate sobre o trabalho do Assistente Social no processo de adoção e a

relevância para a discussão do Serviço Social.

No quarto capítulo surge a questão da terapia de família, seus

objetivos e qual o papel da família em relação a temática do curso.

Portanto, esse trabalho tem a intenção de possibilitar a reflexão no que

se refere as relações familiares fazendo a conexão com a pesquisa qualitativa.

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CAPÍTULO I

O que é família

É possível afirmar que a família é uma esfera que sempre existiu na

história da humanidade. Contudo, “a família não é um simples fenômeno

natural”, é uma instituição social que varia ao longo da história de acordo com

a época e o lugar (PRADO, 1981, p.12).

É um espaço em constante transformação. Seu conceito é construído

dentro de contextos históricos específicos. Assim, seu tipo varia muito.

Contudo, pergunta-se o que realmente significa família?

O termo família é derivado do latim famulus, que significa: conjunto de

servos e dependentes de um chefe ou senhor. Entre os chamados

dependentes inclui-se a esposa e os filhos. (ibid, 1981, p.56, grifo do autor).

“...o reconhecimento da família como um espaço altamente complexo, que se constrói e se reconstrói histórica e cotidianamente por meio das relações e negociações que se estabelecem entre seus membros, e outras esferas da sociedade e entre ela e outras esferas da sociedade, ais como Estado, trabalho e mercado...” (MIOTO,2008; CAMPOS,2004)

Nesse sentido, o termo estava ligado à ideia de submissão e

dependência, escravidão ao patriarca da casa, ao chefe do lar. Conceito esse

criado na Roma Antiga.

Nessa direção, Saraceno (1996) afirma que a presença do Estado na

garantia dos direitos sociais torna possível a autonomia dos indivíduos em

relação à autoridade familiar e da família em relação à parentela e à

comunidade.

Porém, entende-se que nas definições clássicas, a família está ligada a

consanguinidade e nas definições modernas, a família está relacionada aos

aspectos de afetividade e solidariedade.

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Neste sentido, Schraiber et al.(2005, p.75) argumenta que “a família

como as demais instituições sociais, é histórica e socialmente constituída, e

sofre a influência de outras instituições sociais, como o Estado, a religião, a

economia, a política etc., da mesma forma que as influencia”. Percebe-se,

então, que a família foi e é construída ao longo do tempo, de acordo com a

época e sociedade em questão.

É um espaço em constante transformação. Seu conceito é construído

dentro de contextos históricos específicos. Assim, seu tipo varia muito.

Contudo, pergunta-se o que realmente significa família?

Na Europa, no período da Idade Média, a família era relacionada à

moral. Conforme Aries (2006), ela não era exercitada como sentimento e nem

como valor. Não tinha expressão.

Ou seja, as pessoas viviam coletivamente, dividiam tudo, conversavam

com todos, e assim, a família não era vista como um espaço de intimidade,

uma vez que já faziam tudo com os membros e com outros indivíduos não

pertencentes ao seu grupo familiar. Com isso, trabalhar junto nos fundos da

casa, fazer festas com extensão às ruas, entre outras atividades, era

puramente normal e comum.

O espaço público era totalmente misturado com o privado. Diante disso,

verdadeiramente, não “sobrava tempo” para enxergar o valor da intimidade do

convívio familiar, para enxergar sua própria família e o valor que deveria

atribuir ao relacionamento entre seus membros. Assim, o sentimento de

família, como espaço íntimo, de amor, não era exercitado. Contudo, a família

continuava a cumprir seu importante papel na sociedade, o papel de proteção.

Segundo Freyre (2006) o surgimento da família moderna é normalmente

associado à separação entre mundo privado e público, sendo o privado ( a

intimidade) da ordem dos sentimentos.

Entretanto, a partir da Idade Moderna, devido à queda do feudalismo

europeu, um quadro de grandes e intensas transformações foi estabelecido.

Houve o aparecimento de novas técnicas de cultivo (inovações no campo); a

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intensificação da exploração da mão de obra camponesa; o aumento das

pessoas nos centros urbanos; o desenvolvimento de grandes cidades; a

passagem do capitalismo concorrencial para o industrial; o surgimento dos

ideais liberais, devido a Revolução Francesa; entre 1789 e 1948 a Revolução

Industrial; e, no século XVIII, aconteceu a separação da esfera pública da

esfera privada. Afinal,

[...]Os progressos do sentimento da família seguem os progressos da vida privada, da intimidade doméstica. O sentimento da família não se desenvolve quando a casa está muito aberta para o exterior.[...]A reorganização da casa e a reforma dos costumes deixaram um espaço maior para a intimidade, que foi preenchida por uma família reduzida[...](ibid, p. 164; p.186):

Assim, diante de todas as mudanças sociais, o resultado foi a

transformação da família feudal para a família nuclear burguesa, sua

privatização e a alteração de seus valores morais. Isso, concretamente

falando, se deu devido à emergência do capitalismo como sistema vigente.

Diante do exposto, caracteriza-se a família nuclear burguesa como um

modelo de família originário da Europa, no qual “é composto pelo pai, mãe e

filho e por uma complexa relação de poder centralizada no homem” (ARIES

1981 apud BARBOSA 2009, p.10).

Ou seja, era uma família construída com base no casamento

monogâmico, no qual o homem era considerado o indivíduo que representava

o papel de chefe, dominador, aquele que possuia superioridade sobre todos da

casa, vigor físico e intelectual, o que provia, que supria as necessidades

materiais, que se envolvia em questões econômicas e políticas, e que assim,

estabelecia um contato maior com a sociedade. Geralmente, ele era

caracterizado como autoritário.

Nesse momento, foi delegada a ela a responsabilidade pela reprodução social e, junto, jogaram-se também para dentro dela os problemas e os conflitos gerados na esfera da produção. (PEREIRA,2004; MIOTO,2008).

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Já a mulher se caracterizava por sua doçura e passividade. Aquela na

qual era dispensado o cuidado com a casa, a educação dos filhos e o afeto à

toda sua família. Esta nascera para a maternidade. Contudo, tanto a mãe

quanto os filhos deviam submissão e respeito total ao que representava a

autoridade do lar: o marido/o pai.

No Brasil, no início do século XIX, o modelo familiar que dominava, era a

família patriarcal, na qual habitava na casa-grande, na área rural. Nesta família

o homem era o detentor do poder sobre todos e sobre a senzala. Possuía

bens, escravos e trabalhava para si mesmo. Havia uma diferença grande entre

ele e seus subordinados. Todos os obedeciam. Se assim não fizessem, seriam

castigados ou até mesmo mortos.

Nesta época, a instalação da família portuguesa no país teve grande

influência no que diz respeito aos costumes e modo de viver da população

brasileira. Neste sentido, no final do séc. XIX, o espaço público começou,

paulatinamente, se diferenciar do espaço privado. A medicina ganhou força

com o movimento higienista, que trouxe várias ideias sobre regras e costumes

a serem seguidos, com o objetivo de gerar qualidade de vida para as famílias

de classe alta e de reorganizar a vida social urbana. Assim, os higienistas

passam a ocupar a posição de braço interventor do Estado na esfera privada

da família (COSTA, 1999).

Percebe-se então, que a sociedade brasileira, durante o século XIX,

passou por diversas modificações (consolidação do capitalismo, reorganização

da vida urbana, entre outras) que refletiram no modo das pessoas se

organizarem e, segundo D’Incão (2001), trouxeram consigo a ascensão da

burguesia e o surgimento de uma mentalidade burguesa reorganizadora de

vivências familiares e domésticas. Foi exatamente nesta época que o modelo

de família nuclear burguesa foi efetivada no Brasil.

Assim, a burguesia reorganizou a estrutura familiar e o movimento

higiênico ditou normas que deixou o indivíduo e sua família cada vez mais

subordinados ao poder vigente. Com isso, tudo que se diferenciasse do

modelo de família nuclear, era considerado uma não – família.

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Com o passar dos tempos, a família começou a ganhar novos contornos

diante dos processos de transformação que o país passou, seja na área social,

econômica e/ou política.

Nos dias de hoje, em uma sociedade inegavelmente capitalista,

observa-se a existência da família contemporânea que é composta por uma

multiplicidade de configurações familiares, ou seja, não existe, atualmente,

uma única estrutura familiar. Existem sim, modelos que são compostos por

diferentes arranjos familiares. Além disso, não se pode desconsiderar o fato da

família contemporânea brasileira ser composta pela solidariedade de vizinhos e

parentes que ajudam para na manutenção dos lares e cuidado com os filhos.

1.1- Família como instituição Social e histórica

“O homem, como animal social que é, se caracteriza pela constante interação entre si. Esta interação por sua vez, acontece nos diversos palcos de atuação da atividade social. Um destes palcos, considerado por muitos como o principal deles, é o universo da família. O objetivo desta interação, especificamente no ambiente da família, é o crescimento e aprimoramento do ser humano como ser social. O ambiente do trabalho é outro exemplo importante de esfera social. Principalmente neste mundo globalizado, cuja língua comum acabou se tornando a língua do capitalismo, passou a ser normal ver as pessoas dedicando mais tempo à carreira, ao trabalho, do que dedicam à família. Além da família e do trabalho, outras esferas sociais podem também ser elencadas. Neste sentido, incluem-se como ambientes sociais aqueles universos de contato e interação determinados pelos vizinhos, pelo ambiente da prática religiosa, pela escola, apenas para citar alguns exemplos. Ocorre que em cada uma destas esferas existe uma infinidade de sentimentos, anseios, esperanças e projetos que acompanham o desenvolvimento interativo de cada um dos envolvidos”.(Charles Alexandre Souza Armada e Maria Fernanda Gugelmin Giardi; 2006:42)

Compreender a família como uma instituição social significa tomá-

la em sua dinâmica histórica, deste modo à ideia de família “sagrada” da

sociedade constitui elaborações ideológicas e teóricas sobre a família

em determinados contextos sociais. Como toda instituição, a família é

reconhecida socialmente a partir de um conjunto de práticas e saberes

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monopolizados por certos sujeitos sociais, práticas e saberes instituídas

e instituintes.

A família como instituição vem mudando ao longo da história, na

esfera da produção (modo como em cada época a sociedade se

organiza para produzir sua própria existência) e reprodução social

(relações e práticas sociais necessárias a continuidade de um

determinado modo de produção).

A família, ao longo da história moderna, foi se caracterizando

como um espaço de inserção e apoio para o indivíduo, embora não

negue também a existência nela de reprodução da desigualdade e da

violência. Além disso, nas últimas décadas, a sociabilidade familiar

parece estar sendo ainda mais valorizada, talvez porque o trabalho –

assumindo historicamente como principal representante da integração e

de acesso à cidadania, apesar de sua dimensão de exploração – está

deixando de fazer parte da vida de muitos indivíduos, especialmente na

condição de emprego, em decorrência de políticas neoliberais, adotadas

no Brasil a partir do final da década de 80 e intensificadas na década de

90.

No Brasil, a família, vem exercendo, ao longo do tempo, o papel de amortecedor das crises do país, especialmente após os anos 80, apesar dos baixos salários e da inconstância dos serviços públicos, a família tem viabilizado a reprodução social por meio da lógica da solidariedade e de práticas dos grupos domésticos. Carvalho e Almeida (2003).

Considerado sob o aspecto legal, a Constituição da República

Federativa do Brasil (CF) de 1988, em seu art.226, define três modelos

de família: 1. aquela formada pelos laços do casamento; 2. aquela

determinada pela aliança estável; 3. aquela formada por um dos pais e

os filhos, chamada de família monoparental.

Apesar de demonstrar algumas divergências, todos os modelos

de família têm os mesmos propósitos e seus componentes os mesmos

deveres. O propósito da existência do sujeito/cidadão enquanto ser

social dá-se pela via do afeto e do amor e não depende de haver

parentesco consanguíneo.

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A afeição logo, o pilar do crescimento saudável de uma família,

de qualquer um dos modelos expostos. Além do mais, não é de maneira

alguma privilégio do vínculo consaguíneo, mas, diante disso, obrigação

e responsabilidade de cada indivíduo para com o outrem desse círculo

social.

Com referência ao papel da família, podemos relacionar as

seguintes:

1.biológica, relacionada com a descendência e a permanência do

grupo social;

2.educadora e socializadora, no adequar o comportamento de

seus membros aos valores dominantes no grupo familiar e na

sociedade;

3. econômica, referente às condições de subsistência e conforto

proporcionadas;

4. psicológica, relacionada com o equilíbrio, o desenvolvimento

afetivo e a segurança de seus membros;

5.política, ao entender a família como fator de conservação da

ordem social existente.

De todas os círculos sociais supracitados, a família é, sem dúvida

alguma, a que tem mais apreço. Deveria ser atribuição de um universo

excelente, mesmo porque o espaço da criança e do adolescente

concentra-se, em grande parte, nos termos delimitados pelo alcance de

sua família. No qual teria de deparar com o suporte, segurança,

respeito, amor, proteção, encorajamento, por fim, a totalidade daquilo

que poderia lhe trazer suporte indispensável para o enfrentamento do

universo familiar.

Dessa forma, tanto para a criança/adolescente, a família se

estabelece em um reservatório de expectativas e angústias/ansiedade.

Segundo Azevedo e Guerra (1993) “Eles confirmam porém que a

família, tal como a conhecemos atualmente em nossa sociedade, não é

uma instituição natural e assume configurações diversificadas em torno

de uma atividade de base biológica,a reprodução”.

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Portanto, como as autoras afirmam que, a família não é uma

instituição natural, podendo assumir configurações diversificadas em

sociedades ou grupos sociais, heterogêneos, o modelo nuclear de

família, que nos parece tão natural, só se consolidou por volta do século

XVIII.

A narração da família pode ser descrita em três momentos:

Na fase pré-industrial, homens, mulheres e crianças trabalhavam juntos

tanto no lar quanto na zona rural e a unidade familiar era antes de tudo

uma unidade produtora.

Já no século XIX, com o rompimento sucedido da Revolução

Industrial e a industrialização da venda da força de trabalho.

No começo do século XX, o desenvolvimento industrial da

alienação da população economicamente ativa, a vida se restitui mais

particular, a família extensa cede importância à nuclear e, dentro do

casamento, as funções sexuais se tornam isolados.

Nos início dos séculos XVI e XVII, para os nobres não haviam a

dicotomia rigorosa entre o público e o privado, as famílias viviam nas

ruas, nas festas, não se isolavam. A família nessa época não tinha

atribuições afetivas e socializadora, mas era constituída visava a

transmissão da vida, a preservação dos bens, a prática de uma

ocupação, a ajuda mútua, a proteção da honra e da vida em caso de

crise.

Por volta do século XVIII, com a influência da burguesia, a

privatização da instituição familiar e a passagem das papéis sociais,

constituíam alguns dos mecanismos fundamentais para a composição

da família moderna.

Desta forma, Pôster (1979) também nos põe de sobreaviso que a

narração da família é interrompida, sem rodeios e não estão

estreitamente ligadas baseando-se nos modelos, familiares isolados,

cada um com sua própria história. A família nuclear burguesa, com seu

protótipo de assimetria sexual, não é um padrão, mas sim um fenômeno

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historicamente construído, o que o autor comprova observando na sua

totalidade as diferentes famílias.

1.2 – Para que serve a família

De acordo com a época estabelecida, as funções da família podiam

variar na economia, na socialização e na reprodução ideológica.

Antes da chegada do capitalismo, a função econômica resumia-se na

produção propriamente dita.

Segundo Scott e Tilly (1975),

“a unidade doméstica era a unidade básica de produção em países europeus do século XIX. Os componentes das famílias tinham obrigações interrompidas em exercício de sua idade, lugar na família e de seu sexo. A diferença nas prerrogativas sexuais existia: homens e mulheres não só executavam tarefas variadas, mas também conquistavam espaços diferentes. A mudança material da família dependia tanto da esposa quanto do marido. A mulher trabalhava nas mais variadas atividades, muitas delas, por exemplo como cuidar dos animais domésticos ou a confecção de roupas; enquanto o homem exercia a primazia nas funções públicas, a mulher predominava na esfera doméstica, tendo o maior valor na vida econômica e social familiar.

A desvalorização da labuta doméstica que hoje apreciamos não fazia

parte do cotidiano das famílias. As funções domésticas, embora restritas à

unidade familiar, eram realizadas ao lado de outras tarefas ligadas à produção

social.

Com as mudanças ocorridas com o aparecimento da industrialização,

houve uma ruptura que provocou o surgimento de duas esferas distintas: de

um lado a unidade doméstica, de outro a unidade de produção. A essa

fragmentação proporcionou uma divisão sexual do trabalho mais rígida do que

a que predominava anteriormente. A mulher coube à reprodução da força de

trabalho na esfera privada do lar e sem remuneração, enquanto ao homem

coube o trabalho produtivo extra-lar, pelo qual passou a ser remunerado.

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O mito do papel de esposa/mãe concretizou-se na medida em que casa

e família passaram a ter o mesmo significado, apesar de que na verdade não o

serem: enquanto a casa é uma unidade material de produção e consumo, a

família é um grupo de pessoas ligadas por laços afetivos e psicológicos.

Com o cessar entre local de produção e local de reprodução trazida pelo

capitalismo, a posição econômica da família, reduz-se à produção de valores

de uso ou concessão de serviços domésticos, através do serviço doméstico, já

que a produção de bens passa a ser feita no mercado, nas fábricas, nas

empresas.

Desta maneira, podemos afirmar que, a família è também uma unidade

de consumo, nela não se produz por enquanto o que o grupo precisa para

sobreviver, mas compra no mercado o necessário para cada um de seus

componentes. A família sendo um grupo que compartilha um orçamento, com

entradas em dinheiro e saídas em gastos. Assim, a família é também um

somatório de produtividade.

De acordo com as necessidades econômicas do grupo, sejam elas de

estrita sobrevivência ou de padrões de vida diversificada os componentes da

família se dispersam em atribuições: geradoras de renda – trabalho

assalariado, trabalho informal, biscates, etc. – em funções domésticas – que

não geram mas economizam renda – e em atribuições escolares. Essas

atribuições, obtêm características como a idade, sexo, papel na família e

escolaridade de cada membro que a compõe.

As desigualdades vividas no cotidiano da sociedade, no que se refere às

relações de gênero, não se definiram a partir do econômico, mas,

especificamente a partir do cultural e do social, formando daí as

“representações sociais” sobre as funções da mulher/homem dentro dos

variados espaços de convivência, ou seja: na família, escola, igreja, na prática

esportiva, nos movimentos sociais, enfim, na vida em sociedade.

A família como foco exerce função educativa, cujo papel primordial é a

formação do caráter de seus membros e a socialização rudimentar das

crianças.

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A família teria por função desenvolver a socialização básica numa sociedade que tem sua essência no conjunto de valores e papéis. O autor fala da sociedade capitalista e toma a família dessa sociedade como universal e imutável: a família nuclear burguesa torna-se sinônimo de família. Parsons (1995)

O papel/função da família como espaço de transmissão de hábitos,

costumes, ideias e valores, padrões de comportamento, incluindo os estudos

sobre a família, deve-se levar em conta todas essas funções – articular o plano

econômico, cultural e psicológico, fazendo parte do “amadurecimento” dos

membros das famílias

De acordo com Guerra e Azevedo (1993), “o estudo da família, deve

necessariamente, levar em conta que todas essas funções – econômica,

socializadora e reprodutora de ideologia – fazem parte do cotidiano familiar”.

(...).

1.3 – A questão de gênero na relação familiar

A relação de gênero formada por homens e mulheres é norteada pelas

diferenças biológicas, geralmente transformadas em desigualdade que torna o

ser mulher vulnerável à exclusão social. A exclusão que atinge a mulher se dá,

às vezes simultaneamente, pelas vias do trabalho, da classe, da cultura, da

etnia, da idade, da raça, e, assim sendo torna-se difícil atribuí-la a um aspecto

específico desse fenômeno, em vista dela combinar vários dos elementos da

exclusão social.

A mulher é vista como fêmea em virtude de várias características: é

mais vulnerável à piedade, chora com mais facilidade, é mais afeita à inveja, a

lamúria, a injúria, tem menos pudor, menos ambição, é menos digna de

confiança, é mais encabulada. Destina-se ao casamento e a maternidade,

inclinação para o lar e a educação das crianças.

De acordo com Scott,

“Gênero” foi o termo usado para teorizar a questão de diferença sexual. Nos Estados Unidos, o termo é extraído tanto da gramática, com suas implicações sobre as convenções ou regras (feitas pelo homem) do uso da lingüística, quanto dos estudos de sociologia dos papéis

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sociais designados às mulheres e aos homens. Embora os usos sociológicos de “gênero” possam incorporar tônicas funcionalistas ou essencialistas, as feministas escolheram enfatizar as conotações sócias de gênero em contraste com as conotações físicas de sexo. Também enfatizaram o aspecto relacionado do gênero: não se pode conceber mulheres, exceto quando elas forem definidas em relação aos homens, nem homens, exceto quando eles forem diferenciados das mulheres. Além disso, uma vez que o gênero foi definido como relativo aos contextos social e cultural, foi possível pensar em termos de diferentes sistemas de gênero e nas relações daqueles com outras categorias como raça, classe ou etnia... (1992,p.86).

O significado relações de gênero é, portanto, utilizado para expressar as

desigualdades entre homens e mulheres não são determinadas por diferenças

biológicas entre eles e sim construídas socialmente. Essa construção social

expressa sobretudo pelas “atribuições” femininas no âmbito privado, das quais

destaca-se a maternidade e o cuidado, e pelas atribuições masculinas no

âmbito público,das quais a liberdade e provimento material se sobressai (Faria

e Nobre, 1997). Logo, sua definição está intrinsecamente vinculada ao modelo

nuclear tradicional de família.

Na sociedade brasileira, o modelo convencional de relações de gênero

não podem se difundir no que se refere a mulheres e homens. Ainda que

relativa parcela da sociedade tenha reproduzido e ainda reproduza o modelo

de relação mulher/lar – homem/trabalho, de fato, o que mostra historicamente

a mulher pobre no meio da cidade e as camponesas vêm reunindo

responsabilidades no âmbito público e no privado, isto é, cuidando da casa,

dos filhos, dos idosos e trabalhando fora do lar para o sustento e/ou auxílio da

família.

Na interseção do público e do privado, a desvantagem feminina é total.

O homem de modo geral, ainda continua ausente na divisão das tarefas

domésticas. Por não ter conquistado a equidade de gênero na esfera privada,

ou seja, a participação do masculino nas tarefas da casa, a mulher assume

uma carga de trabalho no espaço público cabe-lhe a responsabilidade da

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labuta da casa, do preparo do alimento, do cuidado dos filhos e sua educação

informal, do cuidado dos velhos da família, da saúde dos familiares e,

evidentemente, da reprodução biológica e física da força de trabalho.

Conforme Sarti (196, p.96), “a entrada no mercado de trabalho é um

fenômeno social novo para as mulheres de camada médias e altas,

profissionais de alta qualificação, fatia do mercado antes primordialmente

preenchida por homens”.

A falta de serviços sociais e, por vezes, a escassez de uma rede de

apoio familiar para com os cuidados dos filhos, fazem com que o seu trabalho

remunerado contribua, concomitantemente, para as obrigações de prover o

seu sustento e o dos filhos e também para privá-los de cuidados diretos dos

quais necessitam.

Em relação ao homem, ainda que nos últimos dez anos tenha crescido o

número daqueles que auxiliam nos cuidados do lar e dos filhos, ele continua

vinculado propriamente ás relações com o mundo público, não tendo ainda se

generalizado a sua responsabilização pelo não provimento material do lar, e

ainda menos a sua responsabilização pelo não reconhecimento moral e legal

do filho.

O caminhar das mudanças nos padrões socioculturais que dizem

respeito às relações entre os gêneros, ainda não incorporou de forma

igualitária os direitos e deveres da mulher e do homem com relação à prole. A

mulher continua enfrentando com a responsabilidade pelos cuidados das

crianças – até mesmo quando essa responsabilidade inclui também a decisão

(ainda que não autônoma) de deixar de cuidar provisória ou definitivamente de

um filho.

O problema surge quando a partir das diferenças biológicas construímos

diferenças sociais. Nada legitima que a partir das diferenças biológicas sejam

construídas relações sociais de gênero desiguais, hierárquicas e de poder.

O “quem somos” vai se construindo através das relações com os outros,

com o mundo dado, objetivo. Cada indivíduo encarna as relações sócias,

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configurando uma identidade pessoal, uma história de vida e um projeto de

vida. Neste processo, o fato de se pertencer a um gênero ou outro, ser menino

ou menina também conformam as referências iniciais do mundo.

Marx afirma que, na produção social de sua existência, os homens

entram em relações determinadas, necessárias, independentes de sua

vontade; estas relações de produção correspondem a um grau determinado de

desenvolvimento de suas forças produtivas materiais. O conjunto destas

relações de produção, constituem a estrutura econômica da sociedade, a base

real, sobre a qual se eleva uma superestrutura jurídica e política e a qual

correspondem formas sociais determinadas de consciência. Não a consciência

dos homens o que determina a realidade, ao contrário, a realidade social é a

que determina sua consciência.

A existência de gêneros é a manifestação de uma desigual distribuição

de responsabilidades na produção social da existência. A sociedade

estabelece uma distribuição de responsabilidades que são alheias as vontades

das pessoas, sendo que os critérios desta distribuição são sexistas, classistas

e racistas.

As desigualdades vividas no cotidiano da sociedade, no que se refere às

relações de gênero, não se definiram a partir do econômico, mas,

especificamente a partir do cultural e do social, formando daí as

“representações sociais” sobre as funções da mulher/homem dentro dos

variados espaços de convivência, ou seja: na família, escola, igreja, na prática

esportiva, nos movimentos sociais, enfim, na vida em sociedade.

Portanto, os determinantes individuais que atravessam as relações, os

desejos afetivos e sexuais frustrados, os sonhos não realizados de vida

conjugal e de poder contar com a figura masculina provedor e protetor, as

disputas de poder na relação, a ausência do diálogo para suprimir conflitos,

dentre outros, podem também sobrepor-se às questões relacionadas aos

direitos do homem e da mulher no que se refere à opção de ter filhos, aos

direitos e deveres relacionados aos cuidados com eles, bem como à decisão

pela entrega de uma criança para outra pessoas criar.

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CAPITULO II

O que é adoção

A palavra adotar vem do latim adoptare, que significa escolher, perfilhar,

dar o seu nome a, optar, ajuntar, escolher, desejar. Do ponto de vista jurídico,

a adoção é um procedimento legal que consiste em transferir todos os direitos

e deveres de pais biológicos para uma família substituta, conferindo para

crianças/adolescentes todos os direitos e deveres de filho, quando e somente

forem esgotados todos os recursos para que a convivência com a família

original seja mantida.

No dia 25 de Maio é comemorado o Dia Nacional da Adoção, dia em

que surgiu em decorrência do Movimento Nacional dos Grupos e Associações

de Apoio à Adoção, oficializado pelo então presidente Fernando Henrique

Cardoso, através da Lei nº 10.447- 09 de Maio de 2002.

Dia que deve chamar atenção da sociedade como um todo, diante da

realidade de milhares de crianças e adolescentes, que embora tenham direito

de conviver, em família, garantido em Lei pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA), vivem em abrigo, crescendo sem a proteção e a atenção

necessária do seu pleno desenvolvimento, que somente uma família pode

proporcionar.

Dia em que a sociedade e o Estado devem refletir o desenvolvimento de

novas políticas públicas dando ênfase a construção de uma Nova Cultura,

onde a adoção deixe de ser vista apenas como uma alternativa para dar filhos

a quem não os pode gerar, daí a necessidade de buscarem-se novos

instrumentos de reflexão, sobre essa problemática.

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, por sua vez, declara a

criança como sujeito de direitos, natural ou, como último recurso, com a família

substituta – em detrimento da devendo a ela ser garantido que se desenvolva

livremente e em meio aberto, no convívio com a família institucionalização.

No artigo 19, aponta: “Toda criança ou adolescente tem direito a ser

criado e educado no seio da sua família e excepcionalmente em família

substituta”.

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O artigo 23 do ECA dispõe também que: “A falta ou carência de

recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou suspensão

do poder” e ainda: “Não existindo outro motivo que por si só autorize a

decretação da medida, a criança ou adolescente será mantido em sua família

de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em programas oficiais

de auxílio”. Garante também: “A perda e a suspensão do poder familiar serão

decretadas judicialmente, em procedimento contraditório”. (art.24).

No Brasil, o processo de adoção de crianças e adolescentes já foi muito

complexo, demorado e burocrático. Atualmente, com o advento do Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA) e com o pleno funcionamento da Vara da

Infância e da Juventude, principalmente nas capitais e grandes cidades, ficou

mais simples, rápido e funciona como especiais medidas de segurança para

ambas as partes envolvidas.

A Vara da Infância,da Juventude e do Idoso mantêm uma “Seção de

colocação de família substituta” onde prestam todas as informações pra as

pessoas que desejarem conhecer, em maior profundidade, os passos para

adoção de crianças. Ela não é deferida a qualquer pessoa que tenha interesse,

algumas formalidades, certos requisitos e razoáveis medidas de prevenção e

segurança são elementos que formaram o processo para habilitar um

pretendente, todavia, são procedimentos simples, que não podem ser

obstáculos suficientes para desestimular a adoção ou dificultar a realização da

vontade do adotante, de forma geral.

No artigo 19, aponta: “Toda criança ou adolescente tem direito a ser

criado e educado no seio da sua família e excepcionalmente em família

substituta”.

Atualmente no Brasil, a adoção é regulamentada pelo ECA – Lei

nº 8.069, de 13 de Julho de 1990, com base no artigo nº 227 da Constituição

da República Federativa do Brasil, de 1988. O novo Código Civil – Lei nº

10.406, de 10 de Janeiro de 2002, em vigor desde Janeiro de 2003, também

trata da adoção, e dessa forma atualmente, podem ser aplicadas ambas as

leis à adoção de pessoas menores de 18 anos de idade. (Granato, 2003).

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Além das legislações supracitadas, está em processo no

Congresso Nacional propostas de alterações relativas a adoção, que têm sido

alvo de muita polêmica, dado o entendimento de que tendem a ferir princípios

assegurados pelo ECA.

Salientamos que o ECA, – (Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990),

quinta legislação sobre adoção, estabelece que a permanência é irrevogável,

que a filiação é substitutiva e que, na herança, os direitos são iguais para filhos

adotivos e consanguíneos, além de introduzir dispositivos para a efetivação de

adoções unilaterais.

É importante ressaltar que o ECA – considerado de vanguarda no

panorama internacional – foi elaborado sob a coordenação do Fórum Nacional

de Entidades Não-Governamentais de Defesa das Crianças e Adolescentes,

com a participação do Fórum Nacional de Dirigentes Estaduais e Políticas

Públicas para a Criança e Adolescente e da Frente Parlamentar pelos Direitos

da Criança. Esse dispositivo incorpora a concepção presente no texto

constitucional de 1988, no qual a criança e o adolescente são vistos como

sujeitos de direito, pessoas em condições peculiares de desenvolvimento e de

prioridade absoluta (Vargas,1998).

Somente a partir de 1965, filhos adotivos começam, legalmente, a

ser igualados aos legítimos, o que talvez os dê elementos para

compreendermos o fato de, até hoje, haver preconceitos em relação às

crianças adotivas: os pais tendem a ocultar o fato e até as escolas, lugar

formador por excelência, têm dificuldade de tratar a questão com

espontaneidade.

A isso se soma a ocasião, principalmente até a execução do

ECA, das chamadas “adoções à brasileira”, através das quais filhos biológicos

de determinados pais são registrados como filhos legítimos de outros pais,

como se estes fossem seus pais biológicos. Por esse ato ser considerado um

delito, a revelação sobre a origem da criança ou do adolescente não poderia

ser feita, sob pena de responsabilização criminal dos envolvidos. É também

por meio dessa legitimação adotiva que, pela primeira vez, se estabelece a

ruptura de parentesco com a família de origem.

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.”...a adoção à brasileira, sem o desejo de se ter filhos, apenas mobilizado pela sensibilidade à situação da criança, acarreta, em algumas situações, a devolução da criança por parte dessas famílias, que não sabem ou simplesmente não querem mais lidar com comportamentos mais complexos em determinadas faixas etárias...” (ALCÂNTARA,2010; pp.64).

Advertimos, contudo, que a distinção presente nas adoções vai

desaparecendo à medida que outras discriminações, como as relativas à

mulher, vão perdendo terreno, ou seja, à medida que as legislações ditam um

conteúdo mais democrático, como reflexo das vitórias sociais que igualam as

pessoas e as consideram sujeitos de direitos (homem, mulher, criança,

adolescente, negro, branco, amarelo e outros), as leis sobre adoção igualam

filhos adotivos a legítimos. Isso ocorre com a Legitimação Adotiva, em 1965, e

consolida-se, em 1990, com o ECA.

Segundo Gueiros (2007), é interessante observar que o Código

de Menores, de 1979 (promulgado durante o regime militar), define a

permanência de adoção como irrevogável somente para crianças até 7 (sete)

anos de idade e revogável para aquelas a partir dessa idade e até 18 anos,

ocorrendo o mesmo com a filiação (substitutiva e aditiva, respectivamente) e a

herança (integral e diferenciada, respectivamente).

A última legislação a tratar de adoção é o novo Código civil – Lei

nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. Embora posterior ao ECA, os

profissionais do campo de direito tendem pelo entendimento de que ambas as

leis são aplicáveis à adoção, posto que não há referência expressa à

revogação do ECA e também porque o Estatuto contém importantes

dispositivos que não são repetidas no Código Civil (Granato, 2003).

A coação social exercida sobre as mulheres para que assumam o

imaginário feminino da mulher/mãe, interessa neste momento aponta um dos

equívocos presentes no universo da adoção, saciando os meios de

comunicação em massa, e que diz respeito ao sentimento de generosidade

como motivação para a adoção. A intensidade de tal concepção é fundamental

na medida em que, nesses casos, a criança/adolescente termina sendo

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colocado na condição de objeto do favor/caridade dos adotantes, que nesse

sentido, dela/ou do plano divinal aguardarão alguma retribuição pelo gesto.

A prática na esfera da adoção nos revela que, a mulher (ou o

casal), normalmente não adota por generosidade ou por interesse alheio (no

caso do adotado), mas por desejo de maternar (de âmbito sócio afetivo da

criação dos filhos) ou necessidade de substituir alguma carência, o que neste

caso coloca a motivação para adoção no campo do inevitável.

Dessa forma, Santos (1998) afirma que “a adoção eventualmente

motivada pelo sentimento de generosidade/altruísmo pode atender a algumas

necessidades objetivos da criança/adolescente, mas dificilmente pode resultar

num processo satisfatório de incorporação e vivência de papéis parentais de

pais e filhos, já que nessa perspectiva o adotado torna-se objeto da boa ação

dos adotantes e, certamente não ocupará lugar de filho e sujeito no contexto

familiar.

Verdadeiramente falando, a adoção deveria indispensavelmente

responder aos anseios e interesses mútuos, já que os adotantes precisam por

em prática o desejo de maternar para que possam assim, atender às

necessidades e interesses da criança/adolescente, que, por sua vez,

necessita/deseja ter pais e um lar substituto, onde deverá ser sujeito de

direitos e deveres e não objeto da bondade alheia.

Em se tratando do tema adoção Villa (1997), estabelece a

diferença fundamental entre desejo e necessidade, e afirma que “uma criança

será adotada por desejo ou por necessidade”.

Dessa forma, “se uma mãe deseja o filho então poderá receber

bem as suas angústias e as suas necessidades; se ao contrário, uma mãe tem

a satisfação de suas próprias necessidades”.

Todavia, não devemos, deixar de considerar a possibilidade de

modificação da necessidade em desejo, através de uma interferência

profissional competente junto aos interessados em adoção, o que exige e

reforça a necessidade de se promover uma lida de preparação e

acompanhamento para interessados em adoção e pais adotivos, a ser

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desenvolvido tanto pelas Varas da Infância e da Juventude, quanto por

entidades da sociedade civil, através de pessoal devidamente qualificado.

Importa ressaltar que, é de responsabilidade de todos que

trabalham, pesquisam e lidam direta ou indiretamente com a questão da

adoção, estarem atentos para as suas determinações, desvios e mistificações,

de modo que, assim seja possível a construção de uma Nova Cultura da

Adoção no país, que venha a contribuir para a desmistificação e positividade

das filiações adotivas, o que necessariamente implicará a superação dos

preconceitos e falsas idealizações que até então têm atravessado o seu

universo.

1.1 – Motivos dos rompimentos dos vínculos familiares

Instituiu-se que a mãe e, na história atual, o pai, têm que amar o filho. E

amor, nessas situações, manifesta-se no zelo adequado dele, materialmente e

emocionalmente falando. Logo, a mãe (sobretudo) e o pai que não o fazem,

estão violando seus deveres e violando direitos da criança. Essa transgressão

de direitos está sujeita a punições por parte do Estado, por meio do Poder

Judiciário.

Essas punições muitas das vezes manifesta-se na determinação do

poder familiar e, nos fatos que envolvem situações de pobreza da família de

procedente da criança e/ou do adolescente, como fator primordial de sua

entrega; dificilmente no acionamento do Poder Executivo para cumprir a

legislação, ou seja, para que exista redes de apoio, de forma que a criança não

seja afastada da família e da comunidade de origem por motivo da falta de

circunstâncias materiais que lhe dê meios de crescer e se desenvolver com

dignidade (ECA, art.23).

De forma que, com o ECA, dentre as medidas de proteção passíveis de

serem aplicadas à criança e ao adolescente, está a colocação em família

substituta (a última dessa medida, numa sequência de oito, conforme o art.

101) a qual, quando tratar-se de adoção, deverá ser precedida pela destituição

do poder familiar.

O Novo Código Civil de 2003, conforme apontado, estabelece no art.

395 que “a mãe ou o pai perderão o poder familiar quando castigarem

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imoderadamente o filho; o deixarem em abandono ou praticarem atos

infracionais, contrariando à moral e aos bons costumes”.

A privação de uma criança e/ ou adolescente no ambiente familiar, sua

restituição em adoção ou em abrigamento ou o seu desamparo não acontece

somente em razão da situação de miséria vivida pela família de origem. Há

vários motivos que levam mães e pais a dissolver, a desconhecer, a diligenciar

ou a prejudicar filhos, sendo que de diferentes segmentos sociais.

A mãe ou o pai é indispensável amar seus filhos. O sentimento materno

não é natural e sim construído, social e culturalmente.

Segundo Badinter (1985) em pesquisa sobre “o mito do amor materno”,

demonstram que esse amor não é inato, depende de condições sociais,

econômicas, históricas, ou conforme refere a autora, o sentimento do amor

materno depende de “ocasiões propícias ao apego”.

Por conseguinte, a narração do sentimento materno foi sendo

construído como “inevitável”, na proporção em que a mulher, como

responsável pelo ambiente interno, privado, passou a ser importante a partir

dos cuidados com a casa, os cuidados e afeto dispensados aos filhos. Dessa

forma podemos perceber que vários elementos incidem direta e indiretamente

na construção de situações do abandono familiar.

A atitude de negligência dos pais ou responsáveis para com seus filhos

é dramática, uma vez que parte das pessoas sobre as quais depositam

confiança. A negligência geralmente acontece quando os pais ou responsáveis

não cuidam das necessidades dos seus filhos e quando tal fato não é

resultado de condições de vida fora de seu controle. O descuido pode ser em

relação à higiene (podendo acarretar doenças, rejeição e discriminação), à

supervisão (criança deixada sozinha, sujeita a riscos), física (quando não

recebe alimentação suficiente ou roupas adequadas), educacional (quando

providenciam a frequência à escola), médica (quando as necessidades de

saúde não são atendidas).

A criança e o adolescente vítimas de desleixo têm comprometido seu

processo de crescimento e desenvolvimento físico e emocional.

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Segundo o Código Mello Mattos, a intervenção sobre famílias pobres,

promovida pelo Estado, desautoriza os pais em seu papel parental, acusando-

os de incapazes; assim os sistemas assistenciais justificam a

institucionalização de crianças.

A maioria das crianças e adolescentes que vivem em abrigos tem

família. Há poucos dados sobre esse assunto, mas estudo realizado pelo

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 589 abrigos do país, em

2002, constatou que 58% mantinham vínculos familiares. Nem sempre o

Ministério Público (MP) e as instituições têm psicólogos e assistente sociais

para avaliar a qualidade dessa ligação afetiva e ajudá-las a ter os seus filhos

de volta, quando esse é o desejo. A reintegração à família, muitas vezes é

mais indicada que a adoção.

“Há pais que se referem aos abrigos como “colégio.” Vão visitar os filhos

quando podem. Muitas mães trabalham fora e deixam seus filhos sozinhos.

Eles acabam sendo abrigados. Para esses, uma boa rede de creches públicas

talvez ajudasse.

Contudo, também percebemos a negligência realizada pelo abrigos,

quando permitem que elas permaneçam muitos anos abrigadas, muitas vezes

perdendo “toda” a sua infância, privadas do direito à convivência familiar. Por

exemplo: entrevistamos uma adolescente que nos relatou que, chegou no

abrigo com 2 (dois) dias de vida e hoje ela se encontra com 15 (quinze) anos

de idade e que nunca foi colocada para adoção, pois nunca tiveram interesse

em procurar a sua família para saber os reais motivos que a levaram a

abandoná-la no abrigo. E hoje, a sua perspectiva de colocação em adoção é

mais difícil devido ao tempo que ela perdeu de conviver em família.

Com 11(onze) e 12(doze) anos de idade, a adoção fica mais difícil. É

mais interessante oferecer ensino profissional.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) no art.101 - atribui ao

abrigo de crianças a situação de medida provisória e excepcional, utilizável

como forma de transição para a colocação em família substituta, não

implicando privação de liberdade.

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Percebemos a negligência das autoridades competentes que não

disponibilizam equipe técnica capacitada para agilizar o estudo e intervenções

necessárias aos abrigados; a lentidão em decisões com relação à destituição

do poder familiar; a insistência nas reintegrações mal sucedidas, enquanto a

criança e o adolescente permanecem abrigados.

A estratégia de atendimento dos direitos da criança e do adolescente,

regulamentada pelo ECA, prevê a junção de um conjunto de ações

governamentais e não governamentais, de forma a implementar políticas

sociais básicas e de caráter supletivo, dentre outras linhas de ação, bem como

a municipalização do atendimento e a criação e manutenção de conselhos de

direitos, fundos vinculados a esses conselhos e conselhos tutelares.

A lei é clara, portanto, são as políticas que não vêm sendo

implementadas de forma a atender as disposições legais. Quanto ao Estado,

mas sobretudo o poder executivo, que tem obrigação, prevista em lei, de

propor e executar políticas que dêem conta da garantia desses direitos vem,

sistematicamente, ignorando-os ou negligenciando-os e, via de regra, não tem

sido penalizado por isso.

O artigo 208 do ECA dispõe sobre “ações de responsabilidade por

ofensa aos direitos assegurados à criança e ao adolescente, referentes ao não

oferecimento ou oferta irregular” de diversos serviços que dependem do

cumprimento de políticas sócias, dentre eles o “ensino obrigatório”, o

“atendimento em creches e pré-escola às crianças de zero a seis anos de

idade”, o “serviço de assistência social visando a proteção à família, à

maternidade, à infância e à adolescência, bem como amparo às crianças e

adolescentes que dele necessitem” e o “acesso às ações e serviços de saúde”.

A legislação, portanto, é clara ao estabelecer que condições de pobreza

não são motivos para a separação da criança de sua família de origem; cabe

ao Estado (Poder Executivo) criar e complementar políticas para, nesses

casos, evitar a separação e que, quando necessário a aplicação da medida

judicial de destituição do poder familiar, deve ser assegurado à mãe e ao pai o

procedimento contraditório, o qual implica em direito a ampla defesa. A não

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destituição do poder familiar em razão de pobreza está, portanto, juridicamente

garantida.

Na execução, porém, o que vem se observando é que a implementação

da lei está longe de se tornar realidade. A falta e/ou o retraimento das políticas

públicas e a inexistência de conhecimento ou de acesso à Justiça para

garantia de direitos por parte da parcela da população, fazem com que, por

vezes, as medidas de privação e de extinção do poder familiar, sejam tomadas

em razão de apresentarem-se como os únicos caminhos possíveis para

solucionar o que se percebe ou se avalia como necessidade de proteção

prioritária a uma criança e/ou adolescente.

Referente ao caso de abandono, nesse sentido, uma análise sobre a

história do abandono de crianças e adolescentes possibilita constatar que,

desde o tempo da escravidão, as mães utilizavam estratégias extremas para

livrar seus filhos das situações degradantes em que vivem, conforme podemos

observar em (Venâncio,2002; p. 202-204). Destacamos, porém,que esse é um

lado da situação, porque o abandono também pode configurar falta de

responsabilidade e de amor por parte de pai ou mãe.

Assim de acordo com Fávero (2001),

“em algumas das situações estudadas, o abandono material e moral da criança justifica a destituição do poder familiar, sem que seja explicitado o abandono dos pais pelo estado, que não implementa políticas de corte social, possibilitadoras de acesso por parte deles a bens materiais e culturais”.

Esses motivos, que podem sugerir ausência de vínculos afetivos com a

criança/adolescente (estudos sobre a violência doméstica e negligência,

apontam que muitas vezes o são) também envolvem mãe e/ou pai que vivem

em precárias condições socioeconômicas.

Esta é uma questão polêmica, que envolve vários e divergentes pontos

de vista. Pra esta problematização parto do pressuposto de que, a falta de

cuidados dos quais uma criança/adolescente sofre em razão da precariedade

das condições socioeconômicas de sua família, não pode dar margem a

interpretações de maus tratos e negligência. Contudo, a subjetividade

envolvida na interpretação desses atos (via de regra permeada por valores que

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mobilizam as pessoas ao relacionarem-se com crianças), pode contribuir para

que o aparente descuido se sobreponha a uma análise crítica da precariedade

socioeconômica que a engendra.

Ainda que, em muitas situações algumas medidas específicas sejam as

únicas possibilidades viáveis de proteção a uma criança e adolescente e, em

razão disso, precisam, necessariamente, ser cumpridas, pois esta é sem

defesa e não tem possibilidades de sobrevivência sem a assistência e o apoio

do adulto, por vezes podem admitir um lado corrompido, restringindo-se à

família assumirem seus deveres na garantia de que as crianças cresçam e

desenvolvam-se como sujeitos de direitos – como recomenda o Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA).

A maioria das crianças e adolescentes que vivem em abrigos, não é

órfã, entretanto por situações que vão do alcoolismo à violência doméstica,

passando pela precocidade com que algumas mulheres têm seus filhos, esses

jovens engrossam as estatísticas de abandono e têm o direito à convivência

em um núcleo familiar violado.

1.2 – Legislação Vigente

A adoção é regulamentada no Brasil pelo Código Civil e pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA), que determina claramente que a adoção

deve priorizar as reais necessidades, interesses e direitos da

criança/adolescente.

A adoção é uma modalidade juridicamente mais complexa, de

colocação em família substituta, tem como consequência a ruptura dos

vínculos de parentesco com a família natural, decorrendo a destituição do

poder familiar. Os requisitos gerais para o deferimento da guarda, da tutela ou

adoção, isto é, pressupostos para o deferimento da colocação em família estão

elencados nos arts. 28 e 32 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Constitucionalmente falando, o pátrio poder implica no seu exercício em

condições de igualdade pelo pai e pela mãe. A Constituição Federal (art.229)

expressa que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos

menores”, devendo o Estado agir, por meio da instituição judiciária, quando

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aqueles deixarem de exercitar esse dever (o qual implica em poder) ou

abusarem do mesmo.

É nesta linha doutrinária, que nasce o instituto do pátrio poder, assim

denominado anteriormente ao novo Código Civil de 2003 e hoje chamado de

poder familiar. Neste poder, os pais possuem o dever de fiscalização e

orientação do processo de formação do indivíduo. Somente à falta de recursos

financeiros/ materiais, para cuidar da criança/adolescente não são motivos

para sua colocação em família substituta, para que haja a perda/ suspensão do

poder familiar são necessários motivos mais relevantes.

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA, por sua vez, declara a

criança como sujeito de direitos, natural ou, como último recurso, com a família

substituta – em detrimento da devendo a ela ser garantido que se desenvolva

livremente e em meio aberto, no convívio com a família institucionalização.

No artigo 19, aponta: “Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e

educado no seio da sua família e excepcionalmente em família substituta”.

A legislação restringe, portanto, a ação do Judiciário e responsabiliza a

família, a sociedade e o Estado pela proteção integral necessária à criança,

que está em fase de desenvolvimento.

O artigo 23 do ECA dispõe também que: “A falta ou carência de

recursos materiais não constitui motivo suficiente para a perda ou suspensão

do poder” e ainda: “Não existindo outro motivo que por si só autorize a

decretação da medida, a criança ou adolescente será mantido em sua família

de origem, a qual deverá medida, a criança ou adolescente será mantido em

sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser incluída em

programas oficiais de auxílio”.

No Brasil, o processo de adoção de crianças e adolescentes já foi muito

complexo, demorado e burocrático. Atualmente, com o advento do Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA) e com o pleno funcionamento da Vara da

Infância e da Juventude e Idoso principalmente nas capitais e grandes cidades,

ficou mais simples, rápido e funciona como especiais medidas de segurança

para ambas as partes envolvidas.

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A Vara da Infância,da Juventude e Idoso mantêm uma “Seção de

colocação de família substituta” onde prestam todas as informações pra as

pessoas que desejarem conhecer, em maior profundidade, os passos para

adoção de crianças. Ela não é deferida a qualquer pessoa que tenha interesse,

algumas formalidades, certos requisitos e razoáveis medidas de prevenção e

segurança são elementos que formaram o processo para habilitar um

pretendente, todavia, são procedimentos simples, que não podem ser

obstáculos suficientes para desestimular a adoção ou dificultar a realização da

vontade do adotante, de forma geral.

Atualmente no Brasil, a adoção é regulamentada pelo ECA – Lei nº

8.069, de 13 de Julho de 1990, com base no artigo nº 227 da Constituição da

República Federativa do Brasil, de 1988. O novo Código Civil – Lei nº 10.406,

de 10 de Janeiro de 2002, em vigor desde Janeiro de 2003, também trata da

adoção, e dessa forma atualmente, podem ser aplicadas ambas as leis à

adoção de pessoas menores de 18 anos de idade. (Granato, 2003).

Salientamos que o ECA, – (Lei nº 8.069, de 13 de Julho de 1990), quinta

legislação sobre adoção, estabelece que a permanência é irrevogável, que a

filiação é substitutiva e que, na herança, os direitos são iguais para filhos

adotivos e consangüíneos, além de introduzir dispositivos para a efetivação de

adoções unilaterais.

É importante ressaltar que o ECA – considerado de vanguarda no

panorama internacional – foi elaborado sob a coordenação do Fórum Nacional

de Entidades Não-Governamentais de Defesa das Crianças e Adolescentes,

com a participação do Fórum Nacional de Dirigentes Estaduais e Políticas

Públicas para a Criança e Adolescente e da Frente Parlamentar pelos Direitos

da Criança. Esse dispositivo incorpora a concepção presente no texto

constitucional de 1988, no qual a criança e o adolescente são vistos como

sujeitos de direito, pessoas em condições peculiares de desenvolvimento e de

prioridade absoluta (Vargas,1998).

1.3 – Debate teórico na problemática da adoção

A adoção representa também a possibilidade de ter e criar filhos para

pais que não puderam ter filhos biológicos, ou que optaram por ter filhos sem

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vinculação genética, além de eventualmente atender às necessidades da

família de origem, que não pode cuidar de seu filho.

Constitucionalmente falando, o pátrio poder implica no seu exercício em

condições de igualdade pelo pai e pela mãe. A Constituição Federal (art.229)

expressa que “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos

menores”, devendo o Estado agir, por meio da instituição judiciária, quando

aqueles deixarem de exercitar esse dever (o qual implica em poder) ou

abusarem do mesmo.

A legislação restringe, portanto, a ação do Judiciário e responsabiliza a

família, a sociedade e o Estado pela proteção integral necessária à criança,

que está em fase de desenvolvimento.

São consideradas causas que levam à perda: castigar imoderadamente

o filho; deixar o filho em abandono; praticar atos contrários à moral e aos bons

costumes, descumprir determinações judiciais. A legislação é precisa quando

afirma que pobreza e miséria não são motivos suficientes para a destituição do

poder familiar. Antes da destituição, políticas de apoio à família devem ser

praticadas e implementadas para evitar o rompimento de vínculos entre pais e

filhos.

No exercício, porém, o que vem se observando é que o cumprimento da

lei está longe de se tornar realidade. A ausência e/ou a retratação das políticas

públicas e a falta de informação ou de acesso à Justiça para garantia de

direitos por parte de parcela da população, fazem com que, por vezes, as

medidas de destituição e de extinção do poder familiar, sejam tomadas em

razão de apresentarem-se como únicos caminhos possíveis para solucionar o

que se percebe ou se avalia como necessidade de proteção prioritária a uma

criança.

O cerne da adoção está na justificativa dos interesses da criança e do

adolescente, essa é uma concepção atual, pois ao longo do tempo, e nas

diversas culturas, ela assumiu diferentes aspectos.

Segundo Gueiros (2007),

“a adoção constitui uma realidade que se transforma ao longo do tempo e que ganha contornos de acordo com as

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circunstâncias socioeconômicas e políticas de cada momento histórico”.

Granato (2003) informa que, séculos atrás, havia a associação entre religião e

adoção, inclusive porque a propagação desta se dava através de gerações.

Naquela época, a política pública se fazia no interesse de proteger a

virtude escondendo-se o não legítimo com um pano assistencialista/religioso,

ao mesmo tempo facilitador doméstico. Para atender o recolhimento de

crianças e adolescentes não legítimas foi implantada a Roda, uma caixa

giratória, na parede da Santa Casa onde se colocava a criança de fora para

dentro sem que ninguém visse, e assim era recolhida pela instituição, onde

criou um local denominado “Casa dos Expostos”, sendo seu objetivo o de

salvar o brio das famílias. Eram as crianças bastardas ou abandonadas. Em

sua maioria, eram brancas ou pardas, filhos de brancos ou de brancos e

negros. A primeira Roda,foi criada na Bahia em 1726 e a última, em São

Paulo, na década de 50.

Como podemos perceber, a adoção existe desde sempre, mas foi se

configurando em formas e demandas diversas de acordo com o momento

histórico, de modo que sua concepção e as próprias ambigüidades nela

presentes estão associadas às idéias subjacentes aos demais conceitos

socioculturais, sobretudo aqueles relativos à família e a outros vínculos sociais.

Apesar de avanços em alguns setores sociais e nos planos teórico e legal, a

noção de criança e de adolescente como sujeitos de direito ainda carece de

maior sedimentação no plano da realidade cotidiana.

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CAPITULO III

O trabalho do Assistente Social no processo de

adoção

O Serviço Social através da sua atuação na área da Assistência com

crianças e adolescentes trabalha da seguinte forma:

§ Orientar famílias adotivas e pretendentes à adoção através de

entrevistas sociais;

§ Realizar estudo social de crianças e adolescentes em situação de

risco ou que estejam abrigadas;

§ Acompanhar as famílias destas crianças;

§ Realizar visitas domiciliares;

§ Realizar visitas as Instituições de abrigo;

§ Elaborar parecer psicossocial da criança e adolescente em

situação de risco ou encaminhadas pelo Ministério Público da Infância e

Juventude de Niterói;

§ Participar do Grupo reflexivo para Pretendentes à Adoção.

1.1 A importância da discussão para o Serviço Social

A análise dos dados apresentados permite concluir-se que, a

realidade nos mostra famílias em diferentes situações socioeconômicas que

instigam. A violação dos direitos de seus componentes, em especial de suas

crianças, adolescentes e jovens. Percebe-se que estas situações, nem sempre

decorrentes da ausência de renda, se agravam nas parcelas da população

com maiores índices de desemprego e pobreza.

As intervenções nas famílias em situações de violação de direitos

e cujos vínculos familiares estão frágeis, mas não rompidos, envolvem desde a

garantia da sobrevivência até sua inclusão em redes sociais de atendimentos e

solidariedade. É preciso, nesses casos, desencadear estratégias de atenção

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que visem a reestruturação do grupo familiar, a elaboração e o fortalecimento

de referências morais e afetivas para que ele readquira a autonomia em suas

funções. São serviços que requerem acompanhamentos individuais, maior

flexibilidade nas soluções de proteção e, muitas vezes exigem uma gestão

compartilhada com o Poder Judiciário, com o Ministério Público – MP e outros

órgãos do Executivo.

“...trabalhar com família significa recorrer à categoria da totalidade, como

possibilidades de compreensão do objeto de trabalho e a categoria da

integralidade como princípio de atenção...” (MIOTO.NOGUEIRA,2006;

MIOTO;LIMA,2009).

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CAPITULO IV

A Discussão para Terapia de Família com as famílias dos assistidos

Para Freud (1959), portanto, não passou despercebido a importância do

ambiente familiar na gênese da neurose e sobretudo o papel dos pais dos

pacientes que estavam em tratamento. "No tratamento psicanalítico, a

presença de parentes é pura e simplesmente um perigo, e um perigo contra o

qual não sabemos nos preparar”. Estamos armados contra as resistências

interiores que vem do doente e que sabemos necessárias; mas como

defender-nos contra essas resistências exteriores?

A concepção familiar afunda indubitavelmente sua raízes na psicanálise, e Freud mesmo - tratando o pequeno Hans (1909) mediante a intervenção dos pais - foi sem dar-se conta, o primeiro terapeuta de família.

No que diz respeito à família do assistido, é impraticável fazê-la acolher

com bom senso e resolvê-la a conservar-se distante de toda a matéria; doutra

parte, jamais se deve introduzir-se em harmonia com ela, pois então há risco

de ficar privado da segurança do paciente, que ordene, e com prudência, ou

seja, que o cidadão a quem se espera tome sua posição todo o tempo e em

todas as circunstâncias.

Nos casos, aliás freqüentes, em que a neurose está em relação com

conflitos entre membros da família, o indivíduo são não hesita, quando se trata

de escolher entre seu próprio interesse e o restabelecimento do doente. E os

senhores, naturalmente, não tardarão a observar em que medida o sucesso ou

o insucesso do tratamento depende do meio social e do estado de cultura da

família".

A família sempre foi vista e compreendida como a matriz da identidade do indivíduo. É no seio da família que a pessoa vai definir seus padrões básicos de funcionamento. Padrão básico de funcionamento significa a sua forma específica e repetitiva de ser e de reagir em todas as situações; os mecanismos que usará para viver e sobreviver; suas escolhas ao compreender e se relacionar com as pessoas e situações. Este padrão se constrói no entrelaçamento das relações familiares,

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através do que é dito e do que não é dito, das normas explícitas e das regras que são passadas de forma sutil, nos olhares, nos toques, nas palavras e atos. (FREUD, S - Introdução à Psicanálise - Obras completas de Freud, Vol. VIII Ed. Delta - R. J. - 1959 - Páginas 517 - 520).

Com proporção ao modelo de trabalho que vai formando o cidadão vai

dispondo a sua auto imagem : quem ele é, qual seu valor, qual sua potência,

quais seus limites.

Portanto o homem atinge na puberdade e após a vida adulta com uma

obrigação e as vantagens de ter sido educado naquela organização familiar

específica, com aquele modelo específico.

Nesse momento de vida, a pessoa tem basicamente dois caminhos a seguir: usa as dificuldades, os traumas, os sofrimentos vividos e sofridos na infância como uma boa desculpa para suas dificuldades atuais, e um bom álibi para explicar seus defeitos, suas impossibilidades; ou usa as dificuldades vividas como um mapa, um sinalizador do que é que precisa aprender, precisa mudar, em que departamentos da sua vida precisa prestar mais cuidados e atenção.

A questão afetivo/emocional de um ser humano adulto, tem relação

imediata quanto ele se considera responsável pelo futuro da sua história : ou

seja o quanto ele se consagrar-se á purificar, perdoar, perceber o fardo que

recebeu, e o quanto ele se incumbir em aperfeiçoar-se e tornar-se um ser em

desenvolvimento opulento pelas práticas de vida na infância, sejam as reais,

sejam as de resultado contrário ao que se esperava.

Segundo,Rosset (2002),um mesmo fato traumático poderá amargurar toda

a vida de uma pessoa, ou poderá servir de estímulo para reconstruir-se e

construir novas e saudáveis relações.

A família sofreu muitas mudanças nas últimas décadas, e hoje encontramos famílias com variadas configurações. Isto leva à muitas dúvidas e angústias sobre qual são as formas mais adequadas de lidar com as novas situações familiares. Essas questões surgem nos integrantes das famílias, nos terapeutas e em todos os profissionais que interagem com elas. (ROSSET,2008)

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A adoção é uma conjuntura familiar dentro da sociedade que traz inquietação,

empreitadas e conhecimentos para todos a sua volta. A empreitada dos pais e

ou familiares é a mais simples de entrever e demarcar tendo em vista que

foram eles que se habilitaram e se proporam a dar prosseguimento à adoção.

Seu comprometimento é reto e suas empreitadas e aprendizagens são todas

aquelas inseparáveis às atribuições de serem pais, educarem filhos, tomarem

decisões.

A família que está às voltas na conjuntura de adoção também está

comprometida nas empreitadas, relação afetiva, aprendizagens da educação

de uma nova criança, aumentando as discussões exclusivas da adoção e da

iminência que têm com os pais. Os terapeutas que se encontram próximos

também estarão com seus sentimentos, suas tarefas e suas aprendizagens

sendo desenvolvidas, além das suas funções de auxiliar os pais e a família a

lidarem da melhor forma possível com a criação dos filhos e com a adoção.

Entretanto, qualquer dos comprometidos podem modificar a

determinação da adoção num conflito, gerando polêmicas e atritos em rotinas

do dia-a-dia, indagando argumento simples, impedindo a harmonia entre as

pessoas.

A terapia familiar é direcionada na acepção de que o terapeuta está

intensamente empenhado com a linhagem na educação do âmbito terapêutico,

na iniciativa das reuniões, metas, analisar, etc... Porém, não é autômato como

poucos opinam, contudo sugere que a família ponha em prática exercícios e

que recobrar diligência e independência.

Conforme isto aconteça é necessário que o profissional desempenhe

sua autoridade para enfrentar com resistências mais duras que permanecem

no estilo e pode conduzi-las. Este decorre somente no início; a medida que a

terapia progride, família e terapeuta ficam numa mútua cumplicidade de poder.

A convergência na terapia familiar está subentendida em sua própria

técnica, já que no lugar da sessão o terapeuta aproveita o lugar e o movimento

e sugere atividades.

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A aplicação da prescrição como espécie estratégica, que pode ser

reformulada com parâmetro na ocupação desenvolvida nas tarefas, dados

coletados e materiais trazido pelos membros da família, tem alguns objetivos:

- proporcionar mudanças;

- reinventar um espaço terapêutico;

- adentrar no ambiente familiar;

- enfatizar o processo terapêutico;

- verificar novas modalidades de comunicação.

Dependendo do conhecimento que se quer iniciar em determinada

atividade existem uma sequência de tipos de prescrições que podem ser

iniciadas no sistema terapêutico com êxito.

1.1 Terapia de Família e seus objetivos

A Terapia Familiar tem como meta ajudar a família a recuperar ou

conquistar as ligações harmônicas, respeitosas e saudáveis entre os seus

associados. Aliás, a terapia familiar tem como objetivo o acolhimento de um

de seus membros. Diversas vezes, o uso de drogas ilícitas do filho mais velho,

o alcoolismo do pai ou a doença mental da mãe é o prognóstico que traz o

despontar para o fator de que a participação da família necessitem de algum

tipo de interferência.

Não que esses eventos tenham como causa única a disfunção relacional familiar, isto é, a degradação nas relações entre os membros da família, mas é consenso que, a família contribui tanto para a produção dos comportamentos-problema de um membro, quanto para a solução desses comportamentos-problema. Haja vista que, nos últimos anos, tem sido observado um número cada vez maior de pesquisas que apontam a terapia familiar como intervenção importante para auxiliar o tratamento de transtornos como os transtornos alimentares e transtornos do humor. (ROSSET,2008).

Seja com o foco de melhorar as relações no contexto familiar, ou tratar o

membro por meio das mudanças nessas relações, o terapeuta familiar cumpre

o papel de arquiteto do diálogo (Guimarães & Streithorst), num contexto em

que clientes e terapeuta participam ativamente da análise do cenário histórico

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e presente, da elaboração do plano de mudanças e das transformações

posteriores.

A otimização das causas históricas das dificuldades familiares, a

compreensão das circunstâncias da época com as condutas problemáticas e a

abrangência com o que é atraente para a família é de suma importância para a

instabilidade no desenvolvimento da terapia de família.

A princípio, a terapia de família orientada por terapeutas de

comportamento era sintetizada por técnicas procedentes da teoria do

conhecimento, com intenção de lidar com indivíduos. Todavia, por

compreender a objetividade do esquema familiar, os terapeutas familiares que

utilizam o referencial comportamental ampliaram seus conhecimentos. Foi

desenvolvida uma variedade de técnicas que auxiliam a administrar os

problemas familiares e a ampliar as relações funcionais e saudáveis. Trata-se

de intervenções que obteve êxito nas perspectivas dos percalços nas

circunstâncias familiares.

1.2 O papel do terapeuta e as técnicas realizadas

tal como uma câmera dotada de lente grande angular, ele pode ver as coisas a partir da posição de cada pessoa presente e atuar como um representante de cada uma delas. Ele observa as transações, bem como os indivíduos, dispondo, assim, de um ponto de vista único.(ROSSET,2008, pp.154)

__O profissional deve-se ver como um processo de emissão, transmissão e

recepção de mensagens. Desse modo, auxiliará o paciente a obter

conhecimento das mensagens que são incoerentes,desordenadas e ocultadas

;

__O mesmo terá em todo o tempo em pensamento ás muitas práticas de

interação que podem ocorrer perante o tratamento;

__No momento em que o terapeuta trabalha com um paciente, está paralelo

uma pessoa que foi rotulada por outras ou por si mesma como tendo

perturbação orgânica ou social. O mesmo não deverá lidar o paciente em

termos de rotulá-lo;

__O terapeuta edifica a auto-estima do paciente;

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__O profissional reeduca os "pacientes" para a vida adulta.

O Terapeuta não transforma, mas suscita ocasiões favoráveis à mudança.

Cabe ressaltar que, mais do que aplicar técnicas, o terapeuta familiar

comportamental é aquele que realiza, analisa e acompanha cuidadosamente,

induz a compreensão das origens dos contratempos e desenvoltura das

competências de relacionamento interpessoal por advertir tais iniciativas

relevantes para que a família e indivíduos possam deixar o consultório com a

aptidão de assentar seus próprios obstáculos no futuro.

1.3 O Papel da Família no processo terapêutico do paciente

O amparo familiar é essencial, sendo mais ainda perante o processo

entretanto, esse desempenho no trato com o paciente não é fácil, pois vários

são os sentimentos que ela pode demonstrar defronte dessa circunstância, tais

como causa, repúdio e incompetência. Além do preconceito que os portadores

de perturbações mentais e dependentes químicos sofrem da comunidade, eles

também estão sujeitos aos familiares, que se sentem humilhadas pela

sociedade pelo simples fato de não terem conseguido educar um sujeito

“saudável” e preparado para executar suas deveres perante a sociedade. Não

é exequível supor, pois também são vitimas da sociedade igualmente como o

enfermo, mas é possível reconhecer a importância dela na vida de qualquer

ser humano.

A família é um conjunto de pessoas que se encontram, ligadas por laços afetivos, têm objetivos em comum, e um funcionamento específico. No caso desse funcionamento ser alterado, como quando um dos membros está internado, é natural que surjam dúvidas e insegurança em todo e qualquer membro da família. É um momento de tomada de decisões que podem ser fáceis ou não, há que adaptar uma postura diferente para que o problema seja solucionado, neste caso, para que a pessoa internada atinja o estado de saúde ou, no caso de não se encontrar doente, que possa retornar a casa (TORRENTS et.al, 2004).

A família, torna-se primordial no método de tratamento do paciente,

entretanto precisam entender como lidar com as circunstâncias estressantes,

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impedindo observações críticas ao paciente ou se tornando excessivamente

super protetores, dois fatores que promovem recaídas.

É de suma importância que os familiares dosem a proporção de

requisitos em relação ao paciente, condicionando assim mais do que ele pode

executar em certo momento, todavia sem deixá-lo de escanteio, ou sem

comunicação em família. Tendo conhecimento da doença e tendo um

resultado claro, a família passa a ser um cúmplice eficaz em construção com a

tratamento e a terapêutica trabalhada pela equipe multiprofissional.

A função da família é imprescindível em todas as etapas do tratamento

terapêutico, entretanto é essencial no começo do processo onde o paciente até

então não percebe que aquilo que acontece com ele é consequência de uma

afecção, sendo que para estes devaneios e alucinações são reais, dizer ao

paciente que tudo não passa de sua fantasia não resolve, ao contrario isso

decrescer sua obstinação ao tratamento.

Tanto a família quanto a equipe multidisciplinar pelo paciente precisam

estar direcionadas com propósito de contrair responsabilidade e laço afetivo,

para que se determine uma ligação de confiança e de aprovação ao

tratamento, o que ira caucionar a confirmação do tratamento e consequente

melhora.

Podemos compreender que, a restauração de um indivíduo com

transtorno mental ou dependente químico é um sistema longo, e em muitos

casos progressivos e lentos, todavia ajustando varias abordagens os

resultados tornam-se positivos e em muitos casos suficiente.

O ser humano nasce totalmente dependente de cuidados, com isso recebe a influência direta de seus pais, cuidadores e demais familiares. A família constitui o primeiro núcleo social da criança proporcionando seu processo de socialização. Esse processo é de importância vital para o desenvolvimento futuro da criança e do adolescente e facilita a aprendizagem de habilidades que facilitam o convívio social.

Simultaneamente em que se cuida o estágio da doença do paciente, os

familiares devem receber completa atenção na acepção de ser norteada em

seu acesso ao paciente ou em sua melhora de relacionamento perante a

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intervenção terapêutica, contudo em muitos casos a família adoece em

parceria, sendo essencial uma intervenção de escuta, ajuda e direção.

Relacionar-se com famílias traz átona traços relacionados à sutileza

funcional familiar muitas vezes já transformados ao longo do tempo e que

carecem serem reconsiderados e analisados, sendo estes autores pelo afronta

da situação doença do paciente.

É importante que a família sinta que pode fazer algo para ajudar o seu familiar a recuperar-se quando tal e possível e, mesmo quando não é, que seja capaz de compreender a situação e acompanhar o paciente, dando apoio, compreensão, carinho e dedicação (LAZURE, 1994). .

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Conclusão

Historicamente, crianças e adolescentes, a título de proteção ou

afastamento do convívio social, eram abrigados em grandes instituições, onde

permaneciam por longo tempo ou a vida inteira.

A família independente dos seus formatos, arranjos ou modelos que

assume, é a intervenção das relações entre os indivíduos e a coletividade

(totalidade), demarcando, continuamente os deslocamentos entre o público e o

privado, bem como geradora de modalidades de vida. Contudo, não se pode

desconsiderar que ela se caracteriza como um espaço contraditório, cuja

dinâmica cotidiana de convivência é marcada por conflitos e geralmente,

também por desigualdades, além de que nas sociedades capitalistas a família

é fundamental no âmbito da proteção social.

É preponderante retomar que as novas feições da família estão

intrínseca e dialeticamente condicionadas às transformações societárias

contemporâneas, ou seja, as transformações econômicas e sociais, de hábitos

e costumes e avanço da ciência e da tecnologia.

O novo cenário remete a discussão do que seja a família, uma vez que

as três dimensões clássicas de sua definição (sexualidade, procriação e

convivência) já não têm o mesmo grau de imbricamento que se acreditava em

outros tempos.

A família é provedora de cuidados aos seus membros, precisa também de cuidados e proteção do Estado. O reconhecimento da importância da família no contexto da vida social, está explícito no art.226 da Constituição Federal de 1988. Esta, por sua vez, endossa o art. 16 da Declaração dos Direitos Humanos, que define a família como núcleo natural e fundamental da sociedade, com direito à proteção da sociedade e do Estado. (PNAS,2004).

Ainda que haja o reconhecimento explícito sobre a importância da

família na vida social e, portanto, merecedora da proteção do Estado, tal

proteção tem sido cada vez mais discutida, na medida em que a realidade dá

sinais cada vez mais evidentes de processos de penalização e desproteção

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das famílias brasileiras. (PNAS, 2004).

Nesta perspectiva, podemos dizer que ainda que haja o reconhecimento

explícito sobre a importância da família na vida social e, portanto, merecedora

da proteção do Estado, tal proteção tem sido cada vez mais discutida, na

medida em que a realidade dá sinais cada vez mais evidentes de processos de

penalização e desproteção das famílias brasileiras. (PNAS, 2004).

É o núcleo familiar o espaço insubstituível de proteção e socialização

primárias, independentemente dos formatos, modelos e arranjos que ele tem

assumido com as transformações econômicas, sociais e culturais

contemporâneas. O novo cenário tem remetido, inclusive, a discussão do que

seja hoje a família. Podemos dizer que, estamos diante de uma família quando

encontramos um conjunto de pessoas que se acham unidas por laços

consanguíneos, afetivos e, ou, de solidariedade. Para a compreensão desse

conceito de família, supera-se a referência de tempo e de lugar. A família

brasileira vem passando por transformações ao longo do tempo.

Essas mudanças, que envolvem pontos positivos e negativos, romperam

um processo de fragilidade dos vínculos familiares e tornaram as famílias mais

vulneráveis.

A abordagem da história familiar e da responsabilidade pela gravidez e

pelos cuidados coma criança indica que, a questão de gênero é uma das

problemáticas que ocasionam a perda dos vínculos familiares ao poder

judiciário.

O enfrentamento das questões sociais depende de medidas políticas

amplas, que gerem resultados a médio ou a longo prazo.

Cabe ressaltar, ainda que queremos nos referir também ao princípio da

centralidade da adoção nos interesses da criança e do adolescente. Este é um

momento indiscutível e, aparentemente, já assimilado pelo conjunto dos

operadores de justiça, que têm a responsabilidade de atuar nas situações de

adoção. A questão que se apresenta está formulada a partir do referido

princípio: “uma família para uma criança”, e não “uma criança para uma

família”, ou seja, criança e família deveriam estar unidas pelo mesmo objetivo:

convivência familiar, sendo essa convivência construtiva para que as mesmas

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se adotem mutuamente.

Na questão em estudo, a perda do poder familiar e o encaminhamento de uma criança para o abrigo ou para adoção funciona, ainda que de forma “invisível”, como mecanismos e punição pela situação de pobreza vivida, responsabilizando as pessoas, individualmente, por não usufruírem de condições dignas de cidadãos. O recurso ao judiciário esconde a obrigação do Estado (poder executivo) de prover o atendimento integral às necessidades das crianças, criando programas de saúde (incluindo a saúde reprodutiva e a orientação sexual, até para evitar a gravidez não desejada), educação, alimentação, habitação, apoio à gestante , à mãe solteira, dentre outros, que possibilite aos sujeitos modos de enfrentamento da violência decorrente da miséria. Programas que ofereçam alternativas para que a criança tenha um crescimento e um desenvolvimento sadio, evitando, assim, que a situação de pobreza vivida pela família dê margem à interpretação do abandono moral e material.(FÁVERO,2001;193).

Ainda que haja o reconhecimento explícito sobre a importância da

família na vida social e, portanto, merecedora da proteção do Estado, tal

proteção tem sido cada vez mais discutida, na medida em que a realidade dá

sinais cada vez mais evidentes de processos de penalização e desproteção

das famílias brasileiras. (PNAS, 2004).

No que diz respeito à intervenção do assistente social, é imprescindível

que este profissional busque resgatar a história de vida, a história sociocultural

da criança e/ou do adolescente e da família, de forma que a decisão judicial

tenha como base a compreensão dos diversos elementos da totalidade que

compões o real e não modelos e posturas que, por vezes, deixam implícitos

um poder absoluto sobre a vida do outro.

Tentar ser um profissional propositivo, no sentido de “desenvolver sua

capacidade de decifrar a realidade e construir propostas de trabalho criativas e

capazes de preservar direitos, a partir de demandas emergentes no cotidiano”,

como aponta Iamamoto (1998,p.20).

É de fundamental importância na formação dos assistentes sociais, que

se dê maior atenção a estudos sobre família, relações de gênero e

metodologias de intervenção social nessas esferas da prática profissional.

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Os relatos deste trabalho sedimentaram a posição de que a adoção seja

uma medida para atender as situações nas quais esteja clara a necessidade

de interrupção do vínculo parental em prol do bem estar da criança juntamente

com uma família.

Para finalizar – ou para dar uma pausa em um trabalho ainda inicial –

posso dizer que, ao pesquisar os autos, ainda que tivesse anteriormente

passado por um curto tempo em contato com essa realidade, me senti

inquieta, tensa e por vezes quase descrente de outras possibilidades de ação.

Muitos foram os questionamentos surgidos a partir dessa temática.

Alguns ficaram sem respostas, por motivos operacionais. Mas acredito que a

riqueza da pesquisa está justamente no reconhecimento, muitas vezes,

inquietante de que o objeto desse trabalho desenhado toma novos contornos

quando dele se aproxima o pesquisador, e que a realidade nunca poderá ser

compreendida em sua totalidade, mas podemos sim, como pesquisadores

desenvolver estratégias de aproximação e análise.

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