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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NO
PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA
CRIANÇA.
Por: Lidiane Silva de Sant’ anna
Orientador
Prof. Edla Trocoli
Rio de Janeiro
2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
A IMPORTÂNCIA DA CONTAÇÃO DE HISTÓRIA NO
PROCESSO DO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA
CRIANÇA.
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada
como requisito parcial para obtenção do grau de
especialista em Educação Infantil.
Por: Lidiane Silva de Sant’ anna.
AGRADECIMENTOS
À Deus que me deu a oportunidade
de estar com saúde para estudar.
Aos meus pais pelo incentivo de sempre.
Aos excelentes professores da AVM.
A orientadora Edla Trocoli.
DEDICATÓRIA
Dedico aos meus pais.
“Os contadores de histórias são guardiões
de tesouros feitos de palavras, que
ensinam a compreender o mundo e a si
mesmos. Eles semeiam sonhos e
esperança.”
Gislayne Avelar (2005)
RESUMO
O presente trabalho acadêmico tem como temática a importância da contação de
história no processo do desenvolvimento cognitivo da criança, ressaltando a
realidade pedagógica da rede pública e municipal de Belford Roxo. É possível dizer
que a contação de histórias tem um papel muito importante na vida escolar e social
do aluno, visto que é através das histórias que as crianças conseguem recriar o
mundo real, e é vivendo os personagens que eles conseguem desenvolver a sua
personalidade e a controlar as emoções. A linguagem é tema central deste trabalho,
pois é através dela que a criança se expressa e se comunica, por isso a relevância
de se estimular a linguagem neste espaço de ensino. Desse modo, utilizou-se uma
pesquisa de campo de caráter exploratório e qualitativo, bem como uma pesquisa
bibliográfica, tendo como instrumento de coleta de dados uma proposta de atividade
que permitiu crianças de 3 a 5 anos a contarem histórias à sua maneira, e em um
segundo momento foi feita uma entrevista com duas perguntas bases para um grupo
de sete profissionais da educação a cerca da importância de um Dinamizador na
Unidade. Diante de todas as informações contidas nesse estudo pode-se concluir
que a contação de histórias é uma estratégia pedagógica que trás influencias
positivas para as crianças, como o enriquecimento de vocabulário, a socialização, e
o controle de medos e angústias. Entretanto, cabe ressaltar que nem todas as
unidades escolares brasileiras possuem em seu quadro de funcionários um
Dinamizador de leitura e que ações pedagógicas que visem à capacitação deste
profissional e a adequação do ambiente escolar são fundamentais para um trabalho
de letramento com qualidade.
METODOLOGIA
Este trabalho se submete a uma pesquisa bibliográfica a cerca do
desenvolvimento cognitivo da criança e a importância da linguagem nesse contexto.
Além disso, também há um trabalho voltado à pesquisa de campo, através de
entrevistas, e gravação de diálogos envolvendo contação de história.
Crianças de três a cinco anos participam desta proposta e professores da
educação infantil da unidade escolar pública, Creche Municipal Raimundo Furtado
Magalhães, sediada no Bairro do Vasco, no Município de Belford Roxo.
Esses diálogos são importantes para exemplificarem, a teoria estudada a
cerca de como a linguagem se desenvolve positivamente nessa proposta da rede
municipal em garantir um professor em seu quadro de funcionários para sala de
leitura.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO INFANTIL: DA VISIBILIDADE À RELEVÂNCI A PARA O
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
1.1 – O PAPEL DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL
1.2 – A IMPORTÂNCIA DE UM “OUTRO OLHAR” SOCIAL E PEDAGÓGICO
CAPÍTULO II - A LINGUAGEM E SUA HISTORICIDADE
2.1 – A LINGUAGEM E AS CONTRIBUIÇÕES DE BAKTIN E VYGOTSKY
CAPÍTULO III – O PAPEL DO DINAMIZADOR DE LEITURA
3.1 – A IMPORTÂNCIA DA SALA DE LEITURA COMO ESPAÇO DIALÓGICO
3.2 – O DIÁLOGO COM A EQUIPE DE PROFSSIONAIS DA EDUCAÇÃO CONCLUSÃO
BIBLIOGRAFIA
ANEXOS
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
De acordo com o trabalho realizado na Creche Municipal Raimundo Furtado
Magalhães a cerca dos estímulos a serem aplicados no campo da leitura, e neste
caso, no processo de desenvolvimento do letramento, uma vez que na educação
infantil o trabalho pedagógico é voltado para o interesse das crianças pelo “mundo
letrado”, pela apreciação do livro e de diferentes tipos de textos que os discentes se
deparam no cotidiano, faz-se relevante aprofundar em como a contação de história
pode ajudar nesse processo como ferramenta facilitadora.
A prefeitura municipal de Belford Roxo possui em seu quadro de funcionários,
a função de professor de sala de leitura, que deve dinamizar um trabalho
diferenciado, voltado para o estímulo da leitura, através da contação de história de
diversas formas, seja através de fantoches, poesias, músicas, livros, jornais,
dramatizações, caixas mágicas, dentre outras maneiras.
O trabalho visa responder a seguinte pergunta: Como desenvolver dentro do
ambiente escolar um ambiente propício a contação de histórias? Sabe-se que o
ambiente escolar deve estar adequado às atividades que o professor Dinamizador
precisa desenvolver. Além do acervo bibliográfico que necessita estar acessível aos
alunos, e ser de boa qualidade, os móveis também precisam estar adequados ao
tamanho e as necessidades dos alunos. O ambiente precisa ter um espírito de
colaboração com os demais professores e funcionários da Unidade Escolar.
Logo, é preciso investir na capacitação de profissionais da educação que
estejam envolvidos no processo do desenvolvimento cognitivo da criança a fim de se
conseguir atingir o maior quantitativo possível de crianças com interesse pela leitura.
O objetivo geral da pesquisa é compreender a importância da contação de
história dentro do processo de ensino-aprendizagem na etapa da educação infantil.
E a principal finalidade é apontar as características de um ambiente escolar propício
ao desenvolvimento de um trabalho pedagógico eficaz voltado para a leitura,
desdobrando-se sobre o desenvolvimento do pensamento e da linguagem a partir da
teoria construtivista.
A importância deste trabalho se reflete em como contar histórias, porque
permeia um universo muito complexo, que tem o princípio no imaginário da criança.
Enveredando-se no pensamento da criança podemos entender como ela se institui
10
enquanto sujeito, enquanto indivíduo, como ela se vê no seu grupo social e
finalizando na linguagem desse sujeito, que se expressa e participa coletivamente
deste processo de ensino-aprendizagem.
O primeiro capítulo do presente trabalho aborda a educação infantil como uma
etapa de socialização, onde a criança aprende a conviver em grupo, vivenciando
seus direitos e deveres através de brincadeiras. Além disso, desenvolve as áreas:
psicomotora e cognitiva, e para isso a escola precisa garantir um espaço adequado
às suas necessidades.
O capítulo afirma que de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB), a educação infantil é admitida como primeira etapa da educação
básica, mas que nem todos os alunos passam por essa fase, uma vez que ela não é
obrigatória. Mesmo sendo considerada a base para futuras aprendizagens mais
complexas, principalmente para o processo de alfabetização.
O segundo capítulo apresenta a importância da linguagem no contexto sócio-
histórico dos indivíduos, pois é através da linguagem que a criança se expressa e
comunica suas ideias e sentimentos. É preciso então passar a ver a criança como
sujeito do seu próprio conhecimento, ela pode agir, escolher e opinar no seu
processo de aprendizagem e não ser um figura passiva.
A autora Solange Jobim faz uma análise muito enriquecedora do pensamento
dos autores: Baktin e Vygotsky a cerca da linguagem. A contribuição deles se
completa a partir do momento em que entendem a língua como um ato vivo,
dialógico e que leva em consideração a necessidade da socialização, uma vez que o
indivíduo também se entende a partir do olhar do outro.
O terceiro capítulo aborda a função e o perfil do Dinamizador de Leitura, e
como ele desenvolve seu trabalho na Prefeitura Municipal de Belford Roxo. O
professor Dinamizador é responsável por difundir a leitura e utiliza o espaço de sala
de leitura como uma possibilidade de diálogo.
Neste capítulo, expõem-se a fala dos alunos na oportunidade deles próprios
fazerem a contação de histórias e a visão dos educadores a cerca da importância de
um Dinamizador no espaço escolar.
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CAPÍTULO I
EDUCAÇÃO INFANTIL: DA VISIBILIDADE À RELEVÂNCIA
PARA O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
É relevante saber como compreendemos uma criança para entender como a
tratamos. Se a concebemos como um sujeito de direitos, durante a sua formação,
dentro do espaço escolar, tendemos a deixar que ela apresente sua opinião na
escolha das atividades, faça intervenções e que participe ativamente na construção
do seu conhecimento.
Porém, se nós não entendemos a criança por esse viés, pode-se
comprometer um período fundamental na vida deste ser, pois estaremos formando
indivíduos passivos, conformistas, que não se sentem como parte do processo de
ensino-aprendizagem, e consequentemente, formando adultos alienados de sua
prática social.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº
9.394, de 20 de dezembro de 1996), em seu artigo 29:
A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.
A educação infantil não pode passar despercebida pela vida escolar de um
indivíduo, muito menos, não fazer parte do seu histórico. É uma etapa de muita
importância porque desenvolve de maneira completa a criança, explorando os seus
sentidos, e estimulando-a para futuras aprendizagens mais complexas.
Se a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional admite a educação
infantil como primeira etapa da educação básica, por que permitir que alunos pulem
esta etapa? Por que não torná-la obrigatória?
A criança que não cursa a educação infantil apresenta maior dificuldade em
adquirir novos conhecimentos quando inicia diretamente no ensino fundamental.
Existem muitas pesquisas comprovando que, diversas vezes, encontramos alunos
no ensino fundamental com dificuldade de aprendizagem, inclusive no processo de
alfabetização.
12
E isso não quer dizer que estejamos voltados a uma preocupação
conteudísta, mas uma preocupação em como se deu o processo do
desenvolvimento cognitivo desta criança.
Um aluno que não vivenciou a educação infantil pode, por exemplo,
apresentar dificuldade até mesmo em segurar o lápis, pois a sua coordenação
motora fina não foi estimulada tanto quanto a de um aluno que frequentou a
educação infantil.
As experiências adquiridas nesta etapa são a base não só para sua vida
escolar, mas também para sua vida social. A convivência com o grupo estimula o
olhar para aquilo que é diferente. A escola é um espaço de encontro de diferentes
culturas, e por isso é capaz de proporcionar desde cedo oportunidades de
crescimento intelectual, emocional e social.
Na educação infantil, a partir do momento em que se ensina uma criança a
dividir ou a emprestar um brinquedo, estamos formando a base de um cidadão.
Os direitos e deveres presentes na Constituição Federal são vivenciados, de
forma muito menos complexa, mas não sem importância, nas brincadeiras.
Logo, o brincar não pode ser encarado como uma atividade sem fim, e sim
como uma forma lúdica de ensinar a criança os limites, os valores éticos e morais, o
tempo e espaço, sua identidade, dentre outros.
Desta forma, é preciso que a educação infantil seja valorizada, as creches
devem garantir estrutura física que comporte as necessidades das crianças, como
adequação nos banheiros, adequação dos materiais à faixa etária, do mobiliário ao
tamanho delas: mesas, cadeiras, estantes e outros.
E também garantir que ela possa desenvolver a área sócio-afetiva,
psicomotora e cognitiva, para isso deve-se respeitar o tempo de cada criança
aprender, respeitar a individualidade, assim como estimular a convivência em grupo,
e propor atividades lúdicas. Podemos ressaltar que:
A formação biologista de Montessori permite-lhe ver que a criança é diferente do adulto e que a diferença fundamental consiste no fato de que ela está sempre em crescimento e em metamorfose, enquanto o adulto atingiu o estágio normal da espécie. (OLIVEIRA, 2007, p.117).
Maria Montessori desenvolveu um trabalho que teve grande contribuição para
a Pedagogia da Infância, pois ela conseguiu mostrar um olhar diferenciado para
13
essa etapa dos primeiros anos de vida, e provar que o crescimento não se dá de
forma única e nem unidirecional, provando assim que essas mudanças durante o
crescimento precisavam de um estudo específico. Logo:
Descobrimos que a educação não é aquilo que o professor dá, mas é um processo natural que se desenvolve espontaneamente no indivíduo humano; que não se adquire ouvindo palavras, mas em virtude de experiências efetuadas no ambiente. A atribuição do professor não é a de falar, mas de preparar e dispor uma série de motivos de atividade cultural em um ambiente expressamente preparado. (OLIVEIRA, 2007, p.121).
Para que a criança cresça e se desenvolva psicologicamente e fisicamente é
preciso que haja intencionalidade nas ações, é preciso que o trabalho pedagógico
seja bem estruturado, elaborado para que ao propor atividades, o professor saiba o
porquê daquela proposta e qual objetivo se quer atingir, de que maneira ele estará
contribuindo para o desenvolvimento da criança.
No entanto, se o espaço físico escolar não está preparado, adaptado para
receber a proposta do professor, fica inviável oferecer um trabalho pedagógico com
qualidade.
1.1– O papel do professor da educação infantil
O professor na educação infantil precisa ter um olhar diferenciado dos
professores dos demais segmentos da educação, porque é nos mínimos detalhes
que percebemos na criança pequena aspectos cognitivos, sócio afetivos, motores
que podem apresentar alguma dificuldade ou habilidade da criança.
Observar as brincadeiras, os comportamentos são fundamentais para a
construção dos relatórios descritivos, lembrando que cada criança tem a sua
individualidade e por isso as necessidades também são particulares.
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que-fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando o Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade (FREIRE, 1996, p.29).
Não basta achar que, se uma aluna adquiriu entendimento de uma atividade,
por exemplo, em assimilar as cores e reconhecê-las nas primeiras aulas dadas, que
14
também surtirá o mesmo efeito com os outros, cada criança tem o seu tempo e o
seu modo de aprender. E a experiência que cada uma trás consigo também interfere
nesse processo, às vezes essa aluna recebeu estímulo dos seus familiares em casa
e por isso reconheceu as cores com maior facilidade, porque já faz parte da
realidade dela.
Algumas crianças têm maior habilidade nas atividades táteis, manuais, outras
preferem as sonoras, e ainda há aquelas que preferem as visuais.
Este é mais um momento em que o papel do professor tem grande valia no
processo de ensino-aprendizagem, porque ele é a pessoa que vai estimular uma
criança que, por exemplo, só quer brincar de massinha, a também experimentar
brincar de imitar os animais, de dançar, de ouvir um som e repeti-lo.
A criança não pode ficar limitada a um sentido, o professor precisa fazer com
que essa criança vivencie, experimente outras atividades que ainda não fazem parte
do seu repertório, a criança é um ser em desenvolvimento e para se desenvolver
precisa de um leque de possibilidades.
Isto também não quer dizer que quantidade substitui a qualidade, o professor
precisa ter em mente que o planejamento envolve justamente esse
comprometimento com a qualidade, com a importância das atividades e seus
objetivos adequados à faixa etária.
O professor pesquisador, que tem dentro de si a inquietude, que não está
acomodado, ele se questiona o tempo todo, principalmente sobre a sua prática
pedagógica.
Nesse contexto é que a pesquisa ganha real destaque, porque só
pesquisando, adquirindo novos conhecimentos, que o professor será capaz de fazer
intervenções. Muitos acham que a experiência de sala de aula é suficiente para um
trabalho bem sucedido, mas enganam-se.
A contemporaneidade chegou com muitas novidades, submersa por um
mundo imagético, a imagem tem “falado” alto e a escola perpassa por essas
situações. A televisão, a internet, os celulares, os tablets têm influenciado
diretamente na vida dos pequenos, eles chegam nas creches e pré-escolas com
uma habilidade, uma facilidade virtual, que muitos adultos não conseguem
acompanhar.
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Essa facilidade em lidar com as imagens, com a interatividade dos meios de
comunicação torna a criança, muito antes de ingressar no mundo escolar ou até
mesmo concomitantemente, um indivíduo interativo, comunicativo e ágil nas suas
respostas.
Eles são capazes de absorver uma quantidade grande de informações, de
fazer duas coisas ao mesmo tempo, de ter um pensamento mais rápido. E esse
cenário até pouco tempo não fazia parte da realidade do professor.
E com o docente da educação infantil não pode ser diferente. Ele precisa
estar capacitado para receber essas crianças, e se aproveitar dessas habilidades e
direcioná-las para um foco pedagógico.
Entretanto, também deverá ter competência para estimular aquele aluno que
não tem o mesmo poder aquisitivo, que enfrenta problemas familiares graves em
relação ao alcoolismo, drogas, agressões físicas e psicológicas e por isso
apresentará maior dificuldade de concentração nas aulas.
Alunos que não recebem incentivos em casa, pelos pais, ficam
desestimulados e por vezes, demasiadamente agitados, querendo chamar a atenção
do professor ou acuados, quietos, e sem a devida participação nas atividades.
O olhar do professor perpassa a sala de aula, todas estas adversidades que o
aluno trás consigo, precisam ser relatadas e encaminhadas à equipe técnico-
pedagógica responsável por alertar esses pais sobre a vida escolar do aluno.
1.2 – A importância de um “outro olhar” social e pedagógico
Podemos perceber como a sociedade, muitas das vezes, não respeita a fase
da “infância” e não permite que a criança vivencie essa etapa tão importante para
seu desenvolvimento.
Essa falta de respeito, segundo Sarmento, se dá principalmente por causa da
não visibilidade social, que não é uma questão puramente física, mas ideológica,
intelectual e política.
Por muito tempo a infância não foi vista pela sociedade. A criança na verdade
era um adulto em miniatura, suas vestimentas não eram específicas a sua faixa
etária, mesmo porque o índice de mortalidade infantil era muito alto devido às
enfermidades da época. Sendo assim:
16
“O interesse histórico pela infância é relativamente recente. A referência histórica à infância aparece muito tardiamente, e essa é, aliás, uma das razões que levaram P. Ariés a afirmar a inexistência do “sentimento da infância” até ao dealbar da modernidade. Apenas referências autobiográficas – onde a infância aparece evocada pelo filtro, frequentemente crítico, do adulto que se conta – e registros dispersos em testamentos, diários, documentos funerários ou evocações novelísticas assinalam a presença de crianças no passado. (SARMENTO, 2007, p.26)
Podemos entender que a ideia de infância não existiu sempre da mesma
maneira, as visões de infância são construídas social e historicamente, uma vez que
entendemos que não existe uma única infância, ou seja, uma infância padrão,
porque o desenvolvimento de cada sujeito é particular, as culturas influenciam nesse
olhar para a infância, porque cada uma interfere na infância à sua maneira.
A escola é um espaço de cruzamento de culturas, as crianças e os
educadores convivem com hábitos e costumes diferentes e precisam chegar a um
denominador comum: a educação.
Cada cultura entende a infância de uma forma, a legislação brasileira
compreende a criança como um sujeito de direitos, e para garantir esses direitos,
além da Constituição Federal e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação, também
existe o Estatuto da Criança e do Adolescente.
As teorias educacionais vêm por completar esse entendimento legal. É nesse
ponto que o construtivismo também trás contribuições para este trabalho, a teoria de
Lev Vygotsky consiste-se na interação do homem com o social, com aquilo que lhe é
exterior e a partir da apropriação da realidade externa construir o seu próprio “eu”.
Na educação infantil, as crianças convivem o tempo todo em grupo, e é na
troca com o outro que a criança se descobre, e a fala com o outro, o brincar com o
outro, proporciona um outro olhar para si mesmo.
Lev Vygotsky estuda a relação entre pensamento e linguagem, como se dá o
surgimento destes e como se unem no decorrer do desenvolvimento psicológico da
criança, leva em consideração o desenvolvimento cultural a partir da passagem do
nível inter-individual das relações humanas, para o nível intra-individual, ou seja, eu
só consigo me entender, a partir do olhar que o outro também tem de mim.
O autor trabalha psicologicamente com a gênese da linguagem, para ele o
processo de internalização dos signos, ou seja, a história e os gestos constituem o
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homem e formam sua consciência. Os sentidos que o indivíduo atribui a uma palavra
revelam os sentimentos e experiências previamente estabelecidos.
Assim, o mundo do faz-de-conta, da contação de história, do imaginário da
criança é preciso ser investigado, no sentido de aprender como essa criança vem
internalizando as palavras e como ela está se apropriando delas.
Isso quer dizer que antes de fazer parte do campo linguístico, a criança faz
parte da comunicação, a percepção do som prioriza o contato social, gradativamente
é que surge a questão da semântica (os significados) por isso o cultural é
determinante para o psicológico, compreendemos o mundo e a nós mesmos a partir
do intercâmbio e diálogo que estamos estabelecendo com o mundo.
Lev Vygotsky aposta na comunicação homem com a natureza, do indivíduo
com o mundo físico e social, para se chegar à linguagem complexa, leva em
consideração as expressões, aqueles detalhes encontrados no modo como se fala e
gesticula, pois é uma forma de se perceber um contato dialógico com o exterior não
só pela fala, pela palavra pronta, mas pela integração do corpo todo com o mundo.
Ao observarmos as crianças brincando, podemos ver que há a necessidade
dela sair do campo individual para o coletivo. Inicialmente, podemos vê-las
brincando sozinhas e depois a necessidade de dividir com o colega a sua
brincadeira. É um processo natural de socialização, e através da fala a criança se
comunica, expressando naturalmente o significado daquela brincadeira para ela e
que pode ser ou não a mesma ideia que o colega teve.
Nessas atividades, de brincar com bonecos, em duplas ou em grupos, e criar
uma história, as crianças aprendem a esperar sua vez de falar, respeitar a opinião
dos colegas e a ouvir o que os outros falam.
Os maiores já conseguem ter coragem para se colocar em público, por
exemplo, quando o professor pede que ele conte para os demais alunos da sala, na
rodinha, do que estava brincando.
Ao falar das suas ações e desejos, reproduzir fatos e histórias ouvidas com
suas próprias palavras, eles estão desenvolvendo a percepção visual, auditiva e tátil;
a coordenação de movimentos, a imaginação, a socialização, o vocabulário, a
memória, a expressão gestual, oral e plástica e a compreensão da sequência de
fatos (noção espaço-temporal).
18
Até mesmo nas brincadeiras podemos perceber qual o papel que a criança
ocupa na sociedade, se é um papel de submissão, ou se é de insubordinação. Se
ela se impõe o tempo todo, ditando as regras, nesse quadro, muitas das vezes, é o
papel que ela ocupa em casa, de ser o centro das atenções e também é um quadro
de uma criança que precisa de ajuda.
Nestes casos, o professor precisa fazer papel de mediador, porque essa
criança necessita entender que ela também precisa ouvir. Inclusive é uma prática
pedagógica que o próprio profissional da educação precisa ter.
Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo, sobretudo, como se fôssemos os portadores da verdade a ser transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é escutando que aprendemos a falar com eles. Somente quem escuta paciente e criticamente o outro, fala com ele, mesmo que, em certas condições, precise falar com ele, mesmo que, em certas condições, precise de falar a ele. O que jamais faz quem aprende a escutar para poder falar com é falar impositivamente. Até quando, necessariamente, fala contra posições ou concepções do outro, fala com ele como sujeito da escuta de sua fala crítica e não como objeto de seu discurso. O educador que escuta aprende a difícil lição de transformar o seu discurso, às vezes necessário, ao aluno, em uma fala com ele. (FREIRE, 1996, P.113)
É muito importante ter um olhar diferenciado para a educação infantil, pois é o
espaço que permite a criança a se desenvolver cognitivamente e socialmente,
lembrando que socialização não é estar junto, é algo mais complexo, precisa de
interação, participação.
E é possível tornar o espaço escolar um espaço de socialização, tendo o
professor como o mediador das ações, do diálogo, da construção desse espaço
acolhedor, de grandes possibilidades, de despertar interesses, principalmente,
interesses ligados à linguagem, a comunicação com o outro, através de brincadeiras,
danças e de contação de histórias.
19
CAPÍTULO II
A LINGUAGEM E SUA HISTORICIDADE
A linguagem é produto do ser humano, e a importância dela para a existência
humana é, sem dúvida, imensurável. Segundo BECHARA (2005, p.28) “Entende-se
por linguagem qualquer sistema de signos simbólicos empregados na
intercomunicação social para expressar e comunicar ideias e sentimentos, isto é,
conteúdos da consciência.”.
Não estamos falando somente da linguagem verbal, mas da linguagem não-
verbal, não estamos preocupados apenas com o que a criança fala, mas também
com o que ela sente, pensa, compreende e como se expressa. Porque a criança
ainda não se impregnou do falar e agir do homem adulto, da mesmice, ela é
espontânea, pelo menos no início do processo da aprendizagem.
Segundo o autor “linguagem é sempre um estar no mundo com os outros, não
como um indivíduo particular, mas como parte do todo social, de uma comunidade.”
(p.28, 2005).
Com o passar do tempo a criança tende a interiorizar a fala do outro, o que o
outro pensa sobre ela mas, a priori, a criança vive no mundo dela, ela sequer faz a
distinção entre o seu pensamento interior e o exterior, às vezes ela fala sozinha, ela
“pensa alto”. Quando ela começa a perceber esta diferença é porque já está inserida
na concepção adulta de tempo e espaço.
A autora Solange Jobim, psicóloga e professora, entende a criança como
sujeito do conhecimento. Ela permite que a criança se expresse, indagando e
perguntando durante o processo de aprendizagem, ou seja, a criança não é apenas
produto do mundo, ela participa ativamente deste, não está alienada do que
acontece à sua volta, no meio no qual está inserida, desta forma, como discursam
na contemporaneidade.
Ser sujeito é ter o direito de se colocar como autor das transformações sociais. Uma vez que a linguagem é o que caracteriza e marca o homem, trata-se de restaurar nas ciências humanas o seu valor como constituidora do sujeito e da própria realidade. É na linguagem, e por meio dela, que construímos a leitura da vida e da nossa própria história. Com a linguagem somos capazes de imprimir sentidos que, por serem provisórios, refletem a
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essencial transitoriedade da própria vida e de nossa existência histórica. (JOBIM, 1994, p.21)
É no texto, na fala da criança que nos revela o mal-estar na cultura, através
da experiência dela nos deparamos com aquilo que entendemos como natural e na
verdade, foi construído histórico-socialmente.
Se, por um lado, o ser humano é fundamentalmente orgânico em sua estrutura, por outro lado, no seu desenvolvimento, sua marca principal é a cultura. Essa ênfase toda especial nos traços culturais coloca a linguagem em destaque. A partir do modelo histórico-cultural, a linguagem começa a ser percebida como fundadora de uma nova relação do homem consigo mesmo e com o mundo. Essas duas dimensões humanas – linguagem e história – estão no cerne de uma nova consciência do homem. (JOBIM, 1994, p.33)
O significado da palavra linguagem e todo o sentido desta palavra trás uma
enorme significância para este trabalho, uma vez que o desenvolvimento cognitivo
da criança se dá de maneira mais ou menos progressiva de acordo com a
apropriação que a criança faz da linguagem.
É através da linguagem que a criança adquire os hábitos culturais da
sociedade em que vive, os valores éticos e morais e principalmente, adquire a
historicidade do local em que vive, e assim se torna parte.
2.1 – A linguagem e as contribuições de Baktin e Vygotsky
Os dois autores, Mikhail Mikhailovitch Bakhtin e Lev Semenovich Vygotsky
defendem o histórico e o político do homem e da criança, este é um traço importante
e comum entre eles, mas Bakhtin tende a seguir seus estudos no campo da
linguagem e Vygotsky estabelece uma psicologia crítica, os dois trazem
contribuições significativas e enriquecedoras a cerca da linguagem.
Bakthin de origem russa, (filósofo e pensador) foi um teórico da linguagem,
ele entende a linguagem de uma forma diferente das duas perspectivas teóricas
mais hegemônicas de sua época. Sua teoria se opõe ao objetivismo abstrato e ao
subjetivismo idealista.
O objetivismo abstrato é pensar a língua a partir das normas que definem as
suas formas de funcionamento, é pensar a língua não como instrumento vivo, mas
21
como algo morto, dicionarizado. Objetivismo porque se define a língua pela maneira
como se deve usá-la corretamente e pragmaticamente.
O subjetivismo idealista é o oposto, para estudar a língua, é preciso estudar
primeiro o sujeito do discurso, mas estuda-lo de forma abstrata.
Tanto o objetivismo abstrato como o subjetivismo idealista faz do estudo da
língua uma forma de reducionismo. A primeira reduz a língua às regras do
funcionamento da mesma e a outra reduz a língua as leis psicológicas que regem o
funcionamento dos atos de fala.
Bakhtin tenta compreender a linguagem a partir do contraponto da visão
monológica e dialógica. A primeira está voltada para a ciência, quando esta voltasse
para si mesma, tornasse um discurso morto, está interessada apenas nos fatos. E a
segunda é voltada para a fala do outro, carregada de passado, uma experiência
coletiva.
Segundo o autor, os monólogos mortos são as compreensões da língua de
forma estancada, de forma acabada e absoluta. O monólogo morto é o discurso da
ciência, é a língua que você encontra arquivada. Porém, a concepção do autor é a
concepção de uma língua falada, viva e ininterrupta da fala, compartilhada,
experimentada, a dita cotidianamente. Os atos de fala existem numa corrente onde
não existe nem a primeira, nem a última palavra. Para Bakhtin a palavra é um índice
de conflitos sociais, está impregnada de textos anteriores e posteriores, ele é a favor
do diálogo vivo.
A língua, como fato social, supõe para qualquer enunciado um direcionamento, quer dizer, o fato de orientar-se sempre para um outro. Sem isso um enunciado não pode existir. Não há diálogo entre elementos abstratos da linguagem, quer dizer, entre sentenças, mas somente entre pessoas. (JOBIM, 1994, p.110)
Tudo aquilo que uma pessoa diz tem como referência um universo de coisas
já ditas, já vivenciadas. A língua só vai ser compreendida como algo vivo a partir do
caráter ideológico, a partir do valor, do sentido que aquela palavra, frase ou discurso
revela. Ela tem que ser compreendida como expressão de um certo momento da
vida daquele que fala. Fala que está em um contexto específico, de uma vivência
específica.
Esse é o conteúdo ideológico vivencial que Bakhtin quer resgatar, a sua teoria
da linguagem então contempla uma teoria ideológica, o que pressupõe que para
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entender a língua, temos que tomar como unidade fundamental da língua as
interações verbais, os diálogos. Essa que é a questão que está em jogo na reflexão
que Bakhtin propõe, a unidade da língua é a interação verbal e extra-verbal. A língua
é constituída de várias linguagens e essas várias linguagens elas se nutrem daquilo
que é extralinguístico.
[...] Quanto mais falo e expresso minhas ideias, tanto melhor as formulo no interior de meu pensamento. O aperfeiçoamento, a diferenciação e o aprimoramento de qualquer conteúdo ideológico ocorrem no processo de expressão e externalização desses conteúdos na interação verbal. (JOBIM, 1994, p.112)
No ato da fala não está presente somente o caráter verbal, mas o caráter
expressivo, quando se fala uma coisa agradável se faz uma certa expressão,
quando se fala uma coisa triste se faz uma outra expressão, então é esse o aspecto
extralinguístico que nutre os atos da fala. A linguagem não existe apenas como
interação verbal, mas existe como interação com o extra-verbal, tudo aquilo que não
é dito mas é expresso, é expresso na face, no gesto, é expresso no corpo de quem
diz, de quem fala.
Com isso, podemos afirmar que a atividade mental do sujeito, assim como sua expressão exterior, se constitui a partir do território social. Em consequência, todo o itinerário que leva a atividade mental (conteúdo a exprimir) à sua objetivação externa (enunciação) situa-se completamente em território social. A personalidade que se exprime revela-se um produto total da inter-relação social. (JOBIM, 1994, p.113)
Vygotsky , psicólogo e filósofo russo, na década de 30 recupera as raízes da
aprendizagem significativa, oferecendo à educação a perspectiva socioconstrutivista
da aprendizagem. Para o autor, as funções psicológicas superiores são fruto do
desenvolvimento cultural, e não do desenvolvimento biológico.
É a aprendizagem que sustenta o desenvolvimento humano, não o inverso. A
formação de processos superiores de pensamento se dá pela atividade instrumental
e prática, em interação e cooperação social.
Vygotsky não deixou de considerar a importância da fala egocêntrica para o
surgimento do pensamento. A fala egocêntrica, é a fala voltada para o próprio
indivíduo. A criança utiliza a fala para organizar e dirigir as suas próprias ações.
Antes da criança aprender que o pensamento é uma estrutura que diz
respeito a experiência interiorizada, ela compartilha mesmo que involuntariamente,
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uma fala que é dirigida apenas à própria ação dela com as pessoas que estão mais
próximas, ela não consegue distinguir o que é da ordem do pensamento e o que é
da ordem da fala, por isso que existe a fala egocêntrica.
Quanto mais dificuldade ela encontra para resolver um problema mais ela vai
usar a fala egocêntrica. Então, para Vygotsky, a fala egocêntrica é o instrumento que
vai garantir o acesso ao pensamento, uma vez que o pensamento não pode ser
pesquisado em si mesmo.
A partir da fala egocêntrica da criança, você entende de maneira indireta o
processo genético pelo qual o pensamento passa a ser constituído como fala
interior.
A criança aprende a fazer isso com o tempo, e não com o tempo puro e
simplesmente, é devido à exposição da criança a atividades completamente
compartilhadas. Por exemplo, quando a criança está na escola, ela pode se
confundir, porque ela tende a repetir condutas que são naturais e espontâneas em
um contexto que tenha regras distintas das quais ela está acostumada. Então ela vai
agir de uma maneira desorganizada, mas a própria estrutura das atividades
escolares vai incidir sobre as atividades mentais dela e aí a fala egocêntrica vai
tender a diminuir.
O papel da escola no desenvolvimento intelectual e cognitivo da criança é
muito importante. Não é apenas o desenvolvimento intelectual da criança que
determina os rumos, o que ela deve aprender. Mas a maneira como o educador
ensina, organiza as atividades também impulsiona o processo de desenvolvimento
cognitivo, isso também tem haver com a questão da fala egocêntrica e da fala
interior. A criança fala para si mesmo em voz alta, porque ela não sabe a distinção
entre pensar e pronunciar em voz alta, quando ela aprender essa diferença, o
pensamento vai se aprofundar.
O pensamento se torna livre, autônomo, puro, a partir das reflexões. Para
Vygotsky isso significa que a experiência social tem muita importância para o
desenvolvimento da consciência, sua teoria desdobra-se sobre a genética, entre o
que é cultural e o que é psicológico.
Para Vygotsky a linguagem é o principal mediador simbólico, o autor rompe
com a psicologia clássica porque está preocupado com a história da transformação
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da relação entre pensamento e palavra, porque as estruturas não são estáticas, elas
se modificam e ele quer compreender essa modificação.
Segundo Vygotsky, o verbal não dá conta da linguagem, a língua enquanto
“vivo e compartilhado” tem haver com aquilo que não é verbal. Logo, o que é
psicológico não existe de maneira essencial no interior dos indivíduos, o que é
psicológico é suposto pelas relações em que desde cedo a criança está inserida, por
isso que o texto e fala da criança revela o mundo em que ela se encontra.
Quando diz que a visão de mundo é polifônica, quer dizer que várias vozes
se conflituam na composição daquilo que entendemos por realidade. Na fala da
criança, a voz da televisão, da escola, dos pais, do mercado, dos lugares que a
criança vive que está em jogo, tudo isso está interligado para compor o discurso da
própria criança.
Solange Jobim utiliza das ideias de Vygotsky para tratar do intra e inter-
psicológico na criança, como que as questões exteriores influenciam na sua
construção enquanto sujeito, como se dá esta apropriação. E é interessante como
percebemos os objetos de consumo ocupando uma posição privilegiada no dia a dia
do homem.
Quando a criança assume a vida do personagem, quando diz que gostaria de
morar em um shopping, nos alerta sobre o caminho que estamos tomando enquanto
sujeitos históricos, políticos e culturais. Ou seja, não podemos estabelecer uma
ruptura da linguagem com o mundo e com a vida, e reduzi-la apenas a um simples
veículo de comunicação entre homens.
A linguagem é muito mais que isso, você precisa do outro para interagir, para
trocar ideias e informações, a teoria construtivista se baseia nessa necessidade de
interação, de socialização para o crescimento intelectual do sujeito.
Por isso é preciso estar atento ao que a criança fala, porque uma vez
desprovida de intencionalidade, ela revela o comportamento dos adultos ao seu
redor, o que eles estipulam como certo e errado, quais os princípios e valores
estabelecidos no ambiente familiar. E através da fala ela também demonstra como
está se apropriando do ambiente escolar, como está estabelecendo vínculos com os
colegas e com o docente.
Não podemos esquecer que é por meio da linguagem que a criança constrói a
representação da realidade na qual está inserida, ela fala aquilo que vivencia, ela
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age, gesticula, de acordo com aquilo que tem experimentado, seja em casa, seja em
sala de aula, tudo o que ela observa, experimenta a transforma enquanto sujeito.
A linguagem no mundo moderno tem adquirido apenas um caráter
instrumental, dicionarizado, ligado à gramática, deixando de lado o caráter social e
histórico que se tinha nas sociedades arcaicas, como nas narrativas e nos diálogos.
Atualmente, a criança tem sido infantilizada como se ela não entendesse a sua
realidade e como se não fizesse parte do seu contexto social, o que Solange Jobim
discorda.
No campo da educação, a pesquisa tem uma função muito importante que é a
de perceber como as escolas têm participado na cristianização dos costumes, na
cultivação e preservação da criança infantilizada. A escola deve auxiliar na
experiência que temos de nós mesmos, no esclarecimento da massa, influenciar
positivamente no processo de letramento.
Uma criança não tornasse letrada pura e simplesmente pelo bom domínio das
letras, o letramento está para além do sentido da alfabetização, parte de uma prática
social que vai de encontro com a teoria sócio-construtivista de Vygotsky.
O aluno que vive em um ambiente propício a aquisição de leitura e escrita, e
se desenvolve em uma sociedade grafo-cêntrica, tende a ser alfabetizado de uma
maneira bem mais tranquila do que um aluno que não possui esse contato com a
leitura em seu ambiente familiar.
Além disso, o aluno que possui esse estímulo em casa tornasse um bom
conhecedor de mundo. Por exemplo, o contato com jornais, revistas, ou mesmo pais
que leem para seus filhos, facilitam não só o trabalho do professor em sala de aula
como a própria vida escolar do aluno que se encontra nesse processo de
letramento.
(...) o ato de estudar, enquanto ato curioso do sujeito diante do mundo é expressão da forma de estar sendo dos seres humanos, como seres sociais, históricos, seres fazedores, transformadores, que não apenas sabem mas que sabem que sabem. (FREIRE, 1989, p.58-9)
Essa curiosidade do sujeito é aguçada desde cedo com a leitura de gibis,
histórias em quadrinhos ou com o manuseio de livros sensitivos. Os psicólogos hoje
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em dia já reconhecem que a cultura da criança modela o desenvolvimento cognitivo,
e determina o que e como a criança vai aprender sobre o mundo.
A relação professor-aluno mais uma vez tem um papel importantíssimo para o
aluno, porque é também nessa interação, nesses diálogos, que a criança aprende. A
contação de história nesse caso é uma das ferramentas mais importantes no
processo de ensino-aprendizagem, é neste ato que a criança escuta, pensa e fala,
ela pergunta e questiona.
A história dos outros contribuem para a história de si mesmo, ajuda a
conhecer o mundo e a conhecer a si próprio, assim a criança aprende, se
desenvolve e participa do processo de letramento de maneira natural e prazerosa.
A aprendizagem passa a ter significado e relevância para os sujeitos da escolarização, quando atinge mais facilmente o nível simbólico do aluno e do professor, no qual se localizam os significados e as representações, o desejo de aprender e de recriar representações anteriores. A melhor referência que podemos ter dos movimentos internos que o ato de aprender provoca encontra-se estampada nas ações dos alunos, nos seus gestos e falas. A escuta do professor a esses aspectos do dia-a-dia pode funcionar como indicador e mediador das construções de conhecimento do aluno. O professor, através de seu olhar, da modulação da voz, da veemência de seus gestos, canalizar a paixão e o interesse que o seu conhecimento significa para quem ele ensina. (SENNA, 2007, p.135)
Mais uma vez, ponderamos que o professor precisa levar em consideração
não só a fala, mas também os gestos, as expressões, não somente a sua como
também de seus alunos. A entonação de sua voz ao contar história pode atrair o
aluno para esse mundo da leitura, pode cativá-lo, tornando-o sujeito curioso como o
próprio Paulo Freire instrui.
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O PAPEL DO DINAMIZADOR DE LEITURA
A Prefeitura Municipal de Belford Roxo possui em seu quadro de funcionários,
um cargo destinado à pessoa responsável pela sala de leitura, o Dinamizador. Nem
todas as unidades escolares, públicas ou particulares, tem em seu quadro de
funcionários uma pessoa específica para atuar na difusão da leitura. A Prefeitura
Municipal de Belford Roxo conta com a ajuda dos Dinamizadores para implementar
e propagar este e outros trabalhos.
De acordo com o parecer do Conselho Municipal de Educação de Belford
Roxo, nº 01/2002:
Art.21 – A sala de leitura, sob responsabilidade de um Dinamizador, tem por finalidade atender a Professores e alunos, facilitando-lhes o trabalho e o estudo, e tem por objetivos: a) Tornar-se campo para exploração e enriquecimento cultural; b) Difundir a boa leitura; c) Incentivar a utilização dos livros, visando à pesquisa e à educação
individual.
As palavras chaves que norteiam o trabalho desse profissional são: facilitar e
dinamizar. Ele precisa ser ágil, ativo e um colaborador dos profissionais da educação
que estão à sua volta, o Dinamizador auxilia o trabalho do professor, por exemplo,
selecionando livros na biblioteca da escola de acordo com o tema do planejamento
da semana, o que facilita o trabalho dos docentes.
A separação dos livros com antecedência a fim de facilitar o trabalho do
professor requer organização do Dinamizador, necessita tempo e planejamento, e
também significa que o profissional deve estar atento à faixa etária daquela turma,
das possibilidades cognitivas dos alunos, para escolher material mais adequado a
eles.
Hoje, já se tem uma grande quantidade de livros com diferentes abordagens,
livros com texturas, com imagens grandes e com bastantes cores, livros pop-ups
bastante significativos para os alunos de menor idade, ou seja, livros que tornam a
leitura mais convidativa e dinâmica. A cada virada de página as crianças se
surpreendem, e o “era uma vez” se torna muito mais emocionante.
Os livros sonoros também exercem grande fascínio nas crianças, por isso são
muito mais atrativos para os bebês e alunos até dois anos. O professor pode
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aproveitar os sons para estimular a linguagem oral da criança, solicitando e
estimulando, por exemplo, que ela reproduza os sons dos animais, e assim fazendo
aos poucos a identificação dos mesmos.
Entretanto, para os alunos maiores, de três a seis anos, já temos que buscar
livros com algumas palavras, para inserir o contato visual com a escrita, apostar em
livros com um pouco mais de riqueza dos detalhes, para estimular não só o visual,
mas o enriquecimento de vocabulário. O livro-vocabulário é uma boa alternativa, já
que atua diretamente no desenvolvimento do léxico e na formação de algumas
noções, como tamanho, formas e orientação espaço-temporal.
O professor Dinamizador também deve incentivar a leitura não apenas dos
alunos, como dos professores, coordenadores, direção escolar e funcionários. O
Dinamizador pode organizar livros que estejam à disposição dos professores, livros
pedagógicos, que auxiliem a sua prática docente ou livros que os enriqueçam
culturalmente, assim como a toda unidade escolar. É preciso que todo o corpo de
funcionários esteja envolvido nessa tarefa de difundir a boa leitura.
Art.22- O Dinamizador da Sala de Leitura é um professor PII, com perfil compatível com as competências previstas neste Regimento, cabendo-lhe, especificamente: a) Conhecer, manter organizado e divulgar o acervo bibliográfico da
Unidade Escolar; b) Dinamizar, incentivar e difundir, com criatividade e objetivos definidos, a
leitura como instrumento de pesquisa, lazer e informação, no sentido de realizar um trabalho interdisciplinar;
c) Propor normas de rotina e de serviço que aumentem a eficiência da rotatividade do acervo bibliográfico da Unidade Escolar e seu permanente controle;
d) Atuar em espaços alternativos, sempre que não houver espaço físico específico disponível;
e) Participar de reuniões, oficinas pedagógicas, cursos, seminários, encontros e palestras promovidos pela Unidade Escolar, pela SEMED ou outras instituições;
f) Criar e apoiar projetos alternativos de leitura e produção de textos; g) Participar do planejamento pedagógico da Unidade Escolar; h) Apresentar relatórios de acordo com as solicitações do Serviço de
Implementação de Sala de Leitura; i) Promover momentos de leitura, agendados no Calendário Escolar, para
os profissionais da Unidade Escolar. (BELFORD ROXO,01/2002)
Contudo, também é função do professor Dinamizador assegurar que os livros
estejam devidamente organizados, catalogados, assim como fantasias e objetos da
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sala de leitura, sempre contando com a colaboração dos demais docentes,
mostrando que a biblioteca da escola é de responsabilidade de todos, que os livros
precisam estar em boas condições, para que o grupo possa utilizá-los.
Logo, podemos perceber que para ser um Dinamizador de Leitura é preciso
que o professor II tenha um perfil específico para o cargo, ele precisa gostar e querer
estar nesta função, é preciso ser organizado, atencioso, cuidadoso, comunicativo,
pois aborda funções que não atinge apenas a si próprio, mas ao corpo de
funcionários da escola, existe nesta função uma interdependência de outros cargos.
Outro saber que devo trazer comigo e que tem que ver com quase todos os de que tenho falado é o de que não é possível exercer a atividade do magistério como se nada ocorresse conosco. Como impossível seria sairmos na chuva expostos totalmente a ela, sem defesas, e não nos molhar. Não posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a maneira como eles me percebem tem importância capital para o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas preocupações centrais deva ser de procurar a aproximação cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que pareço ser e o que realmente estou sendo. (FREIRE, 1996, p.96)
Paulo Freire reafirma a necessidade de o professor vincular as suas falas com
as suas práticas pedagógicas. Como pode um professor Dinamizador divulgar a
leitura, se o mesmo não a busca enquanto fonte enriquecedora de saberes? A
prática precisa coincidir com a fala, pois as crianças cobram atitudes referentes às
falas que lhes são ditas.
3.1 A importância da sala de leitura como espaço dialógico
As atividades que permitem aos educandos o diálogo constante com o
docente e demais alunos da sala oportunizam as trocas de experiências, ampliam
suas capacidades comunicativas, melhoram a exposição de ideias, aprendem a
perguntar e também a valorizar o grupo.
Isso acontece com frequência nas rodas de conversa, esse tipo de atividade
proporciona ao aluno a oportunidade de ouvir o outro e a olhar para o próximo. A fim
de promover a linguagem, também deve-se ler e contar histórias, declamar poesias,
ensinar e aprender novas músicas, aproveitando sempre o momento de
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concentração, de postura dos alunos durante as rodas de conversa para
desenvolver aspectos linguísticos.
FREIRE (1996, p.136) diz que “O sujeito que se abre ao mundo e aos outros
inaugura com seu gesto a relação dialógica em que se confirma como inquietação e
curiosidade, como inconclusão em permanente movimento na História.”.
Em uma das atividades de sala de leitura, no município de Belford Roxo,
numa turma de três anos, foi solicitado a cada criança que elas escolhessem um
livro à disposição na prateleira. Apesar dos livros estarem de acordo com suas
respectivas faixas etárias não foi intencional a escolha prévia dos livros por parte do
docente, ou seja, as histórias estavam aleatórias, podiam estar relacionadas ao
medo, a aventuras, mas sem nenhuma inclinação temática.
Nesta oportunidade das crianças contarem as histórias à sua maneira, foi
observada a fala do aluno K. de 3 anos (os nomes serão preservados devido ao teor
das falas). Ficou muito expressivo o uso da palavra e sentido de “morte”.
No início, no meio e no final da história a morte apareceu como característica
marcante de sua historia. “A polícia mataram ele” e em outro momento, diz: “ele ficou
vivo mermo” e ainda no final da história: “só ficaram dois vivos”, numa história em
que a escrita do texto não tratava da morte como tema central e nem mesmo
aparecia nenhum fato específico relacionado e sim coelhos, jacaré e ratinhos de
olhos fechados em diferentes momentos.
Quando o aluno interpreta que foi a polícia que matou, chama a atenção para
um fato real que ele ouviu ou presenciou em algum momento, o que mais uma vez
afirma que nós somos sujeitos históricos, impregnados de historias de outros
indivíduos.
A fala da criança traduz seus modos próprios e particulares de pensar e não pode ser confundida com um falar aleatório. Ao contrário, cabe ao professor ajudar as crianças a explicitarem, para si e para os demais, as relações e associações contidas em suas falas, valorizando a intenção comunicativa para dar continuidade aos diálogos. A criação de um clima de confiança, respeito e afeto em que as crianças experimentam o prazer e a necessidade de se comunicar apoiadas na parceria do adulto, é fundamental. (Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, 1998, p. 137-138).
As rodas de conversa e a contação de história pelo aluno são oportunidades
do professor Dinamizador dar a voz ao seu aluno e assim conhecer a sua realidade,
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pois a sua narrativa sobre a história do livro vem acompanhada de uma história de
vida e o professor precisa conhecer o seu alunado, porque assim se estabelece a
confiança do processo de ensino-aprendizagem.
Saber ouvir é uma das qualidades que este profissional precisa ter, não tem
como avaliar sem conhecer, sem interagir, sem observar o aluno. Os educadores
não devem medir o quanto aquele aluno aprendeu, fixando-se em avaliações
incoerentes, mas sim acompanhar o processo de aquisição de novos conhecimentos
no espaço escolar, e por isso diálogo é fundamental.
A avaliação deve buscar entender o processo de cada criança, a significação que cada trabalho comporta, afastando julgamentos, como feio ou bonito, certo ou errado, que utilizados dessa maneira em nada auxiliam o processo educativo. A observação do grupo, além de constante, deve fazer parte de uma atitude sistemática do professor dentro do seu espaço de trabalho. O registro dessas observações e das percepções que surgem ao longo do processo, tanto em relação ao grupo quanto ao percurso individual de cada criança, fornece alguns parâmetros valiosos que pode orientar o professor na escolha dos conteúdos a serem trabalhados. Podem também, ajudá-lo a avaliar a adequação desses conteúdos, colaborando para um planejamento mais afinado com as necessidades do grupo de crianças. (Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil, 1998, p. 112-113).
Por causa disso, devemos dar ênfase à avaliação formativa, porque
acompanha todas as fases do processo de ensino-aprendizagem, procurando
corrigir o aluno sempre que se fizer necessário, e avaliando o aluno sob todos os
aspectos, respeitando o nível de desenvolvimento de cada criança e valorizando
experiências anteriores.
A linguagem oral tem enorme importância na educação infantil, porque é
através da fala e dos balbucios que as crianças pequenas se comunicam, se
expressam. Por isso a contação de história precisa ser vista como uma atividade
bastante significativa para a educação infantil, porque tem a capacidade de estimular
essa linguagem.
Em outra atividade, já com crianças de 4 anos, a aluna J. diz que: “o dragão
apareceu e roubou a bolsa de todo mundo do castelo”, sendo que na história deste
livro o dragão estava apenas segurando a bolsa, a interpretação veio da aluna, uma
vez que a mesma ainda não está alfabetizada, mas já faz uso do letramento.
São questões delicadas, mas que só podem sofrer interferências a partir do
momento em que você conhece o seu aluno e tem parceria com ele, porque se essa
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colaboração não existe, então não é possível fazer com que a criança fale como
chegou até aquela conclusão, ela “trava” ao invés de completar o seu raciocínio.
O profissional da educação infantil tem o dever de coordenar essas histórias
que as crianças ouvem e vivenciam em casa e também em outros ambientes não
escolares, mas que atravessam os muros da escola. Porque essas histórias se
constituem em fontes de informações sobre as diferentes maneiras de se trabalhar
com emoções e com questões éticas, cooperando para construção da subjetividade
e da sensibilidade das crianças.
O brincar na educação infantil contribui significativamente para o trabalho de
contação de história, porque contar história não constitui um método mecanizado, e
sim um trabalho lúdico. O brincar precisa ser visto como um recurso pedagógico e
deve ser contemplado nas propostas de trabalho do docente.
Na brincadeira infantil a criança assume e exercita os vários papéis com os quais interage no cotidiano. Ela brinca, depois, de ser o pai, o cachorro, o motorista, jogando estes papéis em situações variadas. Ao fazer isso, pode afastar-se de significados já estabelecidos e criar novas significações, novas formas de desempenhar os papéis que conhece, ou novos papéis. (MORAES, 1992, p.57)
O lúdico permite que a criança vivencie situações de aprendizagem de forma
agradável, trazendo o saber para a sua realidade, para o seu mundo. Aquele
conhecimento que precisa ser compreendido pode ser adquirido de uma forma
divertida.
Através da brincadeira a criança aprende naturalmente e com prazer, sua
atenção é despertada por meio da curiosidade. A brincadeira possibilita a reflexão, a
troca de experiências e de diálogos. Os jogos por sua vez permitem às crianças
buscarem soluções para problemas e a adquirirem maturidade frente aos desafios
apresentados. Por isso, a contação de história envolvendo jogos e brincadeiras
facilitam o desenvolvimento da aprendizagem.
O prazer da criança pequena em ouvir histórias de fadas e bruxas tem uma origem semelhante. A criança identifica-se com os personagens, com o chapeuzinho vermelho, por exemplo, revivendo com eles emoções e sentimentos contraditórios, de rebeldia aos pais e medo de punição, por exemplo. O distanciamento possibilitado pela situação de fantasia é extremamente importante para a criança trabalhar suas emoções mais fortes, da mesma forma como acontece para os adultos. (MORAES, 1992, p.59)
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Os contos de fadas se baseiam em eficientes narrativas que auxiliam no
desenvolvimento da personalidade infantil, exercendo uma verdadeira missão
educativa uma vez que, por meio deles é possível ensinar a criança a controlar seus
medos e emoções.
Os contos de fadas são histórias que têm como personagens reis, rainhas,
príncipes, princesas, e personagens simples que passam por situações complicadas,
na maioria das vezes causadas por seres mágicos, como bruxas ou gigantes, e que
só conseguem ser livres com a ajuda de objetos também mágicos ou de outros
seres não menos encantadores como fadas e magos por exemplo. E no final, o bem
sempre vence o mal. Assim acontece nas histórias: Da Bela Adormecida, Branca de
Neve e os Sete Anões, etc.
Eles desempenham uma influência muito grande e enriquecedora na
formação da personalidade da criança porque ao assimilar os conteúdos da história,
as crianças aprendem que é possível vencer as dificuldades e a terem êxito nas
suas adversidades, especialmente quando a princesa, o príncipe, o herói em si
vence no final da história. Isso acontece também porque durante a narrativa da
trama, a criança se identifica com as personagens e com as histórias.
Pais e educadores devem sempre ler ou contar histórias, e posteriormente
conversar sobre a história, porque nesse momento fica mais fácil para as crianças
falarem sobre suas angústias, dúvidas e medos sem se expor diretamente. Isso só é
possível, porque ao comentar uma história, as crianças estarão falando dos seus
sentimentos, mas não diretamente de si próprias, já que estarão utilizando o recurso
das personagens.
3.2 – O diálogo com a equipe de profissionais da educação
Nos diálogos com os profissionais da educação, da Creche Municipal
Raimundo Furtado Magalhães, turno matinal, foi possível apurar a importância de se
ter um profissional na unidade específico para o desenvolvimento da difusão da
leitura.
Eu acho importante porque incentiva à leitura com aulas extras, dinâmicas, diferentes, que da oportunidade da criança sair da sala, as professoras
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fazem coisas bem legais. A leitura é fundamental. (Professora Érika – atende a agrupada de 4 anos).
Das sete profissionais entrevistadas, apenas uma respondeu que já viu este
trabalho ser desenvolvido em outra unidade pública de ensino. As seis profissionais
que só tiveram contato com o trabalho do Dinamizador e de sala de leitura na
prefeitura municipal de Belford Roxo, já haviam trabalhado em escolas públicas e
particulares.
Muita importância, porque na escola em que eu cheguei a trabalhar, foi particular, que era até o primeiro ano que a diretora colocou lá educação física, a gente fez até uma interdisciplinar, na educação física com as matérias de sala de aula, na educação física trabalhar o português, trabalhar matemática, ciências. Principalmente a sala de leitura para crianças que estão sendo alfabetizadas. Ajuda a criança a ter mais (pausa para pensar) do tipo, a criança não fica só na professora pra poder tomar a leitura, pra poder ajudar nessa parte da leitura. Não que a sala de leitura vá tomar a leitura lá, mas vai estimular a leitura, despertar o gosto da criança pra leitura, é aonde a professora da sala entra com a leitura. A criança vai ter vontade de ler, porque as crianças de hoje em dia pra poder aprender a ler, tem que estar chamando pra sentar aqui. Pelo menos eu tiro pelas minhas sobrinhas lá”. (Osely – Estimuladora da Agrupada de 1 ano).
A interdisciplinaridade também faz parte deste contexto em que o
Dinamizador trabalha, porque ele não pode desenvolver suas atividades fora do
contexto das salas de aula da Unidade Escolar, todos precisam caminhar juntos, o
grupo precisa estar unido, porque a dificuldade de uma professora de sala de aula
com um aluno ou grupos de alunos, pode vir a ser solucionada ou ser aliviada
através de uma contação de história em que os alunos poderão conversar e se
expressar o que estão sentindo.
Porque estimula o aluno ter o contato com a leitura, um contato maior com os livros, as crianças tem a facilidade de ver teatrinhos, a fantasia, por isso que eu acho que esse profissional é importante, porque ele se prepara pra isso e o dia-a-dia da sala de aula já é mais complicado, que além de contar histórias tem que fazer outros trabalhos. (Professora Milena, atende a agrupada de 3 anos).
O teatro de bonecos também tem seu valor pedagógico, ele valoriza bastante
a comunicação, principalmente quando o professor permite que os bonecos sejam
manipulados pelo aluno. O docente pode participar como mediador, garantindo esse
espaço de diálogo.
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Inicialmente, deve-se permitir que a criança manuseie à sua maneira os
bonecos e depois sim, o professor deve estimular que a criança dê vida aos
bonecos, inventando personagens, brincando com os personagens e criando
diálogos.
O boneco primeiramente é só um brinquedo, mas depois a criança pode
explorá-lo de infinitas formas como, por exemplo, reproduzindo histórias ouvidas,
visto textos específicos para este tipo de teatro.
É um caminho para se desenvolver a socialização, pois cada aluno começa a
entender a necessidade de esperar a sua vez de falar, a respeitar a opinião do
colega e a ouvir o que os demais colegas têm a contribuir.
Os fantoches permitem que a criança desenvolva a linguagem oral e artística,
pois é um convite à imaginação, ao mundo do faz-de-conta. Transmitem beleza e
alegria, também proporcionam a descoberta das potencialidades da voz, uma vez
que existem diferentes entonações: o falar manso, fino, meigo, estridente, grosso ou
com tom de medo, ira, dentre outros.
Importante também por causa desse desenvolvimento da criança, sair, brincar, faz parte do processo de ensino aprendizagem. (Professora Elizabeth – responsável pela agrupada de 5 anos)
Mais uma vez ressalta-se a necessidade do professor Dinamizador buscar
diferentes formas de se estimular a leitura, utilizando-se do brincar, do lúdico, tão
importantes para esse despertar da leitura pela criança pequena, em fase ainda de
letramento, mas buscando uma boa base para sua futura alfabetização.
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CONCLUSÃO
Ao investigar a importância da contação de história no universo infantil
podemos perceber como esta atividade está impregnada de sentimentos, de
vivencias e experiências.
Não se pode contar uma história sem colocar na fala algo que você tenha
vivido. Os valores e hábitos culturais também se misturam a narrativa, pois nós
somos sujeitos históricos e culturais.
Com isso, nas falas das crianças ficou evidente que, o que elas ouvem e
veem no seu dia-a-dia é internalizado e futuramente exposto através da brincadeira.
Logo, podemos constatar que um trabalho diferenciado envolvendo leitura ou
ainda que nesta fase da educação, seja um convite à leitura não se pode deixar o
lúdico a par desse processo.
A contação de história através de fantoches, de caixas mágicas, de
dramatizações ou objetos tornam o momento mais mágico e encantador, são
atividades lúdicas e indispensáveis para cativar o alunado.
Realizando esse trabalho foi possível perceber que a criança a todo tempo
precisa ser valorizada e precisa ser ouvida.
A linguagem oral e gestual faz parte do trabalho de contação de história,
porque a história, por exemplo, abre espaço para a música e a criança, já naquele
enredo começa a se expressar corporalmente, já começa a imitar gestos e
movimentos, a organizar o seu pensamento a partir do momento em que percebe
que a história tem um início, um meio e um fim.
O professor Dinamizador deve estar atento ao seu alunado, porque é através
dos diálogos e da confiança estabelecida que a criança externaliza seus medos,
angustias e frustações, e por meio da brincadeira, do faz-de-conta que ela consegue
superar esses obstáculos do seu mundo real.
Para conseguirmos esse ideal, é fundamental que haja interesse do
Dinamizador em ser um professor pesquisador, mas também da instituição de
ensino e da própria secretaria de educação investir em capacitações para esse
profissional visto as grandes possibilidades e desafios que ele tem para desenvolver
o seu trabalho.
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Pode-se concluir que esta pesquisa contribuiu para que os profissionais
entrevistados também valorizassem o Dinamizador de sala de leitura, já que é tão
raro encontrar esse profissional em outras redes públicas e particulares.
Admite-se que este trabalho também contribuiu para promover o regime de
colaboração entre o Dinamizador e os demais professores, uma vez que um dos
trabalhos do Dinamizador é de facilitar o planejamento do professor de sala de aula,
buscando livros e leituras pedagógicas e também para enriquecimento cultural dos
profissionais.
Antes de haver um processo de alfabetização, deve-se haver um processo de
letramento e é na educação infantil que a criança tem a liberdade e oportunidade de
vivenciar esse processo.
Assim, é preciso mais investimentos do poder público a fim de atender o
maior número possível de crianças na educação infantil, porque ela é a base de
futuras aprendizagens.
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BIBLIOGRAFIA
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BRASIL, LDB. Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional.
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SARMENTO, Manuel Jacinto & VASCONCELLOS. Vera Maria Ramos de. (organizadores).
ARARAQUARA, SP.: JUNQUEIRA&MARIN, 2007.
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO.........................................................................................................09
CAPÍTULO I - EDUCAÇÃO INFANTIL: DA VISIBILIDADE À RELEVÂNCI A PARA O
DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA........................................................................11
1.3 – O PAPEL DO PROFESSOR DA EDUCAÇÃO INFANTIL................................13
1.4 – A IMPORTÂNCIA DE UM “OUTRO OLHAR” SOCIAL E PEDAGÓGICO........15
CAPÍTULO II - A LINGUAGEM E SUA HISTORICIDADE.........................................19
2.1 – A LINGUAGEM E AS CONTRIBUIÇÕES DE BAKTIN E VYGOTSKY.............20
CAPÍTULO III – O PAPEL DO DINAMIZADOR DE LEITURA...................................27
3.1 – A IMPORTÂNCIA DA SALA DE LEITURA COMO ESPAÇO DIALÓGICO......29
3.2 – O DIÁLOGO COM A EQUIPE DE PROFSSIONAIS DA EDUCAÇÃO..............33 CONCLUSÃO ...........................................................................................................36
BIBLIOGRAFIA .........................................................................................................38
ÍNDICE.....................................................................................................................39