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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
DIDÁTICA DE ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A NEUROCIENCIA
Por: Fernanda Augusto de Freitas Andrade
Orientador
Prof. Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro 2015
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
FACULDADE INTEGRADA AVM
DIDÁTICA DE ENSINO NA EDUCAÇÃO INFANTIL E A NEUROCIENCIA
Monografia apresentada a Faculdade
Integrada AVM – A vez do Mestre, como
requisito para aprovação do curso de Pós-
graduação em Neurociência.
Por: Fernanda Augusto de Freitas Andrade
3
DEDICATÓRIA
Ao meu amado esposo João Sotero,
grande companheiro e meu lindo filho
Natan Freitas de Andrade.
4
AGRADECIMENTO
A Deus, nosso senhor e criador que nos deu a vida, coragem e capacidade
para alcançarmos nossas metas.
Aos meus pais, Ailton Guimarães de Freitas e Eliana dos Santos Augusto,
que me instruíram com seus preciosos conselhos.
A minha família, em especial ao meu esposo João Sotero de Andrade Neto
pela compreensão e dedicação sem a qual eu seria incompleta.
Aos mestres e colegas de curso, contribuíram com sua sabedoria, a todos
muito obrigado.
5
RESUMO
A finalidade desta pesquisa é discutir sobre a abordagem didática predominante
nas classes de Educação Infantil, tendo em vista, se, tais práticas correspondem
com que o que a Neurociência diz sobre como o cérebro aprende, como se
desenvolve a aprendizagem em crianças nessa fase escolar e identificar critérios
que ajudem a selecionar métodos e estratégias relevantes para o
desenvolvimento da aprendizagem.
Muitas dificuldades ou limitações que os estudantes carregam para os anos
posteriores em sua vida escolar, não são problemas de ordem cognitiva ou
neurológica, mas sim metodológica. Diante disso, algumas sugestões são
apresentadas com o intuito de auxiliar nas práticas educativas e maximizar a
eficiência do trabalho docente.
Palavras chaves: Didática, Neurociência, Ensino e Aprendizagem
6
METODOLOGIA
Pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa e descritiva elaborada a partir
de levantamento de dados relacionados aos processos de ensino-aprendizagem
pelos métodos tradicionais e novos. As principais referências bibliográficas que
dão fundamentação as respostas dos questionamentos levantados na pesquisa
são: Marta Relvas, Jose C. Libâneo, Jean Piaget, Júlio Furtado, Leonor Guerra,
Ramon Consenza e outros.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I – Didática e os métodos de ensino-aprendizagem. 10
CAPÍTULO II – Neurociências e os métodos ativos na educação infantil 22
CAPÍTULO III – Diversão em sala de aula e a influencia dos neurotransmissores
na aprendizagem 33
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA 45
ÍNDICE 47
8
INTRODUÇÃO
A atenção aos problemas e transtornos de aprendizagem tem sido crescente
nos últimos anos. Especialistas confirmam que em seus consultórios aumentou o
número de pacientes que chegam para um diagnóstico clínico, de algum tipo de
transtorno. Entretanto ao decorrer da avaliação fica constatado que em muitos
casos o paciente não possui qualquer tipo de dificuldade ou distúrbio. Sobre este
assunto, surge o seguinte questionamento: “Problemas de aprendizagem ou
ensinagem?”.
Excluindo os fatores socioculturais e emocionais que evidentemente
influenciam o processo de aprendizagem, o que acontece na prática que pode ou
não contribuir para o desenvolvimento de aspectos cognitivos em crianças cheias
de potencialidades? Quais as reais situações de aprendizagem que os educandos
estão sendo expostos diariamente? O que está sendo privilegiado nesses
processos?
Mentes brilhantes, como por exemplo, Thomas Alva Edison, grande inventor,
com mais de 2000 patentes registradas, entre elas: lâmpada elétrica, máquina de
votação e câmera cinematográfica, possui um histórico escolar um pouco
conturbado. O menino de mente brilhante frequentou a escola por apenas três
meses - era considerado uma “criança problema”, por ser perguntador e inquieto,
comportamento que desagradou o único professor da única sala de aula da
cidade onde Thomas Edison iniciou seus estudos - o reverendo Engle, que dizia:
"O garoto é confuso da cabeça, não consegue aprender", queixava- se daquele
menino de oito anos. Agitado, perguntador e de cabelos eternamente
despenteados, Thomas, recusava-se a decorar as lições como faziam todos os
alunos, e ainda por cima ele ouvia mal. Com isso sua mãe se tornou sua
professora e em casa estudava o que realmente gostava - as ciências.
O intuito desta pesquisa é discutir sobre a abordagem didática predominante
nas classes de Educação Infantil, e, se tais práticas correspondem com o que a
Neurociência diz sobre como o cérebro aprende, estudar critérios para escolha
9
dos métodos de ensino e estratégias que privilegie o que é realmente importante,
não apenas para um ano letivo, mas para vida cotidiana dos alunos.
A neurociência será ponto de partida para repensar práticas metodológicas
de ensino-aprendizagem que ajudem a minimizar as dificuldades de
aprendizagem decorrentes de abordagens didáticas impróprias ou ultrapassadas,
em que, o aprendiz apenas decora os conteúdos que ficam armazenados na
memória de curto prazo e dentro de pouco tempo são esquecidos.
10
CAPÍTULO I
DIDÁTICA E OS MÉTODOS DE ENSINO APRENDIZAGEM
Didática vem grego didaktiké, que quer dizer “arte de ensinar”. Arte esta que
envolve: planejamento, conhecimento de métodos e formas organizativas de
ensino, dos conteúdos dos programas e livros didáticos, as atividades do
professor e dos alunos e as diretrizes que regulam e orientam este processo.
O campo de pesquisa em relação à Didática é crescente e tem ampliado o
leque de conhecimentos sobre a relação entre os conteúdos de ensino, os alunos
e os métodos utilizados para sua apropriação. Estes conhecimentos
sistematizados são essenciais para organização do planejamento de ensino e
requer “... compreensão clara e segura sobre o mesmo: em que consiste como as
pessoas aprendem quais as condições externas e internas que o influenciam”.
(LIBÂNEO, 1990). Esta prática intencionalizada é orientada por objetivos
previamente definidos, segue critérios de idade e preparo dos alunos, seguido de
direção das atividades e avaliação - elementos indispensáveis para pensar o
trabalho em com os discentes.
Atualmente a definição usada para Didática é o estudo do conjunto de
procedimentos que visa orientar a aprendizagem do educando mais
eficientemente, na aquisição de conhecimentos, automatismos, atitudes e ideais,
tendo como objeto de estudo o processo de ensino - campo principal da educação
escolar, todavia cabe lembrar que o ensino não é uma atividade restrita a sala de
aula. Libâneo (1990) exemplifica que desde os primeiros tempos existem indícios
de formas elementares de instrução e aprendizagem. Nas comunidades
primitivas, por exemplo, os jovens passam por um ritual de iniciação para
ingressarem nas atividades do mundo adulto, considerando esta uma forma de
ação pedagógica, embora aí não esteja presente o “didático” como forma
estruturada de ensino.
11
No século XVII inicia-se a investigação da ligação entre ensino e
aprendizagem, através de João Amós Comênio (1592-1670), um pastor
protestante, que escreveu a primeira obra clássica sobre Didática, a Didáctica
Magna. Comênio foi o primeiro a criar princípios e regras de ensino, desenvolveu
ideias avançadas para as práticas educativas das escolas da época, em
contraposição às práticas tradicionais onde não havia a participação ativa dos
discentes na construção da aprendizagem, que ao invés de pensarem, agiam de
forma passiva decorando os conteúdos que iriam cair na prova. Sobre este
assunto, Relvas (2009) chama-nos a atenção para o seguinte questionamento: “O
que se deseja do sujeito aprendente? Que ele decore conteúdos ou que
memorize a partir de reflexões e associações para serem aplicadas no
cotidiano?”. Talvez seja méis fácil responder esta pergunta do eu modificar as
práticas de ensino. Comênio apregoou que os conhecimentos deveriam ser
adquiridos a partir da observação das coisas e dos fenômenos pelos órgãos dos
sentidos. Primeiramente das coisas, depois as palavras, obedecendo ao curso da
natureza infantil, partindo do conhecido para o desconhecido – prática
denominada método intuitivo - o aluno deveria adquirir uma ideia abstrata a partir
de um objeto concreto colocado diante dele. Mas o resultado do seu empenho
para desenvolver métodos de instrução mais rápidos e eficientes não foi
suficiente, pois apesar da utilização de objetos concretos, os alunos continuaram
tendo uma atividade passiva diante da aprendizagem:
Muitos professores ainda acham que “partir do concreto” é a palavra chave do ensino atualizado. Mas esta ideia já fazia parte da Pedagogia Tradicional porque o “concreto” (mostrar objetos, ilustrações, gravuras etc) serve apenas para gravar na mente o que é captado pelos sentidos. O material concreto é mostrado, demonstrado, manipulado, mas o aluno não lida diretamente com ele, não repensa, não o reelabora com o seu próprio pensamento. A aprendizagem, assim, continua receptiva, automática, não mobilizando a atividade mental do aluno e o desenvolvimento de suas capacidades intelectuais. (LIBÂNEO, 1990, p. 4-65)
A proposta metodológica de Comênio não foi suficiente para consolidar uma
ação educativa escolar em que o aluno efetivamente se tornasse sujeito ativo na
construção da aprendizagem, porém ele não ambicionou apenas desenvolver
métodos de instrução mais rápidos e eficientes, pretendia adaptar o ensino às
12
fases de desenvolvimento infantil. Outros educadores sustentaram muitas de suas
ideias, entre eles: Jean Jaques Rousseau (1712-1778) e Henrique Pestalozzi
(1746-1841), na defesa de uma concepção de ensino baseado nos interesses e
necessidades das crianças, que respeitasse as fases de desenvolvimento de
cada sujeito aprendente. Mas por serem ideias muito inovadoras para época
tiveram seu efeito prático nas escolas, apenas no início do século XX.
O século XX foi um período de intensas mudanças no cenário educacional
com a difusão de práticas inovadoras de ensino, marcando a consolidação de um
novo modelo de escola - a escola nova. Na Escola nova, também chamada
de Escola Ativa ou Escola Progressiva o centro da atividade escolar não é o
professor nem a matéria, é o aluno ativo e investigador, a ação educativa é
voltada para o trabalho espontâneo baseado no interesse pessoal do alunos. Isto
não significa que as crianças façam tudo o que queiram, mas que queiram tudo o
que façam.
Os avanços nas concepções sobre educação escolar, consequentemente
deram origem a Didática da escola nova ou Didática ativa, “... a Didática ativa da
grande importância aos métodos e técnicas como trabalho de grupo, atividades
cooperativas, pesquisas, projetos, experimentação etc. (LIBÂNEO 1990, p. 66).
Mas embora o conceito de Didática tenha evoluído o papel da didática ainda é o
mesmo: organizar a prática educativa e nos servir de ferramentas essenciais para
o trabalho docente.
Entre os aspectos educacionais atribuídos à Didática, não se pode deixar de
enfatizar a importância do estudo dos métodos de ensino. Para Libâneo (1990) o
conceito mais simples de “método” é o caminho para atingir um objetivo. O estudo
sobre os métodos de ensino não é algo novo na história da educação, há
registros de uma diversidade de métodos educacionais e diferentes classificações
para os mesmos.
Diante de tantas classificações e do fato de que a concepção de
aprendizagem difundida por Jean Piaget, biólogo, psicólogo e epistemólogo
(1896-1980), ser uma das mais completas sobre o desenvolvimento humano,
13
como também, base teórica do RCNEI – Referencial Curricular Nacional para
Educação Infantil, a análise dos métodos de ensino seguirá sua concepção sobre
classificação e funcionalidade dos mesmos. Em Psicologia e Pedagogia Piaget
apresenta-os da seguinte maneira: métodos verbais tradicionais, métodos
intuitivos ou audiovisuais, métodos ativos e ensino programado.
Métodos verbais tradicionais:
Baseiam-se em procedimentos educacionais idealizados pelo filósofo e
pedagogo alemão Herbart (1776- 1841), em que a ênfase se da nos exercícios,
na repetição de conceitos ou fórmulas e na memorização, visando disciplinar a
mente e formar hábitos. A atividade dos alunos neste processo é receptiva,
cabendo ao professor à apresentação e explicação dos conteúdos de modo
sistematizados, que para Libâneo (1990) podem ser expostos das seguintes
formas:
• Ilustração – o professor utiliza apresentação de gráficos de fatos e fenômeno da
realidade, mapas, gravuras etc, a fim de enriquecer a explicação do objeto de
estudo e que os alunos desenvolvam sua capacidade de concentração e de
observação.
• Demonstração – os instrumentos usados pelo professor para representar fatos e
fenômenos são visitas técnicas, projeção de slides, explicação coletiva por meio
de experimento simples como, por exemplo, o processo de germinação de uma
planta mostrando porque e como se desenvolveu um grão de feijão.
• Exemplificação - nesse processo, o professor faz uma leitura em voz alta,
quando escreve ou fala uma palavra, para que o aluno observe e depois repita.
Ocorre também quando o professor ensina o modo correto de realizar uma tarefa.
Libâneo alerta para o seguinte fato: “... sendo a aula expositiva um método
muito difundido em nossas escolas, torna-se necessário alertar sobre práticas
didaticamente incorretas, tais como: conduzir os alunos a uma aprendizagem
mecânica, fazendo-os apenas memorizar e decorar fatos, regras, definições, sem
ter garantido uma sólida compreensão do assunto; usar linguagem e termos
inadequados, distante da linguagem usual das crianças e dos seus interesses...”,
14
entretanto o mesmo afirma que: “... a exposição lógica da matéria continua sendo,
pois, um procedimento necessário, desde que o professor consiga mobilizar a
atividade interna do aluno de concentrar-se e de pensar, e a combine com outros
procedimentos, como trabalho independente, a conversação e o trabalho em
grupo.” (LIBÂNEO. 1990. p. 161-162)
Ensino programado
Teve sua origem na Psicologia comportamental ou behaviorista, através do
psicólogo norte -americano Skinner (1904-1990), que elaborou uma teoria de
aprendizagem fundada no esquema estímulo-resposta como a "teoria do reforço"
cuja aplicação ao ensino conduziu ao chamado "ensino programado". Baseia-se
numa aprendizagem organizada sequencialmente através de passos metódicos
para alcançar um determinado objetivo. Neste processo o estudo do aluno é
individual, e as tarefas são divididas em partes de fácil resolução e o grau de
complexidade vai crescendo gradativamente conforme o ritmo de aprendizagem
de cada estudante. O ensino é sequencial e o estudante não é deixado para trás,
o mesmo passará para o material mais adiantado somente quando já estiver
dominado o anterior. Os "conceitos" são representados por muitos exemplos e
arranjos sintáticos, visando aumentar a generalização a outras possíveis
situações. O aluno mantém-se ativo e recebe o feedback imediato de seu êxito.
Skinner Também chegou a desenvolver uma Máquina de Ensinar, onde o aluno
poderia aprender, pouco, a pouco (em pequenas unidades), encontrando as
respostas que davam um premio imediato através de meios mecânicos. A
Máquina de Ensinar é a mais conhecida aplicação educacional do seu trabalho.
Mesmo com tanto empenho para desenvolver um método eficiente de
aprendizagem, faltava o benefícios da experiência em grupo; o aluno não tinha
opção de discordar; como o ensino é baseado numa hierarquia de conceitos era
difícil a aplicação deste método em áreas onde os conceitos não são tão
claramente definidos, pois se fundamentava em ter sempre uma resposta certa.
Sobre Skinner e seu método, Jean Piaget cita alguns fatores que podem
estar relacionados às causas das limitações encontradas na estruturação de seu
15
plano de trabalho para promoção da aprendizagem: “Persuadido do caráter
inacessível das variáveis intermediárias e do nível muito rudimentar dos nossos
conhecimentos neurológicos, decidiu somente considerar os estímulos ou inputs,
manipuláveis à vontade, e as respostas observáveis ou outputs, e ater-se às suas
relações diretas sem se ocupar com as conexões internas.” (PIAGET, 1969. p. 76)
Método Intuitivo ou audiovisual.
Baseiam-se na Psicologia da forma Gestalt. Tem como um de seus principais
difusores Pestalozzi (1746-1827), que idealizou unir teoria e pratica baseada na
ciência, buscou o desenvolvimento das inteligências dos alunos mais do que a
transmissão de ideias. Consiste em mostrar algo ao aprendiz de forma que possa
intuir, apreender ou perceber o que se pretende transmitir.
O método intuitivo utilizava os objetos como suporte didático e os sentidos
possibilitavam a produção de ideias, iniciando do concreto e ascendendo à
abstração, divide-se em três graus: a primeira é a intuição sensível, considerada
como a primeira etapa do método, conhecida na educação infantil sob a
denominação de “lições de coisas”. As crianças são ensinadas a observar, ver,
sentir, tocar, distinguir, medir, comparar, nomear, para depois conhecer; a
segunda forma de intuição – a intelectual – consiste no desenvolvimento da
inteligência por meio do raciocínio, da abstração e reflexão, ultrapassando a
intuição sensível; a intuição moral ocupa o terceiro grau no desenvolvimento do
ensino intuitivo e consiste em educar a criança tanto no aspecto cognitivo quanto
morais e sociais.
A relação entre professor e o aluno deve ser fundamentada e regulada pelo
amor, contudo neste método o sujeito da aprendizagem continuava tendo uma
atividade passiva diante da aprendizagem, pois manipulação de objetos não são
suficientes para mobilizar a atividade mental do aluno é preciso ele repense e
reelabore as informações apresentadas a através de objetos, gravuras e
ilustrações a partir de seu próprio pensamento. Métodos ativos.
16
Desenvolveram-se a partir das pesquisas e conclusões da Psicologia do
desenvolvimento e, mais especificamente, do construtivismo operacional e
cognitivo. A aprendizagem que se dá pela ação, manipulação verbal e de objetos;
não se trata apenas de trabalhos manuais, mas sim de organizar o real em ato ou
em pensamento. A prática docente é marcada pela interdisciplinaridade, e o
professor atua como mediador da aprendizagem estimulando a criança a agir
sobre o meio, a pensar estrategicamente, buscar alternativas para solucionar
problemas, elaborar hipóteses, visando a formação de um pensamento autônomo
e da criticidade, além de proporcionar a iniciação cientifica por meio da prática de
experimentação.
Os métodos ativos surgiram em oposição aos métodos tradicionais por
entenderem que estes não atendem as necessidades de uma sociedade global e
virtual, pois a maior parte dos métodos de ensino precede de uma visão de
educação estabelecida segundo a perspectiva do adulto, concebendo a educação
como uma simples transmissão dos valores coletivos de geração a geração. Esta
concepção foi incorporada também por educadores durante um longo tempo, que,
inicialmente preocupavam-se apenas com os fins da educação, com o homem
feito mais do que com a criança e as leis de seu desenvolvimento, passando a
instruí-la e moralizá-la como se fossem adultos em miniatura. Piaget define estes
procedimentos educacionais como métodos "antigos" ou "tradicionais" de
educação, e defende a prática dos “métodos novos”, denominados “métodos
ativos”, que levam em conta a natureza própria da criança e apelam para as leis
da constituição psicológica do sujeito aprendente. Entre os métodos ativos, estão:
Pragmatismo ou instrumentalismo.
Foi um dos primeiros métodos ativos, teve como difusor John Dewey (1859-
1952). Por acreditar que as ideias só tinham importância se servissem como
“instrumento” para resolução de problemas reais, Dewey desenvolveu o método
que ficou conhecido como pragmatismo - embora preferisse o termo
“instrumentalismo”. O educador e filósofo norte-americano propunha uma
17
educação centrada no aluno, em lugar de começar as aulas com definições ou
conceitos já elaborados, o professor – que tem o papel de guia nesse processo
deveria usar procedimentos que fizesse o aluno raciocinar e elaborar os próprios
conceitos para depois confrontar com o conhecimento sistematizado. Sendo
assim, o ponto de partida para este processo é a apresentação de um problema
relacionado a algo que a criança já tenha interesse, ou que esteja relacionado à
sua realidade, em seguida os alunos identificam os problemas que requerem
certo conhecimento para serem resolvidos; elaboram hipóteses e fazem precisões
sobre o resultado. A aprendizagem se dá pela descoberta que ocorre ao final,
quando o conteúdo é colocado a prova, pois antes da aprendizagem há apenas
informação; a ação dos alunos sobre ela a transforma em conhecimento.
Dewey também enfatizava que a democracia é um elemento indispensável no
processo de ensino, que a verdadeira aprendizagem se dá quando
compartilhamos experiências, e isso só é possível num ambiente democrático
onde não haja barreiras ao intercâmbio de pensamento.
A médica, educadora e pedagoga italiana Maria Montessori (1870-1952),
contemporânea de John Dewey também contribuiu para difusão do método ativo
desenvolvendo uma proposta de ensino especialmente voltada para os anos
inicias – crianças até 6 anos - tendo como principal objetivo atividades motoras e
sensoriais. As crianças deveriam realizar exercícios motivadores para educação
sensorial, utilizando material específico para o desenvolvimento de cada objetivo,
como: educação do paladar, do ouvido, da vista, tátil e térmica. Tais exercícios
envolve o reconhecimento de objetos pelos sentidos musculares e táteis,
degustação e identificação de alimentos e cheiros de olhos vendados;
reconhecimento de sons de apitos, buzinas, instrumentos musicais, companhias e
tem a finalidade de fazer com a criança ganhe concentração e disciplina.
Montessori nomeou a criança como “obreira de construção do conhecimento”, ou
seja, sujeito ativo na construção da aprendizagem, através da experiência com
crianças deficientes a médica constatou: “... durante os estágios inferiores, a
criança aprende mais pela ação do que pelo pensamento; um material
18
conveniente, que sirva para alimentar esta ação, conduz mais rapidamente ao
conhecimento...” (PIAGET, 1969, p.149)
A escola deve estar adaptada e organizada para manter a criança em plena
liberdade. A criança criará por si própria a disciplina, despertada pelo interesse do
trabalho escolar. A sala de aula deve possuir prateleiras acessíveis aos alunos
com alguns materiais auto - didáticos, isto é, que possibilite a criança ao trabalhar
com eles, observar seus próprios erros, entre eles: os jogos pedagógicos, cubos
lógicos de madeira para o ensino de matemática entre outros. O professor é
apenas o guia que remove obstáculos à aprendizagem.
O psicólogo, médico e educador belga Ovide Decroly (1871-1932), também
preocupado com a educação centrada no aluno, na busca possibilidades para que
estes conduzissem seu próprio aprendizado e, assim aprender a aprender,
contribuiu significativamente com educação escolar criando um método de ensino.
É o caso da ideia de globalização de conhecimentos – que inclui o chamado
método global de alfabetização. As crianças são alfabetizadas através de
histórias, partindo de unidades completas de linguagem como textos com enredo
de interesse da criança, para depois dividi-las em unidades mais simples:
palavras e sílabas
O princípio de globalização de Decroly se baseia na ideia de que as crianças
apreendem o mundo com base em uma visão do todo, que posteriormente pode
se organizar em partes, ou seja, que vai do caos à ordem. Parte da leitura de
mundo do respeito à cultura primeira do aluno, e busca desenvolver o
aprendizado através da livre discussão a partir de temas geradores extraídos do
universo vocabular do aluno.
O educador belga evidencia a importância do meio ambiente para o
desenvolvimento da criança, tendo o mesmo como um estimulador natural dos
interesses da criança. Após pesquisas em psicologia infantil, criou um novo
sistema de ensino primário, cuja finalidade seria preparar a criança para a vida.
Dessa forma, concebeu a escola ideal, que deveria se situar num ambiente que
tornasse possível à criança observar, diariamente, os fenômenos da natureza e
19
as manifestações de todos os seres vivos onde a inter-relação da criança com o
meio natural resultaria em diversos interesses ligados à necessidade de se nutrir,
abrigar, proteger e defender dos perigos, necessidade de agir de recriar e
aperfeiçoar. Também elaborou a ideia de “centros de interesse” que consiste em
uma reorganização dos conteúdos de aprendizagem, substituindo os planos de
estudo construídos com base em disciplinas por centros de interesse: a criança e
a família; a criança e a escola; a criança e o mundo animal; a criança e o mundo
vegetal; a criança e o mundo geográfico; a criança e o universo.
Os métodos ativos continuam em ascensão nas escolas contemporâneas e
ainda é influenciada por outros importantes representes, como por exemplo, a
psicolinguista argentina Emilia Ferreiro, que, inspirou-se no construtivismo para
investigar um campo que não tinha sido objeto de estudo piagetiano - a
alfabetização. A educadora revolucionou alfabetização través do desenvolvimento
de práticas construtivistas na aquisição da leitura e escrita. A referência de texto
não é a cartilha, com frases sem sentido, os estudantes aprendem a ler em
rótulos de produtos, propagandas e bulas de remédio, além de ter à disposição
muitos livros e o papel do professor é organizar atividades que favoreçam a
reflexão sobre a escrita.
Contudo para Maria das Graças Brasil, médica neurologista e psiquiatra da
infância e adolescência é preciso que o professor conheça mais do que métodos
de ensino. Em um artigo do Jornal do Planalto – Goiânia, a médica afirmou que os
professores fazem uso de diferentes métodos no processo ensino-aprendizagem,
mas muitos não têm conhecimento dos fundamentos científicos e destaca a
importância dos educadores estudarem a neurociência: “A partir do momento que
o educador conhece o que acontece no cérebro, ele entende porque determinado
método funcionou e vai poder conhecer novos caminhos que aprimorem esses
métodos. E assim, ele pode encontrar outras vias para atingir com eficiência o
processo ensino-aprendizado” (2014, p.3).
A partir daí surge outra pergunta: Como o cérebro aprende? A neurofisiologia
e a neuroeducação oferecem informações significativas e indispensáveis para
compreendermos como acontece a “aprendizagem” no cérebro e analisarmos
20
através de respostas científicas a funcionalidade do método ativo tão expansivo
nas escolas do mundo inteiro e principalmente nas classes de Educação Infantil
das escolas brasileiras.
21
CAPÍTULO II
NEUROCIÊNCIA E OS MÉTODOS ATIVOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL
A Neurociência estuda o cérebro humano: como o cérebro produz o nosso
comportamento, como as crianças se desenvolvem, como tomamos decisões,
como o cérebro processa e armazena as informações etc. Conhecer seu
funcionamento é essencial para quem atua na mediação da aprendizagem, pois
estas informações auxiliarão na seleção de métodos e estratégias pedagógicas
que respeitem a forma como o cérebro funciona e com isso maximizar os
resultados na aprendizagem.
Nosso cérebro é composto por uma estrutura - massa encefálica de
milhares de neurônios conectados uns aos outros que funcionam através de
estímulos. Quando o cérebro é estimulado, os neurônios produzem neurotrofina –
proteína que estimulam seu crescimento. Isto significa que os neurônios, também
conhecidos como células nervosas, estão criando novas conexões, ou seja, estão
se comunicando com mais neurônios.
Neurônios são células assim como as outras: se alimentam, respiram, tem o
mesmo gene, os mesmos mecanismos eletroquímicos e as mesmas organelas. O
que o diferencia das outras células são suas especialidades: “Os neurônios tem a
função de conduzir informações, sob forma de atividade elétrica e repassá-las a
outras células com a ajuda de neurotransmissores” (CONSENZA E GUERRA,
2011, p. 57). Quando estimulados, os neurônios reagem com um impulso nervoso
- caminho percorrido pelo “estímulo” ao longo das células nervosas. Neste
processo ocorre a sinapse - transmissão do impulso nervoso (informações)
de um neurônio a outro onde os cinco órgãos dos sentidos são os canais de
captação das novas informações.
22
O psicólogo norte-americano Howard Gardner destaca a importância dos
estímulos e do ambiente social no desenvolvimento de determinadas
inteligências. Depois de muita pesquisa sobre a inteligência humana, Gardner
concluiu que o cérebro possuiu oito tipos de inteligências: lógica, linguística,
corporal, naturalista, intrapessoal, interpessoal, espacial e musical. Contudo, se
uma pessoa, por exemplo, nasce com uma inteligência musical, porém as
condições ambientais (escola, família, região onde mora) não oferecem estímulos
para o desenvolvimento das capacidades musicais, dificilmente este indivíduo
será um músico.
Gardner ainda explica que estas inteligências apresentam-se de duas formas:
algumas pessoas já nascem com determinadas inteligências, ou seja,
a genética contribui, porém, as experiências vividas pelo sujeito também
contribuem para o desenvolvimento de determinadas inteligências, mas a maioria
das pessoas possui uma ou duas inteligências desenvolvidas. Isso explica porque
um indivíduo é muito bom com cálculos matemáticos, porém não tem muita
habilidade com expressão artística.
Criar ambientes favoráveis para estimulação das crianças aumenta as
possibilidades de desenvolverem competências e habilidades (capaz de saber e
fazer) quanto à musicalidade, ao raciocínio lógico-matemático, à inteligência
espacial e sinestésica (motricidade), e outros. Não se trata de qualquer ambiente
e estímulo, é preciso oferecer a criança oportunidades de interagirem com
estímulos que façam sentido para elas. Não é válido, por exemplo, soltar a
criança em um mar de ruído sem significado que hoje a criança vai ficar na sala
ouvindo ao fundo cantigas de roda em mandarim, amanhã alemão, e depois,
russo. Isso é estimulação? É estimulação ruim, é ruído que não acrescenta nada
para a criança, pois não tem como manipular nem usar essas informações de
maneira coerente e produtiva.
Um ambiente sensorialmente enriquecedor onde há presença de cor,
música, sensações, variedade de interação com colegas e parentes das mais
variadas idades, exercícios corporais e mentais proporcionam a criança maior
capacidade cognitiva e de memória.
23
Conhecer o funcionamento cerebral e as funções estabelecidas para cada
área cortical ajuda entender como se pode estimula-lo e quais os impactos
desses estímulos no desenvolvimento da aprendizagem.
Funções cerebrais
Os hemisférios direito e esquerdo dividem-se em quatro áreas chamadas de
lobos cerebrais, cada uma com funções diferenciadas e especializadas. Os lobos
cerebrais são designados pelos nomes dos ossos cranianos nas suas
proximidades e que os recobrem.
Ilustração: Gray's Anatomy (adaptado)
O lobo frontal fica localizado na região da testa; o lobo occipital, na região da
nuca; o lobo parietal, na parte superior central da cabeça; e os lobos temporais,
nas regiões laterais da cabeça, por cima das orelhas. Como potencializar a
capacidade de aprendizagem do cérebro nas diferentes regiões do cortex dentro
da proposta sugerida pelos métodos ativos e pelo Referencial Curricular Nacional
para Educação Infantil-RCNEI?
Os métodos ativos sugerem que os professores criem situações de
aprendizagem para que o aluno seja estimulado a pensar e aproduzir
conhecimento. Ao executar uma tarefa difícil por exemplo, cujo a cognição seja
estimulada, como a elaboração de hipótese e resolução de problemas, a atividade
mental no lobo frontal aumenta. Isto acontece porque a elaboração do
24
pensamento, julgamento social, vontade, determinação para ação e atenção
seletiva são atividades cerebrais predominantes nesta area do cerebro.
Um meio de estimular as crianças da educação infantil para que elaborem e
reelaborem o conhecimento são, as brincadeiras. Brincando a criança desenvolve
a capacidade abstração, interpreta e entende a realidade, pois simula essa
realidade. O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil - RCNEI
considera o “brincar” um direito da criança, meio particular de expressão,
pensamento e comunicação infantil. Tem-se a brincadeira como um dos princípios
que embasa a construção de experiências para o exercício da cidadania.
Os jogos, por exemplo, apesar de serem negligenciados pelas escolas
tradicionais, dado ao fato de parecem não agregar nenhum valor funcional, por
outro lado eles convergem com as propostas da escola nova, Piaget (1969) diz:
“... em todo lugar onde consegue transformar em jogo a iniciação a leitura, ao
cálculo ou a ortografia observa-se que as crianças se apaixonam por essas
ocupações tidas como maçantes”. Os jogos promovem contextos ricos e
desafiadores para o aluno explorar diferentes tipos de situações-problema.
Através da ludicidade presente nas brincadeiras, as crianças tem a oportunidade
de se apropriar de novos conhecimentos, pois podem pensar levantar hipóteses,
confrontar estratégias, discutir, interagir com os colegas, com as situações e os
objetos de conhecimento, comparando pontos de vistas diferentes.
O professor deve conhecer bem o jogo, para orientar as crianças, criar e
propor, com base nele, situações-problema desafiadoras, bem como observar as
tentativas do aluno durante o jogo, apoiando-o quando surgirem às dificuldades e
estimulando-o a desenvolver suas potencialidades. Para Relvas (2009) os
exercícios orientados têm a importante finalidade de estimular as sinapses
nervosas para que ocorra um (re)arranjo dessas informações neurais, sejam elas
sensitivas ou/e motoras. Para isto podemos contar com a didática de ensino como
aliada na elaboração de estratégias adequadas a cada grupo de alunos.
Outro aspecto que evidencia a importância da orientação do professor nos
jogos é que o mesmo tem o papel de assegurar a cada participante do jogo o
25
direito de pensar, expressar o pensamento, negociar as ideias e criar outras com
base nas discussões realizadas. Expor as crianças a situações de aprendizagem
desse gênero, favorece o desenvolvimento da plasticidade cerebral (capacidade
adaptativa do cérebro). Deste desenvolvimento depende todo o processo de
aprendizagem, reabilitação das funções motoras e sensoriais - o sistema nervoso
central modifica sua estrutura e funcionamento em resposta às experiências
provocadas por estes estímulos e gera novas possibilidades de pensar e agir
sobre o meio.
Embora a plasticidade cerebral também ocorra com adultos é mais comum
em crianças: “Como o sistema nervoso de uma criança em desenvolvimento é
mais plástico que o sistema nervoso de um adulto, a atuação correta e eficaz na
estimulação da plasticidade é de fundamental importância para a máxima da
função motora/ sensitiva do aprendente, visando facilitar o processo de aprender
a aprender no cotidiano escolar”. (RELVAS, 2009, p.50)
A programação de necessidades individuais e capacidade para ligações
emocionais também são controlodas pelo lobo frontal, assim como os movimentos
voluntários, seleção da sequencia de a ser ativado, em que ordem e avaliação de
seu resultado e são controlados na parte da frente do lobo frontal - córtex pré-
frontal.
Enquanto o lobo frontal é estimulado por atividades mentais abstratas, o lobo
occipital é ativado quando recebe estimulação visual. Esta área, também
designada por córtex visual é constituida por várias sub áreas que processam os
dados visuais recebidos do exterior. Há zonas especializadas em processar a
visão da cor, do movimento, de profundidade, da distancia, etc.
É pela visão que absorvemos a maior parte das informações, seja
observando um objeto ou lendo um texto, os olhos que nos conectam ao mundo
exterior e nos permite assimilar novos conhecimentos. Por isso, os estímulos
visuais são tão importantes na sala de aula, além despertar o interesse e a
curiosidade dos alunos, ajuda os estudantes a reterem melhor o conteúdo, pois a
utilização de imagens e figuras favorece a constituição da memória relativa ao
26
assunto abordado, lembrando que: sem mémoria não há aprendizagem. A médica
e pesquisadora Pascale Michelon (2012) diz que: “Se existe uma palavra mágica
que abre as portas para uma memória melhor, esta palavra seria figura.
Quando uma informações visual é recebida pelo lobo occipital ela é
comparada com dados anteriores existentes na memória e permite, por exemplo,
identificar um cão, um automóvel, uma caneta. Contudo a área visual não trabalha
isoladamente, ela comunica-se com outras áreas do cérebro que dão significado
ao que vemos. Sua função também inclui o reconhecimento global da palavra na
forma visual. Na educação infantil esta atividade é iniciada através do
reconhecimento do nome, isto porque o nome é a palavra mais significativa para
criança. Se o cérebro não processar as formas diferentes que vemos, não será
capaz de compreender a geometria de formas, reconhecer palavras e
possivelmente apresentará dificuldades no processamento da leitura durante a
aprendizagem.
Outra função realizada pelo lobo occipital é a capacidade de compreender e
diferenciar formas. Uma lesão nesta área provoca agnosia - impossibilidade de
reconhecer objetos, palavras e, em alguns casos, os rostos de pessoas
conhecidas ou de familiares.
A médica e educadora Maria Montessori - uma das primeiras a criar métodos
ativos de ensino-aprendizagem, sugere que a criança seja conduzida a observar e
perceber distâncias e cores utilizando caixas com cartões, encaixes sólidos,
objetos de diferentes tamanhos e espessuras, num processo que ela chama de
“educação da vista”. Ao participarem de experiências como estas, as crianças
aumentam a atividade mental na área occipital do cérebro, potencializando
habilidades que posteriormente contribuirão para o processo de aquisição da
leitura, entre outros.
Pesquisas que utilizam neuroimagem funcional ou registros elétricos precisos
revelam três centros corticais importantes para a leitura das palavras. Um deles
se localiza no lobo frontal, em região que coincide, em parte, com a área de
Broca (responsável pela expressão da linguagem e a motricidade da fala); outro
27
se localiza na junção parieto-temporal, coincide parcialmente com outra área
importante do cérebro relacionada à compreensão da fala - área de Wernicke, e
o terceiro está situado na área occipto-temporal que fará o reconhecimento
global da palavra na forma visual.
Como visto, o cérebro possui áreas geneticamente programadas para fala e
expressão verbal, entretanto “... as zonais corticais da visão parecem conter um
circuito que não é específico para o reconhecimento da palavra, pois está
envolvido em outras habilidades” (CONSENZA E GUERRA, 2011). Trata-se de
uma região que tem outras funções na percepção visual, mas que no hemisfério
esquerdo é recrutada e adaptada para o processamento da leitura.
Já os estímulos auditivos são processados pelo lobo temporal – sua principal
função. Tal como nos lobos occipitais, é uma área de associação onde recebe
dados capatados pelos órgãos dos sentidos (orelha) e, em interação com outras
zonas do cérebro, lhes atribui um significado permitindo ao homem reconhecer o
que ouve. Tais estímulos são indispensáveis para o desenvolvimento da
línguagem.
A linguagem constitui um eixos de trabalho da educação infantil apresentada
pelo Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RCNEI, dada sua
importância para a formação do sujeito, para a interação com as outras pessoas,
na orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e
no desenvolvimento do pensamento:
A educação infantil, ao promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, se constitui em um dos espaços de ampliação das capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado pelas crianças. Essa ampliação está relacionada ao desenvolvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências linguísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever. (BRASIL: RCNEI, 1998 p. 117)
Embora o objetivo da educação infantil não seja prioritáriamente a
alfabetização, diversas atividades podem ser realizadas na pré-escola, a fim de
28
estimular determinadas áreas corticais e preparar a acriança para os anos
escolares posteriores.
A roda de conversa é uma atividade rotineira na educação infantil, que
possibilita o desenvolvimento da fala e da escuta. Na roda de conversa a criança
participa ativamente de situações de comunicação oral, expõe suas ideias com
gradativa clareza e autonomia, ouve as ideias dos outros e amplia seu
vocabulário. Para este momento o professor pode providenciar recursos lúdicos e
audiovisuais que sirvam como fio condutor para introduzir a conversa, como:
música, brincadeira, pergunta instigante, situação problema que leve a elaboração
de hipótese, imagens, notícias, selecionar temas familiares ou assuntos que
estejam de acordo com que está sendo trabalhado na sala de aula.
Vale a pena lembrar que a roda de conversa é apenas “uma” entre “muitas”
alternativas de atividades para se atingir o objetivo de denvolver competências
linguísticas básicas nas crianças. Quanto mais as crianças puderem falar em
situações diferentes, como contar o que lhes aconteceu em casa, contar histórias,
dar um recado, explicar um jogo ou pedir uma informação, mais poderão
desenvolver suas capacidades comunicativas de maneira significativa. Porém, é
importante está atento para que esse momento não se torne um monólogo com o
professor no qual as crianças são chamadas a responder em coro a uma única
pergunta dirigida a todos, ou cada um por sua vez, em uma ação totalmente
centrada no adulto, como acontece nas escolas tradicionais.
Já a aquisição da leitura e da escrita faz parte de um longo processo ligado à
participação da criança em práticas sociais de leitura e escrita que tem início bem
antes dos anos escolares: “... no primeiro ano de vida a interação com as pessoas
moldam na criança a percepção dos fonemas da língua nativa. Esse processo é
importante para linguagem falada e fornece base para aprendizagem da leitura.
(CONSENZA e GUERRA, 2011 p. 104). Essa concepção supera a ideia de que é
necessário, em determinada idade, instituir classes de alfabetização para ensinar
a ler e escrever.
29
No processo de assimilação da língua oral e escrita, além do lobo occipital,
envolvido no reconhecimento global das palavras também participam regiões
frontal e parieto-temporal do cérebro, por eles acontece a ‘montagem’ grafo-
fonológica das palavras, que converte passo a passo letras em sons. Ambas as
vias convergem com a área de Wernicke, que possibilita ao leitor compreeder o
significado das palavras.
Consenza e Guerra evidenciam a importância das crianças aprenderem a
lidar com os fonemas para o processo de alfabetização:
Aprender a ler é uma tarefa complexa que exige várias habilidades, entre elas, é claro, o conhecimento dos símbolos da escrita e a sua correspondência com os sons da linguagem. Muitas pesquisas têm mostrado, no entanto, que o melhor indicador para o aprendizado da leitura é a habilidade que a criança tenha de lidar com os fonemas. Maus leitores parecem não ter habilidade de identificar adequadamente os sons constituintes da palavra, o que os impede de fazer a conexão automática da representação gráfica das letras com os sons. (CONSENZA E GUERRA, 2011, p. 104)
Para que a criança desenvolva habilidade de lidar com os fonemas é
preciso oferecê-la estímulos ricos, com múltiplas possibilidades de manipulação
dos sons, através de atividades como: a) completar a música, que irá favorecer a
constituição da memória auditiva; b) procurar de onde vem os sons (chuva,
animais, objetos caindo...), uma alternativa para esta atividade é esconder um
despertador tocando em algum local da sala ou em outro ambiente para que as
crianças procurem. O professor pode dar pistas dizendo a palavra quente quando
as crianças estiverem perto do local onde objeto está escondido e frio as que
estiverem distantes; c) sequencia de palavras, a professora inicia dizendo: Fui ao
mercado comprar pão e depois cada criança repete a frase e acrescenta um item,
por exemplo, fui ao mercado comprar pão e queijo, e assim por diante (crianças
com 5 anos de idade, deve dar conta de repetir até 5 palavras). d) identificação
de rimas etc.
Estas atividades têm como objetivo o desenvolvimento da consciência
fonológica, ou seja, capacidade que permite criança analisar e refletir, de forma
consciente, sobre a estrutura fonológica da linguagem oral e escrita, habilidades
30
que facilitarão o processo de alfabetização. De acordo com os defensores do
método ativo, a análise e reflexão sobre o objeto de ensino, neste caso, a
linguagem, deve ser uma ação constante em direção a construção da
aprendizagem.
De forma semelhante ocorrida com a linguagem com relação às áreas
programadas geneticamente para compreensão da fala e expressão verbal e o
recrutamento de circuitos neurais para o reconhecimento das palavras, o cérebro
humano também apresenta características semelhantes que o habilita a lidar com
o número. A percepção da quantidade parece depender de um circuito localizado
no lobo parietal, uma região geneticamente programada para percepção dos
estímulos táteis e espacial.
O lobo parietal é constituído por duas subdivisões, a anterior e a posterior. A
primeira, também chamada de córtex somatossensorial, tem a função de
possibilitar a percepção de sensações como o tato, a dor e o calor. A zona
posterior é uma área secundária que analisa, interpreta e integra as informações
recebidas pela anterior, permitindo o indivíduo se localizar no espaço, reconhecer
objetos através do tato etc.
Assim como no processamento da linguagem, áreas cerebrais diferentes
estão envolvidas na decodificação dos numeros, estas áreas estão relacionadas
com a percepção da quantidade, localizada no lobo do cortex parietal dos dois
hemisférios; com a representação visual dos algarismos localizado na área
occipto-temporal dos dois hemisférios e a representação verbal (um, dois, três...),
localizada na região temporo-parietal no hemisfério esquerdo, ligado ao
processamento da linguagem. Isto evidencia que a construção de competências
matemáticas pela criança ocorre simultaneamente ao desenvolvimento de
inúmeras outras de naturezas diferentes e igualmente importantes, tal como a
linguagem.
O RCNEI explica que as noções matemáticas (contagem, relações
quantitativas e espaciais etc.) são construídas pelas crianças a partir das
experiências proporcionadas pelas interações com o meio. As crianças têm e
31
podem ter várias experiências com o universo matemático, fazer descobertas,
tecer relações, organizar o pensamento, o raciocínio lógico, situar-se e localizar-
se espacialmente, por meio da resolução de problemas e consequentemente,
desenvolver a capacidade de generalizar, analisar, sintetizar, inferir, formular
hipótese, deduzir, refletir e argumentar. Mas como estimular as conexões
nervosas envolvidas nesses circuitos?
Aos 2 anos de idade as crianças já são capazes de aprender a contar, devido
ao grande desenvolvimento da linguagem que ocorre nessa época. O professor
pode organizar junto com as crianças um quadro de aniversariantes, contendo a
data do aniversário e a idade de cada criança; utilizar um calendário para contar a
passagem do tempo, contar quantos dias faltam para seu aniversário, por
exemplo, ou outro evento da turma; construir diferentes circuitos de obstáculos
com cadeiras, mesas, pneus e panos por onde as crianças possam engatinhar ou
andar — subindo, descendo, passando por dentro, por cima, por baixo;
proporcionar brincadeiras de construir torres, pistas para carrinhos e cidades, com
blocos de madeira ou encaixe, possibilitando representação do espaço numa
outra dimensão; organizar espaços com objetos e brinquedos que contenham
números, como telefone, máquina de calcular, relógio etc. A partir dos 3 anos as crianças podem realizar pesquisar com informações
numéricas de cada membro de seu grupo (idade, número de sapato, número de
roupa, altura, peso etc.) e comparar informações; podem colecionar em grupo um
álbum de figurinhas para que folhem o álbum e localizem figurinhas em
determinadas páginas; montar uma lista telefônica com os numeros de telefone
do colegas da turma com a ajuda do professor etc. Consenza e Guerra (2011)
explicam que a exposição verbal e a educação matemática desenvolve o
reconhecimento de algarismo, sua expressão, bem como os procedimentos de
cálculos. Portanto treinar as crianças nessas atividades ajuda na formação de
conexões nervosas envolvidas nesses circuitos.
Uma lesão na área parietal pode ocasionar incapacidade de realizar
cáuculos, uma discauculia eo aprecimento de problemas espaciais, como uma
dificuldade de distinguir entre direita e esquerda. Mas uma lesão apenas no lobo
32
parietal esquerdo pode ocasionar incapacidade de realizar cáulos, mas a noção
de quantidade, capacidadede fazer estimativas ficam intactas, pois esta função é
realizada pelo lobo parietal direito. Tanto o hemisfério direito quanto o esquerdo
identificam e comparam o número, mas só o hemisfério esquerdo é capaz de
decodificar a representação verbal.
Embora existam partes do cérebro especializadas em determinadas funções,
e maneiras de estimulá-las para maximizar as respostas no processo ensino-
aprendizagem, seu funcionamento é global, pois o cérebro é uma grande rede de
comunicação onde todas as partes se comunicam.
33
CAPÍTULO III
DIVERSÃO EM SALA DE AULA E A INFLUENCIA DOS
NEUROTRANSMISSORES NA APRENDIZAGEM
Quem poderia imaginar que algum dia a sala de aula seria um espaço para
diversão? Este é um assunto que quebra certos paradigmas da escola tradicional,
mas que encontra fundamento na neurociência para sua inserção em situações
de aprendizagem e, é visto com bons olhos pelos defensores dos métodos ativos
que evidenciam a importância de processos dinâmicos de ensino-aprendizagem.
Além disso, o RCNEI tem as brincadeiras (meio de diversão) como um dos pilares
do trabalho pedagógico da educação infantil, reconhecendo-a como meio singular
para o desenvolvimento da criança:
A brincadeira favorece a autoestima das crianças, auxiliando-as a superar progressivamente suas aquisições de forma criativa. Brincar contribui, assim, para a interiorização de determinados modelos de adulto, no âmbito de grupos sociais diversos. Essas significações atribuídas ao brincar transformam-no em um espaço singular de constituição infantil. (BRASIL: RCNEI, 1998, p. 27)
Ao brincar as crianças recriam e repensam os acontecimentos que lhes
deram origem, sabendo que estão brincando. Fazendo isso, elas mobilizam
atividades mentais potencializadoras de suas capacidades cognitivas. Brincando
pode-se despertar na criança o prazer pela leitura, pela descoberta, prazer em
compartilhar, em ajudar etc. Além disso, a brincadeira é uma atividade que
desenvolve as capacidades de atenção, memória, percepção, sensação e todos
os aspectos básicos referentes à aprendizagem.
Em muitas escolas, a leitura, a escrita e a tabuada são usadas como
instrumento para castigar os alunos indisciplinados, isto ocorre quando os
mesmos são levados a fazer inúmeras cópias de algo discriminado pelo
professor, logo, ler escrever e calcular estará sempre associado a um “desprazer”,
surtindo efeito contrário na vida escolar dos alunos submetidos a estes
procedimentos. Na educação infantil, o ato de “pensar” também tem sido
34
relacionado a castigo, por exemplo, quando uma criança tem um comportamento
inadequado, ela é encaminhada ao “cantinho do pensamento”.
Evidentemente uma criança com comportamentos inadequados precisa ser
corrigida, contudo é necessário repensar alguns termos usados pelos
profissionais que lidam com a educação, a fim de evitar estas possíveis
associações, pois o ato de ler, resolver problemas matemáticos e escrever, entre
outras atividades escolares devem ser internalizadas pela criança como
prazeroso e não o contrário.
Já a exposição das crianças a situações de aprendizagem prazerosas que
envolva métodos dinâmicos de ensino, provoca reações químicas no cérebro
favoráveis a aprendizagem. O cérebro libera substâncias que proporcionam
sensação de prazer e favorecem a memorização, pois quanto maior a carga
emocional, maior a possibilidade de fixação, incluindo situações engraçadas e
discrepantes.
Essas substâncias químicas ficam armazenadas em bolsas/vesícula no interior
dos neurônios e funcionam como mensageiros químicos, fazendo a transferência
de informações entre um neurônio e outro - são os neurotransmissores.
Cada neurotransmissor funciona em áreas cerebrais bastante espalhadas,
mas muito específicas do cérebro e podem ter efeitos diferentes dependendo do
local de ativação. Neurotransmissor é como um telefone para comunicação entre
os neurônios. Essa comunicação se chama sinapse. Os neurotransmissores
clássicos são: acetilcolina, as catecolaminas (dopamina, adrenalina e
noradrenalina) e, a artista principal, a serotonina.
Serotonina.
A fama da serotonina se dá pelas suas múltiplas funções. Esse
neurotransmissor, também conhecido como sinônimo de felicidade possui forte
efeito no humor, memória, aprendizado, alimentação, desejo sexual, ansiedade e
tranquilidade. Participa também de outras funções no organismo, como apetite,
35
controle de temperatura e é muito importante no sistema de dor e na estabilização
do sono reparador. A falta desse neurotransmissor é a causa de doenças como
depressão, ideias suicidas transtorno obsessivo-compulsivo alimentares, sexuais
e do sono. Para sua boa produção da serotonina é importante o consumo
de triptofano- substância encontrada no leite, além de uma boa rotina de 6 a 8h
de sono e exercícios regulares.
A dopamina
A dopamina tem diversas funções no cérebro, incluindo o comportamento,
atividade motora, automatismos, motivação, recompensa, produção de leite,
regulação do sono, humor, ansiedade, atenção, aprendizado. Controla a
estimulação e os níveis do controle motor.
A dopamina regula emoções agradáveis. A diminuição do nível de dopamina
está associada com a doença de Parkinson, Quando os níveis de dopamina estão
baixos pessoas com mal de Parkinson, não conseguem se mover, enquanto os
pacientes de esquizofrenia são geralmente encontrados para ter um excesso de
dopamina nos lobos frontais do cérebro.
A acetilcolina
A acetilcolina é que controla a atividade de áreas cerebrais relacionadas
à atenção, aprendizagem e memória. Este neurotransmissor é responsável por
estimular os músculos. Neurônios motores ativos que controlam os músculos
esqueléticos, atuando na junção neuromuscular para relaxar músculos. As
pessoas com doença de Alzheimer geralmente são encontrados para ter um nível
significativamente mais baixo de acetilcolina.
A noradrenalina
A noradrenalina aumenta os batimentos cardíacos e a pressão arterial,
recruta a glicose guardada no corpo para ser utilizada, prepara o músculo para
agir rapidamente e aumenta a sua contratura, aumenta o estado de alerta.
Os neurotransmissores são liberados a partir de certos estímulos, a
dopamina, por exemplo, é liberada quando vivenciamos experiências satisfatórias
36
esta substância é importante no processo de ensino porque ajuda o cérebro a se
lembrar de fatos com mais agilidade, é a dopamina quem ativa o hipocampo para
que este arquive informações, ou seja, memorize. O hipocampo é uma estrutura
localizada nos lobos temporais do cérebro humano, considerada a principal sede
da memória, pois, é onde ficam guardadas as memórias de longo prazo
Quando a aprendizagem desperta emoções, sensações de prazer,
dificilmente o educando esquecerá o que aprendeu. “Aprendemos com a
cognição, mas sem dúvida alguma, aprendemos pela emoção, o desafio é unir
conteúdos coerentes, desejos, curiosidades e afetos para uma prazerosa
aprendizagem”. (RELVAS, 2009).
A diversão também desperta sensações prazerosas e ativam
neurotransmissores que nos fazem sentir alegria, satisfação entre outras, além de
atuar na constituição de memórias inesquecíveis. Quando essas substâncias são
liberadas, influenciam a aprendizagem e o comportamento, daí a importância de
aprendermos um pouco sobre eles.
Aprender é um fenômeno complexo que envolve fatores externos (sociais) e
internos (psicológicos, biológicos, emocionais) que atuam no sujeito a partir da
interação do mesmo com o meio e sua exposição a diferentes estímulos e
experiências, elementos fundamentais para o processo de aprender. Atrair e
manter a atenção das crianças no que está sendo proposto é um desafio cada
vez maior, pois, além doas fatores anteriormente citados, a cada dia as crianças
recebem mais e mais estímulos diferentes, tornando-as mais ativas e seletivas.
Ainda bebês, já entram em contato com a tecnologia, programas educativos na
TV super interativos desafiando ainda mais a criatividade e superação do
professor no planejamento das atividades pedagógicas.
Quando uma informação chega ao cérebro ela é avaliada, se for considerada
relevante poderá ser mantida; do contrário será descartada. Isto acontece porque
o cérebro é seletivo e possui critérios de avaliação das informações, que, registra
no cérebro aquilo que considera importante, caso contrário, a informação se dilui.
37
No critério de avaliação da informação está relacionado ás preferências,
experiências anteriores, necessidades e estado emocional individual de cada um,
isto porque “... o cérebro tem uma motivação intrínseca para aprender, mas só
está disposto a fazê-lo para aquilo que considera significante...” (CONSENZA e
GUERRA, 2011 p.48). Diante disso, qual alternativa para atrair e manter a
atenção das crianças?
O especialista em educação Júlio Furtado (2009) diz que é preciso dar
significado aquilo que se aprende para que o aprendiz julgue importante a
informação e mobilize sua atenção para as situações de aprendizagem propostas.
Além disso, o conteúdo escolar a ser aprendido tem que ser potencialmente
significativo. Isto significa que quem ensina precisa levar em consideração os
conhecimentos prévios do aprendiz, seus interesses e experiências, partir daquilo
que o aluno já sabe reforça-lo, e refazê-lo sentir parte do processo de aprender e
não apenas um telespectador.
Aprendizagem Significativa
“Aprender é nosso principal instrumento de sobrevivência” FURTADO (2009).
Esta máxima tem fundamento na vida dos bebês, que desde os primeiros dias de
vida precisam aprender a respirar, sugar o peito, reconhecer o mundo, engatinhar,
andar, falar, ganhar, perder etc. Etimologicamente “aprendizado” vem do Latim
APPREHENDERE, “agarrar, tomar posse de”. O sentido metafórico é “agarrar
com o conhecimento, com a mente”.
O resultado da aprendizagem consiste na aquisição ou modificação de
comportamentos, competências, habilidades, conhecimentos e valores.
Lembrando que, este processo não deve ser pensado de maneira superficial e
apenas empírica, pois, aprender é uma das atividades mentais mais importantes
dos seres humanos.
A aprendizagem significativa é um meio de transformar a informação em
aprendizagem sólida e aplicável, diferente, do que Ausubel chama de
aprendizagem mecânica, em que as informações são decoradas e depois não
38
sabe-se o que fazer com elas. A promoção da aprendizagem significativa se
fundamenta num modelo dinâmico, no qual é levado em conta todos os saberes e
interconexões mentais dos aluno, pois o cerebro está constantemente buscando
associar as novas informações a outras já exintes, tentando dar “sentido” a
informação nova, entender sua impotância:
O processo que permite a construção de aprendizagens significativas pelas crianças requer uma intensa atividade interna por parte delas. Nessa atividade, as crianças podem estabelecer relações entre novos conteúdos e os conhecimentos prévios (conhecimentos que já possuem), usando para isso os recursos de que dispõem. Esse processo possibilitará a elas modificarem seus conhecimentos prévios, matizá-los, ampliá-los ou diferenciá-los em função de novas informações, capacitando-as a realizar novas aprendizagens, tornando-as significativas. (BRASIL: RCNEI, 1998, p. 33)
Piaget, conceituado psicólogo infantil, ao trabalhar em parceria com Alfred
Binet, criador de um teste de inteligência que serviu de inspiração para o famoso
teste de QI, vivenciou experiências que o levaram a perceber que crianças da
mesma faixa etária cometiam erros semelhantes nos testes de inteligência de
Binet. Desta observação Piaget passou a acreditar que o pensamento se
desenvolve gradativamente e que o desenvolvimento cognitivo, que é a base da
aprendizagem, se dá por assimilação e acomodação.
No processo de assimilação a criança tenta associar uma nova informação
aos seus conhecimentos prévios. Isto significa que a criança tenta continuamente
adaptar os novos estímulos aos esquemas que ela possui até aquele momento.
A criança tenta "encaixar" o estímulo em um esquema já disponível no cérebro.
Por exemplo, imaginemos que uma criança está aprendendo a reconhecer
animais, e até o momento, o único animal que ela conhece e tem organizado
esquematicamente é o cachorro. Assim, podemos dizer que a criança possui, em
sua estrutura cognitiva, um esquema de cachorro. Pois bem, quando
apresentada, a esta criança, outro animal que possua alguma semelhança, como
um cavalo, ela a terá também como cachorro (marrom, quadrúpede, um rabo,
pescoço, nariz molhado, etc.).
O que Piaget chama de “construção de novos esquemas de assimilação”
(resultado do processo de desenvolvimento cognitivo – aprendizagem) pode ser
39
explicado pela neurociência como: capacidade de o neurônio receber informações
(assimilar) e provocar modificações e rearranjos em suas conexões sinápticas
(plasticidade cerebral) o que possibilitará novas aprendizagens: “Uma maneira
adequada de ampliar e/ou modificar as estruturas do aluno consiste em provocar
conflitos cognitivos que representem desequilíbrio a partir dos quais, mediante a
atividades, o aluno consiga equilibrar-se, superando a discordância reconstruindo
o conhecimento” (FURTADO apud PIAGET, 2009, p. 57) Júlio Furtado (2009) em Aprendizagem significativa descreve sete atitudes
para orientar a ação do professor no planejamento de aulas que promovam a
aprendizagem significativa:
1. Dar sentido ao conteúdo: toda aprendizagem parte de um significado
contextual e emocional. Quanto o tema, por exemplo, é a classificação dos
animais, uma forma de dar sentido é um passeio ao zoológico, ou conhecer
os animais de estimação dos colegas da classe.
A necessidade de a criança construir um sentido e concreto em relação ao
conteúdo que será apresentado, decorre de uma característica
fundamental do cérebro humano, que é de totalização. O cérebro aprende
primeiro a forma global para depois observar as partes. Por esta razão é
necessário permitir que as crianças interajam com o objeto de forma
espontânea e natural.
2. Especificar: após contextualizar o educando precisa ser levado a perceber
as características específicas do que está sendo estudado. Durante o
passeio ao lógico, por exemplo, o professor deve facilitar a observação por
meio de perguntas, como: Que animais tinham o corpo cobertos de penas?
ou Que animais conseguem viver dentro e fora da água?. Nesta fase a
criança irá caracterizar o objeto, pois a percepção do mesmo só se faz
plenamente, quando já se construiu um sentido contextual.
40
3. Compreender: é quando se dá a construção do conceito, que garante sua
utilização em diversos contextos. Compreender é formar conceitos sobre
algo. Nesta fase o professor deve facilitar a síntese do conceito através da
leitura de texto de fácil compreensão ou assistir um vídeo sobre o assunto
ou realizar pesquisas orientadas em sala de aula.
4. Definir: significa esclarecer um conceito. O aluno deve esclarecer um
conceito com suas palavras, de forma que o conceito lhe seja claro.
5. Argumentar: após definir, o aluno precisa relacionar logicamente vários
conceitos e isso ocorre por meio do texto falado, escrito, verbal e não
verbal. Nesta fase o professor deve ouvir as definições e desafiar a lógica
do aluno sobre o tema estudado.
Quando uma criança diz, por exemplo, que os anfíbios possuem melhor
condições de sobrevivência porque consegue viver em dois meios
diferentes, o professor pode fazer o seguinte questionamento: Qualquer
animal que mergulha na água é um anfíbio? Toda ave voa?. Ao conseguir
argumentar, o aluno passa a reunir condições de discutir, que a sexta fase
da construção da aprendizagem significativa.
6. Discutir: Nesse passo, o aluno deve formular uma cadeia de raciocínio
pela argumentação.
7. Levar para vida: o sétimo e último passo da (re)construção do
conhecimento é a transformação, a intervenção na realidade. A
aprendizagem soe significativa caso se insira de forma significativa na
realidade.
Dotar de significado a estratégia fará com que a mesma seja funcional e
permitirá que o aluno realize generalizações, ou seja, aplique a estratégia usada
anteriormente em diferentes situações de aprendizagem.
Diferentes modalidades de aprendizagem
41
A anatomia do nosso cérebro pode ser similar, mas a neurociência começa a
demonstrar cientificamente que a maneira como cada um aprende não é e, esta
informação, tem ajudado professores no planejamento de suas aulas, através de
alternativas didáticas que se adaptam às peculiaridades de cada aluno, entre elas,
maneiras personalizadas para um aprendizado melhor e mais eficiente.
Personalizar a aprendizagem é uma ação que pode ser pensada a partir
da observação de áreas de interesse da criança e identificação do canal de
comunicação da criança:
Existem pessoas que dão maior atenção a informações visuais, outras a
informações orais e um terceiro grupo que são mais sinestésicos caracterizando
uma preferência por um ou outro canal de comunicação. Estas preferências
influenciam diretamente a aprendizagem, pois quem desenvolve mais preferência
pelo campo visual terá maior resultado em situações que houver maior exploração
de recursos e informações visuais; o auditivo pelas informações orais e o
sinestésico aprende melhor fazendo, interagindo, sentido. Com as crianças não é
diferente!
Estas diferentes modalidades de aprendizagem evidenciam a necessidades
de garantir uma variação metodológica: “A sala de aula deve sempre conter
atividades que favoreçam a aprendizagem por meio dos três canais de
comunicação como forma de democratizarmos o acesso a aprendizagem” (JULIO
FURTADO, 2009, p. 44)
Todas as pessoas possuem as três modalidades, contudo a maioria tem uma
que é predominante e deve ser observada e explorada pelo professor que deseja
elevar os resultados de aprendizagem com dos alunos. Uma das maneiras de
identificar o canal de comunicação preferencial dos alunos é através do
vocabulário que usam, pois involuntariamente os eles expressam palavras que lhe
identificam sinestésicos, visuais ou auditivos, por exemplo, "professor eu não
consegui pegar o assunto" (sinestésico), "professor eu não consegui escutar
direito o conteúdo" (auditivos) e "professor eu não consegui visualizar o que o
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senhor falou" (visuais). Por isso o professor deve conhecer as peculiaridades de
seus alunos, como ele aprendem, qual é o seu potencial de aprendizagem e como
ele tira proveito das instruções que lhes é oferecida.
Se o professor ouvir as palavras que os alunos usam, saberá quais são seus
canais de comunicação favoritos e aprender a falar em cada um deles.
Modalidade visual
Nesta modalidade a mente vagueia durante as atividades mentais, tem
problemas em seguir ou relembrar atividades mentais, prefere observar a
efetivamente participar de atividades de discussões em grupo e gosta de leitura
silenciosa. Memoriza facilmente vendo retratos e diagramas, presta atenção em
detalhes. A utilização de vídeos, filmes, a pratica de destacar ideias centrais em um
texto com canetas luminosas ajudam nesse processo.
Modalidade Auditiva
O aluno preferencialmente auditivo distrai-se facilmente em apresentações
visuais, gosta de atividades auditivas que envolva música, trava-línguas, conotação
de histórias etc. Prefere leitura em voz alta e frequentemente tem letra descuidada
e ilegível, mas memoriza facilmente sequencias e listas.
Modalidade sinestésica
Os sinestésicos costumam mexer no lápis ou o pé enquanto pensam, adoram
manusear objetos, utilizam bastante o gesto com a mão e linguagem corporal,
tocam as pessoas enquanto falam com elas tende a não gostar de ler, aprecia
atividades de resolução de problemas, costuma ser desorganizado, porém tem
facilidade de expressar emoções.
As estratégias mais adequadas para este grupo são os jogos, fazer
apresentações pessoais, associação de conceitos e emoções, resolução de
problemas etc.
Quando se usa os três sentidos mais importantes em sala de aula os cérebros dos
alunos são mais profundamente ativados. Entretanto é valido ressaltar que a forma de
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memorização mais douradora é a cinestesia em que o aluno aprende sentido as
emoções.
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CONCLUSÃO
Os avanços das pesquisas em neurociências não apenas contribuíram para
dar fundamentação epistemológica e, ou complementar certas teorias de
aprendizagem, como também contribuiu para esclarecer equívocos teóricos sobre
o funcionamento do cérebro, equívocos difundidos em uma época onde não havia
informação e recurso tecnológicos suficiente para chegarem a uma conclusão
sólida sobre determinados conceitos.
Em concordância com os princípios dos métodos ativos de ensino, a
neurociência fundamenta a necessidade de educar levando em conta os saberes e
as experiências dos alunos, respeitando o tempo, o modo de aprendizagem, a
maneira como cada aluno apreende o saber, pois os alunos não são iguais. Além
disso esclarece que em processo dinâmicos de aprendizagem ampliam-se as
possibilidades de implementar ações inovadoras de ensino, meios de
aprendizagem que não estão vinculados à repetição de informação, mas sim a uma
forma construtiva de produzir conhecimento e assimilar as informações.
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Bibliográficas
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Brasil, 1998. p.27 a 33 a 117 a 157.
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CONSENZA, Ramon M; GUERRA, Leonor B. Neurociência e Educação. Porto
Alegre: Artmed, 2011
DOS SANTOS, Júlio Cesar Furtado. Aprendizagem Significativa. 2º edição.
Porto Alegre: Mediação, 2009
PIAGET, Jean, Psicologia e Pedagogia. 7º edição. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1969.
RELVAS, Marta Pires. Fundamentos Biológicos da Educação. 4º edição. Rio
de Janeiro:Wak , 2009
Revista Nova Escola. São Paulo: Outubro de 2008.
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Webgrafia
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http://www.metas.com.br/ensino-e-educacao/pnl-na-educacao> acesso em:
07/08/2015.
BRASIL, Universia. Como a Neurociência está invadindo a sala de aula.
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ESCOLA, conteúdo. Maria Montessori. <URL:
http://www.conteudoescola.com.br/nossos-mestres/84-maria-montessori> acesso
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SUPER, Thomas Edison, o gênio da lâmpada. <URL:
http://www.super.abril.com.br/cotidiano/thomas-edison-genio-lampada-
438845.shtml > acesso em: 28/03/2015.
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ÍNDICE
CAPÍTULO I
DIDÁTICA E OS MÉTODOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM 10
Concepção da escola tradicional e da escola nova sobre a didática 12
Métodos tradicionais de ensino 13,15
Métodos ativos de ensino 16,20
CAPÍTULO II
NEUROCIÊNCIAS E OS MÉTODOS ATIVOS NA EDUCAÇÃO INFANTIL 22
Múltiplas inteligências 22
Funções cerebrais e os métodos ativos 23,32
CAPÍTULO III
DIVERSÃO EM SALA DE AULA E A INFLUENCIA DOS NEUTRANSMISSORES
NA APRENDIZAGEM 33
Ação dos neurotransmissores na aprendizagem 34
Aprendizagem significativa 37
Modalidades de aprendizagem 41,42