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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NAS QUESTÕES ATUAIS RELATIVAS AO PROCESSO DE ENSINO- APRENDIZAGEM DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS Laurence Rogy ORIENTADORA: Profa. Dra. Marta Relvas Rio de Janeiro 2018 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL · inteligências múltiplas (Gardner, Estruturas da mente) e da atenção (Lachaux, Le cerveau attentif), propõe-se relacionar esses

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NAS QUESTÕES

ATUAIS RELATIVAS AO PROCESSO DE ENSINO-

APRENDIZAGEM DAS LÍNGUAS ESTRANGEIRAS

Laurence Rogy

ORIENTADORA:

Profa. Dra. Marta Relvas

Rio de Janeiro

2018

DOCUMENTO P

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LEID

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EITO A

UTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM como requisito

parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica.

Por: Laurence Rogy

A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA NAS QUESTÕES

ATUAIS RELATIVAS AO PROCESSO DE ENSINO-

APRENDIZAGEM DAS LÍNGUAS

Rio de Janeiro

2018

3

AGRADECIMENTOS

A meu esposo, que releu com muita paciência e

boa vontade esse trabalho e que me apoiou ao

longo do curso.

A meus colegas e professores do curso de pós-

graduação, em particular à professora Marta

Relvas pelo apoio e motivação.

A

4

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho a minha família e a minha

filha que cresceu na minha barriga durante a

redação desse trabalho.

5

RESUMO

A aprendizagem de um idioma estrangeiro consiste em um processo complexo,

já que, ao contrário da aquisição da língua materna, o educando passa por um

processo consciente que requer esforço e atenção. Esse trabalho foca em três

noções principais da neurociência para a aprendizagem, ou seja, a memória, a

emoção e a atenção, e se baseia na hipótese de que conhecer o

funcionamento do cérebro permite ao professor adaptar sua aula de forma a

alcançar maior eficiência no ensino. Graças ao estudo dos vários tipos de

memórias e do processo de memorização, pode-se definir algumas técnicas de

memorização e práticas fáceis de levar para a sala de aula. O conceito de

plasticidade cerebral prova que as crenças sobre a impossibilidade de aprender

um idioma passado certa idade, se revelaram errôneas. Ademais, estuda-se o

papel das emoções no processo de aprendizagem, assim como a teoria das

inteligências múltiplas, que permitem ampliar as ideias sobre o conceito de

inteligência. Constate-se que o papel do professor está mudando: ele não é

mais apenas um transmissor de saberes, mas também uma pessoa que sabe

identificar e gerar as emoções dos alunos, trazer técnicas para enganchar os

alunos e criar um ambiente de prazer na aprendizagem. Finalmente, o

aprendizado não aconteceria sem que o aluno prestasse atenção à aula:

conhecer as características e os mecanismos da atenção permite ao professor

controlar a distração dos alunos.

Palavras-chave: Neurociência. Aprendizagem. Língua estrangeira. Memória.

Emoção. Atenção. Plasticidade cerebral.

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METODOLOGIA

Esse trabalho parte de um estudo bibliográfico acerca das teorias

da neurociência e da aprendizagem de uma língua estrangeira. A través das

pesquisas sobre a memória (Kandel, Em busca da memória), das emoções

(Damásio, O erro de Descartes e LeDoux, O cérebro emocional), das

inteligências múltiplas (Gardner, Estruturas da mente) e da atenção (Lachaux,

Le cerveau attentif), propõe-se relacionar esses fundamentos com o processo

de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira, usando referências

bibliográficas tanto da área da pedagogia como da neurociência e da

psicologia.

Esses aspectos teóricos serão incrementados por exemplos

práticos de recursos didáticos que já foram levadas à sala de aula, no âmbito

do ensino do francês como língua estrangeira numa instituição privada no

Brasil. Assim, os recursos apresentados serão analisados desde um ponto de

vista da neurociência, no intuito de avaliar a própria pertinência e as possíveis

adaptações. Ademais, trata-se de sugerir outras formas de enxergar o papel do

professor e a maneira pela qual os conteúdos podem ser transmitidos em sala

de aula, baseando-se nos conhecimentos atuais do funcionamento do cérebro,

das emoções, da atenção e da memória.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

O funcionamento da memória durante o processo de aprendizagem de uma

língua estrangeira 10

CAPÍTULO II

O papel da emoção na aprendizagem 22

CAPÍTULO III

Os motores da atenção na sala de aula 33

CONCLUSÃO 43

BIBLIOGRAFIA 45

ÍNDICE 48

8

INTRODUÇÃO

É forçoso constatar que a questão do papel da neurociência na

aprendizagem das línguas estrangeiras está, hoje em dia, de vento em popa.

No caso do francês, um número recente da revista internacional dos

professores de francês (Le Français dans le monde, maio/junho de 2018)

dedicou um dossiê inteiro à “abordagem neurolinguística” do ensino da língua

(chamada de ANL), perspectiva que nasceu no Canadá a partir de pesquisas

em neurociência e que está se desenvolvendo em vários países.

Paralelamente, as ofertas em formações em neurociência estão se

desenvolvendo nos principais centros de ensino do francês. O próprio governo

francês acabou de criar, em 2017, um Conselho científico, coordenado pelo

neurocientista Stanislas Dehaene, a fim de alimentar a reflexão sobre a

estratégia do ensino na escola graças à integração das descobertas

neurocientíficas recentes na área das aprendizagens. O crescimento desta

disciplina bastante recente – o término “neurociência” apareceu nos anos 1960

– e que começou a se expandir particularmente durante a década dos 90,

chamada “década do cérebro”, pode legitimamente trazer algumas perguntas

sobre seu papel, sua função, seus limites, na hora de se associar com outros

campos de pesquisa, como o da pedagogia. Talvez esse receio tenha nascido

de uma exageração ou desvio da verdade criada pela mídia e pelo marketing

atual, dando lugar ao surgimento dos chamados “neuromitos”, contra os quais

a neurociência tenta lutar. Embora a neurociência não dê uma linha

pedagógica a seguir, uma metodologia chave-na-mão, é incontestável que as

múltiplas descobertas realizadas em especial graças ao avanço da tecnologia

proporcionaram um conhecimento inigualável sobre o funcionamento do

cérebro e da aprendizagem. A pedagogia tem tudo a ganhar com receber a

contribuição da neurociência, que pode oferecer respostas sobre as grandes

questões atuais, como o uso das ferramentas digitais na sala de aula, o tempo

necessário para aprender um idioma, as novas práticas, tal como a aula

invertida, ou ainda, os métodos para “treinar o cérebro”.

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O motivo deste trabalho é propor um estudo científico que

justifique a importância da neurociência na evolução das práticas de ensino das

línguas estrangeiras, voltando aos fundamentais e focando em três aspectos

do processo de aprendizagem, ou seja, o funcionamento da memória, o papel

da emoção e os motores da atenção. Supõe-se que, tendo esses

conhecimentos em mente, o professor logrará transmitir os conteúdos de uma

forma mais agradável e mais eficiente. Parte-se da ideia de que, quando a

emoção desempenha um papel importante na sala de aula, os alunos tendem a

prestar mais atenção ao que está ensinado e, por conseguinte, a memorizar

melhor os novos conteúdos. A final de contas, somos seres emocionais que

pensam.

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CAPÍTULO I

O FUNCIONAMENTO DA MEMÓRIA DURANTE O

PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE UMA LÍNGUA

ESTRANGEIRA

“A memória é a base de todo saber e, também, de toda existência humana, desde o nascimento. Todo o nosso

cérebro funciona por meio da memória; comemos, andamos, falamos porque nos lembramos de como fazê-lo.”

Marta Relvas

1.1. A aprendizagem: processo e teorias

Na neurociência, o aprendizado é comumente definido como a

modificação do cérebro com a experiência, ou seja, retomando as palavras de

Suzana Herculano-Houzel (2017), “o cérebro se modifica de uma maneira tal

que da próxima vez ele age de forma diferente, de acordo com a experiência

anterior que ele teve”. A atividade básica do sistema nervoso central consiste

na troca de sinais entre os 86 bilhões de neurônios. O cérebro do bebê, ao

nascer, está composto por um número de sinapses que vai dobrar nos

primeiros anos de vida. Esse processo gera uma exuberância sináptica,

criando um excesso de sinapses, que representa a matéria prima para o

aprendizado. Ao longo dos anos e conforme a experiência, certas conexões

sinápticas serão fortalecidas, enquanto outras conexões, consideradas como

inadequadas ou inúteis, serão eliminadas. Aprender consiste então neste

processo duplo de criação e remoção de sinapses. Embora existam certos

períodos críticos – ou janelas de oportunidades – para a aprendizagem, está

comprovado que a capacidade de aprender novos conceitos se dá ao longo da

vida. A noção de plasticidade cerebral, ou seja, a capacidade do cérebro de

reconfigurar sua arquitetura interna por meio de criação de novas sinapses a

11

qualquer idade, põe fim a noções de determinismo, fatalismo ou

desencorajamento. Como explica Marta Relvas (2009), acreditou-se durante

muitos anos que as conexões neuronais no cérebro de um adulto se

congelavam em posições mutáveis e que esse cérebro tinha uma memória e

uma capacidade fixas. Porém, os estudos dos neurocientistas mostraram que o

cérebro muda durante toda a vida e que essa mudança é benéfica para a

pessoa. Atividades físicas e cerebrais regulares permitem a produção de

endorfina, criando uma sensação de bem-estar e retardando problemas

cognitivos associados ao envelhecimento. Toda pessoa é capaz de progredir e

adquirir novas informações. É certo que a genética pode influenciar o

aprendizado; porém, de maneira geral, essa influência consiste em variações

leves que podem em alguns casos facilitar a aprendizagem, mas em nenhum

caso podem torna-la impossível. Por isso, é importante que o professor reforce

a ideia de que todo aluno é capaz de aprender. Quando paramos de praticar,

começa um processo de enfraquecimento das conexões neuronais, até, às

vezes, uma remoção dessas conexões. Quanto mais a sinapse funciona, mais

ela se desenvolve.

Em alguns momentos na vida do ser humano, o cérebro é

especialmente capaz de se modificar de acordo com o uso e a experiência.

Assim, no começo da vida, quando as sinapses ainda não passaram pelo

processo de remoção, a capacidade de aprender será maior, já que a

plasticidade cerebral é maximal. No caso da linguagem, resulta mais fácil para

o cérebro aprender regras gramaticais até os dez anos. Para os adultos, em

cambio, aprender a gramática de um novo idioma pode resultar mais difícil do

que para uma criança. Por isso, quanto mais jovem se aprende um segundo

idioma, melhor para aproveitar essa janela de oportunidade. Até os 9-12

meses, a criança aprende os fonemas da sua língua materna. Ao expor as

crianças com uma língua estrangeira, o cérebro aprende sem esforço.

Contudo, mesmo passado esse período, o cérebro sempre conseguirá

aprender, mesmo que o processo de aprendizagem possa demandar mais

tempo e mais esforço.

Durante o século XX, várias teorias da aprendizagem se

desenvolveram, entre elas as teorias comportamentais, as cognitivistas e as

12

humanistas. Após os trabalhos de Ivan Pavlov sobre os reflexos condicionados,

Thorndike estabelece a noção de associação entre eventos ou estímulos para

explicar o aprendizado, ideias que servirão de base para o trabalho de Skinner.

Esse último desenvolveu o behaviorismo – ou condutivismo, considerando que

o aprendizado acontecia como resultado direto da ação operativa do indivíduo

em resposta a um desafio ambiental, o que ele chamou de “condicionamento

operante” (LENT, 2008). Ao contrário de Skinner, que defende que a criança

precisa de estímulo do ambiente para que a criança aprenda a língua materna,

segundo um processo de estímulo-resposta-reforço, o linguista e filósofo Noam

Chomsky considera que a linguagem é inata. Desenvolvendo a teoria da

gramática gerativa ou universal, Chomsky (1998) parte da ideia de que a

criança precisa apenas de contato com a língua para que ela possa ativar a

linguagem. Essa teoria da gramática universal se fundamenta em três

elementos, a saber: uma base cognitiva, uma base biológica e a hipótese

inatista. Primeiro, a base cognitiva se refere à intuição dos locutores de uma

língua dada sobre as formas possíveis das sentenças. Distingue-se a

competência linguística do desempenho linguístico, que é o uso desse

conhecimento sobre a língua. Logo, a gramática gerativa possui uma base

biológica, já que é um produto da constituição biológica humana. Por último, a

hipótese inatista supõe que o bebê nasce já com a capacidade para a

linguagem. Essa hipótese se fomenta no argumento da pobreza de estímulo,

ou seja, as crianças são expostas a um estímulo pobre demais para que se

ative a linguagem, e da criatividade linguística, dado que uma criança pode

produzir sozinha uma frase que ela nunca ouviu antes.

Adquirir não é sinónimo de aprender. Passado um certo período,

perto da puberdade, perde-se a capacidade de adquirir de forma inata uma

língua; precisa-se então ser ensinado. Neste processo de ensino, a pessoa usa

a língua materna como base para a aprendizagem. No caso da linguagem, o

processo de aprendizagem de uma palavra nova passa por várias áreas do

cérebro: a área auditiva é solicitada ao ouvir a palavra, a área visual permite a

visualização da palavra escrita, e finalmente o córtex associativo permite a

compreensão do significado da palavra.

13

1.2. O processo efetivo de memorização

Em seu livro Em busca da memória (2007), o neurocientista Eric

Kandel toma como ponto de partida a própria experiência para apresentar e

desenvolver os conhecimentos sobre o funcionamento da memória. Contando

lembranças da sua infância em Viena e dos eventos relacionados com

episódios históricos fortes em emoções (quando a sua família, judia, foi vítima

das repressões dos nazistas durante a Kristallnacht), Kandel justifica por que

ele dedicou seu trabalho científico a investigar os fundamentos biológicos do

lema dos judeus (“Lembrar para jamais esquecer”), ou seja, os processos

cerebrais que nos permitem lembrar. Assim, ele focou em estudar os mistérios

da aprendizagem e a memória desde um ponto de vista biológico. Ele evoca

várias disciplinas que contribuíram para o desenvolvimento dos conhecimentos

sobre a memória: a biologia mental, a psicologia comportamental, a psicologia

cognitiva, até a chegada da neurociência e da biologia molecular da cognição,

que permite abordar questões filosóficas, tais como “como a mente adquire

conhecimento sobre o mundo”, “que mudanças físicas se produzem no cérebro

quando aprendemos e lembramos” ou ainda “como uma experiência de alguns

minutos se transforma numa lembrança para toda a vida”. A memória, como

capacidade de adquirir e armazenar informações, nos permite resolver

problemas da vida cotidiana, ao evocar de maneira simultânea vários fatos. Ao

final, “somos quem somos por obra do que aprendemos e do que lembramos”.

Kandel retoma os fundamentos da neurociência desde um ponto de vista

histórico, mostrando como chegou-se ao estabelecimento dos três princípios da

biologia das células nervosas: a doutrina neuronal, que estabelece que o

neurônio é a unidade estrutural do cérebro, a hipótese iônica, que descreve o

mecanismo utilizado pela célula para gerar um sinal elétrico (potencial de

ação), e a teoria química da transmissão sináptica, que indica que a

transmissão de informações entre as células nervosas se realiza liberando

neurotransmissor. O objetivo que Kandel se deu então foi o de escutar os

neurônios para interpretar os sinais elétricos, que são o fundamento de toda

vida mental. Ele obteve o prêmio Nobel de fisiologia ou medicina em 2000

pelos seus trabalhos nas bases moleculares da memória de curto e de longo

14

prazo. Os seus estudos sobre a aplysia mostraram que uma estimulação

repetida produz descargas constantes num neurônio, o que permitiu

compreender melhor os mecanismos fundamentais da aprendizagem.

No final do século XVIII, o alemão Franz-Joseph Gall, antes de

realizar um sucesso contestado com a frenologia, participou dos primeiros

avanços modernos sobre o cérebro, ao afirmar por uma parte que todos os

processos mentais são biológicos e provêm do cérebro, e por outra parte, que

o córtex é formado por regiões diferenciadas, sedes de funções mentais

específicas. Esse localizacionalismo põe fim à noção dualista defendida por

Descartes.

O estudo do desenvolvimento da linguagem diferencia a

compreensão da produção. É notável que, tanto na criança quanto no adulto, a

compreensão é melhor do que a produção. A nível cerebral, embora as áreas

motoras estejam representadas bilateralmente nos dois hemisférios, os estudos

dos neurologistas Pierre-Paul Broca e de Carl Wernicke no século XIX sobre

distúrbios da linguagem evidenciaram que “o hemisfério esquerdo é dominante

no controle da fala e da escrita e o hemisfério direito é responsável por funções

mnemônicas não-verbais” (BRANDÃO, 2004). Enquanto Broca estudou um

paciente que sofria de impedimento para falar, Wernicke descreveu a

impossibilidade de compreender a linguagem falada ou escrita. A área de

Broca, localizada no giro póstero-lateral do lobo frontal esquerdo, é a área

motora da linguagem, o lugar da articulação verbal, da expressão facial e da

fonação. Ligada a ela pelo fascículo arqueado, a área de Wernicke, no lobo

temporal póstero-superior, representa o centro da compreensão auditiva. A

partir dos resultados de Broca, Wernicke elaborou uma teoria sobre a natureza

das conexões cerebrais que intervêm na linguagem, estabelecendo que

qualquer comportamento complexo não é o produto de uma única região do

cérebro, mas de várias regiões interconectadas e especializadas (KANDEL,

2007).

15

Os conhecimentos sobre a memória foram ampliados graças ao

estudo de um caso médico de um paciente americano, H.M., que sofria de um

problema de memória bem particular. No intuito de tratar as convulsões

epilépticas do paciente, foram retiradas, durante uma operação em 1953,

porções do lobo temporal, cobrindo dos terços do hipocampo, cujo papel era

mal conhecido na época, além do giro para-hipocampal, úncus e amígdala.

Como consequência, H.M. ficou incapacitado de gravar novas memórias pelo

resto da vida, embora a sua memória a curto prazo e a de longo prazo

referente aos acontecimentos anteriores à operação eram intactas. Por meio de

estudos realizados por científicos como a psicóloga Brenda Milner, ficou

demostrado o papel do hipocampo e da parte do córtex que o envolve na

formação da memória declarativa de longo prazo. Também permitiu

compreender que a memória é uma função mental diferenciada e separada das

capacidades perceptivas, motoras e cognitivas. Ela é compartimentada; a

memória de curto e a de longo prazo se armazenam em partes distintas do

cérebro e processos cognitivos diferentes atuam no curto e no longo prazo.

Hoje sabe-se que a memória de curto prazo – ou memória de trabalho – se

desenvolve no córtex pré-frontal, região que não tinha sido retirada do cérebro

de H.M.

As memórias

Segundo Izquierdo (1989), a memória é “o armazenamento e

evocação de informação adquirida através de experiências; a aquisição de

memórias denomina-se aprendizado”. Ele acrescenta que “não há memória

sem aprendizado, nem há aprendizado sem experiências”. Criando-se a partir

das percepções e dos sentidos, a memória só se pode avaliar por meio de

testes de evocação. Como resume Lent, a fase de aquisição é coloquialmente

chamada “aprendizagem”, enquanto a evocação pode ser chamada também de

expressão, recuperação ou lembrança.

“O aprendizado e a memória são propriedades básicas do sistema nervoso; não existe atividade nervosa que não inclua ou não seja afetada de alguma forma pelo

aprendizado e pela memória”. (IZQUIERDO, 2009)

16

Os neurônios atuam no processo de memorização ao codificar as

memórias. Essas ficam armazenadas em redes neurais e poderão ser

evocadas pelas mesmas redes ou por outras. Lent propõe uma diferenciação

semântica entre a “Memória”, que designaria a capacidade geral do sistema

nervoso central de adquirir, guardar e evocar informações, e “memórias”, no

plural, que se referiria a cada uma ou cada tipo delas. Graças aos estudos de

Milner, em particular, a existência de vários tipos de memórias – conscientes e

inconscientes – foi ressaltada. Izquierdo precisa que para cada uma dessas

memórias intervêm áreas cerebrais diversas e diferentes sistemas sensoriais,

associativos e motores participam destes aprendizados.

É possível classificar os tipos de memória em função do conteúdo

(memórias declarativas e não-declarativas, ou procedimentais), da função

(memória de trabalho, por exemplo) ou da duração de retenção (memória de

curto ou de longo prazo). O que Brenda Milner chamava de memória

consciente se conhece hoje como memória declarativa, ou explícita. Abrange

as informações que sabemos que possuímos, ou seja, a quais temos acesso

consciente, por exemplo conhecimentos do mundo e história pessoal. As áreas

do cérebro que atuam nessas memórias declarativas são várias: pré-frontal,

entorrinal, parietal, e em particular o hipocampo no lobo temporal. Pode-se

dividir a memória declarativa em memórias episódicas, que se referem a

eventos que vivenciamos, e em memórias semânticas, que inclui informações

gerais sobre o mundo que nos rodeia. Por outro lado, o acesso às memórias

procedimentais ou implícitas se faz de forma inconsciente, já que se referem a

procedimentos automáticos e informações adquiridas durante paradigmas de

condicionamento e habituação (LENT, 2008). As áreas que participam da

formação dessas memórias são principalmente circuitos subcorticais e o

cerebelo. Pavlov e Skinner estudaram os procedimentos de aquisição de uma

memória por meio da associação estímulo-resposta, dando origem à noção de

reflexo condicionado.

A memória de trabalho, chamada também de operacional, permite

manter a informação viva disponível enquanto está sendo percebida ou

processada. A todo momento dependemos da memória de trabalho para

desempenhar nossas tarefas do cotidiano. Para guardar uma informação

17

relevante na memória de trabalho, usa-se um sistema de repetição, por meio

de recursos verbais – ou “alça fonológica” – ou da imaginação visual – ou

“esboço visioespacial”. Esse sistema de repetição possui uma capacidade

limitada em relação ao número de itens que podem ser mantidos em

processamento que geralmente é definido como mais ou menos 7. O bom

funcionamento da memória operacional é fundamental nos processos de

aprendizagem (COSENZA/GUERRA, 2011).

Uma vez passado o filtro da atenção, a informação passa por um

processo de codificação, por meio de ativação dos neurônios e, em função da

relevância da informação, aparece ou não um registro. Entretanto, para uma

fixação mais duradoura, é preciso um trabalho adicional, que consiste em

processos de repetição, elaboração e consolidação. A repetição e a elaboração

dependem de associação com registros já existentes, o que conduz a um

fortalecimento do traço de memória. Nessa etapa, é importante aproveitar

vários canais sensoriais – verbal, auditivo, visual, tátil, etc. – e recorrer, além de

textos, a imagens, vídeos, música, figuras, já que a força do registro depende

diretamente desse processo. No momento de consolidação se efetuam

alterações biológicas entre neurônios e produção de proteínas que facilitarão a

passagem do impulso nervoso. As informações na memória explícita são

organizadas sob a forma de redes, enquanto a memória de procedimentos, que

se estabelece também por meio de processos de repetição, se limita ao reforço

das conexões em circuitos específicos. Esse tipo de memória é coordenado

pelo corpo estriado. No que concerne a recuperação da informação, é a região

pré-frontal que age particularmente nesse processo. Quanto mais extensa é a

rede de interconexões, mais eficiente será a recuperação da informação.

O esquecimento

“Talvez o aspecto mais notável da memória é o

esquecimento” McGaugh

O esquecimento, a “outra cara” da memória, segundo Castellano,

é um fenômeno biológico natural, destinado a proteger o homem da

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sobrecarrega de informações; afinal, esquecemos muito mais do que

lembramos. Hermann Ebbinghaus, filósofo e psicólogo alemão do final do

século XIX, descreveu a dinâmica geral da aprendizagem e do esquecimento,

por meio de testes que ele realizou sobre si mesmo e que consistiram em

memorizar listas de sílabas sem sentido. A partir dos resultados desses testes,

ele criou a curva da aprendizagem, que mostra a velocidade de aprendizagem

e as repetições necessárias para atingir o desempenho adequado, e a curva do

esquecimento, que enfatiza a tendência ao decaimento exponencial das

lembranças. (PAVÃO, 2008). Existem várias formas de esquecimento: a

extinção, descoberta por Pavlov, a repressão, desenvolvida por Freud, e o

esquecimento real, ou seja, “memórias que desaparecem por falta de uso, com

atrofia sináptica”. (IZQUIERDO, 2006). Da mesma forma que as conexões

sinápticas se criam, elas podem ser desfeitas. Sabe-se que o esquecimento é

mais rápido no início de um processo de aprendizagem. Dados que não são

relevantes ou que são pouco utilizados tendem a ser esquecidos. Porém,

existem informações ainda presentes no cérebro, mas devido a um

enfraquecimento das conexões, o seu acesso pode ser dificultado. Reaprender

ou reativar esse tipo de informação, julgada como esquecida, pode-se fazer

com maior facilidade.

1.3. Aplicações para a sala de aula: o curso de língua

estrangeira

Os conhecimentos em neurociência e em psicologia cognitiva não

trazem receitas prontas para a construção de uma estratégia infalível aplicável

no ambiente escolar. Porém, como lembram Cosenza e Guerra, ‘”as

estratégias eficientes serão aquelas que atentem para os princípios do

funcionamento do cérebro” e que “a repetição e a elaboração são importantes,

e ainda mais se combinadas com a consolidação”. De forma geral, o primeiro

papel do professor consiste em conhecer o funcionamento da memória, os

tipos de memória e o processo de aprendizagem, de forma a poder ajudar o

aluno a desenvolver técnicas para melhorar esse processo e a formação de

19

memória de longa duração. É importante tomar em conta que o processo de

memorização e de evocação das memórias é modulado pelas emoções e pelos

estados de humor. Como lembra Lent, “é fácil aprender ou evocar algo quando

estamos alertas e de bom humor; [mas] é difícil aprender qualquer coisa, ou até

mesmo lembrar de uma pessoa ou de uma canção quando estamos cansados,

deprimidos ou muito ansiosos”. Por isso, durante momentos de estresse, como

provas formais em sala de aula, geram uma dificuldade de evocação das

informações. O professor, ao propor formas de avaliação diferentes, dando a

possibilidade de trabalhar em grupos, por exemplo, ou ao realizar atividades

lúdicas ou até de relaxação antes de uma prova, vai contribuir a reduzir o

estresse dos alunos.

Marta Relvas (2009) insiste no papel do professor despertar em

seus alunos estratégias para o uso coerente das memórias. Ela ressalta a

importância de investigar os conhecimentos prévios dos alunos, de maneira a

formar os “ganchos” para o armazenamento de novas informações. Se o aluno

não consegue aprender, cabe ao professor encontrar outra maneira de explicar

o conceito. Como exemplo de procedimento pedagógico que visa facilitar a

memorização, ela dá como sugestão, entre outras, estabelecer relações entre

novos conteúdos e aprendizados anteriores e respeitar as particularidades de

cada educando e a maneira como sua memória melhor trabalha.

No âmbito do ensino das línguas estrangeiras, o trabalho de

memorização está religado muitas vezes a um trabalho em casa, em

autonomia, depois da aula. O professor passa conteúdo na sala de aula e

espera que o aluno memorize o vocabulário e as estruturas novas. Ora, poucos

são os alunos que possuem estratégias para memorizar com eficiência. Nota-

se que os métodos atuais se baseiam na aprendizagem em espiral, ou seja, o

fato de retomar conteúdos trabalhados anteriormente de outra forma e

acrescentando novos conteúdos. O vocabulário novo deve ser visto em vários

momentos da aprendizagem e cabe ao professor criar atividades para que os

alunos reativem esse vocabulário. Exemplos de atividades sobre léxico é “a

palavra do dia”: cada aluno escolhe uma palavra nova no final da aula,

escrevê-la num papel e sorteia uma palavra que deverá explicar ou fazer

20

adivinhar os outros alunos. Da mesma maneira, as estruturas da língua

deverão ser estudadas pouco a pouco, por meio de exercícios variados, de

forma a que os alunos automatizem essas estruturas, até chegar a fazer parte

da memória procedimental.

Assiste-se, desde vários anos, ao desenvolvimento do aprender a

aprender. Nos livros didáticos, pode-se encontrar momentos nos quais o aluno

está levado a pensar na própria maneira de aprender e, por exemplo, nas

técnicas que ele pode utilizar para memorizar de forma mais eficiente. Mesmo

que essas técnicas variem de uma pessoa para outra, o professor pode dar

dicas de memorização e incentivar os alunos a elaborarem técnicas próprias.

Um estudo regular cada dia será mais eficiente a longo prazo do que um

estudo mais concentrado, justo antes da prova, por exemplo. Citando

Cosenza/Guerra (2011), “é comum que [os estudantes] estudem somente nas

vésperas da prova, de forma que um grande número de informações se

acumulem, sem muita elaboração, na memória operacional. Como essa

memória é transitória, caso não haja novas ativações da mesma experiência, o

resultado é um rápido esquecimento”. O professor, com a ajuda da curva do

esquecimento de Ebbinghaus, deverá convencer os alunos de que “a

aprendizagem definitiva só se fará com a formação e estabilização de novas

conexões sinápticas, o que requer tempo e esforço pessoal”.

Sabe-se também que o sono desempenha um papel determinante

na consolidação de memórias; ao descansar, o cérebro fixa o que foi aprendido

e está preparado para novas associações. Finalmente, uma metodologia ativa,

complementada com exercícios reiterados para permitir a construção de

conexões neurais e com trabalhos em grupos para propiciar a repetição e a

elaboração, facilita o processamento da informação.

Duas ferramentas: o mapa mental e Anki

Para o estudo tanto do léxico quanto da gramática de uma língua,

a técnica do mapa conceitual está reconhecida como uma ferramenta indicada

para avaliar a compreensão, ajudar a memorização e desenvolver capacidades

de síntese. Técnica imaginada por Artistóteles, o conceito foi esquecido

21

durante séculos, até que o psicólogo inglês Tony Buzan o formalize nos anos

1970. A partir de uma temática central, o aluno cria um tipo de diagrama

utilizando palavras-chaves e ilustrando os conceitos.

Desenvolvido originalmente para a aprendizagem dos carácteres

japoneses, o programa Anki permite aprender graças à noção de repetição

espaçada. O algoritmo da repetição espaçada possibilita a revisão mais

frequente dos conceitos que o aluno ainda não conseguiu memorizar.

Baseando-se na curva do esquecimento, o programa apresenta ao utilizador

cartões-memória no momento em que ele estava a ponto de esquecer. O

programa se destina a uma aprendizagem individual e em autonomia, mas

pode ser apresentado durante a sala de aula.

22

CAPÍTULO II

O PAPEL DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM

A sala de aula é um lugar de interações sociais regido pelas

emoções. As relações humanas entre o professor e os alunos desempenham

um papel de grande importância, em todo momento da aprendizagem. Não é

por acaso que o professor que nos marcou é aquele que soube despertar um

interesse particular pela matéria que ele ensina, ou aquele que soube reparar o

nosso potencial, que acreditou em nossas capacidades, aquele que nos fez ver

o mundo de forma diferente, que desenvolveu o nosso potencial criador, aquele

que não nos rotulou de uma vez por todas. Neste capítulo, enfoca-se por um

lado no processamento emocional – o que é a emoção e como ela funciona – e

no papel especial da emoção na aprendizagem dos novos conceitos. Por outro

lado, criar uma emoção positiva é também reconhecer e valorizar as

capacidades dos alunos. Por isso, num segundo momento, trata-se de

enxergar o conceito de inteligência de forma mais ampla, de maneira a criar no

aluno um sentimento de autoconfiança maior e gerar um prazer de aprender.

2.1. As emoções à luz da neurociência

"Toda e qualquer expressão racional está baseada em emoções."

Antônio Damásio

Entender o que é a emoção foi, desde a Antiguidade, um desafio

que os filósofos tentaram enfrentar: para Aristóteles, saber usar a emoção era

essencial no campo da retórica. Separando razão e emoção, os gregos

defendiam a ideia de que a paixão impedia que o homem pensasse

corretamente. Essa noção foi reforçada durante séculos pelo cristianismo,

julgando o fato de deixar as emoções domarem a razão como pecado. Roberto

23

Lent (2008) propõe uma definição da emoção desde um ponto de vista da

biologia: “a emoção pode ser definida como um conjunto de reações químicas

e neurais subjacentes à organização de certas respostas comportamentais

básicas e necessárias à sobrevivência dos animais”. Distingue-se três tipos de

emoções: as emoções primárias (inatas), descritas por Darwin, as emoções

secundárias, que dependem de fatores socioculturais, e as emoções de fundo,

relacionadas com o bem-estar ou o mal-estar, a calma ou a tensão,

particularmente estudadas por António Damásio. Charles Darwin, em A

expressão das emoções no homem e nos amimais, trata das expressões

especiais do homem (sofrimento, choro, desânimo, ansiedade, tristeza, etc.) e

as descreve de forma detalhada mediante situações comportamentais

observadas ou relatadas por outros. Ele chegou à conclusão de que as

expressões faciais humanas são universais. As pesquisas recentes de Rachael

Jack, da universidade de Glasgow, mostram que a cultura de origem intervém

também na expressão das emoções, o que põe em questão o conceito de

universalidade das emoções1. Em O cérebro emocional, o psicólogo americano

Joseph LeDoux destaca o mistério da procedência das emoções, cujas causas

podem ser tanto evidentes como confusas e suas mudanças repentinas ou

lentas. Contudo, as emoções fazem parte da vida, marcada pela busca pelo

prazer e a diversão, evitando as decepções e os sofrimentos. As teorias

enumeradas por LeDoux evidenciam a dificuldade de achar um consenso

acerca da natureza das emoções. Entre as propostas mais famosas destacam-

se a teoria de James-Lange apresentada em 1884, segundo a qual “as

emoções são experimentadas a partir da percepção das alterações fisiológicas

em nosso organismo” e a teoria de Cannon-Bard, estabelecida quarenta anos

mais tarde em reação oposta à primeira, que determina que “a informação

emocional é processada pelo encéfalo e ao mesmo tempo seriam geradas a

ativação corporal e a experiência consciente da emoção” (LENT, 2008). No

meio deste debate ainda não resolvido, surgiu hoje a teoria muito popular

segundo a qual as emoções são pensamentos sobre a situação na qual se

encontra uma pessoa.

1 Rachael E. Jack, Oliver G. B. Garrod, Hui Yu, Roberto Caldara, and Philippe G. Schyns, Facial expressions of emotion are not culturally universal, PNAS May 8, 2012.

24

Será no século XX quando os cientistas começarão a estabelecer

as primeiras teorias sobre o funcionamento cerebral das emoções. Em 1937, o

anatomista James Papez propõe um primeiro circuito das emoções, baseado

nas ideias de Herrick. Este circuito cerebral envolve a parte medial do cérebro,

responsável pelas funções mais primitivas, e a parte lateral, mais recente na

evolução do cérebro humano, também chamada de lobo límbico. Como se

pode ler em Neurociência da mente e do comportamento (Lent), Papez

desenvolveu a “teoria que explica a experiência subjetiva da emoção como um

fluxo de informações que obedecem a conexões anatômicas entre o

hipotálamo e o córtex medial, e deste de volta ao hipotálamo”. Mais tarde, o

anatomista MacLean amplia o circuito de Papez, que ele denomina de sistema

límbico, acrescentando a amígdala, o septo e o córtex pré-frontal. Cabe

ressaltar que as emoções primárias dependem da rede de circuitos do sistema

límbico, especialmente da amígdala e do cíngulo, enquanto as emoções

secundárias, além de depender também do sistema límbico, requerem a

intervenção dos córtices pré-frontal e somatossensorial. (Damásio, 1996).

Não se pode tratar das emoções sem mencionar o neurocientista

português António Damásio, professor de neurociência na Universidade do Sul

da Califórnia. No seu famoso livro O erro de Descartes, ele realça a emoção

como objeto de estudo, deixada de lado pelos seguidores do behaviorismo, da

revolução cognitiva como também da neurociência computacional. Em 1994, O

erro de Descartes, publicado nesse contexto de “desatenção pela emoção”,

contribuiu a uma mudança de paradigma assim como a um despertar do

interesse da mídia pelo trabalho dos psicólogos e neurocientistas pela emoção.

Tendo como enfoque a relação entre emoção e razão, o autor emite a hipótese

de que “a emoção é parte integrante do processo de raciocínio e pode, no

mínimo, auxiliar esse processo”. Contestando a perspectiva amplamente

difundida e aceitada de que as emoções e a razão não se misturam e que “as

decisões sensatas provêm de uma cabeça fria”, Damásio defende que a

emoção, como auxiliar da razão, transmite informações cognitivas por

intermediário dos sentimentos.

25

A importância da emoção na tomada de decisões

Muitos avanços no campo da neurociência provêm de estudos de

casos de pacientes que apresentaram algum tipo de lesão cerebral ou

transtorno mental. A triste história de Phineas Gage no século XIX serviu de

caso médico estudado pela neurociência, que demonstrou que a alteração da

personalidade de Gage foi provocada por uma lesão cerebral localizada numa

área específica. Capataz da construção civil na Inglaterra, que trabalhava na

construção de uma estrada de ferro, Phineas Gage era descrito como um

homem eficiente, capaz, que tinha sentido de responsabilidade social e

pessoal, bem adaptado na sociedade e com princípios éticos. António Damásio

relata o acidente que o capataz sofreu no ano de 1848, durante uma explosão.

O ferro entrou pela face esquerda de Gage, traspassou a base do crânio,

atravessou a parte anterior do cérebro e saiu a alta velocidade pelo topo da

cabeça. Gage, além de sobreviver à explosão, continuou sendo capaz de usar

a função da linguagem, permanecendo coerente no discurso e sem apresentar

dificuldade para caminhar, de imediato após o acidente. No entanto, o

“equilíbrio [...] entre suas faculdades intelectuais e suas propensões animais

fora destruído”. Gage apresentou de fato mudanças evidentes no

comportamento. Ele passou a ser uma pessoa caprichosa, irreverente,

utilizando uma linguagem obscena. Deixou de mostrar qualquer respeito pelas

convenções sociais. Considerado incapaz de continuar trabalhando como

capataz, ele deixou o trabalho e sua vida começou a mudar completamente,

até se tornar atração de circo.

O caso Gage suscitou várias interpretações no seio da

comunidade científica da época, dividida entre os que defendiam que as

funções mentais estão associadas a áreas cerebrais específicas e os que

apoiavam opinião contrária, defendendo que, “se uma ferida como a de Gage

podia não produzir paralisia ou limitações na fala, então era óbvio que nem o

controle motor nem a linguagem podiam estar localizados nas relativamente

pequenas regiões cerebrais que os neurologistas tinham identificado como o

centro motor e o centro da linguagem”. Segundo o fisiologista Ferrier, a ferida

26

não afetou nem o centro motor nem o centro da linguagem, mas danificou parte

do córtex pré-frontal; ele recebeu aprovação dos seguidores da frenologia,

corrente desenvolvida no final do século XVIII por Franz Joseph Gall, que alega

que “o cérebro [é] constituído por um agregado de muitos órgãos e que cada

um deles [possuí] uma faculdade psicológica específica”. Os estudos

realizados por António e Hanna Damásio, graças a uma reconstituição da

região frontal lesada, indicam uma lesão no córtex pré-frontal ventromedial,

especialmente no hemisfério esquerdo, o que leva a concluir a importância

dessa região do cérebro para o processamento das emoções e a tomada de

decisão (LENT, 2008).

Roberto Lent menciona estudos que evidenciam uma assimetria

no córtex pré-frontal, na qual o hemisfério esquerdo estaria relacionado com o

afeto positivo, enquanto uma maior atividade no hemisfério direito indicaria uma

predisposição para sentir afeto negativo. Por consequência, cada um de nós

poderia sentir emoções de forma mais ou menos intensa, em função de uma

predisposição individual. Para concluir, retoma-se uma citação de Marta

Relvas:

“Sabe-se hoje que as áreas relacionadas com os problemas

emocionais ocupam distintos territórios do cérebro, destacando-se entre elas o hipotálamo, a área pré-frontal e o sistema límbico. Os mecanismos que controlam os níveis de atividade nas diferentes

partes do encéfalo e as bases dos impulsos da motivação, principalmente a motivação para o processo de aprendizagem,

bem como as sensações de prazer ou punição, são realizadas em grande parte pelas regiões basais do cérebro, as quais, em conjunto, são derivadas do sistema límbico. ” (RELVAS, 2012).

2.2. A contribuição das teorias de aprendizagem e a teoria das

inteligências múltiplas

Surgida em reação aos limites do behaviorismo que enfoca

apenas no aspecto comportamental do ser humano, a abordagem humanista

na psicologia e na pedagogia aparece nos anos 1950 e ganha força nas duas

décadas seguintes. Fundada por Abraham Maslow e desenvolvida por Carl

27

Rogers, esta teoria se baseia na valorização do aluno que se torna o centro do

ensino. O aluno possui liberdade para aprender e o crescimento pessoal é

destacado, já que o professor reconhece as capacidades que ele tem para

aprender. Nessa teoria, os pensamentos, os sentimentos e as ações estão

integrados. No Brasil, Paulo Freire complementa esses conceitos com a

importância da consciência crítica na sala de aula, do diálogo, do amor, da

afetividade. Desta forma, dá-se valor ao sistema límbico gerador de emoções.

Rogers define algumas condições para aprender e formula

princípios de aprendizagem, a partir da ideia de que o aluno deve em primeiro

lugar ser compreendido pelo professor como uma pessoa que apresenta um

potencial para a aprendizagem. O papel do professor é de um facilitador, que

não é o único responsável pelo processo de aprendizagem, mas que

compartilha com o aluno. Dentro de um ambiente facilitador de aprendizagem,

o aluno participa da própria avaliação. A aprendizagem é voluntária,

cooperativa, se baseia nos experimentos, e se torna assim mais duradoura e

significativa.

Assim como Rogers, Howard Gardner propõe um ensino centrado

no aluno. Em 1983, este psicológico cognitivo americano revelou a teoria das

Inteligências Múltiplas, com o objetivo principal de acabar com a forma de

considerar a inteligência como algo único, que todo ser humano possui em

maior ou menor medida. O conceito de “inteligência” é considerado por muitos,

ainda hoje, como única, hereditária e determinada desde o nascimento. Essa

ideia está tão arraigada que muitos alunos pensam que não importa os

esforços que vão realizar, já que não nasceram “inteligentes”. Gardner parte da

história do pensamento para questionar o conceito de inteligência, já que desde

mais de dois milênios, a importância dada aos poderes mentais, a

racionalidade e o conhecimento teve implicações educacionais fortes. No final

do século XIX apareceram os primeiros testes que medem a inteligência,

elaborados pelo psicólogo Binet e pelo psiquiatra Simon, destinados

incialmente a identificar as crianças retardadas. Dando opinião sobre as

faculdades humanas, esses testes tiveram uma grande influência no ambiente

escolar. Um dos limites desses testes é que eles focam principalmente na

linguagem, nas habilidades das pessoas para definir palavras, conhecer fatos

28

sobre o mundo e encontrar conexões entre conceitos verbais (GARDNER,

2011). Trabalhando encima de provas de quociente intelectual, Piaget se

interessou nos erros cometidos pelas crianças ao realizar uma prova. Para ele,

não importa a resposta correta ou incorreta, mas sim as linhas de raciocínio

que a criança invoca. Outra crítica realizada por Gardner acerca desses testes

que é raramente as provas de inteligência valorizam a habilidade a resolver

problemas novos ou assimilar novas informações, ou seja, elas analisam o

conhecimento “cristalizado” em vez do conhecimento “fluido”. Adoptando uma

perspectiva simbólica, Gardner emprega os métodos e planos elaborados por

Piaget, com uma visão não somente linguística e lógica, mas também com uma

diversidade completa de sistemas simbólicos.

Segundo Gardner, a inteligência é a capacidade de resolver

problemas, ou de criar produtos, que sejam valiosos em um ou mais ambientes

culturais. Pode-se complementar esse conceito com a definição dada pela

enciclopédia Britânica e destacada por Relvas (2012): “a inteligência é a

habilidade de se adaptar efetivamente ao ambiente, seja fazendo uma

mudança em nós mesmos, ou mudando o ambiente ou achando um novo

ambiente. Não é um processo mental único, mas sim uma combinação de

muitos processos mentais dirigidos à adaptação efetiva do ambiente”.

O psicólogo admite que não existe uma única lista irrefutável de

inteligências humanas. No entanto, ele afirma que uma classificação mais

detalhada das inteligências, abrangendo uma gama razoável das habilidades

que valorizam as culturas humanas, será útil para investigadores e

profissionais. Definindo oito sinais de inteligência – o possível isolamento por

danificação cerebral; a existência de prodígios; a operação medular; uma

história distinta de desenvolvimento; uma história evolucionista; o apoio de

tarefas psicológicas experimentais; o apoio de descobertas psicométricos; a

susceptibilidade à codificação em sistema simbólico – Gardner estabelece o

mesmo número de critérios distintos que determinam oito tipos de inteligências:

linguística, logico-matemática, musical, espacial, cinestésico-corporal,

intrapessoal, interpessoal e naturalista. A essas oito inteligências foi

acrescentada mais tarde a inteligência existencial, que seria a propensão

humana a pensar sobre as questões fundamentais da vida, da morte e do

29

infinito. Gardner especifica que essas inteligências devem ser vistas como

ficções, já que se trata de processos e habilidades contínuos entre si, de

construções científicas de utilidade potencial. Ademais, essas inteligências não

devem ser consideradas tampouco em términos avaliadores, mas como um

potencial.

A teoria das inteligências múltiplas foi objeto de muitos debates.

Uma das críticas concerne a denominação “inteligência”, privilegiando a

apelação “talento”. Os médicos e doutores em Ciências Cosenza e Guerra

nuançam a teoria de Gardner, no sentido de que as inteligências múltiplas

descritas não são autônomas e “não há suporte experimental que comprove a

existência independente dessas inteligências”. Contudo, os autores de

Neurociencia e educação concedem à teoria de Gardner o mérito de ampliar o

conceito de inteligência, por exemplo ao controle motor e às habilidades

musicais, e de promover atividades alternativas que trazem uma motivação

facilitadora de aprendizagem. Em soma, seria mais uma ferramenta do que um

objetivo. Por tanto, a inteligência, vista como um processo, se constrói pouco a

pouco ao longo da vida a partir de um componente genético. O sentido da

nossa vida poderia ser desenvolver ao máximo essas inteligências, estender

todas nossas competências para aproveitar a vida. Desde o ponto de vista do

educando, compreender que cada um possui várias formas de inteligências

permite enxergar o mundo de maneira diferente e traz um enriquecimento

mútuo, uma melhor escuta individual, além de reforçar as emoções positivas,

como a autoestima, ressaltando a existência de várias formas de aprender e de

demostrar sua inteligência.

2.3. Aplicações práticas para o ensino das línguas estrangeiras

Muitas vezes, a emoção está relegada ao segundo plano no

processo de ensino-aprendizagem de uma língua estrangeira: o professor

prioriza a transmissão do conteúdo à forma de realizar essa transmissão. Ora,

uma grande parte dos estudantes de língua procuram um certo prazer na hora

30

de aprender um novo idioma. Quando adulto, o aprendendo tem uma

consciência maior do erro e uma emoção negativa, provocada por uma reação

do professor, por exemplo, pode facilmente levar a um bloqueio para as

aprendizagens futuras. Partindo da ideia de que o estado emocional do aluno

influencia o seu engajamento na sala de aula, o papel do professor é o dobro:

por um lado, ele deve saber tomar em conta esse estado emocional para não

criar frustrações ou desenvolver emoções negativas. Por outro lado, ele tem

que acrescentar à aula um conteúdo emocional, a fim de despertar a

curiosidade do aluno, entre outros. Segundo um estudo realizado pelo MIT que

consiste em medir a atividade elétrica do cérebro de um estudante de 19 anos,

a atividade é a mesma quando ele assiste a uma aula palestrada e a televisão,

ou seja quase nula. Com o intuito de mudar esse conceito do aluno como

receptor passivo do conteúdo, várias correntes surgem nas áreas da didática.

Na Espanha, por exemplo, o neurodidático José Ramón Gamo se apoia nas

investigações científicas para propor uma transformação do modelo

educacional tradicional. Sabendo que para adquirir novas informações, o

cérebro tende a processar dados do hemisfério direito e que então o

processamento linguístico não é o protagonista, a neurodidática propõe

substituir as aulas palestradas por suportes visuais, como mapas conceituais,

vídeos, gráficos interativos, e promover o trabalho colaborativo, já que o

cérebro é “um órgão social que aprende fazendo coisas com outras pessoas”.

Como o indica o título do artigo do jornal espanhol El país2, “o cérebro precisa

se emocionar para aprender”.

“A emoção ativa a atenção (o componente primário e mais

vital de qualquer ato de aprendizagem ou processamento da informação), que depois desencadeia a memória de curto prazo e longo prazo e, eventualmente, torna a aprendizagem possível. Para se ter

aprendizagem, é preciso que ocorra excitação emocional. ” (Relvas)

2 https://elpais.com/economia/2016/07/17/actualidad/1468776267_359871.html

31

No âmbito do ensino das línguas estrangeiras, valoriza-se o professor

que consiga se colocar no lugar do aluno, desde um ponto de vista humanista.

Para isso, é muito comum propor aos professores iniciações a um idioma

estrangeiro no qual ele é totalmente iniciante. Desta forma, ele lembrará as

dificuldades do início da aprendizagem e poderá sentir o que o aluno

experimenta quando ele é confrontado pela primeira vez a um sotaque, um

léxico, uma língua diferente. Da mesma forma, o professor que consegue se

pôr no lugar do aluno tende a ajudá-lo na gestão do estresse. Momentos de

avaliações, por exemplo, são momentos carregados em emoções: o cérebro

começa a acionar o sistema nervoso simpático, com a produção de adrenalina

e cortisol, hormônio produzido pela parte superior da glândula supra-renal,

diretamente envolvido na resposta ao estresse. Cabe ao professor ajudar a

reduzir o estresse dos alunos nesses momentos, repensando o objetivo e a

forma de avaliar, focando mais no processo e do que no resultado, avisando

com antecedência os dias de prova e os conteúdos a serem trabalhados,

permitindo uma auto-avaliação ou uma co-avaliação. O professor pode

também, por exemplo, propor uma atividade lúdica ou passar uma música

antes de aplicar a prova.

O ensino das línguas estrangeiras integrou também, nos últimos

anos, a teoria de Howard Gardner, que foi pensada desde o início para uma

aplicação em sala de aula. Como pode-se ler no caderno da TV Escola sobre

as múltiplas inteligências na prática escolar, “as diversas concepções

anteriores de inteligência valorizavam apenas as inteligências lingüística e lógi-

comatemática e se baseavam na crença de que a inteligência humana é

totalmente determinada por fatores hereditários. ” Cabe então ao professor

enriquecer suas aulas com atividades que solicitam diferentes tipos de

inteligências: pode-se facilmente desenvolver a inteligência musical através de

canções que o professor vai passar em sala de aula; a inteligência cinestésica-

corporal através de atividades teatralizadas; a inteligência interpessoal, através

de trabalhos em grupos.

32

Em conclusão, vale lembrar que as emoções, o sistema límbico e

os sentimentos têm um papel fundamental na aprendizagem. Sentindo

emoção, o aluno vai prestar atenção e começar a perceber as informações

passadas pelo professor. Desta forma, o processo de aprendizagem vai poder

iniciar-se. Retomando uma frase da professora Fátima Alves, “temos hábito de

ver os problemas das pessoas, mas temos que aprender a ver as eficiências. ”

33

CAPÍTULO III

OS MOTORES DA ATENÇÃO

Para Stanislas Dehaene (2013), a atenção representa um dos quatro

pilares da aprendizagem, junto com o engajamento ativo, o retorno de

informação e a consolidação. Por um lado, a atenção possui uma relação forte

com a emoção, já que o aspecto emocional influencia muito nos focos de

atenção das pessoas. Por isso, saber gerenciar suas emoções permite também

gerar sua atenção. Por outro lado, a atenção é a primeira etapa para garantir a

memorização de uma nova informação. Dominando a atenção, o aluno será

então mais eficiente na sua aprendizagem.

3.1. As características da atenção

Citado por Kandel (2007), William James, um dos pais da

psicologia moderna, destaca em 1890 a capacidade de concentração do

aparato sensorial como característica essencial de toda percepção:

“Milhões de itens [...] são apresentados aos meus sentidos e

nunca entram propriamente na minha consciência. Por quê? Porque não têm interesse para mim. Minha experiência é aquilo que eu concordo em prestar atenção [...]. Todos sabem o que é a

atenção. É a tomada de posse pela mente, de forma clara e vívida, de um dentre o que parecem ser vários objetos possíveis

simultâneos ou linha de pensamento. A focalização e a concentração da consciência são suas essências. Esta implica a abstenção de algumas coisas para poder lidar eficazmente com

outras”.

Por meio dessa definição, aparece o carácter mental e subjetivo

da atenção. Depois de ser um tema central de estudo da psicologia

experimental e do introspeccionismo, no século XIX, a atenção deixou de ser

foco de estudo com o auge do behaviorismo, ao benefício de atividades

34

mentais cujas manifestações eram mais evidentes, tal como a linguagem.

Porém, voltou a ser foco de interesse particular durante a Segunda Guerra

Mundial, quando se percebeu a importância de melhorar as performances dos

controladores aéreos encarregados pela vigilância das telas de controle. Assim,

cientistas e psicólogos voltaram a se interessar no processo de atenção e

assistimos à criação de modelos de atenção, como a atenção seletiva,

proposto por Colin Cherry, e o filtro atencional, conceito desenvolvido por

Donald Broadbent.

Embora haja muitas definições da atenção, ela pode ser definida

como o fato de favorecer a ação de um grupo de neurônios em relação a outros

(Jean-Philippe Lachaux, 2013), já que o cérebro filtra as informações de forma

continua, graças ao sistema atencional. Ao prestar atenção a alguma coisa,

indicamos a importância que conferimos às coisas que nos rodeiam, ou seja, a

atenção é uma medida de valor dessas informações. Desta forma, a atenção

pode ser vista como um viés, no sentido de que ela privilegia uma das redes

neuronais em detrimento de outras, dado que é impossível para o cérebro

tomar em conta todas as informações que chegam. Não se observa a atenção

de forma direta, mas apenas suas consequências sobre o comportamento, o

que explica uma mudança de performance. Assim, a atitude de um aluno

aparentemente concentrado, atento, calmo, imóvel e silencioso, pode ser

enganosa; a criança pode muito bem estar prestando atenção em outra coisa

do que no assunto que o professor está explicando naquele momento. Embora

geralmente ninguém ensine o que é a atenção, a criança descobre o que

significa prestar atenção a partir do momento em que ela para de passar de

uma coisa para outra e começa a se estabilizar em alguns aspectos do mundo

ao redor dela.

A fim de pôr em relevo a importância da atenção, foram realizadas

pesquisas comparando a atenção e a falta de atenção. Ao testar a atividade

cerebral durante uma leitura atenta e uma leitura distraída, observa-se que o

cérebro não trata a informação da mesma forma. Duas áreas principais do

cérebro se ativam durante a leitura: o córtex visual, que permite o

reconhecimento das palavras, e o lobo frontal, principalmente a área de Broca,

35

que é responsável pelo tratamento ativo do que se percebe. É nesta última

área que a diferença entre uma leitura com atenção e sem atenção será

perceptível, já que durante uma leitura distraída os sistemas sensoriais

funcionam, mas não reforçam atividade neuronal no lobo frontal. Por isso, o

leitor precisará voltar a ler com atenção, para poder tratar a informação,

entender e memorizar o que ele leu sem prestar a devida atenção. Assim como

para a visão, a audição utiliza os mesmos mecanismos de atenção.

A atenção é um processo dinâmico, que alterna constantemente

entre percepção e ação. A atenção visual vai favorecer algumas áreas do

espaço e desconsiderar outras. Ao observar atentamente uma imagem, por

exemplo, o olhar se desloca sem parar: ele alterna entre sacadas oculares e

fixação, com tomada de informação, o que gera um processo de ação. Esse

ciclo percepção-ação constitui o elemento de base da atividade cognitiva. A

percepção é constituída dos nossos sentidos, das emoções, dos pensamentos,

mas também das sensações de fome ou de sede. A ação consiste, entre

outros, em utilizar, pensar, memorizar, falar. Esse ciclo ritma nossa vida

mental, já que em cada momento, existem várias percepções possíveis e

várias ações possíveis. Em cada instante realiza-se uma seleção entre essas

percepções e ações possíveis. Os princípios de ação justa e atenção justa

permitem atingir maior desempenho: cabe determinar a qualidade da escolha

da ação, e essa deve estar adequada ao objetivo do momento. O diretor do

centro de pesquisa em neurociência no Inserm (Lyon, França), Jean-Philippe

Lachaux, destaca três tipos de forças que privilegiam uma ação sobre outra.

Esses fatores são os costumes, a utilidade geral e a utilidade pontual.

A habituação

Situado no lobo parietal, o córtex visual contém neurônios que

detectam a presença de elementos potencialmente importantes, como uma

ambulância que passa ou uma porta que se fecha bruscamente. Criando um

mapa de destaque, os neurônios detectam também rostos ou texto. Além disso,

existem outros neurônios cujo papel é memorizar o que fazemos geralmente

com esses elementos, o que cria uma associação de percepção e ação. Assim,

36

cada vez que estarmos frente a um certo tipo de objeto, nos lembraremos o

que fazer com ele. Esse processo baseado na habituação faz com que o

cérebro tende a obedecer ao meio, sendo previsível, e impedindo a

estabilização da atenção.

A utilidade geral – as emoções

A segunda força está relacionada diretamente com o sistema de

recompensa, onde serão gravadas as associações entre o que percebemos e o

que fazemos ou sentimos, o que reforça o destaque de alguns elementos de

acordo com nossas preferências. De esta maneira, pode-se evidenciar o

mecanismo da distração que provém dos costumes e das emoções.

A utilidade pontual – o sistema executivo

Frente a essas forças da distração, o lobo frontal age como uma

força estabilizadora da atenção. O sistema executivo permite formular e

memorizar associações e ajudar na escolha da ação, usando o controle

inibitório. Assim, para ficar concentrado, é preciso ter ativos os bons neurônios,

durante a duração certa. Embora o cérebro, muitas vezes, esteja a sede de um

teatro de conflitos internos entre atenção e distração, é possível treinar a

atenção.

3.2. Os mecanismos da atenção

“Deve ser enfatizado que além de ser uma atividade mental independente, a atenção constitui-se também em um componente fundamental para outras funções psicofisiológicas como as

emoções, pensamento e linguagem” (BRANDÃO, 2004).

Como destaca Dehaene (2013), o sistema de atenção se compõe

de três sistemas atencionais, ou seja, o alerta, a orientação e o controle

executivo. Brandão (2004) acrescenta a seleção, a perscrutação e a

exploração. As estruturas cerebrais que desempenham um papel relevante no

37

processo atencional são a formação reticular, o tálamo, e em função do tipo

de estímulo, o córtex occipital – em caso de estímulo visual – e o córtex

temporal – em caso de estímulo auditivo. Pode-se notar uma diferença entre o

papel dos hemisférios em quanto às características dadas à atenção: quando

se trata de levar atenção sobre as características globais de um objeto, é o

hemisfério direito que se ativa, enquanto o hemisfério esquerdo trata as

características particulares do objeto. Conforme Cosenza e Guerra (2011), é

importante considerar o nível de alerta em que o cérebro se encontra em um

determinado momento, quando se estuda a atenção. O funcionamento da

atenção não é o mesmo durante um estado de sonolência, de sono ou de

ansiedade, que podem prejudicar a atenção. A fim de regular os níveis de

vigilância e o estado de alerta, um grupamento de neurônios chamado locus

ceruleus, situado no mesencéfalo, produz noradrenalina. Ao focar seus

estudos nos mapas espaciais, Eric Kandel notou a importância do papel da

atenção na relação entre a atividade neuronal e a memória espacial explícita.

Ele diferenciou as formas de atenção segundo a proposta de William James,

ou seja, a atenção voluntária e a involuntária. Cosenza e Guerra retomam

essas duas formas de atenção, precisando que a atenção voluntária, regulada

por aspectos centrais do processamento cerebral, pode depender de estados

internos do organismo e a escolha pessoal, um objetivo a alcançar. A atenção

involuntária, ou reflexa, provem de estímulos periféricos, como um som, o

sinal que anuncia a hora do recreio, por exemplo. Dois circuitos regulam

esses processos de atenção: o circuito orientador e o executivo. O primeiro,

situado no córtex do lobo parietal, permite o desligamento do foco atencional

de um determinado alvo e seu deslocamento para outro ponto. O segundo,

situado no córtex frontal, permite que se mantenha a atenção de forma

prolongada, inibindo os estímulos distraidores. A atenção executiva é

importante para o bom funcionamento da aprendizagem consciente e atua

também no controle emocional.

Os limites da atenção

Diante da vontade e do mito moderno da força de controle, resulta

as vezes difícil para o ser humano aceitar os limites da sua própria atenção.

38

Porém, para aprender a se concentrar melhor, é preciso compreender o que é

a atenção e como ela funciona e reconhecer que ela não é ilimitada. Por meio

de vários experimentos, destacam-se dois limites da atenção: a cegueira

inatencional e o fato do cérebro não ser “multitarefa”.

Um dos experimentos muito famosos foi imaginado por Dan Simons

e Christopher Chabris e é conhecido como “o gorila invisível”. Consiste em

assistir um filme de vários segundos, no qual seis pessoas, divididas em duas

equipes diferenciadas pela cor branca ou preta, estão jogando com duas bolas

de basquete. A instrução dada é contar os passes dos jogadores de branco. No

final do filme, o espectador deve fornecer a resposta, mas o experimentador

pergunta também se alguma coisa no filme o surpreendeu. Geralmente, as

pessoas conseguem dar uma resposta mais ou menos certa em relação ao

número de passes, mas não viram nada surpreendente no filme. Porém,

durante alguns segundos, pode-se ver uma pessoa fantasiada de gorila preto

passando tranquilamente no meio dos jogadores e atravessando a cena. O

fenômeno, chamado de cegueira inatencional, que se produz durante esse

experimento, se explica pelo fato do espectador focalizar sua atenção nos

jogadores vestidos de branco, e paralelamente ignorar os jogadores vestidos

de preto para não se deixar distrair na conta dos passes. Assim, ao chegar na

cena, o gorila preto não cativa a atenção do espectador, embora ele seja bem

visível durante esse jogo.

Outro mito atual concerne a capacidade das pessoas a serem

“multitarefas”, ou seja, a poder executar várias tarefas de forma “simultânea”.

As vezes muito valorizada no âmbito profissional e cada vez mais exigida pela

vida moderna, essa competência é relacionada com o desenvolvimento da

tecnologia e o auge dos equipamentos de comunicação. Porém, ao contrário

do que se pode esperar, efetuar duas tarefas ao mesmo tempo não permite um

rendimento mais eficiente, mas o desempenho em cada uma das tarefas

resultará menor, já que os processos mobilizados para a execução da segunda

tarefa são prorrogados ou até adiados. Segundo o artigo de Bailer e Tomitch

(2016), citando Kahneman e Pashler, “a literatura da área cognitiva sugere que

nossa capacidade para processar informação é limitada. Devido às limitações

39

em capacidade, dividir atenção entre uma ou mais tarefas diferentes leva a

uma diminuição no desempenho. ” Cabe destacar uma diferença entre o tipo de

tarefas a serem executadas, já que se uma dessas tarefas for automatizada –

por exemplo, dirigir ou andar – é mais fácil realizar uma segunda ao mesmo

tempo. No caso da aprendizagem de uma língua estrangeira, as tarefas

exigidas parecem complexas no início, já que várias competências são

solicitadas ao mesmo tempo, como pronunciar as palavras e usar essas

palavras para formar frases gramaticalmente corretas. Porém, a partir do

momento em que alguns desses processos se tornam automatizados, por meio

da prática, o aluno consegue produzir e compreender um discurso coerente

com maior facilidade. Bailer e Tomitch evocam Schmidt: “processos

automáticos exigem pouca ou nenhuma atenção enquanto processos

controlados necessitam de atenção e interferem com os outros processos que

também exigem atenção. ”

3.3. A atenção e a sala de aula

É muito comum se deixar distrair, sobre tudo em estados de

cansaço ou de estresse que vão enfraquecer a atividade do sistema executivo.

Relvas (2014) evoca a distração como uma característica do ser humano,

geralmente associada com disfunções do lobo frontal e sinal de hiperatividade

de déficit de atenção. “A atenção só é sustentada quando se desperta o desejo

e o interesse”. Um dos maiores desafios do professor é conseguir canalizar e

cativar a atenção do aluno, cujas fontes de distração são numerosas. Assim

mesmo, o papel do professor será mostrar aos alunos que o conteúdo é

significante para eles, pensando na melhor forma de apresenta-lo, fazendo

ligações com o que já é conhecido, expondo um conteúdo que atenda as

expectativas e que seja estimulante e agradável. Um conteúdo próximo do

cotidiano dos alunos terá mais chance de suscitar a motivação e o interesse. O

professor de idioma poderá assim escolher documentos que apresentam uma

temática de interesse dos alunos, ou pelo menos temas atuais que tenham a

ver com a experiência dos alunos, e assim, fazer com que eles tenham coisas

40

para falar, que eles sintam emoções para se “enganchar” com o tema. Como

explica Dehaene (2013), o professor deverá criar materiais que sejam ao

mesmo tempo suficientemente atrativos para cativar a atenção, mas que não

representem uma fonte de distração.

Alain Lieury (2010) expõe os resultados de experimentos

efetuados sobre a atenção dividida: com adultos, o desempenho na tarefa

principal cai de entre 20 e 60% de acordo com a complexidade da tarefa

secundária (por exemplo, dirigir e escutar música ou telefonar). Realizado com

crianças sobre o rendimento em leitura, o experimento evidencia as diferenças

de concentração em função do ambiente: com silencio, o resultado na

compreensão do texto não é afetado, com música clássica, ele declina um

pouco, com um vídeo clipe, ele cai de 20 a 40%. Essas pesquisas evidenciam

a importância do ambiente na concentração; o aluno que realiza seus deveres

em casa conseguirá manter melhor sua atenção se não houver elemento

perturbador, como televisão ou música. Dentro da sala de aula, é importante

também minimizar os elementos distraidores.

Lachaux (2013) indica que melhorar sua atenção é possível, mas

requer tempo, já que se trata de um processo biológico. Embora não exista

exercício milagroso para treinar especificamente a atenção, há muitas

atividades humanas que exigem atenção, desde a prática de um esporte,

passando pelo fato de cozinhar, até tocar um instrumento de música. Nessas

atividades, a atenção constitui um meio para atingir uma meta e não um

objetivo em si. Durante as aulas de prática, o aluno vai desenvolver

automatismos: ele repete procedimentos motores ou cognitivos até conseguir

realiza-los de forma reflexa, ou seja, sem prestar atenção. Para aprender a se

concentrar, o cérebro precisa saber se ele presta bem atenção e precisa errar:

a avaliação da atenção se realiza após ter sido distraído. Segundo Lachaux,

uma forma ideal de treinar a atenção consiste na prática da meditação. Para

ele, uma boa aprendizagem da concentração deve permitir que a atenção se

estabilize em estímulos neutros.

41

Mesmo com adultos, que têm uma capacidade de concentração

maior, o professor terá cuidado de alternar com frequência as atividades, para

poder redirecionar a atenção. Na sala de aula é importante privilegiar objetivos

e instruções simples. Os micro-objetivos serão realizados de forma mais

eficiente e contribuirão a motivar mais os alunos. Na aula de língua estrangeira,

destaca-se a importância de separar os momentos de compreensão, global e

seletiva, de propor uma tarefa única por vez, de fazer as perguntas antes de

ouvir ou de ler o documento, de modo que o aluno saiba onde focalizar sua

atenção. Já que não são as mesmas áreas do cérebro que se ativam quando

prestamos atenção à compreensão do significado de um texto ou aos erros que

ele comporta, por exemplo, é imprescindível dissociar as instruções antes da

leitura do texto. Quando o aluno relê o texto que ele escreveu para verificar se

não deixou algum erro de ortografia, as regiões do cérebro responsáveis pela

compreensão do texto (áreas de Broca e de Wernicke) não estão ativadas. No

caso da compreensão auditiva, o professor pode pedir para o aluno prestar

atenção apenas num aspecto da comunicação, como a prosódia, a semântica,

o sotaque. Mas se a instrução for geral demais, o cérebro do aluno não saberá

em que prestar atenção.

Não podemos esquecer os recursos didáticos dos quais o

professor dispõe: é importante que ele use um tom de voz e uma postura

adequados, que ele crie um ambiente agradável na sala de aula por meio do

humor, da música e trazendo novidade. O uso da tecnologia em sala de aula

trouxe uma nova forma de cativar a atenção dos alunos, sobretudo os mais

novos, mas ao mesmo tempo recebeu críticas em relação a suas limitações. O

recurso a um quadro digital interativo, quando bem utilizado, permite que os

alunos focalizem sua atenção sobre um aspecto do conteúdo em específico: o

professor pode dirigir melhor a atenção graças ao quadro do que por meio do

livro no qual o aluno pode se distrair com maior facilidade. Nesses últimos

anos, vários jogos interativos que combinam o uso do celular e a Internet se

desenvolveram dentro das salas de aula. O exemplo dos jogos Kahoot ou

Plickers permitem que os alunos se impliquem na atividade de forma lúdica e

usando a tecnologia, geralmente considerada inimiga da sala de aula. Porém,

42

os professores precisam avaliar os benefícios das tecnologias e limitar seu uso,

a fim de não criar distrações nem dependência. De acordo com Ellis, Daniels e

Jauregui (2010), se utilizadas adequadamente, as ferramentas tecnológicas de

mídia são instrumentos poderosos com potencial para reforçar o aprendizado;

mas se usadas indevidamente, podem trazer consequências nocivas à

aprendizagem.

43

CONCLUSÃO

Por meio dos avanços tecnológicos, a neurociência se

desenvolveu de uma forma considerável nestes últimos anos e despertou

interesse em várias áreas do conhecimento e da vida cotidiana, dando

nascimento a disciplinas como neuromarketing, neuroeconomia,

neurolinguística, entre outras. A contribuição da neurociência para a educação

permite que os pedagogos definem o ensino de uma maneira mais eficiente,

tomando em conta o funcionamento do cérebro e os processos da

aprendizagem, a construção das memórias, o papel da emoção e a

necessidade da atenção. O conceito de plasticidade cerebral traz uma visão

nova sobre as capacidades de todo cérebro em se reconfigurar em todo

momento da vida, fornecendo possibilidades de aprender, independentemente

dos estereótipos sobre a inteligência ou a idade. Aprender um idioma não

passa pelos mesmos processos quando o educando é criança ou adulto.

Enquanto a aquisição de um idioma por uma criança se faz de maneira inata, a

aprendizagem por um adulto requer esforço cognitivo maior, até alcançar

automatismos na língua.

Memória, emoção e atenção constituem três mecanismos

complexos e interdependentes: a memória precisa da atenção para se formar,

que a sua vez é em parte controlada pela emoção, que influencia também a

memória. Saber educar as emoções, controlar a atenção e favorecer

estratégias de memorização garantem uma aprendizagem mais eficiente e

mais duradoura. Na sala de aula, embora a neurociência não imponha

nenhuma metodologia em particular, ela destaca alguns pontos essenciais,

como a importância do aluno ser ativo na sala de aula, a aprendizagem por

repetição espaçada e por meio de associações, a importância do erro e o

retorno da informação, a atenção focalizada, e a relação das emoções no

processo de aprendizagem.

De maneira geral, a aprendizagem não pode ser separada de um

modo de vida adequado, que permite melhorar a qualidade da memória e da

44

atenção, tal como ingerir bastante água por dia, assegurar-se de dormir

suficiente horas e ter um sono de qualidade, praticar exercícios de relaxamento

ou de meditação. O professor de hoje, que lida com alunos de uma geração

sempre conectada e informada, precisa se adaptar: ele não é mais o professor

transmissor de conhecimentos, mas um mediador e facilitador de

aprendizagem. Diante do surgimento de novas metodologias, será útil tomar

em conta os conhecimentos da neurociência e utilizar práticas e estratégias de

acordo com o funcionamento do cérebro humano.

45

BIBLIOGRAFIA

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desvendando o sistema nervoso. Coord. trad. Jorge Alberto Quillfeldt [et al.]. 2ª

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48

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05

METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

O FUNCIONAMENTO DA MEMÓRIA DURANTE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DE UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA 10

1.1. A aprendizagem: processo e teorias 10

1.2. O processo efetivo de memorização 13

1.3. Aplicações para a sala de aula: o curso de língua estrangeira 18

CAPÍTULO II

O PAPEL DA EMOÇÃO NA APRENDIZAGEM 22

2.1. As emoções à luz da neurociência 22

2.2. A contribuição das teorias de aprendizagem e a teoria das

inteligências múltiplas 26

2.3. Aplicações práticas para o ensino das línguas estrangeiras 29

CAPÍTULO III

OS MOTORES DA ATENÇÃO 33

3.1. As características da atenção 33

3.2. Os mecanismos da atenção 36

3.3. A atenção e a sala de aula 39

CONCLUSÃO 43

BIBLIOGRAFIA 45