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FACULDADE DE MINAS – FAMINAS Felipe Aredes Galvão DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO MURIAÉ 2009. Felipe Aredes Galvão

DOENÇAS OCUPACIONAIS 1

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FACULDADE DE MINAS – FAMINASFelipe Aredes Galvão

DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E SUASCORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO

URBANO

MURIAÉ2009.

Felipe Aredes Galvão

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DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMA OSTEOMUSCULAR E SUASCORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DE MOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO

URBANO

Monografia apresentada por Felipe AredesGalvão, como pré-requisito para obtençãodo título de Bacharel em TerapiaOcupacional, sob a orientação do professorIvens M. O. Pereira.

MURIAÉ2009.

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Galvão, Felipe Aredes

Doenças ocupacionais do sistema osteomuscular e suas correlações com a atividadede motorista de ônibus coletivo. Muriaé, Faculdade de Minas (Curso de TerapiaOcupacional) 2009.

Bibliografia

Monografia apresentada à Faculdade de Minas para obtenção do título deBacharel em Terapia Ocupacional.

1.Doenças Ocupacionais. 2.Osteomuscular. 3.Motorista. 4.Ônibus. 5.Ergonomia

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Dedico aos meus pais, meus amigos e,em especial, ao meu orientador por ondeme espelho como futuro profissional.

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, aos meus pais pelo incentivo, carinho e o amorincondicional. À empresa Transporte Coletivo Muriaeense e aos motoristas queme acolheram com respeito e carinho, pois graças a eles este trabalho pode serdesenvolvido. Ao meu orientador Ivens M. O. Pereira, por sua dedicação em meorientar, o meu muito obrigado.

Felipe Aredes GalvãoSUMÁRIO

PáginaRESUMO

iiiABSTRACT iv

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LISTA DE TABELAS viLISTA DE ANEXOS vii1 INTRODUÇÃO

82 FUNDAMENTAÇÃO TEORICA 102.1 Relações Trabalho Saúde

102.2 O Trabalho e a Ergonomia

132.3 A Profissão de Motorista

162.3.1 Exigências motoras na atividade do motorista

182.4 Características Mecânicas da Postura Sentada

192.4.1 Mecânica da Postura Sentada

202.4.2 Conseqüências da Postura Sentada

212.5 Doenças Ocupacionais do Sistema Osteomusculares

relacionados ao trabalho (LER/DORT) 232.6 Terapia Ocupacional e a Ergonomia

273 METODOLOGIA 294 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS 31

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES42

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS44

RESUMO

GALVÃO, Felipe Aredes. DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMAOSTEOMUSCULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DEMOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO. Muriaé, MG, 2009. 50 p.Monografia para obtenção do título de Bacharel em Terapia Ocupacional, soborientação da Profº. Ivens M. O. Pereira. Curso de Terapia Ocupacional. Faculdadede Minas - FAMINAS

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Sendo a mecânica corporal, enquanto ciências que estuda as forças estáticas edinâmicas que agem sobre o corpo humano, o estudo pesquisou possíveis patologiasocupacionais do sistema osteomuscular, queixas de dores e desconfortos causadospelo impacto da atividade laborativa e como esse fatores interferem no desempenhoocupacional em motoristas de ônibus coletivo urbano, no período de fevereiro aabril de 2009. Trata-se de um estudo exploratório, onde os dados foram coletadospor meio de entrevistas, utilizando-se instrumento de pesquisa semi-estruturado. Aamostra constitui de 55 motoristas ativos com idade entre 27 a 72 anos, gêneromasculino da Empresa Coletivos Muriaeense Ltda, localizada em Muriaé (MG). Pelosestudos realizados e análise dos dados obtidos foram encontradas evidências deque, o trabalho de motorista é realmente penoso e fatigante, fatores que levam estesprofissionais a sentirem, no futuro, alguns desconfortos e dores, além da tensãoe atenção redobrada que devem ter por exigência da própria profissão. Assim asatividades realizadas pelo motorista, em um ambiente de trabalho ergonomicamenteinadequado, exigindo a permanência prolongada na postura sentada, produzemdesajuste muscular e desconforto postural e corporal, caracterizado por dor ou perdade conforto em conseqüência de diversos fatores entre eles a sobrecarga mecânicae condições patológicas. Favorecendo o surgimento de LER/DORT, doenças dosistema circulatório, distúrbios visuais, entre outros, acarretando tambémincapacidades dos mesmos em continuar a exercer suas atividades, sendo afastadosde seus postos de trabalho decorrentes das doenças ocupacionais.

Palavras Chaves: 1.Doenças Ocupacionais. 2.Osteomuscular. 3.Motorista.4.Ônibus. 5.Ergonomia.

ABSTRACT

GALVÃO, Felipe Aredes. DOENÇAS OCUPACIONAIS DO SISTEMAOSTEOMUSCULAR E SUAS CORRELAÇÕES COM A ATIVIDADE DEMOTORISTA DE ÔNIBUS COLETIVO URBANO. Muriaé, MG, 2009. 50 p.Monografia para obtenção do título de Bacharel em Terapia Ocupacional, soborientação da Profº. Ivens M. O. Pereira. Curso de Terapia Ocupacional. Faculdadede Minas - FAMINAS

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As the body mechanics, as a science that studies the static and dynamic forces thatact on the human body, the study focused on the possible occupational diseasesof the musculoskeletal system, complaints of pain and discomfort caused by theimpact of labor activity and how such factors influence the occupational performancedrivers in urban public bus, from February to April 2009. This is an exploratory study,where data were collected through interviews, using a search tool semi-structured.The sample consisted of 55 active drivers aged 27 to 72 years, male CollectiveMuriaeense Company Ltd., located in Muriaé (MG). Those studies and data analysisfound no evidence that the work's license is really painful and fatiguing, factors thatlead these professionals to feel in the future, some discomfort and pain, and tensionand increased attention should concentrate on requirement of the profession. Thusthe activities of the driver in a work environment ergonomically inadequate, requiringprolonged sitting posture, produce misfit and muscular discomfort and body posture,characterized by pain or loss of comfort as a result of several factors including themechanical overload and pathological conditions. Favoring the appearance of LER/DORT, diseases of the circulatory system, visual disturbances, among others, alsocausing the same disability to continue to exercise their activities, being away fromtheir jobs resulting from occupational diseases.

Keywords: 1.Occupational Diseases. 2.Musculoskeletal. 3.Driver. 4.Bus.5.Ergonomics.

LISTA DE TABELAS

Página

FIGURA 1: Lateralidade dos Profissionais Motoristas 31

FIGURA 2: Tempo de Profissão como Motorista 32

FIGURA 3: Tempo de Trabalho como Motorista na Empresa. 33

FIGURA 4: Motoristas que afirmam sentir ou não Dores / Desconfortosdurante o Trabalho

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FIGURA 5: Motoristas que fazem uso ou não de Medicamentos 35

FIGURA 6: Tipos de Medicamentos mais usados pelos Motoristas 36

FIGURA 7: Motoristas que tiveram ou não Afastados do Trabalho 37

FIGURA 8: Os Tipos de Afastamentos do Trabalho 38

FIGURA 9: Período de Dores / Desconfortos nestes Motoristas nos quaisse queixam 39

FIGURA 10: Locais das queixas de Dores / Desconfortos 40

FIGURA 11: Idade dos Motoristas de Ônibus Coletivo Urbano 41

LISTA DE ANEXOS

Página

A1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 49A2 Instrumento de Pesquisa semi-estruturado, desenvolvido pelo próprio

pesquisador50

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1. INTRODUÇÃO

A palavra trabalho “abrange várias realidades, como mostra seu uso corrente. Éutilizada, conforme o caso, para designar as condições de trabalho (trabalho penoso,trabalho pesado...), o resultado do trabalho (um trabalho malfeito, um trabalho deprimeira...) ou a própria atividade de trabalho (fazer seu trabalho, um trabalhometiculoso, estar sobrecarregado de trabalho...). Em primeira análise, a atividadese opõe à inércia. É o conjunto dos fenômenos fisiológicos, psicológicos..., quecaracterizam o ser vivo cumprindo atos. Estes resultam de um movimento doconjunto do homem (corpo, pensamento, desejos, representações, história) adaptadoa esse objetivo. No caso do trabalho, esse objetivo é socialmente determinado. Sematividade humana não há trabalho, mas pode haver uma produção. Um automatismo,por exemplo, materializa de certo modo o trabalho necessário a sua concepção,fabricação e manutenção e transmite a cada unidade produzida uma parte do valordesse trabalho” (F. GUÉRIN, 2001).A profissão de motorista é considerada árdua e penosa. As exigências do trabalhofazem com que o motorista permaneça muito tempo sentado e isolado, para garantirsegurança na viagem. Estes cuidados são acentuados quando se transportampassageiros. A manutenção da postura em equipamentos (bancos), que podemfaltar com as condições ergonômicas necessárias, o estresse em trânsitoscongestionados, a poluição, desavenças com o público (passageiros) e muitosoutros, favorecem a caracterização de uma profissão altamente fatigante (MENDES,1997).Justifica-se a pesquisa em um estudo direcionado à classe trabalhadora, emespecífico os motoristas de ônibus urbano focando as doenças geradas nesta classe,devido a diversos fatores ergonômicos envolvidos nessa atividade laboral.Segundo Lancman (2004), a ergonomia nasceu da constatação de que o homemnão é uma máquina como as outras, das patologias e infrapatologias específicasdo trabalho e da necessidade de responder questões levantadas pelas situaçõesde trabalho insatisfatórias. Surgindo da fusão de duas correntes, a produtivista, quecompreende o funcionamento do homem em atividade profissional para adaptar asferramentas, máquinas, os espaços de trabalho, os ambientes e organizações notrabalho, e a higienista, que entende os efeitos negativos do trabalho sobre o homempara suprimir suas causas.Tomando como fundamento a mecânica corporal, enquanto ciência que estuda asforças estáticas e dinâmicas que agem sobre o corpo humano, o estudo pesquisoupossíveis patologias ocupacionais do sistema osteomuscular, queixas de dores edesconfortos causados pelo impacto da atividade laboral e como esse fatoresinterferem no desempenho ocupacional em motoristas de ônibus urbano da cidadede Muriaé, MG, no período de fevereiro a abril de 2009. Para participar da pesquisa,

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foram selecionados todos os profissionais motoristas ativos da Empresa ColetivosMuriaeense Ltda, localizada em Muriaé (MG), no total de 55 motoristas, gêneromasculino.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1. Relações Trabalho e Saúde

O trabalho, na atualidade, reveste-se de muitos significados, dependendo da ciênciaque o traz como enfoque: Biologia, Física, Ciências Sociais, dentre outras.Trabalho, segundo Selma Lancman (2004), é definido como:

(...) aquilo que se faz, a relação com todos os aspectos que oenvolvem, produz a Inteligência, modifica o corpo, as relações sociaise constitui o individuo psiquicamente. Neste sentido, o trabalho éentendido como um continuum, que se estende para além dele einfluência todas as esferas da vida humana (LANCMAN, 2004).

Para Marx (apud COHN e MARSIGLIA, 1994: 56), o trabalho é “a ação dos homenssobre a natureza, transformando-a intencionalmente”.As várias escolas clássicas da teoria social encontram na categoria trabalho oelemento central para a compreensão das sociedades contemporâneas,compreendidas como “sociedades do trabalho”. É definidas em Marx, Durkheim eWeber.

Trazer o trabalho para o cerne da explicação das regularidadessociais não significa aderir a uma única perspectiva de análise.Tanto assim é que, enquanto para Marx o trabalho gera conflito, para

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Durkheim ele é fonte de solidariedade e de coesão sociais. (COHNe MARSIGLIA, 1994).

O reconhecimento da relação entre saúde e trabalho são antigos na historia,mudando apenas a forma de apreender esta relação e o modo de lidar com ela.Observa-se que somente considera nos campos de investigação e intervenção acomparação existente entre si e quando seus efeitos se tornam lesivos aosinteresses da produção ou geram conflitos e resistências por parte dos trabalhadores.(GOMEZ et al, 1992).O processo de transformação da natureza feita pelos homens acarretouconseqüências para saúde, sofrendo grandes modificações no decorrer da históriaaté chegar ao capitalismo que vivenciamos. Desde a antigüidade podem-seencontrar relatos de doenças advindas do trabalho. Os escritos de Hipócrates sobrea intoxicação saturnina em um mineiro possibilitaram estabelecer o sentido com aatividade laboral. Mas, já naquele momento a relação saúde-doença-trabalho nãofaziam parte das preocupações dos estudiosos da época, uma vez que a forçaprodutiva era, em sua maioria, de escravos.A idade média fora marcada pelo valor atribuído aos metais preciosos, fomentouobservações quanto ao estado de saúde das pessoas envolvidas na extração mineral(MENDES, 1995).A importância atribuída aos metais prolongou-se por outros períodos históricosperpetuando os riscos à saúde. Desta forma, na idade moderna encontramos relatosde Georgius Agrícola (1556), que após o estudo de aspectos relacionados à extraçãoe fundição de metais, destaca a “asma dos mineiros, cuja descrição dos sintomase a rápida evolução sugerem tratar-se de silicose, eventualmente acompanhada decâncer de pulmão” (MENDES, 1995).Em 1700 foi publicado o livro de Bernardino Ramazzini cujo título, “De MorbisArtificum Diatriba”, obra fundamental para a patologia do trabalho, onde são descritasas doenças que ocorrem em 50 diferentes ocupações da época. Ramazzini propõe,acrescentar-se às investigações médicas o questionamento sobre a ocupação(MENDES, 1995).Entre 1760 e 1850 desenvolveu-se a fase histórica que se tornou mais evidentes asconseqüências das más condições de vida e trabalho à saúde, pois neste períodoocorria a Revolução Industrial, estabelecendo uma maior abrangência no modo deprodução capitalista, foi produzido uma alteração profunda nas relações homem-natureza e homem-homem. Neste modelo apenas um grupo da sociedade apropria-se dos meios de produção, em detrimento da maioria que possuía parte de seutrabalho revertido em mais valia[1] (MENDES, 1995).No processo de trabalho onde o uso de maquinaria é hegemônico, dá-se asubstituição das ferramentas artesanais e da força humana pelas máquinas.Aprofundam a separação entre concepção e execução do trabalho que agora éorganizado segundo as operações da maquinaria. Há dificuldades no conhecimentoda totalidade do processo. Neste momento cria-se a remuneração por volume deprodução, levando os trabalhadores a aumentar voluntariamente o seu ritmo detrabalho (COHN e MARSIGLIA, 1994).Aumentam os riscos físico-químicos, intensifica-se o ritmo de trabalho, e as técnicastayloristas, fayolistas e fordistas de gestão provocam a fadiga física e mental. Aexigência de esforço físico vem acompanhada, assim, de significativo desgaste

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psíquico do trabalhador expresso em sintomatologia de fadiga, estresse e demaispatologias psicossomáticas e nervosas (COHN e MARSIGLIA, 1994).A inserção diferenciada nos processos produtivos determina formas desiguais deadoecer, portanto acrescentam uma carga de maiores riscos à saúde. Além,daqueles compartilhados entre a população em sua grande maioria, submetida àsmesmas condições de vida. Dentro dos seus respectivos ambientes de trabalho, suascondições de organização provocam situações que determinam cargas diversas esobrecargas aos trabalhos, quer em conjunto e/ou individualmente.

2.2. O Trabalho e a ErgonomiaSantos (1997) define o trabalho como uma atividade própria do ser humano enquantoser social. Existem vários entendimentos para a atividade laboral, de acordo com aforma de abordagem. Em uma das análises mais ressaltadas procurou-se diferenciaras atividades humanas de trabalho. Para os pesquisadores, a distinção deve recairna classificação das atividades do homem em "trabalho" e "não trabalho". Comoexemplos citam a atividade de colher uma fruta: quando o objetivo é apenas comê-la, não seria trabalho, contudo a mesma ação com objetivo comercial caracterizar-se-ia como uma situação laboral. Outro exemplo pode ser encontrado no lazer, ondea atividade humana pode caracterizar-se como "não trabalho" para o turista queprocura apenas uma satisfação direta de uma necessidade recreativa, mas como"trabalho" para o guia que o conduz.No entanto, uma importante forma de identificar uma atividade como trabalho é ovalor pago pelo mesmo, isto é, o salário. Uma das características fundamentais dotrabalho é a remuneração, quando não se pode desconsiderar, por exemplo, osestudantes, as atividades domésticas e os atletas. Estes, por sua vez, devem cadaindivíduo, com sua particularidade, apresentar algum resultado e/ou desempenhosem, na maioria dos casos serem remunerados.

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São muitas as áreas de conhecimento como no caso da Sociologia, Economia,Administração de empresas, Serviço social, Psicologia, Terapia Ocupacional, entreoutros que incluem em seu campo de estudo as relações do trabalho. No entanto,uma ciência reconhecida recentemente (1949-1950) a qual procura adaptar otrabalho ao homem, identificada como Ergonomia, tem recebido muita aceitação porparte dos pesquisadores (IIDA, 1993).A palavra Ergonomia vem do grego ergon (trabalho) e nomos (legislação, normas).Pode ser entendida como a ciência que procura configurar, planejar, adaptar otrabalho ao homem, respondendo questões levantadas em condições de trabalhoinsatisfatórias (DUL e WEERDMEESTER, 1995).

Sendo esse termo empregado pela primeira vez em 1857, pelo polonês W.Jastrzebowiski, que o definiu como a ciência da utilização das forças e capacidadeshumanas (LANCMAN, 2004).A Ergonomia possui vantagens em relação às outras áreas do conhecimento quepesquisam o trabalho, pois apresenta natureza aplicada e em especial, caráterinterdisciplinar. O caráter aplicado está fundamentado na adaptação do posto detrabalho e do ambiente cotidiano às necessidades e características humanas,enquanto a interdisciplinaridade significa que a ergonomia se apóia e utilizainformações de outras áreas do conhecimento humano para alcançar seus objetivos.A interdisciplinaridade permite ao ergonomista a bagagem para entender asnecessidades e dificuldades do trabalhador e dos mais variados tipos de profissõesexistentes em nossa sociedade (MONTMOLLIN, 1995).Isto é facilitado porque a ergonomia está apoiada em conhecimentos de outras áreascientíficas, como Biomecânica, Fisiologia, Cineantropometria, Anatomia, Arquitetura,Desenho industrial, Engenharia mecânica, Informática. Estes recursos contribuempara um relacionamento harmonioso entre o indivíduo e a realização de uma tarefa.Assim, a Ergonomia se faz presente no projeto e adaptação de ferramentas, armas,utensílios, máquinas, equipamentos, sistemas e tarefas de toda natureza àsnecessidades e características humanas, com o objetivo de melhorar a segurança,saúde, conforto e eficiência no trabalho (IIDA, 1993).A condição de trabalho está, antes de tudo, no ambiente físico (temperatura, pressão,barulho, vibração, irradiação, altitude e iluminação), no ambiente químico (produtosmanipulados, vapores e gases tóxicos, poeiras, fumaça, etc.), no ambiente biológico(vírus, bactérias, parasitas e fungos), nas condições de higiene e nas característicasantropométricas do posto de trabalho (DEJOURS, 1988).A condição de trabalho estudada pela Ergonomia, de acordo com Dul eWeerdmeester (1995), também permite incluir outros aspectos, como posturas emovimentos corporais (sentado, em pé, empurrando, puxando, levantando pesos,repetição de movimentos), informações (informações captadas pela visão, audição eoutros sentidos), relações entre mostradores e controles, bem como cargos e tarefas.A análise e ajuste adequado destes fatores possibilitam projetar ambientes seguros,saudáveis, confortáveis e eficientes, tanto para o trabalho quanto para as atividadesdiárias.Sendo esta análise do ambiente de trabalho um fornecedor de informações quepodem ser aplicadas na elaboração de instrumentos, para que o homem não fiqueexposto a acidentes e a má postura, podendo moldar suas atividades ao conforto,segurança e eficiência. Assim a ergonomia procura focalizar o homem no projeto detrabalho e nas atividades cotidianas. As condições de insegurança, insalubridade,

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desconforto e ineficiência podem ser eliminadas quando são adequadas àscapacidades e limitações físicas e psicológicas do homem (DUL &WEERDMEESTER, 1995).Montmollin (1995) coloca que a Ergonomia deverá analisar também, ascaracterísticas antropométricas (medidas dos diferentes segmentos do corpo),características funcionais/motoras (consumo de oxigênio, contrações musculares),aspectos relacionados à influência do meio ambiente (calor, frio, agentes tóxicos,ruídos e vibrações), características psicofisiológicas (visão, audição, olfato, o tato eo tempo de reação), além das características dos ritmos circadianos (que regulam aatividade biológica no decurso das vinte e quatro horas).Para Carvalho (1984), a ergonomia propõe preservar o homem da fadiga, dodesgaste físico e mental, colocando-o apto ao trabalho produtivo. ComplementaLancman (2004) que a ergonomia possui duas abordagens: a Human Factors eErgonomia da Atividade Humana. A primeira abordagem citada como enfatiza Masciae Sznelwar (apud LANCMAN, 2004) “privilegia a interface entre os componentesmateriais e os fatores humanos”, “leva em conta as características gerais do homem,para que máquinas e dispositivos técnicos sejam mais bem adaptados aosoperadores...”.Tendo em vista que a execução de toda atividade humana, seja no trabalho, nolar, no tempo livre ou rendimento esportivo, requer o emprego de instrumentos,equipamentos ou acessórios para realizá-la, torna-se evidente a valiosa contribuiçãoque a Ergonomia poderá fornecer na adaptação e realização destas atividades.

2.3. A Profissão de MotoristaO Brasil possui uma grande quantidade de caminhões e ônibus, sendo que otransporte interno de produtos agrícolas, industrializados, matéria prima,passageiros, entre outros, é realizado quase que inteiramente por transportesrodoviários.A capacidade do ser humano em dominar as máquinas motorizadas lhe proporcionouuma importante forma de se engajar no mercado de trabalho. O homem quandodirige um veículo automotivo pode fazê-lo como forma de lazer, necessidadespessoais ou como instrumento de trabalho. O motorista pode atuar na área detransporte de cargas, encomendas, passageiros, ou como piloto de veículos develocidade. Esta colocação evidencia a grande importância que o motoristadesempenha tanto no setor social quanto econômico.As exigências do trabalho fazem com que o motorista permaneça muito temposentado e isolado, para garantir segurança na viagem. Estes cuidados sãoacentuados quando se transportam passageiros. A manutenção da postura emequipamentos (bancos), que podem faltar com as condições ergonômicasnecessárias, o estresse em trânsitos congestionados, a poluição, desavenças com opúblico (passageiros) e muitos outros, favorecem a caracterização de uma profissãoaltamente fatigante MENDES (1997).

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Entre outras exigências para a profissão de motorista, a atividade mental, quepara a Ergonomia tem significado especial, engloba alguns aspectos que devemser atendidos pelo motorista ou qualquer outro profissional que, em sua situaçãolaboral, exija uma demanda mental considerável. Grandjean (1998) descreve comocaracterísticas que definem a atividade mental a recepção de informações, amemória e a vigilância. Estas, entretanto, são características comuns ao cotidiano,embora sejam mais exigidas em algumas situações. Assim, atividades laborais queimplicam em receber e analisar informações, processando e emitindo respostas,memorização de controles, mostradores e botões, manter-se por longos períodosem estado de vigilância, podem ser entendidas como profissões que necessitam deelevada participação do sistema nervoso.Neste sentido, o motorista deve manter a atenção constante, precisão na realizaçãodas ações, autocontrole, direção defensiva, análise e interpretação das informaçõesfornecidas pelos equipamentos do veículo. O sistema auditivo, visual, a percepção, acoordenação de movimentos e o raciocínio rápido para manipular os mecanismos eequipamentos do veículo, estacionar, avançar, desviar, são solicitações que devemser percebidas, analisadas e respondidas em fração de segundos. Talvez istocaracterize a exigência mental, aliada às exigências dos órgãos dos sentidos,fundamentais na profissão de motorista. Dessa forma, a profissão de motorista torna-se desgastante também devido à atenção e ao estado de alerta que o profissionaldeve manter constantemente.Neste aspecto Pegorim e Balistieri (1997) constataram que a atividade do motorista

de ônibus coletivo é penosa, propondo que se regulamente a "penosidade" daatividade, garantindo-se com isto os direitos destes trabalhadores. Para tanto,sugerem a formulação de uma NR (Norma Regulamentadora) para incluir na portaria3.214/78 do Ministério do Trabalho.

A legislação trabalhista, conhecida como NormaRegulamentadora 17 ou a Norma da Ergonomia, a ciência dotrabalho, foi recentemente alterada no sentido de disciplinar asatividades que acarretam sobrecarga muscular (OLIVEIRA eSCAVONE, 1997).

A exigência mental da profissão, combinada com fatores econômicos, administrativose sociais, pode aumentar as cargas de estresse no organismo. O estresse é umadisfunção geradora de distúrbios orgânicos dos mais variados no ser humano(GRANDJEAN, 1998). São vários os fatores que podem desencadear um estadode estresse, além deste pode ser favorecido pelo padrão de comportamento doindivíduo. Por exemplo, o indivíduo com uma personalidade que o caracteriza comoagitado, agressivo, competitivo, impaciente, possui maiores chances de desenvolverdoenças cardíacas (POLLOCK e WILMORE, 1993). Uma pesquisa realizada embancários por MONTEIRO, VIEGAS e GONTIJO (1998) revelou que o padrão decomportamento individual demonstrou uma elevada associação com portadores deDORT.

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2.3.1. Exigências Motoras na Atividade doMotorista

O pouco espaço que possui para realizar suas tarefas (cabina), o estar sentado,a atenção nos controles, mostradores localizados no painel, no teto ou em outrolocal, exigem do motorista a manutenção repetida de ações básicas para conduziradequadamente o veículo. No entanto, as exigências motoras da profissão sãoespecíficas, pois exigem que todo o corpo (cabeça, tronco, membros superiorese inferiores) seja solicitado de maneira coordenada durante a realização dasatividades.A coluna vertebral suporta a compressão exercida pela sobrecarga imposta, emfunção da força da gravidade (trancos, vibrações e outros fatores externos), e aindaé solicitada em freqüentes rotações da cabeça e do tronco. Estas ações são leves,mas em muitos casos prejudiciais para as estruturas da coluna, ombros e pescoço,porque devem ser realizadas freqüentemente como forma de assegurar a eficiênciada tarefa (PEGORIM e BALISTIERI, 1997).Na análise ergonômica realizada por Pegorim e Balistieri (1997), foi identificadoum tempo de cinco horas e vinte minutos efetivamente trabalhados no volante,desconsiderando os intervalos. Também notou um número elevado de movimentosrepetitivos como trocas de marchas, uso da embreagem e do freio. Durante o períodoque permaneciam dirigindo o ônibus, os motoristas executavam em média 1415trocas de marchas e 304 freadas diariamente. Foi registrado até 164 trocas demarchas por hora, durante “horário de “rush”.No caso de dirigir ônibus em rodovias, ou em centros urbanos, as exigências tantomentais quanto motoras podem apresentar diferenças. Apesar de se adotar osmesmos princípios de atenção, alerta, trocam de marchas ou outros, suasintensidades são distintas. Supõe-se que os motoristas de ônibus urbanodemonstram uma carga de trabalho físico maior que as outras categorias demotoristas (rodoviário), pois são mais exigidos quanto à repetição de movimentos,congestionamentos, parados e vibrações (PEGORIM e BALISTIERI, 1997).

2.4. Características Mecânicas da Postura SentadaO estar sentado ou em pé, bem como suas variações (flexionado, deitado, agachado,inclinado) são posturas adotadas no dia a dia de milhões de trabalhadores em todoo mundo, e devem ser analisadas para identificar se e quando oferecem riscos paraa saúde. Por um lado, a postura sentada tem a vantagem de provocar uma menorfadiga nos músculos dos membros inferiores comparada à postura em pé, uma vezque a permanência em pé exige um maior consumo de energia, ocasionado pelotrabalho muscular estático. Por outro lado, estar sentado acarreta maior sobrecargana coluna vertebral, do que o estar em pé. Nos dias atuais, aproximadamentetrês quartos das posturas de trabalho em países industrializados são exercidos naposição sentada (GRANDJEAN, 1998). Como exemplo, podemos citar o motorista, oempresário, a secretária e o programador, entre outros.Quando se analisa genericamente a manutenção da postura no estar sentado noperíodo escolar, em adição com as atividades profissionais e diárias (em casa, nolazer), pode-se estimar que o ser humano permaneça muitas horas de sua vida nestapostura. De acordo com um estudo ergonômico, desenvolvido por Yonamine (1995),

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o ambiente escolar possui mobiliários inadequados para atender as necessidadesposturais de crianças e adolescentes. Enfatizando que boa parte de trabalhadoresque procuram órgãos da previdência, convênios médicos, clínicas ou similares,com intenção de solicitar dispensa do trabalho para tratamento, afastamento e atéaposentadoria precoce, estão relacionados a problemas na coluna vertebral, os quaispodem estar associados às posturas adotadas ao sentar, no início da vida escolar.Além da necessidade da criança permanecer sentada nos bancos escolares, àsinúmeras opções de lazer como TV, vídeo game, e o surgimento do computador, queinevitavelmente estão invadindo os lares, são fatores adicionais no estar sentado.O computador, que a cada dia se torna mais popular, é um instrumento necessárioe importante em todas as áreas de pesquisas e trabalho, para manuseá-lo, éfundamental e mais confortável que o operador esteja sentado.

2.4.1. Mecânica da Postura SentadaMecanicamente, durante a postura ortostática (em pé) a carga imposta sobre acoluna lombar é de aproximadamente 60% do peso corporal individual, enquanto naposição sentada isto se eleva para 70%, e pode ultrapassar este valor com o troncoinclinado (BANKOFF et al. apud YONAMINE, 1995).Grandjean (1998) coloca que a carga imposta à coluna é de 1.5 vezes maior quandoo indivíduo está sentado do que quando em pé.Knoplich (1982) cita o exemplo da carga exercida no interior do disco intervertebralL3 (3º vértebra lombar), em diferentes posições. Assim, para uma pessoa de 70 kg,quando deitada em decúbito dorsal, o disco suporta uma carga de 25 kg, deitadalateralmente, se eleva para 75 kg, ficando em pé, 100 kg e se ficar sentada acarga imposta ao disco aumenta para 150 kg, assim sendo possível observa-seque, quando se está sentado, a pressão sobre os discos vertebrais é maior doque quando se está em pé. Contudo, a pressão exercida sobre a coluna vertebralé distribuída, graças a um eficiente trabalho conjunto de músculos, articulações,fáscias e ligamentos, entre os discos intervertebrais durante a permanência no estarsentado.A compressão nos discos vertebrais pode ser acentuada por um único esforço oupela fadiga instalada em decorrência do período prolongado de trabalho, tornandoa musculatura tensa, enfatiza Achour Júnior (1996). O autor comenta que o homemmoderno realiza atividades que o obrigam há permanecer muito tempo sentado ouem pé, situações que exigem estabilidade músculo - articular para conservação dapostura.

2.4.2. Conseqüências da postura sentadaA inatividade física, por sua vez, relaciona-se com a debilidade muscular, comorigidez, fraqueza, falta de amplitude articular, excesso de peso e baixa capacidadecardio-respiratória (POLLOCK e WILMORE, 1993).Nos estudos de Achour Júnior (1996) o encurtamento e/ou enfraquecimento deimportantes grupos musculares da região dorsal, favorecido pela postura estática

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e pela falta de atividade física pode, a longo, prazo proporcionar uma somatóriade efeitos negativos até o surgimento de problemas mais graves. As más posturassão mais prejudiciais na vida diária de pessoas pouco ativas, como também emprofissões que raramente exigem do trabalhador esforço físicas. O fato de estarsentado, por si, não reduz em nenhum momento a necessidade dos indivíduosprocurarem programas de atividades físicas como forma de realizar exercícios dealongamento e fortalecimento muscular.A solicitação constante ou a deficiência de recrutamento de alguns gruposmusculares produzem um encurtamento muscular (pelo excesso de exigência), eem geral um enfraquecimento (deficiência de atividade), caso não seja aliado aexercícios de compensação. A combinação encurtamento/enfraquecimento, por suavez, resulta na instabilidade músculo - articular que poderia provocar problemas naestrutura da coluna vertebral ou no surgimento de dor muscular (rigidez muscular)em longo prazo (ACHOUR JÚNIOR, 1998). Complementando melhor Achour Júnior(1996) comenta que a manutenção de um grupo muscular encurtado, aumenta aestimulação dos agonistas, os tornado mais rígidos, e provoca simultaneamente,maior enfraquecimento de seus antagonistas.Existem evidências no sentido de que a permanência prolongada sentado, prejudicao processo de entrada e saída de nutrientes para o interior do disco intervertebral,favorecendo o desgaste precoce destas estruturas, uma vez que são estruturasavasculares. Achour Júnior (1998) coloca que, em qualquer circunstância, atletas ounão atletas devem atentar para as posturas cotidianas e para as ações motoras,procurando impedir o encurtamento do sistema muscular. Esta medida pode reduziros sintomas de dor localizados na coluna vertebral ou outros segmentos corporaisprovocados pelo encurtamento músculo - articular.Aliado aos problemas de uma postura sentada prolongada são poucos os indivíduosque adotam e/ou possuem um bom conhecimento sobre como sentar. Além disto,corre-se o risco de acomodar-se em bancos, cadeiras ou poltronas mal projetadas,que provocam a sobrecarga na curvatura lombar, comprimindo as vértebras.

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2.5. Doenças Ocupacionais do Sistema Osteomuscularesrelacionados ao trabalho (LER / DORT)

Segundo Michel (2000) no século XVI, algumas observações esparsas surgiram,evidenciando a possibilidade de o trabalho ser causador de doenças.No século XVII, Ramazzini, um médico italiano que se dedicou a descrever doençasocupacionais, relatou que movimentos violentos e irregulares, bem como posturasinadequadas durante o trabalho provocavam sérios danos à máquina vital. Aqui caberessaltar “as doenças dos escribas e notários”.Com esta afirmação, constata-se então que certas atividades ocupacionais,independentes da época em que são exercidas e da presença de máquinas ouprodução organizada, exigem das pessoas posturas, esforços físicos e mentais quepodem produzir doenças.Já com o advento da Revolução Industrial, quadros clínicos decorrentes desobrecarga estática e dinâmica do sistema osteomuscular tornaram-se maisnumerosos.Observa-se que dentro das discussões relativas à saúde dos trabalhadores, importaa discriminação e a análise dos fatores dentro e fora do ambiente de trabalho,bem como sua repercussão no desencadeamento e na manutenção dos processospatológicos. Os problemas relativos às extremidades superiores, relacionados aotrabalho, têm se constituído um grande fator de profundas discussões em termos desaúde pública em muitos países.A Saúde, segundo definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), é “um estadode completo bem-estar físico, mental e social” (FISCHER et al., 1989). Este conceitopropõe uma ligação de todos os elementos presentes no ambiente com o estadode saúde das pessoas. Onde saúde e doença são estados que dependem daintegridade física e mental do indivíduo, bem como das características físicas e“emocionais” da sociedade na qual ele vive, mora, trabalha, diverte-se e sofre.Assunção 1995 relata em seus estudos que as Lesões por Esforços Repetitivos- LER é afecções de origem ocupacional que atingem os membros superiores,região escapular e pescoço, resultantes do desgaste muscular, tendinoso, articular eneurológico provocado pela inadequação do trabalho ao ser humano, e decorrem, deforma combinada ou não, da manutenção de postura inadequada e do uso repetidoe/ou forçado de grupos musculares.Miranda (1998) menciona que, diversos estudos têm revelado no desenvolvimentoda LER, a possível contribuição de fatores psicossociais.Sendo que o trabalho em condições inadequadas, acima referidas, pode provocar oacometimento de tendões, sinóvias, músculos, nervos, fáscias, ligamentos, isolada

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ou associadamente, com ou sem degeneração dos tecidos, especialmente dos dedosda mão, punhos, antebraços, cotovelos, braços, ombros, pescoço e regiõesescapulares, relatada também a ocorrência de afecções de origem ocupacionalem membros inferiores, especialmente atingindo os joelhos. Onde historicamenteessas lesões por esforços repetitivos constituem um fenômeno universal, de grandesproporções, em constante crescimento. Na verdade, tais lesões já foram registradasem 1700 pelo médico italiano Ramazzini, que estudou sua ocorrência entreescriturários. Em 1895, De Quervain descreveu o “entorse das lavadeiras”, depoisdenominada tenossinovite do polegar. Contudo, somente a partir da década de60 o problema ganhou maior dimensão com a incidência crescente de LER entretrabalhadores de países industrializados.No Brasil, desde o início da década de 80, alguns sindicatos de trabalhadoresem processamento de dados começaram a denunciar a ocorrência de lesões poresforços repetitivos entre os digitadores. A partir de 1984/85, com aredemocratização do país e diante da crescente pressão social exercida pelomovimento sindical, a Previdência Social começa a reconhecer a existência doproblema e a conceder os primeiros benefícios previdenciários por LER. Contudo,somente a partir de 1986 a LER passou a assumir relevância crescente nasestatísticas sobre doenças profissionais, sendo que esse fato pode ser explicado,em parte, pela rápida absorção pelo nosso país das inovações tecnológicas e pelaimportante atuação dos trabalhadores (ROCHA 1989).

Vale recordar que, em nosso país, apenas a partir de 1987 a Previdência Socialpassou a considerar a LER como uma doença profissional. (MINISTÉRIO DAPREVIDÊNCIA SOCIAL, 1993).Atualmente no mundo a tendência mais moderna para efeitos de atualização dofenômeno LER é a denominação DORT (distúrbios Osteomusculares Relacionadosao Trabalho). Destacas o termo “distúrbios”, ao invés de “lesões”, no sentido decorresponder ao que se percebe na prática, de ocorrerem distúrbios numa faseprecoce.Sobre esta denominação, Michel (2000) ratifica o parágrafo anterior, expondo que aterminologia DORT tem sido preferida por alguns autores, a outras tais como: Lesõespor Traumas Cumulativos (LTC), Lesões por Esforços Repetitivos (LER), DoençasCervicobraquial Ocupacional (DCO) e Síndrome de Sobrecarga Ocupacional (SSO),por evitar que na própria denominação já se apontem causas definidas (como porexemplo, “cumulativo” nas LTC e “repetitivo” nas LER) e os efeitos (como porexemplo, “lesões nas LTC e LER).” Couto et al. (1998) justifica melhor a questãoanterior no tocante a LTC (lesões por traumas cumulativos), expondo que a mesmanão contempla algumas situações de lesão decorrentes do uso intensivo e de curtaduração, em que não haveria de fato uma lesão por trauma cumulativo. Tambémnão contempla as situações de dor, ligadas simplesmente a um processo de fadigalocalizada.

A instrução normativa do Instituto Nacional de SeguridadeSocial (INSS) usa a expressão LER/DORT para estabelecer oconceito da síndrome e declara que elas não são frutos ex-clusivos de movimentos repetitivos, mas podem ocorrer pelapermanência de segmentos do corpo em determinadas posi-

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ções, por tempo prolongado. A necessidade de concentraçãoe atenção do trabalhador para realizar suas atividades e apressão imposta pela organização do trabalho são fatores queinterferem significativamente para a ocorrência da síndrome(Instrução Normativa n. 98. Ministério da Previdência Social:Brasil; 2003).

Ranney (2000) disponibiliza em seu livro a classificação dos grupos de fatores derisco para LER / DORT segundo KUORINKA & FORCIER, na qual se agrupam daseguinte maneira:

èGrau de adequação do posto de trabalho à zona de atenção e à visão;èFrio, vibrações e pressões mecânicas localizadas nos tecidos;èPosturas inadequadas;èCargas musculoesqueléticas;èCarga estática;èInvariabilidade da tarefa;èExigências cognitivas;èFatores organizacionais e psicossociais ligados ao trabalho.

Didaticamente, os fatores de riscos ocupacionais associados ao aparecimento deLER / DORT podem estar relacionados ao ambiente físico, equipamentos emobiliários do posto de trabalho (fatores biomecânicos), à forma de organização dotrabalho (fatores organizacionais) e ao ambiente psíquico, social e de relações notrabalho (fatores psicossociais).Ranney (2000) ainda relata que o aparecimento de LER / DORT resulta, em geral,de um desequilíbrio entre os três fatores mencionados anteriormente, ou, em outraspalavras a sobre carga estática e/ou dinâmica do aparelho osteomuscular agravada,em geral, pelas reações de estresse.

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2.6. Terapia Ocupacional e a Ergonomia

Segundo Coffito (2008) a Terapia Ocupacional é uma área voltada aos estudos,prevenção e ao tratamento de indivíduos portadores de alterações cognitivas,afetivas, perceptivas e psicomotoras, decorrentes ou não de distúrbios genéticos,traumáticos e/ou doenças adquiridas, através da sistematização e utilização daatividade humana como base de desenvolvimento de projetos terapêuticosespecíficos.Já a ergonomia foi empregada pela primeira vez em 1857, por W. Jastrzebowiski,

que o definiu como a ciência da utilização das forças e capacidades humanas(LANCMAN, 2004).Segundo a Abergo (2008) (Associação Brasileira de Ergonomia) a Ergonomia ouFatores Humanos é uma disciplina científica relacionada ao entendimento dasinterações entre os seres humanos e outros elementos ou sistemas, e a aplicaçãode teorias, princípios, dados e métodos a projetos a fim de aperfeiçoar o bem estarhumano e o desempenho global do sistema.A ergonomia no Brasil passou a ter mais destaque nos anos de 1980, em decorrênciada necessidade de prevenção das LER/DORT, que já acometiam grande númerode trabalhadores, mas especificamente os digitadores da área de processamento dedados bancários (LANCMAN, 2004).

A Terapia ocupacional apresentou desenvolvimento na área de reabilitaçãofísica e mental em vista do aumento do número de portadores de incapacidadesfísicas e mentais após a 1º e 2º Guerras Mundiais, o desenvolvimento e ascensãotemporariamente coincidentes na Ergonomia, mas voltadas para a melhoria eeficácia do desempenho do individuo na sua função e dos seus instrumentosutilizados na guerra (LANCMAN, 2004).No início, a Terapia Ocupacional era mais voltada para a reabilitação/tratamento eatualmente preconiza a prevenção de doenças e promoção da saúde; a Ergonomiapreocupava-se em corrigir problemas já instalados (Ergonomia de Correção) eprevenir problemas (Ergonomia de Mudança) conscientizando os trabalhadores paraa prevenção dos mesmos, voltando-se ultimamente para promoção de saúde comvisão na produtividade, antevendo e evitando problemas ao elaborar projetos eprodutos (LANCMAN, 2004).Assim tanto a Ergonomia quanto a Terapia Ocupacional utilizam de conceitos deoutras áreas das Ciências Humanas, numa relação de confrontação e de integração

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desses diversos conhecimentos. A ergonomia busca, no seu dia-a-dia, um corpode conhecimentos que forneça subsídios para a ação, assim como o terapeutaocupacional (LANCMAN, 2004).Por existirem, então, muitas variáveis a ser considerada no contexto do trabalho,cada situação a ser estudada tem sua singularidade própria, o que também ocorrena Terapia Ocupacional, uma vez que cada paciente, trabalhador ou empresa, éum caso singular independentemente da problemática ou patologia apresentada, nãosendo possível generalizar (LANCMAN, 2004).

A Ergonomia e a Terapia Ocupacional na área da Saúde e do Trabalhoestudam e analisam as questões e contradições individuais e coletivas, incluindo oprocesso de adoecimento, diante dessa afinidade, estabelecem-se parcerias entre aTerapia Ocupacional e a Ergonomia, apontando novos horizontes e perspectivas deatuação no mercado de trabalho nas áreas de reabilitação, prevenção de doenças epromoção de saúde (LANCMAN, 2004).

3. METODOLOGIA

Tomando como fundamento a mecânica corporal, enquanto ciências que estuda asforças estáticas e dinâmicas que agem sobre o corpo humano, o estudo pesquisoupossíveis patologias ocupacionais do sistema osteomuscular, queixas de dores edesconfortos causados pelo impacto da atividade laborativa e como esse fatoresinterferem no desempenho ocupacional em motoristas de ônibus urbano da cidadede Muriaé, MG, no período de fevereiro a abril de 2009.

Para participar da pesquisa, foram selecionados todos os profissionaismotoristas ativos da Empresa Coletivos Muriaeense Ltda, localizada em Muriaé(MG), no total de 55 motoristas com idade entre 27 a 72 anos, gênero masculino(devido à prevalência deste gênero no quadro funcional da empresa).

Trata-se de um estudo exploratório, onde os dados foram coletados pormeio de entrevistas, utilizando-se instrumento de pesquisa semi-estruturado (ANEXO2), desenvolvido pelo próprio pesquisador. O presente instrumento de pesquisa é

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composto por nove perguntas, entre elas abertas e fechadas. A entrevista necessitaem média de cinco minutos para que cada profissional forneça as informações.

Os dados obtidos foram computados manualmente, apresentados emgráficos estatísticos e analisados.

Baseado na pesquisa quanti-qualitativa, apenas um instrumento semi-estruturado foi aplicado aos participantes, de modo que seu preenchimento foi porvontade própria, após cada motorista ser esclarecido quanto ao objetivo da pesquisapor meio do termo de Consentimento Livre e Esclarecido (ANEXO 1), onde constamtodos os dados fundamentais da pesquisa que foram repassados aos entrevistados.

Para Figueiredo (2007) a pesquisa quanti-qualitativa é:

(...) um método que associa analise estatístico à investigaçãodos significados das relações humanas, privilegiando a melhorcompreensão do tema a ser estudado, facilitando assim ainterpretação dos dados obtidos, é um tipo de abordagem quepermite a complementação entre palavras e números, as duaslinguagens fundamentais da comunicação humana(FIGUEIREDO, 2007).

A corrente filosófica positivista foi utilizada como embasamento para apresente pesquisa, baseada nas premissas de Comte (2000). Seguindo esteraciocínio, em Figueiredo (2007) diz que, o pensamento positivista nada mais édo que a expressão da realidade, principalmente quando se parte do princípio deque tudo na vida, com exceção do sobrenatural, é concreto, ou seja, passível deexplicação. A partir desse momento, é possível observar que as pessoas que lidamcom a ciência são obrigatoriamente positivistas.

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4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

A pesquisa foi realizada na Empresa Coletivos Muriaeense Ltda atualmenteapresenta 55 motoristas ativos, de ônibus coletivo de linha urbana e 21 afastadosdo trabalho por motivos diversos, entre os quais patologias neurológicas,osteomusculares, circulatórias e visuais.

Na pesquisa identificou-se alguns fatores que levam esses profissionais asentirem, no futuro, alguns desconfortos, além da tensão e atenção redobrada quedevem ter por exigência da própria profissão.

FIGURA 1: Lateralidade dos Profissionais MotoristasFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

Dessa amostra – 55 motoristas –, 48 são destros e 7 são canhotos, sendoque estes encontram um pouco mais de dificuldade na profissão, devido aos veículosnão serem adaptados, resultando maior esforço na realização das manobras econsequentemente, maior fadiga.

Quanto ao tempo de profissão 3 (5%) tem entre 1 a 3 anos; 6 (11%) tem entre 3 a 5anos; 9 (16%) tem entre 5 a 10 anos; 7 (12%) tem entre 10 e 15 anos; 6 (11%) temde 15 a 20 anos e, 24 (45%) tem mais de 20 anos de profissão, conforme o Gráfico 2abaixo.

FIGURA 2: Tempo de Profissão como MotoristaFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

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Em relação ao tempo de empresa 6 (11%) tem até 1 ano; 13 (25%) tem de 1 a 3anos; 7 (12%) tem de 3 a 5 anos; 11 (20%) tem de 5 à 10 anos; 6 (11%) tem de 10 a15 anos; 3 (5%) tem de 15 a 20 anos e, 9 (16%) dos motoristas tem mais de 20 anosde empresa, ou seja, estão na mesma profissão e na mesma empresa há mais de 20anos.

FIGURA 3: Tempo de Trabalho como Motorista na EmpresaFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

Percebe-se que a grande maioria tem mais de 20 anos de profissão econsequentemente, sentem as consequências físicas, mentais e psicológicas detantos anos exercendo a mesma atividade laboral, fazendo os mesmos movimentosdiariamente (esforços repetitivos).De acordo com a teoria estudada especialistas como Pegorim e Balistieri (1997)constataram que a profissão de motorista é bastante árdua e em função do desgasteda referida atividade laboral, propõem inclusive a (re) formulação da NR para garantirmelhores condições de trabalho e segurança para esses profissionais.

A pesquisa confirma tal entendimento, pois mais da metade dos motoristasentrevistas, ou seja, 28 (51%) sentem alguma dor ou desconforto durante as horasem que estão trabalhando; 27 (49%) disseram que não tem nada, como mostra ográfico abaixo.

FIGURA 4: Motoristas que afirmam sentir ou não Dores / Desconfortos durante o TrabalhoFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

Quanto ao uso de medicamento a maioria 38 (69%) dos entrevistados disse não usarnenhum tipo de medicamento; 17 (31%) disseram que tomam algum medicamento.

FIGURA 5: Motoristas que fazem uso ou não de MedicamentosFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

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Os que afirmaram tomar algum tipo de medicamento 76% tomam analgésicos; 11%tomam medicação para hipertensão (Captopril entre outros) e, 13% disseram quetomam antiinflamatórios (Piroxicam entre outros). Presume-se que essa medicaçãoseja receita por médico, até mesmo a empresa, já em conseqüência do desgaste daprofissão.

FIGURA 6: Tipos de Medicamentos mais usados pelos MotoristasFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

Foi perguntado também sobre afastamento por algum motivo e, 17 (31%) disseramque sim, desses 4 (22%) por LER/DORT; 3 (18%) por Hipertensão Arterial (pressãoalta), o que implica sobremaneira na execução do trabalho do motorista além derepresentar alto risco, não só para o profissional, como também para aqueles queestão sob sua responsabilidade, que são os passageiros; 10 (60%) disseram queforam afastados das atividades laborais por um motivo ou outro, sem especificar.O restante, 38 representando 69% dos motoristas, responderam que nunca foramafastados por motivo nenhum, doença etc.

FIGURA 7: Motoristas que tiveram ou não Afastados do TrabalhoFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

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FIGURA 8: Os Tipos de Afastamentos do TrabalhoFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

Desses motoristas que disseram sentir dores e/ou desconforto, 2 (7%) disseram quesentem dores há aproximadamente 1 ano; 6 (21%) entre 1 e três anos; 6 (21%) de 3a 5 anos; 5 (19%) de 10 a 15 anos; 1 (4%) de 15 a 20 anos e, 2 (7%) há mais de 20anos.

FIGURA 9: Período de Dores / Desconfortos nestes Motoristas nos quais se queixamFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

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Aos que queixaram de sentirem dores e/ou algum desconforto a maioria, 19 (21%)queixaram de dores torácico-lombares; 11 (21%) de dores no ombro; 2 (2,3%) doresno cotovelo; 4 (4,6%) dores no punho; 4 (4,6%) dores na mão; 14 (16%) queixaramdores no quadril; 14 (16%) dores no joelho; 4 (4,6%) dores no tornozelo e, 17 (19%)queixou de dores no pescoço.

FIGURA 10: Regiões das queixas de Dores / DesconfortosFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

Quanto à idade, a maioria dos motoristas entrevistados tem entre 40 e 50 anos,sendo assim distribuídos: 8 (15%) tem até 30 anos; 17 (31%) tem até 40 anos; 15(27%) tem até 50 anos; 10 (18%) tem até 60 anos e, 5 (9%) tem mais de 60 anos.

FIGURA 11: Faixa Etária dos Motoristas de Ônibus Coletivo UrbanoFonte: Pesquisa de campo fevereiro a abril de 2009.

Mesmo com algumas queixas, todos gostam da profissão e muitos nunca tiveramoutra atividade ocupacional, senão a de motorista.A pesquisa mostrou que pelo excesso de estresses, conforme esclarece asliteraturas citadas no conteúdo do trabalho, desencadeado por vários fatores, social,econômico, psicológico, mental etc., os motoristas vivem em constante pressãoincluindo o número elevado de veículos automotores circulando pelas ruas da cidade,a falta de educação no transito etc., fazem com que esses profissionais fiquem emconstante carga estressante e o ambiente de trabalho ergonomicamente inadequadofavorece ao aparecimento de doenças osteomusculares.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES

Pelos estudos realizados e análise dos dados obtidos foram encontradas evidênciasplausíveis de que, o trabalho de motorista é realmente penoso e extremamentefatigante, fatores que levam estes profissionais a sentirem, no futuro, algunsdesconfortos e dores, além da tensão e atenção redobrada que devem ter por

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exigência da própria profissão. Acrescenta-se a isso o longo período de trabalhointenso, as atividades realizadas pelo motorista que exigem permanência prolongadana postura sentada, produzindo desajuste muscular e desconforto postural ecorporal, caracterizado por dor ou perda de conforto em conseqüência de diversosfatores entre eles a sobrecarga mecânica e condições patológicas.A pesquisa confirma tal entendimento, pois mais da metade, 51% dos motoristasentrevistados sentem alguma dor ou desconforto durante as horas em que estãotrabalhando. O tempo de profissão é contribuinte para o adoecimento destesprofissionais, pois 45% estão a mais de 20 anos na mesma atividade laboral sofrendoseus impactos. Para eliminar ou minimizar as dores são utilizados medicamentoscomo analgésicos, anti-inflamatórios para lesões osteomusculares, principalmente nacoluna vertebral e medicações para pressão arterial. Por conseqüência da exposiçãodesses indivíduos ao ambiente de trabalho ergonomicamente inadequado àsnecessidades e características humanas, sofrendo de dores e desconfortos e o longoperíodo de trabalho, há o possível surgimento de LER/DORT, doenças do sistemacirculatório, distúrbios visuais, entre outros. Acarretando também incapacidades dosmesmos em continuar a exercer suas atividades, sendo afastados de seus postos detrabalho decorrentes das doenças ocupacionais.Portanto são sugeridas alterações na carga horária laboral, utilizando de pausasestratégicas durante o trabalho para amenizar a fadiga muscular e sobrecargamecânica, orientações e modificações ergonômicas no ambiente de trabalho(cabines), no objetivo de prevenir as doenças ocupacionais do sistemaosteomuscular, e circulatório, doenças nas quais são comuns em acometerem estaclasse trabalhadora, como foram observadas neste estudo.Estes resultados possibilitaram a formulação de recomendações que viabilize, emestudos futuros, a introdução de melhorias para o aumento da qualidade de vidados motoristas de ônibus coletivo urbano. Os estudos também permitiram identificaruma afinidade do processo participativo com os motoristas de ônibus, em que asmudanças podem ocorrer de forma gradativa e experiencial por meio de padrões nocaso das demandas referentes a posto de trabalho e físico ambiental, ou através depossíveis adaptações no conteúdo da tarefa do motorista no caso das demandasreferentes à organização do trabalho. Tudo isto visando o atendimento, por ordemde importância, dos itens de demanda ergonômica. Considerando que para estestrabalhadores os fatores acima são geradores de afastamentos, com consequenteredução de salário, o que gera constrangimentos, alteração da auto-estima, estressee depressão, comprometendo a qualidade de vida.O Terapeuta Ocupacional analisa as práxis laborais e a partir dessa percepçãocontribui na prevenção e redução dos agravos à saúde, valorizando o trabalhadorcomo indivíduo e favorecendo o bem estar social. Ao analisar as etapas desseprocesso, o Terapeuta Ocupacional, contribui para o menor número de afastamentose consequentemente na redução dos custos da seguridade social.

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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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MINAYO, Maria Cecília de Souza – O desafio do conhecimento: pesquisaqualitativa em saúde. São Paulo; Hucitec, 2004.

OLIVEIRA, Eleonora Menicucci de & SCAVONE, Lucila. (orgs.) Trabalho,saúde e gênero na era da globalização. Goiânia, AB Editora, 1997.

PEGORIM, A.S.; BALISTIERI, W. Análise ergonômica do posto de trabalho domotorista de ônibus urbano. Blumenau, 1997. Monografia, UFSC: UniversidadeRegional de Blumenau SC.

POLLOCK, M.L.; WILMORE, J.H. Exercícios na saúde e na doença: Avaliação eprescrição para prevenção e reabilitação. 2º ed. Rio de Janeiro: Medsi, 1993.

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ROCHA, L. E. Tenossinovite como doença do trabalho no Brasil: a atuaçãodos trabalhadores. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Medicina da USP, SãoPaulo, 1989.YONAMINE, R.S. Estudo biomecânico entre dimensões de móveis escolares emedidas antropométricas, na posição sentada, de estudantes da pré-escola a 4ºsérie do 1º grau de uma escola pública municipal de Campo Grande-MS. CampoGrande, 1995. Dissertação (Mestrado). Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.

Page 34: DOENÇAS OCUPACIONAIS 1

ANEXOS

A1 Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Page 35: DOENÇAS OCUPACIONAIS 1

CURSO DE TERAPIA OCUPACINOALTERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ALUNO: Felipe Aredes Galvão ORIENTADOR: Ivens M. O. Pereira

Eu,____________________________________________________________,ciente das informações recebidas concordo com a participação na pesquisa intitulada“Doença Ocupacional: Um estudo acerca da postura dos trabalhadores de ônibuscoletivo da cidade de Muriaé”, que será realizada sob responsabilidade de FelipeAredes Galvão, graduando do curso de Terapia Ocupacional da Faminas –Faculdade de Minas, pois estou informado de que em nenhum momento estareiexposto a riscos causados pela participação no estudo e de que poderei a qualquermomento recusar ou anular o consentimento por mim assinado, sem nenhumprejuízo para minha pessoa.Estou ciente também de que os resultados encontrados no estudo serão usadosapenas para fins científicos. Fui informado de que não terei nenhum tipo de despesaou gratificação pela referida participação nesta pesquisa,E de que terei acesso aos resultados publicados em períodos científicos.

Pelo exposto, concordo voluntariamente em participar no referido estudo.

______________________________ ___________________________Assinatura do Pesquisador Assinatura do Participante

(Acadêmico) (Motorista)

A2 Instrumento de Pesquisa semi-estruturado, desenvolvido pelo própriopesquisador

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CURSO DE TERAPIA OCUPACINOALINSTRUMENTO DE PESQUISA

ALUNO: Felipe Aredes Galvão ORIENTADOR: Ivens M. O. Pereira

ENTREVISTA

1. Nome: _____________________________________ Idade:_____________

2. Lateralidade: ( ) Destro ( ) Sinistro / Canhoto

3. Qual tempo de trabalho nesta profissão?

( ) Até 1 Ano ( ) 1 à 3 Anos ( ) 3 à 5 Anos ( ) 5 à 10 Anos( ) 10 à 15 Anos ( ) 15 à 20 Anos ( ) Mais de 20 Anos

4. Qual o tempo de serviço nesta empresa?

( ) Até 1 Ano ( ) 1 à 3 Anos ( ) 3 à 5 Anos ( ) 5 à 10 Anos( ) 10 à 15 Anos ( ) 15 à 20 Anos ( ) Mais de 20 Anos

5. Durante a realização da atividade laboral, sente dores ou desconfortos?

( ) Sim ( ) Não

6. Qual o local destas dores e desconfortos?

( ) Pescoço ( ) Ombro ( ) Cotovelo ( ) Punho ( ) Mão( ) Quadril ( ) Joelho ( ) Tornozelo

7. Faz uso de alguma medicação para estes desconfortos e dores?

( ) Sim ( ) Não Quais? ________________________________________

8. Teve afastamentos relativos ao trabalho?

( ) Sim ( ) Não Quais? ________________________________________

9. Quanto tempo sente estes desconfortos e dores devido à atividade laboral?

( ) Até 1 Ano ( ) 1 à 3 Anos ( ) 3 à 5 Anos ( ) 5 à 10 Anos( ) 10 à 15 Anos ( ) 15 à 20 Anos ( ) Mais de 20 Anos

[1] Mais-valia é conceito formulado por Karl Marx relativo à diferença entre o valor produzido pelo trabalho e osalário pago ao trabalhador, que seria a base da exploração no sistema capitalista. (Marx, 1998)