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Direito das Obrigações - Casos Práticos 1 Casos Práticos de Direito das Obrigações Sujeito Activo Objecto Sujeito Passivo Direito de Crédito Credor Prestação Devedor Direito Real Titular do direito Coisas / Bens 1 Corpóreas/ Incorpóreas Todos os devedores/ outros (todos nós) Direito de Garantia Credor Uma ou mais coisas Património possível de garantia Devedores ou terceiros 2 Todos os que não são titulares da Garantia Direito Intelectual Titular do Direito Real Coisa incorpórea Todos os outros (indeterminado) Liberdades Individuais Titular da liberdade individual (cidadão) Liberdades em geral Nada / Todos os outros Casos Práticos : 1- A promete a B transportá-lo para Marte. Quid juris? É uma declaração impossível, nos termos dos Artigos 280º e 401º do Código Civil. No caso de vir a ser possível, trata-se de uma declaração não-séria prevista no Artigo 245º do Código Civil. 1 Móveis ou imóveis. Há bens que não são objecto dos direitos reais, como os direitos de personalidade, os bens públicos, os órgãos do corpo humano. Bens fora do comércio - não pode haver transacção, nem onerosa, nem gratuita (Ex: O princípio geral é que os órgãos estão fora do comércio, mas é possível doar órgãos, logo há transacção. Os bens fora do comércio não fazem parte dos direitos reais. 2 Artigo 762º do Código Civil.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 1

Casos Práticos de Direito das Obrigações

Sujeito Activo Objecto Sujeito PassivoDireito de Crédito Credor Prestação DevedorDireito Real Titular do direito Coisas / Bens1

Corpóreas/IncorpóreasTodos os devedores/ outros (todos nós)

Direito de Garantia Credor Uma ou mais coisas Património possível de

garantia

Devedores ou terceiros2

Todos os que não são titulares da Garantia

Direito Intelectual Titular do Direito Real

Coisa incorpórea Todos os outros (indeterminado)

Liberdades Individuais

Titular da liberdade individual (cidadão)

Liberdades em geral Nada / Todos os outros

Casos Práticos:1- A promete a B transportá-lo para Marte.

Quid juris?É uma declaração impossível, nos termos dos Artigos 280º e 401º do Código

Civil. No caso de vir a ser possível, trata-se de uma declaração não-séria prevista no Artigo 245º do Código Civil.

2- A celebra com B um contrato-promessa de compra e venda do Oceano Atlântico.

Quid juris?Trata-se de um objecto impossível, nos termos do Artigo 401º nº3 do Código

Civil. E, de acordo com o Artigo 202º nº2 do Código Civil, o Oceano Atlântico é uma coisa que não é susceptível de apropriação individual, estando, por isso, fora do comércio.

Ainda em relação ao Artigo 280º nº1 do Código Civil, este artigo trata dos requisitos do objecto negocial e, nos termos deste, este negócio é nulo porque o seu objecto é fisicamente impossível, remetendo para o Artigo 401º do Código Civil.

1 Móveis ou imóveis. Há bens que não são objecto dos direitos reais, como os direitos de personalidade, os bens públicos, os órgãos do corpo humano.

Bens fora do comércio - não pode haver transacção, nem onerosa, nem gratuita (Ex: O princípio geral é que os órgãos estão fora do comércio, mas é possível doar órgãos, logo há transacção.

Os bens fora do comércio não fazem parte dos direitos reais.2 Artigo 762º do Código Civil.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 2

3- A celebra com B contrato-promessa nos termos do qual se vincula a furtar a casa dos vizinhos de A, enquanto estes forem de férias.

Quanto a este negócio, nos termos do Artigo 294º do Código Civil, este é nulo uma vez que foi celebrado contra a lei, aplicando-se também o Artigo 280º nº1 que diz também que o negócio jurídico cujo objecto seja contrário à lei é nulo.

4- A celebra com B um contrato-promessa de compra e venda da casa com maior número de janelas e quartos situada em Setúbal.

Nesta hipótese aplica-se o Artigo 408º nº2 do Código Civil, sendo o objecto indeterminado até se encontrar a casa em questão. Aqui o objecto poderia ser determinável, logo o contrato é válido.

5- A promete a B ficar detido na sua casa para sempre e obedecer a todas as suas ordens.

O contrato é nulo pois viola os Artigos 69º, 70º, 81º e 280º nº1 do Código Civil, violando os direitos de personalidade e também os direitos constitucionais que são alienáveis.

6- A promete a B que na festa de Sábado se despojará de toda a roupa, para provocar o maior escândalo.

Aplicam-se os Artigos 280º nº2 e 80º nº1.

7- A tem 16 anos, embora aparente ser mais velho. B tem 18 anos e aparenta a idade que tem. Os dois amigos resolvem comprar um carro com algum dinheiro que ambos tinham. A, sabendo-se menor e para mais facilmente celebrar o contrato, diz que tanto ele como B são maiores, convencendo o proprietário do stand a vender o automóvel.

Carlos, pai de A, pretende a anulação do contrato.Quid juris?

Segundo professor Oliveira Ascensão, aplica-se o Artigo 125º a) do Código Civil, podendo o pai anular este contrato celebrado por A.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 3

A tese do professor Mota Pinto, aplica-se o Artigo 126º e Carlos não pode anular este contrato, uma vez que A actuou com dolo ao fazer-se passar por maior.

Se se aplicasse o Artigo 125º a), aplicava-se também o Artigo 227º do Código Civil e o vendedor teria direito a uma indemnização do menor, uma vez que este artigo prevê que quem negoceia com outrém para conclusão de um contrato deve proceder segundo as regras da boa-fé.

Se o contrato for verbal, este é considerado válido, aplicando-se o Artigo 125º a) e o Artigo 227º do Código Civil (Artigo 483º).

7.1- Se o negócio fosse bom, tanto para o comprador como para o vendedor, a resposta seria diferente neste caso de bom negócio jurídico?

Não há bom, nem mau negócio jurídico. Não é uma noção jurídica.

7.2- O vendedor podia propor a anulação do contrato se posteriormente veio a saber que vendeu a um menor?

Nos termos do Artigo 254º do Código Civil podia propor a anulação do contrato, pois não há protecção do menor, isto se se aplicar a teoria do professor Mota Pinto.

Segundo a teoria do professor Oliveira Ascensão, nos termos dos Artigos 125º e 126º do Código Civil o vendedor não podia propor a anulação do contrato, havendo a protecção do menor.

8- Classificação:

8.1- A e B celebram hoje um contrato de arrendamento de um certo prédio, estipulando que o contrato começará a produzir os seus efeitos dia 22/12/99. (Qualificar a estipulação).

Termo inicial (porque existe o início dos efeitos do contrato, nos termos do Artigo 278º do Código Civil).

8.2- A e B celebram um contrato de arrendamento por um ano. (Cessação de efeitos).

Termo final.

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8.3- A e B celebram um contrato de arrendamento que começa a produzir os seus efeitos dia 2 de Novembro até dia 2 de Dezembro.

Termo inicial e final.

8.4- A doa a B um prédio, mas a doação fica sem efeito se B morrer antes de A.

Condição resolutiva (Artigo 270º do Código Civil).

8.5- A doa a B um prédio para o caso de B lhe sobreviver.

Condição suspensiva.

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Caso Prático Nº 1

A e B celebram verbalmente um contrato-promessa de construção de navio. Nos termos do Artigo 489º do Código Comercial os contratos de construção de navios devem ser reduzidos a escrito.

Quid juris?O contrato tem que ser escrito senão é nulo por inobservância de forma legal, de

acordo com o Artigo 220º do Código Civil.Relativamente ao contrato-promessa o seu regime jurídico encontra-se no Artigo

410º do Código Civil. Quanto ao seu nº1, este artigo prevê a liberdade de forma, remetendo posteriormente para o Artigo 219º do Código Civil.

Por outro lado, o nº2 do Artigo 410º é a primeira excepção, ou seja, se a lei exigir para o contrato definitivo uma forma específica, então o contrato-promessa tem que ser celebrado por escrito particular. Esta é uma formalidade substancial, nos termos do Artigo 364º nº1 do Código Civil.

Logo, em relação a esta hipótese o contrato-promessa é nulo, nos termos do Artigo 220º do Código Civil.

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Caso Prático Nº2

A e B celebram entre si contrato-promessa de compra e venda sobre o 5º Dto do Nº14 da Av. da República. Para o efeito A, promitente vendedor, elabora um contrato-promessa que é aceite por B e ambos assinam conforme as assinaturas dos respectivos Bilhetes de Identidade.

No dia acordado para a celebração do contrato definitivo (compra e venda), A alega que o contrato-promessa é inválido.

Quid juris?Neste caso prático aplica-se o Artigo 410º nº3, havendo vício de forma porque

não houve reconhecimento das assinaturas na presença do notário.Quanto ao vício de forma, em princípio, aplica-se o Artigo 220º do Código Civil,

mas o Artigo 334º do Código Civil há dolo por parte de A, porque este é que causou culposamente a omissão dos requisitos previstos no Artigo 410º nº3 do Código Civil. Em relação a esta omissão, há aqui um abuso de direito e aquele que abusou do seu direito não pode invocar a invalidade.

Nesta hipótese aplica-se o regime da nulidade que está previsto no Artigo 220º do Código Civil, assim, qualquer pessoa poderia invocar a invalidade.

Se se aplicar o Artigo 287º do Código Civil, está-se a recorrer a uma anulabilidade sui generis.

Assento de 2/95 - considera que o tribunal não pode conhecer a omissão dos requisitos.Assento 28/6/94 - considera que as omissões do Artigo 410º nº3 do Código Civil não

podem ser invocadas por terceiros.

Os assentos não têm valor vinculativo (Artigo 2º do Código Civil).

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Caso Prático Nº3A celebra com B contrato-promessa de compra e venda,

através do qual A se obriga a vender a B e este a comprar a A um prédio rústico em Beja.

Na data acordada para a celebração do contrato definitivo, A não cumpre, alegando que o contrato é nulo por vício de forma, uma vez que B não assinou o referido contrato.

Quid juris?O contrato é bilateral, existem duas declarações de vontade, mas a falta de uma

das assinaturas não afasta a respectiva declaração de vontade.Em relação ao problema da falta de assinaturas, aplica-se o Artigo 293º do

Código Civil relativo à conversão e justifica-se pelo seguinte modo: sendo a promessa bilateral, o contrato não podendo valer como tal e a falta de uma assinatura sendo a prova da vinculação, o contrato não podia deixar de ser totalmente nulo.

Relativamente ao regime da redução, o contrato corresponde a um tipo contratual reconhecido por lei, previsto no Artigo 411º, daí que a nulidade fosse parcial sem prejuízo da parte interessada invocar a nulidade total, provando que não teria celebrado o contrato sem a parte viciada.

Aparece a este propósito um assento de 29/02/89 para pôr fim à discussão: “O contrato-promessa bilateral de compra e venda de imóvel celebrado em documento assinado apenas por um dos contraentes é nulo, mas pode considerar-se válido como contrato-promessa unilateral, desde que essa tivesse sido a vontade das partes”.

Há autores que analisam este assunto: Antunes Varela - perante este assento o tribunal optou pela conversão, porque

qualquer contrato unilateral é um negócio bilateral, então necessita da assinatura de ambas as partes.

Através desta apreciação não se está a aplicar correctamente o Artigo 410º nº2, porque neste fala-se em vínculo e não em declaração de vontade. A assinatura é a prova da declaração de vontade e o Artigo 410º nº2 requer a assinatura, não para a prova de declaração de vontade, mas para prova de vínculo.

A redução só se aplica a prestações divisíveis e não interdependentes. Só se reduzem coisas que não estão dependentes umas das outras.

Este autor opta pela conversão e utiliza estes argumentos para afastar a redução. Almeida Costa ou Galvão da Silva - optam pela redução. Fazem a distinção

entre a declaração e a vinculação, considerando que o contrato-promessa é unilateral se só uma parte se vincular e assinar, só uma parte subscrever o documento, mas a outra não deixa de emitir uma declaração de vontade.

Ambas emitem declarações, mas só uma está sujeita à forma solene do Artigo 410º nº2. Daí que se possa reduzir o contrato, há uma nulidade parcial e o contrato-promessa é válido como contrato unilateral.

No âmbito da conversão tem que se provar que, apesar de se conhecer o vício, a parte tinha assinado.

A conversão é a prova de um facto alheio e na redução há a prova de um facto próprio e, muitas vezes, aplica-se um ou outro só por questões de prova.

Estas regras também se aplicam no âmbito do Artigo 410º nº3 (reconhecimento das assinaturas).

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Caso Prático Nº4

A promete a B que lhe vende a sua propriedade no Alentejo, em 2000, pelo preço de 20 mil contos. A promessa é celebrada na forma legalmente prescrita.

B compromete-se com A a pagar-lhe mensalmente a quantia de 50 mil escudos, até efectivar a compra da propriedade.

1- Qual a forma legalmente prescrita?Temos um contrato-promessa unilateral cujo objecto é um prédio rústico, porque

para o contrato definitivo é necessário escritura pública, nos termos do Artigo 875º do Código Civil. Neste é preciso documento particular assinado por uma parte, de acordo com o Artigo 410º nº2 do Código Civil.

A outra parte vinculou-se a entregar uma quantia todos os meses. A quantia não corresponde à promessa de venda ou à promessa de compra. Aqui o objecto do contrato é o contrato-promessa de compra e venda unilateral.

Só há uma parte que se vincula a vender. Se só uma se vincula, o contrato-promessa é unilateral, mesmo havendo uma segunda vinculação. Temos um contrato-promessa unilateral com sinalagma imperfeito ou bilateral imperfeito.

Contrato-promessa unilateral remunerado, porque o promitente vendedor não sabe se o comprador lhe compra o bem, nem ele pode vender a terceiros.

Existe uma vinculação da outra parte, não relativamente ao objecto, mas sim à promessa.

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Caso Prático Nº5

A, empresa de construção, celebrou com a firma B um contrato-promessa de compra e venda de um andar, para o comércio de B, pelo preço de 20 milhões de escudos, tendo B entregue a título de sinal a quantia de 2 milhões de escudos.

O contrato-promessa em causa é um modelo usado por A em todas as negociações que celebra deste tipo e não foi dado a conhecer a B, senão depois de B ter assinado.

Do referido contrato consta uma cláusula 5ª que, sob a epígrafe “Garantia”, estabelece a irresponsabilidade da empresa de construção por atrasos na celebração do contrato definitivo e entrega do imóvel.

A não celebra o contrato definitivo na data acordada, alegando, todavia, que não pode ser responsabilizado pelo não cumprimento do contrato, referindo-se à cláusula 5ª.

Quid juris?É um contrato-promessa de compra e venda com entrega de sinal. Neste contrato

constava uma cláusula contratual geral que estabelece a irresponsabilidade do promitente vendedor nos atrasos na celebração do contrato e uma irresponsabilidade quanto à entrega da coisa.

Esta cláusula não foi comunicada com a devida antecedência à outra parte, por conseguinte, há uma violação do Artigo 5º do DL 220/95. Este artigo prevê um dever de comunicação para que o aderente tome conhecimento do conteúdo das cláusulas contratuais gerais e adira de forma consciente. Como o contrato não foi comunicado antes de ser assinado, considera-se que, segundo o Artigo 8º do DL 220/95, as cláusulas não comunicadas estão excluídas do contrato, resta saber se o contrato pode subsistir sem a cláusula 5ª.

Esta cláusula 5ª dizia respeito à entrega e, por conseguinte, uma cláusula essencial e sem ela o contrato não pode produzir efeitos. O promitente vendedor terá então que restituir o sinal ao promitente comprador, esta restituição é um dos efeitos da nulidade dos contratos. O Artigo 879º do Código Civil trata os efeitos essenciais do contrato de compra e venda.

O preço e o sinal são cláusulas especiais, porque podem ser discutidos, não se aplicando o Decreto-lei das cláusulas contratuais gerais.Sub-hipótese:Se houvesse comunicado esta cláusula? Assim já não haverá violação do Artigo 5º.

O Artigo 20º remete para o Artigo 17º. Esta cláusula não se poderia aplicar o Artigo 18º c), porque há mera culpa. Não se poderia também aplicar o Artigo 19º, porque não há prazos, assim o conteúdo da cláusula poderá ser válido.

Contudo, com recurso ao Artigo 8º c) há uma contradição entre a epígrafe e o conteúdo da cláusula. Portanto, o contrato é nulo, uma vez que se aplica novamente o Artigo 5º e o Artigo 8º c) do DL 220/95.

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Caso Prático Nº 6

A empresário artístico tomou de arrendamento, a B, uma sala para três dias determinados, afim de aí realizar um espectáculo de ballet com uma bailarina célebre, a famosa C. A retribuição acordada seria de 15% das receitas, mas sempre no mínimo de 500 contos. Esses 500 contos foram pagos imediatamente na conclusão do contrato.

1- O espectáculo não pôde realizar-se, porque a bailarina adoeceu gravemente poucos dias antes da datas anunciada para o grande acontecimento e esteve impedida durante largo período de tempo.

A exige de B a restituição dos 500 contos. B recusa, argu_ mentando que a sala esteve durante aqueles três dias livre e à disposição de A.

Quid juris?1- Contrato de arrendamento para três dias (termo certo). A renda é de 15 % das

receitas, sendo que o proprietário terá sempre direito a 500 contos, mesmo que as receitas sejam inferiores. Através desta cláusula que prevê que a renda será de 15 % das receitas, ambas as partes assumiram um risco, o empresário garante 500 contos mesmo que tenha direito a menos e o proprietário da sala aceita esta quantia, porque tem expectativas de receber muito mais, já que o espectáculo será realizado com uma bailarina célebre.

Assim sendo, tendo as partes assumido um risco quanto ao valor da renda, o empresário não poderá recorrer ao Artigo 437º para resolver o contrato e exigir a devolução dos 500 contos.

2- A solução seria a mesma caso a renda devida se cingisse aos 500 contos acordados?2- A existência tem directamente ligação com a base do negócio. Assim, não assumiu risco, nem há mora. Há modificação do contrato de arrendamento por alteração das circunstâncias, não diz respeito às rendas, mas sim às datas nos termos do Artigo 1040º do Código Civil.

Há alteração anormal das circunstâncias devido à doença da bailarina. A parte lesada é o empresário. A modificação aqui é pôr a sala disponível numa altura em que a bailarina deixe de estar doente.

3- Poucos dias antes da data do espectáculo um violento incêndio reduziu a sala a escombros. Quais as posições de A e B?3- Há incêndio, logo há impossibilidade de cumprimento, nos termos do Artigo 790º nº1 do Código Civil. Extingue-se a obrigação, havendo lugar à restituição dos 500 contos, porque esta impossibilidade diz respeito ao proprietário da sala, de acordo com os Artigos 432º e seguintes do Código Civil.

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Caso Prático Nº7

Em 10/01/99 A e B celebraram um contrato nos termos do qual se comprometeram respectivamente a vender e a comprar um prédio rústico denominado “Vale das Rosas”, por um preço de 10.000 contos. No momento da celebração do contrato, B entregou a A a quantia de 1.000 contos, tendo sido estipulado que a compra e venda se faria no dia 10/06/99. Em atenção ao facto de B necessitar realizar estudos técnicos no terreno, foi-lhe transmitida a posse sobre o mesmo.

1- B recusa-se a celebrar a compra e venda por, em 01/03/99, violentas tempestades terem alagado o “Vale das Rosas” razão pela qual B está impossibilitado de usar o terreno para o único fim a que o mesmo se dirigia, a prática de culturas de sequeiro.

Quid juris?Se os requisitos da alteração das circunstâncias estiverem preenchidos pela

alteração do objecto e se fosse do conhecimento do promitente vendedor, o contrato não se resolve, mas modifica-se através do Artigo 830º nº4 do Código Civil.

A menos que se prove que a manutenção do contrato seja contrária ao princípio da boa-fé, pode a modificação não ser suficiente, resolvendo-se o contrato.

Contudo, aplica-se o Artigo 830º, modificando-se o contrato (o contrato-promessa só se resolve por motivo de equidade).

Se o promitente vendedor não tivesse conhecimento para o que o promitente comprador queria fazer naquele terreno, então não havia lugar à modificação e nem à resolução.

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Caso Prático Nº8

A reputado e famoso pintor, pelo seu traço inimitável, promete a B que fará o retrato deste a óleo sobre tela. Para o efeito, B entrega a título de sinal a quantia de 40.000$00. Ficou acordado que no prazo de um mês B entregaria a fotografia a reproduzir no quadro.0

Na semana seguinte, A é vítima de um acidente de viação, falecendo na ambulância a caminho do Hospital. A tem como único sucessor C que também é pintor e que pretende agora efectuar o retrato de B.

Quid juris?O C, legítimo sucessor de A, nos termos do Artigo 412º nº1, em princípio, é

obrigado a celebrar o contrato definitivo, dado que, como dispõe este artigo, os direitos e obrigações resultantes do contrato-promessa transmitem-se aos sucessores das partes e ao interpretarmos a contrario o Artigo 2025º do Código Civil depreendemos que estamos perante uma situação em que o contrato-promessa constitui objecto da sucessão.

Contudo, não recai no âmbito do Artigo 412º do Código Civil as obrigações e direitos exclusivamente pessoais e estas obrigações e direitos diagnosticam-se quando se tem, por exemplo, em vista um contrato de trabalho, nos termos do Artigo 1152º, ou de prestação de serviços, segundo o Artigo 1159º do Código Civil. E o contrato da hipótese é um contrato de prestação de serviços, portanto, C, sucessor de A, à partida não pode efectuar o retrato de B, pois a prestação é infungível, é exclusivamente pessoal.

Conclui-se, portanto, pela extinção da obrigação.Segundo o Artigo 791º do Código Civil há uma impossibilidade superveniente de

cumprimento, existindo extinção da obrigação, a herança tem que devolver a B os 40.000$00. Se assim não fosse, ou haveria violação do Artigo 791º ou, então, haveria enriquecimento sem causa.

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Caso Prático Nº9

A celebra com B contrato-promessa de compra e venda sobre fracção autónoma de prédio urbano acabado de construir, pelo preço total de 10.000 contos, tendo B dado sinal a quantia de 3.500 contos. B entrou imediatamente na posse da fracção, passando aí a residir com a sua mulher e dois filhos. A escritura definitiva não ficou com data marcada, porque o prédio não está ainda constituído em propriedade horizontal. Entretanto, já passou um ano sobre o contrato-promessa e A constitui a propriedade horizontal, mas continua a adiar a marcação da escritura definitiva e vem agora informar que não vende a fracção a B, pretendendo reaver a sua posse.

Quid juris?Presume-se que a quantia entregue é sinal, nos termos do Artigo 441º do Código

Civil, porque há um contrato de compra e venda. A doutrina entende que quando há a transferência de uma coisa, mesmo que não seja contrato-promessa de compra e venda aplica-se o Artigo 441º do Código Civil.

Em caso de incumprimento, o promitente fiel ou tem interesse no contrato e vai pela execução específica, ou então, não tem interesse no contrato e resolve o contrato (aqui tem direito ao dobro do sinal, ou ao valor actualizado da coisa, desde que haja tradição da coisa), isto no caso de existir sinal. Quando não há sinal, em caso de incumprimento e se o promitente fiel não tiver interesse no contrato, resolve-o, então segue-se o regime geral da responsabilidade contratual (existindo tradição tem direito de retenção).

Interesse no contrato - execução especifica

dobro do sinalResolução valor actualizado da coisa (tradição)

não sinal - regime geral da responsabilidade contratual

O promitente faltoso não poderá recorrer à excepção de cumprimento, quando o credor tenha perdido o interesse na coisa (Artigo 808º), ou então se já tiver celebrado o contrato definitivo com terceiro.

Com base no Artigo 441º existia sinal, logo o promitente fiel ou resolvia o contrato, ou recorria à execução específica.

Se resolvesse o contrato poderia exigir do promitente faltoso, nos termos do Artigo 442º nº2, o dobro do sinal, ou seja, 7.000 contos, ou então exigir o valor actualizado da coisa, segundo o mesmo artigo. Se o valor real da coisa for de 15.000 contos, para calcular o valor actual da coisa tem que se deduzir os 10.000 contos mais o sinal, logo o valor actual será de 9.000 contos.

Exigindo o promitente fiel o valor actual da coisa, pode o promitente faltoso, recorrendo ao Artigo 442º nº3, propor-se a celebrar o contrato definitivo, aplicando a figura da excepção de cumprimento. Este meio de defesa do promitente faltoso só pode

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 15

ser exercido se a outra parte não tiver perdido em termos objectivos o interesse na celebração do contrato definitivo, segundo o Artigo 808º, ou se o bem em causa (fracção autónoma) não tiver sido vendido a terceiro (não era o caso).

Se o promitente fiel optar pela execução específica não tem que provar que a quantia entregue não era considerada pelas partes uma convenção contrária à execução específica, pois no âmbito do Artigo 410º nº3 (tratava-se de um contrato-promessa oneroso de transmissão de um direito real sobre uma coisa) a execução específica nunca poderá ser afastada. Ao recorrer a esta poderá, além disso, pedir uma indemnização moratória se o atraso na celebração do contrato definitivo tiver prejudicado o promitente fiel (vamos afastar a figura, porque não havia prazo para a celebração do contrato definitivo). Só existindo incumprimento do promitente vendedor é que se poderia recorrer a estas figuras.

O promitente fiel pode ter interesse no contrato, mas quando há atraso na celebração do contrato definitivo pode recorrer ao regime da mora, não implica que o promitente faltoso não possa cumprir, aqui não está em causa o incumprimento. O que há é um atraso.

Regime especial de incumprimento do contrato-promessa previsto nos Artigos 442º e 830º (só se aplica no contrato-promessa).

Mesmo sendo obrigados a aplicar o regime especial, as partes podem aplicar o regime da mora. Se não houver sinal podem aplicar o regime geral da responsabilidade contratual. Quando há sinal, em vez de aplicar o regime especial, as partes podem aplicar o regime da mora, desde que o promitente fiel tenha fixado um segundo prazo. Se o promitente faltoso não cumprir até ao segundo prazo, há prova da falta de interesse, segundo o Artigo 808º nº2 (a prova é só marcar o prazo moratório).

Artigo 442º nº3 remete em termos gerais para a execução específicaem todas as situações anteriores, existindo sinal, pode-se recorrer à execução específica

Artigo 808º nº2 o sinal afasta a execução específica, havendo, em princípio, um sinal

prevê uma presunção ilidível - Artigo 350º nº2

As partes têm que provar que através daquele sinal não quiseram afastar a execução específica.

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Caso Prático Nº10

A 2 de Dezembro de 1998 António enviou uma carta a Bernardo na qual se mostrava disposto a vender a Quinta das Torres, propriedade que já antes o destinatário se mostrava interessado em comprar, por 50.000 contos pagos em dez prestações mensais, vencendo-se as duas primeiras prestações antes da escritura pública, a qual se deveria realizar no mês de Março do próximo ano, em data a marcar pelo comprador.

Bernardo recebeu a carta a dia 5 e respondeu afirmativamente através de missiva em dia 10, que chegou ao proponente a 13 do mesmo mês.

Bernardo cumpriu o acordado e a 20 de Fevereiro de 1999 enviou uma carta a António, avisando que a escritura estava marcada para dia 10 de Março. António não compareceu no notário e Bernardo vem a saber que há cerca de um mês aquele celebrara um contrato-promessa de venda da mesma Quinta com Caetano, primo de Bernardo, com quem este, por diversas vezes, comentara que ia comprar a Quinta em causa.

1- Pronuncie-se pela validade do contrato-promessa celebrado por António e Bernardo.

Relativamente a esta hipótese, é necessário saber se está perante um prédio rústico ou um edifício.

Um prédio rústico são parcelas delimitadas de solo e abrangem as construções que não tenham autonomia económica, Artigo 204º. Os edifícios englobam os terrenos que servem de logradouro e são assimilados por alguns autores a edifícios, expressão utilizada pelo Artigo 410º nº2 do Código Civil.

Se a Quinta das Torres for um prédio rústico, o contrato, para ser válido quanto à forma, terá que ser celebrado por documento particular e assinado pelas partes que se vinculam, já que para o contrato definitivo a lei exige forma solene, nos termos do Artigo 875º do Código Civil.

Se for um prédio urbano ou edifício, o contrato, para ser válido quanto à forma, tem que ser celebrado por escrito, assinado pelas partes e as assinaturas têm que ser reconhecidas pelo notário e tem que se certificar que há uma licença.

Na hipótese há contrato-promessa, já que o prazo do Artigo 228º foi respeitado, contudo as partes celebraram um contrato por escrito, respeitando os requisitos do Artigo 410º nº2. Se estiverem perante um edifício, não tendo respeitado o Artigo 410º nº3, o contrato será nulo por vício de forma, vício que só poderá ser invocado pelo promitente não responsável pela omissão.

2- Partindo do princípio que o contrato é válido, Bernardo pode pedir a execução específica do mesmo?

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 17

Há divergências na doutrina, há quem considere que só tem carácter de sinal as quantias entregues com valor penitencial e outros que consideram que tem carácter de sinal as quantias que confirmam a intenção de celebrar um contrato definitivo.

3- Se Bernardo não puder ou não estiver interessado em pedir a execução específica do contrato, que indemnização pode pedir a António?

Artigo 442º - dobro do sinal. Resta saber se as duas prestações têm carácter de sinal ou só uma é que tem.

Se considerarmos que só a primeira prestação tinha valor penitencial, seria no valor de 5.000 contos e o dobro 10.000 contos.

Se considerarmos que qualquer quantia é considerada sinal e segundo o Artigo 441º têm esse valor e a indemnização será de 20.000 contos - Artigo 442º nº2.

4- Bernardo tem direito a, em alternativa, exigir a mesma indemnização a Caetano?

Em princípio as obrigações só têm eficácia entre as partes, assim, o promitente fiel (comprador) não pode opôr ao terceiro a existência de um contrato para exigir uma indemnização.

Contudo, admitindo a eficácia externa das obrigações, podíamos considerar que, estando Caetano de má-fé, tinha abusado o seu direito à compra, segundo o Artigo 334º. Existindo um dano, Caetano ou seria obrigado a indemnizar o promitente fiel ou então o negócio jurídico celebrado entre o promitente vendedor e Caetano seria nulo, segundo o Artigo 296º. Em vez de recorrer à figura do abuso de direito, poderíamos recorrer à teoria do terceiro cúmplice (Artigo 490º) e aqui Caetano tendo instigado o promitente vendedor a não cumprir com Bernardo se obrigar a indemnizar o promitente fiel.

5- Pronuncie-se acerca da compatibilidade dos dois contratos-promessas.

Em princípio, existe uma incompatibilidade entre os dois contratos-promessas, se os dois forem válidos. O contrato-promessa que prevalece é aquele que for cumprido em primeiro, ou então, aquele cuja acção de execução específica for registada em primeiro. É claro que o outro promitente fiel terá direito a uma indemnização por parte do promitente faltoso, segundo o Artigo 442º se existir sinal ou segundo o regime geral da responsabilidade contratual se não existir sinal.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 18

Caso Prático Nº 11

A e B celebraram entre si contrato-promessa de compra e venda de fracção autónoma. O contrato-promessa foi celebrado por escritura pública, contendo uma cláusula expressa, em que as partes atribuem eficácia real à promessa de vender. B, promitente comprador, efectuou o competente registo na Conservatória do Registo Predial. Entretanto, A vende a mesma fracção autónoma por escritura pública a C que trata imediatamente de registá-la em seu nome na Conservatória do Registo Predial.

Quid juris?A e B celebraram um contrato-promessa de compra e venda ao abrigo do Artigo

410º nº3, o qual respeita a celebração de contratos-promessas cujo objecto da promessa seja a celebração de contratos onerosos de transmissão de direitos reais sobre fracção autónoma de edifício.

Além de respeitarem estes requisitos formais, as partes celebraram o contrato por escritura pública, contendo uma cláusula expressa em que as partes atribuem eficácia real à promessa de venda e tendo B, promitente comprador, efectuado o registo na Conservatória do Registo Predial.

Se esta cláusula não constasse no contrato e se o registo não tivesse sido efectuado, o contrato teria menos efeitos obrigacionais. Com eficácia real atribuída pelas partes, nos termos do Artigo 413º, o contrato fica munido de inerência, podendo acompanhar a coisa na titularidade de qualquer transmissário. Esta eficácia externa da promessa faz com que todos os actos realizados em sua violação sejam ineficazes o beneficiário da promessa fica titular de um direito que lhe permite exigir do promitente vendedor a realização do contrato definitivo, logo a alienação do imóvel em causa não impede a execução específica do contrato-promessa, segundo o Artigo 830º do Código Civil.

Neste caso de venda da fracção a C, tem legitimidade processual passiva o promitente faltoso A com vista à execução específica do contrato e C se obteve a posse da coisa. Serão os dois demandados na mesma acção contra o promitente faltoso. O promitente fiel exige a celebração do contrato definitivo e contra o terceiro o promitente fiel exige a restituição da coisa, com base num direito de reivindicação, nos termos do Artigo 1311º do Código Civil.

O registo do contrato-promessa com eficácia real impede que o terceiro compre de boa-fé, dado que ao querer registar a sua propriedade, apercebe-se da existência do contrato-promessa com eficácia real. Mas, nada o impede de registar a sua propriedade, contudo será provisório até que o promitente fiel se decida a recorrer à execução específica ou então que resolva o contrato. Se resolver o contrato, C torna-se definitivamente proprietário da coisa.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 19

Caso Prático Nº 12

A vende o seu imóvel, por escritura pública em Janeiro de 1999 a B que não regista a aquisição e A, aproveitando a negligência de B ,promete vender o mesmo bem a C em Julho de 1999.

Quid juris?1º Janeiro - compra e venda a B.

houve transferência de propriedade, mesmo sem registo, logo o segundo contrato é nulo.

2º Julho

Contrato-promessa Execução Específica Sentença favorável

C +registo da acção

compra e venda

Só A é que está de má-fé, porque C não sabe que a coisa já foi vendida, uma vez que não houve registo da primeira compra.

Artigo 408º - na altura da celebração transfere-se a propriedade da coisa, logo B é proprietário da coisa.

No segundo caso C regista o bem, sendo esse registo oponível a terceiro.Artigo 291º do Código Civil.Se formos pela ideia de registo, mesmo sendo consolidativo, o registo é oponível

a terceiro. Neste caso C pode opôr o registo a B, porque prevalece o primeiro registo sobre todos os outros. B não tem direito para opôr porque não registou. Temos aqui dois terceiros de boa-fé.

C contra A - regime da responsabilidade contratual. Se existisse sinal - Artigo 442º.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 20

Caso Prático Nº 13

A celebra com B, no dia 30 de Julho de 1997, contrato-promessa de compra e venda de um terreno de que é proprietário perto de Beja, por 8.000 contos. A escritura pública ficou marcada para dia 30 de Outubro de 1997.

A não comparece no notário e B regista imediatamente uma acção de execução específica. entretanto A vende a C o terreno de Beja.

Quid juris?Se a sentença for favorável retroage à data do registo, ou seja, considera-se que à

data do registo B torna-se proprietário da coisa e se fosse o direito de C a prevalecer, o promitente vendedor vendia a outro promitente comprador para afastar a execução específica.

A data do registo considera que houve transferência da coisa de A para C.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 21

Caso Prático Nº 15A promete vender a B e B promete comprar a A um

terreno que A era proprietário. Na data da celebração do contrato-promessa B entregou a A 2 milhões de escudos por conta do preço convencionado, o qual ascendia a 10 milhões de escudos. Ficou acordado que o contrato definitivo deveria ter lugar decorridos 120 dias da data do contrato-promessa, tendo decorrido esse prazo sem que o contrato definitivo tivesse sido celebrado, pretende B saber que direitos lhe assistem.

Há prestações recíprocas, o objecto era um terreno. Contrato-promessa de compra e venda é necessário documento particular assinado por ambos (Artigo 410º nº2), porque para o contrato definitivo é necessário contrato especial.

Foi entregue uma quantia que se presume que tem carácter de sinal (Artigo 441º), podendo as partes ilidir essa presunção.

- Se A não cumpriu o contrato, B pode, ou porque perdeu o interesse na celebração ou porque a prestação já não é possível, pode pedir o dobro do sinal.

Em vez de resolver o contrato, B poderá recorrer à execução específica, mas terá então que ilidir a presunção do Artigo 441º ou a presunção do Artigo 830º nº2 (sinal penitencial e sinal confirmatório).

não afasta a execução específica.em vez de resolver o contrato ou recorrer à execução específica, sendo o

incumprimento imputado a A, B teria a possibilidade de recorrer ao regime da mora, previsto nos Artigos 804º e seguintes.

Para o efeito terá que interpelar o A, pois não existia aqui nenhum prazo certo para o incumprimento, é fixado então pelo promitente comprador um novo prazo para o cumprimento. Se ele não cumprir neste prazo voltamos ao regime especial do Artigo 442º ou do Artigo 830º. O facto dele não ter cumprido após a mora, não impede que ele recorra à execução específica.

durante o novo prazo, se houver prejuízos de B, A terá que indemnizar, nos termos do Artigo 806º. Se estiver em causa uma prestação pecuniária, segundo os Artigos 562º e seguintes, se não estiver em causa uma prestação pecuniária.Sub-hipótese:

Promitente comprador em incumprimento. Quais os seus direitos?Não pode recorrer à excepção de cumprimento porque só o vendedor pode fazê-lo

quando lhe foi exigido o valor actualizado da coisa. Nunca para o promitente comprador. O B se for ele o faltoso ou pede o sinal.

O que pode resolver tacitamente o contrato é o promitente fiel. Pode recorrer à execução específica se a sentença for favorável.

Pode o promitente fiel não resolver o contrato nem recorrer à execução específica e aqui o promitente comprador pode recorrer em mora. Juros de mora - Artigo 806º (deve pagá-los ao promitente fiel).

Tem três possibilidades: 1) ou perde o sinal; 2) ou é obrigado a pagar o preço da coisa se o promitente fiel recorrer à execução específica; 3) ou o promitente fiel não resolve o contrato nem recorre à execução específica e o promitente comprador incorre em mora. Se não cumprir e voltarmos ao regime do contrato-promessa.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 22

Caso Prático Nº16

A proprietário de um imóvel composto por duas fracções autónomas, convencionou com B, em 1 de Dezembro de 1996, vender-lhe pela quantia de 2 milhões de escudos, ficando acordado que a respectiva escritura se realizaria no prazo de 6 meses, período que se estimava deverem durar as obras de reparação que A entretanto havia iniciado. Como princípio de pagamento, B entregou imediatamente a A a quantia de 1 milhão de escudos.

Em Dezembro de 1997, como A se recusa sistematicamente a outorgar a escritura de compra e venda, B intenta a competente acção de execução específica. A pretende a modificação do contrato que celebrou com B, visto as obras se terem prolongado por mais tempo do que inicialmente julgara necessário e com isso ter sofrido elevados prejuízos com o agravamento súbito das taxas de juro aplicáveis ao empréstimo que contraíra em Outubro de 1996 para fazer face às despesas com a reparação do prédio.

D, arrendatário de uma das fracções do referido prédio, alega ter direito a comprar a mesma por um preço não superior a 1 milhão de escudos.

1- Qual a validade do contrato-promessa?A distinção entre união de contratos e contrato com dois objectos é relevante por

causa da existência de um preferente.Diferença entre união de contratos e contrato-promessa com dois objectos:

faz-se através dos termos. Na nossa hipótese um termo relevante é o facto de só existir um preço de 2.000 contos, podendo cada fracção valer 1.000 contos, não havendo, portanto, dependência (união externa).

Quanto à forma aplica-se sempre o Artigo 410º nº3, tanto sendo uma união de contratos, como contrato-promessa com dois objectos.

2- Pode B recorrer à execução específica?O tribunal não se pode substituir ao promitente vendedor, uma vez que há um

preferente (logo B não pode recorrer à execução específica). a sentença não será favorável a B se D preferir.

Como estamos no âmbito do Artigo 410º nº3 e segundo o Artigo 830º nº3, o promitente fiel pode sempre recorrer à execução específica, mesmo existindo sinal.

Contudo, esta possibilidade só será procedente se o preferente não quiser exercer o seu direito. Caso exerça o seu direito sobre uma das fracções, existindo entre A e B uma união de contratos, B poderá recorrer à execução específica para celebrar o contrato de compra e venda sobre a fracção livre de encargos. Caso não exista união de contratos, mas sim um contrato com dois objectos, se D preferir, B deixa de poder

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recorrer à execução específica sobre a outra fracção. Poderá é existir entre A e B um novo contrato que diga somente respeito à segunda fracção.

Nos casos em que B pode recorrer-se do Artigo 830º é necessário que tenha havido anteriormente incumprimento por parte do promitente vendedor.

Existia aqui um prazo de 6 meses para outorgar a escritura (não é prazo certo), por conseguinte, as partes só entram em mora (Artigo 805º) se depois de interpeladas judicialmente ou extra-judicialmente não cumprirem. Nos termos da hipótese, A recusa-se sistematicamente a outorgar a escritura e este elemento poderá indicar que houve interpelação e não cumprimento.

Se fosse um só contrato e o preferente preferisse ele deixava de poder recorrer à execução específica.

3- Pode B exigir alguma quantia a título de indemnização em vez de recorrer à execução específica?

Se existir no contrato-promessa com dois objectos uma condição suspensiva, em que o promitente vendedor só celebra o contrato se o preferente preferir, o promitente comprador não tem direito a indemnização, porque não há incumprimento do vendedor.

Se estivermos perante uma união de contratos, se o preferente não preferir e o A outorgar a escritura, pode exigir o dobro do sinal.

4- Tem fundamento a pretensão de A?Artigo 437º - como há risco não há lugar à alteração das circunstâncias. Existindo

mora, já não se pode modificar ou resolver o contrato.Artigo 830º nº3 - mesmo existindo mora pode-se recorrer à alteração das

circunstâncias, no âmbito do contrato-promessa. Contudo, aqui não há alteração das circunstâncias, porque há risco e os requisitos da alteração não estão preenchidos, o que há é um risco inerente no contrato de empréstimo.

5- Será procedente a alegação de D?Há preferência legal com base no Artigo 49º do Regime do Arrendamento

Urbano. Resta saber se pode preferir sobre os 1.000 contos, ou se é proporcional, conforme as áreas de cada fracção.

Para ele preferir é necessário estabelecer este preço. Se preferir sobre uma fracção sobre o preço de 1.000 contos ou por um preço superior ou inferior, consoante a área de cada uma das fracções.

Artigo 437º - é obrigado a preferir sobre as duas fracções sobre o preço de 1.000 contos e não sobre uma só. Aqui ou prova o vendedor que lhe causa prejuízos se vender em separado. Se não provar o inquilino pode exercer o seu direito de preferência sobre a fracção onde habita.

A acção de preferência tem o objectivo de fazer valer um direito sobre terceiros.Só há acção de preferência quando o seu direito de preferência foi violado pela

venda a terceiro.

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Caso Prático Nº17

A escreveu a B em 1978 “vendo-lhe a minha casa de campo por 2.500 contos em conjunto com os patins e o cão. O pagamento será feito do seguinte modo: 1.000 contos já e o resto aquando da escritura que terá lugar assim que um de nós a marcar. As chaves estão no caseiro”. B responde também por carta e na volta do correio “aceito junto remeto um cheque de 1.000 contos”.

Passado um mês, B instala-se na casa de campo com a família e todas as noites dá de patins um passeio com o cão.

Em 1977, A com problemas financeiros hipotecara a casa de campo a favor do Banco Sucuidade, como garantia de um empréstimo, neste contraído, de 1.500 contos.

Em 1983 B escreve a A “vamos celebrar a escritura na próxima sexta, está tudo preparado e os 1.500 contos estão à sua disposição”. A porém não compareceu no notário.

Em 1987, A escreve a B “estou arrependido já não quero vender nem a casa, nem os patins, nem o cão. Junto remeto um cheque de 2.000 contos mande-me já o cão e os patins e para a semana as chaves da casa”. B apura que Abel projecta vender a casa a C por 25.000 contos.

Quid juris?Temos um contrato entre A e B que se supõe ser contrato-promessa de compra e

venda com vários objectos (casa, cão e patins). Em vez de qualificarmos este contrato num único contrato, poderia ser união de contratos (um contrato acerca da casa e outro sobre os patins e o cão). Surge o problema do preço global.

A segunda qualificação (união de contratos) é mais vantajosa para B, porque não será obrigado a restituir o cão e os patins. Podemos considerar que o preço de 2.500 contos inclui o cão e os patins.

Quanto à promessa há uma quantia entregue com valor de sinal (Artigo 441º). Houve tradição da coisa.

Quanto à forma, para o contrato definitivo é necessário escritura pública, assim para o contrato-promessa também é necessário escritura (Artigo 410º nº3).

Em 1997, o Artigo 410º nº3 ainda não existia e assim aplicar-se-ia a forma do Artigo 410º nº2. O nosso contrato é válido quanto à forma.

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Caso Prático Nº18A prometeu vender a B ou a quem este indicasse, um

automóvel de competição quando o veículo chegasse a Lisboa. B obrigou-se a comprar o dito automóvel ou a indicar quem o fizesse dentro desse prazo pelo preço de 20.000 contos.

B, dias antes da chegada do navio que transportava o automóvel, comunicou por escrito a A que o veículo seria adquirido por C, a qual ratificou o contrato-promessa e enviou ao promitente vendedor um cheque no valor de 250.000 contos.

No dia 5 de Janeiro de 2000, o automóvel foi descarregado e desalfandegado pelo importador que em seguida o guardou num dos armazéns de C.

Entretanto, A vem a saber que o referido automóvel valia mais de 40.000 contos, razão pela qual se recusa a vendê-lo a C.

1- Classifique o contrato da hipótese.2- Supondo que C é sua cliente, o que é que a

aconselha a fazer?Estamos perante um contrato-promessa de compra e venda com cláusula para

pessoa a nomear - Artigo 410º e seguintes e Artigo 452º. A nomeação foi feita, C foi eleita - Artigo 453º. A forma para a eleição é por escrito - Artigo 453º.

O amicus electus tem de ratificar - Artigo 454º. A partir desta altura torna-se parte no contrato desde o início, porque a ratificação tem efeitos retroactivos. O prazo para a nomeação e ratificação foi respeitado. A nomeação tinha de ser feita quando o automóvel chegasse ou antes de chegar a Lisboa (o que foi feito). Se não existisse prazo, o prazo legal era de cinco dias.

Na altura em que ratificou, C entregou uma quantia que tem carácter de sinal (Artigo 441º) e houve tradição da coisa, porque o automóvel foi para um armazém de C.

A ao recusar celebrar o contrato definitivo entra em incumprimento porque se recusa celebrar. Quando uma das partes comunica à outra que o contrato não vai ser cumprido, não é preciso esperar pelo prazo convencionado para haver incumprimento. É necessário que haja uma comunicação anterior de que não vai haver cumprimento. Os direitos que o promitente fiel tem são ou resolve o contrato (resolução tácita), ou não se resolve e recorre à execução específica, mas tem de afastar a presunção do Artigo 830º nº2.

Se resolver poderá exigir o dobro do sinal ou então já que houve tradição da coisa, poderá exigir o valor actualizado da coisa (40 mil - 20 mil + o sinal = 22.500). enquanto não for entregue esta quantia tem direito de retenção segundo o Artigo 755º f).

Permitirá o direito de retenção no futuro executar o bem se não for pago e pagar-se pelo preço da venda. Contudo, o promitente faltoso pode recorrer à excepção de cumprimento, a menos que o promitente fiel prove a perda de interesse ou então que

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tenha antes da resolução estipulado um novo prazo para o cumprimento (o que não é aconselhável). C pode pedir ou a execução específica ou o valor actualizado da coisa.

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Caso Prático Nº 19A, pretendendo construir um edifício de dez andares

num terreno propriedade de Bento, entabulou negociações com este tendo em vista a sua aquisição.

Posteriormente, A e B celebraram um contrato-promessa de compra e venda, nos termos do qual o primeiro se obrigava a comprar e o segundo a vender o terreno em causa, por 50.000 contos. Logo após a celebração do contrato, A entregou a B 10.000 contos. Ficou ainda acordado que a escritura pública de compra e venda se realizaria no prazo máximo de 180 dias, a contar da data da celebração do compra e venda e que os restantes 40.000 contos seriam pagos pela entrega de quatro apartamentos do prédio a construir aos quatro filhos de B, no prazo limite de três anos a contar da data de conclusão do contrato-promessa.

A, autorizado por B, iniciou logo os trabalhos de terraplanagem no local e requereu, na Câmara Municipal, a passagem da licença de construção.

Na data marcada para a realização da escritura pública, A não compareceu no Notário e assim se passaram os 180 dias sem que aquele se realizasse, por culpa do promitente comprador.

Posteriormente, a Câmara Municipal indeferiu o requerimento de A, porque tinha sido recentemente deliberado não permitir a construção de edifícios com mais de sete andares naquela zona.

Responda às seguintes questões:a) Que forma deverá ter revestido este contrato-

promessa?É um contrato-promessa de compra e venda de um terreno (e não de um edifício a

construir) a favor de terceiro.Em princípio as partes podem celebrar o contrato, nos termos do Artigo 410º nº1

e Artigo 219º (liberdade de forma). Contudo, para o contrato definitivo que é a compra e venda de um terreno/imóvel a lei exige uma forma que está prevista no Artigo 875º (escritura pública). portanto, para o contrato-promessa ser válido quanto à forma, este deve seguir os preceitos do Artigo 410º nº2. Não se aplica o nº3 porque não está em causa a compra de um edifício a construir.

O contrato-promessa deverá ser celebrado por escrito e assinado pelo promitente vendedor e pelo promitente comprador, já que ambos se vincularam um a comprar e o outro a vender. O contrato é bilateral.

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Na altura da celebração do contrato foi entregue uma quantia de 10.000 contos que tem valor de sinal, de acordo com o Artigo 441º e foi inserido neste contrato uma cláusula a favor de terceiro, segundo o Artigo 443º.

Os terceiros são os filhos do vendedor e vão beneficiar do pagamento do terreno em géneros (andares).

No contrato está previsto um prazo certo para a celebração do contrato definitivo e a tradição da coisa.

b) Invocando o indeferimento do seu pedido, A recusa-se a celebrar a escritura de compra e venda e exige a devolução dos 10.000 contos pagos. Quid Juris?

Estamos perante um risco inerente ao contrato e não há alteração das circunstâncias, logo o argumento do promitente comprador não é válido.

Se houvesse alteração anormal das circunstâncias? Se provar que na altura do contrato-promessa era possível construir

edifícios de 10 andares e só depois é que a Câmara Municipal alterou para sete andares. Mas há quem diga que um acto administrativo não pode levar à alteração das circunstâncias.

Mesmo que houvesse alteração, não podia haver resolução do contrato, mas sim modificação, porque se trata de um contrato-promessa, segundo o Artigo 830º.

Considera-se que é um risco inerente ao contrato, sendo este um requisito negativo à alteração das circunstâncias e o requerimento do promitente faltoso é improcedente.

Ou então se a construção dos dez andares era essencial para o promitente comprador e o promitente vendedor tinha conhecimento, então poderá haver alteração anormal das circunstâncias e o promitente comprador poderá invocar o Artigo 437º e o Artigo 830º, mesmo depois de ter entrado em mora. Invocando a alteração, só poderá requerer a modificação do contrato e não a resolução.

Todavia, há quem considere que os actos administrativos e os actos legais modificativos, constitutivos não dão lugar a uma alteração anormal das circunstâncias, é um risco que todos nós corremos que a política mude, etc.

De qualquer modo, o promitente comprador nunca pode exigir a devolução dos 10.000 contos, porque não há resolução, o que há é uma modificação, mesmo que haja alteração das circunstâncias (pois estamos no âmbito do contrato-promessa que só pode ser modificado e não resolvido).

c) Tendo já passado o prazo de três anos estabelecido no contrato-promessa para a entrega dos apartamentos, os filhos de B, terceiros em relação ao contrato-promessa, exigem de A o cumprimento das prestações a que se obrigara. Quid Juris?

Aqui os filhos são os terceiros beneficiários (não é necessário que haja aceitação por parte dos terceiros).

Artigos 443º e seguintes - definir o que é um contrato a favor de terceiro. Em princípio, os terceiros adquirem o direito na altura da celebração do contrato a favor de terceiro.

Nesta hipótese, os terceiros adquirem o seu direito (equivale ao preço do terreno) no momento da celebração do contrato definitivo. Por conseguinte, antes da celebração

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do contrato definitivo não podem exigir a entrega dos prédios ao promitente comprador e nem podem exigir a celebração do contrato definitivo. O direito dos terceiros está previsto no contrato-promessa, mas só nasce no contrato definitivo.

d) B, promitente vendedor, em face do incumprimento da contraparte, vem exigir-lhe uma indemnização de 25.000 contos, com base no Artigo 442º nº2, 2ª parte, invocando que o terreno se valorizou e, hoje, já vale 65.000 contos Quid Juris?

Promitente vendedor - promitente fiel.Só o promitente comprador fiel é que pode pedir o valor actualizado da coisa e

não o promitente vendedor fiel.O Artigo 442º nº2 existia para evitar as situações em que o promitente vendedor

recebia o sinal e depois vender a outro por um preço mais elevado. Este artigo existe para proteger o promitente comprador.

e) Pode B requerer a execução específica do contrato?Um promitente vendedor pode requerer? Há sinal e afasta ou não a execução específica? Estamos no âmbito do Artigo 830º nº3?

Artigo 830º - qualquer promitente pode requerer a execução específica. Como houve sinal, segundo o Artigo 442º nº2, afasta a execução específica.

Não estamos perante o Artigo 830º, uma vez que não estamos no âmbito do Artigo 410º nº3. Tem que se provar que as partes ao preverem o sinal não quiseram afastar a execução específica.

se não conseguir provar e recorrer à execução específica, como não tem direito ao valor actualizado da coisa, logo fica com o sinal, segundo o Artigo 442º, 1ª parte.

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Caso Prático Nº 20A, amigo de B, ausente em parte incerta, resolveu

proceder à reparação do telhado de uma casa pertencente ao segundo, para o que publicou num jornal da localidade um anúncio em que se declarava pagar pelo conserto 500 contos, em duas prestações iguais, devendo a primeira ser paga logo após a conclusão da obra e a segunda seis meses depois.

C, que respondeu a esse anúncio declarando aceitar as condições nele estabelecidas, efectuou a obra e recebeu a primeira prestação.

B regressou seis meses mais tarde e tendo verificado que a reparação apresentava graves deficiências, recusou-se a efectivar a segunda prestação já vencida e intentou uma acção contra A a exigir-lhe uma indemnização por considerar que este actuara ilicitamente não estando autorizado a tomar qualquer iniciativa como a que tomou. A defendeu-se alegando que agira para evitar um prejuízo a B e que, embora tivesse informações de que C não era competente, se vira forçado a aceitá-lo, porque, com a resposta dele ao anúncio, se fechara o contrato.

Por outro lado C, alegando que nada tem a ver com as relações entre A e B, pretende que um ou outro pague os 250 contos que lhe considera devidos.

Aprecie as pretensões de A, B e C.Estamos perante uma gestão de negócios, uma vez que estão preenchidos todos os

requisitos, desde que haja necessidade de reparação do telhado no interesse do dono, assumiu a direcção de um negócio alheio sem autorização do dono, nos termos do Artigo 464º do Código Civil.

Foi feito um negócio jurídico unilateral, segundo o Artigo 459º (promessa pública). nesta altura ainda não sabemos se é uma gestão representativa ou não representativa.

O facto de ter sido ele a publicar, pode ser gestão representativa ou gestão não representativa.

Artigo 471º remete para o Artigo 1180º, o negócio é válido entre o gestor e o terceiro. E o gestor terá que transferir os efeitos do negócio para a esfera jurídica do dono e este aceitar ou não.

O dono, não tendo aceite, fica o gestor vinculado ao pagamento das duas prestações. Após pagamento destas duas prestações, o gestor terá direito ao reembolso das despesas, segundo o Artigo 468º se a gestão for regular e aprovada, ou se a gestão for irregular e aprovada, ou se a gestão for regular e não aprovada, nesta última situação o gestor terá que aprovar a regularidade.

Uma vez que há promessa pública ele é obrigado a contratar.

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Há aqui uma irregularidade ou um facto ilícito, porque houve aqui uma negligência por parte do gestor da maneira como foi feito este anúncio, porque é contra o interesse do dono do negócio, uma vez que era obrigado a contratar qualquer um.

O dono do negócio não tendo aprovado a gestão de negócios, o gestor só terá direito ao reembolso das despesas através do enriquecimento sem causa (Artigo 473º).

C tem direito aos 500 contos.Há um empobrecimento por parte do gestor que pagou 500 contos, mas não há

enriquecimento, porque a reparação apresenta graves deficiências. Resta saber se tem de haver um novo arranjo ou pequenos arranjos (nas coisas bem feitas há enriquecimento). Se se considerar que não há enriquecimento o gestor tem que assumir todas as despesas que acarreta com o seu erro (anúncio mal feito).

Indemnização O dono do negócio tem direito a uma indemnização que vai ser calculada nos

termos do Artigo 566º do Código Civil.Se a gestão for culposa, se não existia perigo de ruir, o dono do negócio tem

direito a uma indemnização pela existência da gestão (danos morais).Se a gestão for irregular / se o gestor não agiu em conformidade com o interesse

do dono, já que contratou com um indivíduo incompetente, o dono tem direito a uma indemnização pelos prejuízos que sofreu com a reparação dos danos.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 32

Caso Prático Nº 21E, comerciante de Chaves, comprou a F, grossista no

Porto, 500 Kg de bananas pelo preço de 75 mil escudos, para depois vender a 180$00 Kg.

Durante o trajecto o camião que transportava a mercadoria despistou-se e embateu numa árvore.

Em razão do acidente 1/5 das bananas ficou destruído e os restantes 4/5 espalhados pela estrada (400 Kg).

G, retalhista da pequena localidade onde ocorreu o acidente e velho amigo de E recolheu-as e pô-las à venda na sua mercearia pelo preço de 170$00 Kg.

Nos dias que se seguiram ao acidente, G vendeu 360 Kg das bananas recolhidas, mas vendo que as remanescentes estavam prestes a apodrecer, G, a sua família e alguns amigos consumiram os restantes 40 Kg, quando em condições normais só teria consumido 10 Kg.

Quid Juris?G ao recolher as bananas espalhadas pela estrada e ao pô-las à venda na sua

mercearia, tomou a direcção de um negócio alheio sem habilitação jurídica. Actua no interesse e por conta de E (dono do negócio), pois este último quererá seguramente que as bananas sejam apanhadas e vendidas tal como era a sua intenção.

Os três requisitos do Artigo 464º estão preenchidos, há uma gestão de negócios, a gestão é não representativa (o gestor age por conta do dono, mas actua em nome próprio ao vender na sua mercearia). Não comunicou aos seus fregueses que o proprietário era E.

É também uma gestão mista, pois o gestor pratica actos jurídicos (venda das bana_ nas) e actos materiais (recolha de bananas) no intuito de evitar um prejuízo para o dono.

A gestão será regular se o gestor respeitar as obrigações do Artigo 465º.Artigo 469º - o dono do negócio tem de reembolsar o gestor de todas as despesas

que tenha feito e remunerar o gestor.A gestão correspondia à sua actividade profissional, G era merceeiro e, como tal,

vendeu a fruta ao dono, segundo o Artigo 470º nº1.Será que G tem de restituir a E 61.200 escudos que correspondem à venda de 360

Kg de bananas ao preço de 170$00 Kg?Sendo a gestão não representativa, poderíamos aplicar as regras do mandato sem

representação (Artigo 471º) e sendo assim o gestor teria obrigação de transmitir os direitos dos negócios celebrados ao dono (entregar 61.200 escudos). Não será necessário aplicar o Artigo 471ºº, pois os efeitos dos contratos de compra e venda (Artigo 879º) já foram produzidos, por conseguinte, o gestor, com base no Artigo 465º e), tem que entregar essa quantia, senão a gestão tornar-se-ia irregular.

Já que é regular, mesmo não sendo aprovada, resta ao gestor provar a sua regularidade para ter direito ao reembolso.

O enriquecimento do merceeiro é de 10 Kg, porque era o que ele habitualmente consumia. Os restantes 30 Kg que ele consumiu já é um sacrifício (ele consumiu esses 30 Kg de bananas para que estas não se estragassem).

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 33

Se não conseguisse vender 40 Kg por estarem as bananas a apodrecer, mesmo que ele consuma não há aqui enriquecimento, nem empobrecimento.

Se as bananas não estivessem prestes a apodrecer já haveria enriquecimento total, porque em condições normais eles apenas consumiriam 10 Kg e não os 40 Kg que consumiram.

Quanto ao facto de G ter consumido 40 Kg prestes a apodrecer, quando em condições normais só teria consumido 10 Kg, este facto parece justificar as regras do regime do enriquecimento sem causa.

Para haver enriquecimento sem causa têm que estar preenchidos quatro requisitos:1º Enriquecimento - vantagem patrimonial em sentido lato;2º Empobrecimento - desvantagem patrimonial (situação

sinalagmática em relação ao enriquecimento / contrária ao enriquecimento);

3º Falta de causa (falta de cobertura jurídica que justifique a deslocação patrimonial;

4º Nexo causal (a razão do enriquecimento tem que ser a do empobrecimento e vice versa).

Nesta hipótese o enriquecimento é de 10 Kg de bananas, pois o G em condições normais só teria comprado e consumido 10 Kg de bananas. Consumiu 40 Kg e sacrificou-se para evitar que as bananas apodrecessem.

Quanto ao empobrecimento, este seria de 40 Kg se fosse possível vender esses 40 Kg prestes a apodrecer e será de 10 Kg se perante aqueles 40 Kg nas condições em que se encontravam as bananas, qualquer um só teria comprado ou consumido 10 Kg.

Existindo um nexo causal entre o enriquecimento e o empobrecimento G terá que restituir o enriquecimento concreto e objectivo até ao limite do empobrecimento concreto e objectivo, conforme o Artigo 479º. Tanto o empobrecimento e o enriquecimento concreto são a repercussão que teve a deslocação patrimonial.

Resta agora calcular o enriquecimento, serão 10 Kg multiplicados pelo preço pelo qual G teria aceite comprar as bananas, será ou 150$00 que é o preço de custo, ou 170$00, não parece ser razoável ser por 180$00 por duas razões: pelo estado das próprias bananas e pelo facto de ele ter vendido os 370 Kg de bananas a 150$00 e não a 180$00 (75.000:500Kg).Enriquecimento 10 Kg x 170$00

10 Kg x 150$00 (Aqui há sempre um empobrecimento de 30 Kg)

Empobrecimento

40 Kg x 170$00 = Empobrecimento concreto

40 Kg x 150$00 = Empobrecimento abstracto (é inferior)

10 Kg x 170$0010 Kg x 150$00

Caso Prático Nº 22Joaquim deixou em testamento a Luís os 20 volumes da

enciclopédia luso-brasileira e a Manuel os 5 volumes da enciclopédia Polis.

Por engano do testamenteiro foram entregues a Manuela os primeiros 5 volumes da enciclopédia luso-brasileira, tendo Luís recebido os restantes dessa

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 34

enciclopédia. Cada volume da enciclopédia luso-brasileira vale 2.500$00 e a colecção completa ascende a 70.000$00.

Manuel vendeu os volumes que lhe foram entregues por engano a 15.000$00.

Desfeito o engano, que direitos assistem a Luís?Estão preenchidos todos os requisitos:

12.500$00 - enriqueci abstracto (também poderá ser concreto).15.000 - enriquecimento concreto.

A diferença entre os 12.500$00 e os 15.000$00 pode estar no mérito de quem vendeu. Assim, estes 2.500$00 podem equivaler a mérito próprio, logo os 12.500$00 pode ser um enriquecimento concreto. Se não for por mérito próprio, os 12.500$00 são enriquecimento abstracto e os 15.000$00 concreto.

Empobrecimento:15 volumes x 2.500$00 = 37.500$00

A colecção valia 70.000$00 quando completa. 70.000$00 - 37.500$00 = 32.500$00

empobrecimento concreto. 5 volumes x 2.500$00 = 12.500$00 - empobrecimento abstracto.

O enriquecido vai restituir todo o enriquecimento concreto e objectivo até ao limite do empobrecimento concreto (32.500$00). Assim, restitui ou 12.500$00 ou 15.000$00.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 35

Caso Prático Nº 23A sem autorização utilizou a moto de B para participar

numa prova de motocross. Nessa prova A ganhou um prémio de 500 contos, recebeu uma taça no valor de 10.000$00 e causou danos na moto estimados no valor de 100 contos.

Que direitos assistem a B?

Prémio 500.000$00 Enriquecimento 510.000$00 - mérito próprioTaça 10.000$00

Danos 100.000$00 Indemnização

Utilização da moto - facto ilícito que resulta um dano de 100 contos, havendo um nexo causal entre o facto e o dano. O facto ilícito é imputado a A, nos termos do Artigo 483º do Código Civil.

O enriquecimento sem causa é uma figura subsidiária - Artigo 474º.O empobrecimento abstracto e o enriquecimento é de 100 contos, sendo valores

iguais aplica-se o regime da responsabilidade civil, segundo o Artigo 483º.O prémio e a taça são um enriquecimento que advém através do desvio dos

direitos que o proprietário tinha sobre o bem. Para resolver este problema aplica-se o regime do enriquecimento.

Há um enriquecimento que é o prémio, há empobrecimento que é o desvio dos direitos, há um nexo causal e há falta de causa, porque não houve autorização para utilizar a mota. Os requisitos estão todos preenchidos.

Enriquecimento 510.000$00 - mérito próprio (o que o profissional ganha pela profissão, por exemplo).

Empobrecimento o que teria ganho se tivesse participado / ou o que ele ganha quando aluga a mota.

A restituição é o enriquecimento 510.000$00 - X até ao limite do empobrecimento que é Y.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 36

Caso Prático Nº 24B montou numa corrida o cavalo Sultão pertencente a C

que estava ausente e veio a ganhar um prémio de 2.000 contos. Desse dinheiro B fez um donativo de 500.000$00 à Associação dos Amigos do Cavalo Lusitano e perdeu 500.000$00 na Bolsa onde aproveitou para jogar pela primeira vez. Só C montava o cavalo, embora excepcionalmente o alugasse a B a 5.000$00 ao dia.

Quid Juris?Há ilícitude e imputabilidade, mas falta o dano, por isso não podemos aplicar o

Artigo 483º do Código Civil.Há enriquecimento sem causa (2.000 contos e por mérito próprio).Há empobrecimento porque o proprietário deixou de ganhar 15.000 escudos

(5.000 escudos por dia era o valor do aluguer). Tem que se restituir até ao limite de 5.000 multiplicado por X dias.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 37

Caso Prático Nº 25Abel, na ausência de Bento, introduz-se no seu

automóvel de desporto avaliado em 4.500 contos E utiliza-o para celebrar um negócio imobiliário com o qual ganha 2.500 contos.

De seguida inscreve-se com ele num campeonato nacional. Para o efeito efectua nele melhoramentos no valor total de 500 contos. Vence a prova, mas no seu decurso provoca no automóvel um desgaste anormal e uma série de danos, reduzindo-o a metade do seu valor.

Bento, reconhecendo o automóvel num programa televisivo, intimida Abel a restitui-lo imediatamente.

Abel quando conduzia apressadamente para a casa de Bento despista-se, invade o jardim de Carlos, deixa fundos trilhos no relvado, decapita as rosas amarelas e assusta o cão, o qual horrorizado morde Damião com energia, destruindo um par de calças que de 5.000$00 passaram a valer 150$00.

1- Bento exige um automóvel novo a título de indemnização e 2.500 contos mais a taça ganha por Abel a título de restituição do enriquecimento.

Existem dois problemas: o primeiro é o problema de indemnização por factos ilícitos e outro de enriquecimento sem causa.

Os 2.500 contos foram ganhos num negócio imobiliário e este enriquecimento não corresponde à utilização do automóvel não há nexo de causalidade não foi por ele ter utilizado o automóvel que ganhou 2.500 contos.

A taça é mérito próprio.O utilizador não enriqueceu, por isso não há restituição.Enriquecimento sem causa não há com base nos dados da hipótese, falta o nexo

causal. Não há que restituir a taça, pois esta é mérito próprio.Há responsabilidade por factos ilícitos com base no Artigo 483º:

Há um facto (utilização do automóvel); Ilícito (sem autorização); Há imputação porque Abel tem plena consciência; Há um dano; Há um nexo causal entre facto e dano.

Estando os requisitos preenchidos, o proprietário tem direito a uma indemnização. Não pode exigir um automóvel novo, porque o dano não orça em 4.500 contos. O dano é de 2.250 ou 2.500 contos, porque 2.250 é se o automóvel se desvalorizou em metade; 2.500 porque é metade de 5.000 que é o valor dos melhoramentos do automóvel.

O problema das benfeitorias resolve-se separadamente.O cálculo correcto é a desvalorização de 2.250 (metade do seu valor que é de

4.500).2.250 se o lesante ao pôr o automóvel numa garagem para arranjar, se for possível

que este volte a ter as características anteriores, aplica-se a indemnização reconstitutiva.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 38

Se não for possível, aplica-se o Artigo 566º e recorre-se à indemnização compensatória, ou seja, uma indemnização pecuniária de 2.250 contos.

2- Abel quer ser remunerado pelo trabalho que teve e pretende ser reembolsado dos 500 contos.

Quanto à remuneração não tem direito a esta pelos trabalhos efectuados, porque ele não actuou como gestor de negócios, mas sim em proveito próprio.

500 contos - aqui estão em causa benfeitorias que podem ser aquelas previstas no Artigo 216º (necessárias, úteis ou voluptuárias).

Benfeitorias são despesas para conservar ou melhorar um bem, são alterações físicas das coisas e estas alterações / despesas são necessárias quando evitam o deterioramento da coisa, são úteis quando aumentam o valor da coisa, quando trazem vantagens à coisa e são voluptuárias quando não trazem vantagens à coisa.

No caso concreto, as benfeitorias não eram necessárias, porque o carro não estava a deteriorar-se (não havia risco de deterioração ou desvalorização). Poderão ser benfeitorias úteis ou voluptuárias.

Em todo o caso, o benfeitor não pode retirar as benfeitorias, porque estava de má-fé, é um possuidor de má-fé. Se fosse possuidor de boa-fé a benfeitoria voluptuária poderia ser retirada / levantada, a menos que o levantamento deteriorasse a coisa, segundo o Artigo 1275º.

Se o possuidor estivesse de boa-fé e a benfeitoria fosse útil, esta também poderia ser levantada a menos que o levantamento deteriorasse a coisa e nesse caso o benfeitor teria a haver o valor da coisa, seriam os 500 contos, segundo o Artigo 1271º e enquanto não recebesse os 500 contos, poderia reter a coisa com base nos Artigos 754º a 756º. E se estivessemos no âmbito de uma benfeitoria útil, tendo o benfeitor direito a uma indemnização haveria lugar a uma compensação entre a indemnização por danos e a indemnização por benfeitorias, com base no Artigo 1274º do Código Civil.

Concluindo, no caso presente ou a benfeitoria é voluptuária e estando o benfeitor de má-fé não poderá nem retirá-la, nem ter direito a qualquer indemnização, se a benfeitoria for útil, ou seja, se o valor do automóvel aumentou após os melhoramentos, o benfeitor terá direito a uma indemnização, segundo o Artigo 1273º que remate para as regras do enriquecimento sem causa. Sendo o empobrecimento de 500 contos, se o enriquecimento for também de 500 contos, o proprietário do automóvel, em princípio, terá que entregar ao benfeitor 500 contos. Contudo, como o proprietário tem direito a uma indemnização por danos, as benfeitorias compensam-se com as deteriorações, ou seja, a indemnização a que tem direito o proprietário do automóvel por danos será reduzida no montante das benfeitorias. É claro que o enriquecimento pode não ser de 500 contos, se for inferior a 500 contos, o enriquecido vai restituir apenas o valor do seu enriquecimento e não os 500 contos que o benfeitor gastou.

3- Carlos quer 1.000 contos por danos patrimoniais e morais e exige-os a Abel e Bento solidariamente.

Conduzir apressadamente - pode ser excesso de velocidade, ou seja, dolo ou pode ser falta de cuidado, ou seja, mera culpa / negligência. Logo, há aqui um facto ilícito.

Artigo 503º - responsabilidade pelo risco. Os requisitos deste artigo não estão preenchidos para imputar a responsabilidade pelo risco a Bento (ele não tem a direcção efectiva do veículo e este não está a ser utilizado no seu próprio interesse).

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Assim, nunca se pode aplicar o Artigo 497º e 490º que correspondem à responsabilidade solidária, sendo único responsável perante Carlos, Abel, nos termos do Artigo 483º e os requisitos deste artigo estão preenchidos. Abel é imputável, houve dano, nexo causal entre o facto e o dano. Por conseguinte, Carlos tem direito a uma indemnização. Há de facto danos patrimoniais.

Quanto aos danos morais é mais difícil de provar. Assim, terá direito a uma indemnização pecuniária compensatória, nos termos do Artigo 566º.

Artigo 495º - danos morais.

4- Damião manda conjuntamente com os restos das calças uma conta do alfaiate a Carlos que a recambia para Bento, o qual a remete para Abel que a devolve a Damião.

Artigo 570º (é muito importante) - concurso de imputações.Temos que saber se Damião está numa situação lícita ou ilícita (neste caso

contribuiu para o dano - invasão de propriedade alheia). Se ele provasse que se o carro não tivesse entrado o cão não lhe teria mordido, então Damião não contribuiu para o dano, mesmo havendo invasão da propriedade alheia afastando o processo causal.

O proprietário do cão não é responsável, porque está a vigiá-lo, mas poderia haver responsabilidade pelo risco pelo uso do animal. Mas aqui o proprietário do cão não é responsável, porque o cão não constitui risco especial.

Quanto a Abel, o facto ilícito é o excesso de velocidade e o dano que aqui está em causa é a destruição das calças, logo aqui não há um nexo causal. Mas, pode-se provar que o cão nunca mordeu ninguém e este dano foi causado porque o cão se assustou, então há aqui um nexo causal entre o excesso de velocidade, o susto do cão e a destruição das calças

Teoria da Causalidade Adequada. Por outro lado, se o cão for violento, serão responsáveis Abel e o seu

proprietário.Excesso de Susto destruição das velocidade calças

Nexo causal

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 40

Caso Prático Nº 26

Alberto e Bernardo, irmãos, eram comproprietários de uma moradia em Sesimbra, que haviam herdado do seu pai. Bernardo encontra-se ausente já há dois anos em França, desconhecendo Alberto a sua morada desde Novembro de 1999. Em Fevereiro deste ano, Alberto foi abordado por Carlos, que manifestou desejo de comprar a moradia de Sesimbra por 27.000 contos. Alberto julgando, com base em conversas tidas com o irmão há alguns anos, que ele estaria interessado na venda, aceitou a proposta de Carlos, dizendo-lhe, porém, que apenas podia prometer vender e não vender, por não ter ainda o acordo do irmão.

O contrato foi realizado por escrito e assinado por ambos em 7 de Fevereiro, tendo, nessa data, Carlos entregue a Alberto 8.000 contos e recebendo desde logo a moradia para lhe fazer as obras de adaptação que considerava necessárias, a fim de já a poder usar no Verão. Ficou estabelecido no contrato que a venda se realizaria logo que Alberto conseguisse contactar com o irmão. Bernardo veio, dia 23 de Fevereiro, passar uns dias a Portugal e, porque tivesse entretanto decidido regressar e habitar a moradia de Sesimbra discordou do contrato, pretendendo ficar com a casa para si.

a) Qualifique o contrato celebrado entre Alberto e Carlos e aprecie a sua validade.

Alberto e Bernardo são simultaneamente proprietários de um direito real, nos termos do Artigo 410º. E como são comproprietários em partes iguais, Alberto ao celebrar um contrato-promessa de compra e venda com condição suspensiva da moradia de Sesimbra que não era apenas dele, agiu como gestor de negócios do irmão. Isto porque concretiza um negócio alheio, pensando estar a ser útil ao irmão, pois este último em conversa tinha mostrado interesse em vender a moradia.

Útil sem qualquer habilitação jurídica, sobretudo que o irmão encontra-se ausente e Alberto não conhece a sua morada e perante isto estão preenchidos os requisitos da figura da gestão de negócios, previstos no Artigo 464º. Primeiro tomou a direcção de um negócio jurídico, segundo sem habilitação jurídica e terceiro no interesse e por conta do dono.

Esta gestão de negócios é jurídica, porque consiste na celebração de um negócio jurídico e é uma gestão representativa (o comprador sabe que a casa é dos dois e ele está a vender).

A gestão é regular, visto que Alberto considera estar a agir no interesse do irmão, segundo a vontade do irmão, pretende ser útil ao dono do negócio agindo como um bom pai de família, agindo de acordo com a vontade presumível do irmão. Terá que respeitar o Artigo 475º para que a gestão não deixe de ser regular.

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Alberto não celebra um contrato de compra e venda com Carlos, pois isso não seria válido, estaria a celebrar um contrato de compra e venda de coisa alheia em parte. Por esta razão celebrou um contrato-promessa de compra e venda com condição suspensiva. Este contrato está condicionado ao acordo do outro comproprietário, nos termos do Artigo 270º. É um contrato válido quanto ao objecto.

Este contrato não é válido / não obedece à forma do Artigo 410º nº3, no âmbito dos contratos-promessas existe liberdade de forma, Artigo 410º nº1 que remete para o Artigo 219º, porém os nºs 2 e 3 do Artigo 410º prevêem que se para a celebração do contrato definitivo, no caso concreto de compra e venda de um imóvel, a lei exigir forma específica, o contrato-promessa terá que ser celebrado por escrito.

Como o Artigo 875º exige para a celebração do contrato de compra e venda de um imóvel escritura pública, então o contrato-promessa de compra e venda deverá ser celebrado por escrito e, além disso, como está em causa um contrato oneroso de transmissão de um direito real sobre edifício (casa de Sesimbra), o contrato-promessa deverá ser assinado pelas partes que se vinculam que são Alberto e Carlos, já que o contrato-promessa é bi-vinculativo, as assinaturas deverão ser reconhecidas pelo notário que deve verificar a existência de uma licença de utilização.

O contrato-promessa de compra e venda tem, assim, no âmbito do Artigo 410º nº3, artigo que não foi respeitado.

A falta do reconhecimento das assinaturas dos promitentes é um requisito que só diz respeito às partes, segundo o professor Almeida e Costa, e só poderá ser invocada esta falta por aquele que não é responsável pelo vício de forma.

A falta de licença de utilização terá como consequência a nulidade do contrato, segundo os Artigos 220º, 286º, 289º, se for invocada pelas partes ou por terceiros e se estiver em causa uma construção ilegal, pondo em perigo os direitos de terceiros.

Por conseguinte, apesar do contrato ser nulo por vício de forma, poderão as partes não querer ou não poder invocar esse vício e poderão os terceiros, segundo o professor Almeida e Costa, não poder invocar esse vício por não estar em causa uma construção clandestina.

b) Carlos recusa-se a devolver a moradia e diz ter direito a ela ou, em alternativa, a receber de Alberto e Bernardo 28.500 contos, sendo 1.500 contos referentes a obras entretanto realizadas. Aprecie, do ponto de vista jurídico, esta situação.

Alberto outorgou o contrato-promessa de compra e venda por si e como gestor de negócios. Este contrato terá que ser ratificado por Bernardo para produzir efeitos, segundo os Artigos 471º e 268º. Não tendo sido ratificado, o contrato não produz efeitos, a condição (Artigo 270º) não se verificou. Por conseguinte, se o contrato definitivo não foi celebrado não foi por culpa do promitente vendedor. O promitente comprador não poderá exigir qualquer indemnização baseando-se no Artigo 442º, baseando-se no incumprimento.

De facto, na altura da celebração do contrato-promessa foi entregue pelo promiten_ te comprador ao promitente vendedor uma quantia que tem valor de sinal, segundo o Artigo 441º e não o Artigo 440º, já que estamos perante o contrato-promessa de compra e venda. Essa quantia, em caso de incumprimento, permite ao promitente não faltoso exigir uma indemnização. Poderia permitir ao promitente comprador exigir o dobro do sinal (16.000 contos), ou o valor actualizado da coisa já que houve tradição.

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 42

O promitente comprador não faltoso poderia mesmo, se houvesse incumprimento, o que não é o caso, recorrer à execução específica.

não existindo incumprimento terá somente direito à restituição da quantia entregue ao promitente vendedor e enquanto esta não for devolvida pode exercer direito de retenção, pois houve tradição (Artigo 755º f)).

Quanto à questão dos 1.500 contos referentes às obras realizadas na casa de Sesimbra, estamos perante benfeitorias (Artigo 216º) que não são de modo algum necessárias, poderão ser úteis ou voluptuárias. Sendo obras de adaptação, poderão estas não ter aumentado o valor da coisa e cairíamos no âmbito do regime das benfeitorias voluptuárias. Poderia o benfeitor (Artigo 1275º) ou levantar as benfeitorias e se isso deteriorar a coisa ele não terá direito à indemnização.

c) Diga que direitos tem Bernardo e contra quem.Direitos de Bernardo contra Alberto:

Bernardo pode ou não aprovar a gestão de negócios. Se não aprovar terá direito, em princípio, a uma indemnização. Se sofreu danos no âmbito da gestão de negócios e não será obrigado a reembolsar o gestor das despesas que este eventualmente tenha tido.

Se aprovar a gestão de negócios é obrigado a reembolsar o gestor nas despesas, mas nunca a remunerá-lo (Artigo 470º), pois a celebração do contrato-promessa não entra nos actos praticados pelo gestor no âmbito da sua profissão e o dono do negócio perde o direito a qualquer indemnização.

Ao não aprovar a gestão de negócios, Alberto poderá não ser obrigado a indemnizar Bernardo se provar a regularidade da gestão. Caso contrário, há lugar aqui a uma indemnização, pois os direitos de Bernardo sobre a casa não podem ser exercidos até que esta lhe seja restituída.

Além da aprovação ou não aprovação, já que a gestão é representativa, Bernardo poderia ter ratificado o negócio jurídico (Artigos 471º e 278º), mas não o fez.Direitos de Bernardo contra Carlos:

Como comproprietário Bernardo tem o direito de preferência e pode exercer este direito contra qualquer comprador ou potencial comprador. poderia mesmo, se o seu irmão tiver celebrado um contrato de compra e venda com Carlos, reivindicar o bem e exigir uma indemnização por violação do Artigo 416º, interpondo uma acção de preferên cia, prevista no Artigo 1410º. No entanto, já que o bem não foi vendido e já que o contrato-promessa tinha uma condição, não se pode considerar que haja violação do Artigo 416º, sobretudo que este artigo não se refere a nenhum prazo para a comunicação do projecto de venda.

O único direito que Bernardo poderá exercer contra Carlos é o direito à restituição da posse, com base no seu título de propriedade.

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Caso Prático Nº 27A, proprietário de uma barragem situada no concelho

de Almeirim, foi alertado pelos vizinhos que a dita barragem ameaça ruir devido a fendas que tinham surgido. Todavia, e porque A nada fez, a barragem veio a ruir, inundando a propriedade de B que se situava nas proximidades da dita barragem, tendo destruído a plantação de batata existente.

B pretende ser indemnizado por A, mas este último alega a sua irresponsabilidade, uma vez que no mesmo dia e após a ruína da barragem toda a região foi inundada por uma tempestade que prejudicou não só a propriedade de B, como todas as propriedades circundantes à propriedade de B. A considera que a propriedade de B teria forçosamente sido inundada mesmo que a barragem não tivesse ruído.

Quid Juris?Começamos pela aplicação do Artigo 483º do Código Civil e verificamos se todos

os pressupostos estão preenchidos:1º: O facto voluntário do agente e nesta hipótese foi o não ter feito nada, o não ter

arranjado a barragem. Mas nem sempre as omissões dão lugar à responsabilidade civil, só se houver obrigação por força da lei a praticar o facto omitido é que poderá haver responsabilidade civil se não houver obrigação de reparar a barragem, nem sequer o facto ilícito.

2º: A culpa que é a imputação do facto ao lesante, se não há imputação não há culpa .

3º: Ilícitude, por esta existir será necessário ou a violação do direito de outrém (aqui não é o caso, ele não violou o direito de B), ou a violação de uma disposição legal destinada a proteger direitos de terceiros e neste caso é necessário três pressupostos:

Que a violação dos interesses particulares corresponda à violação de uma norma legal;

Que a tutela dos interesses particulares figure de facto entre os fins da norma violada;

Que os danos se tenham produzido no circulo dos interesses que a norma visa tutelar.

E se estes três pressupostos estiverem preenchidos, podemos concluir que há ilícitude.

O Artigo 483º aplica-se em situações ou de violação do direito de outrém, ou de violação de uma norma legal e para esta existir têm de existir os três pressupostos atrás referidos.

O facto aqui existe, só que só os factos ilícitos implicam responsabilidade civil.4º: O dano seja ele patrimonial ou não patrimonial. Relativamente aos danos não

patrimoniais estes não são susceptíveis de avaliação pecuniária, não são indemnizáveis, são é compensáveis.

5º: Nexo causal entre o facto ilícito e o dano. Em princípio, se tivesse feito obras não teria havido a destruição das batatas.

6º: Culpa na responsabilidade civil, é apreciada pelas diligências de um bom pai de família. Para apreciar a culpa é necessário ter em conta as características do lesante e

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as características em concreto para vermos se ele agiu como um bom pai de família. (Ex: Se um bom pai de família agisse como ele, não haveria culpa por parte de A).

em regra, cabe ao lesado, mas há excepções previstas nos Artigos 491º, 492º e 493º. Neste caso, estando os requisitos do Artigo 483º, segundo o Artigo 492º presume-se a culpa do lesante, logo o lesado não tem de provar a culpa.

Porque é que no Artigo 492º o legislador decidiu estabelecer a presunção de culpa? Porque, em princípio, na responsabilidade civil não há presunção de culpa, existem é três excepções onde ela se presume nos Artigos 491º, 492º e 493º do Código Civil. Se não houvesse presunção de culpa nestes artigos seria muito difícil provar as omissões e estas três excepções existem para provar as omissões, os factos negativos.

Quanto à culpa temos de ver qual o grau de culpa: Dolo directo; Dolo indirecto. Negligência consciente / dolo eventual

A negligência consciente não é benéfica para o lesado, nas situações de negligência a indemnização que o lesado tem direito é reduzida nos termos do Artigo 494º. O dolo eventual é benéfico para o lesado.

Nesta hipótese há negligência consciente. Em princípio, segundo o Artigo 492º, A será responsável por factos ilícitos e será obrigado a indemnizar o lesado pelos danos patrimoniais que este sofreu.

Contudo, existe, no caso concreto, uma concorrência entre a causa virtual (tempes - tade) e a causa real (a destruição da barragem), ou seja, dois factos independentes um do outro poderia ter causado um mesmo dano. Mas, o dano foi efectivamente produzido por uma só causa (a causa real) e se esta causa real não tivesse operado, o dano teria sido produzido pela causa virtual (é a isto que chamamos concorrência entre causa real e causa virtual).

Segundo o Artigo 563º, há que atender ao facto determinante a causa real, por conseguinte, em princípio, o autor (A) da causa real não se pode exonerar da obrigação de indemnização invocando a causa virtual, excepcionalmente poderá fazê-lo se a causa virtual tivesse provocado os mesmos danos que a causa real e se o lesante estivesse no âmbito do Artigo 491º, ou do Artigo 492º ou do Artigo 493º. Existindo presunção de culpa, o lesante pode exonerar-se da sua responsabilidade, invocando a causa virtual, terá é que provar que a causa virtual teria provocado os mesmos danos que a causa real.

Se A conseguir provar que a tempestade teria provocado os mesmos ou mais danos que o rebentamento da barragem, então não será obrigado a indemnizar B (será que uma inundação por chuva provoca os mesmos danos que uma inundação da barragem? Tudo depende da prova. Por exemplo: se os danos da chuva forem inferiores aos danos da barragem o A não se pode exonerar, ou seja, só haverá concorrência entre causa real e causa virtual quando factos diferentes poderiam provocar os mesmos danos, se não forem os mesmos A não se poderá exonerar, mas reduziria a sua responsabilidade, só será responsabilidade pelos danos próprios do seu facto ilícito).Sub-hipótese:

B exige como valor da indemnização a A 10 milhões de escudos, os quais correspondiam ao valor pelo qual B ia vender, após a colheita, as batatas.

- Determine o valor e identifique os danos.Temos de calcular a indemnização, nos termos dos Artigos 564º e 566º (obrigação

de indemnizar).

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(Teremos de arranjar valores hipotéticos se na hipótese não estiverem referidos e partimos sempre do valor da indemnização que foi pedida para ver se vai ser essa ou não)

B pede 10.000 contos e imaginemos que na data em que ocorreu o dano B tinha gasto 3.500 contos com a plantação, pesticidas, etc. E estes 3.500 contos equivalem a danos emergentes e B para fazer a colheita das batatas teria que gastar 2.000 contos, ou seja, para calcularmos o lucro (o que deixa de receber) cessante temos de subtrair os 2.000 contos e o dano emergente (3.500 contos), logo o lucro cessante é de:

10.000-3.500-2.000 = 4.500 = lucros cessantes

A indemnização perante este cálculo são:Os danos emergentes (3.500) + os lucros cessantes (4.500) = 8.000. logo, a

indemnização é de 8.000 contos e não os 10.000 que ele pedia.

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Caso Prático Nº 28A contratou a empresa B para que esta procedesse à

reparação das instalações das canalizações da sua casa, as quais se encontravam deterioradas.

B encarregou o seu empregado C para que este levasse a cabo a dita reparação. Ao proceder à reparação, C deixou um dos canos mal vedado, o que veio a provocar uma inundação em casa de A e infiltrações no piso inferior.

Em virtude da inundação ficaram destruídos ou inutilizados alguns bens pertencentes a A e em virtude das infiltrações no piso inferior, ficaram destruídos alguns bens propriedade de D.

ocorreu, ainda, que D ao aperceber-se da água que caía no seu andar decidiu deslocar-se ao andar superior para averiguar a situação, tendo, contudo, ao subir as escadas tropeçado num degrau e partido a perna.

Quid Juris?Há uma responsabilidade pelo risco do comitente, segundo o Artigo 500º, ou seja,

o comitente será responsável pelo risco, porque tira proveito de outrém e deve ser responsabilizado mesmo que tenha agido sem culpa pelos danos que resultem para terceiro provocados pelo seu comissário.

Os pressupostos da responsabilidade do comitente são três:- Existência de uma comissão (de uma relação comitente e comissário);- Responsabilidade do comissário;- Responsabilidade do comissário no exercício da função que lhe foi

confiada.Se faltar um destes três requisitos, o comitente não responde pelo comissário e se

o comitente tiver culpa saímos do regime do Artigo 500º e aplicamos o Artigo 497º, ou seja, o comitente e o comissário serão responsáveis solidariamente perante o lesado e o grau de culpa de ambos poderá ser diferente. Se não se conseguir estabelecer essa diferença serão responsáveis nos mesmos termos.

No caso concreto, não parece ter havido culpa por parte do comitente, resta saber se os pressupostos do Artigo 500º estão preenchidos:

1º: Há uma comissão, se o comitente tiver possibilidades de dar ordens ao comissário e de dirigir os seus actos. Como C é empregado de B não há dúvida que haja uma relação de comissão (há relação comitente/comissário em que o comissário não é empregado do comitente).

2º: Responsabilidade do comissário. É necessário três requisitos que são um facto (a deficiência da reparação), ilícitude (viola os direitos de A e de D) e culpa (há mera culpa, negligência, Artigo 494º). Estando estes três pressupostos reunidos podemos considerar que o comissário é responsável dentro do quadro geral da função que lhe foi confiada.

Pelo facto ilícito C provocou vários danos (danos patrimoniais emergentes em relação a A, pois houve uma destruição de móveis, danos patrimoniais emergentes em relação a C e poderá ter causado, pelo facto de D ter partido a perna, três tipos de danos:

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- Danos emergentes (despesas hospitalares);- Lucros cessantes (se D deixou de trabalhar pelo facto de ter partido a

perna);- Danos morais (por dor e sofrimento).

Estes danos são indemnizáveis se se estabelecer um nexo causal entre o facto do C e os danos de A e D.

Em relação a A: há um nexo causal entre a deficiência da reparação dos canos e a destruição dos móveis.

Em relação a D: há nexo causal em relação à destruição dos móveis, resta o partir da perna. De acordo com a teoria da causalidade adequada podemos considerar que há um facto extraordinário, anómalo, que se interpôs entre o facto do comissário e o partir da perna. Contudo, o comissário terá que provar a existência desse facto extraordinário para não ter que indemnizar D relativamente aos danos que sofreu na sua perna, caso não consiga provar a existência desse facto extraordinário terá que indemnizar D tanto pela destruição da mobília como pelos danos na perna.

A indemnização a que A e D têm direito poderá ser exigida a B, segundo o Artigo 500º, ou a C, segundo o Artigo 483º.

Se for B a indemnizar os lesados como não teve culpa tem um direito de regresso em relação a C, ou seja, após a entrega da indemnização poderá exigir o seu valor a C.

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Caso Prático Nº 29A dá veneno a um cavalo, o veneno é apto a provocar a

morte do cavalo.B antes do veneno produzir efeitos dá um tiro no cavalo.

O cavalo valia 5.000 contos e no momento em que B deu o tiro, pelo facto de estar envenenado, tinha passado a valer 2.000 contos.

Quid Juris?A causa real da morte é o tiro. A causa virtual da morte é o veneno.Como esta situação não se enquadra nos Artigos 491º, 492º e 493º o B não pode

afastar a sua responsabilidade, invocando a causa virtual. Será responsável nos termos do Artigo 483º, pois há um facto ilícito que é o tiro, há uma imputação, há um dano que é a morte e há um nexo causal entre a morte e o tiro.

Estando os requisitos preenchidos, B terá de indemnizar o proprietário do cavalo em 2.000 contos, porque o cavalo quando foi morto a tiro valia 2.000 contos.

A será responsável pela desvalorização do cavalo nos termos do Artigo 483º do Código Civil. A não sendo responsável por causa virtual da morte, é responsável pela causa real que provocou uma diminuição do valor do cavalo em 3.000 contos e é essa quantia que terá que entregar ao proprietário do cavalo.

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Caso Prático Nº 30Sofrendo de perturbações mentais, A, internado num

estabelecimento psiquiátrico, consegue fugir, acabando por refugiar-se na casa de Verão de um irmão. Aí encontra uma arma carregada com a qual vem a atingir gravemente B, que acidentalmente passava junto à casa.

Quid Juris?Ou se considera que a arma não foi correctamente vigiada pelo proprietário

(Artigo 493º). Para isso é necessário que o proprietário soubesse ou da fuga do irmão ou estivesse em casa.

Se ele não conseguir provar que a arma estava devidamente guardada, de difícil acesso e utilização, o facto ser-lhe-á imputável, já que A é inimputável, nos termos do Artigo 488º e, nesse caso, podemos considerar que há uma interrupção do nexo causal.

Se o irmão não afastar a presunção de culpa do Artigo 493º, há interrupção do nexo causal.

Ou se aplica o Artigo 493º e o irmão não consegue provar que estava a vigiar correctamente a arma, se conseguir afastar a presunção de culpa o responsável será o estabelecimento psiquiátrico, com base no Artigo 491º do Código Civil.

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Caso Prático Nº 31Joana, educadora de infância, decidiu organizar uma

excursão à praia com um grupo de crianças. Já na praia, Joana entusiasmou-se com a companhia de um pescador que lhe sussurrava ao ouvido que não se preocupasse com as crianças, pois se houvesse qualquer situação de perigo ele salvá-las-ia em poucos segundos. Confiante nas qualidades do pescador, Joana foi aceitando a cerveja que aquele, entre risos e insinuações, lhe ia oferecendo de maneira que, pouco tempo depois, a educadora de infância estava completamente embriagada.

Entretanto, o pequeno Miguel de 6 anos, uma das crianças que fazia parte da excursão, tirou a bóia a Sérgio, seu colega de 4 anos, provocando a morte deste por afogamento. Sem se aperceber do destino do colega, Miguel agarrou na bóia e começou a flutuar, mas logo verificou que a bóia tinha um furo e ia perdendo ar, pelo que começou a gritar por socorro. De imediato o pescador deixou a educadora de infância e correu a tentar salvar a criança, atropelando tudo por onde ia passando, de tal modo que assustou Mafalda, cardíaca de 75 anos, que teve de ser transportada com urgência para o Hospital, vindo a falecer duas horas depois devido a uma embolia.

Por fim, o pescador conseguiu salvar Miguel, trazendo-o nos braços até à areia onde, nervosamente, o deitou, correndo de seguida para os braços da educadora de infância.

Entretanto, Tequilla, doberman alemão, ao ver Miguel imobilizado e indefeso, mordeu-lhe uma orelha, enquanto a sua dona namorava ao sol com o veterinário do animal, que lhe dizia que não se devia preocupar minimamente por Tequilla andar à solta, pois estava completamente curado da raiva.

Entretanto, veio-se a apurar que o pequeno Miguel foi contagiado com raiva.

1- Identifique os danos causados a Miguel, Sérgio e Mafalda.

Relativamente a Miguel: temos lesões corporais, danos reais (Artigo 495º). Além da mordidela e do contágio da raiva, há danos patrimoniais (despesas hospitalares). Se houver cura há dores, complexos de beleza e aí temos danos não patrimoniais e estes são compensados se forem graves e a compensação mede-se por critérios objectivos, atendendo ao grau de culpabilidade e à situação económica de ambas as partes (Artigo 496º).

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Em relação a Sérgio: há danos patrimoniais (despesas de funeral, etc.) e um dano de morte, Artigo 496º do Código Civil.

Quanto a Mafalda, esta sofreu os mesmos danos que Sérgio.

2- A que título poderá Joana ser responsabilizada pelos danos sofridos por Miguel e Sérgio?

Partindo do pressuposto que Miguel e Sérgio são inimputáveis e que a educadora de infância tem uma obrigação de vigiar estes dois menores, não tendo vigiado correctamente os dois menores e por esse facto estes terem sofrido danos, ela será responsável, nos termos do Artigo 491º perante Sérgio e não é responsável, nos termos do Artigo 491º perante Miguel, porque como Joana não vigiou correctamente Miguel, este provocou danos a Sérgio e quanto a Miguel aplica-se os Artigos 483º e 486º para se imputar o facto ilícito a Joana e para esta ser responsável perante Miguel (foi Miguel que provocou danos a si próprio - perigo de afogamento(perante este dano a educadora de Infância é responsável) - e não foi outra criança que lhe provocou esses danos).

Quanto ao facto da educadora estar embriagada, poderemos considerar que ela estará inimputável? Ela praticou um segundo facto ilícito grave que foi ingerir a bebida alcoólica.

Também se poderia considerar que a educadora de infância é inimputável e transferiu a sua obrigação de vigilância para o pescador através de um contrato, sendo, portanto, a responsabilidade toda para o pescador.Art 483º __ Art 486º __ Art 491º - ela não é inimputável, praticou logo no início

um facto ilícito.

3- A que título poderá o pescador ser responsabilizado pelos danos sofridos por Miguel e Sérgio?

O pescador, através de um acordo com a educadora de infância, assume uma obrigação de vigilância e, nesse caso, também será autor dos danos, segundo o Artigo 490º e responsável perante Sérgio, nos termos do Artigo 491º e perante Miguel, nos termos dos Artigos 483º e 486º.

Se ele, através deste acordo, não assumiu a obrigação de vigilância, então será instigador, nos termos do Artigo 490º e responsável solidariamente com a educadora de infância, nos termos do Artigo 497º (o grau de culpa do instigador é menor do que um autor).

4- A que título poderá o pescador ser responsabilizado pelos danos sofrido por Mafalda?

Ele está em estado de necessidade na altura em que corre para salvar Miguel e responde pelos danos que causar (Artigo 339º). Aqui o dano é o susto. E aí Mafalda não tem direito a qualquer indemnização.

Relativamente à morte, aplica-se o Artigo 563º não há nexo causal entre o susto e a morte, logo não é responsável perante Mafalda, a menos que existisse um facto ilícito (se ele quisesse matar Mafalda).

5- A que título poderá Miguel ser responsabilizado pelos danos sofridos por Sérgio?

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Em princípio, é o pescador e Joana os responsáveis solidários. Miguel será inimputável nos termos do Artigo 488º nº2 e Sérgio será indemnizado nos termos do que já foi dito.

A menos que se consiga provar que Miguel estava consciente que matava Sérgio e aí terá concorrido com o pescador e Joana na produção do dano, sendo responsabilidade solidária.

6- A que título poderá a dona e o veterinário do Tequilla serem responsabilizados pelos danos sofridos por Miguel?

Artigo 493º - há falta de vigilância, acto doloso (o cão não tinha açaime), não é possível dar a presunção de culpa.

O veterinário também contribuiu para o dano (Artigo 485º). Resta saber se agiu com negligência ou se agiu com culpa.

Se for possível saber no momento que o cão estava com raiva, então aqui havia culpa.

Como há facto ilícito por parte do veterinário, nos termos do Artigo 480º, são responsáveis solidariamente por parte de Miguel. As contribuições podem, no entanto, ser diferentes. Se o cão tinha raiva a contribuição do veterinário é superior.

7- Quem tem direito a exigir uma indemnização pelos danos causados a Sérgio e a Mafalda?

Aplica-se o Artigo 496º.Relativamente a Sérgio, os pais podem exigir uma indemnização. Os familiares

iriam receber duas indemnizações pelo mesmo dano, ou uma indemnização a favor do decujus e depois transmitida aos herdeiros, mas isto vai contra o Artigo 496º.

A doutrina está dividida em indemnizar os familiares com base no Artigo 496º (os pais), ou indemnizar Sérgio e essa indemnização reverte a favor dos seus herdeiros por via sucessória. Contudo, se optarmos por esta solução, os familiares de Sérgio além da indemnização por via sucessória, têm direito a uma indemnização própria, nos termos do Artigo 496º do Código Civil.

No caso da Mafalda, os herdeiros não têm direito por falta de nexo causal. No caso desta, convinha que fosse ela própria a ter direito à indemnização e depois esta seguir por via sucessória.

Os primos em 3º ou 4º grau não são parentes previstos no Artigo 496º com direito à indemnização. Quem pede a indemnização para Mafalda é o seu representante (que é o primo).

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Caso Prático Nº 32A, que conduzia um camião em excesso de velocidade,

atropelou algumas ovelhas de B, porque as mesmas, por descuido do pastor C, que se encontrava a dormir debaixo de uma azinheira, estavam a atravessar a estrada.

Seguidamente, o camião já desgovernado foi atropelar dois ciclistas que se treinavam para a volta a Portugal e, por fim, embateu numa árvore tendo ficado praticamente destruído. O camião estava ao serviço de D, de quem A era motorista.

Em consequência do acidente, a estrada esteve cortada ao trânsito durante uma hora e H não pôde entregar naquele dia (que era o último do prazo) a sua declaração de imposto.

1- A quem pode B pedir indemnização pelos danos sofridos?

Relativamente ao condutor do camião, ele está a conduzir em excesso de velocidade. Os requisitos do Artigo 483º estão preenchidos:

Há facto ilícito - conduzir em excesso de velocidade; Há dano - atropelou as ovelhas; Não há imputabilidade do Artigo 488º; Há dolo negligente; Há nexo causal entre o facto ilícito e o dano.

Assim, resta analisar a situação entre o condutor e o proprietário do camião.Se o condutor ao praticar o facto ilícito estava no exercício das suas funções, há

uma relação entre o comitente e o comissário. Podemos, assim, aplicar o Artigo 500º que permite ao lesado exigir uma indemnização ao comitente que terá a seguir um direito de regresso (Artigo 500º nº3) em relação ao comissário. Este direito poderá ser exercido, porque o comitente não é responsável, nem praticou qualquer facto ilícito (neste caso aplicava-se o Artigo 490º e não o Artigo 500º).

Isto partindo do pressuposto que há um nexo causal entre o facto e o dano e que ele está no exercício das suas funções.

Se for provado que não estando em excesso de velocidade o condutor não teria conseguido travar porque as ovelhas surgiram repentinamente, poderia o condutor não ser responsável. Contudo, é claro que os danos que as ovelhas sofreram terão sido seguramente agravados pelo excesso de velocidade.

Se ele não estiver no exercício das suas funções, o lesado só poderá exigir uma indemnização a A e não a D, pelo facto dos requisitos do Artigo 500º não estarem preenchidos.

- Em relação ao pastor, este não vigiou correctamente as ovelhas (quem exige uma indemnização é o dono). Logo, aplica-se o Artigo 483º e o Artigo 486º do Código Civil.

Não se aplica o Artigo 493º, porque é necessário que as ovelhas tenham provocado danos a terceiro (e não se aplica no caso do dono do rebanho).

Aqui há negligência nos termos do Artigo 494º, há facto ilícito e omissão, há um dano (ferimentos nas ovelhas).

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Como as ovelhas têm possibilidade de atravessar as estradas, então se ele tivesse vigiado bem o rebanho as ovelhas poderiam atravessar a estrada.

Quem tem que estabelecer um nexo causal é o lesado, nos termos previstos no Artigo 487º do Código Civil.

B não terá qualquer interesse em que seja aplicado o Artigo 486º e estabelece o nexo causal entre a falta de vigilância e o dano.

Se A provar que o pastor contribuiu para o dano, então ambos são lesados por causa da relação entre comitente e comissário (pastor e o dono do rebanho), aplica-se, então, o Artigo 570º. Se forem dois a contribuir para o mesmo dano aplica-se o Artigo 490º. Se for o lesado e um terceiro a contribuir para aquele dano aplica-se o Artigo 570º.

O proprietário do rebanho vai pedir uma indemnização ao dono do camião (Artigo 500º é o comitente), mas esta será deduzida da culpa do pastor (comissário em relação ao proprietário do rebanho) e equipara-se a culpa do comissário à culpa do comitente, com base no Artigo 571º.

2- A quem podem os ciclistas, que, em virtude do acidente, ficaram impedidos de participar na volta a Portugal, pedir a indemnização pelos danos sofridos?

Vamos imputar o facto ilícito ao condutor (excesso de velocidade). Foi o excesso de velocidade que provocou o despiste dos ciclistas, logo há um nexo causal, havendo imputação, aplicando-se o Artigo 500º entre o A e o D.

relativamente ao pastor, pode-se imputar o facto ao pastor segundo o Artigo 483º e o Artigo 493º (porque as ovelhas provocam danos a terceiros). Este terá é que afastar a presunção de culpa, provando que se ele estivesse a vigiar as ovelhas e atravessaram a estrada como qualquer rebanho , o camião teria perdido o controlo por causa do excesso de velocidade, afastando, assim, a sua culpa (o pastor não contribuiu para os danos sofridos pelos ciclistas).

O único responsável perante os ciclistas é o comitente - comissário (A e D), se o pastor afastar a presunção de culpa. Se este não a afastar (Artigo 493º) aí temos uma responsabilidade solidária de B e D, nos termos do Artigo 497º) perante os ciclistas, tendo estes direito de regresso dos seus funcionários.

(Se afastarmos a presunção de culpa do Artigo 483º não vamos conseguir imputar nada ao dono do rebanho, a não ser que se aplique o Artigo 502º - resta saber se a utilização é perigosa ou não).

3- Os apoiantes daqueles ciclistas têm direito a pedir uma indemnização por danos morais? A quem?

Os seus direitos não foram violados, logo não estão no âmbito do artigo 483º. Também não estão incluídos na previsão dos Artigos 495º e do 496º. Não tendo, por isso, qualquer direito a indemnização.

4- A quem pode H exigir de indemnização o montante da multa que teve de pagar ao fisco pelo atraso da entrega da declaração de imposto?

Não se indemniza danos reflexos.Se se chegasse à conclusão da solidariedade entre B e C, aplicar-se-ia as regras da solidariedade

(Artigo 512º) - problema de responsabilidade solidária.

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Caso Prático Nº 33Abílio deslocava-se para Lisboa pela estrada marginal

(Cascais - Lisboa) num automóvel ligeiro quando:1º Se despistou devido a um ataque cardíaco, tendo ido

atropelar, no passeio, Berta que apenas sofreu danos físicos ligeiros;

2º Se despistou em virtude do rebentamento de uma vaga do mar que arrastou o automóvel para a faixa contrária, vindo a embater de frente num outro automóvel que seguia em direcção oposta e cujo condutor, Bernardo, vinha distraído a conversar com César, que lhe havia pedido que o transportasse. Do acidente resultou a morte de César e a completa destruição dos dois veículos;

3º Ao desviar-se de uma criança que subitamente atravessou a estrada, fugindo da mão da ama, foi embater num poste, tendo resultado avultados danos no veículo.

Quid Juris?1º O ataque cardíaco é um risco inerente ao funcionamento do automóvel. Logo,

não é uma causa de força maior, tendo o condutor a direcção efectiva do veículo, que está a agir no seu interesse e nos termos do Artigo 503º ele será responsável perante Berta.

2º Há aqui um caso de força maior, nos termos do Artigo 505º nº2, através do qual o condutor perde a direcção efectiva do veículo, o que exclui a responsabilidade pelo risco de Abílio, segundo o Artigo 502º.

O Bernardo está distraído na outra faixa, há uma atitude negligente por parte de Bernardo (Artigos 483º, 486º e 494º). Resta provar que foi a distracção que provocou a colisão, ou seja, se não estivesse distraído teria travado.

Se Bernardo provar que os danos da colisão se teriam produzido mesmo não havendo distracção de sua parte, ou seja, se ele provar que não existe um nexo causal entre a distracção e a colisão, cada um dos condutores fica com os seus próprios danos, nos termos do Artigo 506º. Então a sua culpa não provocou qualquer dano, então também não será responsável perante César (Artigo 504º).

Se ele não afastar o nexo causal, haveria várias maneiras de resolver o problema , mas podemos aplicar o Artigo 570º e aí o Abílio, segundo este artigo poderá ter direito a uma indemnização e vai ter que indemnizar César, nos termos do Artigo 504º nº3 e Artigo 496º do Código Civil.

3º Falta de vigilância da ama, nos termos do Artigo 491º, sendo a única responsável pelos danos sofridos no automóvel, ou os pais da criança (relação comitente / comissário - Artigo 500º) a indemnizar Abílio. A menos que a ama consiga afastar a presunção de culpa (o que é muito difícil).

Assim, há responsabilidade por factos ilícitos, nos termos do Artigo 491º, sendo a falta de vigilância da ama que causa o acidente, a menos que ela consiga provar que ou

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 56

vigiou correctamente a criança, afastando a presunção de culpa, ou invocando uma causa virtual. Terá de afastar a presunção de culpa para deixar de ser responsável.

Se ela não conseguir afastar a presunção, existindo uma relação comitente / comissá rio, entre a ama e os pais da criança, nos termos do Artigo 500º (exercício das suas funções), o lesado poderia exigir uma indemnização ao comitente, que a seguir exerce o seu direito de regresso em relação ao comissário.

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Caso Prático Nº 34Num jardim camarário uma criança partiu uma perna

quando brincava num escorrega. O escorrega era muito alto e tinha um dístico : “Só para crianças com idade superior a 12 anos”.

A criança em causa tinha 7 anos e não sabia ler (estava sozinha).

Os responsáveis são os pais, assumem o risco.A criança não sabe ler e, por isso, é inimputável, os pais têm o dever de vigiar.

Esta omissão dos pais não origina um dever de indemnização. Não se aplicam os Artigo 488º e 491º, nem o Artigo 483º.

Esta infracção não origina o dever de indemnização, os próprios pais assumem o dano.

Artigo 1878º - obrigações dos pais.É o próprio autor o lesado.

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Caso Prático Nº 35G, H e J venderam a L e M 1.000 Kg de bananas da

Madeira ou 700 Kg de bananas da Colômbia por 100.000 escudos. O lugar do cumprimento da obrigação era no porto de Lisboa, local onde as bananas seriam desembarcadas, mas os vendedores obrigaram-se também a expedir as bananas em causa para os armazéns dos compradores em Coimbra. Quando os vendedores foram ao porto de Lisboa buscar as bananas da Madeira, verificaram que estavam todas estragadas.

Quid Juris?É uma obrigação genérica e é indeterminada, pois aqui só está determinada

quanto ao género e à quantidade.Obrigação alternativa, se os compradores olharem para a origem das bananas, ou

seja, existem duas prestações e o devedor só escolhe com a determinada.Contudo, há uma impossibilidade inimputável às partes, nos termos do Artigo

545º, porque as bananas estão estragadas, ou seja, os vendedores estão vinculados a cumprir com a entrega das bananas da Colômbia, estes 700 Kg são uma obrigação genérica. Os vendedores correm o risco, enquanto não entregarem as bananas aos compradores, Artigo 539º. Contudo, as partes aqui só transferem a propriedade e o risco na altura da entrega à transportadora, com base na teoria do envio, Artigo 797º (excepção à teoria da entrega).

(Resolução da Soraia).

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 59

Caso Prático Nº 36A prometeu vender a B um cachorro de raça (Galgo

Afegão) a escolher, que tivesse da ninhada seguinte, a cadela daquela raça. Passado algum tempo nasceram cinco daqueles animais, ao vê-los C, uma sobrinha pequena de A conseguiu do tio a promessa que lhe daria um deles a ela. Entretanto, uma epidemia de raiva matou quatro cachorros e A, para não desgostar a sobrinha, acabou por lhe entregar o cão sobrevivo.

1- B alega que o contrato celebrado entre A e C é nulo, por ser incompatível com o seu contrato com A e exige a entrega do animal a título de indemnização.

Havia um contrato-promessa sem qualquer forma (liberdade de forma - Artigo 410º), tem mera eficácia obrigacional. Não existe incompatibilidade.

A obrigação do promitente vendedor é indivisível, é uma prestação de coisa. É uma obrigação genérica, pois é um galgo afegão (género e quantidade, Artigo 539º). Houve uma doação, nos termos do Artigo 940º e opera-se a transferência da propriedade, nos termos do Artigo 954º. Contudo, após a epidemia e antes da entrega à sobrinha houve uma extinção parcial do género, nos termos do Artigo 541º e a obrigação genérica transformou-se uma obrigação específica.

o promitente comprador terá direito a uma indemnização, a reconstituição natural, sendo impossível, pois a sobrinha já está com o cão e a indemnização será em dinheiro, nos termos do Artigo 566º.

2- B defende que se tornou proprietário do cão sobrevivo pela ocorrência da morte dos outros.

Houve concentração e transmissão da propriedade, nos termos do Artigo 541º. A concentração implica transferência de propriedade se o contrato entre as partes for de compra e venda. Não o sendo, podíamos considerar que a escolha de um dos animais da ninhada, prevista no contrato, equivalia à celebração do contrato definitivo, sendo essa escolha impossível por causa da epidemia. Assim, com a concentração dá-se a celebração do contrato definitivo e a transferência de propriedade do galgo afegão.

3- B sustenta que, em qualquer caso, A terá de lhe conseguir um galgo afegão ainda que para esse efeito se tenha que deslocar ao Afeganistão.

Nos termos do Artigo 540º, se não existir nenhum animal da mesma raça no território, a obrigação extingue-se por impossibilidade de cumprimento e o comprador não terá direito a qualquer indemnização.

O promitente comprador exige um galgo afegão a título de indemnização, a sua exigência é excessiva pelo facto do faltoso ter que se deslocar ao estrangeiro, logo a indemnização só poderá ser pecuniária.

4- B dera de sinal 10 contos, que direitos lhe assistem contra A?

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Eram os 10 contos a título de sinal. Se houver incumprimento do contrato, o promitente não faltoso terá direito, segundo o Artigo 442º nº2, ao dobro do sinal, ou seja, 20 contos. Se houver uma impossibilidade não culposa extingue-se a obrigação.

(Resolução da Soraia)

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Caso Prático Nº 37António celebrou com Bento um contrato de compra e

venda de toda a cortiça que viesse a ser extraída da propriedade do primeiro. O valor de cada arroba de cortiça foi fixado em X, desta forma só depois de devidamente pesada e contada toda a cortiça, seria possível determinar o seu preço global. Dias mais tarde, António e Bento celebraram um outro contrato, por força do qual António ficaria obrigado para com Bento a realizar uma de duas prestações a Hugo e João, a determinar por escolha de Carlos.

Depois de extraída e pesada, a cortiça foi destruída por um valente incêndio.

Por facto imputável a António, a realização da prestação a Hugo tornou-se impossível.

1- Continuará ele obrigado a pagar o preço da cortiça, apesar da sua destruição?

Estamos perante uma obrigação específica, porque ele vendeu toda a cortiça. A obrigação está determinada e não carece de escolha. A pesagem serve para determinar o preço (na obrigação genérica é necessária uma escolha).

Sendo uma obrigação determinada, num contrato de compra e venda, nos termos do Artigo 408º nº2, foi transferida a propriedade. Com a transferência, a propriedade transfere-se, em princípio, o risco, nos termos do Artigo 796º nº1, não existindo qualquer excepção à regra nesta hipótese.

Assim, o adquirente tem que assumir a responsabilidade do incêndio e um deles é o pagamento do preço se ainda não foi efectuado, nos termos do Artigo 879º.

Ele é obrigado a pagar o preço.

2- Será que António se pode exonerar da sua obrigação, realizando a prestação a João?

Estamos perante uma obrigação alternativa (Artigos 543º e seguintes), assim, exis-tindo uma impossibilidade de escolha imputável ao devedor (Artigo 546º) é necessário saber quais os direitos do credor.

A escolha da hipótese caberia a terceiro, situação que não está prevista no Código Civil. Por conseguinte, ou é o terceiro a optar entre a resolução do contrato, a indemnização e o cumprimento da prestação possível, ou então é o credor que opta, dado que é o primeiro interessado.

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Caso Prático Nº 38Paulo vendeu a Quitéria um cavalo lusitano da cavalaria

de Alter ou da Coudelaria Conde X, que deveria despachar por caminho-de-ferro para a herdade da compradora.

O cavalo escolhido pelo vendedor pereceu durante um desastre ferroviário.

Quid Juris?É uma obrigação genérica, porque se houver mais que um cavalo das duas

coudela-rias e obrigação alternativa se o comprador der relevância à coudelaria. É só obrigação alternativa quando existe um só cavalo em cada coudelaria. Obrigação genérica e só genérica quando existe um cavalo em cada coudelaria e qualquer um serve.

A obrigação é determinada no momento do cumprimento, a menos que as partes recorram a uma excepção que foi o caso, nos termos do Artigo 797º (teoria do envio), segundo o qual o risco é transferido para o adquirente no momento da entrega do cavalo à transportadora. A partir dessa altura o adquirente assume o perecimento do cavalo e não deixa, pela morte do cavalo, de estar obrigado a pagar o preço.

O objecto é o mesmo e o lugar do cumprimento também é sempre o mesmo, nos termos do Artigo 773º.

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Caso Prático Nº 39Qualificar contratos e prestações:

1º A celebra com B um contrato pelo qual A se obriga a construir para B uma vivenda em Cascais por 15.000 contos.

É uma prestação instantânea quanto ao tempo.Há duas prestações:

Prestação de coisa relativamente àquele que paga o dinheiro; Prestação de facto material positivo relativamente àquele que constrói.

Na prestação de coisa, o que importa ao devedor é a coisa objecto e não o comportamento da outra parte.

Na prestação de facto, o que se exige do devedor é um determinado comportamen-to, comportamento que não se esgota na entrega da coisa.

Estas duas prestações são ambas instantâneas, porque a prestação de coisa esgota-se no momento da entrega do preço e a prestação de facto no momento da conclusão definitiva da obra.

Se o pagamento não tivesse sido de uma só vez a obrigação continua a ser instantânea, porque o pagamento já estava determinado no momento da celebração do contrato.

Ambas as prestações são fungíveis, pode haver um sub-contrato de empreitada por exemplo e o dinheiro também é fungível e o pagamento tanto pode ser feito pelo próprio devedor, como por terceiro.

A coisa em si não é fungível (a prestação de facto é, em princípio, fungível), pode ou não ser, se a coisa for igual às outras o comportamento e a coisa podem ser fungíveis, Artigo 767º - regra da fungibilidade.

As partes podem convencionar a infungibilidade, de modo que só se pode ser infungível quando convencionado pelas partes ou quando a substituição do construtor prejudica o credor.

2º A celebrou com B um contrato de compra e venda de um imóvel pelo preço de 20.000 contos.

Há uma prestação de coisa quanto ao dinheiro e quanto ao imóvel.A prestação de coisa quanto ao dinheiro é fungível. Quanto ao imóvel é

infungível, porque na entrega do imóvel há entrega de chaves e tem que ser aquelas chaves daquele imóvel e não outras chaves.

A prestação de entrega do imóvel é fungível, mas o objecto dessa prestação, o imóvel é infungível.

3º A celebrou um contrato de compra e venda de um automóvel com B pelo preço de 2.000 contos, o qual seria pago em dez prestações mensais iguais e sucessivas.

Há duas prestações, entrega de dinheiro e de coisa. Ambas são fungíveis. Mas a coisa, objecto da prestação, o carro, é infungível.

Há aqui uma prestação fraccionada e o regime das prestações está previsto nos Artigos 781º e 934º.

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Caso Prático Nº 40Natália, credora de Olga por 2.000 dólares americanos,

cedeu o seu crédito a Paula. Olga, apesar de lhe ter sido notificada a cessão, por engano, pagou a dívida a Natália.

Que direitos assistem a Paula e a Olga?Temos uma cessão de créditos, nos termos do Artigo 577º, em que Natália é

cedente, Paula cessionária e Olga o devedor cedido.Nos termos do Artigo 583º, depois do devedor ter conhecimento da transmissão

do crédito através de notificação, é obrigado a cumprir perante o cessionário. Por conseguinte, Olga tendo pago depois da notificação ao cedente, terá que pagar uma segunda vez ao cessionário, cessionário que tem legitimidade para exigir o cumprimento da dívida, mesmo sabendo que o devedor cumpriu perante o cedente, depois de ter sido notificado.

O devedor cedido pode exigir ao cedente a restituição da quantia entregue através da repetição do indevido, prevista no Artigo 476º.

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Caso Prático Nº 41António deve a Carlos a quantia de 1.000 contos

derivado da compra de um tractor agrícola. Recusa-se, porém, a efectuar esse pagamento, alegando que o tractor não correspondia às suas expectativas.

Bento, parente de António, preocupado com a má imagem que este estava a dar ao nome da família, resolve pagar ele próprio esse débito. Bento paga a Carlos essa quantia e, posteriormente, exige-a a António. Este responde a Bento que não se devia meter num assunto que não lhe pertencia, pelo que se recusa a pagar. Daniel doa, por escrito particular, o seu crédito sobre Bento a Fernando, escrito esse que é exibido a Bento. Bento recusa-se a pagar a Fernando. Posteriormente, dirige-se a Daniel e paga-lhe essa quantia, o que este aceita.

Quid Juris?

Há uma sub-rogação voluntária pelo credor, nos termos do Artigo 589º. Para que esta transmissão produza efeitos, é necessária uma declaração expressa do credor (a hipótese é omissa). Se não existir uma declaração expressa no sentido de sub-rogar o devedor, aplicava-se o Artigo 592º,1ª parte em que o irmão ao pagar a dívida tem interesse, aplicam-se os efeitos da sub-rogação legal. E um deles é que não é necessária qualquer declaração expressa para que o terceiro adquira os direitos do credor (Artigo 593º).

Bento torna-se, então, credor de António e é ao mesmo tempo devedor de Daniel, que cede o seu crédito a Fernando. Através desta transmissão de créditos (Artigo 577º), Fernando passa a ocupar a posição de Daniel perante Bento e Bento é obrigado, nos termos do Artigo 583º, a cumprir com a sua dívida perante Fernando, já que a cessão de créditos lhe foi comunicada. Tendo pago a Daniel terá que pagar uma segunda vez ao novo credor, Fernando, e através da repetição do indivíduo (Artigo 476º) Bento tem direito de exigir a Daniel a devolução da quantia paga.

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Caso Prático Nº 42Em Lisboa António, Bento e Carlos venderam a Duarte

vinte vacas da manada que os primeiros eram proprietários e que se encontrava na propriedade destes sita em Évora.

Nos termos do contrato, os vendedores obrigaram-se solidariamente a entregar as vacas no prazo de 15 dias a contar da data da celebração do contrato.

Posteriormente, os vendedores celebraram um contrato com Eduardo pelo qual este se obrigava a transportar as vinte vacas da propriedade destes para o matadouro do comprador.

durante o trajecto o camião de Eduardo despistou-se, porque um veículo ligeiro se apresentou numa curva em excesso de velocidade e fora de mão. O veículo ligeiro, propriedade de Fernando, na altura do acidente era conduzido pelo motorista deste, Gustavo. Em razão do despiste as vacas não foram entregues no prazo acordado e morreram 5 das 20 vacas transportadas.

1- Nada tendo sido acordado, qual é o lugar do cumprimento da prestação de entrega das vacas vendidas?

Estamos perante uma obrigação genérica (Artigo 539º). Nada tendo sido acordado quanto ao lugar da entrega, com base no Artigo 773º nº2, o lugar é aquele onde se encontram as vacas na altura da celebração do contrato, logo é na propriedade dos vendedores.

Na altura em que separam as vacas ainda é obrigação genérica, mas quando comunicam ao comprador que as vacas estão no lugar da entrega, aqui a obrigação já é específica, transferindo-se o risco para o comprador.

2- Supondo que as partes estabeleceram que o lugar do cumprimento era no matadouro do comprador, que direitos assistem a este último?

Se as partes convencionaram outro lugar para o cumprimento. Quem correu o risco da morte das 5 vacas?

Nos termos do Artigo 796º nº2 o risco corre por conta dos vendedores, porque estes ainda não entregaram as vacas. Se o risco continua a correr por conta dos vendedores, estes, nos termos do Artigo 540º, são obrigados a substituir as 5 vacas mortas por outras vivas e o comprador pode exigir essa substituição, ou seja, pode exigir o cumprimento integral da prestação, nos termos do Artigo 763º. Enquanto os vendedores não substituem as vacas mortas por outras, estes não entram em mora, nos termos do Artigo 792º, é uma impossibilidade temporária não culposa.

Pode acontecer que não há maneira de substituir as 5 vacas. Aqui não há uma impossibilidade definitiva, mas sim uma impossibilidade temporária, nos termos do Artigo 793º, só podem cumprir com 15 vacas. Neste caso ou se resolve o contrato, sem se poder exigir uma indemnização, porque se trata de uma impossibilidade não culposa, ou então aceita o cumprimento parcial (15 vacas) e reduz o preço.

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(Redução da contraprestação).O vendedor que perdeu 5 vacas vai ter direito a uma indemnização por parte de

quem matou as vacas. Mas, de acordo com o Artigo 794º, o comprador poderá exercer os direitos que o vendedor tem perante o dono do veículo ligeiro. Neste caso já não haverá uma redução da contraprestação.

3- Partindo do mesmo pressuposto quanto ao lugar do cumprimento, que direitos assistem aos vendedores?

Os vendedores têm como direitos exigir uma indemnização ao proprietário do veículo ligeiro, Fernando, nos termos do Artigo 500º do Código Civil, por facto ilícito de Gustavo, nos termos do Artigo 483º (Facto, ilícitude, dano, imputabilidade e nexo causal - requisitos do Artigo 483º).

Estando os requisitos preenchidos, havendo uma relação comitente / comissário, se Gustavo estiver no exercício das suas funções e tiver praticado factos ilícitos durante o exercício das suas funções.

Fernando tem um direito de regresso relativamente a Gustavo. Se este não puder vamos para a execução do património.

(Artigos 562º e 566º3 - se a indemnização for em espécie; se a indemnização é feita em dinheiro).

4- Se não tivesse ocorrido o acidente, o comprador podia ter exigido a entrega das vacas ao transportador?

Não, nos termos do Artigo 406º, porque os contratos não têm eficácia externa e o comprador é terceiro no contrato de transporte. Mas se o contrato de transporte for um contrato a favor de terceiro, em que António, Bento e Carlos são promissários e a transportadora o promitente, o terceiro beneficiário, comprador, nos termos dos Artigos 443º e 444º nº3, poderá exigir o cumprimento da prestação, poderá exercer o seu direito à prestação.

3 O Artigo 562º tem prioridade sobre o Artigo 566º.

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Caso Prático Nº 43António adquiriu a Beatriz, Cristina e Duarte um cavalo

por 2.500 Kg de trigo. Ficou acordado que o adquirente faria a sua prestação nos 8 dias imediatos ao do termo da debulha que estava prevista para a última quinzena de Junho, enquanto que os alienantes só entregariam o cavalo no dia 15 de Agosto.

1- Como poderá António transmitir os direitos e obrigações emergentes desta relação jurídica para terceiro?

Para isto é necessário que exista um contrato, este tem que ser sinalagmático (ambas as partes são devedoras e credoras) e é necessário que o contrato entre o cedente, António, e o cessionário, o terceiro, seja autorizada, seja permitida pela outra parte no contrato para que a cessão produza os seus efeitos.

Além disso, o cedente tem de garantir ao cessionário a existência de um contrato, nos termos do Artigo 426º (não tem de garantir o cumprimento do contrato).

2- Quando é que se dá a exigibilidade e o vencimento das prestações de António e de Beatriz, Cristina e Duarte?

A entrega tem que ser feita a 15 de Agosto, é prazo certo, logo é prazo de vencimento. Se não cumprirem, entram em mora. O prazo antes de 15 de Agosto é um prazo de exigibilidade.

Quanto ao trigo: ou considerávamos que estávamos perante um prazo natural (incerto),

sendo que os 8 dias imediatos ao termo da debulha são um prazo de exigibilidade, prazo esse que carece de interpelação para se tornar prazo de vencimento, nos termos do Artigo 805º.

Contudo, podemos considerar que as partes no contrato acordaram critérios para a determinação futura do prazo da entrega do trigo e, nessa altura, 8 dias depois da debulha António está obrigado a entregar o trigo e se não o fizer entra em mora (há uma obrigação de informação ligada ao princípio da boa-fé por parte de António, uma vez que este tem que informar Beatriz, Cristina e Duarte quando é que começou a debulha e quando é que esta terminou. O respeito pelo princípio da boa-fé era essencial).

3- Em que lugar devem ser cumpridas as prestações de António e de Beatriz, Cristina e Duarte?

Beatriz, Cristina e Duarte são obrigados a entregar um cavalo que pode ser determinado ou não, aplicando-se o Artigo 773º nº1 ou nº2.

Quanto ao trigo, neste contrato de compra e venda o trigo é o preço do cavalo, temos que aplicar o Artigo 885º (entrega do preço).

4- Sendo Cristina menor, pode esta proceder à entrega do cavalo?

A menor vai proceder à entrega o que não equivale a um acto de disposição. Não é necessário aplicar o Artigo 764º ou o Artigo 765º. Aplica-se o artigo 767º.

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5- Tendo tido conhecimento de que Beatriz, Cristina e Duarte não estão dispostos a entregar o cavalo, poderá António usar a excepção do não cumprimento do contrato?

Excepção de não cumprimento - Artigo 428º. Segundo este artigo só se pode recorrer a este quando há prazos iguais. Se se recorrer a este artigo não entra em mora.

Quando existem prazos diferentes, era o caso, o primeiro a cumprir pode legitimamente recorrer a esta figura se tiver provas que a outra parte não irá cumprir.

Artigo 492º - se não entregar o trigo não entra em mora.

6- Tendo o cavalo, depois de entregue, sido envenenado por Eduardo e posteriormente morto por Francisco, a quem vai António pedir uma indemnização?

Temos dois factos independentes um do outro que poderiam ter causado o mesmo dano: a morte do cavalo, ou seja, temos aqui uma concorrência entre duas causas - a causa real (tiro de Fernando) e a causa virtual (envenenamento por Eduardo). E, segundo o Artigo 563º, há que atender à causa real, por conseguinte, o responsável pela morte do cavalo e o obrigado a indemnizar António seria Fernando, nos termos do Artigo 483º (facto ilícito o tiro, imputabilidade, dano a morte e nexo causal entre o tiro e a morte).

O autor da causa real poderia tentar exonerar-se da sua obrigação de indemnização, invocando a causa virtual se lhe fosse imputado o facto ilícito, nos termos do Artigo 491º, que não se aplica, nos termos do Artigo 492º, que não se aplica, nos termos do Artigo 493º, que não se aplica, ou nos termos do Artigo 807º nº2, que não se aplica.

Por conseguinte, terá mesmo que indemnizar António, entregando outro cavalo se a prestação for fungível ou pagando em dinheiro, Artigo 562º. A indemnização em dinheiro, em princípio, equivale ao valor do cavalo.

Contudo, podemos considerar que Eduardo ao envenenar o cavalo provocou uma desvalorização deste, desvalorização que equivale a um dano e então se o cavalo antes do envenenamento valia 2.000 contos e depois do envenenamento passou a valer 1.000 contos, António pode exigir uma indemnização a Eduardo pela desvalorização, ou seja, uma indemnização de 1.000 contos e a Fernando uma indemnização pela morte de um cavalo que valia, quando foi morto, 1.000 contos e não 2.000 contos.

7- Se o cavalo morrer de morte natural antes de 15 de Agosto, mas depois de efectuada a prestação de António, o que sucede ao contrato e quem suporta o risco da perda do cavalo?

Nos termos do Artigo 796º nº2, quem corre o risco é o alienante (porque ainda não entregou o cavalo). Se fosse o adquirente, já tinha havido transferência de propriedade, tinha entregue 2.500 Kg de trigo por um cavalo que morreu, não podendo reaver o trigo.

Se é o alienante a correr o risco, há uma obrigação por parte deste de substituir o cavalo morto por outro se a prestação for fungível ou genérica. Nos termos do Artigo 540º (genérica) e Artigos 790º e 792º (prestação fungível). Nos dois casos ele é

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obrigado a substituir o cavalo morto por outro, como há impossibilidade temporária não culposa ele não entra em mora.

Se a prestação for infungível, haverá uma impossibilidade definitiva não culposa de cumprimento e nos termos do Artigo 595º nº1 o comprador, António, poderá exigir a restituição dos 2.500 Kg de trigo.

Se Beatriz, Cristina e Duarte receberam 2.500 Kg de trigo e não beneficiaram, não utilizaram então têm que devolver 2.500 Kg de trigo. Se eles venderam o trigo, é a quantia que eles receberam pelos 2.500 Kg de trigo que vão entregar a António - enri-quecimento concreto. A restituição do enriquecimento é até ao limite do empobrecimento de António.

Até 15 de Agosto o comprador pode mostrar perda de interesse noutro cavalo depois de dia 15 e aí aplica-se o regime da impossibilidade definitiva e há restituição dos 2.500 Kg de trigo com as regras do enriquecimento sem causa.

8- Não tendo Beatriz, Cristina e Duarte entregue o cavalo na data acordada, o que poderá António fazer?

Não entregam no prazo de vencimento. Há duas possibilidades: Mora Não cumprimento definitivo por perda de interesse

Quanto à mora: manutenção da obrigação (continuam vinculados);

Efeitos: inversão do risco - Artigo 807º; indemnização por danos - Artigos 562º e seguintes; prazo suplementar (fixado pelo credor).(Se não cumprir no prazo suplementar passamos ao incumprimento definitivo).

Na hipótese António podia automaticamente provar a sua perda de interesse no cavalo depois de dia 15 e aí passamos ao incumprimento definitivo, nos termos do Artigo 808º.

Quanto ao incumprimento definitivo:Efeitos: resolução do contrato - Artigo 798º;

indemnização.Se se passar do prazo suplementar para o incumprimento definitivo, o credor pode

não querer resolver o contrato, recorrendo à execução específica (Artigo 827º - coisa determinada).

Há outro efeito da mora que não se aplica nesta hipótese, se António não tivesse entregue o trigo poderia recorrer à excepção de não cumprimento (Artigo 428º).

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Caso Prático Nº 44A celebrou com B, construtor civil, um contrato pelo

qual este último se comprometia a vender uma casa por 2.000 contos, mas só no caso de a mesma ficar pronta antes da data X, caso em que A ficava, desde logo, autorizado à sua ocupação.

Chegada à data X, a casa estava pronta e A instalou-se na mesma.

B ausentara-se para o estrangeiro depois de ter desbaratado parte do seu património para suportar a uma execução da UBP. É então que A se apercebe que a casa em causa, que agora valia cerca de 3.500 contos, estava hipotecada à UBP para garantia de um crédito de 2.000 contos.

Quid Juris?Primeiro interpela o vendedor para a celebração do contrato definitivo - Artigo

805º do Código Civil.Como o vendedor está ausente no estrangeiro não vai celebrar o contrato

definitivo, então o B incorre em incumprimento e o credor automaticamente recorre à execução específica, nos termos do Artigo 830º nº3 e entrega a quantia necessária para a expurgação da hipoteca, ou seja, deve estar incluída na condenação do promitente faltoso a quantia necessária para expurgar a hipoteca.

Entrega os 2.000 contos e expurga a hipoteca, nos termos do Artigo 721º e torna-se proprietário do bem.

Se ele tivesse entregue um sinal de 500 contos, como é que expurga a hipoteca? Artigo 721º b)

ou entrega 1.500 contos e aqui os credores hipotecários podem impugnar essa quantia, havendo uma venda em hasta pública, o promitente concorre e se ninguém oferecer mais do que 1.500 contos, é o promitente comprador que fica com o bem, pagando os 1.500 contos;

pode também oferecer 2.000 contos aos credores hipotecários mesmo que tenha entregue o sinal. Neste caso, fica credor de 500 contos.

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Caso Prático Nº 45A Sociedade de Automóveis do Sado Lda. vendeu, com

reserva de propriedade, a Ana Maria Cruz o automóvel DJ-85-10 pelo preço de 1.092.562$00, tendo a compradora dado de entrada 300 contos, ficou obrigada ao pagamento de 24 prestações mensais de 33.023$00. A compradora não pagou as últimas 14 prestações.

1- Pode a vendedora resolver o contrato?Tínhamos um contrato de compra e venda com reserva de propriedade e o

comprador não pagou as 14 últimas prestações.Nos termos do Artigo 934º, existindo reserva de propriedade, entrega de coisa e

não pagamento de uma ou mais prestações superiores a 1/8 do preço, pode a vendedora resolver o contrato e exigir uma indemnização se sofreu danos.

Se não tivesse havido entrega do automóvel já não se aplicava o Artigo 934º, aplicam-se os Artigos 934º, 801º nº2 e 808º.

2- O não pagamento das 14 prestações conforma situação de mora ou de incumprimento definitivo?

Há uma situação de mora nos termos dos Artigos 804º e seguintes e o credor terá direito a uma indemnização nos termos do Artigo 806º, porque estamos perante uma obrigação pecuniária, mantém-se a obrigação, há uma inversão do risco (Artigo 807º) e se a Sociedade de Automóveis não tivesse entregue o automóvel poderia recorrer à excepção de não cumprimento se a última prestação coincidisse com a entrega do automóvel (Artigo 428º).

3- Tendo o automóvel ficado destruído em razão da explosão de uma bomba colocada na garagem do prédio onde estava recolhido, a compradora continuava adstrita a pagar as prestações em falta?

Há contrato com reserva de propriedade nos termos do Artigo 909º. Neste tipo de contrato o risco corre por conta do alienante, nos termos do Artigo 796º nº3 última parte, uma vez que a cláusula de reserva de propriedade é uma condição suspensiva, sendo assim, o comprador, pela destruição do automóvel, já não estará obrigado a pagar as prestações em falta e poderia resolver o contrato e exigir aquilo que tinha entregue, nos termos do Artigo 795º nº1.

Contudo, se o automóvel tivesse sido entregue ao adquirente, o risco corre por conta deste, nos termos do Artigo 796º nº2.

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Caso Prático Nº 46A residente em Lisboa encomendou a B, fabricante de

Braga, a execução das velas de um barco de recreio de grande porte que ele se encontrava a construir. O preço seria de 900 contos a pagar em três prestações iguais e trimestrais.

1- Tendo sido aceite a encomenda, onde deverão as partes efectuar o cumprimento das respectivas obrigações?

O princípio está no Artigo 772º. Quanto à entrega estamos perante a entrega de uma coisa móvel futura, portanto o lugar do cumprimento será o lugar onde as velas estiverem prontas, nos termos do Artigo 773º nº2.

Quanto ao pagamento das prestações, aplica-se o Artigo 774º, porque estamos no âmbito de uma obrigação pecuniária.

Se fosse um contrato de compra e venda e o prazo para a entrega das velas coincidisse com o prazo da primeira prestação, nos termos do Artigo 885º nº2, a entrega da primeira prestação seria efectuada no lugar da entrega das velas. E quanto às restantes prestações continua-se a aplicar o Artigo 774º.

Artigo 1211º nº2 - contrato de empreitada.

2- Se na data de vencimento da segunda prestação D, fiador de A, se apresentar a pagá-la, pode B recusar esse pagamento?

Aqui o fiador está a fazer uma sub-rogação legal e esta sub-rogação, nos termos do Artigo 644º, não carece do acordo do credor e nem do acordo do devedor, ou seja, a sub-rogação funciona automaticamente, nos termos do Artigo 592º.

Se o credor recusar o pagamento entra em mora, nos termos do Artigo 813º, sobretudo que segundo o Artigo 768º quando a obrigação é fungível (é o caso) o credor não pode recusar o cumprimento feito por terceiro.

3- Suponha que ao serem transportadas para Lisboa por caminho-de-ferro ocorre um acidente que provoca a inutilização de duas das velas encomendadas. Poderá A recusar o pagamento da terceira prestação, enquanto as velas deterioradas não forem substituídas?

Ao serem transportadas, duas velas são destruídas. Quem corre o risco? Para responder tem que se abrir uma sub-hipótese:

ou o transporte corre por risco do adquirente, Artigo 797º, e nesse caso o risco foi transferido na altura da entrega das velas à transportadora. Por conseguinte, os adquirentes não poderão recusar o pagamento da terceira prestação. Se o fizerem entram em mora, Artigos 804º e seguintes.

Se o transporte correr por conta dos alienantes, então estes serão responsáveis pela destruição de duas velas e os adquirentes poderão, legitimamente, recorrendo à excepção de não cumprimento, Artigo 428º, não pagar a última prestação, ou então, se

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Direito das Obrigações - Casos Práticos 74

as duas velas destruídas forem insubstituíveis poderão, nos termos do Artigo 793º, ou reduzir a contraprestação ou resolver o contrato por perda de interesse.

4- Se na data da sua entrega A verificar que duas das 6 velas encomendadas não satisfazem os requisitos da encomenda, poderá recusar o recebimento de todas as velas e pedir uma indemnização a B pelos prejuízos que irá sofrer por não ter a embarcação pronta a tempo de participar numa importante regata em que se inscreveu?

Estamos perante um cumprimento defeituoso, Artigo 799º. O regime do cumprimento defeituoso dos contratos de compra e venda está previsto nos Artigos 913º e seguintes.

Os Artigos 913º e seguintes aplicam-se quando o defeito da coisa é superveniente, nasce depois da celebração do contrato.

Os Artigos 905º e seguintes nasce antes da celebração do contrato, aplicando-se a teoria do erro ou do dolo.

Se estivessemos no âmbito da empreitada aplicar-se-iam os Artigos 1218º e seguintes do Código Civil.

A recusa do cumprimento parcial é admitida por lei, nos termos do Artigo 763º, já que o princípio é o da integralidade.

Para o credor poder exigir uma indemnização a recusa terá que ser legítima, ou seja, terá que existir um verdadeiro defeito e a indemnização é devida em duas situações, numa situação de mora do devedor ou numa situação de incumprimento definitivo do devedor.

Se o credor perder o interesse na entrega de todas as velas, pode resolver o contrato e exigir uma indemnização, nos termos dos 562º e seguintes. E neste caso ele recusa as velas todas para resolver o contrato.

Ele também podia optar pelo incumprimento definitivo parcial, aceitando as velas boas e recusando as defeituosas e não haverá assim resolução do contrato.

Contudo, o credor recusou todas as velas. Ele resolve o contrato, nos termos do Artigo 793º nº2 e pede uma indemnização, nos termos dos Artigos 562º e seguintes.

Outra possibilidade é o devedor fazer a prestação mais tarde e entrar em mora e no âmbito da mora pode-se pedir uma indemnização, nos termos dos Artigos 562º e seguintes (ele é credor de velas e não de uma obrigação pecuniária, se assim fosse pedia uma indemnização nos termos do Artigo 806º).