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desarmamento
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Distribuio: www.incorreto.com.br
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2
1 APRESENTAO
Em face da retomada do debate e de proposies legislativas sobre as
restries ao direito de registro e porte de armas de fogo por parte dos
cidados civis, impe-se a necessidade de uma reflexo mais aprofundada
sobre a eficcia do Estatuto do Desarmamento.
Os argumentos aqui expostos so fruto de anos de pesquisas e
provm das mais diversas fontes. A inteno promover um debate srio e o
mais distante possvel do sensacionalismo e do teor emocional que, na maioria
das vezes, cercam esse tema. Eleger as armas de fogo legais como as
principais responsveis pelos ndices de homicdios no Brasil um engano. A
medida tem efeito semelhante do marido trado que tira o sof da sala para
evitar o adultrio da esposa, como ilustrou a jornalista Ana Amlia Lemos,
antes mesmo da lei ser sancionada pelo Presidente da Repblica. A
criminalidade no vai diminuir enquanto as instituies responsveis pela
segurana do cidado continuarem despreparadas e desaparelhadas. As
polcias esto longe de corresponder ao que delas espera a sociedade. O
Judicirio continua moroso. A fiscalizao da Receita Federal para controlar o
contrabando ineficiente nas fronteiras e aeroportos. Enfim, o cenrio no
nada animador.
Porm, mesmo com inmeras evidncias de que o impacto da restrio
do porte e da venda de armas sobre a criminalidade ser nulo, ainda h quem
defenda estas idias. Exemplo so entidades sem fins lucrativos, as
chamadas ONGs, como a Viva Rio e o Instituto Sou da Paz. Ambas
organizaes enviaram ao Supremo Tribunal Federal, no dia 09 de fevereiro
desse ano, um sumrio de argumentos, que acompanham o pedido de Ao
Direta de Inconstitucionalidade 3112, com pedido de medida cautelar da Lei
10.826 (Estatuto do Desarmamento). Listamos os principais argumentos j no
3
incio, e comentamos um a um, justificando o contraponto e acrescentando
novos dados.
Logo a seguir, apresentamos outros cinco captulos. Neles, esto
subsdios vitais para enriquecer o debate e contribuir de forma efetiva para um
assunto que influenciar diretamente a vida de todos os brasileiros.
4
NDICE
1 - ANLISE DOS ARGUMENTOS...........................................................................5
2 - ARMAS E CRIMINALIDADE NO BRASIL .......................................................28
No h relaes entre venda de armas legais e crimes letais ......................32
Diminui a venda de armas e aumentam os homicdios ..................................33
3 - A EXPERINCIA INTERNACIONAL NO CONTROLE DE ARMAS ..........36
Estados Unidos......................................................................................................37
Queda dos crimes com armas de fogo .............................................................39
Armas x crimes ......................................................................................................40
As armas e a autoproteo ..................................................................................41
A (i)lgica do desarmamento ...............................................................................42
O estudo de Kellerman.........................................................................................47
Mais armas, menos crimes ..................................................................................50
Inglaterra .................................................................................................................57
Contradies histricas ........................................................................................59
Por que a criminalidade caiu nos EUA? ............................................................60
Modernizao.........................................................................................................63
O atraso brasileiro ................................................................................................65
Falhas no sistema prisional ................................................................................67
Penas alternativas: soluo mgica?.................................................................68
Somos todos refns ........................................................................................68
Justia Criminal......................................................................................................69
Buy-back programas de recompra de armas funcionam? ..........................70
4 - TRFICO DE DROGAS E CRIMINALIDADE:
UMA ESTREITA RELAO ....................................................................................72
Estudos evidenciam relao ................................................................................73
Drogas esto por trs dos crimes contra jovens .............................................74
A fora do imprio das drogas ............................................................................75
5
5 - MITOS SOBRE ARMAS DE FOGO...................................................................80
Mito 1: O cidado no pode ter uma arma porque a
segurana dever do Estado. ............................................................................80
Mito 2: As armas legais em posse de cidados de
bem so a principal causa da criminalidade.....................................................82
Mito 3: No Brasil, qualquer um pode comprar uma arma de fogo.................83
Mito 4: A venda de armas tem crescido de
modo significativo, e isso tem gerado mais violncia......................................84
Mito 5: O Brasil um pas armado.
Existem 20 milhes de armas de fogo no Brasil. ............................................85
Mito 6: Cerca da metade dos assassinatos so cometidos por
pessoas sem antecedentes criminais; 90% dos homicdios
so cometidos por pessoas de bem. ................................................................86
Mito 7: Os pases que adotaram o desarmamento civil
zeraram a criminalidade. .....................................................................................87
6 - ARTIGOS ................................................................................................................89
O crime e o Senador Carlos Murgel................................................................89
Violncia - Causas e solues Luiz Pazos ....................................................93
Aniam contesta nmeros do Iser e do Viva Rio publicados no O Globo......95
A mdia e o lobby do desarmamento Raimundo Nicioli ...............................98
Impunidade o principal problema entrevista com o
Senador Iris Resende ........................................................................................105
Quando os liberais mentem sobre armas Cathy Young ............................107
Nossa luta por um direito bsico Luis Afonso dos Santos ........................114
Posse e porte de arma Marcos Coimbra......................................................116
Restringir o uso de armas de fogo dar
um tiro no prprio p Erik Sosdelli Camarano.............................................120
Armas e revoluo passiva Olavo de Carvalho ..........................................128
7 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ...............................................................132 2 - ANLISE DE ARGUMENTOS
6
Entre os anos de 1980 e 2000, o nmero de homicdios
subiu de 12 por cada 100 mil habitantes para 27 por 100 mil
habitantes, havendo um aumento superior a 200% (...) Devemos
adotar resolues que possam surtir efeitos imediatos,
principalmente aquelas capazes de reduzir com mais
intensidade os fatores que potencializam a violncia, dentre os
quais as armas.
(pg. 8)
O desarmamento civil citado como medida fundamental para reduzir
a criminalidade, enfim, salvar vidas. Devemos, em primeiro lugar, dizer que
dificilmente vamos encontrar um cidado honesto e cumpridor das leis que no
queira reduzir a criminalidade e viver num ambiente de maior segurana e paz.
O problema que ao dizer que a arma de fogo legalmente adquirida a
principal causa da criminalidade, os defensores do desarmamento incorrem
num grave e perigoso equvoco que poder, ao invs de diminuir, agravar
ainda mais a criminalidade letal no Brasil. Afinal, controle de armas a mesma
coisa que controle da criminalidade?
A resposta evidentemente no. Podemos ver a questo pelo menos
sob trs ngulos. Primeiramente, os defensores do desarmamento civil no
apresentam uma evidncia sequer que mostre claramente uma correlao
entre os dois fenmenos, o aumento da circulao de armas legais e aumento
da criminalidade letal; isto por si s serviria para comprometer a seriedade da
tese, pois se a arma legal no causa do crime, elimina-la no vai ajudar a
reduzir o crime letal.
Em segundo lugar, ao eleger a arma como a causadora dos crimes
letais, os defensores do desarmamento acham uma resposta fcil e
7
sensacionalista; presumivelmente ficam mais confortveis e com a conscincia
tranqila, uma vez que no esto muito preocupados em investigar as
verdadeiras causas dos crimes, abdicando assim de lutar por polticas de
combate e controle efetivo da criminalidade. Ainda que pequem pela
ingenuidade e pelo simplismo, muito mais cmodo atribuir a culpa a objetos
inanimados do que admitir que os crimes so cometidos por pessoas. E que
essas pessoas so educadas por famlias, que essas famlias vivem em
sociedade, que essa sociedade tem um Estado responsvel pela aplicao das
leis e, por conseguinte, pela segurana pblica. Ou seja, que o crime tem
outras causas bem mais complexas que envolvem uma ampla rede de fatores
de natureza social, educacional, moral, cultural e at mesmo patolgica. E que
essas causas so de natureza humana, produzidas pelos homens.
Finalmente, um terceiro aspecto a ser analisado refere-se ao enorme
preconceito que est por trs da tese do desarmamento civil; o cidado
honesto e cumpridor das leis que deseja adquirir uma arma legal para a sua
proteo tido como incapaz de faz-lo. A suposio de que os cidados
honestos no so suficientemente inteligentes e preparados para a posse legal
de uma arma, mesmo que cumpram com todas as formalidades legais exigidas
para a sua aquisio. Ora, a evoluo poltica das sociedades democrticas ao
longo da histria aponta justamente noutro sentido, o do fortalecimento da
noo de responsabilidade civil, com vistas a tornar todos os cidados iguais
em direito e em face da lei. Como ento podemos admitir que uns julguem
outros como mais ou menos aptos a fazer alguma coisa?
A pertinncia da tese do desarmamento civil choca-se de forma
inequvoca com a realidade. Tanto as pesquisas realizadas nos EUA pelo Dr.
John Lott, da Universidade de Chicago, como a experincia concreta da
Inglaterra, Frana e Austrlia, que adotaram o desarmamento civil nos anos 90,
mostram de forma inequvoca que banir as armas no reduz a criminalidade.
Ao contrrio, nestes pases tivemos no final dos anos 90 e nos primeiros dois
anos do novo milnio uma verdadeira exploso da criminalidade,
8
especialmente a juvenil. Nos Estados Unidos, ao contrrio, onde foram
adotadas leis menos restritivas, a criminalidade diminuiu de forma acentuada.
A experincia internacional evidencia tambm que as polticas de
combate posse e ao uso ilegal de armas produzem resultados altamente
positivos. Essa poltica tem dois aspectos essenciais: ao retirar armas ilegais
das mos de pessoas inabilitadas, bastante provvel que menos crimes
sejam cometidos com o uso ilegal de armas, reduzindo-se, desta forma, a
volume das aes criminosas como tambm sua letalidade. Um segundo ponto
altamente positivo que ao combater o uso ilegal, estamos ao mesmo tempo
reforando o poder das leis, uma vez que apenas as pessoas que as cumprem
esto habilitadas a faz-lo. Com isso, reforamos a idia e a prtica da
responsabilidade civil, ao invs de discriminarmos os cidados de bem,
permitindo apenas que os marginais tenham acesso a uma arma de fogo
atravs do contrabando ou outro meio ao arrepio da lei.
H uma forte carncia, em nosso pas, em expor com preciso a
relao entre armas de fogo e esse extraordinrio aumento no nmero de
homicdios. Isso ocorreu devido a uma combinao de fatores sobretudo
falncia do Estado em combater a expanso do crime organizado e do trfico
de drogas. Combinando isso falta de oportunidades de emprego, ao caos no
sistema prisional e judicirio, entre outros, teremos um ambiente propcio aos
criminosos, que colabora e at estimula a prtica de delitos.
O crescimento da criminalidade e seu avano para todas as classes
sociais so problemas que, sabidamente, no possuem uma causa isolada ou
nica; tampouco o argumento de que armas sinnimo de mais crimes foi
comprovado. Outros pases que enfrentam ou enfrentaram situaes similares
tentaram, sem xito, desarmar a populao na esperana de ver o nmero de
crimes baixar. Na maioria dos casos vide Inglaterra, Austrlia, Canad,
Frana, entre outros , o efeito foi contrrio, ou seja, os ndices subiram ainda
mais.
9
O Brasil , conforme dados da Organizao das Naes
Unidas (ONU), o pas nmero 1 em homicdios praticados por
armas de fogo no mundo. So ao todo 46 mil mortes por ano,
sendo uma a cada 13 minutos. O Brasil responsvel por 11%
das mortes por arma de fogo no mundo, possuindo 2,8% da
populao mundial. (pg. 9)
O lobby antiarmas cita freqentemente a ONU, que atribuiu ao Brasil o
ttulo de pas que mais mata com armas de fogo. Curiosamente, esquecem
de citar que o Brasil detm ainda vrios outros ttulos que, em conjunto,
explicam porque a violncia cresce de forma acelerada em nosso pas. Agora,
em 2004, a mesma ONU admitiu a danosa combinao entre o trfico de
drogas e a criminalidade, que, no Brasil, esto intimamente relacionados e
exercem um papel crucial para o atual contexto. A notcia foi divulgada pela Jife
(Junta Internacional de Fiscalizao de Entorpecentes), entidade ligada ONU,
que incluiu o Brasil entre os pases onde h relao estreita entre as drogas e
as altas incidncias de crimes. De acordo com o documento, que foi divulgado
no dia 03 de maro em Viena, grande parte dos 30 mil homicdios registrados
anualmente no pas pode ser atribuda ao trfico.
A ntima relao entre as drogas e a criminalidade explcita. E nesse
contexto de marginalidade surge grande parte das causas da exploso da
violncia, especialmente em grandes cidades, como So Paulo e Rio de
Janeiro.
Para se ter uma idia, o Brasil j o segundo maior consumidor de
cocana do mundo, ficando atrs somente dos Estados Unidos. A informao,
que havia sido publicada no jornal Washington Post em 14 de julho de 2001 e
10
em 04 de julho pela Agncia Reuters, foi reafirmada em maro de 2002 pelo
analista do Centro Contra Crimes e Narcticos dos EUA, Kerry Halpin. A
Agncia da ONU para o Controle de Drogas e a Preveno do Crime (UNCPD)
estima que, em 2001, 900 mil brasileiros usaram cocana e 100 toneladas da
substncia em estado puro (15% da produo mundial) passa pelo Brasil.
Desse montante, aproximadamente 40 toneladas so consumidas
internamente. Somado a isso, outro estudo elaborado pela ONU agora, em
2004, confirma a tendncia: segundo clculos da organizao, cerca de 30 mil
homicdios cometidos no Pas anualmente tm a ver com o trfico de
entorpecentes.
Um relatrio elaborado durante a Conferncia Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB) em 2000 apontou que o narcotrfico movimenta valores
superiores a R$ 400 bilhes anualmente. As conexes do trfico com a
sociedade em geral, segundo o documento, ficam mais claras quando se
levam em conta todas as conseqncias diretas e indiretas. Mesmo pessoas
que nunca consumiram drogas tornam-se vtimas delas quando so assaltadas
por bandidos drogados ou que roubam para comprar drogas, e conclui que o
sistema causa mais vtimas do que parece primeira vista.
O negcio bilionrio transforma favelas em zonas de guerra, corrompe
autoridades e continua destruindo milhares de famlias. No Rio de Janeiro,
segundo dados da Secretaria de Segurana Pblica, cerca de 80% dos
detentos com menos de 23 anos foram condenados por trfico de drogas.
O relatrio da Jife tambm expe a situao dos meninos de rua e dos
jovens moradores da periferia que so cooptados pelos traficantes. Eles
morrem cedo, seja porque sabem demais, roubaram drogas para usar ou
caram nas mos de quadrilhas rivais. "Dizem que eles so como moscas,
porque tm vida curta", explica o padre Jlio Lancellotti, da Pastoral do Menor.
Os garotos so vtimas, mas tambm fazem vtimas, num ciclo de violncia.
"Furto, roubo e assalto mo armada esto muito ligados droga." A soluo,
11
para ele, depende de ao preventiva e polticas pblicas srias, que evitem a
entrada do jovem no mundo do crime. Para a Jife, os pases no devem pensar
apenas em represso, mas em adotar medidas multidisciplinares, que vo
desde preveno ao consumo de drogas e mudanas na legislao para quem
usa entorpecentes at a criao de oportunidades de empregos.
Como se v, a prpria ONU reconhece, dando foco a essa questo,
que combater o narcotrfico uma das medidas mais urgentes. Simplesmente
recolher as armas de fogo dos cidados que nada contribuem para esse
cenrio chega a ser pattico.
Outros fatores que contribuem para a posio nmero 1 do Brasil no
ranking da criminalidade traado pela ONU devem ser lembrados, como
fazemos a seguir.
??Desigualdade de renda: o Brasil campeo mundial de
desigualdade na distribuio de renda. Com 21 milhes de pessoas
(14 por cento da populao) vivendo em indigncia e 50 milhes ( 33
por cento da populao) abaixo da linha de pobreza, o Brasil ocupa
esta vergonhosa posio ao lado de Serra Leoa, Jamaica, Repblica
Centro Africana, Guatemala e Paraguai.
??Impunidade: o Brasil certamente o campeo absoluto de
impunidade. Pesquisa do Professor norte-americano Steve Levitt,
mostra que somente dois em cada 100 assassinos so presos no
Brasil, enquanto que nos Estados Unidos, de cada 100 assassinos,
98,5 so condenados. A revista Veja, ao comentar a crescente
participao de menores envolvidos em crimes graves taxativa: a
razo mais forte para o fenmeno a relativa impunidade de que
gozam os menores no Brasil, graas a uma legislao que contempla
mais a sociologia do que a criminologia O Estatuto da Criana e do
Adolescente. Quando um jovem desses preso por ter cometido um
delito pesado, j sabe que dificilmente permanecer mais do que trs
12
anos detido. Alis continua a revista , o termo preso, a rigor nem
poderia ser utilizado. Menores infratores so julgados em cortes
especiais e internados em instituies como a Febem, das quais
faclimo fugir. Essa perspectiva de uma pena branda representa um
estmulo e tanto para que eles ousem cada vez mais. E conclui que
a maioria desses adolescentes no age de forma autnoma, mas a
mando de bandidos adultos, que os usam para fazer o trabalho mais
sujo. Afinal de contas, ao contrrio dos marmanjos, a molecada est
praticamente acima da lei. o estatuto da malandragem.
??Desemprego: o Brasil ocupa uma das mais destacadas posies
entre os pases que apresentam maiores taxas de desemprego
aberto e tambm desemprego estrutural no mundo. Cerca de 19 por
cento de sua fora de trabalho est desempregada atualmente; 53
por cento dos jovens brasileiros esto fora do mercado de trabalho.
Isso sem falar nos milhes de brasileiros que desistirem de procurar
emprego no mercado formal e caram na informalidade, onde as
remuneraes so ainda menores do que no mercado formal e os
direitos sociais inexistentes.
Acidentes de Trnsito: o Brasil campeo mundial de acidentes de
trnsito, batendo o recorde de 25.513 mortes apenas em 1998. Em 1999,
20.178 mil, em 2000, 20.049 e em 2001, 20.030. Ou seja, em cinco anos,
segundo o Denatran (h clculos mais pessimistas que estendem esse nmero
para 35 mil/ano), 85.770 pessoas foram vitimadas nas ruas e estradas do pas,
e ningum cogita porque dificilmente seria vivel que apenas motoristas
profissionais possam guiar um veculo, ou mesmo a hiptese de proibir o
acesso dos cidados aos automveis. Mesmo com o novo Cdigo de Trnsito,
em vigor desde 1998 com normas mais severas, as estatsticas assustam.
Nesse ano, como se v, as mortes no trnsito decresceram 24,7%. Porm,
essa reduo est diretamente vinculada com a massiva fiscalizao que foi
feita naquele ano. Na medida em que vai se relaxando na fiscalizao, os
13
nmeros estarrecedores de mortes vo subindo (na mesma proporo).
Estamos voltando aos mesmos nmeros de 1997 e perdendo a cada dia todas
as conquistas obtidas com o novo Cdigo, como a obrigatoriedade do uso de
cinto de segurana. Imagine com leis impostas a criminosos.
??lcool e Trnsito: o Brasil tambm campeo na ocorrncia de
acidentes de trnsito cujo motivo o uso indevido de lcool.
Segundo o Programa Nacional de Ao Antidrogas do Ministrio da
Justia, o lcool responsvel por 76.000 acidentes de trnsito a
cada ano; informa ainda que o lcool responsvel direto pela morte
de 3.000 adolescentes brasileiros a cada ano.
??Mortalidade Infantil: o Brasil ainda um dos campees mundiais de
mortalidade infantil: a cada hora morreu uma criana com menos de
um ano de idade por falta de cuidados no pr-natal; a cada 7 horas
trs crianas morrem por desnutrio infantil; a cada 7 horas morrem
71 brasileiros por falta de assistncia mdica adequada.
??xodo Rural e marginalidade urbana: o Brasil foi tambm um dos
grandes campees no exodo rural e do crescimento desordenado
das cidades. Nos ltimos trinta anos, as grandes cidades se
tornaram depsitos de pobres e miserveis, sem emprego ou em
empregos precrios, sem saneamento, sade pblica, remdios e
habitao. Hoje, 80 por cento da populao vive e sobrevive nas
cidades que, despreparadas para receber a enorme demanda social
por servios pblicos, so um estmulo adicional criminalidade.
Neste contexto econmico e social, de nada adianta reclamar que a
criminalidade violenta cresce gravemente no Brasil. De fato, ningum discorda
que os nmeros so graves. preciso reconhecer, no entanto, que
necessitamos de solues que enfrentem as verdadeiras causas do aumento
da criminalidade no Brasil.
14
A presena da arma de fogo fator catalisador da
violncia, como demonstra o quadro a seguir.(Homicdios no
Brasil por Estado 2000/Porcentagem de Homicdios com Uso
de Arma de Fogo, fonte Datasus, com anlise do Iser)
(pgs.11 e 12)
A criminalidade aumentou gravemente no Brasil, coincidentemente, a
partir dos anos 90. Este fenmeno no pode ser entendido a partir de um
diagnstico simplista, que elege, sem nenhuma comprovao, a arma de fogo
como causa determinante dos homicdios.A arma de fogo, em mos do
cidado, tem sido vista pela moderna criminologia norte-americana como um
importante instrumento de dissuaso, e, portanto, de defesa, atravs do qual o
cidado de bem inibe a ao dos criminosos. Esta tese j est amplamente
comprovada pela queda dos crimes violentos em todos os 32 estados norte-
americanos que estimularam seus habitantes aptos a portarem armas.
No existe relao entre armas legais, ou seja, armas devidamente
registradas, e os ndices de criminalidade. O que existe uma relao entre
crime organizado, trfico de drogas e crimes violentos. Exemplo disso que
um dos Estados legalmente mais armados do Pas, o Rio Grande do Sul, no
possui taxas de crimes mais altas em relao a Estados como So Paulo e Rio
de Janeiro.
Com sete vezes mais armas legais que So Paulo, o RS apresenta
uma taxa de homicdios 3,8 vezes menor. Basta conferir as tabelas abaixo. A
primeira compara os trs Estados mencionados quanto s taxas de homicdios
por 100 mil habitantes. J a segunda compara o nmero de armas e de
habitantes/arma legal.
15
Ao contrrio do que muitos pensam, grande parte dos
homicdios em territrio nacional no cometido por
bandidos, mas por pessoas de bem, na maioria derivados
de motivos fteis. Em So Paulo, segundo dados da Secretaria
de Segurana Pblica, quase 50% dos homicdios so
cometidos por pessoas sem histrico e por razes banais.
(pg. 13)
Ao contrrio do que afirma o lobby antiarmas, a criminalidade cresce no
Brasil pela ao cada vez mais desinibida do crime organizado, especialmente
das redes de narcotraficantes. Pesquisa realizada pelo Professor Jos Pastore,
da Universidade de So Paulo, demonstra que 82,6 por cento dos crimes
16
cometidos no Estado so praticados por reincidentes, ou seja, por pessoas
com antecedentes criminais. A crescente participao de adolescentes presos
por participarem de assaltos, tentativas de homicdios e homicdios (como j foi
comprovado por vrios especialistas e conforme j evidenciou a revista Veja,
em 8 de novembro de 2000) mostra que a maioria desses adolescentes no
age de forma autnoma, mas a mando de bandidos adultos, que os usam para
fazer o trabalho mais sujo. Esses menores so presos, em seguida internados
na Febem e, logo adiante, esto novamente nas ruas. O que no se entende
que, apesar da forma gritante com que esta realidade se apresenta ante
nossos olhos, o lobby antiarmas insiste em colocar o crime organizado e o
banditismo urbano num plano altamente secundrio na explicao do crime nas
grandes cidades. Quais os interesses que esto por trs desta curiosa viso?
Mas o erro primrio que est por trs da afirmao dos lobbies
antiarmas, como esclarece Luiz Afonso Santos, em seu livro Armas de Fogo,
Cidadania e Banditismo, consiste em confundir, maliciosamente, homicdios
cometidos com homicdios esclarecidos, que so apenas 50 por cento do total
investigado. Santos esclarece que na investigao dos crimes por motivos
fteis, a polcia tem mais elementos em mos para trabalhar, por se tratar de
protagonistas, vtimas e autores, com relacionamento conhecido, quando as
informaes chegam com maior facilidade. O mesmo no ocorre com a quase
totalidade dos crimes no apurados e que por isso no entram na estatstica
pela falta total de informaes pelos mais diversos motivos, e o principal
deles que so cometidos por bandidos que ou intimidam testemunhas ou
ento fazem o servio sem deixar pistas.
No Brasil, de acordo com Santos, existe ainda outro agravante: a
legislao brasileira prev que uma pessoa somente pode ser considerada
como tendo antecedentes criminais aps uma condenao definitiva. Ora, no
Brasil, no raro isso demora anos, em razo dos inmeros recursos cabveis, o
que no raro faz com que o indivduo que praticou dezenas de crimes seja
considerado sem antecedentes criminais. No possumos dados seguros e
17
confiveis de crimes praticados por pessoas com antecedentes criminais, mas
a realidade norte-americana oferece uma boa pista: em 1988, nas 75 maiores
cidades americanas, mais de 89 por cento dos homicidas tinham registros
criminais como adultos.
Outra mentira repetida insistentemente pelo lobby antiarmas (sem a
correspondente apresentao da base de dados de suas estatsticas) de que
a facilidade com que as pessoas obtm uma arma de fogo nas grandes
cidades tem transformado brigas em assassinatos, feridos em mortos,
discusses em tragdias, todos os dias. No verdade que fcil obter
armas legais nas grandes cidades. Para adquiri-las preciso cumprir a lei, que
muito rigorosa em suas exigncias. Por exemplo, para adquirir uma arma os
candidatos devem apresentar bons antecedentes e ainda comprovar
comportamento social produtivo, de justificar perante a autoridade policial a
necessidade de faz-lo! Como ento, diante disso, afirmar que fcil adquirir
uma arma! A no ser que estejam se referindo ao mercado ilegal. Neste trata-
se de represso policial e no de desarmar o cidado de bem que obtm sua
arma por meios legais. Mas, o que mostra que a afirmao do lobby antiarmas
falaciosa, o fato de que regies do pas que possuem o maior nmero de
registro e portes de armas como o Rio Grande do Sul, com a relao de 10,
86 armas por habitante , ou seja, onde a populao est mais armada,
apresentam os menores ndices de criminalidade.
A auto-defesa, defendida pelas pessoas comuns que
adquirem um revolver legalmente, com a finalidade de se
proteger dos criminosos, na maioria das vezes um tiro que sai
pela culatra. (pg.14)
Ao contrrio: o cidado desarmado sempre se insere num contexto de
maior exposio ao crime, decorrente de os bandidos passam a ter a certeza
18
de que suas vtimas esto desarmadas e indefesas. A Inglaterra, um exemplo
isolado e fracassado de desarmamento civil, est experimentando o
crescimento acelerado dos crimes violentos de proibir a posse e o porte de
armas em seu territrio: a ocorrncia de roubos e assaltos aumentou em 117
por cento, especialmente os assaltos a residncias e, por outro lado, hoje o
numero de armas clandestinas estimado pela polcia em trs milhes, contra
as 200 mil vendidas compulsoriamente pelos cidados ingleses ao governo. A
situao atingiu tal gravidade, que em vrias cidades a polcia inglesa,
quebrando uma longa tradio histrica, passou a utilizar armas no
patrulhamento a p.
Segundo a notcia da agncia Reuters, de outubro de 1998: Voc
corre maior risco de ser atacado na Inglaterra do que nos Estados Unidos,
segundo um novo estudo sobre criminalidade apresentado com alguma
consternao na Inglaterra no domingo passado. O trabalho conduzido por um
professor da Universidade de Cambridge e um estatstico do Departamento de
Justia norte-americano mostra que os ndices para crimes srios, tais como
assaltos, roubos, invaso de domiclios e roubo de automveis, so todos mais
altos na Inglaterra e Pas de Gales do que nos EUA Mais adiante, informa que
em 1995 ltimo ano para o qual existem estatsticas completas -
aconteceram 20 assaltos para cada 1000 pessoas na Inglaterra e Pas de
Gales contra apenas 8,8 nos Estados Unidos. O ndice de roubos hoje 1,4
vezes maior na Inglaterra e Pas de Gales do que nos EUA e a taxa de
arrombamentos em residncias quase o dobro da americana. Esse o
resultado das polticas de desarmamento dos cidados que cumprem as leis.
No h direito constitucional de portar uma arma.
(pg. 19)
19
O Cdigo Penal nos garante a legtima defesa e a Lei n 9.437/97, a
posse e o porte de armas de fogo. Legalmente podemos possuir e portar armas
e us-las contra atacantes, respeitados os limites da lei. A legislao no
impede que nos defendamos. Esta parece ser uma questo clara, mas no . A
reao da vtima ao agressor no est sendo bem vista pela estratgia do atual
governo no combate violncia.
Como atualmente tudo o que se faz no pas passa por uma discusso
sobre os Direitos Humanos, vamos pensar a questo da legtima defesa por
esse aspecto, procurando ver alguma contradio entre a legislao vigente e
a Declarao Universal dos Direitos Humanos. Vejamos o que dizem alguns
artigos deste documento:
Artigo I Todas as pessoas nascem livres e iguais em
dignidade e direitos. So dotadas de razo e conscincia e
devem agir em relao uma s outras com esprito de
fraternidade.
Artigo III Toda a pessoa tem direito vida,
liberdade e segurana pessoal.
Artigo XVII Toda pessoa tem direito propriedade,
s ou em sociedade com os outros. Ningum ser
arbitrariamente privado de sua propriedade.
Artigo XXX Nenhuma disposio da presente
Declarao pode ser interpretada como o reconhecimento a
qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer
qualquer atividade ou praticar qualquer ato destinado
destruio de quaisquer dos direitos e liberdades aqui
estabelecidos.
20
Se formos analisar a fundo nossa realidade e compar-la ao que prev
essa Declarao, constataremos que, ao permitir a existncia de um
banditismo desenfreado no pas e a ocorrncia de uma imensa e crescente
quantidade de crimes contra a pessoa, o Estado est violando, com a sua
omisso, o Artigo III. Ao impedir que o cidado se arme, para garantir sua
defesa, o Estado tambm est violando artigo XXX, e colaborando para que os
criminosos obtenham xito na violao dos artigos I e XVII.
Para quem comete crimes, as leis de desarmamento so totalmente
ignoradas. Se analisarmos a questo da violncia com objetividade, veremos
que o banditismo o responsvel pela imensa maioria das violaes dos
Direitos Humanos da populao. E no h como se defender estando
desarmado. Est mais do que provado que os pases que permitem aos seus
cidados de bem um maior acesso s armas de fogo convive com as menores
taxas de homicdios, preservando assim a vida de milhares de inocentes.
75% dos crimes so cometidos por armas brasileiras e
de calibre permitido, ou seja, proveniente de nossas fbricas.
(pg. 15)
O estudo citado para sustentar a afirmao falsa acima enunciada
jamais foi apresentado publicamente. um estudo fantasma. Todos sabemos
que bandido no compra arma em loja. O jornal O Estado de so Paulo, em 22
de junho de 2000, publicou matria com o seguinte ttulo: Venda de armas no
Pas ca, mas violncia cresce. E afirma categoricamente: Nos ltimos seis
anos, apesar de a violncia vir apresentando crescimento visvel em capitais e
grandes cidades, a venda de armas de porte (categoria que incluir revolveres e
pistolas) no Pas caiu 59 por cento, segundo o Exrcito, que acompanha esse
comrcio nos Estados. Essa estatstica joga por terra a premissa do governo
federal de que, suspendendo a venda legal de armas por seis meses, como foi
21
anunciado no Plano Nacional de Segurana Pblica, a criminalidade ser
reduzida. Em seguida, informa que o nmero de assassinatos cresceu, entre
1979 e 1998, em 273 por cento!
Estudo encomendado pelo Ministrio da Justia e realizado pelo IBGE
em 1999, que leva o ttulo de Mortes Violentas um panorama dos homicdios
no Brasil, reconhece que consensual a escassez de estudos empricos e de
informaes estatsticas que permitam analisar a magnitude e a incidncia da
criminalidade no pas, para mais a frente reconhecer que os registros de
ocorrncia apresentam falhas em seu preenchimento, alm de no serem
padronizados, o que impedem qualquer comparao nacional.
Mas, se como afirma o lobby antiarmas, as armas legais so
desviadas por empresas de segurana ou at pela polcia, trata-se de coibir
estas prticas ilegais, jamais penalizar o cidado de bem que adquire sua arma
legalmente pela prtica de um crime o desvio praticado por delinqentes.
Alm de restringir a comercializao e o porte de
armas, a Lei 10.826/03 estabelece uma srie de mecanismos de
identificao das armas de fogo e de sua munio, que
viabilizam o rastreamento do seu caminho, permitindo a
localizao dos desvios e do trfico ilegal de armas. (pg. 17)
Buscando informaes tcnicas a respeito desse tpico, veremos que,
na prtica, de nada adiantar os mecanismos de identificao para que armas
ilegais continuem a ser utilizadas por criminosos. Isso porque nos processos
tradicionais de fabricao de canos, a operao de raiamento realizada por
corte de material utilizando uma ferramenta especial com o perfil das raias que
se pretende obter. Cada ferramenta produz uma certa quantidade de peas
(poucas centenas de canos), tornando-se necessrio reafi-la, num processo
22
executado em retficas. A reafiao faz com que entre um lote e outro de
canos possam ser identificadas pequenas diferenas, do ponto de vista
microscpico, provocadas por pequenas marcas deixadas no processo de
retfica na ferramenta de raiar. Alm disso, eventualmente, ocorre que
pequenos cavacos, produzidos na operao de raiar, sejam arrastados ao
longo do cano gerando as diferentes impresses que diferenciam este canos
dos demais produzidos em um lote.
Estas diferentes impresses de raiamento, quando ocorrem, podem
ajudar um perito, devidamente equipado com um microscpio, a associar um
cano ao projtil por ele disparado. No entanto, deve ser ressaltado que, dentro
de um mesmo lote de canos feitos pela mesma ferramenta, quando no ocorrer
o arraste de cavacos, o que na realidade um fato acidental do processo, ser
gerada uma quantidade de canos absolutamente iguais.
Em processos mais modernos de fabricao, o raiamento obtido por
deformao a frio num processo chamado de bilhamento. Neste processo uma
ferramenta de metal duro, extremamente polida e com o perfil do raiamento
que se pretende obter, arrastada ao longo do furo do cano. A ferramenta, por
ser de metal duro, no sofre desgaste perceptvel na fabricao de uma srie
de canos. Alm disso, como no envolve a retirada de material, no gera
cavacos e, conseqentemente, no h marcas para diferenciar um cano do
outro. Assim sendo, canos de mesmo lote e materiais produzidos pela mesma
ferramenta so absolutamente iguais.
Desta maneira, podemos concluir que, tanto em um processo de
fabricao quanto no outro, sero sempre gerados grupos de canos que iro
produzir impresses nos projteis, mas que no podero ser distinguidas umas
das outras, inviabilizando assim completamente o trabalho do perito.
Deve-se levar em conta, ainda, que o fato do fabricante arquivar um
projtil com a impresso do raiamento de cada arma produzida, devido aos
problemas descritos acima, no ter nenhuma utilidade para a percia, pois um
23
projtil recolhido no ambiente do crime no poder definir a arma correta que o
disparou. Se a percia estiver de posse da arma suspeita, ento ser possvel
fazer uma comparao entre o projtil recolhido e um novo projtil a ser
disparado por esta arma, no sendo necessrio comparar com o projtil
arquivado no Sinarm. A nica situao em que o arquivamento de projteis
pelo fabricante ter alguma utilidade ser na comparao do projtil disparado
pela arma suspeita com o projtil correspondente esta arma no arquivo do
fabricante. Neste caso, o arquivo do fabricante servir para comprovar se
houve ou no a troca do cano da arma.
Por todas essas razes, o artigo acima citado no possui nenhuma
utilidade.
As armas apenas potencializam desfechos fatais a
conflitos necessariamente existentes dentro de qualquer
comunidade. (pg. 23) a restrio ao porte de arma por
pessoas comuns tambm reduz o risco de morte do prprio
portador e daqueles que esto ao seu lado. (pg. 30)
No Brasil, no existe estudos de anlise de risco que comprovem esta
afirmao. Na experincia internacional, o nico estudo existente, realizado nos
Estados Unidos, mostra que as armas salvam inmeras vezes mais vidas do
que tiram. Ambas afirmaes acima, portanto, jamais foram constatadas; so
apenas suposies.
As pessoas acreditam que possuir uma arma lhes assegura melhores
condies para defender suas vidas porque a realidade mostra que isso
absolutamente verdadeiro. O lobby antiarmas cita uma suposta pesquisa
elaborada pela Secretaria de Segurana Pblica de So Paulo, que nega sua
autoria, para concluir que um cidado que possui arma de fogo tm 57 por
cento mais chance de morrer em um assalto do que os cidados desarmados.
24
No explicam como chegaram a esta concluso, quais dados foram usados,
como foram coletados, a qual perodos se referem. mais um estudo
fantasma!
A experincia concreta e os dados e estudos disponveis mostram o
contrrio. Basta lembrarmos a relao entre registros de armas e porte e
nmero de homicdios, na regio Sul, e do Rio Grande do Sul e Santa Catarina,
em particular. Nesta regio, temos a maior taxa de registros de armas e portes
do pas e um dos menores ndices de criminalidade!
No plano internacional temos dois exemplos gritantes: na Inglaterra,
depois do desarmamento, aumentou em 117 por cento o nmero de assaltos e
roubo residncias, sabidamente desprotegidas. Nos Estados Unidos, estudo
realizado pelo Professor Gary Kleck, da Universidade da Flrida, juntamente
como os criminologistas Don B. Kates e David Kopel, denominado Guns and
Violence in Amrica, comprovou que para cada uma vida perdida so salvas
entre 25 e 75 vidas por uso de armas de fogo.
Outro estudo realizado pelos professores James Wright e Peter Rossi,
denominado Armed and Considered Dangerous: A Survey of Felows and Their
Firearms, patrocinado pelo Departamento de Justia americano, apontou o
cidado armado como o mais efetivo meio de impedimento do crime na nao.
A pesquisa realizada com mais de 1800 criminosos mostrou que:
??81% afirmaram que procuram saber antes se a vtima est armada;
??74% dos bandidos afirmaram evitar entrar em residncias onde
sabem morar cidados armados;
??40% disseram que deixaram de cometer crimes por medo de que a
vtima estivesse armada;
??57% afirmaram temer mais o cidado armado do que a prpria
Polcia;
25
?? 56% disseram no abordar vtimas que desconfiem estar armadas.
A razo para este comportamento simples: a arma na mo de um
cidado de bem funciona como decisivo instrumento de dissuaso contra o
crime.
Um outro estudo, uma das mais interessantes pesquisas de vitimizao
realizadas no Brasil, divulgada pelo Banco Mundial (World Bank) em 2002, de
autoria de uma equipe de pesquisadores da Universidade de So Paulo USP,
sob coordenao do professor do Departamento de Cincia Poltica, Leandro
Piquet Carneiro. Os dados abrangem a Regio Metropolitana de So Paulo e
contrastam com levantamentos e concluses sensacionalistas que apontam
para um quadro de grave pavor da populao em relao criminalidade em
todo o pas.Dentre as concluses, est a de que o que predomina de forma
destacada no Brasil o chamado street crime e house crime. No primeiro
caso, combat-lo requer a presena mais ostensiva da polcia, aes sociais
preventivas e o exerccio da autoridade efetiva e simblica da justia criminal;
no segundo, alm dos efeitos positivos da maior efetividade da ao policial,
preciso contar com a possibilidade da dissuaso atravs da autodefesa. Por
isso, inimaginvel retirar do cidado o direito de defesa de sua residncia e
de sua famlia.
Ao contrrio do que insistem em afirmar os defensores do
desarmamento, os crimes no Brasil no so majoritariamente provocados por
motivos fteis: 75% deles so economicamente motivados, ou seja,
objetivavam alguma vantagem material. Os que possuem outro tipo de
motivao, passionais ou desavenas interpessoais, representam apenas 15 %
dos casos.
A pesquisa tambm desmente de forma categrica a tese dos
defensores do desarmamento que afirmam ser a arma de fogo a principal
causa da criminalidade no Brasil. Pelos dados, percebe-se que o emprego de
arma de fogo a pesquisa no detecta se a arma legal ou no limita-se a
26
apenas 14,85% dos casos. Se a questo combater a criminalidade atravs da
eliminao de objetos usados nos episdios que resultam em crimes, ser
preciso antes proibir golpes, tapas, socos, facas, etc.
O Estatuto ter impacto direto no mercado ilegal de
armas. Diferentemente do mercado de drogas, as armas sempre
tm uma origem legal. (pg; 32)
Armas legais no fabricam criminosos. absurda a afirmao de que o
cidado de bem indireta ou involuntariamente ajuda os criminosos ao comprar
uma arma legal. Essa uma tese sobretudo preconceituosa, pois supe que
todos os cidados agem sem a plena conscincia de suas responsabilidades
civis e legais. Dizer que eles se iludem cham-los, no mnimo, de ingnuos
ou irresponsveis, o que representa uma ofensa inaceitvel para uma proposta
que prega a democracia e a participao social.
A venda legal de armas, como j mencionamos, caiu de forma
significativa no Brasil e nem por isso a criminalidade diminuiu. O mercado
ilegal, ao mesmo tempo, tem crescido assustadoramente. Quase diariamente
lemos vemos no noticirio armas de grossos calibres, dignas de guerra, como
tambm de uso restrito das Polcias e Foras Armadas, em poder dos
criminosos. Para encarar esse problema, so cruciais medidas repressivas por
parte do governo em nossas fronteiras e tambm internamente. At porque
atravs do mercado ilegal de armas produzidas no exterior que o
narcotrfico se abastece de armamento pesado. A maioria dos crimes
esclarecidos cometida por bandidos reincidentes, que compram armas,
obviamente, no mercado clandestino. Hoje, eles so os maiores responsveis
pelo aumento de assaltos, seqestros e outros crimes violentos com armas de
fogo.
27
Existe um mito que o Brasil um pas onde a armas de fogo esta
banalizada. No verdade. Os Estados Unidos, a Noruega, o Canad, a
Finlndia, Frana, Nova Zelndia, Austrlia, Belgica, Suia, Itlia, Sucia,
Espanha e Irlanda so pases mais armados do que o Brasil e possuem taxas
dez ou vinte vezes menores de crimes. Como explicar a diferena? Neles no
existe mercado ilegal? No existe a possibilidade de que um proprietrio de
uma arma legal ser assaltado e sua arma parar na mo de um bandido?
Todos esses pases so desenvolvidos ou em desenvolvimento.
Possuem polcias mais eficientes. A impunidade menor e as comunidades
so mais organizadas e atuantes. Essa a diferena fundamental. Por
exemplo, a Inglaterra proibiu a venda de armas de fogo em 1997 e existem
hoje no pas um mercado ilegal estimado em 3 milhes de armas, como
noticiou o jornal The Guardian.
A lgica : proibir estimula o mercado ilegal. A opo : legalizar,
regular e controlar. prefervel o controle do que a ilegalidade.
A maior fabricante de armas curtas do Brasil, a Forjas Taurus, numa
deciso cautelar, no exporta armas para o comrcio (mercado civil) do
Paraguai desde outubro de 1999, quando descobriu que esse pas estava no
centro das operaes do trfico de armas e de drogas.
Outra medida que, evidentemente, surtiria efeito, a melhoria no
controle do estoque de armas apreendidas e das adquiridas por empresas de
segurana. H casos relatados pela Polcia de armas que foram apreendidas e
depois voltaram s ruas vrias vezes.
O controle das armas apreendidas pelas foras policiais so deficientes
e no h como responsabilizar o cidado honesto ou a indstria de armas pela
inpcia ou por falhas na guarda dessas armas pela polcia ou pela falta de
segurana das empresas de segurana privada. A responsabilidade da
conduta humana e atribuir s armas legais essa responsabilidade uma
28
acusao leviana. a mesma lgica hipcrita de querer reduzir os acidentes
de trnsito proibindo a fabricao de automveis.
Basta analisar cuidadosamente a veracidade das informaes
apresentadas pelos defensores do desarmamento civil. Segundo a ONG Viva
Rio, o nmero de armas clandestinas fabricadas no Pas chega a 20 milhes.
Conforme dados da Forjas Taurus, em 40 anos, foram fabricadas 10
milhes de armas, sendo que 50% dessa produo foi exportada e outros 50%
foram comercializados para as Polcias Civil, Militar e Foras Armadas, como
tambm para empresas de segurana pblica. Ou seja: se essa conta est
correta, 10 milhes de armas a mais foram colocadas no mercado ilegal, o que
um absurdo.
Dados obtidos atravs do Sistema Nacional de Armas (Sinarm) indicam
que, em 2002, foram apreendidas 73 vezes mais armas do que no ano de
1990. Existem clculos da Polcia Federal que apontam a presena de cerca de
47 mil armas somente nas favelas cariocas. Os bandidos do Rio, como j foi
conferido in loco por vrios policiais, tm hoje arsenais dignos de guerra.
A pesquisa do Iser que concluiu pela existncia de um alto percentual
de armas de fabricao nacional entre as armas apreendidas pela polcia no
Rio de Janeiro falha. Ela no indica o motivo pelo qual a arma foi apreendida:
uma arma pode ser recolhida por ter registro vencido, porte vencido, no ter
registro ou no ter porte. Esto misturadas nesse lote escolhido pela pesquisa
armas usadas em crimes e armas apreendidas por motivos burocrticos. Alm
do mais, se no Brasil so apurados em mdia apenas 8 % dos crimes
violentos, como dizer que a armas de fabricao nacional est presente nos
demais 92% dos crimes no apurados?
29
2 - ARMAS E CRIMINALIDADE NO BRASIL
A anlise da relao entre armas de fogo legais e crimes violentos
enfrenta, conforme j salientamos, uma srie de dificuldades, principalmente
resultantes da ausncia de informaes precisas sobre o envolvimento de
armas de fogo nos crimes. Os dados que do amparo para a afirmao de que
65% dos casos de homicdios foram cometidos por arma de fogo proveniente
das informao do Sistema de Informaes sobre a Mortalidade (SIM), do
Datasus, do Ministrio da Sade.
Por ser um indicador de sade, naturalmente no traz mais nenhuma
informao sobre a situao da arma, do agente e sobre as circunstncias dos
crimes. A primeira dificuldade, portanto, reside no fato de que no sabemos se
as armas empregadas nesses crimes esto em situao regular, so legais,
ou esto em situao irregular. Ou, at mesmo, se so armas de calibre cuja a
venda permitida para civis no Brasil, ou se so armas com calibres
proibidos.
Por sua vez, os registros efetuados pelas polcias, no caso dos
homicdios, fornecem apenas dados completos sobre um universo muito
pequeno dos crimes, pois se restringem, por razes bvias, aos crimes
apurados. Segundo estimativas, abrangem apenas 8% do total, uma amostra
muito pequena para qualquer generalizao segura sobre um padro
observvel na totalidade dos crimes de homicdio.
Basicamente por causa dessas duas razes, as anlises sobre a
possvel relao entre armas legais e crimes deve se valer de outras
metodologias, com base em dados agregados.
30
Antes de apresentarmos a anlise que aponta a dificuldade de
correlacionar positivamente as armas legais e os crimes violentos, importante
citar um importante estudo que lana novas luzes sobre a dinmica dos
homicdios no Brasil. Trata-se da pesquisa Homicidas e Homicdios:
reflexes sobre a atualidade urbana de So Paulo, de autoria do jornalista
Bruno Manso.
Ele analisou dados de 876 inquritos policiais na Regio Metropolitana
de So Paulo, entre 1998 e 2000. Segundo o autor, ao contrrio do que afirma
o Senador Renan Calheiros, que os homicdios so perpretados por pessoas
de bem por motivos fteis, 76% dos homicdios so assassinatos
planejados, portanto, premeditados e envolvem acertos de contas entre
bandidos.
Assim, ao contrrio do que supe tambm o discurso dos
desarmamentistas, a maior parte dos homicdios ocorre como uma forma de
os criminosos resolverem suas desavenas. De acordo com o estudo, a
premeditao explica-se pelo fato bvio de que, num ambiente criminoso, onde
no existe a intermediao do Estado, o homicdio planejado se torna a nica
forma de resolver as disputas entre os criminosos.
Outra concluso importante desse estudo, compatvel com outras
pesquisas, que, na dinmica dos homicdios, atua fortemente o fator drogas.
Ele aponta o envolvimento das drogas em nada menos do que 67% dos casos
analisados.
A seguir, apresentamos as concluses da anlise sobre a relao entre
estoque de armas legais e ndices de crimes com base em trs metodologias
diferentes.
A primeira delas compara a evoluo da venda de armas legais em
So Paulo (capital) e a emisso de portes com as tendncias dos crimes de
roubos e furtos. Em seguida, feito um outro exerccio, comparando-se os
31
dados de armas apreendidas pela polcia com as mesmas tendncias de
crimes (roubos e furtos).
Os dados da Tabela 1 mostram que a venda de armas legais vem
decrescendo de forma sistemtica e consistente em todos os anos da srie,
desde 1994. Observando-se os anos extremos da srie, v-se que, em 2002, a
venda correspondeu a um quarto do volume vendido em 1994.
A emisso de portes de armas tambm teve uma queda expressiva,
conforme podemos verificar nos dados da Tabela 1. Em 2002, foram emitidos
17 vezes menos portes do que em 1994. Em 2002, apenas 3.900 portes foram
autorizados.
Enquanto isso, o volume dos roubos e homicdios apresentou
comportamento ascendente, e, no caso dos homicdios, houve persistncia das
ocorrncias num patamar elevadssimo. A taxa de homicdios na Regio
Metropolitana de So Paulo mais do que o dobro da taxa mdia nacional,
alcanando 65 casos por 100 mil habitantes a cada ano.
32
Em outras palavras, enquanto as vendas de armas legais caram 76%
e a emisso de portes decresceu 94%, quando comparados os anos 1994 e
2002, os crimes de roubos aumentaram 73% e os homicdios permaneceram
no mesmo patamar, de 50,7 casos por 100 mil habitantes.
A reduo da venda de armas e a da emisso de portes no tiveram
nenhuma influncia positiva na reduo dessas duas modalidades graves de crimes.
Quando acrescentamos a esse quadro o volume de armas apreendidas
pela polcia supe-se em situao irregular o mesmo fica ainda mais
dramtico. Conforme podemos observar, foram apreendidas, entre 1996 e
2002, no Estado de So Paulo, segundo dados da prpria polcia, nada menos
do que 244 mil armas de fogo.
Para termos uma idia da magnitude das apreenses, basta lembrar
que o estoque de armas legais, em So Paulo, no ano 2000, era de exatas 495
mil armas. As apreenses retiraram o equivalente a mais da metade do
estoque de armas legais, e nem por isso a criminalidade (roubos e homicdios)
baixou, ao contrrio.
Ou seja, So Paulo vem promovendo uma severa poltica de
desarmamento civil atravs da reduo da emisso de registros e de portes e
da imposio de barreiras financeiras atravs do alto preo desses documentos
sem afetar a criminalidade. Reduziu drasticamente o estoque de armas em
situao irregular, sem que, da mesma forma, houvesse efeito positivo nos
ndices de crimes.
A mesma assimetria na comparao entre a densidade de armas de
fogo e crimes ocorre tambm no Rio de Janeiro. O Rio de Janeiro vem
implementando uma poltica de desarmamento h mais de oito anos, tendo,
nesse perodo, apreendido aproximadamente 80 mil armas. Segundo o Viva
Rio, a mdia de apreenses/ano de 10 mil armas.
33
Complementando esse quadro, foi praticamente cessada a emisso
de portes desde 1994 o total de portes emitidos no Estado alcana pouco
mais de uma centena. Ou seja, a totalidade do estoque de armas em mos de
civis pode apenas ser mantida nas residncias e nos locais de trabalho. As
vendas de armas para o mercado civil, por sua vez, vm se reduzindo a cada
ano. Entre 1996 e 2002, foram vendidas no mais do que 25 mil armas.
Em resumo, a verdade que o Rio de Janeiro est se desarmando, e a
criminalidade aumentou nos ltimos anos.
No h relao entre venda de armas legais e crimes letais
Uma outra possibilidade de se avaliar a relao possvel entre a densidade da presena de armas de fogo na sociedade e os crimes fazer
uma comparao entre a realidade dos estados. o que fazemos a seguir,
comparando a presena de armas de fogo e os ndices de homicdios nos
Estados do Rio de Janeiro, de So Paulo e do Rio Grande do Sul.
O objetivo desta anlise testar a afirmao dos defensores do
desarmamento civil no sentido de que a simples presena de mais armas de
fogo em circulao um bom predicador de crimes violentos. Por esse
argumento, onde existem mais armas, deve haver maior nmero de crimes.
34
Assim, quando examinamos os dados, observamos uma realidade
bastante diferenciada em termos de estoque de armas legais perante a
ocorrncias de homicdios.
No Rio Grande do Sul, estado mais armado do Pas, temos uma mdia
de uma arma de fogo para cada 10,86 habitantes. Em So Paulo, uma arma
para cada 29 pessoas, e, no Rio de Janeiro, a menor densidade, uma arma
para cada 74 pessoas.
Isto , o Rio Grande do Sul tem sete vezes mais armas per capita do
que o Rio de Janeiro e trs vezes mais do que So Paulo. Mas, com relao
aos homicdios, possui uma taxa quase quatro vezes menor do que o Rio de
Janeiro e de quatro vezes menor do que So Paulo.
Diminui a venda de armas e aumentam os homicdios
Finalmente, uma ltima possibilidade de se examinar a correlao
entre armas de fogo e a criminalidade letal colocar os indicadores num
horizonte temporal mais longo, para que possamos observar uma tendncia
histrica.
No Grfico 1 podemos observar o comportamento das vendas de
armas de fogo leves para o mercado civil (exclui as vendas para as Polcias
Civil e Militar), comparativamente ao comportamento do volume de homicdios
ocorridos no mesmo perodo.
35
Em 20 anos, os homicdios aumentaram de 10 mil para 40 mil por ano,
enquanto a venda de armas caiu, em mdia, de 51 mil para 23 mil no mercado
civil.
A anlise feita acima evidencia, de forma bastante slida, a dificuldade
de se fazer uma relao simplista, como feita pelos adeptos do
desarmamento, entre armas legais e crimes. No se pode dizer que maior
densidade de armas legais na populao significa, necessariamente, maior
volume de crimes.
Igualmente, no se pode afirmar que a simples reduo da venda de
armas legais importante para reduzir os homicdios.
Os dados mostram que a premissa fundamental do desarmamento
falha. Na realidade, conforme evidencia a situao observada no Rio Grande
36
do Sul, a presena de armas pode conviver e alguns at acreditam explicar
com baixos ndices de crimes letais, comparativamente realidade nacional.
Uma anlise isenta e objetiva das razes que motivam a exploso dos
crimes nos Estados do Rio de Janeiro e de So Paulo, mas tambm em vrias
capitais do Pas, deve levar em conta outros fatores sociais, legais e
econmicos. E, principalmente, o desenvolvimento do crime organizado, que
explora o trfico e o consumo de drogas, responsvel por um novo fenmeno:
o banditismo urbano e as carreiras criminosas.
No tocante s armas de fogo, evidente que o Governo deve possuir
um sistema de controle dos registros e dos portes, como, alis, prev a Lei n
9.437 e o Decreto 2.222., em vigor. As leis brasileiras j so suficientemente
severas. Podem, evidentemente, ser melhoradas, mas preciso ter o cuidado
necessrio para que o princpio da legtima defesa no seja afetado.
O famoso Criminologista David Bayley, na abertura de seu livro Police
for the Future, diz com todas as letras: (...) polcia no consegue prevenir o
crime. Pela simples razo de que, por mais eficiente que seja, ela no pode
estar, ao mesmo tempo, em todos os lugares. A proteo policial total um
mito, que vem custando muitas vidas em todo o mundo.
A sociedade e os cidados, de vrias formas, so vistos hoje pelas
modernas tcnicas de preveno como elementos complementares ao trabalho
da polcia. Atravs de duas formas bsicas: participando na formulao das
estratgias de preveno e reduzindo as oportunidades de crimes. Mas,em
ltima instncia, quando eles so iminentes, ningum pode negar-nos o direito
de defesa. No existe direito de defesa sem os instrumentos para torn-lo uma
possibilidade real.
37
4 - A EXPERINCIA INTERNACIONAL NO CONTROLE
DE ARMAS
No debate sobre o desarmamento no Brasil, com muita freqncia se
recorre aos exemplos dos Estados Unidos e da Inglaterra. A realidade desses
pases evocada tanto como algo que deve ser evitado ou como exemplo a
ser imitado. Em anlises comparativas, quando citamos o exemplo de um ou
outro pas, precisamos nos cercar de cuidados, para no imaginar que as leis
ou situaes existentes em outros contextos legais, sociais, econmicos e
culturais possam ser simplesmente copiadas para o nosso. Por isso,
precisamos sempre levar em conta as diferenas e peculiaridades presentes
nos contextos e cenrios que esto sendo cotejados.
Por exemplo, quando se comparam as taxas de crimes violentos e
mesmo de homicdios de vrios pases com as do Brasil, nota-se que os que
apresentam as menores taxas de crimes violentos so, invariavelmente, e no
por coincidncia, os pases desenvolvidos. Pases que, em relao ao nosso,
apresentam enormes vantagens em termos de crescimento econmico,
distribuio de renda, mercado de trabalho, educao e servios pblicos e,
por ltimo, sistemas de Justia Criminal a polcia, a Justia e o Sistema
Prisional - melhor equipados e mais eficazes.
Este ltimo aspecto muito importante, pois a eficcia da polcia e da
Justia est intimamente relacionada com a punio dos crimes e, atravs do
exemplo, com a disseminao da certeza da punio como elemento de
educao e dissuaso de delitos, mesmo os de baixo poder ofensivo.
A ocorrncia de baixo nvel de crimes nos pases desenvolvidos, como
se ver neste estudo, no se deve inexistncia de armas de fogo (armas
38
leves) em circulao na sociedade, mas eficcia da imposio da lei e da
ordem, eficcia da ao do Estado.
Os Estados Unidos, por exemplo, enfrentaram uma forte ascenso da
criminalidade violenta nos anos 70 e 80, provocada, em larga medida, pelo
crescimento do trfico de drogas (a cocana e, mais tarde, o crack).
Qual foi a resposta dos norte-americanos?
Basicamente, uma ampla e radical reforma de suas instituies
policiais, atravs da inovao nos conceitos e as tticas das polcias, do
policiamento comunitrio, da implementao de polticas rigorosas de
recuperao da ordem pblica (Tolerncia Zero), da preveno situacional do
crime (envolvimento com a comunidade e tticas preventivas), alm de
medidas penais mais rigorosas. Os EUA experimentaram, verdade, um
crescimento importante de sua populao prisional, mas esto vencendo a
criminalidade. Paralelamente a todo esse esforo, j so 35 os estados onde
permitido ao cidado de bem portar uma arma para sua defesa pessoal.
Faremos, inicialmente, alguns comentrios sobre a realidade dos
Estados Unidos e, em seguida, algumas observaes sobre a Inglaterra.
Finalmente, para subsidiar ainda mais o debate, transcrevemos um captulo do
livro Democdio: Criminalidade e Democracia no Brasil, onde a realidade
desses pases debatida em maior profundidade.
Estados Unidos
Quando citamos o exemplo da poltica dos norte-americanos com
relao s armas de fogo e tambm seus exemplos de sucesso no combate
criminalidade, isso no significa que estamos advogando a adoo de tais
polticas no Brasil. Estamos, apenas, utilizando os exemplos concretos para
questionar nossas propostas e testar muitos de seus fundamentos e
promessas.
39
Assim, no caso especfico das armas de fogo, o exemplo das polticas
adotadas na maior parte dos estados dos EUA, que permitem a venda e o
porte de armas leves por cidados honestos, muito interessante e ilustrativo.
Hoje, em mais de 35 estados daquele pas, um cidado pode comprar uma
arma de fogo e port-la em determinadas circunstncias e locais. So as
chamadas leis no arbitrrias de porte de armas.
Armas e queda dos crimes
Um estudo realizado pelo Economista John Lott da Universidade de
Chicago, j citado, mostrou que, nesses estados, os ndices de crimes
violentos so menores do que nos estados que probem ou praticam restries
venda e ao porte das armas de fogo. Da o sugestivo ttulo de seu livro: Mais
armas Menos crimes. Lott coletou e analisou indicadores em 3054 distritos do
pas durante 18 anos e chegou concluso de que h uma relao assimtrica
entre armas e crimes.
Os Estados Unidos so provavelmente um dos pases onde existe o
maior volume de armas em mos de cidados civis. Existem estimativas que
indicam a existncia de um estoque de mais de 200 milhes de armas em
circulao no pas, e nem por isso a criminalidade violenta est aumentando.
Ao contrrio, desde 1993, todas as taxas de crimes esto em queda:
homicdios, roubos e assaltos com ferimentos, conforme podemos ver na
Tabela 4.
Depois de atingir o pico, em 1980, quando alcanou 10,2 casos por 100
mil habitantes, e manter-se nesse patamar durante toda a dcada, nos anos
90 a taxa de homicdios apresentou uma trajetria declinante at alcanar, em
2000, 5,6 casos por 100 mil, o mesmo patamar do incio dos anos 60.
40
Mais ou menos o mesmo comportamento pode ser observado com
relao s taxas de roubos e de assaltos com agravantes. Os roubos
mantiveram-se entre 208 e 257 casos por 100 mil ao longo dos anos 80; nos
anos 90, comearam a declinar, at alcanar 147 casos por 100 mil; em 2000,
tiveram o menor indicador desde 1969. O mesmo ocorreu com os assaltos com
agravantes: em 2000, a taxa de 329 casos por 100 mil era a menor desde
1985.
Queda dos crimes com armas de fogo
Juntamente com a queda dos homicdios observada ao longo de toda a
dcada de 90, constatou-se tambm a diminuio dos homicdios com o
emprego de armas de fogo.
Em 1990, havia 4,7 casos de homicdio com o emprego de arma de
fogo para cada 100 mil habitantes, percentual que caiu para 2,9 casos no final
41
da dcada, de acordo com o Supplementary Homicide Reports, editado pelo
FBI.
Armas x crimes
O que estes nmeros comprovam? Basicamente que, enquanto
aumentou o estoque de armas de fogo nos Estados Unidos um crescimento
estimado por certos estudiosos em 3 millhes de novas armas por ano, at
atingir um estoque estimado em mais de 200 milhes de armas em circulao
a criminalidade caiu.
Essa relao assimtrica entre o volume de armas e os ndices de
crimes coloca em dvida, seno em total descrdito, um dos mais importantes
argumentos dos segmentos que defendem o desarmamento civil como
estratgia de controle e de reduo dos crimes.
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Seguindo a lgica do argumento que utiliza a quantidade de armas em
mos de civis como fator predicador de crimes, teramos de estar diante de um crescimento contnuo da criminalidade nos Estados Unidos, ao contrrio do
que vem ocorrendo naquele pas desde o incio dos anos 90. A quantidade de
armas aumenta nos Estados Unidos, a cada ano, enquanto os crimes esto em
queda.
As armas e a autoproteo
Os norte-amercianos compram armas por duas razes bsicas: para a
prtica de esportes e de caa e, em segudo lugar, para a proteo de suas
casas e famlias. Estima-se que 60% dos proprietrios de armas de fogo
praticam caa todos os anos.
Existem estatsticas que mostram o uso defensivo de armas de fogo
Defensive Use Guns (DGU). Uma delas resulta de pesquisa realizada pelo
Professores Kleck e Gerts, que mostram um uso defensivo de armas entre 1,5
e 4,7 milhes de vezes a cada ano. So situaes em que a posse de uma
arma permitiu ao seu portador evitar a ocorrncia de um crime. Os crticos da
pesquisa de Kleck e Gerts, como o Professor J. Cook, da Universidade de
Duke (USA), discordam dessa estimativa, admitindo um nmero menor, de
apenas 570 mil situaes.
De qualquer forma, seja qual for o nmero, preciso reconhecer que a
posse de uma arma pode ser um fator efetivo de dissuaso de crimes. Esse
aspecto pode ser visto de uma outra forma, atravs da relao dos criminosos
com seus alvos. o que indica uma pesquisa feita com presos norte-
americanos, que admitiram preferir atacar alvos desarmados (pessoas ou
residncias).
A seguir, transcrevemos alguns trechos de um dos captulos do livro
Democdio: Criminalidade e Democracia no Brasil, do economista Luiz
Tadeu Viapiana (2003), onde o autor apresenta uma anlise crtica dos
43
pressupostos da tese do desarmamento, das promessas e resultados
concretos dessa poltica.
A (i)lgica do desarmamento
A relao entre armas e crimes envolve um longo, antigo e complexo
debate. As posies esto, em geral, polarizadas entre os que afirmam haver
uma relao de causa e efeito entre a disponibilidade de armas de fogo e
ndices de criminalidade e os que, no outro extremo, dizem que mais armas
representam menos crimes.
Ambas as posies recorrem s estatsticas para comprovar suas
teses, em que pese s dificuldades metodolgicas existentes. A mais comum
delas a comparao entre o nmero de armas e o nmero de homicdios por
pas (Killias, 1993), embora se saiba que essas estatsticas so muito
imprecisas. Por exemplo, certos pases estimam o nmero de armas supondo
que existe apenas uma arma por residncia, quando, na verdade, essa
premissa mera suposio. Outra dificuldade enfrentada por esse tipo de
levantamento que as pessoas temem revelar a quantidade de armas em suas
residncias. O problema acentua-se nos pases que possuem leis restritivas,
pois as pessoas receiam que o governo, de posse das informaes, recolha
suas armas. Mas, de qualquer modo, apesar da impreciso das estimativas
com relao ao estoque de armas, a comparao entre a quantidade de
armas legais e o nmero de homicdios o principal argumento utilizado pelos
que se opem supresso do direito do cidado civil de comprar e portar uma
arma de fogo.
Um desses estudos foi elaborado por Martin Killias e compara a
quantidade de armas e a taxa de homicdio em 18 pases desenvolvidos,
dentre os quais os Estados Unidos, a Sua, a Nova Zelndia, o Canad, a
Austrlia, a Inglaterra, o Japo e a Frana. Os Estados Unidos lideram a lista,
com um estoque de 85 milhes de armas e uma taxa de homicdio de 9,3
44
casos por milho; seguidos da Sua, com 43 milhes de armas e apenas 1,5
caso de homicdio por milho; logo depois vem a Nova Zelndia, com 29
milhes de armas e 2,6 homicdios; em quarto lugar, est o Canad, com 24
milhes de armas e somente 2,2 homicdios, seguida pela Frana, com 23
milhes de armas e 4,9 homicdios.
Se adotarmos, na lgica do argumento dos que defendem o
desarmamento civil, a quantidade de armas como predicador da ocorrncia de
homicdios, a comparao da quantidade de armas com o nmero de
homicdios nos vrios pases mostra uma relao, para dizer o mnimo,
largamente desproporcional.
Diante de tal situao, muito difcil sustentar a existncia de uma
relao direta entre as duas variveis. A Sua, por exemplo, possui a metade
das armas existentes nos Estados Unidos e apenas um quinto dos homicdios.
45
A Nova Zelndia possui um estoque mais elevado do que a Frana (29 milhes
contra 23 milhes) e uma taxa de homicdios quase 50% inferior (2,6 contra
4,9).
Quando os nmeros se referem exclusivamente aos Estados Unidos, a
discrepncia ainda maior, embora muitos dos estudos apresentem tambm
dificuldades metodolgicas. o caso das comparaes que se limitam a
cotejar dados de apenas poucas cidades, ou ainda dos estudos cujos dados
referentes ao estoque de armas disponveis so insuficientes e requerem
estimativas e, por fim, o fato de que os dados agregados escondem diferenas
marcantes entre os diversos estados e regies do pas. Tal fato importante
porque as regulamentaes existentes em determinados estados podem ser
tangenciadas atravs da aquisio de armas onde as leis so menos
restritivas.
Nos Estados Unidos, por exemplo, se compararmos o estoque de
armas e as taxas de homicdios em 1973 e 1992, veremos que, enquanto a
quantidade de armas aumentou 110%, a taxa de homicdios diminuiu de 9,4
casos por 100 mil habitantes para 8,5 casos. De acordo com outras fontes, em
1992, havia em todos os EUA, um estoque total de 221,9 milhes de armas
(Kates; Shaffer; Lattimer; Murray; Cassem, 1994). Em 1973, armas eram
empregadas em 68% dos homicdios; em 1992, em 62% dos casos; e, em
2000, em 66% deles. Note-se que, em 2002, segundo o National Crime
Victimization Survey, a taxa de homicdios havia cado para 5,5 casos para
100 mil habitantes, no obstante haver, em relao a 1992, um estoque de
armas ainda maior.
Se incluirmos o Brasil na tabela elaborada por Killias, o resultado ser
surpreendente. Vejamos: em 1993, o Brasil apresentava uma taxa de 20,18
casos de homicdio por 100 mil habitantes, sendo que, em 13,8 casos,
tnhamos a presena de uma arma de fogo. Consideremos, ainda, que, em
11,9% das residncias, havia uma arma de fogo. Esse percentual, na verdade,
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refere-se ao estoque de armas registradas no Sinarm em 2002 e estima que
existe uma arma por residncia. O percentual final obtido dividindo-se o
estoque de armas pelo nmero de famlias brasileiras, considerando uma
mdia de 4 pessoas por famlia.
Por esse critrio, o Brasil seria, em 1993, um pas com menos armas
do que Estados Unidos, Noruega, Canad, Finlndia, Frana, Nova Zelndia,
Austrlia, Blgica, Suia, Itlia, Sucia e Espanha, sendo que todos esses
pases apresentavam, na mesma poca, taxas de homicdios bem inferiores
brasileira.
Os dados acima mostram ainda a falcia de que o Brasil um pas
onde a posse das armas foi banalizada e a de que a criminalidade letal no
nosso pas est relacionada com a grande ou enorme disponibilidade de
armas legais em circulao. O problema entre ns parece estar relacionado
com o trfico de armas, portanto, com as armas ilegais. Para aprimorar os
controles dos mercados ilegais no so necessrios novas leis, mas a
aplicao das leis existentes, j suficientemente drsticas.
Se hoje o Estado no consegue fazer cumprir a Lei, o que nos garante
que uma lei impondo maiores restries ao registro e ao porte vai ser
obedecida?
Mais do que isso, os bandidos iro cumprir a lei e entregar suas
armas?
A Professora Susan Baker introduziu uma importante novidade na
forma de analisar os dados estatsticos, ao agrupar os dados relativos aos
homicdios e suicdios na comparao entre os pases. Ela criou uma
classificao denominada Internacional Intentional Homicide Table,
utilizando os dados de Killias dos anos 1983-86, complementando-os com
indicadores do United Nations Demographic Yearbooks para 1985-95
(Kates; Shaffer; Lattimer; Murray; Cassem, 1994).
47
O resultado de suas comparaes mostra que, quando so agrupados
homicdios e suicdios, os Estados Unidos ficam numa posio intermediria na
grade dos 19 pases estudados, com uma mdia de 20,8 casos para cada 100
mil habitantes.
Na frente dos EUA, com mdias maiores, esto Romnia, Hungria,
Finlndia, Dinamarca, Frana, Austrlia, Sua, Blgica e Alemanha
(Ocidental). Note-se que a maior parte desses pases possuem leis de
restries s armas de fogo para a populao civil. Os EUA possuem uma taxa
mdia equivalente um tero da lder Romnia, onde as armas foram banidas
durante o regime socialista, e metade da taxa verificada na Hungria, que
tambm possui leis anti-armas. Na melhor colocao, est o Estado de Israel,
com apenas 9,0 casos por 100 mil habitantes, onde praticamente cada famlia
possui uma arma em sua residncia.
Ora, se a presena de armas de fogo em residncias causa primria
de homicdios e suicdios (mortes intencionais), como acreditam os adeptos do
desarmamento civil, como explicar que, justamente em pases europeus onde
existem restries s armas, as taxas so mais altas?
Diante dessas comparaes, em nvel internacional e tambm em nvel
interno, no h como se sustentar a existncia de uma relao direta entre o
estoque de armas e os ndices de homicdios.
Os argumentos anti-gun prosseguem com duas outras afirmaes-
chave: (a) muitos dos que praticam homicdios so cidados honestos e; (b)
muitos dos disparos que resultam em homicdios no so praticados por
bandidos ou doentes mentais mas decorrem de atos passionais que so
cometidos utilizando-se uma arma de fogo destinada originalmente proteo
da residncia. Ou seja, ambas as afirmaes dizem respeito natureza do
crime de homicdio, motivao e caracterstica psicolgica de seus
agentes. A arma de fogo apresentada, assim, como sendo uma das causas
primrias do homicdio.
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Esse raciocnio contestado fortemente por vrios estudos realizados
nos Estados Unidos, que se valem de informaes recolhidas nos registros do
FBI sobre os homicdios. Eles indicam que 75% dos que cometem homicdio
possuem algum tipo de antecedente criminal. Mais, dados do Bureau of
Criminal Statistics mostram que 76,7% dos presos por homicdio j possuam
histrico criminal, e, o mais grave, 78% deles estavam sendo processados pelo
mesmo tipo de crime.
Ao contrrio do que sugere o argumento anti-gun, pelo menos nos
Estados Unidos, a realidade mostra um quadro diverso, no qual a maioria dos
crimes de homicdio parecem resultar ou estar associada a um histrico de
crimes: ...,em 90% dos homicdios domsticos, a polcia tem sido chamada ao
mesmo endereo no mnimo uma vez nos dois anos que precedem o crime
(Kates; Shaffer; Lattimer; Murray; Cassem, 1994). Outro pesquisador, Murray
Straus, citado por esses autores, afirma taxativamente: ..., a realidade do dia-
a-dia que cada vez mais os homicdios nas famlias so precedidos por uma
longa histria de agresses.
O estudo de Kellerman
Um dos mais importantes estudos a sustentar as teses anti-gun foi
elaborado por um grupo de pesquisadores liderados por Arthur Kellerman,
denominado Gun Ownership as a Risk for Homicide in the Home e
publicado originalmente no New England Journal Medicine, em 1993. , com
certeza, um dos documentos mais citados em apoio s teses favorveis ao
desarmamento civil.
O objetivo central do estudo mostrar que a presena de armas nas
residncias, ao invs de oferecer proteo aos que nela residem, aumenta o
risco de crimes violentos. Os autores concluem que ... manter uma arma de
fogo em casa est associado de forma slida e independente a maiores riscos
de homicdio. O estudo teve como base uma amostra composta de apenas
49
444 situaes de homicdios ocorridos nos lares das vtimas. Alm disso,
contou com um grupo de controle de 388 residncias prximas, do mesmo
sexo, raa e faixa de idade. O estudo valeu-se das informaes de parentes
das vtimas e das famlias de controle para checar se as pessoas possuam
armas em suas casas e se apresentavam problemas com lcool ou drogas.
Depois dessa checagem, concentra-se em demonstrar que os homicdios
estavam associados posse de armas de fogo.
A crtica desferida contra o estudo de Kelermann et alii foi dura e
certeira. John Lott, o autor de More Guns Less Crimes afirmou que havia dois
problemas metodolgicos que comprometiam definitivamente as concluses do
estudo: foi omitido o dado decisivo de que, em apenas oito dos 444 casos,
foi possvel esclarecer que a arma envolvida no crime era mantida dentro
da residncia. Pode-se presumir, portanto, que a quase-totalidade das armas utilizadas provinham de outros lugares, prejudicando diretamente a correlao
defendida pelos autores. A outra crtica desferida por Lott diz respeito
metodologia utilizada na pesquisa, que desconsiderou o motivo pelos quais as
pessoas compraram armas, presumivelmente para se proteger. Pode-se supor
que essas pessoas j se sentiam submetidas a uma situao de maior risco,
na iminncia de sofrerem algum tipo de ataque. Ele conjectura que essa
propenso pode ter como como origem o envolvimento das pessoas da
amostra com atividades ilegais desconhecidas do grupo de controle.
O fato, conclui Lott, (...) de que todas ou praticamente todas as
vtimas de homicdio foram mortas por armas de fogo levadas para dentro de
seus lares pelas mos de um intruso faz com que tudo isso fique mais
plausvel, alertando para o defeito fortemente comprometedor do resultado a
que chegaram Kellerman et alii. Na mesma linha de Lott, direcionada a crtica
da Historiadora Joyce Lee Malcolm, em Guns and Violence.
importante mencionar ainda uma outra crtica feita amostra do
estudo de Kellerman et alii por Kates; Shaffer; Lattimer; Murray; Cassem
50
(1994). Eles alertam para o fato de que a amostra final utilizada na anlise
correspondia a apenas 71,2% do total dos 444 casos inicialmente agrupados.
Segundo eles, a maior parte dos homicdios nos Estados Unidos so
praticados por pessoas com antecendentes criminais, grande parte delas
respondendo por crime idntico, e grande parte dos crimes ocorrem em
famlias que apresentam histrico de agresses ou de envolvimento com
atividades ilegais, drogas ou lcool. Se essas afirmaes esto corretas,
estamos mais prximos de uma relao direta entre homicdios e carreiras
criminosas do que propriamente entre homicdios e cidados honestos
armados, como sugere o argumento anti-gun. Fica difcil chegar a uma
concluso definitiva sobre esse tema devido inexistncia de estudos
especficos sobre a natureza e o perfil dos homicdios em uma amostra
representativa do conjunto do pas. Os estudos de caso so restritos a uma
cidade ou a um grupo de cidades ou condados e esto longe de fornecer uma
amostra que espelhe a realidade nacional.
Em seu livro, Malcolm sugere duas formas bastante simples de
verificar o impacto das armas de fogo na criminalidade. A primeira delas
observar o crescimento do estoque de armas e compar-lo com os indicadores
de crimes letais. Se a suposio de que as armas so causas primrias de
crimes, mais armas necessariamente significaria mais crimes. No , todavia, o
que ocorre nos Estados Unidos. Ela informa que entre os anos de 1973 e 1992,
o volume de armas dobrou nos lares norte-americanos, um aumento de 102%,
enquanto a taxa de homicdios, que era de 9,4 casos por 100 mil habitantes em
1973, diminuiu para 8,3 casos em 1992. O nmero de homicdios cometidos
com o uso de armas de fogo permaneceu estvel. O argumento de Malcolm
corroborado integralmente por estatsticas mais recentes, que mostram uma
queda ainda maior dos homicdios no pas; em 1999, os homicdios com o
emprego de armas de fogo (handguns) foram de 2,9 casos por 100 mil
habitantes, a menor taxa desde 1976.
51
A outra forma de diagnosticar o impacto das armas de fogo na
criminalidade verificar o efeito das leis que permitem o porte discreto nos 34
estados norte-americanos onde so praticadas, comparativamente aos estados
que adotam restries. Isso o que fez o Economista John Lott em seu livro
More Guns Less Crimes.
Mais armas menos crimes
O livro de Lott foi, sem dvida, o mais duro golpe contra a tese que
iguala armas legais a mais crimes. At hoje, poucas e esparsas foram as
contestaes s suas principais concluses. A reao, em geral, foi a de
ignorar a interessante anlise elaborada pelo professor da Universidade de
Chicago. O que se explica, em grande parte, pelo sectarismo que domina o
debate sobre o papel das armas de fogo na sociedade. O fato que,
decorridos alguns anos da publicao original de seu livro, suas principais
teses resistem slidas.
Lott coletou dados sobre os crimes violentos em 3054 distritos de
vrios estados norte-americanos para um perodo de 18 anos, de 1977 a 1995.
Numa primeira fase, Lott agrupou os dados sobre crimes do perodo 1977-92 e
verificou qual o impacto que teve a adoo de leis que permitiam o uso discreto
de armas de fogo em 31 estados, comparando-os com os ndices observados
nos estados que proibiam o porte de armas. O objetivo era medir o impacto das
leis de direito ao porte sobre a criminalidade. importante esclarecer que, em
geral, as leis que autorizam o porte contm exigncias a serem cumpridas
pelos candidatos, tais como no aprese