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CIDADES MANUAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO ORIENTADO AO TRANSPORTE SUSTENTÁVEL

Dots Cidades - Embarq Brasil

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Manual de aplicação do conceito de DOT (Development oriented transit) elaborado pela Embarq Brasil

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  • CIDADESMANUAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO ORIENTADO AO TRANSPORTE SUSTENTVEL

  • PlanejamentoLuis Antonio Lindau, Diretor-PresidenteDaniela Facchini, Diretora de Projetos & OperaesRejane D. Fernandes, Diretora de Relaes Estratgicas & Desenvolvimento

    CooRDenAo nvea oppermann Peixoto, Coordenadora de Desenvolvimento Urbano

    equiPe tCniCALara Schmitt Caccia, Especialista em Desenvolvimento UrbanoAriadne Barbosa Samios, Desenvolvimento Urbano

    ReviSoBrenda Medeiros, Gerente de Projetos de TransportePaula Manoela S. da Rocha, Coordenadora de Projetos de TransporteMaria Fernanda Cavalcanti, Coordenadora de Comunicao

    CooRDenAo eDitoRiALFernanda Boscaini, Gerente de Comunicao

    PeSquiSA De iMAgenSMariana gil, Especialista em Comunicao VisualLusa Schardong, Comunicao

    DiAgRAMAo e ConCeito gRFiConktar Design

    Este manual foi realizado com o apoio financeiro da Bloomberg Philanthropies

    Novembro de 2014

  • SUMRIOAPReSentAo

    CAPtuLo 1 Desafios e oportunidades do desenvolvimento urbano no Brasil

    CAPtuLo 2 DotS Cidades

    CAPtuLo 3 estratgias de desenho urbano DotS3.1 Transporte coletivo de qualidade3.2 Mobilidade no motorizada3.3 Gesto do uso do automvel3.4 Uso misto e edifcios eficientes3.5 Centros de bairro e pisos trreos ativos3.6 Espaos pblicos e recursos naturais3.7 Participao e identidade comunitria

    CAPtuLo 4 etapas de implementao de uma comunidade urbana sustentvel

    4.1 Identificao de oportunidades4.2 Definio do contexto4.3 Definio da viso e das metas4.4 Diagnstico normativo e urbano4.5 Incorporao de estratgias de desenho urbano4.6 Implementao e acompanhamento4.7 Avaliao e melhorias

    ReFeRnCiASLiStA De SigLASgLoSSRio

    04

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    14

    2225364660728294

    104

    106108110112114118120

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  • 4 MANUAL DE DESENVOLVIMENTO URBANO ORIENTADO AO TRANSPORTE SUSTENTVEL

    Atualmente, o Brasil passa pela proliferao de projetos e empreendimentos nas reas de mobilidade urbana e habitao, incentivados pelos governos federal, dos estados e dos municpios, na tentativa de suprir o dficit de infraestrutura e moradias do pas. No entanto, muitos projetos so desenvolvidos em zonas perifricas distantes, dispersas e desconectadas de servios, trabalho, educao e lazer. fundamental romper certos paradigmas dos padres de construo e urbanizao comumente adotados, reorientando as polticas e estratgias de desenvolvimento urbano de forma a integr-las ao planejamento da cidade e seus sistemas de transporte.

    A EMBARQ Brasil apresenta o DotS Cidades - Manual de Desenvolvimento urbano orientado ao transporte Sustentvel com o objetivo de incentivar a construo de comunidades urbanas sustentveis no cenrio brasileiro. O manual consiste em um conjunto de recomendaes concretas de desenho urbano e gesto de fcil compreenso e implementao baseadas nos elementos da mobilidade sustentvel, aplicveis em projetos novos ou de renovao urbana. Outra parte do trabalho identifica as

    ApReSentAOetapas de aplicao dos critrios DOTS, desde a fase do diagnstico at a avaliao peridica das medidas implementadas. Seu principal objetivo estabelecer critrios comuns de desenho entre os diferentes atores responsveis pela construo de comunidades urbanas sustentveis, alm de possibilitar a aferio de seus resultados.

    O manual foi inspirado no trabalho desenvolvido pelo CTS EMBARQ Mxico. Em 2010, o centro mexicano publicou o Manual de Desarrollo Orientado al Transporte Sustentable (1), trazendo o modelo de planejamento urbano Transit Oriented Development (TOD) para o contexto local. Complementando esse trabalho, em 2012, foi elaborado o Guia DOTS para Comunidades Urbanas Sustentables (2), que, alm dos aspectos conceituais, apresenta estratgias para o desenho urbano de bairros orientados ao transporte sustentvel.

    Esse manual destinado a gestores e tcnicos de instituies que trabalham com desenvolvimento urbano, especialmente do setor pblico, promotores privados, organizaes, estudantes e interessados pelo tema. As abordagens viveis e criativas procuram mudar a forma como conceber, projetar e implementar as polticas e os

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    Rio de Janeiro, RJ.

    projetos urbanos, para que sejam voltados mobilidade e sustentabilidade urbana na busca pela melhoria da qualidade de vida nas cidades brasileiras.

    Responsvel pela publicao, a EMBARQ Brasil auxilia governos e empresas no desenvolvimento e implantao de solues sustentveis para os problemas de transporte e mobilidade nas cidades brasileiras. Ao promover o transporte sustentvel, a EMBARQ Brasil est trabalhando para reduzir a poluio, melhorar a sade pblica, diminuir a emisso de gases de efeito estufa e criar espaos pblicos urbanos seguros, acessveis e agradveis ao convvio. A EMBARQ Brasil tem Termos de Cooperao Tcnica assinados com mais de 15 cidades, entre elas Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR). Alinhamentos estratgicos de projetos

    de transporte, qualificao de sistemas, auditorias de segurana viria, marketing para transporte coletivo, workshops e seminrios de capacitao tcnica e o suporte tcnico para a construo de planos de mobilidade urbana esto entre as principais atividades desenvolvidas.

    Desde 2002, quando foi criada como o programa de transporte sustentvel do WRI, a Rede EMBARQ vem se desenvolvendo e hoje inclui cinco centros localizados no Mxico, Brasil, ndia, Turquia e China. A equipe da Rede composta por mais de 180 especialistas de reas variadas: de arquitetura gesto da qualidade do ar; de geografia a jornalismo; de sociologia a engenharia civil e de transportes.

    DotS - Desenvolvimento orientado ao transporte Sustentvel - um modelo de planejamento e desenho urbano voltado ao transporte pblico, que constri bairros compactos e de alta densidade, oferece s pessoas diversidade de usos, servios e espaos pblicos seguros e atrativos, favorecendo a interao social.

  • 6 CAPTULO 1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO DESENVOLVIMENTO URBANO NO BRASIL

    captulo 1

    Desafios e oportuniDaDes Do deSenvOlvIMentO URbAnO nO bRASIl

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    O Brasil o quinto maior pas do mundo em extenso territorial e tem a quinta maior populao, com mais de 200 milhes de habitantes. Segundo o IBGE (3), a populao urbana passou de 66%, em 1960, para 84,4%, em 2010. Apesar disso, o Brasil, que tem 23,8 hab/km, no figura entre os 150 pases com maiores densidades populacionais; em nmeros absolutos um pas muito populoso, porm com uma distribuio espacial bastante irregular no territrio. As reas litorneas so mais povoadas em decorrncia do processo histrico de ocupao e de um modelo de desenvolvimento centralizado nas grandes metrpoles do Sudeste, Sul e Nordeste.

    A Constituio Federal determina que o projeto de desenvolvimento urbano para o pas seja formulado na escala dos municpios, que possuem realidades extremamente heterogneas. O atual modelo que ainda estrutura o ordenamento territorial das cidades reproduz uma cultura urbanstica de forma espraiada e dispersa, sem controle de seus limites de crescimento, segmentado ou setorizado, de baixa densidade populacional, que

    Juiz de Fora, MG.

    favorece a excluso social, o impacto ambiental (4).

    Nossas cidades crescem de acordo com um modelo de ocupao territorial 3D - distante, disperso e desconectado - caracterizado pelo crescimento desmedido, fragmentado e no planejado da mancha urbana. A expanso tem um ritmo maior que os investimentos em infraestrutura, valorizando as reas centrais dotadas de servios urbanos e equipamentos. A populao de baixa renda, por sua vez, se dirige para os loteamentos distantes das reas consolidadas, onde a terra tem menor custo e, em geral, o atendimento dos servios essenciais precrio.

    Nosso modelo predominante de ocupao territorial, comum em pases emergentes, improdutivo, pois demanda grandes deslocamentos dirios em direo a centros urbanos que concentram os postos de trabalho e servios, geram grandes congestionamentos, gasto de tempo, deseconomias, aumento da poluio e degradao do meio ambiente. Esses fatores refletem uma considervel queda da qualidade de vida para a populao em geral.

  • 8 CAPTULO 1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO DESENVOLVIMENTO URBANO NO BRASIL

    DeSAFioS eM eSCALA nACionAL

    Os congestionamentos registrados em 2013 nas regies metropolitanas de So Paulo e Rio de Janeiro geraram um custo econmico de R$ 98 bilhes, relativo ao gasto extra de combustvel e produo no realizada, equivalente a 2% do PIB do pas no ano (5). Esse valor poderia ser ainda maior se fossem considerados os custos das externalidades ambientais negativas e os acidentes de trnsito.

    Somente em 2012 foram 44.812 mortes no trnsito no pas, o que representa 22,49 mortes para cada 100 mil habitantes (6). Apesar disso, o aumento da frota veicular do Brasil segue em ritmo elevado. Dados

    do Departamento Nacional de Trnsito (DENATRAN) de junho de 2004 e junho de 2014 mostram que a frota total mais do que duplicou em dez anos, subindo de 38 milhes (64% automveis, 15% motocicletas, 0,82% nibus), para 84 milhes de veculos (55% automveis, 22% motocicletas, 0,67% nibus). Em 2004, a proporo era de 7,4 hab/automvel; hoje, de 4,4 hab/automvel. Em relao s motocicletas, havia uma para cada 33 pessoas; atualmente, so 18,6 milhes de motos, ou uma para cada 11 habitantes. Nesse mesmo perodo, a frota de nibus aumentou de 311.522 para 560.123 veculos (7), enquanto a demanda por transporte

    Crescimento da frota de motocicletas gera congestionamentos e aumento de emisses poluentes. Cana dos

    Carajs,PA.

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    coletivo por nibus nas principais cidades brasileiras cresceu menos de 10% (8).

    No que se refere aos aspectos ambientais, o modelo urbano 3D - distante, disperso e desconectado - extremamente prejudicial ao utilizar de forma intensiva os recursos naturais e energticos e aumentar as emisses de poluentes, contribuindo para que as cidades sejam responsveis por 70% das emisses de gases de efeito estufa (9). Ainda, esse tipo de ocupao territorial dificulta a implantao de um sistema de transporte eficiente, desincentiva a caminhada e o uso da bicicleta como meio de transporte, e fomenta o uso massivo do transporte privado, gerando maiores congestionamentos. Em 2012, os automveis no Brasil foram responsveis por

    38% das emisses de dixido de carbono, 56% a mais em relao a 2002 (10).

    Quanto s consequncias sociais desse modelo, pode-se dizer que ele segrega os setores de baixa renda, obrigando-os a viver em bairros de periferia, geralmente distantes dos locais de trabalho, estudo, consumo e lazer. Isso resulta no gasto de boa parte da renda familiar em deslocamentos. Segundo a Pesquisa dos Oramentos Familiares (11), no perodo de 2008-2009, o gasto mdio mensal com transporte foi equivalente a 16,1% das despesas totais da populao, praticamente a mesma porcentagem gasta com alimentao. Ainda, segundo a mesma pesquisa, o gasto mdio mensal com habitao o de maior peso para qualquer tipo de composio familiar, 29,2% da renda.

    Segregao socioespacial na cidade do Rio de Janeiro, RJ.

  • 10 CAPTULO 1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO DESENVOLVIMENTO URBANO NO BRASIL

    oPoRtuniDADeS eM eSCALA LoCAL

    O dficit habitacional do Brasil era de 5,6 milhes de moradias em 2007, o que representava 10% do total das habitaes do pas. Investimentos recentes no setor reduziram esse dficit para 5,4 milhes de residncias em 2011, ou 8,8% do total (12). Contraditoriamente, tambm em 2011, o nmero de domiclios vagos, 6,07 milhes, superava o dficit habitacional, entre moradias abandonadas ou espera de um inquilino ou comprador (13). Seguramente, nem todas essas moradias ociosas serviriam para uso de interesse social. Entretanto, polticas pblicas poderiam contribuir para a ocupao desses domiclios vagos ou dos vazios urbanos disponveis em reas urbanizadas e dotadas de servios e infraestrutura, evitando a criao de novas comunidades em reas longnquas.

    O Estatuto das Cidades, institudo em 2001 (14), disps sobre as condies de ordenamento do desenvolvimento urbano no Brasil, estabelecendo como princpio a funo social da propriedade, e como diretrizes o direito a cidades sustentveis, a oferta de equipamentos, transporte e servios, a ordenao e o controle do uso do solo nas cidades. Alm de considerar o Plano Diretor dos municpios como instrumento bsico de definio das polticas urbanas, props um conjunto

    de instrumentos urbansticos para viabiliz-las. Dentre eles, destacam-se o parcelamento, a edificao ou a utilizao compulsrios e a progressividade do imposto predial e territorial de vazios urbanos, que buscam diminuir as deseconomias urbanas e a especulao imobiliria. Esses instrumentos, ainda pouco aplicados pelas administraes municipais porque conflitam com a viso patrimonialista da sociedade e, em especial, dos proprietrios dos imveis, constituem-se em possveis alternativas para conter a expanso urbana, otimizar os custos dos servios e infraestrutura e promover a mobilidade sustentvel.

    Outro instrumento importante no processo de ocupao urbana a Lei Federal 6.766/1979 (15), que dispe sobre o parcelamento do solo urbano. A partir dela, os municpios passaram a regrar a implantao de loteamentos, desmembramentos e condomnios, que so a forma de transformao de reas vazias em terrenos para construo de edificaes. Na lei municipal so definidas as exigncias mnimas para os empreendimentos, inclusive de interesse social, como o percentual mnimo de reas pblicas (reas verdes, institucionais e sistema virio), os parmetros para quarteires, lotes e vias, a infraestrutura

    Via calma promove o compartilhamento da rua entre os diferentes modais em Curitiba, PR.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 11

    pela Lei da Mobilidade Urbana (16), de elaborar at 2015 o Plano de Mobilidade Urbana, integrado ao Plano Diretor municipal, para mais de 3 mil municpios do Brasil. De acordo com a legislao, o Plano de Mobilidade dever promover a incluso social; o acesso aos servios bsicos e equipamentos sociais; a melhoria das condies urbanas de acessibilidade

    bsica. Assim, o impacto desse processo no crescimento das cidades precisa ser assimilado e revertido pelos agentes envolvidos para buscar conter a expanso desordenada que vem acontecendo.

    Outra oportunidade para aprimorar o desenvolvimento urbano orientado ao transporte sustentvel a obrigatoriedade,

  • 12 CAPTULO 1 | DESAFIOS E OPORTUNIDADES DO DESENVOLVIMENTO URBANO NO BRASIL

    e mobilidade; a mitigao dos custos ambientais e socioeconmicos dos deslocamentos; a gesto democrtica para aprimorar a mobilidade urbana. Ainda, dever dedicar especial ateno ao transporte no motorizado e ao planejamento da sua infraestrutura.

    A acessibilidade outro componente a ser incorporado, considerando que, a partir de legislao prpria instituda no Brasil, todos os projetos devem obedecer s normas estabelecidas (17). As disposies valem para elementos da urbanizao, acessibilidade em prdios pblicos e privados, desenho e localizao de mobilirio urbano, alm da acessibilidade nos veculos de transporte pblico e em sistemas de comunicao e sinalizao.

    Destacam-se, tambm, as oportunidades oferecidas, principalmente para os municpios, pelos programas estratgicos do governo federal, atravs dos investimentos nas reas de habitao (Programa Minha Casa, Minha Vida) e de mobilidade urbana (PAC da Mobilidade). Para suprir carncias acumuladas no Brasil na produo de moradias e de infraestrutura, especialmente de transporte coletivo, os projetos se multiplicam em todo o pas, atendendo milhares de pessoas. Entretanto, muitas vezes no contemplam requisitos

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 13

    entendidos como adequados para o desenvolvimento urbano sustentvel, sendo oportuno apresentar diretrizes e alternativas para sua qualificao.

    O modelo DOTS corrobora a tendncia internacional, por parte do setor pblico e da iniciativa privada, de transformar o padro de planejamento e desenho urbano vigente. A mudana de modelo de desenho e de localizao das novas comunidades urbanas brasileiras, somada a um entendimento integral do problema urbano atual, promoo de polticas pblicas para o uso adequado do solo e mobilidade sustentvel, podem contribuir com a mudana de paradigmas no desenvolvimento urbano do pas.

    Conjunto habitacional distante da mancha urbana demanda grandes investimentos em infraestrutura e equipamentos pblicos. Eunpolis, BA.

  • 14 CAPTULO 2 | DOTS CIDADES

    captulo 2

    DotscIdAdeS

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 15

    Curitiba, PR.

    O Desenvolvimento Orientado ao Transporte Sustentvel (DOTS) um modelo que busca reorientar as polticas e estratgias de planejamento e desenho urbano, atravs da construo de bairros compactos, de alta densidade, que proporcionam s pessoas diversidade de usos, servios e espaos pblicos seguros e ativos, favorecendo a interao social. Apresenta solues, com impactos na mobilidade, que satisfazem a maior parte das necessidades de seus habitantes no mbito local em deslocamentos a p ou em bicicleta, e no restante da cidade atravs do transporte coletivo, reduzindo a dependncia do automvel.

    O modelo DOTS conduz criao de comunidades urbanas sustentveis onde o territrio, os usos do solo e as redes de infraestrutura e servios so planejados de forma integrada, aproximando as pessoas de seus destinos e atividades principais, promovendo a mobilidade sustentvel

    e diminuindo as distncias e os tempos de viagens dirias. Com isso, espera-se ampliar o crescimento econmico e social, melhorar a qualidade de vida da populao e proteger o meio ambiente.

    A metodologia adotada consiste na aplicao de um conjunto de estratgias, critrios e recomendaes de desenho urbano para reverter a tendncia do modelo 3D. O objetivo promover uma vida urbana completa com acesso adequado a toda cidade, moradia de qualidade, mobilidade segura e agradvel, suprimento das necessidades bsicas, baixas emisses de carbono, integrao social e gerao de emprego e cultura. Independentemente do seu tamanho, essas comunidades contribuem com o desenvolvimento de uma cidade conectada, competitiva, eficiente, segura e com uma viso comum que aponta para o desenvolvimento urbano sustentvel.

  • 16 CAPTULO 2 | DOTS CIDADES

    O DOTS Cidades foi desenvolvido para empreendimentos de parcelamento do solo e para projetos de requalificao ou revitalizao de comunidades j consolidadas em reas urbanas, delimitadas pelo permetro urbano definido pelo Plano Diretor ou lei prpria. Em ambos os casos, a localizao das comunidades em relao rea ocupada ou mancha urbana da cidade fundamental, uma

    O DotS Cidades - Manual de Desenvolvimento urbano orientado ao transporte Sustentvel - prope uma concepo integral de desenho urbano para o desenvolvimento de reas com diferentes usos e funes, sejam novas ocupaes ou renovaes urbanas, visando mobilidade sustentvel. Est baseado na implementao prtica de estratgias dos sete elementos de um bairro DotS:

    tRAnSPoRte CoLetivo De quALiDADe

    MoBiLiDADe no MotoRiZADA

    geSto Do uSo Do AutoMveL

    uSo MiSto e eDiFCioS eFiCienteS

    CentRoS De BAiRRo e PiSoS tRReoS AtivoS

    eSPAoS PBLiCoS e ReCuRSoS nAtuRAiS

    PARtiCiPAo e iDentiDADe CoMunitRiA

    vez que a maioria das estratgias DOTS apresentadas foram concebidas para comunidades intraurbanas ou suburbanas. A eficcia e a viabilidade da aplicao dessas estratgias reduzem-se significativamente quando aplicadas em comunidades periurbanas. Para identificar o tipo de comunidade urbana em que se est trabalhando, as seguintes definies devem ser observadas:

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 17

    CoMuniDADe intRAuRBAnA: inserida na rea ocupada, onde pelo menos 75% do solo que a rodeia est previamente urbanizado e completamente ocupado;

    CoMuniDADe SuBuRBAnA: adjacente rea ocupada, onde pelo menos 25% do solo que a rodeia est previamente urbanizado e majoritariamente ocupado;

    CoMuniDADe PeRiuRBAnA: desprendida da rea ocupada, onde mais de 75% do solo que a rodeia est desocupado ou no urbanizado.

  • 18 CAPTULO 2 | DOTS CIDADES

    eSCALAS De iMPLeMentAo

    O DOTS Cidades est focado na construo de comunidades urbanas voltadas ao transporte sustentvel, e as estratgias apresentadas neste manual tm como base a escala do bairro. Baseadas direta ou indiretamente na escala do bairro, as estratgias para cada um dos elementos visam atuar de maneira local, sem perder de vista o contexto urbano e regional. Para isso, a abordagem para a aplicao da metodologia DOTS adota as seguintes quatro diferentes escalas territoriais:

    eSCALA inteRBAiRRoS Toda comunidade urbana sustentvel deve reconhecer sua correlao com outros bairros, especificamente entre seus centros de bairro. A formao de redes econmicas, sociais, ambientais e de mobilidade que conectam os bairros faz com que estes funcionem de forma complementar dentro de uma escala maior de atuao.

    eSCALA DA CiDADe Uma comunidade urbana sustentvel vincula-se infraestrutura e aos servios existentes em uma cidade e tem uma relao intrnseca com sua mancha urbana. Nesta escala, as recomendaes so centradas nos vnculos de complementariedade, fsicos, polticos, econmicos, ambientais e sociais, entre a comunidade urbana e o restante da cidade. Nos casos de conurbao, a comunidade tambm se vincula regio ou rea metropolitana.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 19

    eSCALA DA RuA A rua o espao onde convivem e se conectam os diferentes aspectos da vida cotidiana de uma comunidade urbana. Alm de serem planejadas para configurar uma rede de mobilidade, todas as ruas devem alocar mltiplos usos e atividades, como: espaos de intercmbio cultural, poltico, social, comercial e de recreao. A rua tambm o primeiro ponto de acesso ao transporte coletivo e privado, e o principal meio de acesso informao sobre a cidade.

    eSCALA Do BAiRRo Cada comunidade urbana sustentvel funciona a partir de bairros DOTS, definidos por este manual como a rea compreendida dentro de um raio de 500 metros ou de 675 metros de percurso na escala de pedestres e ciclistas, o que corresponde a 10 minutos de caminhada. Para definir o centro da rea de interveno deve-se considerar o centro do bairro ou uma estao do transporte coletivo.

  • 20 CAPTULO 2 | DOTS CIDADES

    integRALiDADe

    Da mesma forma que os elementos DOTS fazem parte de uma viso integrada de desenvolvimento urbano, importante que as estratgias presentes neste guia no se apliquem de maneira isolada ou seletiva.

    Apesar do carter de aplicao voluntria dessas estratgias de desenho urbano e das recomendaes especficas contidas dentro de cada uma delas, sugere-se que os tomadores de decises e os diferentes atores responsveis pela implementao

    DiStnCiAS LineAReS e De PeRCuRSo

    Muitas das estratgias deste manual tm como medida-base as distncias percorridas por ciclistas e pedestres, em especial em viagens originadas nas residncias da comunidade urbana at os locais de servios bsicos, centros de bairro e outros pontos de interesse. Porm, pela complexidade da medio e anlise de todos os possveis trajetos de um ponto de bairro a outro, esse conceito pode ser relacionado distncia linear. Pode-se dizer que a distncia de trajeto de um ciclista ou de um pedestre equivalente a 1,35 vezes a distncia linear (18) entre os dois pontos analisados. Isso se a rea analisada possuir uma infraestrutura adequada para a mobilidade no motorizada e um bom grau de conectividades entre as vias.

    de projetos de novos empreendimentos, revitalizao ou recuperao urbana procurem cumprir as estratgias na sua totalidade. O cumprimento de uma s estratgia de desenho urbano no implica por si s a construo de uma comunidade urbana verdadeiramente sustentvel, e as estratgias no so mutuamente excludentes. Por isso, para alcanar um alto grau de sustentabilidade, necessrio cumprir com o maior nmero de recomendaes.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 21

    Diversidade de usos, de servios e espaos pblicos ativos favorecem a interao social. Joinville, SC.

  • 22 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    captulo 3

    estratgias de deSenhO URbAnO dOtS

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 23

    Juiz de Fora, MG.

    Neste captulo so apresentadas as principais estratgias de desenho urbano DOTS que devem ser aplicadas para que uma comunidade urbana seja sustentvel. Para melhor compreenso, o captulo est dividido em sete subcaptulos que correspondem a cada um dos elementos DOTS. Por sua vez, cada subcaptulo contm primeiro uma descrio conceitual sobre os temas abordados, seguida

    por uma explicao da problemtica correspondente e, por fim, da exposio de quatro estratgias de desenho urbano, conforme as escalas de implementao, apoiadas com diagramas representativos e fotografias alusivas aos resultados esperados. A matriz a seguir sintetiza as 28 estratgias do DOTS, considerados os 7 elementos em cada uma das 4 escalas.

  • 24 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 25

    3.1

    transporte cOletIvO de qUAlIdAde

    Curitiba, PR.

  • 26 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    O objetivo de oferecer um transporte de alta qualidade incrementar o nmero de viagens de transporte pblico, mediante conexes adequadas e servio cmodo, eficiente e acessvel. O transporte coletivo est intrinsecamente vinculado ao desenvolvimento urbano, e a viabilidade dos sistemas de transporte depende de bairros densos e conectados, que permitam viagens mais convenientes entre os pontos de origem e destino da cidade. As estratgias recomendadas neste subcaptulo no descrevem como implementar um servio de transporte coletivo de qualidade, mas sim como desenhar as condies urbanas para tornar factvel sua insero e operao.

    Oferecer um transporte coletivo de qualidade assegurar aos habitantes que possam mover-se dentro e fora de sua comunidade urbana de maneira cmoda, eficiente e acessvel, sem recorrer ao uso do automvel. Implica altas frequncias de servio, horrios claramente estabelecidos e infraestrutura adequada para sua operao. O transporte coletivo de qualidade um importante catalisador das dinmicas econmicas do ambiente construdo que, atravs de densidades adequadas, da diversidade do uso do solo, de corredores comerciais, da valorizao imobiliria, multiplica os motivos de viagem em transporte coletivo.

    A taxa de urbanizao no Brasil j era de 84,4% em 2010 (19), e, segundo a projeo realizada pela ONU Habitat (20), entre 2000 e 2020 haver um aumento

    de cerca de 30% na populao que vive em nossas cidades. A projeo para o aumento das manchas urbanas no mesmo perodo, segundo o Lincoln Institute of Land Policy (21), de mais de 100%. As cidades brasileiras tm crescido cada vez menos compactas, baseadas no padro de baixas densidades da produo de moradias populares e se expandem por reas distantes e desconectadas da mancha urbana, onde o custo da terra mais barato. Como consequncia imediata, o custo da oferta de infraestrutura urbana aumenta drasticamente, e os moradores dessas novas habitaes afastadas no dispem de um servio de transporte coletivo de qualidade para se deslocar at os centros de interesse e o restante da cidade.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 27

    Quando o servio de transporte coletivo se estrutura em funo de conexes de baixa densidade e longas distncias, carece de requisitos mnimos de qualidade e acessibilidade. O atendimento pode resultar precrio por parte do prestador do servio; os itinerrios e horrios so irregulares; os pontos de embarque e desembarque so espaados e desarticulados dos equipamentos pblicos ou pontos de interesse; a infraestrutura destinada ao transporte coletivo no devidamente projetada, alm de precria ou inexistente, o que frequentemente implica a ineficincia do servio e acidentes de trnsito. Essas condies de operao resultam no aumento dos custos

    do servio e consequentemente das tarifas pagas pelos usurios.

    Existem oportunidades tanto para localizar melhor os projetos das comunidades urbanas quanto para prover-lhes transporte coletivo de qualidade. A soluo passa pela ocupao dos vazios urbanos, com a promoo de projetos urbanos compactos em reas j atendidas pelos servios e equipamentos pblicos, otimizando a infraestrutura e servios existentes e reduzindo custos de manuteno e gastos pblicos, ao fazer as propriedades cumprirem a sua funo social, como previsto pelo Estatuto das Cidades.

    Integrao entre transportes coletivo e no motorizado.Rio de Janeiro, RJ.

  • 28 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a ciDaDe

    proximidade com a mancha urbanaPara aumentar a probabilidade de que a comunidade urbana tenha acesso a um servio de transporte coletivo de qualidade, necessrio assegurar que o projeto faa parte de um modelo de cidade conectada, procurando dar continuidade rea j ocupada. Ou seja, que o acesso comunidade urbana no se realize exclusivamente por uma via arterial. Dessa

    forma, o transporte coletivo pode integrar a comunidade urbana com o resto da cidade, sem torn-la dependente do uso do automvel e das vias de alta velocidade (como estradas federais e estaduais), que geralmente so inadequadas para o transporte coletivo massivo e constituem barreiras urbanas de difcil transposio fsica e social.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 29

    A comunidade urbana sustentvel deve fazer parte de um sistema virio aberto, onde suas vias se integrem facilmente estrutura urbana existente. Para que isso seja possvel, recomendado que a maioria dos

    acessos comunidade urbana sustentvel se realize atravs de vias secundrias ou locais, interligadas a um corredor estruturante, com servio constante de transporte coletivo de qualidade.

    Conjunto habitacional integrado ao tecido urbano facilita o acesso ao transporte coletivo. Manaus, AM.

  • 30 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia interbairros

    Viabilidade do transporte coletiVoA viabilidade de implantao de um sistema de transporte coletivo de qualidade depende de uma demanda mnima de potenciais usurios, com acesso facilitado e priorizado em relao ao transporte individual. Para aumentar a possibilidade de oferta de um servio adequado nas comunidades urbanas, devem ser buscadas densidades urbanas mdias ou altas, de acordo com a seguinte tabela de correlaes (22, 23):

    Densidade bruta(unidades habitacionais

    por hectare)

    Servio de transporte coletivo(capacidade do veculo por viagem)

    Muito baixa (6-25) Capacidade mdia de 12 passageiros e frequncia escassa

    Baixa (1545) Capacidade de at 35 passageiros e com baixa frequncia

    Mdia (4055) Capacidade mdia de at 85 passageiros com frequncia regular

    Alta ( >60)Capacidade mdia de 100 a 220

    passageiros com frequncia mediana ou alta.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 31

    Os nveis de densidade bruta de moradias apontadas na tabela so nmeros mdios e no implicam uma distribuio uniforme dos edifcios na rea de estudo considerada. Para potencializar a demanda, sugere-se dispor as densidades

    mais altas, os equipamentos regionais e as moradias multifamiliares dentro de um percurso de pedestres e ciclistas de, no mximo, 675 metros a partir dos pontos de parada do transporte coletivo.

    Prioridade para nibus favorece a qualidade e a viabilidade do transporte coletivo. Juiz de Fora, MG.

  • 32 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para o bairro

    acesso ao transporte coletiVoPara assegurar que o transporte coletivo seja acessvel para a totalidade da comunidade urbana, recomendado que os pontos de embarque/desembarque sejam dispostos de maneira atrativa e segura para os pedestres. Deve existir um

    ponto a uma distncia mxima de 1.000 metros de deslocamento de pedestres e ciclistas, desde qualquer moradia da comunidade, equivalente a 15 minutos de caminhada ou 5 minutos em bicicleta.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 33

    O ideal que essa distncia seja de 500 metros de deslocamentos para pedestres e ciclistas, diminuindo os tempos de deslocamento para 7 a 8 minutos caminhando ou menos de 3 minutos

    pedalando. As ruas que conduzem at os pontos de parada de transporte coletivo devem contar com um sistema de caladas e ciclovias adequado.

    Acesso ao transporte coletivo integrado a uma boa rede de caladas e ciclovias. Belo Horizonte, MG.

  • 34 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a rua

    infraestrutura para o transporte coletiVoPara que o transporte coletivo opere de maneira eficiente, necessrio que a infraestrutura viria atenda s necessidades de embarque/desembarque dos passageiros. Deve-se garantir especificamente:

    faixas de rolamento com largura mnima de 3,3 metros e sinalizao horizontal que indique a prioridade do servio de transporte coletivo (24);

    paradas de embarque/desembarque sinalizadas com informaes sobre o itinerrio e frequncia do transporte coletivo.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 35

    Para melhorar a atratividade e a eficcia do servio de transporte, sugere-se que:

    todas as paradas tenham proteo contra intempries, bancos ou barras de apoio, informao atualizada dos itinerrios, faixa livre na calada suficientemente larga para o fluxo de pedestres e um estacionamento

    para bicicletas, de acordo com a demanda de transporte na regio;

    todas as vias arteriais contemplem um servio de transporte coletivo, de preferncia com trnsito em faixas exclusivas ou prioritrias.

    Infraestrutura de transporte coletivo adequada e acessvel. Curitiba, PR.

  • 36 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    Juiz de Fora, MG.

    3.2

    MobiLiDaDe nO MOtORIZAdA

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 37

    O desenvolvimento de espaos destinados aos pedestres e ciclistas contribui com a acessibilidade dos equipamentos do entorno, a funcionalidade dos espaos pblicos e a segurana pblica da comunidade urbana sustentvel, pelo fato de ter mais pessoas vigiando as ruas (25). Alm de mitigar as emisses locais e de efeito estufa, a promoo de atividades fsicas de acesso gratuito contribui para a sade pblica, ao prevenir doenas respiratrias, reduzir os ndices de obesidade e evitar acidentes de trnsito.

    A priorizao do automvel nas nossas cidades se reflete no desenho urbano, na distribuio do uso do solo e no projeto do sistema virio da maioria dos loteamentos e empreendimentos habitacionais no Brasil. Segundo Vasconcellos (26), a rea destinada aos veculos privados em um loteamento residencial corresponde a 22% do solo urbano total, rea 4,5 vezes maior do que a necessria para o deslocamento por

    bicicleta. Isso implica uma dependncia quase absoluta da mobilidade motorizada, gerando ambientes hostis e pouco atrativos para pedestres e ciclistas.

    O padro de loteamento ou condomnio fechado tambm afeta a mobilidade dos pedestres e ciclistas, pois portes, cercas ou muros fazem das ruas espaos pouco atrativos e inseguros. As ruas fechadas incitam os moradores a optarem pelo automvel nos seus deslocamentos. Essa situao se acentua quando esses condomnios esto localizados em reas perifricas, onde o custo dos terrenos mais baixo, dificultando ainda mais os deslocamentos em modos no motorizados.

    Alm de gerar impactos positivos na segurana e na sade pblica, a promoo da mobilidade no motorizada conduz a uma melhor e mais eficiente integrao da comunidade urbana com seu entorno e, consequentemente, com o restante da cidade.

    O objetivo de promover a mobilidade no motorizada incrementar o nmero de viagens locais de pedestres e ciclistas, oferecendo uma experincia cmoda, segura e atrativa. fundamental planejar a comunidade urbana sustentvel focada nos pedestres e ciclistas. Trata-se de motivar os moradores especialmente os usurios de automveis privados para que realizem viagens curtas a p ou de bicicleta, fomentando a cultura da mobilidade no motorizada. Alm disso, existem tipicamente dois trechos de viagens no motorizadas associados ao transporte coletivo: um at a parada de embarque do transporte coletivo e outro da parada de desembarque at o destino final.

  • 38 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a ciDaDe

    continuidade do traado VirioPara que seja possvel, cmodo e seguro utilizar meios no motorizados de transporte nas entradas e sadas da comunidade urbana, a continuidade das redes de vias para ciclistas e pedestres com os arredores da comunidade deve ser assegurada. Para isso, recomenda-se que:

    todas as vias que desembocam no limite da comunidade urbana, ou que a circundam, tenham continuidade no seu interior;

    as novas vias sejam projetadas para, no futuro, permitirem a continuidade viria e a conexo com a rea ocupada, evitando moradias situadas nas cabeceiras das vias;

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 39

    as vias que do acesso comunidade urbana devem ter infraestrutura adequada para pedestres e ciclistas;

    vias com acesso restrito (ruas fechadas ou sem sada) ou que do preferncia ao acesso exclusivo para automveis no devem ser construdas.

    A comunidade urbana sustentvel deve contar com quarteires de acordo com o limite estabelecido pela lei de parcelamento local, desde que no ultrapasse os 250 metros. Nem todas as vias devem necessariamente permitir trnsito veicular, podendo ser previstas passagens exclusivas para pedestres e ciclistas.

    Continuidade do traado das ciclovias contribui para o uso

    da bicicleta como meio de transporte. Sorocaba, SP.

  • 40 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia interbairros

    redes para pedestres e ciclistasO benefcio da infraestrutura para pedestres e ciclistas est na capacidade de construir uma rede para esses modais. As rotas devem se conectar a diferentes centros de interesse e de atrao de fluxo de pedestres e ciclistas. Para tanto, importante que a comunidade urbana conte com:

    uma rede de rotas ciclovirias que interligue os centros de bairro entre si, das origens aos destinos-chave para a comunidade;

    caminhos para pedestres no acesso s moradias onde no se possam construir vias para garantir a privacidade das residncias, espaos reduzidos entre

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 41

    edifcios, topografia acidentada ou zonas com baixo fluxo veicular.

    Os caminhos para pedestres e ciclistas no so exclusivamente para uso recreativo. As rotas devem ser diretas e eficientes, planejadas em conjunto com as autoridades locais para identificar as distncias mais curtas possveis entre os

    principais pontos de interesse e destinos. Com o objetivo de ativar os espaos pblicos e a economia local, sugere-se selecionar ruas estratgicas dos centros de bairro para convert-las em calades de pedestres ou em espaos de uso compartilhado com a mobilidade no motorizada.

    Calades em rea de interesse da cidade favorecem o deslocamento das pessoas. Curitiba, PR.

  • 42 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para o bairro

    conectiVidade internaPara que a mobilidade no motorizada seja atraente, necessrio assegurar que a comunidade tenha um traado virio que favorea as viagens a p ou em bicicleta, tornando-as mais curtas. Para isso, recomenda-se que a comunidade urbana tenha uma alta conectividade e no possua ruas sem sada. Para que os deslocamentos de pedestres e ciclistas

    sejam facilmente realizados (menos de 1.000 metros), sugere-se que nenhum dos lados das quadras da comunidade urbana tenha mais de 250 metros.

    Para assegurar um alto grau de conectividade de uma comunidade urbana, recomenda-se calcular o ndice de conectividade, obtido pela

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 43

    diviso do nmero total de segmentos de via entre intersees pelo nmero total de intersees. Um alto grau de conectividade assegurado quando esse ndice atinge 1,4, no mnimo, pontuao que expressa a existncia de conexes mais diretas para o acesso entre dois lugares, uma vez que h mais caminhos disponveis a partir de cada interseo.

    Vias para pedestres garantem a conectividade interna. So Paulo, SP.

    Exemplo de clculo do ndice de conectividade:

    40 segmentos de via 25 intersees Grau de conectividade = 1,6

    12 segmentos de via 9 intersees Grau de conectividade = 1,33

  • 44 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a rua

    caladas e cicloViasPara que a mobilidade no motorizada seja cmoda e eficiente como transporte cotidiano os espaos devem ser projetados para o trfego dedicado a pedestres e ciclistas. Para garantir um fluxo ininterrupto de pedestres, as caladas devem se dividir em trs zonas ou faixas distintas:

    a faixa livre, dedicada ao trfego exclusivo de pedestres, deve ser desobstruda e isenta de interferncias e obstculos que reduzam sua largura e, assim, dificultem o fluxo de pessoas;

    a faixa de servio, onde devem estar localizados o mobilirio urbano e a vegetao, e onde se instalam as infraestruturas subterrneas e redes de servios urbanos;

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 45

    a faixa de transio, junto s edificaes, que marca o local entre o espao construdo privado e o espao pblico sem construes.

    A alocao de paraciclos em todos os equipamentos urbanos, unidades habitacionais, zonas de comrcio e pontos de transporte coletivo necessria para promover a gerao de viagens por bicicleta e para evitar conflitos entre ciclistas e pedestres. Recomenda-se a implantao de ciclovias ou ciclofaixas no nvel do leito virio ou em nvel intermedirio entre a via e a calada.

    As dimenses e a funo de cada estrutura dedicada mobilidade no motorizada variam de acordo com o contexto urbano: densidade, uso do solo, contexto climtico e hierarquia viria. No entanto, so propostas as seguintes larguras mnimas:

    ciclovias/ciclofaixas unidirecionais: 1,2 m ciclovias/ciclofaixas bidirecionais: 2,5 m faixa de servios na calada: 0,8 m faixa livre para o trfego de pedestres na calada: 1,2 m (17) faixa de transio junto s edificaes na calada: 0,45 m

    Em vias arteriais, recomenda-se que as caladas estejam claramente protegidas pela vegetao ou pelo mobilirio urbano e que sejam pavimentadas com materiais permeveis. Em relao s ciclovias, que sejam segregadas do trfego de veculos automotores.

    Ciclovias contnuas e bem sinalizadas aumentam a segurana dos ciclistas. Joinville, SC.

  • 46 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    Curitiba, PR.

    3.3

    gesto Do USO dO AUtOMvel

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 47

    O automvel assumiu papel preponderante nas cidades brasileiras desde os anos 80. Segundo dados da ANTP (27), apesar das viagens realizada em automveis representarem 27,4% do total das viagens urbanas (ou 36% em cidades com mais de 1 milho de habitantes), os investimentos pblicos em infraestrutura para o transporte individual motorizado foram quatro vezes maiores que os destinados ao transporte coletivo no Brasil. Essa inverso de valores comumente transmitida para o custo do indivduo ou das moradias, resultando em m qualidade de infraestrutura e equipamentos urbanos.

    O uso do automvel demonstra ineficincia, sobretudo por:

    gerar congestionamentos em vias desenhadas para o trnsito rpido, alcanando velocidades menores do que as obtidas pelo transporte coletivo de qualidade ou, em alguns casos, do que as bicicletas;

    ser responsvel por 78% da energia gasta pelas pessoas nos seus deslocamentos (26);

    estar associado a 58% do monxido de carbono e 63% dos hidrocarbonetos gases altamente prejudiciais sade emitidos pelos meios de transporte (26);

    provocar acidentes de trnsito, principal causa de morte dos jovens entre 15 e 29 anos no Brasil (28).

    O desenho urbano segue voltado motorizao individual, apesar de a maioria dos habitantes que hoje tem acesso a uma moradia no possuir automvel. Apenas uma parcela reduzida da populao est sendo favorecida com a construo da infraestrutura destinada ao automvel privado, que em mdia transporta em torno de 1,5 passageiros e ocupa 2,6 vezes mais espao que uma bicicleta (29).

    A falta de planejamento das vias leva os habitantes a caminharem junto ao fluxo de veculos ou pedalar nas caladas, sem ter outra opo. Essa situao pode ser revertida atravs de um desenho urbano que reconhea o pedestre e o ciclista como protagonistas da mobilidade nas cidades brasileiras.

  • 48 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    Gerir e desestimular o uso do automvel e estacionamentos objetiva a criao de ambientes seguros e agradveis para o convvio das pessoas. Ao mesmo tempo em que se reconhece a utilidade do automvel para determinadas caractersticas de viagens, necessrio promover seu uso responsvel dentro de uma comunidade urbana, considerando os aspectos econmicos, ambientais, sociais e de segurana viria.

    Dessa forma, devem-se reduzir as distncias entre as moradias e os centros de trabalho e locais de realizao de outras atividades como estudo, servios e lazer, desenvolvendo alternativas de mobilidade sustentvel para as viagens dirias dos moradores. Tambm devem ser minimizados os riscos de acidentes virios atravs da reduo da velocidade dos automveis, por meio de elementos que permitam o fluxo moderado do

    x0

    x1

    x3,3

    x10

    CARROSESTACIONADOS

    0

    CARROSEM TRNSITO

    1.350

    CICLISTAS

    CAPACIDADE (PESSOAS/HORA)

    4.500

    PEDESTRES

    13.500

    BRT

    13.500

    1Elaborado a partir de: Boareto, R. Caderno de referncia para elaborao de Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades. Braslia/DF, Ministrio das Cidades, 2007. // Pereira, B. M., L.A. Lindau, et al. Avaliao do desempenho limite de corredores Bus Rapid Transit (BRT) sem ultrapassagem. Revista Transportes, v. 21, n 1, p. 5-13. 2013. // Transportation Research Board. Highway Capacity Manual. Washington/DC, EUA, 2000.

    Fonte: EMBARQ Brasil1

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 49

    trfego veicular, ao mesmo tempo em que produzam ambientes mais seguros para pedestres e ciclistas.

    O controle e a reduo de espaos de estacionamento, alm de dissuadirem o uso desnecessrio do automvel, conduzem gerao de entornos mais amigveis para o pedestre e lhe permitem acessar a cidade de maneira mais fcil e segura. Desestimular o uso do automvel

    privado significa dar prioridade aos usurios de outros meios de transporte mais sustentveis no planejamento e no desenho de uma nova comunidade urbana. A gesto do uso do automvel, combinada com um servio de transporte coletivo de qualidade, contribui para reduzir os nveis de poluio do ar na regio, os acidentes virios, assim como o tempo e o custo das viagens cotidianas.

    Criao de espaos agradveis para o convvio das pessoas a partir da gesto do uso do automvel. Porto Alegre, RS.

  • 50 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a ciDaDe

    otimizao dos percursos diriosPara reduzir as distncias percorridas diariamente entre moradias e locais de trabalho (equipamentos, comrcios, servios, indstrias), necessrio assegurar que exista ao menos um emprego formal por moradia construda

    dentro de uma distncia de sete quilmetros, a partir de qualquer ponto da comunidade urbana. Isso possvel estabelecendo a comunidade urbana perto dos centros de empregos e fomentando atividades produtivas no seu interior.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 51

    Para diminuir o uso indiscriminado e individual do automvel em viagens pendulares cotidianas, recomenda-se a promoo dos seguintes programas:

    gesto do uso do automvel: transporte coletivo atendendo empresas e escolas, organizao das viagens e caronas entre moradores de um mesmo bairro, convnios com empresas ou associaes que desenvolvem servios de veculos compartilhados;

    utilizao da mo de obra localizada dentro de um raio mximo de sete quilmetros de qualquer moradia.

    Diversificar o uso do solo reduz os deslocamentos dirios e a dependncia

    do automvel. Curitiba, PR.

  • 52 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia interbairros

    Vias seguras e ordenadasPara que o volume de trfego de veculos seja distribudo com equilbrio e para proporcionar tanto mobilidade para veculos motorizados quanto um ambiente seguro para pedestres, ciclistas e usurios

    do transporte pblico, recomenda-se que as vias sejam dispostas em forma de rede, projetadas para velocidades inferiores a 50km/h e que considerem as seguintes classes funcionais (30):

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 53

    CLASSe FunCionAL DA viAArterial Coletora Local

    Privilegiar deslocamentos ao

    longo da via

    Ligar as vias locais ao sistema de vias

    arteriaisDar acesso s

    residncias

    Limite de velocidade recomendada (km/h) 50 40 30

    Nmero total de faixas (nos dois sentidos) 4 6 2 4 2

    Largura recomendada para cada faixa de rolamento (m)

    3,5 3,0 2,75

    Densidade residencial bruta Mdia - alta Mdia Mdia baixa

    Distncia mxima entre vias do mesmo tipo (m) 1.000 500 250

    Funo

    Caractersticas

    O risco de ferimentos graves ou morte de pedestres aumenta exponencialmente com a velocidade. Ao ser atingido por um veculo a 30km/h, um pedestre tem menos de 20% de probabilidade de falecer em

    decorrncia do atropelamento. A 50km/h, essa probabilidade aumenta para cerca de 80%, e a 60km/h as chances de sobrevivncia so quase nulas (31).

    0%0 10 20 30 40 50 60 70

    20%

    40%

    60%

    80%

    100%

    VELOCIDADE DE IMPACTO [km/h]

    PRO

    BABI

    LID

    AD

    E D

    E U

    M P

    EDES

    TRE

    MO

    RRER

  • 54 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    Portanto, em locais com grande movimentao de pedestres recomendado estabelecer, sempre que possvel, Zonas 30 nos bairros onde predominam as vias locais, desenhadas para que os automveis no ultrapassem os 30km/h, priorizando a mobilidade no motorizada e fomentando a convivncia comunitria.

    A tabela abaixo sugere a composio do desenho da seo da via conforme a

    classe funcional. necessrio considerar as larguras mnimas e caractersticas da infraestrutura para a mobilidade no motorizada (32). Em relao s ciclovias e ciclofaixas unidirecionais, a largura mnima de 1,2m aceitvel para pontos de estreitamento, porm, se recomenda a largura de 1,5m para maior segurana e comodidade do ciclista.

    CoMPoSio DA Seo DA viA

    CLASSe FunCionAL DA viA

    Arterial Coletora Local

    Ciclovia/ciclofaixa (unidirecional: mnimo 1,2m) Sim Opcional

    No (trnsito compartilhado)

    Canteiro central (mnimo 1,2m) Sim Opcional No

    Estacionamento (mnimo 2,70m) Opcional Sim Opcional

    Passeio (mnimo 2,00m) Sim Sim Sim

    Faixa exclusiva de transporte coletivo (mnimo 3,3m) Sim Opcional No

    Trnsito de transporte de carga (mnimo 3,0m) Sim Opcional No

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 55

    Nivelamento da via com as caladas e sinalizao adequada promovem o ordenamento e a moderao de trfego. Salvador, BA.

  • 56 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para o bairro

    gesto dos estacionamentosA diminuio da oferta de estacionamento veicular gratuito uma forma de reduzir a dependncia do uso do automvel e mitigar os efeitos negativos de seu uso. Isso pode ser realizado atravs das seguintes prticas:

    para os estacionamentos particulares no interior dos prdios recomenda-se:

    - determinar o nmero mximo de vagas por moradia, a partir da avaliao

    do nvel de motorizao dos habitantes da regio ou correspondente ao nvel socioeconmico do mercado a que se destina a moradia;- incluir as reas para estacionamento de veculos no cmputo total das reas a construir, determinadas pelo coeficiente ou ndice de aproveitamento;- possibilitar a comercializao das vagas de estacionamento de forma

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 57

    separada da aquisio da moradia em prdios multifamiliares; - permitir a utilizao de vagas de estacionamento para instalar paraciclos, coletivos ou individuais.

    os estacionamentos sobre a via pblica devem estar bem definidos e devidamente sinalizados. Quando a demanda for alta, especialmente em zonas comerciais ou de uso misto, recomendado prever um sistema de vagas rotativas, regulado por pagamentos, como os proporcionados por parqumetros.

    Para um melhor aproveitamento dos espaos de estacionamento veicular, sugere-se considerar as seguintes compatibilidades, particularmente nos horrios de menor demanda:

    um estacionamento coletivo localizado em uma zona residencial pode ser utilizado como uma rea recreativa ou espao comunitrio;

    Parklets e parqumetros so boas formas de reduzir a oferta gratuita de estacionamento. So Paulo, SP, e Porto Alegre, RS.

    o estacionamento de uma zona comercial pode se converter em espao pblico, desportivo ou feiras em dias ou horrios especficos.

    Outra alternativa que vem despertando a ateno a ampliao dos passeios pblicos, de forma temporria ou permanente, utilizando o espao da via destinado a estacionamento de automveis. Esse sistema, conhecido como parklets, promove a permanncia e a convivncia nas ruas e nos bairros com a instalao de vegetao, mobilirio ou equipamentos urbanos, tais como bancos, paraciclos, floreiras, mesas, cadeiras etc (33).

    Os moradores de prdios multifamiliares deveriam ter a possibilidade de escolher entre um estacionamento para quatro bicicletas ou uma vaga para um automvel. Devem estar previstos outros estacionamentos de bicicletas nos centros de bairro, com o objetivo de incentivar a converso da bicicleta em uma opo de transporte.

  • 58 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a rua

    segurana ViriaCom a finalidade de proteger os usurios mais vulnerveis das ruas, promovendo uma melhor convivncia com os meios de transporte motorizados, as intersees e os cruzamentos devem ser desenhados de maneira clara, amigvel e orientados aos pedestres, garantindo que:

    a sinalizao viria transmita uma mensagem pertinente, clara e seja disposta em local apropriado, para que todos os usurios da rua (no somente o automvel) a respeitem e possam se orientar;

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 59

    a infraestrutura seja adequada para que os distintos usurios, especialmente as pessoas portadoras de deficincia ou com mobilidade reduzida, possam acessar a interseo sem enfrentar qualquer tipo de obstculo fsico;

    a interseo apresente distncias curtas, para que o cruzamento de pedestres seja rpido e sua exposio aos veculos motorizados seja reduzida.

    Ruas bem planejadas e sinalizadas so mais acessveis e seguras. Guarapuava, SC.

    Recomenda-se que os cruzamentos de pedestres estejam sempre no nvel da calada ou do fluxo veicular (com rampas em ambos os lados, uma largura mnima de 1,2 metro e inclinao mxima 8,33%), que as vias formem ngulos de 90 nas intersees e que tenham sinalizao horizontal adequada. tambm apropriado reduzir o nmero de vias que compem a interseo, assim como os movimentos veiculares nela permitidos.

  • 60 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    So Paulo, SP.

    3.4

    uso Misto e edIFcIOS eFIcIenteS

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 61

    Prever a mescla de usos do solo assegurar uma ampla gama de servios urbanos para os habitantes de uma cidade. A diversidade das atividades localizadas em comunidades urbanas sustentveis as converte em destinos atrativos, ativam os espaos pblicos, promovem a mobilidade no motorizada e melhoram a economia local. Em sntese, a diversidade funcional, a incorporao de tecnologias amigveis ao meio ambiente e desenhos arquitetnicos inteligentes ajudam na construo de um sistema econmico eficiente que contribui para melhorar a qualidade de vida de uma comunidade.

    A produo massiva de empreendimentos habitacionais, particularmente no mbito do Programa Minha Casa, Minha Vida, tem contribudo para a criao de bairros distantes e isolados, em vez de desenvolver condies para o estabelecimento de uma cidade competitiva. A construo de moradias para parcelas da populao com menor poder aquisitivo, raramente contempla as infraestruturas e os

    equipamentos necessrios para a vida urbana ativa de centenas de pessoas. Os espaos planejados para o convvio social se transformam algumas vezes em terrenos baldios pela ausncia de investimentos pblicos ou privados e de manuteno, ou tomados por grupos ligados marginalidade.

    A falta de atendimento das necessidades econmicas, sociais e culturais dos habitantes de uma comunidade implica um alto custo tanto para os habitantes como para as incorporadoras imobilirias e autoridades locais: aumentam as despesas, os custos e tempos de viagens dirias dos habitantes; so produzidos no-lugares que os privam das funes bsicas de uma cidade; so gerados enclaves sociais que inibem a coeso social devido reproduo de habitaes destinadas unicamente a famlias de determinada faixa de renda; e, finalmente, desperdia-se a oportunidade econmica de promover a contnua manuteno de uma comunidade e gerar renda em vez de provocar tenses e desigualdades sociais.

    O uso misto do solo e eficiente potencializa a atividade econmica e habitacional mediante a densificao e a diversificao das funes do ambiente construdo com um bom desenho. Alm disso, promove a gerao de viagens curtas e, portanto, uma melhor utilizao de recursos energticos para a mobilidade. Da mesma forma, os edifcios inseridos na comunidade urbana podem minimizar o consumo de energia e gua para sua construo e manuteno. As estratgias descritas neste manual combinam ambos os princpios em uma mesma lgica de eficincia do desenho urbano e de localizao especfica das edificaes de uma comunidade urbana, desde pequenos quiosques at empreendimentos de mbito regional.

  • 62 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a ciDaDe

    equipamentos regionaisPara garantir que os habitantes tenham acesso aos servios que a cidade oferece, necessrio primeiramente identificar o nvel de cobertura dos equipamentos j existentes ou em construo nas mediaes da comunidade urbana. A partir de qualquer ponto da comunidade, importante disponibilizar acesso a:

    uma escola de ensino mdio a no mais que 2,5 quilmetros de deslocamento;

    uma delegacia ou um posto da polcia a no mais que 3,5 quilmetros de deslocamento;

    um supermercado a no mais que 3,5 quilmetros de deslocamento;

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 63

    um centro ou unidade bsica de sade a no mais de 6 quilmetros de deslocamento;

    um centro cultural a no mais de 6 quilmetros de deslocamento.

    necessrio avaliar a capacidade dos equipamentos existentes para absorver a nova demanda de habitantes da

    Equipamentos pblicos de qualidade so essenciais para o desenvolvimento das comunidades. Rio de Janeiro, RJ.

    comunidade urbana. Se a oferta no for suficiente, importante planejar a construo dos equipamentos faltantes, em conjunto com as autoridades locais, de tal forma que se localizem em pontos-chave para a comunidade urbana e seus vizinhos e que se priorize o acesso pelo transporte coletivo e meios no motorizados.

  • 64 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia interbairros

    equipamentos de bairro e comrciosPara proporcionar acessibilidade efetiva a equipamentos e comrcios bsicos desde as moradias, necessrio assegurar no bairro os diferentes usos de solo que os habitantes necessitam no seu dia a dia. De qualquer ponto da comunidade, importante disponibilizar acesso a:

    comrcio varejista a no mais que 600 metros de deslocamento;

    reas de lazer infantil a no mais que 600 metros de deslocamento;

    escola de educao infantil e de ensino fundamental a no mais de 1.000 metros de deslocamento;

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 65

    espao destinado a feiras ou mercados itinerantes a no mais de 1.000 metros de deslocamento.

    Sugere-se localizar ou destinar espaos para pequenas escolas, comrcio de

    abastecimento bsico (minimercados) nas esquinas de quadras, pelo menos sobre as vias arteriais ou coletoras e nas suas intersees principais.

    Equipamentos de bairro asseguram diversidade de atividades populao. Rio de Janeiro, RJ.

  • 66 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para o bairro

    edifcios eficientesPara que a comunidade urbana conte com edifcios que utilizem recursos de forma eficiente e continuada, necessrio fomentar a instalao de sistemas com eficincia energtica e reduo de custos de manuteno na maior parte das edificaes construdas, de tal maneira que:

    os proprietrios tenham a qualidade da construo assegurada;

    as edificaes tenham um consumo reduzido de gua e eletricidade, cumprindo as seguintes condies:

    - a iluminao se realize com lmpadas fluorescentes compactas (LFC), ou outro tipo de lmpadas econmicas, e

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 67

    calefao da gua com pelo menos um aquecedor solar;- os edifcios consigam uma reduo de 30% do consumo de gua potvel e 35% de reduo da demanda de energia.

    Para alcanar nveis de eficincia de consumo de gua e eletricidade nos edifcios, recomenda-se:

    Construes eficientes contribuem para a economia de recursos e reduo de gastos dos moradores. Umuarama, PR.

    reduzir o consumo atravs de estratgias de captao e reutilizao de guas residuais e da chuva ou atravs do tratamento em estaes prximas;

    certificar edifcios como sustentveis ou energeticamente eficientes, atravs de sistemas nacionais ou internacionais1.

    1Exemplos de Certificaes: PCES (Mxico), BREEAM (Inglaterra), LEED (Estados Unidos), CASBEE (Japo), GreenStar (Austrlia), HWE (Frana), GreenGlobes (Canad), VERDE (Espanha), Selo Azul (Brasil), ABNT NBR ISO 14001 (Brasil).

  • 68 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a rua

    integrao pedestre-ruaPara fomentar a economia local e a variedade de atividades nas ruas, preciso assegurar, atravs de um desenho adequado, que o espao pblico convide o pedestre a transitar e permanecer nele. Para isso, a faixa de servio das caladas deve contemplar:

    rvores e vegetao de pequeno e mdio porte; iluminao pblica; sinalizao conveniente; mobilirio urbano; servios pblicos.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 69

    Variedade de atividades estimula a permanncia dos pedestres nas ruas. Curitiba, PR.

  • 70 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    A diversidade e o espaamento entre esses elementos dependem do contexto urbano e do nvel de servio da via. No entanto, sugere-se colocar:

    fileiras contnuas de rvores e vegetao de pequeno e mdio portes, gerando uma massa vegetal contnua que produza sombra, permita a percolao da gua ao subsolo, promova a absoro de dixido de carbono e produza um ambiente agradvel, evitando, contudo, rvores com razes proeminentes que possam danificar o pavimento da calada;

    iluminao pblica para pedestres, especialmente orientada iluminao completa de caladas e intersees, para que tambm seja seguro caminhar noite;

    sinalizao homognea e visvel para os pedestres, ao menos nas esquinas e intersees virias, contendo informaes teis para os pedestres;

    bancos, degraus, canteiros ou mobilirio urbano que permitam assento ao longo da calada, especialmente em frente a comrcios e servios pblicos, e ajude a delimitar o espao pblico da rua;

    espaos para postos, bancas ou locais mveis para a venda de alimentos, jornais, artesanatos, entre outros comrcios de varejo de baixo impacto, que complementem os locais de comrcio fixo;

    lixeiras e contineres para reciclagem ou compostagem em, pelo menos, cada interseo e em frente a servios pblicos e comrcios;

    telefones pblicos, caixas de correio, paraciclos e outros tipos de infraestrutura de servios urbanos, adicionando, pelo menos, 1,2 metro de largura adicional na calada.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 71

    Centralidades ativas demandam dimensionamento e desenho adequado das caladas. Joinville, SC.

  • 72 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    Curitiba, PR.

    3.5

    centros De bAIRRO e pISOS tRReOS AtIvOS

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 73

    Favorecer a criao de centros de bairro, reconhecveis por todos na comunidade, motivar o desenvolvimento de novas atividades econmicas, oportunidades adicionais de emprego e o aumento do nmero de viagens curtas que suprem a maioria das necessidades cotidianas dos habitantes. tambm estimular as interaes sociais nas ruas e nos espaos pblicos, criando uma comunidade urbana onde as pessoas se conheam e cuidem uns dos outros, e dos visitantes da comunidade urbana vindos de outros lugares da cidade.

    Hoje, o padro da produo de moradias no Brasil gera incontveis bairros e vilas desconectados das ocupaes lindeiras, com uso predominantemente residencial, com mnima oferta de atividades urbanas e de interao social. Alm de impedir a mobilidade interna da comunidade, aumentando a dependncia de vias arteriais para sair das zonas de moradia, so raros os espaos de convvio que ajudam a desenvolver uma identidade e um sentimento de pertencimento de seus habitantes.

    A falta de entendimento acerca das dinmicas fsicas e sociais do espao onde as pessoas vivem implica em prticas que, ao invs de remediar a situao desfavorvel, impactam negativamente a comunidade urbana. Por exemplo, se a transio entre os espaos pblicos e privados no desenhada desde o incio, ou pouco clara, os habitantes so levados a construir muros e a tomar atitudes de autossegregao, contrrias s dinmicas sociais desejveis.

    A falta de planejamento de aes complementares s moradias atividades, espaos e equipamentos pblicos leva proliferao de postos comerciais informais, no melhor dos casos, ou seu abandono, no pior dos cenrios. Ao focar os esforos na recuperao de moradias abandonadas e de conjuntos habitacionais deteriorados se estimula gerao de atividades econmicas, locais e variadas, que incitam os moradores a permanecerem em sua comunidade e cuidar dela.

    Centros de bairro e pisos trreos ativos qualificam a relao do espao pblico com o ambiente construdo, promovendo a interao social entre as pessoas. Uma comunidade urbana sustentvel deve prover uma densidade e uma variedade de atividades no habitacionais que se complementem com a moradia e o espao pblico, ativado, por sua vez, por redes de mobilidade no motorizada e conexes com a rede de transporte coletivo.

  • 74 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a ciDaDe

    economia localQualquer comunidade urbana tem capacidade para criar as condies necessrias para o desenvolvimento econmico local, pois sempre existe uma populao latente com a necessidade de emprego, equipamentos e proximidade com o comrcio e servios. Considerando o perfil sociodemogrfico da comunidade,

    as necessidades econmicas e as vocaes ambientais e culturais do local, necessrio realizar uma anlise dos setores econmicos primrio, secundrio e tercirio da cidade onde a comunidade urbana est estabelecida e, a partir disso, orientar o planejamento da economia local.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 75

    Para garantir a gerao de emprego para os habitantes de uma comunidade urbana sustentvel, e para estimular a dinmica econmica, recomenda-se:

    oferecer residncias integradas a pontos com atividades produtivas;

    permitir a converso de edificaes habitacionais, unifamiliares ou multifamiliares, em prdios de uso

    Feiras e atividades urbanas desenvolvem a economia local. Rio de Janeiro, RJ.

    misto, conciliando a funo de moradia com comrcio varejista, servios ou equipamento local;

    construir ou atrair investimentos para gerar centros de emprego, integrados e conectados comunidade urbana sustentvel. Convnios com investidores, empresas regionais ou autoridades locais possibilitam a implantao desses centros.

  • 76 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia interbairros

    centros de bairro importante que exista pelo menos um centro reconhecido por toda a comunidade urbana. Nele, comumente se estabelecem equipamentos e comrcios ao redor de um espao pblico que se encontra muito bem conectado com outros centros de bairro da comunidade urbana. Especificamente, um centro de bairro deve contar com:

    no mnimo quatro atividades no residenciais distintas, tais como padaria, minimercado, servio e equipamento pblico (34), localizados ao longo de percurso a p de 600 metros;

    maiores densidades que o restante do bairro;

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 77

    uma linha de transporte coletivo que faz a ligao com os outros centros de bairro da comunidade e/ou o resto da cidade;

    iluminao pblica adequada; um espao pblico consolidado, com ao

    menos uma rua de uso misto, caladas amplas, rua de pedestres, praa ou parque;

    uma imagem urbana especfica ou marco urbano que lhe d identidade prpria.

    A comunidade urbana sustentvel deve facilitar aos habitantes o uso e a valorizao da sua cidade tanto de dia como noite;

    ou seja, deve permitir que seus habitantes realizem atividades diversas a qualquer hora, de maneira cmoda, segura e eficiente. Para isso, recomenda-se:

    promover, nos centros de bairro, servios, comrcios e equipamentos com atividades noturnas saudveis, tais como restaurantes, hospitais, cinemas, farmcias, teatros, ginsios, escritrio etc.;

    implantar uma linha de transporte coletivo noturna ou, pelo menos, com servios at a meia-noite.

    Centralidades ativas permitem que os habitantes desfrutem a cidade em qualquer horrio. Belo Horizonte, MG.

  • 78 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para o bairro

    pisos trreos atiVosCom o objetivo de potencializar os usos mistos e os vnculos sociais, as fachadas dos edifcios devem interagir com a rua e com os espaos pblicos que as rodeiam. Para isso, ao menos os centros de bairro devem conter:

    pisos trreos comerciais e demais pavimentos de uso residencial ou

    servios nos edifcios, especialmente aqueles que rodeiam os espaos pblicos, equipamentos, calades e ruas com grande fluxo de pedestres;

    comrcios que estimulem a convivncia da vizinhana (lanchonetes, cafs, estticas, minimercados, confeitarias, etc.), tanto no seu interior como nas caladas e ruas.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 79

    O efeito dos pisos trreos ativos potencializado quando se analisa a complementariedade das atividades da comunidade urbana sustentvel e sua relao com o padro de mobilidade de seus habitantes. Para isso, recomenda-se que:

    os comrcios contribuam com as atividades realizadas nos equipamentos e espaos pblicos prximos (papelarias

    Pisos trreosativos contribuem para a interao com a rua e os espaos pblicos. Juiz de Fora, MG.

    prximas de escolas, bancos ao lado de centros comerciais, cafeterias em prdios de escritrios, sorveterias em frente a praas, etc.);

    as vias priorizem o transporte coletivo e a mobilidade no motorizada, oferecendo a infraestrutura adequada e conectando espaos pblicos com o resto da comunidade urbana e delimitando zonas de baixa velocidade para os automveis.

  • 80 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a rua

    transio pblico-priVadoPara garantir o xito da diversidade de atividades e usos do solo, indispensvel desenhar as transies entre o ambiente pblico e as reas privadas, levando em conta o contexto arquitetnico, a escala do pedestre e a percepo de segurana pblica da comunidade urbana. O tratamento aplicado nesses limites varia em funo do uso dos espaos. Deve-se buscar pelo menos:

    que todos os pisos trreos comerciais que tangenciam as caladas ou espaos pblicos tenham em torno de 60% de suas fachadas principais transparentes, ocupadas por janelas, vitrines ou portas;

    que todas as moradias tenham em torno de 40% de suas fachadas principais ou muros perimetrais transparentes, na forma de janelas, portas, grades ou trelias.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 81

    Maior permeabilidade das fachadas integra espaos pblico e privado, aumentando a sensao de segurana dos pedestres. Porto Alegre, RS.

    Para melhorar a transio entre o espao privado e o pblico, potencializar a convivncia comunitria e promover ambientes seguros, recomenda-se que, nas ruas residenciais, as cercas de cada prdio sejam permeveis atravs de:

    recuo de, no mximo, 5 metros em edifcios privados e 10 metros em edifcios pblicos, em qualquer de suas fachadas;

    altura no superior a 3 metros; iluminao apropriada para o pedestre,

    proveniente do edifcio e dirigida calada; uso de grades, vidros transparentes ou

    semiopacos, materiais com textura ou

    colocao de vegetao trepadeira, que permitam a permeabilidade visual;

    materiais com jogo de textura e vegetao;

    aberturas e interrupes frequentes na continuidade do muro;

    prioridade para acessos de pedestres nas caladas, evitando a interrupo da circulao de pessoas com rampas de acesso a estacionamentos;

    abertura de todas as vias da comunidade urbana, evitando a instalao de cabines de controle veicular e vigilncia privada.

  • 82 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    Arraial dAjuda, BA.

    3.6

    espaos pblIcOS e RecURSOS nAtURAIS

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 83

    No entanto, o espao pblico tambm deve ser considerado como um recurso ambiental estratgico. Alm de utilizar recursos naturais, energticos e hdricos para sua operao e manuteno, os espaos pblicos especialmente as reas verdes urbanas so zonas de amortizao de riscos, setores de proteo contra sinistros naturais, superfcies de escoamento e captao de gua pluvial, fontes de produo de oxignio, habitat de flora e fauna da regio, entre outras funes ecolgicas.

    Cenrio apropriado, tanto para o contato com a natureza quanto para o desenvolvimento de atividades recreativas, educativas e comerciais, os espaos pblicos enriquem as experincias comunitrias dos habitantes e, portanto, tm potencial para ser uma das maiores expresses de cidadania quando atrativos, acessveis e saudveis.

    Ao considerar recomendaes para o espao pblico urbano, deve-se pensar tanto nos espaos destinados a conservao ambiental como naqueles de integrao entre os modais de transporte, de reunio, recreao e permanncia das pessoas nas ruas.

    Em alguns casos, os espaos pblicos localizam-se em reas residuais do processo de ocupao urbana. Isso ocorre com frequncia porque poucos dos seus benefcios so levados em conta, enquanto os ganhos sociais, econmicos, ambientais e higinicos, diretamente relacionados com a ocupao, manuteno e apropriao do espao, so frequentemente ignorados.

    Dispor de um espao pblico ou rea verde para cumprir com a normatividade em matria de fracionamento, sem apresent-lo e habilit-lo adequadamente

    O motivo de se criar espaos pblicos seguros e ativos incrementar a vida pblica e a interao social oferecendo ambientes acessveis para pedestres e ciclistas. O espao pblico o lugar de encontro, de trocas e de circulao de uma comunidade. definido como um local onde qualquer indivduo tem o direito de entrar ou permanecer sem ser excludo, independentemente de sua condio pessoal, social ou econmica.

  • 84 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    e sem estudar os bens e servios ecolgicos, pode implicar a deteriorao do ambiente social e urbano da comunidade, e inclusive da cidade. Alm disso, pode gerar gastos adicionais para refazer projetos e infraestruturas equivocados que poderiam ter sido prevenidos. Os espaos pblicos geralmente so vistos somente como uma ferramenta de venda de moradias e, quando terminam de cumprir seu propsito, convertem-se em uma carga adicional para os habitantes, que tm de pagar pela manuteno de suas superfcies com infraestrutura muitas vezes precria ou vegetao no adaptada ao contexto natural.

    De maneira quase imediata, possvel observar como esses espaos so abandonados ou se deterioram em decorrncia da acessibilidade precria e baixa atratividade, ou porque no foram considerados como espaos produtivos, o que os converte em lugares pouco visitados e inseguros.

    Promover o uso contnuo e diversificado garante a vitalidade e a manuteno dos espaos pblicos. Belo Horizonte, MG.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 85

  • 86 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a ciDaDe

    reas Verdes estratgicasAs reas verdes urbanas, consideradas as praas, os parques e reas de preservao, devem ser vistas como recursos de utilidade estratgica e como mecanismos territoriais para a mitigao de riscos ambientais, tanto para a comunidade urbana quanto para a cidade em que ela se insere. Para assegurar uma relao

    adequada entre o desenvolvimento urbano e o meio ambiente natural, o planejamento da comunidade urbana deve:

    consultar os relatrios do territrio para determinar a estratgia de urbanizao adequada e, no caso de no existir,

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 87

    conduzir um estudo de impacto ambiental para o porte do projeto;

    dispor de reas naturais de tamanho suficiente para a proviso de servios ambientais ou para sua utilizao como espao recreativo ou de contemplao natural.

    Para o maior aproveitamento das reas verdes ou de preservao, sugere-se que a sua implantao considere as seguintes recomendaes:

    reas verdes preservam o meio ambiente e geram espaos de lazere contemplao. So Paulo, SP.

    incorporar um equipamento urbano de baixo impacto, compatvel com a vocao e o contexto da rea (zoolgico, museu, canchas para a prtica de esportes, instalaes ecotursticas);

    assegurar a existncia de pelo menos duas rvores por moradia da comunidade urbana;

    permitir a entrada do pblico em geral, ainda que controlada, priorizando o acesso aos meios de transporte no motorizados.

  • 88 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia interbairros

    eficincia em energia, gua e resduosPara que os recursos ambientais do local e suas imediaes sejam aproveitados de maneira sustentvel, deve-se buscar que a comunidade urbana faa uso eficiente da energia, gua e resduos. No mbito do bairro, recomenda-se que:

    ao menos 70% da iluminao pblica conte com fontes econmicas de energia;

    ao menos 80% da superfcie das reas verdes tenha solo permevel, para favorecer a recarga de aquferos;

    ao menos 90% da gua para irrigao seja obtida pela recuperao e armazenagem de gua da chuva, ou proveniente de uma estao de tratamento de guas residuais;

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 89

    tratar 100% da gua residual da comunidade urbana no prprio local ou em uma estao de tratamento prxima;

    a operao de veculos de coleta seletiva e instalaes que facilite a separao de resduos slidos, acompanhada de um programa comunitrio de gesto (separao e reciclagem) dos resduos.

    O uso eficiente dos recursos deve se refletir tanto no planejamento da comunidade urbana sustentvel como no desenho e na operao do ambiente construdo. Para obter maior economia de energia, gua e resduos, sugere-se: utilizar materiais locais nas construes e

    sua manuteno; otimizar o uso do solo atravs do

    incentivo construo de tipologias em altura e aproveitamento de edificaes existentes (remodelao);

    arborizar reas verdes com vegetao endmica, pois comumente requer pouca manuteno e pouca gua para irrigao;

    criar centros de compostagem comunitrios, para produzir adubos para a manuteno das reas verdes e/ou para a gerao de emprego local;

    utilizar os fundos obtidos com a venda de resduos reciclveis para melhorar a comunidade;

    privilegiar a iluminao pblica para pedestres e no para automveis, o que reduz custos de manuteno e consumo de energia eltrica.

    Iluminao pblica com energia renovvel exemplo de eficincia e economia de recursos. Curitiba, PR.

  • 90 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para o bairro

    redes de espaos pblicosOs espaos pblicos devem ser planejados de modo a integrarem um sistema de espaos conectados, sendo oferecido acesso a uma variedade de tipos e tamanhos de espaos abertos e consolidados a partir de qualquer ponto da comunidade urbana. importante cumprir com pelo menos os seguintes requisitos:

    um jardim local a no mais de 400 metros de distncia para acesso a p ou em bicicleta;

    uma praa a no mais de 800 metros de distncia para acesso a p ou em bicicleta;

    uma quadra de esportes pblica a no mais de 1.200 metros de distncia para acesso a p ou em bicicleta.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 91

    Para uma rede de espaos pblicos ser de fato utilizada pela populao, no basta apenas cri-la. Recomenda-se levar em conta os seguintes aspectos:

    criar espaos pblicos comunitrios, especialmente quando as moradias no tm espaos abertos prprios;

    conectar os espaos pblicos entre si e com os principais locais de atrao

    Espaos pblicos para atividades fsicas e esportivas devem ser complementares s reas verdes estratgicas. Porto Alegre, RS.

    da populao atravs de um sistema de caladas, ciclovias ou calades comuns a pedestres e ciclistas;

    articular as atividades desenvolvidas nos espaos pblicos com o comrcio e equipamentos pblicos localizados no interior ou nas proximidades desses locais.

  • 92 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a rua

    Vida pblicaPara garantir que tenham ocupao contnua, promovam uma interao social diversa e possuam forte vocao e identidade, os espaos pblicos devem oferecer diversidade de atividades (35, 36) distribudas entre:

    atividades essenciais, que se realizam diariamente por obrigao ou necessidade e no dependem do clima ou do contexto fsico;

    atividades opcionais, que so praticadas por prazer e para recreao nos momentos livres e dependem muito do clima e da qualidade do contexto fsico.

    Para ajudar na criao ou renovao de um espao pblico, recomenda-se utilizar o estudo Espaos pblicos: diagnstico e metodologia de projeto (37). Ele permite avaliar o uso real, a vocao e a qualidade da rea.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 93

    A vitalidade urbana estimulada atravs de atividades diversificadas nos espaos pblicos. Porto Alegre, RS.

    A atrao de diferentes atividades para os espaos pblicos (38) depende de vrios fatores do entorno urbano, que incluem:

    prever caminhos, estacionamento de bicicletas e pontos de parada de transporte coletivo para facilitar a acessibilidade por modos de transporte sustentveis;

    implantar medidas de moderao de trfego nas vias adjacentes;

    prover uma iluminao adequada; prever a conexo entre o mbito pblico

    e o privado, especialmente entre o comrcio e os equipamentos pblicos;

    projetar e construir os espaos com materiais de qualidade, detalhes interessantes e experincias sensoriais agradveis;

    prover a proteo contra intempries; proporcionar reas de permanncia e de

    reunio, com mobilirio adequado.

    Para criar ambientes seguros e incentivar a vida social nos espaos pblicos a longo prazo, imprescindvel planejar sua manuteno, ou seja, gerar um esquema de financiamento e de gesto sustentvel (privada, pblica, semipblica ou autogerida).

  • 94 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    Rio de Janeiro, RJ.

    3.7

    participao e IdentIdAde cOMUnItRIA

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 95

    Qualquer projeto urbano implica a participao de muitos atores que o sustentam: o incorporador imobilirio, as autoridades locais, as empresas privadas, as associaes civis, os moradores, as instituies de crdito, entre outros. Geralmente, o morador o que mais conhece o lugar onde se desenvolve um projeto urbano. Por isso, os processos de participao comunitria so canais de informao muito valiosos para a definio, gesto, operao e manuteno de um projeto urbano em todas as suas etapas. Pode-se contar com a percia do cidado em suas funes habitante, poltico, empreendedor, acadmico para entender e responder melhor s novas realidades sociais, econmicas, ambientais e urbanas que enfrenta a localidade. Esse envolvimento na tomada de decises contribui para a aceitao e a valorizao da comunidade pelos moradores.

    A realidade atual do desenvolvimento urbano no Brasil leva pouco em considerao a opinio dos cidados

    para a construo e a regenerao da cidade. Alm de ignorar o morador local, o atual padro de desenvolvimento urbano falha em oferecer espaos de expresso, convivncia, desenvolvimento e conservao patrimonial (tanto material como imaterial), onde qualquer membro da comunidade urbana tem o direito de exercer sua cidadania. Apesar disso, existem muitos exemplos nos quais os habitantes se organizam e se apropriam de certos espaos para melhor-los ou lhes conferir novos usos, o que demonstra a grande oportunidade de impulsionar a participao comunitria em todas as suas formas, em especial nos projetos de desenvolvimento urbano, j que a qualidade do entorno imediato um tema de interesse coletivo.

    A construo e o fomento da identidade e vida pblica do local permitem que qualquer usurio da comunidade urbana tenha referncias para orientar-se dentro do espao urbano, ocup-lo ativamente, apropriar-se, geri-lo, transform-lo ou mant-lo continuamente.

    Incentiva-se a participao comunitria para construir um tecido social com identidade e integrado ao bairro, promovendo ambientes seguros e equitativos. Ao dar impulso participao comunitria, busca-se a coeso dos diferentes grupos sociais que vivem no mesmo territrio, para que convivam de forma harmnica. A criao de uma identidade para a comunidade resulta numa maior participao de seus moradores em atividades cvicas, culturais e econmicas, gerando um sentimento de pertencimento que contribui para o cuidado e a vida pblica do lugar que habitam.

  • 96 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia para a ciDaDe

    Vnculos cidados Construir um tecido social integrado s dinmicas sociopolticas da cidade requer a criao de vnculos entre os diferentes atores da comunidade urbana atravs da informao e da concertao com os seus cidados (habitantes, usurios etc.). A informao deve:

    conter os elementos tcnicos, pedaggicos ou conceituais de qualquer projeto ou empreendimento urbano;

    convidar os cidados para participarem das consultas ou oficinas pblicas;

    ser vlida, vigente e ativa durante as diferentes etapas do projeto e operao da comunidade urbana sustentvel;

    estar disponvel em diferentes meios de comunicao (reunies, cartazes, folhetos, pgina web) que permitam seu acesso indiscriminado.

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 97

    Para assegurar um canal de comunicao constante com o cidado, recomenda-se que sejam envolvidos:

    as autoridades locais, para identificar aspectos institucionais relacionados comunidade;

    especialistas nos temas envolvidos, especialmente na elaborao de propostas e projetos;

    os habitantes da comunidade

    Dinmicas participativas formam vnculos cidados. Pelotas, RS.

    urbana, especialmente focada nas suas necessidades e expectativas.

    Essas consultas so realizadas atravs de mtodos comprovados (visita de campo, grupos focados de trabalho, pesquisas de satisfao, reunies pblicas, exposies, oficinas participativas), que so escolhidos em funo das caractersticas das pessoas e grupos envolvidos.

  • 98 CAPTULO 3 | ESTRATGIAS DE DESENHO URBANO DOTS

    estratgia interbairros

    identidade localPara fomentar a sensao de pertencimento dos moradores, deve-se procurar conservar a integridade dos elementos locais particulares de identidade da comunidade. Esses elementos podem pertencer a, pelo menos, um dos tipos de patrimnio a seguir.

    meio ambiente (rios, morros, reas agrcolas, bosques, fauna e flora regional etc.): protegem-se as reas naturais

    para a captao de dixido de carbono, a recarga de aquferos, a manuteno da biodiversidade e a preveno de catstrofes naturais. Na medida do possvel, deve-se buscar a revalorizao desses espaos para a recreao de seus habitantes;

    histrico (edifcios arqueolgicos, igrejas, monumentos, antigas fbricas, fazendas): preservam-se os elementos tangveis

  • DOTS CIDADES | EMBARQ BRASIL 99

    da histria de um territrio para poder transmiti-los a seus habitantes, para seu cuidado, aproveitamento e uso c