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Doutrina e Pratica das Obrigações

Doutrina e Pratica das Obrigações - sapili.org · IV—Fundamento da proprie ... I As sociedades humanas regem-se por leis superiores, tão positivas, tão reaes, como as que regulam

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Doutrina e Pratica das Obrigaes

Do mesmo autor brevemente:

Rios e Aguas Correntes ESSA OBRA CONTER:

Primeira Parte: IPhysica dos rios. IIHydrographia sul ameri

cana. Segunda Parte: IHistorico da legislao dos

rios. IIOs rios em direito inter

nacional. IIIOs rios no systema do di

reito publico federal do Brazil.

IVFundamento da proprie dade das aguas

correntes. VAs aguas correntes em

direito civil.

A minha Espsa e Companheira

... Nos amoris

Exemplum cana stemus uterque coma.

DOUTRINA E PRATICA DAS

OBRIGAES OU

Tratado Geral dos Direitos de Credito por

Manoel Ignacio Carvalho de Mendona

Luiz Federal do Paran

tt-.

CURITYBA

Typ. e Lith. a vapor Imp. Paranaense 1908

PREFACIO

Quanto a mim, confesso, a grande copia das nossas

leis recentes, sem ordem, nem systema, me no

permitte conhecer bem a todas ellas, apezar de fazer

de seu estudo minha profisso habitual, e, o que me

acontece a mim, deve acontecer si no a todos os

collegas, ao menos grande maioria dos nossos

concidados.(COELHO RODRIGUESIntroduco

historica ao Projecto do Codigo Civil, n. 39.)

E' um estylo quasi geralmente seguido por todos que tratam de um ramo especial do direito privado, prefaciarem seu livro com o estudo da classificao externa dos institutos a fim de ligar o assumpto considerado ao conjuncto do direito civil.

Entendemos abandonar o habito estabelecido por motivo do methodo que adoptmos. Tratando da evoluo geral dos direitos de credito, achmos que o estudo das classificaes mais bem collocado ficaria ao considerarmos o ultimo estadio do direito civil moderno, quando os Codigos das naes cultas procuraram distribuir sua materia em uma ordem systematica. Assim deslocmos tal assumpto para o txto de nosso trabalho.

Para aqui reservamos as explicaes devidas ao leitor acrca do modo como executamos o opusculo offerecido a sua leitura e meditao, os esclhos que tivemos de evitar, o espirito geral que nos dominou.

VIII

S quem jamais emprehendeu uma obra jurdica pode desconhecer as

inumeras difficuldades que se antolham ao exito do emprehendimento.

A primeira, postoque de ordem secundaria, certamente a esclha do

estylo da exposio. Parece a muita gente que o estylo conciso, sentencioso,

o que mais se adapta exposio das theorias jurdicas.

No queremos contestal-o. Razes multiplas, entretanto, desviaram-

nos da pretenao de o empregar.

Com effeito, um tal modo de se exprimir no tem quem o queira ter.

Escrever como um COELHO DA ROCHA e sobretudo um LAFAYETTE

em nossa lingua, como um DERNBURG na Alle-manha, como o immortal

MONTESQUIEU e poucos outros, no obra da resoluo da vontade, que o

homem consiga s por querer fazel-o.

D'AGUESSEAU por ser prolixo no ficou menos claro.

Entre ns aquelles que tm querido imitar o modo do eminente autor

dos Direilos da Famlia e do Direito das Cousas, s tm conseguido

caricatural-o e faxerem-se insupporta-veis em seu estylo canhestro e sorna.

Nas mos de quem no possuir por natureza esse modo de se exprimir, o

recurso a notas extensas e explicativas torna-se indeclinavel. E' que ellas

vm exercer a funco muito natural de esclarecer um pensamento que o

proprio autor julga achavascado no artificial esforo dispendido no

arremedilho da conciso alheia.

Temos desse facto um bem frisante exemplo em uma

obra juridica brazileira que outro merito teria sem tal pre

ocupao.

A vista disso e seguindo o modelo hoje geral dos autores franczes, italianos e allemes, dicidimo-nos bem consciente mente pela forma adoptada.

Nosso trabalho, subdividido em numeros ou paragraphos, escripto

com amplitude, procurando em cada um destes dar, a maior extenso ao

assumpto considerado, deixando s notas

IX

to somente a indicao das fontes da theoria exposta, ou mesmo das expresses empregadas quando no as alteramos.

Entendemos, em summa, que nossa maior preocupao devia ser a clareza, Ora, a conciso nem sempre se pode alliar com ella, sobretudo em materia to vasta e to recheiada de controversias como a das obrigaes.

A magnitude do assumpto, pois, aconselhou-nos a recalcar a cogitao da forma para o segundo plano. E'que aqui, como em tudo mais, como bem dizia o autor de Faust, a razo e o bom senso no tm necessidade de tanta arte para se exhibirem ; desde que se tenha alguma cousa sria a dizer, que necessidade ha de andar a cata de palavras ?

Es trgt Verstand und rechter Sinn Mitwenig Kunst sich selber vor ; Und wenns euch Ernsl ist, was zu sagen. Ist's nthig, Worten nachzujagen ?

No queremos com isso dizer que tivessemos abandonado ou sacrificado de qualquer forma a technica. Ao contrario,se guimol-a rigorosamente. As verba juris a que os romanos consagraram tanto carinho, tm sua logica, seu historico e fi liao : ellas guiam, favorecem e no raro inspiram o proprio raciocnio jurdico. Seu sacrifcio seria imperdoavel.

Muito maiores, muito mais srias e infelizmente irreme-diaveis, so as difficuldades que nos offerece a falta completa de fontes theoricas a que possamos recorrer no Brazil para uma obra jurdica.

As questes de doutrina jurdica cahiram entre ns em um inteiro abandono. As sentenas dos juizes e tribunaes so de uma esterilidade theorica contristadora.

Quando as comparamos com as dos tribunaes estrangeiros, em que a exposio do direito feita com tanto cabimento ao facto em discusso, quasi nos convencemos que os no-

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ssos juizes so puros arbitros a decidirem as hypotheze por equidade, tomando smente em considerao o facto e os ele mentos de prova sem nenhuma applicao de princpios(a). Este facto no novo. J vimos no regimen passado um Aviso de ministro recommendando aos juizes que fundamen tassem seus despachos e sentenas, como queria a Ordenao, e citassem as folhas dos autos ! Tal era o descuido em que j havamos cahido. I O mal, porm, aggravou-se mais do quese suppoe, com o systema que prevaleceu em nossa Constituio Federal de entregar-se o processo competencia dos Estados.

Precisamos abrir um parenthesis para declarar que de modo algum nos preocupamos com a reviso constitucional.

No somos fetichista da lei e a razo porque entende mos que sua aco mui restricta. I As sociedades humanas regem-se por leis superiores, to positivas, to reaes, como as que regulam os phenomenos astronomicos ou chimicos, salvo para aquellas a maior possi bilidade de serem modificadas em sua intensidade, por isso mesmo que os phenomenos so mais complicados.

Quando essas leis superiores so respeitadas pela legisla o politica (digamos assim na falta de vocabulo mais adequa do), esta constitue-se, por assim dizer, a consagrao das con dies de existencia da sociedade a que se destina em uma dada poca.

Pois bem; no entendemos que os legisladores de 1891 estivessem todos em condies de apreciar o que mais convi nha a nossa Patria ao decretarem a Constituio de 24 de Fe vereiro.

(a) Existem felizmente excepes honrosas, e conhecemos Accordos impor-tantssimos de alguns dos nossos Tribunaes, principalmente da Bahia, S. Paulo e sobretudo do Rio Grande do Sul.

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Estamos certo, entretanto, que aquillo que venceu era o melhor que podia ento ser ob tido.

Uma reviso hoje seria um terrvel desastre. Antes de tudo, que que evoluiu depois da Constituio ?

Quaes os pontos fracos da lei fundamental sobre os quaes se tenha uniformisado a opinio nacional ? Em uma palavra, qual o programma revisionista ? Nem o menor vislumbre de accrdo. O prurido de reviso decorre da erronea f na efficacia da lei para modificar os phenomenos sociaes, junto a um desesperado e no menos erroneo pessimismo sobre as cousas da Republica.

Um pouco mais de sentimento republicano e todos se convencero de que a verdadeira soluo no est na esteril propaganda revisionista e sim no concurso sincero e cheio de f para fazer da Constituio uma realidade pratica, porque realmente ella ainda no comeou a ser cumprida.

Examinemos a letra da Constituio Americana... Que ha ali superior nossa ? Positivamente nada, si a

questo da letra. Devemos, entretanto, lembrar que o que na grande Re-

publica do Norte chama a atteno dos estrangeiros superiores, como Dicey e Bryce, no a letra muda daquelle texto de lei, os grandes principios delia deduzidos pela construo judicial e pela pratica do regimen.

Temos apenas dezsete annos de regimen republicano e podemos ter j a vaidade de affirmar que experimentmos suf-ficientemente nossa lei basica para proclamarmos irremediaveis na pratica seus inevitaveis defeitos ?

A regra universal que a experiencia de um paiz no pode servir a paiz estranho. Si a Republica Federativa tem feito nos Estados Unidos uma evoluo completa, devemos nos lembrar que os antecedentes historicos, a multiplicidade de origem, de opinies e de costumes ali dominantes, deviam determinar uma marcha mui diversa da que nos traam os nossos antecedentes. Precisamos de experiencia propria e temos f que havemos de fazel-a, acarretando embora para a

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nossa gerao todos os soffrimentos, alis compensados pela certeza de prepararmos o futuro prospero da Posteridade.

Os Estados commettem desatinosdizem os revisionistas. E' a reaco inevitavel ;o mpeto da borracha comprimida que se solta. Provimos de um regimen centralisado, em que as necessidades locaes no achavam anas de se satisfazerem.

Mas nem por isso retrogradamos. Nem o individuo nem a sociedade podem retrogradar sino parcialmente e por pouco tempo, e isso mesmo por excepo. A mr parte das vezes a retrogradao s apparente e devida considerao muito exclusiva dos detalhes, porque todo o movimento social sem-pre oscillatorio. Nessa materia, como em mecanica celeste, preciso smente considerar a trajectria media.

Si os Estados praticam mal o regimen, como pretendem os revisionistas, o remedio, na peicr hypotheze, ha de surgir espontaneamente do desenvolvimento do proprio mal como um abcesso que amadurece e rompe, j que nenhuma doutrina geral inspira a pratica politica do mundo inteiro. Diro que, em vez de romper.pode o abcesso infeccionar todo o organismo. Si isso, no caso pathologico individual, s concebvel no organismo decahido e incapaz de reaces, no nosso caso social inadmissvel.

Somos um organismo forte e tonificado, capaz de vencer pelas reaces proprias os pequenos desvios que por ventura venho perturbar nossa vida normal.

E' ainda de hontem a campanha abolicionista. Ns que a fizemos com a efficacia bastante para realisar de facto a emancipao, antes que ella fosse consagrada de direito, ns sabemos por experiencia que no a lei que ba ou m e sim o civismo e a preocupao do interesse social de quem a applica que a tornam util ou nociva.

No somos, pois, revisionista. Nossa opinio sem pre-conceitos (a).

(a) O que deixamos dito a reproduco do que dissemos a uma folha do Rio de Janeiro que nos honrou com uma consulta acrca da questo do revi-sionismo.

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A Constituio no podia deixar de consagrar prejuzos dominantes das classes dirigentes. Foro estes que determi naram a opposiao formal ao plano de se deixar aos Estados a liberdade de legislao. Encarou-se a dualidade desta como um perigo para o lao federativo, dependente, como dizia-se, da unidade do direito.

Puro engano ! A unidade do direito em seus princpios capitaes haveria de se manter entre ns, como em todo o occi-dente, ao passo que a liberdade legislativa serviria para que fo-ssem consagradas as differenas que naturalmente e pela fora das couzas ho de se accentuar de dia para dia em Estados que tm sua vida, suas necessidades, seus recursos interindependen-tes e especiaes.

A unidade de raa, de lngua, de precedentes historicos, seria o elemento ponderador, o factor da ordem, o lao indes-tructivel de nossa fraternidade; mas a liberdade legislativa viria auxiliar os progressos alcanados por cada um dos Estados.

No queremos nos enveredar nessa discusso to vasta e to inexgotavel, que alis j temos abordado em outros lugares.

A longa digresso a que fomos arrastado pelo interesse do assumpto tem como concluso affirmarmos que ao menos isso seria perfeitamente logico. Porm o que venceu na Constituio, a transaco realisada de uma legislao uniforme e de um processo vinte vezes differente, foi uma verdadeira monstruosidade que hoje necessario remediar por qualquer forma.

Voltando ao assumpto que vnhamos tratando, o processo estadual teve reaces crueis sobre o direito patrio e sobre as garantias dos indivduos que pleiteiam por seus direitos.

A exaco das formulas tornou-se nos tribunaes dos Esta-dos uma preocupao exclusiva.

Quando em 1850 j o Regulamento Commercial procurava cercar esse recurso aos juizes, predeterminando os casos especiaes de nullidades, reduzindo o mais possvel as insanaveis, vemos agora multiplicarem-se seus casos pelos fun-

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damentos mais futeis e mais irrisorios. No se trata de saber si o pleiteante propoz a aco competente para exigir o direito lesado de que era titular; no se vae indagar o que a lei es-tabeleceu e em que se possa enquadrar a hypotheze ; no se vae prescrutar a legislao estranha para tirar um preceito que possa supprir a nossa lacunosa legislao. Nada ; tudo isso somenos. O que vemos nullidades por todos os pretextos. O essencial saber si consta o tque de campainha em audiencia, si o sllo do documento est inutilisado com a data e assigna-tura comeadas em certo ponto do papel e terminadas em outro, e outras pequices igualmente ridculas.

MACEDO SOARES dizia que o recurso s nullidades era um recurso das nullidades. Mas muito peior do que tal revelao, afinal de effeitos s pessaes ; a maior calamidade desse aferro s formulas o prejuzo ao direito das partes, pasmadas muitas vezes de verem perdida por nullidades futeis a aco em que provaram perfeitamente sua inteno.

Conhecemos um Estado em que, pela lei judiciaria, os juizes so multados pela Relao por nullidades a que deem causa, descontando-se a multa no acto do pagamento dos ven-cimentos daquelles.

Como se v, uma fonte de renda sui generis para o re-ferido Estado. Consequncia :a preocupao do Tribunal esmiuar as nullidades;a do juiz inferior defender-se do prejuzo imminente e, portanto, prestar uma atteno exclusiva s formulas externas.

Que esperar de uma jurisprudencia formada sob taes inspiraes ?

Que instruco podemos haurir nessas fontes viciosas on-de, entretanto, se aventam as questes mais complicadas e importantes que surgem em todo o vasto territorio de nossa Patria ?

Quem toma aos hombros uma obra jurdica pedir em vo o auxilio e a collaborao de nossa jurisprudencia.

Desde os tempos da monarchia s possumos um enxurdei-ro informe de julgados sem nexo, sem logica, sem unidade, em compita com o senso jurdico e, portanto, incapaz de fornecer

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ao jurisconsulto elementos para generalisao das regras do-minantes.

Ninguem se avisar de deferir jurisprudencia o papel de crar theorias. Sua misso exclusiva analysar as hypothezes que a vida real suscita e applicar-lhes as theorias que triumpharam na legislao. Essa funco, porm, no ma-chinal.

O direito no rege homens sino taes como elles so.cheios de paixes e incertezas de todos os dias.e ento resta ao juiz um certo arbtrio em examinar qual das disposies de lei ap-plicavel ao caso. E' este o campo do direito costumeiro.

A reincidencia dos Arestos, a reiterao das hypothezes, podem bem dar lugar a concepes uniformes, a tendencias dominantes, que constituem por assim dizer uma lheoria da jurisprudencia.

E' isto que no temos em nosso paiz.

A origem do mal apontado o vicio da propria legislao : o lugar commum sempre invocado.

De accrdo. E esta outra difficuldade com que tivemos de aloitar.

O maior contrasenso que exhibimos ao mundo civilizado o dominio entre ns da legislao portugueza de 1603.

Como diz BROOKS ADAM, nada mais perigoso do que o inconsiderado conservantismo em uma sociedade que se move com rapidez (a).

Ha quasi um seculo a extincta Constituio do Imperio j acreditava insufficientes as Ordenaes para formular a promessa de um Codigo Civil. Essa promessa mesmo anterior Constituio monarchica, pois data da lei de 20 de Outubro de 1823.

J naquella epoca era vista como merecia a velha com-pilao sem merito scientifico, sem ordem systematica, con-stantemente remissiva ao direito romano e canonico.

(a) In a society moving with unprecedented rapidity unintelligent conser-vantism is dangerous. No explosion is more terrible than that which shatters an unyielding law.

XVI

Social e moralmente ella representa-nos sempre a imagem pungitiva de nossa me Patria alanceada pelo domnio es-trangeiro.

Portugal desde 1867 erradicou e desempeceu-se da velha e incongruente legislao, por jugal-a incapaz de presidir regulamentao de seus direitos privados, apezar de ter ella sido decretada para seus costumes e da permanencia ali da forma politica monarchica.

Em relao ao Brazil sbe de ponto a radical incompati-bilidade das Ordenaes com a forma republicana, pois que esta ampliou necessariamente a orbita da aco civil dos individuos em suas relaes mutuas pelas necessarias reaces produzidas com o alargamento das operaes economicas e crescente intercurso internacional.

Demais, a unidade nacional portugueza muito mais ac-centuada do que a nossa.

Ao fundo constitudo pela nossa unidade de origem vo se ennastrando elementos varios, provindos de todos os pontos do velho mundo. Somos uma nacionalidade em vasta elaborao. Quem duvidar venha estudar este sul do Brazil que habitamos.

E' preciso attender a essa circumstancia que se impe, a fim de evitar o despotismo de uma legislao que a ns mesmos j repugna.

A respeito das obrigaes, as Ordenaes do Reino so de uma inopia completa. Ali no se encontra nenhum methodo, nenhuma doutrina segura, nenhum fio na exposio.

O recurso aos reinicolas no suppre de modo algum as lacunas de nossa legislao. S existe entre elles confuso e obsbscuridade.

Entre os modernos bem poucos satisfazem s exigencias da epoca actual. O proprio CORREA TELLES no escapa a essa censura e si COELHO DA ROCHA fez mais do que qualquer delles, no deu s doutrinas a especial atteno que realmente no podia prestar em um tratado completo do direito civil.

A mesma observao pode ser feita ao jurisconsulto por-tugues que os procedeu e foi seu mestre MELLO FREIRE.

XVII

No que mais de perto nos toca, - preciso consignar com tristeza que at bem pouco tempo a elaborao das theorias ju-rdicas nada deveu s Faculdades de Direito,

Apenas desperta-se agora a nova gerao dos lentes, quando os advogados e os magistrados, apezar de suas funces praticas, j haviam dado o melhor de seus esforos grande obra theorica.

Si exceptuarmos as obras de Pratica de RAMALHO e de PAULA BAPTISTA, nada attesta a existencia dessas corporaes sabias, durante longos annos hybernadas em completa apathia.

Entretanto ellas tiveram mestres gloriosos. As lies profundas de JOO CRISPINIANO, de JUSTINO

DE ANDRADE, de ALMEIDA REIS, FALCO FILHO, DUARTE DE AZEVEDO, perduram indeleveis na reminiscencia de seus alumnos.

Mas estes vo rareando; a morte os dizima dia a dia e quando desapparecerem de todo, nada mais restar da limitada collaborao dos mestres na formao do direito patrio.

Ao passo que em Frana cada professor deixa apoz si a exposio completa da cadeira que professa, acompanhando os progressos obtidos e preparando os que devem vir, ns no possumos, em to longos annos da existencia dos cursos aca-demicos, nenhuma obra completa de direito civil.

Sim : porque a obra de TRIGO DE LOUREIRO sobre ser um simples compendio, no tem nexo, nem unidade : uma colleco de excerptos alinhavados uns nos outros sem a menor critica.

A obra de RIBAS, todo o mundo o sabe, uma exposio de elementos, bastante preciosa, certo, mas restricta parte geral do direito privado.

A unica tentativa de exposio completa do direito privado, devida entre ns ao meio academico, a do DR. CLOVIS BEVILAQUA. Esta dos ultimos dias.

Naquillo que mais nos interessa aqui, a obra do eminente jurisconsulto de uma insufficiencia manifesta.

XVIII

No ha duvida que elle sabe sempre se collocar no melhor ponto de vista, tem o dom de exposio que prende e arrasta o leitor, acompanha com elevado criterio o direito moderno dos povos cultos. So, porm, essas qualidades elevadas de BEVILAQUA que mais aggravam o defeito capital de sua obra. Elle a reduziu a um simples Manual; comprehendeu em poucas paginas a vasta theoria geral das obrigaes e a especial dos contractos, de modo que suscita mais questes do que resolve, pe thezes que no aprofunda, addiando talvez mais amplos desenvolvimentos para a exposio oral de sua cathe- dra.

Perde-nos o illustre jurisconsulto, com quem tanto sym- pathisamos, a franqusa deste juizo. No temos a vaidade de competencia para formulal-o; exprimimos somente aquillo que sentimos ao prescrutar o mesmo assumpto de que elle tratou.

Fra do meio academico, algumas obras patrias de subido valor foram por ns manuseadas com resultados differentes.

Referimo-nos a Consolidao das Leis Civis de TEIXEIRA DE FREITAS, aos Apontamentos Jurdicos sobre o Contracto de SILVA RAMOS, ao Direito Civil Recopilado de CARLOS DE CARVALHO e s Obrigaes de LACERDA.

Qualquer, porm, que seja o valor real das trs primeiras, sua contribuio ao nosso estudo foi mui limitada.

Basta lembrar que todas ellas so obras de consolidao de nossas leis, cujo tronco a viciosa codificao philippina.

Preferimos, entretanto, cital-as em seu texto coordenado a remetter directamente o leitor s combinaes e arranjos ne-cessarios para perceberem as solues no emmaranhado das nossas leis.

Fra desse servio, nenhum outro d'ali derivmos, pois que a theoria geral das obrigaes muito pouco apoio encontra em nossas leis para ser formulada. Dahi vem que taes obras so mais completas nos contractos em especial.

XIX

De muito maior valor, sem duvida, a obra de LACERDA. Erudio, profundza, segurana nasthezes que apresenta e resolve, tudo ali se encontra. Si a sua leitura no tem o at-

tractivo da de BEVILAQUA, obriga mais do que aquella me-ditao. Masperde-nos tambem o nosso melhor tratadista das obrigaesachamos em sua obra um pendor mui pronunciado para as solues mais retrogradas, um afrro muito sympathico s theorias mais velhas. No lhe fazemos disso um crime de lesa sciencia, no for

mulamos uma censura, para a qual mais uma vez nos confe ssamos incompetentes. A questo de ponto de vista e apenas expomos a nossa divergencia de princpios fundamentaes, tanto mais de lamentar quando reconhecemos o inquestionavel merecimento desta obra e a elle nos curvamos.

Seja como for, as obras de LACERDA e de BEVILAQUA so as unicas que possue nossa litteratura jurdica sobre obrigaes, as unicas, portanto, a que podamos recorrer.

Elias, porm, lutam, como ns, com a deficiencia de nossas leis, com a inopia de nossos Arestos.

De maneira que, tanto seus autores como ns, tivemos de ir beber inspiraes, afinal de contas, nos tratadistas estrangeiros.

O contingente, porm, que nos podem fornecer os autores estranhos deve ser recebido com excessiva prudencia.

Ainda mesmo na parte mais theorica do direito civil, qual seja a doutrina das obrigaes, devemos nos lembrar sempre que esses civilistas commentam uma lei, um codigo systematico e organisado, formulam suas theorias sobre a baze de um texto escripto, bom ou mu, mas positivo e certo, em-

quanto que ns outros temos de adaptar theorias geraes uma

legislao defeituosa, falha e absoleta.

O fanal do direito romano nem sempre nos offerece um guia seguro nessas investigaes. Apezar de ter elle systema-

\

tisado quanto era ento possvel a theoria das obrigaes, muito tem

andado o direito, e a difficuldade no assumpto precisamente

determinar as modificaes que tem soffrido o direito romano.

Tivemos, porm, um criterio no nosso trabalho que reputamos mais seguro. Nisto smente fomos mais felizes do que os dous eminentes jurisconsultos que nos precederam no assumpto.

Referimo-nos a discusso que suscitou nosso ultimo Projecto de Codigo Civil pelo mesmo DR. BEVILAQUA.

No possvel contestar que esse Projecto foi um marco na evoluo geral do direito patrio.

Ao profundo saber de seu autor seguiu-se a mais ampla discusso a que jamais se sujeitou um Projecto qualquer de lei em nosso paiz. A essa discusso esteve sempre de atalaia o elemento conservador, a resistencia do principio historico e, o que mais, resumido em um jurisconsulto do valor de ANDRADE FIGUEIRA.

Juizes, Tribunaes, Academias, foram convidados a darem seus Pareceres. Todas as classes sociaes collaboraram com as classes technicas no enthusiasmo e esforo para a realisao do desideratum commum.

De sorte que aquillo que venceu, as theorias que sahiram formuladas na ultima reviso da Camara dos Deputados, no podem deixar de ser consideradas como o direito existente entre ns no texto da lei, ou na modificao dos costumes.

Ora, no meio de tantas emendas que soffreu o primitivo Projecto Bevilaqua, a parte menos alvejada foi a referente as obrigaes (a). Entretanto preocuparam-se especialmente com essa parte juristas do valor de DUARTE DE AZEVEDO, TORRES NETTO ; AMARO CAVALCANTI, OLIVEIRA FIGUEIREDO e outros.

() Trabalhos do Cod. civil, VI pag.332 ,360, 614.

XXI

No queremos dizer que tivessemos seguido s cegas a ltra do Projecto. Seria isso commentar um Codigo, e elle no tem ainda essa cathegoria.

Adoptando sem reserva seu methodo de distribuio por julgal-o impeccavel, cotejamos sempre seu texto com o direito existente e s acceitamos o que deste se afastasse depois de um maduro exame das legislaes estranhas e das opinies dos jurisconsultos.

Cada divergencia ou innovao foi por ns sujeita a um ex-ame detido em que procurmos estabelecer o lao logico com o conjuncto do direito existente. E' a logica da analogia.

A theoria logica da analogia, como observa BAIN, difficil e obedece a preceitos rigorosamente scientificos.

E' sua applicao falsa que em direito publico produz o absurdo de transplantaes de institutos de povos regidos por um systema politico semelhante. E' essa tendencia analogica desregrada que, no dizer de COGLIOLO, tem em todos os tempos e ainda mais nos de decadencia jurdica produzido a mania das citaes. Faz-se ento repouzar a justia de um pleito, a autoridade de uma deciso, a procedencia de um preceito, no numero de escriptores favoraveis ou de Arestos anteriores.

Conhecendo os esclhos do methodo a applicar, s o ex-ercemos com meticulosa prudencia.

Para nos esclarecer servimo-nos dos guias mais acreditados nas escolas francza, italiana e allem.

Sem duvida o genio amplo e comprehensvio da raa la. tina, o ponto de vista altamente philosophico dos autores italianos soube reunir o espirito de commentario dos franczes s tendencias systematicas dos allemes. Cada uma dessas outras escolas, porm, exerce funces importantes na collaborao a que chamada em trabalhos como o nosso.

Eis porque fizemol-as contribuir cada uma a seu modo para nosso fim, conforme a identidade de suas solues com o espirito geral de nosso direito.

Alm desse subsidio theorico, compulsmos uma copia immensa de Codigos e leis de naes estranhas, embora algumas j sem uso como os Codigos da Sardenha, de Napoles, etc.

XXII

As citaes feitas destas e dos autores so rigorosamente fieis. Nunca as fazemos de segunda mo sem dizer de onde as haurimos e isso nos raros casos em que no as tomamos do original.

A funco suprema do jurisconsulto no glozar textos sccos da lei, prever hypothezes causidicas e preparar os so-phismas do fro. Por qualquer face que a encaremos, nossa epoca constitue uma transio em que o que ha a renovar ea substituir no so smente institutos jurdicos e sim doutrinas geraes. Classes, opinies e institutos actuaes, desapparecero fatalmente diante da generalisao immensa e fecunda que previu o gnio incomparavel de Augusto Comte.

Para ns a misso organica ainda reservada ao jurisconsulto modificar as instituies do direito em vista desse objectivo ao qual a Humanidade se dirige fatal e inevitavelmente.

E' ento preciso, como diz BRUGI, no exagerar o sentimento da legalidade, que faz crr que uma lei o termo fixado contra toda a novidade. E' preciso, em summa, servir o presente com os olhos nas geraes futuras. O afrro aos textos e os esforos para encaixar nelles os factos occorrentes um resto de theocracia, em que o sacerdote que ensinava era o juiz que julgava.

Deve-se evitar a supersticiosa observancia da lei, que olhando s a letra delia destre sua inteno (a).

Este so principio, estabelecido em nossas leis, deve ser, na mo dos jurisconsultos e dos juizes o caminho natural para a modificao dos princpios jurdicos e para o progresso das instituies.

As legislaes mais m odernas j comprehenderam essa necessidade indeclinavel de abrir uma valvula a todos os progressos do espirito novo, que vm reformar tudo, sem perturbar a ordem existente. . . . Quand ni la loi ni la coutume ne fournissent aucunc rgie applicable un cas donn.et qu'il est impossible d'en trouver par analogie, 1'quit est alors pour le juge la source directe o il doit puiser la r-

(a.)Ass. 345 de 17 de Agosto de 1811 ; Ass. 358 de 10 de Junho de 1817, consolidadas por CARLOS de CARVALHO, Direito Civil Recopilado, art. 62 3.

XXIII

gle dont il a besoin, suivant la nature particulire de Vai faire en litige ... En pareil cas, le juge doit, exami nant 1'affaire sous toutes ses faces, rechercher ce que les honntes gens regardent commebon et juste, et ce qui rpond cet idal de loyaut et de bonne foi sans lequel les il n'y a pas de relations possibles entre les hommes. Bien que le juge fasse cette apprciation en son me et conscience, il doit namoins consulter, autant que possi ble, l'opinion et le sentiment du peuple ou de la classe des gens qui ont 1'habitude des affaires du mme genre. (?)

E' preciso que os jurisconsultos no se sorprehendam por verem que a evoluo fez surgir institutos fra de suas pre-vises, que destruiu a harmonia de seus systemas. Tudo isso , ao contrario, muito habitual e muito legitimo. Si uma legislao no entrou na ordem das legislaes mortas, seus textos tm uma vida que se agita e se move, que se modifica sempre por influencias multiplas.

Ora, de todos os institutos aquelle que mais se compadece com as modificaes da sociedade so os que se referem aos direitos de credito. Sua elasticidade incalculavel.

Emquanto as tendencias cada vez mais altrustas da so-ciedade occidental nos revellam, nos direitos de famlia, uma evoluo para um fim determinado, qual a preponderancia moral crescente da mulher no lar, a abolio dos asperos costumes romanos e medivaes, ninguem pode predeterminar as mo-dificaes de que so susceptveis as obrigaes.

A actividade humana alarga todo o dia seu campo de aco. A liberdade politica, as machinas de trabalho,a accumu-

lao dos capitaes, a facilidade crescente de communicaes quer de indivduos quer de suas vontades e deliberaes, a emancipao do proletariado, toda a vida modernaemfim com suas facilidades e suas exigencias multiformes, tendem a dar ao credito uma extenso nunca dantes observada no passado.

(a.) Art. 782 do Code General dos Bi ens pour la Principaut de Montn-gro de 1888, traduzido por DARESTE e RIVIBE(Paris 1852).

XXIV

Contractos inumeros, impossveis no direito romano, in-concebveis na idade media, tm surgido e se desenvolvido nas novas condies de existencia social. Iriamos longe si pretendessemos descer a esmiuar o que de renovao j produziu o moderno movimento social e as applicaes concretas das leis superiores que regem a sociedade e os indivduos, feitas pelos mestres actuaes do direito os IHERING e sua escola,os CARLE, BRUGI,COGLIOLO,TORTORI, RICCI, BENSA, DAGUANNO e muitos outros.

E', pois, impossvel tratar das obrigaes sem attender a todos esses elementos.

Quem mette hombros a uma tal emprza deve bem medir a extenso de suas foras.

Temos certeza de que fomos temerario. A' nossa legislao viciosa era foroso accomodar, a todo

transe, por qualquer processo, tudo quanto os novos conheci-mentos jurdicos trouxeram ao difficil assumpto das obrigaes. Era preciso ver na multido de nossas leis esparsas, que ninguem pode ter a vaidade de conhecel-as todas familiarmente, uma brecha para encartar essas modificaes sem illogismo e para isso requer-se uma critica severa dos textos, onde, s vezes, luz com a rapidez de um relampago a influencia das idas novas contrastando com o fundo escuro de nossas Ordenaes seculares.

Pois bem: no nosso intuito dar aqui o methodo que seguimos. Preferimos entregar o resultado critica dos com-petentes.

Por mais insignificante, porm, que seja o trabalho que damos ao publico, elle representa para ns um esforo que s poude conseguir a bem educada energia de nossa vontade.

Somos magistrado federal. Basta, pois, que o leitor tome em conta os desalentos, as lutas, as decepes, o silencioso e continuo martyrio que essa situao (no ousamos dizer carrei-ra) traz a quem cultiva com amor o direito.

Sentimos mais de uma vez que o repouzo e a calma de es-pirito que reclama a meditao de uma obra juridica radical-

XXV

mente incompatvel com as agruras dessa posio em nossa Patria. Ingentes foram, pois, os esforos que tivemos de em-pregar para vencer o impulso de abandonar o trabalho que hoje publicamos.

Temos fornecido aos leitores os elementos necessarios para julgarem esta obra com benevolencia e sem os rigores da justia. A grande dedicao que votamos s letras juridicas o titulo em que fundamos a esperana de que assim nos tratem os nossos collegas.

Immenso prazer temos de encerrar estas linhas consignando a nossa eterna gratido ao illustre DR. JOO CANDIDO FERREIRA, digno Presidente do Estado do Paran, pelo auxilio a ns prestado para a publicao de nosso trabalho.

A manifestao de nossos sentimentos nos tanto mais agradavel neste momento, em que, vencido pelas manobras da politica, cujos segredos sua sinceridade e sua ba f lhe no permittiram bem descortinar, S. Ex. recolhe-se desilludido e abandonado dos amigos de hontem ao remanso tranquillo e incomparavelmente mais nobre e mais util de sua vasta clinica.

Ao nosso illustre collega, o talentoso poeta e mestre do vernaculoDR. EMILIANO PERNETTA, que de to ba vontade nos prestou seu inestimavel auxilio na reviso de nossas provas, devemos a immensa gratido que nos agradavel deixar aqui consignada.

Carvalho de mendona

Coritiba 1908.

I

fritu du tu enuitada e ttadaA no pf&mto Uabalh

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XXVIII

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XXXV

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droit franais. SERAFINIIstituzioni di diritto romano.

II telegrafo in relazioni alia giurisprudenza civile e com- merciale (A mesma obra em francez trad. por Lavialle de Lameillire. SEUFFERTPraktischen Pandektenrechts.

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XXXVI

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Die rechtliche Natur des Inhaberpapiers. UNTERHOLZNERDie Lehre von den Schuldverhltnissen. VACHER Le Homestead. VALASCOConsultationes. VALERYLes contrats por correspondance. VANGEROWPandekten (1869). VAN-WETTERDroit Romain. VARRODe lngua latina. VERNETTextes choisis sur la theorie des obligations en

droit romain. VICENTE R.GIRON E ALIJO GARCIAColeccion de las Insti-

tuciones politicas e jurdicas de los pueblos modernos. VioOpere. VIDALLe telephone au point de vue juridique. VINNIUSInstitutionum imperialium commentariusSelectos qucestiones jris civilis.Tractatus de pactis. VISCONDE DE URUGUAYEnsaio sobre direito administrativo. VIVANTELe assicurazioni sullavita. VOETCommentarius ad Pandectas (Ed, Maurice em 5 vols.) VOIGTXII Tafeln. VIVANTETratato de dirtto commerciale. WACHTERPandekten.

XXXVII

WARNKCENITInstituies do direito romano privado (trad. braz.) WEBEREntwickelung der Lehre von der

natrlichen Ver- bindlichkeit.

WINDSCHETDLehrbuch des Pandektenrechts. (A mesma obra trad. ao ital. por Fadda e Bensa.) WAHLTrait

theorique et pratique pies titresau porteur. WAHLSystem der Prventivjustiz, oder Rechtpolizei. WORMSDela volont unilaterale consideree comme source

d'obligations en droit romain et en droit franais. ZACHARLEvide Mass et Verg. ZACHARI^E(Th.) Haftungsverbindlichkeit des Staats. ZELLERLa philosophie des grecs.

otlemtct e iDuRicae) coltecltvad

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buchs fiir das deulsche Rechl. rProtokolle der Kommission filr die zwcilc Lesung der

BUrgerliches Geselsbuch. [Revista do Instituto da Ordem dos Advogados. -Trabalhos das Commisses sobre o Projecto de Cdigo

Civil Brazileiro. \Yahrbuch furdie Dogmatik Recht. -Zeitschrift fiir das andel Rechl. [Pandectes Belges, compilles parPiCARD e HOFFSCH-

MIDT. -Revue Critique de iegislalion etjurisprudcnce. [Diclionairc Usuel de Droit de MAX LEGRAND.

Doutrina e Pratica das Obrigaes TITULO I

TNTRODUCO GERAL AO ESTUDO DAS OBRIGAES

CAPITULO I

DO CONCEITO MODERNO DAS OBRIGAES

Sumnriario. 1 Importncia do instituto das obrigaes. 2Dever moral e jurdico. 3Obrigaes no sentido technico. 4 Definio antiga e conceito actual. 5Posio que occupa o instituto das obrigaes no conjuncto do direito civil e em que differe dos direitos reaes. 6Fontes das obrigaes. 7Gnese e desenvolvimento do phenomeno da vontade. 8Identidade do eu e similitude social do meio. 9 Influencia social sobre o lao obrigatrio. 10 Relao do instituto das obrigaes com outros ramos do direito em geral. 11Objecto das obrigaes. 12Requisitos das obrigaes 13Indeterminao do sujeito das obrigaes. 14Diviso das obrigaes.

1.Ao iniciar um monumental trabalho critico sobre o mesmo assumpto que vae nos occupar, observa um dos mais illustres jurisconsultos modernos () que o instituto das obri-gaes uma parte quasi exclusivamente theorica em todas as legislaes.

Nelle trata-se, em ultima analyse, de regular as differentes formas sob as quaes se manifesta a vontade humana no domnio das convenes e os effeitos delia defUtentes.

E', pois, o domnio eminentemente racional do Direito Civil; sua parte philosophica por essncia. Dahi vem que, por toda a parte, ao menos no occidente, vae-se operando uma

(1) SALEILLES Etude sur la thorie giirale de obligatioit d'aprs te premier ptq/ect de code civil pour 1'empire allemandn. 1

verdadeira uniformidade nos seus postulados. A razo que os effeitos da vontade humana so anlogos e as necessidades sociaes suscitam formas idnticas para passarem efficacia da aco' pratica.

No por isso menos verdadeiro affirmar que a theoria das obrigaes para o direito o que a do valor para a economia politicao problema central a que se podem reduzir todas as discusses. (2)

O transcendente valor dessa parte do direito civil impe aos Cdigos a necessidade de tratal-o com vistas largas e comprehensivas. (')

A maioria dos negcios prticos regidos pelo direito so apenas applicaes de tal theoria. De um modo abstracto mais amplo, ahi devem-se encontrar os preceitos destinados a regular todas as relaes de direito de credito que se diversificam e se accentuam de dia para dia na vida das sociedades modernas.

.O methodo clssico divide as obrigaes em perfeitas e imperfeitas. (*) Elias so ahi tomadas no sentido lato de deveres.

Glosando o mesmo pensamento, uma grande parte de autores modernos dividem os deveres no sentido lato em deve-res juridicos e de pura moral, segundo so ou deixam de ser, legitima e racionalmente, susceptveis de se tornarem objecto de coaco externa. (*)

As obrigaes chamadas perfeitas so as nicas que entram no domnio jurdico. Os juristas as dividem em civis e naluraes e esperamos dentro em pouco demonstrar a insubsistncia destas ultimas. Comprehende-se bem quanto de suprfluo e de esterilisador existe nessas subtilezas, sem resultados prticos, nessas divagaes .ontolgicas sem consequncias para a direco dos negcios humanos.

A obrigao, quer se tome a palavra no sentido religioso e moral, quer no simplesmente jurdico, sempre a mesma cousa, reduz-se sempre submisso da vontade do homem a

(*) TARBKTrmisformatioHs du droit Cap. V, pag. 125. () GIUSKPPK D'AG0ANNO La genesi e Vevolusione dei Dir. Civil*, n. 24S (4) POTHIKR Traiti des Obligatiotts, n. 1. OiEntre outrosACBRT T RAU - Droit Civil 297.

3

um principio superior ; invariavelmente a aco regulada por uma direco livremente acceita. O que, porm, promanou de todas as disputas anteriores, como um resultado definitivamente incorporado agora aos conhecimentos humanos, que o dever, a obrigao moral, esse constante esforo sobre si em favor de outrem, caracterisa-se por ser livremente assumido e voluntariamente realisado, emquanto que o dever jurdico pode sempre ser exigido por uma coaco por parte daquelle que sujeito do direito c-respectivo. Neste ha um verdadeiro vinculum jris, a necessidade jurdica de cumprir aquillo a que somos obrigados (H); naquelle a autolimitao imposta pelo altrusmo s aces humanas, que no destre sua liberdade, antes a prende por um lao nobilitante. Elle realisa o que to bellamente pintou o poeta philosopho (7) : Man knnn in wuhrer Freiheit leben, Und doch nicht ungebunden sein.

3.A rpida exposio anterior achana o terreno que temos a perlustrar. Estudando as obrigaes no se tem em vista um cdigo de deveres. (") Collimam-se aqui to somente as obrigaes no sentido jurdico e isso mesmo no aspecto bem restricto da technica.

Si lhes quizessemos dar a extenso que comporta o ponto de vista jurdico, sem esta ultima restrico, no tardaramos a abranger o conjuncto do direito civil, pois que a todo o direito como faculdade corresponde necessariamente um dever. No se comprehendem ahi, porm, todos os deveres decorrentes das relaes de famlia; no so, em summa, as obrigaes sociaes, ethicas, ou religiosas, e sim somente as que affectam o patrimnio. ()

As obrigaes que entram no quadro de nosso estudo se distinguem das demais por caracteres inconfundveis.

Em primeiro lugar, ellas no se caracterisam como um dever do obrigado e sim antes como um direito do sujeito

(6) WAN-WETTERProit Romain 284. (7) GOETHE Wahrer Genuss. (8) Schuldverhitnisse bilden ie allgemeinen rechtlichen Verpflichtungpn nicht)

welche der Meu eh gcgenUber ciem Menchen hat... DEUNBURGDas biltgerliclte Recht des Dentschen Reichs und Preussens. vol. I Pfi I, 1- n, IV.

QO) .. tin vermgensrechtlicties Interesse Berechttgten an der Ver-pflichtung bestehttt. DBKNBORQ.

4

activo. Elias tm um valor pecunirio, patrimonial, a que jamais se poderiam sujeitar os outros deveres jurdicos. Em segundo lugar, so perecveis, terminveis, limitadas no tempo pelo seu implemento ; sua extenso prevista desde o momento em que surgem e chega sempre uma occasio em que o vinculumjuris se quebra e o devedor solulus, liberatus. E'| assim que contrastam com o caracter perdurvel dos demais deveres jurdicos immanentes personalidade. (")

Os deveres jurdicos nem sempre dependem da vontade humana; podem ter sua origem em fatalidades orgnicas, como o nascimento e a morte. Nas obrigaes, ao contrario, s a vontade pode crear o lao obrigatrio que restringe a liberdade do devedor, tornando-a parcial e temporariamente limitada. (")

4.Os romanos definiam as obrigaes como um vin-culum jris quo necessitate adstringimur alicujus solvendo! rei...

Sufficientemente modificada, essa definio contem o conceito moderno do instituto. Para os romanos a garantia do vinculumjuris era exclusivamente pessoal, decorrendodahi as crueldades com que os devedores eram obrigados a satisfazer seus compromissos. B O sentido figurado de hoje era uma realidade ento. Surgida a obrigao, o vinculum tambm surgia com a fora coerciva da lei e da autoridade publica. S o adimplemento gerava a solutio e o rus debendi tornava -se solulus a vinculo. Para isso respondia o devedor com sua prpria pessoa, porque nas origens da civilisao aryana greco-romana, seu patrimnio essencial a terrapertencia famlia e era intimamente ligado religio, ao culto dos deuses lares e dos mortos e, portanto, sempre inalienvel e indivisvel.

Dahi vinha que devedor e delinquente constituam situaes anlogas. Essas primitivas concepes, que muito mais tarde se modificaram, s permittiam a venda com a presena do libripens, com os ritos sagrados da mancipatio. As XII Tabas ero impiedosas para com o devedor; no to-

(10) MAY ET BECKER Inst. du droit prtv des romains, n. 83. (U) Debitar intelligitur is a quo invito exigi pecuna potest/. 108 D. de verb. signif. |

5

lerava, porem, que sua propriedade fosse confiscada em proveito do credor.

Foi a lei da persistncia que, actuando nas idas jurdicas, fez com que esse conceito inicial da propriedade produzisse entre os romanos a comprehenso do vinculo exclusivamente pessoal nas obrigaes (11).

No ultimo perodo da civilisao romana, porm, j a pessoa foi lentamente sendo substituda peio patrimnio que passou a supportar a garantia das obrigaes.

Hoje so ellas consideradas em todas as legislaes como um direito puramente patrimonial.

No tudo. Outros caracteres essenciaes distanciam a concepo romana da moderna. O principio romano da personalidade do vinculo s se compadecia com effeitos decorrentes das obrigaes entre as partes contractantes. O vinculum era todo privado. Faltar elle era offender os deuses e a pessoa do credor. Contracto e delicto eram equipollentes. A execuo pessoal era ento uma espcie de vindicta privada contra o offensor, ou insolvente.

Taes idas no eram peculiares aos romanos e dominavam entre os germanos, os celtas e os indianos.

Actualmente, ao contrario, as obrigaes podem ser genricas, produzir effeitos entre os contratantes, ou em relao a terceiros, indeterminados, ou futuros. Fm uma palavra, a obrigao entre os romanos era pessoal, hoje patrimonial; ali inalienvel, aqui transmissvel (1a). A fora da obrigao reduziu-se ao poder do credor de exigir uma prestao do devedor ('*).

In da mais : a obrigao pode ser contrahida para com pessoas indeterminadas e incertas, em favor de terceiros estranhos estipulao, comportando, alm de tudo, a representao e a transferencia por cesso (").

Desses conceitos bem podemos deduzir com um eminente civilista ptrio a verdadeira definio da obrigao como a relao transitria de direito que nos constrange a dar,

(12) FOSTEL DE COULANGES La Cite An tique, liv. //, Cap. Vi. (13) GAIUS Comm. II, 38. Quod mihi ab aliquo debetur id si velim tibi deberi

nullo eorum modo quibiis res corporales ad alium transferuntur id ejftcere possuiu. (14) Kraft des Schuldverhitltnisset ist der Glttubiger berechtigt vo dem Schuldner

eine Leistungau fordernC. ClV. ALLBMO art. 241 : MOTIVE II

pag. 5. m_ ^^ I (16) COQUOIO Filosofia dei Dlr. Prtv. 24: BKVILAQ.OA Obrigaes

2.

-_ 6

fazer ou no fazer alguma cousa economicamente aprecia- vel, em proveito de algum que, por acto, nosso ou de algum * comnosco juridicamente relacionado, ou em virtude de lei, adquiriu o direito de exigir de ns essa aco ou omisso

r>. O patrimnio, o direito patrimonial, so uma e mesma cousa, elementos de uma ida nica, no o circulo inteiro da actividade jurdica de uma pessoa, mas aquillo que pode ter valor econmico, avalivel em dinheiro (17).

Tal direito, o de propriedade in re prpria, os jura in re aliena, os direitos a factos de outrem :eis o conjuncto do patrimnio no conceito jurdico.

Ha quem denomine direitos pessaes, os de obrigao, em contraposto aos reaes in re aliena (u). Entre os allemes, ju-risconsultos ha que chamo peisnliche Rechte os direitos de obrigaes e personenrechte os que dizem respeito propriamente s pessoas (19).

Para ns a verdadeira classificao interna dos direitos : 1direitos pessaes ; 11direitos patrimoniaes.

Na primeira classe comprehendem-se os que so attinen-tes ao estado do homem e sua capacidade, os de familia, os polticos, etc. A segunda classe subdivide-se em duas subclasses, sendo uma a que comprehende os direitos de obrigaes e outra os direitos reaes %n re prpria, ou domnio, com todas as suas modalidades e os jura in re aliena (").

Tem-se generalisado hoje para o direito das obrigaes a technica mais adequada de direitos de credito (").

Qualquer, porm, que seja a technologia mais apropriada, importa bem assignalar a differena das duas seces dos direitos patrimoniaes.

(16) BEVILQUAob. cit. 1. (17) HKDSLERInsttt. de droit prive allemand I, 66 p. 329. O8) SAVIONT ~ Droit Rom. 5' e 5b : WINDSCHBIDLehrbuch de Patv

dektenrechts 39 e 250 : LACERDAObrigaes /o. LAFAYETTE Cousas 1'. VERNETTextes choisis du droit rom. sur les oblig. p. 1.

(*) DERNBURGPandekten, I, 22 nota 8. (20) ' a classificao de ZACHARMB e de sua escola. MAYNZ Droit Ro-matn 4o.

RAOUL DE LA GRASSERIELots Civiles du Bresil pag. 49. (n) WiNDSCHBiD ob. cit. Livro IV / MAREZOLLLehrbuch der JnstUutio-nen

des rlSmischen Rechts P.e li, Uv. 3', seco 2.* DEMANQKATPrecis de droit rornain II p. 166.COD. Civn. do Japo art. 399.

a) Os direitos reaes recaem sobre a cousa e formam uma

relao entre ella e a pessoa ; os de credito constituem uma relao entre pessoas, comprehendem factos humanos ("); ' I b) Os direitos reaes so infungiveis, no se consomem com o uso ; os outros se extinguem ds que a prestao se realise. *|

c) Os direitos reaes, sendo exclusivos, existentes em proveito de uma s pessoa, do lugar a uma aco real, dirigivel contra quem quer que os ataque; em uma palavra, so protegidos pela reivindicao, pois que directa a relao jurdica entre a pessoa e a cousa (M); os direitos de credito, ao contrario, s tm a seu favor a aco pessoal; a relao s mediata, pois que a cousa, objecto do direito, no attingida directamente pelo sujeito delle e sim por intermdio de outra pessoa, pelo concurso do devedor.

d) Os direitos reaes so genricos, valem contra todos relativamente a uma cousa ; os de credito so relativos, de maneira que ningum mais do que o credor pode fazer valer seus direitos contra o devedor (**). I

c) Os direitos reaes so restrictos a certos casos, os outros so to variados como os actos e necessidades humanas.

f) Os direitos reaes interessam mais de perto existncia e continuidade social e por isso so rodeados de certas garantias publicas ; nos outros, mais relativos ao concurso e cooperao dos indivduos, a liberdade destes gosa de maior latitude.

Si o direito fosse fundado nos princpios naturaes, como doutrinava a metaphysica do sculo XVIII, nada mais simples do que a distinco que vimos de estabelecer. Entretanto uma noo to elementar demandou uma serie immensa de modificaes do direito romano, desde as XII Tabas at as reformas de Justiniano, para apagar a velha distinco da res. Seja como f r, uma e outra serie de direitos constituem partes de um s todo, formando o patrimnio do individuo.

(22) Os primeiros so nuna podest sopra un godimento delia cosa, os ltimos nua prestaalone da fare da una persona,* diz CAGWOLO que examina perfeitamente a matria na ob. cit. 25 : Vide PACIFICI-MAZZONIInstituaioni di dir. civ. italiano I n, 5. I (23) MATCNZob. cit. 162 : SAVIQNYob. cit. $ 56 i LAFATETTBcit, $ J- s. i2. E

(24) WlNDSCHBID Ob. cit. 39, 41 e 250 ; HODELOT BT MlSTMANN Oblf gations n. 4.

8

6.As fontes das obrigaes entre os romanos eram : o contracto, o delicio e o %ua$i-delicio. Ali mesmo, porm, julgava-se insufficiente essa systematisaco (*').

Postoque at hoje grande disputa exista sobre essa matria, julgamol-a ociosa e sem resultados philosophicos. O importante saber quando haja uma obrigao e no conhecer o baptismo de sua nomenclatura (M).

No fundo, as obrigaes somente podem decorrer do facto voluntrio humano e da lei. No primeiro se enquadram os factos lcitos, isto , o contracto, o quasi-contracto e a vontade unilateral, e os illicitos, de onde delicto e quasi-delicto.

Contracto, quasi-contracto, vontade unilateral e actos illicitoseis, pois, as fontes das obrigaes geralmente accei-tas pelos Cdigos. (27)

7.A gnese das obrigaes sempre a vontade indivi-dual, o factor da responsabilidade e, portanto, da obrigatoriedade das convenes. Eis o grande problema philosophico, o eterno thema das divagaes metaphysicas ao qual, por

25) /. 1 D. de obligatiombus et acttombus. GAIO reduz as fontes ao contracto e ao deltctoInst. Comm. Ill 88, mas em outras occasies refere outras fontes, como na I. 5 D. cit. MODESTINO faz derivar as obrigaes de muitas fontes/. 52 D. cit

(28) COQLIOLOob. cit. 27. (27) Essa classificao , com pequena differena, a do Cdigo Civil Fran-cez,

modificao da romana e que tem o assentimento de GIORGITeoria delle obbhgaaioni III, 3e4, GIANTOBCO Instituaiom dei Dir. Civ. Italiano 54 ;* MAVlAIstitusioni di Dir. Civile Itn. 138 ; P. MAZZONI Ist. di Dir. Civ. IV, n. 41 e outros.

Os autores allemes e entre elles ARNDTS Pandekten 229, adoptam as seguintes fontes : 1. o acto Jurdico, comprehendendo o acto bilateral, ou ac-cordo de vontades que entram era contribuio para a sua existncia e o acto unilateral de uma s vontade, assim como outros actos que, no tendo por fim crear relaes obrigatrias, cream-n'as, entretanto nos quasi-contractos ; - 2. o acto illictto; 3. certas ctrcumstanclas que, sem constiturem acto por parte do obrigado .produzem effeitos de obrigao, como os quast-delidos. WINDSCHEID Pandekten cit. tem outra;actos jurdicos, deciso judicial e factos.

A classificao romana conta innumeros adeptos entre os autores e Cdigos modernos. Ve-se, pois, que um assumpto acerca do qual ainda existe muita divergncia.

Entre ns LACERDA (ob. cit. 48) adopta a opinio de ARNDTS e BEVILQUA (op. cit. 3.) a mesma, que seguimos por julgal-a a mais synthetica.

Voltaremos ao assumpto quando encararmos especialmente as fontes de obrigres no Titulo \ Capitulo I deste trabalho, onde cotejaremos as decises dos diversos Cdigos.

o

esse motivo, no de admirar que consagremos um pouco maia de atteno. I A responsabilidade no seu sentido mais philosophico, depende de trs dados essenciaes : o) que a conducta considerada, seja aco, ou seja omisso, no interesse unicamente ao seu agente ; 6) a existncia de seres quaesquer a quem o agente deva conta de sua conducta; c) a existncia no agente de condies moraes, ou psychologicas, de responsabilidade.

O primeiro dado evidente de si mesmo. O segundo varia no curso da evoluo humana com as idas

dominantes : Deuses ou Deus no perodo theologico, entidades abstractas, modificaes daquelles, no perodo meta-physico ; a opinio publica, a Humanidade, no perodo definitivo da evoluo.

O terceiro elemento, o mais complicado, reclama atteno mais detida.

Com effeito, a condio essencial da responsabilidade a liberdade moral da vontade.

No concebamos, porm, a vontade, ad instar da meta-physica, como uma faculdade irreductivel e simples, superior aos instinctos e s affeies, independente da intelligencia.

Em uma tal affirmao secular se contm revoltante con-tradico.

A vontade s poderia ser considerada independente do espirito, si ella fosse cega e incapaz de pesar os motivos da deliberao. Por outro lado, sua independncia das funces affectivas devia importar a impossibilidade de se inspirar em qualquer delias. Nada disso existe de facto. Como ja dizia um dos maiores gnios estheticos (M)

... Vaffeto lo intdletlo lega. A vontade, ao contrario disso, uma funco eminentemente

composta do crebro e para cujo formao concorrem as affeies, como motores, o espirito e os centros directores da motricidade, como elementos da deliberao.

A operao cerebral nesse phenomeno, , portanto, das mais complexas.

A principio uma de nossas tendncias egoisticas. ou um dos nossos instinctos altruisticos, que solicitado por uma imagem qualquer de objecto ou acontecimento.

Essa operao inicial constituo o desejo ou a repulsa ; aquelle, quando a imagem actua ou collabora no sentido da tendncia : esta, quando se lhe apresenta sob a forma de um

(28) DANT Del Paradiso XIII v. 120.

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empecilho ou obstculo que com ella collide. No primeiro caso, o instincto constructor concorre logo para a formao do phenomeno; no segundo, desperta-se o instincto destruidor para o mesmo fim.

O espirito, ou a poro intellectual do apparelho cerebral, que j entrou em aco, quando forneceu a imagem inicial, continua agora a combinar e reviver outras imagens ac-cessorias, de maneira a esboar a impulso que deve imprimir aco o fim aattingir, o objecto a realisar, ou os obstculos suscitados a vencer. Eis a combinao dos meios que tm de levar aos centros motores a primeira excitao ; eis, portanto, o crebro todo, o conjuncto do complicado aparelho a colla-borar na produco do phenomeno da vontade.

Este, porem, pode se complicar de um modo inesperado. At aqui s temos apontado sua marcha simples e normal. A multiplicidade e mesmo o antagonismo de nossas fun-ces

affectivas podem complical-o de uma maneira imprevista. Duas f unces do egoismo, ou uma delias e outra do altrusmo,

podem se achar em conflicto. J vimos que, na elaborao dos meios de aco, joga o espirito

com imagens accessorias. Pois bem; estas podem interessar as outras tendncias, reagir sobre ellas de modo tal que venha perturbar o trabalho mental iniciado despertando um desejo ou uma repulsa nova, mas em sentido opposto.

Surge ento o phenomeno mais complicado da deliberao que resulta da previso dos effeitos dos diversos actos a cumprir, e dos sentimentos e emoes a sentir com sua pratica.

Uma tal operao apura-se e modifica-se com o habito, com a educao e com a hereditariedade. A sociabilidade, a sympathia, a venerao religiosa, os hbitos mentaes, os pro-J gressos moraes de toda sorte, so factores do phenomeno final da deliberao.

Quando a operao attingiu a esse extremo, no tarda em se completar com o inicio das funces motoras. E' s ento que o movei inicial do desejo alcanou, pelo concurso de todas as fnnces cerebraes. a plena madureza.

Eis como se explica a formula simples em que o maior dos philosophos condensou essa profunda theoria:a vonta- de no constitue sino o ultimo estado do desejo, quando a t deliberao mental reconheceu a convenincia de uma im- pulso dominante (*).

C9) AUGUSTO COUTE Politique Positive, 1711: Vide tambm AUDIFFBENT L)H Cerveau et de 1'innervation d'aprs A. Comte pag lAO. esegs.

II

E' s ento que existe acto voluntrio, condio de res ponsabilidade. -;

A vontade, porm, pde se viciar quando uma tendncia age com exaltao sobre as demais, que se acharem atonicas, por falta de estimulantes e servidas por uma intelligencia apa-thica.

Nesse caso essas outras tendncias no concorrem para a formao do phenomeno e s existe uma. impulso dominante.

Em outro sentido, em vez de apathica, pde a intelligencia se achar presa de uma grande exaltao subjectiva, no correspondente realidade exterior, no corrigida, nem regulada pelas impresses do mundo externo.

Em ambos os casos figurados, a intelligencia incapaz de presidir apreciao dos dados do desejo, isto , combinao das imagens. No primeiro caso, temos as impulses irresistveis , no segundo, as hallucinaes;em ambos, a irresponsabilidade, pois que a responsabilidade repousa na condio de uma vontade verdadeira (30).

Bem claro devemos ter deixado que, no esboo do complicado phenomeno cerebral da vontade, no mais nos oceu-pmos com o celebre livre arbitrio, noo ontolgica e contra-dictoria, porque si a vontade fosse independente e superior ao desejo, no se comprehende bem como poderia ser arbitro, pois que isso presuppe o poder de escolher entre dois desejos. Ora, a escolha uma operao da intelligencia e, portanto, a interveno desta j destrua a supposta iudependencia da vontade.

No de considerar to pouco o determinismo dos mo dernos materialistas. A espontaneidade da aco um phe nomeno geral que repousa na modificabilidade secundaria de todos os phenomenos. I

E' uma lei geral de Philosophia Primeira, que o arranjo fundamental das leis naturae inaltervel, mas que os phenomenos so tanto mais modificveis quanto maior sua complicao.

A liberdade est nessa modificao secundaria. Por serem fataes, as leis naturaes no so immodifica-veis. A verdadeira sciencia repelle tanto o fatalismo como a

modificabilidade arbitraria das leis pelas suppostas vontades, humanas ou divinas.ldo fetichismo e do theologismo (81).

(*>) AUGUSTO COMTEPhilasophie Posittve III, 563 fine a 566. (81) AUGUSTO COMTEPolitique Positive 1,54.

ia

A moral pratica, a educao, a arte, a experimentao scientifica, repousam nessa modificabilidade, que tanto mais extensa quanto mais complicados so os phenomenos. A ella s escapam os phenomenos mathematicos e astronmicos, posto que, ainda nestes, possamos conceber, embora sem poder realisar, uma ordem muito melhor do que a que elles apresentam, como bem exprimiu Affonso X em pleno regimen theologico.

O mundo moral , pois, o mais modificvel. A virtude, a moralidade, sempre um esforo para modificar em favor de outrem a energia natural dos instinctos pessaes.

As promessas, as convenes, repousam, em ultima analy-se, na certeza de que quem as faz capaz desse esforo por cumprir, na poca estipulada, aquillo que prometteu, a despeito das impulses em contrario, que nesse tempo possam solici-tal-o.

Eis qual o domnio da humana liberdade. Ella consiste sempre em obedecer e seguir sem obstculos as leis que regulam a natureza moral. Na ordem cosmologica como na vital, toda a funco livre, quando se exerce segundo as leis correspondentes sem entrave algum. Isso reconhecido por todo mundo em se tratando da actividade, cujos phenomenos se exteriorisam e se apalpam. A actividade, porm, age, inspirada pelo sentimento e esclarecida pelo espirito.

Estes seguem a mesma lei. A intelligencia tem seu limite ideal de liberdade em poder

reflectir interiormente todo oconjuncto das leis dos phenomenos da ordem exterior. A vontade segue suas pegadas e admi-tte o mesmo grau de liberdade. Si as tendncias altrustas se ennobrecem harmonisando-se com seu destino de guiar o espirito, a liberdade da vontade se harmonisa tambm com a expresso intellectual da ordem exterior.

Em summa, liberdade e submisso s leis da ordem natural so uma e mesma cousa. Si as leis superiores, como as sociaes e moraes, como mais elevadas e mais nobres so mais sujeitas s. perturbaes, por isso mesmo que so mais modificveis, implicam a necessidade de maior esforo para serem seguidas.

Assim, cada individuo dispe de um certo poder limitado para modificar as leis sociaes e moraes. Quando esse poder tende a manter o syslema social, a aco normal; perturbadora si tem a intensidade sufficiente para alterar sua constituio.

No sentido mais amplo, a responsabilidade a sanco dessa aco modificadora.

13

8.Alm da condio moral ou psychulogica da respon* sabilidade que acabmos de estabelecer, essencial a persistncia delia, sua continuidade, ou a identidade individual do eu e, de outro lado, a similitude social. So esses os elementos que completam a verdadeira responsabilidade.

Com effeito, a sociedade humana repousou sempre numa certa uniformidade de sentimentos e pensamentos que consti- tue uma media geral. Um individuo que victima de uma hallucinaco permanente, que o faa destoar dessa media, positivamente um produeto dissemelhante, alienado de seu meio, um anormal. S

Os que se conformam com esse meio, que se no desvio do conjuncto dos ensinos communs, que no abdicam o grande legado accumulado pelas geraes, estes so os semelhantes.

Toda doutrina nova tem a vencer a repugnncia da repulsa inicial que as idas recebidas accumulam sobre seu autor tornado dissemelhante.

Esse accrdo do estado social dos indivduos inquestio-navelmente a condio exterior da existncia do phenomeno da responsabilidade, seu primeiro elemento, de que s agora tratamos por um artificio lgico necessrio exposio.

Entre indivduos oriundos de civilisaes ou, digamos, de meios differentes, antagnicos ou hostis, no se concebe responsabilidade possvel. Dahi a brutalidade com que os sedizentes civilisados se portam em seus contractos com as populaes retardadas da Africa e as cruis reaces destas. Shyloch, logrado pelos argumentos de Portia sanecionados pelo juiz, a expresso potica do antagonismo entre os christos e os judeus. Si alguns povos de nacionalidades accentuadas, como os egypcios, os israelitas e os phenicios, se acham em visinhana, elles podem se massacrar, mas nunca podero chegar a concluir verdadeiros tratados. O mesmo se deu com o imprio bysan tino junto aos rabes e turcos: com a Hespanha a respeito dos mouros. A China entende-se melhor com o Japo do que com os seus amigos europeus.

O mesmo se d com os indivduos profundamente divergentes, com os quaes toda a associao impossvel. N'um asylo de alienados, por exemplo, impossvel qualquer lao de unio, qualquer arremedo de verdadeira sociedade.

Essa semelhana social a resultante da influencia exercida sobre as tendncias naturaes pelos exemplos ambiantes, pela educao e antecedentes histricos, de onde idas precisas, juzos e preconceitos, crenas e lngua communs.

Alm da semelhana social, imprescendivel uma certa fixidez nas idas individuaes, uma actividade continua e inin-

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terrupta do eu. Ningum jamais achou capaz de responsabilidade um individuo cujas opinies e crenas se mantivessem num estado permanente de oscillao e inconsistncia, incompatveis com a estabilidade das convenes.

Os juristas tiveram sempre como no existente a conveno concluda com quem s consentiu por gracejo, ou com o infante privado ainda de discernimento. E' preciso que oj agente de um acto tenha estado, ao menos ao tempo em que o perfez, no gozo de sua integridade mental, em seu estado normal.

E\ porm, fora de duvida que um grau menor de identidade e de semelhana exigido para as obrigaes civis do que para a culpa criminal. E' por isso que todas as legislaes esto de accrdo em dar s prescripes um praso muito maior para as obrigaes do que para os crimes (M).

9.Dadas as condies da responsabilidade pessoal, a utilidade social intervm para sanccionar a obrigatoriedade das convenes. Para o homem em sociedade as contractaes so inevitveis e indispensveis. Elias levario ento super-excitao do egosmo que as impulsionou, si no fossem sub-mettidas s regras necessrias manuteno da ordem social.

Essa ordem, portanto, vem se pr de fronte do individuo, por assim dizer, conciliar-se com seus interesses, tornando obrigatrios os contractos de outro modo impraticveis (M).

[82) TARDEPhilosophie Penale p. 93-94 (38) L"abbligatoriei nasce delia necessita di tutelare Tadempiemento di

ci che s'e convenuto validamente, perche non provochi la reazione individuale, nel modo istesso ch garantisce il diritto di propriet, percha ci che costato ad altriun sforzo non gli pu essere toltosenza provocare una reazione D'AGUANNO ob. cit. n. 217.)

Questo il dplice guiridico fondamento dei contratto : la liberta cio di disporre e 1'obbligo di non revocare la disposizione fatta Coouoioob. cit. pag. 231.

There can benodoubt that the obl iga to ry force of contracts is in every civilised country derived tacitely from the law, by reason of the manifest nece-ssity which exists, with a viewto the well-being of the community, that every man should fairly and honestly perform what he has undertaken to do [HBRBERT BROOMCommentaries ott lhe cotnmon law, p. 262 )

Com este modo de ver abundam todos os juristas philosophos, aos quaes se pode accresccntar TARDE (Transf. du Droit Cap. V, n. V p. 132.) Muito obscura e metaphysica a theoria de TARDE acerca do fundamento da obrigao. Para elle a obrigao se forma do encontro de dois syllogismos que so

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No que diz respeito s obrigaes decorrentes dos actos illicitos, seu fundamento decorre da represso dos crimes que evoluiu da vindicta privada e publica, at a necessidade da defesa social da poca hodierna.

A ingerncia do poder social na obrigatoriedade dos contractos tem entretanto seu limite racional.

Num sentido puramente negativo, no ha como negar que o Estado deve proteger as obrigaes com prcscripes reguladoras de sua forma, tempo e modo, suas condies le-gaes de existncia em fim. Num outro ponto de vista, a interveno directa para desenvolver o trabalho, legislar sobre hy-giene, instruco, sobre costumes como, por exemplo, sobre a prostituio e o jogo, immigrao e monoplios industriaes, etc.tudo isso de todo o ponto injustificvel por importar a absorpo de funces puramente espirituaes, que exorbitam da aco do Estado. A theoria proclamada em contrario decorre da anarchia da sociedade moderna. Assumptos taesno se impem por decretos e s resultam como consequncia de progressos moraes e intellectuaes.

A livre concurrencia, a liberdade do trabalho, no comportam maior interveno publica alm da animao de prmios.

Tudo isso indirectamente interessa s obrigaes. Quando, porm, surgem as modificaes do instituto ou se

accentuam figuras novas, a aco do Estado deve se fazer sentir dando-lhes os delineamentos legaes. Foi assim que espontaneamente se formaram as grandes alteraes nesse departamento do direite, as estipulaes por terceiros, os seguros de vida e de accidentes do trabalho, a vontade unilateral e muitas outras que entre ns ainda esto em evoluo (8*).

IO.A doutrina das obrigaes prende-se : Ioo direito civil em geral a) pela theoria da capacidade do sujeito activo e passivo delias ; b) pela theoria da proprieda-

respectivamente formulados pelas partes contratantes, combinando cada uma delias uma vontade com um juiao, um desejo com uma crena, para chegar aco. Ao lado desse syllogismo, o legislador formula um outro que chega a con-cluir pela utilidade de apoiar o contracto por utilidade social. No fundo, posto que mais obscuramente, isto o que formulou IHERING : A noo de direito comporta dois elementos : um conjuncto de fins e um systema de reqlisao desses fins (Zweck imRecht n. 36.) (84) D'AGUANNOob. cit. n. 821.

16 ~

de e seus diversos modos de acquislo que ellaft presuppem c) pelos direitos successorios que as transmittem.

IIao direito penal a) pelas obrigaes decorrentes do delicto ; b) pela represso das falsificaes de quaesquer ttulos em que ellas so contrahidas, etc.;

IIIao direito internacional a) pela capacidade do estrangeiro para contratar e, em geral, por todas as questes relativas ao estatuto pessoal; 6) pelo valor das obrigaes de contracto celebrado n'um paiz para ter execuo em outro; c) por todas as questes attinentes ao estatuto real;

IVao direito administrativo pelos contractos de utiw idade publica com a administrao, empreitada e subemprei-tada, etc.;

V moral theorica pela theoria fundamental da res-ponsabilidade ;

VId moral pratica a) pela coincidncia dos preceitos, pois que no pde ser contrahida validamente obrigao com objecto immoral; 6) pela identidade de resultados, embora por principios differentes; I

VII economia politica a) pela theoria do valor (M): b) pela relao entre o dominio delias e a soluo das questes econmicas; c) pelo alargamento do espirito de associao que fornece novas fontes de direitos de credito (86)..

V-se assim a amplitude da theoria que estudamos.

11 .O objecto das obrigaes sempre um acto humano, seja a prestao de um facto ou seja dao de uma cousa: dare, facere, prmtare dos romanos f37).

Esse objecto deve ser: / possivel.Qualquer que seja a latitude da liberdade individual

ao contrahir obrigaes, o interesse social no pode deixar de lhe oppr certas limitaes. Entre ellas figura a pro