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  Avaliação Final  GUIA DO ESTUDANTE  Guia do Estudante As orientações abaixo o ajudarão em sua trajetória de aprendizagem. O material didático, elaborado conforme os preceitos da Educação a Distância, é autoinstrucion al, e o próprio aluno determina seu ritmo de estudos. Co mpõe-se de módulos e uni dades, com informa ções e avaliações necessárias para o cumprimento dos objetivos propostos. Prazo - O sistema considera o dia da sua matrícula como data inicial do curso. A partir de então, você terá 60 dias para conclusão. O não cumprimento do prazo estabelecido implicará o cancelamento automático de sua matrícula e conseque nte impedimento por 3 mes es de nova matrícula nos cursos oferecidos pelo ILB. Avaliação Final Para concluir o curso, faça a Avaliação Final, clicando no menu à esquerda, no item "Avaliações". Lembre-se que a Avaliação Final, além de ser o único instrument o válido para a certificação do curso, não poderá ser refeita. Logo, responda às questões apenas quando tiver certeza da resposta. ATENÇÃO: Uma vez aberta a avaliação final você tem 120 minutos para finalizá-la e salvá-la. Passado esse prazo, o sistema fechará automaticamente, salvando o que foi feito. Essa avaliação não poderá ser acessada novamente. Boa sorte! Se você fizer jus ao certificado, o sistema lhe possibilitará imprimi-lo após 60 dias contados da data de sua matrícula.  Nesse caso, ele poderá ser obtido, de imediato, em sua tela inicial do curso, no mesmo local onde constam seus dados, quadro de avisos e acesso. Lá surgirá um ícone que lhe permitirá imprimir seu certificado e, se necessário, uma segunda via. Caso não tenha obtido o desempenho necessário, não desista. Procure inscrever-se futuramente neste ou em outro de nossos cursos. Até breve. 

Doutrinas Politicas - Social-Democracia

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Avaliao Final

Avaliao Final Para concluir o curso, faa a Avaliao Final, clicando no menu esquerda, no item "Avaliaes". Lembre-se que a Avaliao Final, alm de ser o nico instrumento vlido para a certificao do curso, no poder ser refeita. Logo, responda s questes apenas quando tiver certeza da resposta. ATENO: Uma vez aberta a avaliao final voc tem 120 minutos para finaliz-la e salv-la. Passado esse prazo, o sistema fechar automaticamente, salvando o que foi feito. Essa avaliao no poder ser acessada novamente.

Boa sorte!

Se voc fizer jus ao certificado, o sistema lhe possibilitar imprimi-lo aps 60 dias contados da data de sua matrcula. Nesse caso, ele poder ser obtido, de imediato, em sua tela inicial do curso, no mesmo local onde constam seus dados, quadro de avisos e acesso. L surgir um cone que lhe permitir imprimir seu certificado e, se necessrio, uma segunda via. Caso no tenha obtido o desempenho necessrio, no desista. Procure inscrever-se futuramente neste ou em outro de nossos cursos. At breve.

GUIA DO ESTUDANTE

Guia do Estudante

As orientaes abaixo o ajudaro em sua trajetria de aprendizagem. O material didtico, elaborado conforme os preceitos da Educao a Distncia, autoinstrucional, e o prprio aluno determina seu ritmo de estudos. Compe-se de mdulos e unidades, com informaes e avaliaes necessrias para o cumprimento dos objetivos propostos. Prazo - O sistema considera o dia da sua matrcula como data inicial do curso. A partir de ento, voc ter 60 dias para concluso. O no cumprimento do prazo estabelecido implicar o cancelamento automtico de sua matrcula e consequente impedimento por 3 meses de nova matrcula nos cursos oferecidos pelo ILB.

Atividades de estudo - Diversas atividades iro auxili-lo, funcionando como reforo na aprendizagem. Aps o estudo do contedo de cada unidade e mdulo, voc dever realizar os Exerccios. Essas atividades foram desenvolvidas para voc mesmo verificar o progresso obtido ao longo do percurso. As autoavaliaes sero corrigidas automaticamente pelo sistema.

Avaliao Final - Para concluir o curso, faa a Avaliao Final, clicando no item "Objetivas" do menu lateral. Lembre-se de que a Avaliao Final o nico instrumento vlido para a certificao do curso.

IMPORTANTE: Voc s pode acessar a Avaliao Final quando concludas todas as etapas do curso. Porm, procure respond-la quando estiver efetivamente preparado, visto que as questes no so as mesmas a cada tentativa. Ateno: por segurana o sistema sofre bloqueio quando se passam mais de 30 minutos sem ao do usurio.

Certificao - Na Avaliao Final voc dever obter no mnimo 70 pontos (de 100 possveis). Nesse caso, ser aprovado e far jus certificao. O certificado, bem como uma declarao com o contedo programtico, ser disponibilizado 60 (sessenta) dias aps a data de efetivao da matrcula. Caso no tenha obtido o desempenho exigido, no desista. Voc pode inscrever-se novamente neste ou em outro de nossos cursos sem tutoria aps 3 meses. No certificado vir um cdigo de autenticidade digital. Basta acessar www.senado.gov.br/trilhas, clicar em "Autenticar certificado" e l digitar esse cdigo. Sugerimos que voc imprima seu certificado em cores e com gramatura (espessura da folha) especfica para diplomas.

Suporte tcnico O Ncleo Web do ILB oferece apoio a problemas de acesso ao ambiente virtual de aprendizagem e orientaes para a utilizao dos recursos e ferramentas de EaD. E-mail:[email protected] (Identifique o E-mail interno, informando seu nome completo e o curso em que est inscrito.) Telefone: (00+55) (61) 3303-1475 Horrios de atendimento ao aluno virtual: 10h s 12h e 15h s 17h (dias teis)

Apresentao

ApresentaoEstamos no incio de um curso sobre Doutrinas Polticas Contemporneas. Convm, assim, esclarecer alguns pontos sobre o significado do ttulo e a forma do curso. Que so doutrinas polticas contemporneas?

Na perspectiva que aqui adotamos, so aquelas correntes de pensamento que inspiram e orientam os partidos polticos importantes em termos de influncia, voto e acesso ao poder no mundo de hoje. Dito de outra maneira, aquelas correntes que definem os objetivos de partidos atuais e, em alguns casos, os meios recomendados para alcanar esses objetivos. O critrio, portanto, prtico. No vamos discutir correntes de pensamento que alimentaram partidos fortes no passado, mas insignificantes no presente. No vamos discutir, por exemplo, uma corrente conservadora, uma vez que hoje nenhum partido de peso defende o retorno ordem econmica, social e poltica pr-moderna. Pela mesma razo, no discutiremos a corrente anarquista, uma vez que os partidos dessa tendncia perderam peso, nos pases onde ainda eram importantes, no perodo entre as duas guerras mundiais.

Um esclarecimento final necessrio. Grandes correntes de pensamento poltico no so objetos que possam ser estudados a partir de uma definio clara, unvoca, aceita por todos. Adversrios e partidrios tm interpretaes diferentes de cada corrente, e mesmo no interior de cada uma delas encontramos divises importantes. A seleo de assuntos e autores feita no curso , portanto, necessariamente parcial. Escolhemos obras de autores consagrados que tratam de temas que a maior parte dos liberais, socialistas, sociaisdemocratas e novos esquerdistas considera fundamentais. No entanto, outros temas e autores, talvez to importantes quanto esses, ficaram de fora. Vamos discutir, para dizer de forma mais precisa, uma seleo de temas e autores importantes para cada uma dessas quatro correntes.

MDULO NICO - Social-Democracia

Objetivos Na abordagem dessas correntes, o curso tem objetivos definidos. Ao final, o aluno deve estar capacitado a: identificar os argumentos que cada corrente apresenta em sua defesa; relacionar as crticas recprocas levantadas entre elas; e

discutir esses argumentos e crticas para analisar a realidade poltica do Brasil.

Unidade I - Social-Democracia: Histrico

Mdulo nico - Social-Democracia

Este mdulo abordar a social-democracia. Iniciaremos a discusso com um breve histrico e uma relao de suas caractersticas principais. O problema central ser compreender o processo de sua diferenciao a partir das posies socialistas tradicionais. Em seguida, na segunda unidade, discutiremos as bases materiais que tornaram possvel a implantao e sustentao do tipo particular de compromisso que constituiu o governo social-democrata. Nosso guia, at esse momento, ser a obra de Adam Przeworski, Capitalismo e SocialDemocracia. Na terceira e ltima unidade deste mdulo, examinaremos, desta vez tomando como base o livro A terceira via, de Anthony Giddens, as razes da crise do modelo social-democrata. Este mdulo abordar a social-democracia. Iniciaremos a discusso com um breve histrico e uma relao de suas caractersticas principais. O problema central ser compreender o processo de sua diferenciao a partir das posies socialistas tradicionais. Em seguida, na segunda unidade, discutiremos as bases materiais que tornaram possvel a implantao e sustentao do tipo particular de compromisso que constituiu o governo social-democrata. Nosso guia, at esse momento, ser a obra de Adam Przeworski, Capitalismo e SocialDemocracia. Na terceira e ltima unidade deste mdulo, examinaremos, desta vez tomando como base o livro A terceira via, de Anthony Giddens, as razes da crise do modelo social-democrata.

Ao final desta leitura esperamos que voc possa: distinguir as caractersticas principais da social-democracia; indicar suas diferenas em relao ao socialismo; analisar as bases materiais para sua implantao; compreender a crise do modelo.

Histrico e Caractersticas Principais Para a anlise da social-democracia, nesta unidade, tomaremos como texto base o conjunto de ensaios, j clssicos, de Adam Przeworski, reunidos, em 1985, sob o ttulo Capitalismo e Social-Democracia. Veremos, em sequncia, nesta unidade: origem da social-democracia;

estado de bem-estar social.

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1. A construo da social-democracia

Qual a relevncia do fenmeno social-democrata? Em primeiro lugar, independentemente de suas limitaes e falhas, a social-democracia parece ser a forma predominante de organizao poltica dos trabalhadores em condies de capitalismo democrtico. Se o caminho da insurreio excludo, seja por invivel, seja por no conduzir ao socialismo, a via social-democrata surge como alternativa natural aos que perseguem os objetivos socialistas. Crticas so necessrias, nessa perspectiva, basicamente como meio de correo e ajuste de rumos e polticas especficas, dado que o caminho geral, por excluso, estaria afirmado. Apenas "corrigindo" a experincia social-democrata poderamos chegar ao socialismo. A prpria idia de analisar erros cometidos para aperfeioar as decises posteriores implica uma concepo de histria e poltica ausente em outras manifestaes do pensamento socialista. Supe a existncia de condies objetivas que delimitam uma gama de opes possveis, assim como a vontade livre, no interior dessa gama, de um operador poltico. Aceitar apenas a objetividade implica recusar a possibilidade de erros: a histria leva necessariamente ao socialismo. Aceitar apenas a vontade, atitude comum nas diferentes correntes polticas que afirmam o "amadurecimento" completo das condies objetivas, implica dizer que a mudana no se realiza pela ausncia de inteno de lderes e partidos polticos; no se realiza pela "traio", portanto. Traio , segundo o autor, a forma consequente de ver a estratgia social-democrata em um mundo livre de restries objetivas.

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Na verdade, a social-democracia consiste num conjunto de escolhas polticas feitas em momentos cruciais. Outras opes eram possveis e foram seguidas pelos "insurrecionalistas" de todos os matizes. Essas escolhas foram: Primeira promover o avano do socialismo no interior do quadro das instituies polticas e sociais capitalistas; Segunda dirigir-se a um conjunto de classes sociais e no s aos operrios como agentes da mudana; e

Terceira dedicar-se luta pelas reformas parciais do sistema, de interesse imediato das classes trabalhadoras. Esse leque de escolhas exclui, evidentemente, a chamada "ao direta", como forma nica ou preferencial de luta, recusa o monoplio dos operrios da condio de agentes da mudana e nega o caminho que se resume a preparar um momento singular de ruptura do sistema, como a insurreio ou a "greve geral revolucionria".

Saiba mais sobre as classes sociais

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A deciso mais importante que precede historicamente s demais a participao. No se tratava de uma deciso bvia, at porque o direito de voto permaneceu limitado, por muito tempo, segundo critrios de renda e propriedade. No quadro das democracias liberais de ento, os operrios no votavam, e toda sua manifestao poltica, at aquelas que reivindicavam o direito de voto, extravasava as instituies estabelecidas e constitua forma de ao direta.

A questo se pe com nfase para o movimento no instante em que se dissipam as iluses de uma mudana feita por fora da poltica, maneira dos socialistas utpicos, a partir de colnias ou quistos socialistas que por simples efeito-demonstrao se difundiriam, acabando por tomar conta do corpo capitalista. Desde esse momento, necessrio optar: ou se recusa a participao e se combatem as instituies, ou o voto aceito como mais uma arma do arsenal dos trabalhadores. A questo subjacente, de forma alguma trivial, se a burguesia respeitaria o resultado de um processo democrtico que contrariasse seus interesses vitais. vitria eleitoral socialista seguir-se-ia o golpe da reao? A dvida perdurou por dcadas, uma vez que em 1926, aps seis dcadas de debate, os social-democratas austracos ainda se sentiam no dever de alertar que respeitariam a ordem constitucional, mas que a reao golpista da direita, caso ocorresse, seria reprimida de forma ditatorial.

Curiosidades sobre a importncia do voto

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De qualquer maneira, no que respeita a essa questo, os anarquistas posicionaram-se de imediato contra sua participao. A seu ver, a miragem das eleies domesticaria o movimento dos trabalhadores, levando-o a abandonar seu propsito revolucionrio. A linhagem alternativa que deu origem a socialistas e comunistas, optou pela participao. No incio, sem muita expectativa: eleies eram vistas como terreno propcio propaganda e ao recrutamento de novos militantes; ou, no mximo, como indicador do nimo dos trabalhadores para encarar a insurreio. No entanto, a participao mecanismo dotado de lgica prpria, que no permite meio termo. No incio, os socialistas participavam apenas das eleies; no faziam acordos relativos ao segundo turno ou partilha de cargos das mesas dos parlamentos. Participar em governos de coalizo sequer era cogitado. Aos poucos, a conscincia de que as regras do jogo constitucional deveriam ser aceitas ou recusadas na ntegra levou-os a fechar acordos, participar das mesas e, em 1924, a assumir o governo na Gr-Bretanha. Mesmo ento, esse passo foi polmico e teve que ser justificado com o argumento da experincia a se ganhar, necessria a um futuro governo suficientemente majoritrio, capaz de implementar o programa de mudanas.

Curiosidades sobre os anarquistas

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Na verdade, medida que a pura absteno poltica e a participao restrita se revelavam inviveis, os trabalhadores comearam a valer-se da estrutura partidria social-democrata para atender a seus interesses particulares de classe. Afinal, no capitalismo, os capitalistas participam diretamente das decises relativas economia, particularmente no que se refere alocao produtiva do lucro e distribuio do excedente entre salrios e lucros. Nessas questes, "votam" todos os dias, produzindo tendncias que revelam os efeitos combinados do conjunto das decises individuais.

J os trabalhadores, impossibilitados de atingir seus objetivos de forma direta no mercado, devem recorrer a instituies como sindicatos e partidos. Sendo assim, a democracia poltica e o sufrgio universal passam a ser tratados pelo movimento operrio como corretores das disparidades distributivas que o mercado propicia. Durante alguns anos conviveram ambas as tticas, a institucional e a ao considerada direta. Sem dvida, contribuiu para a predominncia da primeira opo o fato de as greves gerais deflagradas para a obteno dos direitos polticos, o sufrgio universal masculino, haverem sido vitoriosas onde ocorreram, como na Blgica e na Sucia. Ao mesmo tempo, todas as greves gerais desencadeadas com objetivos econmicos, com potencial para evoluir para uma situao de "greve geral revolucionria", entre o final do sculo XIX e as primeiras dcadas do sculo XX, foram derrotadas, com perdas duradouras para o movimento operrio.

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Nas palavras de Kautsky, terico e dirigente da social-democracia alem, a prpria luta econmica requer direitos polticos e estes no caem do cu. Ou seja, a participao era necessria. Tornava-se necessrio ao partido organizar os trabalhadores como classe, ou seja, organiz-los para votar como trabalhadores. A opo pela participao envolvia riscos. O consentimento dos trabalhadores s instituies polticas do capitalismo poderia levar a seu fim ou apenas contribuiria para refor-lo? Um claro antagonismo era percebido entre os objetivos estratgicos e tticos do movimento: a superao do capitalismo exigia um forte movimento de massas, mas um movimento de massas, por sua vez, exigia ateno e prioridade para reivindicaes menores e mais prosaicas, ligadas ao cotidiano do trabalhador. Outros complicadores apresentavam-se ao movimento social-democrata, segundo o autor. O voto coloca o eleitor na sua condio de indivduo, sendo uma prtica poltica que tende, portanto, a obscurecer o carter de classe da ao poltica. O prprio instituto da representao constitua problema na tradio do movimento, problema que a democracia de conselhos ou comunas tendia a controlar com a eventual demisso de representantes e com o mandato imperativo. Mesmo o surgimento espontneo desse tipo de democracia nas insurreies operrias conhecidas comprova a relao tensa entre o movimento e o instituto da representao.

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Por outro lado, participar regularmente em eleies implicava, como ainda implica, construir uma mquina partidria eficiente, com uma burocracia forte que inevitavelmente passa a preponderar nas decises partidrias, levando o movimento a uma tendncia de aburguesamento. Alm disso, a opo eleitoral tem como consequncia lgica o abandono dos instrumentos caractersticos da ao direta. A continuidade do seu uso provoca a desconfiana e rejeio do eleitor, alm de fazer pesar a suspeita de oportunismo: voto quando somos maioria, insurreio quando somos minoria. Finalmente, o recurso continuado aos instrumentos da democracia fortaleceu a tendncia no movimento a considerar o socialismo a sequncia lgica da democracia, sua simples extenso para os planos econmico e social. A democracia passa ento do status de instrumento de luta, de meio, para a consecuo de um determinado fim, o socialismo, para o de um valor a ser preservado e ampliado na nova sociedade. A revoluo operria no eliminaria a obra da Revoluo Francesa, mas a terminaria. preciso assinalar a presena de um elemento de clculo estratgico na adeso do movimento operrio s regras do jogo eleitorais. Conforme a ortodoxia marxista, os operrios viriam a constituir a maioria da populao, em todos os pases capitalistas. Afinal, para expandir-se, obedecendo a sua lgica imanente, o capitalismo precisava de um nmero crescente de operrios. O sistema criava seus prprios coveiros, na conhecida expresso de Marx. Assim, cedo ou tarde chegaria o momento em que os partidos operrios representariam a maioria da populao e contariam com a grande maioria dos votos.

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Nessa perspectiva, a questo da insurreio perde sentido, dado que o movimento encontrava-se fadado a tomar o poder pelo voto, em condies de sufrgio universal. Essa interpretao encontra fundamento at em algumas passagens de Engels, que afirmam a repblica democrtica como a forma por excelncia da ditadura do proletariado. Os dados pareceram indicar durante muito tempo o acerto dessas previses. Retirados da ilegalidade e conseguido o sufrgio universal, todos os partidos socialistas europeus viram sua votao crescer exponencialmente, entre o fim do sculo XIX e a segunda dcada do sculo XX. Entre 1905 e 1925, uma boa parte deles alcanou seu auge eleitoral, uma maioria relativa situada em torno dos 40% dos votos. At esse momento, convm lembrar, esses partidos dirigiam-se prioritria ou mesmo exclusivamente classe operria. No Partido Trabalhista Britnico, at mesmo a filiao individual de um membro de outra classe foi vetada pelos sindicatos at 1918.

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Havia razes de ordem terica para essa opo. Para Marx, a centralidade dos operrios, na condio de atores polticos da mudana, devia-se a duas razes: sua condio de classe explorada no regime, diretamente interessada em sua superao; e sua capacidade, nica fora da Burguesia, de organizar a

produo. No entanto, havia tambm razes de ordem prtica ao menos to importantes quanto as tericas. Em primeiro lugar, a competio econmica campeava entre os operrios, assim como entre os capitalistas, e sua superao era condio indispensvel ao aumento da eficincia do conflito contra a classe capitalista. Da a necessidade de organizar um partido poltico identificado com a classe que demandasse o voto do trabalhador na condio de trabalhador. Em segundo lugar, a ausncia de um partido desse tipo facilitaria, na sociedade burguesa, a integrao dos operrios como indivduos, votando conforme demandas de outra ordem regionais, religiosas, ou outra qualquer. Por isso era importante demarcar a classe operria da massa reacionria constituda pelas demais classes. Finalmente, o partido voltado para a classe era necessrio para superar o vis imediatista e antipoltico dos trabalhadores, sempre interessados no confronto direto com o seu empregador, mas desconfiados do mundo da poltica.

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No entanto, essa concentrao classista dos partidos operrios teve que ser alterada por imposio do processo eleitoral. Com efeito, a classe operria, contrariamente s previses de Marx, jamais chegou a constituir a maioria estvel da populao em qualquer pas capitalista. Aps seu momento de auge, quando, como vimos, se aproxima da metade da populao total, perto da passagem do sculo, a participao dos operrios, no sentido clssico do termo, na populao cai constantemente. Em 1968 representavam 25% da populao francesa; em 1971, 20% da populao belga, para ficar apenas em dois exemplos expressivos. A economia havia mudado. O crescimento, no antecipado pela teoria, do setor de servios demandava cada vez mais trabalhadores. A nova legislao, resultado do empenho dos socialistas, fazia aumentar tambm a importncia de estudantes e aposentados na populao total. Em suma, a previso de Marx de uma sociedade no rumo da simplificao da estrutura de classes, com uma burguesia cada vez menor e mais rica, confrontada com uma massa operria majoritria e empobrecida, no se verificara.A nova situao deixou aos partidos social-democratas uma alternativa difcil. De um lado, era possvel preservar a homogeneidade social, a pureza de classe, o que implicava resignar-se condio de minoria eleitoral. De outro lado, tambm era possvel ultrapassar os limites da classe operria e dirigir o apelo poltico e eleitoral do partido a outras classes e camadas da populao, percebidas como aliadas conjunturais dos operrios. A soma dos votos tradicionais dos socialistas com os dos aliados de classe permitia pensar na maioria nas eleies.

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preciso assinalar que esta ltima alternativa no implica necessariamente, ao menos na percepo de dirigentes e militantes da poca, o abandono dos objetivos finais do movimento. Significava apenas reconhecer que, ao contrrio da assertiva de Marx, a emancipao dos trabalhadores no seria obra exclusiva dos prprios trabalhadores. De fato, medida que a progresso eleitoral dos partidos social-democratas estagnava, a opo pelo pluriclassismo se imps. Os partidos passaram a dirigir-se ao povo, s classes populares, focalizando sua crtica num pequeno nmero de grandes capitalistas e especuladores. Os limites da categoria povo eram amplos o suficiente para abarcar perto de 90% da populao desses pases. A social-democracia nunca chegou a percentuais similares de votos. Sua estratgia atraiu parte dos membros

das classes populares, mas no todos. Paralelamente, parece haver-se estabelecido um crculo vicioso entre o apelo classe e o apelo ao povo. Quanto mais os partidos modificavam seus discursos para atrair o voto de camponeses, trabalhadores de colarinho branco, funcionrios pblicos, intelectuais, maior a perda de seus votos operrios tradicionais. No que parece ter sido um dos pontos culminantes do processo, a eleio britnica de 1979, 50% dos operrios votaram nos conservadores.

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A busca da maioria encontrava-se, aparentemente, bloqueada nas duas alternativas eleitorais. A opo classista estava condenada minoria, dado que a classe operria tendia a perder participao na populao total. A opo popular, por sua vez, produzia uma perda de votos antigos que contrabalanava a conquista dos novos

Mas quais as razes desse fenmeno?

A primeira e mais evidente razo a concentrao em objetivos comuns aos operrios e outros integrantes da coalizo. A poltica popular dirige-se aos interesses da maioria do povo: operrios so contemplados, no na sua especificidade de classe, mas como cidados de baixa renda, usurios dos servios pblicos, consumidores e contribuintes, por exemplo. Os interesses prprios dos trabalhadores passam a um segundo plano. H uma segunda razo, de carter menos imediato. O discurso da opo popular interpela os eleitores como indivduos, solicita sua escolha numa arena poltica neutra, voltada para o bem comum. Esse tipo de apelo enfraquece a identidade de classe e libera os operrios a votar conforme as exigncias de outros princpios, como regio, religio e outros.

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Essas questes, no entanto, no foram antecipadas pelas lideranas que encaminharam os partidos social-democratas ao rumo do bloco de classes. Para eles, permanecia a validade do objetivo final do movimento: a abolio da propriedade privada, fonte da irracionalidade e da injustia presentes na sociedade capitalista. Para eles, a luta por objetivos especficos, de interesse das classes populares, no constitua desvio em relao a essa meta, mas a construo do caminho que levaria a ela. O socialismo como etapa seguinte ao capitalismo era visto como inevitvel, e os ganhos do movimento, de fundo popular ou operrio, eram irreversveis e acumulativos. Na expresso de Jaurs, lder do socialismo francs, a

transio para a nova sociedade poderia ser comparada passagem de um navio pela linha do Equador: lenta, inexorvel e imperceptvel.

A seguir, examinaremos a feio que a social-democracia adotou a partir da dcada de 1930.

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2. O Estado do bem-estar social preciso ressaltar ainda que, naquele momento, a social-democracia carecia de uma poltica econmica prpria. Partilhava com os partidos burgueses da crena no padro-ouro, na necessidade do equilbrio oramentrio. Mesmo as iniciativas de aumento salarial eram ponderadas com a necessidade de manter o lucro em patamares que garantissem o investimento futuro e a gerao de novos empregos. O trao diferencial dos partidos social-democratas estava numa parcialidade distributiva em favor dos operrios, seja diretamente, seja pela via popular. As medidas distintivas tpicas eram a luta por um salrio mnimo, polticas habitacionais, seguro-desemprego, tributao progressiva sobre a renda e a herana. Todas tiveram como resultado final a melhoria das condies de vida dos trabalhadores. Do marxismo o movimento herdara basicamente os argumentos da crtica ao capitalismo. Propostas efetivas de como proceder para sua superao resumiam-se transferncia da propriedade dos meios de produo para a coletividade: a nacionalizao. No entanto, embora o perodo entre as duas guerras mundiais tenha testemunhado a ascenso de diversos partidos socialistas ao poder, nada se fez, praticamente, no sentido dessa grande diretriz.

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Duas razes estariam na origem dessa omisso A primeira razo, uma ambiguidade conceitual quanto ao que fazer. Nacionalizar, ou seja, passar o controle para o Estado, ou socializar, entregando a empresa gesto dos trabalhadores que operam aquela unidade particular de produo? Os partidos dividiram-se nessa questo, alguns enfatizando mais o aspecto planificador da propriedade estatal e outros o componente autogestionrio. Aos olhos dos socialistas, contudo, essa ltima alternativa no poderia ser vista como definitiva, pois solucionava apenas a contradio interna empresa, entre capitalistas e operrios, mas no o conflito entre aquela unidade e o conjunto dos consumidores. A segunda razo encontra-se no fato de os socialistas haverem assumido o governo na condio de minoria ou na liderana de uma coalizo com outros partidos, contrrios poltica de nacionalizao. Nessa situao, impe-se a escolha entre dois caminhos. O primeiro perseguir a nacionalizao, o objetivo final, apesar da condio de minoria. A derrota subsequente teria utilidade pedaggica, ensinando s massas a identidade de

seus aliados e de seus inimigos, preparando o advento de um governo socialista majoritrio. Essa posio foi implementada apenas uma vez, em 1928, na Noruega, por um governo socialista que durou trs dias. O segundo caminho o das reformas, o da mudana do capitalismo a prestaes, at o dia em que a maioria se volte para os partidos socialistas e as nacionalizaes possam ser efetuadas. Essa situao de carncia de uma teoria econmica especfica perdura at a dcada de 1930. Aps a crise de 1929, uma srie de polticas anticclicas implementada em diversos pases. Seu fundamento terico foi formulado por Keynes, e o caso mais conhecido o New Deal americano. No entanto, na mesma poca, os governos socialistas da Noruega, Sucia e Frana iniciavam polticas de estmulo a demandas similares.

Saiba mais sobre o New Deal Americano

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Criou-se um novo paradigma, no qual cabia ao Estado gerenciar o nvel de demanda, seja mediante uma poltica de pleno emprego, seja pelo gasto pblico direto em obras de qualquer espcie. Aceitava-se um certo montante de dficit pblico, a economia assim aquecida saa da crise e iniciava-se um novo ciclo expansionista. No momento posterior, de prosperidade, procurava-se o equilbrio das contas pblicas. A afinidade entre keynesianismo e social-democracia foi imediata e duradoura. Essa perspectiva permitia pensar a congruncia entre os interesses particulares dos trabalhadores e os interesses gerais da sociedade. Aumentar a renda dos trabalhadores era a receita para fazer a economia crescer e beneficiar a todos. Os interesses populares, de todas as classes e grupos aliados, aparentavam uma afinidade, at ento oculta, com os interesses da classe operria.

O mundo ps primeira guerra

Para aperfeioar ainda mais os seus conhecimentos sobre a Primeira Guerra Mundial, assista ao vdeo abaixo. (4min22)

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A assimilao do enfoque keynesiano poltica econmica dos socialistas no poder marca o incio do que se convencionou chamar Estado do bem-estar social. No se trata mais de implementar reformas pontuais enquanto se aguarda o momento propcio nacionalizao massiva. Criou-se, na verdade, um novo modelo, com a ambio de domesticar o capitalismo, em benefcio de trabalhadores e consumidores. O papel ativo que o Estado passou a ter permitiria evitar a crise econmica e compensar os danos sociais do sistema, sem necessidade da nacionalizao completa da atividade econmica. O modelo, de grande aplicao na Europa, aps a segunda guerra, apoiava-se em trs pilares.

Em primeiro lugar, a presena do Estado como agente econmico, como provedor dos insumos fundamentais economia, a preos mdicos. Tornou-se comum o monoplio pblico em setores como crdito, ao, carvo, energia, transportes e comunicaes. Todos eles estratgicos e de baixa rentabilidade para o capital privado. Entre os poucos casos de presena estatal em indstrias de bens de consumo, cabe citar, por sua relevncia, a produo de automveis. Em segundo lugar, a promoo de polticas anticclicas de preveno e regulao de crises econmicas. Aqui

o Estado age como controlador da demanda, normalmente suprindo-a, mediante gerao direta ou indireta de postos de trabalho.

Saiba mais sobre Keynes

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O terceiro pilar a construo de uma rede de proteo que pretendia nada menos que a segurana absoluta para todo cidado, do bero ao tmulo. Integram essa rede as polticas de sade, previdncia, assistncia social, habitao, transporte, educao, assim como todas as demais que o Estado utilize para o incremento da segurana e do bem-estar de sua populao. A rede de segurana tem o objetivo de sanar as sequelas sociais do capitalismo. A presena do Estado na produo e na regulao do mercado imprimiria racionalidade a esse espao, evitando a crise, ao menos a crise prolongada. Os capitalistas seriam induzidos a investir os seus lucros nos setores considerados pelo Estado como importantes para a eficincia do sistema. No limite, operariam como funcionrios da coletividade. O modelo supe a possibilidade de os trabalhadores fazerem uso do Estado, em que cada pessoa representa um voto, para corrigir as distores do mercado, esfera na qual o peso nas decises proporcional ao montante de recursos que cada um possui. A poltica prevaleceria, garantindo a justia e a eficincia que o mercado seria incapaz de prover por perodos continuados. A experincia da social-democracia na aplicao desse modelo trouxe tona suas limitaes estruturais. Na verdade, equidade e eficincia no so objetivos sempre compatveis, mas muitas vezes at antagnicos. Em casos de tenses e conflitos aparece a principal barreira limitadora: a dependncia da disposio do capitalista para o investimento.

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O modelo depende do crescimento econmico, este do investimento e este ltimo, por sua vez, do lucro e da expectativa de sua continuidade. Na hiptese de resistncia ou desconfiana dos capitalistas, estes, a rigor, no precisariam sequer conspirar contra o governo: bastar-lhes-ia deixar de investir, para provocar em pouco tempo uma crise desestabilizadora, de consequncias fatais para o governo. Esse o dilema que atormenta os governos socialistas empenhados numa transio sistmica, na superao do capitalismo por uma nova ordem econmica e social. Qualquer passo no sentido da nacionalizao, da restrio dos mercados, retira os capitalistas da base de apoio ao governo e gera um momento de desorganizao da produo. Essa crise tem seu nus, em empregos e salrios, e a classe trabalhadora no se mostrou historicamente disposta a suport-los, mesmo com o aceno de benefcio futuros at mais substanciais. A crise inevitvel nessa situao. Um governo eleito com promessas de mudanas deve satisfazer as demandas dos diversos grupos de apoio a que deve a vitria. Esse leque de demandas pode ser atendido por

um nmero limitado de meios: distribuio direta de renda, uso da capacidade produtiva ociosa, gasto das reservas internacionais e reduo da taxa de lucros. Segundo Przeworski, os trs primeiros sempre se mostraro insuficientes, de maneira que a presso no sentido da reduo da taxa de lucros inevitvel.

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Nesse momento ocorre a reao empresarial. Obrigados pela instncia poltica a manter salrios e empregos em montante maior que o necessrio, aumentam seus preos, gerando inflao. Caso se imponham controles diretos sobre os preos, cessa a produo e surge uma situao de escassez. Processos com esse roteiro aproximado observaram-se na Frana, em 1936; em Portugal, na Revoluo dos Cravos; e no Chile de Allende. A concluso do autor da impossibilidade da mudana de sistema por meios democrticos. A perda inicial que os trabalhadores experimentam determina a retirada de seu apoio ao governo partidrio da mudana, deixando-o debilitado para enfrentar com sucesso a reao conservadora. A melhor soluo para os trabalhadores seria persistir no compromisso social-democrata, assegurar os ganhos possveis em troca da renncia revoluo social. Afinal, somente esse modelo assegurou, historicamente, a convivncia entre capitalismo e democracia. Ao estudar o histrico e as caractersticas principais da social-democracia, detivemo-nos nas opes fundamentais que levaram, com o tempo, a sua distino em relao corrente socialista tradicional. Em seguida, discutimos as caractersticas principais do produto de engenharia poltica que se associou socialdemocracia a partir da dcada de 1930 e, principalmente, no ps-guerra: o conjunto de polticas econmicas e sociais que veio a ser conhecido como Estado do bem-estar social. Na prxima unidade vamos abordar as bases que tornaram possvel o compromisso que esse tipo de estado.

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Unidade II - Bases materiais do compromisso socio-democrata

Objetivo Analisaremos, portanto, nesta unidade II , a seguinte questo central:

Por que a classe dos capitalistas hegemnica?

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Unidade 2 - Bases materiais do compromisso social-democrata Como vimos, uma das idias correntes nos primrdios do movimento socialista era a crena na incompatibilidade, no mdio e longo prazo, entre capitalismo e democracia. A existncia simultnea desses dois elementos era considerada intrinsecamente instvel. Numa situao como essa, a classe dominada procuraria de imediato estender sua emancipao poltica para o campo social, o que implicaria a eliminao do capitalismo. A burguesia, por sua vez, trataria de restabelecer a congruncia ampliando a sujeio social dos operrios para a esfera da poltica, limitando, sempre que possvel, o sufrgio aos ricos e proprietrios, e eliminando, assim, a democracia. Na base dessa anlise se encontra a constatao de que o conflito de interesses que ope operrios e patres insanvel. Afinal, a relao entre ambos de explorao, em que salrio e lucro so resultados de um jogo de soma zero, e uma mudana qualitativa da situao de vida dos operrios somente possvel por meio da superao revolucionria do sistema capitalista, numa ordem de novo tipo, de carter socialista.

No entanto, a experincia mostrou que capitalismo e democracia conseguiram conviver, por perodos de tempo bastante extensos, sob determinadas condies. Onde se encontraria a falha na argumentao de Marx e dos primeiros socialistas? Conforme Przeworski, encontra-se nas concluses equivocadas que foram retiradas dessa anlise, em linhas gerais correta, a saber: Primeira: embates em torno de interesses materiais levam a conflitos sobre a forma de organizar a sociedade; Segunda: o sufrgio universal tem o dom de incrementar a luta de classes e o capitalismo s consegue se manter pela fora; e Terceira: o caminho para o socialismo passa pelas crises do capitalismo.

Pois bem, evidente que a longa convivncia do capitalismo com o sufrgio universal no quer dizer que a explorao de uma classe sobre outra, no sentido preciso da apropriao do trabalho excedente, tenha terminado. Apenas, essa explorao conta com o consentimento daqueles que a sofrem. Quais as razes desse consentimento? Essa a pergunta que Przeworski tenta responder nos ensaios discutidos nesta unidade.

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1. Razes da hegemonia da classe capitalista A pergunta sobre as razes da persistncia do capitalismo j havia norteado as reflexes de Gramsci. Para esse autor, a operao de diversos mecanismos no plano ideolgico garantia a produo do consentimento ativo dos explorados. No se trata, no entanto, de uma questo de iluso coletiva, que o trabalho pedaggico dos militantes, informado pela cincia, pode por si s dissipar. Qualquer ideologia subsiste apenas quando dispe de bases materiais para tanto. A questo pode ser formulada, portanto, da seguinte maneira: quais as bases materiais, as condies objetivas, da hegemonia da classe dos capitalistas? De pronto, preciso reconhecer que os interesses dos explorados devem ser, de alguma forma, contemplados. Em outras palavras, a determinao da taxa de lucro situa-se entre dois limites: o montante do lucro no pode ser pequeno a ponto de inviabilizar o investimento e o crescimento econmico futuro; mas tampouco pode ser grande a ponto de deixar o salrio do trabalhador no nvel da subsistncia, sem contemplar algo do seu interesse material. Para tornar a argumentao mais precisa necessrio deixar explcitos alguns dos conceitos utilizados. Duas so as caractersticas bsicas do capitalismo, para fins da anlise. Em primeiro lugar, a produo dirige-se a terceiros, ao mercado, o que significa dizer que os produtores diretos no so auto-suficientes, mas dependentes. Em segundo lugar, os capitalistas so proprietrios do lucro e monopolizam as decises sobre o seu destino, ou seja, sobre a alocao de recursos na economia, a cada momento. De acordo com essas definies, a explorao dos trabalhadores a mesma coisa que a lucratividade e produtividade do sistema. O ponto importante que o lucro, ou seja, o interesse particular do capitalista, condio da realizao do interesse de todas as demais classes da sociedade. Todas dependem do crescimento, este depende do investimento, que, por sua vez, provm do lucro. Da que os capitalistas possam aparecer como portadores do interesse universal daquela sociedade. Esse ponto de particular significao, pois implica reconhecer, conforme o autor, que a oposio entre interesse presente e futuro dos operrios inevitvel. A perseguio dos interesses de longo prazo dos trabalhadores, ou seja, a mudana do sistema, no pode ser empreendida sem contrariar de imediato os interesses presentes do capitalista. Estes, numa situao de incerteza quanto continuidade do lucro, suspendem o investimento, impondo perdas pesadas sociedade, em particular aos trabalhadores, que vem diminuir, de imediato, os salrios e o montante de empregos. Para evitar essa perda imediata, trabalhadores acedem ao compromisso com o sistema, renunciam a sua subverso, em troca de determinadas condies. Em primeiro lugar, os capitalistas em seu conjunto devem ser alocadores eficientes do lucro. Em outras palavras, devem dirigi-lo ao investimento produtivo, de maneira a gerar empregos. Devem, portanto, evitar aplicaes improdutivas, o consumo conspcuo, alm de, evidentemente, sua transferncia a outro pas.

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Aplicado o lucro da maneira mais eficiente possvel, encontra-se montado o cenrio para um conflito distributivo de resultado incerto. Aqui se produz a segunda condio necessria ao consentimento: a expectativa de uma progresso salarial dos trabalhadores. Em sntese, o argumento do autor postula que enquanto perdurar a alocao eficiente do lucro, de forma a gerar novos empregos, e a expectativa de aumento continuado nos salrios for razovel, racional para os trabalhadores optar pela manuteno do sistema, uma vez que o caminho da mudana impe perdas certas no curto prazo.

Alcanado esse compromisso, os salrios no se manteriam no nvel da subsistncia, como pensava Marx, mas no patamar necessrio preservao do consentimento ativo dos trabalhadores com a explorao. A ausncia de um compromisso desse tipo ou sua ruptura teria como consequncia o impasse poltico e, no limite, o recurso exclusivo coero na esfera da poltica. Historicamente o que parece haver-se verificado naqueles pases europeus que enfrentaram greves gerais por motivos econmicos nas primeiras dcadas do sculo. Em casos como esse, passa a valer a relao, afirmada por Marx, de incompatibilidade, no mdio prazo, entre capitalismo e democracia.

Leia mais sobre Marx e o capitalismo

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Ou seja, quando o capitalista desvia o lucro do investimento e fecha qualquer possibilidade de melhora da renda do trabalhador, a opo racional a ruptura, no rumo do socialismo. Essa escolha no seria racional, nesse caso, apenas se o socialismo se revelasse, no futuro, menos eficiente que o capitalismo ou se as perdas que o caminho da mudana impe levassem os trabalhadores a uma situao material ainda pior que aquela provocada pelas condies capitalistas menos favorveis. Vimos, neste mdulo, as bases materiais do compromisso social-democrata. Necessitam estas atender a duas expectativas dos trabalhadores. A primeira a alocao eficiente do lucro, de maneira a gerar mais empregos. A segunda a progresso salarial de maneira a que a remunerao do trabalho supere o nvel de subsistncia e apresente tendncia crescente. Dadas essas condies, seria racional para os trabalhadores abdicar de seu interesse de longo prazo, a substituio da organizao capitalista pelo socialismo. No prximo mdulo vamos examinar as razes da crise do Estado do bem-estar social, iniciada na dcada de 1970.

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Unidade III - Razes da Crise da Social-Democracia

Nesta unidade, portanto, estudaremos:

crise da social-democracia; caractersticas da social-democracia clssica e do neliberalismo e sua confrontao; razes do sucesso social-democrata at os anos 70; mudanas necessrias ao modelo.

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1. A crise da social-democracia

Discutimos na ltima unidade a anlise adiantada por Przeworski a respeito das bases materiais do compromisso social-democrata, anlise praticamente contempornea a seu objeto. Debateremos agora uma abordagem da crise que se abateu sobre o paradigma social-democrata, desenvolvida por Giddens em 1999, com o benefcio, portanto, de uma distncia temporal maior dos acontecimentos sob exame. Para Giddens, a onda de governos liberais que se seguiu ao final da dcada de 1970 demonstrou cabalmente o esgotamento das polticas implementadas at ento pela social-democracia. O mundo mudara e a esquerda demorou a dar-se conta da mudana. Talvez somente a queda do muro de Berlim tenha despertado a esquerda do seu torpor, apenas para mergulh-la na incerteza e na perplexidade. O fato que o socialismo, na condio de portador de um programa econmico especfico, teve fim. A questo passa a ser quais os meios, quais as polticas a propor para alcanar os valores tradicionais da esquerda? Como assegurar a igualdade num contexto de prosperidade? Reconhecida a impossibilidade de eliminar o mercado e a dificuldade de domestic-lo no velho estilo, como conviver com ele? Como utilizar sua capacidade de emitir constante e automaticamente informaes necessrias s decises na esfera econmica e evitar as sequelas sociais de seu funcionamento? Essas as questes fundamentais postas, no entendimento do autor, a uma esquerda de novo tipo, que se disponha a administrar as mudanas em curso no mundo a partir de sua perspectiva de valores.

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A nova direita, os partidrios irrestritos do mercado, tambm enfrenta contradies e dificuldades. Em primeiro lugar, a crena, no verificada at o momento e pouco plausvel no futuro, de que o mercado solucionar, sempre, no mdio prazo, os desequilbrios sociais que gera no curto prazo. Em segundo lugar, a contradio latente entre o liberalismo econmico e o conservadorismo no plano dos costumes, da vida

pessoal. Qual a razo de postular, como fazem os conservadores britnicos e os republicanos americanos, indivduos autnomos na esfera econmica, mas sujeitos autoridade da tradio nas esferas da famlia, da nao, da arte e da cincia? Giddens expe seu entendimento acerca da crise do modelo social-democrata em dois momentos. No primeiro, apresenta elementos fundamentais que caracterizam, a seu ver, as posies da velha esquerda social-democrata e da nova direita neoliberal. No segundo, analisa as premissas do sucesso social-democrata e indaga de sua continuidade ou no no presente.

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1. Caractersticas da social-democracia clssica

a) Envolvimento difuso do Estado na vida social e econmica Decorre diretamente da afirmao das duas principais funes do Estado que operam no sentido de manter o compromisso: prevenir a crise econmica e remediar as mazelas sociais. b) Domnio da sociedade civil pelo Estado A social-democracia clssica manifestava desconfiana aguda em relao s organizaes da sociedade civil. A ao do Estado dispensava as iniciativas de quaisquer grupos de cidados organizados, por ser a princpio mais eficiente, uma vez que era sempre melhor informada e mais representativa, fazendo prevalecer os interesses da coletividade sobre qualquer tipo de particularismo. c) Coletivismo A satisfao das necessidades humanas de maneira igualitria leva nfase em solues coletivas. A discusso feita pelo socilogo Marshall a respeito da progresso dos direitos sociais enfatiza particularmente esse ponto.

Curiosidades sobre Alfred Marshall

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d) Administrao keynesiana da demanda

Abordamos esse tpico algumas vezes em mdulos anteriores. Resta assinalar que, para Giddens, encontrase associado a outro trao: o corporativismo. O processo decisrio passou a girar, cada vez mais, em torno do trip Estado, empresrios e trabalhadores, estes ltimos representados por suas entidades de classe.

e) Mercado restrito Trata-se do tema da domesticao do mercado, seja pela via da propriedade pblica sobre setores relevantes da economia, seja pelo direcionamento das decises dos capitalistas, via polticas de estmulo positivo ou negativo, a rumos compatveis com o interesse da coletividade. f) Pleno emprego a meta permanente no horizonte social-democrata. Tem um peso significativo na agenda do pacto, pois, como vimos, contribui para a igualdade e condio do financiamento do Estado do bem-estar social, pois implicaria, simultaneamente, o nmero timo de cidados contribuintes e o nmero mnimo de cidados beneficirios.

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Em contraste, a alternativa liberal que comeou a confrontar a social-democracia com sucesso, a partir dos anos 1970, pode ser caracterizada por suas posies contrastantes em relao aos mesmos pontos anteriormente arrolados. 2. Caractersticas do neoliberalismo a) Governo mnimo O eixo da plataforma liberal, que considera o Estado fonte de ineficincia, corrupo e autoritarismo. Preconiza-se sua substituio, sempre que possvel, pela livre iniciativa dos cidados. b) Sociedade civil autnoma o corolrio do ponto anterior. Indivduos devem assumir a iniciativa nas esferas social e econmica de maneira isolada ou na forma de associaes voluntrias. Empresas so veculos da livre iniciativa, mas tambm o so todas as associaes que renem os indivduos para fins outros que no o lucro.

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c) Fundamentalismo de mercado O mercado, campo de interao das iniciativas individuais na esfera econmica, tem a capacidade de sempre produzir a melhor soluo possvel, se no de imediato, no mdio prazo. A interveno premeditada do Estado distorce o funcionamento dos mecanismos de mercado, de forma que, embora os efeitos desejados sejam atingidos no curto prazo, suas consequncias deletrias devem fazer-se sentir posteriormente. Em todo caso, o balano geral acusaria sempre uma situao inferior tima.

d) Individualismo econmico com autoritarismo moral As propostas neoliberais articulam, normalmente, a aprovao da autonomia individual no plano econmico com o respeito tradio no plano moral. Como j assinalado, h um antagonismo latente entre ambas as posies.

e) O mercado de trabalho como um mercado a mais O fato de o mercado de trabalho colocar em jogo a sobrevivncia de indivduos e famlias no deve ser motivo para um tratamento excepcional, com uma margem maior de interveno do Estado sobre ele. Em outros termos, o Estado no deve obstar a perda de renda de determinados grupos, desfavorecidos por uma mudana na conjuntura. Todo emprego ou salrio artificialmente preservado pesa sobre a sociedade como um todo e se reflete em perda de sua competitividade.

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f) O elogio da desigualdade A desigualdade considerada inevitvel afinal cada indivduo singular em suas aptides e falhas , e benfica. De maneira geral, o elogio da diversidade , como vimos, um tema clssico do repertrio liberal. A desigualdade de bens e renda vista como o resultado, justo, de decises de responsabilidade individual. g) Nacionalismo tradicional Um dos valores que faz a ponte entre os neoliberais e os antigos conservadores. A nao valorizada e os alvos dessa atitude so, de costume, os imigrantes, a integrao regional e as posturas abertas ao cosmopolitismo cultural. Da a pretenso, comum, de limitar a globalizao a seu aspecto econmico e, nele, livre circulao de capitais, retendo o trabalho e a cultura s fronteiras nacionais. h) Estado e bem-estar social como rede de segurana A idia limitar a proviso de segurana por parte do Estado queles que "efetivamente dela necessitam". Recusa-se o princpio de um sistema universal, uma vez que, sempre que possvel, os indivduos devem responder pela sua segurana nos planos da sade, educao, previdncia social, desemprego e outros. O fantasma liberal que a assistncia pblica passe a ocupar todo o horizonte de vida dos assistidos, mutilando sua iniciativa.

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i) Baixa conscincia ecolgica Tal como no caso da social-democracia, a sensibilidade dos liberais para com o meio-ambiente escassa. Predomina a crena de que boa parte dos problemas ecolgicos solucionvel por mecanismos de mercado, uma vez que a escassez se traduziria de imediato em elevao de preos e desenvolvimento de alternativas mais baratas.

j) Realismo internacional No plano internacional, a diretriz o realismo: a mobilizao dos meios mais eficientes para o atendimento de interesses nacionais predefinidos. l) Mundo bipolar O neoliberalismo partilha com a social-democracia o ambiente internacional de seu pensamento: um mundo regido pela lgica da competio entre dois grandes blocos.

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Em resumo, temos:

Social-Democracia Clssica Envolvimento difuso do Estado na vida social e econmica Domnio da sociedade civil pelo Estado Coletivismo Administrao keynesiana da demanda

Neoliberalismo Governo mnimo Sociedade civil autnoma Individualismo econmico com autoritarismo moral Fundamentalismo de mercado

Mercado restrito Pleno emprego Igualitarismo Estado do bem-estar social abrangente Baixa conscincia ecolgica Internacionalismo Nacionalismo tradicional Realismo internacional Mundo bipolar Mundo bipolar O mercado de trabalho como um mercado a mais O elogio da desigualdade Estado de bem-estar social como rede de segurana Baixa conscincia ecolgica

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Em sntese, a social-democracia postula a ascendncia do Estado sobre o mercado. Ascendncia legtima, uma vez que expressaria sempre o desejo da maioria. Na prtica, as decises so tomadas no dilogo entre o Estado, rbitro maior, e as classes empresariais e trabalhadoras.

No plano social, d-se como certo que o indivduo no capaz de defesa prpria em um leque importante de situaes, nas quais legtima e necessria a interveno reparadora do Estado. O envolvimento da burocracia na vida das famlias assistidas percebido como nus inevitvel do modelo. As associaes voluntrias so vistas com desconfiana em razo da deficincia em termos de profissionalismo e, principalmente, por no disporem de uma noo de conjunto do problema a que se dedicam, viso esta facultada apenas ao Estado.

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O neoliberalismo, por sua vez, postula o menor Estado possvel, sob controle do mercado e da sociedade civil. Esta disporia da energia suficiente para gerar a solidariedade de que a sociedade precisa. O princpio mesmo do Estado do bem-estar social posto em questo. A segurana dos cidados deve ser obra dos prprios cidados. Nas palavras de um de seus expoentes, no futuro o Estado do bem-estar social ser visto com o mesmo desprezo que aquele hoje dedicado escravido. No fundo, a segurana dos indivduos s pode ser consequncia do crescimento econmico, que distribuir seus frutos de maneira desigual, recompensando as decises acertadas e punindo todos os equvocos.

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3. Premissas do sucesso do modelo social-democrata Conforme Giddens, o sucesso do modelo social-democrata apoiava-se em cinco premissas. Na sua opinio, a confrontao que lhe moveu o neoliberalismo s passou a conseguir sucesso eleitoral no momento em que essas premissas foram ultrapassadas na sociedade. O modelo viu-se face aos novos desafios, para os quais as antigas polticas no constituam mais resposta. Relacionamos, a seguir, as premissas apresentadas. Primeira: Famlia tradicional O Estado do Bem-Estar Social fundamentava-se no modelo de famlia tradicional: marido empregado, provedor do salrio, e esposa fora do mercado, dedicada aos trabalhos domsticos. Nesse modelo, a equao do pleno emprego de soluo relativamente simples, uma vez que tem como alvo apenas a metade da populao adulta. No momento em que a mulher ingressa no mercado de trabalho, o objetivo torna-se mais pesado, de alcance mais difcil.

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Segunda: Homogeneidade do mercado de trabalho

Mercado de trabalho homogneo significa um nvel semelhante de qualificao da fora de trabalho. At a dcada de 1970, o trabalho era predominantemente manual. Da que, em caso de desemprego, o processo de requalificao do trabalhador e sua alocao em outro posto de trabalho era relativamente simples. Era fcil encontrar um outro trabalho tambm manual, tambm com um salrio baixo. As novas condies tecnolgicas decretaram o fim do trabalho manual. Os postos de trabalho contemporneos exigem qualificao maior e remuneram mais o trabalhador. Nessas circunstncias, o processo de requalificao pode ser mais complexo, e a alocao, mais difcil. Novamente, o objetivo do pleno emprego torna-se mais distante.

Terceira: Produo em massa Tambm a produo em massa torna mais fcil o processo de tomada de decises em favor do pleno ou mximo emprego. O planejamento da oferta de postos de trabalho consideravelmente mais simples nessa circunstncia. Hoje as empresas de pequeno e mdio porte tendem a ganhar mais peso, dando maior complexidade ao mercado de trabalho.

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Quarta: Burocracia especializada O modelo dependia, tambm, da existncia de uma camada burocrtica especializada, capaz de tomar as decises "tcnicas" acertadas, ou seja, compatveis com os pressupostos do modelo, bem como de monitorar as polticas decorrentes. A transparncia e a participao popular no processo eram caractersticas menos valorizadas que sua eficincia. Talvez essa seja a nica premissa que continua realizvel no presente. Quinta: Economias nacionais no interior de fronteiras soberanas Em outras palavras, um elevado grau de controle, por parte do governo, sobre as variveis econmicas de maior relevncia. Uma das condies das polticas inspiradas no keynesianismo a preponderncia da economia domstica sobre os setores dependentes do exterior. Essa condio desaparece, a olhos vistos, nas condies de globalizao em que vivemos. O Estado controla cada vez menos as variveis econmicas mais importantes, e a interdependncia, evidentemente assimtrica, torna-se a regra.

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O recuo eleitoral dos partidos socialistas, a onda liberal que invadiu a Europa a partir de fins dos anos 1970, obedece, conforme esta perspectiva, a causas mais profundas que a simples volubilidade dos cidados ou a alternncia entre oposio e situao. A eroso progressiva de cada uma dessas premissas teria posto, aos governos de esquerda, problemas cada vez mais difceis de serem resolvidos nos seus parmetros clssicos.

O Estado do bem-estar social tornava-se, ao mesmo tempo, mais caro e mais ineficiente. A acumulao de insucessos parciais teria conferido credibilidade alternativa neoliberal, provocando a sucesso de vitrias eleitorais. 4. As mudanas necessrias

A reao da esquerda s poderia se dar mediante a abertura de sua agenda s novas questes postas pelas mudanas em curso no mundo. Em primeiro lugar, a mudana mais evidente foi a das estruturas de apoio poltico para o projeto da esquerda. Tradicionalmente, a base de apoio da esquerda foi a classe trabalhadora. Com o tempo, como vimos, esfumou-se a esperana de atingir a maioria eleitoral apenas com base nessa classe, e a socialdemocracia operou uma guinada, ampliando o alvo de seu discurso para o povo ou para as classes populares. Mesmo assim, a centralidade do apelo classe operria foi mantida, e a conquista da maioria eleitoral no foi uma tarefa fcil, precisando superar o trade-off apontado por Przeworski.

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Pois bem, nas novas condies, as bases classistas da esquerda socialista e social-democrata manifestam uma fragilidade ainda maior. Na verdade, a prpria determinao de classe sobre o comportamento poltico e eleitoral encontra-se abalada. Segundo dados citados por Giddens, na Sucia, pas com forte e tradicional influncia classista sobre o voto, a classe respondia, em 1967, por 54% das definies de voto. Em 1985, esse percentual havia cado para 34%. Em outras palavras, no s os trabalhadores diminuem em nmero, como tendem cada vez mais a votar de acordo com outros valores que no aqueles vinculados identidade de classe. Esse movimento congruente com as observaes de Inglehart sobre a mudana de valores em curso no mundo contemporneo. Haveria hoje uma tendncia nos pases afluentes, provocada pela prosperidade material e pelo sucesso do Estado do bem-estar social, no sentido da importncia maior de valores no ligados subsistncia, valores ps-materialistas, portanto, em detrimento dos valores articulados segurana material. Ganham peso como definidores de votos outras identidades, fundadas na etnia, religio, idade, gnero, cultura, entre outros, e, por outro lado, classe social, renda e consumo, por exemplo, perdem significao. Esse fato no implica o abandono dos trabalhadores como grupo interlocutor importante dos partidos socialistas, mas impe a considerao de outros grupos, como mulheres, jovens e aqueles organizados em torno de questes que cortam o eixo direita-esquerda, como os verdes.

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Atentos necessidade de mudana, de interlocutores e de proposta, os diversos partidos socialistas europeus iniciaram um processo de transio. A partir da dcada de 1980 passaram a incluir em sua agenda temas como a produtividade econmica, a participao dos cidados, o desenvolvimento de estruturas comunitrias, a ecologia e a pluralidade de estilos de vida, todos antes subestimados. A incorporao de temas como esses e sua articulao com a agenda antiga da social-democracia, ou seja, a tentativa de construo de um novo paradigma para a esquerda, o tema dos prximos mdulos.

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Palavras Finais

Palavras finais

Muito bem, voc chegou ao final do curso de Doutrinas Polticas Contemporneas: SocialDemocracia! Esperamos que os conhecimentos aqui adquiridos sejam importantes para sua vida pessoal e profissional. E que voc os multiplique, pois assim estar no s aprimorando e consolidando seu aprendizado, mas tambm ajudando a construir uma coletividade mais consciente e cidad.