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Download do Programa da peça “Grande Otelo - Êta Moleque

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GRANDE OTHELOETA MOLEQUE BAMBA!

DIREÇÃO: ANDRÉ PAES LEME / TEXTO: DOUGLAS TOURINHO

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A cada projeto realizado descobrimos o que nos move nessa profissão de produtoras culturais: o fascínio despertado pelo percurso da idéia à realização. Cada um tem o seu percurso, mas todos são singulares e nos abrem uma oportunidade de aprendizado infinito. Com a marca da Sarau realizamos muitos projetos desde a criação de nossa sociedade, em julho de 1992, tivemos certamente muitas felicidades, uma delas, sem dúvida, foi de um dia ter a idéia de “provocar” a realização desse “Grande Othelo”.

Nossa história com o projeto “Grande Othelo – 90 anos” começa com a idéia de montar uma grande homenagem em forma de peça teatral e, como seria o desejo do próprio Othelo, num gênero musical. Recrutamos então nosso parceiro das investidas teatrais, André Paes Leme e em seguida um time de craques, uma equipe de criadores e atores maravilhosa com quem podemos trabalhar, nos divertir, aprender muito juntos e ter a satisfação de gerar espetáculos como esse.

Conversações com os filhos de Othelo, pesquisa, entrevistas, direitos... lá se foram quase dois anos! No segundo ano de convivência com o projeto em nossas mentes, acabamos gerando mais alguns filhos e o projeto cresceu: além da peça, criamos um segmento batizado de “Memória” e o projeto de um documentário, dirigido por Evaldo Mocarzel. Na verdade descobrimos que a recuperação do acervo e da memória de Othelo é fundamental na realização desse grande

tributo aos seus 90 anos. Sem o acervo, que cultivou durante seus 73 anos intensamente vividos, esse projeto não teria o sentido almejado por nós.

Não conhecemos Grande Othelo em vida pessoalmente, mas hoje estamos diante de um manancial de sua vida inteira traduzida em (até o momento) incontáveis roteiros, cartas, partituras, letras, agendas, anotações, poemas, filmes, troféus, enfim, um verdadeiro tesouro da cultura nacional que pretendemos muito em breve levar ao conhecimento do público. Alguns documentos autobiográficos localizado na abertura das primeiras caixas, fizemos questão de divulgar neste programa. São escritos, alguns à mão, outros à máquina, que se complementam e servirão de base para a biografia de Grande Othelo, que será escrita por Sérgio Cabral.

Por hora, cumprimos nossa primeira missão, trazer ao palco um espetáculo realizado com muito cuidado e

respeito, remexendo nesse baú de memória de muitos personagens que partilharam de sua vida, resgatando ao imaginário popular esse gigante brasileiro, como em um primeiro acerto de contas com a sua memória. É isso aí Velho Mestre, o terceiro sinal anunciará a presença do moleque Tião.

Andréa Alves e Ana Luisa LimaIdealizadoras e produtoras

Grande Othelo 90 Anos

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O ano? Lá por 49 ou 50. O local? Em Bagé, a Rainha da Fronteira. No Cine Capitólio, a matinê daquele domingo seria especial: “Palco e tela”, como anunciava o serviço de alto-falantes A Voz de Bagé. Na tela, Alô, Alô Carnaval. No palco, alguns artistas já conhecidos como comediantes da Rádio Nacional, e a principal atração, o inigualáaaaavel, o insuperáaaaaavel, o Graaaande Otelo, como foi anunciado no palco do cinema. O inigualáaavel entrou em cena jogando io-iô, mania da época que fazia todo mundo, crianças, adultos, velhos, andarem pela rua enrolando e desenrolando aquele carretel, de madeira ou plástico, com as mais variadas cores. E como também era moda os concursos de io-iô, Otelo lançou um desafio, um prêmio de mil cruzeiros para quem fizesse com o io-iô tudo o que ele faria e algo mais, que ele não pudesse fazer. Logo alguns afoitos, instrumento na mão, saltaram em direção ao palco. Otelo disse: “um de cada vez” e apontou para o que chegara primeiro na escadinha de acesso, “Você!” Ficaram os dois lado a lado. Grande expectativa. Otelo fez o primeiro movimento descendo e subindo o io-iô uma só vez O desafiante o imitou. Aos poucos os movimentos foram ficando mais complexos e o bageense respondia tal-e-qual. O povo delirava. Otelo parecia nervoso, inseguro. Errou um movimento e o bageense imitou o erro. A platéia toda no já-ganhou. O barbante do io-iô de Otelo rebentou. Suspense. Imperturbável, tira outro io-iô do bolso, vermelho e branco em uma das faces, amarelo e preto na outra. E foi direto ao coração de todos quando disse homenagear o Bagé e o Guarani, os dois clubes de futebol, arqui-inimigos das tardes de domingos no clássico Ba-Guá. E retomou os exercícios. Depois de algumas figurações bastante conhecidas pela platéia, alguns as repetiam nos corredores do cinema, começou uma seqüência de roladas do io-iô pelo chão. E aquele simples objeto começou a se movimentar como um cachorro amestrado. Otelo dizia “Vai!” e o io-iô ia, ordenava ‘Pára!” e o bichinho ficava parado, no chão, o cordão todo esticado, tremendo, na maior distância possível. Otelo dizia “Vem!” e o cachorrinho, digo, o io-iô, voltava correndo e ia se aninhar na sua mão. E depois parecia um pássaro que voava em círculos ao redor de sua cabeça. E subia e descia aos trancos, como soluços que Otelo sonorizava. O bageense nada mais fez. Ficou

ainda ali um tempo e depois, devagarinho, foi se afastando até descer do palco e se enfiar na primeira cadeira vaga que encontrou. No palco, o deslumbramento total. As luzes se apagaram e o io-iô ganhava luzes e cores, noite estrelada, e surgiu um segundo io-iô, ainda mais luminoso, na outra não do Otelo e estrelas cadentes, cometas, fogos de artifício saiam das mãos mágicas daquele pequeno duende que ainda iria deslumbrar tantos Bagés por todo este Brasil a fora, enquanto vivesse e ainda além da própria morte, eterna Julieta, eterno Macunaíma, ele sim, o Otelo, o verdadeiro herói de nossas gentes.

Depois tive muitos encontros com Grande Otelo, fizemos juntos Macunaíma e juntos fomos ao Festival de Veneza. Ah, a chegada de Grande Otelo ao aeroporto e os alto-falantes chamando “Signore Grande Otelo!...”, em Veneza, imaginem, na Veneza do outro Otelo, o mouro de Veneza, é uma divertida história que não conto agora por falta de espaço. No próximo programa prometo contar. Ficamos amigos e passei a ter em Otelo uma pessoa próxima, querida, sempre muito carinhoso com minhas filhas que gostavam dele desde pequenas porque ele, com seu metro e meio de altura, parecia um elfo, ou um duende, ou gnomo. Em nossa viagem cantávamos uma música composta por ele e que nunca foi gravada. Um inédito que aqui vai para recordar mais uma vez o enorme Grande Otelo.

O Enorme Grande Othelo por Paulo José

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Fazer Carnaval com quemOlho e não vejo ninguémDodô (?) desapareceuClaudionor foi emboraE Laurindo morreu.

Saudades do Carnaval de 43Ah, se eu pudesseEu cantava outra vez:“Vão acabar com a praça Onze...”Tempo bom,Que não volta mais Saudades De outros carnavais.Tempo bomQue não volta maisSaudades De outros tempos iguais.Tempo bom Que não volta mais,Saudades...

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De 1915 a 1926: “O Bastiãosinho”“É errado dizer que as pessoas pequenas fogem. Elas querem algo, como os grandes, e então vão procurá-lo.”

Não sei a data exata em que nasceu o Bastiãosinho. Sei que nasceu e foi batizado, por isso o aniversário dele é no dia do batismo – 18 de outubro – lá por volta de 1915, na cidade de S. Pedro de Uberabinha. O Pai do Bastiãosinho chamava-se Francisco e era da cidade do Prata, cidade que era mais um vasto feudo dos Prata, que até hoje ainda está por lá, não com tão grandes latifúndios mas respeitados e queridos pelos seus dotes de coração.

Ora, o Francisco sendo do Prata passou a ser em Uberabinha simplesmente Chico do Prata. A mãe do Bastiãosinho, Maria Abbadia, era neta do José Marcelino e Maria Marcelina, porém quem tem importância pro Bastiãosinho mesmo era a bisavó Silvania, casada no cativeiro com o tio Antonio.

Em 1924 ou 24 mais ou menos eu nasci. Nasci para mim, pois é daqui que eu começo a lembrar-me das coisas. Para os outros eu nasci em 1915. Os outros que eu digo, é o papai, a mamãe, a família, enfim todo mundo lá de Uberlândia – exatamente São Pedro de Uberabinha, que agora é Uberlândia.

Desde que nasci – 23 ou 24 – dei pra fugir de casa. Vovó Silvana – minha avó – fazia sabão, polvilho e grandes galinhas ao molho pardo. Vovô Antonio – meu bisavô – plantava mandioca capinava, e fazia biscates para o Chico Sapo, que depois tomou nossa casa, mas isso é outra história...

O certo é que eu não gostava absolutamente do que tinha que fazer em casa exceto o que fazia de manhã: catar mangaba madura, no chão do galinheiro. Dito isso, está explicado porque eu fugia de casa. Eu não fugia. Saía. É errado dizer que as pessoas pequenas fogem. Elas querem algo, como os grandes, e então vão procurá-lo.

Quando saía de casa da vovó, tomava conta da cidade. Fazia miséria! Aprendi a cantar o:Tarde, morre o dia tristementeUm véu, de sombra caeDo céu à terra lentamente etc.

E com isso, lá ia eu despreocupado, com uns óculos cor de rosa, na carinha preta... Todo mundo pagava pra me ouvir cantar. Só o padrinho, o senhor Alfredo Maciea, é quem ouvia de graça, porque pagava a qualquer hora...

1925 – Chegou na minha terra uma Companhia de comédias e variedades. Naturalmente o indicado para ser o anfitrião popular da cidade seria, como foi, o Bastiãosinho. Entrei para a Companhia. A estrela, que ainda é viva, gostou do meu jeito, fez uma roupinha de um vestido velho de veludo e falou com a Maria Abadia – a mamãe que morreria se eu não viesse com ela. Eu pelo meu lado, já não estava encontrando na cidade o que queria. Daí, abri a boca no mundo e disse que também morreria. Foi o diabo. Não houve jeito. Saí com a Companhia e fui para em São Paulo.

1926 a 1934 – O Pequeno Othelo em São Paulo “...o Bastiãosinho, já batizado de Othelo – Pequeno Othelo – era o diabo em figura de gente.”

1926 – Virei artista profissional. Fiz em São Paulo o papel de filho de um alemão na peça “Pés pelas Mãos”. Trabalhei no festival dos empregados do Cine Teatro Avenida em São Paulo.

1927 – Trabalhei no Teatro Rink de Campinas com a Companhia Sebastião Arruda. Apresentei a companhia Negra de Revistas do Rialto do Rio de Janeiro – no Apolo de São Paulo. E comecei a ganhar dinheiro a bessa. Era um sucesso. Tinha um “smoking”, uma casaca, cantava em italiano, português, espanhol e recitava versos em homenagem “ao meu particular amigo Leopoldo Fróes”.

As Andanças do Grande Othelo

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Enfim, o Bastiãosinho, já batizado de Othelo – Pequeno Othelo – era o diabo em figura de gente. Estive no Rio de Janeiro – meu sonho – fui á Baía – Polyteama, Vitória, Pernambuco, na volta o navio tocou em Maceió. Lembro-me bem. Tinha vontade de conhecer Maceió por causa do Dr. Diógenes de Magalhães, que morava lá em Uberabinha...

Vim para o Rio. Do Rio para São Paulo. Dei pra fugir de casa outra vez. Não havia nada pra se fazer...D. Olga...Dr.Luiz Sucupira...Abrigo de Menores...Voltei pra casa... Senhor Fábio Sparapani... Abrigo de Menores... Senhor Jayme ... Dr. Whitacker... D. Maria E. de Queiroz... Zezito.

1928 – Que linda casa! Bicicleta, doces, comida farta... Dr. Queiroz...Dr. – Isto é que você foi buscar no Abrigo?!D.M.E.Q. – Ele sabe dizer versos, canta Zizinho. É tão inteligente!Dr. – Mas pra cozinha não serve...

Fui para o grupo escolar do Arouche. Escola Modelo Caetano de Campos. Que coisa louca. Outras crianças como eu. A Escola... lá longe a D. Altina do primeiro ano do grupo, no largo dos Bambus em Uberabinha...

Que alegria. Fiquei muito alegre. Dava muito trabalho à D. Zuleika...

1929 – Lyceo Sagrado Coração de Jesus de São Paulo! Bem, mas na minha opinião isto é outra história.

1933 – Pau no 3º ano Ginasial. Melancolia surda. Saí. São Paulo, meu. Eu e a Cidade! Mambembe com Zaira Cavalcanti, Striquinina...Fuga da Companhia. Não era bem isso que eu queria...

1934 – Jardel Jercolis. O Juiz de Menores. O Sr. Jayme. Festival Lodia Silva. Contrato verbal. Fuga. O Sr. Jayme Figueiredo hoje é alto funcionário do Juizado de Menores em São Paulo. Sabia onde eu estava, porém acreditava em

mim ao influxo de um bom coração. E o Jardel tinha um bom coração. Fui com a companhia, ao Sul. Fui ao Uruguai. Fui à Argentina. Cr$ 300,00 mensais – 3 pesos diários – 7 pesos diários.

1935 a 1937: Rio de Janeiro e outas andanças“Um dia resolvi explorar os meus beiços, coisa que nunca fizera, por achar que era um artista. E um artista, não necessita de explorar o defeito (?) físico.”

1935 – No Rio novamente. Pouco sucesso. Apenas mais um negrinho, no meio dos brancos. Gozado... Onde há muitos brancos e poucos negros, é inevitável o destaque destes e vice-versa. Isto não quer dizer sucesso artístico.

O Jardel, até estrearmos, pagava a pensão e me dava Cr$ 1,00 por dia para os cigarros. Radio Guanabara. Cr$ 30,00 por Domingo. Programa Suburbano.

Russo do Pandeiro. Odete Amaral, Aracy de Almeida. Benedito Lacerda e seu conjunto. Cristovam de Alencar. Estréia do Jardel. Goal. Nair Farias foi a primeira partner. Carioca – opereta - Mesquitinha. Um dia cismei, fui parar no morro da favela. Muita cachaça. Dei lá em cima tudo que trazia no bolso. Dei a roupa também. Chequei ao teatro João Caetano pra ensaiar, vestido de malandro.

Primeiro filme. Noites Cariocas. Fui para o Studio às 9 horas da manhã, de hoje, por exemplo, e só saí às 9 horas de amanhã de amanhã. Foi a primeira vez que fiz cinema na minha vida. Outro qualquer teria se queimado e desistido. Conheci o Wallace Downcy. Nesse tempo ele era Waldow Films e fazia Alôs! Fui à Portugal com o Jardel. Fui à Espanha.

1936 – Guerra na Espanha. Voltamos para o Brasil. 1º de Abril. Passei por Dakar, fiquei emocionado. Rio de Janeiro, meu. Eu e a Cidade. O Jardel parou.

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Quase que virou leiloeiro junto com o Julio. Era lá pelo menos, era lá, que eu o encontrava para apanhar a “diária”. Achava, porém, que não havia nada em vista, era preciso dar uns pulos. E dava. Lapa. Royal Pigal. Broadway.

Caverna. Assírio. Não pode entrar! Companhia Mesquitinha-Margarida Max. Rua da Relação. Vão da escada. Fim da Companhia. Fiz o filme “João Ninguém” com a Waldow Films, gostei. Ganhei Cr$ 300,00.

Hospedaria. Lapa. Cr$10,00 por noite. E eu bebia os 10 e mais alguma coisa. Yolanda – Hospedaria. Hospedaria...Café-caneca. Banco do jardim enrolando fita. Um velho masturbador no Parisiense. Um marinheiro tarado nas vielas atrás d´A Noite.

A cidade dá medo! Lapa. Noel Rosa. Kito bailarino. Rosinha. Mario Lago. Até hoje, nunca soube o nome dela! Garrafadas...Hospedaria...Jardel...

Carlos Gomes. Déo Maia, Luiz Barbosa. Maravilhosa...No Taboleiro da Baiana... Foi o meu sucesso! Um dia resolvi explorar os meus beiços, coisa que nunca fizera, por achar que era um artista. E um artista, não necessita de explorar o defeito (?) físico. Casino Atlântico, com Déo Maia. Jardel Cr$ 600,00. Casino. Cr$ 300,00. Adeus hospedaria! Uf! Jozia!

1937 – São Paulo. Sucesso. Uruguai, 5 pesos. Buenos Aires, 9 pesos... Formidável. São Paulo, Nino Nelo. Dalva. “Cana”.

23 anos – Sucesso no Rio de Janeiro“Em minhas noites pela cidade, que agora ria quando eu queria, buscava minhas aventuras.”

1938 – Urca – Taboleiro da baiana. Sucesso. Cr$600,00. Romeu Silva. Whisky. Fiz grandes farras. Em minhas noites pela cidade que agora ria quando eu queria, buscava minhas aventuras. Ainda Lapa. Gloria. Lá no mangue quando o dia amanhecia... Vida, minha vida.

1939 – Fim da Urca. Briguei com a Déo Maia. Não fui à Feira Internacional de Amostras de São Francisco. Meu grande sonho sofrera o primeiro abalo.

Cidade pavorosa. Rindo-se de mim. Fui morar no Estácio. Tentei a Urca, que estava se remodelando. Contrataram-me por Cr$50,00 diários. Eu precisava comer. Trabalhei, porém, só 3 dias. Não agradava sozinho. A Déo Maia fazia-me falta. Eu não tinha ânimo. Companhia Negra de Operetas e Revistas. De Chocolat. Algemas quebradas. Sucesso sozinho. Nova vida. Fiz o filme “Onde estás Felicidade”. Terminou a companhia. Alda... Alda... Feira de Amostras.

Casa Grande e Senzala. Joracy Camargo. Rubens de Assis. Alda... Teatro Cassino da Urca. Fui a São Paulo buscar a Déo Maia para o Republica. Veio. Deveria (...) sozinha. Não quis. Alda... Fugi? Não. Fui a Campos. Alda. Escândalo grosso no Diário da Noite. Foi o primeiro. Volta de Campos. Tanga. Alda. É preciso trabalhar. Wallace Downey. Contrato. Cheque 300,00. Cheguei ao quarto, da rua... satisfeito! Teríamos um belíssimo jantar. A Alda fora pro Flamengo e não voltaria mais. Cachaça. Durante um mês, só isso e mais nada. É preciso trabalhar, porém. Urca. Josefine Backer. Jardel Jercolis. Gandaia. Josefine Backer. Boneca de Piche. Rubens de Assis. Luiz Peixoto. Jardel Jercolis. Alda... Alda...

Ela voltou. Não sei precisar como foi. Nunca se sabe, como é que elas voltam...Urca Cr$ 6.000,00 por mês. Parque do Campo de Santana... Assirio. Pode entrar sim! Urca... Josefine Backer foi embora... Urca ... Jardel... Gandaia.

Alda... Ofereceram-me Cr$ 2.000,00 para trabalhar na Urca. Quando estivesse parado ganharia Cr$ 1.000,00. interessantíssimo. E o Jardel? E a Alda? A Alda ganhou. Fiquei com a Urca. Era mais dinheiro. Quem sabe se a Alda não ia mais embora? Sozinho na Urca. Cantor de orquestra. Inexpressivo.

Cr$2.000,00 eram pouco para ela. Ela foi embora. Eu não quis mais ficar na Urca. Não havia motivo. Baía. Cr$ 100,00 por dia. Grandes farras. Tudo me doía. Alayde. Olga. Rio novamente.

1940 a 1949: Da Praça Onze a Hollywood“Orson Welles! Não fui à Hollywood. Hollywood veio aqui”.

1940 – Imitações na Urca. Aumento de ordenado previsto no contrato de 6 em 6 meses. Sucesso. A minha vida sentimental era uma nebulosa. A Alda ainda estava doendo... Em 1939 no cinema fiz “Sedução do Garimpo” e “Futebol

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em Família”. Não sabia, mas estava com grande cotação no cinema. Eu sempre soube do dinheiro que preciso, não o dinheiro que valho. Amores de madrugada. Umberto Porto. Carmem Miranda no Rio. “ Bruxinha de pano”. Convite para sair do Jardel para a Urca, a Alda... A ambição estava como que adormecida em mim... Mesmo assim o artista nômade que eu era entusiasmou-se. O Rolla porém não era artista, nem errante. Era comerciante. Dái o ter negado permissão. Rebelião, contra tudo e todos. Prendam esse neguinho! O senhor é um pilantra! Olga da Baía!

Tempestade n’alma. Serviço Automático. Eu era um Sucesso... Para o público, apenas Cr$ 3.800,00. Muita farra. Apartamento. Olga. Alda. Lá se foi o apartamento. Olga foi embora, para a escola de dança. Minha honra de homem em jogo. Tirei Olga. Mandei para a baía novamente. Calma relativa.

1941 – Praça 11. Sou compositor, Fiz uns versos sentidos sobre o fim da Praça. O Herivelto inspirou-se. Fez o samba, com música e outra letra, deu-me parceria. Trio de Ouro na Urca. Nair. Loucura. Chianca de Garcia. Alda. Herivelto. Chianca de Garcia. Moleque Tião da Atlântida. Orson Welles. Tremendo! Que horror! Tudo verdade. Cavalgada da Alegria. Meu Deus! Augusto Severo...

Orson Welles! Não fui à Hollywood. Hollywood veio aqui. Finalmente a realização completa do Sonho do Bastiãosinho. Meses... Anos... Cadê a fita? Tudo é mentira! Revolta completa! Loucura surda e lúcida.

1942 – Vida. Vida. Vida. Sei lá...

1943 – Acho que foi por aí mais ou menos...

1944 – Gilda. Chuvisco. Ela é uma mulata mais ou menos educada. Ele um mulatinho de pernas trôpegas, barrigudinho. Cartas cheias de sinceridade da Gilda...Não creio... Rio... Urca... Quitandinha... O Chuvisco é tão bonitinho... Tem 2 anos... Vou criar este menino. Se nunca fiz nada de bom na vida, faço isso.

1946- Fecharam os Cassinos. E agora? De Cr$ 13.700,00; sendo Cr$8.000,00 (...), Cr$ 4.000,00 na Radio Globo, Cr$ 1.700,00 na Atlântida, fiquei da noite para o dia com Cr$ 4.700,00 pois descontava Cr$1.000,00 na Radio Globo. Fiquei doido com todos os recalques que já trazia. Chianca de Garcia.

Inicialmente fui convidado por Chianca de Garcia, que se propôs, juntamente com o Sr. Francisco Soricillo a formar uma companhia em sistema cooperativo, usando cenários e guarda-roupa cedidos pelo Rolla. Depois sob a alegação de que as girls estavam criando dificuldades, foram feitos contratos para toda gente. Cr$10.000,00 mensais foi o ordenado estabelecido pra mim. O Chianca resolveu também que eu deveria, de parceria com o Vão-Gogo, que então fazia o serviço militar, confecionar o poema da peça. Depois quem fez isso, se não me engano, foi o Nelson Rodrigues. Estréia.

Sucesso. Eu era a estrela da companhia, porém o que fazia absolutamente não satisfazia e não justificava absolutamente a publicidade que tive.

Bebi demasiado. No primeiro dia desambientado do teatro, habituado a elasticidade do horário do Cassino, cheguei atrasado. No segundo foi preciso que alguém me viesse buscar para a matineé e no terceiro dia, num domingo faltei de vez. Não fui procurado em casa, porque todo mundo sabia que eu estava bêbado, e por outro lado, não se interessou o Sr. Chianca de Garcia, por oferecer-me uma chance de reabilitação. Desempregado. A Atlântida foi quem me salvou.

“Luz dos meus olhos”. Briguei com a Gilda. Intoxiquei-me com suporíferos. Quase morri. O filme parou no meio. Terminei a fita. Gilda. Chuvisco. Vou a São Paulo. Volto. Preciso casar-me com a Gilda. O garoto cresce a olhos vistos, já não é mais o barrigudinho...

1947 – Vida só, Chianca de Garcia me contrata, agora por Cr$6.000,00 mensais. Gozado. Insatisfeito por ter sido rebaixado, brigo. Teatro Republica. Crio Etelvina dos Cachos – uma paródia ao Concurso da Rainha das Mulatas. Sucesso outra vez. Trem da Alegria. “É com esse que eu vou”. Excursão ao Norte. Em Maceió que eu tanto queria conhecer, uma piada foi mal compreendida, ou havia ambiente preparado para que eu sofresse um vexame. Foi o caso que o Zé Renato, foi lá no hotel Central em Recife e insistiu que eu fosse a Maceió. A paga era boa. Eu queria conhecer Maceió. Cansado já da temporada em Recife que estava terminando fui, no entanto. Em Recife, fui a Pina várias vezes, fiz um passeio a uma fazenda de uma família que me convidou. Tudo isso regado sempre a cognac ou cachaça, de maneira que quando Zé Renato, no fim da temporada, me convidou para ir a Maceió, houve mesmo uma grande força de vontade

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de minha parte. Chegamos à Maceió. O meu empresário Paolo Maranhão, pretextou negócios e voltou pra Recife. Fiquei só. O primeiro espetáculo, ótimo. O segundo foi aquele terremoto de norte a sul. Apenas porque eu disse a uma família que se retirava antes do espetáculo terminar, uma piada que aqui no Rio é engraçada “Já vai tarde”. Só isso. Saí de cena e cansado não voltei mais.

1948 – Foi neste ano que voltei ao Norte outra vez. Baía. Olga. Uma recordação apenas. É mãe de filhos. Graças a Deus vive a vida dela. Recife. Nada de anormal. Fui até o Ceará e voltei. No dia 21 de abril casei-me finalmente.

Aos poucos parece que o Bastiãosinho de Uberlândia vai se sentindo melhor, carregando o “Grande” que o Jardel botou no Othelo em 1935.

1949. O Walter Pinto foi à Paris, mais aí aconteceu uma tragédia na minha vida que eu não vou contar aqui agora, talvez eu deva contar depois um caso muito sério e dentro dessa tragédia tive que viajar para São Paulo e tive que voltar de São Paulo para o Rio para fazer uma cena que até hoje repercute: a paródia de Romeu e Julieta com Oscarito. Com o inesquecível Oscarito. Eu fui para São Paulo e lá em São Paulo eu bebia pra Burro, Walter Pinto teve muito trabalho comigo e eu já bebia antes da tragédia que tinha acontecido. Com a tragédia então, bebi mais.

1951 a 1967: Anotações do “tempo de serviço”1951. Carlos Machado.1952 e 1953. Filmes na Atlântida1954 a 1958. Filmes na Herbert Richers1963. TV Excelsior, Rio, por 2 anos.1965. TV Globo, até 1967.1966. Verificar na Musidisc, Columbia, se houve gravação e na Star (etiqueta)1967. Trabalhou avulso em televisões do Rio e São Paulo. Gravou na gravadora da Rua do Senado um disco regravado em Portugal. Música “A mulher da gente” (samba).

“ TODAS AS MULHERES QUE EU JÁ TIVE, FORAM PRA CAMA COM GRANDE OTHELO E ACORDARAM COM O SEBASTIÃO PRATA... POUCAS RESISTIRAM.”

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Filmografi a1997 - Tudo é Brasil1993 - It`s All True1992 - Katharsys, Histórias dos Anos Oitenta1989 - Jardim de Alah1988 - Fronteiras1988 - Natal da Portela1987 - Jubiabá1986 - Brasa Adormecida1986 - Nem Tudo é Verdade1984 - Quilombo1984 - Exu-Piá, Coração de Macunaíma 1983 - Parahyba, Mulher Macho1981 - O Homem do Pau Brasil1978 - A Noite dos Duros 1978 - As Aventuras de Robinson Crusoé1978 - Agonia1978 - A Noiva da Cidade1977- Ladrões de Cinema1977 - Lúcio Flávio,o Passageiro da Agonia1977 - A Força de Xangô1977 - Ouro Sangrento1976 - Tem Alguém na Minha Cama1976 - Os Pastores da Noite1976 - A Fera Carioca1976 - As Aventuras d’um Detetive Português1975 - Deixa Amorzinho...Deixa1975 - Assim era a Atlântida1975 - O Flagrante1975 - Ladrão de Bagdá, o Magnífi co1974 - A Estrela Sobe1974 - A Transa do Turf1973 - O Negrinho do Pastoreio – fi quei 30 anos pensando em fazer esse fi lme. Apesar de já estar com 60 anos, aceitei fazer.1973 - O Rei do Baralho1972 - Cassy Jones, o Magnífi co Sedutor1971 - O Barão Otelo no Barato dos Bilhões1970 - O Donzelo1970 - Família do Barulho1970 - Se meu Dollar Falasse...1970 - Os Herdeiros1969 - Macunaíma – “Foi o melhor fi lme do cinema brasileiro da década de 60. Porque nesta década havia uma grande cisão no cinema brasileiro e Macunaíma teve o condão de unir todas as correntes. Se partiu para um

“CADA VEZ ME CONVENÇO MAIS DE QUE O ARTISTA SÓ É PERPETUADO ATRAVÉS DO CINEMA”

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cinema arte-indústria que foi o que eu sempre preconizei. Eu achava que o cinema hermético, que não atingia o público não era válido, que era preciso existir um outro tipo de cinema”1969 - Não Aperta, Aparício1969 - A Doce Mulher Amada1969 - Em Ritmo Jovem1969 - Por Um Amor Distante1968 - Enfim Sós....Com o Outro1968 - Massacre no Supermercado1968 - Os Marginais1968 - Uma Rosa para Todos1966 - Samba1965 - Arrastão1965 - Crônica da Cidade Amada1963 - O Homem que Roubou a Copa do Mundo1962 - Assalto ao Trem Pagador – “A cena que me marcou nesse filme foi uma que eu venho descendo o morro e vai descendo também o enterro de uma criança. A minha fala: - Hora, quando morre uma criança no morro, a gente devia cantar... É menos uma criança para viver nessa miséria!”1962 - Os Cosmonautas1962 - Quero essa Mulher Assim Mesmo1961 - O Dono da Bola1961 - Os Três Cangaceiros1960 - Pistoleiro Bossa-Nova1960 - Vai que é Mole1960 - Um Candango na Belacap1960 - Entrei de Gaiato1959 - Mulher à Vista1959 - Pé na Tábua1959 - Garota Enxuta1958 - E o Bicho não Deu1958 - É de Chuá!1958 - A Mulher de Fogo1957 - A Baronesa Transviada1957 - Metido a Bacana (mordomo)1957 - De Pernas pro Ar1957 - Com Jeito Vai 1957 - Rio, Zona Norte – uma beleza de filme, foi o segun-do filme onde eu fui o astro. Foi o segundo filme do Nelson Pereira dos Santos. O filme na época não rendeu o que se esperava, mas esse filme tem sido citado como uma dos mais importantes do cinema novo. 1957 - Brasiliana1956 - Depois Eu Conto

1955 - Paixão nas Selvas1954 - Malandros em Quarta Dimensão1954 - Matar ou Correr1953 - Dupla do Barulho - 1953 - Amei um Bicheiro1952 - Três Vagabundos1952 - Carnaval Atlântida1952 - Barnabé, Tu és Meu1950 - Aviso aos Navegantes1950 - Não é Nada Disso1949 - Caçula do Barulho1949 - Também Somos Irmãos – “Filme de estréia de Jesse Valadão, com Ruth de Souza. Tinha uma frase que eu lem-bro muito bem: - Preto de alma branca é fantasma!” 1949 - Carnaval no Fogo – Foi o filme que lançou o José Lewgoy, como o “anjo bandido”. Foi um filme de sucesso e que agradou muito.Em dezembro de 49, eu estava casado e a minha mulher, desgostosa com a vida, ela matou o filho que era dela, o Chuvisco, que eu criava, e em seguida suicidou-se. Eu con-tinuei trabalhando na Cia do Walter Pinto, fomos para São Paulo e de São Paulo eu voltei para fazer o Carnaval no fogo. Nessa época eu vivia muito perturbado, com essa tragédia na minha vida. Eu cheguei aqui no Rio...A minha opinião sobre Oscarito é a melhor possível, era um grande ator! Artisticamente sempre nos entendemos muito bem. O diretor só dava a cena e a gente ia improvisando, desenvolvendo os dois. Ele me adivinhava e eu adivinhava ele...”

1948 - Terra Violenta1948 - É com Este que Eu Vou1948 - E o Mundo se Diverte1947 - Luz dos Meus Olhos1947 - Este Mundo é um Pandeiro1946 - Segura esta Mulher1946 - Um Fantasma por Acaso1945 - Gol da Vitória1945 - Não Adianta Chorar1944 - Tristezas não Pagam Dívidas1944 - Romance Proibido1944 - Berlim da Batucada1943 - Caminho do Céu1943 - Moleque Tião – Foi o primeiro filme em que eu fui o astro. Antes disso eu já tinha feito vários filmes na Cinédia. Eu fazia o Moleque Tião, que era um empregado de uma

pensão que entregava marmitas, mas parava para brincar com os meninos e coisa e tal e numa dessas o cachorro comeu toda a marmita e ele ficou com medo de voltar para casa. Quando ele voltou, tem uma das frases que eu me lembro do cinema nacional que eu falei. Eu vou e bato na janela da empregada, empregada que é uma negra também. Ela abre a janela e diz: é você que está aí? Vá se embora porque a patroa tá braba com você. Eu então olho para ela e digo: Puxa, até você Gertrudes!” Ela negra também, como eu e, ao invés de me ajudar não, fica do lado da patroa”. 1943 - Samba em Berlim1943 - Astros em Desfile1942 - It’s All True (inacabado) – “Orson Wells foi mara-vilhoso. Ele chegou ao Rio e foi ao Cassino da Urca ver o show. Quando terminou o show, quando eu estava saindo, fui apresentado ao Orson, como o gênio do cinema. Eu olhei para ele e disse Hello; ele disse Hello também. E acabou-se. E ele foi embora. Depois ele começou os trabalhos dele, o Cassino da Urca cedeu todos os seus artistas, guarda-roupa e tudo. Mas ele olhou e, não sei como se deu, mas ele viu que estava faltando eu. Perguntou onde estava aquele negrinho pequenininho. Aí me contrataram de boca para trabalhar com Orsonb Wells. Fizemos muita camaradagem lá na Ciné-dia, onde foi tudo filmado, os interiores e o O W foi assistir ao meu show e depois foi emnbora e até hoje, pelo menos ele diz que eu sou o maior ator que ele já viu etc. Ele ficava bebendo comigo e com o Herivelto Martins até umas 4 da manhã. E quando dava umas 7 e meia, ele já tava no studio mostrando o relógio dizendo que nós já estávamos atrasados.

Cadê aquele menino1941 - Sedução do Garimpo1941 - Entra na Farra1940 - Céu Azul – foi o filme que lançou Oscarito!1940 - Laranja da China1939 - Pega Ladrão1939 - Onde Estás, Felicidade?1938 - Futebol em Família – com a Dircinha Batista. A minha cena mais importante é que eu fiz um gol contra no Campo do Fluminense. Foi contra, mas foi bonito!1937 - João Ninguém1935 - Noites Cariocas

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GRANDE OTHELO

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O trabalho de pesquisa para a elaboração do texto desta peça teve como fontes o livro Grande Othelo, de Roberto Moura, crônicas de Mario Prata, artigos e entrevistas de jornais e revistas e, principalmente, os depoimentos dos filhos e de alguns amigos especiais de Othelo que elegemos como os narradores do espetáculo – o cineasta Roberto Moura, cúmplice de Othelo em vários projetos cinematográficos e diretor do último filme que ele protagonizou; o escritor Mario Prata, que acompanhou orgulhoso a carreira do “primo emprestado”; a atriz Ruth de Souza, uma fã que se tornou amiga e parceira em vários trabalhos; o jornalista José Gomes Talarico, companheiro desde os tempos de colégio; a pesquisadora Angela Nenzy, que o ajudou a organizar seu acervo pessoal; e o compositor Wilson Moreira, que transformou em versos musicais a trajetória desse monstre sacré, como gostavam de chamá-lo os franceses.

Desejamos que Grande Othelo – Eta Moleque Bamba! seja também uma homenagem a cada um desses profissionais que, assim como o velho mestre Sebastião Prata, representam o amor e a dedicação à nossa cultura.

Douglas Tourinho

Quando começo a pensar no texto para este programa, recupero na memória cada instante deste processo de trabalho. Os primeiros encontros com a Ana e a Andréa para definirmos as linhas principais do projeto, reuniões com os familiares de Othelo e, finalmente, as audições para a escolha do elenco. Assim caminhávamos. Passos curtos e precisos. Cada etapa avançada uma nova vibração.

Nos dois últimos anos estive sempre pensando no momento desta estréia. Tinha certeza que por mais difícil que fosse, essa hora chegaria. Cheia de dúvidas, de possibilidades, de idéias testadas, de momentos deliciosos e, acima de tudo, cheio de prazer com a sensação de Ter realizado o meu papel. Hoje, vendo o espetáculo

pronto, me lembro de cada entrevista, de cada informação recolhida da lembrança de nossos narradores. Dessa experiência tenho a impressão que acabei conhecendo o próprio Othelo. Pelo menos sonhar com ele eu sonhei e não foram poucas as noites nessa reta final.

Reta final que, na verdade, começou em 15 de junho quando começamos os ensaios. Dia após dia nos tornávamos íntimos de Othelo. Buscamos entender todas as frases de sua vida e cada traço seu comportamento, além, é claro, da importância de cada personagem presente no texto. Aos poucos fomos aprimorando o roteiro de cenas buscando valorizar a teatralidade, e fugindo talvez, de uma certa cronologia que pudesse parecer didática. Nesse mesmo tempo um trabalho constante da equipe técnica finalizava a concepção do espetáculo.

Em julho chegam os desenhos de figurino e cenário e definimos o repertório musical. Entrávamos na fase dos detalhados ensaios musicais, onde cada nota é uma cena funcamental.

O tempo ia passando e Othelo cada vez mais perto de nós.

Entramos em agosto e a adrenalina já estava pulsante. Vivíamos a fase dos ensaios de acabamento das cenas, e o período de execução de cenários, figurinos e arranjos musicais definitivos. Na Segunda quinzena de agosto o ritmo já era o das Olimpíadas, parecíamos estar numa corrida de 100 metros. Velocidade total! Tudo chegando! Sem palavras!

Últimos dias, últimos ajustes iluminados pela magia das cores. Alguns ensaios com amigos e finalmente a estréia. O projeto enfim estava materializado. A cortina já podia abrir e nossa homenagem a Grande Othelo dava os primeiros passos para o palco.

André Paes Leme

No rastro do Moleque Bamba

GRANDE OTHELO

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Quem é o nosso moleque bamba? Grande Othelo, aquele que fez do quintal o mundo inteiro. O espetáculo propõe um passeio pela vida e obra dos maiores artistas do século XX.Grande Othelo foi erê, exu e preto velho em uma só trajetória histórica. Sempre, uninterruptamente. Como nossa memória: fragmentada e não linear, o texto identifica traços da vida de uma homem – isso interessa - que viveu com intensidade o século XX. Não é necessário esforço para lembrar fatos que pincelaram a história brasileira e que foram intensamente vividos por Othelo – citando somente a arte: afirmação do cinema, do rádio e da TV e a incipiência da construção de uma respeitabilidade com a cultura negra. Grandes nomes desse século não conheceram Othelo? Abdias do Nascimento, Ruth de Souza, Getúlio Vargas, Orson Welles...Desde criança assumiu o papel de mediador cultural de sua cidade: a velha Uberabinha, hoje Uberlândia. Soube transitar pelos lugares “onde as coisas aconteciam” e perceber a hora de ir, quando a cidade já era pequena demais para os seus sonhos. Já havia freqüentado escolas de peso: o circo, o cinema e a rua. Ser artista era o que ele queria, portanto... Serviu de mensageiro para tudo que viu e viveu nas três quintais que iriam traçar o seu destino: Minas, São Paulo e Rio de Janeiro – esta última Capital Federal à época. Pelo resto do mundo teria paixão, principalmente a França, mas isto é outra história!È aqui, no Rio de Janeiro, que o moleque determina a que veio. Identifica-se com a arte popular, pois é nela que se vê no espelho: negro bisneto de ex-escravos e artista talento.Registra, como um bom e preto velho seus momentos. Paciência, trabalho e exemplo para tantos outros negros que na época e até hoje. A escravidão não deixara a nossa porta.Sobre o acervo encontrado no dia 12 de agosto de 2004, uma palavra: generosidade. Contraditoriamente, tínhamos um espetáculo sendo montado com toda a reverência a GO e o abandono de uma memória obsessivamente construída. Viva. Othelo registrava compulsivamente todos os fatos da sua vida: fosse de que maneira que se estabelecesse como possível. Cadernos de anotação, agendas, secretárias eletrônicas, entrevistas, fotos, roteiros de espetáculos e filmes, músicas, fitas cassete... Além disso foi capaz de demonstrar, operacionalmente, que ser artista demanda estudo, dedicação e um vasto conhecimento sobre o ofício. Vide o número de discos, livros presentes nesse acervo.Um arquivo vivo, sempre atualizado e pronto para ser explorado. Jamais imagina-se um

acervo como esse estático, no museu.No elenco absolutamente coerente com o tema: mestiço e com talentos múltiplos. Bobagem identificar matizes. Eta Moleque Bamba! É um espetáculo de atores. Todo o processo foi cercado por essa convicção. Não era o Grande Othelo um grande ator? Que independente da estrutura sabia utilizar técnica e improviso. Assumir o centro do palco, ou ser escada. Assim é o elenco. Todos envolvidos – como ele- no processo como um todo, sem ressalvas e vírgulas. Colaboraram com a pesquisa, participaram ativamente da criação da cena, refletiram sobre a situação do artista no país e trabalharam ... como trabalharam, regados pelo prazer de quem ama o seu oficio, como o mestre Othelo.

Tânia Augusto

LUCIANA MAIA e CARLOS ALBERTO NUNES (30/08/04)O resultado do trabalho é de um espetáculo que vai se construindo em conjunto. Cor e cores – Preto, branco e cinza. Como já repetimos a mesma equipe técnica em alguns espetáculos, todos nós, da equipe técnica e atores, acompanhamos de perto os ensaios. O que permitiu uma colaboração e interferência mútuas. A reprodução não foi uma preocupação, trabalhamos para que as pessoas percebam a linguagem de forma sutil. No caso do figurino o diretor não propõe, seu trabalho evolui assim, no processo criativoO espetáculo vai se construindo ao longo desse processo. Personagens surgem e desaparecem. Existe uma disponibilidade, uma confiança mútua que permite que, quando necessário, um recue para que outro avance. Assim o todo se beneficia. Um exemplo foi a estética da cor definida pela figurinista Luciana Maia, que propôs um figurino principalmente em preto, branco e cinza para os personagens que vivem no plano da realidade e o colorido para os momentos musicais. A intenção é ser sutil. Não é para saltar aos olhos. Desta forma, cenário e figurino se fundem a essa idéia. No espetáculo, o espaço se dá a partir da referência de um estúdio de cinema onde diversos momentos da vida de GO é contada. A cenografia não estabelece um carater alegórico, mas sim constrói um espaço essencial para o que o diretor se

Sobre o Espetáculo, o Acervo e o Elenco

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FLAVIO BAURAQUI

Como a divisão temporal da peça não é rigorosa, vivencio Grande Othelo dos 20 aos 45 anos mas, em muitos momentos, participo de episódios que datam de outros períodos de sua vida. Isso me propiciou entrar em contato com toda uma existência rica e intensa. Em muitos trechos, suas experiências chegaram a se confundir com algumas que tive na infância por exemplo. Adotei o so-brenome da família que me apoiou quando ainda era um garotinho, assim como Grande Othelo.

Baseado nos pontos que nos aproximam e também naqueles que nos distan-ciam construímos em conjunto uma homenagem ao velho mestre, Sebastião Prata.

MAURÍCIO TIZUMBA Falar de grande othelo para mim não é novidade não. Por que eu jávivi há 10 anos atrás em bh. Na verdade, a gente está descobrindo coisas novas da vida do grande orhelos, do grande artiustra que ele é, uma pessoa que de repente-fez a arte no brasil. Temos coisas em comum:- A aparência, hoje está mais distante, antigamente, quando eu era mais novo.- A estrutura óssea parece- Em 1992, tive a oportunidade de conviver com ele. Ele me chamava de tiaozinho e disse que eu tinha algumas vantagens sobree ele. Tocava violão e percussão. Isso poderia a ajudá-lo a compor, dessa vontade de compor. - Eu fui adotado por família branca. E ganhava banho de loja para cantar na tv.a minha dona abgail era a d. Madalena.

Tento trabalhar o distanciamento e fazer cópia. Essa consciência deixa maurí-cio tizumba brincar com essa personagem importante. Nesse distanciamento procuro me zerar, para depois começar construindo calmamente. Através do material de pesquisa, dos vídeos, através da minha memória dele. A gente conversando, a gente bebendo, jantando, andando pelo centro de belo hori-zonte. Essa é observação para compor a personagem. Hoje posso fazser melhor, quase 12 anos depois. Não é fácil, até mesmo por que ele era um artista completo, um ator genial. Ele me deu um conselho: disse pra eu me organizar e cuidar do que gan-hava. Pra eu cuidar da minha carreira. Isso ele me disse no restaurante “mala e cuia”em bh. A minha felicidade de quando fui chamado é que me disseram que existia uma semelhança, mas que eu poderia compor sem imitação ou caricaturas pra que eu pudesse divertir a platéia.

VILMA MELO Falar do processo do Grande Othelo é difícil por que a gente está ainda em É dificil viver um personagem que é um ìcone, é uma pessoa marcante na nossa história do teatro, não só na história brasileira, mas acredito que mundial do teatro. Pela pessoa que ele foi como negro que abriu tantos caminhos e tantas portas. (...) Como mulher vivendo o GO nada fácil, as vezes me pego fazendo um personagens trejeitos femininos demais, ou as vezes que esse homenzinho está gay demais. Mas quanto ao processo tem coisas muito marcantes para mim. Primeiro a presença do Ernani Maleta que está sendo fundamental na mudança várias coisas, não só do meu trabalho que é o que importa como da minha vida. Conceitos novos falando da voz, coisas que eu sempre soube que eu desconhecia e que eu sempre tive isso inconsciente e o que eu conhecia sempre foi inconsciente, eu sempre sou o que eu desconhecia, mas o que eu conhecia sempre foi inconsciente. É processo gratificante por que o elenco é muito afinado as pessoas são maravilhosas, um elenco de 10 pessoas. Sobre-

Depoimentos da equipe

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tudo o diretor que tem um mérito impressionante nessa congregação final a que estamos chegando. A questão está se dando basicamente na observação de imagens, da observação do outro, principalmente do Maurício Tizumba que quem de nós mais se assemelha com GO, claro, não só se assemelha, mas ele já fez Othelo algumas vezes. Uma outra coisa é que eu vivo uma fase do GO onde ele é um menino, como ele ainda é um menino essa referencia na memória coletiva não existe. A gente não sabe quem é esse GO menino quem conviveu com ele já morreu e a gente não tem isso muito documentado em livros em filmes com ele, mesmo os filmes na foto, até por que a foto, como a gente leu em alguns lugares, aquela foto é uma feita propositamente feita de determinada forma por que era o que vendia e tal. É impressionante fazer esse garoto com essa vivacidade, com essa alegria, com essa corage com esse desprendimento por que é uma criança que com 08 anos larga a família, era arrimo de família, que dá o sustento, o ganha pão, é uma coisa extremamente nova mais ao mesmo tempo repetitiva, por quantas vezes a gente vê crianças vendendo no sinal e que sustentam a família. (..) O que mais me bate assim é como eu Vilma, assim a Vilminha estar fazendo o GO e ainda agora eu fico pensando nisso. No primeiro dia quando o Ernani perguntou sobre a cada um de nós e a minha resposta foi que não entendi por que estava ali, continuo ainda um pouco sem entender, ou talvez por que esteja distante disso, ou talvez por que eu ainda não veja e eu ainda não consiga acreditar que estou convencendo. Eu preciso me convencer primeiro. Talvez esse processo vá du-rar até a estréia. E um pouco depois. Conhecer o Flávio Bauraqui, trabalhar com o Flávio Bauraqui está sendo de uma felicidade extrema. Sem dúvida é uma pessoa que quero botar npra minha vida quase que a gente se descobriu, não só da minha parte, mas da parte dele também, que quase um casamento cênico. As pessoas confundiam a gente em foto, mas agora eu queria que essa confusão se desse no palco.é claro que quem sou eu para ser confundida com Flávio Bauraqui, mas assim almejo chegar um dia lá. Falar do Othelo é como falar um pouco da vida de cada, de nós artistas, principalmente negros né? Estamos há tanto tempo buscando algum lugar. E um lugar que a gente espera não é um lugar que um chegue é um lugar onde todos possam chegar juntos, ser respeitado no nosso trabalho sem ter que necessariamente mostrar o tempo todo que sou o melhor, que foi o que o Othelo fez. Mas como se as coisas pudessem acontecer naturalmente, como se fossem simples e isso é

uma luta de cada um de nós, o tempo todo, o dia inteiro, a gente dorme com isso, acorda com isso, por mais que a gente não sofra diretamente questões racistas alguns de nós, as vezes acontece mesmo, as vezes passa desaperce-bido. Alguns de nós não sofra na pele, nós negros. É um elenco basicamente negro, é uma felicidade com todas pessoas juntas, é primeira vez, um fato inédito, nos dias de hoje não é tão comum elencos assim. Por que se fala do negro, se fala muito das pessoas que estão em volta dele e quando essas pes-soas ascendem, na maioria das vezes são pessoas brancas, ou mestiças e aqui se dá ao contrário, é uma vida de um negro contada por uma ótica de negros. Isso é muito bacana. Somos predominantemente negros. E é isso acordar com a sensação de que no outro dia vamos matar um leão e noutro, noutro e noutro. Principalmente na nossa carreira, que ser artista é matar um leão para todo mundo. Mas pro negro isso muito maior sem dúvida nenhuma. E como esse homem tinha coragem! E o que eu acho que eu tenho que pegar um pouco, aprender e tentando aprender mesmo nesse processo é me mirar no GO, como ele teve coragem. Ele abandonou várias vezes várias coisas para retomar e nunca desistir. Ele sempre criava, criavam, criava, desistencia não fazia parte do dicionário do GO e isso sem dúvida é bárbaro. Talvez ele tenha chegado onde chegou por que a desistencia não existia para ele. Persistencia e a perseverança e acho que é isso. Acho que é o que a gente tem que ser agora, persistente e perseverante.

KARNEWALE (15 DE JULHO DE 2004) Pra mim está sendo muito gostoso de fazer é que eu já participei de outros musicais biográficos, alguns outros aqui no Rio de Janeiro, mas nunca tive tanto cuidado com relação a personalidade que está sendo retratada. Acho a gente está tendo um cuidado, um carinho em não levantar inverdades e deixar tudo em aberto como é a historia de cada um de nós mesmos e como foi a do Othelo, cheia de contravérsias, de vai e voltas, idas e vindas. Acho que a gente tá tendo esse cuidado e me parece um caminho muito correto, eu me sinto fazendo realmente uma homenagem, de verdade.Não, de forma alguma, aproveitando de uma memória dessa pessoa. Entao para mim a beleza desse trabalho está sendo muito por aí, nessa estradinha da verdade, da sinceri-

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dade. Pessoalmente, eu, desde de ano passado virei um diretor de teatro, tô começando a dirigir, fazer alguns trabalhos. E pra me sentia já muito inseguro para fazer alguma coisa como ator. Está resgatando a minha segurança que estava muito desencaixado no inicio, desestruturado para fazer um trabalho de ator e tá sendo muito bom pra mim recobrar isso, fazer com esse prazer todo que está nesse processo. LENITA LOPEZ (27/08/04) Está sendo uma experiência muito importante na minha vida, na minha tra-jetória assim em musicais e tem um a linguagem bem específica, embora com todos os argumentos de um musical ele tem uma densidade de texto, de dra-maturgia que me fascina, me interessa, me comove. A Josephine que também é um desafio por que é num momento mais denso da vida do GO de uma relação conturbada, dentro de uma linguagem de musical. Trabalhar com essa diversida, quer dizer, com essas adversidades, você conseguir imprimir uma cena de maior dramaticidade é mérito, sem dúvida, do diretor André P.Leme que conduziu de uma forma muito bacana e pra mim essa experiência está sendo única. Embora eu já tenha feito outros musicais, cantar com essa motivação das pernsonagens e sair de uma cena com uma motivação que se desdobra. Hora de uma forma mais cômica, mais leve. Hora de uma forma mais dramática, de repente tá me dando uma dimensão do quanto o teatro pode alcançar com texto, com música, com trabalho do ator, da direção, en-fim de tudo. Estou muito por estar aqui. A Josephine que é uma personagem muito inquietante, na medida em que eu tenho que fazê-la sem defendê-la, mas tentando ver todos os pontos de vista, conseguir alcançá-la assim em toda a sua intensidade, como ser humano. Ela visivelmente é uima pessoa, de atitudes muito controversa. Ela tem uma antipatia, pelas pesquisas que fizeram e tal, pelos depoimentos. (..) Conseguir fazer uma personagem sem comprometê-la mais e também sem defendê-la pra mim tá sendo um desafio enorme. E eu acho que isso está conseguindo ser traduzido nesse espetáculo, principalmente pelo diretor. Tirou a música de um certo lugar onde dava um tom piegas da personagem, ela agora abre a cena essa música “ Folha morta” dá um certo ar de auto-piedade e no caso está tão bem colocado ali naquele,

só favoreceu e mostra um paradoxo de um personagem, vida, como somos nós, múltiplos , o bem e o mal tudo junto, é claro que a gente precisa desen-volver o bem, mas o mal taí.... A gente tá tendo uma harmonia bem grande de elenco, de concepção, de relação e, auto nível.

LUCIANO (27/08/04) O processo é bem interessante, por que trabalhar com André é uma coisa muito boa. Ele é um diretor muito sensível, faz as coisas ficarem bonitas. Tem dificuldades: são 5 personagens, tenho que trabalhar para que elas não fiquem iguais. Parece impossível ter uma produção assim. Mas isso tudo só é possível por causa dessas mulheres sensacionanis da Sarau. Elas devem ser de outro pla-neta. Elas tem tanto amor,tanta generosidade e amor. São sempre amáveis. Quando você acha que não é mais possivel elas chegam com aquele jeitinho, dão um abraço carinhoso e assim, logicamente, tudo fica mais fácil, mais agradável de fazer. O processo foi fabuloso. Na questão do conhecimento tivemos muita opor-tunidade, muito material, para conhecer a história do nosso Brasil, do que aconteceu, para saber um pouco mais sobre a nossa cultura. Grande Othelo, sem dúvida, é o maior ator de todos os tempos. Não só pelo talento, por que isso, é claro. Mas o talento não bastou. Ele estava sempre lutando, trabalhando muito. A vida inteira nunca se nunca se acomodou. Por isso ele era um gênio: teve que se impor em uma época complicada para ator e para o negro. E isso na época .... Essa é um grande oportunidade de mostrar uma história que ficou esquecida no nosso pais. O que é um absurdo. Toda a vez que entro no palco,a minha preocupação é contar a historia de Grande Othelo, é fazer com que ele renasça no coração de cada pessoa e seja

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admirado pelo grande homem que é. Que ele foi. Engraçado...parece que ele está presente na gente, porque falamos “como ele é”. Espero que a gente consigamos provocar isso nos outros., Orson. No Brasil ele se encontrou com o Othelo. O encontro de dois gênios, pode parecer sempre complicado mas eles conseguiram se entender bem. Tento passar a admiração dele, mas sem perder a importância dele no mun-do. Para o Orson, naquele momento, só Othelo seria capaz de dar corpo a criatividade dele. Uma das personagem que faço é Mário Prata. È das que eu mais gosto porque tenho grande admiração por ele. As suas tiradas são sempre sensacionais. Tenho essa relação de admirar o humor dele. É muito gostoso quando ele fala de não estar a altura de tão genial parente. Como escrever sobre GO, um gênio? O que não deixar faltando? Carlos Machado, empresário da noite, tinha essa grande preocupaçao com a tela, nas pesquisas que fiz , percebi não só o carinho dele, mas o quanto ele precisava do othelo. Ele seria o seu grande artista, por que Othelo era fantas-tico. Entendo a relação partenalista, carinhoso, mas havia também interesse. Alinor Correia teve a idéia de fundar a Atlântida, copiando o estilo americano mas com a cara brasileira. Escreveu vários roteiros para os primeiros filmes, contando com Burle. Era um grande cooperativa, que todos faziam de tudo. O delegado ele está ali para contar o questão com Josephine e da facada no Othelo. Sobre o Bônus: se faz alguma diferença participar de elenco de maioria negra? Já tive uma outra oportunidade no Forrobodó com direçaõ do André Paes Leme. A agente brincava por que era um elenco com 10 pessoas: 07 negros e 3 brancos. Brincávamos que éramos a minoria. Mas tenho que confessar que é uma novidade e uma raridade. Se tem diferença? No teatro o que vale realmente a pena, o que mexe real-

mente com o publico é o que ele não consegue ver. Ele sente, aquele friozinho invisivel entre os atores em cena, como um fio invisível. Mais o carinho e aquela energia. Como o invisivel não tem cor... Quero contracenar sim com um grande ator, para alcançar essa cor invísivel. RYTA DE CÁSSIA (27/08/04)Eu enquanto cantora e atriz é uma novidade na minha carreira. Ser atriz éw recente, uma esperiência aos 45 do segundo tempo. O universo teatral é novo para mim. Sou cantora há vinte anos. Nesse universo teatral, tudo é novidade e tudo é aprendizado para mim. Ter a oportunidade de encenar a vida do GO é conhecer a história recente do país, em todos os sentidos, não é só artitis-tico não . O elenco muito simpático e agradável. A gente fica muito a vontade para eleborar uma personagem. As personatgens, desde que eu comecei, tem se apresentado de forma mágica. Logo assim que fui fazer o teste e fui escolhida André falou que o nome da minha personagem que a minha personagem se chamava Abgail, nome da minha mâe, que já faleceu. Isso é como se fosse um recadinho, uma dica lá do céu, um presente. Os meus personagens são maravilhosos. A começar Abgail que foi a madrinha de GO e que deu a ele um conhecimento musical erudito, por que era uma cantora lírica. Ele conhecia ópras, coisas desse nível. Faço também faxineira, a Matilide, maravilhosa. E duas divas da música brasileira: Linda Batista e Dalva de Oliveira, melhor que isso só dois disso! Es estou cantando, atuando, dançando, estou estendendo os meus limites e nessa breve declaraçaõ digo que tenho certeza de que esse espetáculo vai dar certo . NANDO CUNHA (27/08/04) O teatro brasileiro devia essa homenagem a GO. E fazer esse personagens que viveram tão próximas a ele: Joca, mesmo sendo ficcional e o Filho, para mim é uma honra e uma responsabilidade muito grande. O processo está sendo de uma maneira emocional. Me leva a lembrar do pai, da mãe.

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Como já disse, acredito que estávamos devendo essa homenagem a esse artista que foi um ícone, uma grande inspiração, como homem e como negro, ator do cinema, do teatro, do circo, do show business. Foi um homen de sua épo-ca. Éu me sinto muito grato por participar desse elenco e agradeço a Sarau. SALVADORA (27/08/04) Para mim está sendo maravilhoso fazer personagens femininas importantes da arte brasileira como a Déo Maia, Ângela Nenzy e Ruth de Souza.

MARCELO CAPIBIANCO

Sinto-me recompensado em participar desta peça pois está se revelando uma experiência muito rica. O espetáculo fala sobre um homem que contou, ao longo de sua vida, a história do Rio de Janeiro e, como conseqüência, a do Brasil.

Além disso, estar representando dois personagens ainda vivos - Willson Moreira e Roberto Moura – agrega um significado ainda mais especial. No caso do Wilson Moreira por ser um ícone da cultura carioca e ainda por cima, compositor de Senhora Liberdade obra prima das composições existente que homenageia Grande Othelo com a congada. Já Roberto Moura, por repre-sentar da intelectualidade carioca, seu envolvimento com o cinema e preocu-pação com a memória da cidade. Além disso, Moura conviveu intimamente com Grande Othelo chegando mesmo a escrever um livro sobre ele, Grande Othelo: um artista genial. Tive a oportunidade de conversar com ambos e compartilhar dos momentos que foram vividos por eles. Desta forma, consegui compor melhor os perso-nagens, com mais verossimilhança. Além dos ingredientes acima descritos, conto também tenho ainda o privilé-giode contracenar com um elenco talentoso, afinado e de primeira! A con-vivência é agradável o que permite imprimir uma tonalidade interessante e especial ao espetáculo.Gostaria ainda de registrar meus sinceros agradecimentos á equipe de criação e aos técnicos envolvidos neste trabalho.

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“EU FUI ENSAIAR COM ARI BARROSO. LEVEI DAS GRANDES BRONCAS DA MINHA VIDA. EU NÃO CANTO DIREITO NÃO, SOU DESAFINADO. LEVEI MUITAS BRONCAS DO ARI BARROSO. AFINAL DE CONTAS O TABULEIRO DA BAIANA FOI PRA CENA. MAS O QUE EU NÃO ENTENDIA EM MATÉRIA DE CANTO EU FAZIA COM GESTOS(....) O PÚBLICO ME VIU E REALMENTE COMEÇOU A MINHA VIDA ARTISTICA.”

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O exercício de trabalhar a música para um espetáculo de teatro e preparar os atores para interpretá-la é fascinante. Ao mesmo tempo, é um grande desafio. Isso porque não é uma tarefa simples reger o diálogo da música com o texto, com o trabalho corporal dos atores, com o cenário, luz, figurino e com os inúmeros outros elementos que constroem, polifonicamente, a arte teatral – o que torna ainda mais rico e meticuloso o trabalho do diretor e preparador musical.Foi um grande privilégio participar dessa montagem e ter a oportunidade de estar em contato com a vida e obra de Grande Othelo, protagonista da história da arte brasileira e, definitivamente, um dos mais brilhantes artistas do nosso tempo. Em especial, pelo trabalho que fui convidado a realizar, ou seja, através da direção e preparação vocal e musical – que envolve o aprimoramento vocal, a prática de dinâmicas corporais, a criação de arranjos vocais e a regência do elenco para interpretá-los – buscar o desenvolvimento, nos atores, de suas diversas habilidades artísticas e a consciência da polifo-nia cênica. Mais ainda, pelo tanto que é gratificante ver e ouvir os atores apresentarem inúmeras habilidades vocais e sensibilidade musical a serviço do espetáculo, o que estabelece definitivamente minha cumplicidade com o trabalho e me permite estar também em cena. Finalmente, pela honra de trabalhar com uma equipe primorosa, sob a brilhante condução de Ana Luisa Lima, Andrea Alves e André Paes Leme, a quem eu devo mais uma realização profissional e mais uma oportunidade de pesquisa e aprendizado.

ERNANI MALETTA

Deixa eu contar um pouco de vantagem: quando era menino, tive a sorte e a alegria de ter conhecido Othelo. Ele era amigo de meu pai, o ator Luís de Lima, e muitas vezes estivemos juntos. Lá pelos meus quinze anos, época em que estudava bandolim e nem sonhava em fazer da música minha profissão, era ele um dos meus principais incentivadores. Adorava contar histórias de músicos e de música, e podia ficar falando horas sobre Jacob do Bandolim, Luperce Miranda, Pixinguinha... Uma das figuras mais carinhosas que já conheci. Por isso a felicidade de estar participando dessa homenagem a ele, no teatro, com muitos pandeiros, violões, flautas e tamborins, ao lado de músicos à altura do homenageado. Alegria poder evocar em cena um rep-ertório tão rico, que passeia entre o samba-choro, a marcha, o samba-can-ção, o jongo, o samba-exaltação, a batucada de morro. Alegria também estar sob o comando de André Paes Leme, figura tão carinhosa quanto Othelo. Alegria. Viva o moleque bamba!

LUÍS FILIPE DE LIMA

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Okolofé(Wilson Moreira)

“Velho mestreSebastião PrataVinho de boa pipaOguirê, okoloféQuero a sua benção

Salve essa bondade! {4xOrê, Orê!

Em Uberlândia ele nasceuOkolofé!Minas Gerais sua raizOkolofé!Da Praça Onze fez um sambaOkoloféÉ do reisado, é da congadaOkolofé!

Salve essa bondade!{4xOrê, Orê!

Televisão, circo e teatroOkolofé!Cinema, rádio e boêmiaOkoloféNo mundo inteiro é conhecidoOkolofé!Da meninada até os avósOkolofé!

Salve essa bondade!{4xOrê, Orê!

Senhora liberdadeWilson Moreira e Nei Lopes

Abre as asas sobre mimó senhora liberdadeeu fui condenadosem merecimentopor um sentimentopor uma paixãoviolenta emoção, poisamar foi meu delitomas foium sonho tão bonito

por caridade, ó liberdadeabre as asas sobre mimpor caridade, ó liberdadeabre as asas sobre mim

não voupassar por inocentemas jásofri terrivelmente

hoje estou no fimsenhora liberdadeabre as asas sobre mimhoje estou no fimsenhora liberdadeabre as asas sobre mim

Congada pra Sinhô ReiWilson Moreira

“É de pai pra filho que vem a congada de Minas GeraisÉ de pai pra filho que vem a congada de Minas GeraisÊ sinhô rei, sinhá rainha mandou chamarÊ sinhô rei, sinhá rainha mandou chamar...”

“Congada bate tamborRainha chama SinhôCom amor, todos os santosVamos ter todos os encantos”

“É de pai pra filho que vem a congada de Minas Gerais...”

Rainha mandou chamarHoje é dia de congadaVenham todos ver passar”

“É de pai pra filho que vem a congada de Minas Gerais...”

“Mãe Josefa e Tia EstelaPõe as flores na janelaNossa gente vem cantandoE a congada vai passando”

No Tabuleiro da Baiana Ary Barroso

No tabuleiro da baiana tem...Vatapá, oi, caruru, mungunzá, tem umbu...Pra Ioiô

Se eu pedir você me dáSe dou!O seu coração, seu amor de iaiá?

No coração da baiana também tem...

Sedução,oi, canjerê, ilusão, oi, can-domblé...

Pra você...

Juro por Deus, pelo Senhor do BonfimQuero você, baianinha, inteirinha pra mim

Sim, mas depois? O que será de nós dois?Seu amor é tão fugaz e enganador!

Mentirosa, mentirosa, mentirosaTudo já fiz, fui até num canjerêPra ser feliz, meus trapinhos juntar com você

Sim, mas depois, Vai ser mais uma ilusãoE no amor quem governa é o coração.”

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“DESPERTA BRASIL” Grande Othelo

“Ora viva minha terra e o meu au-riverde pendão!Ora viva minha terra e o meu au-riverde pendão!

Desperta, Brasil, raiou seu alvorecer...Desperta, Brasil! Queremos lutar, queremos vencer!Pequenina eu sei que sou, mas sou brasileira também!Desperta, meu Brasil, você não pode perder pra ninguém!Desperta Brasil!

Desperta, Brasil, raiou seu alvorecer!Desperta, Brasil, queremos lutar, que-remos vencer!Pequenina sei que sou, mas sou brasileira também!Desperta, meu Brasil, você não pode perder pra ninguém!

Todos temos uma só bandeira, temos todos um só coração...Mas ora viva a minha terra que tanta beleza encerra e o meu auriverde pendão.

Desperta Brasil!Desperta, Brasil, raiou seu alvorecer!Desperta, Brasil, queremos lutar, que-remos vencer!Pequenina sei que sou, mas sou brasileiro também!

Desperta, meu Brasil, você não pode perder pra ninguém!

Pequenina sei que sou, mas sou brasileira também!Desperta, meu Brasil, você não pode perder pra ninguém!

Ora viva minha terra e o meu au-riverde pendão!Ora viva minha terra e o meu au-riverde pendão!” Praça Onze Herivelto Martins e Grande Otelo Vão acabar com a Praça OnzeNão vai haver mais escola de samba, não vaiChora o tamborimChora o morro inteiroFavela, Salgueiro.Mangueira, Estação PrimeiraGuardai os vossos pandeiros, guardaiPorque a escola de samba não sai Adeus, minha Praça Onze, adeusJá sabemos que vais desaparecerLeva contigo a nossa recordaçãoMas ficarás eternamente em nosso coraçãoE algum dia nova praça nós teremosE o teu passado cantaremos Vão acabar com a Praça Onze ...Adeus, minha Praça Onze, adeus ...Não vai haver mais escola de samba, não vaiChora o tamborimChora o morro inteiro

Favela, SalgueiroMangueira, Estação PrimeiraGuardai os vossos pandeiros, guardaiPorque a escola de samba não sai Adeus, minha Praça Onze, adeusJá sabemos que vais desaparecerLeva contigo a nossa recordaçãoMas ficarás eternamente em nosso coraçãoE algum dia nova praça nós teremosE o teu passado cantaremos Vão acabar com a Praça Onze...

BONECA DE PICHE (Ary Barroso & Luiz Iglésias)

Venho danado com meus calo quenteQuase enforcado no meu colarinhoVenho empurrando quase toda a gente, Eh! Eh! Pra ver meu benzinho. Eh! Eh! Pra ver meu benzinhoNego tu veio quase num arrancoCheio de dedo dentro dessas luvaBem que o ditado diz: nego de branco (Eh! Eh!) É sinar de chuva. Eh! Eh! É sinar de chuva

Da cor do azeviche, da jaboticabaBoneca de piche, é tu que me acabaSou preto e meu gosto, ninguém me contesta, Mas há muito branco com pinta na testa

Tem português assim nas minhas águaQue culpa eu tenho de ser boa mulataNego se tu borrece minhas mágoa (Eh! Eh!) Eu te dou na lata. Eh! Eh! Eu te dou na lata

Não me farseia ó muié canaia, Se tu me engana vai haver banzéEu te sapeco dois rabo-de-arraia, muié (Eh!, Eh!) E te piso o pé. Eh! Eh! E te piso o pé

Da cor do azeviche, da jabuticabaBoneca de piche, sou eu que te acabaTu é preto e teu gosto ninguém te contestaMas há muito branco com pinta na testaSou preto e meu gosto ninguém me contestaMas há muito branco com pinta na testa

EU NÃO POSSO VIVER SEM MULHER (Roberto Martins / Mario Rossi)

“Eu não posso viver sem mulher/Até quem nunca me viu sabe disso/É essa a grande fraqueza que eu tenho/Parece que me botaram feitiço/Eu não posso viver sem mulher/Todo amor é meu coração é quem quer

O meu coração não sabe viver sem

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amor/ Já nasceu assim e não faz questão de cor/Confesso a minha culpa, me condene quem quiser/Eu não sei viver sem amar uma mulher.”

RIO ( Hervê Cordovil e Lamartine Babo)

Rio meu torrão brasileiroRio verde mar céu azul Rio de janeiro a janeiroTens a luz do Cruzeiro, do Cruzeiro do Sul Hoje, Niterói lá do outro Adorando o CorcovadoOnde a fé do alto está Depois das ilhas verdadeiras maravil-has Surge a ilha do amorSurge Paquetá Luzes pelas praias pedrariasQue formosa joalheria Quanta pérola tão raraLindos colares circundando a Guana-baraNa vitrine do Cruzeiro Trecho da Ária “Fígaro (Largo al factotum)” Ópera Barbeiro de Sevilha - Rossini

Largo al factotum della città, largo!lalalà lalalà lalalà! LÀ!

Presto a bottega che l’alba è già, presto!lalalà lalalà lalalà! LÀ! Ah, bravo Figaro! Bravo, bravissimoAh, bravo Figaro! Bravo, bravissimoA te fortuna, a te fortuna, a te fortuna non mancherà.

Làralla làralla, làralla làralla,làralla làralla, làralla làralla,a te fortuna, a te fortuna, a te fortuna non mancherà.

Sono il factotum della cittàsono il factotum della cittàdella città, della città!Della città!

COURO DE GATO (Grande Othelo, Rubens Silva e Popó)

“Aquele gato que não me deixava dormir/Aquele gato agora me faz sorrirAs vezes saia bem da minha pedrada/pulava e dava risada/ Fugia zombando de mimAquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim ...Aquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim ...

Aquele gato que não me deixava dormir/Aquele gato agora me faz sorrirAs vezes saia bem da minha pedrada/pulava e dava risada/ Fugia zombando de mimAquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim Aquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim ...

Paciência a vida é mesmo assim/ fala couro de gato/ fala meu tamborim...

Aquele gato que não me deixava dormir/Aquele gato agora me faz sorrirAs vezes saia bem da minha pedrada/pulava e dava risada/ Fugia zombando de mimAquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim Aquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim ...

Aquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim Aquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim ...

Paciência a vida é mesmo assim/ fala couro de gato/ fala meu tamborim...

Aquele gato que não me deixava dormir/Aquele gato agora me faz sorrirAs vezes saia bem da minha pedrada/pulava e dava risada/ Fugia zombando

de mimAquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim Aquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim ...Aquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim Aquele gato não é mais gato /Hoje é tamborim ...”

POUT-POURRI DA ATLÂNTIDA

Comigo não, comigo simOscarito

Sofrer pelo o amor de uma mulher é natural/ mulher, mulher/um demônio angelical/faz de qualquer um gato e sapato, tudo enfim/ comigo não/comigo simAquela francesa me deixou biruta/ ela me tratava com uma força bruta/ quando era carinho ela batia em mim/ comigo não/ comigo sim

Marcha do gagoArmando Cavalcanti e Klécius Caldas

Ta-tá-tá-tá na hora/ va-va-vale tudo agora/ sou mo-mole pra falar/ mas sou um pintacuda pra beijar

Eu fico ga-ga-ga-gago/ dentro do salão/ e até pa-pa-pa-pa-pago pra não

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ver canhão/ mas se-se-se a dona é boa/ a minha língua se destrava.

Dona cegonhaArmando Cavalcanti e Klécius Caldas

Ai, ai, ai dona cegonha/ saiu risonha pra trabalhar/ voltou danada, encabu-lada/ com a cegonha ninguém quer nada, ai , ai ,ai (bis)

Ela trabalhava noite e dia/ não encal-hava mercadoria/ mas a caristia está medonha/ ninguém quer nada com a cegonha. Ai, ai, ai dona cegonha/ saiu risonha pra trabalhar/ voltou danada, encabu-lada/ com a cegonha ninguém quer nada, ai , ai ,ai (bis)

Rasguei a minha fantasia Lamartine Babo

“Rasguei a minha fantasiaO meu palhaço cheio de laço e balãoRasguei a minha fantasiaGuardei os guizos no meu coração

Fiz palhaçada o ano inteiro sem pararDei gargalhada com tristeza no olharA vida é assim, a vida é assimO pranto é livre, eu vou desabafar

Tentei chorar, ninguém no choro acreditouTentei amar e o amor não chegouA vida é assim, a vida é assimComprei uma fantasia de pierrô.” Tem que rebolarJosé Batista e Magno de Oliveira

Ô nega gostosa, ô neguinha boa/ papai quer ver se embarca na sua canoa

Sai fora bagaço, vê se tô na esquina/ tu não tem classe nem pra ir no china

Deixa de besteira, já te vi na lapa/ cor-rendo pela rua, fugindo do rapa/ fica sabendo que você pra me apanha/ você tem que rebolar, rebolar, rebolar

Mulato atrevido, a tua fama é boa/ a tua carapuça pra mim não entoa

Eu sou muito lord, veja só o tipo/ posso não ser broto, mas não sou coroa

Vê se te manca, já to arrumada/ não é por sua causa que vou dar mancada/ com essa cara pra poder me conqui-star/ você tem que rebolar, rebolar, rebolar

Ai moreninha linda, moreninha boa/ quer se casar comigo, ser minha patroa

Sai fora mulato, vê lá se eu me passo/ casar contigo é coisa que não faço

Eu tenho a grana/ minha cor não pegaSomente a sua grana pode interessar

Mas pra botar a mão no meu dinheiro/ você tem que rebolar, rebolar, rebolar

Mulato atrevido, está me maltratando/ o rebolar é um novo modo de gingar

Fique sossegada que não é maltrato/ é um ditado novo, é jeito de dançar

Mas se o meu pai souber disso se zanga/ vai lhe chamar de feio, vai lhe arrebentar

Ah, mas pra seu pai bater nesse mu-lato/ também tem que rebolar, rebolar, rebolarRebolar, rebolar, rebolar... Folha morta (Ary Barroso)

“Sei que falam de mim/sei que zom-bam de mim/Oh, deus!/como eu sou infeliz!Vivo à margem da vida/ sem amparo ou guarida/Oh, deus!/ como eu sou infeliz!Já tive amores/ tive carinhos/ já tive sonhos/Os dissabores levaram minh’alma por

caminhos tristonhos/Hoje sou folha morta que a corrente transporta/ Oh, deus!como eu sou infeliz! Infeliz!Eu queria um minuto apenas pra mostrar minhas penasOh, deus!como eu sou infeliz!”

Oito mulheresJosé Batista

Pode falar, meu bem/ pode chorar se quiser/ um homem não pode viver/ somente com amor de uma mulher

Pode falar, meu bem/ pode chorar se quiser/ um homem não pode viver/ somente com amor de uma mulher, não é

Uma é pra dentro de casa/outra pro meio da rua/ uma é pra dias de sol/ outra é pra noite de lua

Uma é para o pensamento/ outra é para o coração/ uma é mulher de verdade/ a outra é a inspiração.

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Flávio Bauraqui, Maurício Tizumba e Vilma Melo como Grande Othelo.

Antônio Karnewale, como Oscarito / Herivelto Martins/ Jardel Jércoles / Francisco Alves / Burle Lenita Lopez, como Josephine Heléne / Vedete / Pastora / D.FilhinhaLuciano Pullig, como Orson Welles / Carlos Machado / Alinor / Mario Prata / DelegadoMarcelo Capobiango,como Ataulfo Alves / Wilson Moreira / Roberto MouraMaria Salvadora, como Ruth de Souza / Pastora / Déo Maia / Angela NenzyNando Cunha, como Filho / Joca / Homem do Abrigo / ExpeditoRyta de Cássia, como Abigail / Dalva de Oliveira/Linda Batista / Maria Antonieta Pons / Matilde

Direção e roteiro: André Paes LemeTexto e roteiro: Douglas TourinhoProjeto: Ana Luisa Lima e Andréa Alves

Pesquisa, dramaturgia e assistente de direção: Tânia AugustoDireção de movimentos: Márcia RubinCenário: Carlos Alberto NunesFigurinos: Luciana MaiaIluminação: Renato MachadoProjeto de Som e operação: BrancoFotografia: Silvana Marques Design Gráfico: 6D Design Gráfico Assessoria de imprensa: BCM - Eduardo Barata Marketing: Gheu TibérioAssessoria jurídica: Marisa GandelmanProdução: Sarau Agência de Cultura Brasileira

Equipe TécnicaAssistente de cenografia: Douglas NogueiraAssistente de Figurino: Carolina Lobato e Marcela MacielCenotécnico: Paulo FernandesCostureira: Fátima FelixCamareira: Marceli da SilvaContra-regra: Igor BellezaOperador de luz: Leandro Barreto

Equipe de Produção:

Diretora de Produção: Ana Luisa LimaDiretora de Planejamento e Comunicação: Andréa AlvesCoordenação geral: Márcia XimenezCoordenação de produção: Leila DantasProdução executiva: Patrícia Simões e Jusele Sá

Gerência financeira: Doralice RodriguesAdministração e prestação de contas: Renata SilêncioContabilidade: Márcia TavaresApoio de produção e administração: Paulo Roberto NascimentoApoio de recursos humanos: Associação Mirábilis Cultural

Agradecimentos Especiais:Aos filhos de Grande Othelo: Carlos Sebastião Vasconcelos, Jaciara Alves de Souza Prata, Mario Luiz de Souza Prata, José Antonio de Souza PrataÀ colaboração da Sra. Maria Ignez de Mendonça Goda

Agradecimentos:Adriano Sampaio, Ailton Magioli, Angela Nenzy, Antonio Augusto, Arlete Heringer, Carlos Lofler, Carlos Wanderley, Daniel Gonzaga, Evaldo Mocarzel, Fabiano Vannucci, Gilberto Golma, Jorge Moutinho, José Gomes Talarico, Josephine Hélene, Letícia Gromann, Mário Franco, Mario Prata, Marly Serafim, Mirian Teresa, Ophélia Maria, Paulo Mendonça, Paulo José, Pedro José Guilherme Aragão, Roberto Moura, Ruth de Souza, Sérgio Cabral, Sheila Kaplan, Sonia Peçanha, Wagner Vieira, Wilson Moreira, Yaçanã Martins, Soraya Ravenle, Canal Brasil, Como Manda o Figurino, Espaço Ciência Viva, Folha Seca, René M. Visão Cenotécnica e UniverCidade

Direção Musical:Concepção geral, arranjos e direção: Luís Filipe de LimaPreparação, direção vocal, arranjos vocais e regência de coro: Ernani MalettaCo-produção e arranjos: Pedro CintraProdução de estúdio: Alexandre Pimentel

Gravação da trilha, mixagem e edição:Studio Tenda da Raposa/Carlos Fuchs

Músicos da trilha sonora:

Beto Cazes, percussãoDirceu Leite, sax/sax soprano/sax tenor/flautaItamar Assiére, pianoJorge Helder, contrabaixoLuis Filipe Lima, violõesNicolas Krassik, violinoOscar Bolão, bateria/percussãoOvídio Brito, cuícaPedro Amorim, bandolim/cavaquinhoPedro Cintra, programação de arranjo de cordasRoberto Marques, tromboneZero,percussão

Fontes de consulta:MOURA, Roberto. Grande Othelo: um artista genial. Rio de Janeiro - RJ. Editora Relume-Dumará/ RIOARTE , 1996.OTHELO, Grande. Bom dia, manhã (poemas). Rio de Janeiro - RJ. Topbooks,1993.PESSOA, Ana / LEITE, Sebastião Uchoa. Grande Otelo: o artista múltiplo. Rio de Janeiro - RJ. EMBRAFILME / FUNARTE / INACEN, 1985.SERAFIM, Marli / FRANCO, Mario. Grande Othelo em Preto e Branco. Rio de Janeiro - RJ. Ultra-set ed., 1987.BARBOZA, Marília Trindade. Consciência Negra - Depoimentos. Rio de Janeiro, 2003. Ed. FATERJ / MIS.MIRANDA, Luiz Felipe e RAMOS, Fernão Pessoa. Enciclopédia do Cinema Brasileiro (verbete sobre Grande Othelo por Roberto Moura). Ed. SENAC, São Paulo, 2000.

Entrevistas:Ângela Nenzy, Carlos Sebastião Vasconcelos, Jaciara Alves de Souza Prata, José Antonio de Souza Prata, José Gomes Talarico, Mario Luiz de Souza Prata, Mário Prata, Roberto Moura, Ruth de Souza e Wilson Moreira

Page 33: Download do Programa da peça “Grande Otelo - Êta Moleque

GRANDEGRANDEGRANDE OTHELOOTHELOOTHELOETA MOLEQUE BAMBA!

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