CURSO DELEGADO CIVIL N37 DATA 24/09/2014 DISCIPLINA DIREITOS HUMANOS PROFESSOR DLBER LAGE MONITORA SLVIA FACCION AULA 01

delber@cedin.com.br

Fundamentos:

Introduo:

Naturalista: a condio humana traz inerentemente a figura do ser humano, um conjunto

de direitos que devem ser resguardados, independente do contexto natural, histrico ou

cultural. Assume um carter universal, qualquer ser humano em qualquer poca, tem um

conjunto de garantias mnimas que devem ser resguardadas.

Positivista: afirma que os direitos humanos so uma construo dependente, varivel em

funo do ordenamento jurdico ao qual o indivduo esta submetido. Direitos Humanos so

aquilo que os Estados fazem deles, s existiria direito ou garantia fundamental ao

EMENTA:

Na aula de hoje sero abordados os seguintes pontos:

Fundamentos:

Introduo;

Desenvolvimento Histrico;

Proteo Internacional dos Direitos Humanos;

Introduo;

Sistema Global de Proteo (ONU);

Instrumentos normativos;

rgos da ONU;

indivduo, se essa garantia fosse adotada pelo Estado. Possui um carter mais varivel,

tendo que recorrer ao direito posto para saber quais so os direitos e garantias que devem

ser atribudos ao indivduo.

Variabilidade: os direitos humanos tem inegavelmente certo grau de variabilidade no seu

contedo ou concepo.

Histrico: carter marcante nos direitos humanos.

Heterogeneidade:

Contedo: aquilo que consideramos Direitos Humanos vai mudando ao longo da histria e

ao longo do tempo.

Conflito: Possibilidade de conflito (aparente) dentro do mesmo rol de garantias e direitos

fundamentais. Pode eventualmente, consagrar direito cujo contedo seja contrrio e cuja

prevalncia dever ser analisada no caso concreto.

Concepo: inegvel que dependendo do conceito histrico, dependendo do

ordenamento jurdico, esses direitos podem ter uma concepo varivel, pois dificilmente

poderemos afirmar que existe um rol absolutamente imutvel de quais seriam esses

direitos e garantias fundamentais, devendo compreender os direitos humanos sob a luz do

seu contexto histrico, do momento da sua proteo ou consagrao.

Desenvolvimento histrico:

I- Positivao: Qual foi a origem e o momento da positivao dos instrumentos tanto na

esfera domstica quanto constitucional.

a) Declaraes decorrentes das revolues liberais (Sculo XVII e XVIII):

Revoluo Gloriosa/ Rev. Inglesa (1688);

Declarao de independncia americana (1776);

Declarao universal do Homem Revoluo Francesa (1789).

Foram o marco inicial para proteo dos direitos humanos, havia uma certa pretenso de

universalidade e essa ideia de que temos hoje de direitos humanos, foram formados por essas

revolues.

Os trs instrumentos no mesmo contexto de revolues liberais. Antes disso, o que tinha

comeado eram discusses tericas (Hobes, Locke), que discutiam a existncia de direitos

mnimos e garantias universais inerentes aos seres humanos, mas cada um tinha sua prpria

concepo.

b) Generalizao: Inspirados pelo exemplo das revolues vrios pases comearam a

incorporar no seu ordenamento jurdico interno/ domstico a ideia da necessidade de

proteo aos direitos humanos nas suas respectivas constituies (Constituio do Imprio

j trazia algumas normas). Ao final do Sc. XIX a maior parte dos pases ocidentais

principalmente, j incorporavam em suas constituies a ideia de direitos humanos na

relao dos indivduos com o Estado. Ainda no havia cooperao internacional para a

proteo dos direitos humanos, o problema era tratado nacionalmente.

c) Internacionalizao: surgiu a criao da ONU em 1945, s na metade do Sc. XX que

tivemos a discusso da necessidade da proteo de elementos fundamentais ao ser

humano. Comea a se consolidar a ideia de que os direitos humanos tenham que ser

protegidos, no s nacionalmente, mas na perspectiva das relaes internacionais.

Comeou a se falar da necessidade de cooperao internacional de proteo dos direitos

humanos, e a falar de mecanismos coletivos de sancionar o Estado que descumpre,

eventualmente, direitos humanos.

Comea a discusso sobre um 2 nvel de positivao: A partir de 1945 se discute a

proteo dos direitos humanos no nvel internacional, a existncia do sistema de proteo

internacional dos direitos humanos.

d) Progressiva universalizao/ especializao: Cada vez mais houve esforos do sistema

internacional para afirmar a ideia de que os direitos humanos devem ser aplicados de

forma universal. Houve um movimento de especializao na proteo dos direitos

humanos na esfera internacional (ex. proibio ao racismo, genocdio, proteo a mulher).

II- Contedo/ (geraes/ dimenses): O que poderia consagrar ou no como direitos

humanos?

Obs: Quando se fala em gerao na percepo de quem contesta esse conceito, d a ideia de

que a 2 gerao substituiria a 1 e que a 3 substituiria a 2, uma ideia esttica como se uma

gerao fosse criada de forma isolada, sem vinculao. Quando na realidade que alm dos

direitos de 1 gerao, foram reconhecidos os de 2 e 3 gerao. Temos todas as 03 dimenses

convivendo na constituio brasileira. Afastaram o termo gerao e comearam a adotar a ideia

de dimenso, que tem um tom mais semntico e reflete uma ideia de complementao e de

alguma maneira reflete melhor essa ideia de avano, sem oferecer esse carter inflexvel do termo

geraes. Hoje, o politicamente correto falar em dimenso.

a) 1 Dimenso: Direitos civis e polticos (no so necessariamente individuais, ento cuidado

ao afirmar que os direitos de 1 dimenso so direitos individuais). A 1 dimenso veio

consagrada, inegavelmente, com as declaraes liberais.

Direitos civis: o Estado no pode mais desapropriar seus bens, no pode tolher sua

liberdade de expresso, associao, h um conjunto de garantias mnimas que o

Estado deve observar, so os direitos civis. O Estado tem que garantir que ningum

ameace sua vida, propriedade, liberdade e garantir a livre iniciativa, igualdade em

sentido formal.

Direitos polticos: direitos de participao na vida poltica (lembrar-se do contexto das

revolues liberais).

b) 2 Dimenso: Direitos econmicos, sociais e culturais. Consolidou-se no momento

concomitante, e no por essa nica razo, ao momento de proteo/ consolidao dos

direitos humanos, principalmente no perodo entre guerras e mais ainda no perodo ps-

segunda guerra mundial. A conversa comeou com a consolidao de persecues

Marxistas no final do sculo XIX, para tirar o controle do Estado da mo da burguesia, e

com a crise de 1929. Dessa forma, o Estado passaria a ser responsvel pelos direitos

sociais bsicos (sade, educao, saneamento bsico, habitao e outros) e expande a

sua esfera de regulamentao, tem a ideia de que o Estado vai ter uma interveno muito

maior na vida privada das pessoas, seja para regulao do Estado ou diminuio das

desigualdades sociais, tanto na esfera domstica e internacional. Estado Social, s que

esse modelo desenvolvido na poca de 40, 50, 60, 70, principalmente pelas crises do

petrleo na poca de 70 comea a entrar em crise.

c) 3 Dimenso: Direitos difusos/ coletivos. O que marca a 3 dimenso um

redimensionamento entre o Estado e a sociedade. Na 3 dimenso a coisa pblica

tambm deve ser protegida pela sociedade, muito mais do que s pelo Estado (a ideia

atual de desenvolvimento sustentvel se enquadra exatamente nessa situao). Direitos

difusos so aqueles cuja titularidade voc no consegue indicar precisamente,

simultaneamente individual e coletivo. O Estado tem que criar mais mecanismos/ canais de

comunicao entre ele e a sociedade, por exemplo, a criao do Ministrio Pblico que

defende o interesse pblico independente de ser contra agente da esfera pblica, privada

ou Estado, para que garanta a satisfao do interesse pblico. Ideia do Estado

Democrtico de Direito, o Estado tem de ser mais controlado, transparente.

d) 4 Dimenso: Alguns autores falam sobre direitos de 4 dimenso, normalmente vinculada

a direitos humanos relativos ao acesso informao, direitos de incluso digital, avanos

tecnolgicos, biomedicina.

Proteo internacional dos direitos humanos:

Introduo:

Global/ Universal: nvel das naes unidas (ONU), sistema universal de proteo aos

direitos humanos, sistema bsico que todos os Estados deveriam obedecer.

Regionais: o sistema global complementado pelo sistema regional. H um claro carter

complementar e jamais um carter contrrio/ contraditrio. Trs grandes sistemas

internacionais: Sistema Europeu - Sistema Americano - Sistema Africano.

Domstica: A relaes dois sistemas acima, s funcionam de verdade se estiverem

incorporados ao Sistema domstico. Presume de fato uma articulao entre esfera

domstica, regional e global de proteo aos direitos humanos.

Iremos estudar primeiramente o Sistema Global ONU.

Antecedentes: foram importantes para consolidar a ideia da proteo do indivduo em mbito

internacional.

Convenes de Haia (1.890 a 1.908): Criaram o direito internacional humanitrio, em um

contexto muito especfico (conflitos armados), mas j demonstra uma preocupao em

proteger o indivduo.

Obs1: H diferena entre direitos humanos e direito humanitrio. No direito humanitrio a

preocupao bsica proteger o indivduo em situaes de conflitos armados, protegem o

indivduo quando houver guerra, mesmo em situaes de guerra h um conjunto de regras que

vo regulamentar o uso da fora pelos Estados ou pelas partes que esto em conflito, e a

finalidade ser a proteo do indivduo (Ex.: Nunca pode usar bala dumdum). Os direitos humanos

so aqueles que protegem os indivduos em ocasies ordinrias, em pocas regulares. Lembrar

que direitos fundamentais podem ser restringidos em poca de guerra, mas o direito humanitrio

ainda vai reservar ao cidado direitos e garantias bsicas.

Convenes de Genebra (1.949) criadas aps a 2 Guerra Mundial para lidar com as

questes dos conflitos armados;

Convenes de Nova Iorque (1.977);

Essas trs convenes compe o ncleo do Direito Internacional Humanitrio. Ainda no

estamos falando em proteo internacional dos Direitos Humanos.

OIT: muito embora se dedique exclusivamente a questes trabalhistas, demonstra que h

um esforo internacional cujo objeto a proteo de garantias do indivduo. Refora uma

organizao coletiva de defesa de interesses do prprio cidado.

Liga das Naes/ Sociedade das Naes (1.919): comparamos a liga das naes como

que hoje a Organizao das Naes Unidas. Essa Liga das Naes era parecida com a

ONU, forma de protees globais criadas na dcada de 20, cujo objetivo era manter a paz

e que falava de maneira quase incidental, muito embora no com as caractersticas que

temos hoje, de cooperao para o progresso da humanidade e cooperao para o

desenvolvimento dos pases.

Criao dos tribunais de Tquio/ Nuremberg: Tribunais criados ao fim da segunda guerra,

cuja funo era punir crimes de guerra e crimes contra a humanidade praticados pelo

Japo e Alemanha durante a 2 guerra mundial. Falava que os indivduos poderiam ter

cometidos dois crimes: Crimes contra a humanidade e crimes de guerra.

Obs.: Crime de guerra uma violao as normas de Direito Internacional Humanitrio, por

exemplo, executar todos os sobreviventes de uma batalha. Crimes contra a humanidade uma

situao que no envolve a prtica de um ato de guerra necessariamente, por exemplo, algum

quer extinguir a populao que vive no sul do Brasil.

A responsabilizao no era para o Estado e sim indivduos. Foi a primeira vez na histria

em que o indivduo passou a ser responsabilizado na esfera internacional. Para garantir a

possibilidade de atribuio de penas para esses crimes, o tribunal precisava reconhecer a

figura dos prprios crimes, e na figura de crime de guerra recorreu as Convenes de Haia

e que j havia um costume internacional para figurar crimes contra a humanidade, exemplo

genocdio, estupro em massa.

Obs.: O primeiro momento de criao do direito internacional penal foi a criao do Tribunal de

Tquio e Nuremberg. Direito internacional penal, basicamente a possibilidade de que se atribua

responsabilidade penal para indivduos em decorrncia da prtica de crimes que so tipificados no

direito internacional. Exemplo: trfico internacional de drogas, trfico internacional de pessoas,

terrorismo, no entram no rol de crimes do direito internacional penal. Temos trs grandes

momentos: Tribunais de Guerra (Tquio e Nuremberg), dois tribunais Ad Hoc (criados em 1990

pelo conselho de segurana da ONU) para Ruanda (punir genocdio) e Ex Iugoslvia (crimes de

guerra e genocdio), no julgavam causas de outras violaes.

Somente em 1.998 com a criao do Tribunal Penal Internacional (TPI) foi criada uma jurisdio

penal permanente, a partir da entrada em vigor do Estatuto Penal Internacional (2002) que

passou a ter possibilidade de que qualquer indivduo possa ser responsabilizado

internacionalmente por crime previsto no Estatuto Penal Internacional. O TPI foi criado em Roma,

podendo ser conhecido como Estatuto de Roma, mas a sede do Tribunal em Haia na Holanda.

O TPI tem carter geral e permanente.

Sistema global de proteo (ONU):

A ONU quando criada muito influenciada pelas ideias acima expostas. Com a criao da

Organizao das Naes Unidas, a estrutura da ONU gira em torno de dois objetivos

fundamentais: criar paz e segurana internacionais e proteger direitos humanos.

A partir de agora iremos entender como dentro da ONU existe a proteo aos Direitos Humanos.

Instrumentos normativos:

a) Carta da ONU: pelo menos em dois momentos especficos consagra um dever de proteo

dos direitos humanos, art. 1, 3 e art. 55 da Carta da ONU, nesses dois dispositivos a

Carta da ONU expressa, clara na necessidade da proteo dos direitos humanos e que

deve haver um esforo coletivo internacional para o progressivo desenvolvimento dos

direitos humanos. Esses artigos fazem referncias aos direitos de 1 e 2 dimenses, sem

criar qualquer tipo de hierarquia. A ONU consagrou os direitos de 1 e 2 dimenso, pois

depois do final da 2 guerra, quis fazer com que tanto os pases capitalistas e comunistas

fizessem parte, sendo um instrumento neutro, consagrando a preferncia de ambos.

Obs.: Direitos de 1 dimenso so tpicos de pases capitalistas e direitos de 2 dimenso de

pases comunistas.

Os artigos 1 e 55 da Carta da ONU criam obrigaes absolutamente genricas, cuja

aplicao imediata absolutamente invivel, no consegue impor uma obrigao de fazer

ou no fazer especfica. Demonstra que o nvel de maturidade internacional para dizer

quais eram esses direitos eram inconsistentes, ainda no havia consenso suficiente para

impor um rol com esse carter.

Art. 1: Os propsitos das Naes unidas so:

3. Conseguir uma cooperao internacional para resolver os problemas internacionais de

carter econmico, social, cultural ou humanitrio, e para promover e estimular o respeito

aos direitos humanos e s liberdades fundamentais para todos, sem distino de raa,

sexo, lngua ou religio; e

Artigo 55

Com o fim de criar condies de estabilidade e bem estar, necessrias s relaes

pacficas e amistosas entre as Naes, baseadas no respeito ao princpio da igualdade de

direitos e da autodeterminao dos povos, as Naes Unidas favorecero:

a) nveis mais altos de vida, trabalho efetivo e condies de progresso e desenvolvimento

econmico e social;

b) a soluo dos problemas internacionais econmicos, sociais, sanitrios e conexos; a

cooperao internacional, de carter cultural e educacional; e

c) o respeito universal e efetivo raa, sexo, lngua ou religio.

b) Resoluo 217 da Assemblia Geral da ONU- Declarao Universal dos Direitos Humanos

(1.948): Nada mais do que um instrumento que foi discutido e aprovado pela Assembleia

Geral da ONU. Assembleia Geral um rgo poltico da ONU um rgo de que todos os

membros das Naes Unidas participam, ento hoje, so 193 pases que sentam na

Assembleia Geral e cada um tem direito a um voto e as decises so tomadas por maioria.

A ONU tinha 56 pases e foi aprovada poca, dos quais foram 48 votos a favor, nenhum

contra e oito abstenes. Qualquer declarao aprovada pela Assembleia Geral da ONU tem

carter meramente recomendatrio/ declaratrio, o que se chama de soft law, uma norma

branda, desprovida de obrigatoriedade do ponto de vista jurdico, no criava qualquer vnculo

jurdico entre os Estados, que os obrigassem ao cumprimento. Quando os Estados aprovaram

a Declarao Universal dos Direitos Humanos, eles o fizeram em um tom meramente

recomendatrio, sabiam que o documento no tinha carter obrigatrio. Ao longo do tempo o

seu contedo foi se tornando obrigatrio por duas razes:

Se tornou norma costumeira no direito internacional que influenciou uma srie de tratados

e a maioria das constituies de pases que foram formadas depois de 1945. Ela se tornou

uma prtica reiterada a qual os Estados atriburam o carter de obrigatoriedade, se tornou

um costume jurdico internacional.

Os membros da ONU ao fazerem a declarao estavam interpretando o art. 1, 3 e art.

55, na realidade o contedo da declarao seria um mecanismo de interpretao autntica

dos artigos 1, 3 e do art. 55 da Carta da ONU. A ideia a de que os membros da ONU

ao aprovarem a Declarao, estavam interpretando contedo da Carta da ONU, sendo que

essa resoluo seria de maneira indireta interpretada como obrigatria.

Obs.: Se perguntarem o carter ou natureza jurdica da Declarao Universal de Direitos

Humanos quando da sua declarao, seu carter era meramente recomendatria. S que hoje

o seu contedo, por outro lado, considerado obrigatrio, pois se tornou costumeira. Somente a

Resoluo 217 que teve seu contedo considerado obrigatrio, sendo uma prtica reiterada entre

os Estados no meio internacional. Futuras resolues sero consideradas meramente

declaratrias, a princpio.

Art. 3 a 11 da resoluo 217, direitos pessoais.

Artigo III

Toda pessoa tem direito vida, liberdade e segurana pessoal.

Artigo IV

Ningum ser mantido em escravido ou servido, a escravido e o trfico de escravos

sero proibidos em todas as suas formas.

Artigo V

Ningum ser submetido tortura, nem a tratamento ou castigo cruel, desumano ou

degradante.

Artigo VI

Toda pessoa tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecida como pessoa perante

a lei.

Artigo VII

Todos so iguais perante a lei e tm direito, sem qualquer distino, a igual proteo da lei.

Todos tm direito a igual proteo contra qualquer discriminao que viole a presente

Declarao e contra qualquer incitamento a tal discriminao.

Artigo VIII

Toda pessoa tem direito a receber dos tributos nacionais competentes remdio efetivo para

os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituio

ou pela lei.

Artigo IX

Ningum ser arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X

Toda pessoa tem direito, em plena igualdade, a uma audincia justa e pblica por parte de

um tribunal independente e imparcial, para decidir de seus direitos e deveres ou do

fundamento de qualquer acusao criminal contra ele.

Artigo XI

1. Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida inocente at

que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento pblico no

qual lhe tenham sido asseguradas todas as garantias necessrias sua defesa.

2. Ningum poder ser culpado por qualquer ao ou omisso que, no momento, no

constituam delito perante o direito nacional ou internacional. Tampouco ser imposta pena

mais forte do que aquela que, no momento da prtica, era aplicvel ao ato delituoso.

Art. 12 a 17, relao do indivduo com a sociedade.

Artigo XII

Ningum ser sujeito a interferncias na sua vida privada, na sua famlia, no seu lar ou na

sua correspondncia, nem a ataques sua honra e reputao. Toda pessoa tem direito

proteo da lei contra tais interferncias ou ataques.

Artigo XIII

1. Toda pessoa tem direito liberdade de locomoo e residncia dentro das fronteiras de

cada Estado.

2. Toda pessoa tem o direito de deixar qualquer pas, inclusive o prprio, e a este

regressar.

Artigo XIV

1.Toda pessoa, vtima de perseguio, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros

pases.

2. Este direito no pode ser invocado em caso de perseguio legitimamente motivada por

crimes de direito comum ou por atos contrrios aos propsitos e princpios das Naes

Unidas.

Artigo XV

1. Toda pessoa tem direito a uma nacionalidade.

2. Ningum ser arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de

nacionalidade.

Artigo XVI

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer retrio de raa, nacionalidade ou

religio, tm o direito de contrair matrimnio e fundar uma famlia. Gozam de iguais direitos

em relao ao casamento, sua durao e sua dissoluo.

2. O casamento no ser vlido seno com o livre e pleno consentimento dos nubentes.

Artigo XVII

1. Toda pessoa tem direito propriedade, s ou em sociedade com outros.

2.Ningum ser arbitrariamente privado de sua propriedade.

Art. 18 a 21, liberdades civis e direitos polticos.

Artigo XVIII

Toda pessoa tem direito liberdade de pensamento, conscincia e religio; este direito inclui a liberdade de mudar de religio ou crena e a liberdade de manifestar essa religio ou crena, pelo ensino, pela prtica, pelo culto e pela observncia, isolada ou coletivamente, em pblico ou em particular.

Artigo XIX

Toda pessoa tem direito liberdade de opinio e expresso; este direito inclui a liberdade de, sem interferncia, ter opinies e de procurar, receber e transmitir informaes e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras.

Artigo XX

1. Toda pessoa tem direito liberdade de reunio e associao pacficas.

2. Ningum pode ser obrigado a fazer parte de uma associao.

Artigo XXI

1. Toda pessoa tem o direito de tomar parte no governo de sue pas, diretamente ou por

intermdio de representantes livremente escolhidos.

2. Toda pessoa tem igual direito de acesso ao servio pblico do seu pas.

3. A vontade do povo ser a base da autoridade do governo; esta vontade ser expressa em eleies peridicas e legtimas, por sufrgio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Art. 22 a 27 direitos econmicos sociais e culturais.

Artigo XXII

Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito segurana social e realizao,

pelo esforo nacional, pela cooperao internacional e de acordo com a organizao e

recursos de cada Estado, dos direitos econmicos, sociais e culturais indispensveis sua

dignidade e ao livre desenvolvimento da sua personalidade.

Artigo XXIII

1. Toda pessoa tem direito ao trabalho, livre escolha de emprego, a condies justas e

favorveis de trabalho e proteo contra o desemprego.

2. Toda pessoa, sem qualquer distino, tem direito a igual remunerao por igual trabalho.

3. Toda pessoa que trabalhe tem direito a uma remunerao justa e satisfatria, que lhe

assegure, assim como sua famlia, uma existncia compatvel com a dignidade humana, e

a que se acrescentaro, se necessrio, outros meios de proteo social.

4. Toda pessoa tem direito a organizar sindicatos e neles ingressar para proteo de seus

interesses.

Artigo XXIV

Toda pessoa tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitao razovel das horas de

trabalho e frias peridicas remuneradas.

Artigo XXV

1. Toda pessoa tem direito a um padro de vida capaz de assegurar a si e a sua famlia

sade e bem estar, inclusive alimentao, vesturio, habitao, cuidados mdicos e os

servios sociais indispensveis, e direito segurana em caso de desemprego, doena,

invalidez, viuvez, velhice ou outros casos de perda dos meios de subsistncia fora de seu

controle.

2. A maternidade e a infncia tm direito a cuidados e assistncia especiais. Todas as

crianas nascidas dentro ou fora do matrimnio, gozaro da mesma proteo social.

Declarao de Viena (1.993): mais ou menos uma reproduo do texto da declarao

universal, mas com maior participao de pases (mais de 160 pases). O grande avano

da declarao de Viena, no foi s reproduzir o contedo da declarao universal, mas

afirmando seu carter universal e o seu carter indivisvel dos direitos previstos pela

declarao universal aprovada em 1.948. Lembrar que a Declarao de Viena tem carter

meramente recomendatrio, soft law.

Cuidado: pode haver induo ao erro quando comparando a Declarao Universal de

Direitos Humanos da Revoluo Francesa (1.789) com a Declarao Universal (1.948),

pois tem algumas diferenas fundamentais:

A Declarao da Revoluo Francesa foi decorrente de uma revoluo na Frana, no

tinha nenhuma pretenso internacional naquele momento, foi decorrente de um movimento

revolucionrio na Frana, um instrumento emblemtico, mas no de carter internacional

e contempla somente os direitos de 1 dimenso. Ao contrrio da Declarao Universal de

1.948 feita no mbito da ONU, com a discusso por vrios Estados, e contempla direitos

de 1 e 2 dimenso.

c) Pacto Internacional de Direitos Civis e Polticos e o Pacto Internacional de Direitos

Econmicos, Sociais e Culturais (1.966): foram tratados internacionais de natureza

obrigatria que vieram para sedimentar o sistema de proteo dentro das naes unidas.

Os direitos de 1 e 2 dimenses foram separados em instrumentos diferentes, por duas

razes:

Histrica: pases capitalistas eram mais afetos aos direitos de 1 dimenso e os

comunistas de 2 dimenso, se colocasse um nico tratado que consagrasse todos os

direitos simultaneamente, correria o risco de que capitalistas e comunistas no

aceitassem, correria o risco de defeco recproca. Separaram os dois para permitir que os

capitalistas ou comunistas ratificassem apenas um dos dois, como forma de viabilizar a

maior participao possvel. Como exemplo, tinham dois direitos previstos no pacto na

declarao de 1 dimenso que foram retirados, direito de asilo e direito de propriedade,

porque so dois direitos que os pases comunistas temiam muito naquela poca.

Para o pas ser obrigado por um pacto necessrio a RATIFICAO. No confundam

ratificar com assinar, so dois atos completamente diferentes. Pas que assina um tratado

no se obriga a cumprir um tratado, somente est obrigado aps ratifica-lo. Assinatura o

ato que o Estado faz quando ele acaba de negociar o tratado, s significa que a

negociao est encerrada e que o texto final do tratado corresponde com o que foi

negociado (ato de autenticao do texto).

Natureza negativa: a razo oficial. Proteger o direito para que ningum o viole, na

essncia a natureza do direito negativa, de no violar, de respeitar (ex. seguridade

social, saneamento bsico- natureza positiva, exige uma poltica pblica afirmativa). Os

Estados entenderam que o tratado de 1 dimenso teria aplicao imediata, est previsto

nele, que os membros devem imediatamente mobilizar seus esforos para garantir aqueles

direitos e deveres previstos no tratado, autoexecutvel. Por outro lado o tratado de 2

dimenso previa que sua aplicao progressiva/ programtica, ningum consegue

implementar os direitos de uma s vez, a ideia que a aplicao do pacto ser

progressiva, para garantir que os Estados paulatinamente promovam esforos para a

melhoria desses direitos e garantias.

Pacto dos direitos civis e polticos:

Denncia estatal (facultativo): Tinha a previso da criao de um comit que iria conferir o

cumprimento do pacto. Foi criado um mecanismo em que um Estado denuncie outro

Estado que eventualmente est desrespeitando os pactos civis e polticos. Haver um

comit que vai ou pode receber a denncia de um Estado contra outro, s poder

denunciado pela petio quem tiver concordado com este mecanismo reciprocidade.

Est previsto no prprio pacto, algum pas pode ratificar o pacto, mas no aceitar a

clusula de denncia estatal por ser facultativo. Alm desse pacto, foi feito um protocolo

adicional ao pacto (tratado posterior que acrescenta ou modifica obrigaes no tratado j

existente), que criou algumas obrigaes alm das previstas no pacto:

Possibilidade de petio individual: No caso de algum indivduo ter seu direito violado,

poder bater na porta do Comit e denunciar o Estado que cometeu a violao, mas

CUIDADO, somente os pases que ratificaram o protocolo adicional. Para a queixa

individual ser exercida deve haver o esgotamento de recursos domsticos internos.

Pacto dos direitos econmicos, sociais e culturais:

No incio no tinha comit para saber se o pacto estava sendo cumprido ou no. No pacto

no tinha previso, possibilidade de um pas denunciar o outro, nem de maneira

facultativa, pois a ideia seria que o tratado seria aplicado de maneira progressiva. Somente

em 2.008 foi criado um protocolo adicional, que conferiu ao comit do pacto, o mecanismo

de petio estatal, individual e at outros poderes, como fazer visita in law, mas

CUIDADO ele no entrou em vigor at hoje, pois no alcanou o nmero mnimo de pases

que o ratificaram para a sua entrada em vigor.

d) Tratados temticos: proteo da mulher, da criana, contra a tortura. So tratados que vo

pegar temas especficos.

rgos da ONU:

a) Principais: A ONU foi criada com estes seis rgos:

Secretariado: instncia administrativa/ executiva, no tem poder decisrio nenhum, mas

implementa polticas que so feitas por outros rgos. Quem preside o Secretariado o

Secretrio Geral da ONU.

Assembleia Geral: a instncia poltica, o foro de discusses polticas da ONU, tudo que

for afeto ao interesse dos Estados, poltica internacional. Quem participa da assembleia

geral so todos os membros da ONU, todos os Estados tm direito a um voto, e a deciso

no obrigatria, tem carter recomendatrio. Tem poder para criar comits, conselhos

que vo fiscalizar Direitos Humanos, pode cuidar de qualquer matria que os Estados

achem convenientes. Tem uma atuao indireta, de fomento, mas ela em si no um

rgo de fiscalizao.

Corte Internacional de Justia/ Corte de Haia: principal rgo judicial da ONU. Foi criada

para fiscalizar qualquer questo de Direito Internacional que envolvam os membros da

ONU (comrcio, meio ambiente, espao sideral) pode, em tese, se manifestar sobre

Direitos Humanos, j que pode se manifestar em relao a qualquer questo de Direito

Internacional. A Corte s julga Estado e s admite a denncia feita por outro Estado. Para

processar um pas ele tem que concordar com o processo.

Conselho de Segurana: Questes que ameacem a paz e a segurana internacional.

Possui 15 membros, 10 rotativos com mandato de 02 anos e 05 membros permanentes

(EUA, Frana, Reino Unido, Rssia e China lembrar que so os 04 que ganharam a 2

guerra, e a China que foi escolhida porque tinha um bilho de pessoas, tinha um grande

poder militar). Dos 15 pases tem que ter 09 votos a favor, sendo que dentro dos 09 votos,

tem que ter os 05 votos dos membros permanentes. Qual o carter da deciso do

conselho de segurana? obrigatria para TODOS os membros da ONU.

Conselho de Segurana no foi criado com a funo precpua de lidar com direitos

humanos, est preocupado com ameaa a paz internacional. Nos ltimos anos o Conselho

de Segurana comeou a fazer interveno humanitria.

Figura da interveno humanitria: CUIDADO para no confundir com assistncia

humanitria, que tem dois requisitos, neutralidade e imparcialidade e tem de haver

autorizao para que entre no Estado, para ajudar com suprimentos, medicao (ex.

Terremotos) uma misso pacfica, no envolve o uso da fora. Na interveno

humanitria a ideia de que vai haver o uso da fora para fazer cessar uma violao grave

e generalizada a direitos humanos (ex. Lbia 2011 e 2012), a diferena que uma ao

armada, voltada contra a autoridade (ex. 1998 Kosovo contra a Srvia). O nico rgo que

pode autorizar uma ao armada internacional o conselho de segurana da ONU. O art.

39 da Carta da ONU vai dizer que o conselho de segurana s pode autorizar o uso da

fora quando houver ameaa a paz, ruptura da paz ou ato de agresso, o problema que

no fala sobre grave e generalizada violao de direitos humanos, em tese o Conselho de

Segurana no poderia autorizar. No comeo havia muita dvida no que poderia ser feito

em tais situaes, mas de acordo com a Carta da ONU o Conselho de Segurana que

determina o que ameaa a paz e a segurana internacional, ento o Conselho passou a

aprovar resolues, por exemplo, Resoluo 1.393/12, o Conselho passa a ter

competncia para resolver esta situao.

Apesar de ser uma figura possvel, do ponto de vista dos direitos humanos, ningum nega

que necessria a interveno em certos pases, mas pela sua prpria natureza poltica

acontece uma seletividade absurda que obedece a critrios econmicos e polticos.

Artigo 39

O Conselho de Segurana determinar a existncia de qualquer ameaa paz, ruptura da

paz ou ato de agresso, e far recomendaes ou decidir que medidas devero ser

tomadas de acordo com os Artigos 41 e 42, a fim de manter ou restabelecer a paz e a

segurana internacionais.