Dragões de Titânia

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OS DRAGES DE TITNIACAPTULO I - A morte como recompensa

CAPTULO I - A morte como recompensa Se voc estava visitando a Ilha de Argos na virada do primeiro milnio, deve ter passado por maus bocados. As coisas no andavam muito boas para a populao de l h tempos. A ilha nunca esteve cercada por um mar de rosas. No toa que o oceano a sua volta era chamado de Mar do Terror. Mas, convenhamos, numa poca em que caravelas singravam os mares e davam de cara com piratas ou monstros marinhos, qualquer mar era merecedor desse nome. Voc j deve ter percebido que no estamos falando de uma histria em nosso mundo, e sim de uma num mundo distante. Uma terra que voc j deve ter visto em sonhos ou livros, uma terra de magia, herosmo, elfos, fadas, seres fantsticos e drages. E sobre drages que eu gostaria de falar, mas antes, vamos voltar Ilha de Argos, um pequeno pedao de rocha dentro do grandioso Imprio de Titnia.

GPS: "Voc est aqui."

Aquele foi um grande dia para Argos. Foi o dia em que o dspota chamado Ricardus I, que se auto-proclamou Baro da regio, enfrentou a resistncia local, um grupo liderado por guerreiros, ex-camponeses, magos e membros do clero. J no era de agora que o Baro enfrentava problemas com esses rebeldes. O primeiro deles a criar dor de cabea foi Telus, um ano que trocou a enxada por uma espada

afiada. Filho de estrangeiros, Telus nasceu ali em Argos, e era constante alvo de piadas por ser parte de uma minoria. Sem trocadilhos. Localizada ao afastado leste da capital do Imprio, Argos era ocupada por belos vilarejos e ricos senhores de terras que pouco ostentavam tal riqueza. De natureza agrcola, possua belas pastagens, rios e vilarejos. O que estragava era o povo... Culturalmente, Argos era conhecida por ser uma ilha de populao um pouco intolerante para com os semi-humanos e agora, veja voc, encontrava justamente num deles, a sua esperana de liberdade. V a ironia do que est acontecendo, ano? provocou o Baro enquanto trocava golpes de espada com Telus, que, em silncio, lutava pela prpria vida e pela Ilha de Argos. Naquele momento, ele lutava mais pela sua vida do que pela ilha. Enquanto voc sangra por esta ilha, os habitantes mal falam com voc ou com seus aliados na rua! Telus manteve a concentrao, sem responder s provocaes. Existiam verdades no que o tirano disse e elas cortavam tanto quanto o ao. Sim, estamos no meio de um duelo. Alis, no meio de um batalha travada dentro de um vulco extinto entre o exrcito do Baro e a milcia local liderada por Telus. Todo mundo PRO CHO!!! gritou uma voz com um leve sotaque estrangeiro ao fundo. O grito foi seguido por uma srie de pequenos raios eltricos luminosos que cortaram o ar, atingindo o peito do Baro e separando os dois oponentes. E com uma armadura que o cobria dos ps a cabea, incluindo seu misterioso rosto, a eletricidade envolvida deve ter feito um estrago e tanto. , Telus no estava sozinho. Havia guerreiros e feiticeiros com ele, mas a cortesia destes raios foi de Augustos Maximus Khosta, um mago estrangeiro de pouca idade, mas de muita vivncia que ali estava em causa prpria. Sua histria mais complicada, ento deixarei para mais tarde. No parem de atacar, continuem pra cima deles! gritou o ano que fora jogado no cho com o impacto dos raios eltricos de Khosta refletidos na armadura do Baro. Era uma luta desigual, convenhamos. De um lado, um grupo com pouca ou nenhuma experincia em luta armada liderado por um ano de precoces barbas e cabelos grisalhos e pouca ligao com aquele povo. Com ele, uma maga chamada Miranda, um ex-centurio alcolatra, dois elfos, um feiticeiro estrangeiro e um guerreiro novato que mal sara das fraldas e j vestia cota de malha. Do outro lado, um fidalgo descendente de uma antiga linhagem de nobres que at h pouco tempo se mostrava decadente. Pelo menos at o dia em que se aliou a um bruxo vindo de terras distantes que, graas magia negra, lhe conseguiu um exrcito de Armaduras Fantasma, um bando de guerreiros sobrenaturais com pouca vontade prpria e que respondiam apenas ao seu comando mental. Em pouco tempo, se auto proclamou baro regente da ilha, recrutando escravos para seus campos de minerao e outros atos mundanos. Como combater seres que nada temiam e que talvez nem estivessem vivos? Saltando por cima de todos, um elfo apareceu com a resposta atacando as Armaduras Fantasma com uma rede. Se no podemos mat-los, podemos prend-los! disse Cronus, um elfo nascido nas distantes terras de lfheimr, a meca lfica deste lado do continente. Cronus no era seu verdadeiro nome. Era um pseudnimo que adotou quando saiu de sua terra natal para se aventurar no mundo dos humanos. Com seus quase 300 anos de vida, Cronus j andava pelo mundo h vrios invernos e primaveras, sem ter feito laos com ningum e nem perdido sua inconseqncia juvenil. H seis meses chegou Ilha de Argos, sem desconfiar da averso que a populao dali tinha

para qualquer um que no fosse igual a eles. Foi justamente quando estava sendo perseguido por uma turba local que acabou trombando com estes aventureiros. No momento, lhe pareceu seguro estabelecer estes laos e ajud-los, seja l no que estivessem fazendo. Mas amanh, quando a graa aqui acabar, quem sabe, j esteja de partida para algum pas longnquo. Elfos podem viver at mil anos, mas humanos morrem rpido. Melhor no se apegar muito a eles. Como eu disse antes, esta batalha aconteceu dentro de um vulco, mais precisamente dentro de uma grande rede de cavernas usadas como campo de minerao. Enquanto o grupo batedor fazia este ataque surpresa, um jovem chamado Peter Paul e a maga Miranda corriam para dentro das masmorras para tentar tirar de l os escravos que ali trabalhavam. Peter era um mascate que assumiu sua incompetncia em tentar vender cacarecos a estranhos e resolveu troc-los por uma espada s para no perder o investimento. Mas nestes primeiros dias de aventura ele talvez seja mais lembrado como o guri que tirou Telus da toca. Os dois se conheceram numa taberna, um timo local para fazer amigos ou para ser morto numa briga. Esta taberna ficava em uma pequena vila nos arredores de Vidith, capital da Ilha de Argos. Telus, neste dia, ouvia atentamente a histria de um velhote que falava sobre o roubo de algumas jias da Igreja. Graas a sua perseverana, o ex-mascate conseguiu convencer o ano a pegar esse bico e partir nesta pequena cruzada para achar os artefatos. Alguns diro que a recompensa falou mais alto na deciso de Telus, mas vocs no ouviro isso de mim. Afastem-se das grades! disse Miranda aos escravos, pouco antes de arrebentar as correntes com pequenos raios luminosos que saiam de suas mos. Para aqueles homens maltratados pela vida, a viso da maga de pele morena e cabelos cacheados castanhos, quase avermelhados, foi angelical. Havia ali uma nica armadura fantasma com a misso de guardar os escravos e cabia a Peter o trabalho de distra-la enquanto Miranda tirava os escravos l de dentro. A operao teve que ser rpida, pois estavam em desvantagem. A maga levou menos de cinco minutos para abrir as trancas e levar os mineradores ali presos at uma sada lateral que dava para fora das cavernas. Foi tempo suficiente para ela voltar e ver Peter lutando com a armadura trancado dentro de uma das celas: Peter Paul? Mas como vocs ficaram presos a? Presos? Droga, eu fiz isso de novo! resmungou o garoto ainda se defendendo dos golpes da armadura fantasma. Afaste-se das barras! gritou a maga que, com brilhos dos dedos, manipulou energia e projetou novamente pequenos dardos mgicos luminosos na tranca. Dentro da cela, Peter conseguiu vantagem graas a sua pequena estatura. Em um espao restrito como aquele, Peter pde atingir a armadura vrias vezes sem ser ferido. Para a armadura de dois metros de altura, era como mergulhar num barril para tentar pegar um peixe escorregadio, se que algum j tentou fazer algo assim. Pra fora, Peter! disse a feiticeira, pouco antes de trancar a armadura l dentro. Obrigado... Agora vamos l pra cima ajudar os demais. E eles precisavam mesmo de ajuda. Em vantagem numrica, as Armaduras Fantasma faziam uma barricada entre o grupo invasor e o campo de minerao subterrneo, protegendo o Baro e isolando Telus dos demais. Entre estes demais, estava o jovem ex-centurio Tio Calistratos, o Alambique, nico

guerreiro com alguma experincia em batalha e que teria sido bem mais til se no estivesse completamente bbado fazendo jus a seu apelido. Mesmo assim, com a truculncia que s aqueles que vivem escravizados pelo lcool possuem, ele abriu caminho entre as Armaduras para a elfa Lerandra passar com sua espada. Telus, cado, viu a elfa pular de espada em punho sobre o inimigo e lembrou quando a viu pela primeira vez em ao. Foi justamente aps ser convencido por um incansavelmente chato Peter Paul a largar sua vida de fazendeiro e se tornar um aventureiro. Sua primeira misso foi achar a tal jia roubada de uma comitiva religiosa ali mesmo na ilha. Os dois seguiram sozinhos a pista dos ladres at os escombros de uma vila abandonada de onde, para surpresa da dupla, saram quatro esqueletos vivos. Era a primeira vez que qualquer um dos dois tinha visto algo to bizarro, mas, mesmo assim, partiram pra cima. Afinal, que alternativa tinham j que estavam encurralados nas runas? Sem habilidades com espadas, os dois at que se saram bem para aventureiros de primeira viagem, mas o golpe decisivo veio da elfa Lerandra que, de cima de uma rvore, cravou uma flecha no crnio do esqueleto lder. Os esqueletos fugiram e a dupla recuperou o artefato. Aquele foi um bom dia. Mas este era um dia diferente. Telus se levantou, determinado a retribuir o favor elfa, muito mais por orgulho do que por cavalheirismo. Assim o Baro se desdobrou numa luta armada com os dois no-humanos, reafirmando a ironia de ter a soberania de uma ilhota racista como aquela ameaada por dois desiguais. Peter Paul e Miranda se juntaram o mais rpido que puderam aos demais e reforaram a ofensiva em cima das Armaduras. Naquele campo de minerao subterrneo, havia cerca de quinze delas, todas idnticas, cercando seu mestre e seus dois oponentes. Do lado de fora do cerco, Alambique, o elfo Cronus, Peter e a Miranda, munida de seu cajado, tentavam no perder terreno. Em algum lugar, estrategicamente escondido atrs de alguma barreira, estava o matreiro mago Khosta, em alguma atividade desconhecida para os demais. Como , Khostinha, no vai fasher nada prajudar? Reclamou Alambique enquanto apanhava e batia nas Armaduras. Alheio batalha, Khosta recolhia platina do cho e, se algum ali perto estivesse, ouviria dele vrios resmungos do tipo Se esse pinguo me chamar de Khostinha mais uma vez, juro que vou me aliar ao Baro! Juro!. A mina era escura e mida, seus nicos focos de iluminao eram as lamparinas nas paredes. Localizada dentro de um vulco extinto chamado Ghor, foi cavada h vrios anos por exploradores em busca de prata at ter esgotado todo seu potencial h 10 anos. Mas, para a surpresa dos moradores da vila ao lado, foi reaberta logo aps o Baro ter tomado as rdeas do governo. E a cada dia, chegavam mais escravos, que de l s saam mortos de tanto trabalhar. Escravos comprados so um investimento caro, mas escravos roubados so dispensveis. Existiam duas rotas de cavernas que ligavam o interior do vulco superfcie. Uma foi usada nesta recente fuga de escravos e a outra foi usada na entrada de Telus e seu bando. E desta segunda rota que os que l em baixo estavam lutando puderam ouvir uma cano entoada por uma melodiosa voz feminina. Aos poucos a cano ressonava nas paredes de pedra ecoando e preenchendo toda a caverna. Quanto mais esta cano de inspirao era ouvida, mais suas palavras conseguiam ser entendidas e maior se tornou o sentimento de segurana entre os rebeldes. Um sentimento de que isso iria dar certo. De que eles estavam ali para vencer e de que nada iria convenc-los do contrrio. De repente, se tornou mais claro para eles que as Armaduras atacavam sem estratgia alguma. Eram

movimentos desprovidos de malcia humana. Elas apenas miravam o alvo mvel a sua frente e tentavam acert-lo. Cronus aproveitou e usou sua agilidade para passar pelas Armaduras, evitando seus golpes descoordenados. E, uma vez do lado de dentro do cerco, atacou pelas costas as Armaduras. Afinal no era traio, j que estavam vazias. No ? O otimismo desta voz que vinha l de fora da caverna e que cantava como um anjo j fazia parte da rotina deste grupo. Ela pertencia a uma freira chamada Galilia e, se me permite interromper mais uma vez esta batalha para lhe falar sobre ela, eu agradeceria. Foi nas mos de Galilia que Telus e Peter Paul entregaram aquele artefato recuperado em sua primeira aventura. Lembram? E foi graas s suas mos de cura que tiveram suas cicatrizes amenizadas aps a briga com o Quarteto Esqueleto. Tambm lembram, no ? Gentil, como sempre, Peter Paul se ofereceu para escoltar a nova amiga de volta a sua cidade. E, claro, voluntariou Telus nesta gentileza. Assim seguiram juntos, na poca, at a igrejinha daquele lugarejo perto da capital onde Telus e Peter se conheceram. L s encontraram uma vila devastada e corpos de mulheres e crianas empilhados numa adega. Foi um choque para os trs que haviam deixado o local h to pouco tempo. No cho, vrias pegadas, todas iguais, alertaram para sua nica pista: o exrcito de Armaduras do autoproclamado Baro marchou por ali e recolheu todos os homens saudveis para suas minas. Era a vila de Telus que, se ali estivesse, provavelmente somaria na lista de escravos. Assim, o Baro, sem sequer suspeitar, ganhou trs novos inimigos. As memrias desses dias longnquos surgiam como lampejos a cada golpe ou a cada viso do companheiro lutando numa causa comum. Na batalha, era fcil lembrar pelo que lutavam e porque estavam no vulco de Ghor, arriscando suas vidas. Na tentativa de ganhar terreno, Alambique, munido de uma velha espada que trouxe dos tempos em que servia nas legies, acertou com dois golpes seguidos uma armadura, jogando a montanha de ao no cho. No havia muita satisfao em matar uma dessas criaturas. Assim que atingia solo, a armadura desmontava por inteiro, deixando vapor de enxofre no ar, como se nem estivesse ali estado. Cronus e Peter seguiram mantendo a dobradinha e conseguiram, atacando pelos dois lados, neutralizar mais duas Armaduras. Foi ali que Miranda viu a chance para avanar mais: Alambique, fique de olho na minha retaguarda! Eu shhempre fico, Mimizinha! Ignorando os delrios de grandeza do ex-centurio, Miranda comea um novo feitio. A maga nunca gostou da presena de Alambique dentro do grupo, mas quela altura no tinha muita escolha. Um aliado bbado, mesmo vendo dobrado, ainda tinha 50% de chance de acertar uma das imagens que via. Dentro do cerco, Telus atacava como um co atrs de um naco de carne. Mas investida aps investida do ano foram repelidas com golpes do Baro, que tambm devia estar suando dentro da armadura na tentativa de se desvencilhar da elfa. Quem mandou vocs aqui? Quem pagou para que me incomodassem por quatro meses consecutivos? disse o nobre. Telus respondeu com o silncio de um bom golpe de espada, mas a elfa foi menos contida: Por que acha que algum se daria ao luxo de nos pagar por algo que faramos de graa? O Baro nada respondeu, o que para Telus significava que ele realmente devia estar suando debaixo daquela armadura.

Khosta saiu detrs dos escombros onde estava escondido a tempo de ver uma cena surpreendente: vrios camponeses mortos em ataques das foras do Baro. Guerreiros, pescadores, padres e at crianas avanaram em bando pra cima da barricada. Que espcie de mandinga essa??! Necromancia? falava Khosta com seus botes. Alambique, Peter e Cronus se surpreenderam mais ainda quando os moradores passaram por Miranda que, concentrada, ordenou a eles que avanassem em direo as Armaduras. Ah, j entendi... So iluses para confundir as Armaduras. Mas ser que elas vo entender que essas eram suas vtimas? cochichou Khosta no ouvido de sua mestra, Miranda. s uma liberdade potica respondeu a bela maga, ainda concentrada. Gosto de sua classe disse o aprendiz, que em seguida gritou aos guerreiros Ta a deixa que vocs precisavam, seus pangars! Aproveitem a confuso e PEGUEM ESSE BARO DE ARAQUE! Os trs batedores no pensaram duas vezes at avanarem entre as iluses e as Armaduras Fantasma. Era a hora do pagamento por tudo o que haviam passado e cada um deles tinha uma cicatriz que lembrava algum momento que os levou at aquele dia. Peter, por exemplo, se lembrou de quando ele e Telus, ainda procurando por pistas que levassem ao Baro, acabaram perseguidos por uma cobra gigante. Alis, Peter sempre achou que aquela era uma ilha muito estranha. A cada esquina, algo ou algum tentava atac-los, sem mais nem menos, como se os conhecesse de longa data. Com tanta hostilidade, ele se dizia admirado do Baro no ter encontrado nenhuma resistncia at agora. Concluindo, foi nesta fuga que acabaram tendo que escalar uma muralha, vindo a se espatifar do outro lado, bem em cima da guarita de um centurio que ali dormia completamente bbado. Assim conheceram Alambique, que acabou perdendo o emprego. Foi um momento embaraoso para todos. At para a cobra. Mas o alcoolizado centurio acabou sendo til naquele dia. Falando pelos cotovelos, contou que fazia a guarda do castelo onde morava o Velho da Torre, um sbio ancio com quem todos os nobres vinham se consultar. Era a chance de fazer um aliado poderoso contra o Baro. Petsher Paul, voc vai pela direisha e vocs elfos vo pra eshquerda! Disse Alambique partindo com a espada em punho. Elfos? perguntou Cronus. Mas s tem eu de elfo aqui! No esquenta, ele lembrar o meu nome e saber que voc um elfo j uma grande conquista! respondeu Peter. Divindo-se em trs, eles avanaram em direo ao Baro at que um deles, o elfo Cronus, foi surpreendido pela mordida de um lagarto pendurado numa das estalactites acima deles. O lagarto tinha os olhos avermelhados e um colar de metal no pescoo, viso que trouxe outra dolorosa lembrana a Peter. Uma lembrana que envolvia a dificuldade que teve em conseguir uma audincia com o velho sbio. Naqueles tempos de insegurana, todos os fazendeiros j tinham perdido mo de obra valiosa nos ataques do Baro. Pacifista, o sbio aconselhava-os a negociar essa mo de obra de volta. Ir contra as foras dominantes ali no era uma ao que tivesse rendido qualquer resultado at aquele momento. Quando Peter e Telus chegaram l, deram de cara com um senhor bem enrugado, de semblante cansado e vestes simples. Simptico, ele lhes ofereceu de comer e

beber e perguntou como poderia ser til. Peter contou que procuravam uma maneira de depor o Baro e neutralizar seu exrcito. Sem ser rude, o ancio disse que essa era a pergunta de oito entre dez pessoas que ele atendeu naquele dia. Disse que no queria mandar ningum para a morte e que, enfrentar o Baro, mesmo sabendo sobre seus segredos e fraquezas, ainda assim seria a morte certa. Segredos? perguntou Peter na poca ao mesmo tempo que Telus resmungou sorrindo: Fraquezas?. O ancio ento lhes falou sobre o castelo abandonado de Irys, uma fortaleza da famlia do Baro. Para l que foram mandadas as armas e armaduras que logo depois foram usadas por seu exrcito sobrenatural. Mas aquele era um lugar amaldioado, no era para aventureiros ou fracos. Em suas palavras, existe o dia de lutar e o dia de planejar. Saindo dali com aquelas informaes, pareceu claro o que deviam fazer. Prxima parada: Castelo de Irys. Cronus ainda estava preso na bocarra do lagarto que se via agarrado estalactite como se dela fizesse parte. Nem Alambique era alto o suficiente para acertar a criatura com a espada, ento resolveu procurar algo na mochila. Ah... tenho um cutelo enferrujado aqui... posho tentar acert-lo com issho... NO! Nem pense em jogar esse troo em mim, seu bebum!!! Gritou o elfo, sacando uma adaga lfica e tentando acertar o lagarto. L de baixo Peter gritou: O colar! A coleira de ferro! Tenta arrancar!. A poucos metros dali, Khosta cochichava para Miranda: Consegue ver daqui aquelas duas vigas? So vigas de sustentao. Se eu acertar com um raio bem dado uma delas acho que consigo despejar boa parte do vulco na cabea dele. Ficou louco, aprendiz? Ns seremos soterrados! respondeu Miranda. No se partirmos em retirada antes! O Baro est em vantagem numrica, no vai estranhar a gente sair de repente. Para que ficar batendo nessas Armaduras at amanh quando podemos soterr-las de uma s vez? Na pior das hipteses vamos acabar com sua mina ilegal e pronto! Bom, os escravos j saram todos. Ento capriche na pontaria. TELUS, VAMOS BATER EM RETIRADA! gritou a maga. T MALUCA?!? Nunca chegamos to perto... Foi a ltima frase de Telus antes de ser desarmado com um golpe do Baro que ainda tentava sair sem dar as costas a Lerandra. Alguns segundos antes do grito de retirada, Cronus conseguiu arrebentar o colar de platina do lagarto, que finalmente o soltou l de cima. O ferimento no pescoo do elfo soltava sangue como uma mangueira, o que facilitava a deciso de Peter Paul: Telus, Lerandra! Vamos dar o fora daqui! Cronus est ferido! Leve o elfo na frente, eu vou quando Lerandra vier! Respondeu Telus, ainda procurando sua espada no cho para continuar a briga. E l atrs, Khosta comeou a conjurar seu feitio de destruio. Alambique, enquanto abriu caminho entre as Armaduras e as iluses de Miranda, perguntou: Pete, como vosc shabia do colar? Peter, amparando Cronus nos ombros, no teve flego nem tempo para responder, mas sabia bem porque teve esse palpite. No dia seguinte em que falaram com o Velho da Torre, os dois partiram at o outro lado de uma cadeia de montanhas que levava antiga fortaleza da famlia do Baro. Um terreno difcil e ngreme como qualquer caminho para uma fortaleza. Essa era a ideia, afugentar

inimigos. Mas l chegando, no encontraram nenhuma resistncia externa, e sim pegadas idnticas s encontradas na dizimada vila de Telus. No foi preciso ser nenhum mateiro experiente para reconhecer as pegadas das Armaduras Fantasma. Elas tinham sempre o mesmo tamanho e profundidade. Que outro exrcito tinha soldados do mesmo calado e peso? L dentro, s as tochas podiam mostrar algo. O lugar pareceu inabitado no momento, talvez a pista no fosse to quente. Mas j que estavam ali, foram se embrenhando corredores adentro. Quando j estavam para desistir, ouviram um pedido de socorro vindo de um andar abaixo. Procurando por passagens, entraram num grande salo fechado onde ouviram passos fortes vindo do corredor. A luz da tocha de Peter no podia alcanar o que vinha em sua direo, mas, pelo cheiro de cido, Telus tinha um palpite bem aguado: era um Drago Negro! Se ficassem no salo, seriam encurralados. Melhor tentar a sorte fugindo pelo corredor. Foi que fizeram. Foi um segundo antes de correr que Peter viu que a luz da tocha fez um reflexo no metal em volta do que seria o pescoo do drago. Mas s hoje ele se deu conta de que aquilo era uma coleira. Uma coleira de metal. Telus, Lerandra! Saiam da agora! Khosta vai desabar o teto!!! Gritou Miranda. A essa altura Miranda j tinha desfeito as iluses, que exigiam muito de sua concentrao, e se preparava para conjurar outra coisa. Peter passou por eles levando Cronus consigo e Khosta terminou seu feitio: ...POTESTATEM TORPEDO TARGET MEAM VASTAAANT!!! De repente, a caverna se iluminou com um raio eltrico que saiu das mos do mago, atravessando o campo de batalha, pegando metade das Armaduras que agiram como pra-raios pelo caminho e acertando em cheio uma das vigas de sustentao. Foi a deixa para a retirada final. Peter e Cronus j tinham sado e Alambique puxou Miranda, que tentava terminar seu ltimo feitio. Khosta, ainda com as mos fumegando, sorriu vendo a destruio de longe e disse baixinho: Cuidado com o teto baixo, Baro!. Depois deu as costas dali com a sacola repleta de platina. Ao lado de Telus, apareceu um brilho conhecido pelo ano. Era um crculo mgico de teleporte de Miranda. Um meio de fuga que teria sido muito til naquela vez em que ele e Peter Paul fugiam de um drago negro nos corredores do sinistro castelo de Irys. engraado como certas coisas disparam gatilhos me nossas memrias mesmo em momentos cruciais como esse. Lembrou como se fosse hoje de terem fugido no escuro pelo tal castelo, ele e Peter Paul, at o fim de um enorme corredor quando deram de cara com uma parede de pedra. Encurralados, os dois se despediram da vida e partiram para cima do bicho com as armas nas mos... e foram envolvidos por uma baforada de cido antes mesmo de chegarem perto do drago. Aquilo doeu. Vamos embora, elfa, a mina est desabando! gritou Telus. Lerandra estava ensandecida, mas parecia pronta para atender ao pedido do aliado. Porm, antes, no pde resistir a uma ltima bravata: Aquela vila que voc devastou no tinha apenas humanos, Baro, tinha elfos amigos meus! E de trs do Baro uma voz trmula respondeu: Sente falta deles? Mande-lhes minhas lembranas ento!

Uma mo enrugada paralisou os movimentos da elfa e do ano, dando oportunidade para que o Baro pegasse a moa pelo pescoo e a levantasse a meio metro do cho. Vo-c o bru-xo... do Baro? Sim, ano. E voc j deveria saber: Existe o dia de lutar e o dia de planejar. Foi a ltima coisa que Telus ouviu antes do pescoo dela quebrar e o teto comear a desabar. Do lado de fora, os demais subiram correndo por uma das cavernas de acesso at verem a luz do dia. Ei, esperem, o desabamento parou, ele afetou s aquela parte em que estvamos. Vamos voltar pra pegar Telus e Lerandra! gritou Peter, quando Miranda o interrompeu. Ainda no, vamos at l em cima onde eu projetei a sada do teleporte! Continuaram subindo todos at que, l fora, avistaram os escravos mineradores libertados, um crculo mgico de luz criado por Miranda se fechando e, ao lado dele, Telus, coberto de areia e cascalho... segurando Lerandra morta em seus braos.

CAPTULO II - Chuva de Platina

Uma fina chuva cobriu os escravos que, reunidos, agradeceram aos aventureiros pelo salvamento. Cronus, com o ombro enfaixado por Alambique, amparou o diminuto corpo de Lerandra enquanto a freira Galilia, que ficou de fora do combate na caverna, tentava fazer algo pela elfa com suas mos de cura. O que houve l em baixo, Telus?... O Baro foi soterrado? O ano ignorou Peter Paul e atravessou a multido em direo a Khosta: Qual o seu problema, ma-go? Por que diabos voc sumiu no meio da batalha? Eu vou relevar esse seu chilique porque voc est de sangue quente, nanico, mas tire as mos das minhas vestes! Eu s vou falar uma vez! NANICO? Seuavalonianofilhodeuma... Alambique e Peter tentaram segurar o ano enquanto Miranda interveio. Esse no o momento... A freira precisa de paz para curar o ombro de Cronus e descobrir como podemos ajudar Lerandra... se que podemos...

Tudo bem, mestra... Ele s est em choque ainda. Mestra uma ova, Augustos Khosta! Ele tem suas razes para querer saber onde voc estava enquanto ns apanhvamos l em baixo! Mas isso fica mais tarde... Pe-pessoal... Galilia est chamando interrompeu Peter. O grupo se juntou em volta do corpo de amiga cada aguardando alguma boa notcia. O que podemos fazer por ela, Galilia? No momento, podemos orar por ela, Peter, para que faa sua passagem com tranquilidade para os Campos Elsios... Notando a prpria gafe, ela pausou a voz e continuou. Me desculpe, Cronus, esqueci que ela no uma titaniana. Voc gostaria de fazer uma prece lfica? Eu no me lembro de nenhuma apropriada... Lamento... Mas posso ver entre seus pertences se ela tinha alguma imortal como protetora... Est tudo bem. Podemos fazer uma prece silenciosa por enquanto e depois lev-la para nossa vila. finalizou a meiga freira Galilia. A chuva apertou mais um pouco limpando os ferimentos. Enquanto Alambique organizava o povo para seguirem at o lugarejo mais prximo, Cronus improvisou uma maca pra levar o corpo de Lerandra. Afastado dos demais estava Telus, dando uma ltima olhada para a entrada da mina. Acha que sobrou alguma coisa l em baixo? perguntou Peter. Acho... Minha espada. E o Baro... e o maldito Velho da Torre! O VELHO DA TORRE??? Ento daquela vez em que fomos ao castelo de Irys...

Peter nem precisou terminar a frase. Os dois se lembravam bem de quando foram encurralados por um drago negro dentro do antigo castelo da famlia do Baro. E lembravam bem de como acordaram, dias depois, com a pele toda descascada, na cama de um acampamento rebelde organizado por uma feiticeira chamada Miranda. Mas quem estava na cabeceira era sua amiga Galilia, uma freira de fala mansa sempre atenta aos seus ferimentos. Ela disse, na poca, que teve uma intuio de que estavam em perigo e resolveu alcan-los, mas, quando chegou ao castelo, j os encontrou beira da morte e cobertos de cido da mortfera baforada do drago. Ela os tratou e os trouxe para aquele acampamento. Ali, puderam se recuperar e treinar com os demais, um bando armado descontente com o regime tirano do Baro e que se encontrava s escondidas para minar as aes das Armaduras Fantasma na ilha.

Ento aquilo foi mesmo uma armadilha? O maldito mandou a gente pra boca daquele drago... Que tinha o mesmo colar do lagarto l em baixo... Colar de platina! Disse Khosta, que chegou por trs com a sacola cheia do precioso metal. Foi por isso que eu sumi no combate. Platina um material usado em alquimia para criar artefatos que controlam criaturas, como esse drago que vocs enfrentaram. Era isso que o Baro minerava? perguntou Peter. . Eu precisava confirmar se aquela era mesmo uma mina de platina, por isso demorei tanto pra fazer algo. Telus manteve o olhar desconfiado. E Khosta era um cara difcil de se confiar. Sempre dizia as coisas pela metade, cheio de mistrios sobre os motivos de ter se juntado ao bando. Sem falar que era um filho de Avalnia, pas que tinha rixas histricas com Titnia. O que esse dissidente estava fazendo ali to longe de casa?, pensava o ano. J Peter confiava nele. Bom, Peter confiava em todo mundo. E o Velho da Torre? Ser ele o bruxo por trs das Armaduras Fantasma? E agora quer a platina pra... dominar drages? Bom, Peter, se ele t com essa bola toda, eu no sei... At ouvir vocs a falando, nem sabia desse velhote. Mas com a mina destruda, seja l quem estava colocando esses colares por a vai ter que comear a cavar tudo de novo. Isso por si s j pra se comemorar, ou no ? Comemorar? Ouve essa, mago, se voc me chamar de nanico de novo, a elfa vai ganhar um companheiro de cova concluiu rispidamente o ano com cara de poucos amigos.

A chuva ditou o clima do grupo. No era festivo, apesar do dever cumprido. Nem agradvel para os escravos, apesar de estarem livres dos grilhes das minas. Era apenas chuvoso. Alambique foi na frente, ele conhecia bem aquelas trilhas. Peter seguiu perto do amigo Telus, tentando puxar conversa sem obter muito retorno. A relao de Telus com Lerandra era mais de competio do que de amizade. Era difcil saber o que se passava em sua cabea e, naquele momento, ningum ousava perguntar o que havia acontecido na caverna. Cronus levava a mochila e as armas da conterrnea. Miranda e Galilia seguiram atrs. O corpo foi carregado por dois ex-mineradores que fizeram questo de levar sua mrtir. O nico que seguiu afastado foi Khosta. Com a mochila cheia de platina, ele olhava o grupo como se tentasse adivinhar o que estavam pensando. Que era um

covarde? Um traidor? Que seu plano de destruir a mina teria enfurecido o velho da torre a ponto de ter paralisado a elfa para que fosse executada? O peso de sua mochila nem pareceu to grande naquela hora.

Na viagem, teve tempo para pensar em como foi se meter com esses caras. E se valia a pena continuar com eles agora. Khosta no era dali. Ele nasceu do outro lado do mundo, em Groldria, uma gigantesca ilha no colonizada que fazia parte do Reino de Avalnia, uma magocracia cuja rivalidade com o blico Imprio de Titnia atravessava geraes. rfo desde cedo, se virou como pde. Sua nica herana era um livro de magia com o braso de sua famlia na capa: a rosa dos ventos, um smbolo que continha os pontos cardeais. No livro, uma dedicatria de seus pais: Enquanto estiver usando isso, voc nunca estar perdido. Trabalhou para mercadores e com eles aprendeu o latim, lngua de origem titaniana e a mais falada no mundo civilizado. Era a lngua em que estava seu livro tambm. Vivendo numa cultura que prezava conhecimento e magia acima de tudo, fez o impossvel para aprender os rituais de iniciao, mesmo que tivesse que roubar os materiais para faz-los. A magia no uma cincia para os pobres. Essa uma lio que aprendeu cedo e, ali, na chuva, agarrado a sua mochila cheia de platina, continuou levando isso em considerao.

Augustus, podemos conversar agora? Mestra Miranda? Claro, sou todo ouvidos. Quando chegou aqui na Ilha h alguns meses, voc me disse que era um recm iniciado em magia e que queria ajuda para interpretar os feitios de seu livro. Por ser sua herana de famlia, eu concordei em ajud-lo e o aceitei como aprendiz. Esse papo porque eu sumi no meio da batalha? Porque eu posso explicar... interrompeu Khosta. No, minha dvida outra: como um recm iniciado consegue um feitio daquele? Um raio eltrico capaz de derrubar uma viga de ferro. Khosta engoliu a seco naquela hora. Este feitio no estava no seu livro e Miranda sabia. Mestra, acontece que... Voc no precisa me chamar mais de mestra. Voc j sabe mais do que eu agora. Os dois continuaram a caminhada em silncio e debaixo de gua. A chuva democrtica. Ela aperta em cima dos justos e os dos devedores.

*****

A caminhada de volta levou metade da tarde e entrou pela noite. Quando JJ, o rapaz que vigiava o acampamento dos dissidentes avistou Telus e os demais, logo tocou a sineta de alarme. Mesmo sem saber do desfecho da operao, todos no acampamento de Miranda receberam os aventureiros como heris, embora no houvesse clima para comemorao. J era noite e cada um procurou um canto para se largar. Cronus e Galilia velaram o corpo da companheira morta para decidir, no dia seguinte, o que iriam fazer. Os ex-escravos acabaram tomando o rumo de suas casas. As trilhas da ilha noite podiam ser assustadoras, mas no se comparavam ao cativeiro.

*****

Argos amanheceu diferente naquele 21o. dia do segundo ms do ano 1001. Durante cinco meses, Telus e Peter Paul conseguiram reunir aliados descontentes com o governo e lider-los numa ofensiva direta. O Baro ainda era o ditador dali, mas no era mais invencvel. A partir daquele dia, os bardos comearam a espalhar as notcias sobre sua primeira derrota:

Era uma vez um pequeno e forte ano E um aventureiro que o acompanhou Juntos eles comearam tudo Eram Telus e Peter Paul (coro) Telus e Peter Paul...

A eles uma freira se juntou, Pareceu uma boa idia E sua coragem ela provou Seu nome era Galilia (coro) Seu nome era Galilia

A elfa Lerandra apareceu E ao grupo se juntou E com Alambique pra reforar Um quinteto o grupo virou (coro) Um quinteto o grupo virou

Mas a coisa no parou por a Pois Miranda tambm chegouE com o elfo Cronus pra ajudar O Baro se preocupou (coro) O Baro se preocupou

Chegava a hora da deciso Khosta veio para somar Todos prontos para a invaso E o tirano derrubar (coro) E o tirano derrub...

CALE ESSA MALDITA BOCA!!!!!

Se no adivinhou quem deu esse grito, eu lhe conto. Foi Telus, que levantou depois de uma noite mal dormida, pronto pra esgoelar um bardo que declamava suas trovas na frente de sua barraca. Um caf farto foi servido, mas s Peter e Miranda apareceram. Miranda, o que aconteceu com os demais? perguntou o ex-mascate. O senhor Calistratos... Quem? O Alambique est de ressaca. O Khosta ainda no levantou e Telus foi ver o corpo de Lerandra. respondeu Miranda.

Esse acampamento era pequeno e ficava perto das terras do Velho da Torre. Velho este que se revelou um forte aliado do Baro, no se esquea. Se que ele no estava por trs do golpe desde o incio, mas no vou levantar nenhuma calnia pra no ter problemas depois. No meio do caminho entre o acampamento e o vulco ficava a Vila dos Prazeres, um centro de entretenimento com jogos, bebidas e... profissionais bem liberais do sexo feminino. Foi l que conseguiram a pista sobre a explorao de minas secretas dentro do Vulco de Ghor. E esta uma histria que merece ser contada:

claro que, para chegar l, enfrentaram tropas de Armaduras Fantasma que, derrotadas, no serviam nem para serem saqueadas depois. Suas armas e o ferro de suas armaduras eram inteis, pois enferrujavam em poucos minutos aps sua... Bom, na falta de outro sinnimo, depois de suas mortes. Foi o batismo de fogo do jovem Khosta, que solicitou a ajuda de Miranda h bem pouco tempo e acabou abraando sua causa. A vila foi a melhor pista que tiveram, ento os homens foram para l. Nem necessrio dizer que um lugar chamado Vila dos Prazeres no era muito convidativo para mulheres de fino trato. Na vila, tentaram no chamar a ateno, por isso chegaram separados. Khosta foi o primeiro a chegar e entrou no cassino mais prximo que encontrou. Entre os burgueses e a ral, ele se misturou sem falar muito para que seu sotaque no o denunciasse. Aps alguns minutos de pouca sorte na roleta, notou algo estranho. Dois jogadores no pagaram suas apostas com moedas de prata ou cobre, mas com pequenas pedras de platina, material raro em Titnia e de altssimo valor. Puxando assunto, descobriu que eram engenheiros de passagem pela ilha e que iriam embora naquela semana. Graas a algumas rodadas de vinho, descobriu que eles eram contratados pelo governante local para expandir uma rede de cavernas ali perto e s receberiam seu pagamento quando sasse a primeira leva de material de l. claro que um bom feitio de leitura de mentes ajudou o mago a saber que a rede de cavernas era dentro do vulco adormecido. Aps conseguir tais informaes, Khosta resolveu tirar proveito do dom da leitura mental e entrou numa roda de carteado. Enquanto alguns pobres diabos eram enganados nas cartas pelo mago, Peter Paul entrou numa sala onde se passava um show chamado Delcias da Meia-Noite, um extravagante desfile de beldades semi-nuas. Ele entrou por engano, disse mais tarde aos demais, pois pensou que era um buf de sanduches. E conhecendo Peter, com o tempo voc iria acreditar que ele entrou mesmo por engano. L dentro, entre assobios e cafajestices, viu dois cavalheiros que no pareciam interessados nos dotes da pobre ruiva que danava no palco. Chegando perto conseguiu ouvir uma negociao de compra e venda de material de minerao. Carrinhos, ps, picaretas, etc. Tudo deveria ser entregue no prazo combinado na parte norte do vulco de Ghor, bem em frente e uma entrada recm aberta. Era a hora de levar essas informaes a Khosta. No cassino, Peter perguntou pelo amigo dando sua

descrio e o crupi disse que, aps sua performance naquela noite, foi convidado para tomar um ch com o dono do cassino. Quando saiu, Peter viu Khosta cado na sarjeta ainda meio grogue e ambos descobriram que tomar um ch com o dono do cassino era ser drogado e roubado pelos seus capangas. Do lado de fora, Telus e Cronus cuidavam dos cavalos. Como a idia era no chamar a ateno, acharam que um elfo e um ano dando sopa por ali seria meio bandeiroso. Mas, o sossego dos dois foi interrompido por gritos femininos que no faziam jus aos gritos ouvidos at agora na vila. Correram para ver o que era e acharam um centauro que aparentemente no sabia ouvir o no de uma mulher. E foi um NO proporcional s intenes do centauro, heim! Telus j no derramava sangue de ningum fazia dias e resolveu separar o homem do cavalo com sua espada ali mesmo. Cronus, na retaguarda, sentiu movimentao por perto. Os gritos devem ter sido ouvidos distncia. Um centauro no era uma criatura to difcil de derrubar quando voc conhece as fraquezas de um cavalo. Telus j tinha perdido um ou outro cavalo em seu stio sempre da mesma maneira. Perna quebrada. Por que seria diferente com um centauro? Foi onde atacou, direto na pata dianteira, tirando-lhe o equilbrio e jogando-o ao cho. Mas o que matou o eqino mesmo foi o golpe direto no pescoo. Nem deu tempo de Cronus ajudar... ou de avisar para parar, pois o local estava cheio de testemunhas. Eles mataram o Dacascus!!! Maldito ano! gritou algum no meio de algo que parecia ser o incio de uma turba enfurecida. Cronus pulou na direo da jovem e a tirou dali num nico salto, chegando ao telhado. E o elfo est raptando sua esposa! VAMOS MAT-LOS!!! L de cima Cronus conseguiu ver Telus se debatendo em pancadas no meio de vinte furiosos moradores doidos para arrancar seu couro. Por sorte, quem tinha acabado de ser expulso de um bar era o ex-centurio Alambique, que reconheceu o amigo de longe (reconheceu porque estava mamado, se estivesse sbrio talvez no lembrasse) e, mesmo cambaleando, subiu num cavalo roubado e partiu pra cima da muvuca. No telhado, a mocinha em apuros no parava de gritar, motivo de quase arrependimento por t-la salvo. Resistindo a vontade de jog-la l de cima, Cronus jogou uma rede na turba, imobilizando parte dela. A cavalo, Alambique passava sem parar, Telus se segurou na cela e os dois deixaram aquele beco pra trs. Todos se reuniram na sada da cidade e de l correram sem pensar duas vezes, mas j sabendo que o vulco de Ghor era a menina dos olhos do Baro. Como eu disse, era uma histria que merecia ser contada. E o Khosta promete at hoje que voltar quele cassino para tirar sua forra!

CAPTULO III - O baronato contra-ataca Chamei todo mundo aqui na tenda pra no ter que falar duas vezes. E j terceira vez que eu vou repetir a mesma histria!!! Calma, Khosta, o que voc est dizendo at uma boa ideia, mas temos que decidir antes sobre o funeral de Lerandra apaziguou Miranda. Cronus pediu a palavra: Olha, sobre o funeral: no poderemos fazer aqui em Argos. Eu tomei a liberdade de olhar os pertences dela e achei um braso de famlia. Esse braso est na sua espada e ornamentos de roupa tambm, eu s no sabia de que famlia era at ver o seu livro de magia. E voc vai falar ou vamos ter que morrer pra saber? Silncio constrangedor em volta de Telus: O que foi? T, desculpa... Boooom... Lerandra filha do chefe do cl mais importante de lfheimr, nossa terra natal, o cl da Flecha Ligeira. O que isso quer dizer, Cronus? Perguntou Alambique, num raro dia de sobriedade. como se ela fosse uma princesa. E sendo filha de nosso lder, eu me sinto no dever de lev-la de volta para ter um funeral altura. Acho que no poderei ajudlos aqui na ilha. Todos ficaram surpresos. Lerandra sempre foi altiva, mas nunca imaginaram que ela fizesse parte da realeza ou algo assim. Mas ficaram mais surpresos ainda quando Telus se levantou e disse: Eu vou com voc, orelhudo!. O silncio se fez presente, mas, desta vez, sem constrangimento. S espanto mesmo. Mas... voc ... Voc um ano. Eu no sei se posso te levar at minha... Eu no preciso entrar na sua cidade, s vou contigo at a divisa, at as muralhas ou at as cerquinhas que separam lfheimr do resto do mundo, sei l... S para garantir que ela chegue at sua terra natal em paz. Ah, Telus, meu velho, eu sabia que voc gostava dela! cumprimentou-lhe Peter Paul com um tapinha nas costas. Quer saber, eu tambm irei! se animou Alambique. Khosta voltou a pedir a palavra: Espera, espera! Antes que todo mundo v, deixa eu explicar mais uma vez o que precisamos fazer por Argos... e jogou a sacola de platina na mesa. Vocs j se perguntaram por que o seu precioso Csar permitiu que esse Ricardus sei-l-doque se auto-proclamasse baro daqui?

Ele no permitiu! respondeu Alambique. Mas tambm no fez nada a respeito... H mais de um ano que o Baro faz o que quer e nenhuma Legio de Titnia tomou conhecimento. Pois aqui, meus estimados amigos, est um bom motivo pra ele tirar aquele traseiro cabeludo do trono e mandar um monte de galeras cheias de titanianos para c: grana! Arame! Bufunfa! Platina!!! Precisamente, meu bvio Peter Paul. Miranda emendou e esclareceu o plano do seu expupilo: Entendo. Khosta, eu confesso que isso muito inteligente. Ao invs de ficarmos aqui nos digladiando com as Armaduras Fantasma que no param de fazer ataques s vilas, podemos fazer a diferena conseguindo o apoio do Imperador Tibrius I. Ele, digo, o seu governo que vai lucrar com a explorao dessas minas. E vai fazer questo de depor o Baro o mais rpido possvel finalizou Galilia. , parabns! Acho que podemos esquecer aquela histria de que o senhor ficou escondido durante a batalha dentro do vulco. Senhor est nos Campos Elsios, loirinha, pode me chamar de Augustos! disse o mago cutucando a freira com cotovelo. ? E vamos esquecer tambm todas as vezes que encontramos tropas de Armaduras Fantasma na floresta e o senhor Khosta subiu numa rvore enquanto a gente levava porrada no cho? o ano tinha boa memria... Ok, ok, voc exps o seu ponto, Telus... Miranda ia continuar algum assunto quando a sineta de JJ tocou alertando todo o acampamento de perigo. Do lado de fora, uma sombra negra sobrevoou o vale, gelando o sangue de Telus e Peter: UAU... um... um... Um no, aquele. ALGUM ME ARRUME UMA ESPADA!!! Gritou o ano, sedento por vingana contra o drago que quase arrancou suas peles com cido no castelo de Irys. Preocupada, Freira Galilia ordenou que sua pupila, novia Matiana, tirasse os civis do acampamento, enquanto Peter e Alambique procuraram algum ponto onde pudessem subir para atacar com suas flechas. O grupo j tinha sido surpreendido por ataques das Armaduras Fantasma antes e j tinha um sistema de defesa, mas no esperavam uma investida vinda do alto como aquela. A Ilha de Argos no tinha o histrico de ataque de drages. Essas criaturas geralmente habitavam grandes cadeias de montanhas ou florestas fechadas. Cronus jogou uma espada para Telus e se afastou do campo de batalha. Khosta, saindo da cabana podia, mesmo sem magia, ouvir o que pensavam seus aliados. Iria ele abandonar o acampamento com os demais? Se esconder numa barraca? Subir numa rvore? Talvez Galilia tivesse a resposta para as dvidas do mago. Ela foi a primeira a entrar em combate. No com armas nas mos, mas com sua f. F na boa luta e na vitria dos justos que ela manifestava com um mantra de coragem em forma de msica.

O drago baixou a altura e, observando o centro, pde fitar o ano nos olhos e delinear seu alvo. Baixando uma das asas ele mudou o rumo e desceu com o pescoo esticado e os dentes a mostra. Ele vai atacar!!! gritou Alambique atirando flechas em cima do bicho. A arma de Peter era uma besta de pequeno porte, arma de nome jocoso que lhe rendia muitas piadas infames. Mas quando ele fez mira na criatura, viu algo que lhe estalou uma centelha: a coleira de platina. A fora do vento que o rasante do drago deu no acampamento fez voar barracas pra todo o lado, atrapalhando a mira dos demais arqueiros e lanceiros. Os que acertaram mal podiam ver se as flechas chegaram a transpassar suas grossas escamas. Como se possudo estivesse, Telus permaneceu no centro do acampamento enquanto o gigante alado vinha em sua direo. Khosta, faa aquele feitio dos raios novamente!!! gritou Miranda: Sem responder, ele saca de seu livro e procura algo ali, mas nada que viesse a tirar da manga chegaria a tempo de salvar o ano daquele primeiro rasante. O drago atravessou todo o acampamento em segundos, jogando para o alto tudo o que no estivesse preso ao cho. Ele no passou sem levar flechadas e uma carga de setas de energia das mos mgicas de Miranda, que aparentemente, de nada adiantou para cessar ou atrasar seu ataque. E quando a poeira baixou, viram que Telus no estava mais ali de p. E nem cado. Cronus saltou na direo do drago com espada em punho e continuou subindo sem parar. O elfo est voando!!! observou Galilia. O ano tambm! completou Alambique, vendo o amigo segurando com a mo a espada cravada abaixo da asa do drago e segurando com a outra mo uma escama para no cair. Com os olhos avermelhados, o drago deu a volta na clareira pra fazer um novo ataque. L em baixo Peter gritou Teeeelus, a coleira!! Voc tem que tirar a coleira dele!!!. L de cima, o ano no ouviu nada alm do vento em suas orelhas, mas Cronus escutou a mensagem, mesmo sem entender. S que ele se viu sem outra opo alm de sair do caminho do lagarto que foi na direo dos arqueiros l em baixo. Telus escalou o drago como se estivesse fazendo rapel, para tentar chegar em seu pescoo. No para tirar nenhuma coleira, mas para furar sua jugular, nica maneira que sabia para detlo. Sim, eu sei, Telus um grosso... Foi nessa hora que ouviu Cronus gritar enquanto voava ao seu lado: Voc tem que tirar a coleira!!!! Atacar a moleira??? TIRAAAR A COLEEEEIRA!!! O acampamento se preparou para mais um vo rasante, quando Miranda deu o grito de debandada: Ele vai cuspir cido! Protejamse!!!. Khosta fez sua ltima cartada lanando vrios dardos de energia, todos direcionados na coleira do drago, que permaneceu ali presa. Porm, o reflexo luminoso no deixou de chamar a ateno de Telus que continuou subindo em direo cartida do bicho. Furioso, o

drago negro castigou os arqueiros l em baixo com uma nuvem de cido lanada de sua bocarra. Dardos mgicos? S isso? Cad aquele raio de antes? ironizou Miranda. Khosta nada respondeu. Aqueles que no correram da chuva cida viram o drago subindo novamente para fazer uma nova manobra. E em suas costas, Telus, de espada na mo cravando sua lmina com toda a fora... na coleira de platina. Os olhos brilhantes e avermelhados do drago se arregalaram e ele se sacudiu jogando o ano pra cima, que, a seguir, caiu para o nada com a espada na mo em queda livre. Cronus, mesmo em velocidade inferior, tentava acompanhar o vo de perto e, vendo a cena, tentou alcanar o amigo: Minha mo segura minha mo! gritava o elfo. EU CONSEGUI, HUHH... O drago continuou seu vo, desta vez para longe do acampamento, sumindo no horizonte, enquanto Cronus desceu em seu vo com um pesado e desgrenhado passageiro. Com uma espada na mo e um pedao da coleira de platina na outra. Voc est bem, seu louco? perguntou Miranda. Se eu estou bem? Eu derrotei um drago, o que voc acha? HUHH... O acampamento estava cheio de pessoas feridas, umas mais, outras menos, mas no houve nenhuma baixa. O contra-ataque do Baro e de seu bruxo trara no deixava dvidas de que eles no tinham morrido no desabamento. Mas tambm no levaram nenhuma vida naquele dia. Obrigado pela carona e pela espada, orelhudo! Disse Telus ao devolver a espada a Cronus. Sem problema. Acho que Lerandra teria gostado de v-lo usando sua arma de famlia. Sem palavras, Telus s arregalou os olhos. No admitiria que foi uma honra, mas nem precisava. Pra ele, o Sol voltou a brilhar. Mesmo que no tivesse uma cabea de drago como trofu. Sim, sim, eu sei, eu sei. Telus um grosso... ***** Dentre os feridos no ataque do drago negro, estava um aspirante a mago aprendiz, um jovem loiro chamado Kamphio, que no se retirou do campo de batalha nem por um minuto. Miranda trocava seus curativos, quando Khosta chegou para visitlo na barraca: Epa, eu no queira atrapalhar, volto outra hora. No precisa, Khosta. Eu j estava terminando. disse a maga. Ok... Voc sabe, ele quase morreu em combate. Mesmo sem feitios ele permaneceu no acampamento. , eu vi... eu ESTAVA l tambm! respondeu Khosta j mudando o tom. E por que no usou aquele raio? O raio que derrubou as vigas da mina do Baro? Era muito mais poderoso do que aqueles dardos mgicos.

porqueunum... Como? Porque eu... Olha, o Peter me deu a dica, o drago era o mesmo que os atacou antes. E, como o lagarto na caverna, ele possua um colar de platina. Eu j ouvi falar desse encantamento. Mas nunca soube de algum que tivesse sucesso usando platina pra controlar drages. Isso pode ser s uma teoria. responde Miranda enquanto termina outro curativo no aprendiz. Eu sei, pode ser viagem da minha parte. Mas o drago parou de atacar, no parou? Foi S por isso que no usou o raio? ... por isso. Por isso e porque eu no tenho mais esse feitio! Satisfeita? Miranda terminou os curativos e, aps uma pausa, mudou o seu tom de conversa: Olha, Khosta, sinto muito se eu o ofendi em algum momento com as minhas perguntas. Como Galillia e Peter confiam em todo mundo por aqui, achei que era hora de comear a abrir o olho contra novas surpresas. E, uma vez que fui eu quem trouxe voc para o acampamento, me sinto responsvel por sua presena, mesmo no sendo mais sua mestra. Voc chegou aqui dizendo que no tinha experincia prtica com magia e que queria ajuda para entender o seu livro. E no meio da batalha apareceu com uma magia nova que nem eu mesma sei fazer ainda!!! Est bem... De um desconfiado para o outro, eu entendo suas dvidas. E concordo que voc merece uma satisfao. Mas apenas voc! O mago olhou para os lados como se estivesse preocupado em ter algum por perto e continuou: Uma noite antes do ataque ao vulco, eu tive um sonho. Ou pesadelo, sei l! Estava num castelo que no conheo, cercado por quadros e esculturas de drages. L, uma dona muito bonita de longos cabelos negros e uma coroa, eu acho, desceu de uma escada como se viesse flutuando em minha direo. Ela me cumprimentou em minha lngua natal e me mostrou algo... Opa, opa... Ser que eu preciso ouvir o resto disso? No que voc est pensando! E bom que isso fique entre ns pra eu no ouvir gozao. Era um pergaminho com o ttulo Raio de Ao. Pediu para que eu decorasse com cuidado, pois era um feitio poderoso, e que o usasse num momento que achasse apropriado. No devia anotar nem passar adiante, apenas decorar. Uma mulher de cabelos negros e coroa? No tem ningum da nobreza aqui na ilha. Quem seria ela? Sei l.... S sei que eu decorei, usei na caverna e logo depois sumiu da minha cabea. Tentei anotar o que me lembrava depois, mas no vinha nenhuma palavra. O jovem pupilo de Miranda que ali descansava levantou uma plpebra e disse em voz bem baixa: Se o Khosta teve todo esse trabalho pra inventar essa histria s pra no te deixar sem uma explicao, ele merece continuar no acampamento... Miranda teve que rir do comentrio. Khosta preferiu sacudir a capa feita de pele de urso branco e saiu pela direita, dando boa noite aos dois. *****

Naquela madrugada, a fogueira no centro do acampamento continuava alta. Todos queriam ouvir do prprio Telus a histria sobre como ele espantou o drago dali. Chegaram a pensar em mover o acampamento daquela clareira, mas pensaram bem e decidiram ficar. Pela teoria de Khosta, j provada duas vezes nos ltimos dias, dificilmente o drago voltaria, j que estava livre do controle da coleira de platina. Aos poucos, todos foram se recolhendo e ali ficaram apenas Telus, Alambique, Peter e Cronus. O bardo que acordou todo mundo pela manh cantava algumas modinhas folclricas para alegrar os que esticavam a noite mais um pouco. Alambique era um, que esvaziava mais uma garrafa de vinho ao lado do ano. Ento vocsh vai pra Alzheimer? Cronus o corrigiu duas vezes: lfheimr. E eu ainda no sei se ele poder entrar l! L vem voc com esse papo de eu ser barrado. Se eu contar pros seus amigos de calas verdes que eu espantei um drago enquanto voc voava como uma fadinha pela floresta, eu acho que vo barrar voc, HUhh!!! VOAVA COMO UMA FADINHA? Fui quem te avisou de que... Opa, l vem, nossha deshtemida anfitri, Lady Miranda: Todosh de p! Alambique se levantou e fez reverncia a Miranda, que chegou e o ignorou como sempre. Era o finzinho de inverno e a maga estava mais charmosa do que de costume com um belo manto bem grosso que a cobria por inteiro: Ol, senhores. Podemos conversar? Khosta e Galilia esto vindo tambm. Algum problema, Miranda? No, Peter, s acho que essa pode ser nossa ltima noite aqui, juntos. Seria bom conversarmos. O mago e a freira chegaram de braos dados. O frio no assustava Khosta, ele veio de terras cobertas de gelo o ano todo situadas ao distante oeste deste continente. Uma ilha gigantesca, no colonizada ainda, mas que pertence ao Reino Avaloniano. J falamos um pouco sobre as rixas entre os Imprios de Titnia e Avalnia, no? O primeiro era um imprio poderoso e de carter expansionista. Sua meta era colonizar o mximo de pases que pudesse, absorvendo suas culturas e levando como bandeira a Pax Titaniana. Algo do tipo voc pode desfrutar de nossa paz ou brigar conosco. Diferente deste povo belicoso e de sangue quente so os avalonianos. Magia o sangue que corre por suas veias. Enquanto qualquer um pode acumular fama e fortuna, s aquele que domina a fina arte do oculto poder reger a si mesmo e aos que o cercam. Sabendo disso, talvez faa mais sentido o jeito com que Khosta cumprimenta a todos quando chega beira da fogueira: Boa noite, mulambada! Galilia comeou a conversa: Hoje de manh ns conversvamos sobre a idia de Augustos de avisar ao Imperador sobre as minas de platina aqui em Argos. Mas Cronus nos alertou sobre o histrico nobre de Lerandra e da importncia de leva-la para casa. Para que fique ao lado de seus antepassados em seu solo sagrado.

Eu tomei a liberdade de fazer um feitio para preservar seu corpo para a viagem. disse a maga. como um embalsamento mgico. Isso a preservar at vocs chegarem a lfheimr. Vocs? U, voc no vai, Miranda? esse o motivo da reunio, Telus. Algum precisa levar essa platina at o Csar. Mesmo que ele no nos receba, precisamos tentar. Teremos que nos dividir. Foi o Khosta quem teve a idia, mande ele ir! , esperto, um avaloniano querendo uma audincia com o Csar? S se for na arena, com os lees! Cronus e Galilia so indispensveis na viagem. Telus e Alambique iro para cuidar da segurana. Eu e Peter podemos ir at a capital. E voc, Khosta, j decidiu se ir com eles? Eu vou com eles de barco at o continente. De l, acho que seguirei o meu caminho... Galilia esticou a mo mostrando um copo vazio para Alambique. Ele entendeu e encheu o copo de vinho. Depois de um pequeno silncio ela brindou noite: Voc que sabe, Augustos. Mas de qualquer jeito, espero que saiba que no conseguiramos chegar to perto da vitria contra o Baro sem a sua ajuda. Alis, sem a ajuda de nenhum dos presentes. Amanh partiremos para longe, em diferentes direes. Eu e Telus somos os nicos aqui que nascemos em Argos e agradecemos a coragem de todos. Mal posso esperar para repetir esse brinde quando estivermos novamente juntos. A Argos e seus corajosos defensores! Todos fizeram coro com a amiga freira, brindando e bebendo por mais algumas horas. Felizes, no pela derrota do Baro, mas pelo simples fato de estarem juntos. ***** Ele mal se deitou e j comeou a roncar. Foi quando uma voz ao seu lado ameaou seu sono: Telus... Teeeelus... Zzzzzzzzzzzzzzzz Telus... TELUS!!! O que? Como? Onde? Tava dormindo? Que diabos voc quer, Peter Paul? Eu no quis acabar com o clima l fora... Mas eu precisava te falar que eu no vou com a Miranda at a capital. Como assim, no vai? Vai com a gente pra terra dos elfos? Tambm no. Acho que est na hora de voltar pra casa. Eu no sei lutar direito, no conseguiria tomar conta de Miranda se ela precisasse. E dei sorte de no morrido at agora como Lerandra. Eu ainda tenho muito o que aprender e na minha terra tem gente que pode me ensinar a ser um guerreiro de verdade. Da, quem sabe eu volto para dar uma coa no Baro! Bem, uma pena! Voc muito irritante... Mas se no fosse, talvez eu no tivesse te seguido. Foi uma poca divertida a que passamos juntos. Voc me faz rir, guri!

O ano esticou a mo em sua direo e Peter pegou um embrulho em seu lado. Dentro dele, uma espada. Voc perdeu sua espada na caverna ento pode ficar com a minha. Eu compro outra l em Leemyar, minha cidade natal em Celtria. disse o rapaz. Obrigado, guri. Eu... bem... Voc j avisou a Miranda? Vou avisar pela manh. Mas j falei com Alambique, ele vai no meu lugar com ela para a capital de Titnia. Hu-H-H!!! O Alambique vai no seu lugar? Eu quero ver a cara dela quando souber! Como eu disse guri: Voc me faz rir... Hu-H-H!!!

Captulo IV - Uma longa viagem pela frente Logo pela manh, Sanoj, o fiel cocheiro de Miranda, apareceu no acampamento. Eles precisavam de um transporte maior pra levar o corpo de Lerandra atravs da ilha para pegar o barco no porto em Nasthia. Diferente das aventuras que viveram at agora em Argos, essa era uma empreitada sem muita glria. Principalmente porque teriam que viajar inclumes com o corpo da herona, pois ainda havia muitas patrulhas de Armaduras Fantasma por a. Sem grandes despedidas, chegou a hora de Telus, Cronus, Galilia e Khosta partirem. Para trs ficou Miranda, que resolveu dissolver o acampamento para a prpria segurana dos ocupantes. Como ela mesma ir em breve viajar para a capital com Alambique, mesmo que a contra-gosto, seus comandados ficariam em perigo caso o Baro resolvesse atac-los. Peter Paul ainda ficaria mais um pouco ajudando no que podia. Ou tentando no atrapalhar. Era um clima um pouco melanclico, j estavam todos ali juntos h vrios meses. engraado como algo ruim como um governo tirano tenha conseguido juntar tanta gente boa. O bardo brindou a todos com uma cano da despedida. Por sorte, Telus j estava longe para descer da carroa e se despedir do chato trovador. Voc sabe como chegar l, cocheiro? Seu Telus, pense num monte de vezes que um cabra j possa ter feito esse trajeto? Pois eu j fiz o dobro de vezes! Falando nisso, cabea chata, ningum sabe que voc veio aqui, sabe? intrometeu-se Khosta que ia l atrs escondido com os outros. No, pela caridade, sigilo absoluto! E voc sabe se tem algum barco que v para o pas de Cervantia? perguntou Khosta num tom mais baixo. Hmi, com certeza se no tiver um, tem dois.

Telus entrou na conversa: Khosta, que mal lhe pergunte, o que voc veio fazer aqui no Imprio de Titnia, to longe da sua terra? Hummm, olha quem fala! A terra dos anes bem longe daqui tambm. respondeu o mago com outra pergunta. Mas eu nasci em Argos! Qual a sua desculpa? Cronus foi mais um a se intrometer: Deixa eu adivinhar. Veio em busca de fama e fortuna! Todo mundo vem a Titnia em busca disso. a terra das oportunidades! Onde o homem comum pode se fazer sozinho da noite pro dia. Isso parece coisa de pacote turstico disse Galilia l atrs. Pois , terra das oportunidades... ironizou Khosta. E c estamos ns, os heris libertadores de Argos, sacolejando numa estradinha de barro sem nem uma almofada no banco de trs... Sem ofensa, cocheiro. EPA, no fala mal do meu pas na minha frente, mago! esbravejou o ano. E voc enrolou, enrolou e no respondeu minha pergunta. Por que no tentou a sorte no seu pas? Como mago, teria muito mais chance. J ouviu falar em oferta e procura? respondeu Khosta. No... Humm... E Em terra de cego, quem tem um olho Rei? Ah, entendi disse Cronus. Em Avalnia voc teria muito mais dificuldade de se dar bem porque l teria muita concorrncia mgica. Acho que foi um dos motivos pelo qual eu sa da terra dos elfos e vim pra c. A busca pela diversidade! E vocs ainda precisam comer muito feijo com arroz, Hu-H-H! avacalhou Telus. , Telus, se a sua percepo entendeu assim, j t de bom tamanho. avacalhou mais ainda Khosta. Tamanho? O que quer dizer com isso? Sanoj interrompeu o papo antes que virasse uma briga, pois teriam que pagar um pedgio na ponte a frente. Pedgio do Baro, no vamos nos esquecer, uma prova de que a sombra da tirania estava longe de deixar Argos mesmo com a sua primeira derrota. Khosta, paga o homem! disso Telus em tom determinado. EU? Por que eu? Eu nem fao parte mais da comitiva oficial, s estou de carona at o porto. Por que voc ENCHEU O RABO DE PLATINA na mina, por isso!!! , fala alto mesmo pra aparecer um monte de Armaduras Fantasma! E, antes de mais nada, eu deixei quase tudo com a Miranda para ela levar pro seu Csar, t bom? O mago, mesmo relutante, pagou o pedgio. Era uma ponte pequena sobre um crrego que separava duas regies. Dali em diante ainda tinham uns dois dias de viagem at o porto. De fato, chegariam mais rpido se no estivessem de carroa. Cronus passou todo o tempo ao lado do corpo. Pareciam mais unidos agora do que quando ela estava viva. Lerandra era muito reclusa e Cronus um pouco tmido. Mas agora ele era tudo que ela tinha, o nico elfo a quilmetros. De repente, era como se eles fossem da mesma famlia.

***** Uma chuva fina brindou a comitiva molhando especialmente Telus e o cocheiro que ficavam na frente. L atrs, muito melhor instalados, os trs passageiros tentavam passar o tempo conversando. Tem algum esperando voc em Cervantia, Augustos? Por mim? No, Galilia. No h ningum esperando por mim em lugar algum... respondeu o mago, tentando disfarar uma solido qual j estava acostumado, mas que sempre o incomodou. Ento o que vai fazer l? Poderia vir conosco at a terra dos elfos! Cronus se manteve calado. Sabia que corria o risco de levar um caro de seus compatriotas ao tentar entrar com um ano na capital. E levar um mago avaloniano no ajudaria em nada. Antes que Khosta respondesse uma ventania balanou a carroa. O que que houve a fora, meu amigo? T dormindo no ponto? disse o mago. Telus respondeu j pegando a espada: Fiquem quietos!!! Algo passou por ns vindo l de trs, mas a chuva est muito cerrada, no deu pra ver o que foi! Cronus saiu da carroa e subiu na maior rvore que avistou. Telus sacou a sua nova espada e sentiu um padro nisso tudo. Fiquem na carroa, eu vou descer e depois voc toca os cavalos pra longe daqui, Sanoj! aquele drago de ontem, no ? Telus no se atreveu a responder ao mago com medo de ser mesmo verdade e desceu em silncio. O cocheiro obedeceu e acelerou pela estrada. O que est havendo l fora? Loirinha, acho que aquele drago negro j andou ouvindo as histrias sobre Telus, o domador de drages e no gostou. Telus, no meio da estrada olhou pra cima em busca de uma pista. Se o drago se guiasse por faro, coisa que ele, em sua ignorncia, no tinha como saber, no conseguiria ach-lo com a chuva. Ento teria que v-lo. Infelizmente, a carroa foi mais fcil de ser vista. Maldio! resmungou o ano, correndo em direo aos amigos assim que viu o enorme drago negro dando um rasante em cima da comitiva. Mas antes que Telus chegasse perto e antes mesmo que o pobre cocheiro urinasse nas calas de medo uma exploso de luzes apareceu no focinho do drago, que mudou de direo na ltima hora. Foi quando Cronus apareceu no ar saindo de um feitio de invisibilidade e, com as mos ainda brilhando, disse em alto e bom tom: Voando que nem uma fadinha, n, flad%$#?!? O drago continuou em frente, mas agora na direo de Telus, que vinha correndo atrs da carroa. At agora, ano e drago estavam no 1 a 1. Cara-a-cara com seu inimigo, Telus de espada em punho, esperou pelo inevitvel desempate. Khosta e Galilia pularam da carroa ainda em movimento. A freira em direo do amigo ano, enquanto pedia a bno da vitria e Khosta... Bem, vamos dizer que tambm era a sua inteno. O drago pousou na frente de Telus e com as patas

dianteiras j anunciava o ataque. Telus, com a espada rebateu a patada que veio da direita, mas a da esquerda o jogou contra a rvore mais prxima. Khosta, j fora da carroa, abriu seu livro e comeou a conjurar algo quando uma adaga vinda de cima perfurou a pgina que lia precisamente em cima do feitio escolhido. Ele olhou pro alto em busca do atirador, mas antes de ver qualquer coisa, sentiu as mos queimarem. Instintivamente largou no cho sua nica herana que comeava a pegar fogo de dentro pra fora. Telus, atordoado e ouvindo os sinos da catedral de Titnia dentro da prpria cabea, procurou, ainda no cho, sua espada, mas dela s encontrou o cabo e um resto de lmina quebrada. E a sua frente, uma cabea do tamanho de um forno a lenha se posiciona tomando flego e se preparando pra uma cusparada cida. Era o momento para uma prece na secreta lngua dos anes. Mas Telus s teve tempo para dizer Dois a um pro drago negro. E logo depois sentiu caindo pela suas vestes de couro uma chuva de moedas de ouro e um machado que, na queda, se fincou no cho bem entre suas pernas abertas, quase lhe amputando as jias da famlia. Ele olhou para o machado... olhou para o que quase perdeu entre as pernas... olhou as moedas que rolavam no cho e olhou para cima, bem nos olhos do drago. E em sua mente pde ouvir Estamos quites, pequeno bufo!. Antes de Cronus chegar voando de espada em punho o drago negro toma impulso e se joga no ar, batendo suas asas que brilhavam com a gua da chuva fina e tomando seu rumo. TELUS! Voc t bem? O ano se virou para o elfo e encostou a cabea na rvore enquanto resmungava Continua um a um.... Galilia chegou logo em seguida pra ver se Telus tinha se machucado. Cronus, ainda voando, observava o drago sumindo no horizonte pela segunda vez na mesma semana. E de repente se deu conta de uma coisa: U, cad o Khosta? Deve ter subido em uma rvore... Ai... Fique calado, Telus, estou curando suas costas com uma beno. bronqueou a freira. No acreditando que o mago tenha subido mesmo numa rvore para se esconder, Cronus procurou em volta e achou os restos de seu livro chamuscado no cho. Teria o mago sido incinerado? Atingido por um raio? Sofrido combusto instantnea? Um grito mais a frente acabou com suas dvidas: SEU IMUUUUUUNDO!!!! A carroa j estava a pelo menos um quilmetro a frente e os trs ficaram ali tentando descobrir de que direo veio o grito: Acho que veio daquele riacho direita! disse Cronus, sempre impulsivo, voando na frente. Vamos segui-lo, Telus. Podem ser Armaduras Fantasma. No vai pegar seu machado? Meu machado... Ah, sim, ele meu agora, no ? respondeu Telus ainda de olho nas vrias moedas de ouro no cho Vamos ver com o que esse avaloniano magrelo se meteu! Cronus seguiu voando entre as rvores e conseguiu ver Khosta, possesso da vida, gritando improprios em direo ao tal riacho.

VOC TEM ALGUMA IDIA DO QUE FEZ??? Aquilo era tudo o que me restava da minha famlia, seu escroooto!!!! Cronus observava sem nada entender. E Galilia e Telus, um pouco mais atrs, idem. Mas Khosta via, flutuando num facho de luz negra, um velho (bem velho, alis) conhecido: o bruxo aliado ao Baro. Avaloniano, aquele seu raio na caverna foi uma proeza e tanto. Eu no posso mais correr o risco de voc conjur-lo de novo por a. Alis, como um verme maltrapilho como voc conseguiu um feitio assim? Vocs esto recebendo ajuda de algum? Khosta no respondeu, mas comeou a conjurar baixinho um novo feitio. Os outros trs, no enxergando o bruxo ancio, comeam a se aproximar: Ficou maluco, Khosta? Tava falando com quem? COM ELE!!! Gritou o jovem mago arremessando dardos de luz em direo ao inimigo. Os dardos voaram e comeam a contornar o nada, como pirilampos voando em zigue-zague em plena luz do dia. Eles no podem me ver... nem ouvir. Eu no os ataquei. Ainda. disse o velho bruxo. E do fundo do lago, um redemoinho de lama negra se formou assumindo uma forma humanide de triangulares olhos vermelhos. Foi a que o bruxo apareceu com seu manto negro cheio de traas e a cara enrugada. O VELHO DA TORRE!!! Apontou Telus com a mo esquerda, sendo surpreendido pelo seu machado que comeou a tremer. No s isso. O machado brilhava e comeava a soltar fascas. E depois se atirou em direo ao velho... com Telus junto. Mas que p... Olha a boca, Cronus... repreendeu Galilia que comeou uma orao "Mestres e protetores! Imortais e deuses! Livrai-nos das maldades, quebrantos, dissabores e dos perigos! Livrai-nos! Livrai-nos! Livrai-nos!". Uma aura de pureza os envolveu antes que os monstros de lama chegassem perto, mas Telus j tinha voado em direo ao bruxo que, espantado s teve tempo de desaparecer antes de ser cortado ao meio pelo ano alado. O QUE ISSO??? Com mil diabos, voc quem est fazendo isso, Khosta? gritava Telus sem conseguir se soltar do Machado Voador. No cho, os seres de lama continuavam tentando avanar pra cima de Cronus, Khosta e Galilia sem conseguir ultrapassar a barreira. Aquele imuuundo tem que estar aqui perto... Seno os monstros teriam se dissipado! No ataquem as criaturas de lama! Elas nada podem fazer contra nossa f. alertou Galilia. Diz isso pro Telus! O elfo aponta pra cima e todos vem Telus retornando com o machado voador. No cho, o ano guerreiro retomou o controle da arma e se tornou o alvo dos dois. Vamos ver se alm de bom de vo, voc tambm bom de corte! Telus deu o primeiro golpe e quase entrou pela barriga do homem de lama. Com o movimento de retirar a arma, ele dividiu a criatura que, agora em duas partes, rastejava no cho sem representar ameaa alguma. Prximo! disse o ano, com o machado muito bem seguro com as duas mos. Galilia se virou para Khosta e, com a voz rouca e os olhos avermelhados sussurrou:

Vocs so cheios de surpresas, mas no so os nicos. Cuidado com a ajuda que esto recebendo. Ningum faz nada de graa... e voc sabe disso, no , avaloniano? Sei. Sei tambm que a sua adaga de fogo vai entrar pelo seu pescoo AGORA se voc no sair de dentro da freira! Cronus viu a cena e gritou para que Khosta parasse, mas foi atacado por trs pelo segundo ser de lama. O crculo foi quebrado. O corpo de Galilia caiu inerte, sendo amparado por Khosta antes de chegar ao cho. Telus, muito confortvel com seu novo brinquedo, arrancou a cabea do homemlama enquanto Cronus mirava nos ps. Divididas em uns seis pedaos, as duas criaturas eram chutadas e picotadas pelos dois enquanto Khosta saa com a freira ainda desacordada, mas livre da possesso, nos braos. Ai, ai... Vocs dois podem cuidar desse bolo de chocolate a sozinhos. Eu espero vocs l na estrada pra alcanarmos a carroa. ***** Galilia s acordou no dia seguinte, na carroa, a poucas horas de chegarem na vila porturia de Nasthia. Khosta lhe contou o que aconteceu e ela ficou sem jeito por ter sido to facilmente dominada. Khosta assumiu uma mea-culpa, pois sabia que o bruxo fez isso para provoc-lo. Que bom que acordou, Galilia. Voc deve estar faminta, vamos parar pra fazer uma boquinha? Aquele bruxo me deixou com um bolo atravessado na garganta, mas eu poderia comer algo, sim. Obrigada, Cronus. Ei, tem gente acordando a atrs, ? Eu e o Rasga Cus estvamos ficando preocupados. Rasga o que? perguntou a freira. Ele deu nome para arma, no liga no... explicou Khosta. DEI NO, ele que se chama assim, ele me disse! Desculpe, Telus, mas at agora eu no ouvi seu machado dizer nada! Pois pra mim, Cronus, ele fala at demais. Ele mais tagarela que o Peter Paul! Enquanto Telus mimava seu machado, Khosta pensava no que seu enrugado inimigo disse. Sobre ter cuidado com quem os est ajudando. Teria ele se referido a misteriosa dama de negro de seu sonho? E, se o bruxo era to poderoso quanto se fez parecer, porque no os eliminou ali mesmo? Senhor Augustos, eu sinto muito por ter perdido seu livro de famlia. Corta essa de senhor, loirinha. Mas obrigado. Como eu no nasci ontem, tenho tudo anotado em alguns papis escondidos, no cheguei a perder contedo. S perdi mesmo a mensagem manuscrita que me deixaram... Que meus pais me deixaram. Antes de ir, Miranda me passou novos feitios que posso desenvolver do meu jeito. E comear meu prprio livro, talvez. Acho que em Cervantia conseguir comprar um grimrio to bonito quanto aquele.

Bem... Eu no vou mais pra l. Algo me diz que aquela no foi a ltima vez que aquele velho bruxo cruzar nossos caminhos. E vai ser bom ter aliados para me ajudar a apertar aquele pescoo magro. Galilia e Cronus sorriram enquanto Telus cochichou para Sanoj l na frente: Esse cara gosta de fazer uma onda mesmo! Eu sabia que ele ia o tempo todo! Pense num homem cheio de gueri-gueri! ***** J era noite num certo castelo quando a rainha chegou e, de pronto, recebeu o recado deixado por sua fiel oraculista. Na companhia da chefe da guarda real, ela desceu uma longa escadaria e, numa sala bem guardada, pde ver com seus prprios olhos uma grande runa com doze smbolos gravados. Um deles se acendeu hoje tarde conforme previsto, majestade. Foi o machado. A bela rainha sorri e agradece a sua divindade.

CAPTULO V- De Argos para o mundo O porto de Argos ficava em Nasthia, uma vila mais desenvolvida do que o resto das comunidades da ilha. Mesmo assim, ainda era um lugar pequeno, pouco maior do que uma vila de pescadores. Digamos que, se voc acordasse depois de uma bebedeira em um navio que tivesse atracado l, no faria a menor ideia se estava dentro do Imprio de Titnia. Poderia ser qualquer lugar que falasse latim, o que incluiu quase todos os portos do continente. Alis, talvez voc esteja curioso para saber um pouco mais sobre o panorama histrico-poltico naquele ano de 1001. Os leitores costumam ter essa curiosidade. As leitoras, nem tanto. Um nico continente, que ns chamamos de Mundo Civilizado, abrigava os pases mais desenvolvidos daquela poca. Entre o j citado Imprio de Titnia e o Reino de Avalnia que ficava numa grande ilha a oeste do continente, estava o pouco desbravado Reino de Celtria, terra de antigos castelos e misteriosas florestas. Na ponta oeste desta faixa continental, a caliente e sempre amistosa Cervantia, paraso mercantil das pequenas empresas e dos grandes negcios. Rumando ao norte, temos as montanhosas Terras das Rochas Geladas, lar dos reclusos anes, as verdejantes florestas-cidades de lfheimr, a terra mgica dos elfos e outras naes que, tirando uma ou outra pendenga sobre fronteiras, vivem hoje em paz, graas aos trabalhos constantes de diplomacia. Eu no vou me alongar neste pargrafo, pois teremos tempo para falar sobre esses pases no futuro. Pois bem, a vila de Nasthia, mesmo no tendo a pomposa arquitetura cosmopolita

da capital titaniana era, pelo menos, a mais heterognea em matria de raas da ilha. E recebia naquele dia vrios curiosos para uma exibio de luta de espadas valendo uma boa quantia em dinheiro. Foi sorte a carroa ter chegado naquele dia, pensou Telus. Com tanto movimento nas ruas ficava mais fcil para eles passarem desapercebidos, caso uma patrulha de Armaduras Fantasma aparecesse na cidade. O barco para lev-los at o continente para que pudessem seguir rumo a terra dos elfos s estaria disponvel dentro de dois dias. Sanoj e Cronus, que no saa de perto do corpo de Lerandra, trataram de arrumar um lugar para a carroa. Galilia foi atrs de uma estalagem para passarem as prximas horas. Telus e Khosta foram ver as passagens no porto. Era preciso saber tambm quantas moedas de ouro pagariam pelo silncio do capito j que teriam que embarcar com um corpo no identificado para o continente. Felizmente, o capito era de Cervantia, uma terra com um povo sempre aberto a negociaes. E ele j possua at uma tabela para esse tipo de situao: corpo de mrtir, 100 moedas; corpo de fugitivo da justia, 150 moedas; corpo de caloteiro, delator ou X-nove eliminado pela mfia 200 moedas. Uma vez resolvido este pormenor (graas s moedas que o drago despejou em cima de Telus), foram se ambientar pela vila. Logo deram de cara com um aglomerado de pessoas prximas ao estdio improvisado na praa central. Um palanque recebia algum lder local que discursava para meia dzia de transeuntes antes das apresentaes de luta do dia. Em Titnia, a poltica do po e circo era usada pelos lderes e muito bem aceita pela populao. E o Coliseu da capital era o palco mximo destes espetculos, que iam da luta corporal s lutas com armas at a morte entre escravos gladiadores. Todos, claro, sendo alvos de uma grande rede de apostas oficial. Mesmo um cidado livre poderia tentar a sorte nas arenas em busca de ouro e glria. Era o caso desta final de campeonato e Khosta j comeava a coar sua barbicha. Quer saber? Acho que precisamos ver essa luta de perto! Se est pensando em apostar as MINHAS moedas de ouro que sobraram, pode tirar o seu cavalinho da chuva. respondeu o ano com a mo na bolsa. Como voc pensa pequen... Her, veja bem: nem aquele bruxo maracuj-de-gaveta e nem o Baro vo deixar barato o que fizemos pra eles at agora. E com o Alambique longe, no sobrou nenhum guerreiro pra cuidar da nossa pele. Ou voc quer levar sozinho todo tipo de bordoadas daqui at lfheimr? Voc sugere que contratemos um segurana? E por que no? Concordar com Khosta era algo que Telus demorou muito a se acostumar. Mas no era uma m ideia. Se estes guerreiros chegaram final do campeonato, porque tinham valor. Em volta da arena, uma arquibancada lotada cheia de curiosos aguardava a luta principal. Antes, alguns pesos penas se apresentavam com espadas de madeira ou em lutas corporais. Khosta aproveitou para saciar seu vcio em jogos junto a um apontador de apostas:

Meu amigo, quem sero os carcamanos finalistas da luta principal? O desafiante um mercenrio titaniano da Ilha Constantine. Ele um principiante, mas derrotou todos os oponentes at agora. Vai enfrentar um titaniano mais velho da capital com tradio nos ringues de luta mano a mano. Ele era uma celebridade por l, acho! Era? E no mais? E o desafiante mais jovem, heim? Ta, aposto no mais novo. Qual o nome? No sei se o nome verdadeiro, senhor, mas se inscreveu como Shokozug de Constantine. Bota essas pedrinhas de platina aqui nele ento! He, he, he...

*****

Galilia terminou de fazer as reservas na estalagem e saiu em busca dos amigos. L fora, havia um rebolio maior do que quando chegaram pela manh. Na rua, as pessoas abriam passagem para algum e a primeira coisa que ela pensou foi que seria uma tropa de Armaduras Fantasma. De onde estava pde ver um cavaleiro de couraa negra, capa escura e longos cabelos da mesma cor. Estariam abrindo caminho para o Baro com uma nova armadura? Galilia nunca tinha visto o seu rosto e, at aquele dia, nem chegou a conhecer algum que tivesse visto. Arriscou a sorte e fico por ali no meio da multido que via o cavaleiro passar: Quem esse belo homem, senhora? perguntou a uma camponesa. No sei, mas deve ser da nobreza. Ele mesmo um pedao de mau caminho, no? Deve ter vindo por causa do torneio de lutas na praa. A rua daria na tal praa principal e o cavaleiro rumava em sua direo ignorando todos e abrindo caminho apenas pela sua presena. Galilia foi em busca de Cronus e dos demais. Nasthia no era mais um porto seguro.

*****

Na estrebaria, Cronus pagou por dois dias de espao onde poderia deixar a carroa e, dentro dela, sua preciosa carga em segurana. Sanoj se despediu ali do amigo dizendo ter na vila uma rapariga que iria visitar. Combinaram que ele voltaria daqui a dois dias para levar a carroa at o porto onde embarcariam as bagagens e depois estaria liberado.

Resolveu ficar ali por perto para ter certeza de que ningum entraria no celeiro alugado. Da, acabou ficando em uma barraca a cu aberto e pediu algo para beber. Lembre-se de que esse porto era uma rea mais aberta s raas no humanas e s por isso permitiram que ele se sentasse. Algumas horas se passaram e ele, j na terceira saideira, pede a conta para ir embora. Na sada, v um coroa oriental vestindo um fino manto e muito mal acompanhado por uma Armadura Fantasma falando com o dono da estrebaria. Maldito, j vai dar com a lngua nos dentes!, pensou. No teria tempo de achar os demais, ento teria que fazer algo. E rpido! *****

Na arena, as lutas preliminares divertiam a todos, quando Galilia conseguiu achar Telus e Khosta: O que que vocs esto fazendo aqui vendo essas barbaridades? Eu os procurei por toda a cidade! As barbaridades nem comearam, essas so s as preliminares. As barbaridades vo comear agora com a luta principal respondeu Telus. Fiquem atentos, o Baro pode estar na cidade. Ningum sabe como ele sem aquela armadura prateada! alertou a freira enquanto sentava ao lado deles na arquibancada.. SENHORAS E SENHORES! gritou no centro da praa o bardo que apresentava o evento. com imenso prazer que o Porto de Nasthia recebe os finalistas do torneio de lutas deste ano de 1001. E os organizadores este ano tm a honra de receber um ilustre espectador, membro da mais nobre estirpe que este evento j recebeu! Galilia gelou vendo o tal cavaleiro negro que tanto chamou a ateno pelas ruas durante a manh sentando-se na tribuna de honra, criada especialmente para ele, ali em cima da hora. Ilustre espectador? gaguejou ela. Mais nobre estirpe? acompanhou Khosta. o filhodeumaqueroncaefua do Baro? finalizou Telus. Uma salva de palmas para... LORDE WATARU, cavaleiro de confiana do Imperador, senhor de terras e general de Legies do Imprio de Titnia. Palmas, palmas! esclareceu o bardo. Os trs respiraram aliviados enquanto batiam trmulas palmas no meio da exaltada multido. Exaltada e assanhada, pois corria a boca pequena que o lorde era solteiro

e desimpedido. Mas, para Galilia, o importante era que, seja l quem ele fosse, no era o Baro Ricardus I. Ento isso, amigos de Nasthia, chegada a hora pela qual tanto esperamos. Os dois finalistas j esto aqui, as apostas j foram encerradas e s um vitorioso sair desta arena pausa dramtica do bardo. E talvez s um... saia vivo! mais uma pausa dramtica e sensacionalista preenchida por vrios comentrios na platia. E sem mais delongas, peo que olhem minha esquerda. Eis o desafiante com 1,80cm de altura, pesando 80 quilos e nenhuma derrota em seu primeiro torneio: Shokozug de Constantine!!! Khosta beijou seu bilhete de apostas enquanto o povo aplaudiu um guerreiro de armaduras peitorais negras, elmo que protegia o rosto e um rabo de cavalo branco. Quando Khosta o viu com calma e reparou em seus cabelos brancos chegou a temer pelo adversrio: Se o mais jovem tinha cabelo branco, o mais velho entraria numa cadeira de rodas? Tava no papo pensou! Por que estamos aqui vendo isso? perguntou Galilia. O mago sugeriu a gente contratar o vitorioso pra reforar nossa segurana, caso o Velho da Torre aparea de novo. E tambm apostou uma grana em um dos dois a. Ah... t. balanou a cabea em sinal de desagravo. E AGORA... Eu peo sua ateno para o meu lado direito. Ele, que durante anos foi o campeo do clube da luta da capital de Titnia. O ex-lutador que ingressou tardiamente no mundo das arenas de espadas e agora busca o seu segundo ttulo. Com 32 anos, 2 metros de altura e pesando 98 quilos... O garanho titanianoooo... Sylvester Orfelius!!! A platia foi ao delrio e aplaudiu de p ao guerreiro que entra correndo na arena com a espada embanhada, dando socos no ar e agradecendo a saudao com um sorriso! Hu, hu, hu... acho que o seu favorito apenas seu, Khosta! Co que ladra no morde! Vamos ver se essa marra toda agenta uma espadada de um cara mais novo! Mais alguns minutos de preparao e o homem do gongo d o sinal. Os dois brutamontes adentram o centro a arena de espadas em punho e escudos comeando a luta. Shokozug mostrou mais vigor na entrada e, com golpes certeiros, visou acertar algum ponto vital do oponente para terminar logo a peleja. Sylvester tem um estilo mais teatral, provavelmente herdado das arenas de luta corporal. Acabou levando o primeiro corte de Shokozug, no brao. Usando o escudo como uma extenso do punho, ele esmurrou Shokozug, desequilibrando-o e aproveitando a deixa para retribuir o golpe. A luta no deveria ser at a morte. Pelo menos em teoria, mas acidentes acontecem. As armas eram de verdade e o prmio de cinco mil moedas de ouro, um bom

incentivo para mandar o adversrio para a cova. Cada golpe bem dado garantia uma quantidade de pontos para o atacante, e depois de um tempo, esses pontos decidiriam quem seria o vencedor. O que costumava contar mais pontos era desarmar o adversrio. A no ser que algum casse morto no cho, a os pontos deixavam de valer e o que ficasse de p, obviamente, levaria os louros da vitria e as loiras para a cama. Depois de incontveis minutos de pancadaria, j cansados e feridos, os dois guerreiros mantinham a luta equilibrada. Golpe aps golpe, Shokozug, com seu estilo agressivo, conquistava sua parcela de fs loucos por sangue. At que Sylvester, usando sua massa corporal, partiu pra cima e com um golpe de esquerda (a mo do escudo) desarma o campeo de Constantine encostando a ponta da espada em seu peito e garantindo a apertada vitria da tarde!!! O povo foi ao delrio, as mulheres gritavam, as crianas pulavam e o Khosta no parava de chorar... No acreditoooo! Exijo recontagem, meu campeo estava vencendo!!! Vo parar s porque ele perdeu a espada? Marmelaaaadaaaa!!! Os dois guerreiros se cumprimentaram na arena e receberam seus trofus ao mesmo tempo em que apareceram curandeiros patinando no sangue e areia para enfaixar suas feridas. O campeo Sylvester recebeu a recompensa do organizador e um cinturo de ouro de Lorde Wataru. E o levantou bem alto, dedicando a vitria a sua esposa! Eu gostei dele, Khosta! disse Galilia. Eu odiei... respondeu rasgando o bilhete.

*****

Enquanto Telus e Galilia se divertiam s custas do azar do amigo apostador, Cronus, ainda l na rua da cocheira, procurava um canto para fazer um feitio de invisibilidade e tentar ouvir o que queria o sujeito acompanhado da Armadura Fantasma. E nada mais suspeito do que um elfo tentando se esgueirar numa terra de humanos. O feitio lhe garantiria invisibilidade e sua agilidade lhe garantia o silncio. Mesmo assim, era arriscado chegar perto de algum com uma Armadura Fantasma, principalmente com o corpo de Lerandra h to poucos metros de distncia. Voc faria isso s pra ouvir uma conversa? Cronus fez. Aparentemente sem saber que estavam sendo ouvidos de perto, o oriental falava sobre uma caixa que veio num barco vindo do reino de Avalnia e que estaria em um de seus estbulos. O gerente concordou e o levou at o local. Seguindo os trs, Cronus viu que se dirigiam para o fundo do terreno, no mais afastado depsito. Seria um instrumento de minerao? Uma arma de guerra para combater os oponentes do Baro? O gerente abriu a tranca, dizendo que os homens do navio vieram e deixaram uma

caixa l dentro. Devem ter sido uns cinco caras, pensou Cronus, pois a caixa tinha dois metros de altura por um metro de largura aproximadamente. Era toda fechada com exceo de um respiradouro na parte superior. No poderia ser um cavalo pois ele no caberia ali. Seria um prisioneiro? Veio alguma mensagem do remetente? perguntou o oriental. Nada por escrito, senhor Rastan. O mensageiro que a trouxe s pediu para dizer Espero que lhe agrade destruir esse presente tanto quanto me foi agradvel captur-lo! Assinado: Duque Ruivo. Maldito duque! Quer ficar com todas as glrias. Tome! e lhe entregou uma sacola de moedas. Isso para que essa mensagem fique s entre ns. Armadura, tra