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Durabilidade de perfis pultrudidos em compósito de poliéster insaturado e viniléster reforçado com fibras de vidro (GFRP) Rodrigo de Oliveira Martins da Câmara Borges Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Orientadores Professor Doutor João Pedro Ramôa Ribeiro Correia Doutora Susana Bravo Cordeiro Baptista Cabral da Fonseca Júri Presidente: Professor Doutor Fernando Manuel Fernandes Simões Vogais: Doutora Susana Bravo Cordeiro Baptista Cabral da Fonseca Professor Doutor António José da Silva Costa Fevereiro 2014

Durabilidade de perfis pultrudidos em compósito de poliéster

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  • Durabilidade de perfis pultrudidos em compsito de polister insaturado e vinilster reforado com fibras de vidro (GFRP)

    Rodrigo de Oliveira Martins da Cmara Borges

    Dissertao para obteno do Grau de Mestre em

    Engenharia Civil

    Orientadores

    Professor Doutor Joo Pedro Rama Ribeiro Correia

    Doutora Susana Bravo Cordeiro Baptista Cabral da Fonseca

    Jri

    Presidente: Professor Doutor Fernando Manuel Fernandes Simes

    Vogais: Doutora Susana Bravo Cordeiro Baptista Cabral da Fonseca

    Professor Doutor Antnio Jos da Silva Costa

    Fevereiro 2014

  • i

    Resumo

    Os perfis pultrudidos de polmero reforado com fibras de vidro, ou GFRP (glass fiber

    reinforced polymer) so constitudos por fibras de vidro embebidas numa matriz

    polimrica, e integram-se no grupo dos materiais polimricos reforados com fibras, ou

    materiais FRP (fiber reinforced polymer).

    A presente dissertao teve como principal objectivo a avaliao da durabilidade de

    perfis pultrudidos de GFRP com matriz de polister insaturado e vinilster quando

    sujeitos a envelhecimento em ambientes caractersticos de aplicaes de Engenharia

    Civil. Em particular, os materiais em estudo foram expostos presena de solues

    aquosas, humidade, temperatura elevada, ciclos trmicos e radiao ultravioleta.

    A variao das propriedades fsicas, mecnicas e estticas dos materiais em estudo aps

    o envelhecimento foi quantificada atravs de ensaios normalizados.

    Procedeu-se secagem dos materiais previamente aos perodos de envelhecimento,

    como tentativa de prevenir a ocorrncia de fenmenos de ps-cura. De um modo geral,

    estes fenmenos no se manifestaram de forma relevante nas propriedades mecnicas,

    embora se tenham evidenciado incrementos significativos na temperatura de transio

    vtrea em algumas situaes.

    O estudo da reversibilidade da degradao derivada da absoro de humidade foi

    concretizado atravs da secagem dos materiais aps o envelhecimento e previamente

    execuo dos ensaios fsicos e mecnicos.

    Evidenciaram-se perdas significativas nas propriedades mecnicas dos compsitos, em

    particular na exposio a imerso a temperaturas elevadas, onde as alteraes

    irreversveis no material foram predominantes. A exposio a radiao ultravioleta

    conduziu degradao das propriedades estticas.

    Palavras-chave:

    Materiais compsitos, Perfis pultrudidos de polmero reforado com fibras de

    vidro (GFRP), Durabilidade, Reversibilidade da degradao

  • ii

  • iii

    Abstract

    GFRP pultruded profiles (glass fiber reinforced polymer) are composite materials which

    consist of glass fibers embedded in a polymeric matrix and are included in the fiber

    reinforced polymer materials group, also known as FRP (fiber reinforced polymer).

    The main objective of this dissertation was to study the durability of GFRP pultruded

    profiles with unsaturated polyester and vinylester resins, when subjected to different

    exposure environments, typical of civil engineering applications. Test specimens were

    subjected to water and salt solutions, moisture, elevated temperature, thermal cycles and

    ultraviolet radiation.

    The variation of physical, mechanical and aesthetical properties after ageing was

    assessed through standard test procedures.

    The materials were subjected to a drying process prior to ageing, in an attempt to

    prevent post-curing effects. Regarding mechanical properties, this kind of effects did

    not manifest in a relevant form, although significant increases in glass transition

    temperatures were registered in some situations.

    The study of the reversibility of degradation associated with moisture sorption was

    accomplished by drying of test specimens after ageing and prior to physical and

    mechanical testing.

    Significant losses in mechanical properties for both materials were registered,

    particularly in elevated temperature immersions, where irreversible changes prevail.

    Exposure to ultraviolet radiation caused degradation in aesthetical properties.

    Keywords:

    Composite materials, Glass fiber reinforced polymers (GFRP), Durability, Reversibility

  • iv

  • v

    Agradecimentos

    Esta dissertao, embora seja fruto de um trabalho pessoal desenvolvido durante mais

    de um ano, beneficiou do apoio de algumas pessoas sem as quais teria sido impossvel

    atingir os objectivos estabelecidos. Por esta razo lhes expresso os meus profundos

    agradecimentos.

    Ao Professor Doutor Joo Correia, orientador cientfico desta dissertao, agradeo o

    incentivo, a exigncia e o apoio que sempre demonstrou, bem como a simpatia e a

    disponibilidade para o esclarecimento de dvidas.

    Doutora Susana Fonseca, co-orientadora desta dissertao, agradeo o apoio prestado

    na vertente experimental da dissertao, bem como a total disponibilidade para o

    esclarecimento de dvidas, e ainda o incentivo e a simpatia que sempre demonstrou.

    Ao Engenheiro Joo Sousa, agradeo no s a ajuda fulcral na preparao da campanha

    experimental e na realizao dos ensaios como a companhia e a amizade demonstradas

    nestas etapas. Agradeo ainda a total disponibilidade para o esclarecimento de dvidas e

    a ajuda para ultrapassar os obstculos que surgiram.

    Ao LNEC e em especial ao Ncleo de Materiais Orgnicos (NMO) agradeo a

    oportunidade para a realizao deste projecto. Agradeo ainda em especial senhora

    Filomena Nobre pela ajuda na realizao dos ensaios fsicos e qumicos e tambm pela

    simpatia e disponibilidade para o esclarecimento de dvidas. Da mesma forma,

    agradeo aos restantes funcionrios do LNEC/NMO que nunca hesitaram em oferecer a

    sua ajuda na resoluo dos problemas que foram surgindo.

    Aos funcionrios do Laboratrio da Construo do Instituto Superior Tcnico, em

    especial ao senhor Leonel Silva, agradeo a disponibilidade e o apoio na realizao dos

    ensaios mecnicos.

    Aos funcionrios do Laboratrio de Estruturas e Resistncia de Materiais do Instituto

    Superior Tcnico, em particular aos senhores Pedro Costa e Fernando Alves, agradeo o

    apoio na realizao dos ensaios.

    empresa ALTO, agradeo o fornecimento dos materiais utilizados nesta dissertao.

  • vi

    Aos meus amigos e colegas de curso, em especial ao Jos Gomes, ao Joo Cardoso, ao

    Joo Serra, ao Carlos Canha ao Joo Alves, Mafalda Pinto e ao Antnio Baptista, que

    me acompanharam na concluso desta etapa, agradeo a amizade e o incentivo que

    sempre demonstraram, no s nesta fase mas ao longo de todo o meu percurso

    acadmico.

    Ao Daniel agradeo a companhia e a amizade que to importantes foram ao longo dos

    anos.

    Ao meu irmo e aos meus pais agradeo a amizade e o apoio incondicional que sempre

    demonstraram, mesmo nas alturas mais difceis.

    Mafalda, agradeo o amor e a companhia, e sobretudo o facto de sempre ter

    acreditado em mim, mesmo quando eu no o fiz.

  • vii

    Simbologia

    temperatura

    humidade relativa

    largura do provete

    , espessura do provete

    comprimento do provete

    massa de um provete no ar

    massa de referncia de um provete no estado seco

    percentagem de fibra de vidro

    massa do cadinho seco

    massa do conjunto provete + cadinho seco antes da calcinao

    massa do conjunto provete + cadinho seco aps a calcinao

    , massa volmica

    , massa do provete ao ar

    , massa de um provete imerso

    massa volmica da gua destilada

    , , coordenadas colorimtricas do sistema CIE 1976 (L*a*b*)

    , , variao das coordenadas colorimtricas segundo este sistema

    variao global da cor

    mdulo complexo

    mdulo de armazenamento

    mdulo de perda

    (), () tenso e deformao dinmicas

    , amplitudes iniciais do ciclo de tenso e deformao

    frequncia

    ngulo de fase

    tan factor de perda

    mdulo de armazenamento em flexo

    mdulo de perda em flexo

    tenso de traco

    fora de traco aplicada

    rea da seco transversal do provete

  • viii

    deformao nominal de traco

    largura inicial de referncia

    variao da distncia de referncia

    mdulo de elasticidade em traco

    , tenses correspondentes s deformaes de 0,0005 e 0,0025

    tenso de rotura em traco

    deformao de rotura em traco

    tenso de flexo

    deformao de flexo

    tenso de rotura em flexo

    deformao de rotura em flexo

    mdulo de elasticidade em flexo

    tenso de corte interlaminar

  • ix

    ndice geral

    Resumo ............................................................................................................................. i

    Palavras-chave ................................................................................................................. i

    Abstract .......................................................................................................................... iii

    Keywords ........................................................................................................................ iii

    Agradecimentos .............................................................................................................. v

    Simbologia ..................................................................................................................... vii

    ndice geral ..................................................................................................................... ix

    ndice de figuras ........................................................................................................... xv

    ndice de tabelas .......................................................................................................... xxi

    1 Introduo ............................................................................................................... 1

    1.1 Enquadramento geral ......................................................................................... 1

    1.2 Objectivos da dissertao ................................................................................... 2

    1.3 Organizao do documento ............................................................................... 2

    2 Estado da arte ......................................................................................................... 5

    2.1 Introduo .......................................................................................................... 5

    2.2 Materiais polimricos reforados com fibras (FRP) .......................................... 5

    2.3 Caractersticas gerais de materiais polimricos reforados com fibras (FRP) .. 7

    2.3.1 Constituintes dos FRP ................................................................................ 7

    2.3.1.1 Reforo sob a forma de fibras ............................................................. 7

    2.3.1.2 Resinas polimricas ............................................................................. 9

    2.3.1.3 Agentes de polimerizao ................................................................. 11

    2.3.1.4 Cargas (fillers) ................................................................................... 12

    2.3.1.5 Aditivos ............................................................................................. 12

    2.3.1.6 Interface fibra-matriz......................................................................... 13

  • x

    2.4 Caractersticas gerais de perfis pultrudidos de polmero reforado com fibras

    de vidro (GFRP) ......................................................................................................... 13

    2.4.1 Processo de fabrico de perfis pultrudidos de GFRP ................................. 13

    2.4.2 Propriedades tpicas de perfis pultrudidos de GFRP ................................ 14

    2.4.3 Caractersticas estruturais de perfis pultrudidos de GFRP ....................... 17

    2.4.4 Vantagens e inconvenientes da utilizao de perfis pultrudidos de GFRP

    18

    2.4.5 Aplicaes de perfis pultrudidos de GFRP .............................................. 19

    2.5 Durabilidade de perfis pultrudidos de polmero reforado com fibras de vidro

    (GFRP) ....................................................................................................................... 20

    2.5.1 Humidade e solues aquosas .................................................................. 21

    2.5.1.1 Efeitos na matriz polimrica ............................................................. 22

    2.5.1.2 Efeitos nas fibras de vidro ................................................................. 22

    2.5.1.3 Efeitos na interface fibra-matriz ........................................................ 22

    2.5.1.4 Efeitos gerais em sistemas FRP ........................................................ 23

    2.5.2 Ambientes alcalinos .................................................................................. 23

    2.5.3 Efeitos trmicos ........................................................................................ 24

    2.5.4 Exposio a radiao ultravioleta (UV) ................................................... 25

    2.5.5 Fogo .......................................................................................................... 26

    2.5.6 Fadiga ....................................................................................................... 27

    2.5.7 Fluncia .................................................................................................... 28

    2.6 Consideraes finais ........................................................................................ 29

    3 Campanha experimental ...................................................................................... 31

    3.1 Introduo ........................................................................................................ 31

    3.2 Organizao da campanha experimental ......................................................... 32

    3.2.1 Material utilizado ...................................................................................... 32

    3.2.2 Definio das colheitas ............................................................................. 32

    3.2.3 Descrio e preparao dos ambientes de exposio ............................... 35

  • xi

    3.2.3.1 Imerso em gua desmineralizada e numa soluo salina ................ 36

    3.2.3.2 Condensao em contnuo a 40 C .................................................... 38

    3.2.3.3 Envelhecimento natural ..................................................................... 39

    3.2.3.4 Ciclos trmicos .................................................................................. 39

    3.2.4 Preparao dos provetes ........................................................................... 40

    3.2.4.1 Cortes transversais e de preciso dos provetes.................................. 41

    3.2.4.2 Sistema de identificao dos provetes ............................................... 42

    3.2.4.3 Secagem dos provetes ....................................................................... 43

    3.3 Mtodos de caracterizao dos materiais ......................................................... 45

    3.3.1 Variao de massa .................................................................................... 45

    3.3.2 Determinao do teor em fibra de vidro ................................................... 46

    3.3.3 Identificao dos materiais constituintes por espectroscopia do

    infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) ............................................... 48

    3.3.4 Determinao da massa volmica ............................................................ 50

    3.3.5 Determinao da cor e do brilho............................................................... 51

    3.3.5.1 Determinao da cor.......................................................................... 52

    3.3.5.2 Determinao do brilho ..................................................................... 53

    3.3.6 Anlise mecnica dinmica ...................................................................... 55

    3.3.7 Ensaios de traco .................................................................................... 57

    3.3.8 Ensaios de flexo ...................................................................................... 59

    3.3.9 Ensaio de corte interlaminar ..................................................................... 63

    3.4 Consideraes finais ........................................................................................ 64

    4 Anlise e discusso de resultados ........................................................................ 65

    4.1 Introduo ........................................................................................................ 65

    4.2 Caracterizao inicial dos materiais em estudo ............................................... 65

    4.2.1 Massa volmica ........................................................................................ 65

    4.2.2 Materiais constituintes (FTIR).................................................................. 66

  • xii

    4.2.3 Teor em fibra de vidro .............................................................................. 68

    4.2.4 Anlise mecnica dinmica ...................................................................... 69

    4.2.5 Propriedades mecnicas ............................................................................ 69

    4.2.6 Propriedades estticas ............................................................................... 73

    4.2.6.1 Cor ..................................................................................................... 73

    4.2.6.2 Brilho ................................................................................................. 74

    4.3 Variao das propriedades fsicas e estticas dos perfis de GFRP .................. 75

    4.3.1 Absoro de gua e variao de massa ..................................................... 75

    4.3.2 Anlise mecnica dinmica ...................................................................... 80

    4.3.3 Variao das propriedades estticas ......................................................... 89

    4.3.3.1 Variao da cor.................................................................................. 89

    4.3.3.2 Variao do brilho ............................................................................. 91

    4.4 Variao das propriedades mecnicas dos perfis de GFRP ............................. 92

    4.4.1 Flexo ....................................................................................................... 92

    4.4.2 Traco ................................................................................................... 101

    4.4.3 Corte interlaminar ................................................................................... 109

    4.5 Consideraes finais e sntese comparativa ................................................... 115

    5 Concluses e perspectivas de desenvolvimentos futuros ................................. 119

    5.1 Concluses ..................................................................................................... 119

    5.2 Perspectivas de desenvolvimentos futuros .................................................... 123

    6 Referncias bibliogrficas .................................................................................. 125

    Anexos

    Anexo A Registos de absoro de gua e variao da massa

    Anexo B Resultados e curvas experimentais da anlise mecnica dinmica

    Anexo C Resultados dos ensaios de determinao da cor e do brilho

  • xiii

    Anexo D Resultados e curvas experimentais dos ensaios de flexo

    Anexo E Resultados e curvas experimentais dos ensaios de traco

    Anexo F Resultados e curvas experimentais dos ensaios de corte interlaminar

  • xiv

  • xv

    ndice de figuras

    2 Estado da arte.5

    Figura 2.1 - Maison en plastique, 1956, Frana ............................................................... 6

    Figura 2.2 - Kunststoffhaus / fg 2000 System, 1968, Alemanha ....................................... 6

    Figura 2.3 - Reforos unidireccionais: mechas de filamentos contnuos no torcidos ou

    rovings e torcidos ou yarns. .............................................................................................. 9

    Figura 2.4 Esquema do processo de pultruso ............................................................ 14

    Figura 2.5 Comparao da relao constitutiva dos perfis pultrudidos de GFRP da

    produtora ALTO ............................................................................................................. 16

    Figura 2.6 Comparao entre as propriedades fsicas e trmicas de perfis pultrudidos

    de GFRP e de outros materiais de construo ................................................................ 17

    Figura 2.7 Estrutura das camadas num material pultrudido ........................................ 17

    Figura 2.8 Exemplos de perfis pultrudidos de GFRP .................................................. 18

    Figura 2.9 Exemplos de tabuleiros de pontes compostos por perfis pultrudidos de

    GFRP colados ................................................................................................................. 18

    Figura 2.10 Aplicaes de perfis pultrudidos de GFRP em estruturas secundrias .... 19

    Figura 2.11 - Edifcio Eyecatcher................................................................................... 20

    Figura 2.12 - Ponte elevatria Bonds Mill ...................................................................... 20

    3 Campanha experimental......31

    Figura 3.1 Seco transversal das chapas .................................................................... 32

    Figura 3.2 Recepo do material no IST ..................................................................... 32

    Figura 3.3 Esquematizao das folgas longitudinais nas chapas................................. 34

    Figura 3.4 Agrupamento de provetes para a fase de envelhecimento ......................... 35

    Figura 3.5 Posicionamento dos provetes no interior de uma das caixas ..................... 36

    Figura 3.6 - Posicionamento das imerses a 20 C ......................................................... 37

    Figura 3.7 Posicionamento das caixas no interior da estufa a 40 C ........................... 37

    Figura 3.8 Aspecto exterior da estufa a 60 C ............................................................. 38

    Figura 3.9 Posicionamento das caixas no interior da estufa a 60 C ........................... 38

    Figura 3.10 Sonda utilizada na monitorizao da temperatura das imerses .............. 38

    Figura 3.11 Cmara de condensao em contnuo ...................................................... 39

  • xvi

    Figura 3.12 Esquema de suspenso dos provetes na cmara de condensao em

    contnuo .......................................................................................................................... 39

    Figura 3.13 Pormenor da fixao dos provetes e das calhas plsticas ........................ 40

    Figura 3.14 Aspecto geral do ambiente de envelhecimento natural ............................ 40

    Figura 3.15 Provetes no interior da cmara de ciclos trmicos ................................... 40

    Figura 3.16 Serra diamantada refrigerada a gua do LNEC/NMO ............................. 41

    Figura 3.17 - Guias de marcao e chapas marcadas em srie ....................................... 42

    Figura 3.18 Colheitas dos compsitos de polister insaturado e vinilster prontas para

    envelhecimento ............................................................................................................... 42

    Figura 3.19 Marcao de cortes de preciso para o ensaio de corte interlaminar ....... 42

    Figura 3.20 Posicionamento dos provetes no interior da estufa a 80 C ..................... 45

    Figura 3.21 Secagem dos provetes na sala com condies de temperatura e humidade

    controladas ...................................................................................................................... 45

    Figura 3.22 Aspecto geral de um provete viajante ...................................................... 46

    Figura 3.23 Balana analtica modelo Mettler AE240 ................................................. 46

    Figura 3.24 Estufa da marca Heraeus ......................................................................... 48

    Figura 3.25 Arrefecimento dos provetes num exsicador ............................................. 48

    Figura 3.26 Cadinhos no interior da mufla a 900 C ................................................... 48

    Figura 3.27 Arrefecimento dos cadinhos no exsicador ............................................... 48

    Figura 3.28 Preparao da mistura, prensagem da pastilha e pastilha preparada para o

    ensaio de FTIR ............................................................................................................... 49

    Figura 3.29 Espectrofotmetro Tensor 27 da marca Bruker ....................................... 50

    Figura 3.30 Suporte para a pastilha no interior do equipamento ................................. 50

    Figura 3.31 Medio da massa do provete ao ar e imerso ........................................... 51

    Figura 3.32 Colormetro porttil MiniScan XE Plus ................................................... 53

    Figura 3.33 Ensaio de determinao da cor em curso ................................................. 53

    Figura 3.34 - Brilhmetro Novo-Gloss Statistical Glossmeter ....................................... 54

    Figura 3.35 - Estojo para calibrao do brilhmetro ...................................................... 54

    Figura 3.36 - Esquema do ensaio de determinao do brilho ......................................... 54

    Figura 3.37 Exemplo de um grfico tpico de um ensaio de DMA de um provete de

    vinilster ......................................................................................................................... 56

    Figura 3.38 Equipamento para ensaio de DMA e pormenor do esquema de ensaio ... 57

    Figura 3.39 Comparador electrnico da marca Mitutoyo ............................................ 59

    Figura 3.40 Provete de traco preparado para ensaio ................................................ 59

  • xvii

    Figura 3.41 Vista geral do equipamento de ensaio ...................................................... 59

    Figura 3.42 Pormenor do posicionamento do provete e do extensmetro mecnico .. 59

    Figura 3.43 Esquema de flexo em trs pontos ........................................................... 60

    Figura 3.44 - Craveira digital PRO-MAX ....................................................................... 61

    Figura 3.45 Prensa hidrulica Form Test .................................................................... 62

    Figura 3.46 Esquema do ensaio de flexo e provete a atingir a rotura ........................ 62

    Figura 3.47 Datalogger modelo QuantumX ................................................................ 62

    Figura 3.48 Datalogger modelo Spider8 ..................................................................... 62

    Figura 3.49 Esquema do ensaio de corte interlaminar e provete a atingir a rotura ..... 63

    4 Anlise e discusso de resultados....65

    Figura 4.1 Espectro FTIR do material obtido por raspagem do compsito de polister

    (UP) ................................................................................................................................ 66

    Figura 4.2 Espectro de FTIR do material obtido por raspagem do compsito de

    vinilster (VE) ................................................................................................................ 67

    Figura 4.3 Estrutura qumica do (a) polister insaturado e do (b) vinilster ............... 68

    Figura 4.4 - Curvas experimentais de tenso extenso obtidas nos ensaios de

    caracterizao inicial de flexo compsito de polister insaturado (UP) .................... 70

    Figura 4.5 - Curvas experimentais de tenso extenso obtidas nos ensaios de

    caracterizao inicial de flexo compsito de vinilster (VE) .................................... 70

    Figura 4.6 Modo de rotura observado nos ensaios de flexo ...................................... 71

    Figura 4.7 Curvas experimentais de tenso extenso obtidas nos ensaios de

    caracterizao inicial de traco compsito de polister insaturado (UP) .................. 71

    Figura 4.8 Curvas experimentais de tenso extenso obtidas nos ensaios de

    caracterizao inicial de traco compsito de vinilster (VE) ................................... 72

    Figura 4.9 Modo de rotura observado nos ensaios de traco ..................................... 72

    Figura 4.10 Curvas experimentais de fora deslocamento obtidas nos ensaios de

    caracterizao inicial de corte interlaminar compsito de polister insaturado (UP) . 73

    Figura 4.11 - Curvas experimentais de fora deslocamento obtidas nos ensaios de

    caracterizao inicial de corte interlaminar compsito de vinilster (VE) .................. 73

    Figura 4.12 Modo de rotura observado nos ensaios de corte interlaminar .................. 73

    Figura 4.13 - Curvas experimentais da variao da massa dos provetes viajantes de

    polister insaturado (UP) imerses e condensao em contnuo ................................. 76

  • xviii

    Figura 4.14 - Curvas experimentais da variao da massa dos provetes viajantes de

    vinilster (VE) imerses e condensao em contnuo ................................................. 76

    Figura 4.15 Resduos observados na imerso numa soluo salina a 40 C aos 9 meses

    de exposio compsito de polister insaturado.......................................................... 80

    Figura 4.16 - Variao da temperatura de transio vtrea () obtida atravs da curva

    experimental do mdulo de armazenamento (E) para o compsito de polister

    insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ........ 82

    Figura 4.17 - Variao da temperatura de transio vtrea () obtida atravs da curva

    experimental do factor de perda (tan) para o compsito de polister insaturado (UP)

    imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ..................................... 82

    Figura 4.18 - Variao da temperatura de transio vtrea () obtida atravs das curvas

    experimentais do mdulo de armazenamento (E) e do factor de perda (tan) para o

    compsito de polister insaturado (UP) ciclos trmicos ............................................. 82

    Figura 4.19 - Variao da temperatura de transio vtrea () obtida atravs da curva

    experimental do mdulo de armazenamento (E) para o compsito de vinilster (VE)

    imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ..................................... 86

    Figura 4.20 - Variao da temperatura de transio vtrea () obtida atravs da curva

    experimental do factor de perda (tan) para o compsito de vinilster (VE) imerses,

    condensao em contnuo e envelhecimento natural ...................................................... 86

    Figura 4.21 - Variao da temperatura de transio vtrea () obtida atravs das curvas

    experimentais do mdulo de armazenamento (E) e do factor de perda (tan) para o

    compsito de vinilster (VE) ciclos trmicos .............................................................. 86

    Figura 4.22 Comparao entre o aspecto no envelhecido e o aspecto aps 6 meses de

    exposio aos agentes ambientais dos compsitos de polister insaturado e vinilster . 90

    Figura 4.23 - Variao da tenso de rotura em flexo () para o compsito de

    polister insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento

    natural ............................................................................................................................. 93

    Figura 4.24 - Variao do mdulo de elasticidade em flexo () para o compsito de

    polister insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento

    natural ............................................................................................................................. 94

    Figura 4.25 - Variao da deformao axial de flexo na rotura () para o compsito

    de polister insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento

    natural ............................................................................................................................. 94

  • xix

    Figura 4.26 - Variao da tenso de rotura () e do mdulo de elasticidade em flexo

    () e da deformao na rotura () para o compsito de polister insaturado (UP)

    ciclos trmicos ................................................................................................................ 94

    Figura 4.27 - Variao da tenso de rotura em flexo () para o compsito de

    vinilster (VE) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural.......... 97

    Figura 4.28 - Variao do mdulo de elasticidade em flexo () para o compsito de

    vinilster (VE) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural.......... 97

    Figura 4.29 - Variao da deformao axial de flexo na rotura () para o compsito

    de vinilster (VE) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ..... 97

    Figura 4.30 Variao da tenso de rotura () e do mdulo de elasticidade em flexo

    () ( esquerda) e da deformao na rotura () ( direita) para o compsito de

    vinilster (VE) ciclos trmicos .................................................................................... 98

    Figura 4.31 Variao da tenso de rotura em traco () para o compsito de

    polister insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento

    natural ........................................................................................................................... 102

    Figura 4.32 Variao do mdulo de elasticidade em traco () para o compsito de

    polister insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento

    natural ........................................................................................................................... 102

    Figura 4.33 Variao da extenso na rotura () para o compsito de polister

    insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ...... 103

    Figura 4.34 Variao da tenso de rotura () e do mdulo de elasticidade em

    traco () ( esquerda) e da extenso na rotura () ( direita) para o compsito de

    polister insaturado (UP) ciclos trmicos .................................................................. 103

    Figura 4.35 Variao da tenso de rotura em traco () para o compsito de

    vinilster (VE) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural........ 106

    Figura 4.36 Variao do mdulo de elasticidade em traco () para o compsito de

    vinilster (VE) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural........ 106

    Figura 4.37 Variao da extenso na rotura () para o compsito de vinilster (VE)

    imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ................................ 106

    Figura 4.38 Variao da tenso de rotura () e do mdulo de elasticidade em

    traco () ( esquerda) e da extenso na rotura () ( direita) para o compsito de

    vinilster (VE) ciclos trmicos .................................................................................. 107

  • xx

    Figura 4.39 - Variao da tenso de rotura () para o compsito de polister insaturado

    (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ........................ 111

    Figura 4.40 - Variao da tenso de rotura () para o compsito de polister insaturado

    (UP) ciclos trmicos .................................................................................................. 111

    Figura 4.41 - Variao da tenso de rotura () para o compsito de vinilster (VE)

    imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ................................... 112

    Figura 4.42 Variao da tenso de rotura () para o compsito de vinilster (VE)

    ciclos trmicos .............................................................................................................. 113

  • xxi

    ndice de tabelas

    2 Estado da arte...5

    Tabela 2.1 - Propriedades tpicas das fibras mais utilizadas. ........................................... 8

    Tabela 2.2 Propriedades fsicas e mecnicas das resinas termoendurecveis mais

    comuns ............................................................................................................................ 11

    Tabela 2.3 - Propriedades mecnicas na direco axial de perfis pultrudidos GFRP

    disponveis comercialmente ........................................................................................... 15

    Tabela 2.4 - Propriedades mecnicas na direco transversal s fibras de perfis

    pultrudidos GFRP disponveis comercialmente ............................................................. 15

    3 Campanha experimental......31

    Tabela 3.1 Definio dos ambientes de exposio, respectivo nmero de colheitas e

    descrio sucinta dos mesmos ........................................................................................ 33

    Tabela 3.2 Normas de ensaio e dimenses dos provetes para cada tipo de ensaio ..... 33

    Tabela 3.3 - Nmero de provetes considerado por cada tipo de ensaio ......................... 35

    Tabela 3.4 Identificao genrica dos provetes ou agrupamentos de provetes ........... 43

    Tabela 3.5 Exemplificao do sistema de identificao Colheita de 3 meses de

    provetes de polister (UP) imersos em gua desmineralizada a 20 C (W20) ............... 44

    4 Anlise e discusso de resultados.....65

    Tabela 4.1 Massa volmica compsito de polister (UP) ........................................ 65

    Tabela 4.2 Massa volmica compsito de vinilster (VE) ....................................... 66

    Tabela 4.3 Teor em fibra de vidro compsito de polister insaturado (UP) ............ 68

    Tabela 4.4 Teor em fibra de vidro compsito de vinilster (VE) ............................. 68

    Tabela 4.5 Resultados da caracterizao inicial de anlise mecnica dinmica dos

    compsitos de polister insaturado (UP) e de vinilster (VE)........................................ 69

    Tabela 4.6 Resultados mdios da caracterizao inicial das propriedades mecnicas

    compsito de polister insaturado (UP) e de vinilster (VE) ......................................... 70

    Tabela 4.7 Coordenadas colorimtricas dos compsitos de polister insaturado (UP) e

    vinilster (VE) no estado no envelhecido ..................................................................... 74

    Tabela 4.8 Brilho especular para ngulos de incidncia de 60 e 85 para os

    compsitos de polister insaturado (UP) e vinilster (VE) no estado no envelhecido . 74

  • xxii

    Tabela 4.9 Resultados mdios obtidos nos ensaios de DMA do compsito de polister

    insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ........ 81

    Tabela 4.10 Resultados mdios obtidos nos ensaios de DMA do compsito de

    polister insaturado (UP) ciclos trmicos .................................................................... 81

    Tabela 4.11 Resultados mdios obtidos nos ensaios de DMA do compsito de

    vinilster (VE) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural.......... 85

    Tabela 4.12 Resultados mdios obtidos nos ensaios de DMA do compsito de

    vinilster (VE) ciclos trmicos .................................................................................... 85

    Tabela 4.13 Coordenadas colorimtricas e variao da cor aos 6 meses de

    envelhecimento natural compsito de polister insaturado (UP) ................................ 89

    Tabela 4.14 - Coordenadas colorimtricas e variao da cor aos 6 meses de

    envelhecimento natural compsito de vinilster (VE) ................................................ 90

    Tabela 4.15 Brilho especular aos 6 meses de envelhecimento natural compsito de

    polister insaturado (UP) ................................................................................................ 91

    Tabela 4.16 - Brilho especular aos 6 meses de envelhecimento natural compsito de

    vinilster (VE) ................................................................................................................ 91

    Tabela 4.17 Resultados mdios obtidos nos ensaios de flexo do compsito de

    polister insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento

    natural ............................................................................................................................. 93

    Tabela 4.18 Resultados mdios obtidos nos ensaios de flexo do compsito de

    polister insaturado (UP) ciclos trmicos .................................................................... 93

    Tabela 4.19 - Resultados mdios obtidos nos ensaios de flexo do compsito de

    vinilster (VE) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural.......... 96

    Tabela 4.20 - Resultados mdios obtidos nos ensaios de flexo do compsito de

    vinilster (VE) ciclos trmicos .................................................................................... 97

    Tabela 4.21 - Resultados mdios obtidos nos ensaios de traco do compsito de

    polister insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento

    natural ........................................................................................................................... 101

    Tabela 4.22 - Resultados mdios obtidos nos ensaios de traco do compsito de

    polister insaturado (UP) ciclos trmicos .................................................................. 102

    Tabela 4.23 - Resultados mdios obtidos nos ensaios de traco do compsito de

    vinilster (VE) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural........ 105

    Tabela 4.24 - Resultados mdios obtidos nos ensaios de traco do compsito de

    vinilster (VE) ciclos trmicos .................................................................................. 106

  • xxiii

    Tabela 4.25 Resultados mdios obtidos nos ensaios de corte interlaminar do

    compsito de polister insaturado (UP) imerses, condensao em contnuo e

    envelhecimento natural ................................................................................................. 110

    Tabela 4.26 - Resultados mdios obtidos nos ensaios de corte interlaminar do compsito

    de polister insaturado (UP) ciclos trmicos ............................................................. 111

    Tabela 4.27 - Resultados mdios obtidos nos ensaios de corte interlaminar do compsito

    de vinilster (VE) imerses, condensao em contnuo e envelhecimento natural ... 113

    Tabela 4.28 - Resultados mdios obtidos nos ensaios de corte interlaminar do compsito

    de vinilster (VE) ciclos trmicos ............................................................................. 113

    Tabela 4.29 Percentagem de reteno das propriedades em flexo, traco e corte

    interlaminar dos compsitos de polister insaturado (UP) e vinilster (VE) quando

    submetidos aos vrios ambientes de exposio ............................................................ 118

  • xxiv

  • 1

    1 Introduo

    1.1 Enquadramento geral

    Os custos de manuteno e reparao das estruturas construdas com materiais

    tradicionais tm sofrido um aumento considervel, devido fundamentalmente

    degradao das estruturas metlicas e em beto armado construdas nas ltimas

    dcadas [1].

    A durabilidade dos materiais tradicionais tem provocado alteraes nas prticas de

    dimensionamento e na regulamentao, o que, aliado s exigncias de velocidades de

    construo crescentes, motivou o desenvolvimento de novos materiais estruturais, mais

    leves, com menor susceptibilidade degradao por parte de agentes agressivos e com

    menores exigncias de manuteno [2].

    Os materiais compsitos reforados com fibras de vidro, ou GFRP (do ingls, Glass

    fiber reinforced polymer) so constitudos por fibras de vidro embebidas numa matriz

    polimrica, em geral de polister ou vinilster, e integram-se no grupo dos materiais

    plsticos reforados com fibras, ou materiais FRP (do ingls, Fiber Reinforced

    Polymer) [2].

    Os perfis pultrudidos de GFRP apresentam como vantagens a resistncia elevada, o

    reduzido peso prprio, a facilidade de instalao, o isolamento trmico e

    electromagntico e a resistncia a fenmenos de corroso [3].

    Algumas desvantagens dos perfis de GFRP so o mdulo de elasticidade relativamente

    reduzido, a susceptibilidade a fenmenos de instabilidade, o comportamento frgil na

    rotura e a degradao das propriedades mecnicas quando sujeitos a temperaturas

    elevadas [3].

    Os compsitos de FRP foram largamente utilizados no sector automvel, naval,

    industrial e aeroespacial, contudo o tipo de solicitaes a que as estruturas de

    Engenharia Civil esto sujeitas difere em relao aos sectores enunciados. Os dados

    sobre a durabilidade de materiais FRP nestas condies so escassos ou de difcil

    obteno, gerando relutncia na utilizao mais generalizada destes materiais em

    aplicaes estruturais [4].

  • 2

    1.2 Objectivos da dissertao

    A presente dissertao tem como objectivo principal contribuir para o estudo da

    durabilidade de perfis pultrudidos de GFRP com dois tipos de matrizes: polister

    insaturado e vinilster. Os materiais utilizados foram fornecidos pela empresa ALTO

    Perfis Pultrudidos Lda.

    Em particular, pretende-se quantificar a degradao das propriedades mecnicas, fsicas

    e estticas dos dois materiais compsitos em estudo atravs da anlise de provetes

    retirados de perfis comerciais quando submetidos a diferentes ambientes de

    envelhecimento, os quais simulam condies caractersticas de aplicaes de

    Engenharia Civil. Deste modo, possvel comparar o comportamento exibido por cada

    um dos materiais nas vrias situaes.

    Os compsitos so submetidos a imerses em gua desmineralizada e numa soluo

    salina a 20 C, 40 C e 60 C, condensao em contnuo a 40 C, ciclos trmicos e

    envelhecimento natural na cidade de Lisboa.

    O estudo efectuado envolve as seguintes particularidades:

    Os materiais so submetidos a um processo de condicionamento trmico

    previamente ao envelhecimento, numa tentativa de prevenir a ocorrncia de

    fenmenos de ps-cura, os quais dificultam a quantificao da degradao.

    De modo a no expor directamente aos agentes de degradao as superfcies de

    corte dos provetes, estes so envelhecidos com dimenses superiores s

    dimenses normativas para cada ensaio, obtendo-se assim resultados

    correlacionveis com a zona corrente de um elemento estrutural. Os cortes de

    preciso dos provetes nas suas dimenses finais so efectuados posteriormente

    ao envelhecimento.

    A caracterizao das propriedades fsicas e mecnicas aps o envelhecimento

    efectuada no estado seco, de modo a avaliar a reversibilidade da degradao

    associada absoro de humidade. Desta forma, os provetes so submetidos a

    um processo de secagem aps o envelhecimento, at massa constante.

    1.3 Organizao do documento

    A presente dissertao encontra-se dividida em cinco captulos.

  • 3

    No primeiro captulo feita uma breve introduo ao tema da utilizao de perfis

    pultrudidos de GFRP em Engenharia Civil, sumarizando-se tambm os objectivos a

    atingir nesta dissertao.

    No segundo captulo efectua-se uma reviso bibliogrfica das caractersticas e

    utilizaes dos materiais FRP na Engenharia Civil, e em particular dos perfis

    pultrudidos de GFRP. focada a sua constituio, as suas propriedades tpicas e

    caractersticas estruturais e ainda as vantagens e inconvenientes que a sua utilizao

    apresenta. dada especial importncia ao tema da durabilidade dos perfis pultrudidos

    de GFRP, quando submetidos aos vrios agentes de degradao caractersticos de

    aplicaes estruturais de Engenharia Civil.

    No terceiro captulo apresentada em pormenor a campanha experimental que foi posta

    em prtica, definindo-se os mtodos de preparao e caracterizao dos materiais e as

    condies dos ambientes de envelhecimento.

    No quarto captulo so apresentados os resultados obtidos na campanha experimental.

    feita uma anlise comparativa dos resultados para os dois materiais estudados,

    efectuando-se tambm uma comparao com os resultados de outros autores.

    No quinto captulo feita uma sntese das principais concluses da dissertao,

    apresentando-se tambm algumas sugestes para desenvolvimentos futuros.

  • 4

  • 5

    2 Estado da arte

    2.1 Introduo

    O presente captulo tem como objectivo a contextualizao do trabalho efectuado na

    campanha experimental, atravs da apresentao dos aspectos mais relevantes da

    pesquisa bibliogrfica. focado o tema dos perfis pultrudidos reforados com fibras de

    vidro (GFRP) e, em particular, a sua durabilidade.

    Em primeiro lugar, apresenta-se uma breve nota histrica sobre o aparecimento dos

    materiais compsitos e a evoluo das suas aplicaes.

    Enunciam-se de seguida as caractersticas mais relevantes dos materiais compsitos

    reforados com fibras, focando em particular a sua constituio.

    Seguidamente, tratado o caso dos materiais reforados com fibras de vidro, ou GFRP,

    referindo-se as suas propriedades mais relevantes. Descreve-se o processo de pultruso,

    utilizado no fabrico de perfis pultrudidos. Enumeram-se as principais aplicaes dos

    GFRP no domnio da Engenharia Civil.

    Em ltimo lugar, focada a questo da durabilidade, referindo-se os principais agentes

    de degradao e o seu efeito na alterao das propriedades fsicas, mecnicas e estticas

    dos materiais em estudo.

    2.2 Materiais polimricos reforados com fibras (FRP)

    Um material compsito constitudo por dois ou mais materiais que, isoladamente, no

    possuem caractersticas adequadas para serem usados como materiais de construo,

    mas que em conjunto contribuem de forma sinergtica para as propriedades gerais do

    novo material, o qual possuir maior aplicabilidade na construo [5].

    O uso dos primeiros materiais compsitos remonta Antiguidade, existindo registos da

    utilizao de tijolos de terra reforados com palha na Mesopotmia desde 5000 a.C.. Tal

    prtica tinha como objectivo a reduo da fissurao durante o processo de secagem.

    Pode fazer-se uma analogia directa entre este exemplo e os materiais compsitos

    polimricos da actualidade, tendo a lama a funo da matriz polimrica e a palha a

    funo das fibras de reforo [1].

  • 6

    A primeira aplicao de materiais FRP data da dcada de 1930, onde este tipo de

    material foi utilizado no casco de um barco, no mbito de um projecto experimental. Na

    dcada de 1940 comearam a utilizar-se fibras de vidro embebidas em polister em

    cascos de navios e coberturas de radares, estando este tipo de materiais muito associado

    s indstrias militares [2].

    A partir de 1950, as indstrias com requisitos de resistncia a ambientes agressivos, de

    isolamento trmico ou electromagntico, comearam a usar de forma corrente materiais

    FRP, nomeadamente a indstria qumica, a indstria da pasta de papel, estaes de

    tratamento de gua e esgotos e estaes elctricas [2].

    A escassez de alojamento e de materiais de construo tradicionais na dcada de 1950

    nos EUA, e a aposta no progresso tecnolgico pelos pases europeus aps a segunda

    guerra mundial motivaram a utilizao de FRP na indstria da construo, tendo sido

    concebidos cerca de setenta prottipos de edifcios de um ou dois pisos contemplando

    elementos FRP com funo estrutural [6].

    Nas figuras 2.1 e 2.2 apresentam-se dois exemplos de projectos pioneiros com

    elementos estruturais em FRP: a Maison en plastique (1956, Frana) e a

    Kunststoffhaus / fg 2000 System (1968, Alemanha).

    Figura 2.1 - Maison en plastique, 1956, Frana (adaptado de [6])

    Figura 2.2 - Kunststoffhaus / fg 2000 System, 1968, Alemanha (adaptado de [6])

    A indstria automvel tornou-se a principal consumidora de materiais compsitos FRP

    na dcada de 1970, suplantando a indstria naval. Tambm nesta dcada, observou-se

    um alargamento do campo de aplicao dos FRP a outros mercados, nomeadamente o

    mercado da aviao e dos barcos de recreio e artigos desportivos. Tal deveu-se a uma

    reduo relativa dos custos de produo deste tipo de materiais, motivada pela crise

    energtica [1].

  • 7

    No final da dcada de 1980 e incio da dcada de 1990, observou-se uma evoluo

    tecnolgica dos processos de fabrico de FRP, como a pultruso e, simultaneamente, a

    necessidade de reabilitao de um nmero crescente de estruturas, particularmente

    estruturas localizadas em vias de comunicao (viadutos e passagens superiores, por

    exemplo). O desenvolvimento de projectos-piloto apoiados pela indstria e por

    organizaes governamentais, em paralelo com um aumento da investigao, contribuiu

    para a aceitao deste tipo de produtos na indstria da construo [3].

    2.3 Caractersticas gerais de materiais polimricos reforados

    com fibras (FRP)

    2.3.1 Constituintes dos FRP

    Os materiais polimricos reforados com fibras so compostos por um reforo sob a

    forma de fibras, responsvel pelo desempenho mecnico do material, e por uma matriz

    polimrica, que assegura a transferncia de cargas entre as fibras, e tambm entre as

    cargas aplicadas e o prprio compsito. A matriz polimrica constituda por uma

    resina polimrica, contendo tambm em geral material de enchimento (denominado

    carga ou filler) e aditivos [1].

    Enumeram-se de seguida as propriedades e funes dos constituintes dos FRP.

    2.3.1.1 Reforo sob a forma de fibras

    A principal funo do reforo sob a forma de fibras suportar as solicitaes mecnicas

    dos elementos estruturais, fornecendo resistncia e rigidez ao longo da direco em que

    as fibras se desenvolvem. Os tipos de fibras mais utilizados em aplicaes comerciais

    so as fibras de vidro, carbono e aramida [1].

    Na tabela 2.1 apresenta-se uma sntese das propriedades mecnicas e fsicas mais

    significativas dos tipos de fibras mencionados (adaptado de [2, 3]).

    As fibras de vidro so produzidas atravs da passagem a uma velocidade elevada de

    vidro fundido por uma fieira, cujos orifcios determinam o dimetro resultante das

    fibras, seguido de arrefecimento e aplicao de um revestimento superficial. Este

    revestimento tem como funes a proteco das fibras durante o manuseamento e a

    compatibilizao destas com a matriz. Esto disponveis diferentes composies, todas

    elas baseadas em slica (SiO2) e outros xidos, de modo a satisfazer diferentes

  • 8

    requisitos [5]. De entre as composies disponveis (designadas por E, S, AR e C), as

    fibras do tipo E (electrical) so utilizadas em 80 % a 90 % dos produtos

    comercializados, apresentando boas propriedades de isolamento elctrico e elevada

    resistncia mecnica e aos agentes qumicos [2].

    Tabela 2.1 - Propriedades tpicas das fibras mais utilizadas (adaptado de [2, 3]).

    Propriedade Vidro (E-glass) Carbono Aramida

    Resistncia traco [MPa] 3500 2600 - 3600 2800 - 3600

    Mdulo de elasticidade [GPa] 73 200 - 400 80 - 190

    Extenso na rotura [%] 4,5 0,6 - 1,5 2,0 - 4,0

    Massa volmica [g/cm3] 2,6 1,7 - 1,9 1,4

    Coeficiente de expanso

    trmica [10-6/K] 5,0 - 6,0

    axial: -1,3 a -0,1

    radial: 18,0 -3,5

    Dimetro das fibras [m] 3 - 13 6 - 7 12

    Estrutura das fibras isotrpica anisotrpica anisotrpica

    As fibras de carbono combinam o reduzido peso prprio e a resistncia elevada com

    uma rigidez considervel, suplantando neste ltimo parmetro as fibras de vidro.

    Contudo, o seu custo de produo elevado e apresentam comportamento anisotrpico,

    o que se traduz numa resistncia reduzida na direco radial [2, 5].

    As fibras de aramida, embora mais resistentes que as fibras de vidro, apresentam uma

    reduzida resistncia compresso, so susceptveis rotura por fadiga e exibem grande

    sensibilidade degradao por radiao ultravioleta [2].

    As fibras de reforo so disponibilizadas sob diversas formas, que incluem mechas ou

    feixes de filamentos contnuos quase paralelos, no torcidos (rovings) ou torcidos

    (yarns), ou na forma de fibras curtas com 3 a 50 mm de comprimento (chopped). As

    mantas de reforo podem ser constitudas por fibras curtas ou contnuas dispostas

    aleatoriamente (chopped strand mat ou continuous strand mat, respectivamente) ou

    fibras contnuas orientadas biaxial ou triaxialmente, as quais podem ou no ser

    entrelaadas (woven fabrics ou non woven fabrics, respectivamente) [1]. Nas figuras 2.3

    e 2.4 ilustram-se as disposies referidas.

    De um modo geral, as fibras de reforo so submetidas a um tratamento qumico

    superficial, recorrendo a produtos como o amido, o leo ou a cera (denominados

    sizings). Estes actuam como lubrificantes ou agentes anti-estticos, protegendo as fibras

  • 9

    durante o seu manuseamento e fazendo com que estas se aglomerem em mechas. Estes

    produtos incluem ainda agentes de ligao que favorecem a ligao das fibras com a

    matriz [3].

    Figura 2.3 - Reforos unidireccionais: mechas de filamentos contnuos no torcidos ou rovings ( esquerda) e torcidos ou yarns (no centro e direita) (adaptado de [7]).

    Figura 2.4 Tipos de mantas de reforo: fibras contnuas dispostas aleatoriamente, fibras contnuas direccionadas

    (0/90) entrelaadas, fibras contnuas direccionadas (0/90) + fibras dispostas aleatoriamente, fibras contnuas direccionadas (0/45/90) + fibras dispostas aleatoriamente (adaptado de [7]).

    2.3.1.2 Resinas polimricas

    O termo resina polimrica ou simplesmente resina designa, na indstria dos FRP, o

    constituinte principal da fase no fibrosa do FRP, ou matriz polimrica [8].

    A matriz polimrica tem as seguintes funes principais [3, 5]:

    Assegurar a posio e orientao das fibras, atravs de uma impregnao

    eficaz durante o processo de fabrico;

    Distribuir pelas fibras as tenses resultantes do carregamento aplicado;

    Absorver a energia e reduzir a concentrao de tenses, contribuindo para a

    deteno da propagao de fissuras;

    Proteger as fibras dos agentes de degradao ambientais como a humidade;

    Impedir eventuais fenmenos de instabilidade das fibras, quando sujeitas a

    compresso.

    Adicionalmente, a matriz polimrica tem capacidade para resistir a algumas cargas,

    particularmente as associadas a tenses transversais e a tenses de corte

    interlaminar [1].

  • 10

    As resinas polimricas dividem-se em dois grupos principais: (i) as resinas

    termoendurecveis e (ii) as resinas termoplsticas. Estes grupos distinguem-se pela

    forma como as suas cadeias polimricas esto interligadas quando o polmero se

    encontra na forma slida [1].

    As resinas termoendurecveis resultam de uma reaco qumica de polimerizao, da

    qual resulta uma estrutura molecular tridimensional com ligaes cruzadas. Depois de

    curadas, estas resinas so infusveis, no podendo ser reprocessadas ou soldadas. A sua

    reduzida viscosidade permite velocidades de processamento elevadas. Adicionalmente,

    as resinas termoendurecveis apresentam uma boa capacidade de impregnao das fibras

    e muito boas propriedades adesivas. As resinas termoendurecveis mais comuns so o

    polister e o vinilster (objecto de estudo deste documento) e tambm as fenlicas e as

    epoxdicas [3].

    As resinas termoplsticas no apresentam ligaes cruzadas, estando as suas cadeias

    ligadas por foras de Van der Waals ou por ligaes de hidrognio, e no sofrem

    transformaes qumicas durante o seu processamento. No formando uma estrutura

    irreversvel, as resinas termoplsticas permitem a sua reciclagem e reprocessamento. O

    seu custo de processamento consideravelmente superior face s resinas

    termoendurecveis, devido sua elevada viscosidade. As suas propriedades de

    impregnao e adeso s fibras so inferiores em comparao com as resinas

    termoendurecveis. Integram o grupo das resinas termoplsticas o polipropileno, a

    poliamida, o polietileno e o polibutileno [3].

    As resinas termoendurecveis so utilizadas na esmagadora maioria das aplicaes

    comerciais de produtos FRP, devido s propriedades previamente enumeradas.

    Contudo, o surgimento de novas tcnicas de fabrico e campos de aplicao inovadores

    tem vindo a viabilizar o uso de FRP de matriz termoplstica [2, 5].

    Na tabela 2.2 apresentam-se as propriedades fsicas e mecnicas das resinas

    termoendurecveis mais comuns.

    As resinas de polister insaturado so as resinas termoendurecveis mais utilizadas

    como matriz de FRP, atingindo uma quota de 91% na indstria da construo. Esta

    percentagem elevada deve-se ao equilbrio que este tipo de resinas apresenta em relao

    s propriedades mecnicas, qumicas e elctricas, sua estabilidade dimensional e

  • 11

    facilidade de processamento, estando estes factores aliados a um reduzido custo de

    produo. Esta reduo de custo deve-se em parte possibilidade de se misturar estas

    resinas com grandes quantidades de cargas (podendo o teor mssico das cargas atingir

    50 %) [1, 5].

    Tabela 2.2 Propriedades fsicas e mecnicas das resinas termoendurecveis mais comuns (adaptado de [1]).

    Propriedade Polister Epxida Vinilster Fenlica

    Resistncia traco [MPa] 20 70 60 80 68 82 30 - 50

    Mdulo de elasticidade em traco [GPa] 2,0 3,0 2,0 4,0 3,5 3,6

    Extenso na rotura em traco [%] 1,0 5,0 1,0 8,0 3,0 4,0 1,8 2,5

    Massa volmica [g/cm3] 1,20 1,30 1,20 1,30 1,12 1,16 1,00 1,25

    Temperatura de transio vtrea [C] 70 120 100 270 102 150 260

    As resinas de vinilster foram desenvolvidas com vista a combinar as propriedades das

    resinas epoxdicas com a facilidade de processamento do polister, representando uma

    percentagem de 1 % na indstria da construo. Estas tm uma maior durabilidade em

    ambientes corrosivos e alcalinos, sendo actualmente usadas no fabrico da maioria dos

    vares de FRP. Este tipo de resinas apresenta uma boa resistncia ao impacto e fadiga,

    reduzida permeabilidade gua e boas propriedades de isolamento trmico e elctrico.

    Exibem ainda uma boa aderncia a fibras de vidro, carbono e aramida [1, 5, 8].

    Em adio resina base, as matrizes polimricas incluem constituintes suplementares

    com as funes de induzir a reaco de polimerizao, melhorar o processamento,

    reduzir o custo do material e melhorar as propriedades do produto final. Estes

    constituintes suplementares podem dividir-se em trs grupos: (i) agentes de

    polimerizao, (ii) materiais de enchimento e (iii) aditivos [1].

    2.3.1.3 Agentes de polimerizao

    Os agentes de polimerizao so substncias utilizadas para induzir a iniciao da

    reaco de polimerizao da resina base. Nas resinas de polister e vinilster so

    utilizados perxidos orgnicos (activados pelo calor) para iniciar a reaco de cura, em

    quantidades variando entre 0,25 % e 1,50 % do peso da resina base. Pode ainda ser

    adicionado um monmero de estireno em quantidades entre 10 % e 15 % do peso da

    resina base, de modo a reduzir a sua viscosidade e facilitar o processamento [8].

  • 12

    2.3.1.4 Cargas (fillers)

    As cargas ou fillers so compostos quimicamente inertes incorporados na matriz

    polimrica tendo como principal objectivo a reduo do custo de produo, embora a

    sua presena influencie inevitavelmente algumas propriedades da resina e do produto

    final [5].

    A presena de cargas pode contribuir para a reduo da retraco da matriz, melhorando

    a sua estabilidade dimensional e prevenindo o aparecimento de fissuras em zonas de

    descontinuidade ou com teor em resina excessivo. Adicionalmente, a rigidez, a

    resistncia fadiga, fluncia e a resistncia qumica podem tambm ser

    incrementadas. Contudo, algumas propriedades mecnicas e a resistncia corroso

    podero diminuir [3].

    Entre os compostos mais utilizados incluem-se o carbonato de clcio, o caulino (silicato

    de alumnio), o hidrxido de alumnio e o sulfato de clcio, sendo os dois ltimos

    utilizados para melhorar o comportamento na situao de incndio, por reduzirem a

    inflamabilidade e a produo de fumo [1].

    Tipicamente, os vares e perfis pultrudidos de polister e vinilster incorporam uma

    percentagem de cargas de 10 % a 30 % do peso da matriz. No caso de elementos

    pultrudidos de pequenas dimenses com reforo apenas longitudinal, o teor de cargas

    inferior a 5 %, e nos laminados de FRP geralmente o teor de cargas ainda menor [8].

    2.3.1.5 Aditivos

    Os aditivos so incorporados na matriz para melhorar o desempenho do material, o seu

    processamento, ou para modificar certas propriedades. Tipicamente so introduzidos em

    quantidades inferiores a 1 % em peso da resina. Contudo, apesar desta reduzida

    percentagem, estes podem provocar alteraes significativas nas propriedades fsicas e

    mecnicas do material FRP [1].

    Enumeram-se de seguida algumas das funes dos aditivos [2]:

    Reduo da produo de fumo e melhoramento da resistncia ao fogo;

    Inibio da oxidao de polmeros;

    Reduo da retraco;

    Reduo do teor de vazios;

  • 13

    Aumento da condutividade elctrica e interferncia electromagntica;

    Aumento da dureza;

    Preveno da perda de cor e brilho devido radiao ultravioleta (UV);

    Obteno de uma determinada cor;

    Facilitar a desmoldagem.

    2.3.1.6 Interface fibra-matriz

    A matriz polimrica e o reforo sob a forma de fibras, de natureza diversa, criam entre

    si uma importante rea de contacto. Para que se atinjam as propriedades mecnicas do

    material compsito, fundamental que seja assegurada a interaco entre os seus

    constituintes [5].

    As propriedades mecnicas da interface fibra-matriz dependem essencialmente da

    adeso e compatibilidade mecnica entre as fibras e a matriz, e tambm do ngulo entre

    as fibras de reforo e a direco de solicitao. Verifica-se que os valores mximos das

    propriedades mecnicas ocorrem quando a direco das fibras de reforo e da

    solicitao so coincidentes [1, 3].

    De modo a garantir uma boa interaco mecnica entre as fibras e a matriz polimrica,

    as suas propriedades mecnicas devem ser adaptadas. Por exemplo, de modo a evitar o

    aparecimento de microfissurao na matriz antes de ser atingida a capacidade de

    deformao mxima das fibras, a extenso na rotura da matriz deve ser superior das

    fibras. Da mesma forma, a matriz deve garantir uma rigidez mnima para impedir

    fenmenos de instabilidade nas fibras [3].

    2.4 Caractersticas gerais de perfis pultrudidos de polmero

    reforado com fibras de vidro (GFRP)

    2.4.1 Processo de fabrico de perfis pultrudidos de GFRP

    Os perfis pultrudidos de GFRP so produzidos atravs do processo de pultruso, um

    processo contnuo automatizado desenvolvido por B. Goldsworthy no princpio da

    dcada de 1950 nos E.U.A. [8].

    O processo consiste na combinao das fibras de reforo com uma resina

    termoendurecvel e permite o fabrico de componentes com seco constante, aberta ou

  • 14

    fechada, estando o seu comprimento mximo limitado apenas pela capacidade de

    transporte disponvel [9].

    As mechas contnuas e as mantas de fibras dispostas noutras direces so colocadas na

    sua posio definitiva, sendo em seguida impregnadas com uma resina

    termoendurecvel no estado lquido. As fibras saturadas so introduzidas num molde

    aquecido, cuja forma define a seco pretendida para o produto. No interior do molde, a

    temperatura provoca a cura da resina, atingindo esta o estado slido. O equipamento de

    traco movimenta de forma contnua o perfil, conduzindo-o a uma serra onde cortado

    com o comprimento pretendido [9].

    A figura 2.4 ilustra o esquema de produo descrito.

    Figura 2.4 Esquema do processo de pultruso (adaptado de [7])

    O processo de pultruso permite grande flexibilidade na concepo de perfis pultrudidos

    de FRP, podendo com a tecnologia actual produzir-se perfis com seces de dimenses

    considerveis. A versatilidade no posicionamento das fibras de reforo permite atingir

    requisitos de resistncia especficos [10].

    2.4.2 Propriedades tpicas de perfis pultrudidos de GFRP

    As propriedades dos perfis pultrudidos de GFRP dependem essencialmente do tipo de

    fibras e matriz polimrica, da orientao das fibras e respectivo teor e tambm da

    interaco entre as fibras e a matriz [3].

    Sousa [11] apresenta gamas de variao para as propriedades mecnicas de perfis

    pultrudidos de trs das principais produtoras mundiais. Distingue-se a direco axial

    (direco da pultruso) da direco transversal s fibras. Nas tabelas 2.3 e 2.4 exibem-se

    estes valores. A resistncia ao corte e o mdulo de distoro dependem essencialmente

    da matriz polimrica, pelo que os valores apresentados para estas grandezas

    relativamente s direces axial e transversal so idnticos.

  • 15

    Tabela 2.3 - Propriedades mecnicas na direco axial de perfis pultrudidos GFRP disponveis comercialmente (adaptado de [11])

    Propriedade Produtora

    Fiberline Strongwell Creative P. Inc.

    Resistncia traco [MPa] 240 207 228 258

    Resistncia compresso [MPa] 240 207 228 258

    Resistncia flexo [MPa] 240 207 228 258

    Resistncia ao corte [MPa] 25 31 38 41

    Mdulo de elasticidade [GPa] 23 28 17 19 19 22

    Mdulo de distoro [GPa] 3,0 2,9 2,9

    Coeficiente de Poisson [-] 0,23 0,33 0,35

    Tabela 2.4 - Propriedades mecnicas na direco transversal s fibras de perfis pultrudidos GFRP disponveis comercialmente (adaptado de [11])

    Propriedade Produtora

    Fiberline Strongwell Creative P. Inc.

    Resistncia traco [MPa] 50 48 52 55

    Resistncia compresso [MPa] 70 69 76 88

    Resistncia flexo [MPa] 100 110 113 137

    Resistncia ao corte [MPa] 25 31 38 41

    Mdulo de elasticidade [GPa] 8,5 5,5 5,5 6,9

    Mdulo de distoro [GPa] 3,0 2,9 2,9

    Coeficiente de Poisson [-] 0,09 0,14 0,15

    A norma europeia EN 13706 estabelece normas de ensaio para a determinao de

    propriedades mecnicas, fsicas e trmicas, e define duas classes de perfis, apresentando

    valores mnimos que as propriedades do perfil devem garantir para integrar cada

    classe [3].

    Na figura 2.5 apresenta-se uma comparao entre a relao constitutiva de dois tipos de

    perfil pultrudido da produtora ALTO e outros materiais de construo usuais,

    nomeadamente o ao, o alumnio, a madeira e o PVC. A notao Pul 1 designa um

    perfil apenas com reforo unidireccional de fibra de vidro, e a notao Pul 2 designa um

    perfil com reforo unidireccional e manta de fibra de vidro.

    O ao o material que concorre de forma mais directa com os perfis pultrudidos de

    GFRP. Salientam-se as seguintes propriedades dos perfis pultrudidos, em relao ao

    ao [2]:

  • 16

    Comportamento elstico linear at rotura, contrastando com o comportamento

    dctil do ao;

    Tenso ltima superior da maioria dos aos estruturais;

    Mdulo de elasticidade de cerca de 15 % do ao.

    Figura 2.5 Comparao da relao constitutiva dos perfis pultrudidos de GFRP da produtora ALTO (adaptado de [12])

    O valor reduzido do mdulo de elasticidade est associado a uma maior

    deformabilidade dos elementos estruturais, tendo a deformabilidade por corte um

    contributo significativo. Este fomenta tambm a ocorrncia de fenmenos de

    instabilidade de peas esbeltas no travadas [1].

    O dimensionamento deste tipo de perfis condicionado de um modo geral pelos

    requisitos de desempenho em servio (carregamentos da ordem de 20 % da carga

    ltima), para os quais vlida a hiptese do comportamento elstico tanto na direco

    das fibras como na direco transversal. Contudo, para nveis de deformao elevados,

    em particular na direco transversal, a relao tenso-deformao pode aparentar

    alguma no linearidade e a rotura pode ser progressiva [8].

    Na figura 2.6 apresenta-se uma comparao entre a massa volmica, o coeficiente de

    dilatao trmica e a condutividade trmica de perfis pultrudidos de GFRP e outros

    materiais tradicionais (AL Alumnio, SL Ao, T Madeira). Denota-se o peso

    prprio reduzido dos perfis de GFRP face ao ao (cerca de 4 a 5 vezes inferior) e uma

    condutividade trmica tambm significativamente inferior do ao [3].

  • 17

    Figura 2.6 Comparao entre as propriedades fsicas e trmicas de perfis pultrudidos de GFRP e de outros materiais de construo: massa volmica (esquerda), coeficiente de dilatao trmica (centro) e condutividade trmica (direita)

    (adaptado de [3]).

    2.4.3 Caractersticas estruturais de perfis pultrudidos de GFRP

    A disposio tpica dos laminados das peas produzidas por pultruso apresenta-se na

    figura 2.7. Evidenciam-se as fibras de reforo longitudinais e as mantas de fibras com

    direces aleatrias, que conferem resistncia na direco transversal. superfcie dos

    laminados, so colocadas mantas de reforo com fibras dispostas aleatoriamente e um

    teor em resina superior ao das restantes camadas (vus de superfcie) de modo a

    proteger as fibras dos agentes de degradao externos [2].

    Figura 2.7 Estrutura das camadas num material pultrudido (adaptado de [10])

    Inicialmente, as formas estruturais dos perfis pultrudidos foram replicadas da

    construo metlica, sendo produzidas fundamentalmente seces de parede fina aberta.

    Actualmente, tm sido desenvolvidos sistemas estruturais mais complexos, compostos

    por seces multicelulares fechadas ligadas entre si por colagem que podem ser

    utilizados como tabuleiro de pontes [13].

    Na figura 2.8 apresentam-se exemplos de seces semelhantes s existentes nas

    estruturas metlicas, e na figura 2.9 exibem-se alguns exemplos de tabuleiros de pontes

    compostos por seces fechadas coladas.

  • 18

    Figura 2.8 Exemplos de perfis pultrudidos de GFRP (adaptado de [11])

    Figura 2.9 Exemplos de tabuleiros de pontes compostos por perfis pultrudidos de GFRP colados

    (adaptado de [14])

    2.4.4 Vantagens e inconvenientes da utilizao de perfis pultrudidos de

    GFRP

    O uso de perfis pultrudidos de GFRP apresenta um conjunto de vantagens e

    inconvenientes face utilizao de materiais de construo tradicionais como o beto

    armado ou o ao, destacando-se as seguintes [1]:

    Reduzido peso prprio;

    Elevadas relaes resistncia - peso prprio e rigidez - peso prprio;

    Possibilidade de produo de qualquer forma estrutural;

    Elevada resistncia fadiga;

    Boas propriedades de isolamento trmico e transparncia electromagntica;

    Facilidade de transporte e aplicao em obra;

    Reduzidos custos de manuteno;

    Elevada durabilidade.

    Os inconvenientes mais significativos so os seguintes [1]:

    Reduzido mdulo de elasticidade;

    Comportamento frgil na rotura;

    Necessidade de desenvolvimento de formas estruturais e sistemas de ligao

    adaptados s propriedades do material;

    Inflamabilidade e reduo das propriedades mecnicas para temperaturas

    moderadamente elevadas (100 C a 200 C);

    Ausncia de regulamentao especfica;

    Custos directos iniciais pouco competitivos.

  • 19

    2.4.5 Aplicaes de perfis pultrudidos de GFRP

    Os perfis pultrudidos de GFRP comearam por ser utilizados em elementos no

    estruturais ou estruturas secundrias em aplicaes com elevados requisitos de

    durabilidade, como a indstria petroqumica, estaes de tratamento de guas ou a

    indstria do saneamento bsico, entre outros [3].

    Para este tipo de aplicaes no estruturais, o processo de pultruso desenvolveu uma

    vasta gama de produtos constitudos por perfis de GFRP, como por exemplo painis de

    fachada (Figura 2.10a), guarda-corpos (Figura 2.10b) e escadas isolantes (Figura 2.10c).

    Figura 2.10 Aplicaes de perfis pultrudidos de GFRP em estruturas secundrias: a) Painis de fachada (adaptado de [15]); b) Guarda-corpos (adaptado de [16]); c) Escada isolante (adaptado de [16]).

    Nos ltimos anos, surgiu um nmero crescente de aplicaes de perfis de GFRP em

    estruturas primrias, englobando coberturas, pontes pedonais e rodovirias e

    edifcios [1].

    O edifcio Eyecatcher (figura 2.11), construdo em 1999 para a Feira da Construo de

    Basileia, apresenta uma estrutura principal constituda por trs prticos trapezoidais,

    com seces compostas obtidas atravs da colagem de perfis de GFRP. Com cinco

    pisos, actualmente o edifcio mais alto com uma estrutura deste tipo [17].

    A ponte levadia de Bonds Mill (figura 2.12), construda em 1994, foi a primeira ponte

    rodoviria totalmente compsita do Reino Unido. A sua estrutura constituda por

    painis do sistema Advanced Composite Construction System (ACCS) assentes em

    vigas longitudinais constitudas por perfis de GFRP. Tratando-se de uma ponte levadia,

    o seu reduzido peso prprio constituiu um factor vantajoso [3].

    No mbito da reabilitao de estruturas existentes, so usados painis de GFRP para

    substituir lajes em beto armado de tabuleiros de pontes. Estes painis so ligados s

    vigas pr-existentes por aparafusamento, colagem ou chumbadouros. Podem tambm

    a b c

  • 20

    usar-se perfis ou painis de GFRP para substituir pavimentos de madeira degradados em

    edifcios antigos [1].

    Figura 2.11 - Edifcio Eyecatcher (adaptado de [15])

    Figura 2.12 - Ponte elevatria Bonds Mill (adaptado

    de [18])

    2.5 Durabilidade de perfis pultrudidos de polmero reforado

    com fibras de vidro (GFRP)

    A durabilidade de um material pode definir-se como a sua capacidade para resistir a

    fendilhao, oxidao, degradao qumica, delaminao, desgaste por uso e/ou

    danificao por objectos externos, durante um determinado perodo de tempo e em

    determinadas condies ambientais [9].

    Em projecto, este conceito de durabilidade posto em prtica atravs do uso de

    princpios de tolerncia ao dano. A tolerncia ao dano caracteriza-se como a capacidade

    de um material ou estrutura resistir ao colapso e comportar-se de forma adequada em

    servio na presena de imperfeies, fendilhao ou outra forma de dano ou

    degradao, durante um determinado perodo de tempo e em condies ambientais

    especficas [4].

    Embora os materiais FRP em geral tenham sido amplamente utilizados nos sectores

    industrial, aeroespacial, automvel e martimo, existem diferenas significativas ao

    nvel do carregamento, ambiente de exposio, tipo de materiais e processos utilizados

    nestas aplicaes, em contraste com aquilo que se verifica em aplicaes de Engenharia

    Civil [19].

    Karbhari et al [4] enunciaram um conjunto de factores de degradao, descritos de

    seguida, como tendo um impacto significativo na durabilidade de elementos estruturais

    em FRP. Os autores referidos salientam tambm a importncia dos efeitos sinergticos

    (combinao de vrios factores de degradao), pois esta a situao mais frequente

  • 21

    para uma estrutura em servio e conduz a nveis mais elevados de degradao. Os

    factores identificados foram os seguintes:

    Humidade e solues aquosas;

    Ambientes alcalinos;

    Efeitos trmicos;

    Exposio a radiao ultravioleta (UV);

    Exposio ao fogo;

    Fadiga;

    Fluncia / relaxao;

    Em seguida, descrevem-se os efeitos dos factores de degradao enumerados.

    2.5.1 Humidade e solues aquosas

    A exposio humidade e solues aquosas inclui efeitos da exposio directa chuva

    e humidade atmosfrica, a difuso atravs de outros substratos e a imerso em solues

    aquosas, como ocorre por exemplo em estruturas de portos ou elementos de

    encamisamento de pilares de pontes [19].

    A humidade incorpora-se em todos os polmeros orgnicos, alterando as suas

    caractersticas termofsicas, mecnicas e qumicas. O principal efeito da absoro de

    humidade revela-se na matriz polimrica, atravs de processos como a hidrlise, a

    plasticizao e a saponificao (entre outros), que provocam alteraes de natureza

    reversvel e/ou irreversvel na sua estrutura. A propagao de humidade, por

    capilaridade, para a zona da interface fibra-matriz, pode causar efeitos nocivos na

    ligao entre as fibras e a matriz, resultando numa perda de integridade a esse nvel.

    Podem tambm verificar-se efeitos nocivos ao nvel das fibras. A extraco de ies das

    fibras devido presena da humidade pode levar a alteraes na sua estrutura [19].

    De acordo com Liao et al. [20], as alteraes mecnicas resultantes da absoro de

    humidade podem ser reversveis, no reversveis, ou uma combinao das duas,

    dependendo das condies de exposio. No caso das alteraes reversveis, que

    envolvem o processo de plasticizao e aumento de volume da matriz por absoro, as

    propriedades mecnicas podem ser restauradas atravs da secagem do material. Na

    ocorrncia de alteraes irreversveis, que envolvam danos nas fibras, fissurao da

  • 22

    matriz ou destacamento na zona da interface fibra-matriz, as propriedades mecnicas do

    compsito so permanentemente alteradas.

    2.5.1.1 Efeitos na matriz polimrica

    A penetrao de humidade em polmeros termoendurecveis conduz, em primeiro lugar,

    ocorrncia de plasticizao, isto , ao aumento da distncia intermolecular devido

    introduo de molculas de gua nas cadeias polimricas. Este processo de cariz

    reversvel tem como consequncia uma diminuio da temperatura de transio vtrea

    do compsito [19]. Esta caracteriza-se como o valor mdio da gama de temperaturas em

    que ocorre a transio entre um estado viscoso e um estado slido nos polmeros

    amorfos [5].

    A exposio de longa durao a um ambiente aquoso pode ter como consequncia a

    ocorrncia de degradao qumica atravs de hidrlise, verificando-se um ataque aos

    grupos ster da resina, no caso do polister, estando este grupo menos acessvel no caso

    do vinilster. Tal potencia uma reduo da temperatura de transio vtrea [21].

    Adicionalmente, pode verificar-se uma diminuio da massa do compsito devido

    dissoluo de elementos de baixo peso molecular [19].

    De acordo com Chin et al. [22], as resinas de vinilster so de um modo geral menos

    susceptveis degradao por hidrlise em comparao com as resinas de polister,

    devido presena de grupos de metilo que funcionam como proteco dos grupos ster.

    2.5.1.2 Efeitos nas fibras de vidro

    As fibras de vidro podem degradar-se quando sujeitas a uma longa exposio a solues

    aquosas, devido ao facto de serem constitudas por xidos de metais alcalinos

    hidrolisveis. Contudo, as fibras de vidro do tipo E e S, as mais usadas na indstria da

    construo, contemplam contedos reduzidos destes xidos [5].

    A degradao das fibras de vidro causada pela extraco de ies de clcio, alumnio e

    sdio e subsequente substituio por ies de hidrognio [23]. A reduo de volume

    superfcie das fibras resultante deste fenmeno gera tenses de traco elevadas, que

    conduzem a perda de resistncia e fissurao [19].

    2.5.1.3 Efeitos na interface fibra-matriz

    A presena de humidade na zona da interface fibra-matriz pode reduzir de forma directa

  • 23

    a fora de ligao qumica entre a matriz e as fibras. Adicionalmente, o aumento de

    volume da matriz que acompanha o processo de absoro pode alterar as tenses

    residuais que se geraram nesta rea durante o processo de cura, reduzindo a resistncia

    interfacial ao corte [24].

    2.5.1.4 Efeitos gerais em sistemas FRP

    As propriedades mecnicas dos compsitos so de um modo geral menos susceptveis

    ao envelhecimento higrotrmico em comparao com as das resinas, devido presena

    e forte influncia das fibras de vidro [19].

    De um modo geral, o efeito da exposio humidade e solues aquosas ressente-se ao

    nvel da resistncia mecnica do compsito, sendo as alteraes dos mdulos de

    elasticidade diminutas (da ordem dos 10 % num perodo de 10 a 15 anos). Contudo,

    atingindo-se um estado avanado de degradao das fibras, os mdulos de elasticidade

    do compsito podem sofrer uma diminuio considervel [4].

    2.5.2 Ambientes alcalinos

    Os materiais FRP podem estar em contacto com meios alcalinos provenientes de

    diferentes fontes, contudo a situao mais relevante na indstria da construo o efeito

    de degradao resultante do contacto com a soluo fortemente alcalina formada no

    interior dos poros do beto (por exemplo, em aplicaes de reabilitao de

    estruturas) [5].

    As fibras de vidro so fortemente degradadas pela presena de solues alcalinas,

    atravs de um conjunto de mecanismos que incluem a formao de cavidades por

    oxidao (pitting), a hidroxilao e a hidrlise. Embora as fibras estejam envolvidas

    pela resina, que lhes confere um determinado nvel de proteco, as solues alcalinas

    podem acelerar a degradao da ligao entre estes elementos e afectar a resina em si,

    especialmente se esta no estiver totalmente curada [4].

    De acordo com Chu et al. [25], a degradao das propriedades mecnicas subsequente

    da exposio a solues alcalinas consideravelmente superior, em comparao com as

    solues aquosas, verificando-se degradao ao nvel da resina, das fibras e da zona de

    interface fibra-matriz. Os autores concluram que em solues alcalinas a ocorrncia

    severa do processo de hidrlise devido penetrao da soluo de pH elevado conduz

  • 24

    ao surgimento de microfissurao na matriz, levando a uma absoro superior em

    comparao com a imerso em outras solues aquosas.

    2.5.3 Efeitos trmicos

    Os compsitos de FRP so sujeitos a efeitos trmicos tanto durante o processo de

    fabrico como no decorrer da sua vida til. Os efeitos trmicos incluem alteraes devido

    exposio a temperaturas acima da temperat