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COMO TREINAR O SEU CÃO E. Fitch Daglish

E. Fitch Daglish - Como Treinar o Seu Cão (Rev)

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COMO TREINAR O SEU CÃOE. Fitch Daglish

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ÍNDICE

1 - Os princípios básicos da aprendizagem 2 - O seu novo Cachorro 3 - Ensinar o cão a ser asseado dentro de casa 4 - Habituar o cão à trela e andar na rua 5 - Ensinar o cão a obedecer às ordens de "Sentado" e "Deitado" 6 - Ensinar o cão a seguir o dono e a parar quando recebe essa ordem 7 - Ensinar o cão a manter-se imóvel na mesma posição 8 - Ensinar o cão a ir buscar um objeto e a trazê-lo à mão 9 - Ensinar o cão a procurar e seguir uma pista pelo faro 10 - Ensinar o cão a não correr atrás dos automóveis ou do gado e da criação 11 - Habituar o cão à água e ensiná-lo a ser um bom cão de guarda 13 - Algumas observações e sugestões finais

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Nota Introdutória

O treino de um cão, quer se trate de lhe ensinar a dar a pata ou do transformar num bom cão pastor, requer essencialmente três coisas: Tempo, paciência e algumas noções básicas de eficácia comprovada. Presumindo que o leitor terá as duas primeiras, esta obra estabelece, passo a passo, todos os vários programas de treino que o dono de um cão poderá querer aplicar, isto tendo também sempre em mente não causar aborrecimentos desnecessários ao animal.

1 - Os princípios básicos da APRENDIZAGEM

No Mundo dos nossos dias, ter um cão tanto pode ser um prazer como uma calamidade. A alternativa depende em grande medida do fato do cão ter ou não ter sido convenientemente ensinado, de forma a poder integrar-se na estrutura social da comunidade em que vive. Todos os amigos dos cães, quer vivam na cidade, quer no campo, reconhecem hoje em dia a necessidade de ensinar o cão a conformar-se com um determinado código de comportamento, sejam quais forem as circunstâncias da vida do animal. Fala-se muito, atualmente, em cães ensinados para desempenharem funções específicas, tais como os cães-policias, os cães de cegos, os cães de guarda da policia e do exército, etc., e toda a gente sabe que existem escolas especiais onde se ensinam os cães. É possível que não vallha a pena mandar ensinar, numa destas escolas, um cão cujas funções consistem apenas em fazer companhia ao seu dono, mas quem quer que tenha um cão pretende que o seu animal seja asseado dentro de casa, obedeça ao dono, acorrendo quando é chamado, saiba andar com juízo, preso pela trela, e possa ser convenientemente controlado quando é solto num parque ou no campo. Em suma, todos desejam que o seu cão seja um companheiro agradável e de toda a confiança para o dono e todos os outros membros da família com quem vive. O dono de um cão é responsável pelo comportamento do animal para com outros seres humanos, adultos ou crianças, para com outros animais domésticos e também pelo seu comportamento na rua, no meio do tráfego. Um cão mal comportado e mal ensinado pode causar prejuízos avultados na rua, no campo ou em casa, obrigando o seu dono a pagar grandes multas como penalização do mau comportamento do animal.

Um outro aspecto importante no que a este ponto se refere é o de que um cão bem ensinado é muito mais feliz que aquele que o não foi. Não pode haver entendimento entre o animal e o dono se o cão não tiver sido ensinado. Este manual propõe-se indicar como se pode ensinar a um cão, destinado a desempenhar as funções de companheiro e amigo do dono, as coisas que este entende que o animal tem de aprender e o levarão a comportar-se de modo a ser sempre um companheiro agradável, e não um embaraço ou um incomodo para o seu dono. Não abordamos aqui o ensino especializado, pois ultrapassa geralmente as possibilidades do leitor comum.

Antes de abordarmos os métodos de ensino dos vários exercícios, é indispensável dizer alguma coisa sobre a mente do cão, suas limitações e funcionamento. O princípio mais importante que o dono de um cão terá de aprender antes de começar a ensinar o animal é o de que este não é dotado de

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uma inteligência humana nem tão pouco de um sentido moral na acepção geralmente aceite do termo. O cão é incapaz de raciocinar. Só pode aprender por associação de idéias. Por vezes, um dono muito afeiçoado ao seu cão diz que o animal percebe tudo o que se lhe diz. Não é verdade. Um cão é incapaz de compreender qualquer palavra. se, por vezes, parece fazê-lo, é porque associou determinado som a determinado movimento ou ação. Pode também aprender a associar uma dada experiência, agradável ou desagradável, a um determinado som ou expressão gestual como, por exemplo, um sinal de mão. Pode portando ensinar ao seu cão a sentar-se quando lhe diz a palavra "SENTA", mas pode igualmente ensiná-lo a sentar-se quando lhe diz "DE PÉ" ou "CORRE", ou quando emite qualquer outro som, vocal ou não vocal. É pois indispensável recorrer a um número mínimo de palavras quando se ensina o cão, e dizer sempre a mesma palavra para dar a mesma ordem. As ordens devem também ser dadas de forma clara e incisiva.

Não exagere nunca a inteligência do seu cão, para mais ou para menos. Um cão não é estúpido ou desobediente por natureza. Deve partir do princípio de que o seu cão deseja agradar-lhe, e não se esqueça de que um ensino bem sucedido tem de se basear na confiança e na afeição mútuas. O cão tem boa memória, mas a sua inteligência é limitada. Não se pode esperar que o animal adapte o seu comportamento ao humor do dono. Tente portanto manter a maior uniformidade possível quando educa o seu cão e tenha cuidado para não acabar por o ensinar a comportar-se de uma maneira que mais tarde lhe possa causar aborrecimentos. Por Exemplo, é engraçado ver um cachorro morder e puxar com os dentes um objeto que o dono segura na mão e se, no entusiasmo da brincadeira, o animal ladra e se atira ao dono, este pode achar que esse comportamento é também engraçado. Mas se o cão continuar com essas brincadeiras à medida que for crescendo, pode tornar-se violento e destrutivo, ou até feroz, e será muito difícil tirar-lhe mais tarde um hábito que o dono inicialmente encorajou.

Nunca ralhe com um cão nem o castigue quando faz algum disparate ou quando não obedece a uma ordem, a menos que tenha a certeza de que o animal sabe com toda a certeza aquilo que lhe é exigido e compreende porque é que está a ser castigado. Verifique bem se o cão sabe realmente aquilo que você quer que ele faça. Se o cão se não comporta da forma que você pretende, é talvez porque não compreendeu o significado da sua ordem ou porque não estabeleceu ainda uma associação clara entre essa ordem e a ação que a mesma pretende induzir. Não grite com o cão nem perca a calma, por muito irritante que o animal lhe pareça. A bondade e a paciência são indispensáveis em qualquer ensino bem sucedido. Nem todos os cães aprendem com a mesma facilidade a obedecer às ordens do seu treinador. Algumas raças aprendem certos exercícios com muito mais facilidade que outras, e há também diferenças individuais entre os cães, mas, seja como for, o ensino deve ser começado o mais cedo possível na vida do cão. No entanto, e se bem que um cão novo aprenda com muito mais facilidade que um cão adulto, é possível ensinar a qualquer cão os exercícios simples descritos nas páginas que se seguem, desde que o treinador seja paciente e compreensivo. O cão nunca é velho demais para aprender.

Um cão ensinado com paciência e a necessária firmeza não só obedecerá melhor às ordens do dono que um cão ensinado com aspereza, como ainda dará mostras em todo o seu comportamento de fazer aquilo que

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lhe foi ensinado. Se ensinar o seu cão a obedecer a ordens dadas em voz baixa poderá, em caso de emergência, atrair a atenção do animal levantando a voz, quando o cão der mostras de estar prestes a sucumbir à tentação de ignorar o que lhe foi ensinado; mas se der todas as suas ordens em voz muito alta ou mesmo aos gritos, o cão habituar-se-á de tal maneira a esse tom de voz que lhe será impossível chamar a atenção do animal numa altura em que ele vá fugir. O tom de voz usado no ensino do cão é, pois, muito importante. Como o dissemos já, o cão não compreende o significado das palavras. Age em conseqüência de uma associação de idéias evocada por determinado som, e o tom de voz em que a palavra é pronunciada terá para ele muito mais significado que a palavra propriamente dita.

Um dos princípios básicos do treino do cão consiste em levar este a associar a obediência às ordens do dono com um prazer, e a desobediência a um desprazer. O que significa, por outras palavras, que o devemos recompensar quando faz uma coisa que aprovamos e que devemos ralhar com ele ou castigá-lo quando faz algo que não aprovamos. O êxito de todo o ensino depende da administração da recompensa e do castigo adequados no momento exato, variando em certa medida essa recompensa e esse castigo em função do temperamento do animal que está a ser ensinado. Este último aspecto é muito importante. Um castigo, que é ligeiro quando infligido a um cão robusto, teimoso e turbulento, pode ser demasiado severo para um aluno tímido e muito sensível. O objetivo da recompensa oferecida a um cão que faz aquilo que o dono quer é o de lhe dar prazer, associando portanto na mente do animal a execução de determinada ação a uma experiência agradável. Pouco importa portando o tipo de recompensa escolhido.

Nos primeiros estádios de aprendizagem pode recompensar o cão oferecendo-lhe guloseimas ou bocados de comida particularmente saborosos, mas, mais tarde, não convém recorrer a esse tipo de recompensa. Um cão que obedece ao dono só para apanhar um bocado de biscoito, de bolo ou de carne não é um cão verdadeiramente obediente. Assim que passa a haver afeição entre o cão e o dono, o animal apreciará tanto uma palavra de elogio ou uma festa como uma guloseima, e essa recompensa será portanto suficiente quando o cão obedeça a uma ordem. Deve porém dizer sempre as mesmas palavras ou a mesma frase quando elogia o seu cão, pois o animal passará a associar essas palavras e o tom em que as profere a um elogio, sentindo-se recompensado quando as ouvir depois de ter obedecido a uma ordem. Deve guardar essas palavras de elogio exclusivamente para as ocasiões em que quer recompensar o cão, e nunca as proferir em ocasiões em que não têm qualquer significado especial. Se o fizer, a frase deixará de ter significado quando a usar para recompensar o bom comportamento do animal.

As sessões de aprendizagem não devem ser demasiado longas, sobretudo se está a ensinar um cachorro ou um cão que se encontra nos primeiros estádios da aprendizagem. Assim que o animal der mostras de estar distraído, aborrecido ou farto, suspenda a sessão. Um cão que, em determinada altura, se comporta de um modo aparentemente estúpido ou teimoso pode estar apenas aborrecido ou com fome e, mesmo que obedeça às suas ordens, fá-lo contrariado ou sem qualquer prazer. Nunca deixe passar uma oportunidade de recompensar o seu cão, mesmo que as tentativas que ele faz para obedecer às suas ordens não sejam bem sucedidos. Deve prodigalizar os elogios ao animal, evitando por outro lado o mais possível o castigo. Nunca

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deve dar uma palmada a um cachorro, nem bater num cão com um pau ou qualquer outro instrumento. Se o fizer perderá muito provavelmente a confiança e o respeito do animal. Um animal sensível assim maltratado pode tornar-se cobarde ou mau, ao passo que um cão mais ousado tentará provavelmente pagar-lhe na mesma moeda ou tornar-se-á vingativo, instável ou feroz.

E finalmente deve empregar todos os meios ao seu alcance para levar o seu cão a considerar as sessões de treino como uma brincadeira e a possa interromper sempre que o queira. Todos os cães executam determinados exercícios com mais facilidade que outros, e convém, portanto observar as reações e o comportamento do seu cão, para ver quais são os pormenores da aprendizagem que mais lhe desagradam. Não tente obrigá-lo, a bem ou a mal a executar ações que lhe desagradam. Será preferível reduzir o tempo da lição dedicado à aprendizagem desse exercício e encorajar o cão, falando-lhe em tom amigável ou jocoso; não se esqueça nunca de recompensá-lo sempre que ele faça ou tente fazer o que lhe é exigido. Se o treinador for paciente e encorajar suficientemente o cão, acabará por ser bem sucedido, inclusive nesses aspectos mais difíceis da aprendizagem.

2 - O seu novo CACHORRO

A maioria das pessoas compra um cachorro de oito semanas de idade, e o primeiro problema a resolver é habituá-lo ao seu ambiente, de modo a que o animal se sinta bem e se comporte de forma razoável. Mesmo em tão tenra idade, o cachorro é já suficientemente inteligente para absorver os rudimentos do treino que o transformará no companheiro obediente e agradável que todos os donos de cães ambicionam possuir. A atividade mental do cachorro começa antes do animal ser desmamado. A partir das três semanas de idade, o cachorro começa a registrar impressões provenientes do mundo exterior. A sua atitude em relação às condições em que, mais tarde, irá viver forma-se enquanto o animal é ainda muito novo; a maneira como o cão é tratado, enquanto ainda cachorro, pode ser portanto uma influência decisiva no seu temperamento.

A inteligência do cachorro desenvolve-se muito depressa. Aos três meses de idade, é já capaz de aprender tudo o que pode ser ensinado a um cão de qualquer idade, se bem que ainda não esteja suficientemente desenvolvido fisicamente para corresponder a certos tipos de ensino. Mas se, por um lado, é muito importante começar a ensinar o cão o mais cedo possível, por outro, o treinador tem de compreender que um cão de oito semanas é ainda um bebê, que não compreende a necessidade de adaptar o seu comportamento a condições desconhecidas, que não tem qualquer experiência da vid e foi retirado à proteção da mãe e à companhia dos seus irmãos e irmãs. Quando entra pela primeira vez na sua nova casa, encontra-se já perturbado pelo barulho e pela confusão da viagem e estranha esse ambiente desconhecido e os seus ruídos. Estranha também o cheiro e a voz do novo dono. Um cachorro que foi bem tratado até aí é no entanto naturalmente sociável e, depois de se ter habituado ao seu novo lar, ficará muito contente quando for afagado e admirado por alguém que lhe fale com palavras e gestos de amizade. Antes de mais nada, é preciso incutir confiança ao animal; fazê-lo compreender que o novo mundo em que se encontra não lhe é hostil que a suasegurança e a sua independência não correm perigo.

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Se o cachorro de início for muito tímido e se esconder por trás dos móveis, não tente tirá-lo à força do esconderijo e evite dar-lhe muita atenção, para não assustá-lo ainda mais. Deixe-o sossegado até ele sair de sua livre vontade, ou aproxime-se suavemente do animal e pegue-lhe com jeito, com movimentos lentos, cuidadosos e meigos. Não tente nunca agarrar um cachorro de qualquer maneira, nem lhe pegue pela pele do pescoço. Para levantar o cachorro do chão, coloque uma mão por debaixo dos quartos traseiros e a outra por debaixo do peito. Evita assim meter medo ao animal, e não o deixará cair se ele se debater para fugir.

Quando se lida com um cachorro muito pequeno, tem de se fazer todo o possível por conquistar a confiança do animal. Tente que ele associe a proximidade da pessoa do dono a uma sensação de confiança e de prazer. Se o cachorro estiver assustado, não cometa o erro de se aproximar dele. Assustá-lo-á ainda mais e o cão fugirá de si. Tente antes fazer com que seja ele a aproximar-se de si. Pode oferecer-lhe uma guloseima ou estender-lhe a mão, deixando o cachorro cheirá-la e lambê-la. Não tenha pressa. O ideal será deixar que o seu aluno se aproxime de "modo" próprio, e depois dele se ter aproximado deve recompensá-lo elogiando-o e fazendo-lhe festas. Ensine o cachorro a dar pelo nome, chamando-o frequentemente por esse nome quando fala com ele. Chame-o pelo nome à hora das refeições. É praticamente impossível ensinar o que quer que seja ao cachorro enquanto ele não der pelo nome.

Lembre-se de que um cachorro muito novo tem muito boa memória, e portanto faça o possível por conseguir que ele se aproxime de si quando o chama elogiando-o e fazendo-lhe festas, mesmo que, antes de se aproximar, o animal tenha feito qualquer asneira. Se, depois de ter chamado o cachorro e do ter atraído até junto de si, lhe ralhar ou o castigar, o animal associará os ralhos a ação de se aproximar e, da próxima vez que o chamar, far-se-á esquivo, com medo que lhe torne a ralhar.

Quando o cachorro é trazido para casa, convém ter já preparada uma cama para ele. A cama pode ter sido feita numa caixa, num cesto ou num banco, e deve ter as dimensões e a forma mais adequadas ao tamanho do cachorro e às preferências pessoais do dono do cão. A caixa ou cesto terá a dupla função de servir de cana e de local de repouso, devendo ser colocada num local sossegado e resguardado das correntes de ar; a cama tem de ser confortável, para que o cão se habitue a recolher-se voluntariamente a esse local, quando está cansado ou quando quer descansar depois da brincadeira. Por muito confortável que seja a cama, o cachorro levará, no entanto algum tempo a habituar-se a ela e a ficar lá quando o dono lho ordena.

A primeira noite numa casa nova é geralmente uma noite difícil. Depois de ter deitado o cachorro e apagado a luz, o novo dono deve permanecer durante algum tempo ao pé do animal, acariciando-o e acalmando-o, deixando-o depois sozinho, na esperança de que o dia tenha sido suficientemente cansativo para que o animal adormeça e descanse durante a noite. Essa esperança realiza-se talvez num caso em cada cem! É muito mais provável queo cachorro, assim que se vir sozinho, comece a ganir e a latir, fazendo esforços fernéticos para sair do receptáculo que lhe serve de cama, e, se os seus protestos forem ignorados, pode começar a ganir com furor, entrando em estado de histeria. O que é que se há-de fazer nestas circunstâncias? Ao fim de algum tempo, o dono do cachorro compreende que tem de fazer alguma

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coisa, aproxima-se do animal e tenta acalmá-lo com carícias, persuadindo-o a ficar quieto na cama. Enquanto se sente acompanhado, o animal cala-se e até talvez se deite como se fosse adormecer, mas, assim que fica outra vez sozinho, recomeça a ganir e a gemer ruidosa e persistentemente. Se assim for, não sucumba nunca à tentação de ralhar com o cãozinho. Esse método será completamente ineficaz, o cachorro recomeçará a ganir e a latir com furor quando você se afastar novamente e os seus modos bruscos podem destruir a confiança e a afeição que quer suscitar no animal.

A solução mais fácil consiste em ceder e levar o animal para a sua cama. Do ponto de vista do cachorro, essa solução será provavelmente muito satisfatória e ambos passarão uma noite sossegada. Mas, a menos que esteja disposto a dormir sempre com o cachorro na cama, na noite seguinte surgirá o mesmo problema e, quando se começa a ensinar um animal, é essencial começar a ensiná-lo como deve de ser, lobo desde o início.

Lembre-se de que o cachorro que agora se lamenta tão ruidosamente porque está sozinho estava habituado a dormir encostado à mãe e aos outros cachorros da ninhada, e não só estranha a falta da companhia deles, como também do calor dos seus corpos. Pode talvez resolver o problema fazendo a cama do cachorro numa caixa ou num cesto de paredes suficientemente altas para que o animal não seja capaz de sair do receptáculo. Pode também adaptar uma tampa ao cesto ou à caixa, verificando que o interior da caixa fique bem ventilado. Cubra o fundo da caixa com uma almofada ou um colchão macio e ponha um saco de água quente dentro da caixa. Encha o saco com água bem quente, envolvendo-o bem num cobertor de modo a que não haja o perigo do cachorro se queimar. O saco de água quente irradiará calor durante muito tempo, através do cobertor, e o cachorro acabará provavelmente por se aninhar de encontro ao saco e por adormecer, passando uma noite descansada e só acordando de manhã. Este truque do saco de água quente costuma fazer milagres, mas se o seu cachorro for muito jovem ou estiver muito nervoso e agitado, pode dar-lhe aspirina ou um tranqüilizante para o acalmar e fazer adormecer. O que não quer dizer que recomendemos o uso freqüente de sedativos: pelo contrário, desaconselhamo-lo vivamente, mas, numa emergência, será preferível dar um sedativo ao animal a travar uma batalha de antemão perdida com um cachorro infeliz, que não consegue adormecer porque estranha encontrar-se só num ambiente desconhecido. Uma caixa como a que descrevemos mais atrás tem ainda a vantagem de impedir que o cachorro saia da cama se acordar no meio da noite e faça porcarias no chão do quarto em que está encerrado, como acontecerá muito provavelmente se o animal estiver agitado.

Pode ainda colocar-se a caixa da cama do cachorro dentro de um parque, o que evitará que o animal seja pisado inadvertidamente e permitirá deixar o cachorro num lugar seguro, ou mantê-lo em segurança quando acorda após uma sesta durante o dia. Uma outra vantagem do parque consiste em que o cachorro que é aí colocado várias vezes ao dia se habitua muito mais depressa à idéia de que a cama é o seu lugar próprio, acostumando-se ao cheiro e ao contato com a cama e aprendendo a associá-la ao repouso e a um sentimento de segurança e sossego. Será assim muito mais fácil ensiná-lo a ir para a cama quando se lhe dá a ordem "Para a cama" ou "Deitado!".

Um cachorro comprado num canil pode não ter entrado nunca numa casa ou contatado com outros seres humanos para além dos que lhe

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costumavam dar de comer. Quando entra pela primeira vez numa casa, é pois natural que o cachorro desconfie das pessoas e tenha medo delas. Mesmo depois do cachorro se habituar a considerar o dono como um amigo e protetor, pode ainda estranhar ou ter medo de um visitante. Quanto mais frequentemente esse cachorro for acariciado por estranhos E habituado à sua companhia, mais depressa perderá o medo e ganhará confiança. Depois do cachorro ter sido vacinado, por volta das nove ou dez semanas de idade, deve ser habituado a ver mnuita gente, e convém deixar que os seus amigos e quaisquer visitantes o acariciem e conversem com ele; deve também habituá-lo a companhia de outros cães de comportamento comprovadamente pacífico. um cão que tem medo dos estranhos nunca será um bom companheiro. À medida que o cão vai crescendo, deve levá-lo consigo à rua, para alargar os horizontes mentais do animal e o habituar aos ruídos e à confusão do tráfego. Ponha-lhe uma coleira macia, mas leve-o ao colo e não deixe que o tratem com brusquidão ou o assustem. Todos os cachorros se tornarão corajosos se aprenderem em pequenos a considerar os homens e os outros cães como amigos.

Antes de entrarmos no capítulo dos métodos de treino propriamente ditos quero acentuar uma vez mais a importância da seguinte regra básica: nunca se deve deixar um cachorro habituar-se a fazer uma coisa que mais tarde lhe será interdita. Por exemplo, se habituar o cachorro a receber bocadinhos de comida enquanto a família está à mesa, não poderá ralhar-lhe se o cão, depois de adulto, continuar a pedir-lhe guloseimas à hora das refeições. Se o cachorro se habituar a instalar-se confortavelmente nos sofás e nos maples da sua casa, mais tarde aceitará muito mal que você o passe a expulsar desses locais porque é grande de mais ou porque deixa pêlos nos estofos. Pode achar engraçado que o cachorro se ponha de pé para cumprimentar o dono e os seus amigos, apoiando as patas da frente no fato das pessoas, mas um cão que continua a comportar-se dessa maneira depois de adulto, enlameando com as patas sujas o fato dos visitantes ou pregando um susto terrível a uma criança quando se empina de encontro a ela numa saudação amigável, pode ser muito irritante e incomodo. Tenha portanto o maior cuidado para não deixar o seu cachorro fazer coisas que se possam tornar num mau Hábito, e muito menos ensinar-lhe habilidades desse tipo.

3 - ENSINAR o cão a ser asseado dentro de CASA

Há muita gente que receia comprar um cão porque está convencida de que é muito difícil, demorado e aborrecido ensinar o animal a ser asseado dentro de casa. mas não há razões para alarmes, pois este aspecto do treino do cão é relativamente fácil e rápido, exigindo embora uma vigilância constante, muita paciência e perseverança. Alguns cães aprendem a ser asseados com mais facilidade que outros. A facilidade com que o cão aprende a ser limpo depende da raça e também do indivíduo, assim como das condições em que o cachorro foi criado na sua primeira infância, antes de vir para a nova casa.

Se o cachorro foi criado num canil muito pequeno, se o mantinham fechado durante muito tempo, sem lhe darem oportunidade ou o incitarem a urinar ou defecar fora do local onde dormia ou vivia, o animal adquiriu o hábito de fazer aí as suas necessidades, e nem sequer sabe o que é ser asseado. de

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uma maneira geral, até os cachorros muito pequenos têm um instinto natural que os leva a ir urinar e defecar o mais longe possível do local onde dormem, e, se o cachorro tiver sido criado num local amplo e limpo, não será muito difícil ensiná-lo a sair à rua ou a ir até ao local destinado para esse efeito, em vez de fazer porcarias no chão ou na carpete do quarto onde vive. É por essa razão que é geralmente mais fácil ensinar a ser asseado um cachorro obtido numa casa particular que um cachorro de canil.

Também um cão mais velho adquirido num canil levará muito mais tempo a habituar-se a ser asseado que um cachorro muito novo, pelo que quanto mais cedo se começar a educar o cachorro depois de este ter sido separado da mãe, melhores resultados se conseguirão obter.

Quando nos propomos ensinar o cachorro a ser asseado, é necessário ter em mente que um animal tão pequeno tem um estômago muito pequeno também, precisa de refeições freqüentes a intervalos relativamente pequenos e não pode portanto passar muito tempo sem se aliviar. Também não podemos esperar que evacue com regularidade. Temos portanto de vigiar o cachorro constantemente se queremos evitar os acidentes. No caso de dispormos de um pátio ou jardim, devemos levar para lá o cachorro sempre que nos pareça necessário. Deve pôr-se o cachorro na rua para esse efeito logo de manhã, assim que o animal acorda, depois de todas as refeições, depois de ter estado a brincar, a descansar ou a dormir dentro de casa durante um certo tempo e, à noite, imediatamente antes do colocarmos na caixa onde vai dormir. Convém deixar passar pelo menos duas horas entre a última refeição e a hora de deitar. Muitos donos de cães cometem o erro de dar uma refeição de leite ou de papa a um cachorro que dorme dentro de casa, imediatamente antes do levar para a cama. O resultado é que o cachorro não é capaz de se agüentar até de manhã, deixando uma poça de urina ou outra coisa pior dentro da cama.

Quando leva o cachorro lá fora, não lhe feche a porta da rua, na esperança de que o animal faça o que precisa antes de começar a querer entrar em casa. O cachorro não compreenderá provavelmente porque é que foi banido de casa e deixado sozinho na rua, e começará a uivar ou a ganir até que o dono lhe abra a porta, ou então andará para trás e para diante e acabará por se sentar à sua espera. Pode mesmo acontecer que faça as suas necessidades assim que entra novamente dentro de casa! É para evitar acidentes desse tipo que o dono deve ir até ao jardim ou ao pátio com o cão e permanecer aí com ele até que o animal faça as suas necessidades.

Terá que esperar na rua alguns minutos até o cachorro se despachar, mas tenha paciência E, assim que o animal tenha feito as suas necessidades, elogie-o calorosamente, fazendo todo o possível por lhe mostrar que está satisfeito com ele, antes de voltarem os dois para dentro de casa. Se proceder dessa maneira, o cachorro em breve aprenderá a associar a ida à rua com determinado comportamento, a que se segue inevitavelmente a recompensa de ser elogiado e acarinhado pelo dono. O cão em breve se conformará com essa rotina, que se tornará cada vez mais firme, à medida que se vai repetindo. Não se podem esperar no entanto resultados imediatos. durante alguns dias será necessário estar sempre alerta, para detectar os sinais que indicam que o cão está prestes a ter um acidente dentro de casa. Assim que vir que o cachorro começa a andar à volta ou que se agacha, deve admoestrar o animal com um "NÃO" muito firme, levando-o imediatamente à rua.

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O som "NÃO" é a primeira ordem que o cachorro aprende a reconhecer e é muito importante para todo o treino futuro do animal que esse som fique firmemente associado na sua mente ao ato de parar de fazer ou abster-se de fazer alguma coisa que o dono desaprova. A palavra nunca deve ser usada em vão e deve sempre ser proferida num tom autoritário, mas não ameaçador. Quando o cachorro aprende o significado deste som já é um grande passo em frente nos preliminares do treino. Um cão deve obedecer automaticamente, durante toda a sua vida, à ordem implícita na palavra de reprovação "NÃO".

Por muita vigilância que o dono exerça, durante a primeira semana em que tenta ensinar o cachorro a ser asseado os acidentes são quase inevitáveis. Não dê então uma palmada ao cachorro nem o ameace de qualquer forma. se proceder dessa maneira, o animal associará o castigo a essa função perfeitamente natural e desnecessária, e pode assustar-se ou acobardar-se por ter sido castigado sem qualquer razão aparente. Da próxima vez que tiver vontade de fazer as suas necessidades, esconder-se-á provavelmente num canto da casa ou debaixo de um móvel. Se o apanhar em flagrante, deve dizer "NÃO" com autoridade, ralhar-lhe e levá-lo lá para fora. Enquanto o cachorro está fora do quarto deve limpar-se muito bem a porcaria e esfregar o chão com um desinfetante ou salpicá-lo com pimenta. Tem de se fazer isso porque o cão volta naturalmente a um lugar que cheira a urina ou a fezes quando tem vontade de fazer novamente e, se ficar algum cheiro na carpete ou no chão, o animal será tentado a repetir a transgressão no mesmo local. Se o cachorro viver num apartamento e não tiver acesso a um jardim, pode improvisar-se uma casa de banho para o animal num tabuleiro com o fundo coberto de serradura, de aparas de madeira, de terra seca ou de papéis rasgados. A habituação do cachorro a esse local faz-se da mesma maneira. Coloca-se o cachorro no tabuleiro a intervalos freqüentes em vez do levar lá fora, vigiando-o e impedindo-o de sair do tabuleiro antes de ele ter feito o que lhe é exigido. Mantenha o tabuleiro sempre no mesmo lugar, para o cachorro saber onde é que há-de ir.

Uma das dificuldades que podem surgir quando se pretende ensinar o cachorro a ser asseado é a de que se não podem impedir os acidentes durante a noite através de uma vigilância contínua como a que se exerce durante o dia. Por vezes o cachorro porta-se já muito bem durante o dia, mas não é capaz de se agüentar durante toda a noite. A melhor maneira de resolver esta dificuldade será colocar o cachorro durante a noite numa caixa de paredes altas ou tapada com uma tampa, como o recomendamos já no capítulo anterior. O cachorro não será capaz de sair da cama durante a noite e não fará assim porcarias pela casa. Pode também habituar-se o cachorro a fazer num tabuleiro com serradura mesmo que a casa tenha jardim e o cachorro seja levado ao jardim durante o dia para esse efeito, pois será assim mais fácil ensinar o animal a também ser asseado de noite, além de que o tabuleiro será muito útil quando o cachorro estiver doente ou se estiver muito mau tempo. Muitos cães pequenos, criados em casa, detestam sair à noite antes de irem para a cama quando chove ou está muito frio, mesmo depois de estarem já ensinados. Será pois muito conveniente ter dentro de casa um tabuleiro preparado para esse efeito, que o cão utilizará nessas circunstâncias em vez de ir ao jardim ou ao pátio onde costuma fazer as necessidades.

Um cachorro habituado a ser asseado num quarto pode descuidar-se noutros quartos, sobretudo se estes locais forem para ele desconhecidos. O

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cachorro levará algum tempo a compreender que tem de ser limpo em todos os quartos da casa e dentro de todas as casas. Tem, portanto de exercer uma vigilância muito especial quando o cachorro sair do quarto onde foi ensinado, para andar por outras partes da casa. Os primeiros estádios do treino dos hábitos de asseio do cachorro podem ser muito cansativos e absorventes, mas vale a pena sacrificar todo esse tempo, ensinar o cachorro a superar essas primeiras dificuldades sem destruir a sua confiança no dono e sem o assustar. Se o dono tiver paciência, o cão em breve aprenderá a ir até à porta pedir para ir à rua ou a dirigir-se ao tabuleiro de sua livre vontade. Tem de atender imediatamente o pedido do cachorro, para não destruir a associação criada na mente do animal. Se lhe não abrir a porta quando ele lho pede, o cão pode ver-se forçado a transgredir as regras de asseio, o que o fará andar para trás na aprendizagem.

Não se pode dizer ao certo quanto tempo é preciso para habituar um cachorro a ser asseado dentro de casa. A maior ou menor facilidade com que o cachorro aprende a ser asseado depende do próprio animal e da capacidade do dono como treinador. Um cachorro de três meses aprende geralmente as regras de asseio em quinze dias. Alguns aprendem muito mais depressa. O segredo do Êxito está em insistir sistematicamente no treino, com paciência, vigilância e bom senso.

Falamos já da vantagem que há em colocar o cachorro dentro de um parque nos primeiros tempos em que vem para sua nova casa. O parque será também muito útil para ensinar o cachorro a ser asseado. Quando for necessário deixar o cachorro sozinho durante algum tempo, de dia ou de noite, estendem-se umas folhas de jornal no fundo do parque e o cachorro fará aí as suas necessidades, para não sujar a cama. Este método tem a dupla vantagem de evitar que o cachorro suje o chão ou a carpete e do habituar a fazer as suas necessidades em jornais sempre que não possa ir à rua ou ao tabuleiro. Muitos cachorros aprenderam já a fazer as suas necessidades num jornal antes de virem para a sua nova casa. Os criadores costumam pôr jornais no chão de uma parte do canil, situada longe da cama ou do ninho, e os cachorroshabituam-se assim desde muito pequenos, logo que aprendem a andar, a sair da cama para urinar ou defecar em cima do jornal.

Quando um cachorro mais velho já ensinado a ser limpo dentro de casa, tem um descuido, deve ser repreendido com firmeza. Mas, antes de ralhar ao animal, verifique sempre se este compreende a razão pela qual está a ser castigado e se a transgressão foi deliberada, e não uma conseqüência do seu descuido, por não ter reparado que o cachorro estava a pedir para ir lá fora.

Todos os cachorros gostam de roer e morder determinados objetos que os atraem e têm o costume de roer os estofos, os tapetes, os capachos e os sapatos, se o dono os não impedir do fazer. A vontade de roer e de morder os objetos que lhes chamam a atenção é em parte uma brincadeira e em parte uma necessidade, pois o cachorro tem de exercitar as mandíbulas e de ajudar os dentes a romper. A melhor maneira de evitar que o cachorro estrague o recheio da casa consistirá em dar-lhe brinquedos que ele possa roer e morder à vontade, e que se habitue a considerar como sendo só seus. O cachorro apreciará qualquer objeto de tamanho adequado que possa ser mastigado. Pode dar-se como brinquedo ao animal um pedaço de serapilheira atado com um nó, de modo a formar um objeto compacto, uma luva de cabedal recheada com trapos ou um chinelo velho. Os melhores brinquedos serão, porém um

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osso cru de um tamanho adequado ao do cachorro, uma bola, um osso ou uma argola de borracha maciça. A bola, o osso ou a argola de borracha têm de ser de borracha maciça e bem rija para se não desfazerem com as dentadas do cachorro. Alguns brinquedos deste tipo vendidos para dar a cachorros (parecem) ser de borracha maciça, mas consistem afinal numa camada exterior de borracha recheada com espuma plástica. O cachorro rasga com facilidade com os seus pequenos e afiados dentes a camada exterior, e pode arrancar bocados do recheio. Ora pode ser muito perigoso para o cachorro engolir um bocado de espuma. Verifique portanto se o brinquedo é realmente de borracha maciça antes do dar ao cachorro. Um osso cru é o melhor de todos os brinquedos. depois do cachorro ter brincado com o osso, deve lavar bem o osso em água fria e pô-lo a secar no forno até estar completamente seco e duro. Um osso tratado desta maneira dura muito tempo e o cachorro recebe-o sempre com tanto prazer como se fosse um osso novo.

Habitue o cachorro a brincar com os brinquedos dele, a levá-los para a cama e até a dormir com eles. Quanto mais o cachorro brincar com os seus brinquedos, mais os apreciará, e enterter-se-á muito com eles quando ficar sozinho. Se o cachorro começar a roer a mobília ou o tapete, repreenda-o imediatamente. Solte o objeto dos dentes do cachorro sem maguar o animal, diga "NÃO" com firmeza e dê-lhe um dos seus brinquedos. Faça isto de todas as vezes que apanhar o animal a roer alguma coisa. Não deixe passar nada desde que o apanhe em flagrante, como é evidente. Não vale a pena castigá-lo por uma coisa que fez antes, pois o animal já a esqueceu e essa maneira de agir é desaconselhável. O cachorro não percebe porque é que estão a ralhar com ele e pode perder a confiança no dono. Quando apanhar o animal a roer um objeto proibido, diga-lhe imediatamente "NÃO", num tom de voz desaprovador e, se o cachorro largar o objeto, elogie-o entusiasticamente. Não o coloque perante tentações desnecessárias. Um cachorro que fica sozinho à solta num quarto vai com toda a certeza roer a mobília e outros objetos da divisão da casa a que está confinado, desde que tenha oportunidade do fazer. Quando sair do quarto ou de casa, ponha o cachorro dentro do parque ou de um local seguro, deixando-lhe os brinquedos dele. O cachorro não poderá fazer disparates e, se estiver habituado ao parque e conhecer os brinquedos, manter-se-á sossegado durante a sua ausência.

4 - Habituar o cão à trela e a andar na Rua

O cão não deve ser levado a passeio antes dos quatro meses de idade. Em muitas raças é preferível esperar ainda dois meses. Antes dessa idade, o corpo do animal não é ainda suficientemente forte e os ossos são demasiado tenros para agüentar o esforço de andar na rua. Acontece-nos muitas vezes assistir ao espetáculo deprimente de ver um cachorro de dois ou três meses ser arrastado pela trela na rua por um dono bem intencionado, mas que não compreende o mal que faz a um animal tão novo andar no piso duro da rua, e que esse exercício não só pode prejudicar o seu desenvolvimento, como ainda exercer um efeito desvantajoso sobre a conformação do cachorro, que ficará deformado para o resto da vida. Um cachorrinho deve ter todas as oportunidades para saltar e brincar ao ar livre, quando o tempo está bom, mas nunca se deve cansar. O que não quer dizer que só se deva começar a habituar o cachorro à trela quando ele tem idade para começar a andar na rua.

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Pelo contrário, quanto mais cedo o cachorro se habituar à coleira e a andar pela trela, melhor. Regra geral, quanto mais tarde se começar a habituar o animal à sensação de andar preso pela trela e a obedecer ao controlo da pessoa que segura na trela, mais difícil será ensiná-lo.

O primeiro passo a dar será habituar o cachorro a usar uma coleira. Pode habituar-se o animal a usar uma coleira leve e macia, não muito apertada, para o não incomodar, mas que também não pode ficar muito larga, para o cão a não arrancar. Pode começar a pôr a coleira ao cachorro em qualquer idade a partir das oito semanas. De início, o animal pode sentir-se incomodado pelo fato de ter um objeto à volta do pescoço, pelo que o aconselhamos a pôr a coleira ao animal imediatamente antes de um período de brincadeira entre o cachorro e o dono, assim distraindo o animal da coleira. Ponha-lhe a coleira durante uma ou duas horas, e, se o cão a tentar arrancar com as patas ou esfregando-a de encontro a qualquer superfície, repreenda-o com um "NÃO" seco e autoritário. Ponha a coleira ao cachorro durante curtos períodos de tempo, ao longo de alguns dias, e ao fim desse tempo o animal estará provavelmente habituado a ela e usá-la sem dar sinais de se sentir aborrecido ou incomodado. Depois do cão estar habituado à coleira pode prender-se a esta uma trela ou um pedaço de corda deixando-a a arrastar pelo chão. Verifique que a trela não seja demasiado pesada para não perturbar os movimentos do cachorro. Além disso, só a deve pôr quando você ou qualquer outra pessoa estiver junto do animal, pois a trela pode embaraçar-se em qualquer obstáculo. O objetivo desta maneira de proceder é o de mostrar ao cachorro que a coleira e a trela o não incomodam. Tem portanto de se evitar que o cachorro se assuste ou perturbe devido ao fato de a trela se prender num arbusto ou num móvel, dando um esticão súbito ao cão quando ele tenta correr.

Quando o cachorro aceita já a coleira e a trela sem reclamar, o que se verificará ao fim de alguns dias, comece a agarrar na ponta da trela e a habituar o cachorro a sentir-se preso por esta enquanto brinca. Tente depois persuadi-lo a ir atrás de si à medida que você se afasta dele, chamando-o pelo nome. Se o cachorro se recusar a segui-lo ou morder a trela, fale-lhe num tom de voz encorajador etente atraí-lo mostrando-lhe uma guloseima. Se o cachorro obedecer ao controlo suave exercido pelo dono através da trela, elogie-o, mas se ele teimar em puxar pela trela ou se recusar a andar, repreenda-o com um "NÃO" brusco. Tem de ser muito firme e paciente, continuando a ensinar o cachorro por este processo simples até conseguir que ele ande na mesma direção que você sem ser necessário puxá-lo pela trela. A maioria dos cachorros aprendem muito depressa esta lição, mas se tiver dificuldade em fazer-se obedecer, não insista muito, encurtando a lição. É preferível interromper a sessão ao fim de pouco tempo se o cachorro se mostra teimoso, cansado ou assustado, em vez de a continuar assim mesmo, correndo o risco de que o cachorro associe o fato de andar pela trela a uma compulsão desagradável.

Depois do cão ter feito alguns progressos, procure arranjar um amigo que o ajude. Segure o cachorro pela trela, deixando-a lassa, e peça ao seu ajudante que chame o animal de um pouco mais longe, oferecendo-lhe simultaneamente uma guloseima para o atrair. O cachorro começará provavelmente a correr para a frente. Quando ele o fizer siga-o, continuando a segurar na trela mas mantendo-a ligeiramente tensa, para que o cão sinta a

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tensão leve mas firme na coleira. Repita essa operação tantas vezes quantas forem necessárias, aumentando gradualmente a distância percorrida. Tente depois conseguir que o cão o siga na direção oposta, persuadindo-o a avançar com um chamamento e puxando suavemente a trela. O cachorro habituar-se-á assim rapidamente a ser controlado pela trela e obedecerá sem oposição aos seus movimentos. Se o cachorro começar a ser ensinado em muito novo, os progressos serão rápidos, mas não tente forçar o animal.

Quando o cachorro é rebelde ou tímido, leva mais tempo com perseverança e compreensão, qualquer cachorro aprenderá a andar pela trela em dez ou quinze dias.

Como o disse já, o cachorro não deve ser levado a passeio na rua ou na estrada antes dos quatro meses de idade, mas será vantajoso ensiná-lo a andar pela trela muito mais cedo. A maior vantagem de ensinar o cachorro bastante cedo consistirá em que será depois muito mais fácil controlar o animal quando começa mesmo a sair à rua. No caso do cachorro ser de uma raça grande e demasiado pesado para andar ao colo, será também útil ensiná-lo a andar pela trela em bastante novo, para quando o quiser levar a fazer uma visita ou pretender percorrer com ele uma distancia curta a pé. Além disso, um cachorro que está habituado à trela é muito mais fácil de controlar quando está fora de casa que um outro que nunca foi ensinado a obedecer a esse controlo.

Quando chega a altura de levar o cachorro a passear na rua ou na estrada, esse ambiente a que não está habituado pode excitá-lo, fazendo o cachorro esquecer a lição que lhe foi ensinada; o animal pode então começar a puxar violentamente pela trela, fazendo tanta força e ofegando de tal maneira que o passeio se transforma numa luta entre o animal e a pessoa que o leva pela trela. Este comportamento tem de ser desencorajado.

Todos temos já assistido muitas vezes ao espetáculo deplorável de um cão que parece estar a levar o dono a passeio, ao contrário do que seria de esperar! Esse tipo de comportamento constitui um indício de que o cão não foi bem ensinado. A melhor maneira de lidar com um cão que teima em puxar pela trela em vez de andar calmamente, seguro por uma trela lassa, consiste em encurtar a trela puxando o cão para junto de si e dando-lhe a ordem "PARA TRÁS"! Se este método não resultar, pode segurar num jornal dobrado em frente do nariz do cão, dando-lhe uma pancadinha no nariz com o jornal sempre que o animal arranca para a frente ou dá um esticão à trela, E acompanhando a pancadinha com as palavras "PARA TRÁS". Este método resulta geralmente muito bem, mas um cachorro mais teimoso e brincalhão pode não se deixar impressionar pelo jornal, considerando essa barreira e a pancadinha como uma brincadeira, ou tentando morder ou rasgar o jornal. Se assim for, têm de se adotar os grandes meios. Mantenha o cão preso pela trela curta e sempre que o animal puxar pela trela dê a esta um esticão para o trazer para trás, repreendendo-o simultâneamente com uma ordem brusca e vigorosa.

Proceda sempre desta maneira até que o cão aprenda que os puxões que dá à trela resultam sempre num desconforto para ele. Não se esqueça do elogiar assim que ele fizer alguns progressos.

Um cachorro tímido ou nervoso, que anda muito bem pela trela no jardim, pode ficar perturbado quando sai à rua pela primeira vez insistindo em sentar-se e recusando-se a andar. O remédio consiste em parar, acariciá-lo, falar-lhe num tom de voz amigável e tentar persuadi-lo a acompanhar o dono.

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Não arraste o cachorro sentado, pois, tratando-o assim, só consegue pô-lo ainda mais nervoso. Se for necessário, agarre no cachorro ao colo e leve-o assim durante algum tempo, falando-lhe calmamente para o acalmar e lhe incutir confiança. Depois do cão ter acalmado ponha-o novamente no chão e tente uma vez mais. Este tipo de acidente não se verificará se o cachorro estiver habituado a sair à rua ao colo do dono enquanto é novo de mais para passear a pé. Acostumar-se-á assim ao ruído do tráfego, aos cheiros da rua e à multidão dos peões, sentindo-se protegido e seguro nos braços do dono. Mais tarde, quando sair à rua pela trela, não estranhará já os ruídos do trânsito e a presença de estranhos.

Falamos já, no capítulo anterior, da importância de ensinar o cachorro a dar pelo nome e a acorrer imediatamente quando é chamado. Se o cão tiver sido, desde sempre, habituado a acorrer espontaneamente e de boa vontade quando é chamado, não haverá problemas quando se soltar pela primeira vez o cachorro num espaço aberto, pois o animal não se recusará a vir ter com o dono quando este o chamar. O fato do cão não responder ao chamamento do dono quando corre em liberdade não corresponde a uma desobediência deliberada da parte do animal. Significa apenas que não foi bem ensinado ou que não há bom entendimento entre o cão e o dono. Se o cão ignorar os seus apelos quando o chama de longe, não perca a cabeça, nem comece a correr atrás dele. Essa maneira de agir complicará ainda mais a situação, pois o cachorro achará que se trata de uma nova brincadeira e correrá a toda a velocidade para longe de si. Será preferível chamar o cão em voz alta e, depois de lhe ter chamado a atenção, virar-lhe as costas e começar a correr rapidamente na direção oposta, ou continuar voltado para o animal e recuar rapidamente. Continue a afastar-se do cachorro, mas vá-o chamando sempre e faça-lhe gestos amigáveis. É provável que o cão tenha tanto medo de se perder de si como você tem do perder a ele, e ao vê-lo afastar-se cada vez mais, em breve regressará a correr. Assim que ele chegar junto de si, elogie-o e recompense-o, por muito zangado que esteja. Lembre-se de que o seu cão não é capaz de ligar os efeitos às causas e, se o castigar quando ele voltar, associará esse castigo não ao fato de ter sido desobediente e de se ter recusado a vir quando você o chamou, mas sim ao ato de ter vindo até junto de si. Assim, da próxima vez que o chamar, o animal mostrar-se-á muito renitente em obedecer-lhe, pois associou o ato de voltar até junto de si ao de ter sido castigado.

Se tiver tido uma experiência destas e achar que não convém soltar o cão, não vá ele não voltar quando você o chama, quando for passear com ele ao parque ou ao campo e uma vez chegado ao seu destino, prenda-o com uma trela mais comprida, pode acrescentar a trela atando-lhe um bocado de corda. Deixe o cão anar até esticar a trela e, ao fim de um tempo, chame-o. se ele se voltar para si, tente atraí-lo oferecendo-lhe uma guloseima ou chamando-o num tom de voz meigo. Elogie-o e acaricie-o se ele lhe obedecer. Se o cão não der sinais de lhe obedecer, puxe-o para si encurtando gradualmente a trela, chamando-o sempre e fazendo todo o possível para o encorajar a vir até junto de si. Se o cão se aproximar de sua livre vontade, recompense-o elogiando-o emostrando-lhe que está contente com ele. Continue a ensiná-lo por esse processo até que o animal acorra imediatamente de todas as vezes que você o chama. Treine este exercício muitas vezes, no jardim de sua casa, na rua, no parque ou no campo. Vale a pena perder todo o tempo que for preciso até

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obter do animal uma reação imediata ao seu chamamento em todas as condições, pois, após lhe ter ensinado esta lição, todo o resto do treino serámuito mais fácil.

Quase todos os cães gostam de andar de automóvel, e a maioria dos donos gostam de levar consigo o seu animal quando fazem uma viagem de automóvel. Os cachorros e os cães novos podem enjoar no automóvel quando não estão habituados a andar de carro. Geralmente, deixam de enjoar ao fim de pouco tempo, mas por vezes é necessário tomar medidas especiais para evitar que isso aconteça. Como medida de precaução, convém não dar comida ao cão durante a hora que precede a viagem. Meia hora antes da partida dá-se uma dose de glicose ao cão, dissolvendo uma colher de chá bem cheia de glicose em pó em duas colheres de sopa de água. Se o cachorro tiver muita tendência para enjoar, repita a dose ao fim da primeira meia hora de viagem. Hoje em dia, fazem-se comprimidos contra o enjôo, especiais para cães, que podem ser dados sem inconvenientes aos animais que costumem enjoar no automóvel. O cão tem de ser ensinado a comportar-se como deve ser no automóvel, pois, de outra maneira, torna-se num companheiro de viagem incomodo e perigoso. Alguns cachorros não criam problemas logo desde o início, mas um cachorro muito excitado ou turbulento pode ser muito incomodo ou até perigoso, se pular dentro do carro, ladrar aos outros carros ou distrair de qualquer forma o condutor. Um cão que se comporte dessa maneira deve ser relegado para o assento de trás e preso com duas trelas bastante curtas que a largura do carro, que serão fixas a um e a outro lado da viatura. Deve repreender-se o cão quando ladra e, se o animal tiver o hábito de pôr a cabeça fora da janela, tem de se corrigir também com firmeza esse mau costume. O vento e o pó podem fazer mal aos olhos do cão. Os cachorros não devem nunca viajar no chão do carro, pois o ar quente e os fumos da gasolina podem fazê-los enjoar ou mesmo desmaiar.

5 - ENSINAR O CÃO A OBEDECER ÀS ORDENS DE "SENTADO" E "DEITADO"

Depois de ter ensinado o cão a ser asseado dentro de casa e a andar pela trela, a lição seguinte consistirá em ensiná-lo a sentar-se e a deitar-se quando lhe der essa ordem. Esta lição não é difícil. Para ensinar o cão a sentar-se, coloca-se o animal de pé nas quatro patas, Apoiando a mão direita na garganta do animal para lhe segurar a cabeça. Empurre então os quartos traseiros para baixo com a mão esquerda, obrigando o cachorro a sentar-se, e dizendo ao mesmo tempo "SENTADO". Se o cachorro tentar levantar-se empurre-o novamente para baixo e repita a ordem "SENTADO". Depois do cão se ter mantido sentado durante alguns segundos sempre agarrado por si, elogie-o ou dê-lhe uma guloseima como recompensa. Se deixar que o cão se levante antes de lhe dar a guloseima, o animal pode associar a recompensa ao ato de se levantar e não ao de se manter sentado.

Deve repetir várias vezes a lição, fazendo pequenos intervalos entre cada exercício e dando uma recompensa ao cão sempre que ele se comporta como você pretende. Repita a lição todos os dias, sem exagerar a duração da mesma, mas insistindo até que o cachorro assuma a posição correta sem ser

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obrigado a fazê-lo, quando lhe dá a ordem "SENTADO". Um cachorro normalmente dócil aprenderá a sentar-se quando o dono lhe dá essa ordem emtrês ou quatro dias, isto desde que o treinador seja bondoso, paciente e firme.

Quando o cão se senta já prontamente sempre que recebe a ordem de fazê-lo, pode deixar de lhe dar a guloseima. O animal sentir-se-á suficientemente recompensado se você lhe mostrar que está contente com ele sempre que obedecer prontamente à sua ordem. Depois do cão ter aprendido a obedecer à ordem de SENTADO num determinado local, comece a fazer o mesmo exercício noutros locais, em casa e na rua, até que o animal se habitue a obedecer imediatamente e em qualquer lado à ordem de SENTADO.

Um cachorro ensinado a obedecer a esta ordem será muito mais fácil de controlar que um animal que não tenha sido assim educado, e será também muito mais fácil ensinar-lhe outras coisas. É também muito mais fácil ensinar um cachorro a obedecer à ordem de "SENTADO" que tentar ensinar esta lição a um cão adulto, sobretudo se for um cão de raça grande.

O processo de ensinar o cachorro a deitar-se quando recebe a ordem de "DEITADO" é o mesmo. De início forçamos o cachorro a deitar-se colocando-lhe uma das mãos na cernelha e a outra nas ancas do animal e empurrando-o para baixo com suavidade. Quando o cão se deita, articula-se claramente e com firmeza a palavra "DEITADO". Se o cão quiser levantar-se, empurre-o novamente para baixo repetindo a palavra "DEITADO". Quando o cão permanece imóvel e deitado, alivie a pressão das mãos, para ele se sentir à vontade. Assim que o animal tentar levantar-se, empurre-o novamente para baixo, dando a ordem de "DEITADO" ao mesmo tempo em que exerce essa pressão com as mãos. Assim que o cão se mantiver deitado sem dar mostras de se querer levantar, elogie-o e recompense-o calmamente. Não o excite, para o animal não pensar que a lição acabou. Como o dissemos já quando descrevemos o método de ensinar o cão a sentar-se, é indispensável que o animal associe a recompensa ao ato de se manter deitado, e não ao de se levantar. Um outro método de obrigar o cão a deitar-se, que dá por vezes melhores resultados no caso de alguns animais, consiste em fazer o cão sentar-se e puxar depois as patas dianteiras do animal para frente, obrigando-o assim a deitar o corpo no chão, proferindo a ordem "DEITADO" quando lhe puxa as patas dianteiras para si.

As primeiras lições devem ser dadas num local calmo e tranqüilo, onde não haja distrações para o animal, e se bem que o treino tenha de ser conduzido com firmeza e persistência, não se pode assustar o cão, pois, nessas condições, tornar-se-á impossível ensinar-lhe o que quer que seja. Se forçar o cão a deitar-se à força ou de uma maneira demasiado brusca, o animaltentará levantar-se e um exercício que tinha por finalidade disciplinar o cão degenerará numa luta aberta, que pode ter o efeito de tornar o cão incapaz de aprender o que quer que seja. As primeiras lições devem ser curtas. Assim que o cão faz o mínimo progresso por exemplo se descontrai e não tenta levantar-se durante alguns segundos elogie o animal e deixe-o levantar-se, interrompendo a lição durante um curto espaço de tempo. Repita o exercício várias vezes durante a lição, e dê uma ou mais lições todos os dias ao animal até que ele aprenda a obedecer à ordem de "DEITADO" em qualquer lugar. Quando se está a ensinar esta lição a um cachorro muito turbulento ou a um cão mais velho, há por vezes vantagem em segurá-lo pela trela durante a lição, mas a maioria dos cachorros aprendem a sentar-se ou a deitar-se sem

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necessitar desse controlo suplementar. Não desanime se o seu cachorro se mão sentar ou deitar quando você lhe começar a dar essas ordens sem o forçar com as mãos a obedecer-lhe. A aprendizagem desta lição comporta duas fases para o cachorro, e o animal tem de aprender uma coisa de cada vez. Antes de qualquer coisa, tem de lhe ensinar a associar o som "SENTADO" ou "DEITADO" com o fato de assumir certa posição pressionado pelas suas mãos.

A segunda parte da aprendizagem consiste em ensinar o cachorro a obedecer à sua ordem sem que você o obrigue a fazer obrigando-o com as mãos. Se o treino for bem conduzido, o cão que executa já perfeitamente o primeiro exercício aprenderá, também sem dificuldades de maior, a segunda parte da lição. Mas tem de lhe dar tempo para ajustar a sua associação mental da primeira para a segunda fase do exercício.

Quando faz as primeiras tentativas no sentido de ensinar o cão a deitar-se sem lhe tocar, mantenha-se perto dele, como o fazia quando o estava a ensinar a sentar-se ou a deitar-se, forçando-o com as mãos a obedecer a essa ordem. Não tente dar-lhe a ordem à distância, pois o animal só obedecerá a uma ordem dada de longe depois de se habituar a obedecer sempre à ordem emitida junto dele. Quando o cão atinge o estádio em que obedece já à ordem dada de longe, repita o exercício de vez em quando em qualquer lugar, não se esquecendo nunca de recompensar o cão quando o animal lhe obedece, mostrando-lhe que fica contente com essa obediência. Quando o cão estiver já bem ensinado a sentar-se ou a deitar-se em obediência às suas ordens, mantenha-o nessa posição por períodos de tempo cada vez mais longos antes de deixá-lo levantar-se novamente.

Um cão que vive dentro de casa, na companhia do dono e da família deste, será um companheiro muito mais agradável se for ensinado a obedecer às ordens de "SENTADO" e "DEITADO". Se começar a pular ou se mostrar excitado com as crianças ou quando aparecem visitas, pode ser imediatamente acalmado dando-lhe a ordem de "SENTADO". Um cão que tenha adquirido um mau costume de pular com entusiasmo para cumprimentar o dono ou os amigos deste pode ser corrigido ensinando-o a obedecer às ordens de "SENTADO" ou "DEITADO".

Depois de termos ensinado um cachorro a ser asseado dentro de casa, a acorrer quando é chamado pelo nome, a não morder nem estragar os objetos que fazem parte do recheio da casa, a andar com juízo pela trela e a sentar-se quando recebe essa ordem, podemos considerar que o cachorro aprendeu tudo aquilo que está ao seu alcance. Os estádios mais avançados do treino que iremos descrever nos capítulos subseqüentes deste livro só podem ser acordados mais tarde, quando o cão tiver de nove a doze messes de idade. Um cachorro que tiver assimilado as bases de um comportamento social tal como as descrevemos nos primeiros cinco capítulos deste manual revelar-se-á um aluno bem dotado quando chegar à altura de continuar a sua educação.

6 - ENSINAR O CÃO A SEGUIR O DONO E A PARAR QUANDO RECEBE ESSA ORDEM

Quando se ensina um cachorro a andar pela trela, a ordem "PARA TRÁS" serve para refrear qualquer tentativa do cachorro no sentido de se atirar para frente e puxar pela trela. Mais tarde, pode ensinar-se o cão a andar ao

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lado do dono, mantendo-se junto dele até receber a ordem "VAI". Comece por andar com o cão à trela da forma usual, mantendo a trela bastante curta. Enquanto anda, tente atrair a atenção do animal chamando-o pelo nome, batendo na coxa e dizendo "AQUI" em voz clara e forte. Quando o cão vier, faça-lhe uma festa e elogie-o, tentando conseguir que o animal se mantenha junto de si. Assim que o cão tentar ultrapassá-lo, repita a ordem "AQUI" e os movimentos destinados a atraí-lo. Se for necessário, mantenha-o na posição desejada encurtando a trela. Recompense-o generosamente assim que ele dê sinais de se manter no seu lugar quando você avança, e repreenda-o sempre que ele o tentar ultrapassar, repetindo severamente a palavra "AQUI", e apontando simultaneamente para o seu pé, para lhe indicar onde é que ele deve ficar.

Se este método se revelar ineficaz e o cão tentar ultrapassá-lo sempre que você recomeça a andar, tem de fazê-lo compreender que é mais cômodo para ele obedecer à sua ordem que tentar fazer o que lhe dá na cabeça. Quando o animal lhe passar à frente, puxe-o para trás com um esticão forte da trela, proferindo simultaneamente a palavra "AQUI" e batendo na coxa. Faça uma festa ao animal ou elogie-o quando ele estiver na posição correta, mas não o excite quando o elogia e mantenha-o sempre junto à sua perna enquanto fala com ele. Continue a andar. Repita este exercício com freqüência e regularidade, até que o cão venha para o seu lado quando lhe dá essa ordem. Tem de se ter o máximo cuidado em evitar que o cão associe essa maneira de andar a sensações desagradáveis. Tem de agir de modo a que o cão se mantenha confiante e bem disposto enquanto treina, pois de outra maneira o seu aluno passará a considerar esse exercício como um castigo, e não terá qualquer prazer em andar a seu lado. Se o acariciar e lhe falar de vez em quando enquanto andam assim, o cão compreenderá que não deve ter medo de andar junto de si. Desse modo, não associará a obediência à ordem "AQUI" a qualquer sensação de desconforto ou prisão. O seu objetivo é o de conseguir que o cão ande a seu lado com um ar alegre e feliz; e não que o acompanhe a contragosto, como se tivesse medo de apanhar no caso de se afastar. Não o obrigue a fazer este exercício durante muito tempo seguido. As lições devem de ser curtas, mas não as interrompa antes do cão dar mostras de compreender aquilo que você quer e fazer menção de se comportar da maneira desejada.

O grau de persuasão necessário para convencer o cão a andar a seu lado quando lhe dá essa ordem varia de acordo com o temperamento do animal que está a ser ensinado. Se o cão for por natureza manso e gostar de agradar ao dono, bastará dar um leve puxão à trela e proferir ao mesmo tempo a ordem "AQUI" para lhe recordar que se deve manter nessa posição. Se o cão for mais turbulento e rebelde, terá de dar um puxão forte à trela e pronunciar a palavra de ordem com severidade, e pode ser necessário repetir essa advertência sempre que o cão o tente ultrapassar. As primeiras lições devem ser dadas num local tranqüilo, onde haja pouco tráfico e outras distrações susceptíveis de atrair a atenção do cão. O treinador deve andar sempre a passo rápido. O cão terá mais facilidade em acompanhar esse passo que um andamento mais lento. Depois do cão dar mostras de que compreendeu já perfeitamente o significado da ordem "AQUI", repita frequentemente o exercício quando sai com ele, mas sem exagero, e fazendo sempre o possível para que o animal considere o exercício como um divertimento. Tem, no entanto de

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insistir em que o cão lhe obedeça imediatamente assim que dá a ordem, e só deve acabar a lição depois do cão lhe ter dado uma oportunidade para elogiá-lo. Lembre-se de que o cão deve gostar de passear consigo, e que o passeio deve ser um dos momentos agradáveis da vida do animal. Evite, portanto massacrá-lo com essas lições, para não tornar os passeios numa experiência desagradável para o cão. Depois de a lição ter acabado, deixe o cão correr e brincar livremente, para evitar que o animal associe um sentimento de desagrado à ordem "AQUI".

De início terá provavelmente de manter a trela bastante curta e esticada quando procura ensinar o cão a andar a seu lado, mas, à medida que o animal vai progredindo, pode reduzir a tensão, puxando a trela apenas quando o animal quer sair da posição correta e dizendo simultaneamente "AQUI" em voz severa. O seu objetivo é o de habituar o cão a andar a seu lado com a trela lassa, e o treino do animal deve ser feito nesse sentido. Um cão tímido ou sensível pode ter tendência para ficar para trás em vez de seguir a seu lado. Se assim for, não cometa o erro de tentá-lo arrastar até junto de si. Pare e tente atraí-lo com boas palavras, elogiando-o e fazendo-lhe festas se ele vier até junto de si. Tente mantê-lo a seu lado acariciando-o e falando-lhe em voz meiga, para incutir confiança ao animal e evitar que este se assuste com a restrição de movimentos que lhe está a impor. Um cão deste tipo aprenderá muito lentamente, mas é muito importante não o apressar ou assustar, pois de outra maneira, mesmo que aprenda a andar a seu lado como você o exige, fá-lo-á contrariado e com um ar amedrontado.

Como o dissemos já, estas lições devem ser dadas num local tranqüilo, onde não passem muitas pessoas ou automóveis que possam distrair o cão. Mais tarde o animal terá, porém de treinar este exercício em locais mais movimentados. Se o cão se distrair com alguma coisa e se afastar da posição correta, deve puxá-lo para junto de si esticando a trela com força e dizendo-lhe ao mesmo tempo "AQUI" em voz forte e severa, para chamar a atenção do animal e obrigá-lo a concentrá-la em si. Assim que o cão lhe obedecer, acaricie-o e incite-o a seguir ao seu lado, verbalmente e batendo na coxa. Estas lições devem ser repetidas todos os dias até que o cão cumpra esta ordem onde quer que se encontre, ignorando todas as distrações. O animal levará algum tempo a aprender bem a andar a seu lado, mas deve continuar as lições com paciência e perseverança até que o animal esteja perfeitamente ensinado. Antes do cão andar perfeitamente a seu lado, seguro pela trela, não vale a pena tentar ensiná-lo a obedecer a essa ordem quando está solto.

Ao chegar a altura de passar à fase seguinte deste exercício, convém começar por levar o cão a seu lado à trela, da maneira como ele está habituado. Tira-lhe então a trela com cuidado, continuando a andar como até aí e falando ao cão, para lhe chamar a atenção e evitar que ele fuja. Se o cão o ultrapassar ou ficar para trás, atraia-o batendo na coxa e dizendo "AQUI". Se ele voltar para junto de si elogie-o muito, mas se ele se for embora chame-o pelo nome dê-lhe novamente a ordem "AQUI". Faça-lhe festas assim que ele voltar para junto de si, e depois aponte para o seu pé e dê-lhe a ordem "AQUI". Se o cão foi bem treinado a andar a seu lado preso pela trela, não terá dificuldade em conseguir que ele continue a seu lado depois de lhe ter tirado a trela, mas se o animal se portar mal quando o soltar, torne a prendê-lo e continue a treiná-lo a andar a seu lado preso por uma trela muito lassa.

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Quando lhe parecer que o animal aprendeu muito bem esse exercício, tente novamente tirar-lhe a trela.

Quando o animal estiver já bastante bem ensinado, deixe-o andar à solta durante algum tempo e depois atraia-lhe a atenção chamando-o pelo nome, batendo na coxa e dando a ordem "AQUI".

Recompense-o bem quando ele chegar junto de si, e mantenha-o a andar a seu lado durante alguns minutos. Sempre que o cão lhe desobedecer quando está solto, prenda-o novamente e faça-o andar junto de si pela trela durante algum tempo. Elogie-o sempre quando o cão atender ao seu chamado, mesmo que ele não comece imediatamente a andar ao seu lado com correção. Todos os cães são capazes de aprender a andar ao lado do dono SEM a trela, desde que sejam primeiro bem ensinados a andar ao lado do dono PELA trela, e desde que o dono não aja de maneira a que o cão deixe de sentir prazer em aproximar-se dele. Quando o seu cão sabe já andar a seu lado sem trela, pode dizer-lhe a palavra "VAI" para lhe indicar que lhe dá licença para se afastar. Diga sempre esta palavra num tom de voz alegre, e será conveniente acompanhá-la com um aceno da mão sinal que o cão em breve aprenderá a reconhecer e a apreciar.

Depois de ter ensinado o seu cão a andar a seu lado, será talvez conveniente ensinar-lhe também o significado da ordem "ALTO". Esta tarefa é fácil. Quando está a andar com o cão a seu lado, preso pela trela, dá a ordem "ALTO" e pára, puxando simultaneamente a trela para obrigar o animal a parar também. Repita este exercício várias vezes, recompensando e elogiando o cão quando ele dá sinais de querer parar ao ouvir a palavra "ALTO" sem necessidade de qualquer outra intervenção da sua parte. O cão aprenderá com muito mais facilidade a obedecer a esta ordem se a proferir com uma precisão militar, batendo com o pé no chão quando diz "ALTO". Se a interrupção do movimento for brusca e decidida, o cão compreenderá muito melhor o significado da ordem. Mais tarde, pode combinar a ordem de "ALTO" com a ordem de "SENTADO", que o seu cão conhece já. Se a ordem de "SENTADO" for dada imediatamente a seguir à de "ALTO", com o tempo o cão habitua-se a sentar-se assim que pára, e deixa de ser necessário proferir a palavra "SENTADO". O cão que foi ensinado a parar e a sentar-se quando está seguro pela trela aprenderá com facilidade a obedecer à mesma ordem quando está solto.

E para terminar, um último conselho ao treinador que pretende ensinar o cão a andar a seu lado. O treino deste exercício tem de ser feito com regularidade e perseverança, pois de outra maneira não será possível ensinar o cão com êxito. Não se pode esperar que um cão novo aprenda a andar ao lado do dono e se mantenha nessa posição quando é solto se o cão for ensinado por vezes com grande firmeza, mas de outras vezes o dono não atuar quando o animal lhe desobedece. O cão só aprenderá a andar ao lado do treinador se receber uma lição todos os dias e desde que as lições sejam sempre ministradas pela mesma pessoa. Mais tarde, quando estiver já bem ensinado, obedecerá provavelmente às ordens dadas por outra pessoa que o animal conheça bem, mas durante o período da aprendizagem o professor deve ser sempre o mesmo.

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7 - ENSINAR O CÃO A MANTER-SE IMÓVEL NA MESMA POSIÇÃO

Em capítulo anterior, dissemos como é que se ensina o cão a sentar-se e a deitar-se em obediência às ordens do dono. Deve continuar-se a treinar o animal nesse exercício à medida que vai crescendo, até que ele se habitue a obedecer a essas ordens em todas as ocasiões e em todos os lugares. O cão foi já ensinado a deitar-se quando o dono está próximo, e a manter-se nessa posição durante um curto período de tempo. O passo seguinte consistirá em manter o cão sentado ou deitado por períodos cada vez mais longos, levando o animal a compreender que tem de ficar sentado ou deitado até receber a ordem de se levantar.

Pode ensinar o cão a manter-se sentado ou deitado, conforme lhe aprouver. Regra geral ensina-se no entanto o cão a manter-se deitado quando se pretende que o animal permaneça imóvel durante mais que alguns minutos, pois essa posição é muito mais confortável para ele que a posição sentada, o que é importante quando se quer que o animal se mantenha na mesma posição durante bastante tempo. Mande o cão assumir a posição do costume, dando-lhe a ordem correspondente. Mantenha-se junto dele e, assim que o animal começar a levantar-se, empurre-o para baixo repetindo a ordem "DEITADO". Faça isto até que o cão se mantenha deitado enquanto você lhe não der ordem para se levantar. Não seja impaciente e lembre-se de que será preferível manter o cão deitado durante um minuto e dizer-lhe depois para se levantar, a tentar mantê-lo deitado durante mais tempo nessas primeiras lições, arriscando-se a que o cão faça tentativas constantes para se levantar, por se sentir aborrecido.

Quando o cão se mantiver deitado por sua livre vontade, elogie-o calmamente, mas dê essa recompensa ao animal enquanto ele está deitado. Se o recompensar depois de ele se ter levantado, é muito provável que o animal associe a recompensa ao ato de se levantar, e todos os seus esforços no sentido de ensiná-lo a manter-se deitado em obediência às suas ordens terão sido vãos. Um cão que aprendeu em cachorro a obedecer às ordens de "DEITADO" e "SENTADO" aprenderá com facilidade, quando mais velho, a manter-se nessa posição durante períodos mais longos. No caso de surgirem dificuldades, a lição deve ser dada com a trela.

Mande o cão deitar-se junto de si e ponha um pé em cima da trela de modo a que o cão não se possa levantar sem sentir um puxão na coleira. Proceda da mesma maneira, repreendendo o cão com um "NÃO" sempre que ele tentar levantar-se. Essa repreensão, associada ao puxão que o cão sente na coleira sempre que tenta levantar-se, serão suficientes para que o animal associe uma idéia de desconforto às suas tentativas para se levantar; ele compreenderá assim, e rapidamente, que é mais cômodo permanecer deitado até receber a ordem de se levantar.

De início, será preferível manter-se ao lado do cão, para contrariar todas as tentativas que o animal faça no sentido de se levantar. Depois do cão ter feito já alguns progressos, pode treinar-se o exercício a uma certa distância do cão, por exemplo, quando está em casa a fazer qualquer coisa não muito longe dele e num sítio onde o pode ver perfeitamente, ou durante as refeições da família. Exija ao cão que se mantenha imóvel durante períodos de tempo gradualmente mais longos e, a partir da altura em que o cão lhe obedece já perfeitamente, quando está perto de si, habitue-o a obedecer também quando

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você está mais longe ou enquanto se desloca para cá e para lá. Mantenha-se no entanto a uma distância não muito grande do animal, para que ele não pense que você se vai embora e não se levante para o seguir.

Quando entender que o cão está já suficientemente bem ensinado, comece a treinar o exercício na rua, deslocando-se em volta do cão enquanto ele está deitado, e depois afastando-se um pouco mais. Se o cão der mostras de se querer levantar, repreenda-o com o dedo estendido e dizendo "NÃO". Sempre que o animal se mantiver imóvel durante um curto período de tempo, aproxime-se dele calmamente e recompense-o. não o chame antes do recompensar, pois de outra maneira o animal associará a recompensa ao ato de se aproximar de si, que é o que ele tem vontade de fazer! Se o cão se levantar e se aproximar de si, vá imediatamente até junto dele, repreenda-o com um "NÃO" severo e leve-o novamente até ao lugar onde ele estava deitado, dando-lhe a ordem "DEITADO". Depois do cão estar novamente deitado e imóvel, tente uma vez mais afastar-se dele. Treine regularmente este exercício, aumentando gradualmente o período de tempo durante o qual o cão se deve manter deitado.

Quando o cão estiver já suficientemente bem ensinado para se manter deitado até ser autorizado a levantar-se, comece a andar para cá e para lá enquanto ele está deitado. Passe várias vezes em frente dele, ande ao seu redor e passe-lhe por cima, vigiando sempre o animal com atenção e repreendendo-o imediatamente com um "NÃO" ou um "QUIETO" severo se ele tentar levantar-se e segui-lo.

Mais tarde, comece a dar-lhe esta lição num lugar onde passem outras pessoas ou aconteçam coisas que possam distrair o cão. Tem de se esforçar por lhe ensinar perfeitamente esta lição de modo a que o cão obedeça sempre às suas ordens, mesmo na presença de estranhos ou quando ouve sons desconhecidos; o cão deve obedecer à sua ordem até você o autorizar a levantar-se.

Em seguida, vá-se afastando para cada vez mais longe depois de ter mandado o animal deitar-se. De início, convém recuar virado para o cão, para o repreender com o dedo estendido e um "NÃO" severo quando o animal fizer menção de se levantar. Se o cão se levantar e se dirigir para si, deve ir ter imediatamente com ele, levá-lo ao lugar onde ele estava deitado e ordenar-lhe novamente "DEITADO". Se o animal se mantiver deitado até você se ter afastado a uma certa distância, chame-o então com a palavra "AQUI", fazendo gestos para o atrair. Assim que o cão chegar junto de si, elogie-o generosamente. Lembre-se sempre de que, se bem que seja indispensável evitar que o cão se levante antes de receber autorização para o fazer, também se não pode fazer nada que leve o cão a associar o ato de vir até junto de si a um desconforto ou ao medo de ser castigado. Por conseguinte, quando chamar o cão tem do elogiar, fazendo-lhe festas ou recompensá-lo, conseguindo assim que o animal fique contente por ter ido até junto de si. Quando vemos um cão que é chamado depois de um exercício aproximar-se do dono de cabeça caída e o rabo entre as pernas e com um ar de incerteza, podemos estar certos de que o animal está sendo mal ensinado e que há um mau entendimento entre o professor e o aluno. Depois de ter ensinado o seu cão a obedecer sem falhas à ordem de se manter imóvel na mesma posição enquanto você se afasta dele, a fase seguinte do exercício, muito mais difícil, consiste em ensiná-lo a obedecer à

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sua ordem de se manter imóvel na mesma posição quando você sai da vista dele. Comece a treinar este exercício num lugar onde haja arbustos altos, árvores, um edifício ou qualquer outro esconderijo. Mande o cão deitar-se, afaste-se como de costume e, quando estiver já a uma certa distância do animal, esconda-se atrás de uma árvore ou da esquina de uma casa. Mantenha-se fora das vistas do cão apenas durante um ou mais segundos, e depois apareça novamente. Por muito bem ensinado que o cão esteja, quando deixar do ver terá tendência para se levantar e procurá-lo. Se o cão se tiver mexido ou levantado enquanto você estava escondido, volte até junto dele, deite-o novamente e repita "DEITADO" ou "QUIETO". Tente novamente, vigiando sempre o cão enquanto está escondido e voltando imediatamente até junto dele para o corrigir se ele se mexer. Repita este exercício tantas vezes quantas forem necessárias, mas de início não fique escondido durante muito tempo, para não assustar o animal. Quando o cão se mantiver deitado Enquanto você está escondido, vá até junto dele e elogie-o calorosamente.

Neste estádio, convêm ir até junto do cão e elogiá-lo quando ele se portou bem de preferência chamá-lo até junto de si antes do recompensar, para o cão compreender bem que a recompensa está associada ao ato de permanecer deitado e não ao de acorrer até junto de si. Pouco a pouco, vá permanecendo cada vez mais tempo fora das vistas do cão, de modo a que este, após uma incerteza inicial, compreenda que a sua ausência é só temporária e que não há perigo de que você o abandone. Nas lições seguintes, esconda-se num sítio diferente e, depois do cão ter se acostumado ao exercício, tente repreendê-lo de longe quando ele se mexe; diga "NÃO" ou "DEITADO" em voz alta, acompanhando a ordem com um gesto de mão, apontando para o chão.

Não é difícil ensinar o cão a manter-se deitado até receber autorização para se levantar, desde que o exercício seja repetido com freqüência, aumentando gradualmente a distância entre o animal e o treinador, e o tempo durante o qual o treinador permanece escondido. Quando o cão obedecer já em todas as circunstâncias à ordem de permanecer deitado e imóvel na mesma posição, pode ensiná-lo a vir junto de si quando o chama com a palavra "AQUI" ou "VEM", após ter saído de um esconderijo distante. Tem de vigiar constantemente o cão, para evitar que ele se levante e vá até junto de si antes de você o chamar. O cão tem de aprender a ficar deitado, quer o veja quer não, até que você lhe dê ordem para se levantar.

Em seguida, pode começar a ensinar o cão a deitar-se quando lhe dá essa ordem enquanto ele se encontra em movimento. A maneira mais simples do fazer consiste em dar a ordem do costume, "DEITADO", afastar-se um pouco do cão, chamar o cão para junto de si e, quando ele se está a aproximar, dar-lhe novamente a ordem "DEITADO". Se o cão obedecer, vá até junto dele e elogie-o. Se, pelo contrário, não reagir à ordem, vá até junto dele e obrigue-o a deitar-se. Afaste-se, chame-o novamente e, quando ele se está a aproximar de si, dê-lhe uma vez mais a ordem "DEITADO".

Pode ser necessário repetir o exercício várias vezes até que o cão comece a obedecer à ordem quando se encontra em movimento, mas não exagere, pois de outra maneira arrisca-se a que o cão deixe completamente de obedecer à ordem "DEITADO" e, inclusivamente, que passe a ter medo de se aproximar de si quando você o chama. Não convém mandá-lo deitar sempre que o chama e que ele se aproxima depois de ter obedecido à ordem de se

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manter deitado durante algum tempo, para não estragar o prazer que o cão sente em ir para junto de si quando você o chama. De início, treine este exercício só de vez em quando e não deixe de elogiar calorosamente o cão quando ele lhe obedece, sem o castigar quando ele ignora a ordem. Neste último caso, deve ir até junto do cão, obrigá-lo a bem a deitar-se, afastar-se até bastante longe, chamá-lo novamente e, quando ele se aproxima de si, mandá-lo deitar em voz sonora. Este exercício exige muita paciência e perseverança da parte do treinador, pois não é muito fácil conseguir que o cão obedeça sempre e em todas as circunstâncias à ordem de se manter deitado e imóvel na mesma posição até ser autorizado a levantar-se, mas um cão que aprendeu perfeitamente este exercício e que se deita e permanece deitado em qualquer altura, lugar e circunstâncias pode ser controlado com facilidade numa emergência.

Sempre que der ordem ao cão para se deitar quando se encontra a uma certa distância do animal, deve acompanhar a ordem com um gesto largo do braço, apontando para o chão. Se o fizer, o cão acabará por se habituar a obedecer ao sinal visual, e poderá ser controlado com facilidade quando você está muito longe e o animal o não pode ouvir. Depois de ter ensinado ao cão o exercício básico que consiste em deitar-se e manter-se deitado até receber ordem para se levantar, pode variar o exercício, para tornar um passeio mais emocionante e divertido. Por exemplo, depois de ter mandado o cão deitar-se, você afasta-se, esconde-se, chama o cão pelo nome, para atrair a atenção do animal, e diz-lhe depois a palavra "AQUI" ou "VEM", esperando que o cão o descubra. Esta brincadeira constitui uma excelente introdução a um treino mais difícil, o de ensinar o cão a seguir uma pista, no caso de você pretender que o seu cão o saiba fazer (vide capítulo 9). Observemos de passagem que um cão só deve ser chamado pelo nome quando se quer atrair a atenção do animal. Quando pretende que o cão venha até junto de si, deve empregar uma outra palavra, tal como "AQUI" ou "VEM". O cão em breve aprenderá a interpretar esse chamamento como uma ordem, aproximando-se imediatamente de si sempre que você pronuncie essa palavra.

8 - ENSINAR O CÃO A IR BUSCAR UM OBJETO E A TRAZÊ-LO à MÃO

Pode começar-se a ensinar o cachorro a ir buscar um objeto e a trazê-lo em qualquer altura depois do animal ter aprendido a conhecer o nome, e desde que o cão mostre que reconhece o dono que dê sinais de lhe ser afeiçoado. Quase todos os cachorros saudáveis sentem o desejo instintivo de correr atrás de um objeto que se afasta deles, e podemos tirar proveito dessa inclinação natural para ensinar o animal a ir buscar um objeto e a trazê-lo de volta.

O objeto atirado, pode ser uma luva velha, um trapo atado com um nó; uma pele empalhada (de coelho, por exemplo) ou qualquer outro objeto de dimensões, consistência e forma adequadas para que o cachorro possa agarrar e levar nos dentes sem dificuldade, e que não lhe magoe a boca. Comece por brincar com o cachorro, interessando-o no objeto. Habitue-o a segurar o objeto na boca enquanto você o agarra. Atire-o agora a uma distância curta. O cão tentará provavelmente correr atrás do objeto e apanhá-lo. Se o animal não mostrar tendência para agir dessa maneira, ate o objeto a um cordel comprido e arraste-o pelo chão, chamando simultaneamente o

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cachorro e encorajando-o a segui-lo. Levante depois o objeto do chão e brinque novamente com o cachorro. Repita esta operação até que o cachorro participe no jogo com entusiasmo, correndo atrás do objeto e agarrando-o na boca por sua iniciativa.

Quando o cachorro se interessar suficientemente pelo objeto para correr atrás dele quando você o atira para longe e o apanhar, aprendeu a primeira parte da lição de trazer à mão.

A tendência natural do cachorro, depois de ter apanhado o objeto, será fugir com ele ou ir escondê-lo na sua caixa ou cama, para aí o roer e morder. Tem de contrariar essa tendência, chamando o aluno pelo nome e fazendo gestos amigáveis, para atraí-lo para junto de si. Não tente nunca correr atrás do cão para obrigá-lo a entregar-lhe o objeto. O cachorro interpretará essa sua maneira de agir como uma parte ainda mais emocionante do jogo e na qual levará certamente a melhor! Em vez disso, chame-o em voz persuasiva, fazendo todo o possível para o atrair até junto de si. Assim que o cachorro se aproximar, elogie-o calorosamente, tire-lhe suavemente o objeto da boca e dê-lhe em troca uma guloseima. Se o cão não mostrar vontade de lhe dar o objeto, não tente tirá-lo à força da boca ou lutar pela posse do objeto. Abra cuidadosamente as mandíbulas do animal e tire o objeto com jeito de entre os dentes; falando sempre com o cachorro em voz calma e amigável. Elogie e recompense sempre o cachorro quando ele vem até junto de si com o objeto, mas nunca lhe ofereça uma guloseima a menos que ele venha até junto de si.

Um cachorro normalmente inteligente em breve aprenderá a associar o ato de lhe trazer o objeto que tem na boca ao de ser recompensado, e começará a trazer-lhe rapidamente e regularmente o objeto, sempre que você o atirar. Se o cachorro levar o objeto para a cama em vez de lho restituir, coloque-se numa posição tal que o possa interceptar quando ele se dirige para a caixa, e tire-lhe o objeto antes de ele chegar à caixa, dando-lhe em troca uma guloseima e elogiando-o ao mesmo tempo. Sempre que tirar o objeto da boca do cachorro deve dizer em voz baixa "Dá" ou "DEIXA", tomando o máximo cuidado para não assustar o cachorro quando lhe abre a boca.

Se estiver a lidar com um animal muito recalcitrante, que insiste em fugir depois de ter apanhado o objeto e se recusa a trazer-lho apesar de todos os seus apelos, tem de proceder da seguinte maneira. Ate uma das pontas de uma corda comprida à coleira do cão, e agarre a outra ponta na mão, deixando a corda caída no chão.

Atire o objeto e, assim que o animal o apanhar, chame-o imediatamente. Se o cão fugir, segure-o pela corda. Chame-o imediatamente, encorajando-o com gestos a vir até junto de si. Se ele o não fizer, puxe-o pela corda, chamando-o sempre e tentando atraí-lo. Quando o cão chegar junto de si, elogie-o e recompense-o como se ele tivesse vindo de sua livre vontade. Repita muitas vezes este exercício, e verá que ao fim de algum tempo basta dar um ligeiro puxão à corda para o cão se resolver a voltar até junto de si e, acabará por acorrer espontaneamente. Não podemos dizer ao certo quanto tempo será preciso para poder dispensar a corda, pois isso depende da inteligência do cão, assim como da afeição que o animal tem ao dono, mas continue a recorrer à corda até que o cão volte sempre para junto de si.

À medida que o cão vai aprendendo melhor o exercício, atire o objeto cada vez mais longe, começando a treinar o exercício atirando o objeto para um sítio onde o cão o não possa ver - para trás de um arbusto, para dentro de

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ervas altas, etc. Se o objeto utilizado se destinar especificamente a esta finalidade - e assim é que deve ser- o cão seguirá provavelmente a direção em que o objeto foi atirado e, quando estiver próximo do sítio onde o objeto caiu, localizá-lo-á pelo cheiro. Ao fim de algum tempo, deve começar a atirar o objeto para um local onde ele fique mais bem escondido e, se o cão o não encontrar, encoraje-o a procurá-lo pelo faro, dizendo "BUSCA"! Em seguida, pode começar a ensinar o cão a procurar um objeto previamente escondido por si, que não foi portanto atirado à vista do cão. Um cão que foi bem ensinado a procurar e a trazer à mão um objeto que o dono atirou à vista do animal, mas que ficou escondido quando caiu, aprenderá também com facilidade a procurar um objeto cujo cheiro conheça, tal como a luva, a bolsa ou o lenço do dono, que este escondeu enquanto o animal estava distraído.

Um cão que aprendeu já a ir buscar um objeto e a trazê-lo ao dono pode ser também ensinado a entregar o objeto em posição de sentado. Basta para tal dar a ordem "SENTADO" quando o animal chega junto de si e antes de lhe tirar o objeto da boca. Se o cão foi já ensinado a sentar-se em obediência a essa ordem, não terá dificuldade em aprender este exercício. Faça-lhe muitas festas se o cão se mantiver sentado enquanto você lhe tira o objeto da boca, e nunca aceite um objeto que ele lhe traz sem o mandar sentar-se primeiro. Nunca cometa o erro de estender a mão em direção ao objeto quando o cão seaproxima. E até que ele tenha obedecido à ordem de "SENTADO". Se o cão saltar para cima de si na sua ânsia de lhe entregar o objeto, empurre-o para o chão, advertindo-o com um "NÃO", e dê-lhe depois a ordem "SENTADO".

Por vezes o cão excita-se no seu entusiasmo pelo jogo, tornando-se muito turbulento; salta e ladra de excitação enquanto espera que o dono atire o objeto. Para evitar que isso aconteça, deve ensinar o animal, depois de lhe ter dado as primeiras lições de trazer à mão, a não correr atrás do objeto atirado até você lhe dar essa ordem.

Antes de atirar o objeto prenda o cão com a trela e dê-lhe a ordem "SENTADO-QUIETO". Depois do cão ter permanecido sentado durante alguns segundos sem se debater, isto depois de você ter atirado o objeto, -dê-lhe a ordem "BUSCA" ao mesmo tempo que lhe tira a trela. Recompense-o bem quando ele voltar e repita a lição. Não mantenha o cão sentado durante mais que alguns segundos de cada vez, dando-lhe a ordem de "BUSCA" assim que ele se mantiver sentado sem que você tenha do segurar. Se o preferir, pode restringir a exuberância de um cão ansioso por que você lhe atire qualquer coisa para ele a ir buscar dizendo-lhe um "NÂO" severo e mandando-o sentar, e só atirando o objeto depois de ele lhe ter obedecido. O primeiro método é no entanto, na maior parte dos casos, mais satisfatório.

Pode acontecer que o cão, depois de ter corrido atrás do objeto e o ter apanhado na boca, o deixe cair antes de chegar ao pé de si ou aos seus pés. Nessa altura deve levantar o objeto do chão e fazer com que o cão o agarre novamente na boca, pondo-lhe o objeto na boca e dizendo-lhe "AGARRA". Se for necessário, pode pôr-lhe a mão à volta do focinho, para evitar que o cão o torne a deixar cair logo de seguida. Depois do cão ter agarrado o objeto com firmeza, tire-o novamente, dizendo a palavra "DÁ". Repita este exercício sempre que o cão deixar cair o objeto antes de você o poder agarrar, recompensando-o quando ele o traz à mão, mas nunca antes.

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Quando se quer ensinar um cão a levar um cesto, um jornal ou qualquer outro objeto, durante um período de tempo mais ou menos longo, tem de se começar por ensinar ao cão o significado da palavra "AGARRA".

O cão aprenderá essa lição com facilidade se tiver sido já ensinado a ir buscar e a trazer à mão um objeto atirado ou escondido pelo dono. Tem apenas de fazer com que o cão compreenda que deve conservar o objeto na boca até que o dono lhe diga "DÁ", e que tem de levar esse objeto com cuidado de um lado para o outro, nunca o largando ou deixando cair até que o dono lho tire da boca. Para começar, ponha a trela ao cão, faça com que o animal agarre o objeto na boca e dê-lhe a ordem "AGARRA" ou "LEVA". Caminhe junto do animal e elogie-o se ele mantiver o objeto agarrado na boca durante algum tempo sem o deixar cair. Se o cão deixar cair o objeto da boca, levante-o do chão e ponha-lho novamente na boca, dizendo em tom severo a palavra "AGARRA", e recomece a andar.

De início não obrigue o cão a andar durante muito tempo com o objeto na boca, mas, a pouco e pouco, vá percorrendo assim com ele distâncias cada vez mais longas. Mais tarde, treine o exercício numa estrada em que passem carros e peões. Quando o cão executar já suficientemente o exercício, preso pela trela, deixe-o andar solto, dando-lhe um cesto ou qualquer outro objeto para levar na boca quando caminha a seu lado. A maioria dos cães gostam de levar coisas na boca e, se forem elogiados e apelidados de "espertos" quando o fazem, em breve se tornarão adeptos entusiastas desta proeza.

9 - ENSINAR O CÃO A PROCURAR E SEGUIR UMA PISTA PELO FARO

Um cão que aprendeu já a procurar e a trazer à mão um objeto, caído num lugar onde não se encontra à vista, pode mais tarde ser ensinado a seguir uma pista pelo faro. O sentido do olfato do cão é muito mais apurado e seletivo que o do homem. É pelo olfato, mais que pela vista, que o cão identifica as pessoas, os lugares e os objetos. Quando ensinamos o animal a seguir uma pista, limitamo-nos portanto a encorajá-lo a fazer uso de uma faculdade que lhe é inerente para determinados fins. Quando o cão encontra o objeto que você escondeu fora da vista dele, faça-o sobretudo pelo faro. Tem agora de o ensinar a encontrar uma coisa que ele não vê, não já dentro de uma pequena área em que o cão pode cheirar o objeto, mas sim seguindo a pista da pessoa que o escondeu.

Se conseguir arranjar alguém que esteja disposto a ajudá-lo, a primeira lição em que ensina o seu cão a seguir uma pista pode assumir a forma de um jogo de escondidas. Ponha a trela ao cão e peça ao seu ajudante que segure o animal enquanto você se vai embora. Atraia a atenção do animal quando se afasta e depois de ter percorrido uma certa distância esconda-se atrás de uma árvore ou de uma casa. Depois de um intervalo previamente combinado, de mais ou menos um minuto, o seu ajudante deve deixar avançar o cão para que o animal o procure, segurando-o porém pela trela. Repita este exercício várias vezes e, em seguida, depois de se ter escondido, percorra uma certa distância fora das vistas do cão, escondendo-se depois num local situado a uma certa distância daquele onde desapareceu inicialmente. Quando o cão chega ao local onde você se escondeu tem de começar primeiro a farejar para o encontrar no seu novo esconderijo, seguindo a sua pista pelo cheiro que você

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deixou no chão. Continue a treinar este novo exercício, aumentando gradualmente a distância entre o primeiro e o segundo esconderijo e dificultando cada vez mais a tarefa do encontrar. Recompense o cão sempre que o animal o encontra e, depois do cão executar suficientemente bem o exercício quando está seguro pela trela, diga ao seu ajudante para o soltar ao fim de um certo tempo depois de você ter desaparecido.

Na fase seguinte do treino, deve começar por mandar sentar o cão, mostrar-lhe o objeto que o animal deve procurar e dar-lho a cheirar. Dê-lhe a ordem "QUIETO" e afaste-se até um local onde o cão o não possa ver, colocando aí o objeto no chão. O cão deve ver a direção em que você se afastou e, a fim de deixar bastante cheiro, esfregue os pés no chão, espezinhando bem o local de onde parte, andando depois devagar e a arrastar os pés. Depois de ter escondido o objeto, volte até junto do cão, caminhando tanto quanto possível sobre a pista que deixou quando se afastou. Faça uma festa ao cão e deixe-o cheirar as suas mãos, para ficar a conhecer o seu cheiro. Ponha a trela ao animal e, apontando para o chão, diga-lhe "BUSCA". O primeiro impulso do animal será o de começar a puxar pela trela na direção em Que o viu partir, uma vez que sabe por experiência que o objeto se encontra perto do sítio onde você desapareceu. Impeça-o no entanto de agir dessa maneira, apontando repetidamente para o seu ponto de partida, o local onde você esfregou várias vezes os pés para deixar o seu cheiro, e ordenando-lhe "BUSCA". O animal em breve encontrará o seu cheiro e começará a avançar. Quando assim for, tente obrigá-lo a seguir a pista que você deixou, encorajando-o a manter o nariz junto ao chão e repetindo-lhe "BUSCA", "BUSCA". Se o cão levantar o nariz do chão e fizer menção de querer começar a correr para a frente, em direção ao local onde ele pensa que o objeto está escondido, pare, aponte novamente para o chão e tente obrigá-lo a voltar à pista. Quando o animal encontrar o objeto, elogie-o calorosamente. Continue esta lição até que o cão dê mostras de compreender perfeitamente que a melhor maneira de encontrar o objeto que você escondeu consiste em seguir a sua pista pelo faro.

Mais tarde, vá deixando uma pista cada vez mais longa, praticando o exercício noutros lugares e em tipos de solo diferentes - erva, terra nua, um carreiro, um bosque, etc.

Deixe sempre uma zona de cheiro bastante forte no local de onde parte para esconder o objeto e, quando a pista for comprida, esfregue também os pés no local em que ela acaba, para o cão encontrar com mais facilidade o objeto Que procura. Tem de fixar bem o local onde esconde o objeto e de fazer com que o cão o encontre sempre.

Quando se está ensinando o cão a seguir uma pista, é indispensável fazer com que o cão acabe sempre por encontrar o objeto escondido no fim dessa pista. Se o animal não encontrar o objeto, depois de ter seguido a pista pelo faro, é capaz de se desinteressar de um jogo que lhe parece inútil e sem atrativos.

Quando o cão chega ao fim da pista, encoraje-o a apanhar o objeto encontrado, a levá-lo até junto de si, a sentar-se e a segurar o objeto na boca até você lho tirar. Elogie-o ou recompense-o com uma guloseima quando tira o objeto da boca do animal. Depois do seu cão ter aprendido perfeitamente a executar este exercício pela trela, comece a treinar o mesmo exercício soltando o cão. De início, será preferível seguir o animal enquanto ele segue a pista,

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mas mais tarde pode mostrar-lhe a pista que conduz ao objeto, que você escondeu sem que o animal o visse, e deixá-lo seguir a pista sozinho. Permaneça no ponto de partida, esperando que o animal lhe venha trazer o objeto à mão. Depois de ter ensinado este exercício ao cão, pode treiná-lo em qualquer altura, deixando cair um objeto que tenha o seu cheiro - uma luva, uma bolsa ou qualquer outro objeto de uso pessoal - durante um passeio e, depois de ter percorrido uma certa distância com o animal, mandando-o procurar o objeto, com a ordem "BUSCA"; dê-lhe a sua mão a cheirar e aponte para o chão, para o caminho que acabaram de percorrer. Se o cão foi bem ensinado, deve trazer rapidamente de volta o objeto perdido e entregar-lho em posição de sentado. Se bem que o principal objetivo deste exercício seja o de reforçar o controlo que o dono tem sobre o cão e a compreensão entre o dono e o animal, por vezes pode também trazer vantagens práticas. SE, no decurso de um passeio a pé, perder involuntariamente qualquer objeto de uso pessoal, pode mandar o cão seguir a sua pista, para recuperar e lhe trazer de volta o objeto perdido.

Como é evidente, quanto mais antiga for a pista mais tênue será o cheiro que dela se evola e também mais difícil para o cão seguir essa pista. Certos tipos de solos retêm o cheiro muito melhor que outros. As condições atmosféricas podem ser também mais ou menos favoráveis. Por exemplo, a erva e os arbustos retêm melhor os cheiros que um chão de areia seca ou de cimento. e um cão que não é capaz de seguir uma pista ao meio dia, num dia de calor, encontrá-la talvez com toda a facilidade de manhã cedo ou à noitinha, quando o chão está úmido de orvalho. Além disso, há também cães que têm um faro muito mais apurado que outros e, uma vez que o êxito do cão em seguir uma pista depende em grande medida de uma faculdade natural do animal, não vale a pena tentar ensinar um cão que tenha muito pouco faro a seguir uma pista, ou pelo menos não se pode esperar que o animal o faça bem ou com entusiasmo. Nunca se deve castigar um cão que falhe neste exercício. Será o mesmo que castigar uma criança surda por não ter ouvido o que se lhe disse. Portanto, se o cão não tiver jeito para seguir uma pista, não insista. é divertido e interessante ter um cão que sabe seguir perfeitamente uma pista, mas para que isso seja possível é indispensável que o animal goste de se dedicar a essa atividade.

Quando o seu cão já é capaz de encontrar e trazer à mão um objeto subrepticiamente escondido, pode testar o faro do cão ensinando-o a escolher um objeto que tem o seu cheiro, misturado com outros objèctos em que você não tocou. Mande o cão sentar-se ordene-lhe que fique QUIETO e vá embora com o objeto na mão. Quando o cão já o não pode ver, coloque esse objeto no chão entre um certo número de outros objetos em que não tenha tocado. Esses objetos podem ser transportados até ao local onde se encontram num tabuleiro ou com a ajuda de uma tenaz, ou pode pedir a um ajudante que os leve até esse local. Volte até junto do cão e diga-lhe "BUSCA" da maneira do costume. Se o cão agarrar no objeto que tem o seu cheiro, elogie-o. Mas se tentar agarrar noutro, diga-lhe "NãO" em voz severa e dirija a atenção do animal para o objeto indicado. Assim que o cão o agarrar na boca, elogie-o bastante. Repita este exercício várias vezes, e em breve verificará que o seu cão escolhe sem hesitar o objeto correto todas as vezes. De início, os objetos utilizados no exercício devem ter dimensões, formas e consistência diferentes e serão dispostos numa área relativamente pequena. Mais tarde deve espalhá-los

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mais, alterando as suas posições relativas e escolhendo objetos mais semelhantes. Tente depois misturar o objeto que você tocou com outros objetos quase idênticos, colocando-os bastante juntos. De vez em quando, escolha outro objeto onde deixar o seu cheiro para se assegurar de que o cão se fia apenas no faro para selecionar o objeto correto. Um cão que aprendeu já a encontrar um objeto pelo faro aprenderá também com facilidade este novo exercício, que tem grande utilidade, pois habitua o cão a associar o dono a todos os objetos que têm o cheiro deste e ensina-o, paralelamente, a considerar que todos os objetos que têm esse cheiro pertencem ao dono. O cão poderá assim procurar e encontrar qualquer objeto perdido ou de que se não sabe o paradeiro.

Depois de ter ensinado o cão a seguir uma pista para encontrar um objeto perdido, pode começar a ensinar o animal a seguir uma pista sem qualquer outra finalidade que não seja a de seguir a pista com êxito. No primeiro exercício, o cão era levado até ao objeto escondido pela pista da pessoa que o escondera. Quando se pretende que o cão siga alguma pista, exige-se que o animal siga o cheiro deixado no chão pelos pés da pessoa que está a ser seguida, quer essa pista tenha sido acabada de fazer, quer date de há já várias horas atrás. Como é evidente, o cão seguirá com muito mais facilidade a pista do dono, cujo cheiro conhece bem, que a de um desconhecido.

Deixe o seu cão entregue aos cuidados de um ajudante enquanto você se afasta para deixar a pista. Raspe os pés no chão ou espezinhe o chão no ponto de partida, para impregnar bem o solo com o seu cheiro. Afaste-se então, batendo com os pés com força no chão ou arrastando os pés, para deixar um cheiro forte atrás de si. Depois de ter andado durante cerca de cinco minutos o seu ajudante deve levar o cão pela trela até ao ponto de partida da pista e levar ao nariz do cão um lenço ou qualquer outro objeto de seu uso pessoal, bem impregnado com o seu cheiro, encorajando o cão a cheirá-lo. Deve dar depois ao cão a ordem "BUSCA". O cão deve ter sido já ensinado a encontrá-lo seguindo o seu cheiro, que impregna o lenço e o ponto do chão que você espezinhou. O animal seguirá portanto esse cheiro de nariz no chão, procurando o caminho que você seguiu.

Comece por fazer uma pista de não mais de cinquenta metros. Vá aumentando gradualmente essa distância e prolongando também a pouco e pouco o intervalo de tempo que medeia entre o momento em que você faz a pista e aquele em que o seu ajudante solta o animal para a seguir. Nos primeiros estádios do treino, deve fazer a pista num local em que não passe ninguém, para que o seu cheiro se não misture ao de estranhos, mas, depois do cão ter alguma prática, pode exigir-lhe que siga uma pista num terreno onde passem ou tenham passado frequentemente outros transeuntes e animais.

O objetivo de ensinar o cão a seguir uma pista é do habituar a apreender um cheiro a partir de um objeto que é levado ao nariz do animal. Depois do cão ter compreendido que deve seguir qualquer pista que tenha o cheiro de um objeto que lhe é dado a cheirar ao mesmo tempo que lhe dizem "BUSCA", aprenderá também a seguir a pista de um estranho, tal como seguia até aí a do seu dono. As pessoas que têm um cão apenas para lhes fazer companhia ou como animal de estimação não estão geralmente interessadas em ensinar o

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cão a seguir a pista de um estranho,mas,se por acaso o desejarem, podem proceder da maneira que acabamos de indicar. No caso de pretenderem ensinar melhor o cão, aconselhamo-los a consultarem um perito experiente e qualificado.

10 - ENSINAR O CÃO A NÃO CORRER ATRÁS DE AUTOMÓVEIS OU GADO OU CRIAÇÃO

Se o cão mostrar tendência para correr atrás das bicicletas ou dos automóveis ou para perseguir a criação, o gado ou outros animais, tem de se contrariar imediatamente essa tendência. O cão que contrai esse hábito pode causar grandes estragos, tornando-se numa ameaça constante para os utentes de estrada, os lavradores e os animais domésticos, podendo inclusivamente obrigar o dono a pagar pesadas indenizações pelos prejuízos causados pelo animal. Além disso, o cão corre o perigo de ser morto ou gravemente ferido quando anda à solta, ou ainda de suscitar a inimizade dos vizinhos, que o poderão matar a tiro ou por qualquer outro processo.

O cachorro que for habituado, desde os seus primeiros passeios à trela, a portar-se com juízo no meio do trânsito não correrá mais tarde atrás das bicicletas ou dos automóveis. Assim que o animal souber andar bem pela trela, leve-o a passeio numa estrada em que haja muito trânsito. Alguns cachorros, de início, assustam-se com os ruídos e mostram-se nervosos ou perturbados, mas em breve se tornam mais corajosos, se o dono os acalmar de cada vez que se espantam quando passa um carro. Em casos extremos, terá de agarrar no cão ao colo, levando-o assim durante algum tempo numa estrada mais movimentada. Fale com o cachorro e, quando ele lhe parecer mais calmo, ponha-o outra vez no chão e tente convencê-lo a avançar, falando-lhe calmamente e levando-o a compreender que não tem razão para se assustar. Se fizer isto todos os dias, qualquer cachorro se habituará a andar sem medo pela estrada principal, por muito ruidoso ou intenso que seja o trânsito. Um cachorro mais ousado ou mais turbulento pode excitar-se com a confusão, atirando-se na direção de um carro e ladrando ao automóvel.

Muitos donos de cães menos sensatos consideram que este comportamento é divertido e demonstra coragem por parte do cão. Não compreendem que, ao permitirem que o cachorro se comporte desta maneira, não o repreendendo imediatamente com severidade, estão a encorajar um hábito que mais `tarde será muito prejudicial. Se o seu cão, não importa de que idade, puxar pela trela tentando atirar-se a um ciclista ou a um automóvel que passam na estrada, corrija-o imediatamente, dando um puxão firme à trela e dizendo-lhe um NÃO reprovador e severo. Puxe o cão para trás sempre que ele se portar dessa maneira.

Vigie-o cuidadosamente e, sempre que o animal não reaja à passagem de qualquer veículo, mantendo-se sossegado e sem dar puxões à trela, elogie-o, mostrando-lhe a sua satisfação. Leve-o a passar em estradas de muito trânsito e onde passem ciclistas, aproveitando todas as oportunidades para corrigir o cão quando mostrar tendência para se atirar às bicicletas ou correr atrás delas. Um cão habituado a passear com juízo numa estrada de muito

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movimento em breve aprenderá a não ligar ao trânsito, e não criará mais tarde problemas desse tipo quando andar à solta.

Se o cão tiver tendência para correr atrás da criação, deve ser corrigido pelo mesmo processo. Leve-o a passear, seguro pela trela, e passando o mais frequentemente possível por lugares onde o animal veja de perto a criação. Assim que o cão der mostras de querer correr atrás das galinhas ou dos patos, puxe-o para trás com força, proferindo simultaneamente um "NÃO" claro e sonoro. Repita regularmente esta advertência até que o cão deixe de tentar correr atrás de qualquer animal de pena que cruze no seu caminho. Mais tarde, se tiver possibilidades de o fazer, será boa idéia prendê-lo dentro de um galinheiro.

Mantenha-se junto dele, para o corrigir com um "NÃO" e uma palmada sempre que ele tente correr atrás de uma galinha. Afaste-se depois e, se ele se mantiver sossegado enquanto a criação anda para cá e para lá à volta dele, elogie-o e dê-lhe uma recompensa. Quando lhe parecer que o animal lhe inspira já toda a confiança, pode deixá-lo à solta num local onde haja criação. Corrija-o imediatamente se ele se portar mal e, se for necessário, ponha-lhe novamente a trela e passeie com ele entre a criação.

Um cão que já aprendeu a obedecer à ordem de andar ao lado do dono aprenderá com muito mais facilidade a não correr atrás dos automóveis, das bicicletas ou de outros animais. Qualquer tentativa que o animal faça no sentido de correr atrás de um ciclista ou de uma galinha poderá ser imediatamente refreada chamando-o para junto do dono. Tem no entanto de se fazer com que o cão compreenda que é proibido correr atrás dos automóveis ou de outros animais. Será mais fácil consegui-lo, fazendo-o andar ao lado do dono preso pela trela, pois qualquer tentativa para sair dessa posição e correr atrás de alguma coisa poderá ser imediatamente corrigida com um puxão forte da trela e um "NÃO" de advertência. Se chamar o cão para junto do dono com um mero "AQUI" (vide capítulo sobre este tema) quando o animal fizer menção de querer correr atrás de alguma coisa, o cão poderá obedecer a essa ordem se tiver sido bem ensinado. mas esse ato indicará apenas que o animal está a obedecer a uma ordem que conhece bem, e não será associado à proibição de correr atrás dos automóveis ou da criação. O cão continuará portanto a persegui-los quando você estiver distraído ou na sua ausência.

As ovelhas parecem exercer um fascínio especial sobre os cães, talvez porque costumam fugir assim que alguém se aproxima delas, convidando assim um cão ativo e turbulento a persegui-las de brincadeira. Essa brincadeira pode ter no entanto conseqüências graves.O dono do cão será responsável pelos danos causados pelo animal.

Algumas das ovelhas perseguidas por um cachorro ou por um cão adulto demasiado pequeno para lhes fazer mal áinda que as apanhe podem estar prenhas, e essa brincadeira do cachorro pode causar um aborto.

É muito importante treinar um cão que vive no campo a não perseguir as ovelhas, e quanto mais cedo melhor. As primeiras lições podem ser dadas segurando o cão pela trela e dando um puxão forte à trela, acompanhado por um "NÃO" severo, sempre que o animal der mostras de querer correr atrás das ovelhas. Continue este treino de rotina, levando frequentemente o cão a passeio em campos onde pastem ovelhas, para que o animal se habitue a estas e fique imunizado contra a tentação de correr atrás das ovelhas quando elas fogem à sua passagem.

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Corrija todas as tentativas que o cão fizer no sentido de se atirar atrás das ovelhas, dando um puxão forte à trela e repreenda-o com um "NAO". Repita este exercício até que o cão passe tranquilamente por um rebanho na pastagem, sem mostrar interesse pelos animais nem tentar atirar-se em direção a eles.

Depois do cão ter atingido este estádio, pode tentar tirar-lhe a trela. Esta tentativa é porém muito arriscada. Nunca é demais repetir que os cães parecem ser irresistivelmente atraídos pelas ovelhas em fuga, e poucos resistem à tentação de persegui-las, provavelmente apenas por brincadeira. Como o dissemos já, o fato de as intenções do cão serem inofensivas não é garantia de que as ovelhas não sofram com essa perseguição. Além disso, o cão que começa a perseguir as ovelhas sem qualquer desejo de apanhá-las ou de atacá-las pode sucumbir ao instinto primitivo do caçador e, na excitação da perseguição, pode atacar mesmo uma ovelha. Em vez de deixar o seu cão à solta quando há rebanhos à vista, mesmo que ele pareça ter-se tornado inofensivo para os animais, será preferível substituir a trela relativamente curta do costume por uma corda comprida, não muito pesada, para não embaraçar os movimentos do cão,mas que seja suficientemente forte para que você possa controlar um ímpeto inesperado do animal a 10 ou 20metros de distância.

Prenda a corda à coleira, agarrando uma das pontas com firmeza e deixando a corda arrastar pelo chão. Se quiser,pode enrolar a corda num carreto,de modo a que a corda se desenrole bem quando é puxada. A idéia é que o cão possa correr à vontade, sem se sentir preso. Se, ao ver uma ovelha,o animal se atirar em direção a ela,dê um puxão súbito e brusco à corda, dizendo simultaneamente "NAO". Dê depois a ordem "AQUI". Se o cão vier de sua livre vontade elogie-o, mas se não vier puxe-o pela corda. Assim que ele chegar junto a si, elogie-o também. Dessa maneira castigará o animal por ter perseguido a ovelha, e recompensá-lo-á por ter obedecido à sua ordem e vir até junto de si. Se o castigar quando ele chegar junto de si, é muito provável que o animal associe o seu descontentamento não ao fato de ter perseguido uma ovelha, mas sim ao de voltar até junto de si quando você o chama, uma coisa que tem de ser evitada a todo o custo.

Continue a servir-se da corda até ter certeza absoluta de que o cão é de toda a confiança com as ovelhas.Não tenha pressa de soltar o cão,e não puxe o cão sempre à mesma distância.Se o fizer, o animal aprenderá a considerar a corda como uma outra trela e não aprenderá nada de novo com ela.Se o cão teimar em perseguir as ovelhas, deve deixá-lo percorrer uma distância bastante grande antes de dar o puxão à corda. Dado que o cão vai adquirindo velocidade durante a corrida, quanto mais longe estiver de si,mais rápido será o seu andamento e mais forte o esticão que sentirá quando você puxar a corda.

Mesmo que esteja convencido de que o seu cão lhe merece uma confiança absoluta neste aspecto, vigie-o sempre com cuidado quando se aproxima de um rebanho. Quando o cão depara subitamente com um rebanho em debandada devido à sua aproximação, a tentação do perseguir pode ser tão forte que o leve a esquecer a educação que recebeu. Mantenha-se sempre vigilante, para chamá-lo assim que ele der sinais de querer perseguir o rebanho. Em terreno acidentado, em que o cão desaparece por vezes das suas vistas quando anda à solta,será preferível segurá-lo pela trela ou pelo menos fazê-lo andar a seu lado, de modo a poder controlá-lo com facilidade. Se bem que não seja difícil ensinar a um cão que é proibido correr atrás das ovelhas, é

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praticamente impossível ter a certeza absoluta de que,em certas circunstâncias, o animal se não sentirá tentado a transgredir essa proibição, quando corre em liberdade em locais onde há ovelhas.Deve portanto vigiar o seu cão durante os passeios ao campo ou quando vai fazer um piquenique, não deixando o animal afastar-se de tal maneira que o não possa controlar.

Ouvimos contar tantas histórias de cães que causam prejuízos aos rebanhos correndo atrás das ovelhas, que me parece aconselhável tomar todas as precauções para evitar acidentes desse tipo; por muito bem ensinado que o seu cão lhe pareça sob este ponto de vista, é muito possível que o animal se não comporte da mesma maneira quando está longe da sua vista. Um cão que anda muito à solta pode contrair o hábito de perseguir os rebanhos de ovelhas, principalmente se o cão vagueia sem guarda, em companhia de outro ou outros cães. Dois ou mais cães juntos fazem muito mais disparates que um cão sozinho. Um bando de cães tem tendência para caçar ou perseguir a presa à maneira de uma alcatéia, sucumbindo aos instintos ancestrais, que os levam a tentar abater e matar a presa que tenta fugir.

11 - HABITUAR O CÃO Á ÁGUA E ENSINÁ-LO A SER UM BOM CÃO DE GUARDA

As pessoas que vivem junto de um rio ou do mar podem querer habituar o cão a nadar e a gostar da água. A maior ou menor facilidade com que o cão poderá ser treinado neste aspecto depende da raça e do temperamento do animal.Alguns cães entram na água ousadamente e com prazer, mesmo em cachorros, enquanto outros de princípio têm medo da água e, a menos que sejam tratados com jeito, podem sentir-se apavorados com os esforços feitos pelo dono no sentido de os obrigar a nadar.

Regra geral, um cão que dá mostras de grande aversão à água foi alguma vez atirado à água contra sua vontade, e é essa a razão pela qual tem medo. A idéia de que todos os cães gostam da água e começam imediatamente a nadar se forem atirados à água fora de pé é tão infundada como a de que um passarinho tirado do ninho começará instintivamente a voar se for lançado ao ar. Muitos cães têm medo da água porque foram tratados de uma maneira estúpida. Tem de se começar por habituar o cão à proximidade da água, fazendo-o compreender que o contato com esta não é desagradável nem perigoso.

Deve começar-se a habituar o cão à água num dia quente, em que o fato de se molhar não constitua um choque desagradável para o animal. Procure um lugar; em que o terreno tenha pouco declive junto à água ou escolha um dia em que o mar esteja calmo e a maré baixa.

Comece a brincar com o cão, acenando-lhe com um pau ou qualquer outro objeto que flutue, atirando-o para longe e mandando o cão buscá-lo da maneira usual. Quando o cão está entusiasmado com o jogo, atire o objeto de modo a ficar à beira da água ou dentro desta, mas junto a terra. O cão, entusiasmado com a brincadeira, entrará provavelmente na água, molhando as patas sem dar por isso, no processo de recuperar o objeto.Repita várias vezes a brincadeira,mas atirando sempre o objeto de modo a cair num sítio onde a água seja muito pouco profunda. Treine este exercício durante alguns dias e, quando o cão não hesitar em meter as patas para ir buscar o objeto, comece a

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atirar este cada vez para mais longe. Não deve, no entanto atirá-lo para um sítio onde o cão perca o pé para ir buscá-lo. Este ponto é importante, pois só depois do cão ter perdido completamente o medo à água se deve tentar levá-lo para fora de pé. Depois do cão se ter habituado a andar dentro de água,não hesitará em ir buscar o objeto , um pouco mais longe; e, na sua excitação, é natural que nade algumas braçadas antes de voltar para trás, ao verificar que perdeu o pé.

O tempo necessário para que o cão atinja este estádio de habituação à água é muito variável de animal para animal, mas não tente nunca apressar a aprendizagem. Deixe o cão decidir por si próprio quando é que se há de aventurar em águas mais profundas, para evitar que ele ganhe medo de água.Não deixe o cão ter frio depois de sair da água. Faça-o correr e,Quando chegar a casa, esfregue-o com uma toalha, ou leve uma toalha consigo para limpar o animal assim que ele sair da água. Não tente fazê-lo entrar no mar quando há ondas grandes ou quando o mar está agitado enquanto não estiver muito habituado a nadar.

Depois do cão se ter habituado a entrar em águas pouco fundas, pode convencê-lo a nadar brincando com ele à beira de água num local onde outros cães estejam a entrar e a sair da água e a nadar. O animal entusiasma-se e começa geralmente a nadar sem ser preciso fazer mais nada.Pode exercitá-lo na natação pedindo a um amigo que o segure de um lado do rio e chamando-o da outra margem. Ou pode também entrar você na água e tentar persuadir o cão a nadar consigo. De início, o cão nada mal e cansa-se rapidamente. As lições devem portanto ser curtas, enquanto o animal não aprende a nadar bem e a gostar da água. Proporcione ao cão oportunidades freqüentes de brincar na margem do rio ou na praia mesmo quando não toma banho, e faça o possível para que o animal espere com prazer o momento do banho.

Muitas das pessoas que compram um cão gostariam de saber como é que devem ensinar o animal a ser um bom guarda.Sentem-se por vezes desapontadas porque o cachorro não dá mostras de querer assumir uma atitude de proteção em relação ao seu dono ou à casa em que habita.

A idéia de que se pode ensinar um cão a guardar determinada pessoa e as coisas que lhe pertencem constitui um erro. O cão só se poderá sentir responsável pela proteção de uma pessoa e dos seus pertences se gostar dessa pessoa - se a considerar como o seu amado dono, em quem deposita toda a sua confiança, e se compreender que a propriedade em causa pertence a esse mesmo dono. Não podemos dizer ao certo quando é que o cão está suficientemente desenvolvido para poder experimentar esse sentimento. Regra geral, o cão só pode sentir esse instinto de proteção depois de ter atingido a idade adulta. Nalguns casos, só aos dois anos de idade o cão começa a revelar-se como um bom cão de guarda.

Nem todas as pessoas fazem a mesma idéia do que deve ser um bom cão de guarda. Um cão de estimação que rosne desconfiado a todos os estranhos que se aproximam e ataque um intruso assim que o vê não convém de modo algum à maior parte das pessoas. Pelo contrário, um animal desses criará grandes problemas ao dono e a todos os que entrem em contato com ele. A não ser em casos muito especiais, um cão de estimação deve ladrar para dar sinal da aproximação ou da presença de estranhos, bem como indicar a sua intenção de proteger o dono e a propriedade deste, assumindo uma atitude ameaçadora para com qualquer presumível assaltante. Quase todos os

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cães afeiçoados ao dono e à casa se comportam dessa maneira quando a ocasião o exige. O fato de um cão ter tendência para se mostrar acolhedor para os visitantes não quer dizer que não seja um bom guarda.

Se quiser que o seu cão seja um bom guarda e resolver ensiná-lo nesse sentido, a primeira coisa a fazer será decidir como é que quer que o cão se comporte na presença de estranhos. Por exemplo, se quiser que o cão ladre quando se aproximar um estranho, não deve repreendê-lo gritando-lhe CALADO se o cão ladrar ao ouvir um ruído estranho ou quando alguém bater à porta. Se o fizer, estará ensinando-o a não ladrar em ocasiões semelhantes, quer você esteja em casa, quer não. Será preferível dizer "Anda daí", fazer-lhe uma festa e levá-lo consigo até à porta.Antes de abrir a porta, faça-o sentar a seu lado ou um pouco à frente de si. Vele por que o animal se mantenha sentado enquanto você fala com o visitante. Não permita que façam festas ao cão enquanto ele está nessa posição. Se o visitante entrar em casa, diga-lhe que faça então festas ao cão e encoraje o animal a recebê-las bem. Dessa maneira, o cão poderá sempre protegê-lo de um estranho com más intenções, em relação ao qual manterá uma atitude de desconfiança, mas em breve compreenderá que uma pessoa que entra consigo em casa deve ser tratado como um amigo. Um cão com tendência para se excitar e tornar incontrolável quando alguém bate à porta deve ser levado até junto da porta seguro pela trela, e o dono mandá-lo-á sentar antes de abrir a porta. Se o cão tentar atirar-se ao visitante ou ladrar à toa, dê um puxão forte à trela e diga-lhe "CALADO". Coloque sempre o cão entre si e a pessoa que bate à porta, mantendo-o sentado e, se convidar o visitante a entrar, peça-lhe que fale ao cão ou lhe faça festas, para travar conhecimento com o animal, mas sem o excitar.

Um cão anormalmente desconfiado ou agressivo para com todos os estranhos pode tornar-se mais sociável se for levado muitas vezes para o meio de estranhos que falem amigavelmente com o animal. A desconfiança é muitas vezes o sintoma de um temperamento nervoso, que pode ser combatido mostrando ao animal que os estranhos não são necessariamente inimigos. Por outro lado, um cão muito novo pode mostrar-se demasiado pronto a acolher bem toda a gente, permanecendo indiferente à aproximação de um estranho ou ignorando o fato de alguém bater à porta. O cão perderá provavelmente essa atitude demasiado complacente quando crescer, mas entretanto o dono pode encorajá-lo a ladrar, dizendo em tom excitado quando alguém bate à porta: "Que é isto?". Leve o cão até à porta consigo, e elogie-o sempre que ele ladrar em resposta às suas palavras "Que é isto?" quer quando as diz pela primeira vez, quer quando as repete antes de abrir a porta.

Como dissemos, quase todos os cães darão sinal quando houver perigo ou tentarão proteger os donos numa emergência sem que para tal seja necessário ministrar-lhes um ensino muito especial, desde que dediquem ao dono uma afeição autêntica. Não convém de modo algum que uma pessoa, sem qualificações para tal, tente ensinar o seu cão a atacar outra pessoa quando lhe dá ordem de o fazer, o que pode ser muito perigoso. O único resultado desse treino inoportuno será o de tornar o cão feroz e de pouca confiança. Esses cães são muito difíceis de controlar, e só um treinador muito qualificado e experiente poderá conseguir; além de que se tornam impróprios para viver na casa de uma família. Por muito bom guarda que seja um cão, deve poder ser sempre controlado em todas as circunstâncias. Nunca se pode perder o controle sobre o cão, que deve vir imediatamente para junto do dono

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quando este o chama, sejam quais forem as circunstâncias, e que tem de obedecer sem hesitações a todas as ordens, por muito excitado que se encontre.

Lembre-se que, quando treina um cão para ser um bom cão de guarda, esse ensino, por muito simples Que seja, deve ser feito tendo em conta o temperamento, o tamanho e a força do animal que está a ser ensinado. Não há qualquer razão para que um bom cão de guarda não seja também um companheiro agradável, alegre e afeiçoado.

12 - ALGUMAS OBSERVAÇÕES E SUGESTÕES FINAIS

Nunca perca a calma quando está ensinando o seu cão. Se o animal lhe desobedecer ou se comportar mal tente descobrir a razão por que age assim. Talvez que a sua maneira de ensinar o cão esteja errada e o animal não compreenda o que é que você quer que ele faça. Deve partir do princípio de que o cão não desobedece deliberadamente.

A bondade e o bom senso são as duas qualidades essenciais do bom treinador. O treinador tem também de ter simpatia ou afeição pelo animal que está a ensinar, além de uma paciência inesgotável.

Se quiser ensinar convenientemente o seu cão, tem de começar por pensar bem naquilo que lhe vai ensinar. Não ensine ao seu cachorro um comportamento que mais tarde possa vir a lhe desagradar. Lembre-se de que uma habilidade que é muito engraçada num cachorro pode ter muito pouca graça num cão adulto.

À medida que vai progredindo na educação do cão, verificará que o animal gosta de fazer certos exercícios, enquanto que outros lhe desagradam. Não o aborreça insistindo muito nos exercícios de que ele não gosta; essas lições devem ser mais curtas que aquelas que agradam ao cão. Seja muito generoso nos seus elogios e recompensas quando o cão executa convenientemente, ou se esforça por executar, uma ordem que lhe desagrada. Se tiver o cuidado de não irritar o animal insistindo muito nessas ordens, com o tempo o cão esquecerá provavelmente esse preconceito inicial e acabará por executar os exercícios alegre e entusiasticamente.

Observe atentamente as reações do seu cão em todas as lições. Acabe a lição assim que o cão tiver feito um esforço no sentido de

obedecer às suas ordens, e assim que ele der mostras de estar aborrecido ou fatigado, ou tiver um ar preocupado ou infeliz.

Todos os métodos de treino se baseiam, em última análise, numa aplicação judiciosa do castigo e da recompensa. Nunca perca uma oportunidade de recompensar o seu cão quando ele faz ou tenta fazer aquilo que você lhe manda, ou de corrigir quando ele lhe desobedece.

Sempre que se proporcionar uma ocasião de corrigi-lo tem de fazer imediatamente, para que o cão associe o seu aborrecimento ou o desconforto que você lhe causa ao ato pelo qual o está castigando.

Os castigos devem ser sempre claros e incisivos e, depois de ter castigado o cão, deve reatar imediatamente a sua boa relação com ele.

Não resmungue nem ralhe constantemente com o animal e nunca o repreenda por qualquer coisa que ele fez há algum tempo e que já esqueceu,

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pois será incapaz de associar a repreensão ou o castigo com a ofensa cometida.

Lembre-se de que o tom de voz em que fala ao cão tem mais significado para o animal, do que as palavras que lhe diz. Pode sossegar e acalmar um cão tímido ou assustado falando-lhe num tom de voz meigo e sereno.

Se o seu cão fugir em pânico, nunca grite nem corra atrás dele. Isso só servirá para assustá-lo ainda mais. Chame-o pelo nome e faça o possível por encorajá-lo, com palavras e gestos, a vir até junto de si, recompensando-o assim que ele se aproxima.

O treino deve ser considerado, tanto pelo professor como pelo aluno, um jogo divertido, feito em comum. O treinador nunca pode, porém perder o controle desse jogo. O seu cão deve compreender que você é muito seu amigo, mas que quem manda é você. As lições devem ser agradáveis, interessantes e divertidas. Dessa maneira, o seu cão obedecerá sem hesitação e de boa vontade.

O treino não pode ser coroado de êxito se o treinador não tiver conquistado primeiro a afeição e a confiança do cão. Por outro lado, este nunca pode perder a confiança em si e nos outros membros da sua família, dentro e fora de casa em todas as circunstâncias. Só assim o animal será valente e ousado, manifestando sentimentos amigáveis para com todas as pessoas com quem contata. Não há razão para que um cão se torne desconfiado, mau, nervoso, ou mal humorado se for ensinado desde cachorro a considerar todos os seres humanos, adultos ou crianças, como amigos.

Salvo raras exceções, um cão pode ser ensinado em qualquer idade, no sentido em que se podem corrigir em qualquer altura os maus hábitos do animal e fazer com que se torne num cão obediente, controlável e seguro em todas as circunstâncias e em todos os lugares. Se o treino for conduzido com perícia e paciência, qualquer cão pode ser ensinado. É no entanto mais fácil e mais rápido ensinar um cachorro que um cão adulto. Um cachorro desenvolve-se muito mais depressa que uma criança e, aos seis ou nove meses de idade, pode já ser sujeito a um treino a sério. Lembre-se, no entanto de que os métodos de treino devem ser flexíveis e que os castigos devem variar de acordo com a idade, o tamanho e o temperamento do cão que está sendo ensinado.

Deve fazer o possível, ao longo do treino, por estabelecer um laço de amizade e confiança entre si e o seu cão. Nunca engane o animal nem abuse da confiança dele.

Quando brinca com um cachorro, não o excite nem o incite a lutar para conservar um objeto que ele tem agarrado ou a tentar tirar-lhe alguma coisa. Se o cachorro começar a ficar muito turbulento ou excitado, interrompa a brincadeira antes de perder o controle sobre o animal. Essas brincadeiras violentas dão geralmente mau resultado com a continuação.

Se o seu cão adulto se tornar agressivo com as pessoas ou com os outros cães ou se tiver maus hábitos que você se sinta incapaz de contrariar, pode levá-lo a um bom treinador para ser corrigido.