Eça de Queirós - Maias

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Ea de Queirs - Os Maias y Caracterizao das Personagens.

Afonso da Maia O seu pai era Caetano da Maia, um portugus antigo e fiel que se benzia ao nome de Robespierre, e que na sua apatia de fidalgo beato e doente, tinha s um sentimento vivo: o horror, o dio ao Jacobino, e como tal custava-lhe a aceitar um filho Jacobino. Ele a vtima inocente da tragdia que se desenrolar. Tendo sobrevivido desgraa do filho, trado e abandonado pela mulher com quem casara contra a vontade do pai, Afonso no sobreviver desgraa do neto: morre na madrugada em que percebe que Carlos, mesmo sabendo que Maria a sua irm, continua a ser amante dela. Afonso da Maia, fisicamente, era baixo, macio, de ombros quadrados e fortes, cara larga, o nariz aquilino e a pele corada. Os cabelos eram brancos, muito curtos e a barba branca e comprida, lembrava um varo esforado das idas hericas, um D. Duarte Meneses ou um Afonso de Albuquerque; psicologicamente consideravam-no o personagem mais simptico do romance e aquele que o autor mais valorizou. No se lhe conhecem defeitos e um homem de carcter culto e requintado nos gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e obrigado, por seu pai, a sair de casa; instalando-se em Inglaterra mas, falecido o pai, regressa a Lisboa para casar com Maria Eduarda Runa. Mais tarde, dedica a sua vida ao neto Carlos e j velho passa o tempo em conversas com os amigos, lendo com o seu gato Reverendo Bonifcio aos ps, opinando sobre a necessidade de renovao do pas. generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza, o que pobre e fraco e tem altos e firmes princpios morais. Morre de uma apoplexia, quando descobre os amores incestuosos dos seus netos. Pedro da Maia Filho de Afonso da Maia e de Maria Eduarda Runa e pai de Carlos da Maia e de Maria Eduarda, suicida-se aps a sua esposa, Maria Monforte, ter fugido de casa com o napolitano (Tancredo) que acolheu em sua casa. Tem uma educao tipicamente portuguesa, o que vai contra com as ideias de seu pai. Em Londres a sua me tenta dar-lhe a educao mais beatificada possvel (para o efeito, chama de Portugal o capelo do conde de Runa, o padre Vasques), e, por isso, torna-se um homem de aparncia frgil e melanclico. Era pequenino, face oval de "um trigueiro clido", olhos belos "assemelhavam-no a um belo rabe". Valentia fsica. Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de "melancolia negra que o traziam dias e dias, murcho, amarelo, com as olheiras fundas e j velho". Era o heri romntico . Ea de Queirs d grande importncia vinculao desta personagem ao ramo familiar dos Runa e sua semelhana psicolgica com estes. Pedro vtima do meio baixo lisboeta e de uma educao retrgrada. O seu nico sentimento vivo e intenso fora a paixo pela me, at se apaixonar por Maria Monforte, paixo que lhe d at fora para contrariar o pai. Apesar da robustez fsica, de uma enorme cobardia moral (como demonstra a reaco do suicdio face fuga da sua mulher). Maria Monforte Mulher dominadora e manipuladora, vem a ser a esposa de Pedro da Maia, com quem tem dois filho: Carlos da Maia e Maria Eduarda da Maia. Um dia foge com Tancredo, um italiano, levando Maria Eduarda e deixando o seu filho Carlos, a Pedro da Maia. Maria Monforte, fisicamente

descrita como extremamente bela e sensual, tinha os cabelos loiros, a testa curta e clssica e o colo ebrneo; psicologicamente era vtima da literatura romntica e daqui deriva o seu carcter pobre, excntrico e excessivo, chamavam-lhe a negreira porque o seu pai levara, noutros tempos, cargas de negros para o Brasil, Havana e Nova Orlees. uma mulher leviana e moralmente fraca e , em parte, a culpada de todas as desgraas da famlia Maia. Aps a morte de Tancredo leva uma vida dissipada e morre quase na misria. pelas suas mos, embora indirectamente, que a desgraa atinge a famlia. Por um lado, ao levar consigo a filha, separou os irmos. No tendo contado a Maria Eduarda a verdade sobre a sua origem, deixa esta na ignorncia de que tem, em Portugal, um irmo vivo. ela quem deixa ao Sr. Guimares uma caixa com vrios documentos, entre os quais uma carta que prova ser Maria Eduarda filha de Pedro da Maia, facto que o Sr. Guimares tambm comprova. Maria Eduarda Runa a mulher de Afonso da Maia (que grande parte do romance j vivo), portanto av de Carlos da Maia. uma personagem bastante doente, fraca e religiosa. Insiste em dar uma educao tradicional portuguesa ao seu filho, Pedro da Maia, e Afonso da Maia, seu marido, no concorda mas acaba por ceder (pois ela tambm satisfez os seus caprichos ir viver para o estrangeiro). Um tio desta personagem, um dia, julgando-se Judas, enforcou-se numa figueira. Afonso preocupa-se ao descobrir uma parecena entre seu filho Pedro da Maia e um retrato deste tio. Esta peripcia importante uma vez que Pedro da Maia acaba por cometer suicdio tambm. y Adjectivos e Advrbios.

Para expressar a sua viso crtica sobre sociedade dos finais do sculo XIX, Ea socorre-se da expressividade dos adjectivos e dos advrbios de modo. Estes permitem-lhe transmitir ao leitor a impresso daquilo que observa, para que a sua stira ganhe expressividade e objectividade. O adjectivo, em Ea de Queirs, de carcter ousadamente subjectivo. No pretende estabelecer uma relao directa com o substantivo que qualifica, mas pretende sugerir relaes entre esse nome e outros, excitando vivamente a imaginao. O adjectivo serve assim o carcter impressionista da prosa queirosiana, uma vez que mostra ao leitor a impresso que as coisas produzem no escritor. Exemplo: "sob a luz suave e quente das velas". tambm comum encontrarmos um substantivo com uma adjectivao dupla ou tripla. Pretende com isto o escritor mostrar a dupla faceta da realidade que observa: por um lado, mostra o que v; por outro, revela a impresso que lhe fica do que observa. Assim, neste uso duplo/triplo, pretende o autor caracterizar a face objectiva e subjectiva que a realidade nos desperta. Exemplo: "Uma gente fessima, encardida, molenga, reles, amarelada, acabrunhada! . y Educao tradicional portuguesa.

Valoriza a memorizao, o primado da cartilha, a moral do catecismo, a devoo religiosa com a concepo punitiva do pecado, o estudo do latim considerada uma lngua morta e o suborno da vontade pela chantagem afectiva. Origina indivduos fracos e ablicos: Pedro suicida-se primeira contrariedade e Eusebiozinho, depois de uma vida desregrada, apanha da mulher. Ea de Queirs pretende mostrar de que forma a educao molda os indivduos.

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Pontos essenciais.

Captulo I - Os Maias vm habitar o Ramalhete (1875). - A descrio do Ramalhete antes de 1875. - Vilaa, procurador dos Maias. - O restauro do Ramalhete (descreve-se a nova decorao). - Afonso (retrato fsico). - Caetano da Maia (pai intransigente). - Juventude de Afonso. - Casamento e exlio. - Educao de Pedro (o padre Vasques). - O regresso a Lisboa. - A morte de Maria Eduarda Runa (me de Pedro). - A paixo de Pedro por Maria Monforte. - Alencar conhece a mulher que Pedro vai amar. - Casamento de Pedro com Maria Monforte. - Corte de relaes com Afonso da Maia (seu pai). Captulo II - Regresso a Lisboa. - O nascimento de uma filha (Maria Eduarda). - O nascimento de um filho (Carlos). - Tancredo, o Napolitano, frequenta casa de Pedro. - Afonso v, pela primeira vez, Carlos Eduardo, seu neto. - Tancredo e Maria Monforte fogem. - Pedro suicida-se. - Afonso parte com Carlos para a Quinta de Santa Olvia. Captulo III - Vilaa vai a Santa Olvia. - A educao de Carlos (Mr.Brown). - A educao de Eusebiozinho (a tradicional portuguesa). - Um sero em Santa Olvia. - Vilaa informa sobre paradeiro de Maria Monforte. - A confirmao da morte de Maria Eduarda (neta de Afonso). - Carlos vai entrar na faculdade. Captulo IV - Paos de Celas (a estadia de Carlos em Coimbra). - Joo da Ega (amigo de Carlos). - Amores de Carlos. - Carlos forma-se em medicina. - Carlos parte para uma viagem. - O regresso de Carlos. - A instalao no Ramalhete (1875). - Os projectos de Carlos (consultrio, laboratrio). - Ega vem para Lisboa.

Captulo V - O sero no Ramalhete. Primeira doena de Carlos. - Fala-se de Ega, de Steinbroken. Taveira fala nos Gouvarinhos. - Laboratrio de Carlos e carreira mdica. - Ega ama Raquel Cohen. - Ega visita Carlos no laboratrio (consultrio). - Ega insulta os jornalistas (imprensa). - Ega prope que o apresentem aos Gouvarinhos. - Carlos vai a S. Carlos. - Carlos conversa com Baptista (criado de quarto) sobre os Gouvarinhos e sobre as suas aventuras amorosas. - Em S. Carlos, Ega apresenta Carlos aos Gouvarinhos. Captulo VI - Carlos visita Ega na vila Balzac. - Carlos e Ega conversam sobre Gouvarinhos. - Carlos apresentado a Craft. - Convite de Ega para um jantar no Hotel Central. - Carlos v uma senhora extremamente bela. - Dmaso informa acerca da identidade da senhora Castro Gomes. - Ega apresenta Alencar a Carlos. - O jantar: literatura, poltica - Depois do jantar um final agitado (entre Ega e Alencar). - Discusso e reconciliao. - Carlos recorda o passado: recorda viso da bela senhora. Captulo VII - Craft ntimo do Ramalhete. - Dmaso ntimo do Ramalhete (persegue Carlos). - Ega informa Carlos sobre a paixo da Gouvarinho. - Carlos v novamente a senhora Castro Gomes. - A Gouvarinho vai ao consultrio de Carlos. - Dmaso frequenta Castro Gomes. -Ega publica um artigo insensato sobre Cohen. -Carlos pensa que os Castro Gomes foram a Sintra. Captulo VIII - Carlos procura ver madame Castro Gomes. - Carlos e Cruges partem para Sintra. - Encontram Eusebiozinho. - Vo a Seteais (Alencar recita). - Carlos pergunta pelos Castro Gomes: partiram na vspera - Jantam. - Regresso a Lisboa.

Dmaso est com eles.

Captulo IX - Convite dos Gouvarinhos a Carlos para jantar. - Dmaso pede a Carlos que venha ver uma doente (filha de Castro Gomes). - Dmaso confidencia a Carlos perspectivas de ficar s com Madame Castro Gomes(Castro Gomes partir para o Brasil). - Carlos prepara-se para o baile em casa dos Cohen. - Noite em casa de Craft (Ega, Carlos e Craft). - Dmaso informa Carlos presumvel doena de Castro Gomes. - Carlos cruza-se com Castro Gomes: pensa pedir a Dmaso que lho apresente. - Carlos vai ao ch a casa dos Gouvarinho. - Seduo de Carlos pela condessa de Gouvarinho. Captulo X - As aventuras de Carlos/ condessa de Gouvarinho. - Carlos e o marqus, descendo a rua de S. Roque, conversam. - Avistam Madame Castro Gomes (perturbao) sobre as corridas de cavalos. - Carlos congemina a ideia de Dmaso levar aos Olivais os Castro Gomes. - Carlos e Dmaso falam sobre as corridas. - Carlos fala a Dmaso no passeio aos Olivais. - Corridas. - Dmaso informa Carlos sobre a partida de Castro Gomes para o Brasil; Carlos permite a insistncia da Gouvarinho para ir visitar uma doente, decide-se a acompanh-la. - Carlos sai das corridas e vai rua de S. Francisco na tentativa de se avistar com Madame Castro Gomes. y rvore Genealgica.Carlos da Maia (realista)

Caetano da Maia (filiao desconhecida) -Miguelista

Afonso da Maia (Liberal) + Maria Eduarda Runa (descendente dos condes de Runa)

Pedro da Maia (romntico) + Maria Monforte (a negreira)

Maria Eduarda

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Pedro da Maia e Carlos da Maia. Vida de Calos da Maia (intriga principal; amores incestuosos) Vida dissoluta Encontra ocasional com Maia Eduarda Procura de M Eduarda Encontro atravs de Dmaso Oposio potencial de Afonso Amante Encontros e relaes Elemento desencadeador da tragdia Guimares Descoberta do incesto reaces de Carlos Encontro de Carlos com Afonso Afonso morte de

Vida de Pedro da Maia (intriga secundria; amores infelizes) Vida dissoluta Encontro ocasional com Maria Monforte Procura de M Monforte Encontro atravs de Alencar Oposio real de Afonso Negreira Encontros e casamento Elemento desencadeador do drama o napolitano Infidelidade de Maria Monforte reaces de Pedro Encontro de Pedro com Afonso e suicdio de Pedro

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Recursos Estilsticos.

A Analepse utilizada na obra de Ea de Queirs, Os Maias , serve para dar a conhecer a famlia Maia; para justificar a presena de Carlos em Lisboa; para explicar as razes de alguns acontecimentos. ~ Histria de Afonso Maia Tem dois objectivos: 1 Apresentar dois espaos histricos, sociais e culturais o espao miguelista, representado por Caetano da Maia e o espao liberal, representado por Afonso da Maia. 2 Mostrar Maria Eduarda Runa presa a um catolicismo retrgrado. y Resumo de Os Maias .

A aco de "Os Maias" passa-se em Lisboa, na segunda metade dos sc. XIX e conta a histria de trs geraes da famlia Maia. A aco inicia-se no Outono de 1875, altura em que Afonso da Maia, nobre e rico proprietrio, se instala no Ramalhete. O seu nico filho Pedro da Maia de carcter fraco, resultante de um educao extremamente religiosa e proteccionista, casa-se, contra a vontade do pai, com a negreira Maria Monforte, de quem tem dois filhos um menino (Carlos Monforte) e uma menina (Maria Eduarda). Mas a esposa acabaria por o abandonar, fugindo com um Napolitano (Tancredo), levando consigo a filha, de quem nunca mais se soube o paradeiro. O filho Carlos da Maia viria a ser entregue aos cuidados do av, aps o suicdio de Pedro da Maia. Carlos passa a infncia com o av, formando-se depois, em Medicina em Coimbra. Carlos regressa a Lisboa, ao Ramalhete, aps a formatura, onde se vai rodear de alguns amigos, como o Joo da Ega, Alencar, Damaso Salcede, Palma de Cavalo, Euzbiozinho, o maestro Cruges, entre outros. Seguindo os hbitos dos que o rodeavam, Carlos envolve-se com a Condessa de Gouvarinho, que depois ir abandonar. Um dia fica deslumbrado ao conhecer Maria Eduarda, que julgava ser mulher do brasileiro Castro Gomes. Carlos seguiu-a algum tempo sem xito, mas acaba por conseguir uma aproximao quando chamado para visitar Maria Eduarda, como mdico da governanta. Comeam ento os seus encontros com Maria Eduarda, visto que Castro Gomes estava ausente. Carlos chega mesmo a comprar uma casa onde instala a amante. Castro Gomes descobre o sucedido e procura Carlos, dizendo que Maria Eduarda no era sua mulher, mas sim sua amante e que, portanto, podia ficar com ela. Entretanto, chega de Paris um emigrante, que diz ter conhecido a me de Maria Eduarda e que a procura para lhe entregar um cofre desta que, segundo ela lhe disse, continha documentos que identificariam e garantiriam filha uma boa herana. Essa mulher era Maria Monforte a me de Maria Eduarda era, portanto, tambm a me de Carlos. Chega-se concluso de que os amantes eram irmos. Contudo, Carlos no aceita este facto e mantm abertamente, a relao incestuosa com a irm. Afonso da Maia, o velho av, ao receber a notcia morre desgosto. Ao tomar conhecimento, Maria Eduarda, agora rica, parte para o estrangeiro; e Carlos, para se distrair, vai correr o mundo. O romance termina com o regresso de Carlos a Lisboa, passados 10 anos, e o seu reencontro com Portugal e com Ega, que lhe diz: - "Falhamos a vida, menino!".