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universidade hoje
N a p resente ob 'á. d ir ig ida a todos o s es tudantes « em
situação cüíicil, conseqüência de discriminações remotas
ou recentes- , Umberto Eco e x p õ e c qu e s e e n t e n d e p o r
t ese . c o m e escolher o t ema e o r g a n i z a r o t empo d e
trabalho, c om o conduz i r u m a investigação bibliográfica,
como organ i zar o material seleccionado e, finalmente,
como dispor a r edacçãp do trabalho. E sugere q u e s e
aproveite - a oca s ião da t e s e para recuperar o sent ido
pos i t i vo e p r og r e s s i vo d o e s t u d o , e n t e n d i d o c om o
aquis ição d e uma capa c idade para ident i fi car o s pro
b lemas, encara- los c om método e expõ- fqs s e g u n d o
c e r t a s técn icas de comunicação*. U m l ivro s empr e
actual e ind isoensávet.
C O M O S E FAZ
U M A T E S EE M C I Ê N C I A S H U M A N A S
?3 EDITORIAL PRESENÇA
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E D I T O R I A L Uá P R E S E N Ç A
f i ali liti P^li—lfis, J • üi-Ju/ In
NO
BI
XA '
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OMO S E F A Z
U M A T E S EE M CIÊNCIAS H U M A N A S
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Umberto Eco
C O M O S E FAZ
U M A T E S EE M CIÊNCIAS H U M A N A S
Prefácio deHamilton Costa
T r a d u ç ã o d e A n a F a l c ã o B a s t o s e L u í s L e i t ã o
E D I T O R I A L T2 P R E S E N Ç A
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KIÇHA TfiCNICA
Título ortglml: Cnmn S i ha Una Te ti l)i iaureaAulor: Umhert t t flo0Copyright O 1977 hy C H Kditricc V slcniino Bompiani Aí ( ., MilioTradução O kditnnal Prewnça. 1997Tradução: Ana taltâo HatMí e IJI :< tetiãnCapa: Catar ina Stauetra tiatirasCompoúçio. impfcv«an c seibimento: Xlutoitipn - Ari (Irâficat. Ida.I. ediçio. liÉMB, Janeira 198(11? edição. I.Wlf, Janeiro. 19X23.' edição. Lisboa. Janeiro. 1984*.' edição. Lisboa. Janeiro. 19885. * ediçio. Lisboa. I-everciro, 19916. ediçio. Lisboa. Janeiro. 19957.4 ediçio. Lisboa. Janeiro, 19988.* ediçio. Lisboa. Abril, 20019.* ediçio. Lisboa. AM I, 20Q210. editai). Lisboa. Fevereiro. 2003II. ediçSu. Lisboa. Junho. 2IXM
12.' ediçio. Lisboa. Sclemhro. 200513. ediçio. Lisboa, Fevereiro. 2007Depú-iio lenal n." 253 273707
Reservados todos o\ direitospara a linpua ponupuexa ãE D I T O R I A L P R E S E N Ç A
Estrada da» Palmeiras. 59Ouclui dc Baixo2730 132 DARCARENAEioail: infoí prekenca.pl Internet hllp:A*v.w.prrkcnca.pl
Í N D I C E
PREFÁCIO À 2." KDICÂO P O R T U G U E S A 11
INTRODUÇÃO 23
I. Ú Q U B K UM A TESE H P A R A Q U E S E R V E 271.1. Por que se deve fa^cT uma tese c o que 6 271.2. A quem inicressa este livro 301.3- De que modo uma tese serve também para depois da licencia-
lura _ 31I. 4. Quatro regras óbvias 33
n . A E S C O L H A DO TOMA 35II. 1 Tese monogrillca ou (esc panorâmica? 35
11.2. Tese histórica ou lese leórica? 3911.3. Tennis amigos ou (emas contemporâneos? 4211.4. Qminto (empo c preciso para fazer unia tese? 43H.5. É necessário saber línguas estrangeiras? 47H.6. Tese «científica» ou tese política? 51H.7. Como evitar deixar-se explorar pelo orientador 66
UL A P R O C U R A DO M A T E R I A L _ 69
111.1. A acessibilidade da fontes „ _ 69III. 2. A inveslijjaçao bibliográfica • . 77
IV . O P L A N O D E T R A B A L H O E A ELABORAÇÃO DH F ICHAS 125IV . 1,0 índice como hipótese de trabalho 125IV.2.Fichas c apontamentos 132
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V . A RF.DACÇÃO 161V .I A quem D O S dirigimosV.2 . Como se fala 163V A A * citações 171V.4. A s notas de rodapé 182V.5 . Advertências, ratoeiras, costumes 194V. 6. O orgulho cicniífico 198
V I. A RF.DACÇÂO DF.F1NIT1VA 202VI. l .Cr i icr ios gráficos 202VI.2. A bibliografia final 222VI.3. Os Hpèndices 22 5V1.4.0 índice 22 7
VII. CONCLUSÕES 233
BIBL IOGRAFIA SELECTTVA 237
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Í N D I C E D E Q U A D R O S
Q U A D R O IResumo das regras para a citação bibliográfica 101
Q U A D R O 2Exemplo de ficha bibliográfica 103
Q U A D R O 3<>•-•.- gerais sobre o Barroco Italiano identificadas, atrases d<>exame de três elementos de consulta _ 111
Q U A D R O 4Obras particulares sobre tratadistas italianos do século xvu identificadas através do exame d c três elementos d e consulta 112
Q U A D R O 5Fichas de citação 138
Q U A D R O 6Ficha de ligação 140
Q U A D R O 7-14Fiehus d c leitura 144-156
Q U A D R O 1 5Exemplo de análise continuada d e um mesmo tèxtp 179
Q U A D R O 16Exemplo de unia página com o sistema citação-nota 1X7
Q U A D R O 17Exemplo dc bibliografia standard correspondente 188
Q U A D R O 1 8A mesma página do quadro 16 reformulada com o sistema autor-
-data _ 192Q U A D R O 1 9
Exemplo dc bibliografia correspondente com o sistema autor
-daia - 193
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Q U A D R O 20Corrta iransiiterar alfabetos não latinos 2 1 2
Q U A D R O 21Abreviaturas mais usuais para utilizar eni notn ou n o texto 216
Q U A D R O 22Modelos de índice 22 9
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P R E F Á C I O À 2 . A E D I Ç Ã O P O R T U G U E S A
A publ icação em por tuguês deste liv ro de U mber to Eco permite ve r o con junto d e p roblemas que a metodolog ia da investi gação actua l levanta e faz compreender a impor tância das suastendências no avanço d a c iênc ia e na conservação do saber .Encarada à luz das suas mutações teór icas, ou estudada n a suacomplexa estrutura ção, ou, finalmente, na sistema tização dos seusmodos de opera r , essa reflexão é um contr ibuto importante parareformular muitas at i tudes acomodadas d o fazer a ciência, que secomprazem na eternização d o já feito-
A cr iação científica é um a act iv idad e e uma insti tu ição. Com oacliv idade, designa o processo de investigação que leva a investigador a produzir a obra cientifica. Com o instituição, ê um a estrutura constituída por I res elementos: o sujeito, o ohjec. l i> e o me io .Ao longo dos tempos, estes aspectos foram evolu indo, designandoct assoc iação ou a d issoc iação quer dos mesm os, quer de algumasd as suas par tes , d iversos movime ntos da investigação científica.
Caso no s a tenhamos e xclusivamente à evolução que s e p rocessou
na s ciências humanas, e a resir ingirmo-nos ao nosso sécu lo, pode m os distinguir t rês mov imentos impor tantes : um que se polarizouem torno do su je i to da invest igação, ou tro que gira em torno doobjecto invest igado e finalme nte um te rce iro que p re tende mante rum jus to equil íbr io no processo d a cr iação científica e ntre o sujeitoe o seu objecto . Tod os e les revelam p reocupações teór icas di fe ren tes, mas convergem na inqu ie tação comum de tornar possíve l a c iên cia a t ravés da e laboração e aper fe içoamento dos métodos .
Existem, com efeito, três movime ntos distintos na evolução dametodologia da invest igação. O pr ime i ro , que tem como teor izado-
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res Sertil langes, Ghe llinck e Guitton'. so hreva loriza o papel doSujei to "a estrutura da criação científica em detr imento da meto
dologia da investigação. A questão fundamental torna-se. assim,'ü da existência* de um c l ima espir i tual que preexisle e determinaa criação " que o sujei to d eve aspirar. Daí que o decisivo seja estaaspiração manifestada sob a forma de vocação intelectual, uma vezque i dela e do esforço que ela pode virtualmente despender na con
quista de um campo de trabalho, onde a cul tura geral fecunda aespecial idade, na construção du m tempo inter ior ao abrigo dosassaltos da s preocupações d ispersivas, de que depende a revelaçãodo talento e dô gênio, nos momentos dc plenitude duma vida consagrada ao trabalho científico. O talento do investigador e o seu naturalintuicionismo fazem relegar os métodos de trabalho para um planomenor, secundário e reduzido, pois, para além das superiores capac idades intelectuais, ele pode d ispor de vários meios práticos {desdeos seminários práticos até ao convívio esmerada mente seleccionado) ,que ensinam a trabalhar ensinando como se fazem as coisas.
Neste contexto, a obra surgia, como a obra-prima medieval nasu a perfeição magistral , a coroar um longo percurso, no qual estavam envolvidas m uitas horas de trabalho de investigação essencial,que só uma instituição d e tipo t radic ional poderia patroc inar, umavez que ela ex ige agentes humanos al tamente qual i ficados e condi ções object ivas de estudo extremamente complexif icadas.
Por ser o sujei to da investigação indispensável pu ra o desen volvimento da ciência, não é meno r a importância do seu ohjecto,
O conhec imento das condições da sua existência e dos modos dasu a abordagem tanto asseguram boa parte da sua acessibi lidade,como determinam as regras da sua reconstntçáo teórica.
Ora já nos ambientes científicos atrás descri tos a obra d eGhel l inck chamara a atenção pa ra a importância dec isiva da ela
boração de certos t rabalhos práticos (recensões críticas) qu e fornecessem ao estudante um conjunto de regras práticas de trabalho,anunciando desta forma o f im dum impressionismo responsável portantas verdades apressadas e pouco amadurec idas. Mas foram, semdúvida, a s D i r ec t i v e s p p u r Ia confect ion d ' u n c n i o no g rap h i e s c i en -
' Antonino Dalmácio Serüllangcs. A vida intelectual . F.tptrtro. condições, mttv-dnt. C oimbra. Armênio Amado VA . Soe.. 1957: J . dc Gh ellinck. ts s exercices prat ique* d u - Mmiitairc- cn théologie, 4 .*cd., Paris. Deselcc du Broimcr et Cie.. 1948e Jcun Guiiton, Le truvail intellemtel conseili à céus t/ui êiudient s r à ecux quiccriveni. Paris. cd. Montaígne. 1951.
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l i f i quc de Fernand Van Steenherghen 2 que inauguraram o segundomovimento da metodologia da investigação soh o signo do objecto.
Co m efeito, a obra de Van Steenberghen centra-se exc lusivamente no estudo analítico e sistemático d a composição duma mono
grafia cientifica no âmbito da f i losof ia med ieval . D est inando-se asenir de iniciação ã investigação de um objecto del imitado, descreve os passos essenciais que permitem, no contexto d a investigação,
descobrir a verdade e enuncia as regras fundamentais que ajudam,no contexto da exposição, a transmiti r as descobertas.
A metodologia da investigação de Van Steenberghen contrapõe-
se por dois modos à concepção anterior. Em primeiro lugar, pelaimportância que confere ao objecto da pesquisa nu m duplo sent ido,o da sua dependência duma esfe ra científica part icular e o da indis-
pensabi l idade de métodos pa ra o ap reender e expor teoricamente.Em segundo lugar, pela concepção de investigador que comporta,pois trata-se de um espec ial ista em formação que deve apetrechar--se com uma ferramenta intelectual — os modos de operar — pararesolver problemas inscri tos num território concretamente def in idoa desbravar planif icada e metodicamente.
Ê d a redução e unilateralização desta fase metodológica quevivem os S t y l e M a n u a i s a n d C u i d e americanos' . Preocupados emresolver os vários t ipos de trabalho científico e encarando-os dc umaforma mera mente atomista, os autores americanos deram-lhesu ma solução quase receituário de todos os elementos que entramna composição duma monograf ia determinada. Entra-se. assim, numperíodo em que se perde de vista a metodologia ge ra r* para mer
gulhar nu m atomismo de metodologia espec ial izada. Todavia, algumasdestas obras t iveram o mérito de. pela sua profunda espec ial ização, resolver e uniformizar alguns pwblemas intr incados referentes à bibliografia, ã tipologia da fichagem o u ao estilo gráfico,
dando forma de dicionário às fórmulas encontradas.
Se é verdade que da delimitação da metodologia à iniciação
científica decorreram aspectos importantes e até dec isivos para o
: 3.« ed.. [jwsuin/Paris. cd. Bcatricc Naw clacn. 1901.' Willíam Gües Canvphcll. Stcphcn Vaughan Bailou. Form and Stvte. Theses .
Repor .*. Te m paper* . 5." cd„ Boston. Houghton Mitll in Company. 1979.* Wo.nl Gray e t ai . Hinor ian 's Handbook : A Key to thc S ludy a nd Writ ing o f
Hisiory. Boston, Noughinn M ifflin Company. 1964 c Dcmar Irvins. Writ inx abimimus ic : A m te btmk for Reportt and Theses . Sca nk. Lnivcrsiry of Wa shington Pfe*s.1968.
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progresso da c iência , dos seus excessos sa í ram algumas desvantagens que se c i rcunscrevem no empobrec imento da teor ização gera le espec ia l . Não há metodolog ia dc invest igação como f im em s i .divorciada da metodolog ia espec ia l e ge ra l .
E com isto passamos naturalmente ao te rce iro mov imento dametodologia da investigação, que visa equilibrar os e lementos sub-jectivos e objeci ivos no processo da cr iação e da investigação cientificas. Autores como Ast i Vera , Armando Zubizarre ia e ÂngeloDomingos Salvador* v isam na s suas propostas teór icas reavaliar aestrutura e o processo d a cr iação científica insialando-a no coraçãoda cr iação cultura l, a fim d e, harmonizando a teor ia com a p rática, o estudo com a investigação, cr iarem os pressupostos do t ra balho científico numa concepção nova da formação universitár iaque deve processar-se como um todo contínuo e progressivo, pois"a estudar , a escrever ou a investigar só se ap rende no exercíciodessas ta re fas»6.
Entre as séries de Textos em que se revelaram os três movime ntosda metodolog ia da invest igação, t omadas globalmente, há não sóevolução, como mudança de te r r eno e preocupações novas. Twuxenwspara p r ime i ro p lano os aspectos d e mudança que const i tuem as l inhasd e força das actuais tendências. Todavia, agora , impor ta de te rmo--tios ma is a ten tamente no úl timo desses mov imentos, para lhe de te r minarmos a estrutura comum e as cor ren tes particulares.
Pode af i rmar-se que a estrutura comum da actua l metodolog iada investigação assenta em do is p r incíp ios gera is : o da un idadeindissoc iáve l da metodolog ia da invest igação com a metodolog iagera l e o da globalidad e do p rocesso d e formação cientifica. Ambosos pr incípios assentam na revisão d os fundam entos da cr iação cientifica s egun do tuna óptica totalizante.
O princípio da un idade da metodolog ia da invest igação com a
metodologia ge ra l af i rma a dependência tan to no ponto d e part idacomo no ponto de chegada da investigação em relação à ciência,enquanto instância teór ica, núcleo essencial qu e determina a con veniência dos actos daque la (descr ição, classificação, etc. ) às le is
* Asti Vera. Metodologia d e Io investigacióii, Madrid. cd. CinccL 1972: ArmandoF. Zuh i/arrcta G. . l-a aventura de i t rabaio intelectual tcomo esrudiar y como invés-tigarj , Bogotá, Fondo Educativo Imcramcricano. 1969 c Ângelo Domingos Salvador.Métodos e técnicas ãe. pesquisa bibliográfica. Elsboração e relatório d e estudoscientíficos, 2.' ed.. Parlo Alegre, Liv. Sulina Ed., 1971.
''Armando F. Zu lii/arreta G .. op. cit., p. V7I.
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do pensamento . Exprime a constante p reocupação d e definir a val idade dos métodos de invest igação, em re lação aos pressupostoscientíficos espec iais e ge ra is .
O pr incípio da globalidade do p rocesso da formação científicaconfirma a cont inuidade en tre o método de ens ino e o método dainvestigação, postulando uma formação acadêmica faseada lógico--cronologlcamente, d e forma a p romover no estudante a s indispensáveis competências investigativas.
Sobre este segundo pr incípio, assumido na su a forma concretad e r e lação da formação gera l com a espec ia l ização, no se io datotalidade do ens ino super ior , se d ividem as op in iões, pode ndo dis tinguir-se duas posições particulares que se opõem, Para ArmandoZubizarreta, deve se r privilegiada a formação geral, que abrange
a s formas t radicionais de estudo ( exame, apontamentos ) , bemcomo a s formas actuais ma is diversificadas ( r esumo de l ivros, r ese nh a cr ít ica, com unicad o científico, resu mo de assuntos, ensa io ) queimplicam um t rabalho pessoa l , mas sob a ópt ica recapitulativa,deixando para segundo plano a espec ia l ização, Este t ipo de p r io r idade assenta na concepção d e formação universitár ia progressiva, em que s en do a me ta f inal o t rabalho monográfico, não de ixad e o mediat izar por metas med ia i as . estando e le p resente em form a s menos complexas desde o início até ao fim d a formação. ÂngeloDomingos Salvador, pelo contrár io, privilegia a especia l izaçãoreduzindo toda s as formas mediat izadas d o t rabalho científico, atrásenunc iadas , à dúpf ice ca tegoria de estudos recapitulativos e estu d os originais, acumulando-as no f inal d a formação gera l e no decursoda especial ização.
Em r esumo, ã evolução da metodolog ia da invest igação impôsa un idade da formação gera l com a e spec ia l ização, a s ín tese dosaber estudar com o saber investigar, admit indo fó rmulas de do-
seamento vár io. Forjou, assim, um melo — o ens ino un ive rs i tár io —apto a fazer p rogredi r a c iênc ia se m atra içoar a conservação e atransmissão do saber .
Cr iada esta base indispensáve l para o r egu la r desenvolv imentoda ciência, vejamos então como s e organiza a actua l metodologia dainvestigação.
A metodolog ia da invest igação estrutura-se em do is momentosdiferenc iados e interdependentes. O p r ime i ro é o da descoberta d averdade , qu e agrupa todos os actos intelectuais indispe nsáveis àformulação e r eso lução do p roblema estudado, enquanto o segundo
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di z r espe i to à t ransmissão da ve rdade de scober ta , com todos osproblemas que o s istema d a composição levanta. Ambos os montemosimplicam não só operações cognitivas especificas, como designamu ma ordem cronológ ica de abordagens que lhes garante a validadecientífica.
Dois são os contex tos em que se desdobra o p r ime i ro momento dainvestigação — o contexto da descoberta e o contexto d a justif icação.
O contexto da descoberta é o caminho que s e . inicia com a formulação do p roblema e se encer ra com a invest igação d as so lu ções. Abre-se, assim, com a a r te de pôr p roblemas, que r equer umlongo convívio com os objectos e camp os teór icos da s disciplinasqu e professamos, pois e la é a intuição acl imatada no terr itór io dosmodos de ve r o semelhante nas di fe renças. Desenvolve-se depo is
a través das vár ias operações que se r eúnem sob a d es ignação dainvestigação da s soluções e que agrupam a leitura e a técnicad e registo, A le i tura, qu e durante mu i to tempo havia passado de s percebida, tornou-se. com a s investigações recentes, o lugar pr ivilegiado da invest igação das so luções, E ev idente que se e la seencontra na base da apree nsão do mater ial bibl iográfico, exige, emconseqüência, uma competência diversificada e apro fundada, e con diciona todas as operações intelectuais u l te r iores . Sem uma leituraadequada e r igorosa, não se encontram reunidos os pressupostos d oregisto, qu e caminha para uma c la r if icação e padron ização indispensáve is à formação de um clima d e objectividade e ser iedadeintelectual num pa ís de reduzida tra dição científica. E, fina/men te,realiza-se como um programa que tem como l imite a perícia d e formular p roblemas e a competênc ia de acumular soluções, resul tadod e adequado e progressivo adest ramento, ao nível dos estudos r eca -pitulativos, que foi a través de estratégias calculadas c judicio-samente d is t r ibu ídas sobre o tempo da formação gera l , reduzindoos factores da incerteza qu e pai ravam sobre a compreensão dosproblemas, asfonnas de le r e as técn icas de r eg ista r .
Recolhidos os dados, importa aprec iar a sua validad e. E com istoen t ramos no contexto da justif icação, que de fine dois tipos de tarefa s opostas . Há que ev i ta r as fa lácias que se fazem passar porexp l icações — e is em que consiste a pe rsegu ição ao e r ro . E temosd e a p u r a r , classificar, justificar e p rovar os dados, o s factos, asaf i rmações de ta l modo que os que forem re t idos sejam aque lesqu e at ravessaram posit ivamente estes fi l tros lógico-racionais. Toda sestas capac idades intelectuais ex igem uma longa maturação e uma
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formação lógica e fi losófica profunda para pe rmit i r ao estudantedistinguir na tessitura d o d iscurso da a rgumentação onde o n íve ld o d iscurso polemico acaba para d a r lugar ao n íve l do d iscursológ ico-cien tífico,
A expressão, segundo mome nto da metodolog ia da investigação,é o esforço de s íntese d ia léctica da idé ia com os m e ios da rep re sentação. Foi Othon Moacyr Garcia quem insistiu nesta caracter ística específica da transmissão da ve rdade , chamando a a tençãopara ofacto de o acto de escrever não poder realizar-se se m o concurso do acto de pensar .
Essa in te rdependência obr iga a percor re r um longo caminhoque . iniciado por um tex to-base , aper fe içoado a través d as revisões,termina num tex to definitivo onde a adequa ção en tre o comet ido
e a forma se encontram pe lo menos ao n íve l sa t is fa tó r io. E uma eoutro designam um campo teór ico de abordagens sobre os ingredientes fundamentais da expos ição,
Na verdade , o p roblema essencial d a reda cção científica consiste em adequar ao quadro, que resulta da un i ficação teór ica dadescoberta d a ve rdade , uma expressão lingüíst ica coe ren te quepermita transmitir a ve rdade d e u ma forma intel igível . Importa pri
mei ramente r eso lve r , no p lano do pensamento, o p roblema da m ul tiplicidade dos factos através duma rigorosa unificação do conteúdo,d e t a l forma que as genera l izações científicas subsumam os dadosconcretos. Depois de cr iada a estrutura de conteúdo, u rge encontrar a forma coe ren te e adequada en tre os vár ios me ios de expressãopela de te rminação d o âmbito .semânt ico da palavra e pela r espectiva subordinação ã monossemia.
Na encruzi lhada d o encontra d a palavra com a idéia su rge e c imenta-se a unidad e expressiva d a l inguagem cientifica. Un idade queregula a função d o se u uso, determina a s suas caracter ísticas gerais,estabelece a condição indispensável do seu exercício. A l inguagemcientífica é informativa, pois o se u u so destina-a a transmitir a ver
d a d e . Por força desse uso e la deve tornar-se objectivada. precisa edesambigutzada: p re fe r indo o sent ido denota t ivo. deve de te rmi ná- lo no âmbito da ex tensão e da compreensão. A clareza é acondição da sua ex istênc ia , po is pe rmite t raduzir a complexidaded as relações causais nos seus d iversos níveis. A l inguagem científica, em suma. tendo por objecto a ve rdade intel igível, deve criaros mecanismos e dispositivos lingísticos capazes d e transmitircom a máx ima inteligibilidade.
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Para realizar os objeci ivos a lrãs de scr itos, a redacção cientí
fica possu i um s istema d e composição que abrange t rês campos dis tintos e d e progressiva complexificação: o da constelação d as idéias,o da estrutura ção das seqüências e o do esti lo científico.
O campo da conste lação d as idé ias de f ine as operações tendentesà dete rminação do sent ido d a s palavras em s i e no contex to em quesã o usadas e à inserção da palavra em un idades l ingüísticas ma isvastas. Imp l ica o desenvolv imento da capac idade ana lítica atravésda escolha d a palavra apropr iada para o conceito objectivo, obri
gando a uma constante depuração das palavras p roven ien tes dehorizontes vocabulares d i fe ren tes (desde o léxico comum até aoléxico científico espec ial izado) af im d e a decantar da ambigüidadeem que um uso imprópr io a envolveu . A lém d isso, o p rocesso dainserção da palavra em un idades como a f rase ou o parágra fo ex ige
operações analíticas e sintéticas bastante desenvolv idas pa ra . s emcomprometer o seu sent ido denota tivo inicialmente isolado forado contexto, a tornar u m veículo a pto à express ão da s clivagens d opensamento quer nas suas idé ias essenciais, pr incipais e secundár ias, quer nas re lações d e sucessão, paralel ismo e oposição aden t ro do de senvolvimento de cada parágrafo.
Interessa realçar, part icularmente, a impor tância do parágra focomo unidade significativa d e expressão e lançar a s l inhas ge ra is dasu a de f in ição. De acordo com Othon Moacvr Garcia, «o parágrafoê uma un idade de composição consti tu ída por um ou ma is d e u mper íodo, e m que se de senvolve ou se explana determinada idé ia cen tral, a que gera lmente se ag regam out ras, secundárias mas int imamentere lacionadas pe lo sen t ido»7. Torna-se. po is . a forma de expressão deu m a capacidade excepc iona l para tingir u m a idé ia ou um rac iocín ioa u m a un idade facilmente a/uilisável. A su a composição ad mite , v iad e regra, três partes: um tópico f rasal , em que se expressa a idé iagera l ; um dese nvolv imento no qua l se desdobram e especificam a s
tdeias enunc iadas : è um a conclusão em que se reaf i rma o sent ido geral .
Por sua vez , o campo da estru tu ração da s seqüências comportoa s normas gera is que permitem tanto ordenar as idé ias longi tudi nalmente num esquema quer ge ra l , quer part icular (o capítulo),seguindo o dispositivo or ien tador dos lugares estratégicos do texto{introdução, de senvolvimento e conclusão), como regular as rela-
' Olhou Moacyr Garcia. Comu n icação em p rosa moderna . Aprender a esc rever ,aprendendo a pensar , 2.' cd.. Ri o de Janeiro. Fundação Geuílio Vargas. 1962. p. 185.
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ções en tre as idé ias ve r t ica lmente , d e maneira a tornar no espaçodiscursivo r econhecíve is os conteúdos semânt icos e o seu tipo derelac ionismo. For um lado, o desdobrar das idé ias no desenvolv i mento obedece a r eg ras associativas, opositivas ou silogtsticas.conforme as opções consent idas pelo plano esco lh ido e pe lo assuntoa expor , de te rm inando, em conseqüência , a estra tég ia da escrita aseguir na estrutura part icular que é o cap ítu lo , devendo em ambosos casos p rocura r incansavelmente a diversidade d e fó rmulas . Poroutro lado, o d iscurso científico exige, para assegurar a sua clarezaespecífica, que a s r ed es noc ionais em que e le se constd/stancia a ssentem em re lações causais, c laramente presas a idé ias e factos, d eforma a reduzir ao mín imo o ca racte r paradoxal de que se r evestea transmiss ão do conhecime nto científico, devid o à infi ltração insi-diosa do sent ido conota t ivo nos seus enunciados.
O esti lo científico ocupa f inalmente as exper iênc ias da expressiv idade em ordem a confe r i r -lhe um cunho espec ia l. O campo defundo em que se de ve mover é o cognoscitívo. pois em nenhuma da ssuas combinações da s formas particulares da expressão pode com-prometer o objectivo essencial d a l inguagem científica. Há assimum esti lo acadêm ico, um esti lo fi losófico, que não pode rá infringiras fronteiras que a t radição d a s ciências e o bom senso de te rminam.
E com isto passamos a os dispositivos semióticos que permitem ,por uma acertada dosagem, r e forçar a e f icác ia da comun icação,científica. Entre os inúmeros códigos a que se pode recorrer, nasdiversificadas r ea l izações do d iscurso científico (de sde o d iscursoheurístico até ao d iscurso da vulgar ização), há dois tipos de códigos a nor tea r a s possibilidades de opções: o lingüístico e o icõnico.Neste inc luem-se todos os esquema s e i lustrações que , r e forçandoa clareza dos tex tos, comprometem por vezes o sen t ido d e r igor. D emais vasta uti l ização são os códigos l ingüísticos que pe rmitemexpressar, nas formas de análise, síntese, citações, notas de rodapé,
e tc . , todas as idé ias que uma comun icação c ien tí fica compona .
Ora todas as operações intelectuais qu e ac ima desc revemos r ep re sentam o l imite da formação universitár ia. Para atingir o g rau decompetência que elas pressupõem, adentro da concepção a ctua l dametodologia d a investigação, afonna ção ge ra universitár ia devei iaserfaseada de ta l modo que a p rática da escrita nela se inscrevesseem todas a s suas fo rmas (análise, resumo , síntese, comentár io, dissertação, etc. ) para apetrechar o estudante com as técn icas deexpressão escri ta mais importantes.
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O discurso científico, por isso, exprime a luta pela expressãocoerente e adequada da verdade inteligível, tendência virtual doencontro da palavra com a idéia, na encruzi lhada do rigor.
Aclaradas as l inhas de força d a actual metodologia da invest i gação pela convergência d a dúplice óptica evolutiva e sistemáticaem que foram esquema ticamente tratadas, importa indagar qual éo lugar que a presente obra de Umbe no Eco vem ocupar.
Embora elaborada num contexto muito concreto e visando darresposta à necessidade deformação de professores na Itália do pós--guerra. essa obra teve o mérito de se tomar o manua l dos modosde opera r da investigação, sisietnal izando-os e c lar i ficando-os nassuas formas fundamentais.
Essa inovação poderá vet if icar-se em espec ial no que toca à téc
nica de registo e, em menor grau, ao levantamento bibliográfico,pelo que nos l imitaremos a comentar a lgumas d as suas caracterís
t icas que se dest inam a orientar os le i tores da obra,
Na abordagem do levantamento bibliográfico usa -se a estraté
gia de expor primeiro teoricamente o assunto, para de pois o e x em pl i ficar prat icamente, a f im d e ensinar aos estudantes coitu) se usam,com eficácia, os documentos impressos. Numa primeira parte (pp. 69--100) esc larecem-se as noçõesfitndamentais d a biblioteconomia (como
se organiza e funciona a biblioteca) e da bibl iograf ia (a descriçãoe classificação dos livros e dos impressos) , para , em seguida, ensina r como se elabora uma bibliograf ia, ut i l izando num tempo mínimoesse me i o e esses documentos; enquanto na segunda parte (pp. 100--124). se retoma o problema concreto da elaboração de uma bibliografia sobre o «conceito de metáfora n a tratadística banxica italiana»na biblioteca de Alexandria para mostrar todos os passos concretos a dar quando se tem de elaborar um trabalho deste gênero.
O encadeamento lógico da s tarefas, a exemplaridad e dos processos, a racionalização dos tempos tomam, de fado, o levantamento
bibliográfico, descri to pe lo autor , u ma prática invest igat iva a seguirpor todos os que aspiram a reunir com segurança e objectividade(atente-se no papel do controlo cruzado da bibliograf ia) , os mater iais para resolverem os problemas que se propõem estudar.
Quanto à técnica de registo, a obra em apreço não só realça anecessidade de d isc iplinar o trabalho da investigação como também propõe uma t ipologia de fíchagem operatôria e eficaz. Disciplinaque se material iza na unificação do processo geral da confecçãodas f ichas, que exige u m adestramento na recolha das idéias, pe lo
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desenvolvimento da análise, do resumo e da síntese, mas que secompleta pela diversificação dos t ipos de f ichas (f ichas de le i tura,fichas temáticas, f ichas de au tor , f ichas de citação, f ichas de trabalho) , que permitem c ingir de mais perto a plurid imensional idadeem que se expressa a documentação. E embora todos estes recur
so s técnicos venham exempl i ficados, privi legia-se um deles, a fichade lei tura que pretende ser uma espécie de registo global , no qualse fundem as técnicas analíticas americanas —ficha bibliográfica,
f icha de resumo e f icha de citação —, com as técnicas européiast radicionais, em part icular — o apontamento. Essa técnica ter iauma dupla f inal idade de controlar as microiei luras através da suainserção na macrolei tura, func ionando, assim, como critério d e veri
ficação dos dados recolhidos quanto aos contextos d e que foramisolados, mas não privados. Ad verte, desta maneira, o autor para
os perigos da mitologia da f icha, chamando a atenção, sobretudoao nível d a justificação e d a expressão, para os l imites do seu usoe as miragens a que pode dar or igem.
Part indo das preocupações da actual metodologia da invest igação, as soluções posit ivas de Eco, a o nível do registo, prolongam aeficácia da s a té então usada s e superam -nas na operatoriedade, poisembora elas tenham , há muito, entrevisto aquelas formas concretas,jamais lhe deram corpo real com tanta luc idez e igual rac ional idade.
Sendo assim, podemos concluir que a actual metodologia dainvestigação, consagrando a unidad e do saber investigar com osaber estudar, promove a uniformização d a s técnicas de trabalhode molde a des imped i r o caminho da criação científica da pesadaherança que o intuic ionismo e a improvisação impuseram à práticacientífica portuguesa. Mas para que esses caminhos fruti f iquem, éimperioso reformular as condições ohject ivas e os meios inst i tuc ionais que enquadra m a produção científica, sem o que prolongaremos a u top ia da renovação da vida num "reino cadaveroso».
A presente edição foi atentamente revista sobretudo no que r espeita ao vocabulário técnico da espec ial idade e à disposição dasvozes (primeira pessoa do singular e primeira e segunda pessoa sdo plural ) no inter ior d o texto, a f im de lhe conferi r o indispensável r igor e resti tuir a caracteriz.ação sintáclica original.
Além d isso, juntou-se-lhe uma bibliograf ia select iva que visaprolongar a ut i l idade e eficácia d o próprio texto.
Hami l ton Cos t a
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I N T R O D U Ç Ã O
L Houve tempo cm que a universidade era uma universidade deesco i A ela só t inham acesso os f i lhos dos d iplomados. Salvo rarasexcepçòes, quem estudava t inha todo o tempo à sua disposição- A uni-versidaile era concebida para ser reqüentada ranqüilamente, reservando um certo tempo para o estudo e ou tro pa ra os «sãos» divertimentosgol iardescos ou para act ividade em organismos representat ivos.
As lições e ram conferências prest igiosas; depois, os estudantesmais interessados ret i ravam-se com os professores e assistentes emlongos seminários de dez ou quinze pessoas no máximo.
Ainda hoje, em muitas universidades americanas, um curso nuncaultrapassa os dez ou vinte estudantes (que pagam bem caro e têmo direi to de «usar» o professor tanto quanto quiserem para d iscut ircom ele}. Numa universidade como Oxfo rd , há um professor or ientador , que se ocupa da tese de investigação de um grupo reduzidíssimo de estudantes (pode suceder que tenha a seu cargo apenasum ou dois por ano) e acompanha diariamente o seu trabalho.
Se a situação actual em Itália fosse semelhante, não haveria
necessidade de escrever este l ivro — ainda que alguns conselhosnele expressos pudessem senir também ao estudante «ideal» atrássugerido.
Mas a universidade italiana é hoje um a u n i v e r s i d ad e d e massas. A ela chegam estudantes de todas as classes, provenientes detodos os t ipos de escola secundária, podendo mesm o inscrever-seem f i losof ia ou em l iteraturas clássicas vindos de um institutotécnico onde nunca t iveram grego nem lat im. E se é verdade queo latim de pouco scn>e para muitos t ipos de actividade, é de grandeut i l idade para quem f izer f i losof ia ou fei ras.
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Certos cursos têm milhares de inscri tos. Destes, o professorconhece, melhor ou pior, uma t r intena que acompanha as au las commaior freqüência e, com a ajuda dos seus colaboradores (bolseiros,contratados, agregados ao professorad o) , consegue fazer trabalharcom uma certa assiduidade uma centena. Entre estes, há muitos quecresceram numa família abastada e cul ta, em contado com umambiente cul tural vivo. que podem permit i r-se viagens de estudo,vão a os fest ivais artísticos e teatrais e visi tam países estrangeiros.Depois há os outros. Estudantes que provavelmente trabalham epassam lodo o d ia no registo c ivi l de uma pequena c idade de dezmil habitantes onde só existem papelarias . Estudantes que, d esi lud idos da un ivers idade , escolheram a ac tiv idade política e pretend em outro tipo d e formação, mas que , ma is ta rde ou ma is cedo.terão de submeter -se à obrigação da tese. Estudantes muito pobres
que. tendo de escolher um exame, calculam o preço d os vários textos obrigatórios e d izem que " este é um exame de doze m i l Uras»,
optando entre dois opc ionais p or aque le que custa menos. Estudantesque por vezes vêm à aula e têm dificuldade em encontrar um lugarnuma sala apinha da: e no f im queriam falar com o professor, mashá uma fila de tr inta pessoas e têm de ir apanh ar o comboio, poisnão podem f icar num hotel. Estudantes a quem nunca ninguém d i ssecomo procurar um l ivro na bibl ioteca e em que bibl ioteca: freqüen
temente nem sequer sabem que poderiam encontrar esses l ivros nabiblioteca da c idad e onde vivem ou ignoram como se a r rcmja umcartão pa ra empréstimo.
Os conselhos deste l ivro seivem part icularmente para e stes. Sãotambém úteis pa ra o estudante da escola secundária que se p reparapara a un ivers idade e quer compreender como func iona a alquimiada tese.
A todos eles a obra pretende su geri r pelo me nos duas coisas:
— Pode fazer-se uma tese d i g n a mesmo que se este ja numa s i tua ção difícil, conseqüência d e discriminações remotas ou recentes;
— Pode aprove i ta r -se a ocasião da t ese (mesmo se o resto do cur
so universitário foi de cepcionante ou frustrante) para recuperar o sent ido positivo e progressivo do estudo, não entendidocomo reco lha de noções, m a s como elaboração crítica d e u m aexperiência, como aquisição d e u m a competência (boa pa raa vida futura) para ident i f icar os problema s, encará-los commétodo e expô-los segundo certas técnicas d e comunicação.
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2 . Dito isto, esc larece-se qu e a obra não pretende e xpl icar «comose faz investigação científica» nem const i tui um a discussão teó-
r ico-cr i tica sobre o valor do estudo. Trata-se apenas de uma séried e considerações sobre como conseguir aprese ntar a um júri u m
objecto físico, prescri to pela le i , e composto de um certo númerod e páginas dad i lografadas, que se supõe ter qualquer relação com
a disciplina da l icenc iatura e que não mergulhe o or ientador num
estado de d ol orosa estupefacção.
É c laro que o l ivro não poderá d izer-vos o que devem escrever
na tese. Isso ê tarefa vossa. Ele dir-vos-á: (1) o que se entende por
tese: (2) como escolher o lema e organizar o tempo de trabalho;
(3 ) como conduzir uma investigação bibliográfica; (4) como orga
nizar o material selecc ionado: (5) como d ispor fisicamente a redac-
ção do trabalho, hí a parte mais prec isa é justamente a última, quepode parecer a menos importante, porque é a única pa ra a qua l
existem regras bastante prec isas.
J . 0 t ipo de t ese a que se faz referência neste l ivro é o que seefectua nas faculdad es de estudos hutnanísticos. Dado que a m inhaexperiência se relaciona com as faculdades de letras e f i losof ia,é natu ra l que a ma ior par t e dos exemplos se re fi ra a l emas que seestudam naquelas faculdades. Todavia, dentro dos l imites que estelivro se propõe, os critérios que aconselho a daptam -se igualme nteàs teses normais de ciências polít icas, magistério (*) e j u r i s p r u
dência. Sé se tratar de teses históricas ou de teoria geral , e nãoexperimentais e apl icadas, o mode lo deverá serxir igualmente paraarquitec iura, economia, comércio e para a lgumas faculdades c ientíficas. Mas nestes casos é necessário alguma prudência.
4. Quand o este livro for a imprimir, estará e m discussão a re fonna
universitária (**) , E fala-se de dois ou três níveis d e graduaçãouniversitária, Podem os perguntar-nos se esta reforma alterará rad i
calmente o próprio conceito de tese.
Ora. se t ivermos vários níveis d e título universitário e se o mode lo
for o ut i lizado na maioria dos países estrangeiros, verificar-se-á
(*) Existe em Itália a Faculdade do Magistério qu e confere um titulo universitário em letras, pedagogia ou línguas estrangeiras para o ensino nas es colasmédias. f iVD
(••) Bem entendido, o autor refere-.se ã edição italiana. fATI
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um a situação semelhante á descrita no primeiro capitulo (LI). Isto
é, te remos teses de licenciatura ( ou de primeiro nível ) e teses dedouto ramento ( ou de segundo nível).
Os conselhos qu e damos neste livro dizem r espe i to a ambas e ,no caso d e existirem d i fe renças en tre uma e out ra, e las se rão clarif icadas.
Deste modo , pensamos que tudo o que se d iz nas pág inas que seseguem s e aplica igualmen te no âmbito da re forma e , sobretudo, noâmbito de uma longa transição para a concre t ização de uma even tua l r e forma.
5. Cesare Segre leu o tex to dactüogra fado e deu -me algumassugestões. Dado que tome i muitas em cons ide ração, mas, relativa
mente a ou t ras, obstinei-me na s minhas po sições, ele não é responsável pelo produto final. Evidentemente, agradeço- lhe de todoo coração.
6. U ma úl t ima adver tência . O discurso que se segue diz obviament e r espe i to a estudantes d e ambos os sexos ( s tudent i e s t u d e n -tesse) (*), bem como a professores e a professoras. Dado que nalíngua italiana nã o existem expressões neutras vál idas para ambosos sexos (o s amer icanos ut i l izam cada ve z mais o te rmo « pe r s on » ,mas ser ia r idículo dizer «a pessoa estudante » ( l a person a studente)
ou a «pessoa candidata » ( a p ersona cand idata ) , l imito-me a falarsempre d e es tudante , can d idato, p rofessor e or i entador , sem que esteuso gramat ical encer re uma discr iminação sexista'.
'(*) Evidentemente, a ressalva não é válida em português para o leniiu «estudante*, que é um substantivo comum de dois gêneros. íffl'}
' Poderão perguntar-me por que motivo não utilizei sempre a estudante, a professora, etc. A explicação reside no facto de ter trabalhado na base dc recordaçõese experiências pessoais, tendo-me assim identificado melhor.
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T. O Q U E É U M A T E S E E P A R A Q U E S E R V E
1.1. P o r q u e s e d e ve fa z e r u m a t ese e o qu e é?
U ma icsc é um trabalho dacti lografado, d e g randeza med ia , variável entre a s c e m e a s quatrocentas páginas , em que o estudante t rataum problema respettante à área de estudos em que se quer formar.Segundo a l ei i ta l iana, e la é indispensável. Após ter terminado todosos exames obrigatórios, o estudante apresenta a t ese perante um júrique ouve a informação do orientador ( o professor eom quem « s e f a z »a t e s e ) e do ou dos a rguentes . os qua is l evantam objecções ao c a n d idato; da i nasce uma discussão n a qual tomam parte o s outros membros do jú r i . D a s pa lavras d os dois a rguentes , qu e abonam sobrea qua l idade ( ou os de f e i tos ) do trabalho escrito, e capac idade que ocand idato demonst ra n a defesa das opin iões expressas p o r escrito,nasce o parecer do júr i . C a l c u l a n d o a inda a média g e r a l d a s notasobtidas n os exames, o júr i atribui uma nota à tese. qu e pode i r dura
mínimo de sessenta e seis a té um máximo de cento e d e z . louvor emenção h on r os a . Esta é pelo menos a r eg ra segu ida n a quase total i dade d a s f acu ldades de estudos humanísticos.
U m a ve z d escr i t as as carac te r ís t icas «exte rna s » d o t exto e or i t u a l e m qu e s e insere , não se d i sse a inda muito sobre a n a t u r e za
da tese. E m p r ime i ro lugar , po r qu e motivo a s un ivers idades i l a l i a -
nas exigem, como condição de l i cenci a tura , uma tese?
R e p a r e - s e qu e este critério não é segu ido na maior par te das un i
vers idades es t range i ras . Na lgu tnas exis t em vár ios n íve is de g rausacadêmicos qu e p od e m se r obtidos sem tese; noutras existe um p r i
m e i r o n íve l , correspondente g rosso modo à nossa l i cenci a tura , qu enão dá d i re i to ao t í tu lo de «dou tor » e que pode se r obtido quer c o m
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íi s imp les sér ie de exames, quer c o m u m i raba lho escr i to de p re tensões mais modestas; noutras existem diversos níveis de doutoramentoque exigem trabalhos de di ferenle complexida de.. . Porém, gera lmente,a t ese p ropr iamente d i t a é r eservada a u m a e s péc ie d e s u p e r l i c e n -
ci a tura , o doutoramento, a o qu a l se propõem apenas aque les qu equerem aperfeiçoar-se e espec ia l i zar - se como inves t i gadores c ientíf icos. Este t ipo de doutoramento tem vários nomes, mas indicá- Io-- emos daqu i e m d iante p o r uma s ig la anglo-saxónica de uso quasei n t e rnac iona l , P h D ( qu e s i g n i f i c a Phi losophy Doctor. D ou t o r e mFi loso f i a , ma s qu e designa todos os l i pos d e doutores em matériashumanísticas, desde o soc iólogo a té ao professor de g r e go ; n as matérias não humànísticas sào ut i l izadas outras sig las, como. p or exe mplo.M D , Medicine Doctor),
Por sua v e z , a o P h D contrapõe-se a lgo mui to a f im à nossa l i cen -c ia lu ra e qu e ind icaremos doravante p o r l i cenc ia tura .
A l i cenci a tura , nas suas várias formas, dest ina-se ao exerc íc io d aprofissão; p e lo contrário, o PhD des t ina- sc à ac t iv idade acadêmica,o qu e quer d i ze r qu e quem obtém u m P h D segue qua se sempre acarre ira universitária.
Nas un ivers idades des te t ipo. a t ese é sempre d e P h D . t ese dedoutoramento, e constitui um trabalho originai de inves t igação, como qua l o cand idato d e v e d emonst rar s er um es tud ioso capaz de fazerp rogred i r a d i s c i p l i n a a q u e se d e d i c a . E e fee t ivãmente não se faz .como a nossa tese d e l i cenci a tura , a os v inte e dois anos. mas numai dade mais avançada, por vezes mesmo a os quarenta ou cinqüentaanos (a inda que . obviamente ha j a PhD mu i to j ovens ) . Porquê tantotempo? Porque se t ra ta p rec i samente de inves t igação originai, e mqu e é necessário saber com segurança a qu i l o qu e d i sseram sobre omesmo a ssunto out ros es tud iosos , ma s e m qu e é preciso sobretudo« de s c ob r i r » qua lquer coisa que os ou t ros a inda não t enham d i to.Q u a n d o s e fala de «descober ta » , especialmente n o domínio dos es tu
do s humanísticos, não estamos a p ensar e m inventos revolucionárioscomo a descoberta d a div isão do átomo, a t eor ia d a r e la t i v idade
ou um medicamento que cure o cancro : podem ser descobertas modes tas, sendo também cons iderado u m r esu l tado « c i e n t í f i c o » u m novomodo d e l e r c compreender u m texto clássico, a caracter ização deum m a n u s c r i t o que lança uma n ov a lu z sobre a b i og r a f i a d e u mautor , u ma r e o r ga n i z a ç ão e u ma r e l e i t u r a d c es ludos anter ioresconducentes a o amadurec imento e s is lemat ização das idé ias que seencontravam dispersas noutros textos. K m todo o caso, o estudioso
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deve p r od u z i r u m t raba lho q u e , e m teoria, o s outros estudiosos d oramo não d ever iam ignorar , porque d i z a l g o de novo (e f. 11.6.1.).
A t e s e à i t a l i a n a será do m e s m o t i p o? N ão necessar iamente .E f e e t i vãmente, dado qu e na maior par te d os casos é elaborada entreos v in te e dois e os v inte e quat ro anos , enquanto a inda s e f azem osexames u niversitários, nào pode representar a conclusão de u m longoe r e f l ec t ido t raba lho, a p r ov a d c u m amadu rec imento comple to.No entanto, sucede que há teses d e l i cenc ia tura ( f e i tas p o r es tudantes par t icu larmente dotados ) que são verdadeiras teses d e P h D eoutras que nào a t ingem esse n ív e l . N e m a un ivers idade o pretendea todo o cus lo : pode haver uma b oa t ese que não seja t ese d e inves t igação, mas lese de compilação.
N u m a lese de compilação, o es tudante demonst ra s imp lesmente
te r examinado cr i t i camente a maior parte da « l i te r a tu r a » existente(ou seja. o s trabalhos publicados sobre o assunto) e te r s ido capazd e expô- la de modo c la ro, p rocurando re lac ionar os vários pontos d evi s t a , o fe recendo ass im uma in te li g ente panorâmica, p rovave lmenteútil do ponto d e v i s ta in format ivo mesmo para u m espec ia l i s ta d oramo, que, sobre aquele problema p a r t i cula r , j ama is t enha e f ec tuadoes ludos ap rofundados .
E i s , pois . uma p r ime i ra advertência: p ode fazer-se uma t e se decompilação ou u ma lese de investigação; u ma tese de «L icenc ia tura»ou u m a tese d e « P h D » .
U m a tese de investigação é sempre mais longa, fal iganie c absorvente : uma t ese de compilação pode i gua lmente s er longa e faügante( ex i s t em t raba lhos de compilação que l evaram anos c a n o s ) m a s ,geralmente, pode se r fe i ta e m menos tempo e c om meno r risco.
Também não se p re tende d i ze r qu e qu e m f a z u ma t ese d e c om pilação t enha f echado o caminh o da investigação: a compilação podeconst i tuir u m acto d e se r i edade por par te d o j ovem inves t i gador que .
antes de começar p ropr iamente a inves t igação, pretende esclarecera lgumas idé ias documentando-se b e m.
E m cont rapar t ida , ex i s t em leses qu e p re tendem se r de i n v e s t i gação e que . p e lo contrário, são feitas à p r e s s a ; são más teses qu ei r r i t a m qu e m as lê e que de modo nenhum servem quem as fe z .
A s s i m , a escolha en i rc tese dc compilação e tese d e inves t i ga ção está l i g ada à matur idade e à capac idade d e t raba lho d o c a n d i dato. Mu i tas v e z e s — in f e l i zmente — está também l i g a d a a factorese c on ômic os , u ma v e z qu e u m es tuda nte - t raba lhador te rá com ce r teza menos tempo, menos energia e freqüentemente menos d inhe i ro
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para se d ed icar a longas inves t igações (que mui tas vezes i m p l i c a ma a quisição de l ivros raros e d ispendiosos, viagens a centros o u bibl iotecas estrangeiros e a s s i m p o r d iante).
In f e l i zmente , n ão podemos d a r nes te l i v ro conse lhos d e ordemeconômica. Até há pouco t empo, n o mundo in te i ro, inves t i gar e r apr iv i lég io dos estudantes r icos. Também nào se pode d i ze r qu e hojeem d i a a s imp les existência de bolsas d e es tudo, bolsas d e v i ageme subsídios para es tad ias e m un ivers idades es t range i ras resolva aquestão a contento de todos. O i d ea l é o de u ma soc iedade maisjus t a e m q u e es tudar se j a u m t raba lho p a g o p e l o E s t a d o , e m qu eseja p a g o quem quer que tenha uma verdadeira vocação para o estudoe e m qu e n ào seja necessário ter a todo o cus to o « c a n u do» paraconsegu i r emprego, obter u m a pr omoção ou p a s s a r à frente d o soutros num concurso.
M a s o ens ino super ior i t a l i ano, e a soc iedade qu e e l e rerlecte. épor agora aqu i lo que é ; só nos resta fazer votos pa ra qu e os es tu dantes d e todas a s classes possa m frequentá-Io sem se su j e i t a rem asacrifíc ios angust i antes , e p a s s a r a exp l icar de quantas mane i ras sepode fazer u m a t ese d i gna , ca lcu lando o t empo e a s energ ias d i s poníveis e também a vocação de cada um.
1.2. A qu e m i n t e r e s s a e s t e l i v r o
Nes tas condições, devemos pensar que h á muitos estudantes obri
gados a fazer uma tese, para poderem l icenciar-se à p ressa e a lcançarprovave lmente o estatuto qu e t i n h a m e m v i s ta quanto se inscreve ra m n a un ivers idade . Algu ns des tes es tudantes chegam a te r qu a renta anos . Es tes pre tenderão, p o i s , instruções sobre como fazer
u ma t ese n u m mê s, de m od o a poderem t e r u ma nota qua lquer ede ixar a un ivers idade . Devemos d i ze r sem rebuço que este l i v ro nãoé para e l es . S e estas sào as suas necess idades , se são v í t imas deu ma leg is lação p a r a d oxa l qu e os obr iga a d ip lomar- se para resol ver dolorosas questões econômicas, é preferível op l a r e m p o r u m adas segu intes v ias : (1 ) inves t i r u m montante r azoáve l para encomendar a t ese a a lguém; (2 ) cop iar u m a t ese j á fe i ta alguns anosantes nout ra un ivers idade (não convém cop iar u m a obra já p u b l i
ca d a , mesmo numa língua es t range i ra , dado qu e o docente , se es t i ver min imamente in formado, já deverá saber da sua ex is tênc ia ; ma sc op i a r e m M i l ã o u m a t ese fe i ta n a C a lu n i a o fe rece razoáve is pos -
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s ib i l i dades de êxi to ; na tura lmente , c ne cessário in formar- se p r ime i rose o orientador da lese, antes d e ens inar em M ilão, não terá ens inadona Catânia ; e , por i sso mesmo, cop iar u rna t ese i m p l i c a u m i n t e l i
gente t raba lho de inves t iga ção) .
Ev identemente , os dois conse lhos que acabámos de da r são i l e ga i s . Ser ia o mesmo qu e d i z e r « s e t e apresentares ferido n o postode socorros e o médico não qu iser examinar - t e , aponta- lhe uma facaà g a r g a n t a ». E m ambos os casos, trata-se d e actos d e d esespero.O nosso conse lho fo i d a d o a título paradoxa l , para reforçar o factode este l i v r o não pretender resolver graves problemas d e estrutura
soci a l e d e ordenamento ju r ídico existente.
Es t e l i v ro d i r i g e - se . por tanto, àque les que ( mesmo s e m se remmil ionár ios ne m terem à s u a d ispos ição d ez anos para se d i p l om a
re m após t e rem v ia j ado p o r todo o mundo) têm u ma r azoáve l pos s ib i l i dade d e d ed ica i " a lgumas horas p or di a a o es tudo e querem pre para r u m a t ese qu e lhes dê também u ma cer ta satisfação in te l ec tua lc lhes s i rva depois d a l i cenci a tura . E que , por tanto, t ixados o s l i m i
tes, mesmo modestos, do s e u p ro j ecto, qu e i ram fazer u m t raba lhosério. Até u m a r e c o lh a de cromos pode fazer-se d e u m modo sé r io :basta f i x a r o t ema d a r ecolha , os cr itér ios de catalogação e os l imi
tes históricos da r ecolha . Se se d ec ide n ão r emontar a lém de 1960,ópt imo, porque desde 196U até hoje existem todos o s c romos. Haverásempre uma diferença entre esta recolha e o M u s e u d o l..ouvrc, m a sé pre fe r íve l , em vez de um museu pouco sér io, fazer u m a r ecolhaséria de c romos d e j ogadores d e fu tebol d e 1 9 6 0 a 1 9 7 0 -
Es t e cr itér io é i gua lmente válido p a r a u m a t ese d e l i cenc ia tura .
1.3. D e q u e m o d o u m a t e s e s e r v e t a mb é m p a r a d e p o i s
d a l i c e n c i a t u r a
H á duas maneiras d c fazer uma tese qu e s i r v a também para depois
da l i cenci a tura . A p r i m e i r a 6 fazer d a t ese o in íc io de uma inves t i
gação mais ampla que prosseguirá nos anos seguintes se . ev idente
mente , houver a opor tun idade e a vontade para tal.
M a s ex i s t e a inda urna segunda mane i ra , segundo a qua l um d i rec -
tor d e um organ ismo d e tu r i smo loca l será a judado na sua p rofissão
pelo facto de t e r e laborado u ma tese sobre Do «Fer ino a Lúcia» aos«Promessi Sposi» . E fee t i vãmente, faze r uma tese s i gn i f i ca : ( 1 ) esco
l h e r u m t ema p rec iso; (2 ) r ecolher documentos sobre esse l ema;
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( 3 ) pôr em ordem esses documentos : (4) r e e xa m i n a r o t ema c m p r i
mei ra mão . á lu z dos documentos re colh idos ; ( 5 ) d a r u m a formaorgânica a todas as reflexões p recedentes ; (6 ) p roceder de modo quequ e m lê perceba o que se quer d i ze r e fique em condições , se fornecessário, de vol tar a os mesmos documentos para retomar o temapor sua conta .
Fa/cr u m a tese s i gn i f i ca , pois . ap render a pôr o r d e m n a s p ró p r i a s idé ias e a o r d e n a r d a d os : é u ma e xpe r i ê n c i a de t r a b a l h ome tód ic o ; quer d i ze r , const ru i r u m «ob j e c to » qu e , e m pr in c íp io ,s irva também para out ros . E deste modo nõ o importa tan to o temada tese quanto a exper iênc ia de trabalho que e la compor ta . Q u e msoube documcniar-se sobre a dupla redacção do romance de M a n z on i .saberá d epois também r ecolher com método os dados qu e lh e ser
virão para o o r g a n i s m o turístico. Quem escreve j á p u b l i c ou u m ad e ze n a d e l ivros sobre temas diversos, ma s s e consegu iu f azer o súltimos nove é porque aprove i tou sobre tudo a exper iênc ia do p r i
meiro, qu e e r a u ma reclaboração d a t ese d e l i c e n c i a t u r a Se m aquelep r ime i ro t raba lho, n ão ler ia ap rend ido a fazer os ou t ros . E . tantonos aspec tos pos i t i vos como n os negat ivos , os outros ref lectema inda 0 modo como se fe z o p r i m e i r o . C o m o lempo tornamo-nosprovave lmente mais maduros , conhecemos mais a s co i sas , ma s amane i r a como t raba lhamos nas coisas qu e sabemos dependerá s e m pr e d o modo como estudámos in ic ia lmente mui tas coisas que nãosabíamos.
E m última análise, f aze r u m a lese é como exerc i t ar a me mór ia . Temos u ma boa memór ia cm ve lhos quando a mant ivemos e mexerc íc io d esde mu i to j ovens . E não i m p or t a s e e l a s e exerc i toua p r e n d e n d o de cor a compos ição de todas a s equ ipas d a P r i m e i r aDiv isão, as poes ias d e C a r d u cc i ou a sér ie de imperadores roman os d c A u g u s t o a Rórnulo Au g u s t o . B e m entend ido, já qu e se exer c i ta a memór ia , mais va le ap render coisas qu e n os in te ressam o uque venham a s e r v i r - n os ; m a s . p o r v e z e s , mesmo aprender coisasinúteis c on s t i t u i u ma b oa g in ás t ic a . E , ass im, embora se j a m elhorfazer uma lese sobre u m tema qu e n os ag rade , o tema é secundár i o r e la t i vamente ao método de t raba lho e à exper iênc ia que d e lese t ira.
E i s to também p o r qu e , se se t r a b a l h a r b e m . n ão h á n e n h u m
tema qu e se j a verdade i ra mente es túp ido: a t r a b a l h a r b e m t i r a m -
- « conc lusões úte is m e s m o d c u m t ema aparentemente remoto
ou pe r i fé r ico. M a r x nào fe z a t ese sobre economia pol í t ica , mas
sobre dois f i l ó s o fos g r e gos c om o E p i c u r o e De mócr i to. H não se
t r a tou d e u m a c i d e n t e . M a r x fo i t a lvez capaz de a n a l i s a r o s p r o
b l e m a s d a h i s tó r i a c da e c o n o m i a c o m a e n e r g i a t e ó r i c a qu e
sabemos p rec isamente porque aprendeu a r e f l ec t i r sobre os seus
f i lósofos g r e g o s . Perante t antos es tudantes qu e c ome ç a m c om
u ma t ese a mbic ios íss ima s ob r e M a r x e a c a b a m na secção de p es
s o a l d a s g r a n d e s e m p r e s a s c a p i t a l i s t a s , c necessário r ever o s c on
ce i tos que se têm sobre a u t i l i d a d e , a a c i u a l i d a d e e o in te resse
dos t emas d a s teses.
1.4. Q u a t r o r e g r a s óbv ias
H á casos e m qu e o cand idato f a z a t ese sobre u m lema impostopelo docente. Tais casos devem evitar-se.
N ào es tamos a r e f e r i r -nos . ev identemente , a os casos e m qu e o
c a n d i d a t o p ed e conse lho a o docente , ma s s im àqu e l es e m qu e a
culpa é d o professor ( ve r 11.7.. « C o m o ev i t a r de ixar - se exp lorar pe lo
or ienta dor » ) ou àque les em que a cu lpa é d o cand idato, des in te res
sado d e tudo e d i spos to a a l inhavar qua lquer coisa para se d espa
ch a r d epressa .
Ocupar -nos- emos, pe lo contrário, dos casos e m que se pressupõe
a ex is tênc ia de um c a n d i d a l o m ov i d o p o r u m interesse qua lquer e
de u m docente disposto a in te rp re tar a s suas exigências.
Nestes casos , a s regras para a escolha d o tema são quat ro :
1 ) Que o lema corresponda a os interesses d o candidata (quere s t e j a r e l a c i on a d o c o m o l i p o d e exames f e i tos , c om a ssua*; l e i t u r a s , c o m o s e u m u n d o po l í t i c o , c u l t u r a l o u r e l i
g i o s o ) :
2 ) Que a s fontes a que r ecor re sejam acessíveis, o que quer d i ze rque estejam a o a lcance mater ia l d o cand ida lo;
3 ) Que as fontes a que recorre sejam manitsedveis. o que querd i z e r qu e estejam a o a lcance cu l tu ra d o cand idato;
4 ) Que o quadro m etodo lógico d a investigação esteja a o alcance
da exper iênc ia do candidato.
Expressas d es ta man e i ra , es tas quat ro regras pa recem bana is e
resumir -se na norma segu inte : quem quer f aze r uma tese de v e fa/er
u ma t ese qu e seja capaz d e l aze r . Pois b e m. é mesmo ass im, c há
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casos d e leses d rama i ca m cri e f a lhadas jus tamente porque não se
soube pôr o p rob lema in ic ia l nestes termos tão óbv ios 1.
O s capítulos que se seguem tentarão fornecer a lgumas sugestões
para qu e a t ese a fazer seja u m a t ese qu e s e s a i b a e possa fazer.
1 Poderíamos a crescentar unia quinta regia: que o professor seja o indicado.Efeeti vãmente, há candidatos que. por razões de simpatia ou de preguiça, queremfazer com o docente da matéria A uma tese que, na verdade, é da matéria B . Odocente aceita ipur simpatia, vaidade ou dcsatençâol e depois nào está em condições d e acompanhar u tese.
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I I . A E S C O L H A D O T E M A
I I . l . T e s e mon ogr á f l c a ou t ese pa n or âmic a ?
A p r i m e i r a tentação do es tudante é fazer uma t ese qu e fale d emui tas c o i s a s . Se e le se in te ressa p o r l i t e r a t u r a , o seu p r i m e i r oi m p u l s o é f aze r uma tese d o gê n e ro A literatura hoje, t endo de r es
t r ing i r o t ema. quererá escolher A l i teratura i taliana desde o pós--guerra a té aos anos 60.
Es tas teses são perigosíssimas. Trata-se d c temas qu e fazem tremer estudiosos b e m mais maduros. Para um estudante d e v inte anos,é um desaf io impossível. O u fará um a resenha monótona de nomes ede opin iões correntes, ou dará à sua obra u m car i z or i g ina l e serásempre acusado de omissões imperdoáve is . O g rande cr ítico c o n temporâneo G i a n f r a n c o C o n t i n i publ icou e m 1 9 5 7 u m a Le t í e ra tumItal iana-Ottocento-Novecento ÍSansoni Accademia ) . Pois bem, se setratasse d e u m a tese d e l icencia tura , teria f icado reprovado, apesardas suas 47 2 pág in a s . C o m efeito, te ria sido atr ibuído a negligênciaou ignorância o facto de não ter c itado alguns nomes que a maior iadas pessoas considera m muito importantes, ou de ter dedicado capítulosinteiros a aulores ditos «me n or e s » e breves notas de rodapé a autoresconsiderados «ma io r e s » . Evidentemente, tratando-se d e um estudiosocuja preparação histórica e agudeza cr ítica são bem conhecidas, todaa gente compreendeu qu e estas exclusões e desproporções eram voluntárias, e que u ma ausência era cri t icamente muito mais e loqüente d oque uma página d emol idora . M a s se a mesma graça for feita p o r umestudante d e v inte e dois anos. quem garante que por detrás do silênci o não está mui ta as túe ia e qu e as omissões subst i tuem páginascríticas escritas noutro lado — ou qu e o autor saberia escrever?
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E m teses deste g ênero, o es tudante acaba gera lmente p o r acusaros membros do júri de não o t e rem compreend ido, m a s estes nãopod iam compreendê- lo e . por tanto, uma t ese d e m a s i a d o panorâmicaconst i tui sempre u m acto de o r g u l h o . N ã o q u e o orgu lho in te lec tua l— n u m a tese — seja d e re je i tar a pr ior i . Pode mesmo dizer-se qu eD a n t e e r a u m mau poe ta : mas é p rec i so d izê - lo após pelo menos trezentas páginas d e análise detalhada do s textos dantescos. Estas demonstrações, numa t ese pan orâmica, nào podem fazer - se . E is porque ser i aentão me lhor que o es tudante , e m v e z d e A l i teratura i tal iana desdeo pós-guer ra a té aos anos 60 , escolhesse u m título mais modesto.
K posso d i ze r já qua l se r ia o i d e a l : nã o O s romances de Fenog l io .ma s A s diversas r edacçòes de " ti panigiano Jolmny». E n f a d on h o?F i poss íve l , mas corno desa f io é mais in te ressante .
Sobre tudo, se se pensar bem, trata-se d e um ac to de as túc ia . C omu ma tese p anorâmica sobre a l i t e ra tura d e quat ro décadas , o es tu dante expõe-se a todas as contestações possíveis. Como pode res i s
ti r o or i entador ou o s imp les membro do júri à tentação de f aze rsaber que conhece um autor menor que o es tudante n ào c i tou? Bastaque qualquer membro d o júri. consu l tando o índice, aponte três omis sões, e o es tudante será a lvo d e urna ra j ada de acusações que farãoqu e a s u a t ese pareça u ma l i s ta de d esaparec idos . Sc , pe lo contrário,o es tudante t raba lhou ser iamente num terna mui to p rec iso, consegue domina r um mater ia l desconhec ido para a maior par le d os m e m bros d o júr i . Não estou a suger i r um t ruquez i to d c dois vinténs: seráu m Iruque. ma s nào de d o i s v inténs, pois ex ig e es forço. Su c e d e s im
p lesmente qu e o c a n d i d a t o se ap resenta como « P e r i to » d iante d cum a platéia menos per i t a do qu e e le . e , já qu e teve o t raba lho de set o rna r p er i to, é j u s t o qu e goze a s vantagens dessa s ituação.
Ent re os dois extremos da tese pan orâmica sobre quarenta anos d cliteratura e d a tese rigidamente monográfica sobre a s variantes de u m
texto curto, h á muitos esládios intermédios. Poderão assim apontar--se temas como A neovanguarda l iterár ia dos anos 60, ou A imagemdas Langhe em Pavese e Fenoglio. ou a i n d a Af inidad es e d i fe rençasent re três escri tores «fantásticos»: Savinio, Buzzaii e Landolft.
Passando a s f acu ldades e ieniíficas. n u m li v r o c o m o mesmo temaqu e n os p ropomos dá-se um conse lho aplicável a todas a s matérias:
O tema Geologia, p or exemplo, é demasiado vasto. A Vulcanologia.como ramo da geologia, c ainda demasiado lato. Os vulcões no Méxicopoderia ser desen volvido nu m exercício bom mas um tanto superficial. Uma
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limitação subsequente daria origem a uni estudo üc maior valor: A históri a d o Popocatepetl (que foi escalado provavelmente por un i dos conquistadores de Corte? em 1519. e qu e só em 1702 leve um a erupção violenta}.Úm lema mais limitado, que diz respeito a um menor mi mero d e anos. seriaO na scimento e u mor te aparente d o Paricutin (d c 20 dc Fevereiro de 1943
SI 4 dc M arço de 1952)'.
E u a c on s e l h a r i a o último t e m a . C om a c on d ição de qu e . nessa
a l tu ra , o c a n d i d a t o d i g a t u d o o qu e há a d i ze r sobre aque le amald i
çoado vu lcão.
H á a lgum tempo v e i o te r c om i g o u m es tudan ie q u e quer ia f aze r
a tese sobre O símbolo no pensamento con temporâneo. E r a u ma tese
impossível. Pe lo menos , eu não s a b i a o q u e qu e r i a d i z e r « s ímb o lo » ;
efect ivamente, trata-se d e um termo q u e muda dc s ignif icado segundo
os au tores e , po r v e z e s , e m dois au tores d i fe rentes quer d i z e r duas
coisas absolu tamente opostas . Repa re - se qu e por « s ímb o lo » os lóg i
cos formais ou os matemáticos entendem expressões sem s i g n i f i
c a d o qu e oc u p a m u m lugar de f in ido c o m urna função p r e c i s a n u m
d a d o cálculo f o r m a l i z a d o ( c omo os a e os h ou os x e os y d a s fór
m u l a s a lgébr icas ) . enquanto out ros au tores entendem u m a forma
rep le ta d e s i g n i f i c a d os ambíguos , como sucede n a s imagens qu e
ocorrem nos sonhos , q u e pode m referir-se a u m a árvore, a u m órgão
sexua l , a o d e s e j o d e c resc imento e a s s i m p or d iante . Co mo fazer
então uma t ese c o m este título? Se r i a necessário a na l i sar todas a s
acepções do s ímbolo em toda a cultura contemporânea, catalogá-las
dc modo a ev idenc iar as semelhanças e as diferenças, ver se s u b j a
cente às diferenças há um conce i to unitário fundamenta l qu e a p a
reça em todos o s au tores e todas a s t eor ias , se as diferenças não
t o rnam en f im incompatíveis entre si a s teorias em questão. Pois b e m.
u ma obra des las nenhum f ilósofo, lingüista ou p s icana l i s ta contem
porâneo c on s e g u i u a i n d a r e a li zá - la d e u m a m a n e i r a satisfatória.
C om o p od e r i a c on s e g u i - l o u m es tud ioso novato q u e , mesmo pre
coce, não tem alrãs de si mais d e se i s o u sete anos d e l e i tu ras adu l
t as? Poder ia l ambem fazer uma dissertação in te l i g entemente pa rc i a l ,
n i a s ca ir íamos de n ov o n a história d a l i t e ra tura i t a l iana de C o n t i n i .
O u poder ia p ropor uma teor ia pessoa l do s ímbolo, pondo d e parte
tudo quanto hav iam d i to o s ou t ros au tores : ma s a té qu e ponto esta
' C . W . Cooper c E. J . Robins, tlie Temi Paper A Manual and Mode l . Stanford.Stanford Un iversiiy Press, 4.' cri.. 1967, p. 3 .
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escolha seria discutível d i- lo-emos no parágrafo 11.2. C o m o e s t u dante cm tjuestão d i scut iu - se u m pouco. Teria pod ido fazer-se u m alese sobre o s ímbolo em F r e u d e J u n g . n ào cons iderando todas a soutras acepções, e confrontando apenas a s destes doi s autores. M a sdescobriu-se qu e o estudante nã o sabia alemão (c falaremos sobre oproblema d o conhec imento das línguas no parágrafo TT.5). D e c i d i u --s e então que ele se debruçaria sobre o lema O conceito de símboloem Pe i r ce , Frye e Jung. A tese t e r i a examinado as diferenças entretrês conce i tos homônimos em três autores diferentes, um f i lósofo,u m cr ítico e u m ps icólogo; ler ia mostrado como e m mui tas análisese m qu e sào considerados estes três autores s e cometem muitos equívocos , u ma v e z qu e s e atribui a u m o s i gn i f i cado q u e é usado po routro. Só no final, a título de conclusão hipotética, o cand idato t e r iap rocurado ext ra i r u m r esu ltado para most rar s e ex i s t i am ana log ias ,
e qutds. entre aqueles conceitos homônimos, aludind o ain da aos outrosautores d c quem l inha conhecimento mas d e quem. por explícita l imi
tação d o tema. n ão quer ia nem podia ocupar-se. N inguém ter ia podidod i ze r - lhe qu e não t inha cons iderado o autor K , porque a tese e ra sobre
X , Y e Z , n e m qu e t inha c i t ado o autor J apenas em tradução, porqueter-se- ia tratado d e u m a referência marg ina l , em conclusão, e a tesepretendia estudar por extenso e n o orig inal apenas os três autores re fer idos no título.
E i s c om o u m a t ese pa norâmica , se m se tornar r igorosamentemonográíica. se r e d u z i a a u m meio termo, aceitável por todos.
Por outro lado. s em dúvida o termo «monográf ico» pode te r umaacepção mais vasta d o que a que utilizámos aqui . U ma monogra f i a é otratatamento de u m só lema e como tal opòe-sc a u ma «história de», au m manual , a um a enciclopédia. Pelo qu e um tema como O t ema do«mundo às wessas» nos escri tores medievais também é monográfico.Analisa m-se muitos escri lores. mas apenas d o ponto dc vista de u m tema
específico (o u se j a . da hipótese imaginária proposta a título de exemplo, d c paradoxo ou de fábula, dc que os peixes voem n o a r, a s avesnadem na á gu a e t c ) . Se s e fizesse bem este tra balho, obter-se-ia u maóptima monogra f i a Contud o, para o fazer bem, é preciso t e r presentetodos os escritores que trataram o tema, especialmente os menores, aqueles d e quem ninguém se lembra. Ass im, esta tese é classif icada comomonogràTico-panorâmica e é muito difíc il: exig e uma inf inidade de le itu
ras. Se se quisesse mesmo fazê-la. seria preciso restr ingir o seu campo.O tema do «mundo às wessas» n os poetas carolíngios. O campo restrin
ge-se, sabendo-se o qu e s e le m d e dominar c o que se deve pôr de parte.
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Ev identemente , é mais excitante fazer a tese panorâmica, pois .a lém do mais. parece fast id ioso ocuparmo-nos durante um. dois o umais anos sempre d o mesmo autor. M a s repare-se qu e faze r u ma teser igorosamente monográíica nào s i gn i f i ca d e modo nen hum perder d evista o contexto. Fazer uma tese sobre a nar ra t iva d e Fenog l io s i gn i fica ter presente o r ea l i smo i t a l i ano, le r também Pavese ou V k o r i n i .
bem como ana l i sar o s escritores americanos qu e Fenog l io l i a e t ra
duz i a . Só inserind o um autor nu m contexto o compreendemos e e xp l i camos. Todavia, uma coisa é u t i l i z ar o panorama como fundo, e outrafazer u m quadro pa norâmico. U ma coisa é p in tar o re iralo d e um cavalheiro sobre urn fundo d c campo c om u m r io, e ou t ra p in la r campos,va les e rios. T e m d c mudar a técnica, tem de mudar, e m termos fotográficos, a focagem. Par l indo de u m s ó autor, o contexto pode s e rtambém um pouco desfocado, incompleto o u d e segunda mão.
Para conc lu i r , r ecordemos este pr inc ípio fundamenta l ; quantomais se restringe o campo, me lhor se trabalha e com maio r segurança . U m a tese monogrãfica c preferível a uma tese panorâmica.É m e l h or q u e a tese se assemelhe mais a u m ensa io do qu e a u mahistória ou a u ma enciclopédia.
IT.2. T e s e h i s tó r i ca o u t ese t e ó r i c a ?
Esta alternat iva só tem sentido para ceitas matérias. Efeet i vãmente,em matérias como história d a matemática, filologia românica ou h i s
tória d a l i teratura alemã, u ma t ese s ó pode ser histórica. E em matér ias como composição arquitectónica. fís ica do reactor nuclear o uana tomia comparada, g e ra lmente só se fazem teses teóricas ou e xp e rimentais. M a s há outras matérias, com o filosofia teórica, soc iolog i a , ant ropolog ia cu l tu ra l , estética, filosofia d o d i re i to, pedagog ia
ou d i re i to in te rnac iona l , e m qu e s e podem fazer teses d e dois t ipos.U m a t ese teórica é u ma t ese qu e se propõe encarar um prob lema
abstracto q u e pode já te r s ido ou n ão objecto d e outras r e f lexões ; ana ture za d a vontade human a, o conce i to d e l iberdade , a noção defunção soc ia l , a existência d e D e u s . o código gen ét ico. E n u m e r a d os
ass im, estes temas fazem imediatamente sorrir, pois pensamos naqueles t ipos de a b or d a g e m a qu e ür a ms c i c h a m a v a « n oç õe s brevessobre o universo» , E . no entanto, ins ignes pensadores se debruçara m sobre estes temas. .Vias. c o m poucas cxccpçõcs, fizeram-no n aconclusão de um t raba lho de meditação dc várias décadas.
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N a s mãos de um estudante com uma experiência científica necessar iamente l im i tada , estes temas podem dar origem a duas soluções.A pr ime i ra (que c a i n d a a menos t rágica ) l eva a f aze r a tese d e f i nida (no parágrafo anterior) como «panorâmica" . Trata-se o conceitoil e função socia l , ma s numa série de autores. E a este respeito apl icam--8 c as observações já fe i tas. A segunda solução é mais preocupante,dado qu e o candidato presume poder resolver, e m poucas páginas, oproblema de D e u s e d a de f in ição d e l iberdade . A m i n h a experiênciad i z - m e qu e os estudantes qu e escolheram temas do gê n e r o quasesempre f izeram teses muito curtas, s e m grande organ ização interna,mais semelhantes a u m poema l í rico do que a um es tudo c ientífico.E , g e ra lmente , quando se objecta a o cand idato que a expos ição édemas iado persona l i zada , genérica, in formal , sem comprovações h i s -toriográficas n e m c itações, ele responde que nào se compreendeu qu ea su a t ese é muito mais intel igente do qu e muitos outros exercíciosd e b a n a l compilação. Po d e dar-se o caso de s e r verdade, mas, maisum a vez. a experiência e n s i n a q u e geralmente esta resposta é dadap or u m cand idato c om as idé ias confusas , s e m humi ldade científicanem capac idade comunica l iva . O qu e s e de v e entender p o r humil
dade c ientífica (que não c uma v irtude para fracos mas. pelo contrário, uma v irtude d a s pessoas orgu lhosas ) ver-sc-á no parágrafoTV.2.4. i t certo que não se pode exc lu i r que o candidato seja um gên ioque, apenas c o m v in te c dois anos, tenha compreendido tudo. e éevidente qu e estou a ad mi t i r es ta hipótese sem sombra d c i ron ia . M a sa r ea l idade é que. quando sobre a crosta terrestre aparece um gêniode tal qualidade, a humanidade leva mu ito tempo a aperceber-se disso,e a sua obra é l id a e d i g e r id a durante um cer to número de anos antesqu e se ap reenda a s u a g r a n d e za . C om o se pode pretender q u e u mjúri que está a examinar , nã o u m a . m a s muitas teses, apreenda deehoíre a grand eza deste corredor solitário?
M a s ponhamos a h ipótese de o estudante estar consciente dc te rc om p r e e n d i d o u m p rob lema impor tante ; dado qu e nada nasce d on a d a . e le te rá e l a b or a d o o s seus pensamentos s ob a in f luênc iade outro autor qualquer. Transformou então a sua tese. de teór icaem historiográfica. ou se j a . n ão tratou o p rob lema d o ser. a n oçãod e l i b e r d a d e o u o c on c e i t o de acção s o c i a l , m a s d e s e n v o l v e utemas como o problema do se r no jovew Heidegger , a noção del iberdade em Kant ou o conceito de acção soc ial em Parsons. Sele m idé ias or i g in a i s , e las emergirão no conf ronto c om a s i déi a s doautor t ra tado; podem d i ze r - se mui tas coisas novas sobre a l iberdade
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es tudando o modo como out ra pessoa f a lou d a l iberdade . E se sequis e r , aque la qu e d e v i a s e r a s u a t ese teórica torna-se o capítulofinal da s u a lese historiográfica. O r esu l tado será que todos poderão ve r i f i car aqu i lo q u e d i z . dado qu e ( re fer idos a um pensador ante rior) os conceitos que põe em jog o se rão pu bl icamente ver ificáveis.É difíc il movermo-nos n o v a g o e estabelecer uma expos ição ab in i-tio. P rec i samos d e encont rar um ponto d e apoio, espec ia lmente paraprob lemas tã o v ag o s como a noção de se r ou de l iberdade . Me smoqu a n d o se é gên io, e espec ia lmente quando se é gênio, nào s i gn i fica u ma humilhação part ir-se d e outro autor. C o m e fe i to , p a r t i r d cu m au tor anter ior nã o s i gn i f i ca p res tar - lhe cu l to, adorá- lo ou repro
d u z i r sem crí t ica a s suas a f i rmações ; p o d e l ambem par t i r - se d e u mautor para demonst rar os seus erros e os seus l imites. M a s tem-seum ponto de apoio. O s homens med ieva is , qu e t inham u m respeito
ex ag e rad o pela autoridade d os au tores an t i gos , d i z i am que os modernos, embora ao seu l ado fossem « a n õe s » , apoiando-sc n e les tornavam-se «anões às costas de g i ga n te s » e , deste modo. viam mais alémdo que os seus predecessores.
Todas estas observações não são válidas para as matérias a p l i
cadas e exper imenta i s . Sc se ap resentar uma t ese e m p s icolog ia , aalternat iva não é en l rc O problema da percepção em P iaget e O problema da percepção (a inda q u e um imprudente pudesse querer p roporu m tema tã o g ener icamenie p e r i g o so ) . A a l t e rnat iva à t ese h i s t o r iográfica é antes a l ese exper imenta l : .4 pe rcepção das cores numgrupo de cr ianças def ic ientes. A q u i o d i scurso muda , dado que set em d i re i to a encarar d c forma exper imenta l uma questão, contantoqu e se s i ga um método de inves t igação e se possa t raba lhar e mcondições raz oáve is , no que respeita a labora tór ios e c om a d e v i d aass is lénc ia . M a s um bom inves t i gador exper imen ta l nào começa acont rolar a s r eacções dos seus pac ientes s e m antes te r feito pelomenos u m t raba lho panorâmico ( exam e dos estudos a nálogos já r ea
l i zados ) , pois d e ou t ro modo ar r i scar - se - i a a d escobr i r o chapéu dcch u va , a d emonst rar qua lquer coisa qu e j á hav ia s ido amplamentedemonst rada , o u a a p l i c a r métodos que já se Un ham reve lado errôneos ( s e bem que possa s e r objecto de investigação o no vo controlode um método que não t enha a inda dado resu l tados satisfatórios) .Portanto, uma t ese d e carac te r exper imenta l nã o pode s er fe i ta e mcasa . n em o método pode s e r in v e n t a d o . M a i s u m a ve/. se de ve parti r d o p r inc ípio de qu e . se se é u m a n ão in te l i g ente , é me lhor sub ir
aos ombros d e um gigante qualquer, mesmo se for de altura modesta:
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ou mesmo d c ou t ro anão. De pois lemos sempre temp o para traba
lha r soz inhos .
I Í .3 . l e m a s a n t i g os o u t e m a s c on te mpor ân e os ?
E n ca r a r esta questão pode parecer querer voltar à amiga querel ledes anciens e t des modernes . . . E . d e f ac to, para mui las d i sc ip l inasa ques tão não se põe ( se be m que u m a t ese de h is tór ia da l i t e ra iurala t ina possa t ra tar tão bem de H orác io como da s i tuação dos es tu dos horac ianos no último v in lén io) . Inversamente , é lógico que . senos l i cenc iamos em história da l i t e ra tura i t a l i ana contemporânea,n ão ha j a a l t e rna t iva .
T o d a v i a não é ra ro o c a s o de ura estudante q u e . perante o conse lho d o professor d e l i t e ra iura i t a l i ana para se l i cenc ia r sobre u mpetrarquista qu inhent i s ta o u sobre um árcade , pref ira temas comoP a v es e , Ba s s a n i . Sa n g u i n e t i . M u i l a s vezes a escolha nasce d e umavocação autêntica e é d ifíc il contestá-la. O u t r a s v e z e s nasce d a falsaidé ia d e que um autor contemporâneo c m a i s fácil e m a i s a gradáve l .
Digamos desde já que o autor contemporâneo é sempre rnais difí
ci l É certo qu e geralmente a b ib l iog ra f i a c mais reduzida , o s textossão de mais fácil acesso, a p r ime i ra documentação pode s er c on s u l tada à beira-mar. c o m um bom romance nas mãos , em ve z de fechado
numa b i b l i o t e ca . M a s . o u queremos fazer uma tese r emendada, repe t indo s imp lesmente o que d i sseram out ros cr íticos e então nào hámais nada a d i z e r (e . se quiser mos, podemos fa/cr u m a lese aindamais remendada sobre um petrarquista do s é cu lo xv i ) . ou queremosd i ze r a lgo d e novo. e en ião apercebemo-nos de qu e sobre o autoranligo existem pelo menos chaves interpretat ivas seguras às qua isnos podemos referir, enquanto para o au tor moderno as opiniões sãoa inda vagas e d i scordantes , a nossa capac idade crítica é falseada pela
falta d e p erspec t iva , e tudo se toma demas iado difíc il.
E indubitáve l que o au tor an l i go impõe u ma l e i tu ra mais futi-
gante , uma pesqu isa bibliográfica mais atenta (mas os títulos estãomenos dispersos e ex i s t em repertórios bibliográficos já comple ios ) ;ma s se se entende a tese como ocasião para ap render a f aze r u m ainves t igação, o a u t o r a n t i g o p õe m a i s p r ob l e m a s de preparação.
Se . além d i sso, o estudante se sent i r inc l inado para a crítica contemporânea, a tese pode ser a última ocasião de abordar a l i teramrado passado, para exercitar o s eu gosto e capacidade de l e i tu ra . Ass im.
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ser ia bom aprove i i a r es la opor tun idade . Mu i tos d os grandes escritorescontemporâneos, mesmo de vanguarda, n ão fizeram leses sobre Montaleou Pound . mas sobre Da ntc o u Foscolo. E claro que não existem regrasprec i s as : u m b om invest igador pode con duz ir uma análise histórica ouestilística sobre um autor contemporâneo co m a mesma profundidadee precisão filológica com que trabalha sobre u m antigo.
Além d i s s o , o p rob lema var ia d e d i s c i p l i n a p a ra d i s c i p l i n a . E mf i losofi a t a lvez pon ha mais p rob lemas u m a t ese sobre I lusser l d oque uma t ese sobre Descartes e a r e lação ent re « f a c i l i da de » e « l e g i b i l i da de » inver te - se : lê-se me lhor Pasca l d o q u e C a m a p .
Des te modo. o único conse lho qu e verdadeira mente pode rei d a ré o segu inte : t rabalhai sobre um contemporâneo como se fosse umantigo e sobre um ant igo como se fosse um contemporâneo- S e r -
-vos-á mais agradável e fareis u m t raba lho mais sério.
I T . 4 . Q u a n t o t e m p o é p r e c i s o p a r a f a z e r u m a tese?
D igamo- lo desde logo: nã o mais de três anos , n em men os de seis
meses , N ão mais de t rês anos , porque se em três anos de i raba lho
não se consegu iu c i rcunscrever o tema e encont rar a documentação
necessária, i sso só pode s i gn i f i car três co i sas :
1) escolheu-se uma t ese e r rada , super ior às nossas forças;
2) é -se um eterno descontente qu e quer d i ze r tudo, e cont inua-
-s e a t raba lhar n a tese durante v in te anos enquanto u m es tu
d i os o hábi l deve se r capaz d e f i xar a s i mesmo l imi tes , mesmo
modestos, e p rod uzi r a lgo de d e f in i t i vo dent ro desses l im i tes ;
3) teve in íc io a neurose da tese. e l a é abandonad a, re tomada, sen
t imo-nos falhados, entramos n u m es tado de depressão, u t i l i
za m os a tese como álibi de mui tas cobard ias . nunca v i remos
a l i cenc iar -nos .
Não men os de seis meses , porque mesmo qu e s e que i ra f aze r o
equ iva lente a u m b o m a r t i go d e r ev i s ta , que não t enha mais d e ses
senta páginas , entre o es tudo d a organização do t raba lho, a p rocura
de b ib l iog ra f i a , a elaboração de f ichas e a r edacção do texto pas
sa m faci lmente seis meses. E c l a r o q u e u m es tud ioso mais maduro
escreve um ensa io e m menos tempo: mas t em atrás de s i anos e anos
de le ituras, d e f ichas e d e apontamentos , qu e o es ludante ao invés
deve f aze r a p a r t i r d o zero.
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Q u a n d o se f a la de seis meses ou (rês anos . pensa- se . ev idente mente , não no t empo da r edacção d e f i n i t i v a , qu e pode l evar um mêsou qu inze d ias . consoante o método co m que se t ra ba lhou : pensa-se n o l a p s o d e t empo qu e mede ia ent re a formação da p r ime i ra idéiada t ese e a ent rega f ina l d o t raba lho. A s s i m , pode haver u m estudante q u e trabalha efect ivameme na tese apenas durante um a n o ma saprove i tando as idé ias e as l e i tu ras qu e . s e m saber aonde chegar ia ,t inha a c u m u l a d o n os dois anos p recedentes .
O i d e a l , n a minha op inião, é escolher a tese (e t> respect ivo orie nt ad o r ) m a i s ou menos no f inal d o segundo an o da universidade.N e s t a altura está-se já f a m i l i a r i z a d o com as várias ma térias, conhe-cendo-se o conteúdo, a d i f i cu ldade e a s i tuação das d i s c i p l i n a s e mqu e a i n d a não se fez e xa m e . U m a e s c o l h a tã o t e m p c s l i v a não é
nem comprometedora ne m ir remediáve l . Tem-se a inda lodo u m a n opara compreender que a idé ia e ra e r rada e m u d a r o t e m a . o o r i e n tador ou mesmo a d i s c i p l i n a . Repare - se qu e mesmo que se passeu m a n o a t raba lhar numa tese d e l i t e ra tura g rega para depois se v e r i ficar que se p re fe re uma t ese cm história contemporânea, i s s o nãofoi d e modo nenh um tempo perd ido: pe lo menos aprendeu-se a forma r uma b ib l iog ra f i a p r e l imina r , como pô r um texto e m ficha, comoelaborar um sumár io. Recorde- se o qu e d i ssemos no parágrafo I .3.:u ma tese se rve sobre tudo para ap render a coordenar as idé ias , i n d e pendentemente d o s e u t ema.
E s c o l h e n d o a s s i m a t ese p o r a l tu ras do f im do segundo ano. têm--se três verínrs para ded icar à investigação c, na m e d i d a do possível,a v i agens de es tudo; podem escolher - se os p r og r a m a s de examesperspect ivando-os para a tese , E c l a r o que sc se f izer uma t ese d ep s i c o l og i a e x p e r i m e n t a l , é difíc il p erspec t ivar nesse sent ido u mexame de l i tera iura la t ina ; m a s c o m mui tas out ras matérias de carác-le r f ilosófico e socioló gico pode chegar-se a a c o r d o c om o docente
sobre a lguns t extos , t a lvez em subst i tu ição d os obr iga tór ios , quefaçam inser i r a matéria d o exame n o âmbito d o nosso interesse dominante . Qu ando i s to é possível sem espec iosa v iolentação ou truquespuer is , um docente intel igen te prefere sempre q u e um es tudante p re pare um exame «mot i v a do » e or i entado, e não um e xa m e a o acaso,forçado, p reparado sem pa ixão, só para u l t rapassar u m e s c o l h o qu enão sc pode e l iminar .
E s co l h e r a t ese n o f i m d o segundo a n o s i g n i f i c a te r t empo atéO u t u br o d o quar to a n o para a l i cenc ia tura dent ro d os l im i tes idea i s ,com dois anos comple tos à disposição.
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N a d a impede que se e s c o l h a a t ese antes d i sso. Nada impede qu ei s so aconteça d e p o i s , se se ace i t a r a idé ia de ent rar já no per íodoposter ior a o curso . Tudo desaconse lha a escolhê-la d emas ia do tarde .
At é porque u m a b o a t ese de v e s e r d i scut ida passo a p a s s o c o mo or i entador , n a med ida do poss íve l . E isto nã o tanto para mit i f i
ca r o docente , ma s porque escrever u ma t ese é como escrever u ml i v r o , c u m exercício de comun icação que pressupõe a existênciade um público — c o or i entador é a única amost ra de público competente d c qu e o es tudante d i s põe n o d e c u r s o do s e u t raba lho. U m atese fciia à última hora obr iga o or i entador a p ercorre r rap idamenteos diversos capítulos ou m e s m o o t raba lho j á fe i to. Se for este ocaso. c se o or i entador n ào f i car sa t i s f e i to c o m o r esu l tado, atacaráo cand idato peran lc o júr i , com r esu l tados desagrad áve is , mesmo
para s i própr io, que nunca d ever ia ap resentar - se c o m u ma tese qu enão lhe a g r a d e : é u ma d er rota também para e le . Se p ensar que ocand idato nã o consegue engrenar n o t raba lho, d e v e d i ze r - lho antes ,aconse lhando-o a f aze r uma out ra tese o u a esperar um pou co mais .
Sc d epois o c a n d i d a l o . não obs tante es tes conse lhos , ins is t i r e m qu eo or i entador não tem razão ou que p a r a e l e o factor tempo é fun
damenta l , enfrentará i gua lmente o risco de uma discussão tempes
tuosa , m a s a o menos fá-lo-á com p l e n a consciência da situação.
De todas estas observações se d e d u z qu e a tese de seis meses,embora se admi ta como mal menor , n ão r ep resenta o i d e a l ( a menosque. como se d i sse , o t e m a e s c o l h i d o nos últimos seis meses per
mita ap rove i tar experiências e f ec tuadas n os anos anter iores ) .
Todavia , pode haver casos d e necessidade em que seja preciso resolver tudo e m seis meses. Trata-se então de encontrar um tema q u e possaser abordado de modo d igno e sério naquele p e r íodo dc ( empo. Nàogostaria q u e toda esta exposição fosse tomada num sentido demasiado«comerc ia l " , como se estivéssemos a vender «teses de seis meses» e
«teses d e três anos », a preços d iversos e para todos o s tipos d c cl iente.M a s a verdade é qu e pode h aver também um a boa tese d e seis meses.
Os requ is i tos d a tese de seis meses são os segu intes :
1 ) o t ema de v e s e r c i r cunscr i t o :
2 ) o t ema de v e s e r t anto quanto possível contemporâneo, p a r anão te r de se p rocurar uma b ib l iog ra f i a qu e remonte a os g re gos : o u então deve se r um t ema marg ina l , sobre o q u a l set enha escr i to mui to pouco;
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3) os documentos d c i odos os t ipos devem encont rar - se d i sponíveis n u m a área restrita e poderem se r faci lmente cons ultados.
Va m os d a r alguns exemplos. Se escolher como tema A igreja d eSanta Maria d o Castelo d e Alexandr ia, posso esperar encontrar tudoo que m e s i rva para reconst i tuir a su a história e as vicissitudes dos seusres tauros n a b i b l i ot e c a m u n i c i p a l d e A l e x a n d r i a e nos a rqu ivos d ac idade . D igo «posso esperar » porque estou a formular uma hipótese eme coloco nas condições d e um estudante que procura u ma tese d c seismeses. M a s terei d e informar-me sobre isso antes de a r rancar com oprojecto, para veri f icar s e a minha hipótese é válida. A lém d isso, tereide se r um estudante q u e reside na provínc ia d e A l e x a n d r i a ; se residocm Caltanisset ta. t ive uma péssima id éia. Além disso, existe um «ma s » .Se alguns documentos fossem acessíveis, mas se se tratassem de manuscritos medievais jama is pu bl icados, ter ia de saber a l guma coisa de paleo-graf ia, ou seja, de dominar uma técnica de leitura e decifração de manuscr i t os . E e i s qu e e s t e terna, q u e p a r e c i a tão fácil, se torna d i f íc i l .Se, pelo contrário, veri f ico que eslã tudo publ i cado, pelo menos desdeo século XTX para cá , movimento-mc e m terreno seguro.
O u t r o exemplo. Ra f f ae le L a C a p r i a c u m escr i tor contemporân eo qu e s ó escreveu três romances c u m l i v ro d e ensa ios , Foram to dos publ icados pe lo mesmo ed i tor , Bompia n i . Imag inemos uma teseco m o título A sor te de Raffaelle lu i ( .'apr ia na cr ítica italiana contemporânea , C o m o d e u m a mane i ra gera l os ed i tores lêm nos seusarqu ivos o s recortes d e imprensa d e todos os ensa ios cr ílicos e art i
gos publ icados sobre o s seus autores, c o m u m a serie d e v i s i t as àsede d a ed i tora e m M i l ão posso esperar pôr em f ichas a quase total idade d os textos qu e me in te ressam. Além d i sso, ò a u t o r está v ivoe posso escrever- lhe ou ir entrevistá-lo, colhendo out ras ind icaçõesbibliográficas c. quase d e ce r t eza , fotocópias de textos q u e m e in te r e s sam. N a t u r a l m e n t e , u m dado ensa io cr ítico remeter-mc-á para
outros autores a qu e L a C a p r i a é comparado ou contraposto. O campoalarga- se u m pouco, m a s d c u m modo r a zoáve l . E . d e p o i s , sc escol h i L a C a p r i a é porque já l enho a lgum inte resse pe la l i t e ra tura ita
l i a n a contemporânea, de ou t ro modo a dec isão t e r i a s ido tomadac in icamente , a f r io . c a o mesmo tempo imprud enteme nte.
Out ra t ese de seis meses: A in te rp re tação da Segunda Gue r raMundia l no s manuais de H istó r ia para a s escolas secundár ias doúltimo qüinqüênio. E t a lvez u m pouco compl icado de tec tar todosos manuais dc H is tór ia cm c ircu lação, mas as editoras e scolares não
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são tantas como isso. U ma ve z na posse d os textos ou das suas fotocópias, vê-se qu e estes assuntos ocupam poucas páginas c o trabalhode comparação pode ser feito, e bem. e m pouco tempo. E videntemente,não sc pode ava l i a r a forma como um manual f a la da Segun da Gue r raM u n d i a l sc não compararmos esle tratamento específico c om o quadrohistórico geral que esse manual o ferece ; e. portanto, tem de trabalhar--se u m pouco e m p rofund idade . Também não se pode começar semler admit ido como parâmetro uma meia dúzia de histórias ac red i ta da s d a Se g u n d a G u e r r a M u n d i a l . É c la ro que se eliminássemos todasestas forma s de cont rolo c r i t i co, a tese poderia fazer-se não em seismeses ma s nu ma semana, e então não se r i a uma tese d e l i cenc ia tura ,ma s u m a r t i go de jornal, talvez, arguto e b r i lhante , m a s incapaz d edocumentar a capac idade d e inves t igação do can d idato.
Se se qu iser f aze r a lese d e se i s meses , ma s t raba lhando ne laa ma h o r a p o r d i a . então 6 inútil c on t i n u a r a falar. V oltemos a os c on selhos dados no parágrafo 1.2: cop iem u m a tese qua lquer e pronto.
11.5. E necessár io s a b e r l ín gu a s e s t r a n g e i r a s ?
Es t e parágrafo n ão se d ir ige àqueles que p reparam uma tese n u m al íngua ou l i t e r a t u r a e s t r a n g e i r a . E , d e facto. dese jáve l que estesconheçam a língua sobre a qual vã o ap resentar a tese. O u melhor,ser ia desejável que. se se ap resentasse u ma t ese sobre um autor francês, esta fosse escrita em francês . E o que se faz em mui las un i
vers idades es t range i ras , e é jus to.
M a s ponhamos o p rob lema daque les qu e f azem uma tese c m f i loso f i a , e m s oc i o l og i a , em jurisprudência, em ciências políticas, emhistória ou era ciências n a tura i s . Surge sempre a necess idade de le rum l i v ro escr i to numa língua es t range i ra mesmo se a t ese fo r sobre
história i t a l i ana , seja e la sobre Da nte o u sobre o Renasc imento, dadoque i lustres especia l istas de D a n t e e d o Renasc imento escreveramem inglês ou alemão.
Habi tua lmcn le , nestes casos a proveita-se a oportunidade d a tese paracomeçar a ler numa língua qu e não se conhece. Mot ivado s pelo temae com um pequeno esforço, começa-se a compreender qualquer coisa.
Mu i t a s vezes urna língua aprende-se ass im. Gera lmente depois não seconsegue falá-la mas pode-se lê-la. E melhor que nada.
Se sobre um dado tema existe só um l ivro e m alemão e não se sabeesta língua, pode resolver-se o p rob lema ped indo a alguém para l e r o s
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capítulos considerados mais importantes; haverá o pudor de nào basear
demas iado o trabalho naquele l ivro mas, pelo menos, poder-se-á l eg i
t imamente integrá-lo na bibliograf ia, uma vez que fo i consultado.
M a s todos estes problemas são secundários. O p rob lema p r inc i
pa l é o segu inte : preciso d e escolher uma tese que não implique oconhecimento de l ínguas que não se i ou que não estou disposto aaprender . E por v e z e s escolhemos uma t ese s e m saber o s riscos qu e
i r emos corre r . Ent re tanto, ana l i semos a lgun s casos impresc indíve is :
1 ) Não se pode fazer uma tese sobre um auto r estrangeiro sees te auto r não for l ido no originai A coisa parece evidente se se t ra
ta r d e u m poeta, m a s mui tos pensam qu e para uma tese sobre Kant .sobre Freud o u sobre Adam S m i lh esla precaução não é necessária.
Pelo contrário, é-o p or duas r azões ; antes d e m a i s , n e m sempre estãot r aduz idas todas as obras daque le au lor c , po r v e z e s , a ignorânciad e u m texto menor pode comprometer a compreensão do seu p ensamento o u d a su a formação in te l ec tua l ; c m segun do luga r, dado umautor, a maior par te d a l i teratura sobre c ie está g e ra lmente na l íng u a e m q u e escreveu , e se o au tor está t r a d u z i d o , n e m sempre oestão os seus intérpretes; finalmente, nem sempre as traduções reproduzem f i e lmente o p ensamento d o autor, enquanto fazer uma t eses i gn i f i ca jus tamente redescobr i r o seu pensamento or i g ina l p rec i sa mente onde o f a l searam a s traduções ou d ivu lgações de vár ios gêneros; fazer uma tese s i g n i f i c a i r a lém d as fórmulas d i fund idas pe losm a n u a i s escolares , d o t ipo «Foscolo é clássico e L e op a r d i é românt ico» o u «P la tão é i d ea l i s ta e Ar is tóte les r ea l is ta » ou , a i n d a , «Pasca lé p e lo coração e Descar tes pe la r a zão » .
2 ) Não se pode fazer uma tese sobre um tema se as obras maisimportantes sobre ele estão escritas numa l íngua que não conhe
cemos. U m es tudante qu e soubesse op t imamente o alemão c nãosoubesse f r ancês , não p o d e r i a na prát ica f a z e r u m a t e s e sobreN i e t z s c h e . qu e . n o entanto, escreveu e m a lemão: e isto porque de hádez anos para cá algumas das mais importantes análises dc N i e t zscheforam escritas em francês, ü m e s m o se pode d i z e r para F rcud : se r i adifíc il reler o mestre vienense s e m l e r e m conta o qu e nele leramos rev i s ion is tas amer icanos c os estrutura listas franceses.
3 ) Não se pode fazer u m a lese sobre um auto r ou sobre um temal endo apenas a s obras escritas nas l ínguas que conhecemos, Q u e m
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n os d i z q u e a obra dec is iva não está escr i t a na única língua que nàoconhecemos? É certo qu e esta ordem de considerações pode condu
z ir à neurose , e é necessário proceder c o m b o m senso. H á regras d ehones t idade científica segundo a s qua is é lícito, se sobre u m autoringlês t iver sido escrito algo e m ja pon ê s , observar qu e se conhece aexistência desse estudo mas que não se pode lê-lo. Esta « l icença dei gn or a r » abarca gera lmente as línguas nào oc identa i s e as l ínguases lavas , d c modo que há estudos extremamente sérios sobre Marxque admi tem não ter t ido conhec imento d a s obras e m russo. M a snestes casos o es tud ioso sér io pode sempre saber (e mostrar saber ío qu e d i sseram em síntese aque las obras , dado qu e s e podem en contrar recensões ou extractos com resumos. Geralmente as revistas científicas soviéticas, búlgaras, checas, eslovacas. israe l i tas, e t c , forneceme m rodapé r esumos d os art igos e m inglês ou francês . M as se se t ra
ba lha r sobre u m autor francês, pode ser líc ito não saber russo, ma sé indispensável ler pelo menos inglês para contornar o obstáculo.
A s s i m , antes de estabelecer o tema d e uma tese, é n ecessário tera prudênc ia d e dar uma vista d e o lhos pe la b ib l iog ra f i a ex is t ente parater a certeza de que não há d i f i cu ldades lingüísticas s i gn i f i ca t ivas .
Cer tos casos s ão a p r ior i ev identes . E imposs íve l ap resentar umatese e m filologia grega s e m saber a lemão, dado qu e nesta línguaexistem muitos estudos importantes na matéria.
E m qua lquer caso. a t ese se rve para obter umas noções t e rmi -nológicas gerais sobre todas as línguas oc identa i s , u m a v e z q u e .mesmo que não se le ia russo, é necessário estar pelo menos e m c on dições de reconhecer os caracteres c ir ílicos e p erceber s e u m l i v rocitado trata de arte ou de c iência . Le r o c irf l ico aprende-se num serãoe basta confrontar alguns títulos para compreender que iskusstvo s i g
n i f i ca arte e nauha s i g n i f i c a c iência. E p rec i so não nos d e ixarmosater ror i zar : a lese de v e s e r entend ida como uma ocasião única parafazermos u m exercíc io que nos se rvirá pela vida fora.
Todas estas observações não têm em conta o facto dc qu e a melhorcoisa a fazer, se sc qu iser abordar uma b ib l iog ra f i a es t range i ra , é i rpassa r a lgum tempo no pa ís e m ques tão: mas i s to é um a soluçãoca ra . e a qu i p rocuramos da r conse lhos qu e s i rvam também para osestudantes que não têm es tas poss ib i l idades .
M a s a d m i t a m os u m a ú lt ima h ipó te s e , a m a i s c on c i l i a d o r a .Su p on h a m os qu e h á u m estudante qu e s c interessa pelo problemada pe rcepção v isua l ap l i cada à temática das artes. Este estudante
nã o sabe l ínguas estrangeiras e não tem tempo para a s aprender
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(o u le m bloqueios psicológicos: há p essoas qu e ap rendem o sueconuma semana e outras qu e e m dc/ anos n ào conseguem fa lar razoavelmente o francês) . Além d i s s o , l e m de ap resentar , p or motivoseconômicos , uma lese e m seis meses. Todavia, está s incerameniein te ressado n o s e u l ema. quer t e rminar a un ivers idade para t rabalhar, m a s d epois t enc iona re tomar o t ema escolh ido e aprofundá-locom mais ca lma. Temos lambem d e pensar nele.
B o m . este estudante pode encara r um tema d o l i po Os problemasda percepção v isual na s suas r e lações com as a r t es f igurativas cmalguns au tores con temporâneos . Será opor tuno traçar, antes d e mais ,u m quadro da problemática psicológica no tema, e sobre isto existe
um a sér ie de obras t raduzidas e m i tal iano, desde o Occhio e cervel lode Gregory a té aos textos maiores d a p s icolog ia d a forma e d a p s i
colog ia t ransacc iona l . E m seguid a, pode focar-se a temática de trêsautores , d igamos Arn he im, para a abordagem ges ia l t i s ta . Go mbr ichpara a semiológico-informacional e Panofsky para o s ensaios sobrea perspectiva d o ponto d e v ista iconológico. Nes tes três autores d i s
cute-se, corn base em três pontos d e v i s ta d i f e rentes , a relação entrena tura l i dade e «cu ltura l idad e » da percepção das imagens . Para s i tuarestes três au tores n um panorama d e fundo, h á a lgumas obras d e conj u n t o , p o r exemplo, os l i v ros d e G i l l o Dor f l es . U m a v e z t r aç ada scsias três p erspec t ivas , o estudante poderá ainda tentar reler os dadosproblemáticos obtidos ã l u z d e u m a obra de arte part icular, reformulando eventualmente uma interpretação clássica (p or exemplo, omodo como Longhi anal isa P i e ro de l i a Francescaí e comple tando-aco m os dados mais «contemporâneos» que Tecolheu. O produto f inal
não terá nada d e o r i g i n a l , ficará a me io caminh o ent re a tese p a n o râmica c a tese mon ográfica. ma s terá s ido possível elaborá-lo combase em traduções i ta l ianas. O estudante não será censurado por nàoter l ido todo o Panofsky . mesmo o que existe apenas e m a lemão ouinglês, porque não se tratará de uma tese sobre Panofsky , m a s d i urna tese sobre u m p rob lema, e rn que só se recorre a Panofsky para
u m determinado aspecto, como referência a a lgumas questões.
C o m o já se d i sse no parágra fo I I .1, este t ipo d e lese não é o maisaconselhável, dado que se corre o risco de s e r incomple to e genér ico: f ique claro que se trata d e u m exemplo d e t ese d e seis mesespara estudantes urgentemente interessados e m acumular dados p re l imina res sobre u m p rob lema pe lo qua l s in ta m uma atracçào espe
c ia l . Trata-se d e u m exped iente , m a s pode se r r esolv ido pe lo menosde uma mane i ra d igna .
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De qua lquer modo. se não se sabe línguas es t range i ras c se não
se pode aproveitar a preciosa ocasião da tese para começar a a preudê-
-las, a solução mais razoável é a lese sobre um lema especif icamente
i t a l i ano e m que as r e fe rênc ias à l i t e ra tura es t range i ra possam ser e l i
m i n a d a s ou r e s o l v i d a s r e c o r r e n d o a a lguns t extos j á t r a d u z i d os .
Ass im, quem quisesse fazer u m a tese sobre Mode los d o romancehistór ico nas obras narra tivas d e Gar ibaldi . d e v e r i a te r a lgumas
noções básicas sobre a s or i g ens d o romance histórico e sobre Walter
Scot t ( a lém d a polêmica o i locent i s i a i t a l iana sobre o mesmo assunto,
ev identemente ) , m a s poder ia encont rar a lgumas obras d e consu l ta
n a nossa língua e ter ia a p os s i b i li d a d e de l e r e m i tal iano pelo menos
as obras mais importantes d c Wa l t e r Scot t . sobre tudo p rocurand o na
bibl ioteca as traduções oitocentistas. E a ind a menos p rob lemas por ia
um t ema como A influência de Guerrazzi na cultura d o ressurgimento italiano. I s to. ev iden iemente , s e m nunca par t i r de u m op í i-
mismo preconcebido: e valerá a p ena consulta i1 b e m a s b ib l iog ra f i as ,
para ve r se houve au lores es t range i ros , e qu a i s , qu e tenham abor
dado este assunto.
11.6. Tese « c i e n t í f i c a » ou t e s e pol í t ica?
Após a conies iação es tudant i l d e 1968 . mani f es tou-se a opin ião
de que não se dever iam fazer teses de temas «cu ltura is » ou l i v res -
eos. m a s s i m l i g adas a d e te rminados in te resses políticos e soc ia i s .
Se é es la a questão, então o título do presente capítulo é p r ov oc a -
tório e enganador , porque fa z p ensar qu e u ma lese «p ol í t ica » não é
« c i e n t í f ic a » . O r a , n a un ivers idade f a la - se freqüentemente d a ciên
c ia , d e c i ent i f i c idade . d e inves t igação c ient íf ica , d o va lor c ientífico
de u m trabalho, e este termo pode d a r lugar quer a equívocos i n v o
luntários, quer a mis t i f icações ou a suspe i tas i líc itas de e m b a l s a -mamemo d a cultura.
IT.6.1. Que é a cientif icidade?
Para a l g u n s , a ciência i d ent i f i ca - se com as c iênc ias na tura i s ou
co m a inves tigação em bases quant i t a t i vas : uma investigação não é
científica se não p rocede através de fórmulas e d iag ramas. Nes ta
acepção, por tanto, n ão se r i a c ientífico ura estudo sobre a mora l e m
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Aristóteles, mas também não o se r i a u m estudo sobre consciênciade c lasse e r evol tas camponesas durante a r e forma p rotes tante .Ev identemente , nào é este o sent ido que se dá ao termo «c ient í f ico»na un ivers idad e . Procuremos, pois . de f in i r a que t í tu lo um trabalhopode d i ze r - se c ientífico em sentido lato.
O modelo pode muito bem ser o d as ciências naturais como foramapresentadas desde o in ício da i dade moderna. U ma pesqu isa é c i e n tífica quando responde a os segu intes requ is i tos :
1 ) A pesquisa debruça-se sobre u m objecto reconhe cível e definido de ta l modo que seja igualmente reconhe cível pelos outros,O termo objecto não tem necessariamente um s ignif icado físico. A ra i zquadrada também é um objecto. embora nunca ninguém a tenha visto.
A classe social é u m objecto de estudo, ainda que alguém possa contesta r qu e s e conhecem apenas indivíduos ou m édias estatísticas c nãoc lasses p ropr iamente d i t as . M as . então, também não ter ia real idadefísica a classe d e todos os números inteiros superiores a 3 7 2 5 , dc qu eser ia muito na tu ra l q u e u m matemático se ocupasse . De f in i r o objectos i g n i f i c a ass im, de f in i r as condições em qu e podemos falar dele base-ando-nos c m algumas regras qu e esta belecemos ou qu e outros estabeleceram antes de nós . Se f ixarmos as regras segundo a s qua is urnnúmero in te i ro super ior a 3725 possa s er reconhecido onde quer qu ese encontre, teremos estabelecido a s regras d e r econhec imento d onosso objecto. Surgem evidentemente problemas s e , po r exemplo,temos d e falar d e um ser fabuloso cuja inexistência é geralmente reconhecida , como o centauro. Neste caso, temos três p oss ib i lidades . E mprimeiro lugar, podemos decidir falar d os centauros tais como sãoapresentados na mitologia clássica e, ass im, o nosso objecto torna-sepubHeamente reconh ecível e identificável, dado que trabalhamos c o mtextos (verbais ou v i sua is ) e m qu e se fala d e centauros. Trala-se entãode d i ze r qua is as carac te r ís t icas qu e deve te r um ser de qu e fala a
mitolog ia clássica para q u e seja reconhecível como centauro.
E m segundo lugar, podemos ainda decidir levar a cabo uma i n d a
gação hipolética sobre as características que deveria te r u ma criatura
que vivesse num mundo possível (que não é o real) para poder ser umcentauro. Temos então de d e f in i r as condições de subsistência destemundo possível, sub l inhand o qu e todo o nosso estudo se processa n oâmbito desta h ipótese. Se nos mantivermos rigorosamente f ié is ao p res suposto in ic ia l , podemos dizer qu e falamos de u m «ob jec to» que lemu ma certa possibi l idade de s e r objecto de investigação científica.
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E m terceiro lugar, pode mos de cidir q u e t emos p rovas su f ic i en
tes para demonstrar qu e os centauros exis t em, d e facto. Neste caso.
para const i tu i r u m objecto sobre o qu a l se possa trabalhar, teremos
de pro duz ir provas (esqueletos, restos d e ossos, impressões em l avas
vulcânicas, fotograf ias efectuadas c o m raios infravermelhos nos bos
ques da Gréc ia ou ou t ra coisa qua lquer ) , d e modo a qu e os outros
possam admi t i r o facto d e , seja a nossa h ipótese correcta ou e r rada ,
haver algo sobre qu e se pode discut ir .
É c l a r o qu e este exemplo é p a r a d oxa l e não c re io que a lguém
que i r a fazer teses sobre centauros, sobretudo n o q u e s e r e f e r e à
t e r c e i r a a l t e r n a t i v a , m a s p e r m i t i u - m e m os l r a r c om o, e m c e n a s
condições , se pode sempre const i tu i r u m objecto de inves t igação
publ icamente reconhecível. E se se pode fazê - lo com os centauros .
mesmo se poderá d i z e r de noções como comportamento mora l ,desejos, valores ou a idéia d o progresso histórico.
2 ) A p esqu isa de v e d izer sobre esle objecio coisas qu e não tenhamjá s ido di tas ou rever c o m u ma óptica d i fcrcnie coisas que j á foramditas. U m trabalho matematicamenle exacio qu e servisse para demonst rar pelos métodos t rad ic iona is o leorcma dc Pitágoras não seria u mtrabalho c ient íf ico, u ma vez que não acrescentaria nada a os nossosconhecimentos. Seria, quando muito, u m b om t raba lho d e d i v u l g a ção, como um manu al qu e ens inasse a construir uma casota para cãout i l i zando madeira, pregos, p l a ina , serra e mar te lo. Com o j á d i ssemosem I.I.. também uma lese d c compilação pode ser cienti f icamente útilna medida em que o compi lador reun iu e r e lac ionou de uma formaorgânica as opiniões já expressas p or outros sobre o mesmo tema. D amesma maneira, um manual dc instruções sobre como fazer u ma casota
para cão não c trabalho c ientífico, m as a uma obra qu e confronte ediscuta todos os métodos conhec idos para f azer uma casota para cãopode j á atr ibuir-se uma modesta pretensão de c i ent i f i cidade .
Há só que te r presente u m a c o i s a : u m a obra de compilação sótem uti l idade científica se não ex i s t i r a inda nada de semelhante nessec a m p o . S c ex i s t em já obras comparat ivas sobre sistemas para caso-ta s dc cão. f aze r uma i gua l é p erda d e t empo (ou plágio ) .
3 ) A pesquisa deve ser úti l ao s outros. E út i l um art igo qu e apresente uma nova descoberta sobre o comportamento das pa rtículas elementares. E útil um art igo qu e conte como fo i descoberta uma cartainédita d e Leopard i e a transcreva p or inteiro. U m trabalho é científico
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sc (observados os requisitos expressos n os ponlos I e 2 ) acrescentai'alguma coisa àquilo que a comunidade já sabia c se iodos os tnibalhosfuturos sobre o mesmo tema o t iverem, pelo menos cm icor ia. d e tomarem consideração. Evidentemente, a importância científica é proporcio
na l a o g r a u dc indispcnsabüidade que o contributo exibe. H á cont r ibutos após os quais os estudiosos, se nào os t iverem e m conta, não podemdizer nada d e posit ivo. E há outros que os estudiosos não f a r i am malem ter em conta mas, sc não o fizerem, não vem mal nenhum ao mundo.Recentemente, foram publicada s cartas qu e James Joycc escrev ia ãmulhe r sobre escaldantes problemas sexuais. E claro que alguém queamanhã estude a gênese da p ersonagem de Mol l y B loom no Ulisses deJoyce. poderá ser ajudado pelo faelo de saber que. na vida privada, Joyceatribuía à mulher uma sexualidade viva e desenvolvida com o a d c M o l l y ;i ra ia-se. portanto, d e u m úti l conlribulo c ientífico. Po r outro lado. há
admiráveis interpretações d c Ulisses e m qu e a p ersonagem M ol ly éfocada de uma maneira corrccia mesmo s e m se terem e m conta aqueles dados; trata-se. portanto, dc u m contributo dispensável. Pe lo contrário, quando f o i publicado S tephen He iv . a pr imeira versão do romancejoyc iano Retra to do artista quando jovem, todos est iveram d e acordoque e ra essenc ia l lê-lo e m consideração para compreender a evoluçãodo escritor irlandês. Era um contributo científico indispensável.
O r a . qualqu er um poderia revelar um desses documen tos que, freqüentemente, são objecto d e i ron ia a propósito dos r igorosíssimosfilólogos alemães, que se chamam «contas da lavade ira » , e que sãoefect ivamente textos d e va lor ín f imo, em que talvez o autor tenhaanotado as despesas a fazer naquele d ia. P o r vezes, dados deste gênerolambem são úteis, pois podem conferir um tom d c h u m a n i d a d e a u m
artista qu e todos s u p u n h a m i s o l a d o d o m u n d o , o u r eve lar qu e nesseper íodo e le v iv i a assaz pobremente . Out ras vezes, p e lo contrário, nãoacrescentam nada àquilo que já se sab ia , sã o p equenas cur ios idadesbiográficas e não têm qua lquer va lor c ientífico, embora haja pessoasque ar ran jam fama de inves t i gadores incansáveis r eve lando semelhantes inépc ias . Não que sc deva desen corajar quem se d iverte afazer semelhantes investigações, ma s não se pode f a la r d e progressodo conhec imento humano e se r i a mui to mais útil. se não d o ponto d evista c ientífico pelo menos d o pe da góg ico , escrever u m b om l i v r i -
n h o de divu lgação que contasse a v ida e r esumisse a s obras d o autor.
4 ) A pesquisa deve fo rnecer os e lementos para a conf i rmação epara a reje ição d as h ipóteses que apresenta c. portanto, de v e fornecer
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os elementos para uma possível continuação pública. Este é u m r e qu i sito fundamental. Eu posso querer demonstrar q u e existem centaurosno Pe loponeso. ma s de v o f aze r quat ro coisas p rec isas : a ) p r od u z i rprovas ( como se disse, pelo menos um osso caudal ) ;b) d izer como proced i para enconl rar o achado; c ) d i ze r como se deveria proceder paraencontrar outros; d ) d i ze r poss ive lmente qu e t ipo d c osso ( ou de outroachado), n o di a e m q u e fosse encontrado, destruir ia a minha hipótese.
Deste modo, não só forneci a s p rovas d a minha h ipótese , masproced i d e modo a qu e ou t ros possam cont inu ar a procurar, seja pa raa conf i rmar se j a para a pôr em causa .
O mesmo sucede co m qualquer outro tema. Admitamos que façou ma tese para demonst rar qu e num mov imento ext rapar lamentar d e
1969 havia duas componentes, u ma len in ista c outra t rotskista, emborase considere geralmente que e le e ra homogêneo. T e n h o d e apresentardocumentos (panfletos, reg istos dc assemblé ias , a r t i gos , e tc . ) p a r ademons l rar q u e lenho razão; terei de d izer como procedi pa ra encon lrar aquele material e onde o encont re i , d e modo qu e outros poss amcont inuar a invest igar naquela direcção; e terei de d i ze r segundo qu ecritério atribuí o material d e p rova a membros desse gru po. P o r exemplo, sc o grupo se dissolveu em 1970 , tenho de dize r se considero expressão do grupo apenas o material teórico produzido pelos seus membrosat é t a l da ta (mas , então, terei d e d izer quais os cr itér ios qu e me levama conside rar certas pessoas membros d o grupo: inscrição, participaçãona s assembléias, suposições d a polícia? ) : ou se considero a inda textosproduzidos p or ex-membros d o g rupo após a su a dissolução, part indod o pr incípio de que . s e expressaram depois aquelas idéias, isso s i gn i fica que já as cult ivava m, talvez e m su rd ina , durante o per íodo de ac t i
vidade d o grupo. S ó desse modo forneço aos outros a possibi l idade d efazer novas investigações e de mostrar, p or exemplo, que as m inhasobservações estavam erradas porque, d igamos, nào se pod ia cons ide
ra r membro d o grupo um fulano q u e fazia parte dele segundo a políciama s qu e nunca fo i reconhecido como t a l pelos outros membros, pelomenos a ava l i a r pe los documentos de qu e se dispõe . Apresentámosass im u ma hipótese, provas e processos d e confirmação e de reje ição.
Esco lh i p ropositadamente temas muito diferentes, justamente parademonst rar qu e os r equ is i tos d e ci ent i f i c idade podem a p l icar - se aqualquer t ipo de investigação.
T u d o o que acabe i de d i z e r re fere-se ã opos ição art i f icia l entretese «c ient í f ica » e lese « po l í t i c a » . P ode fazer-se um a lese polít ica
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observando Iodas a s regras d e cientif icidad e necessárias. Pode també m haver uma tese q u e r e la t e uma experiência de informação a l t e r na t i va med iante s i s t emas aud iov isua is n u m a c om u n i d a d e operária:el a será científica na med ida e m q u e documentar de modo públicoe controlável a minha experiência e p ermi t i r a alguém refa zê-la quer
para obter os mesmos resu l tados , quer para descobr i r qu e os meushavi am s ido casua is e nào era m efect ivamente devid os à m i n h a intervenção, mas a outros factores que nào cons idere i .
0 aspec to pos i t i vo dc u m método c ient í f ico é qu e e le nunca f a zperder t empo a os ou t ros : mesmo t raba lhar n a es t e i ra d e u m a h ipótese c ientífica, pa ra depois descobr i r que é necessário refutá-la. s i g
n i f i ca ter fe i to qualquer coisa d c útil sob o impulso d e uma p ropostaanterior. S e a minha t ese se rv iu para es t imular alguém a fazer outras
exper iênc ias d e contra - in formação entre operários ( m e s m o se osmeus pressupostos eram ingênuos ) , consegu i a lguma coisa de útil.
Neste sent ido, vê-se que não há oposição entre tese c ientífica etese pol í t ica . Por um lado, pode d i ze r - se qu e todo o t raba lho c i entífico, na med ida e m qu e contr ibui para o d esenvolv imento d o conhec imento a lhe io, te m sempre u m va lor pol í t ico pos i t i vo ( t e m va lorpolítico negat ivo toda a acção que t enda a b loquear o p rocesso d econhec imento) , ma s . por out ro, d e v e d i ze r - se c o m toda a segurançaque qua lquer empreend imento político com poss ib i l idade d c sucessode v e t e r uma base de seriedade c ientífica.
E , como v i ra m, pode f azer -se uma tese «c ient í f ica » mesmo s e mu t i l i z a r os logar i tmos o u a s provetas.
II.6.2. Temas h islór ico-teór icos ou exper iências «cfuentes »?
Nesta a l tu ra , p orém, o nosso problema i n i c i a l apresenta-se refor
mulado d e outro modo: se rá mais úii l fazer uma tese de e rudição ouuma tese ligada a exper iências práticas, a empenlia mentos sociaisdirectos? P o r outras palavras, será mais útil fazer uma tese em quese fale d c autores célebres ou de textos a ntigos, ou u ma t ese que meimponha um a inte rvenção d i rec ta n a eontempora neidad e. se ja estaintervenção d c ordem teórica (por exemplo: o conceito de exploraçãon a ideologia ncocapital ista) ou de ordem prática (por exemplo: pes
quisa da s condições dos habitantes d e barracas na peri feria de Roma)?
Só por s i . a pergunta é oc iosa . Cada um f a z aqu i lo que lhe agrada,e. se um estudante passou quatro anos a estudar f i lo log ia românica, n i n -
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guém pode pretender que s e ocupe dos habitantes das barracas, tal comoseria a bsurdo pretender u m acto d e «humildade acadêmica» da parte dequem passou quatro anos com Da nilo D o l c i . pedindo-lhe uma tese sobreos Reis de França .
M a s suponhamos qu e a p ergunta é fe i ta p o r u m estudante e mcr i s e , qu e pergunta a s i mesmo pa ra qu e lh e servem os estudos un i
versitários e. espec ia lmente , a exper iênc ia da l ese . Suponh amos qu eeste estudante tem interesses p olíticos e socia is acentuados e qu e t emet ra ir a s u a vocação d ed icando-se a temas « l iv reseos » .
O r a , s e e l e j a se encont ra mergu lhado numa experiência político--soc i a l q u e l h e d e ixa ent rever a poss ib i l idade d e d a í ext ra i r um d i s
curso conc lus ivo, se rá bom que encare o p rob lema d c como tratarc i ent i f i camente a su a experiência.
M a s se esta experiência nào foi fe i ta, enlào parece-me qu e 3 pergun ta exprime apenas numa inquietação nobre, mas ingênua. D issemosjá qu e a experiência de investigação imposta p o r um a tese serve sempre para a nossa vida futura (p rof i ss iona l ou política) , c não tanto pelotema que se escolher quanto pela preparação que isso impõe , pela escoladc rigor, pela capacidade d e organização do material que e la requer.
Paradoxa lmente , poderemos ass im d i ze r q u e u m estudante c o minteresses políticos não os trairá se f ize r uma tese sobre a recorrênci a d o s p r on om e s d e m on s t r a t i v os n u m e s c r i t o r de botânica doé c u l o x v m . O u sobre a teoria d o impetus n a ciência p ré-galilaica.
O u sobre a s g eometr ias nã o e u c l i d i a n a s . O u sobre o nasc imento d od i re i to eclesiástico. Ou sobre a sei la mística dos hes icas tas 2. O u sobrea m e d i c i n a árabe med ieva l . O u sobre o a r t i go do cód i go de d i re i topena l r e la t i vo à agitação na s praças públicas.
Podem cu l t i var - se in te resses pol í t icos , por e xe m p l o s i n d i c a i s ,mesmo fazendo uma b oa tese histórica sobre os movimentos operár ios do século passado. Podem compreender-se as exigências contem
porâneas de contra-informação jun to das classes subalternas estudandoo est i lo, a difusão, as modalidades produtivas das xi lograf ias popularesn o pe r íodo do r ena sc imento.
E . para s e r polêmico, aconse lhare i a o estudante que a té hoje sót enha t ido ac t iv idade política e soc ia l , jus tamente uma des las l eses .
: llesicasia monge grego dc uma seiia (sécs. xt-xiv) cujo fim era o dc viverdc acordo com as regras d c solidão para atingir a tranqüilidade cspiritti.il. Bascia--sc na doutrina da transfiguração emanada da divindade, modificando o aseeiismosinaita c o misticismo dc Simeãu. (NR)
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e não o r e la to d a s suas experiências d i rec tas , pois é evidente qu e otrabalho d c lese será a última oportunidade qu e terá para obter conhec imentos h istér icos, leóricos e técnicos c para ap render s i s t emas d edocumentação (além de ref lect ir a par t i r d e u m a base mais amplasobre os pressupostos teóricos ou históricos do seu trabalho político) .
Evidentemente, esia é apenas a minha opin ião. E p or respeitar unia
opinião diferente qu e me coloco no ponto de vista de quem. mergulhadonuma act ividade política queira util izar a tese ern vista d o seu trabalhoc as suas experiências d c trabalho político para a redacção da tese.
Isto é possível e pode fazer-se u m ópt imo t raba lho; ma s de v od i z e r , c o m toda a c la reza c sever idade , uma sé rie d e co i sas , p rec i samente e m defesa d a r espe i t ab i lidade d e uma in ic ia t i va deste t ipo.
Sücctíe po r vezes qu e o estudante atamanca uma centena de páginas
qu e reúnem panfletos, reg istos d e debates, descrições de act ividadese estatísticas eventualmente tornadas de empréstimo dc um trabalhoprecedente, e apresenta o seu trabalho como t ese «pol í t ica » . E a c on
tece p or ve/cs que o júri de tese. por preguiça, demagogia ou incompetência, considera o trabalho bom. Trata-se, pelo contrário, de umapalhaçada e não apenas relat ivamente a os critérios universitários, masmesmo relat ivamente aos cr itérios políticos. Há u m modo sér io e ummodo irresponsável de fazer política. U m político que d e c ida um p lanode desenvolvimento sem ter informações suf icientes sobre a situaçãoda sociedade é, quando não um criminoso, pelo menos um pa lhaço.E podemos prestai' um p éssimo serviço ao nosso part ido político fazendo
u ma tese política destituída d e requisitos científicos.
Dissemos e m IT.6.1. quais sã o estes requisitos e como eles sàoessenc ia i s para uma intervenção política séria. U ma v e z . v i u m es tu dante q u e fazia um exame sobre problemas dc comunicação de massas a f i rmar qu e hav ia f e i to um « inquér i to» ao públ ico da te levisãoj u n t o d os t raba lhadores d e u m a d a d a zon a . N a r ea l idade , t inha inter
rogado, d e g ravador e m punho, uma dúz ia d e habitantes do s subúrbios durante duas v iagens de comboio. Er a na tu ra l qu e o qu e se r e t i rava desta transcrição de op iniões não fosse um inquérito. E não apenasporque nã o t inha o s r equ is i tos d c ve r i f i cab i l idade d e u m inquér itodigno desse nome, ma s também porque os resultados q u e da i s e t i r a
vam eram coisas qu e podíamos muito bem imaginar sem fazer inquér i tos. Para d a r um exem plo, pode pre ver-se. mesmo f icando sentadoà secretária, qu e, de d o z e p essoas , a maior ia d iga qu e gosta de ve ras transmissões d i rec tas dos j o g o s d e futebol. A s s i m , ap resentar umpseudo-inquérito de tr inta páginas para chegar a este belo resultado
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é u m a palhaçada. E é o es tudante qu e s e e n g a n a a e le própr io p ens a n d o t e r obt ido dados « ob j e e t i v os » , qu a n d o s e l imitou a conf i rmarde uma forma aproximada a s s u a s opin iões .
O r a . o r isco da superf ic ial idade apresenta-se e m espec ia l ãs tesesde caracter pol í t ico, por duas r azões : a ) porque n u m a tese h istóricaou filológica ex i s t em métodos t rad ic iona is de inves t igação a que oinves t i gador não se pode subtra ir, enqua nto para trabalhos sobrefenômenos soe ia i s c m evolução mui tas vezes o m étodo tem dc se rinventado ( p o r este mot ivo, freqüentemente u ma b oa t ese política émais d i f íc i l do que u m a tranqüila t ese h is tór ica ); b ) porque muitametodologia da investigação s oc i a l «à amer icana» observou os método s estalístico-quantitativos, p roduzindo es ludos enormes que nãocon t r ibuem para a compreensão d os fenômenos r ea i s e , po r conseqüência, mui tos j ovens pol i t i zad os assumem u m a a t i tude d e d es confiança r e la t i vamente a es ta soc iolog ia que , quando mui to, é uma«soc iometr ia » , acusando-a de servir pura e s implesmente o s istema deque const i tu i a cober tura ideológica : contudo, para reag i r a este t ipode inves t igação tende-se p or v e z e s a não fazer investigação a l g u m a ,t rans formando a tese numa seqüência dc pa nf l e tos , d e ape los o u d easserções meramente teóricas.
C o m o se escapa a este risco? D e muilas maneiras: analisando estudos « sé r ios » sobre temas semelhanles, não s c lançando n um trabalhode investigação soc ia l s e . p e lo menos , não sc acompanhou a a c t i v i dade de um g rupo já com a lguma experiência, munindo-se d e algunsmétodos d e recolha e análise do s dados , n ão contando fazer e m poucassemanas trabalhos de investigação que h abitualmente são longos e difíceis. .. Ma s como os problemas variam segund o os campos, os temas ea preparação do estudante — e não sc podem da r conselhos genéricos— l imitar-me-ei a um exemplo. Es colherei um tema «nov íss imo» , parao qual parece não exist irem precedentes de investigação, u m tema d eactualidade escaldante, de indubi laveis conotações políticas, ideológicas
c práticas — e que muitos professores tra dicionalistas def iniram como«meramente orn alístico»: o fenômeno da s estações de rádio independentes.
II.6.3. C omo Transformar um assunto d a actualidade em tema
científico
É sab ido qu e n a s g randes c idad es su rg i ram dezenas e d ezenas
destas estações, que há d u a s . três e quatro mesmo e m centros d e
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u ma centena d e m i lhar d c ha b i tantes , q u e e las aparecem e m toda apar te . Q u e s ão d e na tureza política ou de n a t u r e za c om e r c ia l . Q u etêm p rob lemas l ega i s , mas que a leg is lação é ambígua c es tá emevolução, e ent re o momento e m qu e e sc r evo (ou faço a tese ) e omomento e m q u e este l i v r o fo r publ icado ( ou a t ese fo r d i scut ida )a situação ler-se-á já alterado.
Terei pois. antes d e m a i s . d e d e f in i r com exactidão o âmbito geográfico e t empora l d o meu es tudo. Poderá ser apenas As rádios livresde 1975 a 1976, mas terá de se r comple to. Se d ec id i r ana l i sar ape na s as rádios m i lanesas . sej am as rádios m i lanesas , ma s toda*;. D eoutro modo. o m e u es tudo será incomple to, uma v e z qu e pode d a r --s e o caso de t e r d escurado a rádio mais s i gn i f i ea l i va quanto a programas, índice d c audiência, composição cultural d os seus responsáveisou loca l ização (peri feria, bairros, centro).
Ad m i t a - s e qu e d ec id i t raba lhar sobre urna amost ra nac iona l d ctrinta rádios : t e re i d c estabelecer o s cr itér ios de escolha d a amostrac, se a r ea l idade n ac iona l é que p a r a c a d a c i n c o rádios políticas hátrês comerc ia i s (o u para c inco de esquerda uma d e ext rema -d i re i t a ) .nã o d evere i escolher u m a amost ra d e t r in ta rádios em que v in te enove se j am pol í t icas e de esquerda ( ou v ice-vers a), porque dessemodo a i m a g e m qu e do u do fenômeno será à med ida d os meus desejo s o u d o s meus temores e não à med ida d a s i tuação r ea l .
Podere i a inda dec id i r (e voltamos à t ese sobre a existência decentauros num mundo poss íve l ) r enunc iar a o es tudo das rádios ta lcomo são e. pelo contrário, propor um projecto d e rádio l ivre ideal.M a s neste caso, p o r u m l a d o , o projecto tem de se r orgânico e r ea l i s ta (não posso pressupor a existência d e apare lhos que nào ex i s te m ou que não são acessíveis a um pequeno g rupo p r ivado) e . poroutro, n ão posso e laborar u m projecto id eal s e m t e r e m conta a sl inhas t endenc ia i s do fenômeno r ea l , pe lo q u e . a in da nes te caso. éindispensável um es tudo p re l imina r sobre as rádios existentes.
E m segu ida , devere i tomar públicos os parâmetros de definiçãode « rádio l iv re » , isto é . tornar publicamente identificável o objecto d cpesqui sa .
E n t e n d o po r rádio l i v re apenas uma rádio de esquerda? O u umarádio f e i t a p o r u m p equeno g rupo em situação s e m i l e g a l e m terr itór io nac iona l ? O u u m a rádio nào d ependente d o monop ól io, a i n d aque porventura s e trate d e u ma rede a r t i cu lada co m propós i tos m e r a mente comerc ia i s? O u d e v o te r presente o parâmetro t e r r i tor i a l econs iderar rádio l i v re apenas uma rádio de S. M a r i n o ou de M on t e
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C a r i o ? Se j a como for, terei d e expor o s meus cr itér ios e exp l icarp or q u e exc luo cer tos f e n ôme n os do c a m p o de in v e s t i ga ç ão ,Obv iamente , os cr itér ios deverão ser razoáveis, ou os termos q u eu t i l i z o te rão de se r d e f in idos d e u m a forma não equívoca : possod e c i d i r q u e . p a r a m i m . só são rádios l i v res aque las qu e expr imem
u ma p os ição de ext rema-esquerda . mas então l enho de t e r e m contaque geralmente com a des ignação « rádio l iv re » se referem lambemoutras rádios e não posso enganar o s meus leitores fazcnd o-lhes crer
ou q u e f a lo também d e las o u q u e e las n ão ex i s t em. N es t e caso, tereide espec i f i car qu e contesto a des ignação « rádio l iv re » para as rádiosqu e nã o quero examinar (ma s a exc lusão deverá se r jus t i f i cada ) o uescolher para as rádios de qu e me ocupo uma denominação genérica
C h e g a d o a este ponto, deverei descrever a estrutura d e u ma rádiol ivre s ob o aspec to organ i za t ivo. econômico c jur ídico. Se n a l g u -
mas de las t raba lham prof i ss iona is a tempo inteiro c nout ras t rabalham mil i tantes rotat ivamente, terei d e const ru i r uma t ipolog ia orga-
n i z a t i v a . D e v e r e i ve r se todos estes t ipos têm características comunsque s i rva m para de f in i r um mode lo abs t rac to de rádio independente,ou se a expressão « rádio l iv re » cobre uma série mult i forme de exper iências mui to d i f e rentes . E eompreendere i s imed ia tamente comoo r i g o r c ientífico dcs la análise também é útil para e fe i tos práticos,um a v e z qu e . s e qu isesse const i tu i r u ma r ád io l i v re , t e r i a d e saberqua i s são as condições õptimas p a r a o seu func ionamento.
Para const ru i r uma t ipolog ia qu e s e possa tomar e m cons idera-, podere i , p o r exemp lo, proceder à elaboração de um quadro qu e
inclua todas as características p ossíveis em função da s várias rádiosque es lou a ana l i sa r , tendo na vert ical as características d e uma dadarádio e na hor i zonta l a freqüência estatística de uma dada carac te rística. Apresentamos a segu i r u m exemplo puramente or i entador cde dimensões reduzidíssimas, r espe i t ante a quat ro parâmetros — apresença de operadores p rof i ss iona is , a proporção música-palavra,a presença de publ ic idade e a carac te r ização ideológica — a p l i c a do s a sete rádios imaginárias.
U m quadro des te gênero d i r - m e - i a , p o r exemplo, q u e a R ád ioPo p é fe i ta p o r u m g rupo nã o p r o f i s s ion a l , c o m u ma caracter izaçãoideológica expl íci ta , que t ransmi te mais música d o que intervençõesf a ladas e qu e ace it a publ ic idade . E . s imul taneamente , d i r -me- ia qu ea presença da publicidade ou o predomínio d a música sobre o elementofalado n ão são necessariamente opostos à caracter ização ideológ ica,d a d o qu e encont ramos pe lo menos duas rádios nestas condições .
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e n qu a n t o s ó u m a única com caracter ização ideológica c predomínio
do e lemento f a lado sobre a música. Por ou t ro lado. não há nenhuma
se m caracter ização ideológica que não t enha publ ic idade e e m qu e
prevaleça o e l emento f a lado, E ass im por d iante . Es te quadro é p u r a
mente hipotético e cons idera poucos parâmetros e poucas rádios;
por tanto, nã o p ermi te t i rar conclusões estatísticas d i gnas d e c on s i
deração. T ra tava- se apenas d c u ma sugestão.
M a s como obter esles dados? A s fontes são três: dados of ic i a i s ,
dec larações d os in te ressados c protocolos de audição.
Dados of ic iais: são sempre os mais seguros , m a s sobre as rádios
independentes exis t em mui to poucos . Normalmente , h á u m r eg i s to
na s au tor idades de segurança públ ica . E m segu ida , dever ia haver
n um notário o ac to const i tu t ivo d a soc iedade o u qua lquer coisa d o
gênero, mas nào se sabe se é possível vê-lo. Se se c h e g a r a u m a
regulamentação m a i s p r e c i s a , poderão encont rar - se out ros dados ,
'a s de momento nào há mais nada. Lembremos, todav ia , qu e dos
dados of ic i a i s f azem par te o n om e , a b a n d a de transmissão e as horas
de ac t iv idade . U m a t ese qu e fornecesse pelo menos esles três e l e
mentos para todas as rádios cons t i tu i r i a j á u m cont r ibuto útil.
As dec la rações dos interessados. P a r a o e fe i to in te r rogam-se o s
responsáve is da s rádios . O que d i s s e r e m c on s t i t u i u m dado ob j ec -
üvo, desde qu e se j a ev idente , qu e s e t ra ta daqui lo que e les d is
seram e d esde que os c r i té r ios de r ecolha d a s ent rev i s tas se j am
homogêneos . T ra ta - se d c e laborar um ques t ionário, dc modo a q u e
todos respondam a todos os t emas qu e cons ideramos impor tantes ,
e qu e a r ecusa d e r esponder sobre u m d e te rminad o p rob lema se j a
reg i s tada . N ão é obr iga tór io que o ques t ionár io seja s eco e c on c i s o ,
para s e r r e s p on d i d o c o m u m s i m o u u m n à o. S e todos os d i r e c t o -
res f i ze rem uma declaração programática. o r eg i s to d c todas estas
dec larações poderá c on s t i t u i r u m documento útil. E n t e n d a m o- n os
bem sobre a noção de «dado ob jec t ivo» num caso des te t ipo. Se o
d i rec tor d i z « n ós n ão t emos ob j ec t ivos pol í t icos e não somos f i n a n
c iados po r n in gu é m» , i s to n ão s i g n i f i c a qu e e l e d i g a a ve rdade : m a s
é u m dado ohjectivo o f ac to de a emissora se ap resentar publ i ca
mente c o m esse a s p e c t o. Q u a n d o m u i l o , poderá refutar-se esta af ir
mação através de um a análise crítica d o conteúdo d os p rog ramas
t r ansmi t idos p or aque la rádio. C o m o qu e chegamos à terceira fonte
de informação.
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Protocolos de aud ição. É o aspecto d a t ese em qu e poderá ass i
nalar-se a d i fe rença entre o t raba lho ser io e o t raba lho d i l e tante .C on h e c e r a a c t i vi d a d e de u m a r ád io independente s i gn i f i ca tê-laacompanhado durante a lguns d ias . d igamos u m a s e m a n a , h o r a ahora . e laborando uma espécie de g re lha qu e mostra o que transmitee quando, qua l a duração das rubricas, tempo dc mús ica e do e le mento falado, quem part icipa n os debates, s c e x i s t e m e sobre quetemas, e a s s i m p o r d iante . N a t ese nã o poderemos inc lu i r tudo oque t ra nsmi t i ram durante a semana, m a s poderemos referir os e le mentos s i gn i f i ca t ivos (comentários a canções, compassos d e espen idurante u m debate, m odos de da r u ma n o t íci a ) dos quais ressalteu m p er f i l artístico, lingüístico e ideológico da emissora e m questão.
E x i s t e m mode los de p r otocolos de audição da rádio e da televi
sã o e laborados durante a lguns anos pe la A R O I d c Bo l on h a , on d eforam cronometradas a extensão da s notícias, a recorrência d e cer-los termos e ass im por d iante . Um a ve z f e i to este es tudo para váriasrádios, poderemos proceder às comparações : por exemplo, como amesma canção ou a mesma notícia de ac tua l idade fo i apresentadapor duas o u mais estações d i ferentes.
Poder íamos a i n d a c omp a r a r os p rog ramas da rádio de monopóli o com os da s rádios independentes : proporção música-clcmcntof a lado, proporções entre notícias e passatempos, proporções entrep rogramas e p u b l i ci d a d e , proporções enlre música clássica e músical ige ira, entre música i t a l iana e música estrangeira, entre música l igeira
t r ad i c iona l e música l i g e i r a « jovem™, etc. C o m o se vê. a par t i r d eu ma audição sistemática, munidos d c u m g ravador e de u m lápis ,podem t i rar - se mui tas conclusões que p rovave lmente não se man i festariam n a s ent rev i s tas aos responsáveis.
Po r vezes, a s imp les comparação entre d iversos comitentes pub l i
citários (proporções entre restaurantes, cinemas, editoras, etc.) pode
d ize r -nos a lguma coisa sobre a s fontes d e f inanc iamento (d e outromodo ocu l tas ) d e u m a d a d a rádio.
A única condição é que não in l roduzamos impressões ou indu
ções a r r i scadas d o t ipo « s e a o me io-d ia t ransmit iu música po p epubl i c idade d a Pan Amer ica n, i sso s i gn i f i ca que é u ma rádio america-n ó f i l a » . u ma v e z qu e é preciso saber também o que foi t ran smi t idoà u m a . às d u a s . às três e à segunda- f e i ra , à terça e à quarta.
Se a s rádios são m u i t a s , só t emos dois camin hos : o u ouvir todasao mesmo tempo, const i tu indo u m g r u p o de audição com tantosreg i s i adorvs quantas as rádios (é a solução m a i s séria, pois permi te
M
comparar as várias emissoras numa mesma semana ) ou ouv i r u m apor semana. Porém, neste último caso. te rá de se trabalhar constantemente, de modo a fazer o s reg istos uns a segu i r a os outros s e m torn ar heterogêneo o período de audição, que não pode cobrir o espaçode seis meses ou de u m ano, dado qu e neste sector as mutações sãorápidas e freqüentes e não t e r i a sent ido comparar os programas d aRádio B e t a e m Jane i ro c om os da R ád io A u r o r a e m Agos to, pois ,nesse intervalo, quem sabe o que t e r i a a contec ido à R ád io Bela.
Ad m i t i n d o q u e todo este trabalho tenha sido bem feito, o que restafazer ainda? U m a quantidade d c outras coisas. Enumeremos a lgumas:
— Es tabe lecer índices de audiência; nào há dados of ic i a i s c nàopodemos f iar-nos apenas nas declarações dos responsáveis; a
única a l t e rnat iva é u m a sondagem c om o mé todo do t e le fo nema a o acaso ( «que rádio está a ouvir neste mome n to? » ) .E o método seguido pela R A I . ma s ex ige u ma organização específica, um tanto d i spend iosa . Ma is va le renunc iar a este inquérito do qu e reg istar impressões p essoa is d o t ipo «a maior iadas pessoas ouve R ád io D e l t a » s ó porque c inco amigos nossos dec lararam ouv i - la . O problema dos índices de audiênciamostra-nos como s e pode t raba lhar c i ent i fi camente num fenômeno tão contemporâneo e actua l , ma s como é difíc il fa zê-- l o ; é me lhor uma tese de história r om a n a , é mais fácil.
— Reg i s tar a polêmica na imprensa c a s eventuais opiniões sobreas d iversas rádios.
— Fazer uma recolha e u m comentár io orgânico das le is relat iva s a esta questão, de modo a exp l icar como as várias e m i s soras a s i l u d e m ou a s c u m p r e m , c que p rob lemas da í advêm.
— D oc u m e n t a r as p os ições r e la t i vas dos vários part idos. Tentares tabe lecer t abe las compara t ivas d os cus tos publ ic i tár ios .
Talvez os responsáveis da s várias rádios não no- lo d igam, ounos min tam, ruas sc a Rádio D e l t a fa z publ ic idade a o r es taurante A i P i n i . poderia ser fácil obter, d o r espec t ivo p ropr i e tário, o d a d o que nos interessa.
— F i x a r u m a contee imento-amost ra (e m J u n h o d c 1976 a s e l e i ções políticas t e r i am s ido u m assunto exemplar ) e r eg i s tarcomo fo i t ra tado p or d u a s . três ou m a i s rádios.
— Ana l i s a r o estilo lingüístico tias várias rádios (imitação d os locuti>-re s da RAI. imitação dos disc-jockey americanos, u s o de terminologias de grupos políticos, adesão a modelos diale ciais. e t c ) .
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— A n a l i s a r o modo como cer tas t r ansmissões da R A I foram
i n f luenci adas (quanto à escolha d os p rog ramas c aos usos l i n
güís t icos ) p e las em issões da s rádios l i v res .
- R e c o l h a orgânica de opiniões sobre as rádios l ivres d a parte
dc jur i s t a s , líderes p olíticos, etc. Três opiniões apenas fazem
u m a r t i go de j o r n a l , cem opin iões fa/cm um inquérito.
— R e c o l h a d e toda a bibl iograf ia existente sobre o assun to, desde
l iv ros e art igos sobre experiências semelhantes nout ros paí
ses, até aos art igos d os mais remotos jornais de prov ínc ia ou
de pequenas rev i s tas , de mane i ra a r ecolher a documentação
mais completa possível.
É claro que nào é necessário fazer todas estas coisas. U m a s ó. desde
qu e be m feita e completa, constitui já um tema para uma tese. N e m s edisse qu e estas s ão as únicas coisas a fazer. Limitei-me a a l inhar algunsexemplos para mostrar como. mesmo sobre u m tema tão pouco «erudi to» e sobre o qual não há literatura crítica, se pode fazer u m trabalhocientífico, útil aos outros, que se pode integrar numa investigação maisvasta, indispensável para quem que i ra ap rofundar o assunto, e s e mimpress ion i smos . observações ao acaso ou extrapolações arr iscadas.
Por tanto, para conc lu i r : tese c ientífica ou t ese política'.' Fa lsa
questão. É tão científico f aze r uma t ese sobre a d ou t r i n a da s idéiase m Platão como sobre a p ol ít ica da Lot ta C o n t i n u a d e 1974 a 1 9 7 6 .Se é u m a p essoa qu e quer t raba lhar se r i amente , rc f l ic ia antes d eescolher, porque a segunda tese é indub i tave lmente mais difíc il doqu e a p r i m e i r a e e x i ge maior matur idade c ientífica. Q u a n t o m a i sn ão seja. porque não terá b ib l iotecas e m q u e s c apoiar , ma s antes
u ma b ib l ioteca para organ i zar .
Pode . ass im, fazer-se d e uma forma científica uma lese qu e omrosde f in i r i am, quanlo a o l ema. como puramente « jorna l ís t ica » . E pode
fazer-se d e u m modo puramente jornalístico u ma t ese que . a ava l i a rpe lo título, ter ia todos os atr ibutos para parecer c ientífica.
T T.7 . C o m o e v i t a r d e i xa r - s e e xp l o r a r p e l o o r i e n t a d or
Po r v e z e s , o estudante escolhe u m t ema d e acordo c om os seusinteresses. Outras v e z e s , p e lo contrário, ace i t a a suges tão do professor a qu e m pede qu e oriente a tese.
Ao suger i rem temas, os p rofessores podem segu i r dois critériosd i f e rentes : ind icar u m t ema que conheçam m u i t o b e m c n o qua l
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poderão f ac i lmente segu i r o a l u n o , ou i n d i c a r u m tema que nãoconheçam suf icientemente b e m e sobre o qua l quereriam saber ma is .
Diga-se desde j á qu e. contrariamente a o que se possa pensar ã p r i
mei ra v i s ta , o segundo critério é o mais honesto e generoso. O docenteconsidera que. a o acompanha r essa tese, e le p róprio será levado a a la r ga r o s seus horizontes, pois s e quiser aval iar bem o candidato e ajud á-lodurante o trabalho, terá de debruçar-se sobre a lgo d e novo. G eralmente,quando o docente escolhe esta segunda v i a é porque confia n o c a n d i dato. E normalmente diz- lhe explicitamente que o tema também é novopara e le e que lhe inieressa aprofundá-lo. Há. por outro lado. d ocentes qu e s e r ecusam a p ropor t eses sobre campos já muito bat idos,embora a situação ac tua l d a un ivers idade d c massas conu ibu a paramoderar o r i gor d c muitos e para o s tornar mais compreensivos.
Há. porém, casos espec í f icos em que o docenle está a f aze r u mt raba lho de g r a n d e fô lego p a r a o qu a l te m necess idade d e mui tosdados , e decide u t i l i z ar o s cand idatos como par t ic ipantes d e u m tra
balho d e e q u i p a . O u seja. durante u m d a d o número de a n os . e l eorienta a s t eses num dete rminado sen t ido.
Se f o r u m economis ta in te ressado na situação d a indústr ia numcerto período, or ientará teses r e la t i vas a sectores part iculares, c o mo ob j ec t ivo de estabelecer um quadro completo da ques tão. O ra estecritér io é não só legítimo como c ient i f i camente útil: o t raba lho detese cont r ibu i para uma investigação de a lcance mais amplo n o in te resse colect ivo. E i sso é útil mesmo d o ponto de v ista didáctico.pois o cand idato poderá servir-se d os conse lhos d e um docente mu itoinformado sobre o assunto e poderá u t i l i z ar como mater ia l d e fundoe de comparação as t eses já e laboradas p o r outros estudantes sobrelemas correlarivos e limítrofes. Se , depois , o cand idato f i ze r um b o mt rabalho, poderá esperar uma publicação, p e lo menos pa rc i a l , d o sseus resultados, eventualmente n o âmb ito de u m a obra colee t iva .
Há. porém, a lguns inconven ientes poss íve is :
1. O docente está mui to l i gado a o s e u l ema e força o c a n d i d a l o•. p or seu lado. não te m n enhum interesse naquela direcção. O estu
dante torna-se então um aguade i ro. qu e s e l imi ta a r ecolher a fad i -gadamente mater ia l qu e d epois out ros irão in te rp re tar . Como a s u atese será u m a tese modesta, sucede qu e depois p docente, a o e laboraro es tudo de f in i t i vo, poderá u t i l i z a r uma parte d o mater ia l r ecolh ido,ma s não citará o es tudante , a té porque não se lhe p o d e a i r ibu ir
nenhuma idéia p rec i sa .
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2. Ü docente c d esones to, fa z t raba lhar os estudantes, l iceneia--o s e u t i l i z a desabusadamente o seu trabalho como s c fosse dele.Po r v e z e s , trata-se d e uma desonest idade quase dc boa-fé: o docenteacompanhou a t ese apa ixonadamente , suger iu mui tas idéias e, passado um certo tempo, já nào d i s t ingue as i d c i a s q u e suger iu da s qu eforam trazidas pelo estudante, assim como depois de uma apa ixonada discussão colect iva sobre u m assunto qualquer, já não consegu imos l embrar -nos d e qua is as idé ias com qu e hav íamos começadoe qua is a s qu e adqu i r imos po r es t ímulo alheio.
Como ev i tar estes inconven ientes? O estudante, a o abordar u mdeterminado docente , já terá ouv ido f a lar d e l e a os seus amigos , terácontactado l icenciados anteriores e terá f e i to u ma i dé ia d a su a c o r -reeção. Terá l ido l ivros seus e terá r eparado se e le c ita freqüente
mente o s seus colaboradores ou não. Q u a n t o a o r es to, intervémfaelores imponderáve is de es t ima e confiança.
" lambem é p rec i so nã o ca i r n a at i tude neurótica de s ina l contrár io e considera r mo-nos pla giados sempre que a lguém fala d e temassemelhantes a o s d a nossa tese. Quem f e z u ma tese. d igamos , sobreas relações entre o d a r w i n i s m o e o l a m a r c k i s m o. teve opor tun idadede ve r . acompanhando a l i teratura crítica, quantas pessoas falaramjá desse tema e como há tantas idéias comuns a todos o s estudiosos. Deste modo, nào vejo razão para se sentir um gê n io expol i adose. algum tempo depois, d docente, um seu assistente o u um colega seocuparem d o mesmo tema.
Por roubo d e trabalho c ientífico entende-sc , s im. a u t i l i zação dedados exper imenta i s qu e só p od i a m te r s ido recolh idos f azendo essadada experiência: a apropriação da transcrição de manuscritos rarosqu e nunca t ivessem sido transcritos antes d o nosso t raba lho: a u t i
l i zação d c dados estatísticos que ninguém tenha recolhido antes d enós, e só n a condição de a fonte nã o se r c i t ada (pois , uma v e z a tese
t o rnada pública, toda a g e n te t e m o d i re i to de a c i t a r ) : a utilizaçãode traduções, fe i tas po r n ós . de textos qu e nunca tenham sido tra
d u z i d os ou o t enham s ido d e forma diferente.
De qua lquer modo. e s e m d esenvolver s índromas paranóicos, oestudante d e v e ve r i f i car se . a o aceitar um tema d e tese. fica ou nãoin t eg rado n u m trabalho colect ivo. e p ensar se vale a p ena fazê-lo.
I I I . A P R O C U R A D O M A T E R I A L
[11.1 A a c e s s i b i l i d a d e d a s fontes
111.1.1. Quais sã o a s fon tes de um trabalho científico
U ma tese estuda um objecto ut i l iza ndo determinados instrumentos.Mu i t a s vezes o objecto é um l ivro c os instrumentos sã o outros livros.É o caso. p or exemplo, de u ma tese sobre O pensamento econômicode Adam Sm i th , cujo objecto é constituído pelos l ivros de Ad am Smith,
enquanto os instrumentos são outros l ivros sobre Ad am Smith. D i remosentão que, neste caso. os escritos d c Ad a m Smith constituem as fontespr imár ias e os l ivros sobre Adam Smith constituem as fontes secundárias ou a literaiura crítica. Evidentemente, sc o assunto fosse As fontes do pensamento econômico de Adam Smith. as fontes primárias seriamos livros ou os escritos e m qu e este autor sc inspirou. É certo que asfontes d e um autor lambem podem ser acontecimentos históricos (det er-minados debates qu e t iveram lugar n a su a época em tomo de certosfenômenos concretos), mas estes acontecimentos são sempre acessíveissob a forma d c material escrito, isto é, de outros textos.
Nout ros casos , pe lo contrário, o objecto é um fenômeno r ea l ; éo que acontece com a s leses sobre os mov imentos migratórios internos na I tália actua l . sobre o comportamento d e u m g rupo d e c r i a n
ça s def ic ientes o u sobre a s opin iões do públ ico relat ivamente a u mprograma de te lev isão a se r transmit ido actualmente. A q u i , a s fontes nào ex i s t em a inda sob a forma d e textos escritos, m a s devemtornar-se o s textos que virão a integrar-se n a t ese como documentos: dados estatísticos, transcrições dc entrevistas, po r v e z e s fotograf ias ou mesmo documentação a u d i ov i s u a l . P o r s ua v e z . n o qu e
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respeita à l i teratura cr ítica, as coisas nà o variam muito relat ivamenteao caso anterior. Se não forem l ivros e art igos de r ev i s tas , serão art i
go s d e j o r n a l ou documentos de vários t ipos.
D e v e manter-se b e m presente a distinção entre a s fontes e a l i teratura cr ítica, uma vez. qu e a l i teratura crítica re fere freqüentementetrechos das vossas fontes, mas — como veremos n o parágrafo seguinte— estas são fontes d e segunda mão. Além d i sso, u m estudo apres
sado c d esordenado p o d e levar faci lmente a confund i r o d i scursosobre a s fontes c o m o d iscurso sobre a l i teratura cr ítica. Sc t iverescolhido como tema O pensamento econômico de Adam Smith eme d e r conta d e que , à med ida qu e o trabalho avança, passo a maiorparte d o t empo a d i s cut i r a s in te rpre tações de u m certo autor, de s -curando a le i tura d i rec ta d e S m i t h . posso fazer duas coisas: ou vol
ta r à fonte, ou d ec id i r mudar o tema para.4.? interpretações de AdamSmith no pensamento liberal inglês contemporâne o. Es ta última nãome ex imirá de saber o que d i sse este autor, ma s é c la ro qu e nessaa l tu ra interessar-me-á menos d i s cut i r o que e le d i sse d o qu e o qu eoutros disseram inspirando-se nele. E ób v io , todav ia , qu e . s e qu isercr i t i ca r d e uma forma a profundada o s seus intérpretes, t e re i de comp a r a r as suas in te rpre tações co m o t exto or i g ina l .
Poder ia , n o entanto, tratar-se d e u m caso e m qu e o pensamentoor i g ina l me interessasse muito pouco. Admitamos qu e comecei umatese sobre o p ensamento 2©D n a tradição j aponesa . E c la ro q u e tenhode saber le r japonês c qu e não posso confiar n a s poucas traduçõesocidentais de qu e d i sponho. Suponhamos, porém. que . ao examinara l i teratura crítica, f iquei interessado na u t i l ização que fe z do Ze nu ma ce r ta vanguarda literária c artística a m e r i c a n a n os anos 5 0 .Evidentemente, nesta a l tu ra já não estou interessado c m saber c o mabsoluta exactidão teológica e filológica qual seria o sentido d o p e n samento Ze n, mas sim saber de qu e modo idéias originárias do Orientese tomaram elementos d e u m a i d eolog ia artística oc identa l . O tema
da tese tomar-se-á então O u so de sugestões Zen na «San FranciscoRena issance » dos anos 50 e a s minhas fontes passarão a ser os textos d c K crouac . G insberg . Fer l inghe t t i , e tc. Es tas são as fontes sobreas quais terei d e trabalhar, enquanto no que se refere a o Z e n poderão ser suf icientes a lguns l ivros seguros e algumas boas traduções.A d m i t i n d o , evidentemente, que nào pretenda demonstrar que os ca l i -
fornianos tenham compreendido ma l o Z e n o r i g i n a l , o que tornariaobrigatório a comparação com os textos japon eses. M a s s e m e l imi
ta r a p ressupor qu e eles se terão ins p i rado l i v remente cm traduções
7 0
d o j aponês , o que me interessa é aqu i lo qu e eles fizeram d o Z e n enão aqu i lo q u e o Z e n e r a n a origem.
Tudo isto para dizer qu e é muito importante def inir logo o verdade i ro objecto d a tese, um a vez que se te rá de enfrentar, l ogo deinício, o p rob lema d a acess ib i l idade d a s fontes.
N o parágrafo IU.2.4, en contrar-se-á um exemplo de como se podepart ir quase d o zero, para des cobrir numa pequena biblioteca as fontesadequailas a o nosso trabalho. M as trata-se dc um caso-limite. Ge ralmente,aceita-se o tema sem s c saber se se está em condições dc aceder às fontes e é preciso saber: (1 ) onde elas se podem en contrar: (2) se são facil
mente acessíveis; (3) se estou em condições dc trabalhar c o m elas.
C o m e fe i to , posso aceitar imprudentemente uma t ese sobre certosmanuscr i t os de J oy c e s e m saber qu e s e encont ram n a U n i v e r s id a d e
de Búfa lo. ou sabendo mui to b e m qu e nunca poderei lá i r . Podereiaceitar entusiast icamente trabalhar numa sér ie de documentos pertencentes a u ma família dos arredores, para depois descobrir que e l aé mui to c iosa de les e só os mostra a es tud iosos d e gran de fa ma.Podere i ace i t a r t raba lhar e m ce r tos documentos med ieva is aces s íve is , mas sem p ensar q u e nunca f i z um curso qu e me preparassepara a leitura de manuscritos antigos.
M a s se m querer pr ocurar exemplos tã o sof ist icados, poderei aceita r trabalhar num autor s e m saber qu e os seus textos orig inais sãorar íss imos e que terei d e v iajar como u m do ído de b ib l ioteca e mbiblioteca e de p a ís em pa ís . Ou p e n s a r que é fácil obter o s m icrofilmes dc todas a s suas obras, s e m me lembrar d e q u e n o me u i n s t i
tuto universitário não existe um leitor de m icrof i lmes , o u q u e sofrode eon junl iv i t e e não posso suportar u m trabalho tão desgastante.
E inútil qu e c u . fanático do c inema, m e proponha trabalhar uma tesesobre uma obra menor d e um real izador dos anos 20 para depois descobrir que só existe uma cópia desta obra nos Film Archives de Washington.
U ma v e z r esolv ido o problema d a s fontes, a s mesmas questõessurgem para a l i teratura crítica, Poderei escolher uma lese sobre u mautor menor do século xv in porque n a b ib l ioteca d a minha c idadese encont ra , p o r acaso, a p r ime i ra edição da sua obra. para me aper ceber depois de qu e o me lhor d a l i t e ra tura crítica sobre este autor-ó é acessível à custa de pesad os encar gos financeiros.
N ào s e podem resolver estes problemas contentando-se c o m tra
ba lha r apenas n o qu e s e tem. porque d a l i teratura cr ítica se deve ler .se nã o tudo, pelo menos tudo aquilo qu e é importante, e é necessário abordar as fontes directamente (ver o parágrafo seguinte).
7 :
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E m v e z de cometer negl igênc ias imperdoáve is , é melhor escolher outra lese segundo os cr itér ios expostos no capítulo 11.
A título d c orientação, e is a lgumas teses a cuja discussão assisti
recentemente, nas quais a s fontes foram iden tificadas , d e uma maneiramui to p rec isa , s e l i m i t a v a m a u m âmbito ver ificável e es tavam c la
ramente a o alcance d os cand idatos , qu e sab iam como ulilizá-las.A pr ime i ra tese e r a sobre A exper iência clerical moderada na adm i nistração comuna d e Modena (1889-1910) . O c a n d i d a t o , ou odocente , t inham l imi tado c o m muita exaclidão a ampl i tude d o i r a -balho. O cand idato e r a d e M o d e n a e . portanto, trabalhava in loco.
A b ib l iog ra f i a constava d e u m a b ib l iog ra f i a g e ra l e d c outra sobreM od e n a . P e n s o qu e , n o qu e respeita à segunda, terá s ido possívelt r aba lha r nas bibliotecas da cidade. Para a p r i m e i r a , terá s ido necessár io uma su r t ida a outros lugares. Quanto às fontes propria mente
ditas, elas d ividem-se e m fontes de a rqu ivo c fontes jornalísticas.O cand idato t inha v isto tudo e folheado todos os j o r n a i s da época.
A segunda lese e ra sobre A polít ica educativa do P C I desde ocentro-esquerda até à contestação estudantil. Também a qu i se podever como o terna fo i d e l imi tado, com exact idão e . d i r e i , c o m pru
dênc ia : após 6 8 . o estudo ter-sc- ia tornado desordenado. A s fontese r a m : a imprensa of ic i a l d o PC . a s actas parlamentares, o s arquivosdo Par t ido e a imprensa geral. Posso imaginar que. p or mais exactaqu e fosse a investigação, tenham escapado muitas coisas d a i m p r e n sa g e ra l , m a s tratava-se in dubitavelmente d e u m a fonte secundáriad a qu a l s e pod iam recolher opin iões e críticas. Q u a n t o a o resto, parade f in i r a política educat iva d o PC , bas tavam as declarações o f i c i a i s .Repare-se qu e a coisa teria sido muito diferente s e a tese d issesserespeito à política edu cat iva da DC . i s to é. de u m par t ido d o g o ve rn o .Is to porque, p o r um lado. ha veria as declarações of ic iais e. por outro,os actos e fect ivos d o g o v e r n o qu e eventualmente a s cont rad i z i am:o es tudo t e r i a assumido dimensões dramálicas. Veja-se só que , se o
per íodo fosse a lém de 1968 . ent re a s fontes de opin ião não of ic iais,t e r i am d c classif icar-se todas as publ icações do s g rupos exl rapar la -mentares qu e daque le a n o c m d iante começaram a p rol i f e rar . Ma is
u ma vez. estaríamos perante u m trabalho be m mais duro. Para conc lu ir , i m a g i n o qu e o candidato t ivesse t ido a poss ib i l idade d e trabal h a r e m R o m a , o u d e p ed i r qu e lh e fossem enviadas fotocópias dctodo o mater ia l de qu e necessitava.
A terceira lese era de história med ieva l e , aos o lhos d os le igos,parec i a mui to mais difíc il. D i z i a respeito às v ic i ss i tudes d os bens
7 2
da abad ia de S . Z c n o , e m Vcrona . na B a i x a I d ad e M édia . O núc leo dot raba lho cons is t i a n a transcrição, que nunca t inha s ido feita, de a lgumas folhas d o reg isto d a abad ia d e S . Z c n o , t io século Xlf l . E r a e v i dentemente necessário que o cand idato t i vesse noções de pa leo-graf ia, isto é, soubesse como se lêem c segundo que c r i lé r ios setranscrevem os manuscri tos ant i gos . Todav i a uma v e z dc posse destatécnica, tratava-se apenas de executar o trabalho d e u m modo sér ioe d e comentar o r esu l tado d a transcrição. N o entanto, a t ese apresentava em rodapé uma b ib l iog ra f i a d e tr inta obras , s ina l d e qu e oproblema específico t inha s ido enquadrado h is tor icamente n a baseda l i teratura precedente. Imagin o qu e o cand idato fosse de Vcronae t i vesse escolh ido u m t raba lho qu e pudesse f azer s e m p rec i sarde viajar.
A quarta tese era sobre Teatro experimental em prosa no Trentino.O cand idato, qu e v iv i a naque la r eg ião, s a b i a qu e t inha a í h a v i d ou m número l im i tado de companhias exper imenta i s , e empreendeuo trabalho de a s r econst i tu i r a través d a consu l ta de anuários j ornalísticos, a r qu i v os m u n i c i p a i s e l evantamentos estatísticos sobre afreqüência do público. Não muito diferente é o caso d a quinta tese.Aspectos da política cultural em Budr io, co m particular referênciaà actividade d a biblioteca munic ipal . Sã o dois exemplos de t esescom fontes de fácil ver ificação e. no entanto, muito úteis, pois dãougar a um a documentação eslatíslico-sociológica utilizável por inves
t igadores subsequentes.
U m a sexta tese const i tui , pelo contrário, o exemplo d e uma inves t igação fe i ta c o m uma cer ta d i spon ib i l idade d e tempo e d e meios,mostrando simultaneamente como sc p o d e desenvolver c o m u m b o mnível científico um tema qu e . à p r ime i ra v i s i a , apenas parece sus
ceptível de u ma compilação hones ta . O título era ,4 p roblemát ica doactorna obra d e Adolphe Àppia. T ra la - se d c um autor muito conhe
cido, abundantemente estudado pelos historiadores e teóricos do teatro, e sobre o qual parece j á nada haver de or i g ina l para d i ze r . M a so cand idato empreendeu u m paciente e studo n os a rqu ivos suíços,correu muitas bibliotecas, nã o d e ixou por exp lora i - nenhum d os locaisem qu e App ia t raba lhou e consegu iu e laborar uma b ib l iog ra f i a dostextos deste autor (compreenden do art igos menores jamais l idos) edos textos sobre e l e . de t a l modo qu e pôde examinar o tema c o mu ma ampl i tude e precisão que. segundo disse o relator, fazia d a t eseu m cont r ibuto dec is ivo. T inha , pois . superado a mera compilação erevelado fontes até aí inacessíveis.
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I I I . 1.2. Fontes d e primeira e d e segunda mão
Q u a n d o se t raba lha sobre l i v ros , u m a fonte d e p r i m e i r a mào cu ma edição o r i g i n a l o u u ma edição crítica da obra em questão.
U ma t radução não é uma fonte: é uma prótese , como a dentad u r a o u os óculos , um me io d e a t ing i r d e uma forma l imi tada a lgoqu e s e encontra fora d o meu a lcan ce .
Uma antologia não é u ma fonte: é u m a p a n h a d o d e fontes; podese r útil como pr ime i ra aproximação, ma s l aze r uma tese sobre u mautor s i gn i f i ca p ressupor q u e verei n ele coisas q u e outros não v i ram,c u m a antolog ia fomece-mc apenas aqu i lo q u e ou t ra pessoa v i u .
As resenhas efectuadas por ou tros au to res, mesmo completadaspelas mais amplas citações, não são um a fonte: são quando mui to
fontes de segunda mão.U ma fonte pode s e r de segunda rnâo dc várias mane i ras . S e qu i
ser f aze r u m a lese sobre o s d i scursos par lamentares de Pa lmiro,Togl i a t l i . os d iscursos publicados pelo Un i tà constituem urna fontede segunda mão. N inguém me d iz que o redactor nã o lenha feito corte s ou cometido erros. Pelo contrário, as actas parlamentares serãofontes de p r ime i ra mão. Se conseguisse encontrar o texto escrito direitamente p or Togl iat t i , ter ia uma fonte de primeiríssima mão. Se qui
ser estudar a declaração de independência dos Es tados Unidos , a únicafonte de p r ime i ra mão é o documento autênt ico. M a s posso tambémconsiderar d e p r ime i ra mã o u ma boa fotocópia. E posso a inda cons i derar de p r ime i ra mão o texto elaborado crit icamente p or qualquerhisloriógrafo de seriedade indiscutível ( « indiscutível» quer aqui d izerqu e n u n c a fo i pos ta e m c a u s a p e l a l i t e r a t u r a crítica ex i s t ente ) ,Compreende-se então que o conceito de «pr ime ira » e «segunda mão»depende d a perspectiva que se der à tese. Se a tese pretender d iscu
ti r a s edições críticas cx i s l en les . é necessário recorrer a os or i g ina i s .Se e la p re tender d i scut i r o sent ido político da declaração de inde
pendência, u ma boa edição crítica scr-mc-á mais do que suf iciente.
Se quiser fazer uma tese sobre Fstntntras narra tivas nos «P romess iSpos i » . bastar-me-á u ma edição qualquer das obras de M a n z o n i . Sc .pe lo contrário, o meu object ivo fo r d i seu l i r p roblemas lingüísticos(d i gamos. Manzoni entre Milão e Florença), então l e re i d e d isporde boas ed ições críticas da s várias redacções da obra manzoniana.
D igamos enlão. que. n os limites fixados pelo objeclo da minha pesquisa, a s fontes d evem se r sempre de primeira mão. A única coisa que
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não posso fazer é c itar o meu autor através da citação feita por outro. E micor ia. u m trabalho científico sério nunca deveria citar a partir d c umacitação, mesmo que não se trate d o autor de que nos ocupamos directa-mente. N o entanto, há excepções ra zoáveis, especialmente para uma tese.
Se s e escolher, p or exemplo. O problema d a t ranscendemalidaded o Belo na «Summa theo log iae » de 5 . Tomás de Aquino, a fonte p r i
mária será a Su i/ima de São Tomás, c d i gamos que a edição M a r i e t t iactualmente n o mercado bas ta , a menos qu e sc venha a suspe i tar dequ e trai o or i g ina l , caso e m que se te rá de r ecorre r a outras edições(mas. nessa a l tu ra , a t ese tornar-se-á de carac te r f i lo lógico. em vezde t e r u m carac te r es té t ico- f i losófico) . E m s e g u i d a , descobrir-se-áqu e o p rob lema d a t r anscenden ta l d a d e d o B e l o é a f lorado tambémp or Sào Tomás n o Comentár io a o D e Divinis Nominibus d o P s e u d o -
-D ionís io. e apesar d o t í tu lo r es t r i t i vo d o t raba lho, ler-se-á l ambemde ve r d irectamente esta última obra . F ina lmente , ver ificar-se-á qu eSão Tomás r e tomava aque le t ema d e toda u ma tradição teológicaanter ior e qu e d escobr i r todas a s fontes orig inais representa o tra
balho d e u m a v ida e rud i ta . Todav ia , ver-se-á que este t raba lho jáexis t e e q u e f o i fe i to p o r D o m H e n r y P o u i l l o n . qu e n o s e u ex i ensotrabalho re fere amplos fragmentos de todos o s au tores qu e coment a ram o Pseudo-Dionís io. s u b l i n h a n d o relações, der ivações c c on tradições. F, certo qu e n os l im i tes d a t ese se poderá usar o mater ia l
colh ido p o r Pou i l lon sempre qu e s e d ese j ar f aze r um a referênciaa A l e xa n d r e de H a l c s ou a H i ldu íno. Se se chegar à conclusão dcqu e o texto d c A l e xa n d r e d e H a l e s é essenc ia l para o d esenvolv i mento d a expos ição, é me lhor p rocurar consultá-lo d i rec tamente n aedição da Q u a r a c c h i m a s ; se se trata d e remeter para qualquer brevecitação, bastará declarar que se teve acesso ã fonte aüavés de Pou i l lon.Ninguém dirá que sc a g i u c om incúr ia , u ma v e z qu e Pou i l lon é u mes tud ioso sér io c qu e o texto que se fo i buscar a este au tor nã o c on s tituía o objecto directo d a lese.
A única co i sa que não deverão fazer é c itar uma fonte de segundamão f ing indo te r v isto o o r i g i n a l . E i s to n ão apenas po r r a zõe s deética p rof i ss iona l : pensem n o qu e acontecer ia se a lguém vos perguntasse como conseguiram ve r d irectamenle um determinado manus
cr i to, quando é sab ido qu e o mesmo f o i de s tr u ído e m 1 94 4
N ã o s e d evera , porém, c a i r n a neurose d a p r ime i ra mão. O factoc N a po le ão t e r morr ido e m 5 d c M a i o d c 1 8 2 1 é c on h e c i d o d e
todos, geralmente através de fontes d c s e g u n d a mã o ( l ivros de h is
tória escr i los c o m base noutros l ivros de h is tór ia ) . Sc a lguém qu i-
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sesse estudar a data d a morte de N a po le ão , ter ia de i r p rocurar documentos da époc a . Ma s s e s c qu iser f a la r da influência da mortede N a po le ão n a p s i c o l og i a d os j ovens l ibera i s europeus , pode- seconf ia r num l iv ro d c história qua lquer c cons iderar a data como boa.O p rob lema, quando s c recorre a fontes d e segunda m ão (d ec larando--o) , é ve r i f i ca i ' mais d e u m a e ve r se uma cer ta c itação, ou a re ferênc ia a u m facto o u a u m a opinião, são conf i rmados p o r d i ferentesautores . D e ou t ro modo. é p rec i so te r c u i d a d o : ou s e decide evitarrecorrer àquele d a d o , ou va i - se ve r i f icá- lo nas or i g ens .
Por exemplo, j á qu e s e de u u m exemplo sobre o p ensamentoestético de São Tomás, d i r - vos- e i q u e alguns textos contemporâneosque d iscutem este problema partem d o pressuposto de que São Tomásd isse qu e puichrum est id quod visum p/ocet. E u . que f iz a tese d e
l i cenci a tura sobre este tema. andei a p rocurar nos t extos or i g ina is eapercebi-me de que São Tomás minca t a l hav ia d i to. T inha d i to, s im.pulchra dicuntur quae , visa placent e nào p re tendo exp l icar agorapor que mol ivo a s d u a s formulações podem levar a conclusões inter-prctal ivas muito diferentes. O q u e l inha acontecido' . ' A p r i m e i r a fórmula l inha s ido p roposta há mui tos anos pe lo f ilósofo M a r i t a i n . qu epensava rcprodu/. i r d c modo f iel o p ensamento de São Tomás, cdesde então os outros intérpretes t inham-se remet ido àquela fórmula(extra ída de uma fonte d e s e g u n d a mão) sem sc p reocuparem c mrecorrer à fonte de p r ime i ra mão.
Põe-se o mesmo problema para as citações bibliográficas. Tendode t enn inar a tese à p ressa , u m a luno qua lquer dec ide pôr na b ib l iograf ia coisas que não l eu , o u mesmo falar destas obras e m notas d erodapé (ou. o que é a inda p ior , n o t ex to ) , u t i l i z a n d o informaçõesrecolhidas noutras obras. Poderia acontecer fazerem uma t ese sobreo Barroco, t endo i ido o a r t i go d e L u c i a n o A n c e s c h i «Ba c on e t i aR i n a s c i m cn i o e B a r oc c o ». i n Da Bacone a Kant (B o l on h a . M u l i n o .1972 ) . Depois de o c i l a rem e para fazer boa f igura, tendo en contradodete rminadas notas n u m ou t ro t exto, a crescentar iam « P a r a outrasobservações pert inentes e est imulantes sobre o mesmo tema, ve r . domesmo autor, " U e s tét i c a d i B a c o n e " in Uestetica deWe mpirismoinglese, B o l o n h a A l fa , 1959 » . Faricis uma Ir iste f igura quan do alguémvos chamasse a atenção para o facio dc s c tratar d o mesmo ensaioqu e t inha s ido pu bl icado hav ia treze anos e qu e da p r ime i ra v e z t inha
aparec ido numa edição universitária d e t i ragem mais l im i tada .
Tudo o que se d isse sobre a s fontes d e primeira mão é igualmenteválido no caso d e o objeclo da vossa tese não ser um a série d e textos,
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ma s u m fenômeno cm curso. S e quiser falar das reacções dos camponeses d a R om a g n a às transmissões do tele jomal. é fonte de p r ime i ramão o inquérito que tiver feito n o local, entrevistando segundo as rearas
um a a mostra signif icat iva e suficiente de camponeses , üu. quand o muito ,"i m inquérito análogo que acabou d e se r publ icado p or uma fonte fide-' i gna . M a s se m e l imitasse a c itai ' dados de uma pesquisa de há deznos. é c la ro qu e estava a ag ir de uma forma incorrccia. quanto mais
nã o fosse porqu e desde essa altura mudara m tanto os camponeses comoas transmissões de televisão. Seri a d iferente sc fí/esse um a tese sobreAs pesquisas sobre a relação ent re público e televisão nos anos 60.
0 T . 2 . À inves t iga ção b ib l iográf ica
II 1.2.1. C omo utilizar a biblioteca
Como fazer u ma in v es t i ga ç ão p r e l i m i n a r n a b ib l ioteca? Sc scdispõe já de uma b ib l iog ra f i a segura , va i - se obv iamente ao catálogopor autores c vê-se o qu e a bibl ioteca em questão pode fornecer--nos . Em segu ida , passa- se a uma out ra b ib l ioteca e as s im por d iante .M a s este método pressupõe uma b ib l iog ra f i a j á fe i ta (e o acesso au ma sér ie dc b ib l iotecas , eventua lmente uma e m R o m a e ou t ra e mLondres ) . Ev identemente , este caso não se ap l i ca a os meus leitores.N e m se pense que sc ap l i ca a os es tud iosos p rof i ss iona is . O e s t u d ioso poderá i r por v e z e s a uma b ib l ioteca p rocurar um l iv ro d e q u ejá conhece a existência, ma s freqüentemente va i à bibl ioteca nãoco m a b ib l iog ra f i a , ma s para fazer uma b ib l iog ra f i a .
F a z e r u m a b i b l i og r a f i a s i g n i f i c a p r oc u r a r a qu i l o de qu e n ãose conhece a inda a exis tênc ia . O bom inves t i gador c aquele que écapaz d e ent rar numa b ib l ioteca sem te r a mín ima idé ia sobre u m
t ema e sa i r de lá sabendo u m pouco ma is sobre e le .O catálogo — Para p rocurar aqu i lo de qu e a inda se i gnora a e x i s
tência, a b ib l ioteca p roporciona-nos a lgumas fac i lidades . A p r ime i raé, ev identemente , o ca tálogo por assuntos . O catálogo alfabético porautores é útil para quem j á sabe o q u e quer . Para quem a in da não osabe. há o ca tálogo por assuntos . E a í qu e u ma boa bibl ioteca rncd i z tudo o qu e posso encont rar n a s suas sa las , p or exemp lo, sobrea queda do Impér io R o m a n o d o Oc idente .
M a s o ca tálogo por assuntos e x i ge que se sa iba como o c on s u l tar, E c l a r o que não encontrará uma e n t r a d a «Q u e da do I mpé r io
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R oma n o» n a letra Q (a menos qu e s e trate d e uma b ib l ioteca c omu m f icheiro mu ito sof ist ica do). E necessário p rocurar e m « I mpé r ioR oma n o» , e m seguida e m « R o m a » e depois em «His tór ia (de Rom a) » .E se t rouxermos já a l g u m a s in formações p r e l i m i n a r e s d a escolabásica, l e remos o c u i d a d o de p rocurar e m «R ómu lo Au gu s to » ou«Au gu s to ( R ómu lo ) » . «O e s t e s » . «Üd oa c r o » . «Bá r b a r os » e «R oma n o--Bárbaros (R e in os ) » . Os p rob lemas, porém, não acabam a q u i . E istoporque e m mui las b ib l iotecas há dois ca tálogos por autores e doiscatálogos por assuntos, isto é. um velho, que se de tém numa c e n ada ta , e u m novo, qu e e stá a s e r comple tado e que um dia inclu irá ove lho, m as não por agora . E não quer d i ze r qu e a Q u e d a do Impér ioR o m a n o se encontre no ca tálogo v e l h o só pelo facto dc te r ocorr idohá tantos anos: e feet i vãmente, poder ia ex is t i r um l iv ro publ icado hádois anos qu e s ó constasse d o ca tálogo novo. E m certas bibliotecas
há a i n d a catálogos separados , qu e d i ze m respe i to a ent idades p a r t i
cula r e s . N ou t r a s p o d e suceder qu e assuntos c autores estejam e mcon junto. Nout ras a inda, há catálogos separados para l i v ros e r ev i s tas (d iv id idos p o r assuntos e autores). E m r esumo, é p re c i so es tu da r o func ionamento d a b ib l ioteca e m qu e s e t raba lha e d e c i d i r e mconformidade . Poderá a inda acontecer qu e se encont re uma b ib l ioteca qu e l e m os l i v ros n o p r ime i ro p i so e a s revistas n o segundo.
É também necessário uma cer ta intuição. Se o catálogo ve lho formuito ve lho e eu p rocurar «Re tó r ica » , se rá me lhor que dê uma v i s tade olhos também cm «Rcthor ica » : quem sabe se não houve um a rqu i -
vi s t a d i l i g ente qu e a í tenha colocado todos os títulos mais ant i gosque ostentavam o « th » .
N o t e - s e e m segu ida qu e o c a tá logo po r autores é sempre maisseguro d o que o ca tálogo p or assuntos , dado qu e a su a compilaçãonã o d epende da interpretação do bibliotecário, que já in f lu i n o catálogo por assuntos . C o m e fe i to , se a b ib l ioteca t i ve r u m l i v r o de
G i u s e p p e R os s i . é inevitável qu e este s c encontre no ca tálogo po rautores . Ma s se üiuseppe Ros si t iver escrito um art igo sobre « O papelde Odoacro n a qu e d a do Impér io R o m a n o d o Oc idente c o estabel ec imento d os r e inos romano-bárbaros», o bibliotecário p o d e tê-loregistado nos assuntos «R oma ( H i s tó r ia d e ) » ou «O doa c r o » , enquantose anda a p rocurar e m « I mpé r io do O c ide n te » .
Pode . porém, dar-se o caso de o catálogo não me da r as in formações que procuro. Terei então de part ir d e uma base mais elementar.E m qualquer biblioteca há u ma secção ou u ma sala de obras d e re ferência, que integra as enciclopédias, h istórias gerais e repertórios bibl io-
7 8
gráficos. Se procurar a lgo sobre o Império R om a n o d o Ocidente , tereientão de ver o que encontro cm matéria de h istória de Rom a. e laborarum a bibl iograf ia-base part indo d os volumes de referência que encon
t rar e p rossegu i r a part ir daí. veri f icand o o ca tálogo por au tores.
Os repertór ios bibl iográficos — São os mais seguros para quem
tenha já u ma idéia clara sobre o tema q u e pretende tratar. Paia certas
di sc ip l inas ex i s t em manua is cé lebres cm qu e se encontram todas as
informações bibliográficas necessárias. Para outras, existe a publicação
continuamente aclual izada de r ep er tór ios ou mesmo de revistas dedi
cadas só à bibl iograf ia dessa matéria. Para outras a inda , h á revistas que
têm em cada número u m apêndice informativo sobre as publicações
mais recentes. A consulta dos repertórios bibliográficos — na med ida
em que est iverem actua lizados — é essencial para completar a pesquisano ca tálogo. C om ele ito, a bibl ioteca pode estar muito be m fornecida
no q u e respeita a obras mais a ntigas e não ter obras actuais. O u pode
proporcionar-nos histórias ou manua is d a d isc ip l ina c m questão da ta
do s — d i gamos - de 1960, e m qu e podem encontrar-se utilíssimas
indicações bibliográficas, sem que. porém, se possa saber se saiu a lguma
coisa de interessante c m 1975 (e talvez a bibl ioteca possua estas obras
recentes, mas as tenha classif icad o num assunto em qu e não sc tenha
pensado). O ra . um repertório bibliográfico ac tua l i zado dá-nos cxac la -
mente estas informações sobre os últimos contributos na matéria.
O modo mais cômodo para ident i f i car os repertórios bibliográficos
é, em primeiro lugar, perguntar o seu t i tulo a o orientador da tese. E m
segunda instância, podemos dir ig ir-nos ao bibliotecário (ou a o empre
g a d o d o departamento de obras de referência) , o qual provavelmente
nos indicará a sala o u a estante e m qu e estes repertórios estão à d i spo
sição. N ão s e podem dar a qui outros conselhos sobre este ponto, pois,
como se d i sse , o p rob lema var ia mui to d e d isc ip l ina pa ia d isc ip l ina .
O bibl iotecár io — E p rec i so superar a t i m i d e z . M u i t a s vezes
o b ib l iotecár io da r -vos -á conse lhos seguros , fazendo-vos ganh ar
m u i t o t e m p o . D e v e i s p e n s a r qu e ( s a l v o o c a s o d e d i rec tores
excess ivamente ocupados ou n eurót icos ) um d i rec tor d e b ib l ioteca ,
espec ia lmente s e f o r p equena, ficará contente se puder demonst rar
d u a s c o i s a s : a qu a l i d a d e da s u a memóri a c da s u a e r u d ição , e a
riqueza d a sua b ib l ioteca . Quanto mais longe d o cent ro c menos fre
qüentada for a b ib l ioteca , mais e le se p reocupa po r e l a s e r desco
nhecida . E . n a tura lmente, regozijar-se-á por uma pessoa ped i r a juda.
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É c l a ro que, se. por um l ado , se deve con ta r mui to com a a s s i s
tência do bibliotecário, por out ro , não é aconselhável con f i a r cega
mente nele . Ouçam-sc os s eus conse lhos , mas depo i s procure -s e
oul ras co i s as por con ta própria. O bibliotecário não é um pe r i t o un i
ve rsa l e, a l e m d i s s o , não sabe que f o rma p a r t i cula r que re i s dar à
vossa p esqui sa . Provave lmen te , cons ide ra fundamenta l uma obra que
vo s servirá mui to pouco, e não out ra que vos será, pe lo conlrário.
uiilíssima. Até porque não ex i s t e , a priori. u m a h i e r a r q u i a de obras
úteis e impor t an t e s . Pa ra os object ivos da vossa investigação p o d e
s e r d e c i s i v a u m a idéia con t ida quase por e n g a n o numa página de
u m l i v r o , q u a n t o ao resto inútil <e cons ide rad o pouco impor t an t e
pe l a gene ra l i dade das p e s so as ) e esta página l e r e i s de ser vós a des
cobr i - la co m o vosso f a ro (e com u m p o u co de sorte ) , pois ninguém
vo- l a virá o ferecer numa bande ja de p ra t a .
Consultas interbibliotecas, catálogos computor izadas e empréstimos
de outras bibliotecas — M u i l a s b i b l i o t e ca s p u b l i c a m repertórios
actua l i zados das suas aquisições: d es te m o d o , cm certas bibl iote case p a r a d e t e r m in a d a s d i s c i p l i n a s c possível co n s u l t a r catálogos que
i n formam sobre o que se encon t ra nout ras b ibl i o t ecas i t a l i anas e
es t r ange i r as . Também a este respe i to á aconselhável ped i r in formações ao bibliotecário. Há ce r t a s b ibl i o t ecas e spec i a l i zadas l i gadaspor computador a memórias cen t ra i s , que podem d i ze r -vos em p o u
cos s egundos se um de t e rminado l i vro se encon t ra em qua lque r l adoe o n d e . Po r e x e m p l o , fo i c r i a d o j u n t o da B i e n a l de V e n e z a u m
A r q u i v o Histórico das A r t e s Contemporâneas com um o rdenadorelectrónico l i gado ao a rquivo B ib l i o da B i b l i o t e ca N a c i o n a l de R o m a .
O o p e r a d o r co m u n i ca à máquina o título do l i vro que se p r o cu r a e
passados a l gun s ins t an t e s apa rece no ecrã a f icha (ou as f ichas) do
l i v r o em questão. A pe squi sa pode ser fe i ta por n o m e s de autores,títulos de l i vros , l ema . colecção, edi tor, ano de publicação, etc.
K Taro encontrar, numa b ib l i o t eca i t a l iana norma l , e s l a s f ac i l i
dades , mas c me lhor in formarem-se s empre cu idadosamente , po i s
nunca s c sabe.
U m a vez i den t i f i cado o l i vro n out ra b ibl i o t eca i t a l iana ou e s t r an
ge i r a , ter-se-á presente que geralmente uma bibl ioteca pode asseguraru m serviço de empréstimo interbibliotecas. n a c i o n a l ou i n t e rnac io
n a l . I s t o ex i g e a l gu m t empo, mas se se t r a t a de l i vros mui to difíceis
de encontrar, vale a pena t en ta r. Depend e se a b ib l i o t eca a quem se
di r i ge o ped ido empres t a esse l i vro (a l gumas só empres t am cópias)
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m a i s uma vez, deverão examinar -s e as poss ib i l i dades pa ra cada
caso , se possível com o co n s e l h o do docen t e . De qua lque r f o rma ,
será bom r e corda r -vos que mui t as vezes as os serviços ex i s t em e
qu e só não f uncionam porque não o r e c l amamos .
T e n d e presente, por exemplo, que pa ra s abe r que l i vros sc e n co n
t r am nout ras b ibli o t ecas i t a l i an as , pode i s d i r i g i r -vos ao
C e n t r o N a z i o n a l e di In formaz ione r l ib l i ogra f i che — B i b l i o t e ca
N a z i o n a l e C e n t r a l e , V i t t o r i o E m a n u e l e 1 1. 0 0 1 8 6 R O M A
ou ao
C o n s i g l i o N a z i o n a l e d e l l e R i c e r c h c — C e n t r o N a z i o n a l e
D o cu m e n t a z i o n e S c i e n t i f i c a — P i a z z a l c d e l le S c i e n z e , R O M A
( t e l . 4 9 0 1 5 1 ) . *
R e co r d e m - s e . além d i s s o , que mu i l a s b ibl i o tecas têm u m a l is ta de
novas aquisições, is to é. das obras adqu ir idas recentemente e que a i n d a
não fa zem pa r t e do catálogo. F ina lmen te , é p r ec i so não esquecer que.
se se está a fa ze r um t raba lho sério no q u a l o vosso or ientador está
interessado, ta lvez se possa convence r a vossa f aculdade a adqui r i r
certos textos imp ortantes a que, de outro modo. não se pode ter acesso.
111.2.2. Como abordar a bibliografia: o f icheiro
Eviden t emen te , pa ra f a ze r uma bibl i ogra f i a de base é p r ec i so ver
i t os l i vros . E c m mui t as b ibl i o t ecas só dão um ou do i s d c c a d ave z . r e smungam sc l o g o a s e gu i r se p r o cu r a irocá-lo c fazem per
de r uma quan t idade de tempo entre um l i vro e outro.
Por es ie mot ivo, é aconselhável que. das pr imeiras vezes, não se tente
logo ler i odos os l ivros que se encontram, mas nos l imitemos a fazer a
bibl iograf ia de base. N e s t e sent ido, a consulta pre l iminar dos catálogospermitirá fazer os pedidos quando já se dispõe da lista. Masalistaexuaída
do s catálogos pode não d i ze r n a d a . e f icamos sem saber qua l o l i vro que
devemos pedir pr imeiro. Por esse mot ivo, a consulta d os catálogos deverá
se r acompanhada de u m exame pre l iminar dos l ivros da sa la de consulta.
* Para Poriuyal: Biblioteca Nacional — Ca mpo Grande, 83 — 1749-081 Lisboa.217 082 000. Pesquisa bibliográfica cm linha dc iodas as obras existentes nasias bibliotecas cooperantes (BiN/1'orbasc). Obras digitalizadas disponíveis cm
iha. wAvw.bn.pL (,\'R>
SI
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Q u a n d o se encontrar um capítulo sobre o tema em questão, cora a respect iva bibliograf ia , pode-sc percorrê-lo rapidamente (voltar-sc-á a elemais larde). mas de v e passar-sc imediatamente à bibliograf ia c copiá-latoda. Ao fazê-lo. entre o capítulo consultado e a s eventuais anotaçõesque acompanham a b ib l iog ra f i a sc for organizada racionalmente, far--se-á um a idé ia de qua is são os l ivros, d e entre os enumerados, que oautor considera básicos, e pode começar-sc por ped ir esses. Além d isso,se s e examinar n ào u ma mas várias obras d e referência, far-se-á aindau m controlo cruzado das bibliograf ias e ver-se-ã quais as obras que todas
citam. F ica as sim estabelecida uma primeira hierarquia . Es ta hierarquiaserá provavelmente posta e m causa pelo trabalho subsequente, mas poragora constitui uma base de part ida.
Objectar-se-á que, se há dez obras de consulla, é um pouco demo
rado estar a copiar a bibl iograf ia de todas: efeci i vãmente, po r vezes comeste método arr iscamo-nos a reunir muitas centenas d e l i v ros , a inda queo controlo cruzado permita el imina r os repel idos ( s e se puser por ordemalfabética a primeira bibl iograf ia, o controlo das seguintes tornar-sc-ámais fácil). M as . actualmente, em qualquer biblioteca digna desse nome.existe uma máquina d c fotocópias e cada cópia s a i a u m preço razoável. U m a bibl iograf ia específica numa obra de consulta, salvo casosexcepcionais, ocupa poucas páginas. C om u m a módica quantia será possível fotocopiar u ma sér ie de bibl iograf ias que depois poderão ordenar--se calmamente, e m casa . S ó quando terminada a bibl iograf ia se voltara à bibl ioieca para ver o que realmente se pode encontrar. Nesta altura,
será muito útil ler uma ficha para cada livro, porque poderá escrever-seem cada uma delas a s ig la d a biblioteca e a cota d o l ivro (uma só fichapoderá comer muilas sig las e a ind icação de muitos locais, o que s i gn i f icará qu e o l i v ro está disp onível em muitos lugares; mas também haveráfichas sem siglas e isso será u ma desgraça, vossa ou d a vossa lese).
Ao procurar u m a b ib l iog ra f i a , sempre qu e encont ro u m l i v ro
t e n h o tendência p a r a o a s s i n a l a r n u m p equeno cader no. D epois ,quando fo r ve r i f i car n o f icheiro p o r autores, se os l i v ros ident i f i ca do s n a b ib l iog ra f i a es tão disponíve is , in loco, e sc r evo a o l ado d otítulo o local onde s e encont ra . Todav ia , se t iver an otado muitos título s (e numa pr ime i ra pesqu isa sobre u m tema faci lmente se chegaà centena - a menos qu e depois s e d ec ida qu e muitos são para pôrde pane ) , a dada a l tu ra já não cons igo encontrá-los.
Ponanto, o s istema mais cômodo é o de uma pequena caixa comfichas. A c a d a l i v r o qu e i d ent i f i co ded ico u m a f icha. Quando descubro qu e o l i v ro exis ic numa dada b ib l ioteca , ass ina lo esse facio.
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As ca ixas des te t ipo são baratas c en cont ram-se e m qualqu er papela r ia . O u podem mesmo fazer-se. C e m o u duzenta s f ichas ocupa mp ou c o espa ço e podem levar-se n a pasta sempre que se lb r à b ib l iot eca . F ina lmente , ic r -se -á um a idé ia c la ra daqu i lo que se deveráencontrar e daquilo que já se encontrou. E m pouco tempo tudo estaráordenado alfabcticamente e será de fácil acesso. S e s c quiser, podeorgan i zar - se a f icha d e t a l modo qu e s e t enha a o a l io , à d i r e i t a , alocalização na bibl ioteca e a o a l to, ã esquerda , u m a s i g la convenc i o n a l qu e d i g a s c o l ivro nos interessa como referência g e ra l , comofonte para um capítu lo p a n i c u l a r e ass im p o r d iante .
E claro que se não se tiver p aciência para s e ter um ficheiro. poderárecorrer-se a o caderno. M a s os inconvenientes são evidentes: na tu
ralmente, anotar-se-ão na p r ime i ra página os autores que começam
po r A . n a segunda os que começam por B e , chegada ao f im a p r i mei ra página, já não se saberá onde pô r u m a r t i go de A z z i m on t i ,Federieo ou d c Abbat i . G i a n Saver io. Me lh or se r i a então arranjar umaagenda te lefônica. N ão se f icaria com Abbati antes d e Azz imon t i . master-se- iam o s dois n a s quatro páginas reservadas ao A. O método dacaixa co m fichas é o melhor, podendo servir também para qualquertrabalho posterior ã tese (bastará completá-lo) ou para emprestar aa l gu é m qu e mais tarde venha a t raba lhar e m temas se melhante s.
N o capítulo IV falaremos d e outros t ipos d e ficheiros. como of icheiro de leitura, o f icheiro de idé ias o u o f icheiro de citações (eve r emo s também em que casos é necessária es ta prol i fe ração dcf i chas ) . Devemos aqu i subl inhar qu e o f i che i ro bibliográfico nãodeverá ser i d ent i f i cado c o m o f i che i ro de l e i tu ra , pe lo qu e antec i pamos desde já a lgumas idéias sobre este último.
O f icheiro d e leitura compreende f icha s, eventualmente de for-to grande, dedicadas a l ivros (o u ar t igos ) que se tenham e feet i v a -
mente l ido : nestas f ichas anotar-se-ão resumos, opin iões , e i iaçõcs , em
suma. tudo aquilo que puder s ervir para referir o l ivro, l ido no momentoda redacção da lese (quando já não est iver à nossa disposição) e paraa redacção da bibliografia final. N ão é um f icheiro para trazer c o n -nosco. pelo qu e por ve z e s pode igualmente s er feito e m folhas muitograndes (embora e m forma d e ficha s seja sempre ma is manuseável) .
O f icheiro bibliográfico já é d i ferente: registará todos os l ivrosque se deverão procurar , e não apenas o s qu e s c tenham enconttadoe l i do. Po d e ter-se um ficheiro b ib liográf ico dc de z m i l t í tu los e u mf icheiro d e le i tura de dez títulos embora esta s ituação dê a idéia dcum a tese começada demasiado bern e acabada demas iado mal .
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O f icheiro bibliográfico deve acompanhar-nos sempre qu e vamosa uma biblioteca. A s suas fichas registam apertas os dados essenciaisdo l ivro em questão, c a s ua localização na s bibliotecas qu e tenhamosexp lorado. Poderá quan do mu ito acrescentar-se à f icha qua lquer outraanotação do tipo «muito importante segundo o autor X » , ou « e ss e n c ia l encontrá-lo», ou ainda «fulano disse que esta obra não tinha qualquerinteresse», ou mesmo « c ompr a r » . M a s chega . U m a f i cha d e le i turapode se r múltipla (um l ivro pode dar or i g em a várias fichas de apontamentos), enquanto uma ficha bibliográfica é u ma e um a só.
Quanto mais bem e laborado fo r o f icheiro bibliográfico, mais serásusceptível de ser conservado e comple tado p o r p esqu isas subsequentes, e d e se r empres tado (o u mesmo vend ido) . Va le , pois , a penafazê - lo bem e de m od o legíve l . Não é aconse lháve l gara tu j ar u mtítulo. poiTentura errado, c m caracteres eslenográficos. Freqüentemente,
o f icheiro bibliográfico inicial ( após terem sido assinalad os nas f ichasos l i v ros encont rados , l idos c c lass i f i cados n o f i che i ro de le i tura)pode constituir a base para a r edacção d a b ib l iog ra f i a f inal.
Sã o es tas , pois , a s nossas instruções para o reg isto correcto doslílulos, ou se j a . a s normas para citação bibl iográfica. Es tas normassão válidas para :
1 ) A ficha bibl iográfica2 ) A f icha d e leitura
3 ) A citação dos l ivros na s notas de r odap é4 ) A r edacção da bibliografia final.
Portanto, deverão se r recordadas nos vários capítu los em qu e nosocuparmos destas fases d o t raba lho. Mas são aqu i f ixadas uma vezpo r t odas. Trata-se de normas mui to impor tantes c o m a s qua is o sestudantes te rão dc te r a pac iênc ia de se f ami l i a r i zar . Repare - se quesão sobretudo normas funcionais, urna vez que p ermi tem quer a vós .quer a os vossos l e i tores , ident i f i car o l i v r o de qu e s e f a la . M a s sã o
também normas, p o r ass im d i ze r , d c et iqueta erudi ta: a sua observância r eve la qu e a pessoa está f a m i l i a r i z a d a c om a d i s c i p l i n a , a suaviolação I ra i o parvenu c ient í fico c , por v e z e s , lança uma sombrade descrédito sobre u m Irabalho. noutros aspectos be m fe i to, N ã osão, pois, normas vãs, que não passam d e puras f r i vol idade s d e e r u di to . O mesmo sucede n o desporto, n a f i l a t e l i a . n o bi lhar, n a v idapolílica: se alguém u t i l i z a ma l expressões-chave, é o lhado c o m d es confiança, como a l gu ém qu e v e m de fora . qu e não é «dos nossos» .E preciso estar dentro da s regras d o g rupo e m qu e s e quer entrar,pois «quem não mija e m c om p a n h i a ou é ladrão ou é esp ião» .
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At é porque para v io lar regras ou para s e lhes opor é necessário
começar por conhecê- las e . eventua lmente , demonst rar a sua incon
sistência ou a s ua função meramente rep ress iva . M a s an les d e d i ze r
qu e n ão é necessário sub l inhar o t í tu lo dc u m l i v ro, é p rec i so saber
qu e e le se sub l inha e porquê.
I I I .2 .3 . A citação bibl iográfica
Livros — E i s u m exemplo de citação bibliográfica e r rada :
Wilson. ].. «Philosophy and rcligkm». O xford. 1961-
A c itação está e r rada pe las segu intes r azões :
1 ) D á apenas a i n i c i a l d o nome própr io do autor. A i n i c i a l nãobas ta , e m primeiro lugar, porque quero saber o nome e o ape l ido d cu ma pessoa e , d epois , porque p o d e haver dois autores c o m o mesmoa p e l i d o e a mesma i n i c i a l . Sc l e r qu e o au tor d o l i v r o Clavis un i -versalis é P. R os s i , n ão f icarei a saber se se t ra ta d o filósofo Paolo
R o s s i d a Un i v e r s i d a d e d e F lorença, ou d o f i lósofo P i e t ro Ross i d aUn i v e r s i d a d e d e T u r i m . Q u e m , é J . C oh e n V O c r i t i co e es te tólogofrancês J e a n C oh e n ou o filósofo inglês J on a t h a n C oh e n ?
2 ) Se j a como for que se apresente o t ítu lo de um l i v ro, nunca énecessário pô-lo entre aspas, dado que é um hábito quase un iversa lreferir entre aspas os títulos das rev i s tas ou os t ítu los d os a r t i gos d erev i s tas . E m t o d o o c a s o , no t í tu lo em ques tão, e ra m e l h or pôrReligion co m maiúscula, pois os títulos anglo-saxónicos têm os substantivos, adject ivos e verbos com maiúsculas , d e ixando apenas c o mminúsculas os a r t i gos , partículas, preposições e advérbios ( s a l vo seconstituírem a última pa lavra d o t í tu lo: The Lóg ica Use oflf),
3) Não es tá certo dizer onde u m l i v r o f o i publ icado e nào d i ze r
por quem. Suponhamos que tínhamos enconi rado u m l i v ro qu e n os
parec i a importante, que o queríamos comprar e qu e v inha ind icado« M i l ã o . 1 9 7 5 » . M a s d e q u e c d i l o r a ? M on d a d or i , R i z z o ü . R u s c on i ,
Bompian i . Eclirinelli. Va l l a r d i ? C om o é qu e o l i v re i ro hav ia de nos aju
dar? E se est ivesse mar cado «Par is . 1976» . para onde iríamos escrever? Só podemos l imitar-nos à c idade quan do se trata d e l ivros a n t i
go s ( «Ame s te r dão . 1678 » ) qu e s ó s e podem en cont rar numa b ib l ioteca ou n u m c ír c u lo r es t r i to de ant iquár ios . Se num l i v ro es t ive rescrito «C a mb r idge » , de qu e c idade se trata? D a d e Inglaterra o u d ados Es tados Unidos? H á muitos autores importantes qu e referem osl ivros apenas c o m a c idade , A menos qu e s e trate d e art igos d e e n c i -
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clopédia (onde existem critérios de brevidade para economizar espaço)decerto s e trata de autores snobes qu e d e s p r e z a m o seu público.
4 ) D e qualquer forma, nesta c itação. «Oxford» está errado. Este
l i vro nào fo i edi tado e m O x f o r d , m a s , como se diz no frontispício.pe la Oxford Un ive r s i t y Pre ss , que é uma editora com sede e m Londres(bem corno e m N o v a Iorque e Toronto). Além d i s so , fo i impresso e mG l a s g o w . m a s re fere-se sempre o luga r da edição e não o lugar d aimpressão ( com exeepção dos l ivros ant igos, onde o s dois locais coincidem, dado que se tratava d e impressores-editores-livTeiros). E ncon trei
numa tese um l ivro indicado como «Bomp iani , Far ig l iano» porque po racaso esse l i vro t inha s ido impresso ( c omo s e in fer ia da referência«acabado de impr imir » ) em Fa r i g l i ano . Quem fa z coisas destas dá aimpressão d e nunca t er vis to u m li vro na su a v ida . Pa ra te r a certeza,
é preferível não se l imi t a r a p rocura r o s dados edi tor ia is no frontispí
cio. mas também n a página seguinte, onde está o copyr ight. .Aí se podeencontrar o local real da edição, bem como a sua data c número.
Se n os l imi t a rmos ao frontispício, p o d e r emo s i ncor r e r c m erros
g raves , co mo pa ra l i vros publ icados pe l a Ya l e Un ive r s i t y Pre ss , pe l a
C o r n e i U n i v e r s i ty P re s s o u pe l a Ha rva rd Un ive r s i t y Pre ss , ind ica rco mo locais de publ icação Y a l e . H a r va r d e C o r n e l l , que não sãonomes d c l oca l i dades , mas de cé lebres un ive r s idades pr i vadas . O srespect ivos locais s ã o N e w I J a ve n , C a m br i d g e ( Ma s s a ch u s c t t s ) cI thaca. Ser ia o mesmo q u e u m estrange iro encontra r u m li vro ed i tado pela Univcrsitã C a t t o l i c a e indicá-lo co mo p u b l i c a d o n a a l e g r ecidadez inha ba tuca r d a costa do Adr iát ico.
Ult ima advertência: é bom costume citar sempre a cidade d e ediçãona (íngua original . E . portanto. Londo n e não Londres, Berl i ne não Ber l im.
5 ) Q u a n t o à da t a , está bem p or acaso. N e m sempre a data re fer ida
no frontispício é a verdadeira data d o l i vro . Po d e ser a da última ed i ção. Só na página do cvpyright poderemos encontrar a data d a p r i
meira edição (e poss ive lmente descobriremos qu e a p r ime i r a ediçãofoi publ icada p or outro edi tor ) . A diferença é por vezes mui to impor tante. Suponhamos qu e s e encontra uma c itação co mo esta :
Searle. J . , Speich Acrs, Cambridge, 1974.
A parte a s outras incorrecções, ve r i f i cando o copyriglu desco
bre-se qu e a p r ime i r a edição é de 1 9 6 9 . O r a pode t ratar-se, n a vossa
lese. d e p r ec i s a r se Scarlc fa lou d os speech acrs an t e s ou depo i s d e
outros autores e. portanto, a data d a p r i m e i r a edição é f undamenta l .
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Alé m d i s so , se se le r bem o pre fácio d o l ivro, d escobrir-se-á que asu a tese f undamenta l fo i apresentada co mo d isse r tação dc PhD emOxford e m 1959 (por tan to d e z anos an t e s ) e q u e . entretanto, váriaspartes d o l ivro foram publ icad as c m revistas f ilosóficas.
N ão passa r i a pe l a cabeça dc ninguém c i t a r uma obra deste modo:
Man zoni. Alessandra, I pwmessi spoSí, Mol le i ia , 1976
só porque l e m n a mão u ma edição recente publ icada e m M o l f e t ta .
O r a , quan do sc trabalha sobre u m autor. Searle eqüivale a M a n z o n i : não
podemos d i fund i r idéias erradas sobre o seu trabalho, e m nenhum caso.
E s c, a o es tudar -se M an zon i . Sea r le ou W i l son , s e t iver t rabalhado c o m
um a edição posterior, revista e aumentada , deverá especi ficar-se quer
a data d a p r ime i r a edição que r a da edição da qua l se faz a citação.
A g o r a qu e j á vimos co mo não se deve c i t a r u m l i vro , examine
mo s a s e gu i r c inco mane i r as d e ci tar correctamenie o s dois l ivros de
qu e falámos. Esclareçamos que há outros cr itér ios e que qua lque r
d e l e s pode r i a se r vál ido d e sd e q u e pe rmi t i s s e : a ) d i s t ingui r os l ivros
dos art igos ou d os capítu los de out ros l i vros ; b) ident i f icar sem equ í
vocos quer o nome d o autor quer o títu lo: c) ident i f icar local d c pub l i
cação, edi tor e edição: d) ident i f icar eventualmente o número dc pági
na s ou a dimensão do l i vro . Des t e modo. o s c inco exemplos q u e
apresentamos são todos bons numa medida var iável, embora demos
preferência, p or vários mol i vos . a o p r ime i ro :
Speech Acts — .AH Essay in lh e Phi losophy o f Langaage,I> ed.. Cambridge. Cambridge University Press. 1969( .Ve iL , 1974), pp. VU1-204.Phi losophy and Religion — The Logic of Rel ig ious Belief,London. Òxíord University Press. 1961, p p. V1II-120.Speech Acrs (Cambridge: Cambridge, 1969).1'hi losophy a nd Religion (London : Oxford. 1961).
Speech Acis. Cambridge, Cambridge University Press.l.'etl-. 1969.(5-." ed.., 1974), pp, V11I-204.Philosophy and Religion, lx>ndon, Oxford University Press.1961. pp.V i r i -120 . "
Speech Acts. London: Cambridge University Press. 1969.Philosophy and Religion. London: O xford University Press,1961.
1. Searle. John R..
Wilson. John,
2. Searle. John R..Wilson. John.
3. Sear l e , John /?..
Wilson. John.
4. Searle. John R..Wilson. John.
S i SEARLE. John R .1969 Speech Acrs — An Essay i n l h e Phi losophy of lu inguage.
Cambridge. Cambridge Universily Press (5.* ed.. 1 974),pp . VIII-204.
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W I L SO N . John
1961 Philosophy tmd Rpligitm — Th e I-ogit: ofRel ig ious Rel iej .London. Oxford University Press. pp. VIT1-I20.
Ev identemente , há soluções m is tas : n o e xe m p l o 1 o nome d oautor pod ia es tar cm maiúsculas como e m 5 ; n o exemplo 4 podeencontrar-se o subtítulo como n o p r ime i ro e n o qu i n t o . E . comoveremos, há s i s t emas a inda mais compl icados qu e inc luem tambémo título da colecção.
D e qualquer forma, aval iemos estes c inco exemplos, iodos eles válidos. Deixemos p or agora d e lado o exemplo número c inco. Trata-se d eu m caso d e bibliograf ia especial izad a (s istema dc referência autor-data)de qu e falaremos mais adiante, a p ropósito das notas c da bibliograf ia
final. O segundo é t ip icamente americano, sendo mais ut i l izado n a snotas de rodapé do que na bibliograf ia f inai. O terceiro, tipicamente alemão, tornou-se raro e . a meu ver. não apresenta qualquer vantagem. Aquarta forma é muito ut i l izada nos Estados Un idos , e considero-a muitoantipática, pois n ão permite d ist ing uir imediatamente o título da obra.O sistema número 1 d iz-nos tudo aquilo que nos serve, di/.-nos claramente qu e se traia d e um l iv ro e dá-nos u ma idé ia d o seu volume.
Revistas — Para ve r de imed ia to a comodida de deste sistema ,
procuremos c i t a r de três formas diferentes u m a r t i go de r ev i s ta :
Anceschi, Luciano. «Orizzonte delia poesia», // V e r r i I (NS) . Fevereiro 1962'6-21.
Anceschi. Luciano. «Orizzoiue delia poesia». // Ve r r i I (NS) . pp. 6-21Anceschi, Luciano, Orizzonte delia poesia, in «II V erti», Fevereiro I % 2 . pp. f>
-21.
Ha ver ia a inda out ros s i s t emas, ma s ve jamos desde já o primeiro
e o terceiro. O p r ime i ro põe o art igo entre aspas c a revista e m itálico,o lereciro, o art igo e m itálico e a revista entre a spas. Por que motivo cpreferível o primeiro? Porque permite c o m um simples olha r compreender que «O r i z zon tc d e l i a poesia » não é um livro ruas um texto curto.Os art igos d c revista entram assim n a mesma categoria ( c omo veremos) dos capítulos dos l ivros e das actas d os congressos. E c la ro queo segundo exemplo é urna var iação do p r ime i ro : l im i ta - se a omit ira referência ao mês d e publicação. Porém, o primeiro exemplo informa--m c também sobre a data d o art igo e o segundo, não. pelo qu e é def i-ciente. Teria sido melhor pôr ao menos: // Ve r t i 1. 1962 . N o t e - s e qu e
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foi posta a indicação (NS ) ou «N ova Sér ie » . Isto é muito importante
porque // Ve r r i teve uma p r ime i ra sér ie também com o n úmero I , que
é de 1956. Sendo preciso citar aquele número (que obviamente não
podia te r a indicação «ant iga s ér ie » ) , seria correcta a seguinte forma:
Ciorlicr. Cláudio. «UApocalisse d i Dylan Tliomas». // Ve r r i 1. 1. Outono1956, pp. 39-46
onde, como se vê, além d o número, está especif icado o ano. E ass imqu e a ou t ra c itação pod ia se r r e formulada d a seguinte ma neira:
Anceschi. Luciano. «Orizzunte deli» puesia», I I Ve r r i VI I , 1. 1962, pp. 6-21.
s c nã o fosse o facto de a nova sér ie não i n d i c a r o a n o . N o t e - s e a inda
que certas revistas nume ram os fascículos progressivamente a o longod o a n o l o u n u m e r a m p o r volume: e n um a n o podem s e r publ icados
vários volumes ) . Por tanto, querendo, nã o s e r i a necessário pôr o
número do fascículo. bas tar i a reg i s tar o a no e a página . E xe m p l o :
Guglielmi. Guido. xTccnica c lelleratura», Língua esi i fe. 1966, pp. 323-340.
Se procurar a r ev i s ta n a bibl ioteca, veri f icarei qu e a págin a 32 3
se encontra n o terceiro volume d o p r ime i ro a n o . M a s n ão v e j o por
que hei-de sujeitar o meu leitor a esta ginástica (embora certos auto
re s o façam) quando seria muito mais cômodo escrever:
Guglielmi. Guido. «Técnica e leiteratura», Ungua e st/te. I . 1. 1966
e nessa a l tu ra , embora não forneça a página, o art igo é muito mais
acess íve l. Alé m d i sso, se quisesse encomendar a revista a o ed i tor
como número atrasado, não me in te ressar ia saber a página ma s o
número d o volume. Todav ia , a ind icação das páginas in ic ia l e final
serve-me para saber s c s c trata d e u m a r t i go longo o u d e u ma brevenota e. portanto, são informações sempre aconselháveis.
Aurores vár ios e organizado po r — Passamos agora aos capítu
lo s de obras mais vastas, sejam elas recolhas d e ensaios d o mesmo
autor ou colectâncas m is tas . E is u m exemp lo simples :
Morpurgo-Tagliabuc. Guido. «Arislolelisnío e líarocco» i n A A W . Rerorica eRuroeco . Atti dcl ITI Congresso Inluma/ionale d i -StudiUmanistici. Vene/ia. 15-18 Junho 1954. organizado porEnrico CastelU. Roma. Bocea. pp. 119-196.
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O qu e me d i z u m a in d ica ç ão d es te i ipo? Tudo aqu i lo d c quenecessito, isto é:
a ) Trata-se de um texto integrado nu ma recolha d e outros textos e.portanlo, o de M orpurgo-Tag li abue não é um l ivr o, embora d o númerodc páginas (77 ) se conc lua s er um estudo bastante consistente.
b) A r ecolha é u m volume c om o título Retór ica e Barocco qu ereúne textos d c au tores vá ri os ( A A W o u A A . V V . ) .
c) Es ta recolha const i tui a documentação das acias d e um encontro.
E importante sabê-lo porque e m certas bibliograf ias poderei descobrir
qu e o volume está catalogado e m «Acta s de encontros e congressos».
d ) Q u e é organ i zado por Enr i co Cas t e lU . E um dado mui to impor
tante, não só porque c m qualquer biblioteca poderei encontrar a reco
lh a n o nome «Ca s tc l l i , Enr ico» , mas também porque , segundo o usoanglo-saxónico. os nomes d os au tores vários não vêm r eg i s tados e m
A (Au t o r e s V á r i o s ) m a s n o nome d o organ i za dor . Por tanto, este
volume, numa b ib l iog ra f i a i t a l i an a , aparecer ia des ta forma:
A A W , Retórica e Barocco. Roma. B occa. 1955. pp. 256. 20 i l .
mas numa b ib l iog ra f i a amer icana tomar ia a segu inte forma:
Castclli. Enrico, (ed.), Returiai e Barocco, etc.
onde « e d . » s i gn i f i ca « o r ga n i z a dor » ou « or ga n i z a do p or » ( c om « e d s . "a organ ização pertenceu a m a i s de u m indiv íduo) .
Po r imitação do cos tume amer ican o, ho j e e m d ia este l i v ro pod iaser registado como:
Castclli. Enrico (organizado por). Retórica e Barocco, etc.
Sã o co i sas que se d evem saber para ident i f i car u m l i v r o n u mcatálogo d e b ib l ioteca ou nout ra b ib l iog ra f i a .
C o m o v e r emo s no parágra fo I I I .2.4. a propós i lo de uma exper iência concre ta d e p esqu isa bibliográfica, a p r ime i ra c i tação queencont rare i des te ar t i go, n a Storia delia Lettcratura Ital iano deG a r z a n t i , f a l a r i a d o ensa io d c M or p u r g o - T a g l i a b u e n os seguintestermos:
ter p reseiiie... A miscelãnea Retór ica tf Barocco, Au i de i I II CongressoInternazionale d i Studi Uihanistict Milano, 1955. e em particular o importanteensaio de ( i . Morpurgo-Tagliabue, «Arisiolelismo c Barocco».
9 0
Trata-se d e u m a péssima indicação bibliográfica, dado q u e :
á) n ão d i z o nome própr io do autor. /;) leva a c re r q u e o c o n -
•rresso se r ea l i zou e m M i lão ou qu e o ed i tor é de Mi lão ( e ambas
as a l t e rnat ivas estão e r radas ) , c) n ão d i z qu e m é o editor, d ) não
i n d i c a a d imensão do e n s a i o , e ) n ão d i z po r quem é o r g a n i z a d a a
misce lãnea . embora com a expressão ant iquada «m is c e lãn e a » s e
i n d i q u e que é uma recolha d e textos de vários autores.
A i de nós se procedêssemos a s s i m n a nossa f icha bibliográfica.
D e v e m os r e d i g i r a f i cha d e modo a d e i xa r espaço l i v re para a s i n d i
cações qu e por enquanto nos falta m. Deste modo, anotaremos o l ivro
d a seguinte forma:
Morpurgo-Tagliabue. G...«Aristotclismo c Ba rocco», in A A W . Retórica e Barocco — AUi ciei 111 CongressoInterna/ionale di Studi Umanistici organizado por .... M i l a n o— 1955. pp ....
de modo que nos espaços em branco possamos depois i n t r o d u z i r o s
dados qu e f a l t am, quand o os t i ve rmos encont rado nout ra b ib l iog ra
f ia , no ca tálogo da b ib l ioteca o u mesmo no própr io l ivro.
Mui tos autores e nenhum organizador— Suponhamos agora qu e
queremos reg i s tar um ensa io publ icado nu m l iv ro que é obra d e qu a
tro autores diferentes, s e m q u e nenhum de les se apresen te como
organ i zador . Tenho, p o r exemplo, à m in ha f rente , u m l i v ro a lemão
com quat ro ensa ios , respec tivamente de T . A . v a n D jik . .Tens I hw e ,
Janos S. Petõfi e Hannes R ieser . P o r comod idade , n u m caso deste
t i po . ind ica- se apenas o p r ime i ro au tor segu ido de e t a i , qu e s i g n i
fica e t alii;
Djik T . A. van et al.. Z u r Best immung narraliver Strukntren. etc.
Passemos agora a u m caso ma is compl icado . Tra ta - se d c u m
longo ar t i go qu e aparece n o torno terceiro d o volume duodéc imo de
u ma obra colec t iva . e m qu e cada volume tem um t í tu lo d i ferente
d o d a obra g loba l ;
Hymcs, Dell, «Anthropology and Sociology», in Sebeok. Thomas A., org.,Curren t Tremi* ia IJngutstics. vol. XII. Linguisiirs and AdjacemArts and Sc iences, t. 3,TheH ague, Mouton. 1974. pp. 1445-1475.
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- Is to p a r a c i t a r o a r t i g o de D e l l H y m c s . S e . p e lo contrário, t iverde c i t a r a obra comple ta , a in formação q ue o l e i tor espera já não 6em que vo lume se encont ra D e l i H y m e s , m a s p o r quantos volumesé composta a obra :
Sebcok. Thomas A . org.. Cur ren t Trends in Lingüista: \; T h e Hague. M tmton.1967-1976. l 2vols .
Q u a n d o t e n ho d c c i t a r um ensa io cont ido num volume d e ensa iosdo mesmo autor , o método a adop tar n ão d i fere d o c a s o d e AutoresVár ios , s a l v o qu e om i t o o n om e d o au tor antes d o l i v ro :
Rossi-Landi. Ferruccio. «Ideologia come progeitazionc sociale». in // l ingUu$-
gi o come lavoro e come mercato , M i lano. Rômpiani,1968. pp. 193-224.
Ter-se-á notado que , g e ra lmente , o título de ut n capítulo é i n u m
dado l i v ro , enquanto o a r t i go de r ev i s ta não é i n a r ev i s ta e o nome
des ta segue-se imed ia tamente a o t ítu lo do a r t i go.
A .sér ie — U m s i s t ema de citação mais per f e i to aconse lha qu eanotemos também a eolccção em que o l i v r o é publ icado. Tra ta - sede um a in formação, que , na m i n h a opinião, não c indispensável,u ma v e z qu e a obra f i ca su f ic i entemente ident i f i cada conhecend o oautor, título, ed i tor e an o de publ icação. N o entanto, c m certas d isc i
pl inas , a eolccção pode const i tu i r u m a g a r a n t i a ou um a indicaçãod c u m a c e n a tendência científica. A eolccção re fere-se entre aspasdepois d o t í tu lo e inc lu i o número de o r d e m d o volume:
Rossi-l.andi. Ferruccio, li l inguaggio come lavoro e come m e reato . «Nuov:
Saggi lüiüani 2», M ilano. Bompian i. 1968. p . 242 .
Anôn imo, Pseudôn imo, e tc . — H á a i n d a os casos d e autores anôn imos , de u t i l i zação de pseudônimos e de a r t i gos de enciclopédiaprov idos d e in ic ia is .
No p r ime i ro caso. bas ta píir n o l u g a r d o nome d o au tor a i n d i c a
ç ão « A n ô n i m o » . N o segundo, basta fazer suceder ao pseudônimo,entre pa rênteses, o nome verdadeiro (se for conhecido), eventualmentesegu ido d c u m ponto d e interrogação se for uma hipótese bastanteprovável. Se se trata d e um autor reconhec ido como ta l pe la tradição.
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mas cu ja f i gura histórica l enha s ido pos ta e m causa pe la crítica mais
recente, registá-lo-emos como « P s e u do» . E xe m p l o :
Longino (Pseudo), D e l Subl ime.
N o te rce i ro caso. uma v e z qu e o a r t i go «Se c e n t i s mo» da Encic lo
pédia T r e c c a n i t e m a s i n i c i a i s « M . P r . », p rocura- se n o in íc io do
volume a l ista d a s i n i c i a i s , on d e s c ve r i f i ca qu e se trata d c M a r i o
Pr a z . e escreve - se :
ario) PrCaz). «Scccnlismo». Enciclopédia I tal iana, X X X I .
U so d o i n — H á a inda obras que são agora acessíveis nu m volume
ensaios d o mesmo autor o u numa antologia dc utilização gera l, masqu e começaram por ser publ icadas e m revistas. Sc se trata d e uma refe
rência marginal relat ivamente a o tema d a lese. pode c itar-se a fonte
mais acessível, ma s sc sc trata de obras sobre as quais a tese se debruça
especif icamente, o s dados d a primeira publicação são essenciais po r
razões d e exa ctidào histórica. Nada impede que se use a edição mais
acessível, mas sc a antologia ou volume d c ensaios forem be m feitos
deve encontrar-se neles a referência à p r ime i ra edição d o trabalho c m
questão. Part in do destas indicações, poder-se-ão então organ i zar re fe
rências bibliográficas deste t ipo:
Kai/. .letrold J . e Fodor. Jerry A., «The Structurc o f a Seraantic Thcory».Language. 3 9 . 1963, pp. 170-210 (agora inFodor, Jerry A . c Kalz, Jerrold J . . orgs., 77 IÍ
Structurc of language, Englcwood Cli f fs;Preniice-Ilall. 1964. pp. 479-5IH).
Q u a n d o s e u t i l i z a a b i b l i og r a f i a e s p e c i a l iz a d a d o t ipo au tor -data
( de que f a la remos e m V .4 .3 . ). d e v e ind icar - se e m d es tacado a d a t a
da p r i m e i r a pu blicação:
Kat/, Jerrold J . e Fodor. Jerry A.1963 «The Structure of a Scmantic Theory». Language 3 9 (agora
in Fodor. J . A . G Kat/. J . J . . orgs., V ic Structure o f Language,Engkwood Cli f fs. Prcnticc-Hall. 1964, pp. 479 -518).
Citações de jornais — As c itações de diários c semanários f u n
c i o n a m c om o as ci tações das r ev i s tas , sa lvo qu e é m a i s c on v e n i -
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eme (para mais fácil acesso) pôr a data de preferência ao número.Ao c i t a r d e passagem u m a r t i go não é es t r i t amente necessário ind i
ca r também a página ( embora se j a sempre út i l ; n e m . n o caso dosj o r n a i s d iár ios , i n d i c a r a c o l u n a . M a s se s e f i ze r u m estudo específico sobre a i m p r e n s a , então estas indicações tornam-se quaseindispensáveis:
Nascimbem. G tulio, «Come ('Italiano santo e navigatore é divcnlato bipo aro>..Corriere del ia Sera. 25.6.1976. p. 1. col. 9 .
Para os j o r n a i s que não l enham um a di fusão n a c i on a l o u internaciona l (ao contrário do que acontece c o m The Times, l .e Mondeou o Corr iere delia Se rá) , é conven iente espec i f i car a c i d a d e ; cf.
Ga-zeilino ( V e n e z i a ) . 7 .7 .1975 .
Citações de documentos oficiais ou de obras monumenta is —Para os documentos of ic iais existem abreviaturas e s i g las q u e var i amd e d i s c i p l i n a p a r a d i s c i p l i n a , la l como exis t em a brev ia turas típicaspara t raba lhos sobre manuscr i tos ant i gos . Aqu i só podemos remete r o l e i t o r p a r a a l i t e r a t u r a esp ec í f ica , cm que se inspirará.Recordemos apenas q ue . no âmbito de u m a d a d a d i s c i p l i n a , c e n a sabrev ia turas s ão de u s o t r a d i c i on a l , não sendo vó s obr igados a d a routros esc larec imentos . Para u m estudo sobre a s ac tas par lamcn la-res amer icanas , u m m a n u a l d o s E s l a d os Un i d os a c on s e lh a c itaçõesdo t ipo:
S. Rcs. 21K, 83d Cong.. 2 d Sess.. 100 Cong. R ec. 2972 ( 1954)
qu e o s e s p e c i a l i s t a s e s tão e m c on d iç õe s de l e r a s s i m : «Se n a tc
R e s o l u t i o n n umber 21 8 adop ted a t the second sess ion o f l h e E i g h l v -- T h i r d C o n g r e s s , 1 9 5 4 . a n d r e c o r d e d in v o l u m e 1 0 0 o f l h eCongressional Record b e g i n n i n g on pa ge 2972 » .
D a mesma forma, num estudo sobre a f ilosof i a med ieva l , quandose indica r um texto como su sceptível de ser encont rado in P . I . . 17 5.9 4 8 ( ou H L. C L X X V . c o l . 9 4 8 ) , qualque r pes soa compreenderá quenos estamos a r e f e r i r à c o l u n a 9 4 8 d o volume 1 7 5 d a Patrologic.latina de M i g n e , u m a r ecolha clássica de textos lat inos d a IdadeM édia c r is tã. M as se se es t i ve r a e laborar ex novo uma b ib l iog ra f i aem f ichas , será conven iente qu e . da p r i m e i r a v e z . s e anole a re fe-
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rência completa d a obra , at é porque na b ib l iog ra f i a g e ra l será me lhor
citá-la por extenso:
Patroiosiae Cargas Completas, Series Latina, organizador J . P. Migne, Pari*.Gurnier. 1844-1866. 22 2 võls. (•iSuppíemenlitm, Turnhout. Brep ol*. 1972).
Ierr
Citações de clássicos — Para c i t a r obras clássicas, há convenções quase un iversa i s , d o t ipo tífulo-livro-capítulo. ou parle-pará-g ra f o o u canto-verso. Certas obras foram agora subdivid idas segundocritér ios que r emontam à ant igüidade : quando organ i zadores moder nos lhes sobrepõem outras subdivisões, g e ra lmente conse rvam também a referência t ra d ic iona l . Des te modo, s e qu isermos c i t a r d a
Metafísica de Ar is tóte les a d e f in ição d o pr inc ípio da nào c on t r a d i ção, a citação será: Me l . T V , 3 . 1005 b , 18 .
U m t r echo d os Col lected Papers de C h a r l e s S . Pe i rec c i t a - sehab i tua lmente : ÇP , 2 .127 .
U m vers ículo da Bíblia citar-se-á como 1 Som , 14 :6 -9 .A s comédias c as tragédias c láss icas (mas também as m od e r -
s) c i t a m - s e c o l oc a n d o o ac to em números r om a n os , a c e n ae m números árabes e, e v e n t u a l m e n t e , o ve rso o u os ve rsos : Fera,I V , 2 : 5 0 - 5 1 . O s a n g l o - s a x õ e s p o r v e z e s p r e f e r e m : S h r ew . I V .i i , 5 0 - 5 1 .
Ev identemente , i s to e x i ge qu e o l e i lor d a tese sa iba qu e Feraquer d i ze r A fera amansada, d e Shakespeare . Se a t ese f o r sobreteatro isabelino. não há p rob lema. Ma s se a referência intervém comodivagação e l e g an t e e douta numa t ese d c p s i c o l og i a , será me lhorfazer uma c itação mais extensa.
O p r i n c i p a l cr itér io d ever ia se r a func iona l idade e a fácil compreensão: se me r e f e r i r a u m ve rso d e Dan te como 11 .27 .40. pode
log icamente deduzi r - se que se eslá a f a la r do quadragés imo versodo canto 2 7 d a segunda par te . M a s u m espec ia l i s ta d e Dante p re fe riria Pu r g . X X V I I , 4 0 . e é conven iente conformarmo-nos a os costumes d isc ipünares — qu e cons l i tucm u m segundo, mas n ão menosimportante , cr itér io.
Ev identemente , é preciso estar atento, a os casos am bíguos . Porexemplo, o s Pensamentos d c P a s c a l sã o referidos com um númerodiferente, consoante n os r epor tamos à edição de B r u n s c h v i cg o u aoutra, p o i s são ordenados de forma d iversa . E isto sã o co i sas q u ese ap rendem lendo a l i t e ra tura crítica sobre o lema.
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Citações de obras inédi tas e de documentos pr ivados — Teses
de l i cenci a tura , manuscr i tos e documentos semelhantes sào espec i
f i cados como ta l . Ve j amos dois exemp los :
íià Porta, Andréa, Aspeni di u na lenria deWesecuzione ne l linguaggiu ntiiurate . Tese discutida na Faculdade d e Letras e Filosofia.Bologna, A . A . 1975-76.
Valesio. Paulo. Npvantiqua; liheiorics a s a Comem porary LingnisiicTheory . texto dactilografado em curso de p ublicação ipo;gentil cedância do autor).
De i gua l modo sc podem c i tar car tas p r ivadas e comunicações
pessoais. S e são de importância secundária, basta mencioná-las numanota . M a s s e tê m u ma imp ortância d ec i s iva para a nossa tese, f igu
rarão também na b ib l iog ra f i a ;
-Smiih, John. C ana pessoal a o autor (5.1.1976).
C o m o se verá a i n d a e m V .3 . , para este t ipo de citações deveremoste r a d e l i cadeza d c p ed i r autorização a quem nos fe z a comunicação p e s so a ] e . se e la t iver sido oral. mostrar- lhe a nossa transcriçãopara aprovação.
Originais e t raduções — E m r i gor, u m l ivro deveria s e r c on s u l -lado e c i t ado na l íngua o r i g i n a l . M a s a r ea l idade é b e m d i ferente.Sobretudo porque existem l ínguas que . por consenso gera l , não c
indispensáve l saber (corno o búlgaro) e outras que nào se é obrigadoa saber (parte-se do princípio de que todos sabem um pouco de francévc dc inglês , um pouco menos de a lemão, que um i tal ia no pode compreender o espanhol e o português mesmo s e m saber estas línguas,
embora isso nã o passe de urna i lusão, e que r egra ge ra l não se percebe o russo ou o sueco) . E m segund o luga r, porque certos l ivrospodem mui to b e m s e r l i dos cm iraduçòes. Se se f izer uma tese sobreMoliè re . seria bastante g r ave t e r l ido este autor em ita l iano, mas numatese sobre a história do Ressurg imento não há grande problema sese le r a Histór ia de I tál ia d e D e n i s M a c k Sm it h n a tradução i t a l i anap u b l i c a d a p e l a L a t e r za . E se r i a hones to c i t a r o l i v r o c m i t a l i ano.
T od a v i a , a ind icação bibliográfica poderá v ir a ser útil a ou t roN
que que i ram ut i l i zar a edição o r i g i n a l e . portanto, será conveniente
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ar uma indicação d u p l a . O mesmo sucede se se t i ve r l ido o l ivro
sm inglês. Está certo c itá-lo cm inglês, mas por que n ão ajudar outros
leitores qu e que i ram saber se há um a tradução i t a l i a n a e qu e m a
publ i cou? D es te modo. para ambos os casos , a forma ma is adequada
é a segu inte :
Mack Smith, Denis. ftaly. A M od em Mistory, An n Arbor, Th e University ofMichigan Press, 1959 (tr. i t. de Alben o Acquaronc, Storiad'ltalia — D a l 1851 a l 195S, Bari, Laier/.a, 1959).
Há excepções? A l g u m a s . P o r exemplo, s c a tese não for em grego
e suceder c i t a r - se (o que pode acontecer numa dissertação sobre
temas ju r ídicos ) A República, de Pla tão, bastará citá-la em i t a l i ano,
desde qu e s c especif ique a tradução c a edição a que se faz r e f e rência.
Do mesmo modo. se se f i ze r uma tese d c ant ropolog ia cu l tu ra l ,
sc t i ve r de c i t a r o segu inte l i v ro :
_ounan, J u . M . e Uspcnskij. B A .. Tipologia delia cultura, M i lano. Rompiam,1975
poderemos sent i r -nos au tor i zados a c i t a r apenas a tradu ção i t a l i ana ,
e isto p or duas boas r azões : é improváve l que os nossos le itores
a r d a m de d e s e j o dc i r ve r i f i car n o o r i g i n a l r u s s o , c não ex i s t e u m
l i v ro or i g ina l , dado qu e s c trata d e u m a r ecolha d c ensa ios pub l i
cados e m várias r ev i s tas , col i g idos pe lo organ i zador i t a l i ano . Q u a n d o
mui to poder ia ind icar - se a s e g u i r ao título: o r g a n i z a d o p or R e m o
F a cca n i e M a r z i o M a r z a d u r i. M a s s e a tese fosse sobre a s ituação
actual d os estudos se mióticos, então deveria proceder-se c o m maior
exactidão. A d m i t i n d o qu e não se es tá em condições de le r o russo
(e p ressupondo qu e a t ese não seja sobre semiótica soviética) , é pos s íve l que nào nos r e f i ramos a esta recolha e m g e r a l , m a s q u e este
j amos a d i scut i r , p or exemplo, o sétimo ensa io d a r ecolha . E então
será in te ressante saber quando f o i publ icado, pe la p r ime i ra vez c
onde : tudo indicações que o organ i zador terá d a d o e m nota ao título.
Ass im, registar-sc-á o e n s a i o d a segu inte mane i ra :
J u r i M .. "O ponjatii g eografíceskogo prostranslvu v russkich srcdnc-vekovych tckstach». Trúdy p p znakavym sistemem I I . 1965.pp. 210-216 (tr. tL de Remo Faccani. «I I conceito d i spazio
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geográfico nci testi medievali russi». in Lotman. J u . M . e Uspenskij, B. A. .Tipologia del ia cultura, organizado po r Reino Faccani c Marz io Marzadurí.Milano, Bompiani. 1975).
Des te modo. n ão es taremos a f ing i r t e r l ido o texto o r i g i n a l , poisass ina lou-se a lbnte i t a l i ana , ma s forneceram-se a o le i tor todas asindicações qu e eventua lmente lh e possam servir.
Para obras e m l ínguas pouco conhec idas , quando não existe t ra
dução e se quer a s s ina l a r a sua existência, é habi tua l pfir entre parênteses a s e g u i r ao título u ma tradução na nossa língua.
Examinemos f ina lmente u m caso qu e . à p r ime i ra v i s ta , parecemui to compl icad o e cuja solução «per fe i ta » parece demas iado minu
ciosa . E v e r emo s c om o m e s m o as soluções podem s e r doseadas .
D a v i d E f r on é u m j u d e u a r g e n t i n o, qu e e m 1941 publ icou eminglês , na A m e r i c a , u m es tudo sobre a ges tuaüdade dos j u d e u s edos i t a l i anos de No va Iorque , co m o t í tu lo Gesture and tò tv i ronmem.S ó e m 1 9 7 0 a p a r e c e n a A r g e n t i n a u m a tradução e s p a n h o l a , co m u mtítulo d i f e rente : Gesto, raza y cultura. E m 1 9 7 2 , é p u b l i c a d a u m areedição ing lesa , na H o la n d a , c om o t í tu lo ( s emelhante a o espanhol )Gesture, Race and Culture . Des ta ed ição, fo i fe i ta a tradução i t a l i
a n a , Gesto, raza e cultura, c m 1 9 7 4 . C om o c i t a r este l i v ro?
C om e c e m os p o r v e r casos ext remos, ü p r i m e i r o d i z r espe i toa u m a t ese s o br e D a v i d E f r o n : nes le caso, a b i b l i o g r a f i a f i n a l teráu ma secção d e d i c a d a às obras d o au tor , e todas es tas edições serãoc i tadas p o r o r d e m d e da tas como out ros tantos l i v ros , e c o m aespec i f icação, em c a d a c i tação, dc que é u m a r e e d i ç ão d o p r e c e d e n t e . Supõe-se qu e o cand idato t enha v i s to todas a s e d i ç õe s , poisd e v e c om p r ov a r se h ou v e modi f icações ou cor tes . O segundo casor e f e r e - s e a u m a t e s e d e e c o n o m i a , dc c iênc ias pol í t icas o u des oc i o l og i a , qu e trate de p r ob l e m a s d a e mig r a ç ão e e m qu e o l i v rod e E f r on só é c i t a d o p o r qu e contém a l g u m a s informações úteis
sobre aspec tos marg ina is : nes te caso, poderá e i l a r - se apenas a e d i çã o i t a l i ana .
Ve jamos agora u m caso intermédio: a citação é m a r g i n a l , mas é
impor tante saber q u e o estudo é de 1941 e não de há poucos anos
atrás. A m e l h or solução se r i a :
Efron. David, Gesntre an d Ei iv i ronment, New York, K ing 's Crown Press, 1 9 4
(tr. ít. de M tchelangclo Spada. Gesto, ruzza e cultura. Milano.Rompiam. 1974).
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D á-s e , t o d a v i a , o c a s o de a e d i ç ão i t a l i a n a i n d i c a r , n o Copyr ight, q u e a p r i m e i r a e d i ç ão é de 1941 e da r e s p on s a b i l i d e d a
K i n g ' s C r o w n , mas não i n d i c a r o título o r i g i n a l , r e f e r i n d o - s e po r
e x t e n s o à edição h o l a n d e s a d e 1 9 7 2 . E u m a n e g l i gê n ci a g r a v e (e
p os s o d i z ê - lo p o r qu e s o u e u q u e o r g a n i z o a c o le c ç ão e m qu e fo i
p u b l i c a d o o l i v r o d e E f r o n ) . d a d o q u e u m e s tu d a n t e p od e r i a c i t a r
a e d i ç ão dc 1941 c om o Gesture, Race and Culture . E i s p o r qu e
é s e m p r e necessár io v e r i f i c a r as r e fe rênc ias b ib l iográf icas em
mais d e urna fonte . U m e s tu d a n t e m a i s a g u e r r i d o qu e qu isesse
d a r também u m a in formação s u f i c i e n t e s ob re o d e s t i n o de E f r on
e os ritmos d a su a r edescober ta p o r p a r t e d os e s t u d i os os , p od e
ri a d i s p o r d c d a d os qu e lh e p erm i t i sse m fornecer uma f i cha as s im
c on c e b i d a :
Efron. David. Gesture and F.nvironmeni, N ew York. K ing's Crown Press. 1941(2 .fi ed.. Gestu re . Race and Culture, The Hague. Mowon , 1972;tr. i l . dc Michelangelo, Sparia. Gesto, razza e cultura. Milano.Rompiani, 1974).
Po r aqui s e pode ver. e m conclusão, que o caracter mais ou menoscomple to d a in formação a fornecer depende d o t ipo d e t ese e dopape l qu e o l i v r o em questão d esempenha n o d i s c u r s o g l ob a l (seconst i tui fonte pr imária, fonte secundária, fonte cola te ra l e a c e s sór ia , e tc ) .
N a base des tas i n d i c a ç õe s , os e s t u d a n t e s es tarão a g o r a e mcondições de e l a b or a r u m a b i b l i og r a f i a f i n a l p a r a a sua t ese . M a svol taremos a e l a n o C a p í t u l o V I . T a l c om o nos parágra fos V . 4 . 2 .e V . 4 . 3 . , a p r opós i to de dois s i s t emas d i f e rentes de r e fe rênc iasb ib l iográf icas e de r e lações e n t r e n o t a s e b i b l i o g r a f i a , e n c o n t r a m - s e e x e m p l i f i c a d a s d u a s p á g i n a s i n t e i r a s d e b i b l i o g r a f i a
( Q u a d r o s 1 6 e 1 7 ) . Ve jam-se , portanto, estas páginas para umresumo d efinitivo do que fo i d i to . P o r agora , in te ressava-nos saberc om o s e faz u ma boa c i tação b ib l iográf ica p a r a p od e r m os e l a borar a s nossas f i chas b ib l iográf icas . As indicações f o r n e c i d a ssã o m a i s d o q u e s u f i c ie n t e s p a r a s e p od e r c on s t i t u i r u m ficheirocorrec to.
Para conc lu i r , ap resentamos n o Q u a d r o 2 u m e xe m p l o d e f i chapara um f iche i ro bibliográfico. C o m o se vê . no d ecurso d a p esqu isabibliográfica comecei por identi f icar a tradução i t a l iana Seguidamente,encontrei o l i v r o n a b ib l ioteca e a s s i n a l e i a o a l to, à d i r e i t a , a s i g l a
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d a b ib l ioteca e os dados para a loca l ização do volume. Finalmente,
encont re i o volume e r e t i r e i da pág ina do eppyrigkt o título e o ed i
tor or i g ina i s . N ão h a v i a indicações de da tas , m a s encontrei uma n a
ba n d a in te r ior d a capa e an ote i -a c o m reservas. In diquei de pois o
motivo po r qu e o l i v ro de v e s e r t ido e m conta.
I IL2 .4 . A biblioteca d e Alexandr ia: uma exper iência
Poderão, todavia, objeetar qu e os conse lhos qu e d ou estão muitobem para u m es tud ioso espec ia l i zado, ma s qu e um jovem s e m preparação específica que se cand idata à t ese encontra muitas d i f icu l
dades;
— não tem à dispos ição uma b ib l ioteca b e m fornecida porquenatura lmente v i v e numa loca l idade pequena :
- lem idé ias mui to v ag as sobre aquilo que procura e n e m sequer
sabe p o r onde começar n o ca tálogo por assuntos, porque nào
recebeu instruções suf icientes d o professor:
— não p o d e deslocar-se d e u m a b ib l ioteca pa ra out ra ( porque
não tem d i n h e i r o , não tem tempo. 6 doente, e t c ) .
P r oc u r e m os então i m a g i n a r u m a s i tuação- l imite . Imag inemosu m e s t u d a n t e - t r a b a lh a d or qu e d u r a n t e os p r ime i ros quat ro a nosd o c u r s o f o i m u i t o p ou c a s v e z e s à u n i v e r s i d a d e . T e v e contac tose s por ád ic os c om u m s ó p rofessor , p o r e xe m p l o , o p r o f e s s o r d eHsté t ica ou de H is tór ia da L i t e r a t u r a I t a l i a n a . Já um pou co a t ra s a d o p a r a f a z e r a t ese . t e m à s u a d i s pos i ção o úh imo a n o a c a d ê m i c o . E m Se t e m b r o c on s e g u i u a b or d a r o p rofessor o u u m s e uass i s t ente , m a s c om o se es tava e m pe r íodo de e xa m e s , a c on v e r s a
fo i mui to rápida . O p r o f e s s o r d i s s e - l h e : « P o r q u e n ã o fa z u m at e s e sobre o c on c e i t o de me tá fo r a n os t ra tad is tas d o bar roco i t a
l i a n o ? » . E o e s t u d a n t e v o l t ou p a r a o seu p e qu e n o m e i o . u m al oc a l i d a d e d c m i l hab i tantes s e m b ib l ioteca m u n i c i p a l . A local idade mais impor tante (noventa mi l hab i tantes ) está a me ia horad e v i a g e m . H á a í u m a b ib l iote ca , aber ta de manhã e à t a rde .Tra ta - se d e , a p r ov e i t a n d o o s dois me ios d ias de tole rânc ia not r a ba l h o , v e r s e consegue encont rar lá a l g o c o m q u e possa for ma r urna p r i m e i r a i dé i a da t e s e e . p r ov a v e lm e n t e , f a z e r t o d o o
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Q U A D R O 1
R E S U M O D A S R E G R A SP A R A A C I T A Ç Ã O B I B L I O G R Á F I C A
N o final desta longa resenha de usos bibliográficos, procure
mos recapitular enumerando todas as indicações que d eve te r
u ma b oa citação bibliográfica. Sublinhámos (n a impressão virá
em i tá l ico) aqu i lo qu e de v e s e r s u b l i n h a d o e pusemos entre
aspas tudo o qu e de v e aparecer entre aspas. H á um a v írgu la
onde queremos uma vírgula c um parêntese onde queremos o
parêntese.
O que está ass ina lado c o m u m as t e r i sco const i tu i indicaçãoessenc ia l qu e nunca d e v e s e r om i t i d a . A s outras indicações
sã o facultat ivas e d ependem d o t ipo d e tese.
L I V R O S
* 1 . A p e l i d o e nome d e au tor ( ou dos autores, o u d o o r g a n i
zador , c o m eventua is indicações sobre pseudônimos ou
falsas atr ibuições) ,
* 2 . Título e subtítulo da obra,
3 . ( « C o l e c ç ão » ) ,
4 . N úmero da edição ( se houver vár ias ) ,
* 5 . L o c a l de ed ição: se no l i v ro não consta, escrever s.l. ( s e m
local ),
* 6 . E d i t o r : s e n o l i v ro não consta, omit i- lo,
* 7 . D a t a de edição: se no l i v r o não consta, escrever s .d. ( s e mdata).
8. Dados eventuais sobre a edição mais recente.
9 . N úmero de páginas e eventua l número de volumes de qu e
a obra se compõe .
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10 . (Tradução: sc o título está cm língua es t range i ra e existeum a tradução portuguesa, espcciMea-se nome d o tradutor, títuloportuguês, loca l de e d i ç ão , editor, dala dc edição, eventua l mente o número de páginas ) .
A R T I G O S D E R E V T S T A S
* 1. Ap e l i d o c nome d o autor.
* 2. «T ítu lo do a r t i go ou capítu lo» ,
* 3 . Título da revista,
* 4 . Volume e número do fascículo (eventuais indicações dc
N ov a Sér ie ) ,
5. M ê s e a n o .
6. Páginas em que aparece o art igo.
C A P Í TU L O S D E L I V R O S , A C T A S D E C O N G R E S S O S .E N S A I O S E M O B R A S C O L E C T f V A S
* I. A p e l i d o e nome d o autor.
* 2. «T ítu lo do capítu lo ou do ensa io» .
* 3 . in
* 4 . Eventua l nome d o organ i zador da obra colec t iva o u A A W .
* 5 . Título da obra colectiva,
6. (Eventua l nome d o organ i zador se se pôs A A V V ) ,
* 7 . E v e n t u a l número do volume d a obra e m qu e s e encont rao ensa io c i t ado.
* 8 . Loca l , ed i tor , da la . número de páginas como n o caso dosl i v ros de u m só autor.
102
Q U A D R O 2
E X E M P L O D E F I C H A B I BL I O G R ÁF I C A
í3s . C O V A .
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trabalho s e m outro recu rso. Está excluída a hipótese de poder comprar l ivros caros o u d e pedir microf i lmes noutro lado. Quando muito,poderá i r ao centro universitário (com as suas bibliotecas mais beir,fornecidas) duas ou ü"ês vezes entre Janeiro c A b r i l . M a s d e momentoterá de arranjar-se in loco. Se fo r mesmo necessário, poderá com
pra r alguns l ivros recentes, edições econômicas, gastando no máximoumas vinte m i l l iras.
Este é o qu a d r o hipotético. P rocure i então colocar-me n a s condições em que se encont ra este estudante, pondo-me a escrever estas
l i nhas numa a lde ia d o A l t o M on f e r ra t o , a v inte e três quilômetrosde Alexandr ia (noventa m i l ha b i tantes , u m a b ib lioteca mun ic ipa l— p inacoteca — museu ) . O centro universitário mais próximo éGênova (uma hora d e v i a g em) , m as e m hora c meia chega-se a Turim
ou a P a v i a . E m três horas a B o l o n h a . E j á um a s ituação p r iv i l eg iada ,ma s não vamos entrar e m l i n h a d e conta c o m os cent ros un ivers i tários. T raba lharemos s ó e m A l e xa n d r i a .
E m se gundo lugar, procurei um tema sobre o qua l nunca t inha feitoestudos específicos, e para o qua l m e encontro muito m a l preparado.Trata-se. pois, d o conceito de metáfora n a tratad ística barroca i tal iana.E óbv io que não sou completamente virgem n o assunto, uma vez quejá me ocupe i de estética e dc retórica: sei . por exemplo, que. e m Itália,na s últimas décadas saíram livros sobre o Ba r r oc o d c G iovanni Ge t to.Luciano Ancesch i e E z i o R a i m on d i . Sei que existe um tratado do séculox v u que é // cannocchiale aristotelico de Ema nue lc Tcsauro, n o qualestes conceitos s ão largamente discut idos. Mas i s to é também o mínimoqu e o nosso estudante deveria saber, uma v e z qu e n o fmal d o terceiroa no já terá f e i to alguns exames c, s e leve contactos com o professor deque se falou, é porque terá l i do a l g o da sua autoria e m qu e s e f a z referência a esles assuntos. D e qualquer forma, para tornar a experiênciamais r igorosa, parto d o pr incípio de que nào se i nada daqu i lo q u e sei .Limit o-mc aos meus conhecimentos da escola média superior: sei que
o Ba r r oc o é a l g o que tem a v e r com a arte c a l i teratura do s é cu lo xv ue qu e a metáfora c uma f igura de retórica. E é tudo.
Dec ido ded icar à p esqu isa p re l imina r três tardes, das três as seis.Tenho nove horas à m inha d ispos ição. E m nove horas não se lêeml ivros, m a s pode fazer-se u m a p r ime i ra investigação bibliográfica.T u d o o qu e v ou relatar n a s p r ime i ras páginas qu e se seguem fo ife i lo c m n o v e horas . N ão pretendo fornecer o mode lo d e u m trabalho completo e b e m fe i to, ma s o modelo d e u m trabalho de encaminhamento qu e de v e servir para tomar outras decisões.
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Ao ent rar n a bibl ioteca, encontro-me, d e acordo c om o qu e s e
d isse e m 111.2.1., per an te três poss ib i l idades :
1) Começar a e xa m i n a r o ca tálogo por assuntos: posso procurar
nos art igos seguintes: « I ta l iana ( l i te ra tura ) » , «L i te ra tura ( i ta l iana ) » ,
« E s t é t i c a » , « S éc u l o x v u » , « B a r r o c o » , « M e t á f o r a » . « R e t ó r i c a » .
«Tra tadis tas » , «Poét icas » 1 . A bibl ioteca tem dois catálogos, um antigo
e u m ae tua l i zado, ambos d iv id idos p o r assuntos e au tores . Como
a i n d a não estão integrados, preciso d c p rocurar e m ambos. Poderei
f aze r um cálcu lo imprudente : s c p rocuro uma obra do século X I X
el a estará com certeza no ca tálogo ant i go. Engano. Se a b ib l ioteca
a comprou há u m a n o a u m antiquário, estará n o catálog o moderno.
A única co i sa d e q u e posso estar certo é que , se p rocuro u m l ivro
saído na última década, só pode es tar no ca tálogo moderno.2) Começar a procurar na sala d c obras de referência em enc ic lo
pédias e histórias da literatura. N as histórias da l i teratura ( ou da estéti
ca ) deverei procurar o capítulo sobre o século xv u ou sobre o Barroco.
N a s enciclopédias poderei procurar Século X VU , Ba r r oc o , Me táfora ,
Poética, Estética, etc. tal como farei no ca tálogo por assun tos.
3) Começar a fazer perguntas ao bibliotecário. Afas to imed ia ta
mente esta possibi l idade, não só porque é a mais fácil, ma s também
para n ão f icar numa s i luação de pr iv i lég io. Co m e fe i to , conheço o
bibliotecário, e. quando lhe disse o que estava a fazer, começou a selec-
cionar-me uma série dc títulos de repertórios bibliográficos que pos
suía, alguns mesmo em a lemão e em inglês . Teria assim começado
logo a explorar um íílão especial izado, pelo que não tive e m conta a s
suas sugestões, üfereceu-mc ain da faci l idades para poder requisitar
muitos l ivros de uma só vez , mas recusei-a s cortesmente. tendo-me
apenas e sempre d i r i g ido a os contínuos. Tenho d c controlar tempos e
dif iculdades, ta l como u m estudante comum teria de o fazer.
D e c i d i , a ss im, par t i r do ca tálogo por assuntos e f i z mal. porquetive uma sorte excepciona l. Em «Me tá fo r a » eslava registado: Giuseppe
C on t e . La metáfora harocea — Saggio snlle. poe tiche de i Se icen to,
1 Enquanto procurar «Século xv u». «Barroco" o» «F.siéiica» me parece bastante óbvio, a ideia de ir ver cm "Poética» parece um pouco mais subtil. E is omotivo: não podemos imaginar um estudante que chegue a esle tema partindo d o2ero: nem teria conseguido formulá-lo: portanto, ou d e um professor, ou d c umamigo ou dc uma leiiura preliminar, a sugestão veio-lhe de algum lado. Deste modo,terá ouvido falar das «poéticas d o Ba rroco» ou das poéticas (ou programas dc ane)
geral. Partimos, pois do p rincípio dc que o estudante está de posse dcslc dado.
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M i l a n o . M u r s i a . 1 9 7 2 . E r a prat icamente a m inh a t ese. Se f o r desonesto, posso l imitar-me a copiá-la. mas ser i a também estúpido, poisé mui to provável que o meu or i entador também conheça este l ivro.Se quiser fazer uma b oa tese o r i g i n a l , este l i v ro põe -me n u m a s itua
ção difíc il, d a d o q u e o u cons igo d i ze r qua lquer coisa mais e d i ferente, o u es tou a p erder o me u t empo. M a s s e qu iser f aze r u m ahonesta t ese de compilação, e le pode const i tu i r u m b o m ponto d epar t i da . Podere i , pois , começar por e le s em mais p rob lemas.
ü l i v r o t e m o d e f e i to de não possiür uma b ib l iog ra f i a final, ma stem densas notas n o f im de cada capítulo, onde os l i v ros , a lém deci l ados . sã o mui tas v e z e s d escr i tos e ap rec iados . Cons igo se lecc io-
n a r ap roximadamente un s cinqüenta títulos, mesmo depois de te rver i f i cado qu e o au tor faz freqüentes referências a obras d e estética
c de semiótica contemporânea que não têm p ropr iamente qu e ve rco m o meu t ema, m a s q u e a c l a r a m a s suas r e lações com os problema s d e hoje. N este caso, estas indicações podem serv i r -me para imag inar uma tese u m pouco diferen te, orienta da para as r e lações entreBa r r oc o e estética contemporânea, como veremos dep ois.
C o m os cinqüenta títulos «históricos» as sim reu nidos , ficarei jáco m u m f i che i ro p re l iminar , para exp lorar depois o ca tálogo porautores.
Ma s dec id i renunciar lambem a este cam inho. O g o lp e d c sortet inha s ido demas iado s ingular. Deste modo. procedi como s c a bibl ioteca n ão t i vesse o l i v r o d e C o n t e (o u como se não o t ivesse registado n os assuntos c m ques tão) .
Para tornar o t raba lho mais metódico, d ec id i passar à v ia númerod o i s : f u i , a s s i m , ã s a l a de obras de r e fe rênc ia e comece i p e loslextos gerais, mais precisamente pela Enciclopédia Treccani.
N ào encontrei «Ba r r oc o » : e m contrapart ida, hav ia «Barroca, arte»,in t e i ramente ded icado às a r t es f i gura t ivas . O volume d a l e t ra B é
dc I93 U. pe lo qu e o f ac to fi ca exp l icado: a ind a nào se t inha in ic iadona altura a reabilitação do Ba r r oc o , em I tá lia . Pense i então em irprocura r «Se i s c e n t i s mo» . termo qu e durante mui lo t empo teve umaconotação um t anto deprec ia t iva , ma s qu e cr u 1 9 3 0 . n u m a cultura
bastante in f luenc iada pe la desconfiança c roe iana re la t i vamente a oBar roco , p od i a te r i n s p i r a d o a formação d a t e rminolog ia . E aqu i t i veu ma g rande surpresa : u m belo ar t igo, extenso, aberto a todos o s prob lemas da é poca , d esde os teóricos e poetas d o Barroco i t a l i anoc om o M a r i n o o u Tcsauro. até às manifestações d o bar roqu ismo noutros pa íses (Grac ián. l . i l y . G on g or a , C r a s h a w . e t c ) . B o a s c itações.
106
u ma b ib l iog ra f i a substancial . V e j o a data d o volume e ve r i f i co qu eé tlc 1 9 3 6 ; v e j o a s i n i c i a i s e ve r i f i co que são dc M a r i o P r a z . T u d oo que se p od i a te r de m e l h or n a qu e l a época (c em muitos aspectos
a i n d a h o j e) . M a s admi tamos qu e o nosso estudante nã o s a b i a quãog rande e subtil cr ítico é P r a z : ver ificará, todav ia , que o a r t i go é es t i mulante e decidirá pô-lo em ficha, c o m tempo, mais tarde. P o r agora ,
passa à b ib l iog ra f i a e vê que e s t e P r a z . qu e d esenvolve o s a r t i gostã o bem, escreveu dois l ivros sobre o assunto: Secenüsmo e mar i -n ismo in Inghilterra, d e 1925 . c S tud i sul concettismo, de 1 9 3 4 . Faráass im uma f icha para cada um destes l ivro s. Dep ois encontrará algunstítulos i t a l i a n os , d e C r o c c a D ' A n c o n a , q u e anota : de tec ta uma re ferênc ia a u m poeta cr ítico contemporâneo como T . S. E l i o t e . f i n a l
mente , depara- se - lhe u ma sé ri e dc obras em inglês e em a lemão.Toma obv iamente nota de las todas , mesmo se não souber estas lín
guas ( d ep o i s se ve rá) , mas ve r i f i ca qu e P raz f a lava d o se i scent i smoem ger a l , enquanto e le p rocura coisas mais especi f i camente cent ra d a s na s i tuação i t a l i a n a . A situação no es t range i ro será ev idente mente de t e r e m conta como pa no de fundo, m a s t a lvez não se d evacomeçar por aí.
Ve jamos a inda a T reccan i c m «P oé t i c a » ( n a d a . o l e i tor é r emet ido para « R e t ó r i c a » . « E s t é t i c a » e « F i l o l o g i a » » ) , « R e t ó r i c a » e«Es té t ica » .
A retórica é tratada c o m uma cer ta ampl i tude , há um parágrafosobre o s é cu lo xv u , a rever, m a s n e n h u m a indicação bibliográficaespecífica.
A estética é d a autor ia d c Gu id o Ca logero, mas . como suced ia nosanos t r in ta , é entend ida como d isc ip l ina eminentemente f ilosófica Láestá V i c o . ma s nào os tratadistas barrocos. Isto p ermi te -me v i s lumbrar u m c a m i n h o a segu i r : se p rocuro mater ia l i t a l i ano, encontrá-lo--e i mais faci lmente entre a crítica literária e a história da l i teratura, enão n a história d a f i losof ia ( pe lo menos, como depois se verá. até asépocas mais recentes). E m «Es té t ic a » encontro, todavia, uma sér ie detítulos d e histórias clássicas da estética qu e poderão d i ze r -me qua l quer coisa — são quase todas e m a lemão ou inglês c muito antigas:
Z i m m e r m a n , d c 1 8 5 8 . o Schlasler. de 1 8 7 2 , o Bos a n qu c u de 1895 .seguidamente Saintsbury, M e n e n d e z y Pelayo, Xnight c, f inalmente,
" roce . D i re i desde já que . sa lvo o d e Croce, nenhum destes textosxiste n a bibl ioteca de A l e xa n d r i a . D e qualquer forma, são r eg i s ta
dos, pois mais tarde ou mais cedo poderei precisar d e lhes dar umavista d e olhos, depende d o caminho qu e a tese tomar.
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P r oc u r o o Grande Diz ionar io Enciclopédico Utet, porque melembro d e qu e t inha art igos muito desenvolvidos e actuaüzados sobre«Poét ica » e outras coisas qu e me são úte is, mas não há. V ou entãofolhear a Enciclopédia Filosófica d e Sa n s on i . D e interessante encontro «Me tá fo r a » e «Ba r r oc o » , ü p r ime i ro t e rmo não me dá ind icações bibliográficas úteis, mas d i z -me (e vou-me apercebendo cadavez melhor da imp ortância desta adver tênc ia ) que tudo começa coma teoria d a metáfora d e Ar is tóte les . O segundo re fere a lguns l i v rosque encontrarei depois e m obras d e consulta mais especif icas (Croee.V e n t u r i , G e t t o . R ou s s e t , An c e s c h i . R a i m on d i ) e faço bem anotartodos ; c o m e fe i to , d escobr i re i mais l a rde qu e está a qu i reg i s tado umestudo muito importante d c R oc c o M on t a n o . qu e a s fontes qu e v i r ia
a consu l tar depois nã o referiam, quase sempre p o r serem anteriores.
N e s t a a l tu ra p ense i qu e talvez, fosse mais p r odut ivo abordar umaobra de referência mais ap rofundada e mais recente , e p rocuro nSíor ia delia Letierala ra Italiana organ i zada p o r C e c c h i e Sapegno.publ i cada p e l a G a r za n t i .
Além de u ma sér ie de capítu los de autores vários sobre a poes i a , a p r os a , o t ea t ro, o s v i a j antes , e t c , encont ro um capítu lo deFranco C r o c e , «C r i t i c a e t ra t ta t i s t i ca de i B a r oc c o » ( de umas c in
qüenta página s ) . L imi to-me apenas a este. Percorro-o mu ito à pressa(não estou a le r textos, ma s a e laborar uma b ib l iog ra f i a ) e ve jo quea discussão crítica se in ic ia c o m Tasson i ( sobre Pe t rarca ) , cont inuaco m u m a s é r ie de a u t o r e s qu e f a la m sobre o Adone d e M a r i n o( S t i g l i a n i , E r r i c o , Ap r os i o , A l e a n d r i . V l l l a n i . e t c ) , passa pelos t r a -tadistas a q u e Cr oce chama barroco-modera dos (Pcrcg rin i, Sfor/.aP a l l a v i c i n o ) e pelo texto base d e Tesauro. q u e const i tu i o ve rdade i rot ra tado e m defesa d o engenho e perspicácia barrocos ( « t a l v e z a obramais exemplar d e todo o preceituário barroco mesmo a o n íve l europe u » ) e t e rmina com a c r í t ica dos finais do século XVt t (F rugoni .
L u br a n o . B o s c h i n i . M a l v a s i a , B e l l o r i e outros). V e j o qu e o essen
c ia l d o qu e pretendo de v e centrar-se e m Sforza Pa l lav ic ino . Pereg r in ie Tesauro. e passo à b ib l iog ra f i a qu e compreende uma centena detítulos. E s t a está o r g a n i z a d a p o r assuntos e não por o r d e m alfabét ica. T e n h o d e ser eu a p ô- los cm ordem através das f ichas. Observou--se qu e F r a n c o C r oc e se ocupa de vários críticos, d esde Tasson i aF r u g o n i , e e m b oa ve rdade ser i a conven iente f aze r a f i cha d e todasas referências bibliográficas que ele i n d i c a . Pode acontecer que, paraa tese. apenas sirvam as obras sobre os tratadistas moderados e sobreTesauro. m a s para a introdução e p a i a a s notas p o d e ser útil f aze r
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E X E M P L O D E F I C H A A C O M P L E T A R , R E D I G I D A C O M B A S F
N U M A P R I M E I R A F O N T E B I BL I O G R ÁF I C A C O M L A C U N A S
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referência a outras análises do período. Lembre-se qu e esia bibl iograf ia in ic ia l deveria s er discuiida pelo menos uma v e z . quando est ivesse p ronta , c o m o orientador. E le deverá conhecer b e m o tema c,portanto, poderá d izer desde l o g o aqu i lo qu e podemos pôr dc parlee aqu i lo qu e temos absolutamente d c l e r . Quan do o f icheiro est iverc m cond ições , poderão ambos percorrê-lo numa hora . D e qualquerforma, c para a nossa experiência, l imito-me às obras gerais sobreo Barroco e à bibliografia espe cifica sobre os tratadistas.
Dissemos já como s e de v e fazer as f ichas d os l i v ros quando anossa fonte bibliográfica é incompleta: n a f icha reproduzida na página109 de ixe i espaço para escrever o nome própr io do autor (Ernesto.E p a m i n o n d a , Evar i s to ou El io? ) e o nome d o ed i tor (Sansoni . Nu ovaI tália ou N e r b i n i ? ) . A segu i r à da ta f i ca espaço para outras ind ica
ções. A s i g la a o a l to, só a acrescentei , evidentemente, depois de ater veri f icado no ca tálogo por autores de A lexand r ia (BCA: BibliotecaCívica di Alessandr ia, fo i a s i g l a q u e escolh i ) e te r v isto qu e o l ivrod e R a i m on d i ( E z i o ü ) t e m a cota « C o D 1 1 9 » .
E ass im fare i c o m todos o s outros l ivros. Nas páginas seguintes,porém, procederei d c modo mais rápido, c itando autores e título*sem outras indicações.
Resumindo, at é agora consultei a Treccani e a Grand e EnctcloffediaFilosófica (e decidi reg istar apenas as obras sobre a tratadist ica ita
l i ana ) e o ensaio d e F ranco Croce . N o s quadros 3 c 4 encontra-se aenumeração de tudo o que fo i posto e r a f ichas. (ATtNÇÀo: a cada
um a d a s m i n h a s indicações sucintas de v e corresponder u m a f ichacompleta e ana l í tica com os espaços em branco para as informaçõesqu e me fa l tam )
Os títulos antecedidos de um «s im» são os que existem no catálogo por au tores da Biblioteca áe Alexandr ia. E fee t i vãmente, acabada es ta p r ime i ra fase de elaboração de f ichas, c para m e d i s t ra i ru m
pouco, folheei o catálogo. F ique i ass im a saber que outros l ivrosposso consu l tar para comple tar a m inha b ib l iog ra f i a .
C o m o poderão ver . de tr inta e oito obras f ichadas, encontreivinte e c inco. C h e gámos quase a os setenta p or cento. Inc lu í t ambém obras de qu e n ào f i z ficha ma s qu e foram escritas p or autoresf ichados (a o p rocurar uma obra encont re i também, ou em vez d e la .
um a outra).
D i s s e qu e t inha l im i tado a m inha escolha apenas aos lítulos quesc referem a os tratadistas. Deste modo. a o p resc ind i r d c reg istar textos sobre outros críticos, não anotei , p or exemplo, a Idea d c P u n ok k y .
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iNjQ L A D R O 4
OIÍKAS PARTICULARES SÜURli TRATADIStAS ITALIANO S DO SÉCULO XVII IDRXTIFICADAS ATRAVÉS DO EXAME DE TRRSt£LI:MENTOS Pl i CONSULTA (Trcixani, Gramk Enciclopédia Eilosuliira. Slorifl deliu U lk-ialiiia Italiana liarvaiili)
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itr islolel ivo»Po/./.Í. C . «Noie prelusíve alio a tile dd caimucchiale»Dcihcll. S. L.. "Graciúri, Tcxaurò and llic Nalmv bf Mciaphysical Wii»Mn//co. J . A., «Mctaphysiutl Poeiiy and lhe Puclíus «tf Convspundcncc»Mcn.ip.icc lí risca, 1.., "L'<irmi(a c iiigcgnosa clocu/ionc»Viisoii. (.*., Imprcsc dc\ Tcsuuro»
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Ilucke. G. R.. M c W<<lt ais Labirm ilt. ;Hacke, G. R.. Manierísmus in d e r Llteratu r. .SchlosMcr Magnimi, J . , t.<t tctleratara artística
Ulivi, F-, (iaiicria i li sirümri á"arie
Mithnn, IX. S iu. l ics i n 60D,Art ttná Tlieóry
. « I V C M C Ü C I I dclEmiiuncsimtio dcl r iBascímcnlo»
. «L'Ilidia. Ia Spagmt e IaIriiiHi.i nullo sviluppo dcll>arocca Idlcnirín»
Tradução italiana
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preender qua is são as dimensões do p rob lema n a cu l tu ra européia,e m E s p a n h a , e m I n g l a t e r r a , em França e na A l e m a n h a . Vo l t o ae n c on t r a r n om e s a p e n a s a f l o r a d os n o a r t i g o d e M a r i o P r a z t iaTreccani e ou t r os , d e B a c o n a L i l y e S i d n c y , Grac ián. G on g or a .O p i t z . a s t eor ias d o w i r , d a agudeza, d o engenho. Po d e acontecerqu e a m i n h a t ese n ão tome em cons ideração o bar roco europeumas estas noções d eve m serv i r -me de pano d e fundo. D e qu a l qu e rforma, terei de t e r uma b ib l iog ra f i a comple ta sobre todas es tas coi sas. O texto d e Ances ch i forneceu-me cerca d e 2 5 0 títulos. Encont roa p r i m e i r a l is la d e l i v ros anter iores a 1 9 4 6 e , e m s e g u i d a , u m abibl i ogra f i a d i v i d i d a p o r a n os , d e 1 9 4 6 a 1 9 5 8 . N a p r i m e i r a s e c -ção volto a conf i rmar a importância d os estudos d e G c t l o c Hat z f e ld .do volume Retór ica e Barocco (e aqu i ver i f i co qu e fo i o r g a n i z a d op or E n r i c o C a s t e l U ) . e n qu a n t o j á o texto me hav ia remet ido para
a obra de W õ l f fl i n , C r o c e ( Be n e de t to ) e D * O r s . N a s e g u n d a s e c -çã o encont ro um a sér ie de t í tu los que — s u b l i n h e - s e — nào fu iprocura r todos n o c a tá logo por au tores , dado qu e a m i n h a exper iênc ia s e l imitou a três t a rdes . D e qua lquer modo. ver i f i co que háa lguns au tores es t range i ros qu e t ra taram o p rob lema de vários p o n to s d e v i s t a e q u e t e re i obr iga tor iamente d e p r oc u r a r : C u r t i u s .
W e l l e k , I l a u s e r e T a p ié ; r eenconoro Hocke . s ou r emet ido pa ra u mRinascimento e Barocco de Eu gê n io B a t t i s t i . p a r a a s r e lações comas p oé t icas ar t ís t icas , volto a ve r i f i car a impor tânc ia d e M o r p u r g o -- T a g l i a b u e . e dou-me conta d e q u e l e re i também de ver o t raba lhode De l i a Volpe sobre o s comentadores renascent i s tas da Poét icaaristotélica.
Esta poss ib i l idad e dever ia convencer -me a ver também ( a i n d a n ov o l u m e M a r zo r a t i , q u e t enho n a mão ) o extenso ensa io d e Cesare
Vaso l i sobre a es té tica do H u m a n i s m o e d o R e n a s c i m e n t o. Já t inha
encont rado o nome d e V asol i na b ib l iog ra f i a de F ranco Croce . Pe los
art igos de enc ic lopédia examinados sobre a metáfora, já me t inhadado conta , c d e v e r e i tê-lo r eg i s tado, qu e o p rob lema surge j á n aPoética e na Retór ica de Ar is tóte les : e agora ap rendo e m V a s o l i qu eno s é cu l o X V I houve u m a s é ri e de comentadores d a Poética e d aRetór ica; e isto não é tudo. pois ve jo que entre esles comentadorese tratadistas barrocos se encont ram os teór icos do M a n e i r i s m o. qu ejá t ra tam o p rob lema d o engenho e d a idé ia , que também já t inha
v is lo a f lorar nas páginas sobre o bar roco qu e t inha l i do p o r alto.Dever ia impress iona r -me. ent re out ras coisas , a recorrência de c ita
ções semelhantes e d e nomes com o Schlosser.
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Será que a m i n h a t ese começa a c o r r e r o r i s c o de s e t om a rdemas iado vas ta? N ã o . t e re i s imp lesmente d c d e l i m i t a r m u i t o b e mo cerne d o m e u in te resse c t raba lha r num aspec to espec í f ico, poisde out ro modo t e r i a mesmo dc v e r tudo; m a s , p o r ou t ro lado, nãodevere i perder de v i s ta o p a n or a m a g l ob a l , p e l o qu e t e re i d e e x a m i n a r muitos destes textos, pelo menos para te r in formações des e g u n d a mão.
ü extenso texto d c Ancesch i l eva-me a ve r também as outrasobras deste a utor sobre o tema. Registarei sucessivamente Da Baconea Kant , idea d e i Rarocco e u m art ig o sobre «G u s to e gê n io de iB a r l o li » . E m A lexandr ia encont rare i apenas este último a r t i go e ol i v r o Da Bacone a Kant.
N e s t a a l tu ra consu l to o es tudo d e R oc c o M on t a n o . «L 'es té t ica
d e i rinascimento c de i barocco» . no volume X I d a Grande antologia filosófica Marzorati, d ed icado a o Pensiero d ei Rinascimento edelia Riforma.
Apercebo-me imed ia tamente de que não se t ra ta apenas d e u mestudo, mas d c uma antolog ia d e trechos, muitos d os qua is d e g randeut i l i dade p a r a o meu t raba lho. E v e j o mais uma v e z como sã o estreitas as relações entre estudiosos renascentistas d a Poética, maneir istase t ra tad is tas barrocos . Encont ro a inda uma r e fe rênc ia a uma antolog ia d a I .atcrza e m dois volumes, Trauatisti d'arte tra Manier ismoe Controrifonna. E n q u a n t o p r o c u r o e s t e t í tu lo no ca tálogo deA l e x a n d r i a , fo lheando aqu i e a l i , ve r i f i co qu e nesta bibl ioteca háa i n d a uma out ra antolog ia publ icada pe la Late rza : Trattati di poética c. retór ica d ei 600. N ão s e i se t e re i de recorrer a informaçõesdc p r ime i ra mão sobre este tema. mas. po r prudência, faço uma f ichado Hv fo. Agora s e i qu e existe.
Vo l t a n d o a M o n t a n o e à sua b ib liog ra f i a , t enho d e fazer um certot raba lho de reconstituição, porque as indicações es tão espa lhadas
p or vários capímios. Vol to a encont rar mui tos d os nomes j á conhec i d os , v e j o qu e t e r e i de p r oc u r a r a l g u m a s h is tór ias c láss icas daestética como a s obras d e Bosanquet . Sa intsbury . G i l b e r i c K u h n .
Dou-me conta d e q u e para saber mui tas coisas sobre o bar roco espa
nhol terei d e encontrai" a imensa Historia de I a s ideas estéticas enEspana, d e M a r c e l in o M e n e n d e z y Pe layo.
An o t o , por prudência, os nomes d os comentadores quinhentistas
d a Poética (Robor te l lo, Ca s te lve t ro, Sca l i g e ro, Segn i , Ca va lcan t i .M a g g i , V a r c h i . V e t t o r i , Sp e r on i , M i n t u m o, P i c c o l om i n i . G i r a l d i ,
C i n z i o . e t c ) . Vere i depois qu e a l g u n s estão r eun idos e m antolog ia
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pelo próprio M o n l a n o, OUtrOS por Del ia Volpe , outros ainda n o volumeantológico da l . a l e rza .
Vcjo-mc remetido para o Ma ne i r i smo. Emerge agora d c um modomui to s i gn i f i ca t ivo a referência à Idea de P a n o fs k y . M a i s u m a v e za obra d c Morpurgo-Tag l i abue . Pergunto-me se não sc d ev ia sabera l guma coisa mais sobre o s tratadistas maneiristas — Scr l io , Dolce .
Zu cca r i . L o r n a z zo , Va s a r i — ma s isso levar-me- ia às artes f igurat ivas e à a rqui t ectura . e talvez sejam suficientes alguns textos histór icos como Wó l f f l i n , Panofsky . Schlosser o u . mais recentemente.B a t t i s t i . N ão posso de ixar d e r eg i s tar a importância de autores nãoi t a l i anos como Sidney , Shakespeare . Cervantes . . .
Vol to a encontrar, c itados como autores fundamentais. Curt ius .
Schlosser. H auser . i t a l i anos como Ca lca t e r ra . Ge t to. Ances ch i , Praz ,
U l i v i . M a r z o t e R a i m o n d i . O círculo aperta-se. Certos nomes sãoc i tados p o r todos.
Para tomar alento, torno a fo lhear o catálogo por au tores : ve joqu e o célebre l i v r o d e C u r t i u s sobre a l i teratura européia e a I d ad eM é d i a La t ina exis t e em tradução f rancesa , e m v e z de e m a l e mão : aLetterarura artística d e Schlosser j á v imos que há. Enquanto p rocuro a Stòfia sociale deli 'arte de A r a o l d H a u s e r ( e é es t ranho quenão ha j a . dado qu e ex i s t e também em edição de bolso), encontro d omesmo autor a tradução i t a l i a n a d a obra fun damen ta l sobre oM a n e i r i s m o c a i n d a , p a r a nã o s a i r d o t ema. a Idea d e Panofsky .
E n co n t r o La Poét ica de i 500 d c D e l i a Vo l p e . // secenrisino nellacritica de Santangelo. o art igo «Rinascimento. aristotelismo e barocco^d e Z o n t a . A t r a v é s do nome d c H e l m u t h H a i z l e l d . e n c on t r o u m aobra de vários au tores , p rec iosa c m muitos outros aspectos La cri
tica stüistica e i l barocco letteraria, A t t i de i M Congress o in te rna-z iona le d i studi italiani. F i renze , 1957 . A s minhas expectat ivas f icamf rus t r adas r e l a t i v a m e n t e a u m a ob r a , qu e parece impor tan te , deC a r m i n e J a n n a c o . o volume Seicenio d a história literária Va l la rd i .
os l ivros d e P r a z . o s estudos d e Rousset e Ta pié, o já referido Retór icoe Barocco c o m o e n s a i o d e Morpurgo-Tag l i abue . a s obras d e EugênioD ' O r s . d e M e n e n d e z y Pe layo. E m resumo, a bibl ioteca d c A lexandr ianão é a B i b l i o t e c a d o C o n g r e s s o d e W a s h i n g t o n , n e m sequera B r a i d c n s c de M i lão , ma s o facto é que já consegu i trinta e c incolivros certos, o que não é nada m a u para começar. E a co i sa nãoacaba aqu i .
C o m e fe i to , p or vezes bas ta encont rar um só texto para resolvertoda uma sér ie de p r ob l e ma s . C on t i n u a n d o a e xa m i n a r o catálogo
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por au tores , dec ido d a r u m a v i s t a d e olhos ( u ma v e z qu e h á e qu eme parece um a obra d e consu l ta bás ica ) à «L a polemica sul barocco»d e G i ov a n n i G e t t o , i n A A V V . Letteratura italiana — IM correnti,vo l . 1, M i l a n o . M a r z o r a t i . 195Ó. E vejo que se t ra ta d e u m estudode quase c e m pág in a s e de e xc e p c i on a l impor tância . Co m e fe i to ,ve m a í r e la tada a polemica sobre o bar roqu ismo desde então a téhoje. Ver i f ico que todos discut iram o bar roco, desde G rav i na Mu rator i .Ti rabosch i . Be t t in e l l i . Ba re t t i . A l f i e r i . C e s a r o t t i. Cantü, G i ob e r t i , D eSanct is . M a n z o n i . M a z z i n i . Le o p a r d i e C a r d u cc i at é C u r z i o M a l a p a r t ee aos au tores qu e e u j á t inha r eg i s tado. E Getto apresenta extensostrechos d a mai or parte destes autores, de t a l modo qu e me surge u mp r ob l e m a . Se v ou ap resentar u m a t ese sobre a polêmica históricasobre o barroco, terei de procurar todos estes au tores : ma s s e t ra
ba lha r sobre textos da época, ou sobre interpretações contemporâ
n e a s , n inguém m e exig irá que faça um t raba lho t ão vas to (qu e , a lémdi s so , já fo i f e i to e m u i t o b e m: a menos qu e que i ra f aze r u ma t esed c alia o r i g i n a l i d a d e c ientífica, que me tomará muitos anos d e t ra
ba l h o , mesmo para demonst rar qu e a p esqu isa de G e t t o é insu f ic i
en t e o u m a l pers pectiva da; mas , gera lmente, trabalhos deste gênerorequerem maior e xpe r i ê n c i a ) . E , a s s i m , o t raba lho d e Ge t to se rve --rne para obter uma documentação suf iciente sobre tudo aquilo qu enão virá a const i tu i r l ema espec í f ico da m inha l ese . m a s qu e n ãopoderá d e i xa r d c s e r a f lorado. As s im , t raba lhos des te gênero d eve rão dar lugar a u m a s é ri e dc f i chas , ou se j a , v ou f aze r u m a sobre
Mu r a t o r i . ou t ra sobre C esar ot t i , ou t ra sobre I - copard i . e a s s i m po rd iante , anotando a obra c m qu e t enham dado a su a opinião sobre oBa r r oc o c c op i a n d o , c m cada f icha, o resu mo respe ctivo fornecidopor Get to, com a s ci tações ( s ub l inhando, ev identemente , cm rodapéqu e o mater ia l fo i ret irado deste ensaio de Ge t to ) . S e d epois u t i l i
za i ' este mater ia l n a tese. u ma vez que sc tratará d c in formações d cs e g u n d a mão. d evere i sempre a s s ina l a r e m nota « c i t . in G e t t o . e tc . » :e isto não só por hones t idade , mas também por prudência, u m a v e z
qu e não fu i ve r i f i car as citações e, portanto, não se re i responsávelpor uma sua eventua l imper fe ição: referirei lealmente qu e a s ret ireide u m ou t ro es tud ioso, nã o es tare i a f ing i r qu e ve r i f ique i cu própr iotudo e f i care i tranqüilo. Ev identemente , mesmo quando conf iamos
n u m estudo precedente deste t ipo. o i d ea l se r i a vol tar a ve r i f i car n osor ig ina is a s d iversas c itações u t i l i z a d a s , m a s . vol tamos a recordá--lo. es tamos apenas a fornecer um modelo de inves t igação fe i ta c o mpoucos me ios e e m pouco tempo.
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N es t e caso. porém, a única coisa que nào posso pennit ir-me é ignora r os autores originais sobre os qua is vo u fazer a tese. Terei agorade i r p rocurar os autores barrocos, pois, como dissemos e m U i .2 .2 . .
u ma tese também deve ter material d c p r ime i ra mão. Não posso falardos tratadistas se não os ler. Posso não l er os teóricos maneir istas dasartes figurativas c basear-me c m estudos c r ít icos , uma vez que nãoconsl i tucm o cerne d a minha pesquisa mas n ão posso ignorar Tesauro.
Nes ta med ida , como s e i qu e , dc qualquer modo, terei de l e r aRetór ica c a Poética dc Ar is tóte les , do u uma v ista d c olhos a estear t i go. E t enho a surp resa de encontrar umas 15 edições ant i gas d aRetór ica, entre 1515 e 1837. com comentár ios d c R r m o l a o Bárbaro,a tradução de Bernardo Segn i , com a paráfrase dc Avcr róis e deP i cco l o m i n i ; a lém d a edição ing lesa Loeb qu e inclui o texto grego.Fal ta a e d i ç ão i t a l i ana d a La te rza . Quanto à
Poética, há também
aqui várias ed ições, com comentários dc Ca s tc lvct ro c Robor i e l l . aedição L oe b c om o texto g r e go e as duas traduções modernas i t a l i
anas d e R os t a g n i e Va l g i m i g l i . C h e g a e sobra , dc t a l modo qu e medá vontade d e faze r uma tese sobre u m comentário renascentista àPoética. M a s n ão d ivaguemos.
E m várias referências dos textos consultados veri f iquei qu e também se r i am úteis para o meu estudo algumas observações dc M i l i / i a .
d e M u r a t o r i e d e F racas toro, e ve jo que em A l e xa n d r i a há i gua l mente edições ant igas destes autores.
M a s passemos a os tratadistas barrocos. Antes de mais, temos aantologia da Rjcciardi. Trattatisti e narratori de i 600 d e Ez i o Ra imond i .co m ce m páginas do Cannoechiale aristotelico, sessenta páginas dePereg r in i c sessenta d e Sforza Pa l lav ic ino. Se não t ivesse d c fazer
u ma tese, m a s u m ensa io de umas tr inta páginas para u m exame,ser ia mais d o q u e suf iciente.
Porém, interessam-me também os textos inteiros e . entre estes,
pe lo menos : E manue lc Tesauro. // Cannoechiale aristotelico. N i c o l aPereg r in i . Del le Ácutezze e Ifimti delf ingegno r id otti a arte: C a r d i n a lS f o r za P a l l a v i c i n o . Del ttene c Trattato del lo stile e de i dialogo.
V ou v e r o ca tálogo por autores, secção ant i ga , e encontro duas edições d o Cannoechiale : u ma d c 1670 c outra d e 1685 . É pena qu e nãoha ja a p r ime i ra edição de 1654 , tanto mais q u e entretanto l i e m qu a l quer lado qu e houve aditamentos d c u ma edição para outra. Encontroduas edições oitocentistas de todas a s obras d e Sforza Pa l lav ic ino.N ão encontro Peregrini íé u ma maçada, mas consola-me o facto deter uma antologia d e oitenta páginas deste autor n o Ra imond i ) .
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D i g a - s e d e passagem qu e encont re i a qu i e a l i . n os textos cr íticos , ves t íg ios dc A g o s ti n o M a s c a r d i e do s e u De 1 'a r te istorica. d e1 6 3 6 . uma obra c o m mui tas observações sobre a s artes q u e , todavi a , não é cons iderada ent re os i tens d a tratadística bar roca : aqu i e mA l e x a n d r i a há c inco ed ições , três do século x v u e duas do séculox t x . Conv ir -me-á f aze r uma t ese s ob r e M a s c a r d i ? E m b o a verdade,não c uma p ergunta pereg r ina . S e u m a pessoa nã o p o d e d es locar -
-sc, d e v e t raba lhar apenas c o m o m a t e r i a l q u e h á i n loco.
U m a v e z , u m professor d e filosofia disse-me qu e t inha escritou m l ivro sobre certo f ilósofo a lemão só porque o seu ins t i tu to adqu i rira a nova e d i ç ão da s suas obras completas. S e não, t e r i a es tudadooutro autor. N ã o é u m b o m e xe m p l o d e a rdente vocação científica,mas sucede.
Procuremos agora fazer o ponto da s i tuação, ü que é que f iz emAlexandr ia? Reuni uma b ib l iog ra f i a q u e , sem exagerar, compreendepelo menos trezentos títulos, registando todas as indicações qu e encon
t r e i . Destes trezentos títulos encont re i aqu i b e m un s tr inta, a lém dost extos or i g ina is d e pelo menos dois d os autores qu e poderei estudar,Tesauro c Sforza Pa l lav ic ino. N ã o é m a u para uma pequena ca pitald c p rov ínc ia . M a s se rá o suf iciente para a minha tese?
Fa lemos c laro. S e quisesse faze r uma t ese de três meses, toda des e g u n d a mão, bas tar i a . O s l i v ros qu e não encont re i vê m c itados n o sque encontrei e , se e laborar bem a m inh a resenha, podere i da í extrairu m d i s c u r s o ace i táve l . T a l v e z n ão m u i t o o r i g i n a l , m a s correc to.O p rob lema ser ia , contudo, a b ib l iog ra f i a - Co m e fe i to , s e ponho apenas aqu i lo qu e realmente v i , o or i entador poder ia a tacar c o m base
n u m t exto fundamenta l qu e d e s c u r e i . E se faço balota. vimos j ácomo este procedimento é a o mesmo tempo incorrecto e imprudente.
Porém, uma coisa é certa: n os p r ime i ros Ires meses posso traba
l h a r tranqüilamente s em me d es locar d os arredores, entre sessões na
bib l ioteca e empréstimos. D e v o te r presente que as obras d c re ferência e os l i v ros ant i gos nã o podem s e r emprestados, b e m comoos ana is d e r ev i s tas ( ma s para o s art igos posso tra balhar com fotocóp ias ) . M as out ros l i v ros podem. Se consegu i r p lan i f i car uma sessãointensiva n o centro universitário para o s meses seguintes, d c Setembroa Dezembro podere i t raba lhar tranqüilamente no P icmonte examin a n d o u ma sér ie de co i sas . Além d i sso, podere i le r toda a obra d eTesauro e d e S f o r za . O u melhor, pergu nto a mim mesmo se não se r i aconven iente or i entar tudo para u m s ó destes autores, trabalhandodirectamente sobre o texto orig inal e u t i l i z a n d o o mater ia l b ib l io-
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gráfico encont rado para e laborar u m panorama d e fundo. Depoisvere i qua is são os l ivros que nào posso de ixar d c consu l tar c irei
procurá-los a T u r i m ou a üén ov a . C om u m pouco d c sorte encon
t rare i tudo o que é p rec i so. G r a ça s a o l ema i t a l i ano, evi t a re i te r deir , quem sabe, a Par i s ou a Oxford .
Todav ia , são dec isões di f íce is de tomar. O melhor é . u ma v e zfe i ta a b ib l iog ra f i a , i r v e r o professor a quem apresentarei a t ese emostrar- lhe aquilo qu e tenho. E l e pode rá aconse lhar -me uma so lu
ção cômoda qu e me p ermi ta res t r ing i r o quadro e d i ze r -me qua is o sl i v ros q u e e m absoluto terei d c v er . N o qu e respeita a estes últimos,se houver faltas e m A lexan dr ia , posso a inda fa lar com o bibliotecáriopara ve r se é poss íve l p ed i - los empres tados a outras bibliotecas.N u m d i a n o centTo universitário podere i t er id ent i f i cado um a série
de l ivros e a r t i gos sem te r l ido tempo pa ra o s ler. Para os art igos, abib l ioteca d e A lexandr ia poder ia escrever a p ed i r fotocópias . U mar t i go impor tante d e v inte páginas cus tar -me- ia duas m i l li ras maisas despesas postais.
E m t e o r i a , p od e r e i a i n d a t om a r u m a d e c i sã o d i f e rente . E mA l e x a n d r i a tenho o s textos de dois au tores p r inc ipa is e u m númerosuficiente de textos cr íticos. Su f ic i ente para compreender estes doisautores, não suf iciente para dizer a l g o d e no vo n o p lano h is tor io-gráfico ou filológico (se, pelo menos, houvesse a p r ime i ra ediçãode Tesauro. poderia fazer uma comparação de três edições seiscen-t istas). Supoiúiamos agora que a lguém me sugere debruçar-me apenas sobre quatro ou c inco l i v ros e m qu e s e exponham leor ias contemporâneas da metáfora . E u aconse lhare i : Ensaios de l ingüísticagera l d e Jakobson . a Retór ica Gera l d o G r u p o de L i è ge e Meton ímiue Metáfora de Albert H enry. Tenho elementos pa ra esboçar u ma teori a estrulural is ta d a metáfora . E são tudo l ivros qu e s c encontramno comérc io e em conjunto custam, quando muito, d e z m i l l i ras . e .além d i sso, estão t raduzidos e m i t a l i ano.
Podere i l ambem comparar a s teorias modernas c o m a s teoriasbarrocas. Para um trabalho deste t ipo. c om os textos de Aristóteles.Tesauro e uma t r in tena d e estudos sobre Tesauro, be m como os trêsl ivros contemporâneos de referência, terei a poss ib i l idade de const ru i r u m a tese intel igente, c o m a lguma or ig ina l idade e nenhuma pre tensão de descoberta f ilológica (ma s co m a pretensão de exactidáon o qu e r espe i t a às r e fe rênc ias ao B a r r o c o ). E t u d o s e m s a i r deA l e x a n d r i a , excep lo para p rocurar e m T u r i m ou Gênova nào maisde dois ou três l ivros fundamentais qu e faltavam c m A l e xa n d r i a .
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M a s tudo isto são hipóteses. Poderia mesmo dar-se o caso dc ,f asc inado pe la m i n h a p esqu isa , descobr ir qu e quero d edicar, n ão u mma s três anos a o es tudo d o Barroco, end iv idar -me ou p e d i r u m abolsa de es tudo para inves t i gar à minha vontade, e t c . e t c N ã o espe rem pois qu e este l i v r o vo s d i g a o que d evere i s pô r n a vossa t eseou o que devereis fazer d a vossa vida.
O que quer íamos demonstrar (e p ensamos te r consegu ido) é quese p ode chegar a u m a biblioteca de p rov ínc ia sem saber nada ouquase nada sobre u m tema e ter , em três ta rdes, idé ias suficientement e claras e completas. Isto s i g n i f i c a que não é ace i táve l d i ze r«es tou na prov ínc ia , não lenho l ivros, n ão s e i po r onde começar en inguém me a juda» .
Ev identemente , é necessário escolher t emas qu e s e p res tem a
este p roced imento. Suponhamos qu e quer ia f aze r u m a lese sobrea l óg i c a dos mundos poss íve is em K r i p k e e H i n l i k k a . F i z t amb émes ta p rova e p erd i mui to pouco l empo. Uma pr ime i ra inspecção doc a tá logo por assuntos ( t e rmo « L ó g i c a » ) revelou-me qu e a b i b l i o teca t e m p e lo menos u m a qu i n ze n a d e l ivros muito conhecidos d elógica formai (Tarsk i . Lukas icwicz, Qu ine , a lguns manua is , es tudosde C a s a r i , W i i l g e n s t e i n , S t r a w s on , c l c ) . m a s nada , ev identemente ,sobre a s lógicas moda is mais recentes , mater ia l qu e se encont ra , namaior par te d os casos , c m r ev i s tas espec ia l izadíss imas c que m u i
ta s v e z e s nem sequer ex is t em na lgumas b ib l iotecas d c inst i tutos dcfilosofia.
M a s escolh i de propós i to um tema que n inguém aborda no últimoano, s e m saber nada d o assunto c sem ter já cm casa textos d c base.N ão estou a d i z e r qu e seja uma t ese para estudantes r icos. C on h e ç ou m es tudante qu e n ão 6 r i co c ap resentou u m a tese sobre temassemelhantes hospeda ndo-sc num pensiona to rel ig i oso e comprandopouquíssimos l i v r os . M a s e r a uma pessoa qu e t inha d ec id ido empenhar-se a tempo inteir o, fazend o certamente sacr i f íc ios , mas semqu e u ma di f íc i l s i tuação f ami l i a r o obrigasse a t raba lhar . Não háteses qu e , po r si própr ias , sejam pa ia estudantes r icos, pois mesmoescolhendo A s var iações da moda balnear em Acapulco no decursode cinco anos . pode sempre encontrar-se um a fundação d i spos ta afinanciai- o estudo. M a s é ób v io qu e certas t eses não poderão serfe i tas se se est iver em situações par t i cu larmente d i f íce is . E é pori s so qu e a qu i também se p rocura ve r como se podem fazer t rabalhos d ignos , se não p ropr iamente com aves -do-para íso, pelo menossem gralhas.
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ÍTI.2.5. E os livros devem ler-se? Epor que ordem?
O capítulo sobre a p esqu isa na b ib l ioteca e o exemplo d e inves t igação ab ovo qu e ap resente i l eva m a p ensar qu e f aze r u m a teses i gn i f i ca r eun i r uma g rande quant idade d e l i v ros .
M a s u m a t ese faz-se sempre, e só. sobre l ivros e c o m l i v ros ' 'V i m o s já que há também t eses exper imenta i s , e m q u e se reg istamestudos n o t e r reno, t a lvez conduzidos observan do du rante meses cmeses o comportamento d e u m c a s a l d e ratos n u m l ab i r in to. O r a .sobre este l i po d e tese n ào posso d a r conse lhos p rec isos , u m a v e zqu e o método d epende d o t ipo d c d i s c i p l i n a , c quem empreendeestudos deste gênero v i v e já n o laboratório, cm contacto c o m outrosinves t i gadores , e nào tem necessidade deste l ivro. A única co i sa qu e
se i , como já d i sse , é que mesmo neste gênero dc teses a exper iênci a de v e s e r e n qu a d r a d a n u m a discussão da l i teratura científica p re cedente c. por tanto, também nestes casos sc terá dc t raba lhar c o ml ivros.
O mesmo acontecerá com urna lese d c soc iolog ia , para a qu a l ocandidato passe muito tempo c m contacto com situações r ea i s . A inda
aqui terá necessidade de l i v ros , quanto mais nã o seja para v e r comoforam feitos estudos semelhantes.
H á teses qu e se f azem folheando jorna is , ou ac tas par lamentares, mas também e las ex igem uma l i t e ra tura de base.
F i n a l m e n t e , h á teses qu e se fazem apenas falando d e l ivros, comoas teses d e l i t e ra tu ra , f i losof i a , história d a ciência, d i re i to canónicoou lógica formal . E n a un ivers idade i t a l i ana , par t icu larmente n a sf acu ldades de ciências h u m a n a s , são a m a i o r i a . At é porque um estudante amer icano qu e es tude ant ropolog ia cu l tu ra l tem os índios emcasa ou c on s e g u e d i n h e i r o p a r a fa z e r i n v e s t i ga ç õe s n o C o n g o ,enquanto, g e ra lmente , o es tudante i t a l i ano se r es i gna a f aze r umatese sobre o p ensamento d e F r a n z Boa s . H á, ev identemente, e cadavez mais, boas leses de etnologia, fe i las indo estudar a r ea l idade d onosso pa ís , mas mesmo nestes casos há sempre um trabalho d e b ib l ioteca, quanto mais n ão se j a para p rocurar repertórios folcloristas anteriores.
D i g a m o s , de qua lquer forma, qu e e s t e l i v ro inc ide , por razõescompreens íve is , sobre a g rande ma ior ia das leses f e i l as sobre l i v rose u t i l i za ndo exc lus ivamente l i v ros .
A este propósito d eve . porém, r ecordar - se qu e g e ra lmente u m atese sobre l ivros recorre a dois t ipos : os l i v ros de qu e se f a la e os
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l iv ros com o aux í l io d os quais s c fala. For outras palavras, há os tex-tos-objcelo c há a l i teratura sobre esses textos. N o exemplo do parág ra f o ante r ior , t ínhamos, por um l ado, os tratadistas d o bar roco c,por outro, todos aqueles qu e escrevera m sobre o s tratadistas d o bar roco. Temos, portanto, de d i s t i n g u i r o s textos d a l i t e ra tura crítica.
Deste modo, a ques tão que se põe é a segu inte : é necessário abor d ar d c imed ia to os textos o u passar p r ime i ro pe la l i t e ra tura cr ítica?A questão pode se r d e s p r ov i d a d e sent ido, p o r duas r azões : a ) por qu e a dec isão d epende da s i tuação do es tudante , qu e pode j á conhece r b e m o s e u autor e d e c i d i r aprofundá-lo ou d eparar pe la p r ime i rave z c o m u m au tor mui to difíc il e à p r ime i ra v i s ta incompreensível;b) o círculo, por s i só, é v ic ioso, dado qu e sem l i t e ra tura crítica p re
l imina r o texto pode s e r i le g í v e l , ma s s e m o conhec imento d o texto
é difíc il a v a l i a r a l i t e ra tura crítica.Porém, acaba p o r t er uma cer ta r azão de se r quando é fe i ta po r
u m estudante desorientado, como. por exemplo, o nosso sujeito hipotético que aborda pe la p r ime i ra v e z os tratadistas barrocos. Este pod einterrogar-se se deve começar logo a l e r Tesauro ou f ami l i a r i zar - sep r i m e i r o c o m G e t t o , An c e s c h i , R a i m on d i e a s s i m p o r d iante.
A resposta mais sensata parece-me a segu inte : abordar logo doisou três textos cr íticos dos mais ge ra i s , o suf iciente para t er uma ide iado t e r reno e m qu e nos movemos ; depois a tacar d irec tamente o au tor
o r i g i n a l , p rocurando compreender o qu e d i z ; segu idamente exam in ar a restante cr ítica; f ina lmente , vol la r a a n a l i s a r o au tor à lu z da snovas idéias adqui r i das . M a s is t o é um conse lho muito t e ó r ic o . C o mefeito, cada pessoa estuda segundo ritmos d c desejos próprios e m u i
ta s vezes não se pode d i z e r qu e « c ome r » dc u ma forma desordenada faça mal. Pode proceder-se e m ziguezague, alternar os objectivos,desde qu e uma aper tada rede de anotações p essoa is , poss ive lmenteso b a forma d e f i chas , dc consistência ao r esu l tado des tes mov i mentos « a v e n tu r os os » . N a t u r a l m e n t e , t u d o d e p e n d e também daestrutura ps icológica do inves t igador . Há indivíduos monocrónicose indiv íduos pol ic rónieos . Os monocrónicos só t raba lham b e m s ecomeçarem e acabarem uma coisa d e cada v e z . N ão conseguem l e renquanto ouvem música, não podem inte r romper u m romance parale r outro, pois de outro modo per dem o f io à meada e . nos casos
l imi t e , n e m sequer podem responder a p erguntas quando estão afazer a barba o u a maqu i lhar - se .
O s policrónieos são o contrário. Só t raba lham b e m s e c u l t i v a r e m vários interesses a o mesmo tempo e sc sc d ed icarem a u ma só
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co i sa , deixara-se vencer pelo lálio. Os monocrónieos são mais meló
d icos , mas f r eqüentemente tem pouca f antas ia : os p olicrónicos pare
cem mais criat ivos, mas muitas veze s são trapalhões e volúveis. Mas.
se formos ana l i sar a b iog ra f i a d os g randes h omens, encont ramos
policrónicos c monocrómcos.
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I V . O P L A N O D E T R A B A L H O J i A E L A B O R A Ç Ã O D E
F T C H A S
r v . 1 . O índice como h ipó t e s e de t r a b a l h o
U ma c ias prime iras coisas a fazer para começar a t raba lhar numalese ú escrever o lílulo. a introdução e o índice f i n a l — ou seja.cxac iarnenle a s coisas qu e qualquer autor fará no fim. Es te conselho parece paradoxa l : começar p e lo f im? M a s quem disse que oíndice v inha n o fim? R rn eerios l ivros vem no pr inc ípio, de modoqu e o le i tor possa fazer l ogo um a idéia d a qu i l o qu e irá encontrar na
l e i tura . P o r ou tras pa lavras , red ig i r iogo o índice como h ipótese det raba lho serve para de f in i r imed ia tamente o âmbito da tese.
Poderá objectar-se que . à medida que o trabalho avançar, este índicehipotético terá de s er reestruturado várias vezes e talvez mesmo assu
m ir uma forma totalmente diversa. Certamente, m a s essa reestruturação far-se-á melhor se se tiver u m ponto d e part ida a reeslruiurar.
Imaginemos qu e temos de fazer uma viagem de automóvel de ummi lha r d e quilômetros, para o que d ispomos de uma semana. Mesmoestando de férias, não iremos sair d e casa às cegas tomando a primeira
direcçào que nos apa reça. Faríamos um plano geral. Pensaríamos tomara estrada de M üao-Nápoles (Auto-estrada d o So l ), fazendo desvios e mFlorença, Siena e Arezzo, u ma paragem mais longa em Roma e uma vis i taa Mon tecassino. Se. depois, a o longo da viagem, veri f icarmos que Sien anos lomou mais tempo d o que o previsto ou que. além de Siena. val ia apena vis i iar San Giminiano. decidiremos e l iminar Montecassino. Chegadosa ÀrezzO, poderia vir-nos à cabeça tomar a direcçào leste, ao contrário doprevisto, e v is i tar Urbino. Perugia. Assis e Gubbio. Islo quer dizer que— po r razões perfeitamente válidas alterámos o nosso trajecto a meioda v i agem. Ma s fo i esse trajecto que modificámos, e não nenhum trajecto.
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O mesmo se passa em relação à tese. Estabeleçamos u m plano d eTrabalho. Es te p lano assumirá a forma de u m índice provisório. A i n d amelhor se este índice for um sumário, onde , para cada capítulo, se esboceum breve resu mo. Procedendo deste m odo. tornamos mais claro, mesmopara nós, aqu i lo q u e queremos fazer. E m segundo lugar, apresentaremos ao orientad or um projecto compreen sível. E m te rce i ro lugar, assimpoderemos ve r se as nossas idéias já estão suf icientemente claras. H;íprojectos qu e parecem mu ito claros enquanto pens ados, mas. quandose começa a escrever, tudo se esboroa entre a s mãos. Pode ter-se idéia*claras sobre o ponto d e par t ida e d e chegada, ma s veri f icar que n ào sesabe muito b em como se chegará de um ao outro e o que haverá nomeio. Um a tese, tal como u ma part ida d e xadrez, compõe-se de muitosmovimentos, salvo que desde o início teremos d e se r capazes d e preveros movimentos que faremos para dar xeque ao adversário, po i s . de outromodo. nunca o conseguiremos.
Para sermos mais precisos, o p lano d e trabalho compreende o r indo,o índice e a in i rodução. U m bo m título é já u m projecto. N ão falo d otitulo que fo i entregue n a secretaria muitos meses a nies. e que quasesempre é tão genérico que permite inf initas var iações: falo do título«secre to» da vossa tese, aquele qu e habitualmente surge como subtítulo. U m a tese pode te r como título «público» O atentado a Tógliattie a rádio , m as o seu subtítulo (e verdadeiro lema) será: A nál ise deconteúdo que ambiciona a revelar a uti l ização feita da v i tó r ia de GinoHartali no Tourde France para dist rai r a atenção da opinião públicadofacto polít ico emergente. Isto s i gn i f i ca que . após se te r d e l imi tadoa área temática, se decidiu tratar só um ponto específico desta. A formulação deste ponto constitui também u ma espécie de pergunta: houve
um a u tilização específica p or parte da rádio da vitór ia de G i n o Bar ta l i
de modo a revelar o projecto de desviar a atenção do público do atentadocontra Tog l i a t t i ? E este projecto poderá ser relevado p or u ma análisede conteúdo das notícias radiofônicas? E i s como o « t í tu lo» (transfor
mado e m p ergunta i s e toma parte essencial d o p lano d e trabalho.
Imed ia tamente após te r e laborado es ta pergunta , devemos es ta belecer etapas de t raba lho, que corresponderão a outros tantos capítulos do índice . Por exemplo:
1. Literatura sobre o tema2. O acontecimeniu3. A s notícias da rádio
4 . Análise quantitativa d a * notícias c da sua localização horária
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5. Análise de conteúdo das notícias6. Conclusões
O u pode p rever - se u m d esen volv imento des te t ip o:
1. O acontecimento: síntese das várias fontes de informação2. As notícias radiofônicas desde o alentado ate à vitória d c Bartali3. A s notícias radiofônicas desde a vitória de Bartali até ao terceiro dia seguinte4 . Comparação quan titativa das duas series dc notícias5. Análise comparada de conteúdo das duas séries de notícias6. Avaliação sociopolítica
Ser i a d e desejar que o índice , como se d i sse , fosse mui to mais
analítico. Podemos, por exemplo, escrevê-lo numa g rande fo lha c om
quadrados a t inta onde s e i n s c r e v e m os títulos a lápis, que se vãoprogress ivamente e l iminando o u s u b s t i t u i n d o p or ou t ros , de modo
a cont rolar as várias fases d a reestruturação.
Um a outra maneira de fazer o índ ice-hipótese é a estrutura em árvore:
1. Descrição do acontecimento
2. A s notícias radiofônicasDo atentado a te BartaliDe Bartali em diante
3. etc.
que permi te acrescentar vár ias ramif icações . E m d e f i n i t i v o , u m
índice-hipótese deverá ter a segu inte es t ru tura :
1. Posição d o problema2. Os estudos precedentes3. A nossa hipótese
4. Os daüos que estamos cm condições d e apresentar5. A s ua análise6. Demonstração da hipótese7. Conclusões e indicações para trabalho posterior
A terceira fase d o p l a n o d c t raba lho 6 um esboço de introdução.
Esta não é mais do que o comentário analítico do índice: «C om este
trabalho propomo-nos demon strar uma determinada tese. O s estudos
precedentes deixaram e m aberto muitos problemas e o s dados recolh i
do s sã o a inda insuf icientes. N o p r ime i ro capítulo tentaremos e stabele
ce r o ponto x ; n o segundo abordaremos o p rob lema y . E m conclusão.
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tentaremos demonstra r isto e aqu i lo. Deve ter-se presenie q u e n os fixámos determinados l imites precisos, isto é, ta is cia is . D entro destes l imi
tes, o método que seguiremos é o segu inte... E ass im p or diante . »
A função desta introdução fictícia (fictícia porque será refeita uniu
série de vezes antes d e a t ese es tar t e rminada ) é p ermi t i r -nos f ixaridé ias a o longo d e u m a l inha d i rec t r i z que só será a l t e rada à custade uma reestruturação consc iente do índice . A s s i m , podere i s cont ro
la r os vossos desv ios e i m p u l s os . Es ta introdução se rve a inda paramost rar a o or i entador o que se pretende fazer. M a s sen 'e s obretudo
para ve r se já se tem as idé ias em orde m. C o m efeito, o estudanteprovém geralmente d a escola média superior, onde se presume quetenha a p r e n d i d o a escrever, dado qu e teve de f aze r uma g rande quant idade de compos ições . Dep ois passa quat ro, c inco ou seis anos naunivers idade , onde reg ra gera l já n inguém lhe pede para escrever,
e chega a o momento d a tese s e m es tar min imamente e xerc i t ad o ' .Será um g rande choque e u m fracasso tentai" readquir ir essa práticano momento da red acção. É necessário começar a escrever l ogo dein íc io c mais vale escrever a s próprias hipótese de trabalho.
Estejamos atentos, pois. enquanto nã o formos capazes de escrever um índice c um a introdu ção, não estaremos seguros de s e r aquelaa nossa tese. S c não consegu i rmos escrever o pre fácio, i ss o s i gn i f i caqu e não t emos a ind a idéias claras sobre como começar. Se as temos,é porque podemos pe lo menos « suspe i tar » de aonde chegaremos.E é p rec i samente baseados nes ta suspe i ta q u e devemos escrever aintrodução, como se fosse um resumo d o trabalho já feito. N ão receemo s avançar d emas ia do. Es taremos sempre a l empo d e vol tar atrás.
Vemos agora claramente que introdução e índice serão reescri tos con -t inuamente à med ida que o t rabalho avança. E ass im que se faz. O índicee a introdução f inais (que aparecerão no trabalho dactüograíado) serãodiferentes dos in ic ia is . E normal. Se não fosse ass im, isso sigriif icaria quetoda a investigação fe i ta nã o t inha t raz ido nenhuma idéia nova . Seríamosprovavelmente pessoas d e caracter, mas s eria inútil fazer uma tese.
O qu e d i s t i n g u e a p r i m e i r a e a última redacção da introdução?O fac to dc , na última, se p rometer mui to menos do qu e n a p r ime i ra .
1 0 mesmo não acomccc noutros países, como nus Estadas Unidos, onde o estudante em ve/. dos exame s orais, escreve papers . ou en saios, ou pequenas teses dedez ou vinte páginas para cada disciplina em que se lenha inscrito. É um sisieimmuito útil que uimhém já tem sido adoptado enire nÓS (dada que os regulamentosdc modo nenhum o excluem c a forma «oral-sebencisia» do exame 6 apenas um dosmétodos permitidos ao docente para a valiar as aptidões d o estudante).
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e se rmos mais p rudentes . O object ivo da in trodução d e f i n i t i v a seráa judar o l e i tor a penetrar n a tese: ma s n a d a de lh e p rometer aqu i loque depois não lhe d a r e m os . O ob j ec t ivo dc u ma boa introduçãod e f i n i t i v a é que o le i tor se contente c o m c i a , compreenda tudo e ján ão l e i a o resto. E u m p a r a d oxo , m a s muitas vezes u m a b oa i n t r o dução, num l iv ro publ i cado, d á u m a idéia exacta ao crítico, l evando--o (ou a outros) a falar d o l i v ro como o au tor gos tar i a . Ma s , sc d epoiso or i entador le r a tese e ve r i f i ca i ' que se a n u n c i a r a m n a in troduçãoresu l tados que não se obt iveram? E i s a r a zão por qu e esta últimade v e s e r p rudente e p rometer apenas aqu i lo qu e a tese dará.
A introdução serve também para es tabe lecer qua l é o centro cqua l a p er i f e r i a d a tese. Distinção esta qu e é mu i to impor tante , c nãoa p e n a s p or razões de método. E - n os e x i g i d o qu e se j amos exaust i
vos mui to mais pa ia aqu i lo qu e s e d e f in iu como cent ro d o qu e parao que se d e f in iu como per i f e r i a . Se numa tese sobre o conf l i to d cgue r r i lhas n o Monfer ra to es tabe lecermos qu e o cent ro são os mov i mentos das formações b a d og l i a n a s . ser-nos-á p erdoada qua lquer ine -xactidão relat ivamente à s brigadas ga r iba ld inas . m as ser-nos-á ex ig ida
u ma informação exa ust iva sobre as formações de F ranch i e de M a u r i .
E v i d e n t e m e n t e , o i n v e r s o também é ve rdade i ro.
Para d e c i d i r qu a l será o cent ro d a tese. deve mos saber algo sobreo m a t e r i a l de que d i spomos. Es ta é a razão por que o t ítu lo «secre to» ,a introdução fictícia e o índice-hipótese são d a s pr imeiras coisas afazer ma s n ào a pr imeira,
A p r i m e i r a c oi s a a f aze r é a investigação bibliográfica (e v imos
cm 1U.2.4. que se pode f azer em menos d e uma semana, mesmo numapequena c idade ) . Vol t emos à experiência de A l e x a n d r i a : e m três d iases tar íamos e m condições de e l a b or a r um índice a ce i táve l .
Q u a l deverá se r a lógica qu e p res ide ã construção do índ ice-hipót ese? A escolha depende d o t ipo d e t e s e. N u m a t ese histórica pode
remos t e r u m p l a n o crono lógico ( p o r exemplo: As persegu ições dosValdenses em Itál ia) o u u m p l a n o d e causa e efeito ( po r exemplo,A s causas do confl ito israeh -árabe). Pode haver um p lano espacial(A d ist r ibu ição das bibliotecas it inerantes no canavesano) o u com-parativo-contrastante (Nacionalismo e populismo na literaturaitaliana do per íodo da Grande Guerra ) . N u m a l es e d e carac te r experimental ter-sc-á um p l a n o indutivo d e a lgumas p rovas até à p r o
pos ta de u m a t e o r i a : numa t ese d c carac te r lóg ico-maiemãtico, ump l a n o d e t ipo dedut ivo, p r i m e i r o a p roposta d a t eor ia e d epois a ssuas possíveis aplicações e exemplos concre tos . . . D i r e i qu e a l i t e -
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ratura cr ítica a qu e nos lemos referido pode oferecer bons exemplosde p lanos d e t raba lho, para o que basta utilizá-la c r i l i camen le comparando os vários autores c vendo quem responde melhor ãs e x i gênc ias do p rob lema formulado n o t í tu lo «secre to» d a tese.
O índice estabelece desde logo qua l será a subdivisão lógica datese e m cap ítulos, parágrafos e subparágrafos. Sobre a s modalidadesdesta subdivisão, ve ja-se V I. 1.3. e V Í.4 . Também aqui u ma boa subd i
visão de d is junção b inar ia n os permite fazer acrescemos s e m alterardemasiado a ordem in ic ia l . Por exemplo, se tivermos o seguinte índice:
1. Problema central1.1. Subproblema principal1.2. Subproblema secundário
2. Desenvolvimento do problema centra
2.1. Primeira ramificação2.2. Segunda ramificação
es ta es t ru tura poderá ser representada p o r u m d iag rama em árvore
onde os traços i n d i c a m sub-ram ificações sucess ivas que poderão
i n t roduz i r -s e s e m p er turbar a organ ização g e ra l d o t raba lho:
P R O B L E M A C E N T R A L
PC
S U B PR O B L E MA
PRINCIPAL
SP
S U B PR O B L E MA
SECUNDÁRIO
SS
D E S E N V O L V I M E N T O
D O P R O B L E M A
C E N TR A L
DPC
PRIMEIRA
RAMIFICAÇÃO
PR
S E G U N D ARAMIFICAÇÃO
SR
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As s i g l a s a s s i n a l a d a s s ob c a d a subdivisão es tabe lecem a c o r relação entre índice e f i cha d e trabalho, e serão exp l icadas e m IV .2 . I .
U m a v e z d i spos to o índice como h ipótese de t raba lho, deveráreferir-se sempre os vários pontos do índice, as f ichas e outros tiposde documentação. R s i a s referências d evem se r cla ras desde O in íc ioe expressas c o m n i t i d e z através de s i g las e/ou cores. C o m ele ito,e las servir-nos-ão para organ i zar as referências internas.
O qu e á uma re fe rênc ia interna, v imo- lo também oeste l i v ro.M u i t a s v e z e s , fala-se d c qua lquer coisa qu e j á f o i t ra tada num capítulo ante r ior c remete-se o le i tor, entre parênteses, para os númerosdo respec t ivo capítulo, parágrafo ou subparágrafo. As referênciasinternas dest inam-se a não r epe l i r demas iadas vezes as mesmas coisasmas servem também para most rar a c oe s ão de toda a tese. U m a
referência interna pode sign if icar que um mesmo conceito 6 válido dedois pontos d c v ista d iversos, q u e um mesmo exemp lo demonstra doisargumentos d i f e rentes , qu e tudo o q u e se d i sse c o m um sentido geralse ap l ica também à análise de u m d e te rminad o ponto, e m p a r t i cular, e a s s i m p o r d iante .
U m a t ese b e m organ i zada dev ia es tar che ia de referências inter
nas . S e estas n ão ex i s t em, i sso s i gn i f i ca qu e c a d a capítulo avançapor conta própria, como se tudo aqu i lo qu e fo i d i to nos capítulosanter iores de nada serv i sse . Ora , é indubitável q ue há certos t iposde teses ( po r exemp lo, recolhas d e documentos) qu e podem funcionar
ass im, mas. pelo menos na altura d e t i ra r as conclusões, d ever ia sent ir-se a necess idade das r e fe rênc ias i n t e r n a s . Um índice -h ipótesebe m construído é a r ede numerada qu e n os p ermi te ap l icar a s re ferências in te rnas s e m andar sempre a ve r i f i car ent re fo lhas e fo lh i n h a s onde se f a lou d e d e te rminada cois a . Co mo pensa is qu e f i z p a r aescrever o l i v r o qu e estais a ler?
Para r e í lec t i r a es t ru tura l óg i ca da t ese (cent ro e p er i f e r i a , t ema
ce n t r a l e s u a s r a mi f i c a ç õe s , e t c ) , o ín d ic e de v e s e r a r t i c u l a d oem capítulos, parágrafos e subparágrafos . Para ev i t a r longas exp l i cações , poderá ver-se o índice d es ta obra . E l a é rica em parágrafos e subparágrafos (e. p or v e z e s , em subdivisões a inda mais pequena s que o índice não r e fe re : ve j a - se . p o r e xe m p l o , e m 111.2.3.).U m a .subdivisão m u i t o analítica p ermi te a compreensão lógica d odi scurso .
A organ ização lógica deve ref lect ir-se no índice . Is to eq üiva le <id ize r qu e s e 1.3.4. d esen volve u m corolário de 1.3.. isso d e v e s e rgra í icamente ev idente no índice , la l como s e passa a exempl i f i car :
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ÍN D T C E
I. A SUBDIVISÃO DO TEXTO
I. 1. Os capítulos1.1.1. Espaçamento1.1.2. Inicio dos períodos após um ponto parágrafo
I. 2, O s parágrafos1.2.1. Diver sos tipos de títulos1.2.2. Even tual subdivisão em subparágrafos
II. A KEUACÇÀO FINAI.II. 1. Trabalho dact i lografado po r u m prof issional ou pelo própr io11.2. Preço d a máquina d e escrever
III. A RNCADHRNAÇÃO
Es t e e xe m p l o de subdivisão mostra-nos também que não é necessár io que todos os capítulos estejam sujeitos ã m e s m a subdivisãoanalítica. Exigências do d i scurso podem requerer que um capítu loseja d ivid id o num certo número de subparágTafos. enquanto outro podeencerrar u m d i s c u r s o contínuo sob u m t í tu lo g e ra l .
H á leses que não ex igem tantas divisões c onde . pe lo contrário,um a subdivisão d e m a s i a d o minuciosa quebra o f io do d i scurso (pensamos, por exemplo, numa reconstituição biográfica) . M a s , de q u a l
quer modo. d e v e ter-se presente que a subdivisão m i nuc ios a a judaa d om i n a r a matéria e a segu i r o d i s c u r s o . Se v i r qu e u ma observação está c on t i d a n o subparágra fo 1 .2.2.. saberei imediatamentequ e s e trata d e a l g o que se re fere ã ramificação 2 . d o capítulo I .e que tem a mesma importância da observação 1.2.1.
U m a última advertência: quando t i ve rdes u m ín d ice « d e ferro",podeis r^rmit ir-vos não começar pelo princípio. Gera lmente, neste cas o.começa-se por desenvolver a parte em que nos sentimos ma is docu
mentados e seguros. M a s isto só é possível se se t iver como base umesquema de or ien tação, o u seja. o índice como hipótese de trabalho.
Í V . 2 . F i c h a s e a p o n t a m e n t o s
1V.2 .1 . Vár ios t ipos de f icha: para qu e servem
À m e d i d a qu e a nossa b ib l iog ra f i a v a i a u m e n t a n d o , começa-se
a le r o m a t e r i a l . E puramente teórico p ensar f aze r uma be la b ib l io-
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gra f i a comple ta e só d epois começar a le r . D e facto, após termosr e u n i d o u m a p r i m e i r a l i s ta dc títulos, passaremos a debruçar-nossobre o s p r i m e i r os q u e e n c on t r a r m os . O u t r a s v e z e s , p e l o contrário,começa-sc a le r um l iv r o, par t indo d a í p a r a a formação da p r i m e i r abibl i ogra f i a . D e qua lquer forma, à m e d i d a que se vão l endo l i v rose art igos, as referências adensam-se c aumenta o f icheiro bibliográfico.
A s ituação i d ea l para uma t ese seria l e r e m casa todos o s l i v rosnecessários, quer fossem novos o u ant i gos (e ter um a b o a b ib l iotecapessoa l , be m como u m a sa la d e t raba lho cômoda e espaçosa , emqu e se pudesse d i spor n u m a sér ie de mesas o s l ivros a qu e n os report a m os d i v i d i d os cm várias p i l h a s ) . M a s estas condições i d ea i s sãobastante raras , mesmo para u m e s t u d i os o de profissão.
Ponhamos, todav ia , a h ipótese de sc t e r pod id o encont rar e com
pra r todos os l ivros necessários. E m princípio, não são necessáriasoutras f i chas para além da s b ib l iográf icas de que se f a lou e m TTT.2.2.P r e p a r a d o u m p l a n o (ou índice h ipoté t ico, of , 1V.1. ) c om os capítulo s b e m numerados , à m e d i d a que vão sendo l idos o s l i v r os i rc is
s u b l i n h a n d o c escrevendo à m a r g e m a s s i g las correspondentes aoscapítu los do p lano. Para le lamente , pore i s junto aos capítu los dop lano a s i g la correspondente a u m dado l i v ro c o número da página ,e ass im sabere i s aonde i r p rocurar , n o momento da r e da cç ão. u m ad a d a idé ia ou u m a d e t e r mi n a d a c itação. Imag inemos uma lese sobre
A idé ia dos mundos possíveis na ficção científica amer icana e qu ea subdivisão 4 .5 .6 . d o p l a n o é «D ob r a s do t empo como passagementre mundos poss íve is » . Ao l e rmos Scambio Mentale (Mindswaplde Rober t Sheck ley , vemos no capítu lo X X I . página 137 da ediçãoO m n i b u s M o n d a d o r i , qu e o l i o de M a r v i n . M a x , qu a n d o j og a v agolfe, tropeçou n u m a dobra d o tempo qu e s e encontrava n o campo d oF a i r h a ve n C l u b C o u n t r y C l u b d c Stanhope e fo i a r remessado parao p lane ta C l e s i u s . Assinalar-se-á à margem n a pág in a 137 do l i v r o :
. (4.5-6.) dobra temporal
o que s ign i f icará que a nota s c re fere ã Tese (poderá u t i l i zar - se omesmo l i v ro d e z anos ma is t a rde a o lomar notas para um out ro tra
ba lho, e é bom saber a qu e t raba lho s e re fere u m d e te rminado sub l i
n h a d o ) c àquela subdivisão em par t i cu lar . D e i gua l modo. n o p lanode t raba lho assinalar-se-á j u n t o ao parágrafo 4.5.ó.:
cf. Sbccklcy. Mindswap. 137
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nu m espaço em que haverá referências a Loucura no Universo, deB r o w n e A a Por ia para o Verão, de H e i n l e i n .
Es t e p roced imento, porém, pressupõe a lgumas coisas : ( a ) qu e set enha o l i v r o e m c a s a ; (b ) qu e s e possa sublinhá-lo; (ç ) que o p lanode trabalho esteja j á formulado de modo de f in i t i vo. Suponhamosqu e não se tem o l i v ro, porque ú ra ro e só se encont ra n a b ib l iot eca ; que e le é emprestado mas que não se pode sublinhá-lo (poderiaaté se r vosso, ma s tratar-se d e u m incunábulo de va lor inestimável)ou qu e s e t e m de i r r ees t ru turando o p lano de t raba lho, c e is quef i camos n u m a s i tuação di f íc i l . O últ imo c a s o é o mais normal .À med ida qu e avança is com o t raba lho, o p lano enr iquece-se e rees-t rutura-se, c não podereis andar constantemente a m u d a r a s anotações à margem. Por tanto, es tas anotações têm de ser genéricas, dot i po : «mundos pos s íve is » . Como obv iar a esta imprecisão? Fazend o,por exemplo, u m f icheiro de idé ias : ter-se-á u ma sér ie dc f ichas c o mtítulos como Dobras do tempo, Paraie l ismos entre mundos possí
veis. Contradição. Var iações de est rutura, etc . e assinalar-se-á areferência r e la t i va a Sh e c k l e y n a p r ime i ra f i cha . Todas as referênci as às dobras d o t empo poderão, a s s i m , se r colocada s nu m dadoponto d o p lano de f in i t i vo, ma s a f i cha pode s e r d es locada, fund idacom outras, posta anles ou d epois d e ou t ra .
E i s , pois . que se d esenha a existência de um p r ime i ro f i che i ro. oda s f ichas temáticas, qu e é pei fe i tamente adequado, por exemplo, para
u ma tese d e história d as idéias. Se o trabalho sobre os mundos possíveis na ficção científica amer icana s e desenvolver enumerando qsvários modos como os d iversos problemas lógico-cosmológicos foramencarados p o r d i ferentes autores, o f icheiro temático será o i d ea l .
M a s suponhamos que se d ec id iu organ i zar a t ese d e modo diverso,ou se j a . p o r retratos: u m capítulo introdutório sobre o tema e depoisu m capítulo sobre cada um d os au tores p r inc ipa is (Sheck ley , He in le in .
A s i m ov , B r o w n . e tc . ) ou mesmo um a série de capítulos d ed icadoscada u m a um romance-mode lo. N es te ca so, mais do qu e u m ficheirotemático, é necessário u m f icheiro po r auto res . N a f icha Shecklevter-se-ão todas as r e fe rênc ias que nos p ermi tam encont rar a s pas sagens d os seus l ivros e m qu e s e fala d os mundos possíveis. E . event u a l m e n t e , a f i c h a estará s u b d i v i d i d a e m Dobras do tempo.Paraie l ismos, Contradições, e tc .
Suponhamos agora qu e a tese encara o p rob lema d e u m modomais teórico, u t i l i z a n d o a ficção científica como ponto de referênci a m a s d i s c u t i n d o de facto a lóg i ca dos mundos p oss íve is . As refe-
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rências à ficção científica serão mais casua is e servir-nos-ão p a r ai n t roduz i r c itações t extua is , essenc ia lmente i lustrat ivas. Então p re c i saremos de u m f icheiro de citações e m q u e n a ficha Dobras d otempo se registará uma frase d e Sheckley part icularmente signif ica t ivae n a ficha sobre Paraie l ismos se registará a descrição de B r o w n dedois un iversos absolu tamente idênticos e m que a única diferençasão os a tacadores d os sapatos d o p rotagon is ta , e a s s i m p or d iante .
M a s podemos também supor qu e o l i v ro d e Sh e c k l e y não estáem nosso poder e qu e o l emos e m casa d e u m amigo nout ra c idade ,muito tempo antes d e t e rmos pensado num p lano d e t raba lho qu econs iderasse o s temas d a s dobras d o t empo e d o para le l i smo. Será.ass im, necessário e laborar u m f icheiro d e leitura c o m u m a f i c h ar e l a t i va a Mindswap, os d a d os bibliográficos deste l ivro, o r esumo
gera l , uma sér ie de apreciações sobre a s u a importância e u m a sér iede c itações t extua is qu e n os pareceram l ogo pa r t i cu larmente s i gn i ficativas.
Acrescentemos a s f ichas d e trabalho, qu e p od e m se r de vár iost i pos , fichas de l igação ent re idéias e partes d o p lano, f i chas p roblemáticas , ( com o abordar um dado p rob lema) , f i chas de suges tões(que recolhem idé ias fornec idas p o r ou t r e m . sugestões de d esenvolv imentos pos s ív e is ) , e t c , e l e . Es tas f ichas de ver iam te r um a c o rd i f e rente para cada sér ie e conter n o topo d a margem d i re i t a s i g lasqu e a s r e lac ionassem c o m a s f ichas de outra cor e co m o p lano gera l .U m a co i sa e m g rande .
Por tanto: começámos, no parágra fo ante r ior , p o r supor a e x i s tência de um f i che i ro bibliográfico (pequenas f ichas c o m s imp lesdados bibliográficos de todos os l i v ros úte is de qu e se tem notíc ia )e agora cons ideramos a exis tênc ia d e toda u m a s é ri e de ficheiroscomplementares :
a) fichas de leitura dc livros ou artigosb) fichas temáticasc) fichas dc autord ) fichas de citaçõese) fichas de trabalho
M a s teremos mesmo d e fazer todas eslas f ichas? Evid ente mente ,
não. Pode ter-se u m s imp les f i che i ro d e le i tura e r e u n i r t od a s a s
outras idéias em cadernos : podemos l imi tar -nos ã s f ichas d e c i ta
ções se a t ese ( qu e , po r exemplo, é sobre a I magem da mu lher naliteratura feminina d os anos 40 ) par t i r j á de u m p lano, mui to p r e -
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c i s o , t iver pouca l i teratura crítica a examinar e necessitar apenas darecolha d e u m abundante mater ia l narra t ivo a c i t a r . Co mo se vê, onúmero e a na tureza d os f icheiros são suger idos pe la natureza d atese.
A única coisa q u e posso sugerir é que um da do ficheiro s eja com pleto e unif icado. Por exemplo, suponhamos q u e sobre o vosso assuntotendes e m casa os l i v ros d e S m i t h , d e R o s s i . d e B r a u n c de D cG om e r a , e que, na biblioteca, haveis l ido o s l ivros d e D upont . Lupescue N a g a s a k i . Se elaborardes apenas f ichas dos últimos três e n o querespeita a os outros quatro coníiardes n a memória (be m como na segurança que vos dá tê-los à mão), como fareis n o momento d a redac-ção? T raba lhare i s e m parte c o m l ivros e e m parte c o m f ichas? B setivésseis de reestruturar o p lano de t raba lho, qu e mater ia l ter íe is àdisposição? Livros, f ichas, cadernos, folhetos? Será mais útil fazerf ichas desenvolvidas e c om abundantes c itações de Dup ont , Lupeseue Nagasak y , mas f azer também f ichas ma is sucintas para Smith . Rossi.B r a u n e D e Gomera , t a lvez sem cop iar a s citações importantes, masl im i tando-vos a ass ina lar as páginas em que estas se podem encontrar. Pelo menos a ssim trabalhareis c o m material homogêneo, faci lmente transportável e manuseável. K bastará uma s imples vista d eolhos para se saber o que se leu e o que resta consultar.
H á casos em que é cômod o e útil pôr tudo em fichas. Pense-se numatese literária e m que se terá de encontrar e comentar muitas c itaçõessignif icat iva s dc autores diversos sobre um mesmo tema. Suponha mosqu e s e te m d e fazer uma tese sobre O conce i to de vida como ar te ent reo romantismo e o decadentismo. E is n o Q u a d r o 5 um exemplo de quatro fichas que reúnem citações a ut i l izar.
C o m o se vê, a f icha t e m a o alto a s i g la e r r (para a d i s t i n g u i r deoutros eventuais t ipos de f icha) e . em s e g u i d a , o tema « V i d a comoa r t e » . P or qu e mot ivo espec i f i co aqu i o t ema. u ma v e z qu e já o
conheço? Porque a t ese poder ia desenvolver - se d e t a l modo qu e« V i d a como a r t e » v iesse a tornar-se apenas uma parte d o trabalho;porque este f i che i ro poderá ainda ser-me útil depois d a tese e integrar-se num f icheiro de citações sobre outros temas; e porque podere i encontrar estas f ichas vinte anos mais tarde e f icar s e m saber aque d iabo se r e f e r i am. E m terceiro lugar, anotei o au tor da citação.B a s t a o ape l ido, uma vez qu e se supõe qu e se têm já sobre este^autores fichas biográficas, ou que a lese j á s e t inha Tcferiilo a e lesno início. O corpo d a f icha integra depois a citação, quer e l a sejabreve o u longa ( pod e i r de u ma a tr inta l inhas ) .
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Ve j amos a l icha sobre Whis t l e r : há urna c itação em portuguêssegu ida d e u m ponto de in te r rogação. I s t o s i gn i f i ca qu e encontreipe la p r ime i ra vez, a frase noutro l ivro, ma s não se i donde e la p rovém, se está correcta n e m como é em inglês . Ma is t a rde, aconte -ceu-me encont rar o t exto or i g ina l e anote i -o com as re fe rênc iasnecessárias. Agora posso u t i l i zar a f i cha para uma c itação correcta.
Examinemos a f icha sobre Vi l l iers d e T ls l e Adam. Tenho a c i t a
ção em português, sei de que obra provém, m as o s dados estão incompletos. Trata-se. pois. d e uma f i cha a completar. A ficha d e G a u t h i e restá igualmente incompleta. A de Wüde é satisfatória, se o t ipo detese m e permit ir c itações em português. Se a tese fosse de estética,el a ser-me- ia suf iciente. Se fosse d e l i teratura inglesa ou de l i teraturacomparada, teria d e a completar com a c i tação or i g ina l .
O r a . poder ia te r encont rado a c i tação de W i l d e n u m a cópia quel enho e m casa . mas . se não t ivesse f e i to a f i cha , no f im do trabalhoj á n e m me l embrar ia de la . Ser ia também incorrecto se me t ivessel imi tado a escrever n a f i cha «v . pág. 16» sem t ran screver a frase,d a d o q u e n o momento da r edacção a colagem de citações se faz comtodos os textos à v i s ta . Ass im , apesar de se perder tempo a fazer af i cha , acaba-se por se g a n h a r muitíssimo no fim.
U m ou tro t ipo de f ichas são as d e trabalho. N o Q u a d r o 6 temos umexemplo d e f icha de l igação para a lese de que falámos cm IIT.2.4.,sobre a metáfora nos tratadistas do século X V I I . Anotei aqui U G e a s s inale i um tema a aprofundar. Passagem do tácti l ao visual. A i n d a nãose i se isto v irá a ser um capítulo, um pequeno parágrafo, uma simplesnota de rodapé ou (porque não?) o tema central da tese. Anotei idéias qu er eco lh i d a le i tura d e u m autor, indica ndo l ivros a consu l tar e idéiasa desen volver. U m a v ez o trabalho ult imad o, folheando o f icheiro detrabalho poderei veri f icar ter omit ido uma ideia que. todavia, era importante, e tomar algumas decisões: r eorgan i zar a tese d e modo a inserir
essa ideia o u decid ir que não vale a pena referi- la: introdu zir uma notapara mostrar que t ive esta id eia presente, mas qu e não considerei oportuno desenvolvê-la nesse contexto. Tal como poderei decidir, uma veza tese concluída e entregue, dedicar àquele tema os meus trabalhos posteriores. U m ficheiro, recordemo-lo. é u m invest imento qu e s e fa z n aocasião da tese, mas que. se pensamos cont inuai ' a estudar, nos servirápara os anos seguintes, p or vezes à d istância de décadas.
N ão podemos, porém, alargar-nos demasiado sobre o s vários tiposde f i cha . L imi tamo-nos . pois . a falar d a l i chagem d a s fontes p r i
már ias e das f ichas d e l e i tu ra d a s fontes secundárias.
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CXT
V i d a como a r t e HW h i s t l c r
" H a b i t u a l m e n t e a n a t u r e z a eu tá e r r a d a 1 '
t
CIT
V i d a como a r t e N
V i l l i c r s dc l 'X 3 lc Adam
"V ive r? N ioao pensam os noaaos c r i a
dos p or nõs."
( C a a t a l l o d i A x a l . * .
O r i g i n a l
" M a t u r e i a u sua l l y w ro ng "
J . A . M c N e i l l W h i s t l c r ,
T l i e gent l c a r t q f making
enemies, 1090
CIT
Vída como a r t e Th. G a u t h i e r
" R e g r a g e r a l , uma c o i s a que sc t o rna
ú t i l d e i x a de s e r b e l a "
(Pré face dc.t premiSrea
p o c a i ç » . 1 8 3 2 . . . >
CIT
Vida como arte. N
Oscar Wi ldc
'Podemo.i purdoar a o » liouiera que façauma c o i a a ú t i l s imulando que a admi
ra ? A única d e sc u l pa pa r a f a zo r umac o i a a u t i l I qu e e l a se j a admirada
i n f i n i t a m e n t e .
Toda a a r t e c comple tanentc i nút i l . "
(P ro fác io aI I r l t r a t t o d i D . Gra y ,
1 g r a n d i s c r i c t o r i
a t r a n i e r i l íTKT, pag.16)
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Q U A D R O 6
F I C H A D l i L I G A Ç Ã O
L i g . N .
Passagem d o t á c t i l a o v i s u a l
C f . E a u s e r , S t o r i a s o c i a l e d e l l ' a r t e
I I , 2 6 7 onde e c i t a d o W o l f f l i n s o br e a
passagem d o t á c t i l a o v i s u a l e n t r e o R e -
n a s c . e o B a r r o c o : l ín s a r v s . p i c t Ó r i c o ,
s u p e r f . v s . p r o f u n d i d a d e , f e c h a d o v s . a b e r t o ,
c l a r e z a a b s o l u t a v s . cl a r e z a r e l a t i v a ,
m u l t i p l i c i d a d e v s . u n i d a d e .
E s t a s i d é i a s e n c o n t r a a - s e e n R a i m on d i
I I romanzo sen2a i d i l l i o l i g a d a s a s r e
c e n t e s t e o r i a s d e M c L u h a n (G a l s x i a
Çutemfaer^) e W a l t h e r O n g .
140
IV.2 .2 . Fichagem das fontes p r imár ias
As f ichas d e le i tura dest inam-se à l i teratura cr ítica. Não as u t i l i z a
re i - o u pelo menos, não ut i l i zare i o mesmo t ipo d e f icha para a s fontes
primárias. Por outras palavras, se p reparar uma tese s obr e M a n zon i .
é na tura l que faça a f i cha de todos o s l i v ros e a r t i gos sobre Manzo
n i qu e consegu i r encontrar , m a s seria estranho fazer a t i cha d e I pro-mess i spos i o u d e Carmagnola, E o mesmo aconteceria se se f izesse
u ma tese sobre a lguns art igos t i o C ód i go de D i r e i t o C i v i l ou um a tese
de história da matemática sobre o P rog rama d e E r l a n g e n de K l e i n .
O idea l , para a s fontes p r imar ia s , é lê-las à mão. O q ue não é
difíc il, se se trata d e um autor clássico de que existem boas edições
cr ít icas , ou de u m autor moder no cu jas obras se podem encont rar
na s l i vr a r i a s . Trata-se sempre d e u m inves t imento indispensáve l. U ml i v ro ou u m a sér ie de l i v ros nossos podem se r sub l inhados , mesmo
a várias cores . E ve jamos para q u e serve isso.
O s sublinhados personalizam o l ivro. Ass ina lam as p is tas do nosso
interesse. Permitem-nos vollar a o mesm o l ivro muito tempo dep ois,
de tec tando imed ia tamenle aqu i lo qu e n os hav ia in te ressado. M a s 6prec iso subl inhar co m cr i té r io. Há pessoas qu e subl inham t u d o . É o
mesmo qu e nào sub l inhar nada. P o r ou t ro lado. p o d e dar-se o caso
de . na mesma página, haver in formações qu e nos interessam a d iver
s os n íve is . Trata-se então dc d i f e renc iar o s sub l inhados .
Devem utilizar-se cores, fcltros d c ponta f ina . At r ibu i - se a c a d a
cor um assunto: essas cores serão r eg i s tadas n o p lano d e t raba lho e
na s várias fichas. Isso servirá na fase de redacção, p o i s saber-se-á
imed ia tamente qu e o ve rmelho se re fere a os trechos relevantes p ara
o p r ime i ro capítulo c o verde a os trechos relevantes para o segundo.
Devem associar-se as cores a siglas (o u podem u t i l i zar - se s i g las
em vc/. d c cores ) . Vol tan do a o nosso t ema d o s mundos p oss íve is na
ficção científica, ass ina le - se c o m D T tudo o qu e d i sser respe i to às
dobras temporais e co m C tudo o que se referir às contradições entre
mundos a l t e rnat ivos . Se a tese d i sser respe i to a vários autores, a t r i
bui -s e uma s ig la a cada au tor .
Devem utilizar-se siglas para su blinhar a impor tância d as in for mações . U m s ina l vert ical à margem com a a notação IMP, dir-nos-á
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que se t ra ia d e u m trecho mu ilo importan te e, a s s i m , nã o teremos
necessidade de su b l inhar iodas a s l i n h a s . C IT poderá s i gn i f i car que
se trata d e u m trecho a c itar in tegralmente. CtT/rjT s ignificará que é
u ma c itação i d ea l para exp l icar o p rob lema d a s dobras temporais.
Devem assinalar-se os pontos a que se irá voltar . N u m a p r i m e i ra
le i tura, d e te rminadas páginas pareceram-nos obscuras. Poderá então
ass inalar-se à margem e a o alto u m g rande R ( r ever ) . Ass im, saber -
-sc-á que se deverá voltar a es ta passagem n a fase d e ap rofunda
mento, quando a le i tura de l ivros ulteriores t iver esclarecido as idéias.
Quando não se deve sublinhar? Q u a n d o o l i v r o não é nosso, evi
dentemente, ou s e s e trata d e um a edição ra ra de grande valor comer
c i a l , q u e quaisquer sublinha dos ou a notações desva lorizaria m. Nestescasos, mais vale fotocopiar as páginas importantes e sublinhá-las
em segu ida . O u e n tão pode arranjar-se u m caderno onde se trans
crevem os trechos de maior rea lce in te rca lados com comentários.
O u a inda e laborar u m f icheiro expressamen te cria do para a s fontes
primárias, mas i sso é muito fat igante, dado q ue se terá prat icamente
de f ichar página p or página . Se a t ese f o r sobre L e grand Meaulnes,
ópt imo, porque se trata d e u m l i v ro pequeno: ma s s e f o r u ma t ese
sobre a Ciência da Lógica d e H e g e l ? E s e . vol tando ã nossa expe
r iência d a bibl ioteca d e Ale xan dri a (111.2.4. ), fo r preciso fazer f ichas
da edição se i scen l i s ta d o Cannoccli iale Aiistotelico d e Tesauro? Só
restam a s fotocópias e o caderno de apontamentos, (ambém este c om
subl inhados a cores e s i g las .
Devem completar-se os sublinhados co m separadores. anotando
na margem sal iente sig las e cores.
Atenção ao ál ibi da s fotocópias As fotocópias são um ins t ru mento indispensável, quer para podermos te r connosco u m l exlo já
l ido na biblioteca, quer para levar para casa u m texto qu e a inda não
t enhamos l ido. M a s muitas vezes as fotocópias funcionam como
álibi. U ma pessoa l eva para casa centenas dc páginas de fotocópias
e a a cção m a n u a l qu e exerceu n o l ivro fotocopiado dá-lhe a impres
são de o possuir. A posse da fotocópia substitui a l e i tu ra : é u ma
co i sa qu e acontece a mui ta g en t e . U m a espéc ie de vert igem d a acu
mulação, um neocap i la l i smo da in formação. C u i d a d o c o m a s foto
cópias : u ma v e z e m posse de las , devem s e r imed ia tamente l idas e
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anotadas . S e o tempo n ão urge, não se deve fotocopiar nada d e no vo
antes de se te r possu ído ( i s to é. l i do e ano t ad o ) a fotocópia prece
dente . H á muitos casos e m q u e não se i por que fotocopiei um deter
minado lexlo: f iquei talvez mais tranqüilo, tal como se o t ivesse l ido.
Sc . o l ivro é vosso e não tem valor de ant igüidad e , não se devehesitar em anotá- lo, N ão d eve i s da r crédito àqueles que d i z e m q u e
os l ivros são intocáveis. Os l ivros respeitam-se usando-os e não d e i
xando-os qu ie tos . Mesmo se os vendêssemos a um a l f a r rab is ta . não
nos dar iam mais d o q u e a lguns tostões, pelo qu e mais vale de ixar
neles os s ina i s d a nossa posse.
É necessário ana l isar todas estas coisas antes d e escolher o lema da
tese. Sc e le nos obrigar a u t i l i zar l i v ros inacessíveis, de milhares d e
páginas , sem poss ib i l idade de os fotocopiar e não tendo tempo paratranscrever cadernos e cadernos, essa tese de v e s e r posta d e lado.
TV.2 .3 . A s f ichas d e leitura
E n t r e todos o s t ipos d e fichas, as mais correntes e , no f im decontas , a s indispensáve is , são a s fichas d e l e i tu ra : o u seja, a quelase m qu e s e anotam com prec isão todas as referências bibliográficasrelat ivas a u m l i v ro o u a u m a r t i go, se escreve o seu r esumo, set r a n s c r e v e a l g u m a s c i tações -chave , se e l a b or a u m a a pr e c i a ç ãoe s e acrescenta uma sér ie de observações.
E m resumo, a f icha d e le i tura contribui para o aperfeiçomento daf icha bibliográfica descrita em I I I .2.2. Ks ta última contém apenas ind i
cações úteis para encontrar o l ivr o, enquanto a ficha de le i tura contémtodas as informações sobre o l ivro ou o art igo e, portanto, deve se rmuito ma ior . Poderão usar-se formatos normalizados ou fazê-las o
próprio, ma s e m g e ra l deverão t er o tamanho d e uma folha d e cademona hor i zonta l o u d e meia folha d e pape l de máquina. É convenienteque sejam de cartão para poderem s er consultadas n o ficheiro o u r eu n idas e m maços l igados p or um e lástico; devem permit ir a utilizaçãode esferográficas ou caneta d e tinta permanente, sem borrar e deixandoa caneta desl izar c o m f ac i l idade . A s u a estrutura de v e s e r mais o umenos a d a s f ichas exemplif icai vas apresentadas na s Q u a d r os 7 - 1 4 .
Nada obsta . e até é aconselhável, que para o s l ivros imporlanlesse preencham muitas f ichas, devidamente numeradas e comendo cadauma, n o anvenso, indicações abrev iadas d o l i v r o o u art igo e m exame.
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Croc e , Benedetto Th . Gen. (r>
Recensão a Mcl son Sei Ia , Es tét i ca e iua ica le in S . T . d 'A . (v . f i ch a )
La c r i t i c a , 1931, p-71
Realça o cuid ado e a nindorn : : de con vicç ões es té ti c as com que SoLlrt aborda o tema.Haa re lat ivamente a ST, Croco a f i rma:
" . . . o fac to e que as suaa t<I«ian nobre o be lo e a art e nao aõo já f al s as , mas c ul to
pjera i s , e por i s so pode-ao i iempro, num ce rto se nt i do , a c e l ta - la a ou adop ta- l as . Como
as que atrtbuea a pu l c r l tu do ou be l eza a i n teg r i d ade , per f e i çã o , ou ron »o i i nnc ia , c a
i• l . i r i T . i , i í i iu c , a ni ti de z das c oro s. Ou como essa outra acp.imdo a nt in l , o bolo d iz
res pe ito ao puder cognoac i t tvo; o mesmo a doutr ina para a qua l a bele za da c ri at ur a
é s eae lhança da be l eza d i v in a presente oas co i s a s . 0 ponto e s se nc i a l c que os pro b l e -
aa« estét i c os aão const i tu íam ob jecto de ua verdad ei ro int eres se nca para < Idade Mé
d i a ea ge ra l , m a ••= pa rt i cu la r para S . Tonas , cu jo e s pír i to estava preocupada coa
outras co i s as : daí eatarea condenados ã genera l idad e. £ por i s so os trab a lhos ea to r
no do es tét i ca dc S . Toaãu e de t rca f i l ó so fos aed iev a i s pouco frutuos oa e l eea-6e
coa enfado , quando não são (o l ia bi tua la cn te não são) tratad os coa a circun spec ção ca e legânc ia com que So l l a escrovou o s eu . "
[A rofutaçS o de ata teae podo íiorvir-m e como tema in trod utÕ rlo • As pa lav ras c o n c l u -
iitvna como h ipoteca ,
>am
5
O
>
a0
S t . Ccn. (r )B i o n d o l i l l o , Francesco
"A ootétic a c o gosto na Idado Med ia" , Capítu lo I I de
B ravo a tor i a dc l su s to e de i pann ioro e s té t i co , H esa ina , P r i n c i pn to , 192 4, pa8 .29
U i o n d o l i l l o ou do gen t i l ian i rimo raíopo
Passamos por c i n a da introdução, vu lg ar izaçã o para a lmas jovena do verbo gen t i l i an o.
Vejamos o ca pít ulo sobre a Idade Med i a : ST f i c a l i qu i dado en IB l i nhas . " Ha Idade H e-
d l a , coa o predominar da teo l og i a da qua l a f i l o s o f i a fo i cons i derada se rva . . . o pro
b lema art ís t i co perdeu m importância a que t i nha as cendido eapec ía laente por obra . de
Ar i s tó te l e s e de P l ot l n o" [Carênc i a c u l tu ra l ou a í - f é l Cu lpa su a ou da e s co l a? ) Con -
t ínu eaos : Isto e, estaaoa coa o Dante da idade eadura que, no Co nvív io (11,1) a t r i
buía a arte quatro s ign i f i c ad os [ expÕc a te or ia doa quatro se ntid os ignorando que j aBoda a repetia; não sabe mesmo nada ) . . . E est e s ig ni f ic ad o quádruplo pensavata Dante
o os outros que sc encontrasse na Di vin a C . . que, pe lo c on trár io , só tem va lor ar t í s
t i c o quBndo, e só enquanto. 5 express ão pura c des int eres sa da de um mundo i n te ri o r
pró pri o, e Dante ' 'abandona^i ;^ complotanonto ã sua vi s ão " .
[Pobre I t á l i a E pobre Dante, toda um.i v id a dc cao sei rao a procurar sup ra- se nt id os
i' cete d iz que os nao havia , mas que "acred i tava . . . se enco ntraosu" o a f in a l nao. A c i t ar
como t e r a t o l o g i a h i s t o r i o g r á f i c a » ]
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•fc•J,
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C l u n s , l l . l t .
P ie L i t e r a r a s the t i f c des e u r o p S í s c h e n M i t t v l a l t o r » .
Bochuo-Langendreec, Poppinghaus, 1937, pp. 606
Th . Ccn. Lett.(r,b )
A s e n s i b i l i d a d e e s t é ti c a e x i s t i a na Idade Media a 5 ã sua luz que devem ser v i s t a » no
obras dos pootac med ieva is . 0 centro da inve s t i ga ção ê* a c ons c iênc ia que o poeta podia
ter então .da aua a r t e .
V i s lumbra - s e una evolução do gos to m edieva l :
oec . VII e VII I - as d o u tr i n a s c r i s t a s oao reduzidas às formas vazias do c l a s a i c i s mo .
s ec . IX o X
s éc . XI sog.
séc . XII
s dc . XIV
- as fábu las ant igas são u t i l i z a d a * na pe r s pec t iva da Ó t i c a c r i a t ã .
- aparece o c thos c r iotao propr iamente d ito (obras l i t ü r g i c a s , v i d a s
de Bentos , pará frases da B íb l i a , predomínio do a lem) .
- o ncop l atonieao leva a uma v i sã o c a i s humana do mundo: tudo r c f l c c t c
Dfíua n seu modo (amor, a c t i v i d a d e s p r o f i a s i o n a i a , n a t u re z a ).
De s envo lvc - c e a c o r r ente a legór i c a (de AlcuTno aos V i c t o r i n o u e ou
t r o s ) .
- Embora continuando ao s e rv iço de Deus , n poe s i a a o ra l t o rna - s e
e s t e t i e n . Tn l como Deus se "exprime na c r i a ção , a s s im o poeta se ex
prime a ai mesmo, pensamentos, sentioenCoa (Inglaterra, D n n t e . e t c ) .
0 l i v r o c uma recensao de De Bruyne in Rc .nc ogc .de p h i l , 1938? diz que d i v i d i r etn épo cas a evolução não é nu ito seguro porque as vár i a s corren tes es tão sempre s im ultan ea
mente presentes fê u nua t e s e dos Ktudes : pÔe cm causa es ta carênc i a de s e n ti d o h i s t ó
r i c o ; ele acredita demasiado na Phi los ophía Pcrennit ; } a c i v i l i z a ç ã o a r t í s t i c a m e d ie
v a l v p o l í l ú n i c a .
Clu i i i 2
De Bruyne c r i t i c a Glunz por não se ter f ic udu peto prazer forma l da p o e s i a : os medie
va is t inham dis so um sen tido m uito viv o, basta pensar nas a r t e s poét i c a s . E depois
uma e s t é t i c a l i t e r á r i a f a z i a pa r t e de uma v i sã o e s tét i ca ma is gera l que Cl un z n e g l i
g e n c i a r i a , e s t é t i c a em que convergiam a t e o r i a p i t a g o r i c a das proporções , a e s t é t i c o
q u a l i t a t i v a ag06t in iana (modus , apec iea , oedo) a a d i o n i s i a n e ( c l a r i t a s , lux). Tudo
i s to a po ia do pe la p s i c o log ia dos v i c t o r i n o s e pe la v i s ão c r i s t ã do u n i v e r s o .
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H a t i t a t n , Jacquos
"Signo cc syabo ie "
Rc vwe Thos i s t c , A b r i l , 1938, p.299
3 h . S Í . (v)
H.i expe c tati va de uma inv esti gaç ão aprof indada sobre u tema (desde a I . H .o t é ho je ) ,p ro -
pÕe-so aLudir a : te or i a f i l os ó f ic a do nig . a o re f lexões sabre o H iano nÜgico .
[ in su portá vel como eemprei r. i iderniza sen faz er f i l o l o g i a : por exemplo, não ae refe te a
ST, mas a João dc São T on as ]
Desenvolve a te or ia deste último (ver mtnha f ic ho):" Si gn um ett id quod repraese ntat
a l i u d a se potent iao cognoscent l " (Log.II.P, 2 1 , 1 ) .
i . .- -i ..i c s s e n t i a l i t e r c o n s i a t i t i n o r d i n e ad a i g n a tu a "
Mas o •igno não é seepre a imagem a vic e- ve rs a (o F i l h o £ iaagc a « não eigno do P a i , o
gr it o £ s igno e não imagem da dor) . João acre sc enta:
"Rat io ergo im aginis c on s i s t i t in hoc quod procedac ab a l io ut a pr in c ip io , et ia
s l a l l i tud La ea e jus , ut docet S . Thomae, I , 35 e X C X l I l " (?7T)
D iz então H ar i ta i n quo o s ímbolo 5 ua e igno- imagen: "que lquc choae de acna ib le a i a n i -
tJant un ob jet en ra is on d 'un« rã la t i on pregupposcc d 'an a lo g i a " (303)•
Isto deu-me a ideia do voif^t De V e r . V l I I , 5 « C G . 1 1 1 . 4 9 .
H a r i t a i n de s envo lve a inda idé ia s nob re o s i gno fo rma l , in s t rumenta l , p r a t i c o , e t c . e
sobre o aigno como acto ijo mngia (parto documentadíasima)*
Quase não se refere 5 art e fmaa ja *c en con tran aqui a lgumaa rofarÕncian aa raí ze sinc ons cie ntes e profunda» do arte que encontraremos depois cm Cre ati ve In tu it io n ]
Para uca interprctação tomiata S intc rc s s aote o seguin te M W W " - I 1 i. i l ' oeu vre
O
>nm
•o>
3
d ' ar t se rencon t ient le s igno spec u lat í f (1 'oeuv re mani fes te autra chose qu *e l le ) c t
1c s igne poet ique (e l l c coaimunique un ord rr , un app e l ) ; non q u 'e l l c so it formel lement
ni^no prat iq ue , mata c ' c « t un o igne apí ru l at i f qu i par ourabondance e » t vJ r tue l le me nt
pra t ique : e c eLle-même. s ana l e l o u l o i r , e t a c on d i t io n de na pus l e vou lo i r , e i i
J U S S Í une sorte de s ign r . «H Íque (elle s é d u i e , e l l e e n a o r c e l l e ) " ( J 2 9 ) .
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Q U A D R O 11
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C u r t i u s , Ernst Robert T B . gan
Europaiachc L i t o t a t u r un 4 1 a t g i n i« c h c s H i t t e l a l t a r . B e rn a , T r a n c e , 1 948
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í.ivro grande. Por a g o r a sõ me serv e a pãg. 228.
Pretende d enonatrar que um co nc eito de poes ia em Coda a sua di gn id ad e ( capac idade ro -
vc la do ra e aprofundamento da verdade, era desc onhecid o dos eic o1 í « t ícos , enquanto es
tava vi vo cm Dance e noa autores do sé cu lo XIV C a q u i tem razão -) .
Em Al be rto Magno, por exemplo, o método c ie nt íf le o ,(aodus d e f i n i c i o n i a , d i v i e i v u s ,
c o l l e c t iv us ) opõe -s e ao método poét i c o da B í b l i a ( h i s t ó r i a s , pa r ábo la s , metá fo r a » ) .
0 aodus poct ic ua como o mais fraco doa modos f i lo s óf ic os .
(Há qualquer coisa do gênero ea S T i r v e r i f i c a r l í ]
E f ec t iv aae ntd Curt ius remete a S T ( I , 1 ,9 a 1 ) a ã d is t inç ão da posa ia coao intima
d o u t r i n a i ( ve r f i c h a ) .
En resumo, a esc o lã s t i ca nunca se interes sou pe la poes ia e nunca produi tu nenhuaa
poética I is to é verdade para a es c ol ãs t ic a , mas não para a Idade HÍdiaJ e nenhuma
teor i a da ar te £ n * o • vardadej '. Es tarmos a incomodar -nos a ex tra ir da l una e s t e t i -
ca da l i te ra tu ra e da » a r tes p lá s t i ca s nao tem, por i s s o , qua lquer s ent ido nem ob-
j e c t i v o •
A condenação é profer ida no n. l da pãg. 229: "0 homea moderno aob rc va lo r i ra sem me
dida a ar te porque perdeu o sent id o da be leza in te l ig íve l que o neoplaton isao e aI .H . t inha s bea c l a ro . Se ro te a a a r i , Pu l c hr i tudo ta a a nt iqna e t t a a nova, d i z Agos
t inho a Deus (Con t . . X , 27, 18) . Fa la - s e a q a l da uaa ba le ia
ariX
DO
Cu rt iu s 2
de qoe a estét ica não sabe nada £ po is , mas o problema da part ic ipa ção do Belo di vin o
nos seres?}. Quando a es co lãs t ic a fa la da bo ls za , c ia é pensada coao ua atr ib uta de
D S ) B I "a meta fís ic a do Bel o (ver P lo t in o) c a teo ri a da art e não têm nada a ver uma
com a out r a " C ê vorda de, mas enco ntram-aa no terre no neu tro de uma te or ia da forma ]
[Atenção , es te autor não é como B io n d ol l i l o t Nao conhece ce rtos textos f i lo só f i c os
de ligação mas sabe ao c o i sa s . A re futa r com c ircuns pecção . ]
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Q U A D R O 13
F I C H A D E L E I T U R A
Q U A D R O 13 (Continuação)
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Q U A D R O 14
F I C H A DE L E I T U R A
156
As f ichas dc l ei 1 ura servem para a l i teratura crílica. Não são acon
selháveis l l chus de le i tura para as fontes primárias, c om o se disse
n o parágrafo anter ior.
M u i t a s são as maneiras de f ichar um l ivro. I sso depende da memó
ria de c a d a u m . Há pessoas que têm dc escrever tudo e pessoas para
quem um rápido apontamento é suf i c i en t e . D i gamos que o método
standard 6 o seguinte :
a) indicações bibliográficas precisas, poss ive lmente mais comple
tas que as da f icha bibliográfica; esta servia para procurar o l ivro, a
ficha de leitura serve para falar de le e para o ci tar c om o deve ser na
bibl iograf ia f inal : quando se faz a ficha de le i tura, tem-se o livro na mão.
e, portanto, podem l irar-se iodas as indicações possíveis, la is como
número de páginas, edições, dados sobre o organizador da edição, etc :
b) informações sobre o autor, q u a n d o não é au lor idade mui to
conhecida :
cf breve tou longo í resumo do livro ou do artigo;
d) citações ex t ensas , entre aspas, dos trechos que se considera d ever
c i tar ( ou mesmo dc a lguns mais ) , com indicação p r ec i s a da . ou das.
páginas: atenção a confusão entre citações e paráfrases (ver V.3.2. ) ;
e) comentários pessoais, no final, no início c a me io do resumo:para não se correr o r i s co de os con fundi r depo i s com a obra do
autor, é melhor po-los entre parênteses rectos a cores ;
f) co loca r ao a l to da f i cha uma s ig la ou u ma c or que a remeta à
parte respect iva do p l ano dc tTabalho: se se refere a várias partes,
pôr várias s i g l a s : se se re fer ir à t ese . no seu con jun to , assinale-sei s so de uma maneira qualquer.
P a r a não con t inuar c om conselhos teóricos, será melhor forne
cer a lguns exemplos práticos. Nos Qua dros 7-14 encontram-se a lguns
exemplos de f ichas. Para não inventar temas e métodos, fui busca r
as f i chas da m i n h a tese de l i cenci a tura , que em sobre o Problemaestético em S. Tomás de Aquino. Não p r e t endo a f i rmar que o meu
método dc f ichagem fosse o melhor, mas estas f ichas dão exem
p lo dc um método que con t emplava diversos t ipos de f i cha . Ver-se-á
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qu e não fui tão p rec i so qua nto es tou a aconselhá-lo agora . Fa l tam
mui tas indicações e outras s ão excess ivamente e lípticas. São coisas
que aprend i depois . M a s i sso n ão quer d i ze r qu e devam cometer o s
mesmos erros. N ão alterei nem o est i lo nem as ingenu idade» . Tomem-
-s e o s exemplos por aqu i lo q u e va i em. N o t e a inda qu e escolhi f ichas
breves e não apresento exemplos de f i chas qu e s e r e f e r i am a obras
que depois foram fundamentais para o me u t raba lho. Es tas ocupa
va m d e z f ichas cada. Observemo- las uma p o r uma:
F ic h a Croce — T ra tava- se d e u ma breve recensào, importante porcausa d o autor. U m a ve z q u e já t inha encont rado o l i v ro c m questão, transcrevi apenas u m a op in ião mui to s i gn i f i ca t iva . Repare - sen os parênteses rectos f inais: f iz cfect ivamente isso dois anos depois.
F icha Biondotillo — F i c h a polêmica, com toda a irr itação do neó-f í to que vê d esprezado a seu t ema. Er a útil anotá-la a ss im para inse ri r eventua lmente uma nota polêmica no trabalho.
F i c h a Glitnz — U m volumoso l i v r o, consu l tado rap idamente e mcon junto c o m u m a m i g o a lemão, para compreender b e m do qu e tra
t ava . N ão t inha u m a imp ortância imed ia ta para o meu t raba lho, ma sva l i a t a lvez a pena c itá-lo em nota.
F icha Mar í ia in — U m au tor d e quem conhec ia já a obra fundamenta l Ar t e t Scolastique, m a s e m quem conf iava pouco. Ass in a le in o f im não aee i l a r a s suas c i tações sem u m contr olo ulterior .
F i c h a Chei iu — U m cur to ensa io de um es tud ioso sér io sobre umassun to bastante importante para o m e u t raba lho. T i re i de le todo osumo possível. N o t e - s e qu e s e tratava d e um caso clássico de referen-c iação de fontes d c s e g u n d a mão. Anote i aonde poder ia ir ver ificá-- l a s e m p r ime i ra mão. M a i s d o qu e uma ficha de le i tura, tratava-sede u m complemento bibliográfico.
F ic h a Curt ius — L iv ro impor tante , de qu e s ó p rec i sava reg i s tar
um parágrafo. T inha p ressa e l im i te i -me a p ercorre r rap idamente oresto. L i - o depois d a t ese e p o r outros m otivos .
Ficha Marc — Ar t i go in te ressante de que extra í o sumo.
F ic h a Segond — F i c h a de exc lusão. Bas tava-me saber qu e o tra
b a l h o não me se rv ia para nada.
Ao a l to e à d i re i t a vêem-se as s i g las . Qu and o pus l e tras minúsculas entre parênteses, i sso s i gn i f i cava qu e hav ia pontos a cores.N ão vale a p ena es tar a exp l icar a qu e s e r e f e r i am a s s i g las e àscores , o impor tante é que lá es tavam.
158
IV.2 .4 . A humi ldade científica
N ão d evem de ixar - se impress ionar pe lo título deste parágrafo.N ã o s e trata d e u ma dissertação ética, ma s d c métodos de le i tura edc fichagem.
Nos exemplos de f i chas q u e forneci, v imos um e m q u e eu . j oveminves t i gador , escarnec ia d e u m au tor , l iqu idan do-o e m poucas pa la v r a s . A i n d a e s t ou c on v e n c i d o de qu e t inha razão e, de qua lquerforma, pod ia permi t i r -me fazê - lo d a d o qu e e l e h a v i a li qu i d a d o e mdezoi to l inhas u m assunto tã o impor tante . M a s i s to e r a u m c a s o -- l imi t e . Se j a como for. fiz a f i cha respec t iva e tomei e m cons ide ração a su a opin ião. E isto não só porque é necessário reg istar todasas opin iões expressas sobre o nosso t ema. mas também porque nãoé evidente que as melhores idé ias venham d os au tores mais impor tantes. E . a propós i to, vou con iar -vos a h is tór ia do abade V allet.
Pa r a compreender be m a história se r i a necessário d izer-vos qualer a o problema da minha tese e o escolho interpretat ivo n o qua l t inha
encalhado havia cerca d e u m a n o . C om o o problema n ão interessa atoda a gente , d igamos sucintamente q u e para a estética contemporân ea o momento da percepção do belo é geralmente u m momento in tu i
t i vo, mas em S. Tomás a ca tegor ia da intuição não ex i s t e . Mu i tosintérpretes contemporâneos esforçaram-se por demonstrar qu e e l e decerto modo t inha f a lado dc intuição, o que era estar a d e turpá-lo. Poroutro lado, o momento da percepção dos objectos em . em S. Tomás,tão rápido e instantâneo que não exp l icava o desfrutar das qualidadesestéticas, que são mui to complexas , jog os d e proporções , r elaçõesentre a essência d a co i sa e o modo como e l a organ i za a matéria, etc.A solução estava (e chegue i a e l a um m ês antes de acabar a tese ) emdescobrir que a contemplação estética se inser ia n o acto, b e m maiscomplexo, d o juízo. M a s S . T omás n ão d i z i a i s to exp l ic i t amente .E . todav ia , d a mane i ra como fa lava da contemplação estética, só se
podia chegar àquela conclusão. M a s o objeci ivo d e u ma investigaçãointerpretai va é muitas vezes precisamente esie: levar um autor a d i ze rexp l ic i t amente aqu i lo que não d i sse , mas que não pod ia de ixar d ed i z e r se lhe fosse feita a pergunta. Por outras palavras: mostrar com o.comparando várias afirmações, deve emergir, n os termos d o p ensamento estudado, essa resposta. Talvez o autor não o t ivesse dito porqu e lh e parecesse ó bvio, ou porque — como n o caso de S. Tomás —jama is t ivesse tratado organicamente o problema estético, falando delesempre incidentalmente e d a n d o o assunto como implícito.
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Tinha, pois , u ra p rob lema. E nenhum do s autores que l i me ajudavaa resolvê-lo (e se na rainha tese hav ia a l g o de or i g ina l , e ra p rec i sa mente essa questão, co m a resposta q u e t inha de descobrir ). E quandoanda va de um lado para o outro à procura d e textos que rne ajudassem,encontrei um d ia . nu m alfarrabista de Par is , um pequeno l ivro que começou por me chamar a atenção pela sua bela encadernação. Abro-o cveri f ico tratar-se de um livro d e um certo abade V allet, L idée d u Beaudans la phi losophie d e Sa in t Thomas d Aqu i t t (Louva in . 1877 ) . Não ot inha encontrado e m nenhuma bibliograf ia. Tratava-se d a obra dc u mautor menor d o século XTX. C o m o é evidente, compro-o (e nem sequeifoi curo), começo a lê-lo e veri f ico que o abade Vallet e r a um pobred iabo, que se l im i tava a repe l i r idéias recebidas, não descobrindo nadade novo. S e cont inue i a lê-lo não foi por «humildad e científica » (a indanão a c on h e c i a , s ó a ap rend i ao le r aquele l ivr o, o abade Vallet fo i o
meu grande mestre), mas por pura obstinação e paia recuperar o dinheiroque havia despendido. Con t inuo a le r e. a dada altura, quase entre parênteses, d ito provavelmente por desatenção. s em qu e o abade se t ivessedado conta d o alcance d a s ua afirmação, encontro u ma referência ãteoria d o j u ízo c m Ligação com a da be lc/a . E u r e ca Tinha encont radoa solução E fora o pobre abade Va llet que ma l inha fornecido. Ele. qu ejá l inha morr ido hav ia cera anos . d e qu e m já ninguém se ocupavae que. n o entanto, t inha a lgo a ens inar a quem se d i spusesse a ouvi- lo.
É isto a h u m i l d a d e c ientífica. Qua lquer pessoa pode ensinar-nosalguma coisa. Ou talvez se jamos nós que somos tão esforçados que conseguimos aprender alguma coisa com quem não o em tanto como nós. O uentão, quem parece não valer grande coisa te m qua l idades ocu l tas .O u . a inda , quem n ão é bom para Fu lano pode se r bom para B e l t rano.As razões são muitas. O faeto é que é necessário ouv i r co m respeitotoda a gente , s em q u e isso nos dispense d e p ronunc iar juízos d e valorou d e saber que um determinado au tor pensa d e modo muito diferentee ideologicamente está muito longe de nós. M e s m o o mais encarniçado
do s adversários pode sugerir-nos idéias. Isso pode d epender d o tempo,d a estação, ou d a hora d o d ia . Natura lmente , s e t ivesse l ido o abadeVa l l e t u m a no antes, não ter ia aproveitado a sugestão. F. que m sabequantos melhores d o que eu não o terão l ido sem encontrar nada de interessante? M a s . co m este episódio, aprendi que. se se quiser fa/cr investigação, não se pode desprezar nenhuma fonte e isto por princípio. E aisso q u e chamo humi ldade científica. Talvez seja uma definição hipe^crila. na med ida e m qu e oculta muito orgulho, mas n ão ponhamos problemas morais: quer seja p or orgulho o u hu mi ldade , pr. i t iquem-na.
160
V . A R E D A C Ç Ã O
V . l . A q u e m n os d i r i g i m os
A quem n os d i r i g imos nós ao escrever uma tese? A o or i entador?A todos o s estudantes ou estudiosos que terão opor tun idade d e a con
sultar d e p o i s ? A o vas to público dos não espec ia l i zados? Deve - s econsiderá-la como um l iv ro que andará n as mãos de m i lhares d e p es soas ou como uma comunicação e rud i ta a uma academia c ientífica?
Sã o p rob lemas impor tantes , n a med ida e m q u e d ize m sobretud orespe i to a expos ição a dar ao t raba lho, m as têm também a ver coma nível de c la reza in te rna que se pretende conseguir.
El iminemos desde já um equívoco. Há quem pense q u e u m textodc divulgação, onde a s coisas s ão exp l icadas d e modo que todos compreendam, ex ige menos apt idões do que u ma comunicação científicaespec ia l i zada que se expresse inteiramente p or fórmulas só compreensíveis para u m p u n h a d o d e p r iv i l eg iados . Isso d e modo nenhum éverdade. Certamente, a descoberta da equação de E ins te in . E = m c J .exig iu mu ito mais engenho d o que qua lquer br i lhante manual d e Física.Porém, habitualmente os textos que n ão exp l icam com grande f ami l i a -ridade os termos qu e usam (preferindo referências rápidas) ref lectemautores muito mais inseguros d o q u e aqueles e m qu e o autor tornaexplícitas todas as referências e passagen s. Se se lerem os grandes cien tistas ou os g randes críticos, verificar-se-á que, salvo raras excepções.sào sempre muito claros c não têm vergonha de e xplicar bem as coisas.
D i g a m os então que um a tese è u m t raba lho que . por razões domomento, é apenas dir ig ido a o orientador o u co-orientador. mas que defaeto pressupõe vi r a ser l i d o e consu l tado p or muitas outras pessoas,
i n c l u i n d o estudiosos nã o d irectamente versados naquela d isc ip l ina .
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A s s i m , numa t ese d e filosofia, decerto não será necessário começ a r por exp l icar o qu e é a f i losof i a , n e m numa t ese d e v u l c a n o l og i ao que são os vu lcões , mas imed ia tamente a ba ixo des lc nível de ev i dência, será sempre eonveniente fornecer a o l e i lor iodas a s informações n ecessárias.
An t e s de m a i s . definem-se os te rmos que se utilizam, a menosque sejam lermos consagrados e indiscutíveis n a d i s c i p l i n a e m ques tão, Nu ma lese de lógica formal nã o p rec i sare i d e d e f in i r u m termocomo « impl i c a ç ão » ( ma s n u m a tese sobre a impl icação es t r i t a deL e w i s , l e re i de d e f in i r a diferença enlre implicação mater ia l e im p l i
cação estr i ta). Numa tese de linguíslica. não lerci d c d e f in i r a noção defonerna ( m a s tecei de fazê - lo se o a s s u n i o d a t ese for a definiçãodc fonerna e m J a k ob s on t . Porém, nes ta mesma tese de lingüística,
sc uiili/.ar a pa lavra « s i gn o » s e rá conven iente de f in i - l a . já qu e se dáo c a s o d e e l a s e r e f e r i r a ent idades d i f e rentes consoante o autor.Des te modo. t e remos como reg ra gera l : definir todos os te rmos téc
nicos utilizados como categorias-chave d o nosso discurso.
E m segundo lugar , nào é necessário par t i r do pr inc ípio de que ole i tor tenha feito o t raba lho qu e nós própr ios f i zemos. Se se t iverfeito u m a tese sobre Cavour . 6 possível que o l e i tor também saibaqu e m é C a v o u r . ma s s e f o r sobre Feüce C a v a l l o t t i será convenienterecordar, embora sobriamente. quando é que este autor viveu, quandonasceu e como morr eu . Tenho à m inha f rente duas t eses d e u m af acu ldade d c letras, u m a s obr e G i ov a n Ba t t i s t a An d r e i n i c outrasobre P Í C T T C R é mon d de Sa in te -AIb ine . Es tou p ronto a j u r a r que , d ecem professores universitários, mesmo sendo todos d e letras e filoso f i a , s ó uma pequena percentagem te r i a uma idéia clara sobre estesdois au tores menores . Ora . a p r i m e i r a t ese c ome ça ( ma l ) c om :
A história dos estudos sobre Gio van Baltisla Andreini inicia-se cnm uma enume
ração das suas obras efectuada por Leone Aliacci. teólogo c erudito d c origemgrega (Quilos 1586 Roma 1669) que contribuiu para a história do teatro... etc
Podeis imaginar o desapontamento de qualquer pessoa qu e fossein formada d c u m modo tã o preciso sobre A l iacc i . que estudou Andre in i . enão sobre o próprio Andre in i . M a s — podem dizer o a u l o r — An d r e i n ié o herói da minha tese Justamente, se é o herói, a p r ime i ra coisa a f a ze r é torná-lo f ami l i a r a quem quer que vá lê-la. c não basla o facto deO orientador saber quem cie é. O qu e s e escreveu não foi uma cana parti
cular ao orientador, mas um livro potencialmente dir ig ido à humanidade.
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A segunda t ese , mais adequadamente , começa a s s i m :
O objecto do nosso estudo é u m texto publicado cm França, em 1747, escritopor uni autor que. além deste, deixou muito jwucos vestígios dele próprio. 1'ierreRémond d e Sa inte-AIbine...
a segu i r a o que se começa a exp l icar de qu e texto se t ra ta e qua l asu a importância. Es te in íc io parece -me correc to. S e i q u e Sa i n t c -- A l b i n e v iveu n o século XVTII, c que as poucas idéias que tenho sobreel e são just i f icada s pelo facto de o aulor ter deixad o poucos vestígios.
V . 2 . C o m o s e f a l a
U r n a ve z d e c i d i d o para quem se escreve (para a h u m a n i d a d e enã o para o or i entador ) , é necessário d ec id i r como se escreve. E t r a t a --se d e u m p rob lema mui to d i f íc i l : sc houvesse reg ras exaust ivas ,seríamos todos grandes escritores. Pode recomendar-sc qu e se escrevaa tese mui tas vezes, ou qu e s e escrevam outras coisas antes d e empree n d e r a tese. pois escrever é também u ma ques tão de prát ica . D equalquer forma, sào possíveis a lguns conse lhos mui to gera i s .
Não imitem P roust , N a d a de per íodos longos . Se vos acontecerfa/.â-Ios, d i v i d a m - n os d e p o i s . N ão r ece i em repe t i r duas vezes os u j e i to . E l i m i n e m o excesso d e p ronomes e de orações s u b or d i n a
das . N ão escrevam:
O pianista Wittgenstein, que era irmão do conhecido filósofo que escreveu oTraciatus Lvgico-Philosophicus qu e hoje cm dia muitos consideram a ohra--prima da filosofia contemporânea, teve a ventura de Ravel ter escrito para eleo concerto paru a mão esquerda, dado que tinha perdido a direita n a guerra.
mas escrevam, quando mui to :
O pianista Wittgenstein era irmão r oi l ó s o f o .udwig. Como era mutilado damão direita. Ravel escreveu para ele o concerto para a mão esquerda.
O u então:
O pianista Witigenstein era irmão do filósofo a utor do célebre Tractaius. Estepianista tinha perdido a mão direita. Por esse motivo, Ravel escreveu-lhe umconcerto paia a mão esquerda.
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N ão escrevam:
O escritor irlandês renunciou à família, à pátria e a igreja e manteve-se fiel aoseu desígnio. D aí não se pode concluir que fosse ura escritor empenhado, emborahaja quem tenha falado a seu respeito de tendências labianas e «socialistas».Quando deflagra a Segunda Guerra Mundial, cie tende a ignorar deltberada-mente o drama que cortvulsiona a Hurojia e preocupa-se unicamente com aredaccão <Ja ma última obra.
É melhor escrever:
Joyce renunciou a família, à pátria e à igreja, E manteve-sc fiel ao seu de sígnio. N ão se pode dizer que Joyce fosse um escritor «empenhado», embora
haja quem tenha querido falar de um Joyce fabiano e «socialista». Quandodeflagra a Segunda Guerra Mundial, Joyce lende a ignorar dclibcradamcnteo drama que convulsiona a Europa. Joyce estava unicamente preocupado coma redaccão de Finnegans Wake .
Por favor, não escreva m, embora pareça mais « l i t e r á r io » :
Quando Stoekhausen fala d c "grupos», não tem em mente a série de Schoenbcrg,nem tão-pouco a d e Webern. O músico alemão, posto perante a exigência denão repetir nenhuma das doze notas antes d e a série estar terminada, não aaceitaria. É a própria noção de duSíer que c mais isenta estruturalmente quea de série.
Por outro lado. Wenern também não seguia os p rincípios rígidos do autor doSobrevivente d e Varsovia.Ora. o autor de Munira va i mais alem. E quanto a o primeiro é necessário distinguir a s várias fases da sua obra. Também Herio afirma: não sc pode considerar este autor um serialisia dogmático.
Ver i f i camos qu e a dada altura já não se sabe de qu em se está afalar. B def inir um autor p or meio de u ma d a s suas obras n ão é log i -caincnie correcto. E ve rdade que os críticos menores, para se referirem a M a n z o n i ( e com m e d o d e r epe l i r em demas iadas vezes onome, o que parece s e r altamente desaconselha do pelos ma nua is d ebe m e sc r eve r ) , d i z e m « o au tor d e / Pmmessi sposi» . M a s o autorde / Pmmessi spos i nã o é o p ersonagem biográfico M a n z o n i n a suatotal idade: e tanto assim q u e nu m certo contexto podemos dize r quehá u ma diferença sensível entre o autor d e / Promess i spos i e o autorde Adelchi . embora biográfica e an agra r icamente fala ndo s c trate
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sempre d o mesmo personagem. Logo. passo a escrever ass im o tre
cho suprac i tado:
Quando Stockhausen fala de -grupos», não tem em mente nem a serie d cSchoenbcrg nem a de W ebeni. Stockhausen, posto perante a exigência de nãorepetir nenhuma das doze notas antes d e a série terminar, nao a aceitaria. É aprópria noção dc clusier qu e é estruturalmenlc mais isenta do que a de série.Por outro lado, Webcrn lambem não seguia os princípios ígidos dc Schoenbcrg.Ora. Stockhausen v ai mais além. F. quanto a Webcrn. é preciso distinguir asvárias fases da sua obra. Também Berio afirma que não se pode pensar emWebern como um seríalisia dogmático.
N ão pretendam se r e . e . cummings. C u m m i n g s e r a u m poe ta
amer icano q u e a s s i n a v a c o m a s i n i c i a i s minúsculas. B. ev idente mente, usava vírgulas e pontos c o m mui ta pa rc imônia , separava o sversos , e m suma, f az i a todas aque las coisas q u e u m poeta d e v a n g u a r d a p o d e fazer e f a z m u i t o b e m e m fazer. M a s v oc ês n ão s ãopoetas d e vanguarda , n e m a vossa t ese é sobre a poes ia d e v a n g u a r d a . Sc s e f izer uma tese s ob r e C a r a v a g g i o . começar-se-á pori s so a p in tar? Então, se se fizer u m a tese sobre o es t i lo d os futu
r is tas, não se escreve como um futurista, Es ta recomendação é importante porque muitos tendem hoje a fazer teses « d e r u p tu r a » e m qu enão são respeitadas as r eg ras d o d i scurso c r í t i co . M a s a l inguagemd a t ese é u m a metai inguagem, o u se j a , uma lingua gem qu e f a la deou t ra s l i n g u a g e n s . U m p s iqu ia t ra q u e d escreve doentes men ta i snão se expr ime como o s doentes menta i s . N ào d i g o qu e seja e rradoexpr imir - se como os chamados doentes menta i s . Po d e — e r a zoa ve lmente — estar-se convicto d e q u e e les são os únicos a e xp r i mir-se como d e v e ser. M a s nessa a l tu ra há duas a l t e rnat ivas : ou nãof aze r uma t ese e mani f es tar o d e s e j o d e rup tura r ecusando a l i c e n -c ia iu ra e começando, por exemplo, a tocar gu i tar ra : ou f aze r a tese.
ma s então deve exp l icar - se a toda a g e n te por qu e mot ivo a l i n g u a g e m d os doentes men tais não é u m a l i n g u a g e m « de do idos » , epara t a l d e v e m o s u t i l i z a r u m a m e t a l i n g u a g e m crítica c om p r e e n s íve l para todos . O p seudopoeta qu e f a z u ma t ese er n ve rso é u mpobre d iabo (c , p rovave lmente , um mau p o e t a ) . D e s d e D a n t e a E l io i
e d e E l i o t a Sa n g u i n e t i . os poetas d e vanguarda , quando quer iamfa lar d a sua poes ia , escrev iam e m p rosa e c o m c la reza . E quandoM a r x quer ia f a la r dos operários, nào escrev ia como um operár io dose u t empo, m a s como um f ilósofo. Quando depois escreveu c o m
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E n g e l s o Manifesto de 1 8 4 8 , u t i l i zou u m es t i l o jornalístico dc perío
d o s cu r t o s , muitíssimo e f i ca z e provocalório. Ma s não é o e s t i l o dc
0 Capital que se d i r i g e aos e conomis t as e políticos. Não v e n h a m
d i z e r que a violência poética vos «brola de dentro» e que não podemsubmete r -s e às exigências da s i m p l e s e b a n a l m e t a l i n g u a g e m da
crítica. Se são poe t as , é preferível não se l i c e n c i a r e m . Mo n t a l e não
é l i c e n c i a d o e nào d e i x a por i s s o de ser um g r a n d e p o e ta . G a d d a
( l i c e n c i a d o em engenh ar i a ) e screv i a com o escrev i a , tudo r e g iona
l i smos e r u p t u r a s estilísticas, mas , quand o teve de e l abora r um decá-
loffo pa ra quem escrev i a notícias pa ra a rádio, r e d i g i u um saboroso,
p e r s p i ca z e c l a r o preceituário com uma p rosa s imples e compre ensível pa ra t oda a gen t e . E q u a n d o Mo n t a l e e s c re ve u m a r t i g o crí
t i co , fá-Io de m o d o que todos o en t endam, mesmo aque l e s que não
e n l e n d cm as suas poes i a s .
Façam parágrafo com freqüência. Q u a n d o f or necessário, quandoa p a u s a do texto o ex i g i r , mas quan to ma i s vezes melhor.
Escrevam tudo o que vos passar pela cabeça, mas só no rascunho. D e p o i s descobrir-se-á que a ênfase nos dorn inou e de sv iou do
cerne do t ema . Então e l i m i n a - s e as partes parentéticas e as d i v a g a -
ções . pondo-as em n o t a ou em apêndice (ver). À t ese s e rve pa ra
demonstrar uma hipótese qu e se e laborou in icia lmenle. c não para most rar que se sabe tudo.
Utilizem o or ientador como cobaia. Façam p possível por que
o o r i en t ador l e i a os p r i m e i r os capítulos (depo i s , p rogre ss i vam ente ,
tudo o resto) mui to an t e s da e n t r e g a do t r a ba l h o . As suas r eac-eões p o d e m ser de g r a n d e u t i l i d a d e . Sc o o r i e n t a d o r for u m a p e s
s o a m u i l o o cu p a d a (ou preguiçosa), r e co r r a m a um a m i g o. V e r i f i q u e m se q u a l q u e r p e s s o a co m p r e e n d e o que e s cr e v e m . N a d a de
b r in c a r ao gênio solitário.
Não se obstinem em começar iu> pr imeiro capitulo. Provavelmente
estarão ma i s pr epa rados e documentados sobre o qua r to capítulo.D e ve m começar por a í , c om a d e senvo l tura de quem já pôs em ordem
os capítulos an t e r io r e s . Ganharão confiança. Ev iden t emente , devem
ter um pon to a que se a ga r ra r , e este é-lhes d a d o p e l o índice comohipótese que os g u i a d e s de o início (ver IV . 1.).
Não usem reticências ou pontos de exclamação, não expl iquemas ironias . Pode fa lar-se uma l i n guag em abso lutamente r e f e r enci a lou uma l inguagem f igurada . Por l i n guagem re f e r en ci a l en t endo umal i n g u a g e m em que todas as co i s a s são chamadas pe los s eus nomes
ma is comuns , r econhecidos por toda a g en t e e que não se p r e s l a in
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a equívocos. «O co m bo i o Veneza-Milão» i n d i c a de modo r e f e r en
c i a l o que «A f l e cha da laguna» ind ica de modo f i gurado. M as esteexemplo mos t ra -nos que mesmo na comunicação «quotidiana» sc
pode u t i l i z ar uma l inguag em parcia lmente f igurada, üm ensa io crítico
ou um lexto científico d e ve r i a m ser e scr i t os em li n gua gem re f e ren c i a l (com todos os termos bem de f in idos e unívocos). mas também
p o d e ser útil u t i l i z a r u m a metáfora, uma i r o n i a ou uma l i totes. Eis
um t ex to r e f e r enci a l s e gu ido da sua transcrição cm l e rmos r a zoa -
velmenle f igurados:
Versão referencial — Krasnapolsky não é um intérprete muito perspicaz daobra de líanieli. A sua interpretação extrai do texto do autor coisas que esteprovavelmente não pretendia dÍ7.er. A propósito do verso «C ao crepúsculo fitar
as nuvens», Rilz entende-o como uma anotação paisagística normal, enquantoKrasnapolsky vê aí u ma expressão simbólica que alude à actividade poética.
Não devemos confiar na agudeza crítica de K it? , ma s de igual modo devemosdesconfiar de Krasna polsky. Ililton observa que «sc Ritz pa rece un i prospectoturístico, Krasnapolsky parece um sermão da Quaresma». E acrescenta:«Verdadeiramente, dois críticos perfeitos.»
Versão figurada — Não estamos convencidos de que Krasnapolsky seja o maisperspicaz dos intérpretes de Danieli. Ao ler o seu aulor. dá a impressão de lhe
forçar a mão. A propósito do verso «c ao crepúsculo fitar as nuvens»; Ri tzentende-o como unia anotação paisagística normal, enquanto Krasnapolsky carrega na lecla do simbólico e vê aí u ma alusão à actividade poética. Não c que
Ritz seja um prodígio de penetração crítica, mas Krasnapolsky também não é
brilhante. Como observa Hilton. se líii? parece um prospeclo turístico.
Krasnapolsky parece um sermão da Q uaresma: dois modelos de perfeição crítica.
V i m o s que a versão f igurada u t i l i z a vários artifícios retóricos.
E m p r i m e i r o l u g a r , a litotes: d i z e r que não se está co n ve n c i d o de
que fulano se ja um intérprete pe r sp ica z , que r d i ze r que se está c o n v e n c i d o de que ele não é um intérprete p e r s p i ca z . D e p o i s , há as
metáforas; forçar a mão, ca r r ega r na t ec l a do simbólico. Ou a i n d a ,
d i z e r que R i t z . não c um prodígio de penetração s i g n i f i c a que é um
modes to in t crpre i c i lho t e s ) . A referência ao p rospecto turístico e ao
sermão da qua resma são duas comparações, enquan to a observação
de que os do i s au tores são críticos pe r f e i t os é u m e x e m p l o de i r o n i a : d i z - s e u m a co i s a p a r a s i g n i f i c a r o seu contrário.
O r a . as f iguras de retórica ou se u s a m ou nào sc u s a m . Se se
u s a m . é porque se p r e sume que o nosso le i tor está em condições de
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as ap reender e porque s e cons idera qu e d esse modo o a rgumentotoma u m a forma mais inc is iva e conv incente . Então não é precisoenvergonharmo-nos e não é necessário explicá-ias. Se se cons ideraqu e o nosso l e i tor é u m i d i o t a , não sc usem f i guras de retórica, poisutilizá-las com explicação é estar a chamar id iota a o l e i tor . Es te v in -gar-se-á c h a m a n d o i d i o t a a o au tor . Ve j amos como u m es tudantetímido f a r i a para neut ra l i zar c d escu lpar a s f i guras qu e u t i l i z a :
Versão i gurada com reservas — Não estamos convencidos dc que Kiasna polskyseja o... mais perspicaz dos intérpretes de Danieli. A o ler o seu autor, ele dá aimpressão de... lhe forçar a mão. A propósito d o verso «c ao crepúsculo fita;as nuvens». R itz entende-o como uma anulação «pa isagísiica» norma , enquantoKrasnapolsky carrega na... tecla do simbólico e vê aí a alusão à actividade poética. Não c que Rit z seja um... prodígio dc interpretação crítica, mas Krasnapolsky
lambem nao é... brilhante Como observa I lilion, se Ritz parece um... prospectoturístico, Krasnapolsky parece um... sermão da Q uaresma, c define-os (mas ironicamente ) como dois modelos de perfeição crítica. Or a, gracejos à parte, averdade é que... etc.
E s t o u c on v e n c i d o de que n inguém será tão in te l ec tua lmentepequeno-burguês para e laborar u m trecho d e t a l modo imbuído dehesitações e de sor r i sos d e d escu lpa . Exagere i (e d es ta v e z d igo-oporque é d idac t icamente impor tante qu e a b r incade i ra se j a tomadacomo t a l ). M a s este terceiro trecho contém de modo condensadomui tos maus hábitos do escr i tor d i le tante . Em pr ime i ro lugar , a ut i
lização de reticências para av i sar «a tenção, que agora vo u d i ze r umag r a ç a » . Puer i l . A s reticências só se u t i l i zam, como veremos, n o corpode u ma ci t a ç ão p a r a a s s i n a l a r o s t r echos qu e foram omi t idos e .quando mu i to , n o f im de u m pe r íodo para ass ina lar qu e u ma e n u meração não t e rminou, q u e haver ia a inda out ras coisas a d i ze r . E msegundo lugar , o u so d o ponto de exc lamação p a r a d a r ênfase a umaafirmação. F ica mal . pe lo menos num ensa io cr ítico. Se forem v e r
be m o l i v r o que es tão a le r neste momen to, ver ificarão que não ut il i z e i o ponto de exc lamação mais d e u m a ou duas v e z e s . U m a o ud u a s v e z e s a i n d a vá. se se tratar de abanai" o l e i tor n a su a cade i raou de s u b l i n h a r um a a f i rmação mui to v igorosa d o t ipo: «a tenção,nunca cometam este e r r o » . M a s é me lhor f a lar e m v o z b a i x a . S ese d i sserem coisas impor tantes , conseguir-se-á maior efeito. E m terceiro lugar, o au tor do último trecho desculpa-se d e recorrer à i roni a ( m e s m o d e ou t rem) e subl inha -a . É ee r lo qu e s e n os parecer quea i r on i a de I í i l ton é d e m a s i a d o subt i l . se pode escrever : «H i l ton
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a f i rma , c o m subtil i r on i a , q u e estamos perante dois cr íticos p er f e i tos » . M a s a i r on i a terá de s er verdadei ramente subtil, N o caso citado,depois de Hüton te r f a lado d e p rospec to turístico e de sermão daQ u a r e s m a , a i ron ia tornava- se ev idente e nào v a l i a a p ena es tar aexpl icá- la co m todas a s letras. O m e s m o se pode d i z e r para o s « g r a cejos à pa r t e ». P or vezes, pode ser útil para mudar bruscamenie oto m d o d i scurso, ma s é necessár io ler-se efecl ivame nie gracejad o.N o caso presente estava-se a i r on i z a r e a meta for i zar , c isto não sãogracejos, ma s artifíc ios retóricos m u i t o sér ios.
Poderão observar que nesic meu l ivro expressei pelo menos duasv e z e s u m p a r a d oxo , e d epois adver t i qu e se tratava d e paradoxos .M a s nào o fiz por pensa r que n ão o t inham compreend ido. Pe lo contrário, l i - lo porque l e in ia q u e t i vessem compreend ido demas iado e
d a í d e d u z i s s e m que não d ev iam lo inar e m conta esses paradoxos.In s i s t i , p o i s , q u e apesar da forma parad oxa l , a m i n h a afirmação c o n t inha u m a ve rdade impor ia nte . E esc larec i b e m a s co i sas , pois esteé u m l i v ro didáctico em que. ma is qu e a be leza d o es t i lo , m e impor taque todos compreendam o qu e quero dizer. S e t ivesse escrito u mensa io, l e r i a enunc iado o paradoxo s e m o d enunc iar depois .
Definam sempre um t e rmo quando o introduzirem pela primeiravez, Se não sabem de f in i - lo. ev i t em-no. Se é u m dos termos p r i n c i
pa is d a vossa t ese e não consegu i rem de f in i - lo, abandonem tudo.E n g a n a r a m - s e n a tese (ou na prof issão).
Não comecem a explicar on de é Roma para depois nà o explicaronde é Tombuciu . Faz-nos ca la f r ios le r teses c o m frases d o t ipo:«O f i lósofo pante ís ta juda ico-holandés E s p i n o s a fo i d e f in ido p o rG u zzo . . . » . A l t o lá O u es tão a f aze r uma tese sobre Esp inosa e entãoo le i tor sabe quem é E s p i n o s a e já lhe d i sseram q u e Augusto G u/.zoescreveu u m l i v ro sobre e le . ou es tão a c i t a r ocas iona lmente es taafirmação n u m a tese sobre física nuc lear c então não d evem presu
mi r qu e o le i tor n ão saiba quem é F-spinosa mas saiba que m é G u z z o .O u então, trata-se d e u m a lese sobre a f i losof ia pós -gent i l iana emItália e toda a g e n te sabe quem é G u z z o . m a s nessa a l tu ra tambémsaberão qu e m é E s p i n o s a . N ão d evem d i ze r , n e m sequer nu ma t esede história «T. S. E l i o t . u m poeta i n g lê s » ( à parte o fae to de te rn a s c i d o n a A m é r i ca ) . Par le - se do p r in c íp io de qu e T . S . E l i o t éuniversa lmente conhec ido. Quando mui to, se qu iserem subl inharqu e fo i m e s m o u i n poeta inglês a d i z e r u m a d a d a c o i s a , é me lhore s c r e v e r e m « f o i u m poe ta i n g lê s . E l i o t , qu e m d i s s e que . . . » .M a s se f i ze rem u m a tese sobre El iot . t enham a h u m i l d a d e dc for -
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necer todos o s dados . S c não no texto, pelo menos numa nota l ogon o in íc io deve ser-se suf icientemente honesto e p rec i so para condensar e m d e z l inhas todos o s dados biográficos n ecessários. N emiodo o le i tor, p o r mais espec ia l i zado qu e seja. sabe de memór ia adala d o nasc imento de E l i o t . E tanto mais se o trabalho versar sobreu m au tor secundário d e u m século passado. N ào p resumam qu e todossa ibam quem se j a . D igam l o g o quem era . como se s i tua e a s s i m po rd iante . M a s mesmo se o autor for Mol iè rc , que custa pô r uma notacom duas datas? Nunca s e sabe.
Eu ou nós? N a te s e d evem int roduzi r - se as opin iões próprias napr ime i r a p essoa? D e v e d izer-se «penso que . . . » ? A l g u n s p e n s a mqu e é mais hones to f azer a ss im do qu e u t i l i z a r o p lu r a l majestático.E u nã o d i r i a i sso. D i z- se « n ó s » porque se p resume que o que sc
a f i rma possa ser par t i lhado pe los l e i tores . Escrever é u m ac to soc ia l :escrevo para qu e tu que lês aceites aquilo que te p r op on h o . Q u a n d omuito pode procurar-se evitar pronomes pessoais recorrendo a expressões mais impessoa is como: « d e v e . portanto, concluir -se que: pa receentão indu bitável que ; d e v e nes ta a l tu ra d i ze r - se ; é poss íve l que ; da idecorre, portanto, q u e . a o e xa m i n a r es te texto vô-sc que» , e tc . Nãoé necessário d i z e r « o a r t i go qu e c i t e i ante r iormente » ou «o art igoqu e c itámos anter iormente», bastando escrever « o art igo anteriormente c i tado» . M a s d i r e i qu e s e pode escrever « o art igo anteriormentec i tado demonst ra -nos q u e » , porque expressões deste t ipo n ão im p l i
ca m nenhuma pe rsona l ização do d i s c u r s o c ientífico.
N ão ponham nunca o artigo antes do nome p rópr io . Não há razãopara d i z e r « o M a n zon i » ou « o S tc n dh a l » ou « o P a s c oü» . D e qu a l quer forma, s o a u m pouco ant iquado. Imag inam um jorna l a escreve r « o Be r l in gu e r » e « o L e on e » . a menos qu e se ja para f azer i ron ia?Não ve jo p or que não se há-de escrever « c om o d i z D e Sa n c i i s — » .
D u a s excepções : quando o nome próprio i n d i c a u m m a n u a l céle
bre, uma obra d e consu l ta ou u m d icionár io ( «segun do o Z i n g a r e l l i .como d i z o F l i c h e c M a r t in » ) , e quando numa resenha cr ítica seci t am es tud iosos d e segunda ordem ou pouco conhec idos ( «comenta m a es le respe i to o C a p r a z z o p p a e o Be l lot i i -B on» ) , mas tambémisto faz. sor r i r e r ecorda a s falsas c i tações de G i o v a n n i M o s c a , eser ia me lhor d i ze r « c omo comenta Romua ldo C a pr a z zoppa » . fazendosegu i r e m nota a referência bibliográfica.
Não se devem aportuguesar os n omes de ha pt ismo d os est rangei ros . C e r t os t e x t os d i z e m « J o ã o P a u t o Sa i t r e » ou « l .u dov ic oW i t t ge n s t e in » . o qu e s oa bastante r idículo. Imag ina- se u m j orna l a
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escrever «H e n r iqu e K i s s in ge r » ou «Va lé r io G i s c a r d d 'Es ta in g » ? eachar i am b e m qu e u m l i v ro espan hol escrevesse «Be n i to C r oc e » ?T od a v i a , os l i v ros d e f i losof i a para o s l i ceus chegam a referir «Be n toEs p in os a » e m v e z de «Ba r u c h Sp in oza » . O s i s r a e l i ta s d e v e r i a mescrever «Baruch Croce »? Evidentemente que se se escrevesse Ba conep or B a c on , d ir - s e - i a Fr a n c i s c o e m v e z de F rane is . São p ermi t idasexcepções . a p r inc ip a l das qua is 6 a qu e s e r e fe r e a os nomes g r e gose l a t inos : P la tão, V irgí l io , H orác io. . .
Só se devem aportuguesar os apelidos no caso de isso se r sancionado pela tradição. Admi tem-se Lutero e outros nomes num contexto normal. Maomc* pode dizer-se. a menos qu e se trate d e u m atese e m f i lo log ia árabe. Sc. porém, se apor tuguesar o ape l ido, de v etambém aportuguesar-se o nome: Tomás M o r o . M a s numa t ese espe
cífica deverá u t i l i zar - se Thomas M ore .
V . 3 . A s c i t a çõe s
V.3 .1 . Quando e como se c ita : d ez regras
Habi tua lmente , numa t ese c itam-se muitos textos de vários au to
res : o texto objecto d o t raba lho, ou a fonte p r imar ia , e a l i t e ra tura
cr i t ica sobre o assunto, ou a s fontes secundárias.
A s s i m , a s citações são prat icamente d e dois t ipos : (a ) c ita-se u m
texto sobre o qua l depois nos debruçamos interpreta ti vãmente e (/?)
c i ta - se u m texto para apoio d a nossa interpretação.
Ú difíc il d i z e r se se deve c i t a r com abundânc ia ou com p a r c i
mônia . D e p e n d e d o t ipo de tese. Uma análise crítica de um escr i tor
requer obv iamente qu e g randes t rechos d a s u a obra se j am t rans
critos e ana l i sados . Nout ros casos , a citação pode s er uma mani f es
tação de preguiça, quando o c a n d i d a t o n ão quer ou não é capaz der e sumi r uma de te rminada sér ie de dados c prefere qu e sejam outros
a fazê - lo.
Ve jamos, pois . d e z regras para a citação.
Regra 1 — O s trechos objecto de análise in te rp re ta t iva são c i t a
do s c o m u ma extensão razoável.
Regra 2 — O s textos d a l i teratura cr ítica só são c i t ados quando,
co m a s u a au tor idade , corroboram ou c on f i r m a m uma a f i rmação
nossa.
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Es tas duas reg ras imp l icam a lguns corolár ios óbv ios . E m p r i
meiro lugar , se o trecho a ana l i sar u l t rapassa a m e i a página , issos i gn i f i ca qu e a l g o nã o f u n c i on a : ou s e tomou uma unidade de anál ise d emas iado extensa , e. portanto, não podemos comentá-la pontopor ponto, ou não es tamos a f a la r d e u m trecho m a s d e u m textoin te i ro e então, m a i s q u e u ma análise, es tamos a fazer um j u í zo g lobal . Nes tes casos , se o texto fo r impor tante m a s d emas iado longo,é me lhor transcrevê-lo por extenso e m apêndice e c i t a r n o decursodos diversos capítulos apenas breves períodos.
E m segund o lugar, quand o se c i ta a l i teratura cr ítica, d evemo sestar certos d e que a c itação diz a l g o d e no vo o u q u e conf i rma o quese disse com autor idade. Vejamos, por exemplo, duas citações inúteis:
As comunicações de massas constituem, como d iz McLuhan. «um dos fenômenos centrais do nosso tempo». K preciso não esquecer que, só no nosso país.seeundo Savoy, dois indivíduos cm cada três passam um terço do dia em frenteda televisão.
O que é que há de errado ou de ingênuo nestas duas c itações? E mpr ime i ro lugar , que a comunicação de massas é u m fenômeno centraldo nosso tempo, é u ma evidência qu e qua lquer pessoa poder ia terdi to . Não se exc lu i qu e também M c L u h a n a t enha d i to (não fu i verif icar e invente i a citação), ma s não é necessário invoca i ' a autoridadede alguém para demonstrar a l g o tão evidente. E m segund o lugar, épossível que o dado qu e referimos seguida mente sobre a audiênciatelevisiva seja exacto, m a s Savoy não ú u ma autor idade ( é u m nomeque inventei , um equivalente d e Fu lano) . Dever ia , e m v e z d i sso, ter--se citado uma investigação sociológica ass inada por estudiosos conhecidos e insus peitos, dados d o Ins ti tu to Na c iona l dc Estatística, os resul
tados d e u m inquérito pessoal apoiados por quadros em apêndice . E mve z de c itar um Savoy qualquer, era p referível ter-se dito «facilmente
se presume qu e duas pessoas e m cada t rês . e tc » .
Regra 3 — A citação pressupõe que se par t i lha a i d e ia d o autorc i t ado, a menos qu e o trecho seja precedido e s e g u i d o d e expres sões críticas.
Regra 4 — D e todas as citações, d e v e m s e r c la ramente reconhecíveis o au tor e a fonte impressa o u man uscr i t a . Es te reconhec imento pode te r lugar de várias mane i ras :
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(7) c o m c h a m a d a e referência em nota . espec ia lmente quan do s etrata d e u m au tor nomeado pe la p r ime i ra v e z :
b) c o m o nome d o autor e a da ta de publicação da obra, entreparênteses, após a citação (ver a este respeito V.4.3 . ) ;
c) c o m u m s imp les parêntese que re fere o número da página ,qu a n d o todo o capítulo ou toda a t ese versam sobre a mesma obrado mesmo autor. Veja-se. pois. n o Quadr o 15 como se poder ia es t ru
turar u ma página de tese co m o t í tu lo O problema d a epifania no«Portrait» de James Joyce, n a qu a l a obra sobre qu e versa a lese,u ma v e z d e f in ida a edição a que no s r e f e r imos e qu a n d o se t iverdec id ido u t i l i zar , por razões d e comod idade , a tradução i t a l i ana d eCcsare Pavese , é c i l ada co m o número de página entre parêntesesno texto, enquanto a l i teratura crítica é c i t ada e m nota.
Regra 5 — As e i iações de fontes pr imárias são f e i t as , n a med idado possível, com referência à edição crítica ou à edição ma is reput a d a : se r i a dcsaconsclhável, n u m a tese sobre B a lz ac , c i t a r as página s d a e d i ção L i v r e s d e Poche: pelo menos, recorra-se à obra comple t a da P lé iade . Para autores antigos e clássicos, em geral basta
ci t a r p arágrafos, capítulos ou versículos, como é corrente fazer {verT I I .2.3. ) . N o que se re fere a au tores contemporâneos, referir, se pos sível, se há várias edições, ou a p r ime i ra ou a última r ev i s ta e corr i g i d a , segundo o s casos . C i ta - se d a p r i m e i r a se as seguintes foremmeras re imp ressões, da última se es ta cont iver r ev isões , a d i t a m e n tos ou ac tua l izações . E m qualque r caso, especif icar qu e existe u m ap r i m e i r a e u ma e d iç ão n e e xp l i c a r qu a l se c ita ( ve r , sobre esteaspec to. I IL2 .3 . ) .
Regra 6 — Q u a n d o se es tuda u m autor estrangeiro, as c i taçõesd e v e m se r na l íngua o r i g i n a l . E s t a regra é t axat iva se se tratar d e
obras literárias. Nes tes cas os , pode s e r m a i s ou menos útil fazerseguir, entre parênteses ou em nota . a tradu ção. P a r a ta l . s i gam-se a sindicações d o orientador. Se se tratar d e um autor de que não se anal isao es t i lo l i te rár io, ma s no qu a l a expressão p rec i sa d o pensamento,em todos os seus mat i zes l ingüís t icos , tem uma certa importância(por exemplo, no comentár io dos trechos de u m f i l ós o fo) , é conven iente t raba lhar c o m o t exto es t range i ro or i g ina l , m a s neste ca so éa l tamente aconselhável acrescentar entre p arênteses ou em nota atradução, pois i s so const i tu i lambem um exerc íc io in te rp re ta t ivo d avossa pane . F ina lmente , se sc citar um autor estrangeiro a penas para
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colher um a in formação, dados estatísticos ou históricos, um j u í zodc caracter gera , pode ulili/.ar-sc apenas urna bo a tradução ou mesmot r aduz i r o trecho, para não sujeitar o le i tor a constantes saltos delíngua p a r a língua. B a s t a c i ta r bem o título o r i g i n a l e exp l icar qu etradução se u t i l i z a . P o d e a i n d a s u c e d e r qu e s e fale d e u m au torestrangeiro, quer este seja u m poeta o u u m prosador, mas que osseus textos sejam examinados, nã o tanto pelo se u est i lo quanto pelasidéias filosóficas que contêm. N e s t e caso podemos também decidir,se as citações forem mui tas e constantes, recorrer a u ma b oa t raduçã o para tornar o d i scurso mais f lu ido, l im i tando-nos a inser i r cur tos trechos n o or i g ina l quando se qu iser subl inhar o u so espec í f icode u m a ce r ta pa lavra . É este o caso d o exemplo sobre Joyce qu ed a m os n o Q u a d r o 1 5 . V e r a i n d a o ponto (c) d a r eg ra 4 .
Regro 7 — A referência a o au tor e à obra de v e s e r c la ra . Para
sc compreender aqu i lo qu e estamos a d i ze r , s i rva o segu inte exem
p lo (errado):
Estamos d e acordo com Vasquez quando defende que «o problema cm questão está longe d c estar resolvido»1 c. apesar da conhecida opinião de Braun :
paia quem «se fez definitivamente luz sobre esta velha questão», consideramoscom o nosso autor que «falta a inda percorrer u ni longo caminho antes que sechegue a um estádio de conhecimento sa tisfatório».
A pr ime i ra citação é certamente d e Vasquez e a segunda d e Braun.
ma s a terceira será mesmo de Vasquez , como o contexto deixaria supor?
E u ma v e z qu e n a nou i 1 reportámos a primeira citação de Vasquez. à
página 16 0 t ia sua obra. deveremos supor que também a terceira c ita
ção é da mesma página do mesmo l ivro? E se a terceira citação fosse
de Bra un? Ve j amos corno o mesmo rrecho deveria te r s ido redig ido:
Estamos d e acordo com Vasquez quando defende que «o problema cm ques
tão está longe d c estar resolvido»-' c. apesar da conhecida opinião de Braun.para quem «se fez definitivamente lu z sobre esta velha questão»1, consideramos com o nosso autor que «falta ainda percorrer um longo caminho antes quesc chegue a um estádio de conhecimento satisfatório»1.
: Roberto Vasquez. Fuzzy Ctmcepts, London. Fabcr, 1976. p. 160.:Richard Braun. Logik und Erkennmis, Mimchcn. Hnk. 1968. p. 345.•'Roberto Vasquez. Fuzzy Concepts, London. Fabcr, 1976, p. 160.' Richard Braun. Logik u nd Erkeiuunis. Munchcn. Fink. 196H.'Vasquez. op, e/r., p. 161.
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Repare - se qu e n a nota 2 s e escreveu ; V asquez. op. e it: p . 1 6 1 .Se a frase fosse a i n d a da página 16 0, te r íamos pod id o es crever :Va s qu e z . ibidem. A i de n ós . todav ia , se tivéssemos pos to « i ludem»sem espec i f i car « V a s q u e z » . I s so querer i a d i ze r que a frase se e n c on t rava n a p ág in a 3 4 5 d o l i v r o d e B r a u n c i t ado. « lbidem->, portanto,s i gn i f i ca « n o m e s m o lugar » e só se p o d e u t i l i z a r qu a n d o se querrepe l i r a c i tação da nota precedente. M a s s e , n o texto, c m v e z ded i z e r «cons ideramos co m o nosso au tor » , t ivéssemos d i to «cons ideramos com Va squez» e qu iséssemos reportar-nos ainda à página160 . ter íamos pod ido u t i l i zar em nota um s imples « ibidem». Só c omurna condição: que se t enha f a lado d e Vasquez e d a sua obra a lgu mas l inhas antes ou pelo men os dentro d a mesma página, ou nãomais tlc duas notas antes. Se. pelo contrário. Vasquez t ivesse aparecidod e z pág in a s antes , se r i a melhor repe t i r e m nota a indicação porin t e i ro ou no mínimo «Vasquez, op. CÍL, p . 16 0 » .
Regra <# — Q u a n d o uma c itação não u l t rapassa a s duas o u trêsl inhas , pode inscrir-se n o corpo d o parágra fo, entre aspas r como estouagora a fazer a o c i t a r C a m p b e l l e B a i l o u , qu e d i z e m qu e « a s c i ta
ções d i rec tas qu e n ào u l t r a p a s s a m as três l i n h a s d a c t i l og r a f a d a sdevem s e r postas entre aspas e aparecer no texto»* . Q u a n d o a c i t a
ção é mais longa , c me lhor colocá-la recolhida e a um e sp aço ( s ea t ese fo r dac t i log ra fada a três espa ços, a citação poderá s er a doisespaços ) . N e s t e caso não são necessárias a s aspas , pois d e v e se r ev i dente qu e todos o s trechos recolhidos c a um espaço são c i tações ;e d evemo s p rocurar n ão u t i l i z a r o mesmo s i s t ema para a s nossasobservações ou d esen volvimentos secundários (que deverão ser f e i to s e m nota ) . E i s u m exemplo d e dup la c itação r e c o l h i d a 7 :
Se uma citação directa c mais longa do que três linhas dactilografadas. eta
é colocada fora d o texto num parágrafo ou em vários pa rágrafos separadamente, a um espaço...
6 W . U. Campbell e S. V. Bailou. Form im ã Sn/e, Boston. Hmighlon Mifflin.1974. p. 40.
' Unia vez que a página que estão a ler é uma página impressa (c não da clilo-gratads). cm vez de um espaço mais pequeno uliliza-se um corpo de letra menor (quea máquina d c escrevei nu v tem). A evidência da utilização deslc corpo menor ctal que. no resto do livro, não foi necessário recolher as citações, bastando isolar obloco em corpo mais pequeno, dan do-lhe urna linha de espaço em cima e em baixo.Neste caso rccolhcu-sc a citação apenas para acentuar a utilidade deste artifício napágina dactilografada.
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A subdivisão em pa rágrafos da fome original deve ser mantida na cilacão.Os parágrafos que se sucedem directamente na fonte ficam separados sópor um espaço, tal como as diversas linhas d o parágrafo. Os pa rágrafos quesão citados d e duas fontes diversas e que não são separados por u ni texiode comentário, devem ser separados por dois espaços8.
Quando sc pretende indicar as citações, rccolhcm-sc estas, especialmente quando existem numerosas citações de vários tamanhos... Não se utilizam aspas1.
Es t e método é mui to cômodo porque fa z imediatamente sobressairos textos citados , permite saltá-los se a l e i tu ra fo r t ransversa l , debruçar-se exclusivamente sobre eles s c o le i tor est iver mais interessadonos textos citados d o qu e n o nosso comentário c. f inalmente, permiteencontrá-los rapidamente quando s e p rocuram por razões de consulta.
Regra 9 — A s c i tações d evem ser fiéis, fim primeiro lugar, devemtranscrever-se a s pa lavras ta l como estão (e. para t a l , é sempre conven iente , após a r edaccão da lese. voltar a ve r i f i car as c i tações noo r i g i n a l , pois a o copiá-las. à mão ou à máquina, podemos te r comet ido erros ou omis s õe s) . Em segund o lugar, não sc deve e l i m i n a rpartes d o texto s e m qu e i sso se j a ass ina lado: es ta sinal ização dee l ipses faz -se med iante a inserção de reticências para a par t e omi t ida . E m te rce i ro lugar , não se d evem fazer interpolações e qua lquercomentário, esc larec imento ou especificação nossos devem aparecer dentro de parênteses r ectos ou em ângu lo. D e i gua l modo. ossubl inhados que nào são do autor, m a s nossos, devem s e r a s s i n a l a d os . E xe m p l o : n o texto citado sã o fornec idas reg ras l i g e i ramentediferentes da s qu e e u u t i l i zo para as in te rpolações : mas isto servetambém para compreender como os critérios podem se r d iversos ,desde qu e a su a adopção seja constante e coerente.
Dentro d acitação... podem verificar-se alguns problemas... Sempre que se omitaa iranscrição de uma pane do texto, isso será assinalado pondo três pontos dentro de parênteses rectos |nós sugerimos a s reticências sem os p arênteses]... Por
sua \ci, sempre que sc acrescente uma palavra para a compreensão d o textotranscrito, e la serd inserida emre parênteses em ângulo (nào esqueçamos queestes autores estão a falar dc teses dc literatura francesa, onde por vezes podeser necessário interpolar uma palavra qu e faltava n o manuscrito original mascuja presença o ilósofo magina].
* Campbell c Bailou, op, c/f., p. 40.°P . C l. Pcrrin, An I ndex to Kngfish. 4." ed.. Chicago. Scott. Foresman and Co..
1959. p.338.
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Recorde-se a necessidade dc evitar os erros de francês e de escrever num estiloco rreexo e c laro filálico nosso]" 1.
Se o au tor q u e c i t amos, embora d ign o dc menção, incorre r num
erro mani f es to, d c e s t i l o ou de in fo r ma ç ão , d e v e m o s r e s p e i t a r o
seu erro mas assinalá-lo ao le itor, quanto mais não se j a com um parên
tese recto deste t ipo: \sic\. D ir -se -á. por tanto, q u e Savoy a f i rma qu e
e m 1ÍS20 [sic]. após a morte de B o n a p a r i e , a s ituação européia era
nebulosa» . Ma s se est ivesse no vosso luga r, eu ignora ria um tal Sa voy.
Regra 10 — C i t a r é como tes temunhar num processo. Temo s d c
estar sempre e m condições de encontrar as testemunhas e de demons
trar que são d i gnas de c rédi to. Por este mot ivo, a referência devese r exacta e precisa (não se c i ta u m au tor sem d i ze r e m qu e l i v ro e
em que página ocorre a passagem c i lada ) e de v e poder se r controlável p o r todos . Como fazer então, se u ma informação ou uma op i
nião impor tantes n os v i e rem d e u ma comunicação p essoa l , d c u m a
car ia o u d e u m manu scrito'.' Pode muito bem citar-se uma frase pon do
em nota uma d a s segu intes expressões:
1. C omunicação pessoal d o autor ( 6 dc Junho de 1975).2. Ca na pessoal d o autor (ó dc Junho de 1975),3. Declaração registada em 6 de Junho dc 1975,4. C . Smith, Asfomes da Edda de. Snorr i , ma nuscrito.5. C. Smith. Comunicação ao XI I Congresso dc Fisiotera pia, manuscrita (no
prelo pela editora M outon. Th e Hague).
R e p a r e m qu e , n o qu e respeita às fontes 2 . 4 e 5 ex i s t em docu
mentos que se poderão ap resentar c m qua lquer momento- Para a
fonte 3 estamos n o v ag o . d a d o qu e o termo « r e g i s to » n ão n os d i z s e
se trata de r eg i s to ma gnét ico ou dc um a pontamento estenográfico.Q u a t i i o à fonte l . só o a u tor poder ia desment i r - vos ( ma s p od e r i a te r
morrido entretanto). Nestes casos extremos é sempre boa norma, após
ter-se dado forma def init iva à citação, comunicá-la por car ta a o au tor
c obter uma carta d e resposta c m qu e e l e d i g a qu e s e reconhece nas
idéias que lhe atr ibuíram e vos au tor i za a u t i l i zar a c itação. Se se t r a
tasse d e u ma c itação m uitíssimo importante e inédita (uma nova fór-
1 0 R. Campagnnli e A . V . Borsari. Cuida alia tes i d i laureu in li/igua e lette-ratiira francete, líologna. Patron. 1971, p. 32.
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m u la . O r e sul t ado de u ma investigação a inda secreta ) , ser ia aconse
lhável pôr em apêndice à t ese u ma cópia da carta de autorização. Nacondição, e v iden t emente , de o autor da informação ser uma conhe
c ida autor idade científica e nào um fulano qualquer.
Regras secundárias — Se qu i s e rmos ser exae ios , ao i n s e r i r ums ina l de e l i ps e (reticências co m ou sem parênteses rectos ). proce
damos do s e gu in t e modo com a pontuação:
Sc omitirmos uma parle pouco importante,.. .a elipse deve seguir-se à pontuaçãoda parle completa. Se omitirmos uma pane centra l..., a elipse precede a vírgula.
Q u a n d o se ci tarem versos, devem seguir-se os usos da l i teraturacrítiea a que nos r e f e r imos . Km qua lque r caso , só um verso pode
vi r c i t ado no t exto as s im: «Ia donze l l e t t a v i en da l l a campagna». D o i sversos ptxlem ser ci tados no texto separados p or uma barra : «I cipress i
ch e a B o l g h e r i a l t i e schiet t i/van da Sa n C u i d o In d u p l i c e filar». Sc.pe lo coitirário, se t ratar de um t recho poético ma i s l ongo , é me lhor
recorrer ao s i s t ema de um espaço e r e co lh ido :
H quando saremo sposati,saro ben felice con le.Amo tanio la mia Kosie 0'Gradyc la mia Rosie 0'Grady ama me.
Procederíamos do mesmo modo penuite um verso só, que fosse o
objecto de uma longa análise subsequente, como no caso cm que se qui
sessem extrair os elementos fundamentais da poética de Ver la ine do verso
D c la musique avant loute chose.
Nestes casos, dire i que não é necessário sub l inhar o verso, embora
este seja em língua estrange ira. Sobretudo se a tese for sobre Verla ine :de out ro modo. teríeis cen t enas de páginas t odas subl inhadas . Masescrever-se-á
De la musique avant toute choseCf pour vela prefere l ' impairptus vague ct plus soluble dans l'air.sans rien en lni qui pese et qui pose.,.
e spec i f i cando «sublinhado nosso», se o f u lcro da análise for a noçãod e «disparidade»,
178
Q U A D R O 15
nXTíMPLO D E AN A LI SE C W H N U A D AD F U M .MESMO TEXTO
O lexto do 1'ar i ral t è rico destes momentos de êxtase que já em Stephèn He rotinham sido definidos corno epifânícos:
Cintilando e uenieluzindo trcmclurindo c alastrando, luz que rompia, flor que desabro-chava. a visão desdobrou-se nu M A incessante sucessãn dc si mesma rompendo uuni carmesim vivo. alastrando e- desvanecefido-SC no rosa mais pálido, pétala a pétala, onda aonda A: luz, inundando todo o iniiameiitocom 05 seus doces fulgorcs. cada fuliror maisintenso que o primeiro {p. 219).
Todavia, vê-se imcdiatamenle que também a visão «submarina» sc transforma
imediatamente ern visão de chama, onde predominam lonalklades rubras e sensações de fulgor. Talvez o texto original expresse a inda melhor esta passagemcom expressões como «a hrakin light» ou «wave of light by wave o i' light» e«soíl flashes».
Ora, sabemos que no Porimit as metáforas do fogo reaparecem com freqüência: a palavra «fire» aparece pelo menos 59 vezes e as diversas variações dc«flame» aparecem 35 vezes (I). Diremos então que a experiência da epifaniasc associa à do fogo, o que nos fornece uma chave para p rocurar relações entreo jovem Joyce c o D*Annunzio de tf fuoco. Veja-sc então este trecho:
Ou era porque, sendo ele tão fraco de vista como tímido dc esp írito, sentia menos prazer na refracção do ardente mundo sensível através do prisma dc uma língua mullicolore ieamenie lustrada... (p. 2111.
onde é desconccnantc a evocação de um trecho do Fuoco d"annunziuno que di z:
auaída para aquela atmosfera a rden te como a ambiente n'e. u m a forja.
1 L- Hancock, A Word Iinlt'\ 10 J. Joyee's Portrait of t ke Ártist, Carboudalc,Southcm Illinois U niversity Press. 19~ó.
V . 3 . 2 . Cilação, paráfrase e plágio
Quando f i ze ram a f icha de l e i tura , r e sumi ra m em vários pontos
o au tor que vos i n i e r e s sa : i s t o é, f i z e r am paráfrases e r epe t i r am com
pa lavras o pensamento do autor. Noutros casos, t ranscreveram tre
chos inte iros entre aspas.
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Q u a n d o d e p o i s p a s s a r e m à redacção da tese. já nào terão o i cx lo
a frenle e p rovave lmen te cop i a r3o t r echos in t e i ros da vossa f i cha .Deverão ce r t i f i ca r -s e de que os t rechos que co p i a m são ve rdade i r a
men te paráfrases e não citações sem aspas. C a s o contrário, terão
comet ido um plágio.
Esta forma de plágio é mui to comum nas teses. O e s tudan t e f i ca
co m a consciência tranqüila porqu e d i/. . mais tarde ou ma i s ced o .numa nota em rodapé, que eslá u re fer ir -sc àquele dado autor . Mas
o l e i t o r que . po r acaso , se ape rceba de que a página não eslá a pa ra
frasear o t exto o r i g i n a l , mas sim a copiá-lo sem u t i l i za r a spas , f i cacom uma péssima impressão. E isto náo di z respe i to apenas ao o r i e n
tador, mas a quem que r que depois ve ja essa lese. ou p a r a a publ i
ca r ou p a r a a va l i a r a competência de quem a fez.
C o m o ter a ce r t e za de que uma paráfrase nào é um plágio? Empr ime i ro luga r , se for m u i t o m a i s curta do que o o r i g i n a l , é claro.
M a s há casos em que o autor, numa frase ou período bastante breve,
d i z co i s as de g r a n d e conteúdo, dc tal modo que a paráfrase tem de
se r mui to ma i s l onga , que o t r echo or i g ina l . N e s t e c a s o . não devemos preocupar-nos doent iamente com nunca pormos as mesmas pa la
vras, pois por vezes é inevitável ou mesmo útil que certos termospermaneçam imutáveis. A p rova ma i s i r a n q u i l i z a d o ra t em-se quando
sc consegui r pa ra f r asea r o t exto sem o ler à v i s t a . I s s o significará
qu e nao só se c o p i o u , mas l ambem sc co m p r e e n d e u .
Para e sc l a r ece r me lhor este pon to , passo a t r anscreve r — com D
número 1 — DIB t r echo de um l i vro ( t r a t a -s e de N o r m a n C o h n .
Os fanáticos Jo Apocal ipse) .
N o número 2 dou um e x e m p l o de paráfrase razoável.
N o número 3 dou um exemplo de falsa paráfrase, que cons t i tu i
u m plágio.
N o número 4 dou um e x e m p l o dc paráfrase i g u a l ao número 3.
mas onde o plágio é e v i t ado median t e o uso hones to de a spas .
/. O texio or ig inal
A vinda (tu Anticristo deu lugar a uma tensão ainda maior. Sucessivas gerações viveram numa constante expectativa do demônio destruidor, cujo reinoseria efeeti vãmente uni caos sem lei. uma época consagrada à rapina e ao saque,a tortura c oo massacre, mas também o prelúdio dc uma conclusão por que tc
ansiava, a Segunda Vinda c o Re ino di » Santos. Ãl pessoas estavam semprealerta, atentas aos -sinais» que. de acordo com a tradição profética, anuncia-
180
na m c acompanhariam o último período dc desordens-: e uma YtZ que os
-sinais- incluíam maus goterrunlet. discórdia civil, guerra, seca. fome. peste,cometas, mortes imprevistas d c pessoas eminentes c um estado dc pecado generalizado, nunca houve qualquer dificuldade em descohri-los.
2. Um a paráfrase hones ta
Cohn 11 é muito explícito a este respeito. Debruça-se sobre a situação de tensão
típica dcslc período, em que a expectativa do Anticristo é ao mesmo tempoexpectativa do reino do demônio, inspirado na dor e na desordem, e prelúdio d achamada Segunda V inda, a Panísia. u volta dc Cris to triunfante. E numa época
dominada por acontecimentos dolorosos, saques, rapinas, fomes e pestes, nao
faltavam às pessoas os -sinais- correspondentes aos sintomas que os textos pro
féticos tinham sempre anunciado tomo característicos da vinda do Anticristo.
3. U ma falsa paráfrase
Segundo Cohn... |segue-se uma lista de opiniões expressas pelo autor noutroscapítulos]. Por outro lado. c necessário não esquecer que a vind a do Anlicrisiodeu lugar a uma tensão ainda maior. As diversas gerações viviam em constanteexpectativa do demônio destruidor, cujo reino seria cfccüvamente um caos semle i, uma época consagrada a rapina e ao saque, à tortura e ao massacre, mas
também o prelúdio da Segunda Vinda ou do Reino dos San tos. As pessoas estavam sempre alerta, alenta» aos sinais que, segundo os profetas, a nunciariam e
acompanhariam o último -período de desordens-: c u ma vez que estes sinaisincluíam os maus governantes, a discórdia civil, a guerra, a seca, a fome. as
pestes e os cometas, bem como as mortes imprevistas de pessoas importantes(alem dc um estado dc pecado generalizadoI. nunca houve qualquer dificuldade em descohri-kis.
4. Uma paráfrase quase textual que evita o plágio
O mesmo Cohn já citado recorda, por outro lado. que a vinda do Anticristodeu lugar a u ma tensão tiindti maior». As diversas gerações viviam em constante expectativa do demônio destruidor «cujo reino seria cfccttvamcnte um
caos sem lei, uma epoca consagrada à rapina c ao saque, a turtura e ao massacre, mas tamhém o prelúdio de uma conclusão por que se ansiava, a SegundaVinda e o Re ino dos Santos-,
Vorman Onhn. I fanattet d elVApocal iv*. Mílano. Comunita. 1%?. p 125.
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As pessoas estavam sempre alerta e atentas aos sina is que, segundo os profetas, acompanhariam e a nunciariam o último «período dc desordens». Ora. sublinha C obri, dado que estes sinais incluíam «maus governantes, discórdia civil,guerra, seca, fome, peste, comeias, mortes imprevistas de pessoas eminentes cum estado dc pecado generalizado, nunca houve qualquer dificuldade cm descobri-los»12.
O r a é ev idente q u e , p a r a te r o t r a b a l h o d c l a z e r a paráfrasenúmero 4, mais va l i a t ranscrever como c i tação o t r echo comple to.M a s p a r a i s s o e r a n e c e ss á r io qu e n a v os s a f i c h a d c l e i t u r a h ou vesse j á o t r echo t ranscr i to in teg ra lmente o u um a paráfrase n ãos u s p e i t a . C om o qu a n d o r e d i g i r e m a t e s e já não sc lembrarão doqu e f i z e r a m a o e l a b or a r a ficha, é necessár io que log o d e s d e o iníc io t enham proced ido d e modo correc to. De vem es tar seguros d e
que. s e n a f i cha não há a s p a s , o qu e e s c r e v e r a m é u ma pa ráfrasee n ão u m p lág io .
V.4 . A s n o t a s d c ro d a p é
V.4 .1 . Para qu e servem a.s notas
U m a opin ião bas tante d i fund ida p re tende que não só as teses,ma s também os l i v ros c o m mui tas notas , const i tuem u m exemplode snob ismo erud i to e freqüentemente uma tentat iva d e deitar poeiranos olhos, li certo que nào se deve e xc l u i r qu e muitos autores nãopoupem notas c o m o ob j ec t ivo d e confer i r u m t o m impor tante a ose u t raba lho, n e m q u e ou t ros encham a ind a a s notas de informaçõessecundárias, p rovave lmente subtraídas sub- rep t icia rnente d a l i t e ra tura crítica e xa m i n a d a . M a s i sso nã o impede q u e a s notas, quandout i l i zadas numa med ida conven iente , se j am úteis. Q u a l é a med ida
conven iente , não se pode d i ze r , pois depende d o t ipo de tese. M a sprocuremos i lus t rar os casos e m qu e a s notas são úteis, e comodevem s e r fe i tas.
a ) As tíbias servem para indicar a fonte da s citações. S e a fonte
t ivesse de s e r i n d i c a d a n o t exto, a l e i tu ra da página s e r i a difíc il. Há
evidentemente maneira d e fazer referências e v i t a n d o a s notas, como
'-' N. Cobri. I' fanaiici de li 'Apocalissc. Milano. Comunit», 1965, p. 128
182
no sistema autor-data e m V . 4 . 3 - M a s . e m g e ra l , a nota serve mu itobem para este f im. Q u a n d o s e trata d e uma nota d e referência b ib l iográfica, é conven iente qu e venha em r odap é e não na fim d o l i v ro
ou do capítu lo, pois desse modo pode veri f icar-se imediata mente,com uma v is ta d e o lhos , d o que se es tá a falar.
b ) As notas servem para acrescentar outras indicações bibl iográfica s d e r e forço a um assunto discutido no texto: «sobre este assunto ver
a inda o l ivro t al». Também neste caso s ão mais cômodas as de rodap é.
c) A s notas servem para referências externas e internas. T ra tado
u m assunto, pode pôr-se em nota « c f . » ( qu e quer d i ze r «confron
tar » c que remete quer p ara u m ou t ro l i v ro quer para out ro capílulo
ou parágra fo do nosso trabalho). A s referências internas podem também ser feitas n o texto, se forem essenc ia i s ; u m exemplo d i s to é o
l i v r o que es tão a le r , onde de v e z e m qu a n d o h á u ma r e f e renc ia
a ou t ro parágrafo.
d ) As notas servem para introduzir uma c i tação de re forço qu eno texto v i r i a p er turbar a l e i tu ra . O u seja, faz-se uma afirmação notexto e d epois , para n ão p erder o f io ao d i s curso , passa-se à a f i r m a ção segu inte , mas após a p r ime i ra remete -se para a nota e m qu e s emostra como u ma conhec ida au tor idade conf i rma a afirmação f e i t a 13 .
e ) As notas ssrvem para ampliar as a f i rmações que se f izeram
no texto1' nes ta med ida são úteis porque permi tem nã o sobrecar
regar o texto co m observações que . por importantes qu e se j am, são
acessórias r e la t i vamente a o l ema e se l i m i t a m a r epe t i r d e um ponto
de v i s ta d i f e rente aqu i lo que já se d i sse d e u m modo essen c ia l .
f) A s notas servem para corrigir as a f i rmações do texto: es ta i sseguros d o qu e a f i rmais mas , a o mesmo tempo, conscientes d e qu e
pode haver quem não esteja de a cordo, o u considerais qu e de um certo
'•' «Todas as afirmações importantes de factos que não são matéria dc conhecimento geral... Devem ser baseadas numa prova da sua validade. Isto pode ser feitonu texto, na nota de rodapé, ou em ambos» (Ca mpbell c Bailou, op. cir., p. 50).
" A s notas de vimteádii podem ser utilizadas para discutir ou ampliar pomosdo lexlo. Por exemplo. Campbell e Bailou iop. ei*., p. 50) recordam que c útil reme-ler para a.s nulas discussões técnicas, comentários casuais, corolários e informaçõesadicionais.
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ponto d e v i s ta , s e poder ia f aze r um a ob jecção à vossa afirmação.Será iãntão p rova n ão só de l ea ldade c i e nt i f i ca , mas também dc espír i to cr ítico inser i r uma nota parc ia lmente redut iva 15 .
g ) A s notas podam serv ir para fornecer a tr adução de uma cila-
cã o qu e e r a essenc ia l ap resentar em língua es t range i ra , ou a versãooriginal de controlo d e u ma c itação que. por exigênc ias de fluide/.
do d i scurso, e r a mais cômodo fazer em iradução.
h ) As notas servem para pagar as div idas. C i t a r u m li v r o de qu e
se t irou u m a frase é p a g a r u m a dív ida . C i t a r u m a u l o r d e qu e m se
util izou u ma idéia o u u ma informação é pagar uma dív ida . Po r vezes,
todavia, lambem é p rec i so pagar dív idas cu j a documentação não é
fácil, e pode s e r n o r m a de correcção científica adver t i r , p o r e xe m plo, e m n o t a , qu e u ma sér ie de idéias o r i g i n a i s q u e es tamos a expor
não t e r i a pod ido surg i r sem os estímulos r eceb idos d a l e i tu ra d a
obra t a l , ou da s conversas p ar t icu lares c o m o es tud ioso ta l .
E n q u a n t o as notas d o t ipo a , b e c são m a i s úteis em rodapé,as notas d o t ipo d e h podem também ir para o f im d o capítu lo oup a r a o f im da tese. especialmente se forem mui to longas . Toda v ia ,d i remos qu e u m a nota nunca dever ia se r excessivamente longa: deouiro modo n ào será u m a no t a . m a s um apêndice , e. como ta l , deveráser inscr i to e n u m e r a d o n o f im do t raba lho. D e qua lquer forma,é p rec i so s er coerente: ou todas a s notas em rodapé ou todas as notase m f im d c capítu lo, ou breves notas em pé-de-página e apêndicesn o f im do trabalho.
E r ecorde- sc mais u ma v e z qu e se s e es t i ve r a a n a l i s a r u m afonte homogênea, a obra d e u m s ó autor, as páginas d e um diár io,u ma colecção de manuscr i tos , car tas ou documentos , e t c . sc pode
rã o ev i t a r a s notas es tabe lecendo s imp lesmente no in íc io do traba-
" F-fcciiv;imente, depois de termos di to que c útil fazer a s notas, queremos precisar que, como também recordam C ampbell c Bailou top . cit.. P . 50). «o uso dasnotas com vista â elaboração do trabalho exige uma certa prudência. É necessárioter cuidado em não transferir para as notas informações importantes e sign ificativas: as idéias directamente relevantes e as informações essenciais devem aparecerno texto». Por nutro lado, como dizem os mesmos autores (iWtfem). «qualquer notaem rodapé deve justificar praticamente a sua existência». Nada mais irritante queas notas que aparecem inseridas sõ para fazer figura e que não dizem nada de importante para os fins do discurso cm questão.
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lh o abrev ia luras para a s fontes e inser ind o ent re parênteses no texto,
para qua lquer c i tação ou re fe rênc ia , uma s i g l a com o número da
página o u documento. Ve j a - se o parágrafo 1II.2.3. sobre as citações
de clássicos e s igam-se a s mesmas reg ras . Nu ma t ese sobre autores
med ieva is publ icados n a Patrologia Latina de M i g n e , evitar-sc-ão
cenlenas d e notas in t roduzindo n o texto parênteses deste t ipo: i P L .
3 0 , 2 3 1 ) . D e v e proceder-se d o mesmo modo para referencias a qu a
d ros , tabelas e f i guras n o texto ou em apêndice .
V . 4 . 2 . O sistema citaç.ão-nota
Cons ideremos agora o u s o d a nota como meio para a referên
ci a bibliográfica: se no texto se f a la r de um autor qua lquer ou s e s ecitarem passagens dele. a nota correspondente fornecerá a referênciabibliográfica a dequada. Es te s i s tema é m u i l o cômodo, pois s e a nolafo r em rodapé , o le i tor saberá imed ia tamente dc qu e obra se Irala.
Este método imp õe, porém, u ma duplicação: as obras citada s emnota deverão d epois encont rar - se na b ib liog ra f i a f ina l (excep luandocasos raros , c m qu e a nota c ita u m au tor qu e n ão t e m n a d a a ve rco m a b ib l iog ra f i a espec í fica d a tese, como, p or exemplo, se n u m atese d e as t ronomia qu isesse c i t a r « o A m o r qu e m o v e o s o l e a soutras es tre las » " ' : a nota bas ta r i a ) .
C o m efeito, não se pode d i ze r qu e s e a s obras c it adas aparece r e m já cm nota . não será necessária a b ib l iog ra f i a final: n a verdade,a b ib l iog ra f i a f ina l se rve para se te r um a panorâmica do mater ia lconsu l tado c para d ar in formações g lobais sobre a l i t e ra tura re ferente a o t ema. e se r i a dese legante pa ra c o m o l e i tor obrigá-lo a pro
cura r os textos página por página , nas notas.
Além d i s s o , a b ib l iog ra f i a f ina l fornece , re la t i vamente à nota ,
in formações mais comple tas . P o r e xe m p l o , a o c i t a r - se u m au torestrangeiro, pode dar-se e m nota apenas o título na língua o r i g i n a l ,enquanto a b ib l iog ra f i a c itará também a existência de uma t radução. P o r ou t ro lado, n a nota é cos tume c i t ar o autor pelo nome éapelido, enquanto na bibliografia e le v irá por ordem alfabética peloa p e l i d o e nome. Além d i sso, s e de u m a r t i go h ouver uma p r ime i raedição n u m a r e v i s t a e d epois u ma r e e d ição , mui to mais fácil dcencont rar num volume colec t ivo. a nota poderá c i t a r só a segunda
n Dante. r<ir. X X X I 1 1 . 145.
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edição, com a página do volume colect ivo, enquanto a b ib l iog ra f i adeverá c itar sobretudo a p r ime i ra e d i ç ão. U m a nota p o d e abrev iarcertos dados, el iminar o subtítulo, não d i z e r d e quantas páginas é ovolume, enquanto a b ib l iog ra f i a dever ia d a r estas informações.
N o Q u a d r o 1 0 apresentamos u m e x e m p l o de u ma págin a detese com várias notas em rodapé e no Q u a d r o 1 7 damos a s mesmasreferencias bibliográficas co mo aparecera n a b ib l iog ra f i a final, d emo d o a q u e s e possam notar as diferenças.
Desde já adv i r to qu e o texto proposto co mo ex emp lo fo i c on ceb ido a d h o t: d c m o d o a t e r mui tas referências de t ipo diferentee, por tanto, não me r esponsab i l i zo p e l o s e u va lor o u c l a r e za e o n -ceptual .
Adver t imos a inda que . p or razões de s i m p l i c i d a d e , a b ib l iog ra
fi a f o i l i m i t a d a a os dados essenciais, deseurando-se as exigênc iasde perfe ição e g loba l idade enunc iadas c m 111.2.3.
Aqu i l o q u e no Qu adr o 17 chamamos bibliogra f ia standard poderi a a s sumi r variadas formas; os autores poderiam estar em maiúsculas , o s l i v ros ass ina lados c o m AA V V p od e ri a m e st a r so b o nomedo organ i zador , e tc .
Vemos qu e a s notas sã o menos precisas d o qu e a b ib l iog ra f i a ,não se p reocupam e m c itar a p r ime i ra edição e dest inam-se apenasa i d ent i f i car o t ex to de qu e s e fala. reservando para a b ib l iog ra f i aas informações completas: fornecem o número das páginas só noscasos indispensáveis, não d i z e m d e quantas páginas é o volume quere f e rem nem se es tá t raduzido. Para i sso há a b ib l iog ra f i a f ina l .
1S6
Q U A D R O 16
E X E M P L O D F. U M A PÁGINA C O M O SISTEMACITAÇÃO-NOTA
Chomsky 1, embora admitindo o princípio d a semântica interpretai va dcKatz e Fodor-. segundo o qual o significado do enunciado c a soma dos si gnificados dos seus constituintes elementares, não renuncia, porém, a reivindicar em todos os casos o primado da estrutura sintácttea profunda comodeterminante do significado'.
A partir destas primeiras posições. Ctiomsky chegou a um a posição maisarticulada, prenunciada também nas suas primeiras obras através de discussões d e que dá conta no ensaio "Deep Stnicture, Sunace Structurc and
Semantic Interpretarion»'. colocando a interpreta ção semântica a meio caminho entre a estrutura profunda e a estrutura d e sup erfície. Outros autores,como, por exemplo. Lak ofF. tentam construir uma semântica generativa emque a forma lógico-semântica gera a própria estrutura sintáetica 6.
1 Para uma panorâmica satisfatória desta tendência, ver Nicolas Ruwet.Introdunian à la x rummai re généraiive. Paris. Ploi). 1967.
' Jemild 3. Kat2 e Jerry A. Fodor, «The Siruciure of a Semantic Thenry».fs/nguage 3 9. 1963.
1 Noam Chomsky. Aspecrs ofa Theory níSyniax. Cambridgc. Mass., M.I.T..1 9 6 5 . p. 162.
'N o volume Semamks. organizado por D. D . Steinberg e L, A . Jakobnviis.Cambridge, Cambridge Univcrsity Press, 1971.
" «On Generative Seniantics». i n A A W . Semwii ics. cit."N a mesma linha, ver também: James M cCawley. «Whcrc do noun nhra-
ses come fnini?". in AAV V, Semantic*, cit.
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Q U A D R O 17
E X E M P L O D E B I B L I O G R A F I A STANDARDCORRESPO.N DEN TE
A A W . Semant i cs : An Interdisciplinary Reai ier in Phi losophv. Linguislicsan d Psycho logy . organizado por Stcinberg, D. D. e Jakobovits, L.
A., Cambridge, Cambridge University Press. 1971, pp. X-604.Chonisky, Noam. Aspects ofit Tl ieory o/Syi i tax, Cambridge. Mass.. M.I.T.
Press, 1965, pp. X X - 2 5 2 (tr. i i . in Saggi Linguistici 2, Torino.Boringhicri. 1970).
» «De quelqucs constantes de Ia thêoric linguistique», Diogène 51.
1965 (ir. it. in AA W, /problemi aiitiali delia lingüística, Mi lano.
Bompiani. 1968).* «Deep Slruciure. Suifácc Slruclure and Scmanúc liuerpreiaiion».
in A A W , Smdi es in Or iental an d Ge ne r a l Unguisrics, organizadopor Jakobson, Rornan. Tóquio, THC Corporation for Language andEducaiional Research, 1970, pp. 52-91: agora in AA W . S emant i cs(v.). pp. 1S3-2I6.
Katz . Jerrold J . e Fodor. Jerry A. . «The Strucrure of a Semantic Tlieory»,
Language 39. 1963 (agora in A A W , The S t ruc ture of language .organizado por Ka tz . J . J . e Fodor. J . A.. Englewood Cliffs. Prentice-
-Hal l . 1964, pp. 479-518).
Lakoff. Cieorgc, «On G eneraiive Semantics». in A A W , Sem ant i cs ($.), pp.232-296.
McCawIey. James . «Where do noun phrases come from?». in A A W .
Semant i cs (v.). pp. 217-231.
Ruwet. Nicolas. Int rodu ct i im à Ia grammai re génératire. Paris. PInn, 1967.pp. 452.
Q u a i s sào os d e f e i tos des te s i s t ema? Ve jamos , por exemplo , a
nota 5. D i z - n o s que o a r t i go de L a k o f f está no vo lume de A A W ,
Semant i cs , c i t . Onde é que ele foi c i t ado? Por sor le na nota 4. R se
t i ve s se s ido c i t ado dez páginas atrás? R e p e l e - s e , por comodidade , a
citação? De ixa -s e que o le i tor vá ve r i fi ca r na b ibl i ogra f i a ? M as nesse
ca s o é ma i s cômodo o s i s t ema autor -da i a de que fa laremos a seguir .
V . 4 . 3 . O s is tema autor -dala
E m mui t as d i sc ip l ina s (c cada vez ma i s nos últimos t emp o s ) u s a -
-s e um s is tema que pe rmit e e l im ina r t odas as notas de referência
bibliográfica conse rvando apenas as de discussão e as r emiss i vas .
Es t e s i s l ema pressupõe que a b ib l i ogra f i a f i na l s e ja construída
p o n d o em evidência o n om e do autor e data de publicação da p r i
m e i r a edição do l i vro ou do a r t i go . A b ib l i ogra f i a , a s sume ass im,
um a das formas seguintes :
Corigliano. G iorgio1969 Marketing — St rategie e tecniche, M ilano. Etas Kompass. S.p.A.
<2. ed„ 1973. Etas Kompass Libri). pp. 304.
CORioi.iAXO. G iorgio
1969 Marketing Straiegie e lecniche. M ilan o. Elas Kompass. S.p.A.(2 . aed . . 197 3. Elas Kompass Libri), pp. 304.
Corigliano. Giorgio, 1969, Marketing — St raiegie c técniche, M ilano. fitas
Kompass, S.p.A. <2.a ed.. 1973, Elas Kompass Libri ), pp. 304.
ü que pe rmit e e s t a b ibl i ogra f i a ? Pe rmi t e , quando no t exto se tem
de fa lar d es te l ivro, proceder do s e gu in t e modo. ev i t ando a chamada ,
a no la e a citação em rodapé:
Na s investigações sobre os produtos existentes «as dimensões da amostra são
também função das exigências específicas da prova» (Corigliano, 1969: 73).
M as o mesmo Corigliano advertira de que a definição da área constitui umadefinição dc comodidade (1969 : 71).
O que faz o le i tor? Vai co n s u l t a r a bibl iog raf ia f inal e compre
e n d e que a indicação «(Cori gliano. 1969:73)» s i g n i f i ca «página 73
do l i vro Marketing etc. etc» .
Es t e s i s l ema pe rmi t e s imp l i f i ca r mui to o t exto e e l imina r o i t en t a
por cen lo das notas. Além d i s so , l e va -nos , ao r ed i g i r , a cop i a r os
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dados de um l i vro ( c dc mui tos l i vros , quando a b ib l i ogra f i a é muitog r a n d e ) u ma só vez .
E , pois , um s istema part icularmente recomendável quando s e t e mde ci tar constantemente muitos l ivros e o mesmo l i vro c o m muitafreqüência, evi tan do ass im fast idiosas pequenas notas à base d e ibi-dem, d c op. ar, , e tc . E mesmo um sistema indispensável quando s ef a z u ma r e senha ce r rada d a l i teratura re ferente a o t ema . C om e fe i to ,considere-se uma frase co mo esta :
o problema fui amplamente tratado por Siumpf (1945: 88-lQOí, Rigabue (1956).Azzimonti (1957), Foriimpopoli (1967). Colacicchi (1968). Poggibonsi (1972)e (Vbiniewsky (1975). enquanto é totalmente ignorado por Barbapedana (1950).Fugazza (1967 ) e Ingrassia (1970).
Se pa ra cad a uma des t as c itações se t ivesse dc pôr uma nota c o ma indicação da obra, ter-se-ia ench ido a pág in a dc uma mane i r a i n a
creditável e, além d i s so , o le i tor n a o t e r i a à v i s t a d e mo d o tã o e v i
dente a seqüência t empora l e o de senvo lv imen to d o interesse p e l o
problema em questão.
N o en tan to , este s is tema só f unciona e m certas condições :
a ) se se tratar d e uma bibl i ogra f i a mui to homogênea e espec ial izada, de que os prováve is leitores d o t rabalho es tão já ao corrente.
Se a r e senha a c ima t r anscr i ta s e referir, p o r exemplo , a o compor t a
mento sexual dos batráquios ( t ema mui to e spec i a l i zado ) , pr e sume--se qu e o le i tor saberá imediatamente que « Ingrass ia , 1970» s igni f ica
o volume A l im i tação de nasc imentos t ios batráquios ( o u p e l o menosconcluirá que se trata d e u m d o s estudos d e I n g r a s s i a do últ imoper íodo e , portanto, focado diversamen te dos j á conhecidos estudosdo mesmo autor nos anos 50). Se . p e l o contrário, fizerem, p or exem
plo , uma tese sobre a cu l tu ra i ta l ia na d a p r ime i r a me t ad e do século,em que se rão ci tados romancistas, poetas, políticos, filósofos e eco
nomis t as , o s is tema já não f unciona , po i s ninguém está habi tuado ar econhcee r u m l i vro pe l a da t a e , se a lguém for capaz d i s so n u mca m p o específico, não o será em todos;
b) se se tratar de uma bibl i ogra f i a moderna , ou p e l o menos dosúltimos dois s é c u los . N u m estudo d e filosofia g r e g a não é costume
ci t a r u m l i v r o de Ar is tóte les p e l o an o de p ubl icação (po r razõescompreens íve is ) ;
c) s e s e t ratar d e b ib l i ogra f i a científico-erudita: não é costume
escrever «Mor a v i a . 1929 » pa ra ind ica r Os indiferentes.
190
Se o i rabalho sat is f izer estas condições e cor r e sponde r a estes
l imi t e s , então o s is tema autor-data é aconselhável.
N o Q u a d r o 18 vê -se a mesma página do Q u a d r o 1 6 re formuladasegundo o no vo s is tema: e vemos, como p r ime i ro r e sul t ado , q u e e l af ica mais curta, apenas c o m u m a n o t a . e m v e z de s e i s . A b ib l i o
gra f i a cor r e sponden t e (Qua dro 19 ) é u m pouco mais extensa, ma stambém ma i s c l a ra . A sucessão das obras d e u m mesmo a utor sal taà vis ta (note -se que quand o duas obras d o mesmo au tor apa recem
no mesmo ano, é costume espe ci f icar a data acrescentand o-lhe le tras
por ordem alfabética) , as referências internas à própria b ib l i ogra f i asã o m a i s rápidas.
Repare -s e qu e nesta bibl iogra f ia foram a bol idos os A A V V , e os
l i vros co l ect i vos apa recem sob o nome d o o r gan i zador ( e f e c t i v a -mente « A A V V . 1 9 7 1 » n ã o s igni f icar ia nada. pois podia re fer ir -se amuitos l ivros ).
N o t e - s e também qu e , a lém d c se registarem a rt igos publ ica dos
nu m vo lume co l ect i vo , p or vezes pôs-se também na b ibl i ogra f i a s obo nome d o o r gan i zador o volume colect ivo d e onde f o ram extra ídos ; e outras vezes o vo lume co l ect i vo só é c i t ado n o ponto que sere fere a o a r t i go . A razão é s i m p l e s . U m vo lume co l ect i vo comoSte inbe rg & J a k o bo v it s , 1 9 7 1 . é c i t ado p o r s i porque mu ilos art igos
( C h o m s k y , 1 9 7 1 ; L a k o f f , 1 9 7 1 : M cC a w l e y . 197 1 ) s e r e l e r em a e l e .U m vo lume como Th e S tntcture of Language. o r gan i zado p o r K a t z
e F o d o r . é, p e l o contrário, c i t ado n o corpo d o pon to q u e d i z respe i to
ao a r t i go « T h e Structure o f a Semant i c T h e o r y » d o s mesmos auto
res, porque não há outros textos na b ibl i ogra f i a qu e se re f i ram a e le .
N o t e - s e . f inalmente, qu e este s is tema permite ve r imed ia t amente
quando um texto fo i publ i cado pe l a pr ime i r a v e z , embora este jamoshabi tuados a conhecê-los através de reedições sucess i vas . P o r este
mot ivo , o s is tema autor-data é útil nos estudos homogêneos sobreu ma d i s c i p l i n a específica, d a d o qu e ncs i e s d omínios é muitas vezesimportante saber quem pr imeiro apresentou u m a de t e rminada t eori a ou quem f o i o p r i m e i r o a f a z e r u m a dada pesqui sa empír ica .
H á u ma última ra zão pe la q u a l . se se pude r , é aconselhável o s is
tema autor-data. Suponha-se que se acabou e se dact i l ogra fou u m atese c o m muitas notas em rodapé , de ta l mo d o q u e . mesmo n ume-
rando-as por capítu lo, se chegava à nota 1 2 5 . Ape rcebemo-nos d esúbito de qu e no s esquecemos d e ci tar um autor importante, qu e nãopodíamos pe rmi t i r -nos i gnora r : e. além d i s so , que dev íamos tê - lo
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Q U A D R O 18
A M E S M A PÁGINA DO Q U A D R O 16 R K F O R M U L A D AC O M O SiSTfíM A A U TO R - D A TA
Chomsky (1965a: 162). embora admitindo o princípio da semântica interpretativa d c Katz e Fodor (Katz & Fodor. 1963), .segundo o qual o significado do enunciado c a soma dos sign ificados dos seus constituintes elementares, não renuncia, porem, a reivind icar em iodos o s casos o primadoda estrutura sinláctica profunda como determinante do significado'.A partir destas primeiras p osições, Chomsky chegou a u ma posição maisarticulada, prenunciada também nas suas primeiras obras (Ch omsky. 1965 a:163). através de discussões dc que dá conta in Chomsky. 1970, onde colocaa inlerprclação semântica a meio caminho entre a estrulura profunda e aestrutura d e sup erfície. Outros autores (por c\.. La koff. 1971) temam cons •Iniir uma semântica generativa em que a forma lógico-scmânüca do enunciado gera a própria estrutura simdeiica (ef. também McC awley. 1971).
192
Para uma panorâmica satisfatória desta tendência, ver Kuwct. 1967
Q U A D R O 19E X E M P L O D E B I B L I O G R A F IA C O R R E S P O N D E N T E
C O M O S ISTEMA AUTO R-D ATA
Chomsky, Noam
1965a Aspecls of a Theory of Synsax, C ambridgc. Mass.. M .I.T.Press, pp - X X - 2 5 2 <tr. i l . in Chomsky, ,V.. St/ggi Lin-guistici 2, Torino. Boringhieri. 1970).
1965b «D e quelques constantes de ia théorie linguistique»,Diogène 51 (Ir. i l . i n . A A V V . /problemi atrualidelia l ingüística, Milano, Bompiani, 1968).
1970 «Deep Structure. Surface Structure a n d SemanticInterpretation». in Jakobson. Roman. org. . S iudies inOriental an d Genera l Linguistics, Tóquio. TE C Cor poration fo r Language and E ducacional Research, pp. 52--91; agora ire Steinbcrg & Jakobovils, 1971, pp. 183-216.
Ka t z . Jcrrold J . & Fodor. Jerry A .1963 «The Structure o f a Semantic Theory», Language 3 9
(agora i n Ka t z . J . J . & Fodor. J . A .. T h e Structure of/jmguagr- , Englewood C liffs. Preutice-llall, 1964. pp. 479 --518).
Lakoff, George1971 «O n Generalive Semanlics". i n Sletnberg & Jakobovils,
1971, pp. 232-296.
McCawley, James
1971 «Whcrc do noun phrases come from?». in Slcinbcrg& Jakohovits, 1971, pp. 217-231 .
Ruw ei, NfCOlas1967 Introditction ò la g rammai re générative. Paris. Plon.
pp.452.
Stcinberg. D. D . & J akobovils, L . A . , orgs.1971 Semaniics : A n Interdisciplinary Reader in fhi losophy,
Linguistics and Psychology, Cambridgc. CambridgcUniversity Press. pp. X-604 .
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c i t a d o logo n o in íc io do capítu lo. Ser ia necessário inse r i r uma n ova
nota e mudar todos os números a té ao 1 2 5
C o m o s i s t ema autor -da ia nào há esse p rob lema: bas ta inser i r n otexto u m s imp les parêntese com nome e d a t a , e depois acrescentara referência à b ib l iog ra f i a g e ra l (a t inta o u apenas vol tando a escreve r [passar ] u m a página ) .
M a s não é necessário chegar à tese já dact i lografada: acrescentarnotas mesmo durante a redacção põe espinhosos problemas d c renume-ração. enquanto c om o s istema autor-data não haverá aborrecimentos.
Embora e le se d es t ine a teses b ib l iog ra f icamenie mui to homogêneas , a b ib l iog ra f i a f ina l p o d e também r ecorre r a múltiplas abreviaturas n o qu e r espe i t a a r ev i s tas , manua is o u actas.
Ve j amos dois exemplos d e duas b ib l iog ra f i as , uma de c iênc ias
naturais e outra d e m e d i c i n a :
Mcsnil. F. 18%. Éiutles d e motpho iog ie ex ierne. rhr.z le s Annélides. B u l i . Sei.Franee B elg. 29: 110-237.
Adlcr. P . I95H. Studies o n the Empiion of Itíé Permanent Teerh . Acta ( ienet.et Statist. Meti;. 8: 78 : 94.
N ã o m e p erguntem o qu e isto quer dizer. Parte-se do pr inc ípiode qu e quem lê este t ipo de pu blicações já o sabe.
V . 5 . Adv e r tê n c i a s , r a t oe i r a s , c os t u m e s
São inúmeros os artifíc ios que se u s a m n u m t raba lho c ientíficoe inúmeras são as ra toe i ras e m qu e s e pode ca i r . Dent ro d os l i m i
tes deste breve es tudo, fornecemos apenas , numa ordem d ispersa ,
u ma sér ie de advertências que não esgotam o «mar dos Sargaços»qu e é necessário a t ravessar n a r e da cç ão de u ma tese. E stas brevesadvertências servirão tâo-só para tornar o le i tor consciente d e u m aquant idade d e outros perigos qu e lera de d escobr i r po r s i própr io.
Não indicar referências e fontes para noções de conhecimentogeral. N ào passar ia pe la cabeça de n inguém escrever «N a po le ãoque, como d isse Ludwig , morreu e m Santa H e lena» mas . f reqüentemente, cometem-se ingenuidades deste gênero. É fácil d i z e r « osteares mecânicos que . como d isse Ma rx. ass ina laram o advento d a
194
revolução indu str ia l », qu a n d o s e t ra ta d e u ma noção un iversa lmente
aceite, mesmo antes d e M a r x .
Não atribuir a um auto r um a idé ia que e le apresenta como idé iade ou trem. N ão s ó porque fariam f igura d c quem se se rv iu inconsc i entemente d e u m a fonte d e segunda m ão. mas também porqueaque le au tor pode ter referido essa idéia s em p o r isso a aceitar. N u mp e qu e n o m a n u a l qu e escre vi sobre o s igno, referi entre as váriasclassificações possíveis, aquela qu e d i v i d e o s s i gnos c m express ivose c om u n i c a t i v os , e nu m exerc íc io un ivers i tár io encont re i escr i to« s e gu n do E c o , o s s i gnos d iv idem-se e m express ivos e c om u n i c a t i v o s » , quando eu sempre recusei esta subdivisão por demas iado g ros se i r a : c i t e i - a p or u m a questão de ob j ec t iv idade mas não a adop te i .
Não acrescentar ou eliminar notas só para acertar a numera
ção. Po d e acontecer que, na tese passada à máquina (ou mesmo s im
p lesmente red ig ida d e u m a forma legíve l p a r a a dac t i lógra fa ) , se
t enha d e e l im ina r uma nota qu e s e ve r i f i cou es tar er rada o u d e ac res
centar out ra a todo o cus to. N e s t e caso. toda a numeração f i car i a
e r rada , m a s tanto melh or se se numerou capítulo por capítulo e não
desde o pr inc ípio a té ao f i m da t ese ( u m a c o i s a é corr i g i r d e u m a
d ez e ou t ra d e u m a cento e c inqüenta ) . Poderia ser-se tentado, para
ev i tar muda r todos os números, a inser i r uma nota pa ra encher , o u
e l i m i n a r ou t r a . É h u m a n o . M a s nestes casos é m e l h or i n t r od u z i r
s ina i s ad ic iona is como w . +. + +. e a s s i m p o r d i a n t e . E certo qu e
i s to te m aspec to prov isór io e p o d e d esag radar a o orienta dor, p elo
que, n a med ida do possível, é me lhor acer tar a nu meração.
Há um método para citar de fontes d e segunda mão, obsenwidoas reg ras de correcção científica. É sempre melhor n ão c i t a r de f on
te s d c s e g u n d a rnão, mas po r vezes não se p o d e ev i iã- lo. Há quemaconse lhe dois s i s t emas. Suponhamos qu e Sedane l l i c i ta d e Smi tha a f i rmação de qu e «a l i n g u a g e m d a s abe lhas é traduzível em termo s de gramática i r ans formac iona l» . P r ime i ro caso: in te ressa-nosacentuar o facto d e Sedane l l i a s sumi r e le própr io a r esponsab i l idadedes ta afirmação; d i remos então em nota , co m u ma fórmula poucoelegante:
1. C . Sedan elli. // l ingitaggio delle api . Milano. Gastaldi. 1967. p. 45 (refere
C- Smiih, Çhomsky an d Bees , Chauan ooga. Vallcchiant Press. 1966. p. 56) .
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Segundo caso: in te ressa-nos focar o fa e to de a a f i rmação ser de
Smilta e só c i t a rmos Sedane l l i para f i carmos de consciência t ran
qüila, d a d o qu e estamos a u t i l i z ar uma fonte d e segunda mão: escre
veremos então em nota :
1. C. Smiih. Chomsky w u i Bees , Challanooga. V allcchiara Press. 1966. p . 56(citado por Sedan elli. // linguiiggio delle api, M i lano. Gastaldi. 1967, p. 45}.
Da r sempre informações precisas sobre as edições cr íticas, recen-sões e similares. P rec i sar sc uma edição é edição cr ít ica e o r g a n i z a d a p o r quem. Prec isar se uma segunda edição ou ou t ra é r ev i s ta ,
ampl i ada e corr i g ida , pois d e outro modo pode acontecer qu e s e a t r i
bu a m a u m autor opin iões que e le expressou na edição revista e m
1 9 7 0 d e uma obra escr i t a e m 1940 como s e e le a s t ivesse expressoem 1 940, quando p rovave lmente de te rminadas descober tas a indan ão t inham sido feitas.
Atenção quando se cita um auto r antigo d e fontes estrangeiras.Culturas d iversas dão nomes diferentes à mesma personagem. O s franceses di/.cm Pierre d^spagne enquanto nós não di/.emos Pedro d eE s p a n h a m a s Pe d r o H i s p a n o . D i z e m Sc o t Er igòne c nós d i zemosEscoto Er ígeno. Sc se encont rar em inglês N i c h o l a s o f C u c s , trala-sed e N i c o l a u d e C u s a ( ta l como saberão com certeza re conhecer p ersonagens como Petrarque. Pctrarch, M i c h e l A n g e , V i n c i o u B occace ) .Robert Grosseteste 6 entre n ós Roberto Grosseteste e A lber t L e G r a n d
ou A lber t th e G r e a t sã o A l b e r t o M a g n o . U m m is te r ioso Aqu inas éSão Tomás de Aquino. Aquele que para os ingleses e alemães é Anse lmde (of, vòn) C a n t e r b u ry é o nosso Anse lmo d e Aos t a . N ã o falem dedois p intores a propós ito de Rogcr van d e r W e y d e n e d e Rog ie r d e l aPasiurc, pois são u ma e a mesma pessoa. E . na tura lmente . G iove éJúpiter. Também é p rec i so atenção quando s e transcrevem nomes rus
sos d e uma fonte francesa antiquada: não haverá problemas n o casode Estaüne ou l-énine. ma s terão vontade de cop iar Ouspensky quandoactualmente se t rans l i te ra Uspen sk i j . O mesmo sc pode d izer para asc idades : D e n H a a g , T h e H a g u e e L a H a y e são H a i a .
Como fazer para saber es tas coisas , que são centenas e centen a s ? Lendo sobre o mesmo tema vários textos em várias línguas.Paz.endo parte d o c lube . T a l como qua lquer adolescente sabe qu eSatchmo é Lou is Armsrrong e qualquer le i tor de jornais sabe q u e Forte-bracc io é M a r i o M e l l o n i . Q u e m nã o sabe estas coisas fa z f i gura de
196
novato e d e p r ov i n c i a n o ; n o caso d c uma tese. ( c omo aque la e m qu e
o c a n d i d a t o , após te r folheado uma fonte secundária qua lquer , ana
l isava as relações ent re Arouct e Vol ta i re ) . e m v e z de « p r ov in c i a n o »
chama-se « i gn or a n te » .
Decidir como fo rmar os ad jectivos a partir dos nomes p rópr iosestrangeiros. Se escreverem «volta ir iano» te rão l ambem d e escre
ve r « r imb a u d ia n o » . Sc escreverem « v o l t e r i a n o » , escrevam então,
« r imb od ia n o » ( ma s o segundo uso é a rca ico) . Sã o consent idas s im
plificações como « n i t z i a n o » , para n ão escrever «n ie tzscheano» .
Atenção aos números nos livros ingleses. Se num l iv ro amer i
c a n o está escr i to 2 ,625 , i sso s i gn i f i ca dois m i l seiscentos e v in te e
c i n co , enquanto 2 . 25 s i gn i f i ca d ois vírgula v in te e c inco.
Os italianos escrevem sempre Cinquecenlo, Se ttecento ouNovecento e não século XVI, xvm ou XX . M a s se n u m l i v r o francêsou inglês aparece «Quattrocento» em i t a l i ano, i sso re fere-se a u mper íodo p rec i so d a cultura italiana e g e ra lmente f lorent ina . Nad a d eestabelecer equivalências fáceis entre termos de l ínguas d i ferentes.A « r ena issance» e m inglês cobre u m pe r íodo d i ferente d o r e n a s c i mento i t a l i an o, inc lu indo também au tores do século xv n . T e r m oscomo «ma n n e r i s mo» ou «Ma n i e r i s mu s » s ão enganadores , c não sereferem àqu i lo que a h is tór ia da a r te i t a l i ana chama «manicr ismo».
Agradecimentos — Sc alguém, além do orientador, v os ajudou, com
conselhos orais, empréstimo de l ivros raros ou co m apoio d e qualquer
outro gênero, é costume inserir no f im ou no in ício da tese uma nota
de agradecimento. Isto serve também para mostrar que o autor d a tese
se deu a o trabalho d e consultar d iversas pessoas, o d e ma u gosto ag ra
decer a o orientador. Se vos ajudou, não fez mais qu e o seu dever.Poderia ocorrer-vos agradecer ou declarar a vossa dívida para com
u m estudioso que o vosso orientador odeia, abomin a e d espreza . Graveincidente a c a dê mic o. M a s seria p o r vossa cu lpa . O u têm conf iançano orientador e se e le d i sse q u e tal estudioso é u m imbec i l , nào d eve riam consultá-lo. ou o orientador é uma pessoa aberta e aceita que oseu a luno recorra também a fontes dc que e le d i scorda e, neste caso,j amais fará deste fa eto matéria d e discussão, quando da defesa d a tese.O u então o or i entador é u m ve lho man dar im irascível, inve joso edogmático e não deviam fazer a tese c o m u m indiv íduo deste gênero.
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M a s s c qu i s e r e m fazê-la mesmo c om e l e porque , apesar d os seusdefeitos, lhes parece u m b o m protector. então sejam coerentementedesonestos e não c i t em o outro, pois terão escolh ido se r da raça dovosso mestre.
V.6 . O o r g u l h o c ient í f ico
E m IV .2 .4 . fa lámos d a h u m i l d a d e c ient íf ica , que d iz r espe i to a o
método de p esqu isa c le i tura d e textos. Agora falamos d o orgu lho
c ient í f ico, que di z r espe i to à coragem da r edacção.
N ão h á nada mais i r r i t ante d o q u e aque las t eses ( e po r vezes
acontece o mesmo c o m l i v ros publ icados ) e m qu e o au tor ap resenta
constantemente excusaliones no n pel i tae.
Nào sumos qualificados para abordar um tal assunto, todavia, queremos avan-çar a hipótese de...
O que é isso de nào ser qua l i f i cado? Ded ica ram meses e talvezanos a o l ema escolh ido, p resumive lmente l e ram tudo o que h a v i a aler sobre isso. pensaram nele, tomaram apontamentos, c agora apercebem-se dc que não süo qua l i f i cados? M a s o q u e é q u e f izeramdurante todo este t empo? Se não se sent i am qual i f i cados , nã o apresentassem a lese. Se a ap resentaram, é porque se sent i am preparado s e. seja como for. não têm d i re i lo a atenuantes. Portanto, u m avez expostas as opin iões dos outros, u m a ve z expressas as d i f icu l
dades , u m a v ez esc larec ido se sobre u m dado t ema são possíveisrespos tas a l t e rnat ivas , lancem-se para a frente. D i g a m , tranqüilamente: « pe n s a mos qu e » ou « pode cons iderar - se q u e » . N o momentoem que estão a falar, são o espec ia l i s ta . Se s e d escobr i r que sãou m f a l so espec ia l i s ta , t anto p ior para voe is , mas não têm o d ireitode hesitar. Vocês são o representante d a humanidade qu e f a la c m
nome d a colect ividad c sobre um determinado assu nto. Sejam modestos e prudentes antes d e abr i r a boca . mas , quando a abrirem, sejamarrogantes e orgu lhosos .
Fazer uma t ese sobre o t ema X s i gn i f i ca p resumir que até entãoninguém t ivesse dito nada de tão comple to n e m de tão claro sobreo assunto. Todo este l i v r o vo s ens inou a serem cautelosos n a esco
lh a d o t ema. a se rem su f ic i entemente persp icazes para o escolhermui to l im i tado, t a lvez mu i to fácil, t a lvez ignóbi l monte sector ial.M a s sobre aquele qu e escolheram, nem q u e l enha p or líiulo ariações
19S
na venda de jornais d iár ios no quiosque d a esquina d a V ia Pisacane
com a Via Gustavo Modena de 24 a 28 de Agosto d e 1976. sobre
esse d evem s er a máx ima autor idade v iva.
R mesmo qu e t enham escolh ido u m a tese de compilação que
resume tudo o que fo i d ito sobre o t ema s e m ac rescentar na da d e
novo. serão uma autoridade sobre a quilo qu e fo i d i to p or outras auto
ridades. N inguém deve saber melhor que vocês tudo aqu i lo que fo i
d i i o sobre esse assunto.
Ev identemente , deverão te r t raba lhado de modo a ficarem c o m
a consciência tranqüila. M a s isso é ou t ra coisa . Aqu i es tamos a falar
de questões de es t i lo . N ã o se j am lamechas ne m embaraçados , por
que isso aborrece.
1 9 9
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Atenção: o capítulo se guinte não foi composto e m tipografia,m a s escr ito à máquina. Se rve para vos mostra r um mode lo de r edaccão definitiva da te se . H á ainda e r ros e correcções, po is nem eune m vocês somos perfeitos.
A r edaccão definitiva compor ta do is momentos: a r edaccão finale passar à máqu ina .
Aparen temente , a r edaccão f ina i é uma tarefa que vos cabe e umproblema conceptual, enqua nto a cópia diz respe ito à da cti lógrafae é uma tarefa manua l . Mas não é bem assim. Da r forma dacti lo-
grafada a uma t e se significa também algumas opções de método.S e a da cti lógrafa as faz em vosso lugar, seguindo os seus cr itér ios,isso não imped e que a vossa tese tenha um método gráfico-exposi-iivo que decor re também do seu conteúdo. Mas se , como é de espe ra r , estas escolhas forem feitas por vocês, seja qua l for o t ipo deexposição adaptado (à mão, ã máqu ina só com um dedo ou — hor
ror — para o gravador) e la deve já conter às instruções gráficaspara a dacti lógrafa.
Eis porque neste capítulo encontra rão instruções gráficas queimplicam quer uma ordem conceptua l quer um «cunho comun ica -tivo» da vossa tese.
Até porque não af i rmamos que se deva necessariamente en tregara tese a um a dact ilógra fa . Poderão se r vocês a passá- la , sobre tudose se t ratar de um t rabalho que exija convenções gráficas pa rticulares. Além d isso, p ode ainda dar-se o caso de poderem passá- lauma primeira vez, deixando apenas à da cti lógrafa o t rabalho d e afazer com perfeição e asseio.
O problema é se sabem ou se conseguem ap render a escrever àmáqu ina : d e r esto, uma máqu ina por tát il pouco mais custa do quepagar o t rabalho a uma d act i lóg ra fa .
201
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V I . A REDACÇÃO DEFXKXTIVA
V I . 1 . Cr i tér ios grá f i cos
VI.1.1. Margens « espaços
Este c apítulo in ic ia -s e coa o tít ul o, em MAIÚSCULAS, alinh ado à esquerda
(nas poderia também ser centrado a meio da página). 0 capítulo leva um núms
ro de ordem, neste caso eo números romanos (veremos depois as alternativas
p o s s í vç i » ) .
Seguidamente, deixando três ou quatro linhas ea branco, aparece alinhado
i esquerda, s ublinhado , o títu lo do parágraf o, que tem o número ordin al do
capítulo • o número ca rdin al que o di fe renc ia. Vea depois o tí tulo do sub?a
r i g r s fo , duas lin has abaixo (ou a dois espaços): o título do subparigrafo
não é sublinhado, para o dis tin guir do do parágrafo. 0 texto ccoeça três l i
nbas abaixo do t i t u l o , e a primeira palavra do parágrafo e rec olhida dc dois
espaços. Podo dec id ir- se proceder assin . apenas quando se abre parágrafo, co
mo estamos a fazer a qui .
Este rec olhim ento quando se abre parágrafo í importan te porque permite co^
preender imediatamente que o parágrafo ant erio r terminou e que o dis cur so í
retomado depois de uaa pausa. Coco já vimos, í conveniente faz er parágrafo
com freqüênc ia, mas não se deve fazê-l o ao acaso. Do parágrafo si gn if ic a que
um período contínuo, composto de várias fra se s, chegou organicasen te ao seu
termo e que se i n i c i a uma outra parte do discurso. E como se estivéssemos a
fa la r e nos interrompêssemos a dada altu ra para dii or:"E stã o a compreender?
Dc acordo? Boa, entao pro3s igaa os." Ema vez que todos estão de acordo, fa *-
-s e pará grafo e prosse gue-s e, exactamente como estamos a fa2er agora .
Terminado o parágrafo, deixar-sc-ão entre o fia do texto e o título do no
vo parágrafo ou aubparSgrafo outras três linhas (três espaços).
202
Esta página está d aeti lografada a tinis espaços. H uitas teses sao a tres tfs_
-os, pois assim ficam mais leg íveis • s ais volumosas, sendo ao mesmo tempo
s f ác i l sub sti tuir uma página a refaxer. Ko caso de escr ita a trás espa
ços, a dis tan cia entre título d* capítulo, título de parágrafo c outros títu
tos eventuais, aumenta uma l inha.
Se a tese for passada por uma dac tilÕg rafa. ela sabe quais as margens que
í necessá rio deixar dos quatro lados . Se forem vocês a pas sá -la, pensem que
as páginas irão ser encadernadas de qualquer maneira c que terão de permane
ce r l eg ív ei s do lado em que forem cola das . Recomenda-se também que se deixe
um cerco espaço ã d i r e i t a .
Este capítulo s obre crité rio s grá fic os , como certamente já percebera^, nao
está ea caracteres t ipog ráfi cos , reproduzindo nas suas paginas, dentro do
formato desce l i v r o , as páginas dacti log rafadas dc uma tese. T rata -sc , por
tanto, dc un capítulo que, enquanto fala da vossa tes e, fa la também de s i
próprio. Sublinham-se aqui certos termos para existrar cooo e quando eles de
vem ser sub linhad os, 'inserem-se notas para cost rs r como elas deven ser ins e
r idas , subdividea-se capítulos e parágrafos para nostrar o critério di subdi_
visão de cap ítulos , parágrafos e subparagrafos.
VI .1 . 2. Sublinhados e maiúsculas
A máquina de escrever não possui o caracter itálico, mas apenas o redondo.
Por este motivo, aqui lo que nos l ivros está ea i t i l i c o , numa tese l i c e n -
iatura deve ser sublinhado. Se a tese fosse ua trabalho dactilograíado pira
pub l i car , o tipograf o comporia en itá li co todas as palavras sublinhada ».
0 que se sublinha? Depende do tipo de tese, mas, ea geral, oe c r i t e r i o *
os seguintes:
pal avr a* est rang eira s dc uso pouco comum (não se sublinV.am as que J a es
tão aportuguesadas ou sao d« uso c orr ent e: bar, s port , mas taabea boom ou
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crack; numa tese «ob re astr onáuti ca, já nio sc s ublinham termos corrantcs
nesse domínio, coao aplash dovn);
b) BOMI cien tífic o coao fe li s catus, cuglena vir id ís . c lc rus apivorus;
c) termos téc nicos que se queiram acentuar: "o método dc carrotaeera nos pro
cessas de prospecção petrolífera. . . " ;
d) frases inteiras (desde que não sejas demasiado longas) que con stituas o
enunciado de uma tese ou a sua demonstração conclusiva: "queremos portão
to demonstrar que se processaram profundas rsodífiçaçõss na definição de
'doença menta l 1* 1;
e ) títulos de l ivro s (não os títulos dos capítulos ou dos ensaios de revis
tas) ;
f) títulos de poesias, obras teatra is, quadros c esculturas : "Lúcia Vaina-
-Pusca ref ere-s e a Knoyledftc and SeUe f da Hintifcka para demonstrar, no
«eu ensaio 'La theorie des mondes possibles dons 1'etudc des textes - Bav
d c l a i r e lecteur de Brueghel', que a poesia Les aveugles de Baudclaire sc
i nspi ra na Parábola dos Cegos de Brueghel";
g) t ítul os de diários e semanários: "ver o artig o "E depois das eleiçõ es? ",
publicado no L'Eipresso de 24 de Junho dc 1976";
h) títulos de fi lmes, canções e Óperas líricas.
Atenção: nao sublinhar as citacoftS de outros autores, aos quais se aplicai:
as regras enunciadas ço V. 3. ; ntm sublinhar trechos superiores a duas ou três
l i nha s : sublinh ar demasiado acaba por ret ir ar toda a eficác ia a este meio.
Dn sublinhado deve sempre corresponder a entoação especial que se daria ã
vo z se se lesse o toxto, deve atr ai r a atenção do destinatá rio cesmo que, por
acaso, este sc tivesse distraído.
Em cultos l iv ros , a par dos itálic os (isto S, dos sublinhados) uti l iza-se
também o ve rs al et c que ê uma maiúscula de corpo menor do que a ut il iz ad a HO
i n i c i o das fras es ou nomes próp rios . Como a maquina de es crever não tem este
2 0 4
caracter , podeis usa r*se (com muita pnrcimõnial) a maiúscula em palavras
isoladas de parti cul ar importância técnic a. Keste caso, es crever-se-ão ca
MIÜSCULAS as palavras-c have do trabalho c snblin har-se-ão as fras es, as pa
lavras estrangeiras ou os títulos. Vejamos um exemplo:
H jelmslev chama FUNÇÃO SÍGNIC& ã cor relaç ão es tab elec id a entte
os dois ÊinmvOS pertencentes aos dois planos, quanto ao resto
independentes, da EXPBESSÀ0 e do C0NTEÜD0. Esta definição pÕe
etn causa a noção de signo como entidade autônoma.
É cl aro que cada vez que se intro duzi r um temo técnico em versa lete (aai
i s to ap li ca -s c também no caso de se usar o método do sublinh ado), o termo
introduzido em ver sa let e deve s er de fin id o ou imediatamente antes ou imçdia,
tagente a seguir. Seo u t i l i z c a os versaletes por razões enfáticas ( aquilo
que descobrimos parece-nos DECISIVO para os f in s do nosso dis cu rs o") . De uma
maneira ge ra l, nao enfa tizem de modo nenhum, não usem pontos de exclamação
ou reticências (a não ser para indi car a interrupção de un texto citad o).
Pontos de exclamação, reticênc ias c m aiúsculas util iz ad os eo termos não tec
nícos são próprios dos escr itor es di leta nte s e sÕ aparecem em edições do
autor.
VI .1 .3 . Parágrafos
Um parágrafo pode ter subparágrafos, coso neste cap ítulo. Se o título do
parágrafo estiver sublinhado, o título do subparájrafo di ferenciar-se-á pornão o est ar, e iss o será o suf icie nte, mesmo que a dis tanc ia entre título o
texto sej a sempre a mesma. Por outro la do, como se pode ve r, para di st in gu ir
o parágra fo do subparãgrafo intervém a numeração. 0 le it or compreende muito
bem que o número romano indica o capítulo, o primeiro número árabe ind i ca o
parágrafo e o segundo o sub parãgrafo.
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IV . 1 . 1 . Parãp.rafos - R epete-se aq ui o títul o do subparãgrafo pata mostrar un
outro sistem a: o título faz parte do corpo do parágrafo e c sublinha do. Estç
aistcma ê perfeitamente possível, mas impede-vos de u t i l i z a r o mesmo a r t i f i
c io pata uaa ul te ri or s ubdivisão dos subparãgrafos, o que por vezes ter. a
sua util ida de veremos oeste mesmo ca pítu lo).
Poderia usar -se um si ste aa de numeração sem títu lo s. Vejamos uaa maneira
como o subparágrafo que estão a ler poderia ter sido introduzido:
XV.1.1,. 0 texto teria começado imediatamente a seguir eos números e toda a
l inha ficaria separada por duas l inhas do parágrafo anterior. Todavia, a pre
sença de títu los nao só ajuda o l ei to r, mas poo una exigência de cocrcnci*
ao auto r, porque o obriga a de fi ni r com um t i tu lo ( e , portanto , a ju st i f i car
com a relevância de uaa questão essenci al) o parágrafo ea causa. 0 títu lo
mostra que o parágrafo t inha uaa razão de ser enquanto parágrafo.
Com títulos ou sea e les , os números que assinalam os capítulos e paragrs-
fos podea ser de catureza div ers a. Remetemo-los ao parágrafo V I. 4. , "0 Índi
co"» onde encontrarão alguns modelos de numeração. Semetemo-los para o índi
ce porque a organização do índice dtve ref le ct ir com exactidão a o rgani ra;i»
do texto c vice-versa.
VI.1 .4. Aspas e outros sinais
As aspas uti l izam-se nos seguintes casos:
a) citação de frase ou curto período de outro autor no corpo do parágrafo,
como faremos a gora, recordando que, segundo Campbell e Ba il ou, "a s e i t i "
ções di recta s que não ultrapassarem as três linh as dactilo grafadas são *£
cerradas entre aspas c aparecem no texto"*;
1. tf.C. Campbell e S.V. Bai lou, Form and Style - Theses, Rgports. Tem
pers. 4 a ed., Boston, Koughton M i l f l i n , 1974, p.40.
20A
) c itações de palavra s iso lada s de outros autor es, como estamos a fazer ago
r a ao recordar que segundo oa citados Campbell e Bailou, as nossas aspas
chamam-se "quo tati on marks" (mas como se t rat a de um termo estra nge iro po
deremos também escrever "quota tion ma rks"). Evidentemente, sc ac eit ar
mos a terminolo gia dos nossos autores e adoptaraos es te termo técn ico, já
não escreveremos "quot atio n m arks", mas quota tion m arks, ou mesmo, num
tratado sobre os costumes tipográficos anglo-saxónicos, QUOTATION MARKS
(dado que se tra ta aqui de um termo técnico que const i tu i uma das cat ego
rias do nosso estudo);
) termos de uso comum ou de outros autores a quem queiramos a tr ib ui r a cono
taçao de "assi m chamado". Ou seja, escreveremos que aquil o que a es téti ca
i d ea l i s t a chamava "poesia" nao tinha a mesma extensão que o termo técnico
POESIA assume no catalogo de uma casa editora, enquanto oposto a TROSA
e EKSAlSTICA. Da mesma maneira diremos que a noção bjelm slevían a, dc FUNÇÃO
SlCSICA pÕe ea causa a noção corrente de "signo". Não aconselhamos a usar
aspss para dar ênfase a um termo, como alguns pretendem, porque nesse c a
so recorre-se ao sublinhado ou às aspas 'simples*.
> citações dc falas dc obras dc teatro. £ certo que se pode dizer que Hamlet
pronuncia a fala "Ser ou não ser? Eis a questão"» aas eu aconselharia, ao
transcrever um trecho teat ra l, a dis po-lo do seguinte sodo:
Hamlet - Ser ou não sar? Eis a questão,
a menos que a li ter atu ra c ríti ca específic a a que se recorre nao use t r a
dicionalmente outros sistemas.
Coco fazer para c i t a r , num texto aib eio entre aspas , om outro texto coe as
s? Usam-se as aspas sim ples, como quando se d iz que, segundo Smith, " » ce -
re fal a 'ser ou nao ser' constituiu o cavalo de batalha de todos os intír
tes shakespeareonos".
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E se Saith disse que Brovn disse que Kolfrso disse usa coisa? Ha quem resol^
va este problema escrevendo que segundo a conhecida afirmação de Smith "todo*
aqueles que se referem a Brown quando afirma 'refutar o princípio de Volfraa
para quem^co ser e o nao ser coincidem^', incorrem num erro inj ust ifi cá vel. "
Mas se formos ver V . 3 . 1 . (regra 8), verificamos que, se a citação de Smith
for colocada em corpo menor rec olhi do, consegue-se evi tar uma aposição de as
pas, podendo-nos assim l imitar a usar aspas simples c duplas.
Todavia, no exemplo an ter io r encontrámos também as aspas chamadas <Jera angu
\c& ou de sargento ou ital ian as . Sao util izad as bastante raramente, até p or
que nao as há nas máquinas dc es crever. Num texto meu enc ortr ei-c e, todavi a,
na necessidade de as u t i l i z a r , pois tendo empregado as aspas dupl as para as
citações curtas e para as conotações de "assim chamado", tinha de di ferenciar
o uso de um termo enquanto significante (pondo-o /entre barras/) e o uso de
um termo enquanto<Stitn£fiçado*. Disse assim que a palavra /cão/ si gn if ic a
«ar.imal carnívoro quadrúpede e t c ^ . Tr ata-s e de casos raros em que se deva to
mar uma decisão de acordo com a liter atur a crít ica a que se rec orre, uti li za o
do depois a caneta de feltro para corrigir a tesa jí dactilografada, tal cooo
f iz nesta pagina.
Temas específ icos exigem outros s in ai s, nao cc podendo dar instruções de cr
dem geral. Para certas teses de lógica, de matemática ou de línguas não euro
péias , se não se tem uma dessas maquinas elêc triea s com alfabeto de esfera ms_
gnética (onde se pode in se ri r a es fera cem um dado alfabeto) só nos resta es
crever ã mão, o que indubitavelmente i mais c ans ativ o. Nos ca sos, porém, em
que se tem de esc rever uma formula (ou uma pal avr a grega ou russa) una tgntur..
além de escrevê-la ã mão, existe ainda uma outra poss ibil idad e: no caso dos
alfabetos grego ou ci ríl ic o, pode-se trans iicerã -la segundo crité rios interna
cionais (ver quadro 20), enquanto no caso da fórmula lõgico-matemática exi s
tem freqüentemente grafimas alter nati vos que a máquina pode pr oduz ir. Deverão.
2 0 8
evidentemente, informar-se junto do ori entad or se podem efectuar esta s sub st itu i
ções, ou consultar a li ter at ura cobre o tema, mas vejamos, para dar um exem
p l o , uma sé rie de expressões lógi cas (à esquerda), que podem ser tra ns cri tas
cora menos esforço na forma da d i re i ta :
P 3 1 p as sa a p — q
P A q • p . q
p V q p y_ q
D ? •
O Pa y?
*>P «i •p(Vx ) •i (ÀX)
(3 x) ii (Ex)
As primeiras cinco substituiç ões seriam também aceitáveis para imprimir; as
ultimas três são aceitáveis no âmbito de uma tese dactilog rafad a, fazendo-as
talvez anteceder de uma nota i n i c i a l que jus tif ique e torne explícita a vossa
decisão.
Poderá haver problemas semelhantes com teses de l ing üís tic a once um for.era
pode s er representado como £hj , mas também como / b/.
SoutroS tip os de formalizaçã o, sistemas de parênteses podem ser reduzidos a
seqüências de parênteses curvos, pelo que a expressão
{[ (p s q) A (q m> x)J=> Cp 3 r) | pode tornar-se
< « p — » q ) . ( q — » r ) ) — * ( p — » r ) )Do mesmo modo, quem faz uma tese de l ing üís tic a tranaformacional sabe que
as disjunçõ es em arvore podem ser e tique tada s com parêntese s. Mas quem empreen
de trabalhos do gênero já sabe estas coisas.
VI,1 ,5. Sinais diacríticos e translitctações
Trans l i terar si gni fic a transcrever um texto adoptando ua sistema alfab ético
2 0 9
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diferente do orig in ei. A trans literaçao nao ter: o objectiv o de dar uma inte r
pretação f onítica dc um texto, nas sim dc reproduzir o ori gi na l let ra por le_
tr a de modo a que seja poss ível a qualquer pessoa r ec on st itu ir o texto na gra_
f i a or ig in al mesmo conhecendo apenas os dois alf abe tos .
Recorre-se a transliteração para a maior parte dos nomes históricos e geo
gráf ico s e para palavra s que não têm correspondente em português.
Os sinais dj. içrí t icos sao sinais acrescentados as letras normais do alfabe
to com o objectivo de lhes dar um valo r fonétíco partic ular.. As sim, sao tam
bém sina is di acríti cos os nossos acentos correntes (por exemplo, o acento agu
do •' dá ao "e" no fi na l da palavra a pronuncia aberta dc J osé ). bem como
a cedilh a francesa "ç ", o ti l espanhol "H ", o trema alemão "I " c os sina is
menos conhecidos dc outros alf abe tos ; o " 5 " russo, o "6 " cortado dinamarquês,
o "Z" cortado polaco etc.
Huma tese que não seja de literatura polaca, pode, por exemplo, eliminar-se
a harra no "1 ": em vez de escrever "Eodz", es crever-se-ã então "L odz"; c o
que fazem também os jornais. Mas, para as línguas latinas, geralmente somos
mais exigentes. Vejamos alguns casos.
Respeitamos em qualquer l iv ro o uso de todos os si nai s parti cul ares do al
fabeto franc ês. Estes sin ais têm todos uma tecl a correspondente, para as mi
núscul as, nas máquinas de escrever co rren tes. Para as maiúsculas , escrevemos
C_a_ira, mas escrevemos E col e, e não Ec ole, A l a re ch erch e.. ., e não A" la r e -
cherche . . . . porque en francê s, mesmo em ti po gr af ia , as maiúsculas não sc acen
cuam.
Sespeitamos sempre, quer para as minúsculas quer para as maiúsculas, o uso
de três sinais particulares do alfabeto alemão: a, o, ü, s escrevemos sempre
Ü , e não uc (Führer, « TIÕO F uchrer) .
Respeitamos eo qualquer li v ro , quer para as minúsculas quer para a.-; :»aiús-
çu las , o uso dos sinais particulares do alfabeto espanhol: 3s vogais com seen
2 1 0
to agudo e o n com t i l : n. Para o t i l do n minúsculo pode u sar -se o s inal
dc acento circunflexo: 5 . Mas nao o farei numa tese de literatura espanhola.
Respeitamos em qualquer l i vr o, quer para as minúsculas, quer para as mai
úsculas o uSo dos sinais particulares do alfabeto português: as vogais com
t i l e a consoante ç.
Para. as outras línguas c necessário dec idi r caso a caso, e como sempre a
solução será diferente consoante sc cite una palavra isolada ou sc faça a te
sc sobre essa língua específica. Para casos isolados,*pode recorrer-se ãs con
venções adoptadas pelos jornai s ou pelos l ivro s não científic os. A letra d i
namarquesa ã vem por vezes expressa com aa, o y checo t rans forc a-s e era y_, o
í polaco torna-se 1_ e assim por diante.
Apresentamos no quadro 20 as regras dc transcrição di ac rl ti ca dos alfabetos
grego (que pode vi r transliterado em teses dc fi los ofia ) e cirl Üc o (que se£
ve para o russo e outras línguas eslavas, evidentemente pata teses que nao
sejam dc eslavística) .
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Q U A D R O 20
C O M O T R A N S L1TIÍRAR A L F A B E T O S N ÃO L A T I N O S
A L F A B E TO R U S S O
M/m Irontl. M m Tr un 1
A • n B P
B 6 b pP r
B B V c c •r r g T T t
il x d y r uE c e o * rE è | X X ch
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H K 1 UI • 1V I * 3 m m 16K x k u H y,1 JI 1 b •>
M M m 3 a tH R n IOO o o •
212
Q U A D R O 2 0 (Conlinuaçãot
A L F A B E T O GRfcüO A N T I G O
MAIÚSCULAS MINÚSCULAS 1TRAN5LITEKAÇÃO
A a aB i br YA 5 dE e 1Z c zH •n 5e t h
I i IK X C
A X 1M mN V nB X
O 0 dn K Pp P rx sT t
Y U üO P b
X X c h
P *Q u 0
ObiÉfvo(Õo: • Tf = ngh
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VI.1.6. Pontuação, acentos, abreviaturas
Mesmo entre os grandes edi tores , ha diferenças na utilização dos s ina is de
pontuação e na forma de por as pas, notas e acentos . I)e uma tese exíg e-s e uma
precisão menor do que a um trabalho dactílografado pronto para a tipog rafi a.
De qualquer forma, a conveniente estar informado sobre estes critérios e aplí
ca -lo s na medida do pos síve l. A tit ul o da guia damos aqui as instruções fo r
necidas paio editor italiano que publicou este livro, advertindo que, para
alguns c rit éri os , outros editores procedem de maneira dife rence. Mas aqui lo
que conta nao é tanto o cr itér io quanto a constância na sua apli cação .
?cr.tc? g vírgulas. Os rcr.tcs c as vírgulas, runr.de sz se^er s cícaçoas en~r-":
aspas, ficam sempre dentro das aspas, desde <]W estas encerrem um discurso
completo. Diremos assim que Smith, a propósito da teoria do Kolfram, sc i n
terroga sc devemos aceitar :i sua o?in;ão do que "0 ser ê idêntico ao não ser,
qualquer que seja o ponto de vista em que o consideremos," Como sc vê, o cen
to fi na l f ie ? den tro das aspas , poi s a cita ção de Vlolfram também termina cem
um ponto. Pelo con trari o, diremos que Smith nao está de acordo com Wolfram
quando afirma que "o ser c idêntico 30 nao ser". E poremos o ponto apôs a < j_
tação porque ci a const i tu i apenas um trecho do período ci tad o. O nesmo se fa.
rã para as vírgulas: diremos que Smith, depois de ter citado a opinião de Vo l
fram, para quem "o ser e idêntico ao não ser", a refuta excelentemente. Mas
procederemos de forma dife rent e c ita ndo , por exemplo• uma fa la como es ta:
"Nao penso, 'dis se, * que is so s eja pos sí vel ." Recordamos ainda nua não se usam
vírg ula s anteB de parêntese. Deste modo, nao escreveríamos "amava as palavras
matizadas, os sons cheirosos, (ideia simbolista), as sensações aveludadas"
mas sim "amava as palavras matizadas, os soas cheirosos (ide ia sim bol ista ).
as sensações aveludadas".
Chocadas. A chamada coloca-se a seguir ao sinal de pontuação. Assim, escreve,
remos:
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A resenha mais satis fató ria sobre o tema, depois da de Vul piu s, 1 e
a de Krahehenhuel. 2 Este último não sat isf az todas as exigências a
que Papper chama "limpidoz",^ mas é definido por Crumpz^ como um
"modelo de perfeição".
centos_ . No ital ia no, as vogais a, i , o, u , sc acentuadas no final da palavra
acento grave ( e x . a c c a d r ã , c o s i , pero, gioventu). Pelo contrari o a vo-
'1 , sempre que no fim da palavra, pede quase sempre o acento agudo (ex.: p er-
, po ich i , trentatré, affinche, ne, pote) salvo algumas excepções : è, c i o l ,
c a f f i , te, ahima, ohima, pie, diè , s tiê , scirapanzl; note-se todavia que serão
raves os acentos de todas as palavras derivadas do francês como : g i l i , cana-
, lacche, bebe, b igne, alem dc nomes como Giosue, MOse, NoS c outro s. Em ca -
o dc duvida, consulte-se um bom dicionário de ital ian o.
Os acentos tônicos (súbito, p r i n c l p i , meta, era, dei , scçta, d i i , dãnno,
l l i a , . c i n t in n io ) nao sao usados, excepção feita para súbito c p t inc ip i em
rases verdadeiramente ambíguas :
Tra pr inc ip i c p r inc ip i incert i fa l l i rono i moti dei 1821.
Note-se que o E maiúsculo i n i c i a l de uma pala vra francesa nunca c acentu a
do (Ecole, E tudiant, Editíon c não teole, Êtudiant, Êdition).
As palavra s espanholas têm so acentos agudos: H ernández, Garcia Lorc a, Ve~
rÕn.
1. Por exigências de precisão, fazemos corresponder a chamada a nota, Mas
trata -se dc um autor im aginário.
2. Autor imaginário
3 . Autor imaginário
A . Autor imaginário
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— Q U A D R O 2 1
A B R E V I A T U R A S M A I S l . S U A I S P A R A U T I L IZ A R B M N O T A O U N O T E X T O
Anon. Anônimou r i artigo (nflo pata artigos d c jornal, mas |>ara artigos d c leis c similares)
1. l ivro (por exemplo, vo l. 1, l , 1, 1. l icapitulo, plural capp. (p or ve/es também c . ni;is em evitou casos c . quer di/or coluna]
col. coluna, plural coll. (ou c.)C l confrunlar. ve r lambem, referir-se aecl. edlcHo (prime ira, segundo; mus cm bibliogra fias ing lesas ed . quer dfeer organizador,
editor , plural eds.le.f;. (nos icxlos ingleses) exctnpll gràtla, por exemplo(Mi por exemplol i , . figura, plural l igg.k l folha, lambem foi., foll. ou í. e IT.ihitl. ou lambem i fr idrm, no mesmo lugar (isin c, mesma obra L mesma página; se for ;i
mesma obra mas n ao a mesma página, enlilo é (»/>. < r f, seguido da pág.)i,e. (nos (extos ingleses) id est, isto é. quer dizerInfra ver abaixo
lltl ( ll lugar cilad oM.N manuscrito, plural M S SN B note Itemn. nula ( C A . : ve r ou cf. n . 3).MS Nova Serien * número (por vezes lambem n.). mas pode-se eviin r escrevendo só o númeroop, cii. obra jú cilada anteriormente pelo mesmo autorpatim aqui e a l i (quando não nos referimos a nina página precisa porque o conceitu é Iratado
pelo autor em toda a ohra ).
p. página, lambem pág.. plural pp.par. parágrafo tuimbém §ípseud. pseudônimo, quando a atribuição a um au lor é d iscutível cscrcvc-se pseudof. c v. frcnle e verso (página ímpar c página par»s.d. se m data (dc edição), também s/dS.I. se m lueal (de edição), também s/dseg. seguinte, lambem sg.. plural sg . (e x.: p. 34 sg.)scc. sceçãosic assim (escrilo ass im mesmo pelo autor qu e estou a c itar; pode usar-se quer como medida
de prudência quer como s ublinhado irônico n o caro de erro s ign ificaiivo)Ni lA Nota d o autor (habitualmente eutte parênteses rÒCtOSJ lambem N . A.)NdT Nota d o tradutor (habitualmente entre parênteses rectos; também N . T.)Ni lO Nota d o organizad or (habitualnientc entre parênteses reetos: também N . O.)
q. quadrotab. tabelair . tradução, lambem irad. (pode sei seguido d o nome da língua, do tradu tor ou d e ambos)V . verV . verso, plural vv (sc se cilarem tmiitus versos, (• melhor não uti l izar v. para ver. mus
si m of.); pode lambem dizer-se vs., plnni) vss., mas atenção para não confundirCIIIII a abreviatura seguinte.
r.v. versus. em op osição a (e,x.: branco vs. prelo, branco vs. prelo, branco vv. prelo; maspode-se lambem escrever branco/prelo).
viz, (nos textos ingleses) videlicel. quer dizer, e precisamentevol. volume, plural vols. (vol. sign ifica geralmente um dado volume d c uma obra e m vários
volumes, enquanto vols. significa o número dc volumes de que se compõe a obrai
NI*. l :siac unia listadas abreviaturas mais comuns. Temasespecíficus (paleogr.ilia, filologia clássica e nnxlenia.( J lógica, matemática, elc. l têm series de ahieviaiiiras particulares que poderão apa*i>der-se lendo a literatura
^ critica respectiva.
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v I, i . 7 . Alguns conselhos dispersos
Kao exagerem com as m aiúsc ulas. Ê cla ro que poderão es crever o Amor e o
Calo se estiverem a anal isa r duas noções f ilo sóf ica s precis as de um autor âtt
t i go , mas, hoje em di a, um autor moderno que fa le do Culto da Fam ília, sõ uti
l i z a as maiúsculas em tom irúnic"- t>um discurso dc antropologia cu l t u r a l , se
quiserem dis soc iar n vossa responsabilidad e de um conceito que atribuem a o :
trom, o preferível escreverem o "cul to ca fam íli a". Pode escrever-s e o Ressur
gimento c c Terciãrio, mas nao vejo por que nao escrever o ressurgimento v o
terc iãr io .
Escrever - se - i Banco do tr abalh o e não Banco do Trab alho , o Mercado comum
de preferencia a Mercado Comum.-
Ei s alguns exemplos de maiúsculas habitualmente consentidas e outras a
evitar:
A America do Norte, a parte norte da América, o mar Negro, o monte Branco,
o Banco da ag ric ultu ra, o Banco de Nápoles, a Capela S i s t i na , o Palácio Ma-
dama, o H ospital maior, a Estação cen tral (se I uma estação específ ica que
se chama desça maneira: pelo que fal arei s da Estação c entra l de líil ão e da
estação central de Soma), a Magoa Carta , a 3ula de oi ro , a igreja de Santa
Catarina e as cartas de santa Catarina, o mosteiro de São Bento e a regra de
sao Bento, o senhor Teste, a senhora Verduri n. Os ita lia nos costumam diz er
praça Ga rib ald i e rua de Roma mas em cercas línguas di z- s e Pl ace Vcndõrae e
Square Gay-Lussac.
Os sub stanti vos comuns alemães escrevem-se com maiús cula, como se faz ne s
ta l íngua ( Qstp olitik, Kulturgcsch ichte) .
Dev er-s e-a por em minúsc ulas tudo o que sc puder sem comprometer a compre
ensão do texto: os ital ian os , os congoleses, o bispo, o doutor, o coronel, 0
habitante de Vareso, o habitante de BÓrgamo, a 2* guerra mundial, a paz de
2 1 8
Viena, o prêmio Strega, o presidente da republica, o santo padre, o sul e o
norte.
Para usos mais precisos e melhor seguir a l i te ratura da d i s c i p l i na que se
estuda, mas util iza nd o como modelo os textos pub licados nos últimos dez anos,
Quando abrirem aspas fechem-nss sempre. Parece uma recomendação i d i o t a , mas
trat a-s e dc uma das negligências mais comuns num trabalho dac tilog rafa do. A
citação começa e depois ja não se sabe onde acaba.
Não escrevam demasiados números em algaris mos árab es. Evidentemente es ta
advertênc ia nao tem razão de ser sc sc fi ze r uma tese dc matemática ou de
est atís tic a, ou se se citarem dados e percentagens prec isa s, lías no decurso
de uma exposição corre nte digam que um dado ex erc ito t i n h 3 cinqüenta mil (c
não 50.0 00) homens, que uma dada obr a c em três (e não 3) volum es, a menos
que estejam a fazer uma citação b ibliográf ica preci sa, ca tipo "3 vo ls ." . Di
gam que as perdas aumentaram dez por cento, que fulano morreu aos sessenta
anos, que a cidade distava t r inta quilômetros.
Uti l izem os algarismos nas data s, que S sempre prefer ível serem por exten
so: 17 dc Maio de 1973 e não 17/5/73, mas podem abrev iar e diz er a guerra de
14-13. E claro <iue, quando tiverem-de datar toda uma série de documentos, de
paginas de diár io, e t c , deverão u t i l i z a r datas abreviadas.
Di re i s que um determinado acontecimento ocorreu as onze e t r i n ta , mas escre
crevereis que, no decurso da experiência, 3s 11,30 a água tinha subido 25 cm.
Di re i s : a m atríc ula número 7535, a cas a no número 30 da Rua F i o r i Ch i a r i , a
pagina 144 do l ivro tal.
Por sua vez, os números romanos devem ser ut ili zad os nos s ítio s próprios :
o século XIII, Pio XII, a VI armada: Nao ê necessário escrever "XIIÇ", pois
os números romanos exprimem sempre ordinais.
Sejam c oerentes com as s ig la s. Podem escrever U. S.A . ou USA, mas se começa.
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rçm com I'SA continuem cem PCI e com RAF, SOS, FBI.
Atenção ao citarem no texto titu lo» dc l ivro s e de jor nai s. Se quiserem di
ser que uma determinada id ei a, citação ou observação esta no li vr o i n t i t u l a
do T promessi spos i, ha as s eguintes soluções:
a) Coao se diss e no I pro-es<: sposi . . .
b) Como se diss e -.os rromessi spos i . . .
c) Como se diss e em I pre -es si spos i •••
Num discurs o continuo de tipo jornalí stic o, pre£ere-se a forma (b ). A fo r
ma (a) S um pouco antiquada. A forma (c) é co rrec ts, embora por vozes c ans a
t i va . Di re i que sc poderã usar a íorma (b) quando se estã a fa lar de un l i vro ja c itad o por extenso e a (c) quando o título aparece pela prim eira vez
e e importante saber se cem ou oão o ar ti go . De qualquer modo, uma vez es co
lhida uma forma, sigam-na sempre. Z, no caso dos jo rnais , veja-se se o a r t i
go faz ou não parte do tít ulo . Díx-se II Giorno, nas o Corriere del ia Seta.
0 Tempo ê um semanário, enquanto U Terpo é ua di ár io .
Kao exacerba cor: sublinhados i nútei s. Sublir.^cr- as palavras estran geiras
nao integradas pe lo português como splash-dovn ou Einfühlunp. mas não su bl i
nhes sport, bar, flipper, f i lm . Ouando a palavra nao estã sublinhada, não tem
plura l ; o film e sobre ghost tovns . Nao sublin har nomes de marcas ou de monumen
tos célebres : "os S pit fi re voltejavam aobro o Coldea Gate". Geralmente os ter-
moi filoa Síic os utiU ado s em língua estrang eira, mesmo sublinhados , não so pões
no plur al e muito menos se declinam: "a s Erlebnts de que fa la H uss erl" , "o uni
verso das varias Cestalt". Kas isto não estã multo correcto, sobretudo sc de
pois , usando termos latinos, estes se declinam: "oeupar-nos-emos portanto dt
todos cs subjecta e não do subjectua único sobre o eual versa a experiência
perceptiva". í melhor evita r estas situações difícei s utilizan do o termo por
tuguês c orrespondente (geralmente us a-se o estrangeiro para fazer a larde de
cultura) ou construindo a frase dc outra maneira.
220
Uti l izem com cri téri o a alternância de ptdinai s e cardin ais , de númpror. rg
nanos e árabes. Tradicionalmente o número romano indica a subdivisão mais im
portar.te. Uma indicação como
XIIX.3
indica o volume décimo t erce iro , terc eira parte-, o canto décimo ter ceir o, ver
so 3; ou ano décimo ter ce iro , número trê s. Poderia também eserev er-ae 13.3
e geralmente sem perigo de confusão, mas se ria estranho esc rever 3 .X IH . Se
se escrever Kamiet III,ii,28, eoeprecndcr-se-ã que sc trata do verso vint e e
o i to da cena segunda do terceiro acto; pode também escrever-se Hamlct 111,2,
2B ( O U Hamlet III.2.28), mas não H anlct 3,II,XXVI11. As tabelas , quadros es
tatís tic os ou mapas indicam-se como fi g. 1 ou q. 4 ou como fig . I « q. IV,
mas, por favor, no índice dos quadrei <• das f iguras mantenham o mesmo c ri té
r i o . Se ut il i z a re i a numeração romana para os quadros, usem os algarismos
árabes p ara as fi gur as . Deste modo ve r-s c- a imediatamente a que se estão a
re fe r i r .
Releiam o trabalho dactil oRrafad o Nao so para co rri gi r os erros de dact i -
log raf ia (especialmente as palavras estrangeiras e os cones própri os), mas
também para ve ri fi ca r se os números das notas correspondem, t al como as pa
ginas dos livros citados. Vejamos algumas coisas que deverão verificar abso
latamente:
Páginas: estão numeradas por ordem?
Referências intern as: corretpondem ao capítulo ou ã pagina certos?
Citações: estão sempre entr i a spa» , no princípio e no fim? A utiliza ção ia s
elipses, parênteses rectos • recolhimentos c sempre coerente? Todas as c i t a
çoes têm a sua referencia?
Notas : a chamada corresponde ao número da nora7 A cota estã visi velm ente se
parada de texto? As notas eatão numeradas eonsecutivamente ou há saltos?
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3ib1 iof.t.if Ia: os nomes eStao por ordem alf abé tico ? fuscram em alguém o nome
próprio em vez do apelid o? H a todos os dados necessários para iden tif ic ar o
l i v ro? U ti li zo u-s e para determinados liv ros um sistema mais ric o (por exem
plo, numero dc pagina ou titulo da serie) ê para outros não? Distinguem-se
os l ivros dos art igos do revi sta c dos capítulos de obras maiores? Todas as
ref eren ci as terminara com um ponto?
V I. 2. A b i b l i o g ra f i a f i na l
0 capitul o sobro a bi bli ogra fia deveria ser muito extenso, muito preciso
c muito cuidadoso. Mas já tratamos deste ass unto pelo menos em dois cas os.
Zm III.2.3. dissemos coco se regi sta n as informações r elati vas a uma obra,
C em V .4. 2. e V, 4, 3. dissemos como se c i ta uma abra e como sc estabeleces as
relações entre a citaç ão cm not« <uu no texto) e « b ib l iograf ia f i na l . Se vo]_
tarem a estes tr ês parágrafos encontrarão tudo aqui lo que vos poderã s erv ir
para fazer uma boa bibliografia f i na l .
Digamos de qualquer f oraa , e eo primeiro lugar, oue uma tese deve ter uma
b i b l i o g ra f i a f i n a l , por mais minuciosas c prec isas cue tenham sido as reíers-i
cias era nota. Não se pode obrigar o le it or a procurar plgina por pagina a i a
formação que lhe interessa.
Para certas teses a bib lio gra fia c um complemento út il mas não dec isi vo,
para outras (que consi stem, por exemplo, e— estudos sobre a li te ra tu ra num
dado sector ou sobre todas as obras editada s e inédita s de um dado autor) a
bi bl iog raf ia pode cons titu ir a parte mais interessante. Nao nos referimos,
pois , às teses exclusivamente bib liográ fic as do tipo Os estudos sobre o fas
cismo de 19^5 a 1950, onde obviamente a bibliografia f i na l nao e um me io, m.»*
um ponto de chegada.
sô nos res ta acres centa r algumas instruçõ es sobre cot» :-c deve estrutura r
urra bi bl io gra fi a. Ponhamos como exemplo uaa tese sobre Sertrand Rus se ll . A
2 2 2
b ib l i cgraf ia sub div idi r-s e-c ezi Qbrsg ce Bertra^xt P.usscll ç Obra a iofc-e itu:
trand R us ie ll (poderá evidentemente também haver uaa secçao m ais gera l rte
Obras sobre a histó ria da fi lo so fi a do século XX). As obras de Bcrtrand Rus
s c l l serão enumeradas por ordem cronológica, enquanto as obras sobre Bertraod
Russell es tarão por ordem al fa bé tic a. A menos que o assunto da tese fos se Os
estudos sob re Rus se ll de 1950 a 1960 ea Ingl ater ra, caso em que, então, tam
bém a bib liog rafi a sobre Russel l poderia beneficiar eco a uti l ização de una
ordem cronológica.
Se, pelo contrário, se fiz ess e uma tese sobre Os católicos e o Aveutino. a
bi bl io gra fi a poderia ter uma divis ão do gênero: documentos c actas parlamen
tares, artigos de jornais e revistas da imprensa católica, artigos e revista»
da imprensa fas cis ta," artigos e revis tas de outros sectores políti cos , obras
sobre o acontecimento (o talvez uma secção de obras gera is sobre a hií tcr ia
i ta l i ana da época).
Como sc compreende, o problema v ar ia com o tipo de tese , e a questãn estã
em organizar uma bib liog rafi a que permita distinguir c id enti f ica r fontes p ri
r-arias e fontes secundárias, estudos rigorosos e material menos digno dc cz%
d i t o , e t c .
Ea definitivo, e I luz de tudo o que se disse nos capítulos anteriores, os
objectivos de uaa bib liog rafi a são: (a ) tornar reconhecível a obra a que vos
refer is; (b) f ac i l it ar a sua localização e (c) conoter famiüaridade coa os
usos da di sc ip li na era que- sc faz a tes e.
Demonstrar fam ili ar idade com a d i s c ip l in a s ign i f i ca duas co i sas : .nr.atrar
que Sc conhece toda a bib lio gra fia sobre o tema e seguir os usos bib liog rSíj .
cos da d is ci pl in a em questão. No que respeita a este segundo ponto, pode dar
-SC o caso de os usos standard sugeridos neste livro não serem os melhores,
sendo por is so necessária tomar cena modelo a lit era tura c r i t i ca sobre o as
sunto. No que toca ao segundo ponto, ó lcRÍtima a questão de saber sc numa
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bibliografia e necessário por so as obras que se consultarão) ou todas de que
se teve conhecimento.
A resposta mais óbvia c que a bibliografia de uma tese deve conter apenas
a l i s t a das obras consultadas e qualquer outra solução seria desonesta. Mas
também aqui a coisa depende do tipo de tese. Pode haver uma tese cujo objecti
vo seja fazer luz sobre todos os textos esc rit os sobre um dado tema sem que
tenha sido humanamente poss ível .ver todas as obra s. Ba st ari a então que o can_
didato advertisse claramente que não consultou codas as obras da bibliografia
c assinalasse eventualmente com um asterísco as que vi u.
Todavia, este critério aplica-se a um assunto sobre o qual não existam ain
da bi bli ogra fia s precedentes completas, pelo que o trabalho do candidato con
s i s t i r a em reunir referências d ispers as. Sc por acaso ja exis te uma bi bl io
g r a f i a c omp le ta , é me lh o r r e me ter p a ra e l a e r e g i s t a r ap en as a s
ob ra s e f e c t i vame n te c on su l t adas .
Mu i t a s ve ze s a c r e d i b i l i da de dc uma b i b l i o g r a f i a e dada p e l o
s eu t í t u l o . C i a p od e i n t i t u l a r - s e R e f e r ên c i a s ' B i b l i o g r á f i c a s ,
O b ra s C on su l t adas ou 3 i b l iop.r a f i a C eral sobre o Teaa X , c vê-s e
muito bem como na. base do t í tu lo se lhe poem ex ig ênc ias que e la
de ve ra e s t a r e o c on d i çõ e s de s a t i s f a ze r ou s e r á a u to r i za da a n ao
s a t i s f a z e r . H a o s e p od er á i n t i t u l a r B i b l i o g r a f i a aobre a Segun
da Guerra Mundi a l uma magra rec o lh a de uma tr i nt en a de t í t u l os
cm i t a l i an o . Escrevam Obras Consu l tadas e tenham conf iança em
De u s .
Po r ma i s p ob re q ue s e j a a vo s s a b i b l i o g ra f i a , p roc ure m p e lo
« c n o s p ô - l a c o r r e c tame n te p or orde m a l f ab é t i c a . Ha al gumas r e
g r a s : p a r t e - s e do ap e l i do ; o b v i ame n te , o s t í tu l o s mo b i l i á r i o s
como "de" ou "von" nao fazem parte do apelido, mas o mesmo não
ac on te c e com as p re p o s i çõ e s em ma i ú s c u l a s . A s s i m , e s c r e ve r - s c - ã
2 2 4
D ' A n u n z i o em D, mas Ferdin and de Sauss ure v i rá como Saus sure ,
Fe r d i na nd de . PÕ r - s e - a De A m i c i s , D u B e l l a y , L a F o n t a i n e , mas
B e e th ove a , L u d v i g van . Também aq u i , p o re m, ve jam c omo f az a l i
t e r a t u ra c r í t i c a e s ig am a s su as n o rmas . Po r e x emp lo , p a ra o s
autor es an t ig os (e ac í ao séc u lo XIV ) c i t a- s e o nome e não aqu^
lo que parece o ap e l id o , mas que é o patronímic o ou a indic ação
do l o c a l de n as c i me n to .
Para c on c l u i r , uma di v i s ão stand ard para uma tese gené r ic a po_
d e r i a s e r a s e g u i n t e :
FontesR e p e r t ó r i o s b i b l i o g r á f i c o s
Obras s obre o tema ou sobre o autor (eventualmente d iv id id as
em l i v r o s e artigos)
M a t e r i a i s a d i c i o n a i s ( e n t r e v i s t a s , d oc u m en t os , d e c l a r a ç õ e s ) .
V I . 3 . O s ap ên d i c e s
H a te ses em que o , ou os , apêndi ces sao ind i s pen sá ve i s . Uma
te se de f i l o l o g i a q u e d i s c u ta um te x to r a ro q ue s e t en h a e n c on
t r ado e t r a n s c r i t o , t r a r á e s t e t e x to em ap ên d i c e e p ode su c e
de r q ue e s t e ap ên d i c e c on s t i tu a o c on t r i b u to mai s o r i g i n a l de
todo o trab al ho . Uma tese h i s tór ic a em que vos re fe r íase i s f r e
quentemente a um dado docum ento, mesmo j 5 p u b l i c a d o , p o d e r i a t r a
zer e s te documento cm apênd ice - Uma tese de d i r e i to que di s cu tauma le i ou um corpo de l e i s dev era i ns er i r e s tas le i a em apên d L
ce (ae não f i z e rem parte dos códi gos de uso corre nte e a d i sp o
s i ç ão de todas a s pessoas).
A p u b l i c ação de um dado mate r i a l e m ap ên d i c e e v i t a r - voa -a l on _
gas *e e n fadon h as c i t açõ e s n o t e x to , p e rm i t i n do r e fe r e n c i a s r ap i^
d a s .
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Ir<so pura o apêndice quad ros , d iagramas e dados c st at í s t i c o s ,
a menos que se trat em de rápido s exemplos que podem ser i n s e r i
dos no í cx to -
Em ge ra l , põr -s c -a o em apêndice todos os dados e documentos
que tornem o texto pesado c d i f íc i l de l e r . Mas , por vezes , n a
da l i a de ma: s cans at i va que re fe rênc ias cons tantes em apêndice ,
q u e ob r i gam o l e i t o r a p a s s a r a todo o momento da página que cs
ta a le r para o f im da te s e : e , nestes c as os , devemos ag i r com
bom se ns o, p elo menos fazendo tudo para nao torn ar o tex to he r
mét ic o , ins er in do breves c i taç ões que re sumem o conteúdo do pon
to do apêndice e que se estão a r e f e r i r .
Se cons iderarem oportuno desenvolv er um cer to ponto teór ic o e ,
n o e n tan to , ve r i f i c a re m q u e i s s o i r i a p e r tu rb ar o de se n vo l v i me n
to do voss o tema, na medida em que c o n s t i t u i uma rami f i cação
ac es só r ia , poderão por em apêndice a an al i s e desse ponto . Supo
nhamos que estão a fa zer uma tese sob re a Po ét ic a e a Retõr i ça
de A r i s t ó te l e s e a s su as i n f l u ên c i a s n o p en samen to r e n as c e n t i s
t a , e que desc obr i r am que , no nosso sé cu l o , 3 e s co l a de Ch icago
apresento u de moco ac tua l e ste s te xto s . Se a s observaç ões da cs
c o l a d e C hi c a g o v os s e r v i r e m p a ra c l a r i f i c a r a s r e l açõ e s de A r i s
t o t e l e s com o pe ns a me nt o r e n a s c e n t i s t a , c i t á - l a s - ã o n o . t e x t o .
Mas pode suceder que se ja mai s i nte res sa nte f a l ar ne l as de uma
forma mais d i f u s a num apêndice independ ente , onde mostrarão atr a
ves des te exemplo como não so o Renasc ime nto, mas também o nosso
s é c u l o , p ro c ur o u r e v i t a l i z a r o s te x to s a r i s t o t c l i c o s . A s s i m , po
de ra ac on te c e r -vo s f a ze r uma t e s e dc f i l o l o g i a r oman i c a s ob re
a personagem de Tr is tã o c dedica rem uO apênd ice ao uso que o Oe
c ade n t i smo fez deste m i t o , de Wagner a Thomas Mann. O tema não
2 2 6
1 e r i a i mp or tân c i a i m e d i a ta p a ra o a s su n to f i l o l õ g i c o da vo s s a
tes e , mas poder iam querer demons trar que a inter pretaç ão vagne—
r i a n a fornece também sugestões ao f i lÓ lo go , ou - pe lo con trár io
— q u e e l a r e p re s e n ta um modelo de má f i l o l o g i a , a c on se lh an do
e ve n tu a lme n te r e f l e x õ e s e p e sq u i s a s su b se q u e n te s . Não qu e e s t e
t i p o de apêndice s e ja recomendáve l , na medida em que sc de st in a
sob retudo ao tr aba lho dc um estud ios o maduro que pode per mi t í r -
- s e d i g r e s s õ e s e r u d i t a s c c r í t i c a s d e v á r i o s g ê n e r os , m as s u g i
r o - o p o r r azoe s p s i c o l ó g i c a s . Po r ve ze s , n o e n tus i a smo da i n ve s _
t i ga ção , ab re m-se e s t r adas c omp leme n tares ou a l t e rn at i va s e n aose r e s i s t e ã t e n tação de f a l a r de s t a s i n tu i ç oe s . Re l e gan do -a s
p ara o ap ên d i c e , p ode rão s a t i s f az e r a vo s s a n e c e s s i dade de s e
e x p r i m i r e m , s e » comprometer o r i go r da te s e .
v i . & . 0 í n d i c e
O ín d i c e de ve r e g i s t a r t odo s o s c a p í tu l o s , s u b c ap í tu l o s e p £
rã gr af os do te xt o, com a mesma numeração, com as mesmas p agi na s
o com as mesmas palavras . Isto parece um cons e lho ób vio , mas an
te s de e n t re gar 3 t e s e ve r i f i q u e m ate n tame n te qu e e s t e s r e q u i
s i t o s s ão s a t i s f e i t o s .
0 índic e e um ser viç o in di s pens áve l que se prest a quer ao le i ^
tor, quer a nós pró pr i os . Perm ite encont rar rap idamente um de t e r m i n a d o a s s u n t o .
E l e pode se r pos to r.o in íc io ou mo f i m . Os l i v r o s i t a l i a n o s
c f r an c e s e s c o l o c am-n o no f ím . O s l i v r o s em i n g l ê s e mu i to s l i _
vro s a lemães co locam—no no i n i c i o . Nos ú l t im os tempos a lguns
e d i t o r e s i t a l i a n o s a do pt ar ar a e s t e se gu nd o c r i t é r i o .
Na minha op in iã o, c mais cômodo que el e venha no i n i c i o . E n -
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c o n t ra pa s s a nd o a l g u a a i pá g i n a s , i nq ua nt< pa r a o co n s u l t a r
n o / i a n e c e s s i t a m o s d e e x e r c e r u a t r a b a l h o f í s i c o o a i o r . H a s
i v d e v e e s t a r no i n í c i o , q ue e s t e j a m esa o no i n í c i o . A l g u ns l i
V E 0 3 a n g l o - s a x o n i c o s c o l o c a m - n o d e p o i s d o p r e f á c i o e , f r e q ü e n
t em ent e , d epo i s d o p r e f a c i o , d a i n t r o d u ç ã o ã p r i a e i r a e d i ç ão c
d a i n t r o d u ç ã o a s e g u nd a ed i ç ã o . U a a ba r b a r i d a d e . E s t úp i d a s po r
es tup fd ez , também se pod ia po - lo no mei o .
Uma a l t e r n a t i v a c c o l o c a r n o i n í c i o U B í nd i ce p r o pr i a m ent e
d i t o ( c i t a ç ã o a pena s d os c a p í t u l o s ) c no f i m um s u m á r io m u i t o
po r m en o r i z a d o , com o s a f a z em ce r t o s l i v r o s o nde a s s u bd i v i s õ e s
s ã o m u i to a n a l í t i c a s . P o r v e s e s , p o e - s e n o i n í c i o o í n d i c e d os
ca p í t u l o s e no f i a um í nd i c e a na l í t i co po r a s s u nt o s , q ue g e r a l
mente « acompanhado dt um índ i c e dc n oat s . Knaa tese i s to n ão é
n e c e s s á r i o . B a s t a um b o a i í n d J c e - s u m ã T Í o m u i t o a n a l í t i c o , d c p r e
f e t S nc í a na a be r t u r a da t e s e , l o g o a s e g u i r ao f r o - t e s p l e í o .
A o r g a n i z a ç ã o d o í nd i c e d ev e r e f l e e t i r a d o t ex t o , ne s a o em
s ent i d o e s p a c i a l . Qu er d i z e r , s e no t ex t o o pa r á g r a f o 1 . 2 . f o r
uma su bd i v i s ão menor do c ap i t u l o 1 , i s to deve ser tanbêa ev ideo .
tc em termos de a l in ha ae nt o . Par a compreendermos i s to mel hor ,
apresentamos no quadro 22 do i s modelo s dc índ i c e . Ko ent anto , a
nu m er aç ã o d o s ca p í t u l o s c pa r á g r a f o s po d e r i a s e r d e t i p o d i f e r en
t a , u t i l i z a n d o n úm er os r o c an o s , á r a b e s , l e t r a s a l f a b é t i c a s , e t c .
2 2 8
Q U A D R O 2 2
MODELOS DE ÍNDICE: PRIMEIRO EXEHPLO-
0 MUNDO DE CHASLIE BROVH
I n t r o d u ç ã o ? • 3
1. CHARLIE BROWN E A BANDA DESENH ADA AMERICANA
1 . 1 . D e Y e l l o v K i d a C h a r l i e B ro wn 71 .2 . A co rre nte da ave ntu ras e a co r ren te humor ís _t i c a 9
1 . 3 . 0 ca s o S ehu l z 10
2. BARDAS DE JORNAIS Dl X Rl OS E PAGINAS DOMINICAIS
2 . 1 . D i f e r e n ç a s d e r i t m o n a r r a t i v o IB2 . 2 . D i f e r enç a s t em á t i ca s 21
3 . OS CONTEÚDOS IDEOLÓG ICOS
3 . 1 . A v i s ã o d a i n f â nc i a 33*3 . 2 . A v i s ã o i m p l í c i t a d a f a m í l i a 383 . 3 . A i d e n t i d a d e p e s s o a l 4 5
3 . 3 . 1 . Quem sou eu? 583 . 3 . 2 . Quem s ã o o s o u t r o s ? 6 53 . 3 . 3 . S e r p o p u l a r 78
3 . 6 . Neuros e e saúde 88
4. EVOLUÇÃO DO SIGNO C R X F I C O 96
• C o nc l u s õ e s 16 0
Q u a dr o s e s t a t í s t i c o s : O s í n d i c e s d e l e i t u r a n a
Amér i ca 189
Apênd ice l í Os Peanuts noa desenhos animados 200
Apên dice 2 : As imi taçõ es dos Peanata 234B i b l i o g r a f i a : R e c o l h a a em v o lu m e 2 50
A r t i g o s , e n t r e v i s t a s , d e c l a ra ç õ esd e S ch u l t 2 6 0Es t u d o s s o b r e a o b r a de S ehu l z- nos Es tado s Unidos 276- nout ros pa í s ea 277- e s I t á l i a 2 78
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MODELOS DE ISDICE: SEGUNDO EXEMPLO
O MUNDO DE CHABLIE BROTO
In t rodu ção p . 3
I. DE TELLDW KID A CHARL1E BROWN 7
BANDAS DE JORNAIS DlXRIOS E
PAGINAS DOMINICAIS 18
I I I . OS CONTEÚDOS IDEOLÓGICOS 45
IV . EVOLUÇÃO DO SIGNO GRAFICO 76
Cone Iusoes 90
230
O mesmo índ ic e do quadro 22 pod ia se r numerado da seg u in te ma
ne i r a :
A . PRIMEIRO CAPITULO
A . I P r i m e i r o p a r á g r a f o
A . I I Se gun do p arág ra fo
A . I I . l . P r i m e i r o s u b p a r ã g r a f o d o s e gu n do p a r á g r a f o
A.I I .2 . Se gu n do su b p a rãg ra fo do s e gu ndo p ará g ra fo
o t c .
Ou p od i a ap ra se n c ar - s e a i n da do s e gu i n te modo :
I. PRIMEIRO CAPÍTULO
1 . 1 . P r i m e i r o p a r á g r a f o
1 . 2 . Se gu n do p arág ra fo1 . 2 . 1 . P r i me i ro su b p a rãg ra fo do s e gun do p arág ra f o
e t c .
P o d i a e s c o l h e r o u t r o s c r i t é r i o s , d e s d e q ue p e r m i t i s s e m o s o « s -
mos r e s u l t a d o s d e c l a r e z a e e v i d e n c i a i m e d i a t a .
Como se v i u , n ao e n e c e s s á r i o c o n c l u i r o s t í t u l o s c om um p on
to f i n a l . De i g u a l modo, s c r a b oa n orma a l i n h a r o s n ú meros ã d±
r e i t a e n ão 2 e sq u e rd a , i s t o á , a s s i m :
7 .
8.
9 .
10 .
e n ão a s s i m:
7 .8.
9 .
10 .
O mesmo se ap l i c a aos números romanos . Requ in te? Não . apu ro .
Se t ive rem a g rava ta t or ta , en di re i ta m -na e nem mesmo a ut> h ipp y
ag rada t e r c ac a da p a s s a r i n h o n o omb ro .
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V I I . C O N C L U S Õ E S
Q u e r i a c on c l u i r c o m duas observações: fazer uma t e se significarecrear-se e a tese é como o parco: não de i ta nad a fora.
Q u e m qu e r que . sem prát ica de inves t igação, atemoriza do p ela
lese qu e n ão sabia como fazer, len ha l ido esle l ivro , pode ficar ater
rorizado. Qua ntas regras c quantas instruções. Impossível sa i r são e
salvo.. .
E . todav ia , i sso n ão á verdade. Pa ra se r exaustivo, t ive de i m a g i
na r u m le i tor totalmente desprovido d e tudo. mas qualquer d e vocês ,
ao l e r u m l ivro qu alquer, teria j á adoptado muitas das técnicas de
qu e s e f a lou . O m e u l ivro se rviu, quando mu ito, para as recordar
todas, para trazer para o p lano da consciência aqu i lo qu e muitos já
t i n h a m absorvido s e m se darem conta. Tombem u m au tomobi l i s ta ,
quando é levado a ref lcct ir sobre os seus gestos, veri f ica qu e é u ma
máquina prodig iosa que em r íacçòes dc segundo toma dec isões de
importância v ital sem s e poder pe rmit ir um erro. R . n o entanto, quase
toda a g e n te conduz e o número razoável de pessoas qu e morrem e m
ac identes n a estrada diz-nos qu e a grande maioria escapa c o m v ida .
O importante c fazer as coisas c o m gosto. B se t iverem es colhidou m tema que vos in te ressa , s e t i ve rem dec id ido ded icar verdade i ra
mente a t ese o per íodo, mesmo curto, qu e previamente estabelece
ra m ( t ínhamos f ixado um limite mín imo de seis meses ) , ver ificarão
então que a t ese pode s er v iv ida como um j o g o . como uma aposta,
como uma caça ao tesouro.
Há um a sa t is fação d e d espor t i s ta c m andar à caça de um texto
qu e não se encont ra , h á u ma satisfação de charad is ta e m encontrar,
depois de se te r r e l lce i ido mu i to, a solução de um p rob lema q u e
p a r e c i a insolúvel.
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Devem v iver a l ese como u m desa f io. O sujeito d o d esa f io sãovocês: in ic ia lmente , r i/e ram uma pergunta a que não sab iam a indaresponder. Trata-se d c encont rar a solução n um número finito d emovimentos . P o r vezes, a tese pode s er cons iderada como uma par t ida a d o i s : o vosso au tor quer conf ia r -vos o seu s e g r ed o e lerào deo assed iar , d e o in te r rogar c o m d e l i c a d e za , de fazê - lo d i/er aqu i loque não quer ia d i ze r mas que te rá dc revelar. P o r v e z e s , a t ese é u m[mzzle: tem-se todas a s peças , mas c p rec i so pô-las no lugar.
Sc j o g a r e m a par t ida c o m prazer agonfst ico. farão u m a b oa tese.Se part irem já com • idé ia de qu e sc trata d e u m r i tua l s em i m p or tância e que não vos in te ressa , estarão d er rotados à par t ida . Nessaaltura, já o d i sse n o i n i c i o (e não mo façam repet ir porque é que éi l ega l ) , encomendem-na. cop iem-na , mas n ão i tm i fnem a vossa v ida
e a d e quem vos irá a judar e ler.Se t iverem feito a tese c o m gosto, terão vontade d e continuar.
Gera lmente , quando sc t raba lha n u m a tese, só se p ensa n o momentoe m que e la es tará t e rminada : sonha-se com as fé rias qu e se segu i rão. M a s s e o t raba lho for bem fe i to, normalmen te, depois d a tese,verificar-se-ã a irrupção dc um g rande f renes im d e t raba lho. Dese j a -
-s c a p rofundar todos o s pontos qu e foram neg l i g enc iad os , persegu i ridé ias qu e nos v i e r a m a o espír ito mas que t i vemos de supr imi r , le routros l ivros, escrever en saios. E isto é s ina l d e qu e a tese v os ac t i -
vo u o metabol i smo in te lec tua l , qu e fo i u ma experiência p os i t i v a . Ea inda s ina l de que sào agora vítimas de u ma coaeçào para inves t i gar , u m pouco como o C h a p l i n tios Tempos Modernos, qu e cont i nuava a apertar parafusos mesmo depois d o t raba lho: c lento d e fazeru m esforço para parar .
M a s u m a ve a parados, pode acontecer qu e ve r i f iquem te r vocação para a inves t igação, que a tese não e ra apenas u m ins t rumentopara obter a l i cenci a i un i , e a l i cenc ia tura o ins t rumento para subir
dc categoria n a função públicas ou para contentar os p a i s . H n e msequer dizemos qu e pretender continuar a inves t i gar s i gn i f ique enveredar pe la car re i ra universitária, esperar u m cont ra to, ren unc iar au m trabalho imediato. Pode dedicar-se u m (emp o razoáve l à inves t igação mesmo tendo uniu profissão, sem pretender te r um cargouniversitário. M e s m o u m b om p rof i ss iona l de v e c on t i n u a r a estudar.
Se . de qua lquer forma, s c d e d i c a r e m à investigação, ver ificarãoque uma t ese bem feita é um produto de que se ap rove i ta tudo. C omo
pr ime i r a utilização, poderão com base ne la f aze r um ou vár ios a r t i
go s c ientíficos, t a lvez um l iv ro ( com alguns aperfeiçoamentos) . C o m
234
o a n d a r d o tempo, ver ificarão as respect ivas f ichas d e le i tura, na tu
ra lmente ap rove i tando panes que não t inham ent rado na redacçãofinal do vosso p r ime i ro t raba lho; a s qu e e ram par les secundárias datese a prescniar-se-ão como in íc io de novos estudos.. . Pode mesmosuceder-vos voltar à tese d e z anos mais t a rde . A té porque terá v idocomo 0 p r ime i ro amor . e ser-vos-á difíc il esqu ecê-la. N o fundo, terás ido a p r ime i ra v e z qu e fizeram u m t raba lho c ientífico sério e r igor os o , c i sso não é uma exper iênc ia dc somenos importância.
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I
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M pRE AU , J ean A .. La contraction et Io synthèse d e textes. Paris. Ed. Fcrnand
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237
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Expressão
GA RCIA. Oihun M oaçyr. Comunicação e m prosa moderna . Aprender a esc re-
Vm9 P5i n í:',d0 a p e n S a r ' 2 " ' e d " R i ° c J a n d r o ' GetD]i<j Vargas
BARU-, Dcnis e G ui l le t. Jean. Techniques de 1'expression ér.rite et o rate . ParisEd . Sirey. J972, 2 vols., 272 pp. - i- 281 pp.
A R T E T A . Agostín übieto, Como m comenta um texto Histórico, 2 .' ed., ZaraStítãAnma?. Ed.. 1976. 212 pp. c '
MonswiBR, R oland e Huisinan, Dcnis. /. «r r tfc d issenathn h istor ique 3 >ed
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C AM P IM Í L L Wilüam GifeS c Bailou. Stephen Vaugh an. r > ™ W . ^ .Rçpffrts; TV/™ Páp cri, 5.- cd.. Boston, lloughton M iffHn Company, J979177 pp.
COOPER Charles W . c Robins. Kdmund l7
.. Th e Tenn Paper . A Manua l andMode l . 4 .' cd.. Siandford. Standford university Press. 1967, 33 pp.
2 3 8
universidade Q
1. O Signo Umberto Eco
2. O Pensamento de Nietzsche Michael Tanner
3. Estratégias da Comun icação Adriano Duarte Rodrigues
4. Como Se Faz Uma Tese. Umberto Eco
5. O Pensamento de Platão R . H. Hare6. As Regras do Método Sociológico. Émile Durkheim
7. Sociologia Geral - A A c ç ã o Social. Guy Rocher
S. Sociologia Geral - A O r g an ização Social. Guy Rocher
9 . Nó s - Uma Leitura de Cesár lo Verde. Helder Macedo
10. Comun icação e Cultura Adriano Duarte Rodrigues
1 1 . Capitalismo e Moderna Teoria Social Anthony Giddens
12. Arte e Estética na Arte Medieval Umberto Eco
13. Seis L ições Sobre os Fundamentos da F ís ica Richard P. Feynman
14. Raça e História. Claude Lévi-Strauss
1 5 . L u ís de Camões - O Épico. Hernâni Cidade
*ô. Questões Preliminares sobre as Ciências Sociais A. Sedas Nunes
17. O Suicídio - Estudo S oc io lóg ico Émilo Durkheim
1 8 . A Ética Protestante e o Espirito do Capitalismo. Max Weber
1 9 . A Economia em Vinte e Quatro L ições. Man o Murteira
20 . Frei Luís de Sousa - Um Drama Ps ico lóg ico Maria Almira Soares
2 1
Breve História do Urbanismo Fernando Chueca Goitia22 . Do Ocidente ao Oriente - Mitos Imagens Modelos. Álvaro Manuel
Machado
23 . Luís d e Camõe s - O L ír ico. Hemâni Cidade
24 . O Rio com Regresso - Ensaios Camilianos. Maria Alzira Seíxo
25 . Ensaios Sobre a Crise Cultural do S é culo xvin. Hemâni Cidade
26 . Trinta Leituras. Helder Macedo
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