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ECOLOGIA POLÍTICA - PROFESSOR CARLOS FREDERICO LOUREIRO RESUMO DO TEXTO: LAYRARGUES e LOUREIRO. Ecologia política, justiça e educação ambiental crítica: perspectivas de aliança contra- hegemônica. Rio de Janeiro, v.11, no1, jan./abr.2013. 19p. LUANA MORAES | ROSA VALIM | JOSÉ GARAJAU | JEAN CARLOS ALVES RESUMO O referido artigo procura adensar debates teóricos a cerca da dualidade educação ambiental crítica x movimento de justiça ambiental. Busca-se assim trazer luzes para os processos de superação das relações sociais alienadas destrutivas da natureza, bem como procura-se com isso reforçar a perspectiva da ecologia política, para a qual as determinações são materiais e de classe. Para além, ocorre um processo argumentativo contínuo de ressignificação ideológica da questão ambiental, que faz contraponto com as interpretações hegemônicas do senso comum acerca do fenômeno socioambiental. INTRODUÇÃO (LUANA) Nos últimos 10 anos percebeu-se a consolidação, no Brasil, da educação ambiental como campo social 1 – inclusive com produção acadêmica própria. Cabe, entretanto, ressaltar que esse processo não se deu de forma isolada. Ele é consequência de um movimento histórico de cerca de quatro décadas, promovido por agentes sociais vinculados aos mais diferentes setores da sociedade (cada qual, de forma peculiar, expressa o modo como compreende, produz e apreende a ‘questão ambiental’, atua no enfrentamento dos problemas contemporâneos por meio da educação – cada qual apresenta práticas distintas, por vezes antagônicas). O presente artigo parte do pressuposto de que a educação ambiental fortalece-se e legitima-se nas institucionalidades acadêmicas, nas políticas públicas e nos movimentos sociais que buscam a garantia de direitos, a afirmação das diferenças, a superação das desigualdades de classe e a construção de outro 1 Campo social pode ser definido como o universo social onde pessoas, grupos e instituições que dele participam se definem pelas relações de concorrência e poder que estabelecem entre si, visando à hegemonia simbólica e material sobre esse universo de atividade e de saber (Lima, 2005, p. 16).

ECOLOGIA POLÍTICA - Texto 4 - Word para a aula do dia 27 de abr - VERSÃO FINAL

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Texto Resumo - Ecologia Política

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ECOLOGIA POLTICA - PROFESSOR CARLOS FREDERICO LOUREIRO

RESUMO DO TEXTO: LAYRARGUES e LOUREIRO. Ecologia poltica, justia e educao ambiental crtica: perspectivas de aliana contra-hegemnica. Rio de Janeiro, v.11, no1, jan./abr.2013. 19p.LUANA MORAES | ROSA VALIM | JOS GARAJAU | JEAN CARLOS ALVESRESUMOO referido artigo procura adensar debates tericos a cerca da dualidade educao ambiental crtica x movimento de justia ambiental. Busca-se assim trazer luzes para os processos de superao das relaes sociais alienadas destrutivas da natureza, bem como procura-se com isso reforar a perspectiva da ecologia poltica, para a qual as determinaes so materiais e de classe. Para alm, ocorre um processo argumentativo contnuo de ressignificao ideolgica da questo ambiental, que faz contraponto com as interpretaes hegemnicas do senso comum acerca do fenmeno socioambiental.INTRODUO (LUANA)Nos ltimos 10 anos percebeu-se a consolidao, no Brasil, da educao ambiental como campo social inclusive com produo acadmica prpria. Cabe, entretanto, ressaltar que esse processo no se deu de forma isolada. Ele consequncia de um movimento histrico de cerca de quatro dcadas, promovido por agentes sociais vinculados aos mais diferentes setores da sociedade (cada qual, de forma peculiar, expressa o modo como compreende, produz e apreende a questo ambiental, atua no enfrentamento dos problemas contemporneos por meio da educao cada qual apresenta prticas distintas, por vezes antagnicas).O presente artigo parte do pressuposto de que a educao ambiental fortalece-se e legitima-se nas institucionalidades acadmicas, nas polticas pblicas e nos movimentos sociais que buscam a garantia de direitos, a afirmao das diferenas, a superao das desigualdades de classe e a construo de outro patamar societrio. Para que isso ocorra, entretanto, faz-se necessrio reconhecer e valorar a diversidade destas diferentes vozes, com suas naturezas conflitivas, e a disputa que travam por concepes e espaos na sociedade.

Dentro deste contexto, o artigo objetiva trazer contribuies tericas para debater a dualidade: educao ambiental crtica x movimento de justia ambiental. Para tanto, cabe investigar como tais movimentos definem as causas da crise atual, estabelecem estratgias de luta social e defendem o projeto societrio anticapitalista. Essa articulao e dilogo so oportunos para os processos de superao das relaes sociais alienadas destrutivas da natureza, mas tambm reforam uma perspectiva da ecologia poltica para a qual as determinaes so materiais e de classe. Esse deslocamento, muito mais do que uma virada terica, implica mudanas prticas e polticas. ECOLOGIA POLTICA (JOS GARAJAU)As origens da ecologia poltica datam da dcada de 1960 e, j em seus primrdios, seu objeto de estudo referia-se compreenso de que agentes sociais, com diferentes e desiguais nveis de poder e interesses, demandavam, na produo de suas existncias, recursos naturais em um contexto ecolgico, disputando-os e compartilhando-os. O seu objetivo, com isso, era gerar conhecimentos e a compreenso do prprio modo de funcionamento societrio para a interveno poltica superadora ou reprodutora das condies estruturais que engendram modos especficos de produo e relaes de propriedade dos bens criados ou naturais. Em resumo, j desde suas razes, a ecologia poltica, focalizava a ateno aos modos pelos quais agentes sociais, nos processos econmicos, culturais e poltico-institucionais, disputavam e compartilhavam recursos (naturais e ambientais) e em qual contexto ecolgico tais relaes se estabeleciam. O diferencial da ecologia poltica em relao economia poltica fundamenta-se no na aceitao da natureza como condio para a produo, mas no modo como ela qualificada. A ecologia poltica procura assim explicitar a grande contradio da contemporaneidade: adequado padro de vida para alguns x pssimo padro de vida para outros. Destaca-se que esta contradio sustentada por um sistema que tem como base o uso abusivo e intensivo da natureza.Nos ltimos trinta anos, houve um movimento de liberalizao da economia, de flexibilizao do trabalho e de reorganizao do Estado (tudo isso para garantir a continuidade do modelo de expanso e acumulao do capital, que se reflete na possibilidade de o ambiente servir a interesses pblicos em uma sociedade marcada pelo poder do interesse privado). Observa-se toda uma argumentao ideologicamente construda, que afirma termos chegado ao fim: das ideologias; da centralidade do trabalho; do embate de classes sociais; da era na qual se dava responsabilizava o Estado pela promoo de polticas sociais. Apresenta-se, para tanto, a justificativa de que, com o avano dos servios, do empreendedorismo, da tecnologia e da cincia, a relao assalariada perdeu espao, e as formas de organizao dos trabalhadores entraram em colapso. Confunde-se, assim, trabalho com emprego e esquece-se que os mecanismos criados no geraram trabalho livre e sim maior subordinao aos movimentos de reproduo e valorizao do capital.O presente artigo afirma que, na sociedade contempornea globalizada, h uma expanso contnua do mercado de matria-prima, para suprir a demanda por mercadorias, acompanhada da precarizao do trabalho, buscando assegurar a margem de lucro necessria acumulao e reproduo ampliada do capital. Assim, mais do que nunca, o trabalho e as classes se evidenciam como categorias determinantes para o entendimento da sociedade e a atuao superadora das relaes sociais capitalistas.Essa linha argumentativa da ecologia poltica crtica e marxista importante para as aes em educao ambiental, pois evita a armadilha do discurso abstrato que coloca na espcie humana uma ruindade ou uma bondade inerentes, ou que culpabiliza os comportamentos individuais, como se os indivduos interagissem com o planeta sem mediaes sociais, sem ser parte de uma sociedade, que tambm produzida por esses indivduos.OS MOVIMENTOS SOCIAIS E AS LUTAS AMBIENTAIS (JEAN)Por sua origem nas classes mdias europeias e norte-americanas, o movimento ambientalista identificado, de forma mais imediata, com as foras sociais que se configuraram na fase de reorganizao do capitalismo e suas bandeiras: defesa dos valores ecologicamente adequados; da diversidade de expresses e cultural; da tolerncia; do zelo com o planeta. Tal cenrio propicia, portanto, que os chamados novos movimentos sociais, voltados para os valores ditos ps-materialistas e para a afirmao cultural, com forte nfase nas subjetividades e nas diferenas, assumam o ambiental como algo inerente s suas finalidades, enquanto os movimentos sociais, voltados para a emancipao, poltica e a tomada e superao do Estado (visando construo de outra sociedade, diante de suas histricas lutas sociais), s o fizeram posteriormente. No entanto, para a perspectiva crtica da ecologia poltica, existem pelo menos trs fatores que evidenciam por que os movimentos sociais no podem ser pensados como secundrios para esse debate.Primeiro fator, independentemente de utilizarem categorias ambientalistas, suas lutas e projetos polticos se referem reestruturao da sociedade, e qualquer movimento nesse sentido representa novas formas de se relacionar com a natureza (sejam elas mais ou menos sustentveis) portanto, algo de relevante interesse para qualquer um que tenha no ambiente uma preocupao, questo ou desafio.Segundo fator, principalmente na ltima dcada, as lutas dos movimentos sociais na Amrica Latina se destacaram por terem enfrentado e exposto as incongruncias de processos produtivos envoltos com o agronegcio, a indstria de celulose, a minerao, a pecuria extensiva e a privatizao da gua.Terceiro fator, o tema ecolgico no propriedade de nenhum agente social, nem mesmo dos que com ele se identificam e por ele lutam de forma mais direta. , portanto, categoria estratgica da prtica poltica e fator de identidade entre sujeitos e grupos.Os novos movimentos sociais, quando descolam a luta pela afirmao da diferena e do plural das demais questes estruturais, acabam provocando um esvaziamento do debate poltico que favorece a ao fragmentada e focada na esfera do consumo e do indivduo.

O que h de inovador/transformador na ao dos agentes sociais contemporneos o prolongamento dos movimentos sociais (o que eliminaria a necessidade do novo), uma complexificao da luta poltica, procurando-se promover simultaneamente os valores igualdade e diversidade.A questo de classe sustentculo do capitalismo, logo, central para qualquer movimento de ruptura e superao societria. Contudo, a violncia contra a mulher, a dominao de gnero ou tnica, os preconceitos relativos sexualidade ou qualquer outra manifestao ou opo na vida no so menos importantes para quem os vivenciam. Mas, como articular as diferentes lutas sociais na luta de classes, contemplando as questes ambientais?

JUSTIA AMBIENTAL (ALEX)Para o movimento de justia ambiental, uma situao de injustia ambiental caracteriza-se quando, na sociedade, se destina a maior carga dos danos ambientais a grupos sociais de trabalhadores ou grupos tnicos discriminados, entre outros segmentos em estado de maior vulnerabilidade social e econmica, ameaando a integridade da sade ambiental e comprometendo a sua reproduo social. Essa condio, reveladora dos mecanismos de desigualdade socioambiental, estabelece-se em sociedades desiguais por meio de mecanismos polticos, sociais e econmicos que concentram os processos decisrios e privatizam os bens pblicos, tornando possvel e legtimo a utilizao dos bens coletivos e naturais para interesses privados. Essa distribuio desigual por classe entendida como intrnseca s economias capitalistas e necessria reproduo ampliada do capital. Assim, na sociedade capitalista o acmulo material das classes dominantes se d mediado pela expropriao ambiental dos trabalhadores, e as taxas de lucro das grandes corporaes empresariais se vinculam degradao ambiental dos espaos de vida e de trabalho desses grupos e classes expropriadas. Por outra parte, justia ambiental pode ser entendida como um conjunto de prticas organizadas de agentes sociais que se encontram na condio de expropriados e que defendem politicamente projetos societrios anticapitalistas, estando pautadas por princpios como:

equidade na distribuio das consequncias ambientais negativas, de forma que nenhum grupo social, tnico ou de classe suporte uma parcela desproporcional dessas consequncias; justo acesso aos bens ambientais do pas; amplo acesso s informaes relevantes sobre as atividades poluentes (tais como o uso dos recursos naturais, o descarte de seus rejeitos e a localizao das fontes de risco); fortalecimento e favorecimento da constituio de sujeitos coletivos de direitos, isto , de movimentos sociais e organizaes populares capazes de interferirem no processo de deciso da poltica e da economia. Ocorre que o movimento por justia ambiental se caracteriza em oposio corrente conservadora do pensamento ambientalista da modernizao ecolgica, atualmente hegemnica e que compreende ainda que a crise ambiental seja democrtica.

A EDUCAO AMBIENTAL CRTICA (ROSA)A educao ambiental crtica, aquela que busca pelo menos trs situaes pedaggicas: a) efetuar uma anlise da conjuntura complexa da realidade a fim de ter os fundamentos necessrios para questionar os condicionantes sociais historicamente produzidos que implicam a reproduo social e geram a desigualdade e os conflitos ambientais; b) trabalhar a autonomia e a liberdade dos agentes sociais ante as relaes de expropriao, opresso e dominao prprias da modernidade capitalista;c) implantar a transformao mais radical possvel do padro societrio dominante, no qual se definem a situao de degradao intensiva da natureza em seu interior, da condio humana. Sua origem remete a meados da dcada de 1980 e incio dos anos 1990, com o processo de redemocratizao da sociedade brasileira.

Diante desses fatos e da conjuntura favorvel a um maior dilogo entre movimentos sociais, sindicatos de trabalhadores da educao, educadores em geral e ambientalistas, a educao ambiental passou a ser vista como um processo contnuo de aprendizagem em que indivduos e grupos tomam conscincia do ambiente por meio da produo e transmisso de conhecimentos, valores, habilidades e atitudes. Aos poucos, a educao ambiental no Brasil se volta para a formao humana, para a formao poltica. Objetivamente, isso significa dizer que a prpria prxis educativa (a indissociabilidade teoriaprtica na atividade humana - consciente de transformao do mundo e de autotransformao) que ganha a devida centralidade.Cumpre destacar que o cenrio atual, no campo da educao ambiental, compreende trs macrotendncias, as quais, por sua vez, agregam, em seu interior, diversas correntes poltico-pedaggicas: a conservacionista, a pragmtica e a crtica. A primeira macrotendncia, a conservacionista, expresso tendencial do incio do processo histrico de constituio do campo. Relaciona-se com prticas educativas que proporcionam um contato ntimo com a natureza, mas esto distanciadas das dinmicas sociais e polticas, e de seus respectivos conflitos de poder.

A segunda macrotendncia, a pragmtica, abrange especialmente as correntes da educao para o desenvolvimento sustentvel, da educao para o consumo sustentvel, e da educao ambiental (no mbito dos resduos slidos e no mbito das mudanas climticas).

As macrotendncias conservacionista e pragmtica representam duas tendncias e dois momentos de uma mesma linhagem de pensamento que se foi ajustando aos movimentos poltico-econmicos at adquirir a face modernizada que hoje a caracteriza. Pode-se dizer que a macrotendncia pragmtica representa uma derivao histrica da conservacionista, na medida em que fruto do processo de adaptao ao novo contexto (social, econmico e tecnolgico). Para a macrotendncia crtica, no basta lutar por uma nova cultura na relao entre o ser humano e a natureza; preciso lutar ao mesmo tempo por uma nova sociedade. No se trata de promover apenas reformas setoriais, mas uma renovao multidimensional capaz de transformar o conhecimento, as instituies, as relaes sociais e polticas, e os valores culturais e ticos.

CONSIDERAES FINAIS (TODOS)Nos movimentos de educao ambiental crtica, justia ambiental e ecologia poltica argumenta-se a respeito da ressignificao ideolgica da questo ambiental. Tal ressignificao atua como contraponto para as interpretaes hegemnicas do senso comum acerca do fenmeno socioambiental. Tais movimentos... enfatizam que a categoria ambiente no composta apenas de contedos ecolgico/ambientais, mas tambm de contedos sociais e culturais especficos, diferenciados e muitas vezes contraditrios; condenam a lgica dos interesses promovida pela razo utilitria do mercado e elogiam a lgica dos direitos, especialmente quando se trata de sociedades fortemente desiguais; revelam que, para alm dos problemas ambientais, existem conflitos socioambientais, e que a categoria trabalho central para a reflexo ter solidez no entendimento do fenmeno. O artigo aqui apresentado procurou desvelar o quadro em que se situam os movimentos de educao ambiental crtica, justia ambiental e ecologia poltica. Tais movimentos representam, em seus campos particulares, oportunidades de enfrentamento contra-hegemnico da realidade socioambiental, mas para alm, representam possibilidades de luta poltica por outro modelo societrio (na medida em que suas vertentes crticas se alinham numa possvel e desejvel aliana terica).

Campo social pode ser definido como o universo social onde pessoas, grupos e instituies que dele participam se definem pelas relaes de concorrncia e poder que estabelecem entre si, visando hegemonia simblica e material sobre esse universo de atividade e de saber (Lima, 2005, p. 16).

Classe estrutura e processo, conjunto de prticas culturais e polticas dotadas de historicidade e vinculadas a relaes e modos de produo.

A humanidade como um todo, indistintamente, estaria igualmente sujeita aos efeitos nocivos da degradao ambiental planetria, independentemente de qualquer tipo de recorte social