Economia da Cultura - José Osvaldo Lasmar - Fundação João Pinheiro

Embed Size (px)

Citation preview

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    1/63

    M IN ISTER IO D A C UL T UR A

    ECONOMIA~~DACULTURA:

    I

    II::33(81)'le

    re fle xO es s ob re a s industriescu ltu rais n o B rasil.

    Trabalho reolizodo pelaequipe hknico do Fundo-r;oo J O C I O Pinheiro-MG emconvenio com 0 mine.

    IN ST IT UT O D E P ROMOC ;:A O C UL TU RA L ES KR ET A RIA p E A PO IO A PRODUC ;: AO CULTURAL

    As manifestat;oes culturais, sejapeJos resultados economlcos queproduzem seja por estarem associa-das a bases tecDicas materiais ecspecificas, podern e devem serexaminadas em sua dimensio eco-nomica.Entretanto, malgrado a im-portancia do seter, ele, no qued iz re pelto is suas contas bi.-sicas: produ'iao. renda e dispen-dio, ainda Dio SI: encontra de-talhado no Sistema de ContasNacionai do Brasil.Visando suprir esta inju tffl-eavel lacuna 0 mine aju tou com aFunda'iio Joao Pinheiro 0 desen-volvimento de estudos e pesquisasoom a finalidadc prime ira deampliar a debate sabre 0 tema e.ainda, de gerar estatfsticas basicaspara 0 setor,A concep~io lnicia! do pro-jet a girou em termos da estrururado PlB cultural. Entretanto, dada 0diversidadc das atlvidades c predu-tos culrurais, bem como 0 horizon-te temporal do projeto, veriflcou-sesua inviabilidade a dcspeito ci a rcle-vancla do objet iva,Foi, cntiio, dcscnvolvido 0pro-jeto "A Industria CUltural noQuadro da Economia Brasileira"que objetivou traear 0 perfil eco-nomico da industria cultural brasi-lelra, sltuando-a no contexte geralda economia do Pais.

    Foram e leitos para a aruiU elnlcial os seguintes segmentos:Cinematograflco:

    - lmprensa Periodica e Edi-tora de Livros e Folhetos;Foncgraflco;ProduQio de Espetaculode Artes Cenicas e Musi-ca;Radiodifusio e Teledlfu-sio;- Produ9io de lnstrumen-tos Musicais,

    Ao longo do desenvolvirnen-to do projeto tres fases foramcaracterizadas cam prccisio:1 . t'ue- Nesta, as esforcos foramconcentrados na explora~o das

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    2/63

    ECONOMIADACULTURA:

    reffexOes sobre a s ind ustria scultura is no B rasil.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    3/63

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    4/63

    ~\Toos. :'3(',5 t)E \ I~

    ECONOMIADACULTURA:reflexoes sobre as ind ustriasculturais no Brasil.

    Trabalno realizado pelaequipe tecnica da FundacaoJose Pinheiro em conveniocom aminC.C C r c ; ' 1 )

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    5/63

    Copyright by Ministerio c i a CulturaR eserva do s tod os os d ireitos desta edic ao ,R ep ro du ea o p ro ib id a, m esm o p arc ia lm en te ,sem a uton zac ao do M in isterio da Cul tura .lnstituto de Promocao Cul tura lS eto r B an ca rio N o rteEd. En!f. Paulo Mauricio, 15~ anda r70 .0 40 . B ra sflia -D fIm presso no B rasilPrinted inBrazil i"iiiill'

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    6/63

    PREFAc lOSistema de valores, a Cultura e da esfera dos fins, e a 16gica dosfins escapa ao calculo econemico em sua versso tradicional. Mas janinguem ignora que as relaeoes entre flns e mews nos p ro cesses so-ciais 8[0 com f requenc ia b i-un fvoca s, podendo prevalecer uns ou ou-tros na conflguraeao ocasional desses processos.A Ii teratura oral teve uma grande importancia no passado e nelafins e m eios se confundem sendo a pessoa do autor 0proprio suporte

    de sua mensagem, Mas 0 que caracteriza a nossa epoca e a autonorniae crescente importaneia do suporte, cuja evolucao tecnol6gica reper-cute na propria natureza da mensagem. 0 teatro se desdobrou no ci-nema, n a ra dio -no vela , n a te le -no vela ; 0 concerto musical ao vivo nodisco, na cassete, no carnpact- laser .

    Nio hit como negar que a evolu~ tecnol6gica dos suportespermitiu que se intensificasse a difusao da mensagem artfstico-cultu-ral. Sem a inven~o da imprensa, a cultura elassica MO teria penetradono mundo europeu n os se cu lo s XVI e XVII da forma massiva que co-nhecemos, motivando uma explosao de criatividade. Mas tambem foia revolu'tiio tecnologica dos suportes na epoca contemporanea quedeu origem ao que chamamos de cultura de mas sa , un if orm iz ado rados g osto s e tra nsfo rm a do ra de p op u la co es in te ira s e m . passives con-surnidores de produtos culturais fabricados em grande esca1a.Para pensar a c ultu ra como processo produtivo e necessario pe-netrar em urn campo conceitual pouco explorado e, em ra7Zo da refe-rida in tera f30 en tre fins e m eios, p artic u1a nn en te e lu sive .No passado, som ente os concertistas de grande notoriedade po-diam deslocar-se intemacionalmente, ou rnesm o dentro de seu pais.a avanco na tecnologia dos transportes ampliou consideravelmente 0

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    7/63

    outros povos. 0 problema da dominacao cultural, antigo como a his-t6ria dos contactos entre civiliza~Oes, assume novas formas em queprevalece 0poder financeiro.Na .v.isio economica dos processos produtivos, 0 trabalho e sim-

    plesmente um meio, fator de producao cuja produtividade tende aaumentar na m edida em que a va ne am a cumu la ca o e tecnicas, Ora, nomundo das artes 0 trabalho Rio e apenas meio mas tambem Urn. Nes-te Ultimo caso, faz-se dificil introduzir 0 conceito de produtividade.Num espetaculo vivo de canto, on de danca, ou teatral, 0 trabalho eom fu n em si mesmo, Seu custo tende a crescer relativamente a s for-mas de express ao a rt fs tic a que se beneficiam do aumento de produtivi-dade. Para m odifiea r essa tendencia , em todo 0mundo os esp etacutosvivos tern seus custos parcialmente socializados mediante subsidies,Mas quando se trata de produtos culturais unicos adquiridos indivi-dualrnente, como as telas de urn pintor, a tendencia e para 0aumentode seus precos relatives, restringindo-se 0 seu mercado aos segmentossoeiais de mais altos mveis de renda. A sociallzacao de custos tera , n es-te caso, que assumir a forma de aquisicao das telas para exibi~o emlocais de acesso coletivo.

    As observacees acima 8[0 suficientes para mostrar a significaltiodos estudos de economia da cultura na formulacao de polfticas cultu-rais, A s atividades culturais incluem-se entre aquelas cuja demandaa presenta urna elevad a elasticida de-rend a, sendo a o mesmo tempo for-tes criadoras de emprego e fracas consumidoras de divisas. Contudo,carecemos de informacoes sobre essa materia, ate hoje considerada depouca re le vanc ia e conomic a .Os estudos sobre a "industria cultural" brasileira que esta reali-zando a Fundaeao Joao Pinheiro, por encomenda do Ministerio daCultura, abrirao novos horizontes nessa tematica enos perrnitirao pas-

    sar das simples conjecturas para 0 terreno none das comprovacoesfundamentadas. 0 texto que ora franqueamos a urn publico maior e

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    8/63

    SUMAR loPREFAclO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. .. . . . . . . . . . . 5

    ASPECTOS CONCEITUAIS E METODOLOGICOS DE UMAABORDAGEM ECONOMICA DA INDUSTRIA CULTURALINTRODU

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    9/63

    1ASPE CTOS CONCE ffU AIS E M ETODOLOGlCOS DE U MAA BORD AGE M E CON OM ICA D A IN DU STR IA CU LTU RA L

    Jose O sv aldo G uim araes L asm ar

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    10/63

    1 IN TR OD U

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    11/63

    para que as queremos. Este Ultimo ponto deve nos conduzir a umaconsideracso final sobre as questoes mais urgentes sabre 0 crescimentoda industria cultural numa economia periferica como a brasileira, cu-ja sistematizaeao ainda nao foi tentada pelos econornistas.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    12/63

    2 CULTURA DE M ASSA E INDUSTR IA CULTURAL2.1 "Cultura industrializada": os cnnceitos derivados da critica

    sociolbgicaElaborado a partir de trabalhos desenvolvidos nos dominios dasociologia da cultura, da crrtica literaria e da teoria da comunicacao ,0

    conceito de industria cultural n a o escapa a s ambigiiidades e a abran-gencia da nocao de cultura de massa, da qual ele deriva, Como nossoprimeiro objetivo consiste em discutir 0 sentido e 0 alcance dessesconceitos para uma analise economica da producao cultural, nossoponto de partida nao poderia ser outro senao as forrnulacoes original-mente propostas pela sociologia americana e, antes dela, pelos teoricosde Frankfurt. Por iS50, podemos nos permitir apenas 0 registro daspossibilidades de definicao, ou pelo menos de caracter izacao, da indus-tria cultural, derivadas do debate que cerca as teorias da cultura demassa, dispensando-nos, ao mesmo tempo, de rnaiores consideracoessobre as inurneras definicoes de cultura,

    Nao obstante a s div erg enc ias o bserv ad as no debate sabre as fun-!foes e a irnportancia do fenorneno da cultura de massa no capitalismocontemporaneo, seja do ponto de vista estetico-literario au sociologi-co, as analises convergem para urn lugar comum: a nocao de cultura demassa, e, consequentemente, a de industria cultural, s6 puderam serformuladas a partir do momento em que 0 fato cultural torna-se, aomesmo tempo, urn fato industrial. Ser ou nao "industrializada", nosentido mais abrangente proposto pela soeiologia, ou seja , "rnassifica-da", e uma primeira condicao que distingue determinados processosde criacao cultural, au que as hierarquiza, como sugerido no esquema,ja canonico, de Dwight Mac Donald.' Parte-se , neste caso, de uma opo-siyao entre "cultura superior" (classica, consumida pelos estratos su-periores da sociedade) e "cultura inferior" (cultura de massa), propon-do-se a classif icacao dos diversos produtos culturais segundo a instan-

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    13/63

    nifestacao cultural, como lernbra Teixeira Coelho, "atravessam as clas-ses socials com uma intensidade e uma frequencia rnaiores do que secostuma pensar ( ... ) e a passagem de urn produto cultural de umacategoria inferior para outra superior e apenas questao de tempo"."Por outro lado, se tomamos em sentido mais restrito a nocso de"industrializada" como deflnidora de uma cultura inferior, pode-seindagar, com Carlos Eduardo Lins da Silva, se a cultura, como produtoe enquanto produto, poderia evitar, ou precisaria evitar, 0modelo in-dustrial: "(a cultural e produzida socialmente, nao no vacuo. Portan-to, sofre os efeitos - ao mesmo tempo em que influencia - do queocorre na formacao social. Se todos as dernais produtos no capitalis-mo sao fabricados em s er ie , a tr av es da divisao social do trabalho so-fisticada, para consumo em larga escala, como poderia ser diferentecom os bens culturais?,,3Para Edgar Morin, a cultura de massa nao se define como "cul-tura inferior", nem em OpOsiC;30a o utra s fo rrn as de manife sta co es c ul-turais, mas como "terce ira cultura", oriunda do cinema, da televisso,do radio e da imprensa, que se desenvolve ao lado das culturas clas-s icas ( re l ig iosas e humanistas) e nac iona is , A cultura de mass a se acres,centa, desse modo, as culturas classicas e nacionais, e com elas concor-re: "0 mesrno individuo pode ser cristao na missa da manha, francesdiante do monumento aos mortos, antes de ir ver "Le Cid" no T .N.P.e de ler France-Soir e Paris Match".4 A cultura de massa integra, POf-tanto, urna realidade policultural e, nao sendo autonoma, pode deter-minar e ser determinada pelas suas concorrentes.

    Se, por urn lado, Morin abre a possibilidade para que se aprecieo papel da dimensao da industria cultural no capitalismo contempora-neo, enquanto cultura-produto que permeia todas as outras e que, aomesmo tempo se universaliza, sua definicao de "industria-cultural"poueo inova au aerescenta aquelas propostas pelos crtticos mais orto-doxos da cultura de massa. Dais elementos basicos sao comumente as-

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    14/63

    pelas tecnicas de difusao macica ("mass-media").Produto cultural padronizada, fabricado industrialrnente, au emserie , para uma massa de "consumidores medics", sao caracterfsticasgerais que permitem uma primeira aproximacao da industria cultural noseu conjunto, mas que n~o devern ocultar a grande diversidade dosprodutos, e dos setores que a comp5em. Obse rva -s e , no entanto, queas especificidades dos produtos e setores da industria cultural tern me-recido pouca a ten ca o n as a na lises so cio lo gic as, que insistern antes nassuas supostas funcoes gerais de "instrumento de dominacao de classe",d e " de gra da ca o do gosto popular", au de "a l ienacao" , Nao obstanteas inurneras divergencias entre analistas "pessirnistas" e "otimistas",au "apocalipticos" e " integrados" na expressao de Umberto Eco ,quanta ao pape l e a importancia da cultura de ma ssa , tem -se o bse rv a-do que, na maioria das vezes, elas se aproximam na forma como abor-dam a industria cultural: "de fora", e, pelo menos no caso dos "apo-cahpticos", "de cima ". 5 Analisar 0 processo economico da producaocultural d ev e sig nific ar, d esse modo, t ambem a superacao de concei-tos-fetiche da cultura de massa para examina-la na sua dinamica in-tema.2.2 A caracterizacao econ6mica das "industries culturais"

    Uma primeira aproximacao da industria cultural pode serfeita a partir de uma distincao metodol6gica entre "meios de cornu-nicacao de massa", ou industria dos meios de inforrnacao, e " indus-trias culturais" propriamente ditas. Trata-se, e claro, de urn mero ar-tificio que deve nos permitir ressaltar as semelhancas na estrutura efuncionamento destes dais conjuntos de industrias que integrarn a in-dustria cultural. Nesse sentido , desconsideramos, deliberadamente, ascomplexas relacces existentes entre a industria da informacso e aindustria cultural, diante da qual a s rn eio s de comunicacao , sobretudo

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    15/63

    Nadine Toussaints sugere, para a analise das industrias da infor-macae, tres pontos sobre os quais 0 economists pode se interrogar: po-de-se procurar conhecer as custos de fabricacao dos seus produtos, ascondicoes de flnanciarnento dessa industria, a organizacao do seu mer-cado. Para isso, e preciso se ater a natureza particular des produtosque a industria da informacao difunde, e que lhe confere uma especifi-cidade propria, enumerando-se as caracterfst icas seguintes:a) Sao produtos a1tamente perecfveis

    " ( ... ) (0 conteudo dos meios de informacro) tern que ser conhe-cido e divulgado 0 mais rapidarnente possivel e nao e exagero afirrnar,hoje, que a inforrnacao e nao apenas urn produto perecfvel mas tam-bern 0 mais perecfvel de todos ( ...)".6 E por isso a organizacao daprodueao de inforrnacao e dirigida, em prirneiro lugar, para aeconornia de tempo, e, apenas em seguida, de mao-de-obra. Uma vezque, nao apenas por se tratar de produtos pereciveis, mas tambem deuma industria onde a nocao de estoque Ofo tern quaJquer sentido,compreende-se que a variavel tempo seja fator fundamental na eleva-c;ao dos custos de producao e distribuicao, e dec isive na definicao dasrelacaes de trabalho do setor.b) A industria e concentrada e a concorrsncia se situa em mercados

    duploso Mercado dos consumidores primaries (leitores, ouvintes, teles-

    pectadores) e 0 dos "conswnidores secundarios" (anunciantes) confi-guram 0duplo mercado onde se se situa a concorrencia na producaode informacao. Esta por sua vez, assume duas modalidades: uma con-correncia "intra-media" (diferentes cadeias de TV., por exemplo), ewna concorrencia "inter-media" (imprensa e televisao, ou cinema e

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    16/63

    bern agencias de informacao, de publicidade, distribuidores e ativida-des mais ou menos conexas: discos, livros, videos, etc.c) Barreiras a entrada

    A penetracao na industria da informacao e dificultada, emprimeiro lugar, pelos seus elevados custos de producso e distribuicao,derivados do carater pereeivel dos seus produtos. Ela depende, ainda,da renda dos consumidores, do seu grau de alfabetizacao (para difu-sao da imprensa escrita), sua "cultura" (para divulgacao de certas ernis-sOes e revistas), do seu tempo de lazer (para 0 conjunto dos "mf-dia"). A iem d essa s restIi\!o es, a lg um as d ela s tambem p resentee em ou-tros segmentos industrials, a producao de Iaformacao esta sujeita a ou-tras limitacoes derivadas do controle politico exercido pelo Estado so-bre a industria. Este controle se manifesta de mane ira mais explfcitaem determinados setores, como nas concessoes de exploracso de ca-nais de televisao e estacoes de radio, au menos explicita, como na dis-tribuicao de quotas para a importacao de papeI-jomal ou nas diversasforrnas de regulamentacao dos precos no setor.2.2.2 As industrias de mensagem

    Lacroix e outros propoem para as analises da industria do livro,fonograflca e cinematografica, urn mesmo tratarnento, em que se pro-eura destacar 0 papel fundamental da funyiIo editorial em todas elas.Nesses casas e stamos a na lis an do produtos c ultu ra is c uja p ro du ea o e di-fusao obedecem a cinco fases, que podem guiar a n ossa In ve stig ac ao : acriacao, a edicao-reproducao, a reproducao-fabricacao, a distribuicao ecomercializacao.? Resumirnos, a seguir, este padrao ideal, que pedeunificar metodologicamente a pesquisa das chamadas "industrias demensagem":

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    17/63

    Trata-se da fase central da ''ind1istrias de mensagem". 0 editor-produtor escolhe e fmancia as obras q ue p ossam encontrar u rn m erc a-do. Nesta fase, estamos tratando de empresas de grande porte. que or-ganizam a fabrica~o dos produtos e os divulgam,e) Reprodu~lIofabrica~ao

    Nesta fase, que corresponde ao est8gio material de elaboracaodo produto cultural. 0 editor-produtor contrata services de terceirospara a impressso dos Uvros, a prensagem e condicionamento dos discos,ou para a presta4iao de sem~s de Iaboratorios, em se tratando do c i-nema. E s tim a -se q ue, para 0caso frances, a fase de reproducao-fabrica-~ representa cerca de 10% do preco do disco, 10% a 15% do f ilme ,25% a 30% do livre. Observe-se, a inda , que dado 0 c ara te r imp re visf-vel do volume de producso das industrias voltadas para a "reproducao-fabrica-rio" dos produtos eulturais, tem-se verificado uma tendencia aabandonar a integracao vertical no setor de "fabricaeao", tanto na in-dustria cinematografica quanta na edi~ao de livros.d) Distribuicao

    Nesta fase, 0 produtor leva a obra e 0 comprador ao ponte devenda. Calcula-se que esta atividade responda por cerea de urn tercena formacso do preco do livro e do disco, 0 que se explica pelos pro-blemas colocados pela difusso de produtos variados em pontos devenda dispersos. Lacroix nota que, enquanto a distribuidor e urn per-sonagem central no domfnio do cinema. a industria fonografica e a

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    18/63

    2.2.3 Industrias de in formacao versus industrias de mensagemAs semelhancas discutidas acima justificariam uma abordagemda producso cultural de massa que individualizasse, de urn lado, a in-dustria da informaeao, e, de outro, as demais industrias culturais. Es-

    ta claro, no entanto, que elas nao eliminam a necessidade de se proce-derem a estudos concretos, caso a caso, dos diversos setores que in-tegram a industria cultural, uma vez que eles apresentarn grandesdisparidades nas suas estruturas de custo de producao, distribui~o efmanciamento, assim como na organ i za cao dos seus mercados,

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    19/63

    3 AS DIMENSOES ECONOMICAS DA PRODU

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    20/63

    3.1 Amplia~o do rnercado de bens de consumo

    Nao e dificil demonstrar que a industria cultural, seja pelo con-teudo da producao cultural que veicula, seja pela sua estreita vincula-o com os demais setores de producao atraves da publicidade, poten-cia a acumulacac de capital, sobretudo no departamento produtor debens de consumo. No entanto, acreditar que esta seja a funyao precl-pua da industria cultural, significa perder de vista as implicacoes dapropria definicso da industria cultural que mesmo seus cnticos maisseveros parecem acatar .

    "Cultura industrializada", de urn ponto de vista estritamenteecon6mico, deve s ign if ic a r, a c ima de tudo, a producao cultural subme-tida as leis gerais da producao e circulacao de mercadorias . Quandotratamos dos bens culturais, como bern define GOLDENSTEIN nao esta-mos tratando de produtos culturais que sao t ambem mercadorias, masde produtos que 0 sao integralmente: "A diferenca entre os dois ca-sos e fundamental. A primeira categoria pertencem as obras culturaise artfsticas, cujas regras de concepcao e e la bo ra c ao d is tin g uem -se dalogica do sistema social, embora sejam eventualmente objeto de com-p ra e venda no mercado. Este grupo, portanto, inclui boa parte dopatrimonio artistico e cultural que preexiste a era da industria culturale continua a existir a sua margem, embora, segundo Adorno, estejacontaminado pela logica da mercadoria e do lucro a partir do mornen-to em que corneca a assegurar a sobrevivencia de seus criadores nomercado. A segunda categoria pertencem os produtos tipicos da in-dustria cultural. Aqui a distincao entre a logica da obra e a logica dosistema e dissolvida pelo primado do efeito, pela busca de formulas

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    21/63

    Nso obstante, e partin do do carater empresarial, ou, se preferircapitalista, da producao cultural de massa que se pode compreenderpor que a funcso primeira da industria cultural no capitalismo contem-poraneo nao e a de alargar rnercados para a industria de bens deconsume, mas sirn constituir, ela propria, uma frente de acumula-t;ao e valorizacao do capita]. 1 0 Os rurnos da industria cultural brasi-leira s o podem ser precisados a partir dessa constatacao .

    Ela nos perrnitira entender, alern do rnais, por que, ao contrariodo que tern sido indicado por alguns autores, 0 surgimento de jornaisem fins do seculo XIX, nao define por si s6 0 nascimento de umaindustria cultural no Brasil, ou, ainda, por que so a partir da segundarnetade dos anos 60, a televisao vern integrar efetivamente 0conjun-to da industria cultural brasileira, conferindo-lhe a unidade que hojeap resenta. 1 1

    o problema da determinacao da logica que rege a producao cul-tural num determinado momento, ou seja, da natureza da relacao en-tre a empresa e a mensagem, nao deve seT reduzido a uma preocupa-t;ao meramente acadernica. A mensagem submetida a logica da ernpre-sa e a mensagem enquanto pressuposto em torno do qual se articula aproducao industrial defmem possibilidades diversas de crescimento dacultura de massa, Apenas no prirneiro caso, como bern demonstraGoldenstein 12, 0 produto-rnercadoria, tipieo da industria cultural, po-de ser encontrado. Por isso, podemos afirmar que, a menos que a pro-ducao dos bens culturais seja regida pelas leis gerais da producao mer-cantil, ou, se preferir, segundo a logica de empresa, nem a existenciados meios de comunicacao de massa e nem mesmo a exploracao co-

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    22/63

    mercial da producao cultural pod em garantir, por si s6s, 0 desenvol-virnento da industria cultural.3.2 Universalizafio de valores sociais hegemonicos

    A segunda funyao atribuida Ii industria cultural, a funcao ideo-logica de universalizar os valores das classes socials h eg ern on ic as, n ltoteria para nos maior interesse, nao fossem as implicacoes dai decor-rentes pa ra a exame das possibilidades de crescimento e de diversifi-cayao da producso cultural de massa nos pafses perifericos,

    Segundo as interpretaeoes convencionais da dependencia cultu-ral, uma vez descolonizadas a Africa e America Latina e assegurada asubordinacao economica dos novos estados nacionais, 0capitalismo sevolta hoje para a tarefa de aperfeieoar e aprofundar seu sistema decontrole em n Ivel mundial. Esse "processo de aperfeicoamento" sedaria agora em nivel superestrutural ideolegico. A industria culturalno terceiro mundo estaria, assim, submetida a urn duplo constrangi-mento: em primeiro lugar ela obedece aos designios ideol6gicos dosproprietaries dos meios de producao, mas, alem disso, e instrumenta-lizada como veiculo de dominacso pelo capitalismo central.

    Nunca sera superfluo lembrar que, mesmo quando tratadaapenas enquanto aparelho ideol6gi.co do capitalismo, diflcilmente sepode desconhecer que no interior da industria cultural haja espayopara contradicoes que se expressam no seu produto final, De outrolado, embora nao se possa desconsiderar as funcoes ideologicas do"rnodelo cultural industrializado", nllo menos importante para a com-preensao do seu funcionamento e crescUnento e a autonomia relati-va do proeesso de produyao cultural no momento em que ele se orga-niza em bases ernpresariais.l " A logica de valorizacso do capital in-

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    23/63

    dominacao ideo16gica. De outro modo nao se poderia esperar que aindustria editorial s e engajasse na publ icacao e venda da obra de Marxe Lenin em bancas de jo rn ais, o u ainda, q ue fo sse passive] a a ss oc ia ca ocom capitais estrangeiros da industria cinematografica para a producaoe distribuicao de filrnes nacionais de conteudo rnarcadarnente politicoe social.

    3.3 Concent raeao do capitalComo foi sublinhado anteriorrnente, ao contrario de analises po-liticas e sociologicas da cultura de massa, apenas as custas de abstra-

    ~1}ese aproximacoes cornprometedoras, a industria cultural pode rece-ber urn tratamento geral de urn ponto de vista economico. No interiordo "complexo industrial cultural" coexistem industrias com caracte-risticas e modo de funcionamento distintos, as quais grupamos, gros-so modo, nas categorias "industrias de informacao" e "industrias demensagem".

    No primeiro case, indtistrias de informacao, pesquisas dispom-veis confirmam, principalmente para a imprensa e televisao, tenden-cias a concentracao, tanto horizontal quanta vertical, em parses desen-volvidos, J 4 as exernplos das gran des-cadeias de jornais, peri6dicos etelevisao, americanas e europeias, au, ainda, da RCA, cujos interessesalcancam ao rnesmo tempo a producao de bens eletronicos de consu-mo, a exploracao de canais de televisao e a producao de programas,sao eloquentes nesse sentido. A concentracao do capital, portanto,ao contrario do que tern sido sugerido pelas analises convencionais daproducao cultural brasileira, nao singulariza a industria cultural perife-rica naq ueles casos.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    24/63

    "edi~ao-reprodu~iio"15 , ocupado por grandes firmas, que se observa 0maior grau de concent racao. Essas f l rmas, dependendo das condlcceslocais de producao, podem ou nao internalizar as outras fases do ciclode producso (cnacso, reproduego-fabricaeao, distribuicao e comercia-Iiza~iio), descrevendo, assim, urn maior ou menor grau de centraliza-'tlIo dos diversos segmentos, e, consequentemente, de concentracao docapital.

    A concentracao vertical e horizontal observadas no ambito daproducao cultural de rnassa, soma-se ainda urn movimento mais recen-te de associacao entre capitals de outros ramos de producao e aquelesdireta ou indiretamente Jigados a industria cultural, reforcando atendencia a "concentracao diagonal" de capitals, conforme denomi-na9ao de Caparelli.' 6 Asmultinacionais da informacao norte-america-nas, cujos capitals se associam ao de redes hoteleiras, agendas de via-gens e aluguel de carros; a Fiat italiana, proprietaria da Editora Rizzo-Ii, do Corriere dela Sera e La Stampa, au ainda, 0 grupo brasileiroMaksoud, que do setor de engenharia diversifica seus interesses emdirecao a imprensa periodica, ilustram essa tendencia Ii concentra-~ao diagonal.

    A pesquisa de Mattelart! 7. sobre as vinculayees existentes entre aindustria eletronica, aeroespacial, comunicacao de massas e gruposbancarios aborda essas novas dimensoes assurnidas pelo investlmento naindustria cultural neste final de seculo, 0 quadro 1,embora se refiraapenas a propriedade dos capitais.investidcs na producao e distribui-yao de bens culturais das industrias de cinema e de televisao nos E s-tados Unidos, e expressivo neste sentido.

    lmporta-nos concluir que a concentracao observada na indus-tria cultural nao e apanagio da periferia nem pode ser explicada apenas

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    25/63

    QUADRO IA QUE M PIlR lENCEM AS EM PRE SAS PRODUTORAli E DISTRIBUIDORAS DE TELEVlsAO

    ECINEMA(1)

    CINEMA E TELEVlsAO PRODU(,::AO PRINCIPALORPORAC;:AO MAlaR

    Param ount anerna e Param ount CATVRICO CinemaCablecom GeneralE~-Unitod Panunount Theatr Metro Goldwyn May", (dist.IManhattan CableMetro Goldwyn Mayor (Prod.) (2)Time-Life BroadcastingWarner B roa.. S eve n Art.GoldmarkComunications Co.Burbank Studio.Columbia . Pictu,'r'tSS cre en G em sUnited ArtistaMu.iJ:a Company of America (MCA)Un ive r sa l P i c tu r e sNational Broadcast ing Co.Teleprompter (CAlV)Hushes Sport NetworkO en era l L eam ln gTomoJ1OW En t er ta imen tG .E . Broadcasting 0..I .earnin IILeisureTune 0..L ev in e Em b as syPictures Co.Ringling Bros-Braman & BaileyMattel-RadnitzP a loma r P i ct ur es I nt er n at io n alCinema XBrut Production.

    Gulf & We.tern IndustriesGeneral Tire cl RubberAmeriean Broadcasting Co.(ABC)Loew's corp.Time-Life

    K in ney N atio na l S erv ic es

    Transamerica Corp.Columbia Saving & Loan

    F u rn o . s eg ur o s, mater.las1l' :rlmas~etc.Pneus e aeronauticaCadela, de TVCiprros, hotelshnprensa, industria de popel, TV

    Comuntcaeao I banoos , seguro5

    Bancos, avia!f io, o: :m!l t rur . ;: ioBanco, poupanc;a, etc.

    Radio Corpota.tion of America EJetronlca(RCA)Hughes Aircraf t Aeronautlca, pett6leoHughes Too lTune-Life hnpren ..GenOIal Electric E1e1ronicaWestinghouseAVCOMattelBristol-Myer.XeroxFeberg_

    Eletronicaa.troni"", .eronauticaBrinquedosFannocOutico.OomputadoresPerfume.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    26/63

    3.4 Mercados culturais e concentraeao de rendaQualquer esquema teorico que procure dar suporte as analises

    econ6micas da industria cultural no Brasil, deve necessa ri a rnen te can-siderar as dimensces e organizacao dos mercados culturais, Mercadossupostamente estreitos tern side apontados como caracterfstica fun-damental da industria cultural brasileira.Apesar da e sc asse z d e a na lise s sobre a o rg a niza c ao dos diversosmercados culturais, na sua grande maioria levadas a cabo por agencias

    de publicidade de forma descontmua e t6pica, costuma-se aceitar,sem maiores indagacoes, a tese segundo a qual 0 padrao de crescirnen-to da industria cultural repete aquele da producao de bens de consu-mo duraveis, estando uma como a outra submetidas a logica do mo-delo de desenvolvimento economico excIudente e concentrador derenda. A inev itavel e l it izacao da producao cultural no Brasil decorreria,portanto, da compatibilidade que se verifiea entre uma p erversa es-trutura de distribuicao de renda e mercados consurnidores atrofiados.o argumento e a teoria que lhes sustentam sao conhecidos. Noentanto, versoes "culturalistas" da industria cultural pouco se preocu-pam em explicita-los e, menos ainda, em avaliar as implicaeoes dai de-correntes para a elaboracao de p oh tic as p ub lic as relacionadas a indus-tria cultural. Vale a pena, portanto, resumi-los,

    Dos anos trinta ate meados dos anos cinquenta, do is setoresguiaram a industrializacao no Brasil: 0 setor produtor de bens de con-SlUnO assalariado e 0 setor leve de bens de producao. Esta etapa deerescimento, ou de "industrializacao restringida" na expressao de JoaoManuel Cardoso de MeUo18 , fo i, a ss im , c or np a tiv el com 0 crescimentodo consumo dos trabalhadores. Seguindo uma trajetoria tipica de urnpadrao "market widening" de crescimento economico 19 , a partir doqual a salaries reais mantidos constantes acrescenta-se urna forte de-manda de trabalhadores urbanos, foi possrvel, na decada de quarenta,

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    27/63

    do de transicao em que as politicas "desenvolvimentistas" da segundametade dos anos cinqiienta assentam as bases nao apenas da interna-cionalizacao da economia brasileira, mas de urn novo padrao de acu-mulacao que tera como setores dinarnicos os produtores de bens decapital e bens de consumo "capitalista" au duraveis, Uma vez que asestratos medics e de mais aItas rendas eram insuflcientes para propi-ciar a expansao da producao de bens durave is , r equeri a- se , como suge-re GOLDENSTEIN'2 0, "uma redistribuieao da renda pessoal contra osassalariados de base em favor dos grupos medics urbanos". Ou seja, 0dinamismo do novo padrao de acumulacao , do ponto de vista dareal izacao, dependia de um mercado formado par camadas de rendamais alta que a media e nao p elos trabalhadores assalariados,

    A ruptura do "modele articulado de desenvolvirnento", a im-plantacao de urn padrao de crescimento baseado na producao de bensde consumo duraveis ,na concentracao de renda e na internacionaliza-~ao da economia, integram, portanto , uma mesma trama,Import a-nos indagar, no entanto, em que medida a industriacultural brasiliera percorre aquela mesma trajetoria, eabendo, assim,no mesmo "modele" interpretativo do crescimento das industrias debens de consumo duraveis , e em que medida dele se distancia, Emoutras palavras, ha que se procurar singularizar 0 padrao de cresci-menta das "industrias culturais", sem 0 que estariam prejudicadoso alcance e a coerencia das politicas publicas voltadas para a produ-( (aO cultural de massa.As hipoteses mais relevantes subjacentes a s interpretacoes con-vencionais do papel e das caracterfsticas fundamentals da industriacultural foram abordadas acima. Re sta -n os e xam in ar aquelas que di-zem respeito diretamente ao seu modo de crescimento, quais sejam: a)a semelhanca do que se tern observado na formacao dos mercados debens duraveis de consumo, a perversa estrutura de distribuicao da ren-da seria funcional e compativel com a "elitizacao " da producao cultu-

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    28/63

    que antes sejam caracterizados 0 produto e as condicoes de sua fabri-ca~iio. As elasticidades - pre~o e renda - da demanda, assirn como aparticipa~ao do setor publico e 0grau de oligopoliza~lio na oferta de de-terminado bern cultural, silo alguns dos elementos que determinam 0seu pre~o fmal e 0 tamanho do seu mercado. Alern disso, observa-seque no interior des diferentes segmentos da industria cultural, aqueleselementos podem ser ponderados de forma inteiramente distinta.

    Tome-se, por exemplo, 0 caso da industria editorial. Embora aestrutura de distribuicao de renda, 0 grau de oligopoliza9!o, nivelde subsidios governamentais sejam elementos defutidores da dimensaode seus mercados, sua evolucao estara determinada, sobretudo, pelosnfveis de alfabetiza~ao ("cultura") alcaneados ao longo de determina-do periodo. Se as variaveis renda e alfabetizacao ("cultura", educa-~!o) estao positivamente correlacionadas, 0 crescimento da indus-tria editorial se assenta nas possibilidades de dernocratizacao do siste-ma de ensino. Nesse sentido, a concentracao da renda se afigura comourn constrangimento ao desenvolvimento da industria editorial dificil-mente superado segundo a mesma 16gica observada para os bens dura-veis de consurno.

    D imediatisrno com que tern sido tratados os problemas relacio-nados Ii organizacao e evolucao dos mercados culturais pode se revelartanto mais comprometedor quanto rnais desagregada queremos nossaanalise. Quando examinado nos seus subsetores, 0mesmo segmentoeditorial pode apresentar caracteristicas de comercializacao bastanteespecfflcas segundo 0produto considerado. A edi.;ao de livros tecnico-cientfficos, de autores classicos e de fascfeulos, por exernplo, guardampoucas caractensticas comuns no que respeita suas condicoes de co-mercializacao e formayiio de seus mercados. Daqueles tres segmentos,o subsetor de edi~ de fascfculos revela-se 0 caso mais tipico de urnproduto cultural que, pelas suas proprias funcoes paradidaticas, e be-neficiado sempre que se eleve 0poder de compra dos consumidores derenda mais baixa,

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    29/63

    Ao inves disso, parece-nos rnais adequado, seja de urn ponto devista teorico ou metodologico, retermos a proposicao de Umberto Eoo,para quem a industria cultural nasce "no momento em que a presencedas rnassas na vida a ss oc ia d a s e toma 0 fen om eno m ais evidente de urncontexte hist6rico". 2 1 0 seu desenvolvimento sera, portanto, baiiza-do acirna de tudo pelas possibilidades reais de a cesso d as diversas clas-ses sociais a frui-rao dos bens culturais.

    Nao existe, no entanto, nenhum mecanismo automatico queprornova esse ajuste entre industria cultural e consumo massificadodos bens culturais no sentido emprestado por Eco, qual seja, de urnaampf iaeao da producao cultural originaria e dependente da democra-tizacso do seu consumo. Pelo contrario, 0 desen volvimen to da indus-tria cultural nao escapa as condicoes impostas pelo padrso de acumu-1a93.0 em vigor.Em se tratando de economias perifericas como a brasileira istosignifica que, dada a natureza exc1udente do seu crescimento, 0 pro-cesso de consolidacao de importantes segmentos da industria culturaltem sido permanenternente confrontado com 0 espectro da formacaode urna "cultura de massa sem massa", A logic a de urna producao vol-tada para mercados reduzidos forrnados por consumidores de alta ren-da, longe de ser funcional, como tern sido apregoado, aponta em mui-tos casos para 0 limite do desenvolvimento da industria cultural noBrasil. . E , parlindo desta constatacso que podernos estabelecer urn pri-meiro marco para integrar a politica cultural no debate de politicaseconomicas que cercam 0 processo de desenvolvimento brasileiro.Se e verdade que a cultura de massa no Brasil nasce a revelia do Es-tado, nso Ii menos verdade que sua consolidacao como atividade eco-nomica gerenciavel e rentavel tern dependido cada vez mais da possi-bilidade de urna intervencao publica planejada para 0setor.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    30/63

    4 IN DD STR IA CU LTU RA L E D EPE ND N CIAo tratarrfento que tern sido dispensado a cultura de massa, emanalises correntes da dependencia, privilegia antes suas funcoes en-quanta transmissora de valores sociais hegemonicos e modificadora

    dos padroes de consumo das sociedades subdesenvolvldas do que as' implicacoes da dependencia economica no desenvolvirnento das indus-trias culturais em parses perifericos, Procura-se , neste case, avaliar asdiversas dimensoes - cultural, politic a e econornica - assumidas pelaformula consagrada por Hollywood segundo a qual "0 produto-filme "cria 0 consumidor de produtos americanos, 0 centro, escreve Carazzai,"s6 podera exportar suas "solucoes" mediante duas condicoes basicas:a) a preservacao da dependencia, b) a instalacao, na sociedade recepto-ra, de uma demanda artificial voltada para 0 consume de bens e ser-vivos elaborados no exterior, Nesta Ultima condicao, como afinnaGalbraith, ''tecnologia subordina-se entao a estrategia de persuasao doconsumidor. (.,.) Ve-se bern clare, entao que impondo 0 consumo deculturemas aIheios a s realidades dos paises dependentes, a producaosegundo a divisao internacional do trabalho vigentefaz com que seelaborem nao apenas objetos e services para culturas, mas, nao vainenhum exagero dizer, fabricam-se culturas (as dos povos dependen-tes) para consumirem bens e servic;os."22

    Esta abordagem das relacoes de dependencia no ambito da in-dUstria cultural Se mostrainsuficiente, para nossos objetivos, por duasrazoes principals. Primeiro porque traz implicita uma grave simplif ica-~ao das diversas formas de insercao dos paises perifericos na economiainternacional. Deste modo, a dependencia cultural do Marrocos emrela~ao a Franca e a do Brasil com relayao aos Estados Unidos assumi-riam as mesmas caracterfsticas e a mesma dimensao. Em segundo lugarporque estamos menos interessados nas funcoes de dominacao exerci-das pela cultura de massa no ambito das relacoes centro-periferia do

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    31/63

    seu aparelho produtivo, a formacao de urn grande mercado consumi-dor. Nao se trata aqui de repisar as divergencias observadas entre asinterpretacoes "internacionalistas" e "endogenistas" do crescimentobrasileiro mas de reafirmar a Sua especificidade, dificilmente capt adaem analises convencionais do imperialismo e da dependencia,o modo particular de insercao da economia brasileira no capita-lismo internacionai constitui, portanto , a contrapartida das especlfi-cidades do seu crescimento. Ele reflete, ainda, a possibilidade de quevarias divisees internacionais do trabaiho possam \jgir num mesmoperfodo, e que elas nao apenas se diferenciem segundo 0 pais consi-derado mas tambern segundo os diversos setores industrials, incluindoa industria cultural.

    Desse modo, e de se esperar que a dependencia do Brasil no am -bito da industria cultural assuma caracterfsticas proprias e cornpatfveiscom 0 padrao de crescirnento da sua economia. Alem disso, 0 modocomo a industria cultural brasileira se integra no circuito internacio-nal da produyao cultural se modifica segundo 0 segmento consider a-do, e depende de elementos os mais variados, tais como, os requeri-mentos tecno16gicos para a producao dos bens culturais, tamanho desmercados, propriedade e controle dos meios de producao, pohticas dereserva de mercado, etc.o quadro de dependencia da producao cultural nlIo se esgota nasimportacoes de bens culturais, embora seja esta a sua manitestacaomais visivel. A producao cultural e funcao, dentre outros fatores, dosrecursos materiais, financeiros e human os disponfveis em determinadopenodo. Ou seja, cada modo de expressao cultural esta relacionado auma base material especifica cuja producao depende freqiientementede importacoes de insurnos ou da utilizacao de tecnologias estrangei-ras!3 Alem disso, observa-se que a introducao de novos produtos cul-turais no mercado brasileiro se tern feito acompanhar de urn aumento

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    32/63

    dos pagamentos de direitos de fabricacao de determinados bens, de di-re itos de utilJza fao de m arcas, " copy righ ts" , ou d ire itos de autor.o subsfdio a irnportacao de insumos e equipamentos tern sideuma pratica recorrente no trato com os problemas re1acionados a de-pendencia da producso cultural nos paises perifericos, Essa alternativapede se apresentar, no en tanto , como uma solucao de curto prazo, cu-jo resultado final e u estreitamento dos laces de dependencia tecnolo-gica. Uma segunda alternativa e a elaboracao de programas de desen-volvimento tecno16gico, de melhoria da qualidade dos materiais, ins-trumentos e equipamentos nacionais, e de programas de substitui-~ao de irnportacoes desenhados especificamente para os diversossubsetores da industria cultural, delineando-se, assim, os marcos deuma intervencao publica de medic e longo prazos tendo em vista umamaior autonomia e articulacao interna da producao cultural no Pais.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    33/63

    5 IN DUS TR IA CULTURAL E IN TERNACIONALIZA f:;A OA avaliacao das relacoes de dependencia observadas no am-

    bito da industria cultural brasileira pode-se revelar urn procednnen-to necessario, mas insuficiente, para que se possam definir as dife-rentes instancias de sua integracao nos circuitos internacionais da pro-ducao cultural. Para que i8S0 seja possivel nso nos basta determinar apartir da descricao des seus processos produtivos, os requerirnentos deimportacao de insumos e equipamentos, 0 volume de irnportacao deprodutos finais, e de pagarnento de patentes e "copyrights". Mas, ten-do sempre como referencia esses elementos definidores da base tecnicae do modo de producao dos diversos produtos culturais, nossa analisepode ser completada id en tific an do -se, c aso a c aso , a s flu xo s principaisde tecnologia, insumos, capitais e produtos finais, e as formas como aindustria brasileira de le s pa r ti ci pa ,

    A insercao do Brasil nos circuitos econornicos internacionais daproducao cultural se modifica segundo 0 periodo e 0 produto consi-derados e, grosse modo, pode ser abordada a partir de suas duas rnoda-Iidades principais: a) integracao de tipo comercial e b) integracao detipo produtiva,5.1. lntegracao comercial

    No seu estagio mais elementar de integracao a industria cultural,as economias perifericas constituem apenas mercados consumidoresdos produtos elaborados nos paises centrals. Os p610s culturais hege-monicos e suas regioes de influencia sao determinados nao apenasem funcao de condicoes tecnicas de producao mas, sobretudo, emfuncao de elementos historicos e geopohticos.Desse modo, a primeira grande divisao do rnercado internacionalde produtos culturais segue de perto as fronteiras dos antigos imperioscoloniais, obedecendo a uma hierarquizacao dos centros produtores

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    34/63

    produtos americsnos nos seus antigos mercados colonials e na AmericaLatina, mas tambem, e de maneira cada vez rnais acirrada, nos pro-pries mercados europeus. Ao longo dos anos 50 e 60 Coram poucos osmementos em que se conseguiu fazer refluir a hegemonia americana:neo-realismo no cinema italiano, "Nouvelle Vague" na Franca , 0" rock" ingles, music a roman tic a da Italia. Vit6rias de P irro . S eja pelofracionamento dos seus mercados e da sua estrutura industrial, sejapela sua relativa in fe rio rid ad e te cnolo g ie a, a industria cultural euro-peia se rn os tra in ca p az de alargar , ou mesmo guardar, os e sp a co s e nta oconquistados. Se no caso da America Latina 0 deslocamento do eixocultural hegem6nico da Europa para os E.U.A. se completa desde 0fun da guerra, em f ins dos anos 60 a presenca dos produtos culturaisam ericanos nO S pr6prios mercados europeus ja estaria tambem con-solidada.

    Das producoes de TV ao cinema, passando pelo djscp, espeta-culos, quadrinhos, e animacso, 0crescimento da participacao america-na no comercio internacional de produtos culturais provocara reaecesas mais variadas, tanto nos p arses europeus quanto nas economiasperiferieas,Num primeiro instante, observa-se governos simplesmente imo-bilizados por politicas nacionalistas, ou mesrno por um certo xenofo-

    bismo, pretendendo erigir a "denuncia da Invasso cultural americana"a condtcao de antidote contra a descaracter izacao das culturas nacio-nais. Referimo-nos aqui a s politicas domiriadas pelo discurso de "voltaa s raizes" ou de "preservacao do patrimonio artfstico e culturalregional" .

    Por se tratar de urn fenomeno ate entao relativamente recente,ou por terem sido quase sempre abordados a partir de ngidas posturasideo l6g icas m ais p reocupadas em condena-Ios do que em ana lisa-Ios, a

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    35/63

    5.2. Integra~o produtivaNo que tange 0modo de integracao do Brasil na ind ustria cultu-

    ral, os anos cinquenta e primeira metade dos sessenta constituem 0marco da Sua diferenciacao no conjunto dos paises perifericos, A irn-plantacao das industrias de bens de consumo duraveis, 0 melhora-mento da infraestrutura de transportes e construcao de uma modemarede de te lecomunicacoes , criam as condicoes iniciais para a integra-o dos mercados regionais e para a producao intema de determinadosprodutos culturais.Em alguns casas, trata-se de iniciativas do proprio capital nacio-nal que p rocura ocup ar esses novos espacos de valorizacao. Em outroscasas, como na industria fonografica, a industria brasileira se constituicomo urn desdobramento da propria intemacionalizacao dos capita isdo setor a partir de seus c entro s h eg em onlc os. Q ua nta ao Estado, suasintervencoes nao parecern ir alem de uma certa preocupacao com 0controle c i a propriedade do capital investido em detenninados setores,como na radiodifusao, imprensa periodica, e exploracso de canals detelevisao.Mas ainda assim, naqueles casos as intervencoes sao movidasantes por razoes de seguranca nacional do que por consideraeoeseconomicas ou pela necessidade de planejamento do desenvolvimentodas industrias culturais. Por isso nao nos parece exagero afirmarque, no Brasil, as industrias culturais nascern, na verdade; a reveliado Estado.Importa-nos concluir, no entanto, que ja nos anos cinquenta,abrem-se para 0 Brasil e para outros parses semi-industrializados comoo Mexico e Argentina, possibilidades diversas de Insercao nos circuitoseconomicos internacionais da producao cultural, onde a l6gica comer-cial nao.sera mais a dominante.o modo e a intensidade com que essas transforrnacoes ocorrern

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    36/63

    avancados de substituicao de produtos, insumos e tecnologias impor-tados, indican do a possibilidade de uma maior autonomia e articula-o intema da industria cultural brasileira e, em muitos casos, atemesmo uma maior competitividade externa de seus produtos.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    37/63

    6 CONCLUSOESProcurando dernonstrar a funcionalidade da industria cultural

    no padrao de crescimento instaurado a partir dos anos cinquenta,analises convencionais do "modelo cultural brasileiro" parecemdesconsiderar qualquer possibilidade de intervencao publica fora docampo delimitado pelas duas funcoes atribuidas a industria culturalprivada. Ou seja, do Estado espera-se apenas que a financie e que apolicie.

    Ernbora a analise do papel do Estado na implantacao e no fun-cionarnento da industria cultural no Brasil fuja ao escopo do nossotra ba lh o, p re te nd emo s ter mostrado que a ana lis e e cono rn ic a da pro-ducao cultural de massa deixa vislumbrar a p ossib ilid ad e, e a necessi-dade objetiva, de intervencoes publicas cuja racionalidade POllCO ounada tern a ver com a noyao de industria cultural funcionalizada peloEstado segundo seus interesses imediatos de dorninacao e controleideologico, Alem disso, e no que respeita ainda a autonomia relativada industria cultural, dois aspectos devem ser retidos: a) produtividadeeconomica e "produtividade pohtica" convivem no seio das industriasculturais de maneira multo mais contraditoria do que nos deixa veruma primeira e apressada leitura dos cnticos da cultura de massa, b) aindustria cultural sera tanto mais autonoma, e nzo 0contrario, quan-to maiores as possibilidades de consolidar seus mercados e delesapenas depender para operar e crescer.

    A relutancia dos estudiosos da sociologia da cultura e dosresponsaveis pela conducao das pohticas culturais em atribuir signi-ficacao cultural pr6pria aos meios de comunicaeao de massa talvezexplique a maneira dispersa como tern sido tratadas ate aqui as produ-'toes culturais de massa no Brasil. 2 4

    As gestoes de Ney Braga e Eduardo Portella a frente do MECrefletem, a este respeito, a mesma postura:

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    38/63

    nicayao de massa como agencias a service de interesses estrangeiros,incapazes de propiciar a constituicso de linguagens "culturais" locais.Os te6ricos da gestto Portella, por sua vez, preferern caractenza-loscomo puro comercio, condieao que leva a situa-los no campo de an-ti-arte, A cultura de massa e algo puramente negativo, onde entramelementos que nao Sio puramente simboliccs, artisttcos, nem culturaisem sentido estrito",2S

    De outro lado, na medida em que a tonica dominante nas pes-quisas sobre cultura de massa privilegia suas vertentes politicas,esteticas e sociologicas, nso se produziu ainda entre nos wn conheci-mento sistematico da base tecnica e econ6mica em que operam ascharnadas industries culturais.

    Nao obstante, j a nao e rnais possivel ignorar 0 crescimento daprodueao cultural de massa no Brasil. Seus impactos no modo de fazere consumir cultura hoje sao diflcilmente redutiveis as f6nnulas deFrankfurt, 0 que nos tern exigida deflnicoes mais claras ace rca do seupapel e do seu Iugar na construcao das polfticas culturais. Do mes-rna modo, ainda que com relative atraso, tern se procurado avaliar 0desempenho das industrias culturais enquanto espaeos individualiza-dos de acumula~ e valoriza~o do capital, possibilltando-se assimmaior integrll~io de politicas culturais no conjunto das politicasecon6micas.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    39/63

    nALGUMAS ESTATfSTICAS RELATN ASA INDUSTRIA CULTURAL

    P au lo s erg io Mart ins Alves

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    40/63

    Esta seo tern por objetlvo apresentar algumas informacoesquantitativas relativas a industria cultural visando fomecer subsidiospara novos debates e pesquisas sobre 0 tema. A existencia de umnumero de questoes que necessitam serem clariticadas a luz de pesqui-sas empiricas adicionais e resultado tanto da s dificuldades derivadasdas limitaeoes das informacoes estatfsticas sobre produeao e consumode bene culturais no Brasil2 6 quanto dos pontos levantados anterior-mente na discussao conceitual e metodol6gica do tema. Dada a diver-sidade das atividades e produtos culturais, a analise quantitativa daquestiio cultural foi centrada naquele segmento denominado "indus-tria cultural", consubstanciado pelas seguintes atividades:Cinematografica; Irnprensa Peri6dica e Editora de UVIOS e

    Follietos; Fonograflca; Produ~ao de In strum en to s Mu sica is;Radiodifusao e Teledifusao, e Producao de Espetaculos deA rtes C enicas e de MUska .As informacoes relativas ao crescimento e is mudancas estrutu-

    rais ocorridas na industria cultural entre 1949 e 1980 tanto em terrnosde producao quanto de emprego, estao sumarizadas nas tabe1a 1.1 e1.2 respectivamente, As taxas medias de crescirnento para os diversosperiodos considerados mostram que no geral, 0 desempenho da produ-9 1 0 da industria cultural "vis-a-vis" 0 do emprego fo i mais ou menostfpico, e similar aquele relative a industria de transformaeao e ao setorterciario. Isto e, 0 crescimento foi mais intense, a nfvel da produeaodo que do emprego gerado,especialmente durante os penodos 1959-70e 197075. No entanto, 0 fato do crescimento da producao ter sidomais acentuado nao implicou em acrescimos continuos e significativosna participacao re1ativa da industria cultural na producao total, prin-cipa1mente em tennos do seu segmento manufatureiro (2,1% em 1949e 2,8% em 1980). Por sua vez, a participacao relativa do segmentoterciario da industria cultural na receita total gerada pelo setor tercia-rio cresceu de 0,9%' em 1949 para t 9% ern 1980, ambas inferiores Iiparticipacao relativa desse segmento no total do emprego terciario

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    41/63

    Ainda com rela~ao a tabela 1.2 deve-se destacar a importanciado segmento terciario da industria cultural em termos do ritmo decrescimento do nivel do emprego, especialmente em periodos de desa-celeracao economica , Assim e que nos perfodos 1959-70 e 1975-80 ataxa media de crescimento do emprego nesse segmento foi superioraquela obtida para 0 setor terciario como urn todo, sendo que 0 opos-to ocorreu no segmento manufatureiro da industria cultural.

    A tim de se testar a hipotese normalmente aceita de que a mo-dernizacao da infra-estrutura e 0 crescimento do setor industrial impli-cam numa expansao complementar do setor terciario, foi feita umaaval i acao da Inter-relacao entre 0 emprego no segmento manufaturei-ro e 0 emprego no segmento terciario da industria cultural. Procu-rou-se quantificar, entao, se os acrescimos no nivel de emprego dosegmento manufatureiro implicavam em a c re sc imos rna io r es no empre-go associado a s atividades te rc ia ria s d a in du stria cultural. Assumindoque 0 crescimento do emprego ligado ao segmento manufatureiro e 0unico determinante do crescimento do emprego no segmento tercia-rio, e tomando par base a metodologia detalhada no item "A" doAnexo, conclui-se que a hip6tese acima esta condicionada ao com-'portamento dos seguintes fatores:A e, razao entre a elasticidade da produeao terctaria em relacao aoemprego e aquela relativa a producao manufatureira;B ::; variacao percentual na produyao terciaria com relacao a variacao

    de 1% na producao manufatureira;C ::: razao entre a emprego inicial no segmento terciario e no manu-fatureiro.Dessa forma, se 0 produto A.B.C for maior do que urn, significaque 0 emprego no terciario crescera mais rapidamente do que naindustria. Os resultados encontram-se na tabela 1.3 e, a despeito daslirnitaes dos dados, os valores obtidos tendem a confirmar a hip6te-se acima, Isto e, sugerem que acrescimos no emprego naqueles setores

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    42/63

    J,. . ,0 1 . . .a-N 0'' ; : : :QO r-...0'). ~!!!a- N_ I : !. ,--- . . . .. . .M.- 0r- C " ' I ' 1 f T " l i1a- M..... 0-'I:;~~l : l- O~ ~'J ~~0

    a- . . . . . - 1:. . . . . .,~OJa- ~_, ' "~ ~O"I ... "a- NO 0. . . . . . '!l.' ". . ..E"'i' "'O~QO .. ,'J "1."':,1':.'4. ~- V)~o-.t-- ~" . . . ,

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    43/63

    0 1-0O r-;.~'" .....N. . . .r-~ 0 . . . . . . . . .- I'- "'l~; : l a- '"N. . . . .t : r-~ a-t:; ~ . . . . .'" "'l('j_~ a- N'"-a- '"0r-; . " ' .- . . . . . '"000.), NO'\N.....-II'- OJ."'lN."'l- .... OO'DCO. . . .

    -

    ciCOa-. . . . .

    . ! 5 ieso~. .

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    44/63

    1970 e 1980 se, durante as decadas de 50,60 e 70, respectivamente, aestrutura interindustrial do valor da transformacao industrial tivessepermanecido constante.Os resultados obtidos encontram-se na tabela 1.4. A primeiracoluna mostra, para cada penodo de tempo, 0 nivel de emprego que

    se obteria em cada industria de acordo com a hip6tese de crescirnen-to proporcional dentro do setor industrial. A segunda coluna mostra adiferenea entre 0nivel efetivo de emprego e 0estimado. Isto e , mostrao efeito liquido da mudanca na estrutura interindustrial do valor datransformaeao industrial sobre 0 emprego em cada setor. A terceiracoluna apresenta este mesmo efeito em terrnos percentuais,

    TA SE LA 1.3INDOSTRIA CULTURAL: RELAf:;AO ENTRE 0 CRESCIMENTO DOE M PR EGO MA NU FA TU RE IR O E D O EM PR EGO TE RC IA RIOBRASIL1949-1980INDOSTRIA CULTURAL

    L H " '. !ANO --=.B .C. A B CLl41949-591959-701970-751975-80

    0,46642,77511,14772,2003

    1,31205,95291,40051,0192

    0,33180,57990,60841,5922

    1,07150,80391,34701,3559

    Fonte:mGE- Censo Industrial - Dados gerais/Brasil, 1950, 1960, 1970, 1975,1980.- Censo dos Serl'i~s/Brasil, 1950, 1960, 1970,1975,1980.- C enso Comercial/Brasil,1950, 1960, 1970,1975,1980.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    45/63

    '"q'",ec~'"N

    '"'"'". g ;.o

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    46/63

    De acordo com os resultados enoontrados pode-se afinnar que,no g era l, a industria cultural como urn todo bern como s eu s d iv er so ssu bse to re s c re sc eram mais do que a media da totalidade do setormanufatureiro, 0 que estaria a indicar a v ita lid ad e d a industria cultural"vis-a-vis" as dema is indus tr ia s manufatureiras. As excecoes ficam porconta da totalidade da industria cultural; edicao e edic;ao e impressaode jornais, outros periodicos, livros e manuais; edic;ao e edic;ao e im-pressao de jornais, todos relativos ao penodo 197589; e fabricacao deinstrumentos musicais, durante 0pencdo 1959-70.

    Ainda com relacao a temat ica de crescimento no ruvel de empre-go, procurou-se quantificar os efeitos da elevaeao da produtividade damao-de-obra sabre a expansao do ernprego da industria cultural, con-forme metodologia apresenrada no item "B.2" do Anexo 1. A tabels1.5 mostra, para os perfodos 194959, 1959-70, 1970-75, 1975-80 e1970-80, os niveis de emprego na industria cultural como urn todo enos seus d iv ers os s ub se to re s, s up ondo que a produtividade no penodoconsiderado tivesse permanecido constante. No geral, as resultadosobtidos foram o s e sp era do s para um Pais como 0Brasil. Ou seja , seriade se esperar a ocorrencia de urn acrescimo na produtividade media damao-de-obra, Assim, para a totalidade da industria cultural e produti-vidade elevou-se em todos os perfodos considerados, irnplicando numefeito negativo sobre 0total da mao -d e-o h ra emp re ga da . No entanto,o impacto negative foi mais acentuado na primeira metade da decadade 70 e, principaImente, na decada de 60. Isto e, se a produtividadenao tivesse variado entre 1959-70,0 emprego total na industria cultu-ral teria sido 126% superior aquele efetivamente registrado em 1970.

    Urn outro aspecto a ser salientado e que.rio quinquenio 1970-75,a produtividade cresceu em todos os setores ria industria cultural,sobressaindo-se setor de edi~ao e edicao e impressao de jomais,Nesse setor, a invariabilidade da produtividade no perfodo , implicariaem urn acrescimo de 104% na absorcao de mao-de-obra em termosdaquele volume efetivamente registrado em 1975.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    47/63

    ~ '" ~ '" . . , . . ~ . . = q V i'11 "l ~ '" " . ~~ q : Q 0 ~ 0 ~ Qt;- '1 t;- o '", . ~1. . . . . . 1 i i ~ '" e- co :: i . . , : :1 "; : s . ;g . . ~ : ?;- o. . "~ .:. ~ ~ ; ; : : "i < :' ~'? ~ "l; : : : ~ r--. '" '" r-,: : I " " ' M '" ;; ~ q. ~;> o '" '" . . . . q.5 00 '" ~ '? '" ~f " 't ia ~ ' " "' ' " ~ '" . . . . . . . . '" ~ . , . . '" ;; e- '" ~ ~"' . . . . . se . . . .0( '" . . . . : : : : ~ . . . '" M:!i' :2 ' " '" 8j: r-, : : : ; . .., . . 00 ~. O Il O Il l!~ t-;. . . '" Q). "1 ~.1Ol '" r- '" ;i '" . . '" . . iQ . . . . . . . . . ": > ~ '" - : ; ; '?'";' -r ". . ~ , . . , ".. e-, 1:; . , . . ." . . .'" . . . . '" ~ '" : :1 ;!; Ie '" . . . . . . . . r- . . . , :(II '" . . . . . . . . . . . . '1 . .- < '? 'Q . . "i ~. . , !' Ii > '" " " '" '" '" {l1 ~. . : e : : : l '" '" t: :~ M '" . . . . '" rl ]. . . . '" i!: ; : : : . . . ~s '" . . . . 00;. ~ .-'I.~~ ~ . . . . . . . " ' '" e-. '" '" 8-;. "l. q :: J . . . . . 'i.. . . , e-- lO t . . , ~ : : : ; :< :' -r < : ' '? M : : ? ~ ;~s "I r 2 ,N . . . . '" j '" II r. : : : 1 2 : : : l "~ . . . . ~ .:. ~ ~ '" . . ~, " . . . . '" '": '"~ ~ ";' '1 . . ci ~ a, '" ~- g ~ t.

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    48/63

    re daquele descrito anteriormente na medida em que subtrai da rmorepresentativa do poder de penetraeao das importacoes a r a z a o entreas exportacoes e 0 consume aparente. 0 interesse desse indicadorderiva do fato de que para alguns setores com urn volume de expor-tacoes relativarnente elevado as pressoes para protecao devem serrnenores do que naqueles setores com uma razao importacao/consu-rna aparente igualmente elevada mas com nfveis reduzidos de expor-tacoes. Isto e, produtores localizados em setores com interesses nfti-dos para exportacao normahnente estao mais preocupados com reta-liat;6es externas e dessa forma menos inc1inados para questbes prote-cionistas do que aqueles produtores em setores com limitado interessede exportacao, Finalmente, 0terceiro indicador (razao de cornercio) edefinido como a diferenea entre as exportacoes e as importacoes, divi-dida pelo total do comercio setorial (0 valor total absoluto das expor-tacoes e importacoes setoriais), Confonne explicitado no Anexo,esta razao pode variar entre os limites de menos urn (se 0 setor apenasimporta) e de m ais urn (quando 0 setor apenas exporta), e seu valor esinal medem a direcao e intensidade daquela direyao de especial izaeao.A tabela 1.6 apresenta os resultados referentes a e ss es tr es in di-cadores, Em termos gerais, 0 que se p od e c on sta ta r e uma d ep en de n-c ia relativamente reduzida do Brasil com relacao ao mercado extemopara 0 suprimento daqueles setores explicitados, principalmente a par-tir do final dos anos 70.Com relacao ao primeiro indicador utilizado, verifica-se que apartir de 1975 nenhum dos setores considerados apresentou umapenetracao de importacao oriunda dos paises industrializados superiora 10%. A (mica excecao fieou por conta da produeao de instrumentosmusicals e aeess6rios (11%), embora as evidencias para os anos seguin-tes indiquem uma reducao nesta razao.

    Ao se levar em conta 0 segundo indicador (razao liquida dasimportacoes) veriflca-se que para alguns poucos setores os percentuaisobtldos foram ate mesmo negatives, sugerindo mais urna vez a peque-

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    49/63

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    50/63

    decada de 70, para urn valor positivo de 0,68% em 1985. Esta mudan-ca brusca, estaria relacionada, em grande parte, com a portaria doConcine que tornou obrigat6ria a elaboraeao das copias dos interne-gativos em laboratcrios brasileiros.

    Em terceiro Iugar, procurou-se calcular elasticidade-preeo eelasttcidade-preco cruzada da demanda por cinema. Uma vez quenosso interesse consiste em mensurar a elasticidade-preco entre dife-rentes pontos na curva de demanda, fez-se uso do conceito de elasti-cidade-arco da dem anda , is to e:

    6 Q (P I + P2) /2 A Q PI + P2E== 6,p 6,ponde:6, P = variaeao no preco do ingresso ;f : J . Q = variacao na quantidade dernandada;Pie Q 1 = valores do preco e da quantidade no ana inicial, ep2 e Q 2 ::;;; valores do preco e da quantidade no ano fmal

    A fim de se evitar vieses decorrentes de flutuacees erraticas nasvariacoes expJicitadas, ajustou-se as dados utilizados atraves do crite-rio da media movel de tres anos. Os resultados obtidos encontram-sena tabela 1.7. sendo que as desagregacoes temporais foram feitas parauma melhor apreciaeao da estabilidade destes indicadores.

    Observa-se que 0 coeficiente obtido para 0 primeiro perfodoconsiderado, 1972-74, acusa urna demanda elastica pelo produto emquestao. Sendo assim, a queda nos precos dos ingresses, verificada nopedodo (tabela 1.8), determinou urn aumento rnais que proporcionalno numero de espectadores. Considera-se que a despesa com cinemano infcio da decada de setenta, provavelmente, possufa urn peso signi-ficativo na parcela do orcamento familiar reservado ao lazer. Dessa

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    51/63

    cinema, implicando que as continuas elevacoes nos precos dos ingres-80S provocaram urna queda proporcionalmente mais acentuada nonumero de ingressos vendidos. Torna-se importante considerar que amaier disponibilidade de bens substitutos no mercado detenninamuma alta elasticidade do produto. Nesse caso existem pelo menos tresprodutos que podem ser considerados como bens substitutos para 0cinema: a televisao27 .0 vfdeo-cassete e 0 computador tipo PC. Dessaforma, parece que a medida que aumenta a concorrencia da televisao,principalmente da TV a cores, e mais recenternente do vfdeo-cassete edos computadores, a demanda por cinema tende a tomar-se maissusceptfvel as oscilaeoes nos precos dos ingressos.

    TABELA 1.1COE FIC IE N TE S DA ELAsrICIDADEPRE~O E DAE LA SrIC lD AD E -PR E~O C RU ZA DA D A D E MA ND A PO R C IN EM A

    BRASIL1972-198:5

    PER f oDOS ELASTIC IDADEPRE ( : ,ODADEMANDA ELASTIC IDADE .PRE ( : ,OCRUZ ADA DA DEMANDAI1972-741975-771978-801981-831984-851972-85

    1,920,4215,043,182,922,11

    -4,290,788,63

    Fontes:CINEJORNAL. Rio de Janeiro, EMBRAFILME, n.l/lul. 1980; n. 2/mar. 1981;n, 4fset. 1982; n. 6ffev. 1986.Elaborao:Fundacao Joio Pinheiro (FJP). Centro de Economia Aplicada (CEA).

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    52/63

    No Ultimo periodo analisado, 1984-85, constata-se uma quedano preco dos ingressos e, dado que a demanda e elastica, ve ri fic a -s e u rnacrescirno mais que proporcionaI no numero de ingressos vendidos ,Supoe-se que entre esses dois anos 0 cinema tenha se beneficiado, emparte, do processo de recuperacao ocorrido no nivel da atividadeeconomics do Pais.

    TABELA 1.8EVOLUI;AO DA RECEITA TOTAL E DO PR Ec;Q M lID IO DOSINGRESSOS

    BRASIL19721985ANOS RECEIT A TOTAL 1

    (em mil)PRE(:O MDIO DOS lNGRESSOSI

    1972197419751977197819801981198319841985

    356.051377.965376.670425.969439.142359.317337.170280.364241.617253.328

    1,821,701,551,932,152,182,362,582,512,45

    Fontes:ClNEJORNAL. Rio de Janeiro, EMBRAFILME, n.l/jul. 1980; n. 2/mar. 1981;n. 4/set. 1982; n, 6/fev. 1986.Dados deflacionados pelo IGP - Disponibilidade Interna - Coluna 2.Conjuntura Econ6mica - FGV (base 1970 = 100).

    A elasticidade-preco da demanda constitui-se, tambem, em urn

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    53/63

    bruta de bilheteria nos anos considerados. Isto estaria a indicar que aeleva~o dos precos dos ingressos, como medida a ser adotada pelosexibidores, parece nao ser a a\=[omais recomendave l ,Por fim , atraves da combinacao de informacoes relativas aoconsumo aparente "per capita" e a renda "per capita" procurou-setestar se a dependencia funcional da prtmeira variavel para com asegunda difere em tennos dos diversos subgrupos da industria cultural.As diversas fonnas funcionais testadas bern como a derivacao da elas-ticidade-renda para cada urna delas estso detalhadas no item "0" doAnexo.A tabela 1.9 rnostra os resultados encontrados atraves deste pro-cesso de ajustamento para os diferentes segmentos da industria cultu-ral. Estes segmentos se acham subdivididos em grupos com base naforma funcional que melhor explicou as mudancas observadas noconsumo "per capita". 0 criterio de escolha se baseou nos valoresobtidos para 0 coeficiente de determinacao ajustado (R -2)_

    Os coeficientes encontrados para a -elasticidade-renda em todosas segmentos da industria cultural se mostraram constantes, mesmopara 'ediyao, ediyio e impressao de jornais' cuja forma funcionalutilizada foi do tipo Iog-log-reciproca (log c =a- b!y + d log y)28. Noentanto, todas as elasticidades atingiram valores superiores a unidade,variando de 1,11 (pelfculas cinematograficas) para 2,42 (edi~o, edl-4J-ao e impressao de jornais). Dessa forma, pode-se afirmar que 0consume "per capita" de todos os bens e services das industrias cultu-r ais anaI is ada s crescem com a renda. Porern, 0 impacto sobre 0 consu-mo e diferenciado, em cada atividade, obedecendo a seguinte hierar-quizacao decrescente: ediyao, ediyao e irnpressao de jornais; radiodifu-sio e teledifusao ; instrumentos musicals; fonografica; ediyll:o, edilfio eimpressao de livros e peri6dicos; e pelfculas cinematograf icas, Deve-seressaltar, no entanto, que para atividades com baixo R-2 e provavelque outros fatores que nao a renda sejam relevantes para explicar a

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    54/63

    0......0\010~M~I,Q~_~_~~. . . . . . ~~ . . . . .

    o.nr-w aV)MOOO_"1-. " , , " ! O " ' ~ G I " ! ,_ " " " ' N _ _

    Vlr-OOOv-.f't'lOOO_'i __ 0'\C\_~_~N_"~

    1.1""jf---OOOlt')"""000.-lr1~"'"!.~o;,__N....._

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    55/63

    IIIANEXO

    NOT A S M ETODOLOG ICAS PARA 0 ITEM II

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    56/63

    NOT AS M E fODOLOGICAS PARA 0 ITEM UA ) EM PREGO NO SE GM ENTO MANUFATURE IRO "vIs-A -V IS"

    EM PREGO NO SE GM ENTO TE RC IAR IO DA INDUSTR IA CUL -TURALA tim de se avaliar 0 relacionamento entre 0 crescirnento doemprego na industria cultural a partir de informacoes coletadas no

    C enso Industria l com 0 mesmo dado obtido a partir de informaeoescoletadas nos Censos de Services e de Comerc io , adotou-se 0 seguinteprocedimento:

    onde.L, e Ys representam os mveis iniciais de emprego e producaonas atividades ligadas ao cornercio e services.4

    onde: Lj e Y i re pre se nta rn os rn v eis in ic ia is de emprego e producao nasatividades ligadas ao setor manufatureiro.Assurnindo que 0 crescimento do emprego da industria cultural

    Jigado ao segmento manufatureiro e 0 unico determinante do cresci-menta do emprego da industria cultural associado ao segmento tercia-rio, temos:

    ~Ls

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    57/63

    C :0 razao entre 0 emprego inicial no segmento terciario e nomanufatureiro.

    B) QU AN TIFICA C;A O D A IM POR TA NC IA D E A LGU NSFA TORE SNO CRE SC IM ~NT9 DO N tvE L D E EM PREGOEm tennos da rela~iio entre 0 crescimento industrial e 0 do

    emprego, vamos procurar quantificar a importancia de alguns fatoresque afetam 0 mvel do emprego. Dentre os fatores mais relevantesdestacam-se: mudancas na composicao do valor da transformacaoindustrial e mudancas na produtividade da mao-de-obra.B.I) Mudancas na Composicao do Valor da Transformaeao Industrial

    Para avaliarmos 0 irnpacto de muda nca s na com p osieao do valorda t ransformacso industrial no mvel de emprego assumirnos, inicial-mente, que a composicao do valor da transformacao do setor manu-fatureiro perrnaneceu constante entre os anos "0" e "t", Isto implicaque cada setor industrial cresceu Iirnesma taxa ao longo dos periodosconsiderados para analise. Temos, entao, a seguinte expressao:VTt = - Vio (1 + r) (1)onde:Vit = valor d a tr an sfo rmac ao industrial estimado na industria culturalno ano "t"Vio =valor da transforrnacao industrial efetivo na industria cultural

    no ano base "0"r = taxa de crescimento do valor da transformacao industrial do se-tor manufatureiro como um todo entre os anos "0" e "t".

    A partir da equaeao (1), 0 volume de emprego estimado no ana

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    58/63

    tria cultural cresceu mais que a media do setor manufatureiro comourn todo e, consequentemente, estaria a indicar a vitalidade dessaindustria em relacao as demais.B.2) M udaneas na Produtividade da Mao-de-Obrao indicador a seguir procura mostrar como as m udancas na pro-dutividade da mao-de-obra na industria cultural tern afetado 0 seunivel de emprego. Para tanto, assumimos, inicialmente, que esta pro-dutlvidade permaneceu constante entre os anos "0" e "t". Dada estaconstancia,o emprego na industria cultural aumentara exatamente namesma proporcao que 0 valor da t ransformacao industrial. Dessa for-ma. 0nf vel de emprego s e r a dado pela seguinte equacso :~t = Eio ~ (3)

    10

    onde:~it = ernprego estimado na industria cultural no ano "t", supondoque a produtividade entre os anos "0" e "t" se manteve cons-tante.

    A d ife re nc a ( E j _ t -1\t) pede ser interpretada de forma semelhan-te a (Eu - Ei't), isto e, qual 0 efeito dos a cresc im os na produtividadeda mao-de-obra no nivel de emprego da industria cultural. E de seesperar que acrescimos na produtividade impliquem perdas no poten-cial para expansao no nivel de emprego da industria cultural.C) AVALlA

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    59/63

    E m sum a, este indicador busca exp lica r a im portanc ia rela tivadas im portacoes na sa tisfacao da dem anda in tema. Ou seja , quan tamaior "m " , mais dependente e a industria em relacao ao setor ext erno .C .2) R aziio L iquida da Im portacao (n): em termos a lgebricos esteindicador e rep re se nta do p ela ra ziio da d iferen ca en tre a s im p or-tacoes e as exportaeoes e 0consum o aparen te. Isto e,

    M-Xn=------Y+M-XA im portancia deste ind icador deriva do fa to de que para algunsseto res com urn volum e de exp ortacao rela tivam ente elevado , as p res-roes p rotec ion istas p odem ser m enos in tensas do que a verificada p ara

    aqueles setores com urn " rn" igua lm ente elevado m as com niveisre du zid os d e e xp orta co es.C .3) R azao de C omerc io (rc ): m ede 0 ba lance do com erc io ex tem oden tro d a in dustria . Isto fl ,

    X-Mrc = ---X+ME ste ind icad or p od e varia r entre + 1 (qu and o a ind ustria e ex-p ortadora e nao ex iste nenh um a importacso competltiva) e - 1 (pre-senca de im p ortaco es comp etitivas e n enh um a exp ortacao ),

    D ) D E RNAC ;AO DA E LAST IC IDAD E -RE NDA A PART IR D E D I-FE RE NTE S FORMAS FUNC IONA IS E NTRE CON SUMO ER ENDA

    A teoria economica nso sug ere uma fo rm a funcional especifica

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    60/63

    Nas equacoes acima, ceo consumo "per capita"; yea renda"per capita"; a, b, e ,d sao as constantes c ujo s v alo re s sao determina-dos pelo processo de ajustamento; e u e a perturbacao aleat6ria.

    A elastieidade-renda, que e uma medida de sensibilidade de "e"a um a m udanca em "y", pode ser derivada matematicamente a partirda equa~o funcional, Conforme veremos em seguida, a elasticidade eigual a constante " b" no easo da segunda equacao e variavel , de acor-do com ''y'', no caso das demais equacoes. (I e yPartindo-se da defini~o de elasticidade-renda (E R = - . )a y cchega-se a s seguintes expressoes para as diversas equaeoes:a) Linear

    Diferenciando a primeira equacao em re]a~o a 'Y' tem-se:= bSubstituindo 0 resultado na expressao relativa a elasticidade vem:y b

    ER = b. - .:. ER = ---C a

    + byb) Log-logSeguindo os rnesmos passos descritos anteriormente para as de-mais equacces, tem-se:

    a tog c b 1 a c b d e b= - .-- - ou- = - ccayyayy

    b y(}y. y

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    61/63

    b y 1logo, ER = _.- .~.ER =Y c a + log yd ) Log -r ec fp ro c a b

    a log c b 1 oc b ac b---_ . . -- ou = coy y2 C oy y2 o y y '2b Y blogo, ER =- c - . . ER=-y '2 c y

    e) Log-log recfprocaa log c b d 1 ac b d-- + .. = - +- ouoy y '2 Y c oy y '2 yac b + dy--- coy y '2

    b + dy y blogo, ER = c - . . ER =-- + dy2 C Yf) Log-log quadrada

    a log c b 1 ac b

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    62/63

    IVBffiLiOGRAFIA

    1 AMORIM, I.S.D. A ind6stria cultural no capitalismo monopolistadependente: a experienc ia brasile ira . B urgos, s. ed., 1979.m i m e D .2 CAPARELLI, S. TeJevisio e capitalismo no Brasil. Porto Alegre,1982. Comunica~o de massa sem massa. 3. ed, SID Paulo,Summus, 1986.3 CARAZZAI SOBRINHO, E.H. Cultura, ciencia/tecnologia e desen-vo lv im ento , R e\ 'ista P em ambucana de D esenvoM mento ,Recife, 5(2):277-307, jul./dez. 1978.4 COEUlO NE TO , J.T . 0 que e indUs tr ia cu ltu ra l. Sio Paulo, Bta-siliense, 1980.5 DE JANVRY, A. Agrarian refonn and refonnism in Latin America.Baltimore, John Hopkins University Press, 1981.6 BCO, U. Apocalipticos e integrados ante Ia cultura de massas. Bar-celona, Lumen, 1965.7 GOLDENSTEIN, G.T. D o jornalismo polit ico iindUstria cultural.sao Paulo, Surnmus, 1987.8 LACROIX, C. et alii. Les industries culturelles-Paris, La Documen-tation Franeaise, 1979.9 MAC DONALD, D . et alii. A indUstria da cultllra-Lisboa, Meridia-no, 1971.

    10 MATTELART, A. Lacultura como empress multinacional. Bue-no s A ires, G alerm a, 1974.11 MELLO, I.C.M. de. 0 capitalismo tardio. 8[0 Paulo. Brasiliense,1984.12 MICELI, S. Teoria e pranca da polftica cultural no Brasil. Revis-ta de Administra~o de Empresas, Rio de Janeiro, 24(1):27-31,jan./mar.1984.13 MORIN , E . Cultura de massa no sec. XX . Rio de Janeiro, Forense,

    possivei fontes de informacao e noexame da bibliografia existente, Foiiniciacla urna di cu sio metcdologi-c a que sub ldlesse 0 estu do d o p ro-

  • 5/10/2018 Economia da Cultura - Jos Osvaldo Lasmar - Funda o Jo o Pinheiro

    63/63

    cesso produtivo da cultura brasilei-ra, atraves de sua industria cultural.2' fase . EMa voltou- e paraa analise quantitativa da industria eultural e procurou apro-undar c refinar a di cussio concei-tual c metodoldgiea. s analisesrealizadas prenderarn-se a industriacultural em confronto com 0dcsenvolvimcnto da cconornia brasi-leira: ao desernpenho, Ii esrrutura demereado e aos impactos dcssa in-du tria sobrc a economta: aobalance entre a ofcrta e deman-da: 110 rclaclonarnente, entre con-sumo "per capita" e ronda "percapita", na industria cultural,3f f a . s e - Nesta, Coram apresen-tados comennirios rcferentcs aosscgmenros clcito. que conduzirarnao desenho do perfil de rada urndeles, ,ainda. quer em fun~o daprecariedade da inrorma~Qcs e ta-ti ticas, quer em fun~o das que -toes levantada n a d is cu s a o concei-tual e metodolOgica, ficou evi-denciada a necessidade de con-tinu~ao e desdobramento dostrabalhos.o projeto foi desenvolvido porum a equip e do C entro de EconomiaApllcada da Funda9io Joio Pinhei-ro sob a cocrdenaclo dos eeono-mistas Paulo sergio Martins Alves eJose Oswaldo Lasmar.

    Esta publica~o "ECONOMIADA CULT -RA: Reflexfies sobre aIndustria Cultural do Brasil", ex-traida do Proj to, eontern a partemetodo16gica e os principals resul-tados obtido ao longo do de-senvolvimento do trabalho, Cornsu a divulga,