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1 Economia do Ambiente Licenciatura em Engenharia do Ambiente 2004-05 Economia do Ambiente Tiago Domingos Externalidades Uma externalidade ocorre quando as decisões de produção ou de consumo de um agente afectam a utilidade de outro agente, e não existe compensação por esse efeito. Classificação de externalidades: benéficas vs. adversas; consumo vs. produção; públicas vs. privadas. Exemplos de externalidades: Água contaminada despejada por uma fábrica química para sistemas públicos de esgotos Poluição sonora devido a um rádio a tocar num jardim público Adversas Polinização graças à proximidade um apiário Vacinação contra uma doença infecciosa Benéficas Produção Consumo

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Economia do AmbienteLicenciatura em Engenharia do Ambiente

2004-05

Economia do Ambiente

Tiago Domingos

Externalidades

• Uma externalidade ocorre quando as decisões de produção ou de consumo de um agente afectam a utilidade de outro agente, e não existe compensação por esse efeito.

• Classificação de externalidades: benéficas vs. adversas; consumo vs. produção; públicas vs. privadas.

• Exemplos de externalidades:

Água contaminada despejada por uma fábrica química para sistemas públicos de esgotos

Poluição sonora devido a um rádio a tocar num jardim público

Adversas

Polinização graças à proximidade um apiário

Vacinação contra uma doença infecciosa

Benéficas

ProduçãoConsumo

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Bens Públicos vs. Bens PrivadosDefinição Económica

1. Um bem público não é necessariamente pertencente ao Estado.2. Propriedades importantes na definição de bens públicos:

1. Rivalidade, Divisibilidade ou Esgotabilidade – a utilização do bem por uma pessoa impede a utilização por outra

2. Excludabilidade – o detentor de um bem pode impedir a utilização de um bem por outra pessoa

Bens Públicos- defesa nacional- conhecimento- estradas sem portagem não congestionadas

Recursos Comuns- peixes no oceano- o ambiente- estradas sem portagem congestionadas

Não Excluível

Monopólios Naturais- bombeiros- televisão por cabo- estradas com portagem não congestionadas

Bens Privados- gelados - roupa - estradas com portagem congestionadas

ExcluívelNão RivalRival

Teorema de Coase

• Quando podem ocorrer negociações livremente, e os custos de negociação são negligíveis, serão atingidos resultados eficientes através da negociação entre agentes interessados.

• O mesmo resultado, eficiente, será atingido independentemente da distribuição inicial de direitos de propriedade.

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Recomendações Práticas do Teorema de Coase

• Os direitos de propriedade devem ser definidos e afectados de uma forma clara.

• Um sistema centralizado de aquisição e processamento de informação deve ser da responsabilidade do Estado, permitindo identificar os emissores e os receptores de poluição.

• Devem ser quantificadas as responsabilidades legais pelo comportamento danoso.

• O acesso ao sistema judicial deve ser fácil e barato.

Exemplo de Controlo de Poluição

503515Afectação final de licenças de poluição

502525Afectação inicial de licenças de poluição

401525Controlo eficiente

503515Emissões eficientes

905040Emissões na ausência de controlo

A + BBA

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Critérios de Avaliação de Instrumentos Económicos

• Fiabilidade. O instrumento é fíavel para atingir um objectivo de nível de poluição?

• Necessidades de Informação. Qual a quantidade de informação que as entidades controladoras vão necessitar, e quais são os custos de a adquirir?

• “Enforceability”. Quanta monitorização é que é necessária para que o instrumento seja eficaz? É possível impôr a obediência ao instrumento?

• Efeitos de longo prazo. A influência do instrumento aumenta, diminui ou mantém-se constante ao longo do tempo?

• Eficiência dinâmica. O instrumento cria incentivos contínuos para a melhoria de produtos e processos de forma a reduzir o nível de poluição?

• Flexibilidade. O instrumento pode ser adaptado rapidamente e comcustos reduzidos quando surge nova informação, as condições mudam ou os objectivos desejados são alterados?

• Equidade. Quais são as implicações do instrumento em termos de distribuição de rendimento ou riqueza?

Controlo sobre a Quantidade Permissível de Poluição

• Regulamentação directa da quantidade total de poluição emitida por todas as fontes, com atribuição de quotas fixas de emissão a cada fonte emissora.

• Fiabilidade e Enforceability. São necessários sistemas eficazes de monitorização de poluição e penalizações elevadas por incumprimento

• Eficiência. Para que o instrumento fosse eficiente, seria necessário que o Estado conhecesse os custos de controlo para todas as empresas.– Custos de aquisição de informação– Assimetria da informação

• Em geral, as quotas de emissão são atribuídas arbitrariamente.• Eficiência dinâmica. Incentivos muito reduzidos para melhorias

ao longo do tempo.

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Imposição de Requisitos Tecnológicos Mínimos

• Especificação de características exigidas dos processos produtivos e do equipamento utilizado. Exemplos: equipamentos de des-sulfurização em centrais termo-eléctricas; catalisadores nos carros.

• Fiabilidade. Os efeitos são previsíveis e tipicamente atingidos.• Eficiência. Não são eficientes, pois não existe forma de

concentrar o esforço de despoluição nos emissores que podem despoluir com menor custo.

• Flexibilidade. Baixa.• Eficiência Dinâmica. Baixa.

TaxasDescrição

• A taxa deve ser uniforme sobre todos os emissores de poluição.• O valor da taxa economicamente eficiente é igual ao valor do

dano externo marginal do poluente, no nível socialmente óptimo de poluição.

• A taxa não é sobre a produção, é sobre as emissões poluentes; isto encoraja o aparecimento de efeitos de substituição.

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TaxasAvaliação

• Fiabilidade.– O nível de controlo só é previsível se a função agregada de custo de

controlo de poluição fôr conhecida.• Necessidades de informação e “Enforceability”.• Efeitos de longo prazo e eficiência dinâmica

– As empresas têm um benefício em aumentar sempre o seu nível de despoluição.

• Flexibilidade – Adaptação à inflação– Uma taxa fixa por unidade de poluição torna-se menos significativa

ao longo do tempo se houver um aumento geral de preços, levando a um aumento da poluição para além do nível socialmente óptimo.

• Equidade.– Os custos da despoluição são pagos pelas empresas, constituindo

uma fonte de receita pública (sendo estas receitas de qualquer forma necessárias)

Licenças NegociáveisDescrição

• Decisão relativamente à quantidade total de poluição permitida. – Para um programa eficiente, esta quantidade deve ser o nível

eficiente de poluição.• Uma regra que assegure que as empresas só podem poluir uma

quantidade inferior ou igual aos direitos que detêm.– Qualquer emissão acima deste nível deve ser fortemente penalizada.

• Uma garantia de que as licenças de poluição podem ser livremente negociadas entre as empresas.

• Decisão sobre a forma de atribuição inicial dos direitos de poluição– “Grandfathering”: as licenças são atribuídas gratuitamente, baseadas

num critério, como os níveis de poluição anteriores.– Leilão: as licenças são atribuídas a quem oferece um valor mais alto.

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Licenças NegociáveisAvaliação

• Fiabilidade. – O preço das licenças só é conhecido se a função agregada de custo de

controlo de poluição fôr conhecida.• Flexibilidade – Adaptação à inflação.

– O preço das licenças aumenta naturalmente ao longo do tempo.• Flexibilidade – Adaptação a alterações no sector.

– Não é preciso intervir quando o número de poluidores muda, pois cada empresa pode comprar licenças quando inicia a actividade ou vender quando abandona.

• Eficiência.– A eficiência pode ser reduzida por empresas que acumulem licenças e as

utilizem como barreiras à entrada de novas empresas.– Podem existir custos de procura significativos para a compra ou venda de

licenças.• Equidade e Aceitabilidade Política

– Com grandfathering, as empresas não sofrem custos e a aceitação por sectores habituados a intrumentos de controlo rígido é maior, mas são prejudicadas as empresas que voluntariamente tenham feitos esforços maiores de despoluição.

– Com leilão, as empresas sofrem os custos de despoluição e são beneficiadas as empresas à partida ambientalmente mais eficientes.

Políticas para Redução da Utilização de Adubos com Nitratos

Andreasson (1990)

• Objectivo: atingir o limite de 50 mg / l de nitratos em água para consumo humano.

• São considerados dois cenários, devido à incerteza sobre as taxas de lixiviação de azoto a partir de adubo e de estrume.

-9,0-7,621,218,7Licenças Negociáveis (com grandfathering)

-12,4-13,921,218,7Taxas

-15,4-10,034,224,1Quotas

50%14%50%14%Redução de adubo azotado

receitas das exploraçõesreceitas totais)

Variação nas(% das

recursos de coroas)

Custo de (milhões

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Instrumentos Imperativos vs. Instrumentos de Mercado

• Vantagens dos Instrumentos de Mercado– Tietenberg (1984) determinou que a abordagem de “controlo” custa

entre 2 e 22 vezes mais que a alternativa de menor custo, para omesmo objectivo ambiental.

– Os mercados são eficazes no processamento de informação.– Os instrumentos de mercado promovem a redução de poluição onde

essa redução tem menores custos.– Os instrumentos de controlo não oferecem incentivos para melhorias

uma vez que sejam atingidos os níveis padrão; os instrumentos de mercado criam incentivos contínuos para a inovação e a redução de emissões poluentes.

• Desvantagens dos Instrumentos de Mercado– Falhas de mercado: ausência de mercados; informação assimétrica;

risco moral.

Taxa de DescontoJustificação e Componentes

• O mesmo fluxo monetário em diferentes instantes não tem o mesmo valor (preferência temporal)

– Incerteza• Estar vivo no futuro (indivíduo vs. sociedade)• Preferências no futuro• Valor do benefício ou do custo

– Impaciência– Produtividade do capital (custo de oportunidade do capital)

• Em certas condições, a taxa de desconto do consumo é igual à taxa de juro real (eliminando a inflação) de mercado

r cρ η= +taxa de desconto do consumo

taxa de crescimento do consumo per capita

elasticidade da utilidade marginal do consumo

taxa de descon-to da utilidade

Turner et al. (1994), pp. 102-106.

.p Lρ = −

taxa pura de pre-ferência temporal

variação na probabili-dade de sobrevivência

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Taxa de DescontoMétodos de Cálculo

• Taxa pura de preferência temporal– “ A universal point of view must be impartial about time, and impar-

tiality about time means that no time can count differently from any other. In overall good, judged from a universal point of view, good at one time cannot differ from good at another. Hence...the [pure time] discount rate...must be nought”

Broom (1992, p. 92) cit. in Pearce e Ulph (1998, p. 273)• Considera uma abordagem estritamente utilitária. Problemas da

abordagem utilitária – atribuição dos recursos aos elementos mais produtivos.

• Variação na probabilidade de sobrevivência– Aumento do risco de mortalidade com a idade ou– Taxa de mortalidade média da população

• Elasticidade da utilidade marginal do consumo– Comportamento individual de poupança– Juízo da sociedade relativamente a transferências de rendimento

entre pessoas• Taxa de crescimento do consumo per capita

– Médias de longo prazo de crescimento do consumo per capita real

Taxa de DescontoElasticidade da Utilidade Marginal do Consumo

U(C)

C

U(C)

C

0=η 0≠η

U(C)>0

Utilidade do consumo

( ) µ

µ−

−= 1

1CaCU

U’(C)>0

Utilidade margi-nal do consumo

( ) µ−= aCCU '

U’’(C)<0

Variação da utilidade marginal do consumo

( ) 1'' −−−= µµCaCU

( ) ( )CUCU

C '''

−=η

Elasticidade da utilidade marginal do consumo

µη =

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Taxa de DescontoInterpretação Ética da Elasticidade da Utilidade Marginal

• Consideremos dois agregados familiares, com consumos iguais a C1 e C2, e C1 = 2C2. O quociente das utilidades marginais de consumo é:

µµ

µ−

= 22

1

aCaC

• Para diferentes valores de µ , a relação entre as utilidades marginais de cada agregado familiar é:

negl.0,030,250,350,50,60,72- µ

10,05,02,01,51,00,70,5µ

Taxa de DescontoEstimativa para o Reino Unido

Pearce, D., D. Ulph (1998). A social discount rate for the United Kingdom. In D. Pearce, Economics and Environment, Edward Elgar, Cheltenham, UK, pp. 268-285.

Taxa de desconto

social

Taxa de cresci-mento do con-

sumo per capita

Elasticidade da utilidade

marginal

Variação na probab. de

sobrevivência

Taxa pura de preferência temporalEstimativa

5,02,21,5-1,20,5Majorante

2,41,30,8-1,10,3Melhor estimativa

0,91,30,70,00,0Minorante

p.L η

.r p L cη= − +

rc

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Taxa de DescontoCríticas

• Limites ao crescimento– Poderá não fazer sentido assumir que o crescimento económico irá

manter indefinidamente um valor constante (correspondente a um crescimento exponencial da economia)

• Taxas de desconto negativas – Países em decrescimento económico– O futuro tem mais valor que o presente

Extracção Óptima de Recursos EsgotáveisProblema e Solução

( ) dteCUW t

C ∫∞ −=

0max ρ

• Problema– Escolher a função de consumo (ou extracção ) C(t) de forma a

maximizar o bem estar intertemporal, W,

CdtdR

−=sujeito a

• Solução

( )sombra sombra,0tp t p eρ=

( ) ( )sombra'U C p t=

Utilidade Factor de desconto

– levando em conta que a extracção, C, diminui o recurso, R,

– e que o recurso deverá ter sido totalmente esgotado no fim:

Eficiência intertemporal (regra de Hotelling)

Eficiência instantânea

( ) 0R ∞ =

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Extracção Óptima de Recursos NaturaisRegra de Hotelling

• Regra de Hotelling:– O preço sombra (custo de utilizador) aumenta exponencialmente

com o tempo.( ) teptppp

dtd ρρ sombra,0sombrasombrasombra =⇔=

– A extracção é inicialmente mais alta, diminuindo progressivamente ao longo do tempo (à medida que aumenta o preço)

– A regra de Hotelling estabelece uma trajectória eficiente: qualquer alteração no padrão de extracção provocará uma diminuição no bem estar.

– O preço sombra descontado é constante ao longo do tempo (solução eficiente):

( ) sombra,0sombra ptpe t =−ρ

Extracção Óptima de Recursos EsgotáveisDinâmica do Consumo

• A variação do consumo com o tempo é dada pela solução da equação:

( ) sombra sombra,0' tU C p p eρ= =

• A solução pode ser obtida através do gráfico da utilidade marginal:

U(C)

C

U’(C)

C

sombrap

• Consoante as características da função de utilidade, a partir de um certo instante o consumo poderá ser zero.

• O valor de psombra, 0 é estipulado pela condição de esgotamento de recursos até ao fim do período de optimização.

• Se a taxa de desconto aumenta , o consumo aumenta também, e o esgotamento de recursos ocorre mais cedo.

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Extracção Óptima de RecursosCondições de Validade da Regra de Hotelling

• Conhecimento preciso do stock de recurso existente ou• Distribuição de probabilidade de futuras possibilidades de

exploração– Quanto maior a incerteza acerca de preços mais elevados no futuro,

mais provável é que o empresário aumente a exploração no instante presente

• Os mercados para recursos não renováveis estão sujeitos a uma falha de mercado intertemporal

• Stock de recurso fixo• Ausência de progresso tecnológico• ...• Se o preço não aumenta exponencialmente, poderá ser porque o

stock não está fixo...isto é, existem descobertas.• ... suscita questões empíricas

Exploração Óptima de Recursos RenováveisMaximum Sustainable Yield

Fig. 1.1.1 The basic objective of fish stock assessment

Sparre, P., S. C. Venema (1998). Introduction to Tropical Fish Stock Assessment - Part 1: Manual. FAO Fisheries Technical Paper 306/1.

Colheita máxima de longo prazo

Retornos decrescentes ao esforço de pesca

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Exploração de Recursos Renováveis

( ) CRFdtdR

−=Variação do recurso com o tempo

Taxa de crescimento do recurso (ton/ano)

Extracção (consumo) do recurso

F(R) (ton/ano)

R (ton)0 KRMSY

Capacidade de suporte (equilíbrio para C=0)

Produção máxima sustentável MSY

Atingir o MSY tem sido em geral o objectivo de gestão

Exploração de Recursos RenováveisCurva de Pesca em Função de Esforço

Sparre, P., S. C. Venema (1998). Introduction to Tropical Fish Stock Assessment - Part 1: Manual. FAO Fisheries Technical Paper 306/1.

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Exploração de Recursos Renováveis Acesso Livre

• O equilíbrio diminui com a melhoria das condições económicas:– aumento do preço de mercado;– diminuição dos custos;– aumento da eficiência.

( )EcpqRcEpqERcEph −=−=−=líquida receita

0>− cpqR Receita líquida positiva – aumenta o esforço e entram mais pescadores na actividade

Aumenta E, diminui R

pqcR

cpqR

=

⇔=− 0Equilíbrio bionómico

Exploração de Recursos Renováveis Acesso Livre

F(R) (ton/ano)

R (nº indivíduos)0 400 000200 000

O equilíbrio bionómico pode ocorrer à esquerda, à direita ou no MSY.

À medida que Eaumenta, esta recta

roda para a esquerdaqER

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Exploração de Recursos RenováveisPropriedade Privada

• Aplicando teoria do controlo óptimo, obtém-se:

( ) dtEecpqRVA t

E ∫∞ −−=

0max ρ

( ) qERRFdtdR

−=

( ) ( )( ) ( ) ( ) ( )( )***** '' RcprRFRcRcpRF −=−−

Modificação da regra de ouro

( ) ( )( )[ ] ( )( )�� ��� ����� ���� �� dRRcpRcpRFd −=− ρ

ganho por colher mais tarde (devido à reprodução do stock)

ganho por colher já (devido ao rendimento financeiro)

Exploração de Recursos RenováveisPropriedade Privada

• Com custo unitário constante, c’(R)=0 e a regra de ouro fica:

( ) ( )( ) ( ) ( ) ( )( )***** '' RcpRFRcRcpRF −=−− ρ

( ) ρ=*' RF

F(R) (nº indivíduos/ano)

R (nº indivíduos)0 400 000200 000

%0=ρ

Para ρ >5%, não existe equilíbrio: é mais rentável extinguir a população (o mais rapidamente possível)

100 000

%5,2=ρ

%0,5=ρ

( ) hRRdtdR

−=

ind.0004001ano/05,0

KK/2

5,0%ρ >

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Exploração de Recursos RenováveisPropriedade Privada

( )

−⇔= R

KrRF 21' * ρ

F(R) (nº indivíduos/ano)

R (nº indivíduos)0 400 000200 000

Para ρ >5%, não existe equilíbrio: é mais rentável extinguir a população (o mais rapidamente possível)

100 000

( ) hRRdtdR

−=

ind.0004001ano/05,0

%5=r%0=ρ

%5,2=ρ

%0,5=ρ

5,0%ρ >

Exploração de Recursos RenováveisPropriedade Privada

( )0c →∞

( ) ( )( ) ( ) ( ) ( )( )*

0

*

0

*** '' RcprRFRcRcpRF −=−−

>

< ����������

Assim, a existência de custos unitários variáveis (que diminuem com o aumento de stock) estabelece equilíbrios mais altos.

( ) ( )( )[ ] ( )( )RcpRcpRFdRd

−=− ρ

Se então e nunca é óptimo extinguir o stock.( )' 0c →∞

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Exploração de Recursos Renováveis Exemplo: “Baleen Whales” da Antarctica

F(R) (ton/ano)

R (nº indivíduos)0 400 000MSY

200 000

( ) RERRdtdR

pescadordia103,1

ind.0004001ano/05,0

5

⋅×

−=

A pop. aumenta aprox. - 5% por ano (para R baixo)- 2,5% por ano (para R=200 000)

Avaliação Económica de Bens Ambientais

• Muitos bens ambientais não são trocados em mercado, os as pessoas poderiam decidir o seu valor.

• As técnicas de avaliação ambiental tentam obter preços para esses bens.

• Pressupostos (Edwards-Jones et al., 2000)– As alterações nos bens ambientais, para terem um valor monetário

não-nulo, têm que ter um impacte no bem estar dos indivíduos.– O valor total de uma alteração nos bens ambientais é tomado como a

soma dos valores dos seus efeitos sobre cada indivíduo (a “sociedade” é entendida simplesmente como a soma de todos os indivíduos).

– Os diferentes tipos de impactes devem ser comensuráveis, isto é, devem podem ser comparados e existe sempre uma certa quantidade de dinheiro que pode substituir uma certa quantidade um bem ambiental.

– Os bens ambientais de igual valor podem ser substituídos entre si sem perda de bem estar.

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Tipos de Valores Ambientais

• Valores de uso – Uso actual (directo e indirecto): utilidade ganha por um indivíduo

através do seu consumo (directo ou indirecto) de um bem ou serviço, ou devido ao consumo feito por outros.

– Opção: valor proveniente de manter aberta a opção de vir a consumir um bem no futuro, para um bem relativamente ao qual as preferências futuras do consumidor ou a oferta futura são incertas.

• Valores de não uso (valores de existência)– Valor de legado: utilidade proveniente de saber que o recurso pode

ser utilizado por outras pessoas, da mesma geração (intra-geracional) ou de outras gerações (inter-geracional).

– Valor intrínseco: valor do bem ambiental “em si mesmo”, independente-mente de qualquer utilização humana.

Cálculo do Valor Económico Total

• Valor económico total– Valor de uso + valor de opção + valor de legado + valor intrínseco

• Verificar que as componentes não são mutuamente exclusivas– Exemplo: o valor de uso directo obtido pelo corte de uma floresta

não pode ser adicionado ao valor de uso directo da floresta pararecreio, ou ao valor indirecto da protecção de solo.

• Não fazer dupla contagem– Não considerar mais do que uma vez cada benefício.– Os bens ambientais são compostos complexos, sendo portanto difícil

separá-los em constituintes elementares para avaliação.

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Conceitos Fundamentais da Avaliação Ambiental

• Excedente do consumidor– Diferença entre o preço que o consumidor está disposto a pagar por

um bem (WTP) e o preço que de facto paga.• Disponibilidade para pagar/receber

(Willingness to pay – WTP / Willingness to accept – WTA)– Quantidade de dinheiro que um indivíduo está disposto a pagar para

assegurar um aumento de bem estar ou para evitar uma diminuição de bem estar.

Técnicas de Avaliação Económica Adaptado de Edwards-Jones et al. (2000)

Avaliação contingenteExperiência de escolha ou preferência afirmada

Projectos sombraCustos de substituição

Comportamento Potencial(Preferência expressa)Valores de uso e não-uso

Mercado artificialCustos de viagemDiferença de ordenadosValorização hedónica

Alteração de ProdutividadeCusto de OportunidadeDose-respostaDespesas preventivas ou mitigadoras

Comportamento Observado(Preferência revelada)Valores de uso

Mercado Construído(com curva de procura)

Mercado Implícito(com curva de procura)

Mercado Convencional (sem curva de procura)

Técnica

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Avaliação sem Curva de Procura

• Despesas preventivas e mitigadoras: – Considera aquilo que as pessoas estão dispostas a gastar para evitar a

degradação.– Ex: instalação de vidros duplos para evitar o ruído das rodovias.

• Alterações na produtividade– Considera o ambiente como um factor de produção, avaliando o bem

ambiental com base nos seus benefícios para a produção.• Custo de oportunidade:

– Considera os ganhos perdidos para proteger um bem ambiental.– Ex: valorização dos subsídios nas Medidas Agro-Ambientais.

• Dose-resposta e efeito sobre a produção– Requer dados sobre as respostas fisiológicas de seres humanos, animais ou

plantas à poluição. • Custo de substituição ou projectos sombra: valoriza um bem ambiental

através dos custos de o restaurar ao seu estado original, se estiver degradado.

– Válido quando existem constrangimentos que obrigam a realizar o restauro.– Exs: custos de manutenção de um padrão de qualidade da água; manutenção

da área total de áreas húmidas.

Avaliação com Curva de ProcuraPreferência Revelada

• Custos de viagem. Principalmente utilizado para estimar a procura ou a curva marginal de valor para locais de recreio com entrada livre.– Para consumir um bem público (local de recreio), os indivíduos

precisam de consumir um bem privado (transporte). A curva de procura pode ser estimada a partir da relação entre visitas aos locais e o custo de transporte.

• Valorização hedónica. Baseado no conceito de que todos os bens satisfazem necessidades múltiplas.– Ex: uma casa proporciona abrigo, mas consoante a sua localização

proporciona acesso a diferentes quantidades e qualidades de serviços, entre os quais serviços ambientais (como espaços verdes, silêncio, etc.).

– Estima-se uma “função de produção” para o bem, considerando como factores de produção múltiplas características.

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Avaliação com Curva de ProcuraPreferência Expressa

• Evitam a necessidade de encontrar um bem complementar (transporte ou habitação) ou um bem substituto (variação compensante no salário) para derivar uma curva de procura e estimar quanto é que um indivíduo implicitamente valoriza um bem ambiental.

• Avaliação contingente:Medição holística do valor de um bem. – Experiência de escolha ou preferência afirmada.

• Problemas com a avaliação contingente– Subestimação da WTP.

• As pessoas afirmam um WTP de 70-90% dos valores que acabam por pagar.

– WTP vs. WTA. • A variabilidade em WTA é maior que em WTP.

– Enviezamento parte-todo.• Ex: é dado o mesmo valor a um lago e ao conjunto de lagos a

que ele pertence.– Enviezamento devido à forma de pagamento.– Enviezamento devido ao valor inicial.

Método dos Custos de SubstituiçãoExemplo: Castro Verde

• RC is the replacement cost of nutrients and eroded sediment removal (€ha-1 yr-1),

• St - St-1 is the soil loss from time t -1 to t (ton ha-1 yr-1),• Nj is quantity of the jth nutrient in soil (kg ton-1),• Pj is the price of the jth nutrient (€ kg-1), • CSR is the cost of the removal of eroded sediment from time t to time t-1

(€ ha-1 yr-1)• Taxa de erosão: 3.7 t ha-1 yr –1

• Massa específica: 1.32 kg m-3

• A perda de nutrientes é calculada a partir da perda de solo e darespectiva composição química.

• O preço dos nutrientes é obtido a partir do preço dos adubos.

Eq (1)( St-S(t-1) ) ∑J=1

K+ CSRRC = NjPJ

Marta, C., H. Freitas, R. S. de Groot (2004). Incorporating the benefits supplied by soil in environmental policies appraisal: the case of the Zonal Plan of Castro Verde (in prep.).

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Método dos Custos de SubstituiçãoExemplo: Castro Verde

17.662Total 1 + Total 2

Model Output

13.780Total 2

13.7805.202.65

Replacement Cost

(€ha-1yr-1)

Drag up Market Price(€ m-3)

Volume soil loss(m3 ha-1 yr-1)

3.882Total 1

0.0840.350.240.066K

0.0240.79 0.030.008P

3.7740.1023710Organic matter

Replacement Cost

(€ ha-1 yr-1)

Fertilizers Market

Price(€ kg-1)

Nutrients loss

(kg ha-1 yr-1)

Soil content(kg ton-1)

Nutrients

Data Input

Os custos vêm essencialmente da matéria orgânica e do material de base.

Método dos Custos de SubstituiçãoExemplo: Castro Verde

Marta, C., H. Freitas, R. S. de Groot (2004). Incorporating the benefits supplied by soil in environmental policies appraisal: the case of the Zonal Plan of Castro Verde (in prep.).

• Pode sobre-estimar porque:– Assume que as perdas de produtividade associadas à perda de solo

são suficiente para justificar a sua substituição.• Pode sub-estimar porque:

– Não considera os custos de distribuição dos adubos e do sedimento.– Não considerar os custos de transporte do sedimento.– Não considera os danos provocados fora da exploração agrícola.

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Método dos Custos de SubstituiçãoExemplo: Castro Verde

• Contextualização dos Valores– Valor obtido para a perda de solo:

• 17.45 € ha-1 ano-1

– Receitas líquidas privadas (exploração com 161.3 ha, funcionando de acordo com orientações técnicas e económicas típicas):

• 65.84 € ha-1 ano-1.– Apoio do Plano Zonal de Castro Verde

• 43.00 € ha-1 ano-1.

Marta, C., H. Freitas, R. S. de Groot (2004). Incorporating the benefits supplied by soil in environmental policies appraisal: the case of the Zonal Plan of Castro Verde (in prep.).

Avaliação ContingenteExemplo: Castro Verde

• Inquérito sobre a importância dada à preservação da pseudo-estepe cerealífera de Castro Verde: valor paisagístico e de preservação da biodiversidade.

• 230 entrevistas• A conservação da biodiversidade é o principal motivo

apresentado pelos inquiridos para a preservação desta paisagem rural (52%).

• CENÁRIO: O Plano Zonal seria terminado, e haveria uma intervenção de uma ONGA, utilizando uma contribuição financeira inicial.

• Agregando para a população portuguesa, e convertendo para um fluxo anual de pagamentos (horizonte de 15 anos; taxa de desconto de 5%), obtém-se um valor de 294.04 € ha-1.

Marta, C, Freitas, H., de Groot, R.S. (2002) – Using contingent valuation surveys to estimate benefits delivered by an agricultural landscape: a case study from Portugal. International Workshop Protecting Nature on Private Land – From Conflicts to Agreements. Lahti, Finland