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Economia e Poder
“Tensões e Conflitos na África ocidental:o caso de Casamansa”
Licenciatura Estudos Africanos
FLUL26 / 11 / 2013
Lúcia Bayan
Conflito de Casamansa• Conflito de baixa intensidade e longa
duração entre Governo do Senegal e Movimento das Forças Democráticas de Casamansa (MFDC);
• Início – 1982;
• Objectivo – independência de Casamansa;
• Estimados 3.000 a 5.000 mortos e muitos deslocados e refugiados;
• Censo da Caritas em 1998 – 62.600 desalojados internos e refugiados; 10.000 a 13.000 refugiados na Guiné-Bissau e Gâmbia. Actualmente, a maioria dos refugiados já regressou;
• Envolvimento, por vezes directo, da Guiné-Bissau e, indirectamente, de outros países da região.
Casamansa32.350 km2
- Região de Ziguinchor
- Região de Kolda
Casamansa
• Região agrícola, muito irrigada, com muitos mangues e palmares;
• Principais culturas: arroz, óleo e vinho de palmeira, caju;
• População maioritariamente Joola;
• Povo independente e guerreiro;
• 1445 – Dinis Dias é o 1º a chegar e dá o nome Kassamansa:Kassa + Mansa
casa/domínio + rei dos Joola (a quem chamou Felupe);
Casamansa• 1645 – portugueses fundam Ziguinchor,
feitoria subordinada à capitania de Cacheu;
• Ziguinchor grandes ligações com a Guiné:◦ proprietários da terra: “fijus di terra”,
descendentes portugueses e mulheres Joola;
◦ refugiados luta independência;◦ maioria população fala crioulo;
• 1836 – França instala-se em Carabane;
• Fim 1ª metade do século XIX - França controla quase totalidade de Casamança;
• 1886 – troca Casamansa por região de Cacine, sul Guiné;
• 1ª década séc. XX – delimitação terrestre da fronteira entre as colónias francesa e portuguesa;
Casamansa
• Colónia francesa não integrada no Senegal;
• Grande resistência Joola ao poder colonial;
• Até 1935 – campanhas de pacificação;
• 1960 – independência do Senegal;
• 1973/4 – independência da Guiné-Bissau;
Origens/Razões históricas• 2ª GM – França faz exigência de contributo: arroz e
homens;
• Aline Sitoé Diatta (1920-1944) incita à revolta;
• 8 Maio 1943 – prisão de Aline Sitoé Diatta;
• 1944 – Aline Sitoé Diatta morre em Tombuktu, Mali, tornando-se símbolo da resistência joola a todas as formas de dominação externa;
• 1947 – constituição do grupo político MFDC (Movimento das Forças Democráticas de Casamansa), movimento secessionista liderado por Victor Sihumehemba Diatta, 1º Professor Agregado em Letras Francesas do continente africano. Reclama a independência de Casamansa e éassassinado poucos meses depois;
• 1948 – criação de "La Voix de la Casamance”, o 1ºjornal inteiramente africano;
Razões históricas
• 1960 – Independência do Senegal com inclusão de Casamansa: Promessa de Leopold Senghor aos lideres do MFDC: Independência de
Casamansa após 20 anos de união ao Senegal;
• Décadas 1960 e 1970 – sentimento de injustiça e de marginalização às políticas do governo senegalês: exclusão económica, desigualdades sociais, descriminação étnica;
• 1980 – Senghor quebra a promessa "para o bem das duas nações“;
• 1982 – manifestação (+ de 100 mil pessoas) em Ziguinchor reprimida violentamente (+ 200 mortos e 400 pessoas presas e torturadas);
• 1983 – nova manifestação (175 mil pessoas) em Ziguinchor reprimida violentamente (+ 100 mortos e 700 presos) seguida de prisões, torturas, assassinatos…
Razões políticas e sociais
• Má distribuição da riqueza:‒ recursos do sul para o norte, ‒ pouco investimento em Casamansa;
• Expropriação de terras para turismo e agricultores do norte;
• Descriminação étnica:‒ norte, maioritariamente wolof e muçulmano (wolofização
do Senegal),
• Repressão e violação dos direitos humanos:
Cronologia do Conflito• 1985 – MFDC cria braço armado Atika (guerreiro, em joola), liderado
por Sidy Badji;
• 1990 – Atika-MFDC inicia ataques a edifícios militares, com o apoio encoberto do exército da Guiné-Bissau; até 1999 – MFDC é apoiado pelo presidente João Bernardo (Nino) Vieira, da Guiné-Bissau.
• Exército senegalês – ataque a bases do MFDC na Baixa-Casamansa e na Guiné-Bissau (principais ataques em Julho e Agosto);
• 31 de Maio de 1991 – assinado, em Bissau, o 1º acordo de cessar-fogo, mas tem curta duração;
• Abril de 1995 – conflito chega à Europa: desaparecem 4 turistas franceses;
• Setembro de 1995 – Senegal e Guiné-Bissau atacam o MFDC.
Cronologia do Conflito• Sacerdote Augustin Diamacoune Senghor, líder do MFDC, defende
política de diálogo e reconciliação para a independência de Casamansa;
• 1996 – Governo senegalês recusa e envenena poços de água; morrem 170 pessoas no departamento de Oussouye;
• 1997 – MFDC mata 38 soldados e 4 oficiais; em retaliação o exército senegalês executa 42 civis;
• 7 Junho 1998 – na Guiné-Bissau, Ansoumane Mané, apoiado pelo MFCD revolta-se contra Nino Vieira; Senegal envia 1200 soldados para apoiar Nino Vieira; a guerra civil dura 11 meses, Nino Vieira é deposto em 7 Maio de 1999;
• Dezembro 1999 – acordo de cessar-fogo;
• Março 2001 – assinatura de tratado de paz entre Sacerdote Augustin Diamacoune Senghor (MFDC) e Abdoulaye Wade (Presidente do Senegal); entre acordo e tratado morrem cerca de 500 pessoas;
Década de 2000• Libertação de presos, retorno dos refugiados e remoção das minas
terrestres;
• Recusa da autonomia – rebeldes consideram traição e MFDC divide-se em 2 facções que lutam entre si;
• 2003 – Sidy Badji, lider do Atika, morre, mas o conflito continua;
• Dezembro 2004 – novo acordo de cessar fogo entre Sacerdote Augustin Diamacoune Senghor (MFDC) e governo senegalês;
• 2005 – novas negociações, desmobilização parcial dos insurrectos e diminuição da violência;
• Abril 2006 – novos conflitos violentos entre 2 grupos rebeldes e exército senegalês;
• Junho 2006 – 9.000 refugiados na fronteira com a Gâmbia;
Década de 2000• Janeiro 2007 – morre sacerdote Augustin Diamacoune Senghor ;
• Maio 2007 – recomeça conflito entre as facções do MFDC;
• Outubro 2009 – 6 soldados morrem numa emboscada perto da fronteira com a Guiné-Bissau;
• Outubro 2010 – envio ilegal de armas do Irão é detido em Lagos, Nigéria;
• Dezembro 2010 – combates intensos; 100 combatentes do MFDC tentam tomar Bignona, sul da fronteira com a Gambia, com apoio de armas pesadas (morteiros, metralhadoras);
• Rebeldes repelidos – MFDC grandes baixas; governo 7 baixas;
• Últimos 3 anos – conflitos esporádicos e de baixa intensidade.
MFDC: Armas e financiamento
• Financiamento:
◦ artesanato e ajuda da população (comida);
◦ produção e comércio de cannabis (troca direita por armas),
◦ envolvimento em outros tráficos da região: cocaína, armas, medicamentos.
• Armas:
◦ Líbia e Iraque via Mauritânia e Gâmbia;
◦ membros exército guineense;
◦ minas de Rússia, China e Europa (Portugal incluído);
◦ mercado livre em países da região (Libéria, Costa do Marfim,…)
Reflexos na Casamansa
• Insegurança;
• Deslocação interna, Refugiados para países vizinhos;
• Graves danos na Agricultura;
• Graves danos no Comércio;
• Graves danos no Turismo;
• Favorece o tráfico internacional de droga.
Reflexos na sociedade Joola
• Fronteira externa desejada torna-se fronteira interna;
• Restrições de movimentação;
• Limitações na produção agrícola e dificuldades nas redes comerciais;
• Refugiados: abandono das casas e campos;
• Desequilíbrio das estruturas da sociedade, particularmente nas formas de legitimação do sub-grupo Felupe (Guiné-Bissau);
• Papel pacificador/conciliador do Ây de Oussouye, Sibilumbay:
reforça a sua autoridade e a identidade Joola;
Reflexos nos países vizinhos• Frente Norte do MFDC – apoiada pela Gâmbia, tensões antigas com o
Senegal;
• Frente Sul, dividida em 2 facções com 2 lideres – pressiona e envolve-se nos conflitos internos da Guiné-Bissau:
◦ Junho 1998, Nino Vieira acusa Brigadeiro Ansumane Mané de fornecer armas ao MFDC;
◦ Este vira-se contra Nino Vieira numa guerra civil de 11 meses. As 2 facções da Frente Sul do MFDC participam; apoio a Ansumane Manéé lutar contra 2 exércitos inimigos: senegalês e guineense;
◦ Nino Vieira cai, Kumba Iala vence eleições;
Reflexos nos países vizinhos• Ansumane Mané morre, Kumba Iala alia-se ao governo senegalês, a 1
das facções da Frente Sul do MFDC e ataca a outra facção;
• Setembro 2003 – golpe de Estado derruba Kumba Iala;
• Novo governo continua a cooperação com o Senegal;
• Fevereiro 2004 – Frente Sul do MFDC mata soldados e civis na Guiné-Bissau.
• Dezembro 2004 – situação na Guiné-Bissau acalma após acordo de cessar fogo entre Sacerdote Augustin Diamacoune Senghor (MFDC) e governo senegalês.
Reflexos nos países vizinhos
• Rebeldes (aparentemente da Facção Norte) recrutados para:
– atentado a Alpha Condé(2011), presidente da GuinéConacri, desde 2010;
– luta contra tuaregues, no Mali;
– narcotráfico que parte da Guiné-Bissau
• Macky Sall, presidente Senegal (2012), negoceia a paz.
BibliografiaCasamansa:Esteves, Maria Luísa (1988), A Questão do Casamansa e a Delimitação das Fronteiras da Guiné, Lisboa, IICT-INEP.
Barbier-Wiesser, François-George (1994), Comprendre la Casamance, Paris, Karthala.
Conflito:Evans, Martin (2003), “Ni paix ni guerre: the political economy of low-level conflict in the Casamance”, S. Collinson (ed.), Power, Livelihoods and Conflict: Case Studies in Political Economy Analysis for Humanitarian Action, Humanitarian Policy Group Report, no. 13: 37–52. London: Overseas Development Institute.
Evans,Martin (2004), Senegal: Mouvement des Forces Démocratiques de la Casamance (MFDC), The Royal Institute of International Affairs.
Foucher, V. (2003), “Pas d’alternance en Casamance? Le nouveau pouvoir sénégalais face à la revendication séparatiste casamançaise” , Politique Africaine, nº 91, pp: 101-19.
Marut, Jean-Claude (2002), “Le problème casamançais est-il soluble dans l'État-nation?”, Momar-Coumba DIOP (dir.), Le Sénégal contemporain, Paris, Karthala, pp: 425-458.
Marut, Jean-Claude (2002), “Les Casamançais sont fatigués”, Caderno de Estudos Africanos, nº 2, pp: 25-42.
Tomàs, Jordi (2005), “La parole de paix n'a jamais tort. La paix et la tradition dans le royaume d'Oussouye (Casamance, Sénégal)”, Canadian Journal of African Studies, vol. 39, nº 2, pp: 414-441.
Tomàs, Jordi (2005), “Sibilumbay: el rey que trajo la paz. El proceso de pacificación y las celebraciones reales del Húmabal en Oussouye, Casamance (2002-2005)”, V Congresso de Estudos Africanos no Mundo Ibérico África: compreender trajectos, olhar o futuro.
Tomàs, Jordi (2006), “Paz en Casamance: caminos y horizontes ”, Nova Africa, nº19, pp: 25-58.