2
10 de outubro de 2011 Um dos principais problemas das cidades brasileiras é o transporte urbano. O aumento excessivo da frota de automóveis particulares – sem correspondente ampliação das vias – gera efeitos negativos no bem-estar da população. Uma das soluções seria o incentivo ao uso do transporte público, melhorando sua qualidade e eficiência. Esse debate ganha importância na medida em que a Copa do Mundo de 2014 se aproxima. Segundo recente estudo da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, em doze cidades brasileiras projetos para implementação ou ampliação de sistemas de BRT (Bus Rapid Transit). O BRT é um sistema de transporte que dá prioridade ao tráfego de ônibus por meio de corredores exclusivos, geralmente separados do fluxo normal por barreiras físicas. Inclui ainda embarque e desembarque de passageiros em pontos ou estações no mesmo nível dos ônibus, cobrança de passagem fora do veículo e veículos articulados ou biarticulados, com maior capacidade. O sistema BRT foi inicialmente operado em Curitiba, tendo ampla aprovação da população. Pesquisa realizada pelo Institute for Transportation & Development Transporte Público Rodoviário Urbano Policy indica que o sistema BRT custa de 4 a 20 vezes menos que sistemas de veículos leves sobre trilhos e entre 10 a 100 vezes menos que um sistema de metrô. Em Belo Horizonte, por exemplo, após a implementação do BRT, espera-se que a velocidade média dos ônibus passe de 15km/h para 26km/h, representando um aumento de quase 70% na velocidade. Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) realizou uma pesquisa sobre a percepção social em relação à mobilidade urbana. O estudo analisou quais são os principais motivos para a escolha de determinado meio de transporte, dentre cinco possíveis: a pé, bicicleta, carro, moto e transporte público. Os usuários de carro e moto responderam que consideram suas escolhas os meios de transporte mais rápidos a que têm acesso. Aqueles que optam pelo transporte público, o consideram o meio mais barato. O estudo também agrupou os entrevistados conforme região em que vivem: metropolitana ou não. Em relação ao uso do carro, os números são semelhantes: 23% dos entrevistados que vivem nas regiões metropolitanas utilizam mais esse meio, enquanto que 25% dos que vivem em outras regiões também o fazem. Todavia, há uma grande diferença em relação ao uso do transporte público: é o meio mais utilizado por 60% daqueles que vivem em grandes centros e apenas por 25% daqueles que vivem em outras regiões. Os dados são apresentados na tabela 1. A pesquisa também constatou que a principal condição para que os usuários de carros e motos passem a utilizar o transporte público é que esse se torne mais

Economia Em Foco 10-10-2011

Embed Size (px)

DESCRIPTION

economic

Citation preview

  • 10 de outubro de 2011

    Um dos principais problemas das cidades brasileiras o transporte urbano. O aumento excessivo da frota de automveis particulares sem correspondente ampliao das vias gera efeitos negativos no bem-estar da populao. Uma das solues seria o incentivo ao uso do transporte pblico, melhorando sua qualidade e eficincia.

    Esse debate ganha importncia na medida em que a Copa do Mundo de 2014 se aproxima. Segundo recente estudo da Associao Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, em doze cidades brasileiras h projetos para

    implementao ou ampliao de sistemas de BRT (Bus Rapid Transit). O BRT um sistema de transporte que d prioridade ao trfego de nibus por meio de corredores exclusivos, geralmente separados do fluxo normal por barreiras fsicas. Inclui ainda embarque e desembarque de passageiros em pontos ou estaes no mesmo nvel dos nibus, cobrana de passagem fora do veculo e veculos articulados ou biarticulados, com maior capacidade.

    O sistema BRT foi inicialmente operado em Curitiba, tendo ampla aprovao da populao. Pesquisa realizada pelo Institute for Transportation & Development

    Transporte Pblico Rodovirio Urbano

    Policy indica que o sistema BRT custa de 4 a 20 vezes menos que sistemas de veculos leves sobre trilhos e entre 10 a 100 vezes menos que um sistema de metr. Em Belo Horizonte, por exemplo, aps a implementao do BRT, espera-se que a velocidade mdia dos nibus passe de 15km/h para 26km/h, representando um aumento de quase 70% na velocidade.

    Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econmica Aplicada (IPEA) realizou uma pesquisa sobre a percepo social em relao mobilidade urbana. O estudo analisou quais so os principais motivos para a escolha de determinado meio de transporte, dentre cinco possveis: a p, bicicleta, carro, moto e transporte pblico. Os usurios de carro e moto responderam que consideram suas escolhas os meios de transporte mais rpidos

    a que tm acesso. Aqueles que optam pelo transporte pblico, o consideram o meio mais barato.

    O estudo tambm agrupou os entrevistados conforme regio em que vivem: metropolitana ou no. Em relao ao uso do carro, os nmeros so semelhantes: 23% dos entrevistados que vivem nas regies metropolitanas utilizam mais esse meio, enquanto que 25% dos que vivem em outras regies tambm o fazem. Todavia, h uma grande diferena em relao ao uso do transporte pblico: o meio mais utilizado por 60% daqueles que vivem em grandes centros e apenas por 25% daqueles que vivem em outras regies. Os dados so apresentados na tabela 1.

    A pesquisa tambm constatou que a principal condio para que os usurios de carros e motos passem a utilizar o transporte pblico que esse se torne mais

  • rpido1. Finalmente, as pessoas avaliaram os meios de transporte que utilizam. Aproximadamente 85% dos usurios de transporte motorizado individual o consideram muito bom ou bom. A situao piora bastante quando avaliados os usurios de transporte coletivo: apenas 45% o consideram muito bom ou bom. Percebe-se, portanto, que o sistema BRT representa uma soluo a esses problemas. Em 2010, o transporte coletivo urbano foi responsvel pela movimentao de 11,7 bilhes de passageiros no Brasil2.

    A atual frota de automveis do pas de 13,7 milhes de

    veculos3, considerando apenas as capitais do Brasil. O uso excessivo de automveis nas vias urbanas causa impactos negativos na economia, como aumento da poluio, congestionamentos e maior necessidade de infraestrutura j que a demanda por ampliao das vias e construo de novas ruas e avenidas crescente. De acordo com pesquisa da CNT, os automveis ocupam quase 60% do espao das vias e transportam apenas 20% dos passageiros. J os nibus so bem mais eficientes, pois ocupam 25% do espao virio e transportam cerca de 70% das pessoas.

    O incentivo ao transporte pblico, juntamente com melhorias dos servios, causaria um impacto ambiental positivo, inclusive tornando a mobilidade das pessoas mais eficiente, com economia de tempo entre os deslocamentos. Alm disso, haveria impacto na reduo do custo de vida das pessoas, que no precisariam arcar com custos de manuteno de automveis (impostos, combustvel, estacionamento, seguros, etc.).

    Portanto, fundamental que os investimentos do PAC destinados Copa de 2014 no sejam apenas direcionados a estdios. importante que obras

    em infraestrutura de transportes, particularmente em relao mobilidade urbana, sejam implementadas e entregues populao, pois repercutiro no bem-estar das pessoas por muito mais tempo.

    TABELA 1. Percepo social da mobilidade urbana (Fonte: SIPS/IPEA)

    A p Bicicleta Carro Moto Transporte Pblico Total

    Principal motivo para a escolha Ser saudvel

    Ser mais rpido

    Ser mais rpido

    Ser mais rpido

    Ser mais barato -

    Regies Metropolitanas 7% 3% 23% 7% 60% 100%

    Outras Regies 20% 11% 25% 19% 25% 100%

    1 Dos entrevistados que no utilizam transporte pblico, mais de 20% responderam que no o utilizariam sob hiptese alguma. O restante citou os seguintes requisitos para que esse meio passasse a ser utilizado: ser mais rpido, estar disponvel, ser mais barato e ser mais confortvel. 2 A cada embarque/desem-barque, um passageiro nova-mente contado. 3 Foi considerado apenas veculo automotor destinado ao transporte de passageiros, com capacidade para at oito pessoas, exclusive o condutor.