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2007/2008 1 Capítulo 10 Economia Política da Senhoriagem e da Inflação 10.1 – Um modelo político-económico de reformas fiscais 10.2 – Determinantes político-económicos dos défices orçamentais 10.3 – Episódios recentes de inflação muito alta e hiperinflação 10.4 – Aplicações empíricas Economia Política Economia Política

Economia Política - Cap. 10

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Capítulo 10Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

10.1 – Um modelo político-económico de reformas fiscais

10.2 – Determinantes político-económicos dos défices orçamentais

10.3 – Episódios recentes de inflação muito alta e hiperinflação

10.4 – Aplicações empíricas

Economia Política

Economia Política

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A grande diversidade de taxas de inflação e de rendimentos de senhoriagem verificada entre países e ao longo do tempo é difícil de explicar por razões meramente económicas.• O aproveitamento do trade-off inflação-desemprego não justifica

altas taxas de inflação.

• A estrutura da economia de um país e a sua capacidade para cobrar impostos ajuda a explicar o recurso a rendimentos de senhoriagem.

• Mas, verificaram-se muitas situações em que rendimentos de senhoriagem claramente acima do óptimo originaram elevadas taxas de inflação.

• Assim, para compreender a diversidade de taxas de inflação registadas torna-se necessário recorrer a modelos de economia política.

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Taxas Médias de Inflação(1960-1999)

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Teorias de Inconsistência Dinâmica• Países cujos governos procuram tirar mais partido do “trade-off”de

curto prazo entre inflação e desemprego tendem a registar taxas de inflação mais altas.

• Kydland e Prescott (1977, JPE).

• Não constituem uma explicação plausível para hiperinflações ou para muito altas taxas de inflação:

• Os custos da inflação tornam-se muito maiores que os benefícios.

• De acordo com Cagan (1956), Sargent (1982), Fisher, Sahay e Végh(2002, JEL), entre outros, a principal causa destes episódios foi a necessidade de os governos recorrerem em larga escala a rendimentos de senhoriagem para financiar as suas despesas.

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Estrutura da economia e impostos óptimos• Características estruturais de uma economia ajudam a determinar

a sua capacidade de gerar receitas fiscais • Chelliah, et al. (1975, IMFSP).

• Teoria dos Impostos Óptimos (Phelps, 1973, SJE):• Os governos agem de forma óptima ao igualar o custo marginal do

imposto inflacionário (senhoriagem) com o dos impostos regulares;• Países onde é mais difícil ou custosa a cobrança de impostos

regulares recorrem mais a rendimentos de senhoriagem e, consequentemente, têm maiores taxas de inflação.

• Mas, Cukierman, et al. (1992, AER) não encontram evidência empírica favorável à teoria dos impostos óptimos.

• Click (1998, JMCB) conclui que esta só explica parcialmente a variação da utilização dos rendimentos de senhoriagem entre países.

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Explicações de economia política

• Nos modelos de Alesina e Tabellini (1990, RES) e Tabellini e Alesina (1990, AER), maior instabilidade e polarização políticas geram maiores défices orçamentais e dívida pública.

• Em Cukierman, et al. (1992, AER), instabilidade política e polarização ideológica determinam a eficiência de equilíbrio do sistema fiscal e a combinação resultante entre impostos regulares e rendimentos de senhoriagem.

• Cukierman, Webb e Neyapti (1992, WBER) mostram que o grau de independência do banco central tem uma relação inversa com a inflação.

• Segundo Woo (2003, JPE), procedimentos orçamentais mais exigentes e transparentes , independência do banco central e maior influência parlamentar no processo orçamental podem reduzir a capacidade do governo para aumentar défices orçamentais e rendimentos de senhoriagem.

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.1 – Um modelo político-económicode reformas ficais

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Modelo de Cukierman, Edwards e Tabellini (1992, AER)• Faz uma distinção clara entre políticas e reformas fiscais:

• Política fiscal: escolha das taxas de imposto e do nível e composição das despesas governamentais.

• Reforma fiscal: reformulação do sistema fiscal, que determina a base fiscal disponível e a tecnologia de cobrança de impostos.

• As reformas fiscais são influenciadas por considerações de ordem estratégica:

• A reforma de um sistema fiscal tem em conta a forma como o mesmo afecta as políticas fiscais de futuros governos.

• Se houver instabilidade política e polarização ideológica, estas considerações estratégicas podem levar o governo actual a deixar um sistema fiscal ineficaz para o seu sucessor.

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.1 – Um modelo político-económicode reformas ficais

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Análise do modelo

• Restrições orçamentais do governo (1) e do indivíduo (2):

• Reforma fiscal: escolha da eficiência do sistema fiscal (θ).

• A reforma fiscal só produz efeitos no período seguinte.

• Em (1), θ pode ser visto como os custos de cobrança de impostos.

• Em (2), δ e γ representam as perdas de utilidade resultantes dos impostos e da senhoriagem.

• Política fiscal: escolha das despesas em bens públicos (g e f), dos impostos (τ) e dos rendimentos de senhoriagem (s).

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.1 – Um modelo político-económicode reformas ficais

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• O político i (de tipo L ou R) maximiza:

• Para obter HR basta substituir α por (1- α)

• Os políticos só diferem quanto à composição desejada das despesas em bens públicos.

• Quanto mais distante α estiver de ½, maior a polarização ideológica.

• O governo actual tem uma probabilidade π de ser substituído e de (1- π ) de permanecer no poder.

• Quanto maior for π, maior a instabilidade política.

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.1 – Um modelo político-económicode reformas ficais

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Política económica para um dado sistema fiscal

• O político maximiza (3) sujeito a (1) e (2). As condições de primeira ordem para o político L, com α>1/2 e x=g+f, são:

• A identidade do governo só importa para a composição da despesa.

• Um sistema fiscal menos eficiente (menor θ) desencoraja a despesa publica, força o governo a usar mais a senhoriagem e menos os impostos:

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.1 – Um modelo político-económicode reformas ficais

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A escolha da eficiência do sistema fiscal

• O político L é reeleito com probabilidade 1-π. A sua utilidade é:

• Se não for reeleito (probabilidade π), a sua utilidade é:

• Assim, o político escolhe θ de forma a maximizar:

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.1 – Um modelo político-económicode reformas ficais

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• O valor de equilíbrio de θ satisfaz a condição de primeira ordem:

• Para θ*>0, a condição é satisfeita com igualdade, ou seja os ganhos e os custos marginais de aumentar a ineficiência do sistema fiscal serão iguais.

• β depende negativamente de π e de α, pelo que o custo marginal de um sistema fiscal ineficaz diminui com a instabilidade política e com a polarização ideológica.

• Assim a eficiência de equilíbrio do sistema fiscal, θ*, é uma função da instabilidade e da polarização do sistema político.

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.1 – Um modelo político-económicode reformas ficais

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Implicações do modelo• Um sistema fiscal menos eficiente desencoraja a despesa pública,

força o governo a usar mais a senhoriagem e menos os impostos.

• Se o governo actual tem a certeza de que vai ser eleito, ou não há polarização, então ele implementa o sistema fiscal mais eficiente.

• Quanto menor for a probabilidade de se manter no poder, e maior a polarização ideológica, menos eficiente será o sistema fiscal deixado para os governos futuros.

• Desencoraja os futuros governos de cobrarem impostos e os gastarem em bens públicos que não são valorizados pelo governo actual.

• A principal implicação a testar empiricamente é que os países com os sistemas políticos mais instáveis e polarizados recorrem mais a rendimentos de senhoriagem do que países com sistemas mais estáveis e homogéneos.

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.2 – Determinantes político-económicos dos défices orçamentais

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Determinantes económicos• Desempenho económico

• Optimização inter-temporal (Barro, 1979, JPE)

• Teoria dos impostos óptimos (Phelps, 1973, SJE)

Determinantes político-económicos• Gestão estratégica dos défices (Persson e Svensson, 1989, QJE; Alesina

e Tabellini, 2000, RES).

• Ciclos político-económicos (Alesina, Cohen e Roubini, 1997).

• Grau de coesão dos governos (Roubini e Sachs, 1989, EER)

• Instabilidade política (Edwards e Tabellini, 1991, JIMF; Roubini, 1991, JIMF; Woo, 2003, JPE)

• Polarização social, distribuição do rendimento e grau de centralização orçamental (Woo, 2003, JPE)

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10.3 – Episódios recentes de inflação muito alta e hiperinflação

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Fischer, Sahay e Végh (2002, JEL)

• Analisam os episódios de hiperinflação e de inflação muito alta registados após a publicação do estudo de Phillip Cagan (1956):

• Cagan analisou 8 hiperinflações ocorridas entre 1920 e 1946.

• Definiu Hiperinflação: taxa de inflação ≥ 50% ao mês

• Caracterizam os episódios de acordo com a taxa de inflação:• Inflação muito alta: ≥ 100% ao ano

• Inflação alta: entre 50% e 100% ao ano

• Inflação moderada a alta: entre 25% e 50% ao ano

• Examinam o comportamento da inflação em diferentes intervalos.

• Examinam a relação entre a taxa de inflação e outras variáveis macroeconómicas.

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10.3 – Episódios recentes de inflação muito alta e hiperinflação

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Conclusões

• De 1960 a 1996, a inflação foi um fenómeno generalizado.

• Todas as economias em transição registaram pelo menos um episódio de inflação superior a 25% ao ano.

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10.3 – Episódios recentes de inflação muito alta e hiperinflação

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Conclusões (cont.)• A inflação torna-se mais instável para valores mais altos.

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.3 – Episódios recentes de inflação muito alta e hiperinflação

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Conclusões (cont.)• As hiperinflações em economias de mercado tornaram-se mais raras.

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10.3 – Episódios recentes de inflação muito alta e hiperinflação

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Conclusões (cont.)• A relação de longo prazo entre inflação e crescimento monetário é muito forte.

• A relação de longo prazo entre o saldo orçamental e a senhoriagem é significativa e negativa.

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10.3 – Episódios recentes de inflação muito alta e hiperinflação

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Conclusões (cont.)• A relação positiva entre défices orçamentais e inflação nem sempre é

detectada.

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10.3 – Episódios recentes de inflação muito alta e hiperinflação

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Conclusões (cont.)• A inércia da inflação diminui à medida que a inflação aumenta.

• Estabilizações baseadas na taxa de câmbio parecem conduzir a uma expansão inicial do PIB e do consumo.

• Períodos de inflação alta estão associados a má performance económica.

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.4 – Aplicações Empíricas

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Senhoriagem• Cukierman, Edwards e Tabellini (1992, AER)

• Cross-sections para 79 países (1971-1982). Concluem que países com sistemas políticos mais instáveis recorrem relativamente mais a rendimentos de senhoriagem.

• Estimam a frequência de mudanças no governo com base em regressões probit.

• Click (1998, JMCB)• Cross-sections para 90 países (1971-1990). Conclui que a independência do banco

central e a instabilidade política contribuem para a explicação da variância da senhoriagem entre países.

• Aisen e Veiga (2008, JDE)• Estimações em painel (efeitos fixos) para cerca de 100 países (período 1960-1999).

• Maior instabilidade política e polarização social conduzem a maior utilização de rendimentos de senhoriagem.

• Identificam circunstâncias em que os efeitos da instabilidade política sobre a senhoriagem são maiores (inflação alta, países em desenvolvimento, maior polarização social, menor independência do Banco central, etc.).

10 – Economia Política da Senhoriagem e da Inflação

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10.4 – Aplicações Empíricas

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Inflação• Paldam (1987)

• Identifica uma relação nos dois sentidos entre inflação e instabilidade política em 8 países da América Latina.

• Aisen e Veiga (2006, JMCB)• Estimações de painéis dinâmicos (sistema GMM) para o logaritmo da taxa de inflação

em cerca de 100 países (1960-99).

• Maior instabilidade política (crises no governo ou mudanças de gabinete), menor liberdade económica e menos democracia conduzem a maior inflação.

• Efeitos da instabilidade política são maiores para taxas de inflação altas e em países em desenvolvimento.

• Aisen e Veiga (2008, PubChoice)• Com base na mesma amostra estimam painéis dinâmicos para a volatilidade da

inflação: Log[SD(Inflation)]

• Maior instabilidade política e polarização social, menos democracia e menor independência do banco central conduzem a inflação mais volátil.

• Os efeitos da instabilidade política são maiores em países em desenvolvimento com menor independência do banco central e menor liberdade económica.

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10.4 – Aplicações Empíricas

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Independência do Banco Central e Inflação• Grilli, Masciandaro e Tabellini (1991, EP)

• Trabalhando com 18 países da OCDE, criam um índice baseado na autonomia do banco central para definir os objectivos finais da política monetária.

• Concluem que os países em que o BC é mais autónomo registam taxas de inflação mais baixas e menos voláteis.

• Cukierman, Webb e Neyapti (1992, WBER)• Criam índices legais e de facto de independência do banco central para 70

países.

• Maior independência legal está associada a menores taxas de inflação nos países desenvolvidos, mas não nos países em desenvolvimento.

• Nos países em desenvolvimento, o índice de independência de facto (rotação dos governadores) está associado a menor inflação.

• Para uma boa revisão desta literatura, ver Armone, Laurens e Segalotto (2006, IMF WP/06/228).

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