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2007/2008 1 Capítulo 9 Inacção, Atrasos e Crises 9.1 – Argumentos Económicos 9.2 – Interesses instalados, incerteza e falhas de comunicação 9.3 – Conflitos distributivos 9.4 – Crises económicas 9.5 – Aplicações empíricas Economia Política Economia Política

Economia Política - Cap. 9

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2007/2008 1

Capítulo 9Inacção, Atrasos e Crises

9.1 – Argumentos Económicos

9.2 – Interesses instalados, incerteza e falhas de comunicação

9.3 – Conflitos distributivos

9.4 – Crises económicas

9.5 – Aplicações empíricas

Economia Política

Economia Política

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Inacção, Atrasos e Crises

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Exemplos da divergência entre a experiência real e modelos teóricos simples de decisão económica:• Incapacidade de adoptar reformas económicas socialmente

benéficas,

• Adopção de reformas após longos atrasos,

• Sustentabilidade das reformas só ser atingida após várias tentativas.

O planeador social típico dos modelos adopta qualquer reforma que aumenta o bem-estar social.

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A economia política da não adopção, atraso ou reversão das reformas merece atenção especial por várias razões:• Se entendermos a reforma como a remoção de políticas

claramente inferiores, a continuação das mesmas é especialmente intrigante.

• Se a reforma significa uma grande alteração em todo um conjunto de políticas responsáveis pelo fraco desempenho económico de um país, explicar o seu fracasso em reformar assume grande importância em termos de bem-estar.

• A razão porque as mudanças políticas benéficas não são feitas está muitas vezes fortemente relacionada com a origem da má situação económica em que um país se encontra.

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Inacção, Atrasos e Crises

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Os modelos do fracasso da adopção de políticas socialmente óptimas podem ser agrupados em quatro categorias:• Modelos em que poderosos interesses instalados bloqueiam

as reformas que não lhes são benéficas.

• Modelos em que as reformas são encaradas como bens públicos.

• Modelos que salientam a incerteza a priori sobre benefícios privados.

• Modelos que assumem assimetria de informação entre os políticos e o eleitorado.

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9.1 - Argumentos Económicos

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Falta de conhecimentos técnicos• Pode não se saber como alterar as políticas actuais

ou qual das políticas alternativas é a mais indicada.

• A falta do capital humano necessário ao planeamento e implementação das reformas é uma explicação plausível para a inacção.

• Este argumento não explica os muitos casos em que a falta de conhecimentos técnicos não é desculpa para a inacção ou atrasos.

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9.1 - Argumentos Económicos

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Atraso óptimo• A versão mais simples é que os políticos não fazem

nada, na esperança de que a economia melhore com o passar do tempo.

• Uma variante do atraso óptimo é que, mesmo que os problemas não se resolvam sem uma alteração das políticas, circunstancias externas podem não ser actualmente favoráveis a uma reforma.• Orphanides (1992, JEDC) formaliza esta visão num

modelo de controlo óptimo aplicado a estabilizações da inflação, baseadas na taxa de câmbio, para as quais seria necessário um nível mínimo de reservas em moeda estrangeira.

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9.1 - Argumentos Económicos

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Irracionalidade dos políticos;• Sociedades, tal como os indivíduos, adiam escolhas

difíceis, mesmo sabendo que as terão que tomar e que as coisas só se tornarão mais difíceis com o passar do tempo.

• Os grupos de interesse que exigem cada vez mais recursos do estado podem não antecipar a insustentabilidade das finanças públicas (Krueger, 1993).

• Mas, atribuir fenómenos económicos a comportamento irracional corta pela base toda a análise económica.• Importa explicar com recurso a modelos de economia política

fenómenos que parecem não ter explicação lógica.

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9.2 – Interesses Instalados, Incerteza e Falhas de Comunicação

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Interesses Instalados• De acordo com Olson (1982), o sucesso económico cria

grupos de interesses instalados. • Estes podem ser contra subsequentes alterações que ponham em

causa a sua situação privilegiada.

• Num modelo em que o crescimento económico depende da adopção de novas tecnologias, Krusell e Rios-Rull (1996, RES) assumem que indivíduos que tenham investido numa tecnologia poderão depois tentar bloquear o aparecimento de tecnologias superiores.

• Políticos cuja principal motivação seja a reeleição poderão não estar dispostos a implementar reformas impopulares.

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9.2 – Interesses Instalados, Incerteza e Falhas de Comunicação

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Incerteza• Uma explicação simples para a não adopção de reformas é que os

benefícios das mesmas para o público em geral são incertos.• Explicações de economia política da inacção são mais interessantes

quando é certo que a maioria da população beneficiaria da reforma.

• Fernandez e Rodrik (1991, AER) mostram como uma reforma que beneficia uma maioria da população, e o país como um todo, pode ser rejeitada por uma maioria quando a identidade de muitos dos beneficiados não pode ser determinada à partida.

• Num jogo com dois períodos, em que as decisões são tomadas por referendo, há uma tendência para o status quo.

• Laban e Sturzenegger (1994, JDE) mostram como a deterioração das condições económicas pode levar o grupo que mais sofre com as mesmas a aceitar uma reforma, mesmo na presença de incerteza sobre o resultado final.

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9.2 – Interesses Instalados, Incerteza e Falhas de Comunicação

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Falhas de comunicação• A não aceitação de uma reforma pode dever-se a um problema de

comunicação da natureza socialmente benéfica da mesma:• Assimetria de informação entre o político (o proponente) e o eleitorado (o

decisor final) quanto aos benefícios sociais da reforma.

• O proponente e o decisor terem preferências políticas diferentes e haver limitações à comunicação de informação.

• Abordagens seguidas na literatura:• “Cheap talk” e definição da agenda;

• Não adopção quando os políticos têm informação superior;

• Credibilidade das propostas e implementação de políticas extremas (Cukierman e Tommasi, 1998, AER).

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9.3 – Conflitos Distributivos

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Uma explicação alternativa da não adopção ou atraso das reformas baseia-se na observação de que a reforma é um bem público.• Indivíduos ou grupos podem beneficiar da mesma sem

suportar todos os custos.

• Cada grupo de interesse pretende que seja(m) outro(s) a suportar os custos de uma reforma socialmente benéfica.

• Fenómeno do borlista (free rider).

• Isso implica que a reforma pode não ser adoptada mesmo quando se sabe que todos beneficiariam da mesma.

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9.3 – Conflitos Distributivos

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Principais referências:• Em Alesina e Drazen (1991, AER) atrasos numa reforma fiscal

resultam da falta de acordo entre dois grupos de interesse rivais sobre um plano de redução dos défices orçamentais.

• Polarização ideológica, fragmentação do sistema político, baixos custos da inflação e maior dispersão de rendimentos entre os grupos de pressão podem levar a atrasos nas reformas.

• Drazen e Grilli (1993, AER) ampliam este modelo mostrando os potenciais benefícios de crises económicas.

• Casella e Eichengreen (1996, EJ) analisam o impacto da ajuda externa no timing das estabilizações.

• Em Laban e Sturzenegger (1994, JDE) conflitos entre ricos e pobres e custos de ajustamento justificam adiamentos de estabilizações na América Latina.

• Hsieh (2000, EER) apresenta uma variante que se baseia num modelo de negociação similar aos usados para analisar greves.

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9.3 – Conflitos Distributivos

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Modelo de Hsieh (2000)• Há dois grupos, capitalistas e trabalhadores, que devem decidir se há

reforma e como serão repartidos os custos da mesma.• Sem reforma, o resultado é zero para ambos.

• Com reforma, o rendimento bruto dos capitalistas é R e o dos trabalhadores é W.

• R é aleatório e a sua realização só é conhecida pelos capitalistas. R está distribuído uniformemente no intervalo [A,B] , em que B≥A≥0.

• A reforma requer impostos totais T, dos quais os capitalistas pagam X.

• Os rendimentos líquidos dos capitalistas são (R-X) e os dos trabalhadores são (W-T+X). Com 0<X<A, ambos ficam claramente a ganhar com a reforma.

• A simplificação aqui apresentada (ver Romer, 2006, 592-598) assume que os trabalhadores apresentam uma proposta sobre X aos capitalistas.

• Se estes aceitam, a reforma é implementada. Caso rejeitem, não há reforma.

• No modelo de Hsieh (2000) há duas rondas de negociações. A rejeição da reforma na primeira ronda leva os trabalhadores a propor um X mais baixo na segunda.

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9.3 – Conflitos Distributivos

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Análise do modelo:• A probabilidade de que a proposta é aceite corresponde à probabilidade de

R>X. Ou seja:

• Assim, o resultado esperado para os trabalhadores é:

• Os trabalhadores não vão fazer uma proposta que seja rejeitada de certeza (X≥B) nem lhes interessa propor X<A.

9 - Inacção, Atrasos e Crises

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Análise do modelo (continuação):• Para analisar formalmente o comportamento dos trabalhadores, usamos

(11.35) para achar a derivada de V(X) com respeito a X.

• V’’(X) é negativa em todo o intervalo.• Se V’(X) for negativa para X=A, é negativa entre A e B, pelo que os trabalhadores propõem X=A.

• Se V’(X) for positiva para X=A, o óptimo é interior a [A,B] e é definido pela condição V’(X)=0.

• A equação (11.34) implica que a probabilidade de equilíbrio de a proposta ser aceite é:

9.3 – Conflitos Distributivos

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Análise do modelo (continuação):• A Figura 11.2 mostra as duas

possibilidades de como o resultado para os trabalhadores, V, varia com a sua proposta.

• Em a), o retorno é decrescente entre A e B, pelo que os trabalhadores propõem X=A.

• Em b), o retorno tem um máximo entre A e B, pelo que os trabalhadores propõem A<X<B.

9.3 – Conflitos Distributivos

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Discussão do modelo:• A implicação chave do modelo é que P(X*) pode ser inferior a 1.

• Os dois grupos podem não chegar a acordo apesar de saberem que há propostas que seriam benéficas para ambos.

• Mas, os trabalhadores podem fazer uma proposta menos generosa que X=A e arriscar que não haja acordo. A sua esperança é melhorar a sua situação à custa da dos capitalistas.

• Limitações:• Só considera dois grupos.

• Interesses tão marcadamente antagónicos entre grupos podem não corresponder à realidade.

• Esta análise não identifica a fonte do défice ou da tendência para registar défices. Limita-se a indicar porque um défice pode ser persistente.

9.3 – Conflitos Distributivos

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Alguns economistas argumentam que as crises induzem reformas, mas há também quem veja esse argumento como uma tautologia.

É necessário distinguir duas hipóteses:• A adopção de reformas é mais provável em tempos maus do que bons.

• A situação económica tem que ficar muito má para induzir reformas.

É sobretudo a segunda hipótese que importa analisar, de forma a determinar como uma crise pode facilitar a adopção de reformas:• Enfraquecimento do poder de grupos de interesses instalados;

• Percepção da necessidade de mudança;

• Aceitação da incerteza sobre benefícios individuais;

• Custos do status quo acelera a resolução de guerras de atrito.

9.4 – Crises Económicas

2007/2008 189 - Inacção, Atrasos e Crises

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Evidência sobre as implicações do(s) modelo(s) de guerra de atrito para o momento de implementação de uma estabilização (fiscal ou da inflação):• Não há evidência de que a passagem do tempo aumente a probabilidade de

uma estabilização ocorrer.

• Vários estudos concluem que as crises apressam as reformas: • Bruno e Easterly (1996, AER), Veiga (2000, Eco&Pol), Drazen e Easterly (2001,

Eco&Pol), Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP).

• A natureza das instituições políticas é importante. Governos mais coesos ou menos sujeitos a constrangimentos à sua acção estabilizam mais depressa:

• Roubini e Sachs (1989, EER), Alesina, Perotti e Tavares (1998, BPEA), Veiga (2000, Eco&Pol), Persson e Tabellini (2003), Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP).

• Consolidações políticas e eleições são propícias ao início de reformas: • Castro e Veiga (2004, EcoLet), Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP), Aisen

(2007, IMFSP) e literatura dos Ciclo Politico Económicos.

• A ajuda externa não parece afectar o timing de estabilizações: • Barro e Lee (2005, JME), Veiga (2005, OER), Easterly (2006), Alesina, Ardagna e

Trebbi (2006, IMFSP).

9.5 – Aplicações Empíricas

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O estudo empírico de Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP)• Dados anuais de 1960 a 2003. Fontes: PWT, IFS-FMI, DPI e Polity IV.

• Modelo empírico:

• Δsyit = yi,t+s - yit

• POL é a variável política de interesse (média entre t e t+s)

• A equação é estimada com efeitos fixos para países e anos, para valores de sentre 1 e 4.

9.5 – Aplicações Empíricas

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9.5 – Aplicações Empíricas

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9.5 – Aplicações Empíricas

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9.5 – Aplicações Empíricas

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Alesina, Ardagna e Trebbi (2006, IMFSP) concluem que é mais provável que as estabilizações ocorram:• Em épocas de crise.

• Quando novos governos tomam posse.

• Quando os governos são “fortes” (sistemas presidenciais e governos unificados em que o partido do governo dispõe de uma larga maioria dos deputados no parlamento).

• Quando o poder executivo está sujeito a menores constrangimentos.

• Apoios externos, como o de programas do FMI, têm na melhor das hipóteses um efeito fraco.

9.5 – Aplicações Empíricas

2007/2008 249 - Inacção, Atrasos e Crises