ed02 Revista Labverde

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    Arquitetura em bambu,Centro de Cultura Max Feffer

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    REVISTA LABVERDE

    V. II - N 2

    LABVERDE - Laboratrio VERDE

    FAUUSP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Universidade de

    So Paulo

    JUNHO 2011ISSN 2179-2275

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    Ficha Catalogrca

    Servio de Biblioteca e Informao da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP

    Revista LABVERDE, v.II, N 2

    LABVERDE- Laboratrio Verde

    Rua do Lago, 876 - Cidade Universitria, Bairro do Butant

    CEP: 05508-900 So Paulo-SPTel: (11) 3091-4535

    Capa: Mariana Oshima Menegon

    Assunto: Centro Cultural Max Feffer, arquitetura em bambu, autoria de Leiko Hama Motomura, da

    Amima Arquitetura de Mnimo Impacto sobre o Meio Ambiente

    e-mail: [email protected]

    Home page: www.usp.br/fau/depprojeto/revistalabverde

    REVISTA LABVERDE/ Universidade de So Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urba-

    nismo. Departamento de Projeto. LABVERDE- Laboratrio Verde v.2, n.2 (2010)- .

    So Paulo: FAUUSP, 2010

    Semestral

    v.: cm.

    v.2, n.2, jun. 2011

    ISSN: 2179-2275

    1. Arquitetura Peridicos 2. Planejamento Ambiental 3. Desenho Ambiental 4. Sus-

    tentabilidade I. Universidade de So Paulo. Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.

    Departamento de Projeto. LABVERDE. II. TtuloCDD 712

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    n 02 | So Paulo, Junho de 2011

    Revista LABVERDE

    Junho - 2011

    ISSN: 2179-2275

    Universidade de So Paulo

    Joo Grandino Rodas (Reitor)

    Hlio Nogueira da Cruz (Vice-Reitor)

    Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

    Marcelo de Andrade Romero (Diretor)Maria Cristina da Silva Leme

    (Vice-Diretora)

    Editor Responsvel

    Maria de Assuno Ribeiro Franco

    Comisso Editorial

    Denise DuarteMrcia Peinado Alucci

    Maria de Assuno Ribeiro Franco

    Paulo Renato Mesquita Pellegrino

    Saide Kahtouni

    Conselho Editorial

    Catharina Pinheiro Cordeiro dos Santos

    Lima (FAUUSP)Ceclia Polacow Herzog (FAUUFRJ)

    Denise Duarte (FAUUSP)

    Demstenes Ferreira da Silva Filho

    (ESALQ)

    Eduardo de Jesus Rodrigues (FAUUUSP)

    Eugenio Fernandes Queiroga (FAUUSP)

    Euler Sandeville Jnior (FAUUSP)

    Fbio Mariz Gonalves (FAUUSP)

    Giovanna Teixeira Damis Vital (UFU)

    Helena Aparecida Ayoub Silva (FAUUSP)

    Jos Carlos Ferreira (UNL-Portugal)

    Joo Reis Machado (UNL-Portugal)

    Joo Sette Whitaker (FAUUSP)

    Larissa Leite Tosetti (ESALQ)

    Lourdes Zunino Rosa (FAUUFRJ)Marcelo de Andrade Romero (FAUUSP)

    Mrcia Peinado Alucci (FAUUSP)

    Maria ngela Faggin Pereira Leite

    (FAUUSP)

    Maria Ceclia Frana Loureno (FAUUSP)

    Maria de Assuno Ribeiro Franco

    (FAUUSP)

    Maria de Lourdes Pereira Fonseca(UFABC)

    Miranda M. E. Martinelli Magnoli

    (FAUUSP)

    Paulo Renato Mesquita Pellegrino

    (FAUUSP)

    Saide Kahtouni (FAUUFRJ)

    Silvio Soares Macedo (FAUUSP)

    Vladimir Bartalini (FAUUSP)

    Colaboradores

    Antonio Franco

    Oscar Utescher

    Desenvolvimento de web

    Edson Moura

    Mariana Oshima Menegon

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    Revista LABVERDE

    SUMRIO

    1. EDITORIAL

    Maria de Assuno Ribeiro Franco

    2. ARTIGOS

    OS ATERROS SANITRIOS DESATIVADOS E O SISTEMA DE REAS

    VERDES DA CIDADE DE SO PAULO: POSSIBILIDADE DE INTEGRAO

    The Disabled Landlls And Green Areas System Of So Paulo City: The

    Integration Possibility

    Monica Machado Stuermer, Prola Felipette Brocaneli e Maria Elena Merege

    Vieira.

    REDUTOS RURAIS: ESTRATGIA DE RESILINCIA E INFRAESTRUTURA

    VERDE URBANA. ESTUDO DE CASO EM VALINHOS, SP - BRASIL

    Rural Remains: Strategy of Resilience and Urban Green Infrastructure.

    Case Study in Valinhos, SP BrazilLa Yamaguchi Dobbert, Larissa Leite Tosetti, Sabrina Mieko Viana

    SISTEMA DE INFORMAO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DA

    QUALIDADE AMBIENTAL

    Information System As An Instrument Of Environmental Quality Mana-

    gement

    Patricia Helen Lima

    A EVOLUO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL URBANA E AS IN-

    TERFERNCIAS DA TICA

    The Evolution of the Urban Environmental Sustainability and the Ethics

    Interferences

    Deize Sbarai Sanches Ximenes

    007

    010

    030

    045

    061

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    n 02 | So Paulo, Junho de 2011

    ARQUITETURA DA COMPLEXIDADE: DESIGNA SERVIO DA VIDA EM

    UM ESTUDO DE CASO NO SUL DE MINAS GERAIS

    Architecture of Complexity: Design Aimed at Serving Life in a Case Stu-

    dy in the South of Minas Gerais

    Evandro de Castro Sanguinetto

    OIKOS: REINTEGRANDO NATUREZA E CIVILIZAO

    Oikos: Reintegrating Nature and Civilization

    Jos Otvio Lotufo

    3. ENTREVISTA

    BETTY FEFFER

    Centro Max Feffer: um centro de referncia em cultura e sustentabilidade no

    Polo Cuesta, Pardinho, SP.

    4. DEPOIMENTOS

    BIA GUERRA

    Instituto Jatobs: atuao na cultura e valores de sustentabilidade junto

    comunidade de Pardinho.

    CATHARINA PINHEIRO

    Em Pauta o Cdigo Florestal

    5. COMUNICADOS

    Normas para Apresentao de Trabalhos

    081

    107

    129

    134

    138

    145

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    1. EDITORIAL

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    n 02 | So Paulo, Junho de 2011

    EDITORIAL

    Na Revista LABVERDE N 2 foram reunidos seis artigos, uma entrevista e dois de-

    poimentos sob o tema Projetos Sustentveis. O leitor observar, no entanto, que

    todos os textos aqui apresentados discutem, de uma maneira ou de outra, a susten-

    tabilidade ligada a uma nova tica, denominada tica ambiental ou ecolgica que, na

    verdade, poderia ser tratada, tambm, como temtica deste nmero.

    O primeiro artigo apresenta uma interessante proposta de recuperao de aterros

    sanitrios desativados do municpio de So Paulo, transformando-os em parques p-

    blicos, que, segundo as autoras Stuermer, Brocaneli e Vieira, uma vez interligados aosdemais parques, por meio de corredores verdes, podero aumentar consideravelmen-

    te o ndice de reas verdes por habitante em nossa Cidade.

    Dobbert, Tosetti e Viana, no segundo artigo, despertam a ateno para a questo da

    conservao e recuperao de redutos rurais como estratgia de resilincia e infra-

    estrutura verde diante do processo de urbanizao e apresentam o caso de redutos

    rurais de interesse ambiental, histrico e cultural na cidade de Valinhos, SP.

    O terceiro artigo, apresentado por Lima, ressalta a importncia da adoo, por parte

    do setor pblico, de novas tecnologias ligadas aos Sistemas Geogrcos de Informa-

    o para a formulao e gesto de polticas pblicas, especialmente no nvel local,

    para a promoo da qualidade ambiental e a sustentabilidade urbana.

    O artigo de Ximenes, o quarto, discute a questo da evoluo da tica nas vises

    antropocntrica e biocntrica e suas implicaes nos problemas sociais e ambientais

    da atualidade, tratando o problema da sustentabilidade, antes de tudo, como um pro-blema tico.

    No quinto artigo, Sanguinetto apresenta um interessante experimento de uma casa

    ecolgica integrada ao lote, ao ecossistema e paisagem local no municpio de Piran-

    guinho, no sul de Minas Gerais.

    Lotufo, no sexto artigo, preocupa-se em incorporar os princpios ecolgicos ao ato

    de projetar o edifcio e a cidade, discutindo o problema como reexo de uma lgica

    mercadolgica mecanicista, distanciada das leis naturais que regem o funcionamento

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    dos ecossistemas. O texto aponta a possibilidade de uma nova maneira de projetar

    tanto edifcios quanto o espao urbano, que incorpore os processos ecossistmicos,

    no caminho da sustentabilidade.

    A entrevista com Betty Feffer revela uma experincia indita, na cidade e municpio

    de Pardinho, feita por uma organizao no governamental, atrelada ao Projeto Plo

    Cuesta1, com a criao do Instituto Jatobs e posteriormente o Centro Max Feffer

    -Cultura e Sustentabilidade, que rene diversas atividades de cunho social visando a

    implantao do modelo Ecopolo de Desenvolvimento Sustentvel. A sede do Centro

    Max Feffer, de autoria da arquiteta Leiko Hama Motomura e da empresa Amima Ar-

    quitetura de Mnimo Impacto sobre o Meio Ambiente, cuja foto capa desta edio,

    tornou-se uma referncia regional e nacional em arquitetura sustentvel.

    Dois depoimentos completam esta edio: o da Professora da FAUUSP Catharina P.

    Cordeiro Lima, sobre os recentes embates sobre as implicaes do Novo Cdigo Flo-

    restal Brasileiro e o de Bia Guerra, coordenadora das atividades do Centro Max Feffer,

    cujas atividades esto centradas na educao para a sustentabilidade.

    Tenham uma boa leitura!

    Maria de Assuno Ribeiro Franco

    Editora da Revista LABVERDE

    1 O Plo Cuesta um projeto de iniciativa da Secretaria de Turismo do Estado de So Paulo,

    com foco em turismo sustentvel, iniciado em 2001. O projeto est em desenvolvimento, envolvendo

    dez cidades do interior de So Paulo, na regio de Botucatu. So elas: Anhembi, Areipolis, Bofete,

    Botucatu, Conchas, Itatinga, Paranapanema, Pardinho, Pratnia e So Manuel.

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    ARTIGO N1

    OS ATERROS SANITRIOS DESATIVADOS E O SISTEMA DE REAS VERDES

    DA CIDADE DE SO PAULO: POSSIBILIDADE DE INTEGRAO

    The Disabled Landlls And Green Areas System Of So Paulo City: The

    Integration PossibilityMonica Machado Stuermer, Prola Felipette Brocaneli e Maria Elena Merege Vieira.

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    n 02 | So Paulo, Junho de 2011

    OS ATERROS SANITRIOS DESATIVADOS E O SISTEMA DE REAS VERDES

    DA CIDADE DE SO PAULO: POSSIBILIDADE DE INTEGRAO

    Monica Machado Stuermer

    Prola Felipette Brocaneli

    Maria Elena Merege Vieira

    Engenheira civil, Doutora em Geotecnia Ambiental pela Escola Politcnica da USP. Leciona na

    Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

    E-mail: [email protected]

    Arquiteta e Urbanista pela FAU Mackenzie. Doutora em Paisagem e Ambiente pela FAU-USP.

    Leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

    E-mail: [email protected]

    Arquiteta e Urbanista pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, Doutora em Paisagem e

    Ambiente pela FAU USP Leciona na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade

    Presbiteriana Mackenzie. E-mail: [email protected]

    Resumo

    O trabalho aqui apresentado tem por objetivo estudar os aterros sanitrios desativa-

    dos do municpio de So Paulo e sua relao com as reas verdes, da cidade, apre-

    sentando algumas idias para interveno e insero dos mesmos na malha verde

    urbana, de forma a contribuir para a melhora a qualidade ambiental do municpio de

    So Paulo e de seus habitantes, atravs do aumento das reas verdes municipais esuas conexes.

    Palavras Chaves: Aterro sanitrio, reas verdes de uso restrito, revitalizao am-

    biental urbana, ecologia da paisagem, corredores verdes.

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    THE DISABLED LANDFILLS AND GREEN AREAS SYSTEM OF SO PAULO

    CITY: THE INTEGRATION POSSIBILITY

    Abstract

    This work aims to study the disabled sanitary landlls of the city of So Paulo and their

    relation with the green areas, presenting some ideas for intervention and insertion of

    them in the urban green mesh, of form to improve the ambient quality of the city of So

    Paulo and its inhabitants, through the increase of the municipal green areas and its

    connections.

    Key-words: Sanitary Landll, Green Areas of Restricted Use, Urban EnvironmentalRevitalization, Landscape Ecology, green corridors.

    1.INTRODUO

    Grande parte dos problemas urbanos atuais do Municpio de So Paulo decorrem do

    vertiginoso crescimento ocorrido a partir da sua industrializao, que ocasionou tanto

    a sua riqueza como sua pobreza e seus maiores problemas ambientais.

    J na dcada de 1960, a cidade j apresentava problemas em con-

    seqncia da no aplicao de uma poltica urbana ambiental a m-

    dio e longo prazo. A partir da dcada de 70 comearam as discus-

    ses sobre questes ambientais urbanas, onde os principais pontos

    eram a carncia de reas verdes, a poluio atmosfrica e dos re-

    cursos hdricos e a destinao dos resduos slidos, entre outros.

    Nos anos 80 difundiu-se o paradigma ambiental pela sociedade, deforma generalizada e nos anos 90, este passa a dominar a noo

    de interdependncia planetria, questes que transparecem direta-

    mente na cidade de So Paulo, permeando a elaborao do Plano

    Diretor Estratgico, em 2002.

    A diferena de temperatura entre as regies centrais e os bairros arborizados e Par-

    ques, dentro da Mancha Urbana, chega a 5C, e entre as regies perifricas ainda

    recobertas por vegetao, esta diferena atinge at 10 C em um mesmo momento,

    fenmeno conhecido como Ilha de Calor, (Atlas Ambiental de So Paulo, 2002) .

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    O mesmo documento demonstra que as reas mais quentes da cidade so aquelas

    onde h a menor concentrao de verde, maior impermeabilizao do solo e os maio-

    res ndices de poluio atmosfrica.

    Os espaos verdes suprem os quarteires adjacentes a reas verdes com ar mais

    fresco. Deneke e Grey (1992) colocam que o efeito da vegetao na temperatura do

    ar ser mais signicativo quando ela for plantada em reas totalmente desprovidas de

    vegetao. As Ilhas de Calor, tambm podem ser amenizadas pelo adensamento do

    verde, acrescentando-se ainda que as pesquisas indicam que a vegetao quando

    plantada de forma dispersa, isto , no concentrada em grandes manchas verde, fun-

    ciona de forma mais eciente para absoro dos poluentes.

    O sistema de reas verdes de uma cidade deve incluir remanescentes expressivos de

    vegetao nativa, protegidos em Unidades de Conservao, trechos marginais arbori-

    zados (como as reas de domnio de rodovias, encostas de barreiras etc.), reas parti-

    culares e pblicas de uso restrito (stios, quintais, jardins etc.), alm dos parques, pra-

    as, e jardins municipais, de uso pblico. Cada modalidade de rea verde exerce um

    papel importante na qualidade ambiental das cidades. O projeto de paisagismo deve

    valorizar a natureza, recompondo a vegetao nativa, propondo espaos contempla-

    tivos que sirvam de atrativo fauna silvestre, notadamente avifauna, objetivando abiodiversidade; deve ter como ponto de partida o aproveitamento das qualidades que

    a natureza proporciona, trazendo tona a demonstrao do conceito de preservao

    ambiental. A paisagem, tendo fundamentalmente uma conotao espacial e traduz na

    sua sionomia as interaes dos fatores naturais e antrpicos que estruturam e modi-

    cam o funcionamento dos sistemas ambientais por ela congurados. Outro fator con-

    siderado na elaborao do projeto est associado s funes microclimticas da rea

    em questo, cuja melhoria advm das sombras e reteno de umidade proporcionada

    pelas rvores, permitindo o contato do usurio com elementos naturais. A implantaode coberturas vegetais distintas cria uma srie de ambientes diferenciados em uma

    rea que, de outra maneira, poderia ser um grande e inspito descampado, funcio-

    nando como estruturadoras de espao; estas causam impacto positivo, respeitando

    as caractersticas naturais da rea, inserindo o empreendimento dentro do contexto

    regional. Alm disso, a cobertura vegetal p0ode recuperar reas degradadas, como

    aterros sanitrios.

    Os aterros sanitrios provocam diversos impactos ambientais, no s em sua fase de

    implantao e funcionamento, mas tambm quando de seu fechamento e desativa-

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    o, provocando, muitas vezes, a degradao da rea local e do entorno. Estes locais

    necessitam de tratamento diferenciado ao de outras reas degradadas, devido a fato-

    res como a liberao de gs metano que representa um dos maiores limitantes para a

    implantao de vegetao, dos riscos de exploso, do recalque diferencial do terreno,

    problemas de drenagem e compactao da camada supercial do solo utilizado no

    preenchimento do terreno (MATA E ANDRADE: 2000; SILVA: 2001).

    As reas de solo remanescentes dos aterros sanitrios urbanos podem ser considera-

    das como reas degradadas. Segundo a NBR 10703 (ABNT: 1989) a degradao do

    solo denida como:

    alterao adversa das caractersticas do solo, em relao aos seus diversos usospossveis, tanto os estabelecidos em planejamento quanto os potenciais. A mesma

    norma dene recuperao do solo como: processo de manejo do solo no qual so

    criadas condies para que uma rea perturbada ou mesmo natural seja adequada a

    novos usos.

    Na cidade de So Paulo so gerados aproximadamente 15 milhes de toneladas de

    lixo por ano. Os resduos slidos se apresentam, ento, como um grande desao

    para a sociedade, exigindo recursos tcnicos, nanceiros e administrativos munici-pais para o seu manejo adequado. Uma das formas de disposio destes resduos

    o aterro sanitrio, um sistema controlado que minimiza os impactos da disposio

    dos mesmos e considerado o sistema mais eciente para a disposio dos resduos

    slidos domsticos. No entanto ao trmino da vida til dos aterros, um programa de

    recuperao destas reas pode auxiliar a suprir a falta de reas verdes do municpio,

    reintegrando-as na forma de parques, criando no uma massa verde pontual, mas um

    sistema integrado.

    A proposta do presente trabalho a criao de uma rede verde na cidade (corredores

    verdes) interligando reas verdes (parques e reas verdes signicativas) e as franjas

    das reas dos aterros sanitrios desativados, com o intuito de ampliar as possibilida-

    des de trnsito da biodiversidade da fauna e ora na escala da cidade.

    2. AS REAS VERDES NO MUNICPIO DE SO PAULO

    O municpio de So Paulo apresenta um ndice mdio de reas verdes/habitante de

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    cerca de 4,9 m2/hab (SVMA, 2008), valor muito abaixo do mnimo recomendado pela

    OMS (Organizao Mundial da Sade) de 12 m/habitante.

    Observa-se que este um problema histrico no municpio, que nunca apresentou

    taxas de reas verde elevadas, conforme demonstra a tabela 1 a seguir:

    Ano reas Verdes Populao ndice

    Anterior a 1860

    1860-1890

    1890-1920

    1920-1950

    1950-1980

    1980-1996

    143.428

    143.428

    326.527

    13.933.627

    26.680.135

    37.084.581

    31.385

    64.934

    579.033

    2.189.096

    8.493.226

    10.220.783

    4,57

    2,21

    0,56

    6,37

    3,14

    3,63Tabela 1:Evoluo das reas verdes no Municpio de So Paulo (KOHLER et al,

    2000).

    Para efeito de comparao com grandes cidades, Buenos Aires apresenta ndice de

    9 m2/hab, Curitiba, 16 m2/hab, Londres, 71 m2/hab e Los Angeles, 111 m2/hab (EM-

    PLASA, 2000).

    Os parques municipais apresentam realidades bastante diversas, variando em ex-tenso, vegetao, equipamentos e contexto social. Alm das atividades de lazer de-

    senvolvidas diariamente pelo pblico usurio, outras atividades complementares so

    promovidas pelas diferentes divises do DEPAVE, Secretarias Municipais, outras ins-

    tncias governamentais e entidades civis, tais como: investigao cientca, educa-

    o ambiental, cursos, produo de mudas, atendimento mdico-veterinrio, eventos

    artsticos e culturais (KOHLER et al, 2000).

    Entre os parques municipais, o maior deles o Parque Anhanguera, na regio nortedo municpio, ocupando 9.500.000m2. A maior parte de sua rea reorestada com

    eucaliptos. A seguir aparece o parque do Carmo, na zona leste, com 1.500.000 m2,

    localizado dentro de rea de Proteo Ambiental. O parque possui remanescente de

    mata ciliar e mata atlntica nativa. O Parque do Ibirapuera localizado na regio sul do

    Municpio o parque mais popular da cidade, com 1.584.000 m2 (SVMA, 2008).

    Entre os parques estaduais, a maior rea pertence ao Parque Estadual da Serra do

    Mar com 44.322.946m2. Este parque abrange diversos municpios de So Paulo, com

    rea total de 309.938 hectares. A vegetao de Mata Atlntica tpica de encosta e

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    compreende o cinturo verde sobre a Serra do Mar. O Parque Estadual da Cantareira,

    com rea de 40.519.593 m2, faz parte da Reserva Estadual da Cantareira e tem co-

    bertura orestal em praticamente toda sua extenso, que considerada de preserva-

    o permanente, formada principalmente pela Mata Atlntica. Estas duas reas ainda

    no esto englobadas pela malha urbana. As demais reas verdes estaduais situam-

    se dentro da rea urbana. (KOHLER et al, 2000).

    Em relao s reas privadas, KOHLER et al,(2000) observam que os maiores ndices

    de reas verdes e de arborizao em propriedades particulares se do nos bairros

    onde predominam a populao de mdia e alta renda. Os autores colocam que, se as

    reas verdes particulares fossem somadas s reas pblicas, ter-se-ia um valor de

    ndice de reas verdes de 12,42 m2/hab, atendendo ao valor mnimo recomendadopela OMS.

    Observa-se, no entanto, a m distribuio destas reas verdes no espao urbano.

    Algumas regies so muito bem servidas e outras completamente nuas de vegetao.

    Segundo dados da SVMA (2000), a regio do Itaim Paulista, Santa Ceclia e Brs

    apresentam taxas de vegetao/habitante prximas de zero, enquanto a regio da

    Capela do Socorro apresenta taxa de 162 m2/habitante.

    Em 2012, a prefeitura pretende atingir a marca dos 100 parques municipais, um au-

    mento considervel de reas verdes, passando de 9.000.000m para aproximada-

    mente 50.000.000 m na cidade de So Paulo, nmero que no inclui os parques

    estaduais e nem mesmo as APAs (reas de Proteo Ambiental). Atingindo esta meta,

    a cidade passar a contar com um total de 86.130542 m de reas verdes pblicas.

    Adotando-se uma populao de 11,0 milhes no municpio para 2012 (projeo SE-

    ADE, 2003), a taxa de rea verde passar dos atuais 4,9 m2/hab para 7,8 m2/hab,

    o que ser um feito extraordinrio. (Neste total no esto contabilizadas as praas edemais reas verdes).

    Os novos parques, locados de forma mais equilibrada pelo territrio urbano, segundo

    mostra o mapa 2, buscam reduzir o desequilbrio na distribuio de reas verdes do

    municpio (PMSP, 2008) .

    No entanto, atingir o valor mnimo recomendado pela Organizao Mundial da Sade

    de 12 m2/habitante parece distante, em uma cidade j densamente ocupada, onde

    so poucas e pequenas as reas livres que podem ser destinadas a parques e praas

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    sem a necessidade de desapropriaes.

    Mapa 1:Localizao dos Parques Municipais na Regio Metropolitana de So Paulo.

    http://ww2.prefeitura.sp.gov.br/mapa_verde/asp/home.asverde/

    reas degradadas podem vir a suprir a falta de reas verdes se reintegradas ao mu-

    nicpio na forma de parques. A recuperao de uma rea degradada no representa

    a volta s condies iniciais existentes, mas sim uma nova destinao de uso darea, de forma sustentvel, atravs de uma estratgia de utilizao em conformidade

    com valores ambientais, estticos e sociais. Majer (1989, apud Oliveira, 2005) utili-

    za o termo reabilitao para a recuperao da rea, podendo esta reabilitao ser

    condicional, onde as aes antrpicas direcionam os fenmenos naturais, como no

    caso de plantaes e pastagens; ou ento, uma reabilitao auto-sustentvel, onde as

    aes humanas agem at um determinado ponto, a partir do qual a prpria natureza

    caminha para um equilbrio sustentvel, como no caso de um reorestamento. Desta

    forma apesar de no ser possvel a recuperao original da rea, pode-se obter um

    ecossistema alternativo, auto-sustentvel.

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    Revista LABVERDE

    Mapa 2:Projeto dos 100 Parques propostos no Municpio de So Paulo Fonte: DE-

    PAVE, PMSP

    3. OS ATERROS SANITRIOS NO MUNICPIO DE SO PAULO

    Segundo a norma NBR 8149 da Associao Brasileira de Normas Tcnicas ABNT

    (1987):

    Aterro sanitrio de resduos slidos urbanos consiste na tcnica de

    disposio de resduos slidos no solo, sem causar danos ou riscos

    sade pblica e a segurana, minimizando os impactos ambien-

    tais, mtodo este que utiliza princpios de engenharia para connar

    os resduos slidos menor rea possvel e reduzi-los ao menor

    volume permissvel, combinando-os com uma camada de terra na

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    concluso de cada jornada de trabalho e em intervalos menores se

    necessrios.

    O inventrio de resduos slidos do Estado de So Paulo de 2000 CETESB (2002)

    mostra que os aterros sanitrios vm melhorando suas caractersticas de disposio

    dos resduos, tomando lugar dos lixes. Ainda assim, os possveis impactos ambien-

    tais so bastantes crticos, tais como: liberao de gases e material particulado, ge-

    rao de rudo, produo de vetores de doenas, degradao do solo e da paisagem

    do local, degradao da fauna e ora e ainda a possvel contaminao do solo e das

    guas superciais e subterrneas pelo chorume percolado. O primeiro aterro sanitrio

    regular da cidade, o de Lauzane Paulista - situado na vila Santa, surgiu somente em

    1974, (KAHTOUNI,2004). Os primeiros aterros no apresentavam a estrutura sani-tria dos aterros atuais. A partir da dcada de setenta, com a exploso populacional

    na Regio Metropolitana de So Paulo foi necessria a estruturao da disposio e

    destino nal dos resduos urbanos.

    A tabela 3 relaciona os principais aterros sanitrios existentes na cidade, todos desati-

    vados (aqui esto relacionados aqueles que foram localizados junto Limpurb, rgo

    responsvel pelos aterros do municpio).

    ATERRO

    Lauzane

    Paulista

    Jardim

    Damasceno

    Eng. Goulart

    Raposo Tavares

    Santo Amaro

    Vila So

    Francisco

    Vila.Albertina

    Carandir

    Pedreira Itapu

    Sapopemba

    Vila Jacu

    So Mateus

    LOCALIZAO

    Av. Dr. Francisco Raniere x Av. Adolfo Coelho zona

    norte

    R. Feliciano Malabia alt. N. 500 zona norte

    Pq. Ecolgico do Estado zona norte

    Rod. Raposo Tavares, km 14,5

    Av. Naes Unidas x Av. Interlagos zona sul

    Av. Imperador x Av. gua Haia zona leste

    R. Jos Aguirre de Camargo zona norte

    Av. Zachi Narchi zona norte

    Av. Lder x R. Agostinho de Faria zona leste

    Av. Sapopemba zona leste

    Av. Mimo do Vnus zona leste

    Marg. Esquerda do crrego Fazenda Velho zona

    leste

    FUNCIONAMENTO

    02/1974 11/1974

    02/1975 12/1975

    04/1975 01/1976

    07/1975 08/1979

    04/1976 02/1995

    06/1976 07/1976

    03/1977 - 1993

    01/1977 03/1977

    12/1978 11/1979

    11/1979 02/1984

    03/1981 08/1988

    02/1984 01/1986

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    Tabela 3: aterros sanitrios na cidade de So Paulo. Fonte : Limpurb/PMSP 2006.

    O mapa 3 apresenta a localizao esquemtica dos mesmos:

    ATERRO

    Bandeirantes

    Stio So Joo

    LOCALIZAO

    Rod. Bandeirantes, km 26,5 zona noroeste

    Estr. Sapopemba, km 33 zona leste

    FUNCIONAMENTO

    09/1979 11/2007

    12/1992 11/2007

    Mapa 3:Localizao esquemtica dos aterros desativados no Municpio de So Pau-

    lo. Fonte: Departamento de Planejamento Secretaria Municipal de reas Verdes e

    Meio Ambiente.

    Os aterros se localizam, em sua maioria na zona leste e nas bordas da cidade, uma

    vez que, quando da implantao dos mesmos, estas eram as reas menos ocupadas

    do municpio. No entanto, quase todas as reas ocupadas por aterros sanitrios, se

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    encontram hoje em regies com densa urbanizao e escassez de vegetao, vias

    pouco arborizadas e carncia de praas e jardins pblicos.

    Alm disso, alguns destes aterros vm sendo ocupados de forma ilegal, sendo que

    alguns deles j apresentaram problemas pela urbanizao irregular. A ocupao da

    rea do aterro de Lauzane Paulista uma das citadas pela secretaria do Meio Am-

    biente da cidade de So Paulo como das mais inadequadas.

    Na zona norte, o aterro do Jardim Damasceno, aps desativao foi transformado em

    rea de esportes, mas foi invadido e hoje virou uma favela. Os moradores contam que:

    Quando os nibus ou caminhes descem a rua, minha casa balana. Deve ser por

    causa do lixo embaixo da terra e tambm observam que no podem cavar dois me-tros de fossa por causa do perigo com o gs do lixo. Outros relatam que: o piso da

    casa vive rachado, no tem jeito de consertar, mas isso comum por aqui. (Folha de

    So Paulo, 09/12/2001)

    O aterro Carandir tambm encontra-se tomado por ocupaes irregulares e a favela

    instalada neste local j sofreu quatro incndios, sem causa denida (Folha de So

    Paulo, 09/12/2001). Especula-se que os gases liberados pelo aterro possam ser res-

    ponsveis pelos incndios.

    No entanto, essas reas que no fazem parte da lista das reas de ateno perma-

    nente da prefeitura, e no sofrem avaliao do potencial de risco, tais como: incn-

    dios, exploses, rachaduras e desabamentos por instabilidade do solo e reacomoda-

    o da massa de lixo. Como a maior parte dessa ocupao resultado de invases,

    ou ocorreu h muito tempo, no passaram por nenhum tipo de anlise ambiental.

    De Leo (2006) arma que mesmo tendo sido desativados h quase vinte anos, osaterros sanitrios da cidade de So Paulo ainda continuam contaminando as reas

    vizinhas e expondo a populao a riscos, em funo do chorume e do gs metano pro-

    duzido pela decomposio do lixo. Segundo o autor, os cinco aterros potencialmente

    poluidores dentro de So Paulo so o da Vila Albertina, na Zona Norte, o de Santo

    Amaro, Zona Sul, e os de Sapopemba, Vila Jacu e So Mateus, na Zona Leste.

    Cada aterro tem suas particularidades e riscos. No aterro da Vila Albertina, Santo

    Amaro e no de Sapopemba o pesquisador constatou maior incidncia de leptospirose

    do que em outras regies da cidade. Segundo o gegrafo, o aterro de Sapopemba

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    o que mais oferece riscos ambientais e sociais. J o aterro em melhores condies

    seria o da Vila Jacu.

    Esta mais uma razo para se dar destino adequado s reas de disposio de

    resduos quando de sua inativao. Bitar (1997) arma que o planejamento do uso

    ps-fechamento do aterro em reas urbanas j deve ser contemplado quando do pla-

    nejamento do aterro em si, exigindo solues compatveis com a destinao futura do

    local, com as caractersticas de uso e ocupao de solo e com a demanda social da

    cidade.

    O mapa 4 apresenta uma sobreposio das reas verdes e dos aterros anitrio desa-

    tivados, ou seja, a sobreposio dos mapas 2 e 3.

    Mapa 4:Localizao dos aterros no municpio de So Paulo, com superposio dos

    Parques Municipais.

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    4. A REINTEGRAO DO ATERRO SANITRIO NA PAISAGEM

    O uso ps fechamento de um aterro bastante restrito, e a edicao sobre estas

    reas no recomendada, em funo da instabilidade do macio e da formao de

    gases que produz riscos de exploso. Por outro lado, a demanda por reas verdes

    dentro de centros urbanos direciona a recuperao das reas atravs do processo de

    revegetao, destinando-as aos mais diversos usos, tais como preservao ambiental

    ou lazer. Estas reas verdes podem servir para campos de jogos, jardins pblicos,

    entre outros, alm da possibilidade de implantao de uma usina de biogs.

    Como exemplo de ocupao adequada, tem-se o Parque Raposo Tavares. Criado em

    1981, com rea de 195.000 m2 o Parque Raposo Tavares destaca-se como o primei-ro parque da Amrica do Sul a ser construdo sobre um aterro sanitrio. Apresenta,

    por isso, caractersticas peculiares: seu solo formado por camadas de lixo e terra

    compactados, sendo revestido por uma camada de argila para diminuir a emanao

    de gases, e por outra de terra que serve de substrato vegetao. Localizado junto

    rodovia Raposo Tavares, o Parque homenageia o bandeirante de mesmo nome.

    A vegetao existente no local totalmente introduzida e tem a vida dicultada pelo

    fato de crescer em cima de um aterro sanitrio. No parque so encontradas reasajardinadas com arbustos, herbceas ornamentais, gramneas, bosques baixos e le-

    guminosas. A existncia de aves favorecida pela vegetao: joo-de-barro, chopim,

    rolinha, sabi-do-campo, bico-de-lacre, bem-te-vi, pica-pau-do-campo, quero-quero,

    sanhao e outras. H ainda alguns rpteis inofensivos, como cobras no venenosas e

    mamferos, como gambs e pres. O parque funciona das 7 s 18 horas e possui es-

    tacionamento, acesso para cadeirantes, sanitrios, pista de cooper, trilhas para cami-

    nhadas, aparelhos de ginstica, quadra de campo, quadra poliesportiva,play-ground

    e rea de estar.

    Outro caso de ocupao de um antigo lixo encontra-se em Salvador, Bahia; entre

    1974 e 1997 o local recebeu todo o lixo produzido pela capital baiana e era um dos

    smbolos de degradao da cidade; foi transformado num parque socioambiental pio-

    neiro no Pas, inaugurado pela Prefeitura de Salvador em parceria com o governo do

    Canad.

    Um antigo lixo de Salvador, que entre 1974 e 1997 recebeu todo

    o lixo produzido pela capital baiana e era um dos smbolos de de-

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    gradao da cidade, foi transformado num parque socioambiental

    pioneiro no Pas, inaugurado pela Prefeitura de Salvador em parce-

    ria com o governo do Canad . (www.estadao.com.br e http://www.

    crea-rs.org.br/crea/jornal/04/novidades.asp)

    A rea foi urbanizada, com a construo de parques, reas para a prtica de esportes

    e outros equipamentos que esconderam, sob a terra, as toneladas de lixo acumuladas

    ao longo de duas dcadas. O complexo capaz de produzir energia eltrica a partir

    de biogs e manter uma usina de triagem de detritos, uma unidade de compostagem

    para produo de adubos, outra de reciclagem de entulho para fabricao de tijolos e

    uma escola-ocina.

    Outra proposta ambiental de ocupao nasceu conjuntamente com o Plano Integrado

    de Melhoria Ambiental na rea de Mananciais da Billings, com seis intervenes prio-

    ritrias, duas de responsabilidade da Companhia de Saneamento Bsico do Estado

    de So Paulo (Sabesp) e outras quatro da prefeitura de So Bernardo. O aterro sani-

    trio do Alvarenga funcionou no perodo de 1974 a 1986 e era utilizado pelos munic-

    pios de So Bernardo e Diadema. Para remediar o problema, sero adotadas aes

    como drenagem de gases e gua de chuva, aterro de uma rea de aproximadamente

    25 hectares, tanque de conteno e tubulaes para captao do chorume Tambmsero construdos Poos Subterrneos para Monitoramento Ambiental, um Centro de

    Estudo e Experimentao Ambiental e um Centro de Gerenciamento de Qualidade de

    gua. O Centro de Estudo e Experimentao Ambiental ter como mais importantes

    funes: promover a educao ambiental, difundir a conscincia ambiental, consoli-

    dar o intercmbio de informaes e dar apoio e cooperao as atividades feitas pela

    populao do entorno. O Centro de Gerenciamento de Qualidade de gua ter como

    diretrizes principais a divulgao dos dados de monitoramento da gua da represa e

    administrao conjunta com os municpios que fazem parte da bacia.(http://www.estado.com.br/editorias/2007/03/28).

    Observa-se que o plano de encerramento e respectivos projetos de recuperao am-

    biental e eventual uso seqencial da rea utilizada, deve ser especco para cada

    aterro, e considerar as particularidades do compartimento ambiental e as condies

    de sua implantao e operao.

    A proposta de uso futuro da rea deve considerar que os resduos aterrados ainda

    permanecem em processo de decomposio aps o encerramento das atividades por

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    perodos relativamente longos, que podem ser superiores h 10 anos (FEAM, 1995).

    Assim, independente do encerramento das atividades de recuperao do aterro, os

    sistemas de drenagem supercial de guas pluviais e de tratamento dos gases e

    lquidos percolados devam ser mantidos por um perodo de cerca de 30 anos. Este

    perodo padro (default) adotado por ser considerado suciente para o macio de

    lixo alcanar as condies de relativa estabilidade (ALBERTE et al., 2005).

    Para uso futuro dos aterros indicada a implantao de reas verdes, com equipa-

    mentos comunitrios como praas esportivas, campos de futebol e reas de convvio,

    nos casos de aterros prximos a reas urbanizadas. Em todos os casos, a requalica-

    o do aterro deve integrar a rea ao seu entorno, considerando-se, principalmente,

    as necessidades da comunidade local, suprindo os anseios e expectativas da popula-o diretamente afetada.

    5. A INTEGRAO DOS ATERROS DESATIVADOS S REAS VERDES DA

    CIDADE

    A recuperao dos aterros j uma realidade em nosso Municpio, mesmo que ainda

    de forma incipiente. No entanto, um tratamento de forma integrada, organizando-seum sistema de reas verdes que concentre as funes de melhoria da qualidade do

    meio e a recuperao de reas degradadas, uma viso que se pretende alcanar

    com uma interligao entre as reas de aterros sanitrio desativados nas cidades.

    Estudos realizados por Volpe-Filik et al (2007) demonstram que o aterro de Sapopem-

    ba, por exemplo, na zona leste, por se tratar de uma extensa rea (38 ha) encravada

    em rea totalmente ocupada por populao, aps sua recuperao, pode formar um

    corredor verde, interligando o Morro do Cruzeiro, Sapopemba, Mau e Baixada San-tista.

    As reas dos aterros desativados no Municpio de So Paulo possuem caracters-

    ticas prprias; conforme a Teoria dos Ecossistemas (DRAMNSTD, OLSOM e FOR-

    MAN,1996) trata-se de um meio ambiente bastante diferenciado e signicativo, carac-

    terizando uma ocupao antrpica especica, bastante comprometida, aqui denida

    como lixo desativado.

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    Para a revitalizao destas reas fragmentadas, propem-se, neste trabalho, duas

    ocupaes diferenciadas:

    1. Recuperao da rea interna, aqui denominada rea Ncleo (AN), de acordo

    com a Lei 13.564 de 20034, referente ao Passivo Ambiental. Esta rea ter ocupao

    respeitando propostas especicas j utilizadas em outros aterros, conforme exemplos

    expostos, onde, em grande parte prope-se equipamentos edicados;

    2. Recuperao da franja deste territrio, aqui denominada rea de Recomposio

    Ambiental (ARA), de forma a integr-la s reas verdes conectivas da cidade, na

    forma de corredores verdes, objetivando uma forma de recolonizaro ecolgica. Na

    maior parte das vezes, parte desta franja ocupada por favelas e outras habitaes

    de baixa renda que necessitam ser desocupadas para garantir sua recomposioambiental.

    Para melhor classicao foram estabelecidas as seguintes siglas:

    ARA 1 rea de Recomposio Ambiental (Classe 1): apresentando solo conta-

    minado, com obrigao de remediao.

    ARA 2 reas de Recomposio Ambiental (Classe 2): apresentando poluiodas guas superciais, com obrigao de tratamento de euentes; perda de espcies

    de fauna e ora, perda de patrimnio cultural, com obrigao de recomposio ou

    compensao.

    4 Lei 13.564 de 24/4/2003 - Dispe sobre a aprovao de parcelamento de solo, edicao ou instala-

    o de equipamentos em terrenos contaminados ou suspeitos de contaminao por materiais nocivos

    ao meio ambiente e sade pblica, e d outras providncias.

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    os interesses humanos como os processos naturais; considera-se ainda que esse

    corredor ser espao permevel para a percolao da gua e servir tambm, como

    armazenador de certa quantidade de gua.

    7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    ALBERTE, Elaine Pinto Varela; CARNEIRO, Alex Pires, KAN Lin. Recuperao de

    reas degradadas por disposio de resduos slidos urbanos, Dilogos & Cincia,

    Revista Eletrnica da Faculdade de Tecnologia e Cincias de Feira de Santana. Ano

    III, n. 5, jun. 2005.

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS, ABNT, NBR 10703, Degrada-

    o do solo. 1989.

    BITAR, O.Y. Avaliao da recuperao de reas degradadas por minerao na Regio

    Metropolitana de So Paulo. Tese de Doutorado, USP, So Paulo, 1997.

    DEPARTAMENTO de Limpeza Urbana LIMPURB. So Paulo, 2004. Disponvel em

    www.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/servicoseobras/limpurb acesso em 15/10/04.

    FOLHA DE SO PAULO: Ex-aterros e lixes de So Paulo tm ocupao de risco,

    Caderno cotidiano - 09/12/2001

    FUNDAO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE (FEAM). Como destinar os resduos

    slidos urbanos. Belo Horizonte: FEAM, 1995. 47 p.

    FUNDAO SISTEMA ESTADUAL DE ANLISE DE DADOS SEADE- http://www.

    seade.gov.br/est_vitais/jan03/principal.htmlI 2003.

    IAURIP.Cahiers de lInstitut dAmnagement et dUrbanisme de la Rgion dIle-de-

    France, volume 53, dezembro de 1978, La Vgtation, un remde aux pollutions et

    nuisances rbaines,Paris, 1978.

    KAHTOUNI, Saide. Cidade das guas, So Carlos: Rima, 2004.

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    n 02 | So Paulo, Junho de 2011

    KLIASS Rosa Grena. Parques Urbanos de So Paulo e sua Evoluo na Cidade. So

    Paulo : Pini, 1993.

    KOHLER Maria Claudia Mibielli, ROMERO Marcelo de Andrade, PENHALBER Eliza-

    beth de Faria, CORTES Maria Teresa Miraglia, CABRAL Viviane Benini. reas verdes

    no municpio de So Paulo: anlises, tendncias e perspectivas in:XXVIIi Congresso

    Iinteramericano de Engenharia Sanitria e Ambiental, Porto Alegre, RS, 2000.

    MATA E ANDRADE, J. C. Vegetao em aterros sanitrios de resduos slidos

    MEUNIER, Isabelle - Jornal do Commercio - Caderno Cidades - Pgina Cincia e

    Meio Ambiente - Coluna De Olho na Cincia 11 de junho de 2000.

    OLIVEIRA, C.N.: Recuperao ambiental de aterros sanitrios na Regio Metropoli-tana de Campinas: Revegetao e uso futuro. Dissertao de Mestrado, UNICAMP ,

    So Paulo, 88p, 2005.

    SILVA, F.A.N. Avaliao ambiental preliminar de antigas reas de disposio de res-

    duos slidos urbanos do municpio de So Paulo. Dissertao de Mestrado do Institu-

    to de Geocincias - USP, 2001. 104p.

    VOLPE-Filik, Andra; AGUIRRE JUNIOR, Jos Hamilton; LIMA, Ana Maria Liner Pe-reira; FERREIRA, Flvia Bighetti Jorge; SALIM, Mnica; FARIA,Otvio Augusto , AL-

    VAREZ, Ian Andr , Criao de parques urbanos em aterros sanitrios desativados.

    Estudo do aterro Sapopemba, So Paulo, sp. Revista da Sociedade Brasileira de

    Arborizao Urbana, Volume 2, Nmero 3, 2007.

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    ARTIGO N2

    REDUTOS RURAIS: ESTRATGIA DE RESILINCIA E INFRAESTRUTURA VERDE

    URBANA. ESTUDO DE CASO EM VALINHOS, SP - BRASIL

    Rural Remains: Strategy of Resilience and Urban Green Infrastructure. Case

    Study in Valinhos, SP BrazilLa Yamaguchi Dobbert, Larissa Leite Tosetti, Sabrina Mieko Viana

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    REDUTOS RURAIS: ESTRATGIA DE RESILINCIA E INFRAESTRUTURA VER-

    DE URBANA. ESTUDO DE CASO EM VALINHOS, SP BRASIL

    La Yamaguchi Dobbert1

    Larissa Leite Tosetti2

    Sabrina Mieko Viana3

    1Arquiteta, mestre em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da

    Universidade de So Paulo, Piracicaba SP. E-mail: [email protected]

    2Engenheira Agrnoma, mestranda em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz

    de Queiroz da Universidade de So Paulo, Piracicaba SP. E-mail: [email protected]

    Biloga, doutoranda em Recursos Florestais pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da

    Universidade de So Paulo, Piracicaba SP. E-mail: [email protected]

    Resumo

    O presente estudo ressalta a importncia da preservao e/ou requalicao dos re-dutos rurais na cidade de Valinhos (SP), como referncias culturais que devem ser

    mantidas no processo de urbanizao do municpio. Da coleta de dados apresen-

    tao das informaes, um quadro da atual situao dos redutos rurais traado no

    mapa da cidade a m de contribuir para a educao e a informao da populao como

    tambm do poder pblico sobre os valores histrico, cultural e social de tais redutos

    rurais inseridos na malha urbana de Valinhos. Ao enfatizarem-se os valores culturais

    desses redutos rurais, visa-se integrar a arquitetura residencial e o desenvolvimento

    econmico preservao do patrimnio cultural singular da regio. Apresentam-se,como propostas, possveis intervenes de infraestrutra verde, orientando a dinmica

    de crescimento do local seguindo um desenho ambiental sustentvel, com base numa

    anlise dos redutos rurais, avaliados como ordenadores do espao e do territrio lo-

    cal, encontrados na malha urbana da cidade de Valinhos no Estado de So Paulo.

    Palavras-chaves: patrimnio cultural, redutos rurais, desenvolvimento urbano, desenho

    ambiental, resilincia, infraestrutura verde.

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    Revista LABVERDE

    RURAL REMAINS: STRATEGY OF RESILIENCE AND URBAN GREEN INFRAS-

    TRUCTURE. CASE STUDY IN VALINHOS, SP - BRAZIL

    Abstract

    The present study highlights the value of preserving and / or upgrading rural remains

    in ValinhosSP-Brazil, cultural landmarks that should be preserved in the process of

    urbanization of the city. From the data collection to the presentation of information, a

    picture of the current situation of rural remains is designed on the city map to help to

    educate and inform the public about the historical values. Cultural and social effects of

    these remains inserted in the urban and rural areas of Valinhos emphasize the valuesof cultural and rural remains that aims at integrating the residential architecture and

    economic development to preserve the natural heritage of the region. Proposals are

    presented like possible interventions on the green infra structure, guiding the dynamic

    local growth. Following a sustainable environmental design, based on an analysis of

    rural remains and evaluated as space and the local area orientation, found in the urban

    landscape of Valinhos city of So Paulo State.

    Key words: cultural heritage, rural remains, urban development, environmental de-sign, resilience, green infrastructure.

    INTRODUO

    O processo da urbanizao pode ser abordado sob vrios ngulos: do urbanismo, no

    que diz respeito ao planejamento e paisagismo desse espao; da percepo, no que

    concerne aos sentimentos, valores e atitudes dos habitantes em relao ao espaovivenciado, ou, ainda, do estudo das conexes entre as formas espaciais e a estrutura

    social. No caso brasileiro, a urbanizao aconteceu atrelada herana rural, como

    esclarece Ribeiro (1995), processo que se manifesta nas simples habitaes constru-

    das em meados do sculo XX, que vo congurando a forma urbana.

    A crena de que o espao mais urbanizado melhor frequentemente utilizada

    como uma evocao ao nvel de desenvolvimento econmico de uma regio, entre-

    tanto, esse pensamento quase sempre dissociado do nvel cultural e social de seu

    povo e at mesmo em termos de sustentabilidade. Considerando que o desenvolvi-

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    mento das cidades brasileiras adotou modelos orientados para maior produtividade

    econmica e lucratividade, constitudas sobre interesses privados em detrimento dos

    coletivos, o planejamento do meio fsico foi praticamente inviabilizado acarretando

    em cidades, incapazes de oferecer uma boa qualidade de vida aos seus habitantes

    (LOMBARDO, 2003).

    A preservao do espao rural, tanto fsica como culturalmente, tem se mostrado salu-

    tar em razo dos inmeros benefcios que tal preservao proporciona, como: presen-

    a de reas verdes, reas permeveis que evitam fenmenos semelhantes s ilhas

    de calor, manuteno da biodiversidade, melhora na qualidade do ar, conforto trmi-

    co, entre outros. Do mesmo modo, a implantao ou enriquecimento da infraestrutura

    verde, que deve estar associada a esses espaos existentes, podem aperfeioar odesenvolvimento da cidade, visando o crescimento dos espaos naturais em redes

    capazes de desempenhar servios ambientais e maximizar a qualidade ambiental. A

    infraestutura verde denida por Franco:

    Podemos considerar infraestrutura verde como sendo reas urba-

    nas permeveis ou semi-permeveis, plantadas ou no que pres-

    tam servios cidade eapresentam algum grau de manejo e geren-

    ciamento pbico ou privado. Das reas pertencentes infraestruturaverde de uma cidade destacamos os seguintes servios prestados:

    1- Melhora da qualidade do ar promovendo a sade humana; 2- Se-

    qestro de carbono da atmosfera; 3- Amortizao do balano clim-

    tico entre temperaturas baixas e altas no microclima urbano entre

    dia-noite e as estaes do ano; 4- Proteo, conservao e recupe-

    rao da biodiversidade da ora e fauna na rea urbana; 5- Conten-

    o da eroso; 6- Promoo de atividades contemplativas, esporti-

    vas e de lazer; 7- Promoo da importncia da paisagem como fatordeterminante da esttica urbana; 8- Incremento dofator permeabili-

    dade do solo urbano permitindo a percolao da gua e portanto a

    reduo de enchentes; 9- Articulao e conectividade entre espaos

    verdes; 10- Promoo da seguridade urbana; 11- Proteo de reas

    de fragilidade ecolgica; 12- Promoo de reas de alto valor ima-

    gtico, icnico e de identidade de lugares e stios urbanos.

    (FRANCO, 2010, p. 143)

    A cidade de Valinhos, assim como boa parte das cidades brasileiras, sofre presses

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    diversas do mercado imobilirio que vem se estendendo em direo s reas rurais.

    A urbanizao corporativa guiada pelo interesse de grandes empresas e pela espe-

    culao imobiliria deixa de lado, na maioria das vezes, os compromissos e gastos

    sociais, culturais, ambientais, voltando-se somente para o maior ganho possvel de

    lucros. (SANTOS, 2008) Dentro desse contexto, Argollo (2004) alerta que a urba-

    nizao do campo no deveria signicar transform-lo em cidade, e sim resgatar e

    valorizar a memria e a cultura de um povo, baseado nas condies rurais, sem dar a

    esse processo de transformao uma conotao folclrica ou jocosa, reconhecendo

    o potencial dos novos empreendimentos que, segundo o estudioso, alm de prover

    sustentabilidade scio-econmica, contribuem no s para a preservao ambiental,

    mas tambm para os valores culturais de um pas ou regio.

    Observa-se muitas vezes, porm, que esse objetivo ao se urbanizar o campo no

    atingido, pois o que ocorre, na realidade, o fato de empresrios do ramo imobili-

    rio apresentarem maiores vantagens aos proprietrios para que estes se desfaam

    de suas propriedades, onde sero construdos grandes edifcios, condomnios hori-

    zontais, dentre outros tipos de empreendimentos. A urbanizao causa, ento, for-

    tes impactos, muitas vezes irreversveis, regio alm de impossibilitar a prtica de

    atividades consideradas tipicamente rurais. Infelizmente, atrados por tais propostas,

    o homem com razes no campo acaba por ceder presso do mercado, perdendo aidentidade, a liberdade e a referncia de sua origem.

    Para Kayser (1990:13), o rural um modo particular de utilizao

    do espao e de vida social. Seu estudo supe, portanto, a compre-

    enso dos contornos, das especicidades e das representaes do

    espao rural, entendido, ao mesmo tempo, como espao fsico (re-

    ferncia ocupao do territrio e aos seus smbolos), lugar onde

    se vive (particularidades do modo de vida e referncia de identida-de) e lugar de onde se v e se vive o mundo (a cidadania do homem

    rural e sua insero nas esferas mais amplas da sociedade

    (WANDERLEY, 2000, p.88)

    Atividades consideradas tipicamente rurais, praticadas e desenvolvidas nas cidades,

    encontram-se, muitas vezes, encobertas por incrementos urbanos, sendo, ainda as-

    sim, consideradas redutos rurais. Os costumes das pessoas, geralmente de origem

    rural, manifestam-se na cidade em pequenos espaos por meio de diversas ativida-

    des exercidas, como pequenas criaes, plantio de hortas, ou mesmo a prtica de

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    costumes tipicamente rurais, que integram o que se pode denominar de um modo de

    vida, expresso, portanto, em sua habitao como herana rural.

    O caipira foi vtima de um traumatismo cultural marginalizado pelo

    despojo de suas terras, resistente ao engajamento no colonato e

    ao abandono compulsrio de seu modo tradicional de vida..

    (RIBEIRO, 1995, p.387)

    Manterem-se vivos os costumes e as crenas do homem do campo, o caipira,

    o mesmo que no se deixar apagar a memria de um povo, cuja identidade no

    pode ser desprezada, assumindo-se, pois, a importncia de sua herana cultural, bem

    como de suas referncias.

    Nesse sentido, Argollo (2004) reconhece que o patrimnio arquitetnico, juntamente

    com o patrimnio industrial existente no meio rural, compe um conjunto ainda mais

    rico: o patrimnio cultural rural. Patrimnio que, inserido na malha urbana, vem denir

    a cultura e a paisagem da cidade:

    O papel da arquitetura rural no processo de resgate e valorizao

    da memria e cultura local fundamental para o desenvolvimentorural sustentvel, uma vez que eles (memria e cultura locais) so

    a base para o reconhecimento e anlise das paisagens culturais de

    uma determinada regio

    (ARGOLLO, 2004, p.8).

    A palavra reduto, segundo Houaiss (2004), so espaos fechados ou recintos demar-

    cados; sendo assim, redutos rurais urbanos podem ser denidos como espaos rurais

    fechados remanescentes inseridos na malha urbana.

    Trabalhos de pesquisa que reconheam a relevncia de tais redutos so decisivos

    para propor a devida valorao e estmulo de preservao do rural. Por meio de in-

    centivos scais, resgate da cultura local e apoio cultural, o Estado pode viabilizar o

    convvio harmnico entre urbanizao e espao rural. Muitas vezes a conteno do

    crescimento de uma cidade pode trazer vrios benefcios populao que habita a

    regio.

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    Numa outra perspectiva, Herzog e Rosa (2010), retomando outros autores, defendem

    o desenvolvimento da ecologia da paisagem na ecologia urbana, como decisiva para

    a compreenso da interao homem-natureza, ao proporcionar uma mudana positi-

    va no planejamento e adaptao das cidades. O mapeamento dos redutos rurais, ou

    remanescentes naturais, na rea urbana podem ser de grande valia como auxiliares

    no diagnstico e no planejamento urbano, visando a um desenho ambiental, denido

    por Franco (2008 p.212), como a arte e a cincia dedicada valorizao da qualidade

    de vida das cidades....

    Esse mapeamento pode ser realizado com o uso de vrias ferramentas, como os

    sistemas de informao geogrca (SIG), de imagens ou fotograas areas obtidas

    atravs de sensores remotos, dentre outros. Entretanto quando se trata de reas oumunicpios de pequeno porte (segundo IBGE, com 500 a 100.0000 habitantes), o

    levantamento dos dados pode ser feito em campo, com a vantagem de se possibili-

    tarem levantamentos especcos quanto s estruturas arquitetnicas e s condies

    naturais (reas verdes, parques, rvores, APPs urbanas).

    Assim, conhecer os redutos rurais presentes em Valinhos (SP), estimular sua preser-

    vao e valorizao, e utilizar esses espaos como resgate cultural e social, como

    oportunidade de presena do natural no urbano, como espaos educadores que apro-ximam os cidados de um conhecimento histrico e patrimonial, uma alternativa de

    incluso das pessoas em um pensamento holstico no desenvolvimento das cidades,

    visando sempre o crescimento que integra as diversas reas do saber.

    OBJETIVO

    O presente estudo teve como objetivo apresentar um quadro dos redutos rurais, in-seridos na malha urbana da cidade de Valinhos no Estado de So Paulo. O enfoque

    principal foi dado aos espaos pblicos, s antigas sedes de fazendas e capelas, com

    o intuito de captar o modus vivendis rural, valorizando-se, assim, costumes e crenas

    a serem preservados, e realando caractersticas da cultura rural local, sua histria e

    seus valores. Compreende-se que a valorizao desses redutos pode ser de grande

    valia no desenho ambiental urbano, auxiliando no desenvolvimento sustentvel da ci-

    dade e, at mesmo, como forma de se levarem seus habitantes e gestores a reetirem

    sobre formas alternativas de crescimento do espao rural no cotidiano das cidades.

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    MATERIAIS E MTODOS

    Valinhos localiza-se a 22 5814 de latitude sul e 465945 de longitude oeste, com

    altitude de 660 metros. Municpio criado em 1953, pertence regio Metropolitana de

    Campinas (RMC) e possui uma rea de 148,96 km (gura 1). Conhecida com popu -

    lao tipicamente de origem rural, hoje ainda conhecida como capital do go roxo.

    Figura 1. Localizao de Valinhos a partir dos mapas do Brasil, do Estado de So Paulo e

    da regio metropolitana de Campinas (ilustrao: Sabrina Mieko Viana).

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    Durante o ms de janeiro de 2007, realizou-se um mapeamento dos redutos rurais na

    malha urbana de Valinhos, por meio de levantamento de dados em campo, consulta

    a livros de registro, coleta (informal) de relatos de moradores locais, alm de registro

    fotogrco.

    Para se encontrarem as razes de tal herana importante que se conhea a histria

    da cidade e de seus habitantes com o intuito de se compreender a origem desses cos-

    tumes e da tradio rural. Para tanto, fez-se um levantamento bibliogrco referente

    histria da cidade de Valinhos, alm da conversa informal com moradores locais.

    Um estudo bibliogrco realizado anterior aos levantamentos de campo pde auxiliar

    na compreenso do termo redutos rurais, denindo quais elementos da infraestruturaurbana entrariam nesse mapeamento.

    RESULTADOS E DISCUSSO

    A anlise dos dados obtidos em pesquisa de campo indicia que os redutos encon-

    trados dentro da malha urbana de Valinhos no esto adequados cultura rural da

    regio, levando-se em conta uma viso ecossistmica, em que a diversidade tantodo ponto de vista biolgico, ecolgico, social e cultural essencial na construo de

    cidades mais saudveis e equilibradas (FRANCO, 2008).

    H necessidade, portanto, de se proporem novos modelos de gesto urbana, adequa-

    dos cultura local, que ressaltem a importncia da preservao e ou requalicao

    dos redutos rurais arquitetnicos e culturais com a nalidade de que as referncias

    culturais prevaleam, inclusive com a insero destas nos planos de gesto do muni-

    cpio de Valinhos.

    O levantamento dos redutos rurais pode ser observado na gura 2.

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    Figura 3:

    a)Antiga fazenda Dois crregos, atual Condomnio residencial Reserva Colonial (Foto:

    La Yamaguchi Dobbert, 2007)

    b)Antiga fazenda So Bento, atual clube de campo Vale Verde (Foto: La Yamaguchi

    Dobbert, 2007)c)Antiga fazenda Santana, atual condomnio residencial Visconde Village do Itamara-

    c (Foto: La Yamaguchi Dobbert, 2007)

    d)Antiga fazenda Macuco, atual Pousada Fazenda Joapiranga (Foto: La Yamaguchi

    Dobbert, 2007)

    H tambm antigas construes rurais como,por exemplo, algumas casas de colonos

    que se encontram atualmente sem utilizao, expostas ao vandalismo devido ao des-

    caso das autoridades locais (gura 4).

    Figura 4: a)e b)Antigas casas existentes ao lado da Estao Ferroviria

    a b

    c d

    a b

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    Outro aspecto importante a ser considerado ao se diagnosticarem e conhecerem os

    redutos rurais em Valinhos o que se pode chamar de resilincia cultural e urbana,

    denida por Franco (2010) como a capacidade que um determinado grupo social tem

    em resistir a mudanas provocadas pelo choque com culturas diferentes, preservando

    seu patrimnio cultural.

    A presso do mercado imobilirio, conforme relato de alguns moradores de pequenas

    casas de colonos de antigas fazendas, fez com que muitos destes moradores se re-

    dessem as propostas sedutoras de tais empreendedores, abrindo mo no apenas de

    seus imveis, mas de sua tradio, memria e histria.

    Neste sentido, Menezes e Tavares (2003), destacam a importncia de se respeitara histria urbana e social com seus signicados, sentidos e valores simblicos, por

    meio da conservao da imagem urbana. Ao preservar os redutos rurais de Valinhos,

    no se impede o desenvolvimento da cidade com as mudanas esperadas, mas, an-

    tes, garante-se que certos cdigos simblicos sejam mantidos naquela comunidade,

    valorizando-se, assim, a cultura local em meio s inuncias culturais exticas e s

    presses imobilirias.

    A capacidade de resilincia em um municpio bem empregada quando utilizada paraamenizar impactos antropognicos, como esclarece Franco (2010). Assim, a proposta

    de parques lineares com funes de corredores verdes, que conectam os redutos ru-

    rais ao espao urbano, permite um desenvolvimento mais harmnico do municpio ao

    assegurar a seus moradores e visitantes possibilidades variadas de lazer, locomoo

    e contato com a histria e a cultura da cidade. Respeita-se, assim, a sobrevivncia da

    cultura rural de Valinhos.

    Em conjunto com esta proposta, sugere-se tambm que a populao seja educadapara reconhecer o valor histrico, cultural, social e ecolgico, de tais redutos rurais

    inseridos na malha urbana de Valinhos. Neste contexto pode-se pensar nestes lugares

    tambm sob o conceito dos espaos e estruturas educadoras, ou seja, como locais

    onde se possa trabalhar e discutir, com a populao, alternativas para a sustentabili-

    dade, por meio do estmulo realizao de atividades conjuntas, alm do reconheci-

    mento da necessidade de se educar (BRANDO, 2005).

    Qualquer espao no cotidiano das cidades pode ter caractersticas educadoras, entre-

    tanto para que isso se concretize, de fato, necessrio que haja uma intencionalidade

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    Conhecer, enm, em profundidade o municpio. O processo do planejamento deve ser

    dinmico e exvel, alm de efetivamente participativo contando com representantes

    de todos os segmentos da sociedade que sero afetados pelo projeto. necessrio

    identicar os anseios e os problemas trazidos pela comunidade quando se buscam

    novas idias que devem nascer como fruto da vivncia e da experincia no lugar

    pesquisado. O engajamento dos usurios nas fases do planejamento e do desenvol-

    vimento do projeto essencial para que a infraestrutura verde seja sustentvel em

    longo prazo (RIBEIRO, 2001; BOUCINHAS, 2007; COSTA et al., 2007). O diagnstico

    inicial ir indicar quais as oportunidades e as limitaes da rea.

    Urge, portanto, a necessidade de um estudo quali-quantitativo mais aprofundado e

    com maiores especicidades, que possibilite confeccionar um banco de dados con-tendo todos os redutos rurais e suas caractersticas para que se possa propor um

    mtodo de catalogao e controle de preservao do patrimnio cultural rural da ci-

    dade de Valinhos (SP). Ao se propor tambm a conectividade entre esses redutos e

    a urbanizao por meio de parques lineares ou corredores verdes, uma rota turstica

    se fortalece com funo ambiental, proporcionando um desenvolvimento urbano do

    municpio associado implantao de infraestruturas verdes e a uma logstica que

    facilite essas estruturas como espaos educadores.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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    ARTIGO N3

    SISTEMA DE INFORMAO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DA QUALIDA-

    DE AMBIENTAL

    Information System As An Instrument Of Environmental Quality Management

    Patricia Helen Lima

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    SISTEMA DE INFORMAO COMO INSTRUMENTO DE GESTO DA QUALIDADE

    AMBIENTAL

    Patricia Helen Lima

    Mestre em Projeto Sustentvel pela FAUUSP

    Coordenadora da Seo de Informao e Qualidade Ambiental da Prefeitura de SBC

    E-mail: [email protected]

    Resumo

    Este trabalho discute mecanismos de formulao e gesto de polticas pblicas, so-

    bretudo no nvel local, abrangendo seus contedos temticos (poltica social, ambien-

    tal e econmica), procurando entender sua evoluo e seus resultados em termos da

    participao popular, dos interesses ambientais, econmicos e globais, apresentando

    alternativas que possam atender as necessidades contemporneas em crescente mu-

    dana, numa sociedade em transio cultural.

    Para interferir diretamente nesse processo, procuramos apresentar as diculdades e

    limites da atual prtica, e apresentar caminhos para se construir propostas articuladas

    de polticas de desenvolvimento integrado, sistematizado e sustentvel.

    Palavras-chaves:Qualidade Ambiental, Sistema de Informao, Polticas Pblicas,

    Meio Ambiente, Planejamento Ambiental.

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    Estado, a ser exercida com a cooperao dessas esferas de poder, pela transferncia

    de recursos, ou pela cooperao tcnica.

    Por ser Poltica pblica, seu processo de elaborao submetido ao debate pblico, o

    que a diferencia das Polticas governamentais, embora sejam estatais. Como o poder

    uma relao social que envolve vrios atores com interesses diferenciados e at

    contraditrios, h a necessidade de mediaes sociais e institucionais, para que se

    possa obter um mnimo de consenso e, assim, as polticas pblicas possam ser legiti-

    madas e obter eccia (TEIXEIRA, 2002).

    As polticas urbanas iniciadas no Estatuto das Cidades e nos Fruns Ambientais

    Globais abriram caminhos para mudanas signicativas na funo social, seguido deparmetros para nortear a atividade produtiva dentro de um ambiente sustentvel,

    englobando diferentes lgicas, que buscam um entendimento e que estabelecem re-

    laes que remontam s questes da sustentabilidade. Analisar tais questes no es-

    pao urbano e seus impactos sobre os ecossistemas acarreta na reviso do processo

    das polticas pblicas, que ir compor o projeto urbanstico no cumprimento de seu

    objetivo nal (LIMA, 2009).

    A condio na qual a ideologia sobre as questes ambientais e sociais se produz emnossa poca -e que abrem possibilidades novas- encontra barreiras no mundo da

    economia global, onde as idias se desligam da sua correspondncia de origem,

    determinando a formao social e decorre da um entendimento apenas parcial da

    realidade, nem sempre atrelado s culturas locais.

    A globalizao, um fenmeno que est predominado em todo mundo se manifesta

    de forma excludente e gera vrios tipos de violncia, causando danos econmicos-

    sociais e ambientais. Vale salientar que a presso da globalizao com fora merca-dolgica cria a necessidade do governo buscar alternativas novas do contato direto

    com o cidado superando o ortodoxo de fazer poltica. De igual maneira, a cidadania

    conscientemente organizada necessita criar mecanismo de contato e controle de pol-

    ticas estatais, democratizando-as. Isso demanda novos experimentos de participao

    poltica direta de maior nmero possvel de cidados. Assim, um dos maiores desao

    da globalizao a discusso profunda e ampla a cerca de uma poltica da condio

    social humana global (CRUZ, 2009).

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    Partindo da observao deste contexto de relaes globalizadas, da hegemonia do

    capital aliado s questes sociais urgentes, possvel um exerccio de anlise das

    transformaes ocorridas, onde se percebe que os esforos para a verdadeira com-

    preenso dos novos conceitos tm sido depositados em aes para solues con-

    juntas, para no corrermos o risco de sermos engolidos pela banalidade do contexto

    atual.

    A criao de estruturas adequadas para a realizao de um mecanismo comum, que tro-

    que as experincias de cada setor pela atuao que propicie poderes decisrios amplos,

    com mltiplas competncias, com instrumentos que permitam ultrapassar obstculos e

    que dem segurana e compreenso necessrias o caminho que entendemos possvel

    para novas aes e que permitiro a transparncia das informaes para um meso nvelde conhecimento.

    MEIO AMBIENTE NO PROCESSO DE GLOBALIZAO

    A expanso das foras globais sobre o espao, a sociedade e as aes locais trouxe

    reexes sobre a lgica que pauta este caminho. A interveno do setor nanceiro na

    lgica do espao urbano e rural e na sua produo mostrou que as lgicas coexisteme se inter-relacionam, porm, quando includa a lgica ambiental, nos deparamos com

    novos desaos.

    Com o objetivo de explorar diferentes dimenses, escalas e relaes, buscamos para

    exemplicar o conceito atual de rea urbana e rural. O mundo rural secular ope-se

    claramente ao mundo urbano, em suas funes, atividades, grupos sociais e paisa-

    gens. Nos anos 80 assistiu-se uma nova realidade: o mundo rural no agrcola. Esta

    perspectiva introduziu elementos novos no modo de encarar os mundos rural e urba-no, em si e na forma como se relacionam (RGO FILHO, 2007). As decises sobre as

    questes agrcolas tomadas no urbano e a submisso da ideologia dos padres rural

    ao urbano, marcou uma viso de dominao urbana.

    A idia do mundo rural no agrcola trouxe em si transformaes sociais. A ausncia

    de movimentos signicativos que apiem os desenvolvimentos locais, a valorizao

    simblica atribuda ao mundo rural e a fora do mercado alteraram denitivamente as

    relaes entre urbano e rural.

    Os aspectos hipervalorizadosda conservao e proteo da natureza, a mercantiliza-

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    odas paisagens transformou o mundo rural, crescentemente reduzido, em espaos

    multifuncionais ou parques naturais sem expresso signicativa. Com o crescente au-

    mento da populao urbana e a diminuio na qualidade da vida destes, surge o papel

    cada vez mais contrastante entre a imagem do rural buscado pela populao urbana

    como prximo da natureza e a fuga da vida urbana. O rural de hoje, entendido neste

    contexto, no traduz o rural do passado, ou seja, a relao da sociedade rural com

    o espao e seu registro local, no conjunto social. O sistema de valores da populao

    rural de antes substitudo pelo individualismo que transformou o homem e a terra

    em mercadoria.

    Enfrentamos agora novas questes sobre limites do urbano e do rural, que se encon-

    traram sicamente, com a extenso do tecido urbano. Nesta nova relao urbano-ru-ral, importante frisar, que uma nova relao urbano-rural ter que ser desenvolvida

    com um novo olhar sobre os espaos, de forma sinrgica em suas relaes.

    Estas relaes pressupem garantir o funcionamento de processos ecolgicos bsi-

    cos, como medida de preservao de ecossistemas. Signica garantir oferta pblica

    de mobilidade, cultura e aprendizado s populaes. Signica garantir que polticas

    de ordenamento do territrio e preservao da natureza sejam complementares e re-

    sultem no desenvolvimento adequado s novas redes que se criam.

    O custo ambiental se associar sua diversidade natural e complexidade da pro-

    blemtica social, o que representar grande potencial para o seu desenvolvimento,

    envolvimento e troca. A proximidade de indstrias com fontes de energia e matria

    prima no mudar a geograa econmica, mas alterar seu papel diante do mercado

    consumidor.A gura de rede substituir a da Linha de produo (RGO FILHO, 2007).

    Este o estgio atual do processo de globalizao, onde se tornam indispensveis ainterao e a considerao entre os nveis local, regional, nacional e global, o que sig-

    nica sobrepor diferentes estruturas que comportam complexidades desiguais ante-

    riores, como uma ordem prxima (de vizinhana) e uma ordem distante (da sociedade

    como um todo), que regem a produo e o consumo, da escala global.

    A reviso do tamanho populacional dos municpios, sua densidade demogrca e

    sua localizao sero obrigatrias tanto em conceitos como em normas legais, para

    a verdadeira compreenso da nova situao. As microrregies so essenciais para a

    caracterizao dos ecossistemas, ainda que articializada pela ao urbana e nesse

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    sentido, o campo no poder ser concebido apenas como complementar a cidade e

    paisagem a ser consumida, mas como estruturador de um novo espao, que contribua

    na valorizao e reconhecimento dos seus saberes e potenciais locais, sem a condi-

    o de subordinao, envolvendo reais culturas.

    Nasce a idia de novas geograas que sero identicadas com sua espacialidade

    e suas marcas. Esta espacialidade ter que desenvolver e comportar a participao

    dos atores locais que desenvolvero e produziro inuncias particulares. A escala

    de ao denir as interaes espaciais e a informao se construir no conjunto dos

    atores e da gesto da proteo ambiental. Este processo ser capaz de direcionar

    aes que busquem a qualidade da informao e das intervenes.

    TECNOLOGIA DA INFORMAO E CONHECIMENTO

    preciso recuperar temas que permitam a construo de um quadro de prticas ur-

    banas e rurais e que considerem os processos histricos e naturais, que no iludam,

    mas que inuenciem aes mais abrangentes e cautelosas, uma produo do espao

    que seja condio e meio para o processo da construo do territrio, considerando

    a espacialidade do processo social como intrnseca anlise territorial (LIMA, 2009).

    A tecnologia avanada possibilita uma leitura conjunta de fatores que envolvem infor-

    maes de diferentes fontes e que analisadas no todo representam uma ferramenta

    de gesto em que diversos atores podem usufruir e produzir um novo espao, sob

    novas condies de realizao e que possuam a potncia de transformar a prtica

    scio-espacial. O desao explorar o desenvolvimento tecnolgico para um objetivo

    de tornar as cidades sustentveis.

    SANTOS, equipara o desenvolvimento da histria com o desenvolvimento das tcni-

    cas, dizendo que A cada evoluo tcnica, uma nova etapa histrica se torna poss-

    vel. (SANTOS, 2005). Em nossa poca, o que representativo do sistema de tcni-

    cas a tecnologia da informao, do conhecimento e dos modelos digitais, permitindo

    todos os lugares convergirem os momentos e as aes desejadas, usufruindo das

    questes locais e globais e dos atores locais e globais.

    Dispomos de um sistema de tcnicas, com informaes que se agrupam ao mesmo

    tempo e em qualquer lugar. Podemos ter uma viso detalhada da terra, observada por

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    satlites, redes de infra-estrutura e rede social que as suportam, enm, passamos a

    conhecer todos os lugares, funes, relaes e produes e observ-los em sua evo-

    luo. Como sntese constitui-se em uma viso integrada, altamente elucidativa do

    conjunto interligado dos fatores fsicos, biticos e socioeconmicos responsveis pela

    realidade e suas relaes (Fig.1).

    Fig.1 -sistemas geogrcos de informao.

    Muitas representaes digitais do ambiente so extremamente teis para o conjunto

    destas informaes. So exemplos os mapeamentos temticos e os bancos de da-

    dos. Estas representaes podem ser integradas em uma estrutura que permita a

    investigao de relaes entre as entidades fsicas representadas e os impactos que

    as aes representam. Este cruzamento das informaes cria modelos conceituais

    que representam diferentes facetas da realidade.

    O sentido que tm todas estas ferramentas so a correta interpretao de tudo o que

    existe e que temos acesso e as possveis intervenes no processo, para que sejam

    revistas as aes. Estamos buscando construir uma losoa das tcnicas e das aes,

    que seja uma forma de conhecimento amplo e concreto do mundo tomado como um

    todo e das particularidades dos lugares, que incluem condies fsicas, naturais ou

    articiais e condies polticas. Conhecer todo o processo das intervenes no territ-

    rio, suas relaes e abrangncia uma necessidade de princpio para qualquer ao.

    Por exemplo, diversas atividades s so possveis pela existncia de recursos que

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    no so produzidos ou extrados em seu local e podem ser sentido em sua vizinhana.

    Nas cidades, os recursos naturais que utilizamos no dia-a-dia, o lixo que geramos, o

    solo que impermeabilizamos, o ar que polumos chegam ao meio rural e podem no

    ser percebido na cidade, mas causam impacto.

    O estudo das bacias hidrogrcas, por exemplo, como uma unidade ambiental de

    anlise um caminho para uma investigao do meio, pois possvel analisar altitu-

    des de terrenos ao longo da bacia, regular o fornecimento de gua, preservar os solos

    frteis, aes humanas, a densidade demogrca e as razes econmicas, entender

    a drenagem, o uxo dos cursos dgua, a distribuio das chuvas, o grau de imperme-

    abilizao, interpolando com o clima, estudar a funcionalidade do fornecimento, enm,

    todos os componentes das bacias hidrogrcas encontram-se interligados e os riosso os veculos dessa integrao.

    Devido a essa interligao natural, as bacias hidrogrcas so excelentes unidades

    de planejamento e gerenciamento e constitui um sistema natural bem delimitado do

    espao, composto por um conjunto de terras integradas e portanto mais facilmente

    interpretveis.

    O gerenciamento por Bacia hidrogrca exigir um conhecimento que ultrapasse li-mites administrativos, mas que entenda os uxos, que permita um diagnstico da

    realidade, e mais ainda, permita requalicar reas entre tantas situaes que impossi-

    bilitam as decises autnomas. Todas estas questes remetem tecnologia atual na

    busca da qualicao do meio.

    necessrio envolver diferentes setores permitindo um nvel de entendimento entre

    atores para tomada de deciso cada vez mais transparente. Um sistema como par-

    metro para induzir maiores mudanas, juntando-se a uma cidadania participativa paralidar com a especicidade dos problemas urbanos, criaro polticas pblicas para re-

    solver questes de ambientes especcos.

    medida que aumenta a conscientizao da interdependncia e medida que o

    conhecimento e a informao mostram os problemas de forma cada vez mais clara e

    rpida, pode haver cooperao e apoio em diferentes estgios na busca de um novo

    equilbrio entre sociedade, cidade e natureza. Esta a fora motriz que constri uma

    sociedade sustentvel.

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    QUALIDADE AMBIENTAL

    Em relao s questes que permeiam as informaes relativas qualidade ambien-

    tal, vale apresentar sucintamente a importncia das informaes sistematizadas no

    desenvolvimento de um planejamento ambiental, que representa um salto de qualida-

    de na observao e interpretao do meio.

    comum surgirem questes sobre a lgica utilizada na seleo dos dados que so

    utilizados na anlise do meio e que critrios denem este conjunto de dados para que

    sejam sistematizados e interpretados.

    Todo planejamento que visa denir polticas requer conhecimento sobre os compo-nentes que formam o espao. O dado a base da informao, a medida, a quanti-

    dade ou o fato observado e pode ser apresentado na forma de nmeros, descries,

    caracteres ou mesmo smbolos. Este dado quando passa a ter uma interpretao se

    torna uma informao. Por sua vez, quando a informao uma propriedade cuja

    variao deve alterar a interpretao do fenmeno que representa, sem lhe alterar a

    natureza, chamada de parmetro, que pode apresentar diversos valores, conforme

    a circunstncia (Fig.2). Lembrando que para cada dado, informao, parmetro ou

    varivel obtido em um planejamento, deve-se reconhecer a temporalidade e o espaode abrangncia (SANTOS, 2004).

    O importante observar a ocorrncia desses nveis, a relao que se pretende es-

    tabelecer entre eles, os dados que so representativos, comparveis e de fcil in-

    terpretao, para construir uma base slida de informaes. Estas informaes so

    apresentadas como indicadores, que tm a capacidade de descrever um estado ou

    uma resposta dos fenmenos que ocorrem no meio. A gura seguir caracteriza o

    parmetro como indicador.

    Fig. 2 Caracterizao de parmetro como indicador. Baseado em SANTOS, 2004.

    No existe consenso sobre qual o conjunto ideal de indicadores a ser adotado. Num

    planejamento ambiental o nmero de indicadores normalmente est associado es-

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    cala e espao fsico que se est trabalhando e para cada dimenso h indicadores

    especcos. Normalmente comum priorizar os indicadores do meio natural e poste-

    riormente os que expressam aspectos sociais, culturais e econmicos, cando claro

    que a seleo dos dados populacionais e socioeconmicos est orientado segundo

    sua relao direta com os subsistemas ambientais naturais.

    Importante perceber que o agrupamento dos indicadores auxilia no processo de

    planejamento de diferentes maneiras, podendo expressar as condies de qualidade

    ou estado do meio, reetir as polticas setoriais, outro grupo pode reetir presses ou

    impactos das atividades humanas sobre o meio, outro pelas relaes sociais, e assim

    por diante.

    A forma mais usual de organizar os indicadores, principalmente quando o planeja-

    mento fundamenta-se em princpios de desenvolvimento sustentvel, por meio da

    estrutura da OECD (Organization for Economic Co-Operation and Development), que

    adota trs grupos de indicadores: estado, presso e resposta.

    TEMTICAS E TEMAS

    Outra questo a ser a ser considerada em relao ao planejamento ambiental so seus

    mltiplos aspectos como um todo contnuo no espao, que englobam dados ligados a

    diversas disciplinas. Na sistematizao das diferentes disciplinas necessrio considerar

    dois nveis de informao: o das temticas e o dos temas.

    Cada tema um ncleo prprio de dados, por exemplo: o clima, a geologia, a vegeta-

    o, o uso da terra, educao, entre outros, que podem ser subdivididos em subtemas

    e podem ser derivados, ou seja, abranger dois ou mais temas. Temtica um conjuntode temas, que quando associados permitem uma anlise que a sntese de uma fra-

    o particular do meio (SANTOS, 2004).

    Os planejadores precisam reetir que a compreenso sobre a com-

    plexidade do meio e a forma como se d a integrao entre seus

    diversos temas deve, primeiramente, passar pelo relaciona