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ECONOMIA & DESENVOLVIMENTO PARA OS NOVOS TEMPOS EDITORIAL ABDE ANO 37 – Nº 269 – Maio - Junho de 2013 Carta ABDE Estímulo ao desenvolvimento do Brasil

Edição 269

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Uma publicação da Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento

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EDITORIALABDE

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Carta ABDEEstímulo ao desenvolvimento do Brasil

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olocar o Brasil na rota do desenvolvimento sustentável. Essa não é uma meta apenas do governo brasileiro, mas de todas as instituições que trabalham para o avanço do país. Nesse senti-do, a Associação Brasileira de Instituições Financeiras de Desenvolvimento apresenta ao público a Carta ABDE, uma

agenda de trabalho para a definição e avanço do Sistema Nacional de Fomen-to. O documento, cujo conteúdo representa o consenso dos anseios das 30 instituições financeiras de desenvolvimento associadas à ABDE, foi lançado em junho, em Brasília, durante seminário realizado em parceria com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os temas discutidos no encon-tro, que teve mais de 180 participantes, as experiências exitosas no campo do financiamento ao fomento no país e no exterior e o passo a passo de constru-ção da Carta estão retratados na reportagem de capa.

Vale destacar também a entrevista com o doutor em ciências sociais Mar-cos Costa Lima, que explica a ascensão no cenário mundial da China e da Índia, sem esquecer dos desafios que tais nações ainda devem superar interna-mente para continuar a se desenvolver. Para complementar a reflexão sobre os países emergentes do Sul, o professor Ignacy Sachs, em seu artigo, vai mais fundo no debate ao trazer estudos internacionais que indicam que a Índia tem condições de manter um crescimento sustentável a médio prazo, caso consiga corrigir falhas do passado.

E, por fim, o tema do financiamento aos municípios – que foi capa da edição passada – tem se mostrado tão fundamental para o desenvolvimento do país que será retomado na próxima edição. Aguardem e boa leitura!

CAO LEITOR

Seções FOMENTO

LIVROS

4656

RUMOS - 3 – Maio/Junho 2013

32 CAPA

ENTREVISTA

S SUMÁRIO

5

16REPORTAGEM

Um futuro incerto

Relações internacionais

MICRO E PEQUENAS

52 Pronatec Empreendedor Empreendedorismo se aprendena escola

Sávio José Peres

Desenvolvimentocom a floresta em pé

ABDE define o Sistema Nacionalde Fomento

50REFLEXÃOJosé Domingos Vargas

Agências de fomento: uma reflexão sobre o seu papel naeconomia do século XXI

22REPORTAGEMCrédito

Atuação estratégica

44EXTREMO SULInovação

Estímulo às boas ideias

14PANORAMAIgnacy Sachs

Para onde vais, Índia?

EM DIA

O desenvolvimento tornou-semultidimensional e complexo

Valdir Melo20

8OPINIÃODelfim NettoQuestão de convivência

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EXPERTISE10Os desafios dos países emergentes

Marcos Costa Lima

28INOVAÇÃO

Ao encontro das oportunidades

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Marco histórico

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ARTIGO

26 Marcos Borges

Alternativa inclusiva paraemissão de cartões

Ciência

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ABDE

InformaçãoRelacionamentoCapacitação

Saiba mais em: abde.org.br

Uma Associação a serviço dodesenvolvimento do Brasil

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RUMOS - 5 – Maio/Junho 2013

O presidente da Agência de Fomento do Estado do Amapá, Sávio José Peres, apresenta o novo posicionamento da instituição que tem como foco fortalecer a economia local e apoiar o uso sustentável dos recursos naturais

Por Thais Sena Schettino

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E ENTREVISTA Sávio José Peres

umos – A Agência de Fomento do Amapá (Afap) comemora 13 anos de funcionamen-to em 2013. Qual o papel da agência de

fomento para o estado?Sávio José Peres – A Afap tem um papel extremamente importante no estado dada a incipiência da nossa economia e o fato de que grande parte dos negócios locais estarem ainda em fase de implantação, ainda não maduros. Logo, a Afap des-ponta como uma alavancadora desse processo, no sentido de que a agência pode gerar oportunidades para que essas empre-sas, esses empreendimentos possam, no seu momento mais agudo, contar com este importante serviço financeiro que é a disponibilização de linhas de financiamento.

Rumos – A Afap passou por uma reestruturação recen-te. Quais as principais mudanças?Peres As principais mudanças estão na estrutura da insti-–tuição. Tivemos que retomar um trabalho que havíamos rea-lizado em 2002, que compreendia o resultado de um proces-so de construção, começado em 1999 ano da criação da –agência. Foi feita uma reestruturação sob um novo olhar. Um olhar que viesse a atender as exigências do mercado con-temporâneo. E, sobretudo, garantir os fundamentos básicos. Como, por exemplo, a realização do concurso para a estrutu-ração do quadro permanente da instituição. Isso, por si só, dará sustentabilidade para a agência no futuro. A construção desse quadro permanente é um ponto importante nesse pro-cesso, além do reequilíbrio orçamentário e financeiro da ins-tituição e o reenquadramento do patrimônio mínimo da agência aos patamares exigidos pelo Banco Central. Foram Ma

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Desenvolvimento com a florestaem pé

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RUMOS - 7 – Maio/Junho 2013

dicionais que ali vivem. Mais do que nunca, é preciso que a gente crie polí-ticas de preservação ambiental e, con-sequentemente, de garantia de renda para as comunidades que têm na flo-resta o seu sustento, para que elas per-maneçam em suas terras, produzindo e vivendo com dignidade. E que o resultado do seu trabalho ganhe a dimensão econômica que seu poten-cial indica.

Outro financiamento que temos trabalhado é o da carpintaria naval. Na Amazônia, os rios são, na maioria, as únicas ruas de acesso que uma comunidade tem para chegar a outra e também à capital. Nesse trânsito, no qual se deslocam milhares de pessoas todos os dias, o barco é o único trans-porte. Os carpinteiros navais são os profissionais que constroem os bar-cos com os quais nos movemos em nossos rios. Estamos estudando um portfólio de linhas diferenciadas que garantam a manutenção desse patri-mônio imaterial (que é o conheci-mento dos mestres carpinteiros) e econômico da região. Rumos – Quais são as ações e os projetos previstos para 2013 a serem implementados pela Afap?Peres – Este é o ano que escolhemos para expandir as ações da agência. Já estamos presentes em quatro dos principais municípios do estado. A previsão é que, até o fim de 2013, este-jamos em todos os dezesseis municí-pios do Amapá, levando financiamento às pessoas empreen-dedoras das nossas cidades. E, principalmente, levando a inclusão social por meio do crédito produtivo orientado. Devido às distâncias dos centros mais desenvolvidos, muitos nem se quer contam com os serviços de uma agência bancá-ria tradicional.

Rumos – Que outras medidas o senhor considera fun-damentais para acelerar o processo de desenvolvimento do país?Peres – Certamente a concentração de renda se constitui em um dos grandes obstáculos para o tão esperado desenvolvi-mento econômico, uma vez que ela nos leva a outras duas for-mas de concentração: dos investimentos e de crédito. É por meio da concentração dos investimentos que verificamos os desequilíbrios regionais e intrarregionais. É isso precisa ser superado. O outro é a concentração do crédito. Uma vez que o crédito se ocupa somente dos seguimentos mais abastados,

ele acaba penalizando um importante instrumento de desenvolvimento da economia, sobretudo com relação às micro e pequenas empresas que não têm acesso aos recursos. As institui-ções financeiras de desenvolvimento (IFDs) têm papel fundamental nesse processo no sentido de mitigar essa concentração. Tanto para o crédito quanto para o investimento, pois assim poderemos garantir desenvol-vimento econômico de forma susten-tável e equânime para o país todo. Afinal, só podemos pensar em desen-volvimento, pensando em equidade, em garantir os direitos para todos.

Rumos – Como o senhor avalia o trabalho que vem sendo desenvol-vido pela ABDE, que congrega e representa o Sistema Nacional de Fomento, do qual a Afap é inte-grante?Peres – É importantíssimo o traba-lho da ABDE. É inegável que a asso-ciação tem um legado de relevantes serviços prestados para a construção e para a definição de políticas de desenvolvimento. E é extremamente importante que esta agenda da ABDE inclua a diversidade regional. É importante que nós tiremos uma agenda amazônica, porque vivemos em um país de dimensões continen-tais. Um país que é marcado por pro-fundas desigualdades regionais que dificultam até mesmo uma integração estratégica de crescimento. Os pro-

blemas que a Afap enfrenta aqui são completamente díspares dos que outras instituições, coirmãs, também atravessam, seja por suas diferenças de tamanho ou de características so-cioeconômicas regionais.

É importante que a ABDE crie essa agenda regional que permita que agências menores, como a Afap, possam se inte-grar no processo de construção das políticas de desenvolvi-mento que a Associação sugere para o país. Penso que é fun-damental que possamos fazer essa construção considerando os desiguais como desiguais e não os desiguais como iguais. Imagine, uma agência na Amazônia enfrenta inúmeras dificul-dades que são completamente diferentes das que enfrentam as do Sul/Sudeste. Afinal de contas, temos uma economia que obedece a padrões da regionalidade, obedece a quesitos extre-mamente vinculados à conservação da floresta, à preservação dos nossos mananciais. O nosso desenvolvimento não pode escapar desse olhar mais cuidadoso com relação ao ambiente onde os projetos, a atividade econômica vai se estabelecer.

RUMOS - 6 – Maio/Junho 2013

E ENTREVISTA

todas essas medidas que garantiram o processo de reconstrução desse importante instrumento de auxílio ao fomento da economia local.

Rumos – Quais as principais linhas de financiamento disponí-veis e suas características?Peres – Sem dúvida, o nosso carro- chefe é a linha Amapá Solidário, que atende aos empreendedores infor-mais e grande parte dos que estão migrando de informais para indivi-duais. Geralmente, o empreendedor que está iniciando acessa a agência por meio dessa linha de financia-mento, que, em 2011, correspondia a mais de 72% das operações de crédi-to da Afap. Esse percentual caiu para 52,3%, resultado da criação de novas linhas que abrigaram os empreende-dores que migraram da categoria de informais para a de empreendedores individuais, microempresas e profis-sionais liberais. E também existem outras linhas, como a Táxi Legal, Afap Construir, Afap Indústria – voltada para o setor da pani-ficação –, Afap Empreendedores Culturais e a Afap Transporte – linha que financia a compra de veículos como vans e caminhões de pequeno porte.

Essa ampliação do nosso portfólio aconteceu a partir da parceria com os setores-chave da nossa economia, como o da indústria, começando com o da panificação, financiando a compra de máquinas e equipamentos adequados às exigên-cias de segurança do Ministério do Trabalho; com o setor do varejo, da construção civil e de informática, com linhas de financiamento para os clientes desses setores a 0,8% de taxa de juros ao mês; e também o de bares e restaurantes, com quem estamos construindo uma nova linha de crédito para a reestruturação do setor, sendo este segmento o que mais gera emprego e renda no estado. Há, ainda, o trabalho para a renovação da frota de táxi e mototáxi, com linhas exclusivas elaboradas com os sindicatos dessas duas categorias profissi-onais. Todas essas linhas formam um portfólio que atende um percentual bem amplo de empreendedores, do informal ao de médio porte.

Rumos – Qual o volume de desembolso médio (anual ou por linha de financiamento)?Peres – O nosso desembolso médio vem crescendo desde 2011, com uma média mensal de R$ 419.820,97. Dois meses foi o tempo que gastamos para reorganizar e preparar a casa para a volta dos clientes. Em 2012, a média mensal para doze meses foi de R$ 510.508,38. Nos primeiros cinco meses de 2013, já chegamos a R$ 626.758,56. E continua-mos crescendo.

Rumos – Qual o perfil dos empre-endedores que são o público-alvo da agência de fomento?Peres – São, em sua maioria, pes-soas excluídas do sistema formal de crédito. Financiamos essencialmen-te aqueles que não conseguem obter recursos junto ao sistema tradicio-nal. Essa é uma lógica que temos bus-cado, estreitando ainda mais a rela-ção com esses segmentos para garantir a inclusão produtiva, a democratização do crédito, e, sobre-tudo, assegurar que esta importante ferramenta de desenvolvimento das atividades econômicas, que é o aces-so ao crédito, esteja à disposição dos empreendedores dos mais diversos ramos de atividades produtivas que existem em nosso estado.

Rumos – Quais os potenciais da economia no estado do Amapá?Peres – Existem inúmeros poten-ciais. Existem as cadeias produtivas, como a do açaí, logo, buscamos

construir, em parceria com o Instituto de Floresta do Estado, não só a melhor comercialização, mas também o manejo, a produção e a extração do fruto (e das outras cadei-as produtivas), garantido linhas de financiamento que estão diretamente relacionadas com o pagamento de serviços ambientais. Talvez, sejamos a primeira instituição de crédito no país a assegurar o pagamento de serviços ambientais aos produtores da floresta.

O crédito irá funcionar assim: serão três financiamentos, num período de três anos. O primeiro é por meio do fundo estadual para a agricultura, e não é reembolsável. Os extrati-vistas vão ter metas econômicas e ambientais a cumprir. A cada ano, na renovação do seu crédito, será estabelecido um novo critério de financiamento. O primeiro ano será 100% não reembolsável. Todo recurso emprestado para o extrati-vista, ficará com ele. Assim, seguimos para o segundo finan-ciamento, com reembolso de apenas 50% para a Afap. Já o terceiro financiamento será 80% reembolsável. A partir des-se estágio, ele entra no crédito convencional. Vamos traba-lhar nesse primeiro momento com os extrativistas do açaí, da castanha do Brasil, do cipó-titica e da madeira, certificada e de floresta de manejo.

Além do financiamento propriamente dito, e da garantia do pagamento dos serviços ambientais, estaremos preparan-do o extrativista para a inclusão produtiva. Para que ele, a par-tir das palestras de acesso ao crédito, esteja preparado a assu-mir compromissos creditícios.

O objetivo é produzir para preservar. O que pensamos é que a floresta não é um ativo intocável. Entendemos que ela é um ativo que tem que atender os anseios das comunidades tra-

Sávio José Peres

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“O que pensamos é que a floresta não é um ativo intocável. Entendemos que

ela é um ativo que tem que atender os

anseios das comunidades tradicionais

que ali vivem.”

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A Afap tem uma linha voltada para apoiar os empreendedores que trabalham com açaí.

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dicionais que ali vivem. Mais do que nunca, é preciso que a gente crie polí-ticas de preservação ambiental e, con-sequentemente, de garantia de renda para as comunidades que têm na flo-resta o seu sustento, para que elas per-maneçam em suas terras, produzindo e vivendo com dignidade. E que o resultado do seu trabalho ganhe a dimensão econômica que seu poten-cial indica.

Outro financiamento que temos trabalhado é o da carpintaria naval. Na Amazônia, os rios são, na maioria, as únicas ruas de acesso que uma comunidade tem para chegar a outra e também à capital. Nesse trânsito, no qual se deslocam milhares de pessoas todos os dias, o barco é o único trans-porte. Os carpinteiros navais são os profissionais que constroem os bar-cos com os quais nos movemos em nossos rios. Estamos estudando um portfólio de linhas diferenciadas que garantam a manutenção desse patri-mônio imaterial (que é o conheci-mento dos mestres carpinteiros) e econômico da região. Rumos – Quais são as ações e os projetos previstos para 2013 a serem implementados pela Afap?Peres – Este é o ano que escolhemos para expandir as ações da agência. Já estamos presentes em quatro dos principais municípios do estado. A previsão é que, até o fim de 2013, este-jamos em todos os dezesseis municí-pios do Amapá, levando financiamento às pessoas empreen-dedoras das nossas cidades. E, principalmente, levando a inclusão social por meio do crédito produtivo orientado. Devido às distâncias dos centros mais desenvolvidos, muitos nem se quer contam com os serviços de uma agência bancá-ria tradicional.

Rumos – Que outras medidas o senhor considera fun-damentais para acelerar o processo de desenvolvimento do país?Peres – Certamente a concentração de renda se constitui em um dos grandes obstáculos para o tão esperado desenvolvi-mento econômico, uma vez que ela nos leva a outras duas for-mas de concentração: dos investimentos e de crédito. É por meio da concentração dos investimentos que verificamos os desequilíbrios regionais e intrarregionais. É isso precisa ser superado. O outro é a concentração do crédito. Uma vez que o crédito se ocupa somente dos seguimentos mais abastados,

ele acaba penalizando um importante instrumento de desenvolvimento da economia, sobretudo com relação às micro e pequenas empresas que não têm acesso aos recursos. As institui-ções financeiras de desenvolvimento (IFDs) têm papel fundamental nesse processo no sentido de mitigar essa concentração. Tanto para o crédito quanto para o investimento, pois assim poderemos garantir desenvol-vimento econômico de forma susten-tável e equânime para o país todo. Afinal, só podemos pensar em desen-volvimento, pensando em equidade, em garantir os direitos para todos.

Rumos – Como o senhor avalia o trabalho que vem sendo desenvol-vido pela ABDE, que congrega e representa o Sistema Nacional de Fomento, do qual a Afap é inte-grante?Peres – É importantíssimo o traba-lho da ABDE. É inegável que a asso-ciação tem um legado de relevantes serviços prestados para a construção e para a definição de políticas de desenvolvimento. E é extremamente importante que esta agenda da ABDE inclua a diversidade regional. É importante que nós tiremos uma agenda amazônica, porque vivemos em um país de dimensões continen-tais. Um país que é marcado por pro-fundas desigualdades regionais que dificultam até mesmo uma integração estratégica de crescimento. Os pro-

blemas que a Afap enfrenta aqui são completamente díspares dos que outras instituições, coirmãs, também atravessam, seja por suas diferenças de tamanho ou de características so-cioeconômicas regionais.

É importante que a ABDE crie essa agenda regional que permita que agências menores, como a Afap, possam se inte-grar no processo de construção das políticas de desenvolvi-mento que a Associação sugere para o país. Penso que é fun-damental que possamos fazer essa construção considerando os desiguais como desiguais e não os desiguais como iguais. Imagine, uma agência na Amazônia enfrenta inúmeras dificul-dades que são completamente diferentes das que enfrentam as do Sul/Sudeste. Afinal de contas, temos uma economia que obedece a padrões da regionalidade, obedece a quesitos extre-mamente vinculados à conservação da floresta, à preservação dos nossos mananciais. O nosso desenvolvimento não pode escapar desse olhar mais cuidadoso com relação ao ambiente onde os projetos, a atividade econômica vai se estabelecer.

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E ENTREVISTA

todas essas medidas que garantiram o processo de reconstrução desse importante instrumento de auxílio ao fomento da economia local.

Rumos – Quais as principais linhas de financiamento disponí-veis e suas características?Peres – Sem dúvida, o nosso carro- chefe é a linha Amapá Solidário, que atende aos empreendedores infor-mais e grande parte dos que estão migrando de informais para indivi-duais. Geralmente, o empreendedor que está iniciando acessa a agência por meio dessa linha de financia-mento, que, em 2011, correspondia a mais de 72% das operações de crédi-to da Afap. Esse percentual caiu para 52,3%, resultado da criação de novas linhas que abrigaram os empreende-dores que migraram da categoria de informais para a de empreendedores individuais, microempresas e profis-sionais liberais. E também existem outras linhas, como a Táxi Legal, Afap Construir, Afap Indústria – voltada para o setor da pani-ficação –, Afap Empreendedores Culturais e a Afap Transporte – linha que financia a compra de veículos como vans e caminhões de pequeno porte.

Essa ampliação do nosso portfólio aconteceu a partir da parceria com os setores-chave da nossa economia, como o da indústria, começando com o da panificação, financiando a compra de máquinas e equipamentos adequados às exigên-cias de segurança do Ministério do Trabalho; com o setor do varejo, da construção civil e de informática, com linhas de financiamento para os clientes desses setores a 0,8% de taxa de juros ao mês; e também o de bares e restaurantes, com quem estamos construindo uma nova linha de crédito para a reestruturação do setor, sendo este segmento o que mais gera emprego e renda no estado. Há, ainda, o trabalho para a renovação da frota de táxi e mototáxi, com linhas exclusivas elaboradas com os sindicatos dessas duas categorias profissi-onais. Todas essas linhas formam um portfólio que atende um percentual bem amplo de empreendedores, do informal ao de médio porte.

Rumos – Qual o volume de desembolso médio (anual ou por linha de financiamento)?Peres – O nosso desembolso médio vem crescendo desde 2011, com uma média mensal de R$ 419.820,97. Dois meses foi o tempo que gastamos para reorganizar e preparar a casa para a volta dos clientes. Em 2012, a média mensal para doze meses foi de R$ 510.508,38. Nos primeiros cinco meses de 2013, já chegamos a R$ 626.758,56. E continua-mos crescendo.

Rumos – Qual o perfil dos empre-endedores que são o público-alvo da agência de fomento?Peres – São, em sua maioria, pes-soas excluídas do sistema formal de crédito. Financiamos essencialmen-te aqueles que não conseguem obter recursos junto ao sistema tradicio-nal. Essa é uma lógica que temos bus-cado, estreitando ainda mais a rela-ção com esses segmentos para garantir a inclusão produtiva, a democratização do crédito, e, sobre-tudo, assegurar que esta importante ferramenta de desenvolvimento das atividades econômicas, que é o aces-so ao crédito, esteja à disposição dos empreendedores dos mais diversos ramos de atividades produtivas que existem em nosso estado.

Rumos – Quais os potenciais da economia no estado do Amapá?Peres – Existem inúmeros poten-ciais. Existem as cadeias produtivas, como a do açaí, logo, buscamos

construir, em parceria com o Instituto de Floresta do Estado, não só a melhor comercialização, mas também o manejo, a produção e a extração do fruto (e das outras cadei-as produtivas), garantido linhas de financiamento que estão diretamente relacionadas com o pagamento de serviços ambientais. Talvez, sejamos a primeira instituição de crédito no país a assegurar o pagamento de serviços ambientais aos produtores da floresta.

O crédito irá funcionar assim: serão três financiamentos, num período de três anos. O primeiro é por meio do fundo estadual para a agricultura, e não é reembolsável. Os extrati-vistas vão ter metas econômicas e ambientais a cumprir. A cada ano, na renovação do seu crédito, será estabelecido um novo critério de financiamento. O primeiro ano será 100% não reembolsável. Todo recurso emprestado para o extrati-vista, ficará com ele. Assim, seguimos para o segundo finan-ciamento, com reembolso de apenas 50% para a Afap. Já o terceiro financiamento será 80% reembolsável. A partir des-se estágio, ele entra no crédito convencional. Vamos traba-lhar nesse primeiro momento com os extrativistas do açaí, da castanha do Brasil, do cipó-titica e da madeira, certificada e de floresta de manejo.

Além do financiamento propriamente dito, e da garantia do pagamento dos serviços ambientais, estaremos preparan-do o extrativista para a inclusão produtiva. Para que ele, a par-tir das palestras de acesso ao crédito, esteja preparado a assu-mir compromissos creditícios.

O objetivo é produzir para preservar. O que pensamos é que a floresta não é um ativo intocável. Entendemos que ela é um ativo que tem que atender os anseios das comunidades tra-

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A Afap tem uma linha voltada para apoiar os empreendedores que trabalham com açaí.

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decisão do governo de reduzir de 6% para zero a alíquota do Imposto sobre Operações Finan-ceiras (IOF), incidente sobre o fluxo de moeda estrangeira para aplicações em renda fixa, deu oportunidade às habituais “análises” mal-

humoradas no mercado financeiro, tendo como alvo o ministro da Fazenda. Críticas sem nenhum fundamento, mesmo para aqueles que, ideologicamente, preferem a ple-na liberdade dos movimentos de capitais. Guido Mantega não pode ter errado duas vezes: quando instituiu o IOF e quando o eliminou. Mereceria, portanto, elogios pelo menos uma vez!

A conveniência ou não da plena liberdade do movimen-to de capitais depende das circunstâncias. A história e a lite-ratura econômicas revelam isso com a maior clareza. O Acor-do que criou o Fundo Monetário Internacional (FMI) em 1944 estabeleceu um sistema de câmbio fixo referido ao dólar americano (que, por sua vez, referenciava-se ao ouro) ajustável sob a vigilância do próprio Fundo. Diz, explicita-mente, o Acordo no seu artigo IV: “Controle de transferên-cia de capitais: Os países-membros podem exercer tal con-trole, na medida em que forem necessários para regular os movimentos dos capitais internacionais, mas nenhum deles pode exercê-lo para restringir o pagamento das transações correntes...”. Reconhecia, assim, que o controle de capitais poderia ser um instrumento de política econômica. Os EUA, depois de terem se desembaraçado da ligação dólar/ouro em 1973, foram removendo os seus mecanis-mos de controle de movimento de capitais. Nisso foram seguidos por outros países desenvolvidos. A partir dos anos 1990 do século passado, a liberalização do movimento de capitais foi se impondo também aos países subdesenvolvi-dos.

Os argumentos teóricos para sustentar esse processo têm certa lógica. No fundo, uma generalização da teoria das van-tagens comparativas que justifica a liberdade de comércio. Paí-ses com oportunidades de investimento diferentes, com taxas de poupança desiguais e com estruturas demográficas em estágios diferentes, poderiam beneficiar-se da liberdade de movimento de capitais que produziria uma complementa-

ridade entre eles. Os países com excedentes de poupança sem perspectiva de investimento poderiam transacionar com os países deficientes em poupança com boas perspectivas de investimento. A troca beneficiaria os dois: os primeiros garantiriam seu consumo futuro e os segundos acelerariam o seu crescimento.

Não há estudos sólidos que revelem que tais benefícios são invariantes com relação à situação econômico-financeira do país receptor. Os movimentos de capitais podem exercer influência deletéria sobre a formação da taxa de câmbio real, que é uma variável crítica no processo de desenvolvimento dos países. A plena liberdade do movimento de capitais não é, portanto, uma questão que possa ser resolvida teoricamente. É uma questão de conveniência que deve ser apreciada diante de circunstâncias concretas.

Quando o mercado é controlado por um sistema de câm-bio flexível e a taxa de juros real interna é superior à externa, a taxa de câmbio real deixa de ser o preço relativo que equilibra o valor do fluxo de entrada da moeda estrangeira (exporta-ção) com o fluxo de sua saída (importação). A moeda nacio-nal transforma-se num ativo financeiro que é comprado e ven-dido a cada instante num mercado de mais de 10.000 opera-dores, que transacionam mais de dois trilhões de dólares a cada 24 horas, em operações de um milésimo de segundo à procura de diferenças na terceira casa decimal das taxas de câmbio cruzadas, de quase 150 países! Está longe, conse-quentemente, de poder ser controlado por qualquer autorida-de nacional.

Dependendo das circunstâncias e da confiança dos ope-radores, o diferencial de juros pode tornar-se muito atrativo. O excesso de entrada de capitais valoriza exageradamente a taxa de câmbio real, produzindo desequilíbrios cujos custos superam os benefícios que podem proporcionar ao país receptor. Não há nada de pecaminoso, em tais circunstâncias, na introdução de um controle de capitais para preservar a estrutura produtiva do país.

Cabe, aqui, uma pequena observação: a eliminação do IOF foi interpretada como sendo feita para facilitar a entrada de capitais e amenizar a depreciação do real. Mas são suas circuns-tâncias que determinarão o efeito final.

IMPOSTO

Questão de convivência

RUMOS - 8 – Maio/Junho 2013

Antonio Delfim Netto

Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA-USP). Ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e doPlanejamento.M

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O OPINIÃO

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o início dos anos 1980, o capital mundial começou a migrar para a Ásia, especial-mente impulsionado pela China, que nas últimas décadas vem se transformando

em uma espécie de fábrica do mundo. Em 2001, o economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O’Neil, e sua equipe publicaram uma análise estatística e com-parada apontando uma tendência de que em 50 anos o país asiático já estaria ocupando o centro sistêmico da economia mundial. O estudo também chamava a atenção para o fato de que, em algum tempo, este processo seria válido também para os outros países. Desta análise nasceu o conceito dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para designar os países com os maiores índices de crescimento na atualidade. Em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) dos cinco países somou US$ 11 trilhões, ou 18% da economia mundial. Se conside-rarmos o PIB pela paridade de poder de compra, chegamos a 25% (US$ 19 trilhões), superando o dos Estados Unidos (EUA) ou o da União Europeia.

Marcos Costa Lima, doutor em Ciências Sociais e especialista em política internacional, explica que a ascensão da China não era novidade, mas a maneira como ela veio a ocupar o lugar de destaque na economia mundial surpreendeu as previsões dos analistas, e que, apesar da crise, o país asiático junto com os BRICS ainda têm fôlego para crescer

Marcos Costa Lima

Por Ana Redig

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BRICS

RUMOS - 10 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 11– Maio/Junho 2013

E como está o Brasil neste contexto? O doutor em Ciências Sociais Marcos Costa Lima, que acaba de lançar o livro Política internacional comparada – O Brasil e a Índia nas novas relações Sul-Sul, afirma que a China é uma profecia que está se realizando. “O que O'Neil e sua equipe não previram foi que esses paí-ses de características comuns, mas até então tratados individualmente, fossem gerar um mecanismo que vem permitindo a articulação entre eles, abrindo importantes espaços para o diálogo, para a identifi-cação de convergências e propostas de soluções para diversos temas, além de ampliar contatos e realizar cooperação em setores específicos”, analisa. Cinco cúpulas já foram realizadas para estabelecer o diálo-go e fortalecer o conjunto no cenário internacional e começa-se a traçar os primeiros esboços do que poderá vir a ser um banco para apoiar o desenvolvi-mento destes países.

Marcos Costa Lima vem se debruçando sobre este tema no Núcleo de Estudos e Pesquisas Regio-nais e do Desenvolvimento do Departamento de

Os desafios dos paísesemergentes

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Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco, do qual é coordenador. Ele avalia que a China vive um processo totalmente novo, que vem evoluindo pouco a pouco, mas que parece ser irreversível. “Não há dúvidas de que a crise ocorrida no centro do sistema econômico americano e europeu impactou a potência asiática. Ainda assim, tudo indica que a China tem bastante fôlego para crescer”, analisa. De fato, em 2012 o país registrou uma queda de crescimento acentuada para os padrões chine-ses, mas ainda ficou em torno de 7,6%, enquanto a Euro-pa continua amargando índices negativos, sem qualquer sinal de mudança desse quadro. Os Estados Unidos, por sua vez, apresentam uma perspectiva de desemprego ainda bastante alentada, além de os indicadores demons-trarem uma concentração de renda e de riqueza acelerada nos últimos 20 anos.

A própria equipe da Goldman Sachs refez seus cálcu-los a partir do momento que a Índia passou a exibir o maior Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Desde 1991, seu produto interno quadruplicou, suas reservas subiram de US$ 5,8 bilhões para US$ 279 bilhões e as

exportações deram um salto de 18 bilhões para 178 bilhões de dólares. O Brasil, ao contrário, tem apresenta-do índices de crescimento modestos. Em 2011, o PIB aumentou 2,7% em relação ao ano anterior. “Ainda que a agropecuária esteja à frente dos outros setores, com taxa positiva de 3,9%, o tipo de trade off que o país pratica acaba por provocar um déficit muito grande no que tange às exportações, já que os produtos que negociamos são basicamente commodities. Esta é uma tendência que vem se consolidando, mas que pode reduzir um pouco o fluxo do crescimento”, pondera o pesquisador.

Gargalos – Marcos Costa Lima ressalta que os três paí-ses têm grandes desafios pela frente. “A Índia vem conse-guindo ótimos resultados desde o processo de abertura econômica que se iniciou em 1991, a partir do governo de Rajid Gandhi. Isso se deu especialmente em alguns seto-res, como o de softwares, em que o país adquiriu uma capa-cidade instalada muito importante. No entanto, o país não resolveu questões básicas para crescer com sustenta-bilidade”, alerta. Dentro de 20 anos, por exemplo, a popu-

N

Marcos Ferreira da Costa Lima é doutor em Ciências Sociais, pela Universidade Estadual de Campinas, e professor na Universidade Federal de Pernambuco.Atualmente integra o Conselho Deliberativo do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.

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o início dos anos 1980, o capital mundial começou a migrar para a Ásia, especial-mente impulsionado pela China, que nas últimas décadas vem se transformando

em uma espécie de fábrica do mundo. Em 2001, o economista-chefe da Goldman Sachs, Jim O’Neil, e sua equipe publicaram uma análise estatística e com-parada apontando uma tendência de que em 50 anos o país asiático já estaria ocupando o centro sistêmico da economia mundial. O estudo também chamava a atenção para o fato de que, em algum tempo, este processo seria válido também para os outros países. Desta análise nasceu o conceito dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para designar os países com os maiores índices de crescimento na atualidade. Em 2010, o Produto Interno Bruto (PIB) dos cinco países somou US$ 11 trilhões, ou 18% da economia mundial. Se conside-rarmos o PIB pela paridade de poder de compra, chegamos a 25% (US$ 19 trilhões), superando o dos Estados Unidos (EUA) ou o da União Europeia.

Marcos Costa Lima, doutor em Ciências Sociais e especialista em política internacional, explica que a ascensão da China não era novidade, mas a maneira como ela veio a ocupar o lugar de destaque na economia mundial surpreendeu as previsões dos analistas, e que, apesar da crise, o país asiático junto com os BRICS ainda têm fôlego para crescer

Marcos Costa Lima

Por Ana Redig

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BRICS

RUMOS - 10 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 11– Maio/Junho 2013

E como está o Brasil neste contexto? O doutor em Ciências Sociais Marcos Costa Lima, que acaba de lançar o livro Política internacional comparada – O Brasil e a Índia nas novas relações Sul-Sul, afirma que a China é uma profecia que está se realizando. “O que O'Neil e sua equipe não previram foi que esses paí-ses de características comuns, mas até então tratados individualmente, fossem gerar um mecanismo que vem permitindo a articulação entre eles, abrindo importantes espaços para o diálogo, para a identifi-cação de convergências e propostas de soluções para diversos temas, além de ampliar contatos e realizar cooperação em setores específicos”, analisa. Cinco cúpulas já foram realizadas para estabelecer o diálo-go e fortalecer o conjunto no cenário internacional e começa-se a traçar os primeiros esboços do que poderá vir a ser um banco para apoiar o desenvolvi-mento destes países.

Marcos Costa Lima vem se debruçando sobre este tema no Núcleo de Estudos e Pesquisas Regio-nais e do Desenvolvimento do Departamento de

Os desafios dos paísesemergentes

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Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco, do qual é coordenador. Ele avalia que a China vive um processo totalmente novo, que vem evoluindo pouco a pouco, mas que parece ser irreversível. “Não há dúvidas de que a crise ocorrida no centro do sistema econômico americano e europeu impactou a potência asiática. Ainda assim, tudo indica que a China tem bastante fôlego para crescer”, analisa. De fato, em 2012 o país registrou uma queda de crescimento acentuada para os padrões chine-ses, mas ainda ficou em torno de 7,6%, enquanto a Euro-pa continua amargando índices negativos, sem qualquer sinal de mudança desse quadro. Os Estados Unidos, por sua vez, apresentam uma perspectiva de desemprego ainda bastante alentada, além de os indicadores demons-trarem uma concentração de renda e de riqueza acelerada nos últimos 20 anos.

A própria equipe da Goldman Sachs refez seus cálcu-los a partir do momento que a Índia passou a exibir o maior Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Desde 1991, seu produto interno quadruplicou, suas reservas subiram de US$ 5,8 bilhões para US$ 279 bilhões e as

exportações deram um salto de 18 bilhões para 178 bilhões de dólares. O Brasil, ao contrário, tem apresenta-do índices de crescimento modestos. Em 2011, o PIB aumentou 2,7% em relação ao ano anterior. “Ainda que a agropecuária esteja à frente dos outros setores, com taxa positiva de 3,9%, o tipo de trade off que o país pratica acaba por provocar um déficit muito grande no que tange às exportações, já que os produtos que negociamos são basicamente commodities. Esta é uma tendência que vem se consolidando, mas que pode reduzir um pouco o fluxo do crescimento”, pondera o pesquisador.

Gargalos – Marcos Costa Lima ressalta que os três paí-ses têm grandes desafios pela frente. “A Índia vem conse-guindo ótimos resultados desde o processo de abertura econômica que se iniciou em 1991, a partir do governo de Rajid Gandhi. Isso se deu especialmente em alguns seto-res, como o de softwares, em que o país adquiriu uma capa-cidade instalada muito importante. No entanto, o país não resolveu questões básicas para crescer com sustenta-bilidade”, alerta. Dentro de 20 anos, por exemplo, a popu-

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Marcos Ferreira da Costa Lima é doutor em Ciências Sociais, pela Universidade Estadual de Campinas, e professor na Universidade Federal de Pernambuco.Atualmente integra o Conselho Deliberativo do Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento.

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qual saiu desmoralizada. “Esta tensão, ainda que hoje seja quase imperceptível, persiste como uma sombra. O movimento que a Índia fez para construir sua bomba atômica tem relação com essa geopolítica frágil”, explica Marcos Costa Lima. Além disso, o país tinha uma articu-lação expressiva com a União Soviética desde os tempos de Jawaharlal Nehru e de Indira Gandhi, mas isso foi se reduzindo. “A presença do Estado era muito forte e havia políticas que impediam a entrada de corporações multinacionais até muito pouco tempo”, informa o pro-fessor. Em 2012 houve uma tentativa de inserir grandes redes de varejo, como Wallmart e Carrefour, e ocorreram revoltas, com ataques a lojas e instalações do governo. Grande parte da população vive do comércio informal, de rua, onde se compram frutas, verduras, animais e especiarias para o dia a dia. Supermercados são raros, mesmo nas grandes cidades indianas.

Curiosamente, ao mesmo tempo que a Índia vivencia esses problemas estruturais, existe uma elite criada na Inglaterra e nos Estados Unidos, que já foi marcadamen-te nacionalista e que vem apostando na abertura da eco-nomia e no crescimento, sem utilizar poupança externa. “Enquanto o Brasil sofria com um brutal endividamento externo, a Índia chegou a US$ 40 milhões, o que é irrisó-rio se comparado a nós”, observa o pesquisador. Com tudo isso, os indianos conseguiram construir indústrias avançadas, como a automotiva, a de fármacos e a naval. Impulsionados por essa fragilidade geopolítica, desen-volveram tecnologia para a produção de submarinos e para o lançamento de mísseis e satélites. “É um país que tem muitas dificuldades a vencer, mas com uma capaci-dade de acumulação e de crescimento muito grandes”, afiança o pesquisador.

Competitividade – A realidade brasileira é muito mais próxima do processo mundial do capitalismo do que na Índia ou na China, e isso se reflete na competitividade. Salários, direitos trabalhistas e impostos são itens que pesam na composição dos preços e nos coloca em des-vantagem. Por mais que a China faça um controle migra-tório interno para evitar que a população rural se deslo-que, em massa, para as capitais, essa mão de obra não qualificada e mais barata do que a brasileira é de cerca de 200 milhões de pessoas. É realmente difícil de competir. Recentemente os salários começaram a melhorar, fazen-do com que empresários procurassem áreas na Índia para implantar suas indústrias. “Apesar da mão de obra ainda mais barata, os serviços complementares encon-trados – fornecedores, água, transportes, energia – não são os mesmos. O que por um lado é vantagem compara-tiva, impede a migração do capital chinês para outras áreas próximas”, revela o pesquisador.

A China vem, pouco a pouco, se consolidando como

lação indiana será maior do que a da China, que pratica um controle de natalidade bastante sério há muitos anos. A Índia, ao contrário, não tem qualquer política neste sentido.

Para se firmar como grande potência, a China vem realizando importantes investi-mentos sociais. A expectativa de vida da popu-lação, que no início dos anos 1970 girava em torno de 60 anos, hoje passa dos 73 anos. “Isso é fantástico para período de tempo tão curto”, comenta o professor. O país também investiu maciçamente em educação de base, reduzindo consideravelmente os indicadores de analfa-betismo. Neste mesmo período mais de 750 milhões de chineses viviam com menos de

US$ 1 por dia. “Por mais controverso que possa ser este critério, hoje os que vivem com este valor são menos de 150 milhões. Ou seja, quase 600 milhões de chineses deixaram a pobreza absoluta”, destaca Costa Lima.

O professor lembra que as duas sociedades se carac-terizam por uma forte presença rural, com a diferença que a Índia não fez os investimentos necessários em infraestrutura básica. Estradas, portos, ferrovias, forne-cimento de água e energia ainda são problemas estrutu-rais. “Mesmo em capitais como Deli e Mumbai os cortes de energia são frequentes”, diz Lima, que esteve na Índia estudando o tema mais de uma vez. As desigualdades sociais também são um entrave. As taxas de analfabetis-mo são altas. Mais de 40% das mulheres em idade produ-tiva são analfabetas. Há um grande contingente popula-cional que vive no campo, sendo que este tem presença muito pequena no PIB indiano. “Tudo isso leva a crer que a Índia ainda tem muito a caminhar para poder ser um grande centro”, observa o pesquisador.

Os desníveis regionais são outro desafio que Brasil, China e Índia terão que enfrentar. O Nordeste brasileiro, onde vive 28% da população do país, só representa 13% do PIB nacional, mesmo depois de 50 anos de atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Isso significa que as políticas de privilégio para inovação, o maior volume de recursos para a região e outras medidas estabelecidas por sucessivos governos não foram suficientes para promover a redução dessas desigualdades. “O Bolsa Família atinge o Nordeste com muito mais intensidade do que o Sul e o Sudeste, mas outras políticas básicas, como a educacional e a de saúde, não chegam. Em uma sociedade que se diz do conheci-mento, quase tudo ainda está por construir no Brasil”, lamenta Marcos.

O Brasil pelo menos está a salvo de outro entrave importante: o que envolve questões geopolíticas. A Índia ainda vive um enfrentamento ao menos virtual com a China, de quem perdeu uma guerra nos anos 1960, e da

RUMOS - 12 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 13 – Maio/Junho 2013

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SE Marcos Costa Lima

principal parceiro do Brasil. Atualmente os Estados Unidos ainda lideram a lista dos maiores compradores em valores, mas nosso volume de exportação já é maior para a potência asiática. “Nesta relação, importamos bens de capital e exportamos commodities. Isso é um pro-blema na nossa política internacional e uma das forças da China”. O professor explica que o país asiático chega com muita capacidade de oferta e com capital, e é muito mais ativo do que os países que recebem a contraparte da negociação. Ao mesmo tempo, essa relação comercial arrasta um volume de dólares muito grande, vem geran-do uma perigosa especialização na agricultura brasileira. Mesmo enten-dendo que o valor das tecnologias agrícolas empregadas esteja embutido em nossas commodities, isso é um ponto fraco. “Além de termos deslocado nossa produção para atender a demanda chinesa, precisamos investir em bens de maior valor agregado, como aviões, manufaturados e servi-ços”, aconselha Costa Lima.

Os chineses também são mais pragmát icos nas negociações, enquanto o Brasil é muito lento nesse tipo de relação. Por conta das reservas de títulos norte-americanos e de dóla-res que o país acumulou – quase US$ 3 trilhões –, eles estabelecem uma estra-tégia de avanço internacional que começa a ser muito debatida no Bra-sil, especialmente nos ambientes de Relações Internacionais. “Na África, por exemplo, a China tem políticas com todos os países, com maior intensidade para os que produzem petróleo e minério. Isso inclui uma contrapartida estrutural, como a constru-ção de barragens, linhas férreas etc. Dificilmente esses países estão em condições de recusar essas ofertas”, analisa.

Tecnologia da Informação – O professor, que há alguns anos estuda a relação Sul-Sul, vem observando particularmente os fatores que envolvem a inovação tecnológica. “A Índia, neste tema, é um poço de contradi-ções”, analisa. Isto porque, apesar de a Constituição indiana rejeitar a discriminação com base nas castas, ela é ainda muito presente no meio rural e provoca uma gran-de imobilidade social. Ainda assim, com uma população de 1,2 bilhão de pessoas, pode-se estabelecer que cerca de 250 milhões de habitantes fazem parte das classes média e alta. “É quase um Brasil de classe média com capacidade para desenvolver essas tecnologias”, alerta. Deste modo, o país conseguiu estabelecer parques tecno-

lógicos de grande densidade e fortaleceu o setor de Tec-nologia da Informação e de Comunicações (TICs). Isso se deu especialmente na diáspora, ou seja, envolveu os indianos que haviam aproveitado as facilidades de morar e estudar na Inglaterra e nos Estados Unidos e que volta-ram quando a economia começou a se flexibilizar.

Esse processo, ocorrido particularmente em Banga-lore, se replica em outras cidades que têm políticas e cen-tros de softwares muito intensivos, com muita gente traba-lhando não somente para corporações internacionais. Grandes empresas indianas têm se firmado no mercado e

as exportações giram em torno de US$ 3 bilhões, se somarmos os servi-ços de software com os de BPO (Busi-ness Process Outsourcing) – terceirização de processos de negócios que usam intensamente a tecnologia da infor-mação, como os call centers, por exem-plo. Ainda que eles estejam trabalhan-do na baixa cadeia de inovação, o retorno para a o país é muito significa-tivo. No Brasil, ao contrário, este valor não chega a US$ 500 milhões e a maior parte das empresas que produ-zem software e hardware são multinacio-nais. “É curioso, pois, apesar desta baixa exportação e de estarmos repro-duzindo tecnologia em vez de desen-volvê-la, existe um processo crescente de acesso a essas tecnologias. E isso é a chave para o sistema produtivo moderno e para a formação e educa-

ção das populações”, analisa o professor. Neste ponto, o Brasil ganha da Índia, onde populações que vivem no meio rural quase não têm acesso ao uso do computador.

Há algum tempo o Brasil vem implementando políti-cas governamentais visando à inclusão digital, especial-mente para a educação. Recentemente Marcos Costa Lima e outro pesquisador, Thales Andrade, publicaram um livro sobre o tema. Eles concluíram que, apesar de se gastar muito com computadores, ainda convivemos com recep-ção precária, falta de estrutura para acolher e disponibilizar os equipamentos, baixa qualificação dos professores para uso das ferramentas, entre outros problemas. “O governo está entregando laptops e tablets com certa celeridade. O acesso à tecnologia é importante – e este convívio já é alguma coisa –, mas isso não representa a inclusão digital”, avalia. Marcos Costa Lima diz que é preciso criar condi-ções para que o computador possa ser usado em sala de aula, como apoio educacional, e que o aluno possa acessar as redes de ensino em casa. Para ele, o Brasil está começan-do a destravar, mas se quiser ser competitivo entre os BRICS deverá fazer seu “dever de casa”.

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qual saiu desmoralizada. “Esta tensão, ainda que hoje seja quase imperceptível, persiste como uma sombra. O movimento que a Índia fez para construir sua bomba atômica tem relação com essa geopolítica frágil”, explica Marcos Costa Lima. Além disso, o país tinha uma articu-lação expressiva com a União Soviética desde os tempos de Jawaharlal Nehru e de Indira Gandhi, mas isso foi se reduzindo. “A presença do Estado era muito forte e havia políticas que impediam a entrada de corporações multinacionais até muito pouco tempo”, informa o pro-fessor. Em 2012 houve uma tentativa de inserir grandes redes de varejo, como Wallmart e Carrefour, e ocorreram revoltas, com ataques a lojas e instalações do governo. Grande parte da população vive do comércio informal, de rua, onde se compram frutas, verduras, animais e especiarias para o dia a dia. Supermercados são raros, mesmo nas grandes cidades indianas.

Curiosamente, ao mesmo tempo que a Índia vivencia esses problemas estruturais, existe uma elite criada na Inglaterra e nos Estados Unidos, que já foi marcadamen-te nacionalista e que vem apostando na abertura da eco-nomia e no crescimento, sem utilizar poupança externa. “Enquanto o Brasil sofria com um brutal endividamento externo, a Índia chegou a US$ 40 milhões, o que é irrisó-rio se comparado a nós”, observa o pesquisador. Com tudo isso, os indianos conseguiram construir indústrias avançadas, como a automotiva, a de fármacos e a naval. Impulsionados por essa fragilidade geopolítica, desen-volveram tecnologia para a produção de submarinos e para o lançamento de mísseis e satélites. “É um país que tem muitas dificuldades a vencer, mas com uma capaci-dade de acumulação e de crescimento muito grandes”, afiança o pesquisador.

Competitividade – A realidade brasileira é muito mais próxima do processo mundial do capitalismo do que na Índia ou na China, e isso se reflete na competitividade. Salários, direitos trabalhistas e impostos são itens que pesam na composição dos preços e nos coloca em des-vantagem. Por mais que a China faça um controle migra-tório interno para evitar que a população rural se deslo-que, em massa, para as capitais, essa mão de obra não qualificada e mais barata do que a brasileira é de cerca de 200 milhões de pessoas. É realmente difícil de competir. Recentemente os salários começaram a melhorar, fazen-do com que empresários procurassem áreas na Índia para implantar suas indústrias. “Apesar da mão de obra ainda mais barata, os serviços complementares encon-trados – fornecedores, água, transportes, energia – não são os mesmos. O que por um lado é vantagem compara-tiva, impede a migração do capital chinês para outras áreas próximas”, revela o pesquisador.

A China vem, pouco a pouco, se consolidando como

lação indiana será maior do que a da China, que pratica um controle de natalidade bastante sério há muitos anos. A Índia, ao contrário, não tem qualquer política neste sentido.

Para se firmar como grande potência, a China vem realizando importantes investi-mentos sociais. A expectativa de vida da popu-lação, que no início dos anos 1970 girava em torno de 60 anos, hoje passa dos 73 anos. “Isso é fantástico para período de tempo tão curto”, comenta o professor. O país também investiu maciçamente em educação de base, reduzindo consideravelmente os indicadores de analfa-betismo. Neste mesmo período mais de 750 milhões de chineses viviam com menos de

US$ 1 por dia. “Por mais controverso que possa ser este critério, hoje os que vivem com este valor são menos de 150 milhões. Ou seja, quase 600 milhões de chineses deixaram a pobreza absoluta”, destaca Costa Lima.

O professor lembra que as duas sociedades se carac-terizam por uma forte presença rural, com a diferença que a Índia não fez os investimentos necessários em infraestrutura básica. Estradas, portos, ferrovias, forne-cimento de água e energia ainda são problemas estrutu-rais. “Mesmo em capitais como Deli e Mumbai os cortes de energia são frequentes”, diz Lima, que esteve na Índia estudando o tema mais de uma vez. As desigualdades sociais também são um entrave. As taxas de analfabetis-mo são altas. Mais de 40% das mulheres em idade produ-tiva são analfabetas. Há um grande contingente popula-cional que vive no campo, sendo que este tem presença muito pequena no PIB indiano. “Tudo isso leva a crer que a Índia ainda tem muito a caminhar para poder ser um grande centro”, observa o pesquisador.

Os desníveis regionais são outro desafio que Brasil, China e Índia terão que enfrentar. O Nordeste brasileiro, onde vive 28% da população do país, só representa 13% do PIB nacional, mesmo depois de 50 anos de atuação da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene). Isso significa que as políticas de privilégio para inovação, o maior volume de recursos para a região e outras medidas estabelecidas por sucessivos governos não foram suficientes para promover a redução dessas desigualdades. “O Bolsa Família atinge o Nordeste com muito mais intensidade do que o Sul e o Sudeste, mas outras políticas básicas, como a educacional e a de saúde, não chegam. Em uma sociedade que se diz do conheci-mento, quase tudo ainda está por construir no Brasil”, lamenta Marcos.

O Brasil pelo menos está a salvo de outro entrave importante: o que envolve questões geopolíticas. A Índia ainda vive um enfrentamento ao menos virtual com a China, de quem perdeu uma guerra nos anos 1960, e da

RUMOS - 12 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 13 – Maio/Junho 2013

EEX

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SE Marcos Costa Lima

principal parceiro do Brasil. Atualmente os Estados Unidos ainda lideram a lista dos maiores compradores em valores, mas nosso volume de exportação já é maior para a potência asiática. “Nesta relação, importamos bens de capital e exportamos commodities. Isso é um pro-blema na nossa política internacional e uma das forças da China”. O professor explica que o país asiático chega com muita capacidade de oferta e com capital, e é muito mais ativo do que os países que recebem a contraparte da negociação. Ao mesmo tempo, essa relação comercial arrasta um volume de dólares muito grande, vem geran-do uma perigosa especialização na agricultura brasileira. Mesmo enten-dendo que o valor das tecnologias agrícolas empregadas esteja embutido em nossas commodities, isso é um ponto fraco. “Além de termos deslocado nossa produção para atender a demanda chinesa, precisamos investir em bens de maior valor agregado, como aviões, manufaturados e servi-ços”, aconselha Costa Lima.

Os chineses também são mais pragmát icos nas negociações, enquanto o Brasil é muito lento nesse tipo de relação. Por conta das reservas de títulos norte-americanos e de dóla-res que o país acumulou – quase US$ 3 trilhões –, eles estabelecem uma estra-tégia de avanço internacional que começa a ser muito debatida no Bra-sil, especialmente nos ambientes de Relações Internacionais. “Na África, por exemplo, a China tem políticas com todos os países, com maior intensidade para os que produzem petróleo e minério. Isso inclui uma contrapartida estrutural, como a constru-ção de barragens, linhas férreas etc. Dificilmente esses países estão em condições de recusar essas ofertas”, analisa.

Tecnologia da Informação – O professor, que há alguns anos estuda a relação Sul-Sul, vem observando particularmente os fatores que envolvem a inovação tecnológica. “A Índia, neste tema, é um poço de contradi-ções”, analisa. Isto porque, apesar de a Constituição indiana rejeitar a discriminação com base nas castas, ela é ainda muito presente no meio rural e provoca uma gran-de imobilidade social. Ainda assim, com uma população de 1,2 bilhão de pessoas, pode-se estabelecer que cerca de 250 milhões de habitantes fazem parte das classes média e alta. “É quase um Brasil de classe média com capacidade para desenvolver essas tecnologias”, alerta. Deste modo, o país conseguiu estabelecer parques tecno-

lógicos de grande densidade e fortaleceu o setor de Tec-nologia da Informação e de Comunicações (TICs). Isso se deu especialmente na diáspora, ou seja, envolveu os indianos que haviam aproveitado as facilidades de morar e estudar na Inglaterra e nos Estados Unidos e que volta-ram quando a economia começou a se flexibilizar.

Esse processo, ocorrido particularmente em Banga-lore, se replica em outras cidades que têm políticas e cen-tros de softwares muito intensivos, com muita gente traba-lhando não somente para corporações internacionais. Grandes empresas indianas têm se firmado no mercado e

as exportações giram em torno de US$ 3 bilhões, se somarmos os servi-ços de software com os de BPO (Busi-ness Process Outsourcing) – terceirização de processos de negócios que usam intensamente a tecnologia da infor-mação, como os call centers, por exem-plo. Ainda que eles estejam trabalhan-do na baixa cadeia de inovação, o retorno para a o país é muito significa-tivo. No Brasil, ao contrário, este valor não chega a US$ 500 milhões e a maior parte das empresas que produ-zem software e hardware são multinacio-nais. “É curioso, pois, apesar desta baixa exportação e de estarmos repro-duzindo tecnologia em vez de desen-volvê-la, existe um processo crescente de acesso a essas tecnologias. E isso é a chave para o sistema produtivo moderno e para a formação e educa-

ção das populações”, analisa o professor. Neste ponto, o Brasil ganha da Índia, onde populações que vivem no meio rural quase não têm acesso ao uso do computador.

Há algum tempo o Brasil vem implementando políti-cas governamentais visando à inclusão digital, especial-mente para a educação. Recentemente Marcos Costa Lima e outro pesquisador, Thales Andrade, publicaram um livro sobre o tema. Eles concluíram que, apesar de se gastar muito com computadores, ainda convivemos com recep-ção precária, falta de estrutura para acolher e disponibilizar os equipamentos, baixa qualificação dos professores para uso das ferramentas, entre outros problemas. “O governo está entregando laptops e tablets com certa celeridade. O acesso à tecnologia é importante – e este convívio já é alguma coisa –, mas isso não representa a inclusão digital”, avalia. Marcos Costa Lima diz que é preciso criar condi-ções para que o computador possa ser usado em sala de aula, como apoio educacional, e que o aluno possa acessar as redes de ensino em casa. Para ele, o Brasil está começan-do a destravar, mas se quiser ser competitivo entre os BRICS deverá fazer seu “dever de casa”.

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em a Índia condições de se tornar uma grande potência? Para ilustrar maldosamente esta per-gunta, a The Economist de 30 de março 2013 publicou na sua capa o desenho de um gato

que, no espelho, se vê tigre. O semanário britânico não se con-forma com o não-alinhamento da política externa da Índia, achando que este país deveria abandonar tal linha política, obsoleta aos olhos do jornalista, e se aliar mais explicitamen-te às potências ocidentais. Tal mudança traria pretensamente vantagens para a região e para o mundo, promovendo a demo-cracia na Ásia.

A revista britânica voltou à carga, publicando no seu número de 20 de abril deste ano, sob o título “O manifesto capitalista”, uma extensa resenha do livro de dois conhecidos cientistas indianos, Jagdish Bhagwati e Arvind Panagariya (Why Growth Matters: How Economic Growth in India Reduced Poverty and the Lessons for Other Developing Countries). Os autores advogam uma liberalização rápida nos setores de trabalho, propriedade de terra e educação, atacando implicitamente as ideias do economista indiano mais conhecido no mundo, o prêmio Nobel Amartya Sen. Este último acaba de coautorar com Jean Drèze (um belga que se radicou na Índia) um livro, a ser publicado em julho, sob o título An Uncertain Glory – India and its Contradictions.

Sen e Drèze consideram que a Índia tem condições de manter um crescimento rápido e ambientalmente sustentá-vel, conquanto corrija as falhas do passado e se concentre nas necessidades básicas da sua população. Os serviços soci-ais na Índia continuam inadequados e as perspectivas de cres-cimento rápido estão ameaçadas pela insuficiência das infra-estruturas e das políticas de promoção de recursos huma-nos. Segundo os autores, a Índia tem muito a aprender com a abordagem holística da qual o Japão, a Coreia do Sul e a Chi-na foram os pioneiros. Ao analisar as desigualdades e priva-ções prevalecentes na sociedade indiana e as dificuldades a caminho do progresso, o livro transmite, no entanto, uma mensagem fundamentalmente otimista: ainda é possível pro-mover as mudanças necessárias por meio de políticas demo-cráticas.

O desafio é imenso, não só na Índia. As Nações Unidas estimam que um quinto da população mundial de sete

bilhões vive ainda abaixo da linha da pobreza fixada em ape-nas 1,25 dólar por dia e por pessoa, que, na realidade, mal per-mite sobreviver.

As desigualdades na repartição da renda per capita são abis-mais. O recém-publicado A New Global Partnership: Eradicate Poverty and Transform Economies through Sustainable Development – The Report of the High-livel Panel of Eminent Persons on the Post-2015 Development Agenda, relatório das Nações Unidas, assina-do pelos presidentes da Indonésia e da Libéria e pelo primei-ro-ministro britânico, informa que 1,2 bilhão dos habitantes mais pobres do nosso planeta participam em apenas 1% no consumo mundial, ao passo que o bilhão mais rico consome 72%. Mesmo considerando estes dados, os autores do docu-mento citado permanecem fundamentalmente otimistas: a pobreza extrema e a fome poderão ser eliminadas da face do mundo até 2030!

No entanto, para que isto possa acontecer, a redução nas desigualdades na repartição da renda deveria passar a ser o objetivo central das estratégias de desenvolvimento, o que não tem acontecido até agora, como lembra com razão Step-hen Hale, um dirigente da organização não-governamental britânica Oxfam. Nos últimos 20 anos, a renda do centésimo mais rico da população mundial aumentou 60%; as cem pes-soas mais afortunadas abocanharam em 2012 a quantia colossal de 240 bilhões de dólares, o suficiente para financiar um ambicioso programa de luta contra a pobreza em escala mundial.

Moral da história: não é mais possível evitar a questão fun-damental, por difíceis que sejam as imprescindíveis medidas a serem tomadas. A Índia (e a imensa maioria dos países em desenvolvimento) não conseguirá manter-se no caminho do desenvolvimento ambientalmente sustentável e socialmente includente sem intervir drasticamente nos padrões de distri-buição da renda entre as diferentes classes sociais. A grande questão é saber se tais medidas são ainda suscetíveis de serem logradas por políticas de cunho reformista ou requerem mudanças de caráter revolucionário. Quero acreditar que o caminho tomado pela Índia desde a sua independência coloca este grande país numa posição favorável para tentar a solução reformista, em que pesem os imensos desafios e as dificulda-des por que terá que passar nos próximos anos.

PANORAMA

Ignacy Sachs

MODELOS DE DESENVOLVIMENTO

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RUMOS - 14 – Maio/Junho 2013

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Professor Emérito da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais em Paris.

Para onde vais, Índia?

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RUMOS - 17 – Maio/Junho 2013

ncertezas e preo-cupações marca-

ram as análises sobre o que poderá vir a ser a Venezuela pós-Chávez. Reunidos em seminário promovido pelo Centro de Estudos Celso Furtado realizado na sede –do BNDES, no final de abril, no Rio de Janeiro –, especia-listas em economia, política e relações internacionais fize-ram um balanço das con-quistas sociais da era Chávez, nos 14 anos em que ele este-ve no poder, e dos atuais desafios. Também enfatiza-ram o apoio do governo bra-sileiro, que se estende desde a área institucional ao assessoramento econômico, e em diversos setores, como de infraestrutura e habitação.

O embaixador José Viegas Filho abriu o seminário desta-cando que o comércio entre os dois países saltou de US$ 880 milhões, há dez anos, para US$ 6 bilhões em 2012, um volu-me que só é menor do que o transacionado com a China e a União Europeia. O Brasil conta, ainda, com um montante de US$ 22 bilhões de investimentos na Venezuela, dos quais 1,38% com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social (BNDES), segundo Luiz Eduardo Melin, diretor para a área internacional do banco. “A grande presença das empresas brasileiras nos projetos de infraestru-

RUMOS - 16 – Maio/Junho 2013

mais favorável a Maduro. Capriles questiona o processo elei-toral, mas não questionou quando venceu as eleições do governo de Miranda só com 45 mil votos de diferença”, disse Arvelaiz.

Na área econômica, o principal desafio do atual governo venezuelano é pôr fim ao modelo rentista e fazer com que o país avance no desenvolvimento de sua economia. Desde as primeiras décadas do século XX, la renta, representada pelos ingressos provenientes da comercialização do petróleo, garantiu a manutenção e o fornecimento do estado venezue-lano em setores como educação e saúde; gerando dependên-cia direta dessas receitas, que têm sido parte fundamental da economia do país.

Na definição de Celso Furtado, o rentismo é um modelo de subdesenvolvimento com abundância de divisas. Na Vene-zuela, o rentismo teve como contrapartida um modelo eco-nômico em que as estruturas produtivas não relacionadas ao petróleo encontraram dificuldade de crescer. Isso gerou uma atrofia no sistema, limitando o desenvolvimento de setores como a indústria e a agricultura. O petróleo ainda é responsá-vel por mais de 90% das exportações, e, por conta das receitas da sua comercialização, acaba inibindo o desenvolvimento econômico.

Carlos Eduardo Carvalho, doutor em ciências econômi-cas pela Unicamp e professor associado da Pontifícia Univer-sidade Católica (PUC) de São Paulo, observa que o rentismo levou a um caso único de encolhimento econômico. Com Chávez, recuperaram-se algumas perdas, mas o receio é enor-me por conta da situação cambial do país.

“Não vejo solução fácil para a Venezuela. A experiência de desvalorizar o câmbio de forma brusca, no início do ano, é

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R REPORTAGEM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Por Carmen Nery

Seminário discute o desenvolvimento da Venezuela pós-chavismo e indica qual poderá ser a influência do Brasil nos próximos anos na economia e política do país vizinho

tura na Venezuela é pac-tuada e solicitada”, rei-terou Melin.

Pedro Silva Barros, titular do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na mis-são de assessoramento ao governo venezuela-no, lembra que as pri-meiras relações entre o Brasil e a Venezuela datam de 1859, mas, depois, só foram reto-madas em 1973. A par-tir dos anos 2000, com o Governo Lula, houve uma intensificação das relações e uma expan-

são comercial que se multiplicou por sete. Apesar disso, não há integração dos setores produtivos. Embora a Zona Franca de Manaus tenha um comércio vivo, a Venezuela é apenas a 39ª fornecedora da região, mesmo sendo o único país conec-tado ao estado por estradas.

“Um dos projetos agora é a integração com o Norte do Brasil. Há alguns estudos já iniciados e um mandato presiden-cial bilateral entre a presidenta Dilma Rousseff e o presidente Hugo Chávez, de 6 de junho de 2011, por meio de um comu-nicado conjunto que trata da integração. O Ipea tem um man-dato para gerar subsídios para um possível plano de integra-ção do Norte do Brasil e o Sul da Venezuela, na Amazônia

Legal, com a integração dos rios Amazonas e Orinoco”, informa Barros.

O instituto está trabalhando junto com a Superintendên-cia da Zona Franca de Manaus (Suframa), o governo do esta-do de Roraima, o governo do estado de Bolívar e outras insti-tuições de desenvolvimento regional da Venezuela. O objeti-vo é preparar uma sugestão de agenda de integração para a Venezuela executar durante a sua primeira presidência pro tem-pore do Mercosul, que deve começar em 28 de julho. “É a pri-meira oportunidade de uma presença mais forte do Mercosul na Região Norte do Brasil. A proposta será apresentada na cúpula do Mercosul em julho”, antecipa Barros.

Os desafios na Venezuela são inúmeros. De imediato, o novo governo tem de dar conta da crise institucional após a vitória apertada de Nicolás Maduro sobre Henrique Capriles, líder da oposição venezuelana, o que gerou um enfrentamen-to mais agressivo por parte dessa mesma oposição. Para o embaixador da Venezuela Maximilien Sánchez Arvelaiz, é difí-cil falar do país pós-Chávez porque o resultado de 14 de abril surpreendeu. Em dezembro, Hugo Chávez venceu as elei-ções com uma diferença de 1,3 milhão de votos, e Maduro, só com 250 mil. Na avaliação de Arvelaiz, o resultado pode ser explicado, em parte, pelo fato de que o candidato da oposição não se apresentou como anti-Chávez; pelo contrário, apro-priou-se de alguns temas do ex-presidente venezuelano.

“Em certa medida, apresentou-se com uma lógica de não enfrentamento ideológico. Depois do dia 14, quando perde-ram as eleições, mostraram sua verdadeira natureza queiman-do unidades do Centro de Diagnóstico Integral e iniciando uma ofensiva violenta, que resultou em mortes. Tenho certe-za de que, se houvesse outra eleição, o resultado seria muito

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Para o professor da PUC de Minas Gerais, o argentino Javier Vadell,o ex-presidente Chávez promoveu um processo emancipatório social sem volta.

Um futuro incerto

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O presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, em visita ao Brasil, é recebido pela presidenta Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, em encontro que teve o objetivo de aprofundar as relações multilaterais.

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ram as análises sobre o que poderá vir a ser a Venezuela pós-Chávez. Reunidos em seminário promovido pelo Centro de Estudos Celso Furtado realizado na sede –do BNDES, no final de abril, no Rio de Janeiro –, especia-listas em economia, política e relações internacionais fize-ram um balanço das con-quistas sociais da era Chávez, nos 14 anos em que ele este-ve no poder, e dos atuais desafios. Também enfatiza-ram o apoio do governo bra-sileiro, que se estende desde a área institucional ao assessoramento econômico, e em diversos setores, como de infraestrutura e habitação.

O embaixador José Viegas Filho abriu o seminário desta-cando que o comércio entre os dois países saltou de US$ 880 milhões, há dez anos, para US$ 6 bilhões em 2012, um volu-me que só é menor do que o transacionado com a China e a União Europeia. O Brasil conta, ainda, com um montante de US$ 22 bilhões de investimentos na Venezuela, dos quais 1,38% com recursos do Banco Nacional de Desenvolvimen-to Econômico e Social (BNDES), segundo Luiz Eduardo Melin, diretor para a área internacional do banco. “A grande presença das empresas brasileiras nos projetos de infraestru-

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mais favorável a Maduro. Capriles questiona o processo elei-toral, mas não questionou quando venceu as eleições do governo de Miranda só com 45 mil votos de diferença”, disse Arvelaiz.

Na área econômica, o principal desafio do atual governo venezuelano é pôr fim ao modelo rentista e fazer com que o país avance no desenvolvimento de sua economia. Desde as primeiras décadas do século XX, la renta, representada pelos ingressos provenientes da comercialização do petróleo, garantiu a manutenção e o fornecimento do estado venezue-lano em setores como educação e saúde; gerando dependên-cia direta dessas receitas, que têm sido parte fundamental da economia do país.

Na definição de Celso Furtado, o rentismo é um modelo de subdesenvolvimento com abundância de divisas. Na Vene-zuela, o rentismo teve como contrapartida um modelo eco-nômico em que as estruturas produtivas não relacionadas ao petróleo encontraram dificuldade de crescer. Isso gerou uma atrofia no sistema, limitando o desenvolvimento de setores como a indústria e a agricultura. O petróleo ainda é responsá-vel por mais de 90% das exportações, e, por conta das receitas da sua comercialização, acaba inibindo o desenvolvimento econômico.

Carlos Eduardo Carvalho, doutor em ciências econômi-cas pela Unicamp e professor associado da Pontifícia Univer-sidade Católica (PUC) de São Paulo, observa que o rentismo levou a um caso único de encolhimento econômico. Com Chávez, recuperaram-se algumas perdas, mas o receio é enor-me por conta da situação cambial do país.

“Não vejo solução fácil para a Venezuela. A experiência de desvalorizar o câmbio de forma brusca, no início do ano, é

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Por Carmen Nery

Seminário discute o desenvolvimento da Venezuela pós-chavismo e indica qual poderá ser a influência do Brasil nos próximos anos na economia e política do país vizinho

tura na Venezuela é pac-tuada e solicitada”, rei-terou Melin.

Pedro Silva Barros, titular do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) na mis-são de assessoramento ao governo venezuela-no, lembra que as pri-meiras relações entre o Brasil e a Venezuela datam de 1859, mas, depois, só foram reto-madas em 1973. A par-tir dos anos 2000, com o Governo Lula, houve uma intensificação das relações e uma expan-

são comercial que se multiplicou por sete. Apesar disso, não há integração dos setores produtivos. Embora a Zona Franca de Manaus tenha um comércio vivo, a Venezuela é apenas a 39ª fornecedora da região, mesmo sendo o único país conec-tado ao estado por estradas.

“Um dos projetos agora é a integração com o Norte do Brasil. Há alguns estudos já iniciados e um mandato presiden-cial bilateral entre a presidenta Dilma Rousseff e o presidente Hugo Chávez, de 6 de junho de 2011, por meio de um comu-nicado conjunto que trata da integração. O Ipea tem um man-dato para gerar subsídios para um possível plano de integra-ção do Norte do Brasil e o Sul da Venezuela, na Amazônia

Legal, com a integração dos rios Amazonas e Orinoco”, informa Barros.

O instituto está trabalhando junto com a Superintendên-cia da Zona Franca de Manaus (Suframa), o governo do esta-do de Roraima, o governo do estado de Bolívar e outras insti-tuições de desenvolvimento regional da Venezuela. O objeti-vo é preparar uma sugestão de agenda de integração para a Venezuela executar durante a sua primeira presidência pro tem-pore do Mercosul, que deve começar em 28 de julho. “É a pri-meira oportunidade de uma presença mais forte do Mercosul na Região Norte do Brasil. A proposta será apresentada na cúpula do Mercosul em julho”, antecipa Barros.

Os desafios na Venezuela são inúmeros. De imediato, o novo governo tem de dar conta da crise institucional após a vitória apertada de Nicolás Maduro sobre Henrique Capriles, líder da oposição venezuelana, o que gerou um enfrentamen-to mais agressivo por parte dessa mesma oposição. Para o embaixador da Venezuela Maximilien Sánchez Arvelaiz, é difí-cil falar do país pós-Chávez porque o resultado de 14 de abril surpreendeu. Em dezembro, Hugo Chávez venceu as elei-ções com uma diferença de 1,3 milhão de votos, e Maduro, só com 250 mil. Na avaliação de Arvelaiz, o resultado pode ser explicado, em parte, pelo fato de que o candidato da oposição não se apresentou como anti-Chávez; pelo contrário, apro-priou-se de alguns temas do ex-presidente venezuelano.

“Em certa medida, apresentou-se com uma lógica de não enfrentamento ideológico. Depois do dia 14, quando perde-ram as eleições, mostraram sua verdadeira natureza queiman-do unidades do Centro de Diagnóstico Integral e iniciando uma ofensiva violenta, que resultou em mortes. Tenho certe-za de que, se houvesse outra eleição, o resultado seria muito

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Para o professor da PUC de Minas Gerais, o argentino Javier Vadell,o ex-presidente Chávez promoveu um processo emancipatório social sem volta.

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O presidente eleito da Venezuela, Nicolás Maduro, em visita ao Brasil, é recebido pela presidenta Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto, em encontro que teve o objetivo de aprofundar as relações multilaterais.

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RUMOS - 19 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 18 – Maio/Junho 2013

R REPORTAGEM

trágica e refletiu-se nas eleições. A grande preo-cupação é de que se percam os avanços dos últi-mos anos em termos de bem-estar social, que a economia pare, a inflação suba, e haja um cená-rio de estagnação. O clima de confrontação soci-al é assustador, e a vio-

lência urbana cresceu. Esse resul-tado político mostrou uma divisão muito grande. A economia apre-senta desequilíbrios importantes e difíceis de superar”, alerta.

Ele observa que não se pode esquecer que a Venezuela da era Chávez foi beneficiada por um período global de bonança durante a década de 2000, com dez anos de elevação dos preços das commoditi-es. “Mas esse quadro não vai durar para sempre. Além disso, as rela-ções com a China são complicadas, pois o país está sendo financiado e pagando a dívida com receitas futu-ras de petróleo, cuja produção não cresce. Serão receitas que deixarão de entrar no país”, analisa.

Esse quadro econômico pode ameaçar a continuidade dos pro-gramas sociais, como o das missões bolivarianas, que são uma série de iniciativas de assistência social, combate à pobreza, ampliação da educação e programas de recruta-mento militar, implementados sob a administração de Chávez. Com o nome inspirado no herói sul-americano Simón Bolívar, as mis-sões conseguiram implementar pro-gramas em várias frentes.

O argentino Javier Vadell, pro-fessor da PUC de Minas Gerais, dis-se que, no plano doméstico, Chá-vez promoveu um processo eman-cipatório social sem volta, ligado a um conjunto de medidas sociais na saúde, na educação e na inclusão social. No plano externo, Chávez foi fundamental nos processos de integração para a região e teria sido, segundo observadores – dos quais Vadell discorda –, um empe-cilho à liderança natural do Brasil. “Chávez deu vida à integração. A sua perda pode significar, em curto prazo, um polo alternativo de poder, ou derivar na acomoda-ção”, analisa Vadell.

No painel que discutiu os desa-

fios da integração, Fidel Perez Flores – especialista do Obser-vatório Político Sul-Americano, ligado à Universidade Esta-dual do Rio de Janeiro – destacou que a integração do conti-nente era central para Chávez, por isso o interesse no Merco-sul, na Unasur (União de Nações Sul-Americanas), na Celac

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No alto, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, alto-representante Geral do Mercosul.Abaixo, o público acompanha as discussões do seminário.

observa que a Venezuela representa 5% do PIB da região; a Argentina, 8%; o Brasil, 33%; o México, 28%; a Colômbia, 6%; o Chile, 5%; e os demais países, 15%. “Com isso, 47% do PIB do continente é formado por países do Mercosul”, observa.

Para o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) e alto-representante Geral do Mercosul, é difícil compreender a política na América do Sul sem entender a política externa dos EUA, que vem orga-nizando os modelos econômico e político do mundo, desde a Segunda Guerra Mundial, com a criação da Organização das Naçõs Unidas (ONU), da Organização Mundial do Comércio (OMC), da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e do Tratado de Não Proliferação de Armas. “Hoje a estratégia americana vê-se diante do desafio chinês e novamente do russo”, diz Guimarães.

Ele lembra que há três modelos de desenvolvimento eco-nômico na América do Sul. O primeiro é dos que seguem o modelo norte-americano, baseado na redução do papel do Estado, na privatização e na desregulamentação. Já o modelo brasileiro não aceita essa visão neoliberal de redução do papel do Estado e integração ao sistema financeiro mundial, e defende a paz, a não intervenção e a cooperação internaci-onal. E por fim, a estratégia bolivariana que visa ao desenvol-vimento econômico de um país com enorme concentração de renda e grande dependência externa de uma só mercado-ria e para isso procura buscar aliados na América Latina.

“Chávez representava interesses políticos e conquistou 23 governadorias. Há uma base política em torno de Madu-ro, que, se aprofundar os projetos sociais, vai conseguir dar continuidade às conquistas de Chávez. Mas, se cair no canto da sereia de se aproximar do centro, pode se dar mal. Vale lembrar que Capriles não contou só com votos da elite e da classe média, mas também de pobres, depois de 14 anos de políticas sociais. Beneficiaram-se e votaram na oposição, e isso não pode ser ignorado”, conclui.

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

(Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribe-nhos), na Alba (Aliança Bolivariana das Américas) e na Petro-caribe (Aliança de países caribenhos para comprar petróleo venezuelano em condições de pagamento preferencial). Essas duas últimas alianças, em especial, contaram com uma liderança firme e marcada de Chávez. “A Alba nasceu como oposição à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), com uma agenda reativa e um processo que questiona a fidelidade do apego ao livre comércio. Com a Alca perdendo fôlego, a Alba mudou o objetivo da integração para o crescimento do bem-estar social dos povos, fora dos parâmetros do capitalis-mo”, analisa Flores.

Gilberto Maringoni, professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC e autor do livro A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez, obser-va que o ex-presidente foi o primeiro presidente de uma linhagem mais tarde disseminada pela América Latina, efeito da reação popular ao modelo neoliberal dos anos 1990. “O que fica claro é que a integração não é fruto da mão invisível do Estado, mas, sim, uma ação política, e ganhou importân-cia com a safra de eleitos a partir de 1998. O Mercosul, que nasceu como área de livre comércio, passou a ter componen-te político a partir dos anos 2000”, distingue.

Mas ele destaca que a dificuldade é a assimetria dos par-ques industriais e o fato de os grandes produtores serem empresas transnacionais, cuja lógica de planejamento e desenvolvimento não é interna aos países latino-americanos, mas, sim, global. Da mesma forma, as empresas de telecomu-nicações privatizadas têm uma lógica de desenvolvimento que não tem nada a ver com a integração.

“A integração só vai ocorrer pela vontade política dos estados. Quem é contra a Alba e o Mercosul são setores polí-ticos representantes do capital agroexportador, que não têm interesse em que o continente atue de forma integrada. Assim, a entrada da Venezuela no Mercosul deu-se por pres-são da indústria. O entrave posto pelo Paraguai foi a pressão do departamento de estado norte-americano”, acredita. Ele

A população venezuelana está diante de novos desafioscom a morte do presidente Hugo Chávez.

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trágica e refletiu-se nas eleições. A grande preo-cupação é de que se percam os avanços dos últi-mos anos em termos de bem-estar social, que a economia pare, a inflação suba, e haja um cená-rio de estagnação. O clima de confrontação soci-al é assustador, e a vio-

lência urbana cresceu. Esse resul-tado político mostrou uma divisão muito grande. A economia apre-senta desequilíbrios importantes e difíceis de superar”, alerta.

Ele observa que não se pode esquecer que a Venezuela da era Chávez foi beneficiada por um período global de bonança durante a década de 2000, com dez anos de elevação dos preços das commoditi-es. “Mas esse quadro não vai durar para sempre. Além disso, as rela-ções com a China são complicadas, pois o país está sendo financiado e pagando a dívida com receitas futu-ras de petróleo, cuja produção não cresce. Serão receitas que deixarão de entrar no país”, analisa.

Esse quadro econômico pode ameaçar a continuidade dos pro-gramas sociais, como o das missões bolivarianas, que são uma série de iniciativas de assistência social, combate à pobreza, ampliação da educação e programas de recruta-mento militar, implementados sob a administração de Chávez. Com o nome inspirado no herói sul-americano Simón Bolívar, as mis-sões conseguiram implementar pro-gramas em várias frentes.

O argentino Javier Vadell, pro-fessor da PUC de Minas Gerais, dis-se que, no plano doméstico, Chá-vez promoveu um processo eman-cipatório social sem volta, ligado a um conjunto de medidas sociais na saúde, na educação e na inclusão social. No plano externo, Chávez foi fundamental nos processos de integração para a região e teria sido, segundo observadores – dos quais Vadell discorda –, um empe-cilho à liderança natural do Brasil. “Chávez deu vida à integração. A sua perda pode significar, em curto prazo, um polo alternativo de poder, ou derivar na acomoda-ção”, analisa Vadell.

No painel que discutiu os desa-

fios da integração, Fidel Perez Flores – especialista do Obser-vatório Político Sul-Americano, ligado à Universidade Esta-dual do Rio de Janeiro – destacou que a integração do conti-nente era central para Chávez, por isso o interesse no Merco-sul, na Unasur (União de Nações Sul-Americanas), na Celac

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No alto, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, alto-representante Geral do Mercosul.Abaixo, o público acompanha as discussões do seminário.

observa que a Venezuela representa 5% do PIB da região; a Argentina, 8%; o Brasil, 33%; o México, 28%; a Colômbia, 6%; o Chile, 5%; e os demais países, 15%. “Com isso, 47% do PIB do continente é formado por países do Mercosul”, observa.

Para o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, ex-ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) e alto-representante Geral do Mercosul, é difícil compreender a política na América do Sul sem entender a política externa dos EUA, que vem orga-nizando os modelos econômico e político do mundo, desde a Segunda Guerra Mundial, com a criação da Organização das Naçõs Unidas (ONU), da Organização Mundial do Comércio (OMC), da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) e do Tratado de Não Proliferação de Armas. “Hoje a estratégia americana vê-se diante do desafio chinês e novamente do russo”, diz Guimarães.

Ele lembra que há três modelos de desenvolvimento eco-nômico na América do Sul. O primeiro é dos que seguem o modelo norte-americano, baseado na redução do papel do Estado, na privatização e na desregulamentação. Já o modelo brasileiro não aceita essa visão neoliberal de redução do papel do Estado e integração ao sistema financeiro mundial, e defende a paz, a não intervenção e a cooperação internaci-onal. E por fim, a estratégia bolivariana que visa ao desenvol-vimento econômico de um país com enorme concentração de renda e grande dependência externa de uma só mercado-ria e para isso procura buscar aliados na América Latina.

“Chávez representava interesses políticos e conquistou 23 governadorias. Há uma base política em torno de Madu-ro, que, se aprofundar os projetos sociais, vai conseguir dar continuidade às conquistas de Chávez. Mas, se cair no canto da sereia de se aproximar do centro, pode se dar mal. Vale lembrar que Capriles não contou só com votos da elite e da classe média, mas também de pobres, depois de 14 anos de políticas sociais. Beneficiaram-se e votaram na oposição, e isso não pode ser ignorado”, conclui.

RELAÇÕES INTERNACIONAIS

(Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribe-nhos), na Alba (Aliança Bolivariana das Américas) e na Petro-caribe (Aliança de países caribenhos para comprar petróleo venezuelano em condições de pagamento preferencial). Essas duas últimas alianças, em especial, contaram com uma liderança firme e marcada de Chávez. “A Alba nasceu como oposição à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), com uma agenda reativa e um processo que questiona a fidelidade do apego ao livre comércio. Com a Alca perdendo fôlego, a Alba mudou o objetivo da integração para o crescimento do bem-estar social dos povos, fora dos parâmetros do capitalis-mo”, analisa Flores.

Gilberto Maringoni, professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC e autor do livro A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez, obser-va que o ex-presidente foi o primeiro presidente de uma linhagem mais tarde disseminada pela América Latina, efeito da reação popular ao modelo neoliberal dos anos 1990. “O que fica claro é que a integração não é fruto da mão invisível do Estado, mas, sim, uma ação política, e ganhou importân-cia com a safra de eleitos a partir de 1998. O Mercosul, que nasceu como área de livre comércio, passou a ter componen-te político a partir dos anos 2000”, distingue.

Mas ele destaca que a dificuldade é a assimetria dos par-ques industriais e o fato de os grandes produtores serem empresas transnacionais, cuja lógica de planejamento e desenvolvimento não é interna aos países latino-americanos, mas, sim, global. Da mesma forma, as empresas de telecomu-nicações privatizadas têm uma lógica de desenvolvimento que não tem nada a ver com a integração.

“A integração só vai ocorrer pela vontade política dos estados. Quem é contra a Alba e o Mercosul são setores polí-ticos representantes do capital agroexportador, que não têm interesse em que o continente atue de forma integrada. Assim, a entrada da Venezuela no Mercosul deu-se por pres-são da indústria. O entrave posto pelo Paraguai foi a pressão do departamento de estado norte-americano”, acredita. Ele

A população venezuelana está diante de novos desafioscom a morte do presidente Hugo Chávez.

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olítica de desenvolvimento deve olhar para o futuro, para além do intervalo temporal de mandatos governamentais. Está ligada à futu-rologia e à técnica de cenários; à primeira vis-

ta, não à história. Porém, não existem evidência empírica, nem dados estatísticos, nem dados qualitativos, dos anos vindouros. O fenômeno do desenvolvimento precisa ser visto em perspectiva histórica porque a história é impor-tante evidência empírica indireta que temos. Naturalmen-te, a história não se repete no futuro; todavia, dá-nos visão enriquecedora de como ocorrem grandes, surpreendentes e imprevistas transformações na sociedade ao longo de décadas. Desde a Revolução Industrial, parte da Europa e os Estados Unidos passaram por grandes transformações econômicas, sociais, culturais, institucionais, políticas e militares. Aquelas transformações foram condicionadas, ajudadas ou empurradas por revolução tecnológica que gerou um processo de crescimento econômico prolonga-do, sustentado, ainda que com flutuações (as crises macro-econômicas).

Paralelamente, o conhecimento científico também se transformou, aparecendo, em formas próximas às de hoje, a química, a física da eletricidade, da luz e da termodinâmi-ca, a genética, a biologia da célula e da evolução. Vieram confortos da vida cotidiana, como água encanada, fotogra-fia, elevador, máquina de escrever, fonógrafo (antecessor do disco musical), telefone, cinema.

Sobretudo, a medicina avançou com o combate às infecções e, na cirurgia, com a anestesia e a assepsia (le-vou tempo para a civilização ocidental aprender algo que parece enorme banalidade hoje, o limpar as mãos antes de manipular o corpo humano). À primeira revolução da saúde pública desse período, a vacinação contra a varíola, seguiu-se um movimento social em prol de saúde públi-ca; movimento que se envolveu com abastecimento de água potável, isolamento de esgotos, acesso à luz e ao ar fresco, asseio pessoal, leis sanitárias, criação de enferma-rias e dispensários.

Valdir Melo

RUMOS - 20 – Maio/Junho 2013

E EM DIA

P

EVOLUÇÃO

O desenvolvimento tornou-se multidimensional e complexo

Doutor em economia pela escola de Pós-Graduação da Fundação Getulio Vargas, com pós-doutorado na Universidade de Boston. Técnico de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (DIEST) do Ipea.

As transformações dos últimos duzentos ou mais anos foram de extensão e magnitude superior a quase qualquer outra experiência das sociedades humanas des-de seus primórdios. Ao findar o século XIX já se tinha consciência de que algo imensamente novo, impressio-nante, havia ocorrido. Entrementes, transformações semelhantes vieram a ser desejadas e buscadas por muitos países onde elas não tinham ocorrido.

Uma maneira de entender desenvolvimento, sem excluir outras, é concebê-lo como uma idealização daque-las transformações no século XIX, bem como das ocorri-das de modo semelhante no século XX. Idealização por-que, embora se pretenda passar por processo parecido, reconhece-se que também houve consequências indesejá-veis que se deseja evitar. Idealização no sentido de algo melhor, porém alcançável aproximadamente.

A concepção de desenvolvimento ampliou-se e tornou-se hoje mais exigente do que em princípios do século XX e do que era há poucas décadas. Nos anos recentes, tem-se dado ênfase mais amplamente às facetas social, cultural, polí-tica e institucional das transformações socioeconômicas; por exemplo, ao nível cultural da população, à defesa do con-sumidor, à democracia e aos direitos do cidadão, ao trata-mento equânime das raças, etnias, gêneros, origem social, origem regional e nacional e outras características, bem como a outras condições de vida (tempo de lazer, acesso e qualidade da informação). Por conseguinte, não se almeja mais obter a maior taxa de crescimento que seja viável, sem restrições; deseja-se crescimento na medida em que seja compatível com aqueles objetivos de melhorar a qualidade de vida, de aperfeiçoamento da convivência em sociedade e de participação nos debates e decisões políticas.

O desenvolvimento, como fenômeno, tornou-se multi-dimensional e complexo; porque multidimensional e com-plexa é a concepção das sociedades de hoje sobre o que almejam do desenvolvimento. As aspirações são mais altas e mais exigentes; e o espectro de valores que as populações entretêm é mais variado e intrincado.

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RUMOS - 23 – Maio/Junho 2013

oltada ao financiamento de pequenas e médi-as empresas no estado de São Paulo, a Agên-cia de Desenvolvimento Paulista (Desenvol-ve SP) atingiu, em abril, a marca de R$ 1

bilhão em recursos desembolsados, montante acumula-do desde sua criação, em março de 2009. A empresa é a mais jovem agência de fomento do país a atingir essa marca e conta, atualmente, com um patrimônio líquido de R$ 1,1 bilhão. Até o momento, foram realizadas 2.377 operações de 927 clientes (894 empresas/37 pre-feituras), num total de 208 municípios.

O foco do apoio da agência está em projetos de expansão, ampliação e modernização das plantas, o cha-mado investimento em capital fixo, necessário para o crescimento do país. Isso porque, desde a sua criação, a Desenvolve SP trabalha para que o empresário paulista adquira a cultura do investimento de longo prazo, com a consciência de que planejamento e boas condições de financiamento são o que alavancam o negócio de forma sustentável. E a resposta tem sido satisfatória. Em 2012, a proporção dos desembolsos chegou a 80% para projetos de longo prazo e 20% para operações de capi-tal de giro.

A Desenvolve SP financia com recursos próprios três segmentos de empresas: aquelas com faturamento de até R$ 3,6 milhões; as de faturamento entre R$ 3,6 milhões até R$ 90 milhões e as que vão de R$ 90 milhões a R$ 300 milhões, faixas que compõem o seg-mento de pequenas, médias e médias-grandes empre-

RUMOS - 22 – Maio/Junho 2013

peças inutilizadas, reti-rando o veículo de cir-culação definitivamente.

Podem acessar o programa caminhonei-ros autônomos e pesso-as jurídicas enquadra-das como empresários individuais que prestam serviços no Porto de

Santos, limitando o financiamento a um caminhão por beneficiário. O prazo é de 96 meses para pagar com carência máxima de seis meses. Para auxiliar os interes-sados, a Desenvolve SP preparou uma cartilha informa-tiva que está disponível para download em seu portal ou pode ser retirada no Sindicam/Santos. O valor do pro-grama é de R$ 300 milhões.

Linha Verde – O Renova SP insere-se nas diretrizes de sustentabilidade da agência, que tem uma linha destinada exclusivamente ao financiamento de empresas que vão investir na redução da emissão dos gases do efeito estufa, a Linha Economia Verde, de 2010. Para incentivar o empresário, ela conta com taxa de juros de 0,41% ao mês (+IPC/Fipe) e prazos que podem chegar até 10 anos, com 24 meses de carência. Com o desembolso atual, os projetos financiados com a linha totalizam mais de R$ 60,8 milhões para pequenas e médias empresas da Região Metropolitana de São Paulo e do interior do estado.

R REPORTAGEM CRÉDITO

Por Carmen Nery

Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) atinge a marca de R$ 1 bilhão em recursos, em quatro anos de operação, apoiando o empresariado e promovendo o desenvolvimento sustentável das cidades e das indústrias, com linhas de financiamento verde

sas. O limite máximo de financiamento é de R$ 30 milhões. O empresário paulista conta ainda com prazos de até 10 anos e carência máxima de 24 meses, de acor-do com o financiamento contratado. As empresas com faturamento acima de R$ 300 milhões são financiadas com linhas de crédito do Banco Nacional do Desenvol-vimento Econômico e Social (BNDES).

Entre os principais segmentos atendidos estão as pequenas e médias indústrias de máquinas e equipa-mentos; têxtil; calçados; eficiência energética; e petróleo e gás. No setor de serviços, destacam-se empreendi-mentos dos segmentos de tecnologia da informação, hotelaria, hospitais, telemarketing, transporte e franqui-as. Já entre os estabelecimentos comerciais, a maior demanda de financiamento vem dos segmentos tores de peças automotivas, bares e restaurantes.

Segundo Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Desenvolve SP, a instituição possui linhas de financia-mento e programas de governo específicos para o desenvolvimento de todas as regiões do estado e todos os setores da economia, estando sempre atenta às opor-tunidades de mercado, como a Copa do Mundo 2014 e a exploração do Pré-Sal. As linhas são oferecidas com taxas de jutos a partir de 0% (+ IPC/FIPE), caso das linhas ligadas aos programas do governo do estado vol-tadas ao apoio de determinados setores ou regiões.

“Um exemplo é a região do Vale do Ribeira, de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que o governo do estado tem interesse em desenvolver. O

juro é zero desde que o tomador do financiamen-to pague em dia. E o Tesouro do estado faz uma compensação à Desenvolve SP”, diz San-tos. Outra linha com juro zero é o Renova SP (Pro-grama de Incentivo à Renovação da Frota de Caminhões), que concede subsídio ao caminhoneiro e é ligada ao programa de melhoria do escoamento em San-tos. O objetivo é conceder financiamento com taxas de juros subsidiadas para que o caminhoneiro possa subs-tituir caminhões velhos por veículos Euro 5 (categoria com emissão de gases menos poluentes). “Não apenas melhora a condição de tráfego e a eficiência do trans-porte, mas também reduz a poluição ambiental”, acres-centa Santos.

Trata-se de uma iniciativa pioneira do estado com o objetivo de retirar de circulação caminhões acima de 30 anos, que prejudicam o meio ambiente, o trânsito e a qua-lidade de vida dos caminhoneiros. O programa piloto é realizado na Baixada Santista com cerca de mil cami-nhões que prestam serviço no Porto de Santos. Por meio da Desenvolve SP, o caminhoneiro tem a oportunidade de financiar, a juro zero, a compra de um caminhão novo que atenda todas as suas necessidades, desde que, em tro-ca, o caminhão velho seja entregue para reciclagem e suas

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Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Desenvolve SP.

Atuação estratégica

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RUMOS - 23 – Maio/Junho 2013

oltada ao financiamento de pequenas e médi-as empresas no estado de São Paulo, a Agên-cia de Desenvolvimento Paulista (Desenvol-ve SP) atingiu, em abril, a marca de R$ 1

bilhão em recursos desembolsados, montante acumula-do desde sua criação, em março de 2009. A empresa é a mais jovem agência de fomento do país a atingir essa marca e conta, atualmente, com um patrimônio líquido de R$ 1,1 bilhão. Até o momento, foram realizadas 2.377 operações de 927 clientes (894 empresas/37 pre-feituras), num total de 208 municípios.

O foco do apoio da agência está em projetos de expansão, ampliação e modernização das plantas, o cha-mado investimento em capital fixo, necessário para o crescimento do país. Isso porque, desde a sua criação, a Desenvolve SP trabalha para que o empresário paulista adquira a cultura do investimento de longo prazo, com a consciência de que planejamento e boas condições de financiamento são o que alavancam o negócio de forma sustentável. E a resposta tem sido satisfatória. Em 2012, a proporção dos desembolsos chegou a 80% para projetos de longo prazo e 20% para operações de capi-tal de giro.

A Desenvolve SP financia com recursos próprios três segmentos de empresas: aquelas com faturamento de até R$ 3,6 milhões; as de faturamento entre R$ 3,6 milhões até R$ 90 milhões e as que vão de R$ 90 milhões a R$ 300 milhões, faixas que compõem o seg-mento de pequenas, médias e médias-grandes empre-

RUMOS - 22 – Maio/Junho 2013

peças inutilizadas, reti-rando o veículo de cir-culação definitivamente.

Podem acessar o programa caminhonei-ros autônomos e pesso-as jurídicas enquadra-das como empresários individuais que prestam serviços no Porto de

Santos, limitando o financiamento a um caminhão por beneficiário. O prazo é de 96 meses para pagar com carência máxima de seis meses. Para auxiliar os interes-sados, a Desenvolve SP preparou uma cartilha informa-tiva que está disponível para download em seu portal ou pode ser retirada no Sindicam/Santos. O valor do pro-grama é de R$ 300 milhões.

Linha Verde – O Renova SP insere-se nas diretrizes de sustentabilidade da agência, que tem uma linha destinada exclusivamente ao financiamento de empresas que vão investir na redução da emissão dos gases do efeito estufa, a Linha Economia Verde, de 2010. Para incentivar o empresário, ela conta com taxa de juros de 0,41% ao mês (+IPC/Fipe) e prazos que podem chegar até 10 anos, com 24 meses de carência. Com o desembolso atual, os projetos financiados com a linha totalizam mais de R$ 60,8 milhões para pequenas e médias empresas da Região Metropolitana de São Paulo e do interior do estado.

R REPORTAGEM CRÉDITO

Por Carmen Nery

Agência de Desenvolvimento Paulista (Desenvolve SP) atinge a marca de R$ 1 bilhão em recursos, em quatro anos de operação, apoiando o empresariado e promovendo o desenvolvimento sustentável das cidades e das indústrias, com linhas de financiamento verde

sas. O limite máximo de financiamento é de R$ 30 milhões. O empresário paulista conta ainda com prazos de até 10 anos e carência máxima de 24 meses, de acor-do com o financiamento contratado. As empresas com faturamento acima de R$ 300 milhões são financiadas com linhas de crédito do Banco Nacional do Desenvol-vimento Econômico e Social (BNDES).

Entre os principais segmentos atendidos estão as pequenas e médias indústrias de máquinas e equipa-mentos; têxtil; calçados; eficiência energética; e petróleo e gás. No setor de serviços, destacam-se empreendi-mentos dos segmentos de tecnologia da informação, hotelaria, hospitais, telemarketing, transporte e franqui-as. Já entre os estabelecimentos comerciais, a maior demanda de financiamento vem dos segmentos tores de peças automotivas, bares e restaurantes.

Segundo Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Desenvolve SP, a instituição possui linhas de financia-mento e programas de governo específicos para o desenvolvimento de todas as regiões do estado e todos os setores da economia, estando sempre atenta às opor-tunidades de mercado, como a Copa do Mundo 2014 e a exploração do Pré-Sal. As linhas são oferecidas com taxas de jutos a partir de 0% (+ IPC/FIPE), caso das linhas ligadas aos programas do governo do estado vol-tadas ao apoio de determinados setores ou regiões.

“Um exemplo é a região do Vale do Ribeira, de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que o governo do estado tem interesse em desenvolver. O

juro é zero desde que o tomador do financiamen-to pague em dia. E o Tesouro do estado faz uma compensação à Desenvolve SP”, diz San-tos. Outra linha com juro zero é o Renova SP (Pro-grama de Incentivo à Renovação da Frota de Caminhões), que concede subsídio ao caminhoneiro e é ligada ao programa de melhoria do escoamento em San-tos. O objetivo é conceder financiamento com taxas de juros subsidiadas para que o caminhoneiro possa subs-tituir caminhões velhos por veículos Euro 5 (categoria com emissão de gases menos poluentes). “Não apenas melhora a condição de tráfego e a eficiência do trans-porte, mas também reduz a poluição ambiental”, acres-centa Santos.

Trata-se de uma iniciativa pioneira do estado com o objetivo de retirar de circulação caminhões acima de 30 anos, que prejudicam o meio ambiente, o trânsito e a qua-lidade de vida dos caminhoneiros. O programa piloto é realizado na Baixada Santista com cerca de mil cami-nhões que prestam serviço no Porto de Santos. Por meio da Desenvolve SP, o caminhoneiro tem a oportunidade de financiar, a juro zero, a compra de um caminhão novo que atenda todas as suas necessidades, desde que, em tro-ca, o caminhão velho seja entregue para reciclagem e suas

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Milton Luiz de Melo Santos, presidente da Desenvolve SP.

Atuação estratégica

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RUMOS - 25 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 24 – Maio/Junho 2013

R REPORTAGEM

Entre os itens financiáveis estão a substi-tuição de fontes de energia não renováveis; a geração de energia elétrica ou térmica com biogás de aterro; a troca de combustível fós-sil por combustível mais limpo para trans-

portes públicos e privados, como gás natural, biodiesel, etanol e eletricidade; a criação e a recuperação de áreas verdes; a recomposição de matas ciliares e nascentes com espécies nativas; os reflorestamentos para com-pensação de emissões; a instalação de itens de constru-ção civil sustentáveis, como equipamentos para reuso de água e eficiência ener-gética, e a aplicação de retrofit nos edifícios.

Um dos projetos mais inovadores apoiado pela Linha Economia Verde foi implantado pela com-panhia Polo Saneamento Ambiental, de São José dos Campos. A empresa é especializada no trata-mento de efluentes indus-triais e domésticos e bus-cou a Desenvolve SP para realizar a adequação de seu sistema de tratamento, herdado da fábrica da Kodak. Segundo Edson Oikawa, presidente da empresa, o projeto consumiu R$ 20 milhões de investi-mentos, dos quais R$ 5 milhões foram obtidos junto à agência. O projeto foi concluído no final do ano passa-do, e agora a empresa está iniciando a operação aten-dendo a demanda de tratamento de efluentes industria-is que está aquecida.

“A demanda é alta, pois há uma pressão grande da sociedade para o descarte correto dos dejetos sólidos e líquidos. O apoio da Desenvolve SP foi fundamental, pois são poucas as instituições com disponibilidade de investimento em projetos ambientais. O financiamento foi útil para acelerarmos o projeto, e a linha é de longo prazo com cinco anos para pagamento e um ano de carência. Além disso, a taxa foi bastante competitiva”, diz Oikawa.

Agora a empresa está avaliando acessar um segundo financiamento para o projeto de interligação da estação de tratamento à rede da Sabesp (companhia de abasteci-mento de água de São Paulo). Hoje a empresa recebe o efluente industrial, trata na estação e descarta a água tra-tada no corpo hídrico. “Com a interligação, a água será lançada diretamente nas tubulações da Sabesp. O

segundo financiamento será utilizado para a infraestru-tura da interligação”, esclarece Oikawa.

As linhas para o setor privado incluem, ainda, a vol-tada para o financiamento de pequenas e médias empre-sas ligadas à cadeia produtiva do setor de Petróleo e Gás Natural. E mais a linha Franquias, que oferece crédito para abertura, ampliação e modernização de franquias.

Fortalecimento dos municípios – A Desenvolve SP também atua com linhas ligadas a programas do governo do estado. Além do Renova SP, a Linha Investimento

Esportivo 2014 financia construção e reforma de hotéis e centros esportivos para a Copa de 2014 nas cidades paulistas candidatas a ter um Centro de Treina-mento de Seleções (CTS).

Já a linha São Paulo Ino-va é uma iniciativa do governo do estado para apoiar empresas paulistas de base tecnológica e de perfil inovador em estágio inicial ou em processo. O programa conta com três linhas de financiamento, operadas pela Desenvolve SP e por um fundo de desenvolvimento.

As linhas Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcet) e “Incentivo à Inova-ção” têm juros subsidiados pelo governo do estado, podendo chegar a zero. A primeira está disponível para startups, micro e pequenas empresas com projetos de inovação, como a criação de um novo produto. Já a linha “Incentivo à Inovação” financiará projetos de pequenas e médias empresas e o empresário pagará apenas a atua-lização do Índice de Preços ao Consumidor, da Funda-ção Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), des-de que esteja adimplente. Nas duas linhas, o empresário contará com recursos do Funcet, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnolo-gia, responsável por subsidiar os juros.

A terceira opção de financiamento é a linha “Incen-tivo à Tecnologia”, que apoia empresas com faturamen-to anual de até R$ 300 milhões com projetos que incor-porem ganhos tecnológicos e/ou processos inovado-res à empresa. Nesta linha, as empresas com faturamen-to anual até R$ 3,6 milhões poderão contratar o Fundo de Aval (FDA) do governo do estado ou o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), do

An

dré

Mo

ura

O projeto do Polo de Saneamento Ambiental estava orçado em R$ 20 milhões, sendo que R$ 5 milhões foram financiados pela Desenvolve SP. A empresa responsável pelo projeto procurou a agência para adequar o seu sistema de tratamento de efluentes industriais.

a indústria já representou 90% dos desembolsos. O que mais cresce é o setor de serviços, que não chegava a 10% e hoje já está em 17%”, analisa.

Ele observa que, mesmo com as condições diferenci-adas já oferecidas, a Desenvolve SP reconhece que alguns pequenos empresários ainda encontram dificul-dade na hora de contratar financiamentos por falta de garantias reais. Nesse caso, para não deixar de atender a demanda e permitir o acesso ao crédito de forma desbu-rocratizada, a agência oferece como opção a utilização de Fundos Garantidores, que funcionam como comple-mento ao financiamento desejado, avalizando a tomada de crédito pelo empresário.

Atualmente, a instituição trabalha com o Fundo de Aval (FDA) do governo do estado, que oferece garantias para empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões; o Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), do BNDES, que oferece garantias nos empréstimos rela-tivos às linhas de financiamento do banco de desenvolvi-mento; e o Fampe.

Desde a sua criação, a operação da Desenvolve SP só fez crescer. Em 2009, os desembolsos somaram R$ 28,5 milhões. No ano seguinte, saltaram para R$ 220,7 milhões. Em 2011, foram R$ 237,3 milhões e no ano pas-sado a agência, mais uma vez, dobrou sua performance, atingindo R$ 403,1 milhões. Até abril deste ano, foram desembolsados R$ 125 milhões, valor que já é 10% mai-or comparado ao do mesmo período de 2012.

Sebrae, para complementar à exigência das garantias da operação.

A Desenvolve SP também conta com linhas de finan-ciamento ao setor público, como a Linha Economia Ver-de para Municípios, que financia investimentos munici-pais destinados às melhorias ligadas à sustentabilidade. A Linha de Acessibilidade Urbana financia projetos para implantação de itens de acessibilidade em prédios públi-cos ou na infraestrutura viária urbana. Já a Linha Distri-to Industrial apoia a adequação ou a construção de distri-tos industriais, incluindo a infraestrutura básica para ins-talação de parques industriais. Enquanto a linha Via SP oferece crédito para projetos destinados a execução de obras de pavimentação urbana, recapeamento ou pavi-mentação de vicinais.

Milton Santos destaca que os municípios também são beneficiados pelas linhas de financiamento às empresas locais, principalmente as do interior do estado, região que representa 63% do total de desembolsos da agência, enquanto a área metropolitana responde por 37% dos financiamentos.

“Isso tem contribuído para o fortalecimento das empresas no interior, gerando mais trabalho e renda, o que evita o êxodo para a capital”, obseva Santos. O perfil da demanda é dividido ainda, de acordo com o levanta-mento setorial, entre a indústria - que responde por 62% -, serviços - com 17% -, setor público com 13% - e comércio com 8%. “Este cenário está em mutação, pois

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Centro de pesquisa do Polo de Saneamento Ambiental, que recebeu financiamento da agência paulista.

CRÉDITO

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RUMOS - 25 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 24 – Maio/Junho 2013

R REPORTAGEM

Entre os itens financiáveis estão a substi-tuição de fontes de energia não renováveis; a geração de energia elétrica ou térmica com biogás de aterro; a troca de combustível fós-sil por combustível mais limpo para trans-

portes públicos e privados, como gás natural, biodiesel, etanol e eletricidade; a criação e a recuperação de áreas verdes; a recomposição de matas ciliares e nascentes com espécies nativas; os reflorestamentos para com-pensação de emissões; a instalação de itens de constru-ção civil sustentáveis, como equipamentos para reuso de água e eficiência ener-gética, e a aplicação de retrofit nos edifícios.

Um dos projetos mais inovadores apoiado pela Linha Economia Verde foi implantado pela com-panhia Polo Saneamento Ambiental, de São José dos Campos. A empresa é especializada no trata-mento de efluentes indus-triais e domésticos e bus-cou a Desenvolve SP para realizar a adequação de seu sistema de tratamento, herdado da fábrica da Kodak. Segundo Edson Oikawa, presidente da empresa, o projeto consumiu R$ 20 milhões de investi-mentos, dos quais R$ 5 milhões foram obtidos junto à agência. O projeto foi concluído no final do ano passa-do, e agora a empresa está iniciando a operação aten-dendo a demanda de tratamento de efluentes industria-is que está aquecida.

“A demanda é alta, pois há uma pressão grande da sociedade para o descarte correto dos dejetos sólidos e líquidos. O apoio da Desenvolve SP foi fundamental, pois são poucas as instituições com disponibilidade de investimento em projetos ambientais. O financiamento foi útil para acelerarmos o projeto, e a linha é de longo prazo com cinco anos para pagamento e um ano de carência. Além disso, a taxa foi bastante competitiva”, diz Oikawa.

Agora a empresa está avaliando acessar um segundo financiamento para o projeto de interligação da estação de tratamento à rede da Sabesp (companhia de abasteci-mento de água de São Paulo). Hoje a empresa recebe o efluente industrial, trata na estação e descarta a água tra-tada no corpo hídrico. “Com a interligação, a água será lançada diretamente nas tubulações da Sabesp. O

segundo financiamento será utilizado para a infraestru-tura da interligação”, esclarece Oikawa.

As linhas para o setor privado incluem, ainda, a vol-tada para o financiamento de pequenas e médias empre-sas ligadas à cadeia produtiva do setor de Petróleo e Gás Natural. E mais a linha Franquias, que oferece crédito para abertura, ampliação e modernização de franquias.

Fortalecimento dos municípios – A Desenvolve SP também atua com linhas ligadas a programas do governo do estado. Além do Renova SP, a Linha Investimento

Esportivo 2014 financia construção e reforma de hotéis e centros esportivos para a Copa de 2014 nas cidades paulistas candidatas a ter um Centro de Treina-mento de Seleções (CTS).

Já a linha São Paulo Ino-va é uma iniciativa do governo do estado para apoiar empresas paulistas de base tecnológica e de perfil inovador em estágio inicial ou em processo. O programa conta com três linhas de financiamento, operadas pela Desenvolve SP e por um fundo de desenvolvimento.

As linhas Fundo Estadual de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcet) e “Incentivo à Inova-ção” têm juros subsidiados pelo governo do estado, podendo chegar a zero. A primeira está disponível para startups, micro e pequenas empresas com projetos de inovação, como a criação de um novo produto. Já a linha “Incentivo à Inovação” financiará projetos de pequenas e médias empresas e o empresário pagará apenas a atua-lização do Índice de Preços ao Consumidor, da Funda-ção Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), des-de que esteja adimplente. Nas duas linhas, o empresário contará com recursos do Funcet, vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnolo-gia, responsável por subsidiar os juros.

A terceira opção de financiamento é a linha “Incen-tivo à Tecnologia”, que apoia empresas com faturamen-to anual de até R$ 300 milhões com projetos que incor-porem ganhos tecnológicos e/ou processos inovado-res à empresa. Nesta linha, as empresas com faturamen-to anual até R$ 3,6 milhões poderão contratar o Fundo de Aval (FDA) do governo do estado ou o Fundo de Aval às Micro e Pequenas Empresas (Fampe), do

An

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O projeto do Polo de Saneamento Ambiental estava orçado em R$ 20 milhões, sendo que R$ 5 milhões foram financiados pela Desenvolve SP. A empresa responsável pelo projeto procurou a agência para adequar o seu sistema de tratamento de efluentes industriais.

a indústria já representou 90% dos desembolsos. O que mais cresce é o setor de serviços, que não chegava a 10% e hoje já está em 17%”, analisa.

Ele observa que, mesmo com as condições diferenci-adas já oferecidas, a Desenvolve SP reconhece que alguns pequenos empresários ainda encontram dificul-dade na hora de contratar financiamentos por falta de garantias reais. Nesse caso, para não deixar de atender a demanda e permitir o acesso ao crédito de forma desbu-rocratizada, a agência oferece como opção a utilização de Fundos Garantidores, que funcionam como comple-mento ao financiamento desejado, avalizando a tomada de crédito pelo empresário.

Atualmente, a instituição trabalha com o Fundo de Aval (FDA) do governo do estado, que oferece garantias para empresas com faturamento anual de até R$ 3,6 milhões; o Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), do BNDES, que oferece garantias nos empréstimos rela-tivos às linhas de financiamento do banco de desenvolvi-mento; e o Fampe.

Desde a sua criação, a operação da Desenvolve SP só fez crescer. Em 2009, os desembolsos somaram R$ 28,5 milhões. No ano seguinte, saltaram para R$ 220,7 milhões. Em 2011, foram R$ 237,3 milhões e no ano pas-sado a agência, mais uma vez, dobrou sua performance, atingindo R$ 403,1 milhões. Até abril deste ano, foram desembolsados R$ 125 milhões, valor que já é 10% mai-or comparado ao do mesmo período de 2012.

Sebrae, para complementar à exigência das garantias da operação.

A Desenvolve SP também conta com linhas de finan-ciamento ao setor público, como a Linha Economia Ver-de para Municípios, que financia investimentos munici-pais destinados às melhorias ligadas à sustentabilidade. A Linha de Acessibilidade Urbana financia projetos para implantação de itens de acessibilidade em prédios públi-cos ou na infraestrutura viária urbana. Já a Linha Distri-to Industrial apoia a adequação ou a construção de distri-tos industriais, incluindo a infraestrutura básica para ins-talação de parques industriais. Enquanto a linha Via SP oferece crédito para projetos destinados a execução de obras de pavimentação urbana, recapeamento ou pavi-mentação de vicinais.

Milton Santos destaca que os municípios também são beneficiados pelas linhas de financiamento às empresas locais, principalmente as do interior do estado, região que representa 63% do total de desembolsos da agência, enquanto a área metropolitana responde por 37% dos financiamentos.

“Isso tem contribuído para o fortalecimento das empresas no interior, gerando mais trabalho e renda, o que evita o êxodo para a capital”, obseva Santos. O perfil da demanda é dividido ainda, de acordo com o levanta-mento setorial, entre a indústria - que responde por 62% -, serviços - com 17% -, setor público com 13% - e comércio com 8%. “Este cenário está em mutação, pois

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Centro de pesquisa do Polo de Saneamento Ambiental, que recebeu financiamento da agência paulista.

CRÉDITO

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RUMOS - 27 – Maio/Junho 2013

o Brasil, existe uma alta concentração de empre-sas que operam cartões, onde apenas cinco ban-cos detêm mais de 80% de participação nesse mercado. Nesse contexto, os custos estão direta-

mente ligados à dimensão dos negócios, sendo a grande escala garantia de menores custos e o bai-xo volume penalizado por custos maiores. Trata-se de uma relação pouco equilibrada, que desesti-mula – e até mesmo inviabiliza – a operação de cartões por muitos agentes financeiros.

Considerando a perenidade dessa dinâmica de mercado, o grande desafio consiste em viabi-lizar pequenas bases de cartões, de forma individual. Apesar da solução parecer simples, com a soma de muitas pequenas bases resolvendo o problema, a realidade se mostra mais complexa e envolve aspectos econômicos e operacionais que dificultam a concretização desse formato. No modelo atual, instituído pela indústria de meios de pagamento, o emissor (instituição financeira) precisa obter licença de uma bandeira para contar com rede de aceitação instalada e contratar uma processado-ra de cartões homologada pela própria bandeira.

Nesse ambiente, os pretensos emissores logo constatam que a estratégia das bandeiras globais não contemplam as pequenas bases e os custos envolvidos dificultam amplamen-te os aspectos econômicos do negócio. O mesmo critério eco-nômico vale para os serviços de processamento, somado ao

RUMOS - 26 – Maio/Junho 2013

especializou-se na operação de pequenas bases que, atual-mente, somam cerca de 3,2 milhões de cartões emitidos por mais de 500 cooperativas, pelo Bancoob e por outras institui-ções de mercado.

Os emissores licenciados pela Cabal Brasil podem operar com cartões de crédito, débito, múltiplos, pré-pagos, vale ali-mentação e vale refeição. Um bom exemplo é o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), que contou com a estrutura da Cabal Brasil para criar, com custos mais acessíveis (bandeira e processamento), uma linha de financia-mento rotativo para uma base menor de clientes, concedida por meio de cartão magnético (o Cartão BDMG encontra-se em fase de implantação e testes).

A conquista mais recente da Cabal foi a sua autorização para operar o Cartão BNDES, em outubro de 2012. Com isso, o grupo tornou-se a terceira bandeira licenciada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – que até então contava apenas com as marcas glo-bais –, configurando uma alternativa inédita para as institui-ções financeiras interessadas em emitir o cartão do banco.

Em um modelo diferenciado de parceria com o BNDES, a Cabal Brasil, além de atuar na posição de “bandeira”, cum-prirá, também, o papel de “adquirente” da própria bandeira Cabal. Com isso, foi possível desenvolver uma política de cre-denciamento própria, em condições bem mais favoráveis aos fornecedores. A novidade é a taxa de desconto (que incide sobre o valor da venda) que, além de ter sido fixada em 2%, conta com um teto de R$ 1 mil. Ou seja, sua incidência está limitada ao valor de R$ 50 mil por transação. Nessas condi-ções, por exemplo, uma venda de R$ 100 mil terá uma taxa de desconto de R$ 1 mil (ou 1%). Dessa forma, quanto maior o valor da venda, menor será, percentualmente, a taxa de des-conto.

Essa política deve favorecer o cliente do banco emissor, pois o Cartão BNDES Cabal será mais bem recebido pelo fornecedor, especialmente, quando se tratar de transações de ticket médio maior. Hoje, percebe-se que muitos fornece-dores evitam realizar vendas de maior valor, “induzindo” o comprador a utilizar outros instrumentos de crédito, algu-mas vezes até mais caros.

Atualmente, duas instituições financeiras estão licencia-das pela Cabal Brasil para operar com o Cartão BNDES Cabal. São elas: o Bancoob, cuja distribuição será feita por meio do Sicoob, e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).

A ARTIGO FINANCIAMENTO

Por Marcos Borges

Neste artigo, Marcos Borges, diretor-geral da Cabal Brasil, analisa o mercado brasileiro de cartões, apresenta a experiência da empresa em criar uma alternativa para viabilizar os projetos de cartões em escalas menores e destaca experiência bem-sucedida com o Cartão BNDES

aspecto operacional (falta de know-how para processamento de muitas pequenas bases). A solução mais razoável, portan-to, seria buscar autonomia na operação, com o desenvolvi-mento de expertise e propriedade em torno dos negócios de

“bandeira” e “processamento”.Nesse ambiente, foi preciso

buscar experiências exitosas para solucionar a questão. Em ascensão no Brasil, a bandeira de cartões Cabal foi fundada em 1980 por cooperativas de crédi-to argentinas, com o objetivo de lhes assegurar total autonomia estratégica em meios de paga-mento. A solução permitiu a essas instituições competir com os grandes bancos comerciais, garantindo os ganhos de escala necessários para concretização de projetos de emissão de car-

tões que, isoladamente, se mostravam inviáveis.Atuando como bandeira inclusiva, em pouco tempo, a

Cabal encontrou aspectos de interesse mútuo com outras ins-tituições cooperativas de países vizinhos, ampliando sua ope-ração ao Paraguai e ao Uruguai. No Brasil, a bandeira encon-trou como parceiro o Banco Cooperativo do Brasil (Ban-coob), que identificou na Cabal um modelo de atuação com-patível com as necessidades do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob); uma vez que as cooperativas de crédito brasileiras também não produziam volumes suficien-tes para operar com cartões.

Foi nesse contexto que nasceu a Cabal Brasil, joint-venture

formada entre o Bancoob e a Cabal (Cooperativa de Provi-sión de Servícios Ltda). Fundada em janeiro de 2000, a empresa tem como objetivo principal a expansão da bandeira Cabal, a partir de mercados e negócios não atendidos ou par-cialmente atendidos pelas bandeiras globais. A empresa pos-sui caráter associativo, com regulamento próprio que prevê o licenciamento de emissores diversos, como as instituições financeiras de desenvolvimento, os bancos cooperativos, as cooperativas de crédito, os bancos comerciais em geral e as administradoras de cartões legalmente constituídas.

Entre as principais conquistas da Cabal estão os acordos firmados com as principais credenciadoras brasileiras (Rede-card e Cielo), que permitiu que os cartões Cabal passassem a ser aceitos em todo o país, em mais de 2,4 milhões de estabele-cimentos. Além disso, os usuários desse cartão contam com milhares de comércios eletrônicos por intermédio do Pagse-guro, mecanismo de compra segura pela internet, e ampla acei-tação na Argentina, em Cuba, no Paraguai e no Uruguai.

Os serviços de “processamento”, por sua vez, são execu-tados em um completo parque tecnológico, com equipamen-tos modernos e softwares próprios, totalmente customizados à realidade do mercado brasileiro em seus aspectos legais, nor-mativos e de negócio, com destaque para o elevado nível de performance e alta disponibilidade. Com isso, a Cabal Brasil

Div

ulg

açã

o

Marcos Borges, diretor-geral da Cabal Brasil.

N

Alternativa inclusiva para a emissão de cartões

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RUMOS - 27 – Maio/Junho 2013

o Brasil, existe uma alta concentração de empre-sas que operam cartões, onde apenas cinco ban-cos detêm mais de 80% de participação nesse mercado. Nesse contexto, os custos estão direta-

mente ligados à dimensão dos negócios, sendo a grande escala garantia de menores custos e o bai-xo volume penalizado por custos maiores. Trata-se de uma relação pouco equilibrada, que desesti-mula – e até mesmo inviabiliza – a operação de cartões por muitos agentes financeiros.

Considerando a perenidade dessa dinâmica de mercado, o grande desafio consiste em viabi-lizar pequenas bases de cartões, de forma individual. Apesar da solução parecer simples, com a soma de muitas pequenas bases resolvendo o problema, a realidade se mostra mais complexa e envolve aspectos econômicos e operacionais que dificultam a concretização desse formato. No modelo atual, instituído pela indústria de meios de pagamento, o emissor (instituição financeira) precisa obter licença de uma bandeira para contar com rede de aceitação instalada e contratar uma processado-ra de cartões homologada pela própria bandeira.

Nesse ambiente, os pretensos emissores logo constatam que a estratégia das bandeiras globais não contemplam as pequenas bases e os custos envolvidos dificultam amplamen-te os aspectos econômicos do negócio. O mesmo critério eco-nômico vale para os serviços de processamento, somado ao

RUMOS - 26 – Maio/Junho 2013

especializou-se na operação de pequenas bases que, atual-mente, somam cerca de 3,2 milhões de cartões emitidos por mais de 500 cooperativas, pelo Bancoob e por outras institui-ções de mercado.

Os emissores licenciados pela Cabal Brasil podem operar com cartões de crédito, débito, múltiplos, pré-pagos, vale ali-mentação e vale refeição. Um bom exemplo é o Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), que contou com a estrutura da Cabal Brasil para criar, com custos mais acessíveis (bandeira e processamento), uma linha de financia-mento rotativo para uma base menor de clientes, concedida por meio de cartão magnético (o Cartão BDMG encontra-se em fase de implantação e testes).

A conquista mais recente da Cabal foi a sua autorização para operar o Cartão BNDES, em outubro de 2012. Com isso, o grupo tornou-se a terceira bandeira licenciada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) – que até então contava apenas com as marcas glo-bais –, configurando uma alternativa inédita para as institui-ções financeiras interessadas em emitir o cartão do banco.

Em um modelo diferenciado de parceria com o BNDES, a Cabal Brasil, além de atuar na posição de “bandeira”, cum-prirá, também, o papel de “adquirente” da própria bandeira Cabal. Com isso, foi possível desenvolver uma política de cre-denciamento própria, em condições bem mais favoráveis aos fornecedores. A novidade é a taxa de desconto (que incide sobre o valor da venda) que, além de ter sido fixada em 2%, conta com um teto de R$ 1 mil. Ou seja, sua incidência está limitada ao valor de R$ 50 mil por transação. Nessas condi-ções, por exemplo, uma venda de R$ 100 mil terá uma taxa de desconto de R$ 1 mil (ou 1%). Dessa forma, quanto maior o valor da venda, menor será, percentualmente, a taxa de des-conto.

Essa política deve favorecer o cliente do banco emissor, pois o Cartão BNDES Cabal será mais bem recebido pelo fornecedor, especialmente, quando se tratar de transações de ticket médio maior. Hoje, percebe-se que muitos fornece-dores evitam realizar vendas de maior valor, “induzindo” o comprador a utilizar outros instrumentos de crédito, algu-mas vezes até mais caros.

Atualmente, duas instituições financeiras estão licencia-das pela Cabal Brasil para operar com o Cartão BNDES Cabal. São elas: o Bancoob, cuja distribuição será feita por meio do Sicoob, e o Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).

A ARTIGO FINANCIAMENTO

Por Marcos Borges

Neste artigo, Marcos Borges, diretor-geral da Cabal Brasil, analisa o mercado brasileiro de cartões, apresenta a experiência da empresa em criar uma alternativa para viabilizar os projetos de cartões em escalas menores e destaca experiência bem-sucedida com o Cartão BNDES

aspecto operacional (falta de know-how para processamento de muitas pequenas bases). A solução mais razoável, portan-to, seria buscar autonomia na operação, com o desenvolvi-mento de expertise e propriedade em torno dos negócios de

“bandeira” e “processamento”.Nesse ambiente, foi preciso

buscar experiências exitosas para solucionar a questão. Em ascensão no Brasil, a bandeira de cartões Cabal foi fundada em 1980 por cooperativas de crédi-to argentinas, com o objetivo de lhes assegurar total autonomia estratégica em meios de paga-mento. A solução permitiu a essas instituições competir com os grandes bancos comerciais, garantindo os ganhos de escala necessários para concretização de projetos de emissão de car-

tões que, isoladamente, se mostravam inviáveis.Atuando como bandeira inclusiva, em pouco tempo, a

Cabal encontrou aspectos de interesse mútuo com outras ins-tituições cooperativas de países vizinhos, ampliando sua ope-ração ao Paraguai e ao Uruguai. No Brasil, a bandeira encon-trou como parceiro o Banco Cooperativo do Brasil (Ban-coob), que identificou na Cabal um modelo de atuação com-patível com as necessidades do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob); uma vez que as cooperativas de crédito brasileiras também não produziam volumes suficien-tes para operar com cartões.

Foi nesse contexto que nasceu a Cabal Brasil, joint-venture

formada entre o Bancoob e a Cabal (Cooperativa de Provi-sión de Servícios Ltda). Fundada em janeiro de 2000, a empresa tem como objetivo principal a expansão da bandeira Cabal, a partir de mercados e negócios não atendidos ou par-cialmente atendidos pelas bandeiras globais. A empresa pos-sui caráter associativo, com regulamento próprio que prevê o licenciamento de emissores diversos, como as instituições financeiras de desenvolvimento, os bancos cooperativos, as cooperativas de crédito, os bancos comerciais em geral e as administradoras de cartões legalmente constituídas.

Entre as principais conquistas da Cabal estão os acordos firmados com as principais credenciadoras brasileiras (Rede-card e Cielo), que permitiu que os cartões Cabal passassem a ser aceitos em todo o país, em mais de 2,4 milhões de estabele-cimentos. Além disso, os usuários desse cartão contam com milhares de comércios eletrônicos por intermédio do Pagse-guro, mecanismo de compra segura pela internet, e ampla acei-tação na Argentina, em Cuba, no Paraguai e no Uruguai.

Os serviços de “processamento”, por sua vez, são execu-tados em um completo parque tecnológico, com equipamen-tos modernos e softwares próprios, totalmente customizados à realidade do mercado brasileiro em seus aspectos legais, nor-mativos e de negócio, com destaque para o elevado nível de performance e alta disponibilidade. Com isso, a Cabal Brasil

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Marcos Borges, diretor-geral da Cabal Brasil.

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Alternativa inclusiva para a emissão de cartões

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Distribuição de bolsas implementadas por área prioritária

10.000

8.000

6.000

4.000

2.000

0

1.368 1.171

614 445 419 392 277 210 209 135135 114 114 56 51

Engenharias e demais áreas tecnológicasBiologia, ciências biológicas e da saúdeCiências exatas e da terraIndústria criativaComputação e tecnologias da informaçãoProdução agrícola sustentávelBiotecnogiaFámacosNão informadoBiodiversidade e bioprospecção

Energias renováveisCiências do marNanotecnologia e novos materiaisNovas tecnologias de engenharia construtivaPetróleo, gás e carvão mineralTecnologia aeroespacialTecnologias de prevenção e mitigação de desastreTecnologia mineralFormação em tecnólogos

Nova bolsa – Esse contingente qualificado precisa voltar ao país e encontrar oportunidades e meios de aplicação do conhecimento acumulado, assim como as empresas e insti-tuições necessitam usufruir desse recurso humano burilado. Para facilitar esse encontro e sanar essas duas questões, o CsF agregou há dois meses mais uma ferramenta complementar, que é o Portal de Estágios & Empregos em Pesquisa, Desen-volvimento e Inovação. O espaço reúne vagas de estágios e empregos para bolsistas e ex-bolsistas do programa. Existem também “áreas internas nas quais as empresas podem divul-gar vagas e os estudantes podem cadastrar um perfil para se inscrever nas oportunidades”, explica Glaucius Oliva, presi-dente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A empresa ou instituto de pesquisa e desenvolvimento participante terá acesso aos dados dos bol-sistas e ex-bolsistas do programa, podendo consultar o Currí-

CIÊNCIA

RUMOS - 28 – Maio/Junho 2013

á mais de 50 anos, o Brasil envia estu-dantes e pesquisadores para se quali-ficarem no exterior. Foi esse investi-mento de capital humano que per-

mitiu a criação de entidades de ponta como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de instituições de ensino e pesquisa renomadas como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de iniciativas como a Empre-sa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e do desenvolvimento e aperfeiçoamento de outras como a Petrobras, por exemplo. Foi ainda essa massa crítica acumulada em meio século que levou o país à terceira colocação entre os maiores produtores e exportadores de alimentos no mun-do, a ter a terceira mais avançada empresa aero-náutica do planeta e a contribuir anualmente com mais de 2% de todo conhecimento científico pro-duzido mundialmente.

Portanto, implantar a partir de 2011 um pro-grama de capacitação como o Ciência sem Fron-teiras (CsF), que objetiva enviar em quatro anos mais de cem mil pessoas para se qualificar nas melhores insti-tuições de pesquisa e ensino do mundo, não foi tarefa das mais complexas. O programa visa suprir a carência que o Bra-sil acumulou em tecnologias ao longo das últimas décadas e “finalmente se inserir no estágio global da inovação”, como tem ressaltado o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, condição sem a qual não se tornará competitivo em um mercado cada vez mais exigente e ávido por inovações.

Até agora, segundo o ministro da Educação, Aloizio Mer-cadante, mais de 20 mil estudantes já frequentam instituições de ensino e pesquisa no exterior, “mas a meta é terminar o ano com a concessão de 45 mil bolsas de estudos” pela Coor-denação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico (CNPq), gestores do CsF.

Por Edilene Silva

H

O Governo Federal, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, lança portal para que ex-bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras encontrem vaga no mercado de trabalho ou de pesquisa

RUMOS - 29 – Maio/Junho 2013

culo Lattes do candidato a estágio e emprego conforme o seu interesse, bem como sua formação e experiência em pesquisa no Brasil e no exterior.

Para o ministro Raupp, “o portal aproxima o programa das empresas, possibilitando que elas tenham oportunidade de absorver essa mão de obra altamente qualificada”, o que também contribui com um dos desafios do governo que é o de “levar o conhecimento para as empresas”. Outra vertente propiciada pelo novo portal, segundo a visão do ministro Mercadante, é a de que “ele ajuda as empresas a desenvolve-rem uma cultura de inovação e estabelecer o hábito da procu-ra por talentos”.

I

Ao encontro das oportunidades

INOVAÇÃO

José

Cru

z/A

Br

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, no lançamento do portal de oportundidades.

Doutorado Sanduíche no exterior

3.410

Doutorado no exterior

644

Pós-Doutorado no exterior

1.764Outros

4

Graduação Sanduíche no exterior

16.408

Distribuição de bolsas implementadas por modalidade

Outra vantagem ofertada pelo portal é reduzir a burocra-cia para os dois lados e dar segurança e transparência a ambos. Assim, o contato entre a instituição e o candidato será inter-mediado pelo portal, por meio do qual será possível escolher entre aqueles que se encaixem nos objetivos da instituição e selecioná-los para dar continuidade às ações até sua contrata-ção. O portal surge num momento importante, uma vez que boa parte do contingente que participa do programa deve retornar ao país para prosseguir com seus estudos e pesquisas.

Além do novo portal, o CsF passa a ofertar uma outra modalidade de bolsa com duração e perfil mais flexível, que contribui em muito com o setor privado. “Ela é dedicada a profissionais como cientistas, engenheiros e técnicos de ino-vação que estão trabalhando em empresas”, diz o presidente do CNPq. Segundo Oliva, a bolsa deve ter duração de um a doze meses e os candidatos podem apresentar um projeto de “treinamento dedicado”, especializado em uma dada tecno-logia. Desta forma, sem perder o vínculo com sua instituição de origem, o bolsista contemplado pode realizar a especiali-zação em instituições de pesquisa, empresas parceiras ou pro-vedores e fornecedores para “transferir determinada tecno-logia ou inovação”.

8.734

4.044

2.025

1.716Fonte: MEC, 2013.

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Distribuição de bolsas implementadas por área prioritária

10.000

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1.368 1.171

614 445 419 392 277 210 209 135135 114 114 56 51

Engenharias e demais áreas tecnológicasBiologia, ciências biológicas e da saúdeCiências exatas e da terraIndústria criativaComputação e tecnologias da informaçãoProdução agrícola sustentávelBiotecnogiaFámacosNão informadoBiodiversidade e bioprospecção

Energias renováveisCiências do marNanotecnologia e novos materiaisNovas tecnologias de engenharia construtivaPetróleo, gás e carvão mineralTecnologia aeroespacialTecnologias de prevenção e mitigação de desastreTecnologia mineralFormação em tecnólogos

Nova bolsa – Esse contingente qualificado precisa voltar ao país e encontrar oportunidades e meios de aplicação do conhecimento acumulado, assim como as empresas e insti-tuições necessitam usufruir desse recurso humano burilado. Para facilitar esse encontro e sanar essas duas questões, o CsF agregou há dois meses mais uma ferramenta complementar, que é o Portal de Estágios & Empregos em Pesquisa, Desen-volvimento e Inovação. O espaço reúne vagas de estágios e empregos para bolsistas e ex-bolsistas do programa. Existem também “áreas internas nas quais as empresas podem divul-gar vagas e os estudantes podem cadastrar um perfil para se inscrever nas oportunidades”, explica Glaucius Oliva, presi-dente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A empresa ou instituto de pesquisa e desenvolvimento participante terá acesso aos dados dos bol-sistas e ex-bolsistas do programa, podendo consultar o Currí-

CIÊNCIA

RUMOS - 28 – Maio/Junho 2013

á mais de 50 anos, o Brasil envia estu-dantes e pesquisadores para se quali-ficarem no exterior. Foi esse investi-mento de capital humano que per-

mitiu a criação de entidades de ponta como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), de instituições de ensino e pesquisa renomadas como o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), de iniciativas como a Empre-sa Brasileira de Aeronáutica (Embraer) e do desenvolvimento e aperfeiçoamento de outras como a Petrobras, por exemplo. Foi ainda essa massa crítica acumulada em meio século que levou o país à terceira colocação entre os maiores produtores e exportadores de alimentos no mun-do, a ter a terceira mais avançada empresa aero-náutica do planeta e a contribuir anualmente com mais de 2% de todo conhecimento científico pro-duzido mundialmente.

Portanto, implantar a partir de 2011 um pro-grama de capacitação como o Ciência sem Fron-teiras (CsF), que objetiva enviar em quatro anos mais de cem mil pessoas para se qualificar nas melhores insti-tuições de pesquisa e ensino do mundo, não foi tarefa das mais complexas. O programa visa suprir a carência que o Bra-sil acumulou em tecnologias ao longo das últimas décadas e “finalmente se inserir no estágio global da inovação”, como tem ressaltado o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, condição sem a qual não se tornará competitivo em um mercado cada vez mais exigente e ávido por inovações.

Até agora, segundo o ministro da Educação, Aloizio Mer-cadante, mais de 20 mil estudantes já frequentam instituições de ensino e pesquisa no exterior, “mas a meta é terminar o ano com a concessão de 45 mil bolsas de estudos” pela Coor-denação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (Capes) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientí-fico e Tecnológico (CNPq), gestores do CsF.

Por Edilene Silva

H

O Governo Federal, por meio do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, lança portal para que ex-bolsistas do programa Ciência sem Fronteiras encontrem vaga no mercado de trabalho ou de pesquisa

RUMOS - 29 – Maio/Junho 2013

culo Lattes do candidato a estágio e emprego conforme o seu interesse, bem como sua formação e experiência em pesquisa no Brasil e no exterior.

Para o ministro Raupp, “o portal aproxima o programa das empresas, possibilitando que elas tenham oportunidade de absorver essa mão de obra altamente qualificada”, o que também contribui com um dos desafios do governo que é o de “levar o conhecimento para as empresas”. Outra vertente propiciada pelo novo portal, segundo a visão do ministro Mercadante, é a de que “ele ajuda as empresas a desenvolve-rem uma cultura de inovação e estabelecer o hábito da procu-ra por talentos”.

I

Ao encontro das oportunidades

INOVAÇÃO

José

Cru

z/A

Br

O ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marco Antônio Raupp, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, e o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Glaucius Oliva, no lançamento do portal de oportundidades.

Doutorado Sanduíche no exterior

3.410

Doutorado no exterior

644

Pós-Doutorado no exterior

1.764Outros

4

Graduação Sanduíche no exterior

16.408

Distribuição de bolsas implementadas por modalidade

Outra vantagem ofertada pelo portal é reduzir a burocra-cia para os dois lados e dar segurança e transparência a ambos. Assim, o contato entre a instituição e o candidato será inter-mediado pelo portal, por meio do qual será possível escolher entre aqueles que se encaixem nos objetivos da instituição e selecioná-los para dar continuidade às ações até sua contrata-ção. O portal surge num momento importante, uma vez que boa parte do contingente que participa do programa deve retornar ao país para prosseguir com seus estudos e pesquisas.

Além do novo portal, o CsF passa a ofertar uma outra modalidade de bolsa com duração e perfil mais flexível, que contribui em muito com o setor privado. “Ela é dedicada a profissionais como cientistas, engenheiros e técnicos de ino-vação que estão trabalhando em empresas”, diz o presidente do CNPq. Segundo Oliva, a bolsa deve ter duração de um a doze meses e os candidatos podem apresentar um projeto de “treinamento dedicado”, especializado em uma dada tecno-logia. Desta forma, sem perder o vínculo com sua instituição de origem, o bolsista contemplado pode realizar a especiali-zação em instituições de pesquisa, empresas parceiras ou pro-vedores e fornecedores para “transferir determinada tecno-logia ou inovação”.

8.734

4.044

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1.716Fonte: MEC, 2013.

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Page 31: Edição 269
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RUMOS - 33 – Maio/Junho 2013

Associação Brasileira de Instituições Financei-ras de Desenvolvimento (ABDE), criada em 1969 para reunir bancos e agências estatais vol-tados para a promoção do desenvolvimento eco-nômico, atinge agora novo patamar em sua his-

tória, com a definição do Sistema Nacional de Fomento (SNF). Esse conceito, que passa a designar o conjunto de 30 instituições nos níveis federal, regional e estadual componen-tes da entidade, foi construído após amplo debate de ideias promovido ao longo de 2012. E teve seu coroamento no lan-çamento da Carta ABDE, em junho passado, em Brasília, durante seminário organizado em conjunto pela associação e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O documento estabelece princípios norteadores da atuação dos associados como promotores e financiadores do desenvolvi-mento.

O estabelecimento do marco conceitual do Sistema Naci-onal de Fomento é resultante do planejamento estratégico aprovado pela ABDE no fim de 2011. Técnicos e dirigentes de bancos de desenvolvimento e agências de fomento junta-ram-se a professores universitários durante três eventos de estudos e debates: um curso sobre desenvolvimento, minis-trado em parceria com o Instituto de Economia da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e dois workshops dedi-cados ao tema do fomento. O curso e o primeiro workshop, rea-lizados respectivamente em setembro e novembro do ano passado, tiveram como local a sede do BNDES, no Rio de Janeiro. O segundo encontro aconteceu em dezembro, no auditório do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), em Belo Horizonte.

Dimensões – Ao destacar, no encontro da capital mineira, a presença de mais de uma centena de participantes no conjun-

RUMOS - 32 – Maio/Junho 2013

Pedro Fonseca, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao destacar a raiz histórica do desenvolvimen-to com forte participação estatal que tem sido a marca brasi-leira, ele situou no mineiro João Pinheiro, em 1906, e em Getúlio Vargas, como governador gaúcho, em 1928, as vozes pioneiras na gênese desse processo de desenvolvimento com feições autóctones.

Com João Pinheiro e, de forma mais ampla, Getúlio Var-gas, formulou-se o que Fonseca considerou “a coisa mais cria-tiva que surgiu em economia dentro da América Latina e do Brasil em particular, e que não é adaptação de ideias de outro lugar, “porque tem cara muito própria”. O desenvolvimentis-mo brasileiro, continuou, fundamenta-se em “três ideias his-toricamente vinculadas: industrialização, nacionalismo e intervencionismo”.

Documentos da época mostram, conforme assinalou o professor da UFRGS, que no governo do seu estado, Vargas chegou à conclusão de que “a industrialização é um projeto que precisa ter a intervenção do Estado” e “já em 1928 falava na necessidade de se criar um banco estatal para desenvolver o Rio Grande do Sul”.

O economista Victor Araújo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), apontou o marco legal e a forma-ção de funding para as operações de financiamento como os

A

R REPORTAGEM

Por Gilberto Negreiros

Lançamento da Carta ABDE, documento que consolida uma agenda de trabalho para as instituições financeiras de desenvolvimento, aconteceu em junho, em Brasília. A construção do texto envolveu os 30 associados da entidade

to de eventos, o presidente da ABDE, Carlos Henrique Horn, enunciou o objetivo da carta desenvolvida e aprovada em Assembleia pelo conjunto dos associados. “O documen-to vai posicionar o Sistema Nacional de Fomento como um conjunto de instituições que procura agir ainda mais eficien-temente para assegurar a trajetória de desenvolvimento desta nossa grande nação, com as três dimensões que nossas insti-tuições buscam apoiar: crescimento econômico, inclusão social e sustentabilidade ambiental”, declarou.

No conjunto de integrantes da ABDE convivem os gran-des bancos federais (BNDES, Banco do Brasil e Caixa Eco-nômica Federal), bancos regionais do Nordeste, Extremo Sul e da Amazônia e bancos de desenvolvimento e agências de fomentos estaduais, além do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), da Agência Brasileira de Inovação (Finep) e do Sebrae. A necessidade de uma relação mais próxima entre os bancos federais, notadamente o BNDES, e os bancos e agên-cias dos estados foi um dos pontos de convergência nas avali-ações dos participantes dos workshops, que discutiram os pres-supostos para a efetivação do Sistema Nacional de Fomento.

Crise – Outro ponto decisivo de convergência evidenciado nos encontros foi o papel que o investimento público tem a desempenhar na sustentação do crescimento do Brasil, dentro do contexto da crise que teve início em 2008 e que as econo-mias da Europa e dos Estados Unidos ainda não conseguiram superar. A importância da atuação anticíclica que o Estado deve assumir, diante da situação de incerteza que ainda preva-lece, foi ressaltada pelo diretor do BNDES, João Carlos Fer-raz, na palestra de abertura do primeiro workshop: “Ao contrá-rio do que comumente se aponta, a presença da empresa públi-ca no setor financeiro é muito mais alta no mundo de hoje”.

Para Ferraz, um dos requisitos indispensáveis à efetivação

de um sistema público de fomento é a participação das agên-cias nas decisões de financiamento à iniciativa privada, a exem-plo do que ocorre com o BNDES em nível federal. “Vários governos estaduais estão alocando recursos para capitalizar e fortalecer suas agências. Isso é sinal de um despertar crescen-te dos estados para dar um perfil diferente às agências”, afir-mou. Quanto a esse aspecto, recomendou, os técnicos dos órgãos de fomento devem se aproximar dos dirigentes, para convencê-los dos benefícios representados pela capitalização das instituições componentes do sistema.

O diretor do BNDES apontou três espaços nos quais a pre-sença do financiamento estatal é imprescindível: inovação, apo-io à pequena empresa e financiamento de longo prazo. Dentro desses parâmetros, a diretriz dos bancos e das agências estadu-ais deve ser “o desenvolvimento de mercados, atuando como instrumentos de retorno do investimento público à sociedade, o que implica automaticamente perseguir a eficiência”.

Estado – Além de fato histórico inegável, que resistiu à moda do neoliberalismo, a presença do Estado na economia tem no Brasil uma peculiaridade que remonta às primeiras décadas do século XX. Esse fenômeno antecede em quase 20 anos a teoria desenvolvimentista da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), segundo o professor

ABDE define o Sistema Nacional de Fomento

MARCO HISTÓRICO

ABDE está presente em todo o Brasil

ÂMBITO NACIONAL

ÂMBITO REGIONAL

1 - BNDES2 - BANCO DO BRASIL3 - BANCOOB4 - CAIXA5 - FINEP6 - SEBRAE

BANCO DA AMAZÔNIABANCO DO NORDESTEBRDE

10 - AFAP 11 - AFEAM 12 - AFERR 13 - AGEFEPE 14 - AGERIO 15 - AGN 16 - BADESC 17 - BADESUL 18 - BANPARÁ 19 - BANDES 20 - BANRISUL

21 - BDMG22 - BRB23 - DESENBAHIA24 - DESENVOLVE25 - DESENVOLVE SP26 - FOMENTO TOCANTINS27 - FOMENTO PARANÁ28 - GOIÁSFOMENTO29 - MT FOMENTO30 - PIAUÍ FOMENTO

19

1425

21

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ÂMBITO ESTADUAL

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RUMOS - 33 – Maio/Junho 2013

Associação Brasileira de Instituições Financei-ras de Desenvolvimento (ABDE), criada em 1969 para reunir bancos e agências estatais vol-tados para a promoção do desenvolvimento eco-nômico, atinge agora novo patamar em sua his-

tória, com a definição do Sistema Nacional de Fomento (SNF). Esse conceito, que passa a designar o conjunto de 30 instituições nos níveis federal, regional e estadual componen-tes da entidade, foi construído após amplo debate de ideias promovido ao longo de 2012. E teve seu coroamento no lan-çamento da Carta ABDE, em junho passado, em Brasília, durante seminário organizado em conjunto pela associação e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O documento estabelece princípios norteadores da atuação dos associados como promotores e financiadores do desenvolvi-mento.

O estabelecimento do marco conceitual do Sistema Naci-onal de Fomento é resultante do planejamento estratégico aprovado pela ABDE no fim de 2011. Técnicos e dirigentes de bancos de desenvolvimento e agências de fomento junta-ram-se a professores universitários durante três eventos de estudos e debates: um curso sobre desenvolvimento, minis-trado em parceria com o Instituto de Economia da Universi-dade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e dois workshops dedi-cados ao tema do fomento. O curso e o primeiro workshop, rea-lizados respectivamente em setembro e novembro do ano passado, tiveram como local a sede do BNDES, no Rio de Janeiro. O segundo encontro aconteceu em dezembro, no auditório do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), em Belo Horizonte.

Dimensões – Ao destacar, no encontro da capital mineira, a presença de mais de uma centena de participantes no conjun-

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Pedro Fonseca, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Ao destacar a raiz histórica do desenvolvimen-to com forte participação estatal que tem sido a marca brasi-leira, ele situou no mineiro João Pinheiro, em 1906, e em Getúlio Vargas, como governador gaúcho, em 1928, as vozes pioneiras na gênese desse processo de desenvolvimento com feições autóctones.

Com João Pinheiro e, de forma mais ampla, Getúlio Var-gas, formulou-se o que Fonseca considerou “a coisa mais cria-tiva que surgiu em economia dentro da América Latina e do Brasil em particular, e que não é adaptação de ideias de outro lugar, “porque tem cara muito própria”. O desenvolvimentis-mo brasileiro, continuou, fundamenta-se em “três ideias his-toricamente vinculadas: industrialização, nacionalismo e intervencionismo”.

Documentos da época mostram, conforme assinalou o professor da UFRGS, que no governo do seu estado, Vargas chegou à conclusão de que “a industrialização é um projeto que precisa ter a intervenção do Estado” e “já em 1928 falava na necessidade de se criar um banco estatal para desenvolver o Rio Grande do Sul”.

O economista Victor Araújo, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), apontou o marco legal e a forma-ção de funding para as operações de financiamento como os

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R REPORTAGEM

Por Gilberto Negreiros

Lançamento da Carta ABDE, documento que consolida uma agenda de trabalho para as instituições financeiras de desenvolvimento, aconteceu em junho, em Brasília. A construção do texto envolveu os 30 associados da entidade

to de eventos, o presidente da ABDE, Carlos Henrique Horn, enunciou o objetivo da carta desenvolvida e aprovada em Assembleia pelo conjunto dos associados. “O documen-to vai posicionar o Sistema Nacional de Fomento como um conjunto de instituições que procura agir ainda mais eficien-temente para assegurar a trajetória de desenvolvimento desta nossa grande nação, com as três dimensões que nossas insti-tuições buscam apoiar: crescimento econômico, inclusão social e sustentabilidade ambiental”, declarou.

No conjunto de integrantes da ABDE convivem os gran-des bancos federais (BNDES, Banco do Brasil e Caixa Eco-nômica Federal), bancos regionais do Nordeste, Extremo Sul e da Amazônia e bancos de desenvolvimento e agências de fomentos estaduais, além do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), da Agência Brasileira de Inovação (Finep) e do Sebrae. A necessidade de uma relação mais próxima entre os bancos federais, notadamente o BNDES, e os bancos e agên-cias dos estados foi um dos pontos de convergência nas avali-ações dos participantes dos workshops, que discutiram os pres-supostos para a efetivação do Sistema Nacional de Fomento.

Crise – Outro ponto decisivo de convergência evidenciado nos encontros foi o papel que o investimento público tem a desempenhar na sustentação do crescimento do Brasil, dentro do contexto da crise que teve início em 2008 e que as econo-mias da Europa e dos Estados Unidos ainda não conseguiram superar. A importância da atuação anticíclica que o Estado deve assumir, diante da situação de incerteza que ainda preva-lece, foi ressaltada pelo diretor do BNDES, João Carlos Fer-raz, na palestra de abertura do primeiro workshop: “Ao contrá-rio do que comumente se aponta, a presença da empresa públi-ca no setor financeiro é muito mais alta no mundo de hoje”.

Para Ferraz, um dos requisitos indispensáveis à efetivação

de um sistema público de fomento é a participação das agên-cias nas decisões de financiamento à iniciativa privada, a exem-plo do que ocorre com o BNDES em nível federal. “Vários governos estaduais estão alocando recursos para capitalizar e fortalecer suas agências. Isso é sinal de um despertar crescen-te dos estados para dar um perfil diferente às agências”, afir-mou. Quanto a esse aspecto, recomendou, os técnicos dos órgãos de fomento devem se aproximar dos dirigentes, para convencê-los dos benefícios representados pela capitalização das instituições componentes do sistema.

O diretor do BNDES apontou três espaços nos quais a pre-sença do financiamento estatal é imprescindível: inovação, apo-io à pequena empresa e financiamento de longo prazo. Dentro desses parâmetros, a diretriz dos bancos e das agências estadu-ais deve ser “o desenvolvimento de mercados, atuando como instrumentos de retorno do investimento público à sociedade, o que implica automaticamente perseguir a eficiência”.

Estado – Além de fato histórico inegável, que resistiu à moda do neoliberalismo, a presença do Estado na economia tem no Brasil uma peculiaridade que remonta às primeiras décadas do século XX. Esse fenômeno antecede em quase 20 anos a teoria desenvolvimentista da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), segundo o professor

ABDE define o Sistema Nacional de Fomento

MARCO HISTÓRICO

ABDE está presente em todo o Brasil

ÂMBITO NACIONAL

ÂMBITO REGIONAL

1 - BNDES2 - BANCO DO BRASIL3 - BANCOOB4 - CAIXA5 - FINEP6 - SEBRAE

BANCO DA AMAZÔNIABANCO DO NORDESTEBRDE

10 - AFAP 11 - AFEAM 12 - AFERR 13 - AGEFEPE 14 - AGERIO 15 - AGN 16 - BADESC 17 - BADESUL 18 - BANPARÁ 19 - BANDES 20 - BANRISUL

21 - BDMG22 - BRB23 - DESENBAHIA24 - DESENVOLVE25 - DESENVOLVE SP26 - FOMENTO TOCANTINS27 - FOMENTO PARANÁ28 - GOIÁSFOMENTO29 - MT FOMENTO30 - PIAUÍ FOMENTO

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ÂMBITO ESTADUAL

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maiores entraves à expansão das instituições de fomento. “É necessário flexibilizar o marco legal dessas instituições”, defendeu. “Muitas exigências feitas pelo Banco Central e pelos Tribunais de Contas dos estados são mais adequadas para os bancos comerciais.”

Entre as propostas para constituição do funding do sistema apresentadas no primeiro workshop promovido pela ABDE, Araújo enumerou a participação minoritária do BNDES no capital das instituições de fomento e a retenção de dividendos e juros das operações, para sua capitalização. Ele mencionou também como medida necessária à expansão do fomento a

criação de um sistema mais flexível de garantias, visando faci-litar o acesso de pequenas empresas ao crédito.

Inovação – Aspecto crucial do desenvolvimento, a inovação foi o tema abordado por Mauro Nogueira, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A partir da distinção entre pesquisa e desenvolvimento, as duas pernas em que se sustenta o processo inovador, ele defendeu a trans-

formação da Finep, atualmente vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, em banco federal. Inicialmente, essa nova instituição seria capitalizada com recursos do orçamen-to da União, mas posteriormente, com o crescimento das suas atividades, ganharia vida própria com o rendimento das operações de crédito e participação acionária em empresas inovadoras, tendo as instituições de fomento como repassa-doras de recursos.

“No sistema atual, a pesquisa é realizada por universida-des e institutos, cabendo a fase de desenvolvimento ao setor produtivo. São lógicas de operação e objetivos muito distin-tos”, disse Nogueira. “Hoje, basicamente temos a Finep financiando as duas atividades, e o que resulta disso é um sis-tema de pesquisa e desenvolvimento extremamente captura-do pela universidade, que financia um monte de coisas que têm interesse acadêmico e não vão chegar a inovações con-cretas de produtos de mercado.”

O economista do Ipea acrescentou que, no modelo ado-

R REPORTAGEM MARCO HISTÓRICO

economista Rogério Studart (foto), integrante da direção do Banco Mundial, esteve presente no work-shop realizado pela ABDE em Belo Horizonte e, por

meio de videoconferência, também palestrou no lançamento da Carta ABDE, em Brasília. Logo, vem acompanhando os desdobramentos para a consolidação do Sistema Nacional de Fomento. Para ele, os desafios que se colocam para o futuro do SNF é o de superar a bipolaridade liberalismo versus inter-vencionismo para enfrentar “um problema grande, que é o limite de funding”.

“Essa bipolaridade nas abordagens não contribui em nada para a necessidade de repensar o Sistema Nacional de Fomento, que está em um momento crucial. Devemos tentar uma nova reflexão sobre como proceder com este país e tam-bém como o Estado deve atuar no apoio ao desenvolvimento econômico”, afirmou.

Para ele, “o Sistema Nacional de Fomento precisa ade-quar-se à necessidade de inserção num processo de desenvol-vimento do sistema financeiro, que inclui financiamento público e privado. Ou seja, o Estado deve atuar como agente catalisador do desenvolvimento de instituições nos merca-dos privados”.

Constatação – O diretor do Banco Mundial disse que os eco-nomistas passaram 50 anos em uma discussão estéril sobre uma dicotomia que pretensamente oporia Estado e mercado. “Desde a formação da economia de mercado, o Estado sem-pre foi agente na constituição do mercado financeiro, seja por ter função reguladora, seja por atuar na constituição de mercados. A experiência histórica mostra, na verdade, o Esta-do participando das operações correntes do setor financeiro e sendo agente alavancador do seu desenvolvimento. O que é preciso ter são regras claras de como atuar, porque qualquer recurso público é limitado”, disse.

A questão que se coloca, continuou, é buscar “o tipo de intervenção que seja mais produtivo”. Essa escolha deve ser balizada pela avaliação do risco de crédito, que exige infor-

mações sobre a empresa tomadora de recursos, e pelo grau de organização de mercado, “que não surge como cogumelo”. Studart apontou a inovação como caso típico de mercado incompleto, no qual o Estado tem presentemente papel determinante a exercer no financiamento direto.

No Sistema Nacional de Fomento, o papel do Estado, segundo o economista, deve ser essencialmente o de incen-tivador do desenvolvimento. “É preciso buscar uma forma de racionalizar a participação do Estado de maneira que aumente o financiamento do desenvolvimento e, ao mes-mo tempo, alavanque mais recursos, partindo do princípio de que no Brasil estamos chegando ao limite de funding”, insistiu.

Segundo Studart, o momento da economia brasileira ofe-rece a oportunidade para que se repense o sistema de institui-ções de fomento com foco na questão do tema. “Temos esta-bilidade macroeconômica e situação folgada no balanço de pagamentos. O Brasil é um dos poucos países continentais onde vigora o regime democrático e ocorre um processo ace-lerado de criação de uma sociedade de consumo de massa. Somos a economia emergente mais democrática e mais aber-ta do ponto de vista financeiro e comercial. Nosso respeito às regras de mercado é muito claro ”, pontuou.

Entre as “desvantagens” Studart mencionou o fato de a economia brasileira ser marcadamente doméstica. “Isso gera a desvantagem da competitividade” em relação aos produtos de outros países que vêm disputar o mercado interno com as empresas nacionais. Ele lembrou, entretanto, que a competi-tividade dever ser buscada pelas empresas nacionais e depen-de diretamente do trinômio infraestrutura, inovação e finan-ciamento a pequenos e médios empreendedores.

Para Studart, o segundo papel fundamental que está reservado ao Sistema Nacional de Fomento, que se comple-menta ao de concessão de crédito destinado a investimentos de risco, é o de “aumentar muito mais a expertise em setores que o sistema privado não alcança, como pequenas e médias empresas em polos regionais de crescimento”.

Um alerta para os limites de funding

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fato de os bancos privados serem seletivos no financiamento, negando crédito a atividades, setores, regiões e segmentos da população, em

função do baixo retorno ou do risco, não é uma falha do mercado, sustentou Daniela Prates (foto), professora de economia da Universidade de Campinas (Unicamp). “Na verdade, essa é uma característica intrínseca desse mercado, porque os bancos privados vivem do lucro e vão, por sua própria lógica, priorizar os setores que for-neçam uma perspectiva de alto retorno e risco relativa-mente menor”.

Dentro dessa lógica de lucro alto e risco baixo, inves-timentos com longo prazo de maturação, micro e pequenas empresas, inovação, exportação e habitação de população de baixa renda, por exemplo, não entram nas carteiras de financiamento das instituições privadas. Daniela observou que não se trata de fenômeno restrito a economias em desenvolvimento, já que até em países avançados esses setores contam com linhas especiais de financiamento. Ou seja, “mesmo economias maduras não prescindem de sistema nacional de fomento”.

Adaptações – A economista da Unicamp frisou que o sistema de fomento não pode ser estático, devendo estar em sintonia fina com o que ocorre na economia, para adaptar-se às mudanças no processo de desenvol-vimento. “É muito importante ter-se essa noção de qua-

Mercado excludentepor natureza

O is adaptações são necessárias atualmente no Brasil, que tem hoje o desafio de um novo contexto macroeconô-mico, perdendo a condição no ranking de maior taxa de juros do mundo.”

Daniela acrescentou que, “apesar das reformas do neoliberalismo, os bancos estatais de desenvolvimento não foram extintos e continuam a receber recursos públi-cos para sua capitalização”. Ela lembrou que a França, em meio à tormenta da crise que abala a União Europeia, acaba de criar seu banco de desenvolvimento. “Bancos públicos têm atuação contracíclica e função reguladora da concorrência, que influi nos spreads e nas taxas de juros. E ainda atuam na difusão regional do crédito”, destacou.

Sorte – Para a professora da Unicamp, o Brasil “teve a sorte” de preservar seus bancos federais da onda de pri-vatizações da década de 1990, embora o mesmo não tenha ocorrido com os bancos estaduais. No auge da cri-se de 2008, recordou, foi o sistema financeiro público que sustentou a taxa de crescimento do crédito, impe-dindo que a economia entrasse em recessão. “Além do papel fundamental na contenção dos efeitos da crise, os bancos federais lideraram a mudança na composição do crédito direcionado para habitação, que cresceu 43%. Com isso, abriu-se uma nova frente de crescimento no mercado financeiro, que é o crédito habitacional”, con-cluiu Daniela.

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maiores entraves à expansão das instituições de fomento. “É necessário flexibilizar o marco legal dessas instituições”, defendeu. “Muitas exigências feitas pelo Banco Central e pelos Tribunais de Contas dos estados são mais adequadas para os bancos comerciais.”

Entre as propostas para constituição do funding do sistema apresentadas no primeiro workshop promovido pela ABDE, Araújo enumerou a participação minoritária do BNDES no capital das instituições de fomento e a retenção de dividendos e juros das operações, para sua capitalização. Ele mencionou também como medida necessária à expansão do fomento a

criação de um sistema mais flexível de garantias, visando faci-litar o acesso de pequenas empresas ao crédito.

Inovação – Aspecto crucial do desenvolvimento, a inovação foi o tema abordado por Mauro Nogueira, economista do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A partir da distinção entre pesquisa e desenvolvimento, as duas pernas em que se sustenta o processo inovador, ele defendeu a trans-

formação da Finep, atualmente vinculada ao Ministério da Ciência e Tecnologia, em banco federal. Inicialmente, essa nova instituição seria capitalizada com recursos do orçamen-to da União, mas posteriormente, com o crescimento das suas atividades, ganharia vida própria com o rendimento das operações de crédito e participação acionária em empresas inovadoras, tendo as instituições de fomento como repassa-doras de recursos.

“No sistema atual, a pesquisa é realizada por universida-des e institutos, cabendo a fase de desenvolvimento ao setor produtivo. São lógicas de operação e objetivos muito distin-tos”, disse Nogueira. “Hoje, basicamente temos a Finep financiando as duas atividades, e o que resulta disso é um sis-tema de pesquisa e desenvolvimento extremamente captura-do pela universidade, que financia um monte de coisas que têm interesse acadêmico e não vão chegar a inovações con-cretas de produtos de mercado.”

O economista do Ipea acrescentou que, no modelo ado-

R REPORTAGEM MARCO HISTÓRICO

economista Rogério Studart (foto), integrante da direção do Banco Mundial, esteve presente no work-shop realizado pela ABDE em Belo Horizonte e, por

meio de videoconferência, também palestrou no lançamento da Carta ABDE, em Brasília. Logo, vem acompanhando os desdobramentos para a consolidação do Sistema Nacional de Fomento. Para ele, os desafios que se colocam para o futuro do SNF é o de superar a bipolaridade liberalismo versus inter-vencionismo para enfrentar “um problema grande, que é o limite de funding”.

“Essa bipolaridade nas abordagens não contribui em nada para a necessidade de repensar o Sistema Nacional de Fomento, que está em um momento crucial. Devemos tentar uma nova reflexão sobre como proceder com este país e tam-bém como o Estado deve atuar no apoio ao desenvolvimento econômico”, afirmou.

Para ele, “o Sistema Nacional de Fomento precisa ade-quar-se à necessidade de inserção num processo de desenvol-vimento do sistema financeiro, que inclui financiamento público e privado. Ou seja, o Estado deve atuar como agente catalisador do desenvolvimento de instituições nos merca-dos privados”.

Constatação – O diretor do Banco Mundial disse que os eco-nomistas passaram 50 anos em uma discussão estéril sobre uma dicotomia que pretensamente oporia Estado e mercado. “Desde a formação da economia de mercado, o Estado sem-pre foi agente na constituição do mercado financeiro, seja por ter função reguladora, seja por atuar na constituição de mercados. A experiência histórica mostra, na verdade, o Esta-do participando das operações correntes do setor financeiro e sendo agente alavancador do seu desenvolvimento. O que é preciso ter são regras claras de como atuar, porque qualquer recurso público é limitado”, disse.

A questão que se coloca, continuou, é buscar “o tipo de intervenção que seja mais produtivo”. Essa escolha deve ser balizada pela avaliação do risco de crédito, que exige infor-

mações sobre a empresa tomadora de recursos, e pelo grau de organização de mercado, “que não surge como cogumelo”. Studart apontou a inovação como caso típico de mercado incompleto, no qual o Estado tem presentemente papel determinante a exercer no financiamento direto.

No Sistema Nacional de Fomento, o papel do Estado, segundo o economista, deve ser essencialmente o de incen-tivador do desenvolvimento. “É preciso buscar uma forma de racionalizar a participação do Estado de maneira que aumente o financiamento do desenvolvimento e, ao mes-mo tempo, alavanque mais recursos, partindo do princípio de que no Brasil estamos chegando ao limite de funding”, insistiu.

Segundo Studart, o momento da economia brasileira ofe-rece a oportunidade para que se repense o sistema de institui-ções de fomento com foco na questão do tema. “Temos esta-bilidade macroeconômica e situação folgada no balanço de pagamentos. O Brasil é um dos poucos países continentais onde vigora o regime democrático e ocorre um processo ace-lerado de criação de uma sociedade de consumo de massa. Somos a economia emergente mais democrática e mais aber-ta do ponto de vista financeiro e comercial. Nosso respeito às regras de mercado é muito claro ”, pontuou.

Entre as “desvantagens” Studart mencionou o fato de a economia brasileira ser marcadamente doméstica. “Isso gera a desvantagem da competitividade” em relação aos produtos de outros países que vêm disputar o mercado interno com as empresas nacionais. Ele lembrou, entretanto, que a competi-tividade dever ser buscada pelas empresas nacionais e depen-de diretamente do trinômio infraestrutura, inovação e finan-ciamento a pequenos e médios empreendedores.

Para Studart, o segundo papel fundamental que está reservado ao Sistema Nacional de Fomento, que se comple-menta ao de concessão de crédito destinado a investimentos de risco, é o de “aumentar muito mais a expertise em setores que o sistema privado não alcança, como pequenas e médias empresas em polos regionais de crescimento”.

Um alerta para os limites de funding

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função do baixo retorno ou do risco, não é uma falha do mercado, sustentou Daniela Prates (foto), professora de economia da Universidade de Campinas (Unicamp). “Na verdade, essa é uma característica intrínseca desse mercado, porque os bancos privados vivem do lucro e vão, por sua própria lógica, priorizar os setores que for-neçam uma perspectiva de alto retorno e risco relativa-mente menor”.

Dentro dessa lógica de lucro alto e risco baixo, inves-timentos com longo prazo de maturação, micro e pequenas empresas, inovação, exportação e habitação de população de baixa renda, por exemplo, não entram nas carteiras de financiamento das instituições privadas. Daniela observou que não se trata de fenômeno restrito a economias em desenvolvimento, já que até em países avançados esses setores contam com linhas especiais de financiamento. Ou seja, “mesmo economias maduras não prescindem de sistema nacional de fomento”.

Adaptações – A economista da Unicamp frisou que o sistema de fomento não pode ser estático, devendo estar em sintonia fina com o que ocorre na economia, para adaptar-se às mudanças no processo de desenvol-vimento. “É muito importante ter-se essa noção de qua-

Mercado excludentepor natureza

O is adaptações são necessárias atualmente no Brasil, que tem hoje o desafio de um novo contexto macroeconô-mico, perdendo a condição no ranking de maior taxa de juros do mundo.”

Daniela acrescentou que, “apesar das reformas do neoliberalismo, os bancos estatais de desenvolvimento não foram extintos e continuam a receber recursos públi-cos para sua capitalização”. Ela lembrou que a França, em meio à tormenta da crise que abala a União Europeia, acaba de criar seu banco de desenvolvimento. “Bancos públicos têm atuação contracíclica e função reguladora da concorrência, que influi nos spreads e nas taxas de juros. E ainda atuam na difusão regional do crédito”, destacou.

Sorte – Para a professora da Unicamp, o Brasil “teve a sorte” de preservar seus bancos federais da onda de pri-vatizações da década de 1990, embora o mesmo não tenha ocorrido com os bancos estaduais. No auge da cri-se de 2008, recordou, foi o sistema financeiro público que sustentou a taxa de crescimento do crédito, impe-dindo que a economia entrasse em recessão. “Além do papel fundamental na contenção dos efeitos da crise, os bancos federais lideraram a mudança na composição do crédito direcionado para habitação, que cresceu 43%. Com isso, abriu-se uma nova frente de crescimento no mercado financeiro, que é o crédito habitacional”, con-cluiu Daniela.

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RUMOS - 37 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 36 – Maio/Junho 2013

O lançamento da Carta ABDE aconteceu no primeiro dia do seminário O Papel das Instituições Financeiras de Desenvolvimen-to no Desenvolvimento Regional e o Fomento ao Investimento Privado de Longo Prazo, realizado nos dias 5 e 6 de junho, no auditório do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), em Brasília, e pro-movido pela Associação Brasileira de Instituições de Desen-volvimento (ABDE) em parceria com o Banco Interamerica-no de Desenvolvimento (BID). O documento define diretri-zes, princípios e uma agenda norteadora das ações das 30 entidades integrantes da associação pelos próximos anos. “A proposta central da Carta é estabelecer uma interlocução com entes reguladores, Banco Central e governo federal no sentido de fortalecer instituições voltadas claramente ao apoio, ao fortalecimento de programas ou políticas de desen-volvimento nacionais e regionais”, afirmou Carlos Henrique

Horn, presidente da Associação e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).

Outro objetivo da Carta ABDE é estabelecer diretrizes que efetivamente tornarão o crédito mais acessível. O presi-dente da associação acredita que o crédito de longo prazo, o crédito de investimento, no caso brasileiro, é crescentemente acessível às empresas. “O Cartão BNDES é uma experiência extremamente bem-sucedida de acesso ao crédito por parte das micro, pequenas e médias empresas. Posso dar outro exemplo, que já não é mais tão recente, o Programa de Sus-tentação do Investimento (PSI) com taxas de juros fixas, que oscilaram no período e chegaram à casa de 2%. Taxa que permite acessibilidade. Terceiro exemplo: está para ser lança-do o novo Plano Safra, que há algum tempo tem no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pro-naf), um de seus elementos básicos. Este é um programa de crédito com juros fixos extremamente baixos, perto de zero, que também promove a acessibilidade ao crédito para este segmento específico”, afirmou Horn.

Sistema Nacional de Fomento – A inclusão financeira e o desenvolvimento do país dependem de uma série de fatores, como o fortalecimento das Instituições Financeiras de Desen-volvimento (IFDs), o aumento das parcerias público-privadas, o aperfeiçoamento dos mecanismos existentes e a criação de instrumentos inéditos de financiamento à inovação.

Essa foi uma das conclusões ao fim do seminário. Nos cinco painéis do evento, representantes dos governos federal

e do Distrito Federal e de várias instituições financeiras de desenvolvimento demonstraram a necessidade de se reco-nhecer o papel crucial do financiamento de longo prazo para o crescimento do país.

O seminário teve o objetivo de discutir e compartilhar com representantes das instituições financeiras de desenvol-vimento iniciativas inovadoras e melhores práticas na área de desenvolvimento regional e fomento ao investimento priva-do desenvolvidas no Brasil e em outros países da América Latina. “Queremos demonstrar como as agências de fomen-to, os bancos de desenvolvimento, bancos comerciais com função de fomento e os cooperativos podem se tornar ato-res-chave para aumentar a capilaridade no crédito regional-mente e visar projetos de investimentos público-privados e privados”, disse Horn.

O seminário serviu também para consolidar novas ideias, reafirmar a necessidade de mudança de paradigma e trazer ao debate nacional o papel das IDF na remoção dos entraves ao desenvolvimento do país e na eliminação dos obstáculos à inclusão financeira. A ideia é fortalecer o sistema de conces-são de créditos a longo prazo, microcréditos, ampliar a aces-sibilidade para micro, pequenas e médias empresas e traçar o futuro do financiamento do sistema produtivo e de inclusão no país.

Encontros – Essa foi a primeira vez que o Bancoob recep-cionou um evento da ABDE. “É uma grande a alegria”, disse o presidente do banco, Marco Aurélio Almada. Ele

O combustível para acelerar o crescimento do paísEm parceria, ABDE e BID promovem seminário que teve como ponto alto o lançamento da Carta ABDE

tado atualmente, só as universidades e as grandes empresas têm acesso aos recursos para pesquisas. A capilaridade do sis-tema de fomento, destacou, transformaria as agências estadu-ais em parceiras por excelência da Finep, possibilitando que os recursos destinados à inovação fluíssem com mais facilida-de para as pequenas empresas. Nogueira enfatizou, entretan-to, que “o pressuposto disso tudo é a definição de uma políti-ca nacional de desenvolvimento dentro das regras do regime democrático, um grande desafio que temos de enfrentar”.

Para Lavínia Barros de Castro, economista do BNDES e professora do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), a consolidação do sistema de fomento exige que as instituições participantes superem a deficiência da “falta de clareza quanto ao modelo do seu negócio”, no qual está implícito o risco inerente a qualquer operação de crédito. “A falta de clareza quanto à prioridade do fomento, quanto ao que se está disposto a perder em prol do desenvolvimento dificulta a gestão do risco.”

Segundo Lavínia, os bancos de desenvolvimento e agências de fomento estaduais “são conservadores na gestão de risco, quando a sociedade espera o contrário”. Embora reconhecen-do que “o fato de lidarem com recursos públicos coloca natu-ralmente um certo freio”, ela enfatizou que “prestar contas não é não correr riscos”.

Avanço – O diretor de Infraestrutura Social do BNDES, Gui-lherme Lacerda, disse, em palestra no workshop de Belo Hori-zonte, que “este é o momento apropriado para o avanço do Sis-tema Nacional de Fomento”. Ressaltou que “os paradigmas neoliberais não se confirmaram” e criticou o que considera “análises muito fáceis” sobre o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para este ano. Observou que, mesmo com os resultados abaixo do almejado pela política eco-nômica em termos de crescimento, a economia brasileira “mantém baixa a taxa de desemprego e a renda na base da pirâ-mide social cresce de duas a três vezes mais que o PIB, o que é

uma questão que precisa ser discutida pelos analistas”.Com a perspectiva de crescimento em 2013, acredita

Lacerda, abre-se uma grande oportunidade para a expansão do Sistema Nacional de Fomento. Ele admitiu que “será necessário um esforço muito grande para estimular a capitali-zação das agências de fomento”, mas ressaltou que o BNDES fechou o ano de 2012 com repasse de R$ 987 milhões destinados à capitalização de bancos públicos esta-duais.

Na avaliação de Lacerda, “existem condições para ocu-parmos um espaço maior”, já que as operações do banco com instituições de fomento estaduais situam-se ainda na faixa de modestos 3 a 4,5%. Os agentes de fomento, segundo ele, “têm um trabalho jesuítico, pedagógico como canais de relaci-onamento com os pequenos empresários, a maioria dos quais desconhece totalmente o que é o BNDES”. O crédito coope-rativo e o cartão de crédito para financiamento de capital de giro destinado a pequenos empreendedores, citou, são alguns dos nichos nos quais há grande potencial para atuação do sis-tema de fomento.

R REPORTAGEM

Autoridades participaram da abertura do evento: Daniela Carrera, representante do BID no Brasil, Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional, Álvaro Corrêa, chefe de gabinete do BNDES, João Guilherme, Ministério de Planejamento, Marco Aurélio Almada, presidente do Bancoob, e Carlos Henrique Horn, presidente da ABDE e do BRDE.

O diretor do BNDES, Guilherme Lacerda, participou do workshop em Minas Gerais.

MARCO HISTÓRICO

Por Carla Lisboa

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O lançamento da Carta ABDE aconteceu no primeiro dia do seminário O Papel das Instituições Financeiras de Desenvolvimen-to no Desenvolvimento Regional e o Fomento ao Investimento Privado de Longo Prazo, realizado nos dias 5 e 6 de junho, no auditório do Banco Cooperativo do Brasil (Bancoob), em Brasília, e pro-movido pela Associação Brasileira de Instituições de Desen-volvimento (ABDE) em parceria com o Banco Interamerica-no de Desenvolvimento (BID). O documento define diretri-zes, princípios e uma agenda norteadora das ações das 30 entidades integrantes da associação pelos próximos anos. “A proposta central da Carta é estabelecer uma interlocução com entes reguladores, Banco Central e governo federal no sentido de fortalecer instituições voltadas claramente ao apoio, ao fortalecimento de programas ou políticas de desen-volvimento nacionais e regionais”, afirmou Carlos Henrique

Horn, presidente da Associação e do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE).

Outro objetivo da Carta ABDE é estabelecer diretrizes que efetivamente tornarão o crédito mais acessível. O presi-dente da associação acredita que o crédito de longo prazo, o crédito de investimento, no caso brasileiro, é crescentemente acessível às empresas. “O Cartão BNDES é uma experiência extremamente bem-sucedida de acesso ao crédito por parte das micro, pequenas e médias empresas. Posso dar outro exemplo, que já não é mais tão recente, o Programa de Sus-tentação do Investimento (PSI) com taxas de juros fixas, que oscilaram no período e chegaram à casa de 2%. Taxa que permite acessibilidade. Terceiro exemplo: está para ser lança-do o novo Plano Safra, que há algum tempo tem no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pro-naf), um de seus elementos básicos. Este é um programa de crédito com juros fixos extremamente baixos, perto de zero, que também promove a acessibilidade ao crédito para este segmento específico”, afirmou Horn.

Sistema Nacional de Fomento – A inclusão financeira e o desenvolvimento do país dependem de uma série de fatores, como o fortalecimento das Instituições Financeiras de Desen-volvimento (IFDs), o aumento das parcerias público-privadas, o aperfeiçoamento dos mecanismos existentes e a criação de instrumentos inéditos de financiamento à inovação.

Essa foi uma das conclusões ao fim do seminário. Nos cinco painéis do evento, representantes dos governos federal

e do Distrito Federal e de várias instituições financeiras de desenvolvimento demonstraram a necessidade de se reco-nhecer o papel crucial do financiamento de longo prazo para o crescimento do país.

O seminário teve o objetivo de discutir e compartilhar com representantes das instituições financeiras de desenvol-vimento iniciativas inovadoras e melhores práticas na área de desenvolvimento regional e fomento ao investimento priva-do desenvolvidas no Brasil e em outros países da América Latina. “Queremos demonstrar como as agências de fomen-to, os bancos de desenvolvimento, bancos comerciais com função de fomento e os cooperativos podem se tornar ato-res-chave para aumentar a capilaridade no crédito regional-mente e visar projetos de investimentos público-privados e privados”, disse Horn.

O seminário serviu também para consolidar novas ideias, reafirmar a necessidade de mudança de paradigma e trazer ao debate nacional o papel das IDF na remoção dos entraves ao desenvolvimento do país e na eliminação dos obstáculos à inclusão financeira. A ideia é fortalecer o sistema de conces-são de créditos a longo prazo, microcréditos, ampliar a aces-sibilidade para micro, pequenas e médias empresas e traçar o futuro do financiamento do sistema produtivo e de inclusão no país.

Encontros – Essa foi a primeira vez que o Bancoob recep-cionou um evento da ABDE. “É uma grande a alegria”, disse o presidente do banco, Marco Aurélio Almada. Ele

O combustível para acelerar o crescimento do paísEm parceria, ABDE e BID promovem seminário que teve como ponto alto o lançamento da Carta ABDE

tado atualmente, só as universidades e as grandes empresas têm acesso aos recursos para pesquisas. A capilaridade do sis-tema de fomento, destacou, transformaria as agências estadu-ais em parceiras por excelência da Finep, possibilitando que os recursos destinados à inovação fluíssem com mais facilida-de para as pequenas empresas. Nogueira enfatizou, entretan-to, que “o pressuposto disso tudo é a definição de uma políti-ca nacional de desenvolvimento dentro das regras do regime democrático, um grande desafio que temos de enfrentar”.

Para Lavínia Barros de Castro, economista do BNDES e professora do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec), a consolidação do sistema de fomento exige que as instituições participantes superem a deficiência da “falta de clareza quanto ao modelo do seu negócio”, no qual está implícito o risco inerente a qualquer operação de crédito. “A falta de clareza quanto à prioridade do fomento, quanto ao que se está disposto a perder em prol do desenvolvimento dificulta a gestão do risco.”

Segundo Lavínia, os bancos de desenvolvimento e agências de fomento estaduais “são conservadores na gestão de risco, quando a sociedade espera o contrário”. Embora reconhecen-do que “o fato de lidarem com recursos públicos coloca natu-ralmente um certo freio”, ela enfatizou que “prestar contas não é não correr riscos”.

Avanço – O diretor de Infraestrutura Social do BNDES, Gui-lherme Lacerda, disse, em palestra no workshop de Belo Hori-zonte, que “este é o momento apropriado para o avanço do Sis-tema Nacional de Fomento”. Ressaltou que “os paradigmas neoliberais não se confirmaram” e criticou o que considera “análises muito fáceis” sobre o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) previsto para este ano. Observou que, mesmo com os resultados abaixo do almejado pela política eco-nômica em termos de crescimento, a economia brasileira “mantém baixa a taxa de desemprego e a renda na base da pirâ-mide social cresce de duas a três vezes mais que o PIB, o que é

uma questão que precisa ser discutida pelos analistas”.Com a perspectiva de crescimento em 2013, acredita

Lacerda, abre-se uma grande oportunidade para a expansão do Sistema Nacional de Fomento. Ele admitiu que “será necessário um esforço muito grande para estimular a capitali-zação das agências de fomento”, mas ressaltou que o BNDES fechou o ano de 2012 com repasse de R$ 987 milhões destinados à capitalização de bancos públicos esta-duais.

Na avaliação de Lacerda, “existem condições para ocu-parmos um espaço maior”, já que as operações do banco com instituições de fomento estaduais situam-se ainda na faixa de modestos 3 a 4,5%. Os agentes de fomento, segundo ele, “têm um trabalho jesuítico, pedagógico como canais de relaci-onamento com os pequenos empresários, a maioria dos quais desconhece totalmente o que é o BNDES”. O crédito coope-rativo e o cartão de crédito para financiamento de capital de giro destinado a pequenos empreendedores, citou, são alguns dos nichos nos quais há grande potencial para atuação do sis-tema de fomento.

R REPORTAGEM

Autoridades participaram da abertura do evento: Daniela Carrera, representante do BID no Brasil, Arno Augustin, secretário do Tesouro Nacional, Álvaro Corrêa, chefe de gabinete do BNDES, João Guilherme, Ministério de Planejamento, Marco Aurélio Almada, presidente do Bancoob, e Carlos Henrique Horn, presidente da ABDE e do BRDE.

O diretor do BNDES, Guilherme Lacerda, participou do workshop em Minas Gerais.

MARCO HISTÓRICO

Por Carla Lisboa

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RUMOS - 39 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 38 – Maio/Junho 2013

informou que há dois anos, desde que passou a integrar a ABDE, o Bancoob se sente valorizado. “Temos, por com-petência, usar o instrumento ou os meios da cooperação para fazer com que os negócios das nossas cooperativas se desenvolvam. E, ao convivermos no ambiente da ABDE, observamos que, se usarmos o instrumento da cooperação entre as diversas entidades que compõem o Sistema Nacio-nal de Fomento, podemos nos qualificar ainda mais para fazer nossas atividades e, assim, superar limitações que eventualmente enfrentamos no desenvolvimento do nosso negócio cotidiano”, destacou.

A representante do BID no Brasil, Daniela Carrera, disse que o banco vem trabalhando pelo acesso ao crédito e e para garantir o crescimento inclusivo e melhorias das fon-tes de financiamento. O seminário possibilitou a discussão de temas que o BID tem promovido na América Latina,

como, por exemplo, bons canais de financiamento de longo prazo, com ênfase nos financiamentos de microcrédito, estruturação de investimentos e de fundos de investimentos de longo prazo, desenvolvimento de mercado de capitais e para estruturação das parcerias público-privadas, que são necessárias para acompanhar o crescimento. “Para o BID, assim como para o governo federal e governos estaduais, essa é uma contribuição que todas as instituições podem dar para acompanhar esse tipo de participação e provisão de financiamento”, disse Daniela. Ela acredita que a Carta ABDE é uma agenda que contempla o aprimoramento de processos que afetam o desempenho do Sistema Nacional de Fomento.

Setor privado – Durante o seminário, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, disse que a realização do

evento foi fundamental, pois o governo entende que as instituições financeiras de desenvolvimento têm relevância na atual conjuntura. “Nos últimos quatro anos, o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), no qual essas institui-ções têm um papel importante, já desembolsou mais de R$ 200 bilhões. Estamos com um programa de investimento em logística que, no próximo período, vai exigir milhões de investimentos em ferrovias, rodovias, portos e os aeropor-tos. Paralelamente, o Brasil não tem tempo de esperar. Preci-sa fazer todas estas coisas andarem e essas instituições têm um papel fundamental nisso”, destacou.

Ele observou que o financiamento do desenvolvimento regional, e do país todo, exige celeridade, menos burocracia, maior capacidade de responder nos tempos reais do investi-mento. “Este é um desafio. Não um desafio que o governo coloca para as agências de fomento e bancos de desenvolvi-mento. Várias entidades associadas da ABDE são do governo federal, dos governos estaduais, mas esse é um desafio que o Brasil se coloca, um fato que todos têm de se conscientizar e há uma dinâmica irreversível nesse sentido”. Augustin frisou que a tendência atual do crescimento é envolver no financia-mento do setor público, de forma significativa, não só as instituições financeiras não multilaterais, mas também outras multilaterais e, sobretudo, o setor financeiro privado. “Essa é uma tendência de crescimento, de infraestrutura, que o Brasil precisa fazer e quanto mais concorrência e mais atores tiver-mos, melhor. Isso exige que os atores tradicionais tenham mais rapidez, capacidade de melhorar, de sugerir ao governo, de tomar iniciativas. Importante que se sintam estimulados a fazer este debate com toda a intensidade porque, ao fazer isso, sugerir melhorias, estarão melhorando o Brasil”.

Augustin disse que o governo considera importante o financiamento de longo prazo e ressaltou que os números atua-is desse segmento são decorrentes do setor público. “Achamos que há um papel muito grande do setor privado em investi-mento de longo prazo no Brasil e precisamos trabalhar nisso. Precisamos criar os instrumentos. De alguma forma, já come-

çamos a criar alguns, como as debêntures, mas há um trabalho, uma cultura a ser criada. O Brasil está saindo do vício da taxa de juros de curto prazo muito alta e construindo uma nova cul-tura e o Sistema Nacional de Fomento é fundamental”. O secretário do Tesouro Nacional acredita que, para criar essa cul-tura, é preciso inserir novos instrumentos, de instituições públicas e privadas, os quais permitam o financiamento de lon-go prazo inserido no contexto que o Brasil necessita.

América Latina – O secretário-geral da Asociación Latinoa-mericana de Instituiciones Financieras para el Desarrollo (Ali-de), Rommel Acevedo, presente ao evento, cumprimentou o presidente da ABDE por lançar uma carta que visa a fortale-cer o Sistema Nacional de Fomento como peça fundamental para o desenvolvimento do país.

Acevedo contou um pouco da história do financiamento do desenvolvimento na América Latina e disse que, ao longo dos anos, e considerando a configuração política de cada país, foi criada uma variedade imensa de entidades e de mecanis-mos, como bancos, ações, institutos de fomento e de finan-ciamento e programas, com suas particularidades de desen-volvimento.

“Como exemplo, vimos as características federal, esta-dual, municipal, cooperativa, agências federais etc. que o Bra-sil tem. Na Argentina, temos, por sua configuração política, instituições financeiras de desenvolvimento de nível nacio-nal, provincial e, entre elas, há o centralismo. Há ainda bancos metropolitanos de desenvolvimento nas principais capitais das províncias”, disse.

Acevedo destacou o papel dos participantes dessas insti-tuições na condição de intermediário financeiro, no sentido estrito, em virtude das operações simultâneas de fomento e operatória de bancos comerciais. Ele lembrou que no passa-do essas instituições eram consideradas entidades que não mobilizavam recursos financeiros. “Era uma característica predominante no passado que, no meu entender, não deixou nada de positivo e as reformas financeiras ocorridas em nos-sos países acentuaram o caráter bancário dessas instituições financeiras de desenvolvimento”.

R REPORTAGEM MARCO HISTÓRICO

umos – Qual o montante de recursos já investi-dos pelo BID no Brasil nas parcerias com insti-tuições financeiras de desenvolvimento?

Maria Netto – Há uma tradição de trabalho no Brasil de mais de 50 anos com instituições financeiras. Somente no caso do BNDES, durante um período de 10 anos foram investidos US$ 1 milhão por ano. Houve duas operações gran-des com o Banco do Nordeste (BNB). Neste ano, na última operação com o BNB, foram aprovados US$ 200 milhões. Atualmente, estamos negociando com duas ou três agências de fomento e a possibilidade de financiamento gira em torno de US$ 50 a 200 milhões, dependendo da instituição.

A divisão de mercado de capital do BID trabalha basica-mente com instituições financeiras públicas, ou seja, nosso cli-ente são as instituições financeiras públicas tanto no Brasil como na América Latina. O tipo de produto ou atividades que realizamos com as agências varia muito da necessidade específica do lugar e do mandato que o banco tem, ou seja, que o intermediário financeiro tem.

Rumos – Como são desenhados os projetos ou progra-mas? Existe a possibilidade de replicar as iniciativas?Netto – Tem possibilidades de replicar, mas dentro de um contexto específico. Nossa metodologia de ação é olhar, por exemplo no caso do Nordeste, para a importância das cadei-as produtivas, como a cerâmica e gesso, que são dois setores importantes lá, visto que 95% do gesso brasileiro é produzi-do no Nordeste. Isso tem importância para a economia local. Todavia, são várias pequenas e médias empresas que traba-

lham nesta área e fazem parte da cadeia. Ou seja, por um lado, tem-se de ajudar não somente o produtor da cerâmica, por exemplo, ou o produtor do gesso a melhorar o seu pro-cesso produtivo, mas tem de assegurar que alguém vá com-prar esse produto melhorado, que o preço do produto vai ser melhorado. Nesse sentido, estamos tentando ver como será possível ajudá-los a se estruturar, qual o mecanismo financei-ro que pode dar o aval, ajudar para que ele possa tomar um empréstimo. O interessante é isso: o produtor vai tomar um empréstimo para mudar o forno dele, mas ao mesmo tempo ele vai usar menos biomassa, vai comprar biomassa certifica-da e o resultado será menos desmatamento da caatinga; e o produto dele também será certificado para que seja uma mer-cadoria com mais reconhecimento de compradores.

Em Minas Gerais, temos o exemplo da indústria auto-mobilística. Lá há um caso interessante que são as siderúrgi-cas que também usam muito a biomassa e têm uma cadeia de produção. As cadeias e a atuação de cada estado são diferen-tes, mas o interessante é que as instituições financeiras de desenvolvimento podem interagir, podem aprender muito uma com a outra e, de fato, muitas dessas trocas e ações podem ser replicadas.

Parceria BID e Sistema Nacional de Fomento

Entrevista com Maria Netto (foto), especialista

Líder em Mercados Financeiros do BID.

Rommel Acevedo, da Alide, falou sobre as instituiçõesfinanceiras de desenvolvimento da América Latina.

O secretário do Tesouro, Arno Augustin, destacou a importância das IFDs.

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informou que há dois anos, desde que passou a integrar a ABDE, o Bancoob se sente valorizado. “Temos, por com-petência, usar o instrumento ou os meios da cooperação para fazer com que os negócios das nossas cooperativas se desenvolvam. E, ao convivermos no ambiente da ABDE, observamos que, se usarmos o instrumento da cooperação entre as diversas entidades que compõem o Sistema Nacio-nal de Fomento, podemos nos qualificar ainda mais para fazer nossas atividades e, assim, superar limitações que eventualmente enfrentamos no desenvolvimento do nosso negócio cotidiano”, destacou.

A representante do BID no Brasil, Daniela Carrera, disse que o banco vem trabalhando pelo acesso ao crédito e e para garantir o crescimento inclusivo e melhorias das fon-tes de financiamento. O seminário possibilitou a discussão de temas que o BID tem promovido na América Latina,

como, por exemplo, bons canais de financiamento de longo prazo, com ênfase nos financiamentos de microcrédito, estruturação de investimentos e de fundos de investimentos de longo prazo, desenvolvimento de mercado de capitais e para estruturação das parcerias público-privadas, que são necessárias para acompanhar o crescimento. “Para o BID, assim como para o governo federal e governos estaduais, essa é uma contribuição que todas as instituições podem dar para acompanhar esse tipo de participação e provisão de financiamento”, disse Daniela. Ela acredita que a Carta ABDE é uma agenda que contempla o aprimoramento de processos que afetam o desempenho do Sistema Nacional de Fomento.

Setor privado – Durante o seminário, o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, disse que a realização do

evento foi fundamental, pois o governo entende que as instituições financeiras de desenvolvimento têm relevância na atual conjuntura. “Nos últimos quatro anos, o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), no qual essas institui-ções têm um papel importante, já desembolsou mais de R$ 200 bilhões. Estamos com um programa de investimento em logística que, no próximo período, vai exigir milhões de investimentos em ferrovias, rodovias, portos e os aeropor-tos. Paralelamente, o Brasil não tem tempo de esperar. Preci-sa fazer todas estas coisas andarem e essas instituições têm um papel fundamental nisso”, destacou.

Ele observou que o financiamento do desenvolvimento regional, e do país todo, exige celeridade, menos burocracia, maior capacidade de responder nos tempos reais do investi-mento. “Este é um desafio. Não um desafio que o governo coloca para as agências de fomento e bancos de desenvolvi-mento. Várias entidades associadas da ABDE são do governo federal, dos governos estaduais, mas esse é um desafio que o Brasil se coloca, um fato que todos têm de se conscientizar e há uma dinâmica irreversível nesse sentido”. Augustin frisou que a tendência atual do crescimento é envolver no financia-mento do setor público, de forma significativa, não só as instituições financeiras não multilaterais, mas também outras multilaterais e, sobretudo, o setor financeiro privado. “Essa é uma tendência de crescimento, de infraestrutura, que o Brasil precisa fazer e quanto mais concorrência e mais atores tiver-mos, melhor. Isso exige que os atores tradicionais tenham mais rapidez, capacidade de melhorar, de sugerir ao governo, de tomar iniciativas. Importante que se sintam estimulados a fazer este debate com toda a intensidade porque, ao fazer isso, sugerir melhorias, estarão melhorando o Brasil”.

Augustin disse que o governo considera importante o financiamento de longo prazo e ressaltou que os números atua-is desse segmento são decorrentes do setor público. “Achamos que há um papel muito grande do setor privado em investi-mento de longo prazo no Brasil e precisamos trabalhar nisso. Precisamos criar os instrumentos. De alguma forma, já come-

çamos a criar alguns, como as debêntures, mas há um trabalho, uma cultura a ser criada. O Brasil está saindo do vício da taxa de juros de curto prazo muito alta e construindo uma nova cul-tura e o Sistema Nacional de Fomento é fundamental”. O secretário do Tesouro Nacional acredita que, para criar essa cul-tura, é preciso inserir novos instrumentos, de instituições públicas e privadas, os quais permitam o financiamento de lon-go prazo inserido no contexto que o Brasil necessita.

América Latina – O secretário-geral da Asociación Latinoa-mericana de Instituiciones Financieras para el Desarrollo (Ali-de), Rommel Acevedo, presente ao evento, cumprimentou o presidente da ABDE por lançar uma carta que visa a fortale-cer o Sistema Nacional de Fomento como peça fundamental para o desenvolvimento do país.

Acevedo contou um pouco da história do financiamento do desenvolvimento na América Latina e disse que, ao longo dos anos, e considerando a configuração política de cada país, foi criada uma variedade imensa de entidades e de mecanis-mos, como bancos, ações, institutos de fomento e de finan-ciamento e programas, com suas particularidades de desen-volvimento.

“Como exemplo, vimos as características federal, esta-dual, municipal, cooperativa, agências federais etc. que o Bra-sil tem. Na Argentina, temos, por sua configuração política, instituições financeiras de desenvolvimento de nível nacio-nal, provincial e, entre elas, há o centralismo. Há ainda bancos metropolitanos de desenvolvimento nas principais capitais das províncias”, disse.

Acevedo destacou o papel dos participantes dessas insti-tuições na condição de intermediário financeiro, no sentido estrito, em virtude das operações simultâneas de fomento e operatória de bancos comerciais. Ele lembrou que no passa-do essas instituições eram consideradas entidades que não mobilizavam recursos financeiros. “Era uma característica predominante no passado que, no meu entender, não deixou nada de positivo e as reformas financeiras ocorridas em nos-sos países acentuaram o caráter bancário dessas instituições financeiras de desenvolvimento”.

R REPORTAGEM MARCO HISTÓRICO

umos – Qual o montante de recursos já investi-dos pelo BID no Brasil nas parcerias com insti-tuições financeiras de desenvolvimento?

Maria Netto – Há uma tradição de trabalho no Brasil de mais de 50 anos com instituições financeiras. Somente no caso do BNDES, durante um período de 10 anos foram investidos US$ 1 milhão por ano. Houve duas operações gran-des com o Banco do Nordeste (BNB). Neste ano, na última operação com o BNB, foram aprovados US$ 200 milhões. Atualmente, estamos negociando com duas ou três agências de fomento e a possibilidade de financiamento gira em torno de US$ 50 a 200 milhões, dependendo da instituição.

A divisão de mercado de capital do BID trabalha basica-mente com instituições financeiras públicas, ou seja, nosso cli-ente são as instituições financeiras públicas tanto no Brasil como na América Latina. O tipo de produto ou atividades que realizamos com as agências varia muito da necessidade específica do lugar e do mandato que o banco tem, ou seja, que o intermediário financeiro tem.

Rumos – Como são desenhados os projetos ou progra-mas? Existe a possibilidade de replicar as iniciativas?Netto – Tem possibilidades de replicar, mas dentro de um contexto específico. Nossa metodologia de ação é olhar, por exemplo no caso do Nordeste, para a importância das cadei-as produtivas, como a cerâmica e gesso, que são dois setores importantes lá, visto que 95% do gesso brasileiro é produzi-do no Nordeste. Isso tem importância para a economia local. Todavia, são várias pequenas e médias empresas que traba-

lham nesta área e fazem parte da cadeia. Ou seja, por um lado, tem-se de ajudar não somente o produtor da cerâmica, por exemplo, ou o produtor do gesso a melhorar o seu pro-cesso produtivo, mas tem de assegurar que alguém vá com-prar esse produto melhorado, que o preço do produto vai ser melhorado. Nesse sentido, estamos tentando ver como será possível ajudá-los a se estruturar, qual o mecanismo financei-ro que pode dar o aval, ajudar para que ele possa tomar um empréstimo. O interessante é isso: o produtor vai tomar um empréstimo para mudar o forno dele, mas ao mesmo tempo ele vai usar menos biomassa, vai comprar biomassa certifica-da e o resultado será menos desmatamento da caatinga; e o produto dele também será certificado para que seja uma mer-cadoria com mais reconhecimento de compradores.

Em Minas Gerais, temos o exemplo da indústria auto-mobilística. Lá há um caso interessante que são as siderúrgi-cas que também usam muito a biomassa e têm uma cadeia de produção. As cadeias e a atuação de cada estado são diferen-tes, mas o interessante é que as instituições financeiras de desenvolvimento podem interagir, podem aprender muito uma com a outra e, de fato, muitas dessas trocas e ações podem ser replicadas.

Parceria BID e Sistema Nacional de Fomento

Entrevista com Maria Netto (foto), especialista

Líder em Mercados Financeiros do BID.

Rommel Acevedo, da Alide, falou sobre as instituiçõesfinanceiras de desenvolvimento da América Latina.

O secretário do Tesouro, Arno Augustin, destacou a importância das IFDs.

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RUMOS - 41– Maio/Junho 2013 RUMOS - 40 – Maio/Junho 2013

Esta carta tem como objetivo apresentar ao gover-no, em âmbito federal e estadual, uma agenda que con-temple o aprimoramento de processos e de normas que afetam diretamente o desempenho do Sistema Nacional de Fomento (SNF) e promova o desenvolvi-mento, em todas as suas esferas – econômica, social e ambiental.

O SNF agrega bancos públicos federais, bancos de desenvolvimento controlados por estados da federa-ção, bancos cooperativos, bancos públicos comerciais estaduais com carteira de desenvolvimento, agências de fomento e o Sebrae – instituições cuja finalidade consiste no fomento ao desenvolvimento.

Este documento resulta de um longo processo que envolveu todas as Instituições Financeiras de Desen-volvimento (IFDs) associadas à ABDE. Iniciado em 2009, por meio do Plano de Ação, foi aprofundado, posteriormente, pelo Plano de Comunicação e pelo Planejamento Estratégico da Associação.

Iniciativas vinculadas ao projeto de Fortalecimen-to do Sistema Nacional de Fomento, o “Curso Desen-volvimento Econômico e o Sistema Nacional de Fomento” e os dois workshops realizados em 2012 mobilizaram uma centena de pessoas, entre técnicos, executivos e especialistas do sistema financeiro em prol da construção da versão preliminar das propostas ora apresentadas. Por fim, comprometida com o obje-tivo de refinar ainda mais o conteúdo deste importan-te documento, a Associação encerrou sua confecção por meio da realização de uma série de reuniões exe-cutivas.

O diagnóstico da ABDE identificou a necessidade de mudanças em seis eixos principais para que o SNF seja fortalecido, ampliando sua eficiência e sua efetivi-dade: 1) mobilização das IFDs para uma política nacio-nal de desenvolvimento; 2) articulação e interlocução; 3) funding; 4) adequação do marco regulatório; 5) aper-feiçoamento do sistema de garantias; e 6) tributação.

Consolidação do Sistema Nacional de Fomento Uma Agenda de Trabalho

Para que a atuação do SNF atenda às necessidades do desenvolvimento em âmbitos nacional, regional e local, é fundamental o fortalecimento das IFDs. Essas

instituições devem participar, como promotoras do desenvolvimento, de todas as fases dos projetos, espe-cialmente as de identificação de oportunidades. É pre-ciso que as diversas esferas de governo se engajem nes-se movimento e se empenhem em conferir às IFDs o caráter e as dimensões necessárias ao cumprimento adequado de suas funções.

A mobilização de instituições de fomento local é de suma importância para que se possa construir uma estratégia abrangente e, ao mesmo tempo, espraiada, de desenvolvimento econômico.

Entendemos que a eventual implementação das propostas relacionadas abaixo demandam um diálogo permanente e efetivo entre o SNF e as diversas esferas e órgãos de governo. A análise de sua viabilidade será objeto de estudo de fóruns e grupos de discussão, res-ponsáveis pelo detalhamento técnico dessas ações.

1. Mobilização das IFDs para uma Política Nacional de Desenvolvimento

A proposta de consolidação do Sistema Nacional de Fomento deve ter como norte uma política de desenvolvimento que ofereça os vetores a serem per-seguidos pelo Governo Federal, como também con-temple seus distintos rebatimentos nas regiões especí-ficas do país.

É preciso construir e estabelecer definições claras para a integração entre políticas de caráter regional e nacional. Tal objetivo só pode ser alcançado com a convergência entre as políticas em níveis macro e microeconômico, para que, apesar da disparidade das estruturas regionais, sejam mais eficientes e reforcem as estratégias de caráter nacional.

2. Articulação e interlocução

É importante que as instituições que compõem o SNF atuem de forma coordenada, segundo os objeti-vos traçados no contexto de uma estratégia de desen-volvimento nacional e em sintonia com as políticas de nível estadual. Disso decorre, por exemplo, a impor-tância da inclusão das IFDs subnacionais como parcei-ras não só do sistema de financiamento à inovação, mas também das entidades voltadas para a promoção da inovação.

3. Funding

O funding é um dos aspectos centrais para o sucesso de uma proposta de fomento de atividades relaciona-das ao desenvolvimento nacional de forma sustentada e, mais especificamente, à redução das desigualdades regionais e estruturais.

É necessário garantir fontes de recursos compatí-veis com tais aspirações e definir uma articulação insti-tucional que permita a sua aplicação de maneira efici-ente e descentralizada, do ponto de vista econômico, social e ambiental. Entende-se como aplicação efici-ente um processo criterioso e articulado às políticas de desenvolvimento brasileiras em que haja uma integra-ção entre aplicador e provedor original do funding. Diante dessa perspectiva, são temas relevantes para avaliação:

3.1. Alternativas de capitalização (exemplo: linhas de crédito para os estados, visando exclusivamente à capitalização das IFDs estaduais e regionais, com taxas de juros diferenciadas) e de funding adequadas às necessidades do desenvolvimento;

3.2. Critérios diferenciados para a concessão de limites de crédito para agências de fomento, bancos de desenvolvimento subnacionais, bancos comerciais com carteira de desenvolvimento e bancos cooperati-vos;

3.3. Acesso das agências de fomento, dos bancos de desenvolvimento e dos bancos públicos com carteira de desenvolvimento aos Fundos Constitucionais e de Desenvolvimento Regional;

3.4. Bônus de Adimplência para a capitalização das IFDs, destinando-se uma parcela dos juros da dívida pública estadual paga ao Governo Federal para a capi-talização de agências de fomento, bancos de desenvol-vimento e bancos públicos que possuam carteira de desenvolvimento;

3.5. Política de retenção, parcial ou integral, confor-me o caso, dos resultados – dividendos ou juros sobre capital – para que as IFDs tenham maior capacidade de geração de recursos para operações de crédito; e

3.6. Acesso das IFDs subnacionais aos recursos já existentes, que permitam financiamento adequado à inovação.

4. Adequação do marco regulatório

Em linha com os princípios internacionais, a supervisão bancária deve desenvolver e manter uma avaliação prospectiva do perfil de risco dos bancos e dos grupos bancários, proporcional à sua importância sistêmica. Nesse sentido, merecem atenção os seguin-tes temas:

4.1. Interlocução permanente entre o regulador e a ABDE a fim de avaliar propostas de revisão do marco regulatório a que estão submetidas essas IFDs, reco-nhecendo-se a sua natureza diferenciada e conside-rando-se os diferentes portes perante as demais insti-tuições do sistema financeiro nacional;

4.2. Criação de um fórum de discussão visando à readequação das exigências de auditorias (interna e externa, Banco Central, Procuradoria do Estado ou da União, Tribunal de Contas do Estado ou da União) às IFDs, a fim de possibilitar a assunção de posturas menos conservadoras de risco e de dar celeridade à análise de crédito;

4.3. Racionalização dos procedimentos de fiscali-zação com o intuito de eliminar sobreposições de exi-gências formais que acarretam elevados custos e inefi-ciência às IFDs;

4.4. Criação de grupos de discussão entre os asso-ciados da ABDE a fim de debater possibilidades de revi-são de exigências burocráticas envolvidas no processo de concessão de crédito, tais como garantias, de modo a conferir ao referido processo maior agilidade, manten-do-se o compromisso com os padrões de qualidade; e

4.5. Aprimoramento das exigências legais envolvi-das no processo de concessão de crédito.

5. Garantias

É preciso reconhecer que as exigências de garantias

CARTA

2013

Por que uma Carta ABDE?

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RUMOS - 41– Maio/Junho 2013 RUMOS - 40 – Maio/Junho 2013

Esta carta tem como objetivo apresentar ao gover-no, em âmbito federal e estadual, uma agenda que con-temple o aprimoramento de processos e de normas que afetam diretamente o desempenho do Sistema Nacional de Fomento (SNF) e promova o desenvolvi-mento, em todas as suas esferas – econômica, social e ambiental.

O SNF agrega bancos públicos federais, bancos de desenvolvimento controlados por estados da federa-ção, bancos cooperativos, bancos públicos comerciais estaduais com carteira de desenvolvimento, agências de fomento e o Sebrae – instituições cuja finalidade consiste no fomento ao desenvolvimento.

Este documento resulta de um longo processo que envolveu todas as Instituições Financeiras de Desen-volvimento (IFDs) associadas à ABDE. Iniciado em 2009, por meio do Plano de Ação, foi aprofundado, posteriormente, pelo Plano de Comunicação e pelo Planejamento Estratégico da Associação.

Iniciativas vinculadas ao projeto de Fortalecimen-to do Sistema Nacional de Fomento, o “Curso Desen-volvimento Econômico e o Sistema Nacional de Fomento” e os dois workshops realizados em 2012 mobilizaram uma centena de pessoas, entre técnicos, executivos e especialistas do sistema financeiro em prol da construção da versão preliminar das propostas ora apresentadas. Por fim, comprometida com o obje-tivo de refinar ainda mais o conteúdo deste importan-te documento, a Associação encerrou sua confecção por meio da realização de uma série de reuniões exe-cutivas.

O diagnóstico da ABDE identificou a necessidade de mudanças em seis eixos principais para que o SNF seja fortalecido, ampliando sua eficiência e sua efetivi-dade: 1) mobilização das IFDs para uma política nacio-nal de desenvolvimento; 2) articulação e interlocução; 3) funding; 4) adequação do marco regulatório; 5) aper-feiçoamento do sistema de garantias; e 6) tributação.

Consolidação do Sistema Nacional de Fomento Uma Agenda de Trabalho

Para que a atuação do SNF atenda às necessidades do desenvolvimento em âmbitos nacional, regional e local, é fundamental o fortalecimento das IFDs. Essas

instituições devem participar, como promotoras do desenvolvimento, de todas as fases dos projetos, espe-cialmente as de identificação de oportunidades. É pre-ciso que as diversas esferas de governo se engajem nes-se movimento e se empenhem em conferir às IFDs o caráter e as dimensões necessárias ao cumprimento adequado de suas funções.

A mobilização de instituições de fomento local é de suma importância para que se possa construir uma estratégia abrangente e, ao mesmo tempo, espraiada, de desenvolvimento econômico.

Entendemos que a eventual implementação das propostas relacionadas abaixo demandam um diálogo permanente e efetivo entre o SNF e as diversas esferas e órgãos de governo. A análise de sua viabilidade será objeto de estudo de fóruns e grupos de discussão, res-ponsáveis pelo detalhamento técnico dessas ações.

1. Mobilização das IFDs para uma Política Nacional de Desenvolvimento

A proposta de consolidação do Sistema Nacional de Fomento deve ter como norte uma política de desenvolvimento que ofereça os vetores a serem per-seguidos pelo Governo Federal, como também con-temple seus distintos rebatimentos nas regiões especí-ficas do país.

É preciso construir e estabelecer definições claras para a integração entre políticas de caráter regional e nacional. Tal objetivo só pode ser alcançado com a convergência entre as políticas em níveis macro e microeconômico, para que, apesar da disparidade das estruturas regionais, sejam mais eficientes e reforcem as estratégias de caráter nacional.

2. Articulação e interlocução

É importante que as instituições que compõem o SNF atuem de forma coordenada, segundo os objeti-vos traçados no contexto de uma estratégia de desen-volvimento nacional e em sintonia com as políticas de nível estadual. Disso decorre, por exemplo, a impor-tância da inclusão das IFDs subnacionais como parcei-ras não só do sistema de financiamento à inovação, mas também das entidades voltadas para a promoção da inovação.

3. Funding

O funding é um dos aspectos centrais para o sucesso de uma proposta de fomento de atividades relaciona-das ao desenvolvimento nacional de forma sustentada e, mais especificamente, à redução das desigualdades regionais e estruturais.

É necessário garantir fontes de recursos compatí-veis com tais aspirações e definir uma articulação insti-tucional que permita a sua aplicação de maneira efici-ente e descentralizada, do ponto de vista econômico, social e ambiental. Entende-se como aplicação efici-ente um processo criterioso e articulado às políticas de desenvolvimento brasileiras em que haja uma integra-ção entre aplicador e provedor original do funding. Diante dessa perspectiva, são temas relevantes para avaliação:

3.1. Alternativas de capitalização (exemplo: linhas de crédito para os estados, visando exclusivamente à capitalização das IFDs estaduais e regionais, com taxas de juros diferenciadas) e de funding adequadas às necessidades do desenvolvimento;

3.2. Critérios diferenciados para a concessão de limites de crédito para agências de fomento, bancos de desenvolvimento subnacionais, bancos comerciais com carteira de desenvolvimento e bancos cooperati-vos;

3.3. Acesso das agências de fomento, dos bancos de desenvolvimento e dos bancos públicos com carteira de desenvolvimento aos Fundos Constitucionais e de Desenvolvimento Regional;

3.4. Bônus de Adimplência para a capitalização das IFDs, destinando-se uma parcela dos juros da dívida pública estadual paga ao Governo Federal para a capi-talização de agências de fomento, bancos de desenvol-vimento e bancos públicos que possuam carteira de desenvolvimento;

3.5. Política de retenção, parcial ou integral, confor-me o caso, dos resultados – dividendos ou juros sobre capital – para que as IFDs tenham maior capacidade de geração de recursos para operações de crédito; e

3.6. Acesso das IFDs subnacionais aos recursos já existentes, que permitam financiamento adequado à inovação.

4. Adequação do marco regulatório

Em linha com os princípios internacionais, a supervisão bancária deve desenvolver e manter uma avaliação prospectiva do perfil de risco dos bancos e dos grupos bancários, proporcional à sua importância sistêmica. Nesse sentido, merecem atenção os seguin-tes temas:

4.1. Interlocução permanente entre o regulador e a ABDE a fim de avaliar propostas de revisão do marco regulatório a que estão submetidas essas IFDs, reco-nhecendo-se a sua natureza diferenciada e conside-rando-se os diferentes portes perante as demais insti-tuições do sistema financeiro nacional;

4.2. Criação de um fórum de discussão visando à readequação das exigências de auditorias (interna e externa, Banco Central, Procuradoria do Estado ou da União, Tribunal de Contas do Estado ou da União) às IFDs, a fim de possibilitar a assunção de posturas menos conservadoras de risco e de dar celeridade à análise de crédito;

4.3. Racionalização dos procedimentos de fiscali-zação com o intuito de eliminar sobreposições de exi-gências formais que acarretam elevados custos e inefi-ciência às IFDs;

4.4. Criação de grupos de discussão entre os asso-ciados da ABDE a fim de debater possibilidades de revi-são de exigências burocráticas envolvidas no processo de concessão de crédito, tais como garantias, de modo a conferir ao referido processo maior agilidade, manten-do-se o compromisso com os padrões de qualidade; e

4.5. Aprimoramento das exigências legais envolvi-das no processo de concessão de crédito.

5. Garantias

É preciso reconhecer que as exigências de garantias

CARTA

2013

Por que uma Carta ABDE?

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RUMOS - 42 – Maio/Junho 2013

reais constituem um forte limitador para a aprovação de muitas operações de crédito. São tópicos relevantes:

5.1. Aperfeiçoamento do aparato legal dos sistemas de garantias, considerando-se as particularidades do financiamento às micro e pequenas empresas e à ino-vação; e

5.2. Facilitação de acesso das IFDs a sistemas e fun-dos garantidores de crédito.

6. Tributação

A atividade de fomento seria mais efetiva se contas-se com um tratamento tributário diferenciado, que for-talecesse o seu potencial de gerar externalidades para a economia. O KfW, uma IFD alemã, e o Banco Intera-mericano de Desenvolvimento, por exemplo, possu-em tratamento fiscal diferenciado. Nesse sentido, os temas relevantes para análise são:

6.1. Viabilidade de tratamento diferenciado quanto à tributação das agências de fomento e dos bancos de desenvolvimento, em função de seu papel social; e

6.2. Concessão de incentivos fiscais às atividades relacionadas ao fomento.

Fortalecimento Técnico das IFDs e o Papel da ABDE

Em paralelo aos aprimoramentos listados nesta Carta, a ABDE – cujo papel histórico tem sido pro-mover a articulação entre os participantes do SNF e a interlocução entre estes e os diferentes níveis de governo – assume o compromisso de aperfeiçoar a capacitação técnica de seus associados. A intensifica-ção da formação e do desenvolvimento do corpo téc-nico das IFDs constitui prioridade para a direção da ABDE.

Essa forma de atuação da Associação será reforça-da pela adoção do Programa de Intercâmbio e Boas Práticas e pela promoção de fóruns técnicos para dis-cussão entre seus associados, permitindo a identifica-

ção de problemas comuns, bem como a busca de solu-ções adequadas. Tal iniciativa é de grande importância para as instituições de menor porte, nas quais existe uma carência de suporte técnico para a implantação de uma estrutura de gestão.

Nesse sentido, a ABDE também tem um impor-tante papel a cumprir, estimulando as boas práticas de gestão entre os seus associados, notadamente na parti-cipação do Programa de Qualidade do Governo Fede-ral e no lançamento da Cartilha de Governança.

Seus associados também se comprometem a apri-morar as estratégias e as práticas de governança que os tornem agentes ativos e efetivos para o desenvolvi-mento nacional, tais como: mapear atores e ferramen-tas; desempenhar um papel proativo na geração de novos projetos que favoreçam o desenvolvimento; e racionalizar as exigências de documentação, paralela-mente à revisão das exigências burocráticas legais envolvidas na liberação de crédito.

Priorizar o Desenvolvimento

As propostas aqui contidas retomam uma tradição e uma prática que, durante quase meio século, caracte-rizaram a trajetória da economia brasileira, sendo res-ponsável pela extraordinária modernização da sua estrutura econômica e social. Esse avanço não seria possível sem a participação efetiva e articulada de um sistema composto por bancos públicos de desenvolvi-mento, em níveis nacional, regional e estadual.

Para que se retome tal papel de relevância, deve haver a disseminação da importância de políticas públicas eficientes na promoção do desenvolvimento sustentável do país. Além disso, é necessária a consci-entização pública de que esse processo não é possível sem a articulação das IFDs na forma do Sistema Naci-onal de Fomento, empenhado em executar as políticas traçadas pelos governos estaduais e federal.

Só o reconhecimento, por parte da sociedade, do valor de tais projetos e dos agentes capazes de imple-mentá-los poderá dar a estes um respaldo sociopolíti-co que torne a questão do desenvolvimento priorida-de permanente da agenda pública nacional.

CARTA

2013

Page 43: Edição 269

ABDE

Agência de Fomento do Estado do Amapá S/A – AFAPPresidente: Sávio Pereswww.afap.ap.gov.br

Agência de Fomento do Estado do Amazonas S/A – AFEAMPresidente: Pedro Geraldo Raimundo Falabellawww.afeam.am.gov.br

Agência de Fomento do Estado de Roraima S/A – AFERRPresidente: Raimundo Nonato MotaFilhowww.aferr.rr.gov.br

Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S/A – AGEFEPEPresidente: Agnaldo Nunes de Souzawww.agefepe.pe.gov.br

Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S/A – AGNPresidente: João Augusto da Cunha Melowww.agnrn.com.br

Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S/A – BADESCPresidente: João Paulo Kleinubingwww.badesc.gov.br

Badesul Desenvolvimento S/A – Agência de Fomento RS – BADESULPresidente: Marcelo de Carvalho Lopes www.badesul.com.br

Banco da Amazônia S/A – BANCO DA AMAZÔNIAPresidente: Valmir Pedro Rossiwww.bancoamazonia.com.br

Banco Cooperativo do Brasil S/A – BANCOOBPresidente: Marco Aurélio B. de Almada Abreuwww.bancoob.com.br

Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S/A – BANDESPresidente: João Guerino Balestrassiwww.bandes.com.br

Banco do Estado do Pará S/A – BANPARÁPresidente: Augusto Sergio Amorim Costawww.banparanet.com.br

Banco do Estado do Rio Grande do Sul S/A – BANRISULPresidente: Túlio Luiz Zaminwww.banrisul.com.br

Banco do Brasil S/A – BBPresidente: Aldemir Bendinewww.bb.com.br

Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S/A – BDMGPresidente: Matteus Cotta de Carvalhowww.bdmg.mg.gov.br

Banco do Nordeste S/A – BNBPresidente: Ary Joel de Abreu Lanzarinwww.bnb.gov.br

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDESPresidente: Luciano Coutinhowww.bndes.gov.br

Banco de Brasília – BRBPresidente: Paulo Roberto Evangelista de Limawww.brb.com.br

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul – BRDEPresidente: Carlos Henrique Hornwww.brde.com.br

Caixa Econômica Federal – CAIXAPresidente: Jorge Fontes Heredawww.caixa.gov.br

Agência de Fomento do Estado da Bahia S/A – DESENBAHIAPresidente: Aristóteles Alves de M. Júniorwww.desenbahia.ba.gov.br

Agência de Fomento de Alagoas S/A – DESENVOLVEPresidente: Antonio Carlos Quintilianowww.desenvolve-al.com.br

Agência de Desenvolvimento Paulista – DESENVOLVE SP Presidente: Milton Luiz de Melo Santoswww.desenvolvesp.com.br

Agência de Fomento do Paraná S/A –FOMENTO PARANÁPresidente: Juraci Barbosa Sobrinhowww.afpr.pr.gov.br

Financiadora de Estudos e Projetos – FINEPPresidente: Glauco Arbixwww.finep.gov.br

Agência de Fomento de Goiás S/A – GOIÁSFOMENTOPresidente: Luiz Antônio Faustino Maroneziwww.fomento.goias.com.br

Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro S/A – AGERIOPresidente: José Domingos Vargaswww.agerio.com.br

Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S/A – MT FOMENTOPresidente: Mário Milton Verlangieri Ferreira Mendeswww.mtfomento.mt.gov.br

Agência de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S/A – PIAUÍ FOMENTOPresidente: Antonio Rodrigues de Sousa Netowww.fomento.pi.gov.br

Agência de Fomento do Estado do Tocantins S/APresidente: Rodrigo Alexandre Gomeswww.fomento.to.gov.br

Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas – SEBRAEPresidente: Luiz Eduardo Barretto Filho www.sebrae.com.br

SISTEMA NACIONAL DE FOMENTO

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RUMOS - 45 – Maio/Junho 2013

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) recebe credenciamento como primeira instituição de fomento a operar o Programa Inovacred e reforça cultura catarinense de apoio à inovação

RUMOS - 44– Maio/Junho 2013

Estímulo àsboas ideias

INOVAÇÃO

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Por Solange Bagdadi

Na sede da empresa: Everton Gubert, da Agriness, o gerente de Operações do BRDE, Marcone Souza Melo, Cristina Bittencourt, da empresa de inovação e o gerente de Planejamento do banco,Rogério Penetra.

Afo

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om um velho computador e muitas ideias na cabeça, jovens empreendedores, colegas do curso de Ciências da Compu-tação da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC), batalharam por 11 anos na incubadora da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi) para criar a Agriness. A empresa de tecnologia da informação é especializada em gestão e automação do agronegócio no setor de suino-cultura. Para expandir ainda mais o negócio, os sócios Elton João Gubert, Cristina Gonçalves Bittencourt, Everton Gubert e Junior Salvador buscaram o apoio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e se mudaram, no início de 2013, para instalações novas, financiadas pela instituição bancária.

De acordo com o gerente de Operações do banco, Marcone Souza Melo, o BRDE pas-sa a atuar para financiar também a inovação, além do tipo de fomento tradicional. Como foi com o caso da Agriness. Isso passa a ser possível porque, em junho, o banco recebeu o Termo de Credenciamento nº 07.13.0001.00, como a primeira instituição de fomento no Brasil a operar o Programa Inovacred para incentivo a projetos de inovação, da Agência Brasileira de Inovação (Finep). Desta forma, os empresários catarinenses com projetos enquadrados no programa podem se candidatar em seu próprio estado, sem precisar ir até a Finep, no Rio de Janeiro.

“Com o Inovacred, o BRDE poderá atender nas duas pon-tas: pelo financiamento tradicional do banco, para construção, reformas e/ou adaptações das sedes das empresas, maquinário

e infraestrutura, e também financiar o desen-volvimento de produtos e processos inovado-res. Com estes empréstimos o empresário não imobiliza seu capital de giro e tem condições de crescer com mais rapidez e de forma equilibra-da”, esclareceu o gerente de Operações. “O fato de o BRDE ter se tornado o primeiro agen-te do Inovacred é muito importante para Santa Catarina”, ressalta Souza Melo.

Para o gerente, o estado tem vocação para a área de inovação. Em todas as regiões existem empresas dos mais diversos portes e atividades que constantemente investem em ideias dife-rentes. “Agora, poderemos ampliar uma das nossas principais missões institucionais que é promover o desenvolvimento de forma susten-tável da região Sul do Brasil”, destacou.

Renato Vianna, diretor de Planejamento da instituição financeira de fomento, acredita que é pela inovação tecnológica que se qualificam a produção, serviços e processos, além da mão de obra, cujo objetivo é agregar valor, aumentar

a competitividade das empresas e da região para geração de ren-da para a população. Segundo ele, o planejamento público e o apoio dos bancos de fomento sabem da necessidade da econo-mia em buscar na inovação a capacidade de competir nos mer-cados e manter o crescimento. “Em Santa Catarina, temos uma tradição com ambientes de promoção da inovação, com desta-que das regiões de Joinville, Blumenau e Florianópolis. O governador Raimundo Colombo lançou o programa de implantação de dez centros de inovação no estado, com investi-mento de R$ 60 milhões. A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado (Fapesc) é muito atuante, até pela forma de subvenção. Também a Fundação Certi que transforma ideias

dos acadêmicos em negócio”, exemplificou o diretor de Planejamento.

Foi por intermédio da incu-badora da Fundação Certi que os ex-estudantes da Agriness se desenvolveram e prosperaram. De acordo com Renato Vianna, mesmo diante da complexidade em financiar projetos que se fun-damentem em uma ideia, o BRDE tem apoiado essas inici-ativas. “No caso da Agriness, financiamos o salto da empresa, de um pequeno espaço de uma incubadora para a cobertura de um prédio moderno onde as próprias instalações inspiram a equipe, altamente criativa, no desenvolvimento de inovação. Os cérebros que reúnem são patrimônio deles”, ressaltou.

Para as novas instalações, financiadas pelo BRDE, os execu-tivos da Agriness levaram uma carteira de 1.600 clientes, entre produtores e indústrias, que representam 75% do mercado no Brasil, além de países da América Latina e Europa. A projeção de faturamento anual é superior a R$ 5 milhões. O banco finan-ciou a realocação da empresa nas salas especialmente projetadas para receber a empresa de tecnologia, num investimento de R$ 1 milhão para obras civis, instalações e aquisição de móveis e equipamentos.

Ideias em ação Credenciado para operar o Inovacred, o – BRDE agora se prepara para financiar a atividade-fim da Agriness, que é inovar no gerenciamento de sistemas e de equi-pamentos para a produção de alimentos, fato que se torna ainda mais importante no momento em que o mercado japonês, muito exigente, anunciou que volta a importar carne suína de Santa Catarina. “É uma porta que se abre e que facilitará a exportação também para outros mercados, como os do Oriente, dos EUA e da Europa. Santa Catarina tem esta qualificação preciosa de ser reconhecido mundialmente como o único estado brasileiro de produção animal livre de febre aftosa sem vacinação”, informou o diretor Renato Vianna, destacando que o financiamento pelo Inovacred aos processos de inovação são essenciais para o cresci-mento da produção.

O gerente de Operações Marcone de Souza Melo explica que o grande diferencial do BRDE como credenciado do Inovacred é que será possível operar de maneira indireta, ou seja, o BRDE poderá analisar o crédito, o que trará agilidade e mais facilidade na liberação do financiamento para as micro, pequenas e médias empresas. Anteriormente, os empresários enviavam todos os projetos para serem analisados diretamente pela Finep – o que gerava custos adicionais e maior prazo.

A linha de crédito permitirá financiar itens que tradicional-mente são difíceis de se enquadrar em outros programas de financiamento, tais como: equipamentos e instrumentos importados, matérias-primas e material de consumo, compra de tecnologia, assistência técnica e serviços de consultoria, obras civis diretamente associadas ao projeto, patenteamento e licenciamento, compra de participação no capital de empresas inovadoras, aluguel de material promocional relativo a projetos de inovação, diárias e passagens no país e no exterior, serviços

de consultoria em engenha-ria, acesso a banco de dados, treinamentos em cursos e estágios ligados a projetos de inovação no país e no exterior, softwares customi-zados (concepção e desen-volvimento) e produção e instalações fabris e ferra-mentas associadas ao desenvolvimento tecnológi-co, entre outros.

Outro diferencial da linha Inovacred são os encargos financeiros, equivalentes apenas à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que atualmente está em 5% ao ano. Os prazos também são condizentes com o retorno da grande maioria dos projetos de investimento em inovação. A carência deverá cor-responder ao prazo de execução do projeto, respeitado o limite de 24 meses. O pagamento do financiamento é de até 96 meses, com carência de até 24 meses. A análise de cada projeto indicará as condições de prazos de carência e de amortização adequadas à geração de caixa e à capacidade de pagamento da empresa, respeitado o limite anteriormente referido.

Renato Vianna, diretor de Planejamento, destaca que o esta-do de Santa Catarina está fazendo a sua parte no incentivo a projetos inovadores com a estruturação de programas que beneficiam o progresso do setor. Ao mesmo tempo, atrai investimentos estratégicos como os da indústria aeronáutica e da automobilística. Exemplo é a BMW, que montará seus auto-móveis de tecnologia de ponta no estado, no próximo ano. Os alemães firmaram com o BRDE o maior contrato de financia-mento dos 52 anos do banco, da ordem de R$ 240 milhões, para as obras de instalação da indústria, em Araquari, no norte catarinense. “Nesse sentido, serão abertas inúmeras oportuni-dades para fornecedores, desde que sejam inovadores e com-petitivos. As universidades também perceberam o momento profícuo e já estão integradas para colocar seus cursos em sin-tonia com as chances profissionais que surgem com os novos segmentos tecnológicos”, avisou Vianna. Tradicionalmente, o BRDE vem apoiando tais iniciativas, como a Certi e o polo de inovação do Sapiens Park, projeto que vai produzir importan-tes resultados, reunindo, em Florianópolis, universidades, ini-ciativa privada e poder púbico num ambiente integrado e favo-rável ao desenvolvimento das ideias.

Os executivos do banco fazem questão de ressaltar que há oportunidades de crédito para todas as empresas que são essencialmente inovadoras. “Para se ter uma dimensão do potencial desta atividade, é importante dizer que esta área já recolhe em tributos valor equivalente à área de turismo na região da grande Florianópolis – segmento da economia em que nosso estado é destaque. Estamos também em contato direto com as instituições que representam estas empresas, divulgando o Inovacred e tirando dúvidas sobre as condições de financiamento e de sua operacionalização. As empresas interessadas podem procurar o BRDE, que as orientará sobre como deverão ser encaminhados os pedidos de recur-sos conforme o tipo de financiamento pretendido”, indicou Souza Melo.

Renato Vianna, diretor de Planejamento do BRDE.

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RUMOS - 45 – Maio/Junho 2013

Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) recebe credenciamento como primeira instituição de fomento a operar o Programa Inovacred e reforça cultura catarinense de apoio à inovação

RUMOS - 44– Maio/Junho 2013

Estímulo àsboas ideias

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Por Solange Bagdadi

Na sede da empresa: Everton Gubert, da Agriness, o gerente de Operações do BRDE, Marcone Souza Melo, Cristina Bittencourt, da empresa de inovação e o gerente de Planejamento do banco,Rogério Penetra.

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om um velho computador e muitas ideias na cabeça, jovens empreendedores, colegas do curso de Ciências da Compu-tação da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC), batalharam por 11 anos na incubadora da Fundação Centros de Referência em Tecnologias Inovadoras (Certi) para criar a Agriness. A empresa de tecnologia da informação é especializada em gestão e automação do agronegócio no setor de suino-cultura. Para expandir ainda mais o negócio, os sócios Elton João Gubert, Cristina Gonçalves Bittencourt, Everton Gubert e Junior Salvador buscaram o apoio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE) e se mudaram, no início de 2013, para instalações novas, financiadas pela instituição bancária.

De acordo com o gerente de Operações do banco, Marcone Souza Melo, o BRDE pas-sa a atuar para financiar também a inovação, além do tipo de fomento tradicional. Como foi com o caso da Agriness. Isso passa a ser possível porque, em junho, o banco recebeu o Termo de Credenciamento nº 07.13.0001.00, como a primeira instituição de fomento no Brasil a operar o Programa Inovacred para incentivo a projetos de inovação, da Agência Brasileira de Inovação (Finep). Desta forma, os empresários catarinenses com projetos enquadrados no programa podem se candidatar em seu próprio estado, sem precisar ir até a Finep, no Rio de Janeiro.

“Com o Inovacred, o BRDE poderá atender nas duas pon-tas: pelo financiamento tradicional do banco, para construção, reformas e/ou adaptações das sedes das empresas, maquinário

e infraestrutura, e também financiar o desen-volvimento de produtos e processos inovado-res. Com estes empréstimos o empresário não imobiliza seu capital de giro e tem condições de crescer com mais rapidez e de forma equilibra-da”, esclareceu o gerente de Operações. “O fato de o BRDE ter se tornado o primeiro agen-te do Inovacred é muito importante para Santa Catarina”, ressalta Souza Melo.

Para o gerente, o estado tem vocação para a área de inovação. Em todas as regiões existem empresas dos mais diversos portes e atividades que constantemente investem em ideias dife-rentes. “Agora, poderemos ampliar uma das nossas principais missões institucionais que é promover o desenvolvimento de forma susten-tável da região Sul do Brasil”, destacou.

Renato Vianna, diretor de Planejamento da instituição financeira de fomento, acredita que é pela inovação tecnológica que se qualificam a produção, serviços e processos, além da mão de obra, cujo objetivo é agregar valor, aumentar

a competitividade das empresas e da região para geração de ren-da para a população. Segundo ele, o planejamento público e o apoio dos bancos de fomento sabem da necessidade da econo-mia em buscar na inovação a capacidade de competir nos mer-cados e manter o crescimento. “Em Santa Catarina, temos uma tradição com ambientes de promoção da inovação, com desta-que das regiões de Joinville, Blumenau e Florianópolis. O governador Raimundo Colombo lançou o programa de implantação de dez centros de inovação no estado, com investi-mento de R$ 60 milhões. A Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado (Fapesc) é muito atuante, até pela forma de subvenção. Também a Fundação Certi que transforma ideias

dos acadêmicos em negócio”, exemplificou o diretor de Planejamento.

Foi por intermédio da incu-badora da Fundação Certi que os ex-estudantes da Agriness se desenvolveram e prosperaram. De acordo com Renato Vianna, mesmo diante da complexidade em financiar projetos que se fun-damentem em uma ideia, o BRDE tem apoiado essas inici-ativas. “No caso da Agriness, financiamos o salto da empresa, de um pequeno espaço de uma incubadora para a cobertura de um prédio moderno onde as próprias instalações inspiram a equipe, altamente criativa, no desenvolvimento de inovação. Os cérebros que reúnem são patrimônio deles”, ressaltou.

Para as novas instalações, financiadas pelo BRDE, os execu-tivos da Agriness levaram uma carteira de 1.600 clientes, entre produtores e indústrias, que representam 75% do mercado no Brasil, além de países da América Latina e Europa. A projeção de faturamento anual é superior a R$ 5 milhões. O banco finan-ciou a realocação da empresa nas salas especialmente projetadas para receber a empresa de tecnologia, num investimento de R$ 1 milhão para obras civis, instalações e aquisição de móveis e equipamentos.

Ideias em ação Credenciado para operar o Inovacred, o – BRDE agora se prepara para financiar a atividade-fim da Agriness, que é inovar no gerenciamento de sistemas e de equi-pamentos para a produção de alimentos, fato que se torna ainda mais importante no momento em que o mercado japonês, muito exigente, anunciou que volta a importar carne suína de Santa Catarina. “É uma porta que se abre e que facilitará a exportação também para outros mercados, como os do Oriente, dos EUA e da Europa. Santa Catarina tem esta qualificação preciosa de ser reconhecido mundialmente como o único estado brasileiro de produção animal livre de febre aftosa sem vacinação”, informou o diretor Renato Vianna, destacando que o financiamento pelo Inovacred aos processos de inovação são essenciais para o cresci-mento da produção.

O gerente de Operações Marcone de Souza Melo explica que o grande diferencial do BRDE como credenciado do Inovacred é que será possível operar de maneira indireta, ou seja, o BRDE poderá analisar o crédito, o que trará agilidade e mais facilidade na liberação do financiamento para as micro, pequenas e médias empresas. Anteriormente, os empresários enviavam todos os projetos para serem analisados diretamente pela Finep – o que gerava custos adicionais e maior prazo.

A linha de crédito permitirá financiar itens que tradicional-mente são difíceis de se enquadrar em outros programas de financiamento, tais como: equipamentos e instrumentos importados, matérias-primas e material de consumo, compra de tecnologia, assistência técnica e serviços de consultoria, obras civis diretamente associadas ao projeto, patenteamento e licenciamento, compra de participação no capital de empresas inovadoras, aluguel de material promocional relativo a projetos de inovação, diárias e passagens no país e no exterior, serviços

de consultoria em engenha-ria, acesso a banco de dados, treinamentos em cursos e estágios ligados a projetos de inovação no país e no exterior, softwares customi-zados (concepção e desen-volvimento) e produção e instalações fabris e ferra-mentas associadas ao desenvolvimento tecnológi-co, entre outros.

Outro diferencial da linha Inovacred são os encargos financeiros, equivalentes apenas à Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que atualmente está em 5% ao ano. Os prazos também são condizentes com o retorno da grande maioria dos projetos de investimento em inovação. A carência deverá cor-responder ao prazo de execução do projeto, respeitado o limite de 24 meses. O pagamento do financiamento é de até 96 meses, com carência de até 24 meses. A análise de cada projeto indicará as condições de prazos de carência e de amortização adequadas à geração de caixa e à capacidade de pagamento da empresa, respeitado o limite anteriormente referido.

Renato Vianna, diretor de Planejamento, destaca que o esta-do de Santa Catarina está fazendo a sua parte no incentivo a projetos inovadores com a estruturação de programas que beneficiam o progresso do setor. Ao mesmo tempo, atrai investimentos estratégicos como os da indústria aeronáutica e da automobilística. Exemplo é a BMW, que montará seus auto-móveis de tecnologia de ponta no estado, no próximo ano. Os alemães firmaram com o BRDE o maior contrato de financia-mento dos 52 anos do banco, da ordem de R$ 240 milhões, para as obras de instalação da indústria, em Araquari, no norte catarinense. “Nesse sentido, serão abertas inúmeras oportuni-dades para fornecedores, desde que sejam inovadores e com-petitivos. As universidades também perceberam o momento profícuo e já estão integradas para colocar seus cursos em sin-tonia com as chances profissionais que surgem com os novos segmentos tecnológicos”, avisou Vianna. Tradicionalmente, o BRDE vem apoiando tais iniciativas, como a Certi e o polo de inovação do Sapiens Park, projeto que vai produzir importan-tes resultados, reunindo, em Florianópolis, universidades, ini-ciativa privada e poder púbico num ambiente integrado e favo-rável ao desenvolvimento das ideias.

Os executivos do banco fazem questão de ressaltar que há oportunidades de crédito para todas as empresas que são essencialmente inovadoras. “Para se ter uma dimensão do potencial desta atividade, é importante dizer que esta área já recolhe em tributos valor equivalente à área de turismo na região da grande Florianópolis – segmento da economia em que nosso estado é destaque. Estamos também em contato direto com as instituições que representam estas empresas, divulgando o Inovacred e tirando dúvidas sobre as condições de financiamento e de sua operacionalização. As empresas interessadas podem procurar o BRDE, que as orientará sobre como deverão ser encaminhados os pedidos de recur-sos conforme o tipo de financiamento pretendido”, indicou Souza Melo.

Renato Vianna, diretor de Planejamento do BRDE.

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RUMOS - 46– Maio/Junho 2013 RUMOS - 47 – Maio/Junho 2013

O Governo do Amazonas por meio da Agência de Fomen-to do Estado do Amazonas (Afeam) conclui a 1ª Etapa das Ações Itinerante de Crédi to 2013 na Calha do Juruá. As ações itinerantes têm como objetivo injetar recursos nos três setores da economia, levando o acesso ao crédito a todos os mi-cro e pequenos em-presários dos municípi-os do estado de forma menos burocrática, potencializando os investimentos no interior do estado. A 1ª etapa aconteceu na Região da Calha do Juruá, em abril. Os sete municípios: Guaja-rá, Ipixuna, Envira, Eirunepé, Itamarati, Carauari e Juruá foram atendidos pela equipe Técnica da Afeam e seus parcei-ros. Na região foram investidos R$ 2.550.312, totalizando 582 operações que atendeu mutuários dos três setores da econo-mia. O grande destaque foi o crescimento de 100% no número de clientes especiais, inseridos no Cadastro Positivo da Agên-cia, ou seja, que pagam suas operações com pontualidade, e têm maiores benefícios com as novas normas dos programas do FMPES, principalmente quanto à dispensa de garantias.

A Agência de Fomento do Rio G r a n d e d o S u l (Badesul Desenvol-vimento) liberou R$ 720,9 milhões em financiamentos nos primeiros cinco m e s e s d o a n o , quase 300% a mais do que em igual

período do ano passado. O valor equivale a 72% do total de recursos liberados pela agência de fomento em 2012, encerra-do com R$ 998,09 milhões. Um dos setores que teve maior destaque nesse período foi o da agroindústria, com R$ 300 milhões de total acumulado entre 1º de janeiro e 22 de maio, ou seja, 40% do total desembolsado.

O Badesul detém hoje 11% do mercado do Rio Grande do Sul de crédito de longo prazo e ocupa o terceiro lugar no ranking do BNDES de desembolsos de operações indiretas, no Rio Grande do Sul.

A produção de milho e soja no município de Paragominas, no Pará, foi incentivada por meio de uma contratação de Fundo Constitucional do Norte (FNO), de aproximadamente R$1 milhão, concedida pela agência do Banco da Amazônia na cidade. O custeio agrícola irá beneficiar o agronegócio, que é um dos setores mais explorados na região.

Dentre as ações sustentáveis previstas pelo empreendi-mento estão o manejo de solo, rotação de cultura e tríplice lavagem das embalagens dos defensivos agrícolas, condutas que possibilitam a preservação do meio ambiente e da saúde humana, e que geram também perspectivas positivas para o atendimento à demanda local de produção de grãos. O projeto que também abrange os municípios paraenses de Ulianópolis, Dom Elizeu e Rondon do Pará. O prazo do financiamento de custeio agrícola é de um ano, contemplando todas as fases do processo.

Com o objetivo de retomar as atividades do programa Economia da Praia, a Agência de Fomento de Alagoas (De-senvolve) reuniu-se com os parceiros para discutir sobre as possíveis melhorias para a segunda etapa do projeto. Entre as sugestões apontadas, ficou decidido que as ações devem ser adaptadas à realidade dos prestadores de serviço da orla de Maceió. Estiveram presentes no encontro representantes da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Alagoas (ABIH-AL), do Maceió Convention, Secretaria de Estado do Turismo (Setur), Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (SLUM), Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Alagoas (SHRBS-AL) e Secretaria Municipal de Turismo (Semptur).

Segundo a coordenadora de Projetos da Desenvolve, Cata-lina Velasquez, a intenção desta segunda fase é qualificar os prestadores de serviços que não foram contemplados com o diagnóstico e plano de negócio. “No primeiro momento foram formalizados 73 empreendedores da orla e realizados 62 dia-

gnósticos. Nosso objetivo é oferecer essa capacitação a todas as pessoas que foram identificadas como prestadores de serviços fixos da orla”, afirmou. Com o tema Ser legal é a Nossa Praia, o pro-grama Economia da

Praia tem o objetivo de profissionalizar e formalizar os presta-dores de serviços da orla de Maceió.

O p r o g r a m a Mão Amiga é a nova iniciativa do governo do Rio Grande do Norte, desenvolvido pela S e c r e t a r i a d e Desenvolvimento Econômico e em pa rce r i a com a Agência de Fomen-

to do Estado (AGN), para apoiar os empreendedores. Desde que foi lançado, em 12 de abril, quase 1.500 pessoas foram mobilizadas, com agentes indo às comunidades visitar poten-ciais beneficiados. Dentro deste esforço, 485 foram capacita-das; 354 tiveram seus cadastros realizados; e mais de 150 tiveram os negócios efetivados, ou seja, já receberam os che-ques do financiamento. “Este número deve dobrar no próxi-mo mês. E dos financiamentos já concedidos, 57 já completa-ram 30 dias, e já tiveram a sua primeira parcela vencida. Todos eles pagaram em dia e fizeram jus ao benefício do desconto total dos juros”, afirmou o diretor-presidente da AGN, João Augusto Melo.

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Afeam conclui ação de crédito na Calha do Juruá

Banco da Amazônia incentivaprodução de grãos no Pará

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AGN apoia programa do estado voltado para pequenos empreendedores

Janeiro a maio, Badesul chega a R$ 720,9 milhões em financiamento

Desenvolve retoma em Alagoas atividades do programa Economia da Praia

Janeiro

Maio

BRDE assina primeirocontrato peloprograma Inovacred

O BRDE firmou, no último dia 3 de junho, o contrato de financiamento no valor de R$ 2 milhões com a Vetore Indústria e Comércio de Autopeças Limitada. A empresa da cidade de Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba, foi atendida pelo programa Inovacred, que possui recursos da Finep.

A Vetore é cliente do BRDE desde 2004 e produz peças automotivas para diversas montadoras, entre elas Fiat, Valtra, Iveco, Volkswagen, Ford, MAN e Massey-Ferguson. O projeto em questão se destina à produção de um novo sistema de bombas d'água para equipar

veículos leves. Por apresentar características inovadoras, ele foi absorvido pelo Inovacred, linha de crédito que passou a ser operada pelo banco de fomento do sul no mês de abril de 2013 e atende micro, pequenas e médias empresas com receita operacional bruta anual de até R$ 90 milhões em ações de inovação que abar-quem projetos de pes-quisa e desenvol-vimento de produtos e processos e, também, inovações organi-zacionais e no setor de marketing.

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A Agência de Fomento do Estado de Pernambuco (Agefepe) crou o programa Moto Legal para auxiliar os motociclistas, que tra-balham com o transporte de mer-cadorias, a se adequar às normas estabelecidas pelo Conselho Naci-onal de Trânsito (Contran), para a regulamentação da profissão de motofretista (motoboy). O início da fiscalização está previsto para agosto. O valor do emprésti-mo pode ser dividido em até 12 parcelas com taxa de juros de 0,62% ao mês. “Essa redução foi feita para tornar a taxa mais atrativa e facilitar a tomada de crédito para os motofretistas que precisam se regularizar”, explica o diretor-presidente da Agefe-pe, Agnaldo Nunes. O Sindicato dos Motociclistas, Motoboys e Motofretistas (Sindimoto-PE) estima que 45 mil moto-ciclistas trabalhem com entrega de mercadorias em todo o esta-do. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (De-tran-PE), apenas 1.573 profissionais estão regularizados.

Agefepe reduz taxa de juros para crédito a motociclistas

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Crédito pela Desenbahia ganha impulso com festas juninas

Como sempre ocorre, as festas juninas impulsio-naram as liberações do Programa de Microcrédito do Estado da Bahia – Cre-dibahia. No mês de maio, as aplicações em microcrédito realizadas pela Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) diretamente com o microempreendedor registraram um recorde, com 1.682 empreendimentos finan-ciados, num montante de R$ 4,7 milhões.

“Este é o melhor desempenho mensal do Credibahia, nesta modalidade, desde a criação do programa”, informou a gerente de Microcrédito da Desenbahia, Márcia Fonseca de Souza. O resultado representa um acréscimo de 33% em relação às aplicações de maio de 2012, além de um aumento de 10% no número de pessoas beneficiadas.

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RUMOS - 46– Maio/Junho 2013 RUMOS - 47 – Maio/Junho 2013

O Governo do Amazonas por meio da Agência de Fomen-to do Estado do Amazonas (Afeam) conclui a 1ª Etapa das Ações Itinerante de Crédi to 2013 na Calha do Juruá. As ações itinerantes têm como objetivo injetar recursos nos três setores da economia, levando o acesso ao crédito a todos os mi-cro e pequenos em-presários dos municípi-os do estado de forma menos burocrática, potencializando os investimentos no interior do estado. A 1ª etapa aconteceu na Região da Calha do Juruá, em abril. Os sete municípios: Guaja-rá, Ipixuna, Envira, Eirunepé, Itamarati, Carauari e Juruá foram atendidos pela equipe Técnica da Afeam e seus parcei-ros. Na região foram investidos R$ 2.550.312, totalizando 582 operações que atendeu mutuários dos três setores da econo-mia. O grande destaque foi o crescimento de 100% no número de clientes especiais, inseridos no Cadastro Positivo da Agên-cia, ou seja, que pagam suas operações com pontualidade, e têm maiores benefícios com as novas normas dos programas do FMPES, principalmente quanto à dispensa de garantias.

A Agência de Fomento do Rio G r a n d e d o S u l (Badesul Desenvol-vimento) liberou R$ 720,9 milhões em financiamentos nos primeiros cinco m e s e s d o a n o , quase 300% a mais do que em igual

período do ano passado. O valor equivale a 72% do total de recursos liberados pela agência de fomento em 2012, encerra-do com R$ 998,09 milhões. Um dos setores que teve maior destaque nesse período foi o da agroindústria, com R$ 300 milhões de total acumulado entre 1º de janeiro e 22 de maio, ou seja, 40% do total desembolsado.

O Badesul detém hoje 11% do mercado do Rio Grande do Sul de crédito de longo prazo e ocupa o terceiro lugar no ranking do BNDES de desembolsos de operações indiretas, no Rio Grande do Sul.

A produção de milho e soja no município de Paragominas, no Pará, foi incentivada por meio de uma contratação de Fundo Constitucional do Norte (FNO), de aproximadamente R$1 milhão, concedida pela agência do Banco da Amazônia na cidade. O custeio agrícola irá beneficiar o agronegócio, que é um dos setores mais explorados na região.

Dentre as ações sustentáveis previstas pelo empreendi-mento estão o manejo de solo, rotação de cultura e tríplice lavagem das embalagens dos defensivos agrícolas, condutas que possibilitam a preservação do meio ambiente e da saúde humana, e que geram também perspectivas positivas para o atendimento à demanda local de produção de grãos. O projeto que também abrange os municípios paraenses de Ulianópolis, Dom Elizeu e Rondon do Pará. O prazo do financiamento de custeio agrícola é de um ano, contemplando todas as fases do processo.

Com o objetivo de retomar as atividades do programa Economia da Praia, a Agência de Fomento de Alagoas (De-senvolve) reuniu-se com os parceiros para discutir sobre as possíveis melhorias para a segunda etapa do projeto. Entre as sugestões apontadas, ficou decidido que as ações devem ser adaptadas à realidade dos prestadores de serviço da orla de Maceió. Estiveram presentes no encontro representantes da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Alagoas (ABIH-AL), do Maceió Convention, Secretaria de Estado do Turismo (Setur), Superintendência de Limpeza Urbana de Maceió (SLUM), Sindicato dos Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares de Alagoas (SHRBS-AL) e Secretaria Municipal de Turismo (Semptur).

Segundo a coordenadora de Projetos da Desenvolve, Cata-lina Velasquez, a intenção desta segunda fase é qualificar os prestadores de serviços que não foram contemplados com o diagnóstico e plano de negócio. “No primeiro momento foram formalizados 73 empreendedores da orla e realizados 62 dia-

gnósticos. Nosso objetivo é oferecer essa capacitação a todas as pessoas que foram identificadas como prestadores de serviços fixos da orla”, afirmou. Com o tema Ser legal é a Nossa Praia, o pro-grama Economia da

Praia tem o objetivo de profissionalizar e formalizar os presta-dores de serviços da orla de Maceió.

O p r o g r a m a Mão Amiga é a nova iniciativa do governo do Rio Grande do Norte, desenvolvido pela S e c r e t a r i a d e Desenvolvimento Econômico e em pa rce r i a com a Agência de Fomen-

to do Estado (AGN), para apoiar os empreendedores. Desde que foi lançado, em 12 de abril, quase 1.500 pessoas foram mobilizadas, com agentes indo às comunidades visitar poten-ciais beneficiados. Dentro deste esforço, 485 foram capacita-das; 354 tiveram seus cadastros realizados; e mais de 150 tiveram os negócios efetivados, ou seja, já receberam os che-ques do financiamento. “Este número deve dobrar no próxi-mo mês. E dos financiamentos já concedidos, 57 já completa-ram 30 dias, e já tiveram a sua primeira parcela vencida. Todos eles pagaram em dia e fizeram jus ao benefício do desconto total dos juros”, afirmou o diretor-presidente da AGN, João Augusto Melo.

F FOMENTO

Afeam conclui ação de crédito na Calha do Juruá

Banco da Amazônia incentivaprodução de grãos no Pará

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AGN apoia programa do estado voltado para pequenos empreendedores

Janeiro a maio, Badesul chega a R$ 720,9 milhões em financiamento

Desenvolve retoma em Alagoas atividades do programa Economia da Praia

Janeiro

Maio

BRDE assina primeirocontrato peloprograma Inovacred

O BRDE firmou, no último dia 3 de junho, o contrato de financiamento no valor de R$ 2 milhões com a Vetore Indústria e Comércio de Autopeças Limitada. A empresa da cidade de Quatro Barras, na Região Metropolitana de Curitiba, foi atendida pelo programa Inovacred, que possui recursos da Finep.

A Vetore é cliente do BRDE desde 2004 e produz peças automotivas para diversas montadoras, entre elas Fiat, Valtra, Iveco, Volkswagen, Ford, MAN e Massey-Ferguson. O projeto em questão se destina à produção de um novo sistema de bombas d'água para equipar

veículos leves. Por apresentar características inovadoras, ele foi absorvido pelo Inovacred, linha de crédito que passou a ser operada pelo banco de fomento do sul no mês de abril de 2013 e atende micro, pequenas e médias empresas com receita operacional bruta anual de até R$ 90 milhões em ações de inovação que abar-quem projetos de pes-quisa e desenvol-vimento de produtos e processos e, também, inovações organi-zacionais e no setor de marketing.

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A Agência de Fomento do Estado de Pernambuco (Agefepe) crou o programa Moto Legal para auxiliar os motociclistas, que tra-balham com o transporte de mer-cadorias, a se adequar às normas estabelecidas pelo Conselho Naci-onal de Trânsito (Contran), para a regulamentação da profissão de motofretista (motoboy). O início da fiscalização está previsto para agosto. O valor do emprésti-mo pode ser dividido em até 12 parcelas com taxa de juros de 0,62% ao mês. “Essa redução foi feita para tornar a taxa mais atrativa e facilitar a tomada de crédito para os motofretistas que precisam se regularizar”, explica o diretor-presidente da Agefe-pe, Agnaldo Nunes. O Sindicato dos Motociclistas, Motoboys e Motofretistas (Sindimoto-PE) estima que 45 mil moto-ciclistas trabalhem com entrega de mercadorias em todo o esta-do. De acordo com o Departamento Estadual de Trânsito (De-tran-PE), apenas 1.573 profissionais estão regularizados.

Agefepe reduz taxa de juros para crédito a motociclistas

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Crédito pela Desenbahia ganha impulso com festas juninas

Como sempre ocorre, as festas juninas impulsio-naram as liberações do Programa de Microcrédito do Estado da Bahia – Cre-dibahia. No mês de maio, as aplicações em microcrédito realizadas pela Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) diretamente com o microempreendedor registraram um recorde, com 1.682 empreendimentos finan-ciados, num montante de R$ 4,7 milhões.

“Este é o melhor desempenho mensal do Credibahia, nesta modalidade, desde a criação do programa”, informou a gerente de Microcrédito da Desenbahia, Márcia Fonseca de Souza. O resultado representa um acréscimo de 33% em relação às aplicações de maio de 2012, além de um aumento de 10% no número de pessoas beneficiadas.

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José Domingos Vargas

RUMOS - 50 – Maio/Junho 2013

REFLEXÃO

assunto pode trazer à memória o insucesso dos Bancos Estaduais nas décadas de 1980/1990, mas não podemos fugir de uma discussão mais ampla do destino e missão das instituições financeiras não bancárias –

as agências de fomento – cujo nascedouro deu-se nos primeiros anos do século XXI e que inauguraram um novo entendimento das possibilidades do desenvolvi-mento regional.

Limitadas a atuar nos estados onde estão sediadas, são vitais para operacionalizar empreendimentos comprometi-dos com o esforço local em promover desenvolvimento econômico orientado para o cresci-mento e geração de emprego e renda.

Falar em desenvolvimento regional com qualidade e planeja-mento nos leva a refletir sobre a atuação das agências de fomento na intermediação e captação de recur-sos, que sustentem o empresariado em suas demandas específicas, sem perder competitividade e agilidade.

Este é um ponto que gostaría-mos de deixar claro: estar ao lado da nobre missão de apoio ao desenvol-vimento econômico e social do estado não libera as agências de fomento de operar em sintonia com as melhores práticas de mercado.

Taxas de juros decrescentes, uma concorrência ávida por resul-tados e uma clientela que quer aten-dimento eficiente e particularizado são os desafios para o mercado financeiro. Estar alinhado e ainda se manter no foco catalisador do crescimento local faz da agência de

fomento uma instituição que não pode prescindir de políti-cas bem definidas, estratégias de atuação flexíveis e sólida competência funcional, para que suas operações tenham repercussão positiva no desenvolvimento local.

Há aqueles que defendem que os bancos comerciais e as instituições de fomento federais atendam a todas as deman-das, não havendo motivo para que as agências estaduais tenham uma reserva de atuação ou enfoque diferenciado. Entretanto, as agências de fomento são diferentes e o apro-fundamento das possibilidades de sua atuação em uma estrutura de complementaridade possibilitará maior efi-ciência do sistema nacional de fomento.

Hoje, vivenciando a experiência de presidir a Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (AgeRio), percebo que há ressonância da tese de que o desenvolvimento local necessita de um instrumento voltado para demandas específicas e custo-mizadas.

A agência de fomento é capaz de visualizar e agir em nichos e segmen-tos que necessitam de apoio, ter conhecimento das vocações regio-nais e, principalmente, estar sintoni-zada com a política de crescimento do estado, enfim, construir redes de projetos que gerem cadeias produti-vas de grande poder de alcance.

Dar às agências de fomento con-dições para que efetivamente atuem, numa gestão alinhada com propostas de desenvolvimento regional, sem descuidar dos resultados e da boa governança, é escrever uma nova história, tão nova quanto às deman-das que a economia do século XXI nos impõe.

FINANCIAMENTO

Agências de Fomento: uma reflexão sobre o seu papel na economia do século XXI

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Presidente da Agência de Fomento do Estado do Rio de Janeiro (AgeRio).

“A agência de fomento

é capaz de visualizar e agir em nichos e

segmentos que necessitam de apoio, ter

conhecimento das vocações regionais e,

principalmente, estar sintonizada com

a política de crescimento

do estado ”

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Saiba mais sobre o desenvolvimento do país.

Page 52: Edição 269

Escolas de Ensino Técnico incorporam disciplinas ligadas ao empreendedorismo no currículo de 15 cursos

Por Clara Favilla

RUMOS - 52 – Maio/Junho 2013

Pronatec Empreendedor

rede pública de ensino técnico passará a ofere-cer disciplinas ligadas ao empreendedorismo no segundo semestre letivo deste ano. Entre os cur-

sos focados estão os de cabeleireiro; cuidador de idoso; pro-motor de vendas; técnico de informática, montador e repara-dor de computadores. A incorporação é resultado de acordo de cooperação firmado entre o Sebrae e o Ministério da Edu-cação, que viabiliza o Programa Nacional de Acesso ao Ensi-no Técnico e Emprego (Pronatec) Empreendedor.

O acordo foi assinado durante o Encontro Nacional de Educação Empreendedora, realizado no final de maio, no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, que celebrou duas décadas do Empretec, metodologia de capacitação

empresarial criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e aplicada em 34 países. No Brasil, ela é ofertada com exclusividade pelo Sebrae nas 27 unidades da federação. Mais de 185 mil pessoas já fizeram o Empretec, distribuídas em oito mil turmas.

O Pronatec Empreendedor tem como meta abranger, até 2014, 1,5 milhão de estudantes de todo o país, além de capaci-tar sete mil professores. Também está prevista a oferta de apro-ximadamente mil bolsas de estudo para professores interessa-dos em cursos de especialização e/ou mestrado em educação empreendedora. Na primeira etapa do programa serão capaci-tados dois mil professores com foco em cem mil estudantes de todas as regiões do país.

Com a iniciativa, o Bra-sil passa a fazer parte do rol de países que incluíram o empreendedorismo no currículo escolar. Segundo o relatório da Agência Exe-cutiva de Educação, Audi-ovisual e Cultura da União Europeia, dos 31 países europeus pesquisados, cer-ca de 50%, entre eles a Noruega, Romênia e Lituânia, já inseriram a dis-ciplina como obrigatória no currículo do ensino médio, como também as relacionadas às ciên-cias econômicas e sociais.

Participaram da assi-natura do convênio o vice-presidente da Repú-blica, Michel Temer; o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o pre-sidente do Sebrae, Luiz Barretto, e também o dire-

RUMOS - 53 – Maio/Junho 2013

Empreendedorismo se aprende na escola

meio do desenvolvimento de competências fundamentais, tanto para a vida pessoal quanto profissional. Entre elas, as relacionadas aos princípios de gestão, de percepção e análise de condições de oportunidade de mercado.

“Essa parceria com o Sebrae é muito importante. Preci-samos criar uma cultura empreendedora nos jovens. Isso aumenta a produtividade, a cultura de inovação e a competiti-vidade no Brasil”, destacou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Para o presidente do Sebrae, Luiz Barretto: “o empreendedorismo na educação valoriza os processos que

M

Ator-técnico da instituição, Carlos Alberto dos Santos. Para Michel Temer, o Pronatec, ao dar o necessário respaldo ao empreendedorismo, está em linha com as políticas do gover-no da presidenta Dilma Rousseff de sustentação do cresci-mento econômico e de inserção do Brasil no mundo, via com-petitividade. Por isso, ressaltou a importância do Sebrae e do Ministério da Educação caminharem juntos.

A incorporação do empreendedorismo ao já existente Pronatec fortalece a implementação de ações que deem aos alunos de cursos técnicos perspectivas de autoemprego por

Ro

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Oliv

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Os visitantes passeiam pelo evento e deixam sua mensagem em mural.

O Encontro Nacional de Educação Empreendedora contou com um espaço interativo, misto de exposição e local de encontro dos participan-tes para conversas e refeições. Nos estandes do Sebrae e de insti-tuições parceiras, como TV Futu-ra, Sistema S, Ministério da Edu-cação, Pronatec e Junior Achieve-ment, os participantes encontra-ram farto material sobre educação empreendedora.

Em um dos estandes, os inte-ressados puderam ter acesso ao Por-tal Observatório Internacional Sebrae (OIS), lançado durante o evento. Trata-se de uma plataforma on line que permite acessar informa-ções sobre os pequenos negócios

Vila do Conhecimento

no mundo, além de dados sobre as missões já realizadas pela instituição em outros países, além de experiências e parcerias

com instituições estran-geiras.

O Observatório per-mite acesso a um banco de estudos, pesquisas, prá-ticas de fomento e ten-dências internacionais sobre temas relacionados às micro e pequenas empresas. O portal tam-bém disponibiliza cenári-os de países, modelos ino-vadores de negócios e notícias selecionadas nas principais mídias interna-cionais.

O presidente do Sebrae, Luiz Barretto, o vice-presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ao participarem do evento, ressaltaram a importância de se valorizar a cultura empreendedora entre os jovens.

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Participantes visitam o portal.

MICRO E PEQUENAS

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Escolas de Ensino Técnico incorporam disciplinas ligadas ao empreendedorismo no currículo de 15 cursos

Por Clara Favilla

RUMOS - 52 – Maio/Junho 2013

Pronatec Empreendedor

rede pública de ensino técnico passará a ofere-cer disciplinas ligadas ao empreendedorismo no segundo semestre letivo deste ano. Entre os cur-

sos focados estão os de cabeleireiro; cuidador de idoso; pro-motor de vendas; técnico de informática, montador e repara-dor de computadores. A incorporação é resultado de acordo de cooperação firmado entre o Sebrae e o Ministério da Edu-cação, que viabiliza o Programa Nacional de Acesso ao Ensi-no Técnico e Emprego (Pronatec) Empreendedor.

O acordo foi assinado durante o Encontro Nacional de Educação Empreendedora, realizado no final de maio, no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, que celebrou duas décadas do Empretec, metodologia de capacitação

empresarial criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e aplicada em 34 países. No Brasil, ela é ofertada com exclusividade pelo Sebrae nas 27 unidades da federação. Mais de 185 mil pessoas já fizeram o Empretec, distribuídas em oito mil turmas.

O Pronatec Empreendedor tem como meta abranger, até 2014, 1,5 milhão de estudantes de todo o país, além de capaci-tar sete mil professores. Também está prevista a oferta de apro-ximadamente mil bolsas de estudo para professores interessa-dos em cursos de especialização e/ou mestrado em educação empreendedora. Na primeira etapa do programa serão capaci-tados dois mil professores com foco em cem mil estudantes de todas as regiões do país.

Com a iniciativa, o Bra-sil passa a fazer parte do rol de países que incluíram o empreendedorismo no currículo escolar. Segundo o relatório da Agência Exe-cutiva de Educação, Audi-ovisual e Cultura da União Europeia, dos 31 países europeus pesquisados, cer-ca de 50%, entre eles a Noruega, Romênia e Lituânia, já inseriram a dis-ciplina como obrigatória no currículo do ensino médio, como também as relacionadas às ciên-cias econômicas e sociais.

Participaram da assi-natura do convênio o vice-presidente da Repú-blica, Michel Temer; o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o pre-sidente do Sebrae, Luiz Barretto, e também o dire-

RUMOS - 53 – Maio/Junho 2013

Empreendedorismo se aprende na escola

meio do desenvolvimento de competências fundamentais, tanto para a vida pessoal quanto profissional. Entre elas, as relacionadas aos princípios de gestão, de percepção e análise de condições de oportunidade de mercado.

“Essa parceria com o Sebrae é muito importante. Preci-samos criar uma cultura empreendedora nos jovens. Isso aumenta a produtividade, a cultura de inovação e a competiti-vidade no Brasil”, destacou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Para o presidente do Sebrae, Luiz Barretto: “o empreendedorismo na educação valoriza os processos que

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Ator-técnico da instituição, Carlos Alberto dos Santos. Para Michel Temer, o Pronatec, ao dar o necessário respaldo ao empreendedorismo, está em linha com as políticas do gover-no da presidenta Dilma Rousseff de sustentação do cresci-mento econômico e de inserção do Brasil no mundo, via com-petitividade. Por isso, ressaltou a importância do Sebrae e do Ministério da Educação caminharem juntos.

A incorporação do empreendedorismo ao já existente Pronatec fortalece a implementação de ações que deem aos alunos de cursos técnicos perspectivas de autoemprego por

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Os visitantes passeiam pelo evento e deixam sua mensagem em mural.

O Encontro Nacional de Educação Empreendedora contou com um espaço interativo, misto de exposição e local de encontro dos participan-tes para conversas e refeições. Nos estandes do Sebrae e de insti-tuições parceiras, como TV Futu-ra, Sistema S, Ministério da Edu-cação, Pronatec e Junior Achieve-ment, os participantes encontra-ram farto material sobre educação empreendedora.

Em um dos estandes, os inte-ressados puderam ter acesso ao Por-tal Observatório Internacional Sebrae (OIS), lançado durante o evento. Trata-se de uma plataforma on line que permite acessar informa-ções sobre os pequenos negócios

Vila do Conhecimento

no mundo, além de dados sobre as missões já realizadas pela instituição em outros países, além de experiências e parcerias

com instituições estran-geiras.

O Observatório per-mite acesso a um banco de estudos, pesquisas, prá-ticas de fomento e ten-dências internacionais sobre temas relacionados às micro e pequenas empresas. O portal tam-bém disponibiliza cenári-os de países, modelos ino-vadores de negócios e notícias selecionadas nas principais mídias interna-cionais.

O presidente do Sebrae, Luiz Barretto, o vice-presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ao participarem do evento, ressaltaram a importância de se valorizar a cultura empreendedora entre os jovens.

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Participantes visitam o portal.

MICRO E PEQUENAS

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O encontro teve mais de mil participantes que puderam também debater com educadores de relevância nacional e internacional a importância da inserção do empreendedo-rismo no ensino formal. O objetivo é o aprendizado de con-ceitos, conhecimentos e técnicas que ajudem o aluno a resolver problemas do dia a dia com os quais terá de lidar na vida profissional. Por meio das disciplinas previstas, serão formados profissionais capazes de pesquisarem preços, dis-cutirem estratégias de marketing e de funcionamento de empresas.

A expectativa da instituição, de acordo com o diretor-técnico Carlos Alberto dos Santos, é que até 2017 o número de capacitados pelo Empretec chegue a 300 mil. Em 2012, o Brasil consolidou-se como líder mundial de capacitação, segundo a metodologia Empretec. “Estamos atentos às polí-

Empreendedorismo nas Universidades – Geovae Serafim do Rego, de 28 anos, estuda engenharia civil na Universidade de Brasília (UnB). Ele nunca havia pen-sado em ser empresário até frequentar a disciplina Intro-dução à Atividade Empresa-rial, oferecida, como optati-va, pela UnB em parceria com o Sebrae. Estudante do nono semestre, ele já sonha em abrir um negócio no ramo da construção civil. “Preciso me capitalizar pri-meiro. Mas descobri que tenho perfil empreendedor. E vou investir nisso, com determinação”, afirma.

O Sebrae é responsável pela capacitação dos profes-sores das disciplinas ligadas ao Empreendedorismo ofe-

recidas pelas universidades. Elas propiciam aos alunos pers-pectivas antes mesmo da conclusão da vida acadêmica e tem se mostrado como um importante diferencial no mercado de

trabalho. Em São Paulo, 50 instituições ofertam essas disci-plinas desde 2010. Aproximadamente 700 professores foram capacitados. Cerca de 21 mil alunos já foram beneficiados e até o final do ano essas disciplinas estarão disponíveis para ins-tituições de Ensino Superior de todo o país.

Duas décadas de Empretec – O Encontro Nacional de Educação Empreendedora discutiu a importância do ensino de empreendedorismo, levando-se em conta premissas de dis-tribuição de renda, aumento da competitividade nacional e sustentação do crescimento econômico brasileiro. Os temas em pauta levaram em conta quem já concluiu o ensino formal e deseja desenvolver competências empreendedoras tendo em vista a produtividade e rentabilidade do próprio negócio ou o progresso nas respectivas carreiras empresarias.

RUMOS - 54 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 55 – Maio/Junho 2013

M MICRO E PEQUENAS Pronatec Empreendedor

Lindolfo Martin, de 59 anos, é um dos empretecos que, com o conhecimento adquirido no seminário, inici-ou o sistema de franquias da Multicoisas, que hoje tem 155 unidades em 20 estados. A primeira foi aberta com o nome de Multicasa, em Campo Grande (MS) em 1978, em sociedade com a esposa, Elza. Com a expe-riência adquirida no mercado de materiais elétricos, hidráulicos e ferragens, o casal percebeu que a maioria dos clientes também buscava produtos para pequenos reparos. Em 1984, foi, então, inaugurada a Multicoisas.

“Somos pioneiros no Brasil em utilizar esse sistema. Optamos pela expansão profissional e planejada, nos moldes das redes americanas de franquia”, explica Mar-tin. Para o empresário, a metodologia Empretec trouxe grande contribuição para a Multicoisas. “Aprendi a ter foco no negócio, traçar metas e estratégias responsáveis e identificar os perfis ideais de um franqueado.”

A empresa deve chegar em 2021 a 500 unidades. O faturamento atingiu R$ 170 milhões em 2010. Neste ano deve alcançar R$ 230 milhões, um aumento de 35,3%. Em 2011, a Multicoisas ganhou um prêmio de melhor franquia e em outra premiação ficou entre as 25 melhores franquias do Brasil.

D u r a n t e o evento foi lançado o quarto volume da coleção Pequenos Negócios – Desa-fios e Perspectivas com tex-tos de colaborado-res da instituição, professores e espe-cialistas sobre a importância e avan-ços da educação empreendedora no universo das micro e pequenas empresas e do ensino formal. O livro está disponível na Biblioteca Interativa Sebrae (BIS), no endereço http://www.sebrae.com.br/customizado/bis

A publicação teve como coordenador o diretor técnico do Sebrae, Car-los Alberto Santos, que ressaltou a importância do debate sobre o desenvol-vimento na perspectiva dos pequenos negócios. Para isso, a necessidade de se construir e disseminar conhecimentos que conectem a discussão acadê-mica com o cotidiano empresarial. “Hoje, o Brasil convive com o desafio de qualificar empreendedores e empresários para o mercado global, cada vez mais competitivo”, ressaltou o diretor.

Trinta especialistas assinam artigos que apontam caminhos e relatam experiências. O prefácio do livro é do ministro da Educação, Aloizio Merca-dante. Entre os participantes da publicação estão o professor Louis Jacque Filion, da Bussiness School, de Montreal, Canadá; Juliano Seabra, da Endeavor; Wilma Resende Araujo Santos, da Junior Achievement, e Mônica Dias Pin-to, do Canal Futura.

Publicação

Caso de sucesso

estimulam o desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões, de forma que ele possa contribuir com ideias para o mundo dos negócios e para o ambiente em que está inserido.”

Barretto ressaltou que o comportamento empreendedor proativo é útil tanto para quem vai ter o próprio negócio quanto para quem quer seguir carreiras empresariais. Isso porque o mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e globalizado, exige trabalhadores bem qualificados, que apre-sentem diferenciais competitivos. O Sebrae é o responsável pela capacitação, via internet, dos professores, por meio de cursos que totalizam, cada um 32 horas, ministrados em qua-tro semanas.

O Pronatec Empreendedor terá três etapas. A primeira é a de sensibilização, com objetivo de mobilizar estudantes, educadores e instituições de ensino para a temática do empreendedorismo. Para isso, o Sebrae distribuirá materiais de divulgação como cartilhas, publicações, vídeo, banners. A segunda será a de capacitação de estudantes e professores. Na terceira, haverá premiação para ações de discentes, edu-cadores e de instituições que apresentarem bons resultados, baseados nas atividades previstas.

Criado em outubro de 2011, o Pronatec tem como obje-tivo principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT). Para tanto, prevê subprogramas, projetos e ações de assistên-cia técnica e financeira que, juntos, oferecerão oito milhões de vagas a brasileiros de diferentes perfis até 2014. Os sub-programas proporcionam formação para o trabalho a ado-lescentes, jovens e adultos nas redes estaduais e federais de nível médio de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), além do Sistema Nacional de Aprendizagem (SNA).

ticas de educação no país e esse evento representa um marco importante. Reuni-mos, aqui, representantes de governos, educadores, técnicos e especialistas para debater o modelo empreendedor. E quanto mais evoluirmos na era do conhecimento, maior será nosso desenvolvimento”, afirmou.

O Empretec é aplicado em forma de seminário e tem duração de seis dias. O empreteco – como é cha-mado quem participa da capacitação – é estimulado a desenvolver característi-cas empreendedoras e iden-tificar novas oportunida-des de negócios. Por ser uma capacitação compor-tamental, o programa pode

proporcionar aos seus participantes melhoria no desempenho empresarial, maior segurança na tomada de decisões, ampliação da visão de oportunidades, aumentando, assim, as chances de sucesso no negócio.

Pesquisa realizada pelo Sebrae apon-ta que, em média, os empreendedores registraram um acréscimo médio no fatu-ramento de R$ 24,6 mil por mês depois da conclusão do Empretec. Mais de 90% dos entrevistados de uma amostra de 1.871 empresas confirmaram aumento também dos lucros, a partir da aplicação imediata de mudanças nos processos de produção de bens e serviços e também de atendimento à clientela.

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Carlos Alberto dos Santos, diretor técnicodo Sebrae Nacional.

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Homenageados sobem ao palco durante o Encontro Nacional de Educação Empreendedora, em Brasília.

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O encontro teve mais de mil participantes que puderam também debater com educadores de relevância nacional e internacional a importância da inserção do empreendedo-rismo no ensino formal. O objetivo é o aprendizado de con-ceitos, conhecimentos e técnicas que ajudem o aluno a resolver problemas do dia a dia com os quais terá de lidar na vida profissional. Por meio das disciplinas previstas, serão formados profissionais capazes de pesquisarem preços, dis-cutirem estratégias de marketing e de funcionamento de empresas.

A expectativa da instituição, de acordo com o diretor-técnico Carlos Alberto dos Santos, é que até 2017 o número de capacitados pelo Empretec chegue a 300 mil. Em 2012, o Brasil consolidou-se como líder mundial de capacitação, segundo a metodologia Empretec. “Estamos atentos às polí-

Empreendedorismo nas Universidades – Geovae Serafim do Rego, de 28 anos, estuda engenharia civil na Universidade de Brasília (UnB). Ele nunca havia pen-sado em ser empresário até frequentar a disciplina Intro-dução à Atividade Empresa-rial, oferecida, como optati-va, pela UnB em parceria com o Sebrae. Estudante do nono semestre, ele já sonha em abrir um negócio no ramo da construção civil. “Preciso me capitalizar pri-meiro. Mas descobri que tenho perfil empreendedor. E vou investir nisso, com determinação”, afirma.

O Sebrae é responsável pela capacitação dos profes-sores das disciplinas ligadas ao Empreendedorismo ofe-

recidas pelas universidades. Elas propiciam aos alunos pers-pectivas antes mesmo da conclusão da vida acadêmica e tem se mostrado como um importante diferencial no mercado de

trabalho. Em São Paulo, 50 instituições ofertam essas disci-plinas desde 2010. Aproximadamente 700 professores foram capacitados. Cerca de 21 mil alunos já foram beneficiados e até o final do ano essas disciplinas estarão disponíveis para ins-tituições de Ensino Superior de todo o país.

Duas décadas de Empretec – O Encontro Nacional de Educação Empreendedora discutiu a importância do ensino de empreendedorismo, levando-se em conta premissas de dis-tribuição de renda, aumento da competitividade nacional e sustentação do crescimento econômico brasileiro. Os temas em pauta levaram em conta quem já concluiu o ensino formal e deseja desenvolver competências empreendedoras tendo em vista a produtividade e rentabilidade do próprio negócio ou o progresso nas respectivas carreiras empresarias.

RUMOS - 54 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 55 – Maio/Junho 2013

M MICRO E PEQUENAS Pronatec Empreendedor

Lindolfo Martin, de 59 anos, é um dos empretecos que, com o conhecimento adquirido no seminário, inici-ou o sistema de franquias da Multicoisas, que hoje tem 155 unidades em 20 estados. A primeira foi aberta com o nome de Multicasa, em Campo Grande (MS) em 1978, em sociedade com a esposa, Elza. Com a expe-riência adquirida no mercado de materiais elétricos, hidráulicos e ferragens, o casal percebeu que a maioria dos clientes também buscava produtos para pequenos reparos. Em 1984, foi, então, inaugurada a Multicoisas.

“Somos pioneiros no Brasil em utilizar esse sistema. Optamos pela expansão profissional e planejada, nos moldes das redes americanas de franquia”, explica Mar-tin. Para o empresário, a metodologia Empretec trouxe grande contribuição para a Multicoisas. “Aprendi a ter foco no negócio, traçar metas e estratégias responsáveis e identificar os perfis ideais de um franqueado.”

A empresa deve chegar em 2021 a 500 unidades. O faturamento atingiu R$ 170 milhões em 2010. Neste ano deve alcançar R$ 230 milhões, um aumento de 35,3%. Em 2011, a Multicoisas ganhou um prêmio de melhor franquia e em outra premiação ficou entre as 25 melhores franquias do Brasil.

D u r a n t e o evento foi lançado o quarto volume da coleção Pequenos Negócios – Desa-fios e Perspectivas com tex-tos de colaborado-res da instituição, professores e espe-cialistas sobre a importância e avan-ços da educação empreendedora no universo das micro e pequenas empresas e do ensino formal. O livro está disponível na Biblioteca Interativa Sebrae (BIS), no endereço http://www.sebrae.com.br/customizado/bis

A publicação teve como coordenador o diretor técnico do Sebrae, Car-los Alberto Santos, que ressaltou a importância do debate sobre o desenvol-vimento na perspectiva dos pequenos negócios. Para isso, a necessidade de se construir e disseminar conhecimentos que conectem a discussão acadê-mica com o cotidiano empresarial. “Hoje, o Brasil convive com o desafio de qualificar empreendedores e empresários para o mercado global, cada vez mais competitivo”, ressaltou o diretor.

Trinta especialistas assinam artigos que apontam caminhos e relatam experiências. O prefácio do livro é do ministro da Educação, Aloizio Merca-dante. Entre os participantes da publicação estão o professor Louis Jacque Filion, da Bussiness School, de Montreal, Canadá; Juliano Seabra, da Endeavor; Wilma Resende Araujo Santos, da Junior Achievement, e Mônica Dias Pin-to, do Canal Futura.

Publicação

Caso de sucesso

estimulam o desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões, de forma que ele possa contribuir com ideias para o mundo dos negócios e para o ambiente em que está inserido.”

Barretto ressaltou que o comportamento empreendedor proativo é útil tanto para quem vai ter o próprio negócio quanto para quem quer seguir carreiras empresariais. Isso porque o mercado de trabalho, cada vez mais competitivo e globalizado, exige trabalhadores bem qualificados, que apre-sentem diferenciais competitivos. O Sebrae é o responsável pela capacitação, via internet, dos professores, por meio de cursos que totalizam, cada um 32 horas, ministrados em qua-tro semanas.

O Pronatec Empreendedor terá três etapas. A primeira é a de sensibilização, com objetivo de mobilizar estudantes, educadores e instituições de ensino para a temática do empreendedorismo. Para isso, o Sebrae distribuirá materiais de divulgação como cartilhas, publicações, vídeo, banners. A segunda será a de capacitação de estudantes e professores. Na terceira, haverá premiação para ações de discentes, edu-cadores e de instituições que apresentarem bons resultados, baseados nas atividades previstas.

Criado em outubro de 2011, o Pronatec tem como obje-tivo principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Profissional e Tecnológica (EPT). Para tanto, prevê subprogramas, projetos e ações de assistên-cia técnica e financeira que, juntos, oferecerão oito milhões de vagas a brasileiros de diferentes perfis até 2014. Os sub-programas proporcionam formação para o trabalho a ado-lescentes, jovens e adultos nas redes estaduais e federais de nível médio de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), além do Sistema Nacional de Aprendizagem (SNA).

ticas de educação no país e esse evento representa um marco importante. Reuni-mos, aqui, representantes de governos, educadores, técnicos e especialistas para debater o modelo empreendedor. E quanto mais evoluirmos na era do conhecimento, maior será nosso desenvolvimento”, afirmou.

O Empretec é aplicado em forma de seminário e tem duração de seis dias. O empreteco – como é cha-mado quem participa da capacitação – é estimulado a desenvolver característi-cas empreendedoras e iden-tificar novas oportunida-des de negócios. Por ser uma capacitação compor-tamental, o programa pode

proporcionar aos seus participantes melhoria no desempenho empresarial, maior segurança na tomada de decisões, ampliação da visão de oportunidades, aumentando, assim, as chances de sucesso no negócio.

Pesquisa realizada pelo Sebrae apon-ta que, em média, os empreendedores registraram um acréscimo médio no fatu-ramento de R$ 24,6 mil por mês depois da conclusão do Empretec. Mais de 90% dos entrevistados de uma amostra de 1.871 empresas confirmaram aumento também dos lucros, a partir da aplicação imediata de mudanças nos processos de produção de bens e serviços e também de atendimento à clientela.

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Carlos Alberto dos Santos, diretor técnicodo Sebrae Nacional.

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Homenageados sobem ao palco durante o Encontro Nacional de Educação Empreendedora, em Brasília.

Page 56: Edição 269

Escolas de Ensino Técnico incorporam disciplinas ligadas ao empreendedorismo no currículo de 15 cursos

Por Clara Favilla

RUMOS - 52 – Maio/Junho 2013

Pronatec Empreendedor

rede pública de ensino técnico passará a oferecer disciplinas ligadas ao empreen-dedorismo no segundo semestre letivo

deste ano. Entre os cursos focados estão os de cabe-leireiro; cuidador de idoso; promotor de vendas; técnico de informática, montador e reparador de computadores. A incorporação é resultado de acor-do de cooperação firmado entre o Sebrae e o Ministério da Educação, que viabiliza o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Empre-go (Pronatec) Empreendedor.

O acordo foi assinado durante o Encontro Naci-onal de Educação Empreendedora, realizado no final de maio, no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, que celebrou duas décadas do Empre-

tec, metodologia de capacitação empresarial criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e apli-cada em 34 países. No Brasil, ela é ofertada com exclusividade pelo Sebrae nas 27 unidades da fede-ração. Mais de 185 mil pessoas já fizeram o Empre-tec, distribuídas em oito mil turmas.O Pronatec Empreendedor tem como meta abran-ger, até 2014, 1,5 milhão de estudantes de todo o país, além de capacitar sete mil professores. Tam-bém está prevista a oferta de aproximadamente mil bolsas de estudo para professores interessados em cursos de especialização e/ou mestrado em educa-ção empreendedora. Na primeira etapa do progra-ma serão capacitados dois mil professores com foco em cem mil estudantes de todas as regiões do país.

Com a iniciativa, o Brasil passa a fazer parte do rol de países que incluí-ram o empreendedorismo no currículo escolar. Segundo o relatório da Agência Executiva de Educação, Audiovisual e Cultura da União Europeia, dos 31 paí-ses europeus pesquisados, cerca de 50%, entre eles a Noruega, Romênia e Lituâ-nia, já inseriram a disciplina como obri-gatória no currículo do ensino médio, como também as relacionadas às ciên-cias econômicas e sociais.

Participaram da assinatura do con-vênio o vice-presidente da República, Michel Temer; o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, e também o dire-tor-técnico da instituição, Carlos

RUMOS - 53 – Maio/Junho 2013

Empreendedorismo se aprende na escola

relacionadas aos princípios de gestão, de percep-ção e análise de condições de oportunidade de mer-cado.

“Essa parceria com o Sebrae é muito importan-te. Precisamos criar uma cultura empreendedora nos jovens. Isso aumenta a produtividade, a cultura de inovação e a competitividade no Brasil”, desta-cou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Para o presidente do Sebrae, Luiz Barretto: “o empreendedorismo na educação valoriza os pro-cessos que estimulam o desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões, de forma que ele possa contribuir com ideias para o mundo dos negócios e para o ambiente em que está inserido.”

M MICRO E PEQUENAS

A Alberto dos Santos. Para Michel Temer, o Prona-tec, ao dar o necessário respaldo ao empreendedo-rismo, está em linha com as políticas do governo da presidenta Dilma Rousseff de sustentação do cres-cimento econômico e de inserção do Brasil no mundo, via competitividade. Por isso, ressaltou a importância do Sebrae e do Ministério da Educa-ção caminharem juntos.

A incorporação do empreendedorismo ao já existente Pronatec fortalece a implementação de ações que deem aos alunos de cursos técnicos pers-pectivas de autoemprego por meio do desenvolvi-mento de competências fundamentais, tanto para a vida pessoal quanto profissional. Entre elas, as

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Os visitantes passeiam pelo evento e deixam sua mensagem em mural.

O Encontro Nacional de Educação Empre-endedora contou com um espaço interativo, mis-to de exposição e local de encontro dos partici-pantes para conversas e refeições. Nos estandes do Sebrae e de instituições parceiras, como TV Futura, Sistema S, Ministério da Educação, Pro-natec e Junior Achievement, os participantes encontraram farto material sobre educação empreendedora.

Em um dos estandes, os interessados pude-ram ter acesso ao Portal Observatório Internacio-nal Sebrae (OIS), lançado durante o evento. Tra-ta-se de uma plataforma on line que permite aces-sar informações sobre os pequenos negócios no mundo, além de dados sobre as missões já realiza-

Vila do Conhecimento

das pela insti-t u i ç ã o e m outros países, além de expe-riências e par-cerias com instituições estrangeiras.

O Observatório permite acesso a um banco de estudos, pesquisas, práticas de fomento e tendên-cias internacionais sobre temas relacionados às micro e pequenas empresas. O portal também dis-ponibiliza cenários de países, modelos inovadores de negócios e notícias selecionadas nas principais mídias internacionais.

O presidente do Sebrae, Luiz Barretto, o vice-presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ao participarem do evento, ressaltaram a importância de se valorizar a cultura empreendedora entre os jovens.

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Participantes visitam o portal.

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Escolas de Ensino Técnico incorporam disciplinas ligadas ao empreendedorismo no currículo de 15 cursos

Por Clara Favilla

RUMOS - 52 – Maio/Junho 2013

Pronatec Empreendedor

rede pública de ensino técnico passará a oferecer disciplinas ligadas ao empreen-dedorismo no segundo semestre letivo

deste ano. Entre os cursos focados estão os de cabe-leireiro; cuidador de idoso; promotor de vendas; técnico de informática, montador e reparador de computadores. A incorporação é resultado de acor-do de cooperação firmado entre o Sebrae e o Ministério da Educação, que viabiliza o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Empre-go (Pronatec) Empreendedor.

O acordo foi assinado durante o Encontro Naci-onal de Educação Empreendedora, realizado no final de maio, no Centro de Convenções Brasil 21, em Brasília, que celebrou duas décadas do Empre-

tec, metodologia de capacitação empresarial criada pela Organização das Nações Unidas (ONU) e apli-cada em 34 países. No Brasil, ela é ofertada com exclusividade pelo Sebrae nas 27 unidades da fede-ração. Mais de 185 mil pessoas já fizeram o Empre-tec, distribuídas em oito mil turmas.O Pronatec Empreendedor tem como meta abran-ger, até 2014, 1,5 milhão de estudantes de todo o país, além de capacitar sete mil professores. Tam-bém está prevista a oferta de aproximadamente mil bolsas de estudo para professores interessados em cursos de especialização e/ou mestrado em educa-ção empreendedora. Na primeira etapa do progra-ma serão capacitados dois mil professores com foco em cem mil estudantes de todas as regiões do país.

Com a iniciativa, o Brasil passa a fazer parte do rol de países que incluí-ram o empreendedorismo no currículo escolar. Segundo o relatório da Agência Executiva de Educação, Audiovisual e Cultura da União Europeia, dos 31 paí-ses europeus pesquisados, cerca de 50%, entre eles a Noruega, Romênia e Lituâ-nia, já inseriram a disciplina como obri-gatória no currículo do ensino médio, como também as relacionadas às ciên-cias econômicas e sociais.

Participaram da assinatura do con-vênio o vice-presidente da República, Michel Temer; o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, o presidente do Sebrae, Luiz Barretto, e também o dire-tor-técnico da instituição, Carlos

RUMOS - 53 – Maio/Junho 2013

Empreendedorismo se aprende na escola

relacionadas aos princípios de gestão, de percep-ção e análise de condições de oportunidade de mer-cado.

“Essa parceria com o Sebrae é muito importan-te. Precisamos criar uma cultura empreendedora nos jovens. Isso aumenta a produtividade, a cultura de inovação e a competitividade no Brasil”, desta-cou o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Para o presidente do Sebrae, Luiz Barretto: “o empreendedorismo na educação valoriza os pro-cessos que estimulam o desenvolvimento do ser humano em todas as suas dimensões, de forma que ele possa contribuir com ideias para o mundo dos negócios e para o ambiente em que está inserido.”

M MICRO E PEQUENAS

A Alberto dos Santos. Para Michel Temer, o Prona-tec, ao dar o necessário respaldo ao empreendedo-rismo, está em linha com as políticas do governo da presidenta Dilma Rousseff de sustentação do cres-cimento econômico e de inserção do Brasil no mundo, via competitividade. Por isso, ressaltou a importância do Sebrae e do Ministério da Educa-ção caminharem juntos.

A incorporação do empreendedorismo ao já existente Pronatec fortalece a implementação de ações que deem aos alunos de cursos técnicos pers-pectivas de autoemprego por meio do desenvolvi-mento de competências fundamentais, tanto para a vida pessoal quanto profissional. Entre elas, as

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Os visitantes passeiam pelo evento e deixam sua mensagem em mural.

O Encontro Nacional de Educação Empre-endedora contou com um espaço interativo, mis-to de exposição e local de encontro dos partici-pantes para conversas e refeições. Nos estandes do Sebrae e de instituições parceiras, como TV Futura, Sistema S, Ministério da Educação, Pro-natec e Junior Achievement, os participantes encontraram farto material sobre educação empreendedora.

Em um dos estandes, os interessados pude-ram ter acesso ao Portal Observatório Internacio-nal Sebrae (OIS), lançado durante o evento. Tra-ta-se de uma plataforma on line que permite aces-sar informações sobre os pequenos negócios no mundo, além de dados sobre as missões já realiza-

Vila do Conhecimento

das pela insti-t u i ç ã o e m outros países, além de expe-riências e par-cerias com instituições estrangeiras.

O Observatório permite acesso a um banco de estudos, pesquisas, práticas de fomento e tendên-cias internacionais sobre temas relacionados às micro e pequenas empresas. O portal também dis-ponibiliza cenários de países, modelos inovadores de negócios e notícias selecionadas nas principais mídias internacionais.

O presidente do Sebrae, Luiz Barretto, o vice-presidente da República, Michel Temer, e o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, ao participarem do evento, ressaltaram a importância de se valorizar a cultura empreendedora entre os jovens.

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Participantes visitam o portal.

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tas, serão formados profissionais capazes de pes-quisarem preços, discutirem estratégias de marke-ting e de funcionamento de empresas.

A expectativa da instituição, de acordo com o diretor-técnico Carlos Alberto dos Santos, é que até 2017 o número de capacitados pelo Empretec chegue a 300 mil. Em 2012, o Brasil consolidou-se como líder mundial de capacitação, segundo a metodologia Empretec. “Estamos atentos às polí-ticas de educação no país e esse evento representa um marco importante. Reunimos, aqui, represen-tantes de governos, educadores, técnicos e especi-alistas para debater o modelo empreendedor. E

dorismo oferecidas pelas universidades. Elas pro-piciam aos alunos perspectivas antes mesmo da conclusão da vida acadêmica e tem se mostrado como um importante diferencial no mercado de trabalho. Em São Paulo, 50 instituições ofertam essas disciplinas desde 2010. Aproximadamente 700 professores foram capacitados. Cerca de 21 mil alunos já foram beneficiados e até o final do ano essas disciplinas estarão disponíveis para insti-tuições de Ensino Superior de todo o país.

Duas décadas de Empretec – O Encontro Na-cional de Educação Empreendedora discutiu a importância do ensino de empreendedorismo, levando-se em conta premissas de distribuição de renda, aumento da competitividade nacional e sus-tentação do crescimento econômico brasileiro. Os

temas em pauta levaram em conta quem já concluiu o ensino formal e deseja desenvolver competências empreendedoras tendo em vista a produtividade e rentabilidade do próprio negócio ou o progresso nas respectivas carreiras empresarias.

O encontro teve mais de mil participantes que puderam também debater com educadores de rele-vância nacional e internacional a importância da inserção do empreendedorismo no ensino formal. O objetivo é o aprendizado de conceitos, conheci-mentos e técnicas que ajudem o aluno a resolver problemas do dia a dia com os quais terá de lidar na vida profissional. Por meio das disciplinas previs-

RUMOS - 54 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 55 – Maio/Junho 2013

M MICRO E PEQUENAS Pronatec Empreendedor

Lindolfo Martin, de 59 anos, é um dos emprete-cos que, com o conhecimento adquirido no semi-nário, iniciou o sistema de franquias da Multicoi-sas, que hoje tem 155 unidades em 20 estados. A primeira foi aberta com o nome de Multicasa, em Campo Grande (MS) em 1978, em sociedade com a esposa, Elza. Com a experiência adquirida no mercado de materiais elétricos, hidráulicos e ferra-gens, o casal percebeu que a maioria dos clientes também buscava produtos para pequenos reparos. Em 1984, foi, então, inaugurada a Multicoisas.

“Somos pioneiros no Brasil em utilizar esse sis-tema. Optamos pela expansão profissional e pla-nejada, nos moldes das redes americanas de fran-quia”, explica Martin. Para o empresário, a meto-dologia Empretec trouxe grande contribuição para a Multicoisas. “Aprendi a ter foco no negócio, tra-çar metas e estratégias responsáveis e identificar os perfis ideais de um franqueado.”

A empresa deve chegar em 2021 a 500 unidades. O faturamento atingiu R$ 170 milhões em 2010. Neste ano deve alcançar R$ 230 milhões, um aumento de 35,3%. Em 2011, a Multicoisas ganhou um prêmio de melhor franquia e em outra premiação ficou entre as 25 melhores franquias do Brasil.

Durante o evento foi lançado o quarto volume da co leção Pequenos Negócios – Desa-fios e Perspectivas com tex-tos de colaboradores da instituição, professores e especialistas sobre a importância e avanços da educação empreen-dedora no universo das m i c r o e p e q u e n a s empresas e do ensino formal. O livro está dis-ponível na Biblioteca Interativa Sebrae (BIS), no endereço http://www.sebrae.com.br/customizado/bis

A publicação teve como coordenador o diretor técnico do Sebrae, Carlos Alberto Santos, que ressaltou a importância do deba-te sobre o desenvolvimento na perspectiva dos pequenos negócios. Para isso, a necessidade de se construir e disseminar conhecimentos que conectem a discussão acadêmica com o cotidiano empresarial. “Hoje, o Brasil convive com o desafio de qualificar empreendedores e empresários para o mercado global, cada vez mais competitivo”, ressaltou o diretor.

Trinta especialistas assinam artigos que apontam caminhos e rela-tam experiências. O prefácio do livro é do ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Entre os participantes da publicação estão o professor Louis Jacque Filion, da Bussiness School, de Montreal, Cana-dá; Juliano Seabra, da Endeavor; Wilma Resende Araujo Santos, da Junior Achievement, e Mônica Dias Pinto, do Canal Futura.

Publicação

Caso de sucesso

Barretto ressaltou que o comportamento empreendedor proativo é útil tanto para quem vai ter o próprio negócio quanto para quem quer seguir carreiras empresariais. Isso porque o merca-do de trabalho, cada vez mais competitivo e globa-lizado, exige trabalhadores bem qualificados, que apresentem diferenciais competitivos. O Sebrae é o responsável pela capacitação, via internet, dos professores, por meio de cursos que totalizam, cada um 32 horas, ministrados em quatro semanas.O Pronatec Empreendedor terá três etapas. A pri-meira é a de sensibilização, com objetivo de mobi-lizar estudantes, educadores e instituições de ensi-no para a temática do empreendedorismo. Para isso, o Sebrae distribuirá materiais de divulgação como cartilhas, publicações, vídeo, banners. A segunda será a de capacitação de estudantes e pro-fessores. Na terceira, haverá premiação para ações de discentes, educadores e de instituições que apre-sentarem bons resultados, baseados nas atividades previstas.

Criado em outubro de 2011, o Pronatec tem como objetivo principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Pro-fissional e Tecnológica (EPT). Para tanto, prevê subprogramas, projetos e ações de assistência téc-nica e financeira que, juntos, oferecerão oito milhões de vagas a brasileiros de diferentes perfis até 2014. Os subprogramas proporcionam forma-ção para o trabalho a adolescentes, jovens e adul-tos nas redes estaduais e federais de nível médio de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), além do Sistema Nacional de Aprendizagem (SNA).

Empreendedorismo nas Universidades – Geo-vae Serafim do Rego, de 28 anos, estuda engenha-ria civil na Universidade de Brasília (UnB). Ele nun-ca havia pensado em ser empresário até frequentar a disciplina Introdução à Atividade Empresarial, oferecida, como optativa, pela UnB em parceria com o Sebrae. Estudante do nono semestre, ele já sonha em abrir um negócio no ramo da construção civil. “Preciso me capitalizar primeiro. Mas desco-bri que tenho perfil empreendedor. E vou investir nisso, com determinação”, afirma.

O Sebrae é responsável pela capacitação dos professores das disciplinas ligadas ao Empreende-

quanto mais evoluirmos na era do conhecimento, maior será nosso desenvolvimento”, afir-mou.

O Empretec é aplicado em forma de seminário e tem dura-ção de seis dias. O empreteco – como é chamado quem partici-pa da capacitação – é estimula-do a desenvolver características empreendedoras e identificar novas oportunidades de negó-cios. Por ser uma capacitação comportamental, o programa pode proporcionar aos seus par-ticipantes melhoria no desem-penho empresarial, maior segu-rança na tomada de decisões,

ampliação da visão de oportunida-des, aumentando, assim, as chan-ces de sucesso no negócio.

Pesquisa realizada pelo Sebrae aponta que, em média, os empre-endedores registraram um acrés-cimo médio no faturamento de R$ 24,6 mil por mês depois da con-clusão do Empretec. Mais de 90% dos entrevistados de uma amostra de 1.871 empresas confirmaram aumento também dos lucros, a partir da aplicação imediata de mudanças nos processos de pro-dução de bens e serviços e tam-bém de atendimento à clientela.

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Carlos Alberto dos Santos, diretor técnicodo Sebrae Nacional.

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tas, serão formados profissionais capazes de pes-quisarem preços, discutirem estratégias de marke-ting e de funcionamento de empresas.

A expectativa da instituição, de acordo com o diretor-técnico Carlos Alberto dos Santos, é que até 2017 o número de capacitados pelo Empretec chegue a 300 mil. Em 2012, o Brasil consolidou-se como líder mundial de capacitação, segundo a metodologia Empretec. “Estamos atentos às polí-ticas de educação no país e esse evento representa um marco importante. Reunimos, aqui, represen-tantes de governos, educadores, técnicos e especi-alistas para debater o modelo empreendedor. E

dorismo oferecidas pelas universidades. Elas pro-piciam aos alunos perspectivas antes mesmo da conclusão da vida acadêmica e tem se mostrado como um importante diferencial no mercado de trabalho. Em São Paulo, 50 instituições ofertam essas disciplinas desde 2010. Aproximadamente 700 professores foram capacitados. Cerca de 21 mil alunos já foram beneficiados e até o final do ano essas disciplinas estarão disponíveis para insti-tuições de Ensino Superior de todo o país.

Duas décadas de Empretec – O Encontro Na-cional de Educação Empreendedora discutiu a importância do ensino de empreendedorismo, levando-se em conta premissas de distribuição de renda, aumento da competitividade nacional e sus-tentação do crescimento econômico brasileiro. Os

temas em pauta levaram em conta quem já concluiu o ensino formal e deseja desenvolver competências empreendedoras tendo em vista a produtividade e rentabilidade do próprio negócio ou o progresso nas respectivas carreiras empresarias.

O encontro teve mais de mil participantes que puderam também debater com educadores de rele-vância nacional e internacional a importância da inserção do empreendedorismo no ensino formal. O objetivo é o aprendizado de conceitos, conheci-mentos e técnicas que ajudem o aluno a resolver problemas do dia a dia com os quais terá de lidar na vida profissional. Por meio das disciplinas previs-

RUMOS - 54 – Maio/Junho 2013 RUMOS - 55 – Maio/Junho 2013

M MICRO E PEQUENAS Pronatec Empreendedor

Lindolfo Martin, de 59 anos, é um dos emprete-cos que, com o conhecimento adquirido no semi-nário, iniciou o sistema de franquias da Multicoi-sas, que hoje tem 155 unidades em 20 estados. A primeira foi aberta com o nome de Multicasa, em Campo Grande (MS) em 1978, em sociedade com a esposa, Elza. Com a experiência adquirida no mercado de materiais elétricos, hidráulicos e ferra-gens, o casal percebeu que a maioria dos clientes também buscava produtos para pequenos reparos. Em 1984, foi, então, inaugurada a Multicoisas.

“Somos pioneiros no Brasil em utilizar esse sis-tema. Optamos pela expansão profissional e pla-nejada, nos moldes das redes americanas de fran-quia”, explica Martin. Para o empresário, a meto-dologia Empretec trouxe grande contribuição para a Multicoisas. “Aprendi a ter foco no negócio, tra-çar metas e estratégias responsáveis e identificar os perfis ideais de um franqueado.”

A empresa deve chegar em 2021 a 500 unidades. O faturamento atingiu R$ 170 milhões em 2010. Neste ano deve alcançar R$ 230 milhões, um aumento de 35,3%. Em 2011, a Multicoisas ganhou um prêmio de melhor franquia e em outra premiação ficou entre as 25 melhores franquias do Brasil.

Durante o evento foi lançado o quarto volume da co leção Pequenos Negócios – Desa-fios e Perspectivas com tex-tos de colaboradores da instituição, professores e especialistas sobre a importância e avanços da educação empreen-dedora no universo das m i c r o e p e q u e n a s empresas e do ensino formal. O livro está dis-ponível na Biblioteca Interativa Sebrae (BIS), no endereço http://www.sebrae.com.br/customizado/bis

A publicação teve como coordenador o diretor técnico do Sebrae, Carlos Alberto Santos, que ressaltou a importância do deba-te sobre o desenvolvimento na perspectiva dos pequenos negócios. Para isso, a necessidade de se construir e disseminar conhecimentos que conectem a discussão acadêmica com o cotidiano empresarial. “Hoje, o Brasil convive com o desafio de qualificar empreendedores e empresários para o mercado global, cada vez mais competitivo”, ressaltou o diretor.

Trinta especialistas assinam artigos que apontam caminhos e rela-tam experiências. O prefácio do livro é do ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Entre os participantes da publicação estão o professor Louis Jacque Filion, da Bussiness School, de Montreal, Cana-dá; Juliano Seabra, da Endeavor; Wilma Resende Araujo Santos, da Junior Achievement, e Mônica Dias Pinto, do Canal Futura.

Publicação

Caso de sucesso

Barretto ressaltou que o comportamento empreendedor proativo é útil tanto para quem vai ter o próprio negócio quanto para quem quer seguir carreiras empresariais. Isso porque o merca-do de trabalho, cada vez mais competitivo e globa-lizado, exige trabalhadores bem qualificados, que apresentem diferenciais competitivos. O Sebrae é o responsável pela capacitação, via internet, dos professores, por meio de cursos que totalizam, cada um 32 horas, ministrados em quatro semanas.O Pronatec Empreendedor terá três etapas. A pri-meira é a de sensibilização, com objetivo de mobi-lizar estudantes, educadores e instituições de ensi-no para a temática do empreendedorismo. Para isso, o Sebrae distribuirá materiais de divulgação como cartilhas, publicações, vídeo, banners. A segunda será a de capacitação de estudantes e pro-fessores. Na terceira, haverá premiação para ações de discentes, educadores e de instituições que apre-sentarem bons resultados, baseados nas atividades previstas.

Criado em outubro de 2011, o Pronatec tem como objetivo principal expandir, interiorizar e democratizar a oferta de cursos de Educação Pro-fissional e Tecnológica (EPT). Para tanto, prevê subprogramas, projetos e ações de assistência téc-nica e financeira que, juntos, oferecerão oito milhões de vagas a brasileiros de diferentes perfis até 2014. Os subprogramas proporcionam forma-ção para o trabalho a adolescentes, jovens e adul-tos nas redes estaduais e federais de nível médio de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), além do Sistema Nacional de Aprendizagem (SNA).

Empreendedorismo nas Universidades – Geo-vae Serafim do Rego, de 28 anos, estuda engenha-ria civil na Universidade de Brasília (UnB). Ele nun-ca havia pensado em ser empresário até frequentar a disciplina Introdução à Atividade Empresarial, oferecida, como optativa, pela UnB em parceria com o Sebrae. Estudante do nono semestre, ele já sonha em abrir um negócio no ramo da construção civil. “Preciso me capitalizar primeiro. Mas desco-bri que tenho perfil empreendedor. E vou investir nisso, com determinação”, afirma.

O Sebrae é responsável pela capacitação dos professores das disciplinas ligadas ao Empreende-

quanto mais evoluirmos na era do conhecimento, maior será nosso desenvolvimento”, afir-mou.

O Empretec é aplicado em forma de seminário e tem dura-ção de seis dias. O empreteco – como é chamado quem partici-pa da capacitação – é estimula-do a desenvolver características empreendedoras e identificar novas oportunidades de negó-cios. Por ser uma capacitação comportamental, o programa pode proporcionar aos seus par-ticipantes melhoria no desem-penho empresarial, maior segu-rança na tomada de decisões,

ampliação da visão de oportunida-des, aumentando, assim, as chan-ces de sucesso no negócio.

Pesquisa realizada pelo Sebrae aponta que, em média, os empre-endedores registraram um acrés-cimo médio no faturamento de R$ 24,6 mil por mês depois da con-clusão do Empretec. Mais de 90% dos entrevistados de uma amostra de 1.871 empresas confirmaram aumento também dos lucros, a partir da aplicação imediata de mudanças nos processos de pro-dução de bens e serviços e tam-bém de atendimento à clientela.

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Carlos Alberto dos Santos, diretor técnicodo Sebrae Nacional.

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RUMOS - 57 – Maio/Junho 2013

O livro perpassa a trajetória brasileira na exploração de petróleo, com desta-que especial para investimento em tecnologia realizado pela Petrobras, com a extração em águas profundas. O autor, pesquisador do Ipea, apresen-ta um estudo que tem como temas centrais: a evolução das explorações de petróleo na plataforma marítima brasileira, análises do sistema de gestão tecnológica adotado no desenvolvi-mento dos campos de petróleo da Bacia de Campos, descrições e avalia-ções das principais inovações em equipamentos e sistemas de produção submarinos, e uma apreciação dos desenvolvimentos na exploração e na produção de petróleo no Pré-sal.

Eric Hobsbawm foi um dos principais intérpretes da era moderna. Morto em 2012, ele deixou uma obra vasta capaz de dar sentido a um conjunto impor-tante de transformações políticas e sociais, da Revolução Francesa aos dias de hoje. Em diversas modalida-des de texto, o autor acompanha o flo-rescimento da belle époque, as vertentes do capitalismo moderno na Europa e nos Estados Unidos, a consolidação da sociedade de consumo. A coletâ-nea, finalizada pouco antes da morte do autor, reúne em sua maioria textos escritos a partir dos anos 1990. O livro é um testamento à altura do autor, um dos mais brilhantes intelectuais do século XX.

Primeiro funcionário de carreira da ONU a ser eleito para o cargo de secretário-geral e primeiro africano negro a comandar a maior organiza-ção multilateral do mundo, Kofi Annan dedicou a maior parte de sua vida à defesa da paz mundial e à pro-moção dos direitos humanos. Como ele mesmo avalia nestas memórias, a ONU tem enfrentado, desde o fim da Guerra Fria, as consequências dramá-ticas do antagonismo entre os interes-ses geopolíticos das grandes potências e os direitos e garantias mais básicos dos habitantes do planeta. Nesta obra, em parceria com Nader Mousavideh, seu ex-assessor, ele expõe os bastido-res do jogo geopolítico mundial.

O livro, que tem como base a disserta-ção de mestrado de Marcos Dantas, reflete sobre o trabalho no mundo moderno. Para o autor, o trabalho, nas formas mais avançadas de capitalismo, é informacional, conceito que reconhe-ce a materialidade do trabalho mas entende que, entre a atividade socio-metabólica humana e o seu produto material final, efetua-se todo um amplo conjunto de atividades de produção, registro e comunicação, na forma de textos, cálculos matemáticos, desenhos, operações em instrumentos de medi-ção ou controle, programação de com-putadores etc. O texto encontra-se dis-ponível para download livremente no link: http://goo.gl/GLcNe

Petróleo em Águas ProfundasJosé Mauro de MoraisIpea/Petrobras, 424 p., 2013.

Tempos Fraturados: Cultura e Sociedade no Século XXEric Hobsbawm Companhia das Letras, 344 p., 2013.

Trabalho com Informação: Valor, Acumulação, Apropriação nas Redes do CapitalCFCH-UFRJ, 248 p., 2012.

Volta à história para guiar o futuro

Pesquisador do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro e doutor em economia pela Universidade Paris I, João Paulo de Almeida Magalhães discute em livro o modelo de desenvolvimento brasileiro e alerta para os caminhos que o país precisa seguir

RUMOS - 56 – Maio/Junho 2013

Economia da informação

L LIVROS

IntervençõesKofi Annan e Nader MousavidehCompanhia das Letras, 464 p.,2013.

Sobre o século que passou

Crescimento Clássico e Crescimento RetardatárioJoão Paulo de Almeida MagalhãesContraponto, 204 p., 2012.

Rumos – Na década de 1970, o Brasil viveu um processo de desenvolvimento acentua-do. Qual a diferença daquela época para o desenvolvimento atual?João Paulo de Almeida Magalhães – Na verdade, o crescimento acelerado do Brasil se prolongou pelos primeiros 80 anos do século passado. Algumas estimativas indicam que durante esse período fomos ultrapassados somente pelo Japão. A partir de 1930, nosso crescimento foi feito no contexto do modelo de substituição de importações. Esgotado o esto-que de importações substituíveis, em 1980, deveríamos ter evoluído para um modelo de crescimento para fora baseado em exportações. Fato que não ocorreu, ingressando o país em processo de semiestagnação crônica. Isso por dois motivos básicos: em primeiro lugar, diante do grande mercado interno brasileiro o governo acreditou que poderíamos chegar ao pleno desenvolvimento apenas com base no mercado interno. Assim, diferentemente dos países asiáti-cos (Coreia do Sul, Taiwan e outros) não adota-mos estímulos para que empresas brasileiras se tornassem, quanto antes, internacionalmente competitivas. O que dificultou a passagem para o modelo de crescimento para fora. Em segundo lugar, aderimos ao neoliberalismo que, com base nas propostas do Consenso de Washington, vedava qualquer ação sistemática do governo na economia como, por exemplo, a adoção de políticas industriais. A correção do erro do período anterior tornou-se dessa forma inviável.

Rumos – No livro, o senhor menciona os países asiáticos. Qual a lição que tais nações podem oferecer ao Brasil?Magalhães – Nesses países, duas premissas foram consideradas: (a) apesar de terem como base do seu crescimento a iniciativa privada, não se curvaram a um neoliberalismo do tipo pro-pugnado pelo Consenso de Washington. O governo chinês, por exemplo, montou um controle de câmbio que subvalorizou fortemen-te sua moeda, tornando seus produtos altamen-te competitivos com penetração nos mercados internacionais, dominando não somente parce-las do nosso mercado interno, como excluindo produtos brasileiros de alguns dos nossos mer-cados tradicionais, como o dos Estados Unidos; (b) os países asiáticos compreenderam que políticas de desenvolvimento não devem ter como base o aspecto da oferta, ou seja, o aumento da taxa de poupanças, mas sim a garan-tia de mercados de dimensão e dinamismo adequados. Isso porque, garantido o mercado, as poupanças se elevam automaticamente. Os países asiáticos registram hoje poupanças de

rão ser atendidas, apesar das promessas do governo. O lento crescimento da economia brasileira, a partir de 1980, impediu que nosso PIB atingisse o nível requerido para atendê-las. Situação extremamente preocupante.

Rumos – Estamos diante do risco real de desindustrialização?Magalhães – Não estamos apenas diante de um risco, mas sim de um grave processo de desindustrialização amplamente denunciado no documento do Ipea. Alegam alguns que a indústria brasileira continua a crescer. Isso, porém, nos ramos de tecnologia mais elemen-tar e de baixo valor adicionado por trabalhador. Afirma-se que a perda de participação da indústria no PIB é normal. Porém esse fato só deveria acontecer em fase mais avançada do processo industrial. Ou seja, o que ocorre no Brasil é uma “desindustrialização precoce”, isto é, antes de a produção manufatureira por habitante haver atingido o nível desejável. O que, a longo prazo, nos impedirá de alcançar o pleno desenvolvimento tornando-nos especia-lizados na produção de commodities agrícolas e industriais.

Rumos – Como colocar o Brasil no caminho do desenvolvimento forte e sustentável?Magalhães – Evidentemente essa resposta merece uma reflexão maior, mas, aponto, de forma de forma aleatória e sucinta, alguns pontos relevantes. A base da mudança deve ser uma estratégia de longo prazo apoiada na inicia-tiva privada mas firmemente comandada pelo governo, e na qual uma política industrial é extremamente importante. Entre os aspectos relevantes temos: (a) o crescimento deve ter como base a garantia para o país de mercados de dimensões adequadas em setores dinâmicos da economia. Instrumento de aplicação imedia-ta é a desvalorização do real colocando-o, pelo menos, na taxa de R$ 2,8 por dólar; (b) ênfase no mercado externo, o que implica conceder prioridade a empresas de capital nacional, dado que filiais de empresas estrangeiras não podem concorrer com suas matrizes no mercado internacional; (c) prioridade para metas de desenvolvimento e não para metas de inflação. Medidas devem ser tomadas para que a inflação seja a menor possível, desde que elas não preju-diquem as metas de desenvolvimento (de pelo menos 7% ao ano); (d) combate à inflação com base em políticas de rendimento, tal como aconteceu no Plano Real, e não na elevação da taxa de juros. Nesse contexto, medida prelimi-nar indispensável é a imediata proibição de qualquer modalidade de controle de preços.

Exploração à brasileira

Um manual abrangente para guiar os interessados no mundo da publicidade e da propaganda. É com esse objetivo que a obra chega a sua 15ª edição com uma perspectiva bem estruturada dos mercados internacionais. O texto abrange questões de história, geogra-fia, língua, religião, comportamento do consumidor e economia. É uma referência para entender a singularida-de cultural e ambiental de qualquer nação ou região para a prática do mar-keting. Além do conteúdo técnico, nes-sa edição revisada estão colocadas questões que dizem respeito à amplia-ção do número de famílias de classe média, aos acordos de livre-comércio e ao marketing verde.

Marketing InternacionalPhilip R. Cateora, Marcy C. Gilly e John L. GrahamMCGrawHill, 656 p., 2013.

Síntese da publicidade

Relações internacionais

Karl Polanyi (1886-1964) foi um dos mais eruditos cientistas sociais do sécu-lo XX. Manteve convicções socialistas durante toda a vida, mas permaneceu à margem do debate que dividiu o movimento trabalhista europeu em socialdemocratas e comunistas. Conti-nuador da tradição do pensamento so-cial europeu de sua época, Polanyi não estabeleceu fronteiras rígidas entre as disciplinas, transitando pela econo-mia, a história e a sociologia. Na cole-tânea de 16 artigos do cientista é possí-vel encontrar a combinação de erudi-ção e originalidade do autor, cuja obra vem despertando interesse crescente em todo o mundo. A edição brasileira traz textos inéditos em português.

A Subsistência do HomemKarl Polanyi, Kari Polanyi Levitt (org.)Contraponto, 384 p., 2012.

Para repensar a sociedade

cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no Brasil essa percentagem não vai além de 18% ou 19%.

Rumos – Quais os riscos do desenvolvimen-to retardatário?Magalhães – As populações dos países subde-senvolvidos tomaram conhecimento dos padrões de vida do Primeiro Mundo, inclusive por terem sido eles adotados pelos grupos de renda mais elevada de seus países. Passaram assim a reivindicá-los, o que torna essencial um crescimento acelerado que permita atender tal reivindicação, tão cedo quanto possível. O Insti-tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no importante documento de 2010 “Macroecono-mia para o Desenvolvimento”, declara ser funda-mental para o Brasil uma taxa anual de cresci-mento de 7%, ou seja, mais de duas vezes superi-or ao que temos alcançado nos últimos 30 anos. Apesar disso, o governo brasileiro aceita como teto para o incremento do PIB a taxa de 5%, para evitar que a inflação se acelere. No meu livro, afirmo que, a prazo médio e longo, o lento cresci-mento brasileiro nos traria graves problemas. As atuais manifestações de rua mostram que o problema já surgiu em reivindicações de melho-res condições de saúde, de transportes urbanos e de ensino no que se baseiam os grupos que conhecem países desenvolvidos e os hábitos de nossa alta classe média, simplesmente não pode-

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RUMOS - 57 – Maio/Junho 2013

O livro perpassa a trajetória brasileira na exploração de petróleo, com desta-que especial para investimento em tecnologia realizado pela Petrobras, com a extração em águas profundas. O autor, pesquisador do Ipea, apresen-ta um estudo que tem como temas centrais: a evolução das explorações de petróleo na plataforma marítima brasileira, análises do sistema de gestão tecnológica adotado no desenvolvi-mento dos campos de petróleo da Bacia de Campos, descrições e avalia-ções das principais inovações em equipamentos e sistemas de produção submarinos, e uma apreciação dos desenvolvimentos na exploração e na produção de petróleo no Pré-sal.

Eric Hobsbawm foi um dos principais intérpretes da era moderna. Morto em 2012, ele deixou uma obra vasta capaz de dar sentido a um conjunto impor-tante de transformações políticas e sociais, da Revolução Francesa aos dias de hoje. Em diversas modalida-des de texto, o autor acompanha o flo-rescimento da belle époque, as vertentes do capitalismo moderno na Europa e nos Estados Unidos, a consolidação da sociedade de consumo. A coletâ-nea, finalizada pouco antes da morte do autor, reúne em sua maioria textos escritos a partir dos anos 1990. O livro é um testamento à altura do autor, um dos mais brilhantes intelectuais do século XX.

Primeiro funcionário de carreira da ONU a ser eleito para o cargo de secretário-geral e primeiro africano negro a comandar a maior organiza-ção multilateral do mundo, Kofi Annan dedicou a maior parte de sua vida à defesa da paz mundial e à pro-moção dos direitos humanos. Como ele mesmo avalia nestas memórias, a ONU tem enfrentado, desde o fim da Guerra Fria, as consequências dramá-ticas do antagonismo entre os interes-ses geopolíticos das grandes potências e os direitos e garantias mais básicos dos habitantes do planeta. Nesta obra, em parceria com Nader Mousavideh, seu ex-assessor, ele expõe os bastido-res do jogo geopolítico mundial.

O livro, que tem como base a disserta-ção de mestrado de Marcos Dantas, reflete sobre o trabalho no mundo moderno. Para o autor, o trabalho, nas formas mais avançadas de capitalismo, é informacional, conceito que reconhe-ce a materialidade do trabalho mas entende que, entre a atividade socio-metabólica humana e o seu produto material final, efetua-se todo um amplo conjunto de atividades de produção, registro e comunicação, na forma de textos, cálculos matemáticos, desenhos, operações em instrumentos de medi-ção ou controle, programação de com-putadores etc. O texto encontra-se dis-ponível para download livremente no link: http://goo.gl/GLcNe

Petróleo em Águas ProfundasJosé Mauro de MoraisIpea/Petrobras, 424 p., 2013.

Tempos Fraturados: Cultura e Sociedade no Século XXEric Hobsbawm Companhia das Letras, 344 p., 2013.

Trabalho com Informação: Valor, Acumulação, Apropriação nas Redes do CapitalCFCH-UFRJ, 248 p., 2012.

Volta à história para guiar o futuro

Pesquisador do Centro de Estudos para o Desenvolvimento do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro e doutor em economia pela Universidade Paris I, João Paulo de Almeida Magalhães discute em livro o modelo de desenvolvimento brasileiro e alerta para os caminhos que o país precisa seguir

RUMOS - 56 – Maio/Junho 2013

Economia da informação

L LIVROS

IntervençõesKofi Annan e Nader MousavidehCompanhia das Letras, 464 p.,2013.

Sobre o século que passou

Crescimento Clássico e Crescimento RetardatárioJoão Paulo de Almeida MagalhãesContraponto, 204 p., 2012.

Rumos – Na década de 1970, o Brasil viveu um processo de desenvolvimento acentua-do. Qual a diferença daquela época para o desenvolvimento atual?João Paulo de Almeida Magalhães – Na verdade, o crescimento acelerado do Brasil se prolongou pelos primeiros 80 anos do século passado. Algumas estimativas indicam que durante esse período fomos ultrapassados somente pelo Japão. A partir de 1930, nosso crescimento foi feito no contexto do modelo de substituição de importações. Esgotado o esto-que de importações substituíveis, em 1980, deveríamos ter evoluído para um modelo de crescimento para fora baseado em exportações. Fato que não ocorreu, ingressando o país em processo de semiestagnação crônica. Isso por dois motivos básicos: em primeiro lugar, diante do grande mercado interno brasileiro o governo acreditou que poderíamos chegar ao pleno desenvolvimento apenas com base no mercado interno. Assim, diferentemente dos países asiáti-cos (Coreia do Sul, Taiwan e outros) não adota-mos estímulos para que empresas brasileiras se tornassem, quanto antes, internacionalmente competitivas. O que dificultou a passagem para o modelo de crescimento para fora. Em segundo lugar, aderimos ao neoliberalismo que, com base nas propostas do Consenso de Washington, vedava qualquer ação sistemática do governo na economia como, por exemplo, a adoção de políticas industriais. A correção do erro do período anterior tornou-se dessa forma inviável.

Rumos – No livro, o senhor menciona os países asiáticos. Qual a lição que tais nações podem oferecer ao Brasil?Magalhães – Nesses países, duas premissas foram consideradas: (a) apesar de terem como base do seu crescimento a iniciativa privada, não se curvaram a um neoliberalismo do tipo pro-pugnado pelo Consenso de Washington. O governo chinês, por exemplo, montou um controle de câmbio que subvalorizou fortemen-te sua moeda, tornando seus produtos altamen-te competitivos com penetração nos mercados internacionais, dominando não somente parce-las do nosso mercado interno, como excluindo produtos brasileiros de alguns dos nossos mer-cados tradicionais, como o dos Estados Unidos; (b) os países asiáticos compreenderam que políticas de desenvolvimento não devem ter como base o aspecto da oferta, ou seja, o aumento da taxa de poupanças, mas sim a garan-tia de mercados de dimensão e dinamismo adequados. Isso porque, garantido o mercado, as poupanças se elevam automaticamente. Os países asiáticos registram hoje poupanças de

rão ser atendidas, apesar das promessas do governo. O lento crescimento da economia brasileira, a partir de 1980, impediu que nosso PIB atingisse o nível requerido para atendê-las. Situação extremamente preocupante.

Rumos – Estamos diante do risco real de desindustrialização?Magalhães – Não estamos apenas diante de um risco, mas sim de um grave processo de desindustrialização amplamente denunciado no documento do Ipea. Alegam alguns que a indústria brasileira continua a crescer. Isso, porém, nos ramos de tecnologia mais elemen-tar e de baixo valor adicionado por trabalhador. Afirma-se que a perda de participação da indústria no PIB é normal. Porém esse fato só deveria acontecer em fase mais avançada do processo industrial. Ou seja, o que ocorre no Brasil é uma “desindustrialização precoce”, isto é, antes de a produção manufatureira por habitante haver atingido o nível desejável. O que, a longo prazo, nos impedirá de alcançar o pleno desenvolvimento tornando-nos especia-lizados na produção de commodities agrícolas e industriais.

Rumos – Como colocar o Brasil no caminho do desenvolvimento forte e sustentável?Magalhães – Evidentemente essa resposta merece uma reflexão maior, mas, aponto, de forma de forma aleatória e sucinta, alguns pontos relevantes. A base da mudança deve ser uma estratégia de longo prazo apoiada na inicia-tiva privada mas firmemente comandada pelo governo, e na qual uma política industrial é extremamente importante. Entre os aspectos relevantes temos: (a) o crescimento deve ter como base a garantia para o país de mercados de dimensões adequadas em setores dinâmicos da economia. Instrumento de aplicação imedia-ta é a desvalorização do real colocando-o, pelo menos, na taxa de R$ 2,8 por dólar; (b) ênfase no mercado externo, o que implica conceder prioridade a empresas de capital nacional, dado que filiais de empresas estrangeiras não podem concorrer com suas matrizes no mercado internacional; (c) prioridade para metas de desenvolvimento e não para metas de inflação. Medidas devem ser tomadas para que a inflação seja a menor possível, desde que elas não preju-diquem as metas de desenvolvimento (de pelo menos 7% ao ano); (d) combate à inflação com base em políticas de rendimento, tal como aconteceu no Plano Real, e não na elevação da taxa de juros. Nesse contexto, medida prelimi-nar indispensável é a imediata proibição de qualquer modalidade de controle de preços.

Exploração à brasileira

Um manual abrangente para guiar os interessados no mundo da publicidade e da propaganda. É com esse objetivo que a obra chega a sua 15ª edição com uma perspectiva bem estruturada dos mercados internacionais. O texto abrange questões de história, geogra-fia, língua, religião, comportamento do consumidor e economia. É uma referência para entender a singularida-de cultural e ambiental de qualquer nação ou região para a prática do mar-keting. Além do conteúdo técnico, nes-sa edição revisada estão colocadas questões que dizem respeito à amplia-ção do número de famílias de classe média, aos acordos de livre-comércio e ao marketing verde.

Marketing InternacionalPhilip R. Cateora, Marcy C. Gilly e John L. GrahamMCGrawHill, 656 p., 2013.

Síntese da publicidade

Relações internacionais

Karl Polanyi (1886-1964) foi um dos mais eruditos cientistas sociais do sécu-lo XX. Manteve convicções socialistas durante toda a vida, mas permaneceu à margem do debate que dividiu o movimento trabalhista europeu em socialdemocratas e comunistas. Conti-nuador da tradição do pensamento so-cial europeu de sua época, Polanyi não estabeleceu fronteiras rígidas entre as disciplinas, transitando pela econo-mia, a história e a sociologia. Na cole-tânea de 16 artigos do cientista é possí-vel encontrar a combinação de erudi-ção e originalidade do autor, cuja obra vem despertando interesse crescente em todo o mundo. A edição brasileira traz textos inéditos em português.

A Subsistência do HomemKarl Polanyi, Kari Polanyi Levitt (org.)Contraponto, 384 p., 2012.

Para repensar a sociedade

cerca de 30% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto no Brasil essa percentagem não vai além de 18% ou 19%.

Rumos – Quais os riscos do desenvolvimen-to retardatário?Magalhães – As populações dos países subde-senvolvidos tomaram conhecimento dos padrões de vida do Primeiro Mundo, inclusive por terem sido eles adotados pelos grupos de renda mais elevada de seus países. Passaram assim a reivindicá-los, o que torna essencial um crescimento acelerado que permita atender tal reivindicação, tão cedo quanto possível. O Insti-tuto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), no importante documento de 2010 “Macroecono-mia para o Desenvolvimento”, declara ser funda-mental para o Brasil uma taxa anual de cresci-mento de 7%, ou seja, mais de duas vezes superi-or ao que temos alcançado nos últimos 30 anos. Apesar disso, o governo brasileiro aceita como teto para o incremento do PIB a taxa de 5%, para evitar que a inflação se acelere. No meu livro, afirmo que, a prazo médio e longo, o lento cresci-mento brasileiro nos traria graves problemas. As atuais manifestações de rua mostram que o problema já surgiu em reivindicações de melho-res condições de saúde, de transportes urbanos e de ensino no que se baseiam os grupos que conhecem países desenvolvidos e os hábitos de nossa alta classe média, simplesmente não pode-

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CARTAS DO LEITOR

Redação e AdministraçãoAvenida Nilo Peçanha, 50, 11º andar Grupo 1109 Rio de Janeiro - RJ - CEP: 20020-906Telefone (21) 2109.6041Fax (21) 2109.6004

[email protected] Assessora/Editora Thais Sena Schettino

EquipeLívia Marques PimentelNoel Joaquim Faiad

Revisão Renato R. Carvalho

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Escritório: Avenida Nilo Peçanha, 50 -11º andarGrupo 1109 - Rio de Janeiro - RJ - CEP 20020-906Telefone: (21) 2109.6000Fax: (21) 2109.6004E-mail: [email protected]

CONSELHO DOS ASSOCIADOSPresidente: Luciano Coutinho

DIRETORIAPresidente: Carlos Henrique Horn

1º Vice-Presidente: Aristóteles Alves de Menezes Júnior

Vice-Presidentes: Adilson do Nascimento Anísio, Carlos Alberto dos Santos, João Guerino Balestrassi, José Domingos Vargas, Luiz Antônio Faustino Maronezi, Marcelo de Carvalho Lopes, Marco Aurélio Borges de Almada Abreu, Valmir Rossi.

Superintendente-Executivo: Marco Antonio A. de Araujo Lima

Publicação bimestral

ISSN 1415-4722

Instituições Associadas à ABDE

AFAP – Agência de Fomento do Estado do Amapá S.A.AFEAM – Agência de Fomento do Estado do Amazonas S.A.AFERR – Agência de Fomento do Estado de Roraima S.A.AGEFEPE – Agência de Fomento do Estado de Pernambuco S.A.AGN – Agência de Fomento do Rio Grande do Norte S.A.AGERIO – Agência Estadual de FomentoBADESC – Agência de Fomento do Estado de Santa Catarina S.A.BADESUL – Caixa Estadual S.A. Agência de FomentoBANCO DA AMAZÔNIA – Banco da Amazônia S.A.BANCOOB – Banco Cooperativo do Brasil S.A.BANDES – Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo S.A.BANPARÁ – Banco do Estado do Pará S.ABANRISUL – Banco do Estado do Rio Grande do Sul S.A.BB – Banco do Brasil S.A.BDMG – Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais S.A.BNB – Banco do Nordeste do Brasil S.A.BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e SocialBRDE – Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo SulBRB – Banco de BrasíliaCAIXA – Caixa Econômica FederalDESENBAHIA – Agência de Fomento do Estado da Bahia S.A.DESENVOLVE – Agência de Fomento de Alagoas S.A.DESENVOLVE SP – Agência de Desenvolvimento PaulistaFINEP – Financiadora de Estudos e ProjetosFOMENTO – Agência de Fomento do Estado do Tocantins S.A.FOMENTO PARANÁ – Agência de Fomento do Paraná S.A.GOIÁSFOMENTO – Agência de Fomento de Goiás S.A.MT FOMENTO – Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S.A.PIAUÍ FOMENTO – Ag. de Fomento e Desenvolvimento do Estado do Piauí S.A.SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

Capa Noel Joaquim Faiad com foto de Flora Egécia

Impressão e CTP J. Sholna Reproduções Gráficas

Distribuição SVD/Sistemas de Venda Direta

Conselho EditorialCarlos Alberto dos Santos, Carlos Henrique Horn, João Paulo dos Reis Velloso, Maurício Borges Lemos e Thais Sena Schettino.

As matérias assinadas são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a opinião da ABDE. Sua reprodução é livre em qualquer outro veículo de comunicação, desde que citada a fonte.

RUMOS - 58 – Maio/Junho 2013

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Ano 37 – Nº 269 Maio/Junho 2013

BIDPrezados, gostaria de verificar a possibilidade de minha inclusão na lista de distribuição para receber a versão impressa ou virtual da revista Rumos. Luciano Schweizer, especialista sênior. Fundo Multilateral de Investimento. Brasília (DF).

ASSOCIAÇÃO EDUCACIONAL Recebemos e agradecemos o envio da revista Rumos, ano 37, nº 268, março/abril de 2013, pois veio enriquecer o acervo de nossa biblioteca. Marli de Oliveira Felipe, técnico de biblioteca. Asso-ciação Educacional Toledo. Presidente Prudente (SP). AGÊNCIA REGULADORAGostaria de saber onde posso encontrar um artigo publicado na revista Rumos nº 146, ano XXII, assinado por Luís Eduardo Gal-vão com o título de “Transportes no Brasil: Atrasando o futuro”, pois estou fazendo uma pesquisa sobre o assunto. Grato. Asses-soria de Comunicação Social da Agência Estadual Reguladora dos Serviços Públicos Delegados do RS. Rio Grande do Sul (RS).

UNIMONTESRecebemos e agradecemos o envio dos exemplares nº 265 e 266, respectivamente setembro/outubro e novembro/dezembro, da revista Rumos. Desejamos continuar a receber como doação a publicação. Edmar dos Reis de Deus, bibliotecário. Universida-de Estadual de Montes Claros. Montes Claros (MG). ADVOGADOGostaria de comentar os textos do professor Ignacy Sachs, que trazem considerações interessantes. Ele vem fazendo um panora-ma das economias dos países emergentes, com destaque para a edição 268, na qual propõe pensar sobre o modelo de desenvolvi-mento em nações tão diversas. São reflexões que pedem equilíbrio entre avanço e equidade. Roberto Nunes, advogado. Rio de Janeiro (RJ).

ERRATANa seção Expertise (págs. 10, 11 12 e 13), da edição de nº 268 da revista Rumos, apresentamos uma entrevista com o professor Marco Crocco. Na reportagem intitulada “Pelo Ralo”, o nome correto da instituição presidida pelo professor Crocco é Funda-ção de Desenvolvimento da Pesquisa (Fundep).

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