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É com grande sasfação que abrimos a primeira edição do Bolem de Nocias de 2012 com a divulgação do Congres- so Internacional de Psicanálise e do VII Encontro Ítalo-Brasileiro de Psicanálise a ser realizado no Quality Hotel, aqui em Aracaju, em parceria com o Istuto Psicoanalico di Formazione e Ricerca A. B. Ferrari, de Roma (IPFR). Um evento parcularmente especial para o Núcleo Psicanalíco de Aracaju por nos proporcionar um aprofundamento das ideias do Professor Armando Ferrari que era intenso, inteiro e apaixonado pelas coisas que fazia, deixando sua impressão em todos que conviveram com ele, mesmo que tenha sido num curto espaço de tempo. Armando Ferrari parte do pensamento de Freud, Klein e Bion e de sua pesquisa clínica e propõe uma mudança significa- va sobre o tema do objeto, ou seja, ele coloca o corpo como objeto, por excelência, da mente, sua realidade primeira. A parr desta proposição ele desenvolve suas hipóteses,trazendo um novo olhar na nossa clínica. O nosso Congresso objeva destacar algumas questões relevantes na relação analíca. Dra Fausta Romano (juntamente com os demais membros italianos) nos brinda com um argo que serve como apresentação do que será desenvolvido no nosso encontro, enfocando as quatro áreas de aprofundamento e discussão a serem debadas durante o evento, que são: a linguagem entre analista e analisando, os registros de linguagem, a dimensão vercal do analista e do analisando e a consciência sobre si mesmo. Nosso bolem traz a mensagem da nova presidente do NPA, Dra Stela Santana, na qual ela destaca as metas para a gestão 2012-2014. Desejamos que os seus objevos encontrem terreno férl para fazer brotar frutos procuos dando connui- dade ao plano realizado na gestão anterior. Temos também um argo reflexivo sobre “o adoecimento da alma”, escrito - de forma sensível e cuidadosa - pela Dra Marisilda Barros no qual assinala: “o senr nos impulsiona e a alma então nos personaliza”, sendo a tarefa da psicanálise oferecer “a oportunidade de restaurar a vida psíquica pela escuta verdadeira e singular do analisando”. O Bolem de Nocias traz as homenagens a Jean Laplanche e a André Green, grandes mestres da psicanálise contempo- rânea, feitas por Dr Adalberto Goulart e por mim. E, ainda, o Calendário de Eventos. A todos, uma boa leitura! Esperamos encontrá-los em nosso Congresso em agosto! *Diretora Cienfica do NPA / Membro associado da SPRPE Sumário 2 4 6 3 7 8 Mensagem Sinopse Calendário programa Homenagens Artigo [ [ [ [ [ [ ] ] ] ] ] ] EDITORIAL Eixos Centrais do Congresso Internacional As novas doenças da alma Green Vanda Pimenta * Ano 11, Edição Nº 23, Junho/2012 Eventos e Avidades do NPA Laplanche

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É com grande satisfação que abrimos a primeira edição do Boletim de Notícias de 2012 com a divulgação do Congres-so Internacional de Psicanálise e do VII Encontro Ítalo-Brasileiro de Psicanálise a ser realizado no Quality Hotel, aqui

em Aracaju, em parceria com o Istituto Psicoanalitico di Formazione e Ricerca A. B. Ferrari, de Roma (IPFR). Um evento particularmente especial para o Núcleo Psicanalítico de Aracaju por nos proporcionar um aprofundamento das ideias do Professor Armando Ferrari que era intenso, inteiro e apaixonado pelas coisas que fazia, deixando sua impressão em todos que conviveram com ele, mesmo que tenha sido num curto espaço de tempo.Armando Ferrari parte do pensamento de Freud, Klein e Bion e de sua pesquisa clínica e propõe uma mudança significa-tiva sobre o tema do objeto, ou seja, ele coloca o corpo como objeto, por excelência, da mente, sua realidade primeira. A partir desta proposição ele desenvolve suas hipóteses,trazendo um novo olhar na nossa clínica.O nosso Congresso objetiva destacar algumas questões relevantes na relação analítica. Dra Fausta Romano (juntamente com os demais membros italianos) nos brinda com um artigo que serve como apresentação do que será desenvolvido no nosso encontro, enfocando as quatro áreas de aprofundamento e discussão a serem debatidas durante o evento, que são: a linguagem entre analista e analisando, os registros de linguagem, a dimensão vertical do analista e do analisando e a consciência sobre si mesmo. Nosso boletim traz a mensagem da nova presidente do NPA, Dra Stela Santana, na qual ela destaca as metas para a gestão 2012-2014. Desejamos que os seus objetivos encontrem terreno fértil para fazer brotar frutos profícuos dando continui-dade ao plantio realizado na gestão anterior.Temos também um artigo reflexivo sobre “o adoecimento da alma”, escrito - de forma sensível e cuidadosa - pela Dra Marisilda Barros no qual assinala: “o sentir nos impulsiona e a alma então nos personaliza”, sendo a tarefa da psicanálise oferecer “a oportunidade de restaurar a vida psíquica pela escuta verdadeira e singular do analisando”.O Boletim de Notícias traz as homenagens a Jean Laplanche e a André Green, grandes mestres da psicanálise contempo-rânea, feitas por Dr Adalberto Goulart e por mim. E, ainda, o Calendário de Eventos.A todos, uma boa leitura! Esperamos encontrá-los em nosso Congresso em agosto!

*Diretora Científica do NPA / Membro associado da SPRPE

Sum

ário

2 4 63 7 8Mensagem Sinopse Calendárioprograma Homenagens Artigo[ [ [ [ [ [] ] ] ] ] ]

EditoriAl

Eixos Centrais do CongressoInternacional

As novas doenças da almaGreen

Vanda Pimenta *

Ano 11, Edição Nº 23, Junho/2012

Eventos e Atividades do

NPAlaplanche

Convidada pelo Dr. Adalberto Goulart para me candida-tar à presidência do NPA, após um período de reflexão, decidi aceitar o desafio .Como Membro Fundadora do NPA, venho, desde a sua criação, colaborando ativamente na qualidade de Dire-tora Científica. Ao longo de minha trajetória, primeiro como Membro Associado, posteriormente Membro Efe-tivo e, mais recentemente, Analista Didata da SPRPE, a minha responsabilidade vem aumentando paralelamen-te ao meu crescimento. Pelo vínculo que tenho com o NPA e pelo compromisso com o seu desenvolvimento e com a difusão da psicanálise, não poderia me omitir neste momento. Busquei o apoio de colegas e amigos aos quais manifesto meu agradecimento pela confiança e colaboração. Esperamos juntos alcançar a realização de nossas metas:Aprofundar o estudo e a difusão da psicanálisePromover a integração e o crescimento dos membros do NPA – SPRPEFortalecer os vínculos institucionaisEstabelecer intercâmbios com outras áreas do conheci-mento, Medicina, Antropologia, Filosofia, Educação, His-tória, e diversos segmentos da Arte, Cinema, Literatura, Música.Visando a concretização destes objetivos foram criadas as Comissões de Psicanálise e Cultura e Publicidade e Di-vulgação. Programamos a realização de cursos, congres-sos, encontros científico-culturais. Já iniciamos o Curso de Psicopatologia da Infância e Adolescência, estamos dando continuidade ao Grupo de Estudo permanente das quintas-feiras, Grupo de Estudo da Criança e Adoles-cente e ao Curso de Psicoterapia Psicanalítica.Fizemos uma parceria com a Sociedade Médica de Sergi-

pe para a implementação do Projeto Psicanálise e Cine-ma que já está acontecendo integrado ao Cine- Somese.Em fase de planejamento, outros projetos:O NPA vai às UniversidadesO NPA vai às EscolasCom grande honra realizaremos o CONGRESSO INTER-NACIONAL DE PSICANÁLISE - VII ENCONTRO ÍTALO-BRA-SILEIRO DE PSICANÁLISETeremos mais uma vez a oportunidade de um rico en-contro científico entre colegas e amigos italianos e brasi-leiros. Os eixos centrais do evento - A dimensão vertical do analista e do analisando, a linguagem entre analista e analisando, registros de linguagem e a consciência sobre si mesmo - com certeza, suscitarão discussões e refle-xões frutíferas. Como nos eventos anteriores, a metodologia adotada possibilitará um maior intercâmbio entre apresentado-res, debatedores e a plateia: os participantes recebe-rão previamente os trabalhos e apenas um resumo será apresentado durante o evento, permitindo um maior tempo disponível para as discussões. O NPA e a nossa Aracaju, estão prontos para recebê-los com o carinho e a hospitalidade que nos é peculiar.Venham desfrutar a beleza e o calor de nossas praias de águas mornas, o sabor de nossa culinária e a riqueza do folclore sergipano.Aguardamos vocês.

Stela Santana *

(*) Presidente do Núcleo Psicanalítico de AracajuMembro Efetivo e Analista Didata da Sociedade Psicanalítica do Recife

PresidenteMaria Stela Menezes SantanaDiretora CientíficaVanda Maria de Carvalho PimentaDiretora AdministrativaSheila Elizabeth Oliveira BastosDiretora FinanceiraPetruska Passos MenezesCoordenador de Formação Psicanalítica Carlos de Almeida Vieira

Comissão de Psicanálise e Cultura:Aldo Christiano,Ana Rita Menezes, Angélica Hermínia, Danilo Goulart,Mário Celso Andrade,Rachel Barreto.

NoVA dirEtoriA NPA GEStÃo 2012 - 2014

Mensagem da Presidente

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Caros Amigos,

Comissão de Divulgação e Publicidade: Isabela Pena,Isaque dos Santos, Petruska Menezes, Tatiana Menezes, Vanda Pimenta.

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Adalberto Goulart (Aracaju)Aldo Christiano (Aracaju)Carlos de Almeida Vieira (Brasília)Daniela Radano (Roma)Fausta Romano (Roma)Maria Stela Menezes Santana (Aracaju)

Paolo Bucci (Roma)Petruska Menezes (Aracaju)Sylvia Tauriello (Roma)Sheila Elizabeth Bastos (Aracaju)Vanda Pimenta (Aracaju)

Comissão organizadora

Informações e Inscrições:NPA. Av. Anísio Azevedo, 675/1103. Bairro Salgado Filho. Aracaju - SE. CEP.: 49020-240.Telefax: (79) 3246-5729. E-mail: [email protected]

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O nosso objetivo, para este encontro, é o de evidenciar algumas áreas significativas daquele encontro tão singular e especial que chamamos de Relação Analítica. Será possível compreender e descrever o que ocorre entre os dois protagonistas desta relação, sem desnaturar a sua essência? Será possível identificar algumas invariantes descritíveis e transmissíveis? De fato, acreditamos que a tarefa de quem se ocupa desta ciência, a psicanálise, além daquela clínica e de pesquisa, seja a de formar novos analistas. “Formar”, pois achamos que esta ciência tão peculiar não possa ter, entre as suas características, a da transmissibilidade ‘tout-court’, sem estabelecer, como ponto de partida imprescindível, o da experiência de si mesmo. Para isto, identificamos quatro áreas de aprofundamento e dis-cussão:A linguagem entre analista e analisando;A dimensão vertical do analista e do analisando;Os registros de linguagem;A consciência sobre si mesmo.

A Linguagem Entre Analista e Analisando

Achamos impossível nao abrir um espaço de reflexão sobre o tema da linguagem na relação analítica e, sobretudo, sobre a pa-lavra na linguagem analítica se a relação analítica se configurar como uma “talking care”.“Só temos a palavra, como instrumento”, dizia A.B. Ferrari, en-tendendo que a complexidade dos acontecimentos durante o desenvolver-se de uma experiência analítica entre analista e ana-lisando, articula-se e manifesta-se em volta de um único vetor, constituído, justamente, pela linguagem verbal. Quais são as características deste falar, deste discurso que vai sendo tecido, entre analisando e analista, no desenvolver-se da experiência do encontro analítico?É o surgir da palavra a permitir que o emergir de emoções e sen-sações marasmáticas encontre forma, dizibilidade, pensabilidade e, na maioria das vezes, a pessoa que se dirige a um psicanalista perdeu a possibilidade de representar e traduzir em palavras a sua angústia, a sua dor. É preciso procurar juntos as palavras para dizer isso. Ao longo deste percurso, é necessária uma atenção especial, aliada à capacidade de ouvir, por parte do analista, para poder diferenciar, no dizer do analisando, aquele falar que serve para cobrir a angústia, um falar para gerar barulho, daquele que, ao contrário, é capaz de abrir e desvendar mundos. “Não sei como dizer”, é a expressão que frequentemente recorre no dizer do analisando, e isto pode significar que a angústia é tão elevada e intensa, como tão alto é o muro, a barreira entre o analisando e si mesmo, a ponto de ter perdido a possibilidade de encontrar palavras para dizer a si mesmo: : já que, quando falamos em comunicação, referimo-nos justamente à comunica-ção do analisando consigo mesmo, que em situações de peculiar e profundo sofrimento perde-se, com a consequente e penosa sensação de ter perdido a si mesmo. Então, será o analista que

“emprestará” as suas palavras para ajudar o analisando a sair da escuridão de sensações e emoções não mais ou ainda não repre-sentada, aguardando que o interessado encontre o seu específico e pessoal modo de dizer e de pensar. É necessária, no analista, uma sensibilidade e uma capacidade de ouvir especiais, para re-conhecer no dizer do analisando o emergir de uma palavra espe-cífica que constituirá a chave de abertura de novas possibilidades comunicativas do analisando consigo mesmo. Se considerarmos a linguagem não como um puro e simples có-digo que obedece a normas, como é a linguagem gramatical, e se nos referirmos, portanto, à realidade que falamos, à linguagem que falamos, “rica em experiências internas, históricas, pessoais, que dizem respeito ao passado, à infância, à experiência do últi-mo minuto, capaz de expressar os nossos desejos superficiais ou profundos, incluindo os que, por enquanto, ignoramos” (Ferrari, 1998, pág. 144, tradução livre), poderíamos dizer que a inteira experiência analítica desenvolve-se justamente entre as malhas e nas asas desta linguagem que, a cada vez, analista e analisando criam dentro de cada específica relação analítica. Único, não re-petível e exclusivo, “romance analítico” escrito a duas mãos por analisando e analista, que termina no momento em que os dois participantes sentem não ter mais nada a dizer naquele contexto específico.

Dimensão Vertical do Analista e do Analisando.

Consideramos o indivíduo como um sistema complexo de fun-ções que reciprocamente relacionam-se de forma mais ou menos harmônica com as vivências internas e externas da vida do sujei-to. As duas funções principais, que de modo geral incluem todas as outras, são a corporeidade, entendida como o conjunto de sensações que emanam da fisicidade, de sensações percebidas e de emoções, e a psiquicidade, entendida como o conjunto de todas aquelas funções que se ativam desde o nascimento baixo o impulso de emoções e sensações marasmáticas, que pressionam para serem filtradas, organizadas, representadas, como o registro do dado sensorial, a percepção, o pensamento.Ferrari chama Uno o conjunto de funções emergentes da fisicida-de e da corporeidade, e Bino o conjunto das funções psíquicas. O Uno, enquanto elemento de constituição do indivíduo, originário e original, cuja característica principal é o ser concreto, gera entre as suas funções aquelas do Bino, que tem, portanto, como único objeto próprio o Uno, que o gerou com o objetivo de assegurar e proteger o seu funcionamento. Portanto, Uno é também conside-rado como Objeto (enquanto objeto primário do Bino) Originário e Concreto.Esta maneira de entender o sistema indivíduo configura imedia-tamente o seu funcionamento como um conjunto de relações dinâmicas e processuais que garantem o seu desempenho em resposta a instâncias filogenéticas (de sobrevivência) e ontogené-ticas (relativas à maneira de ser específica de cada um). Os dois eixos relacionais principais, as duas relações primárias, que têm origem do Objeto Originário Concreto, são a dimensão Vertical

Fausta Romano *

olhando no interior da relação Analítica

Tradução: Stefania Buonamassa

e a dimensão Horizontal. A primeira gera-se através da orienta-ção das sensações e emoções marasmáticas rumo a formas de organização e representação, rumo à busca de correspondências significativas, mediante aquela função que Ferrari definiu “Rede de contato” e a segunda, a Horizontal, contém a capacidade do indivíduo de se representar em relação ao mundo exterior, do qual extrai a linguagem graças à qual representar e tornar dizíveis as sensações e as emoções emergentes da área vertical. As duas relações, vertical e horizontal, emergem do Objeto Origi-nário Concreto desde o momento do nascimento e uma não pode existir sem a outra, já que uma, a vertical, contém os significados potenciais e a segunda, a Horizontal, permite a sua dizibilidade e, portanto, a pensabilidade, dentro do sistema.As duas funções, Vertical e Horizontal, podem também ser inter-pretadas como duas coordenadas de cartesiana memória, que, ao cruzar-se, delimitam um espaço, o espaço mental, sem o qual as sensações e as emoções emergentes da área entrópica pode-riam desabar sobre o inteiro funcionamento mental. A definição das duas dimensões assume uma relevância em cam-po clínico, já que, em primeiro lugar, permite repensar em sentido dinâmico os conceitos de transferência e contra-transferência.A relação analítica pode ser considerada, então, como o campo de comparação entre duas dimensões verticais: a do analisando e a do analista, comparação possibilitada pelo seu contínuo cru-zar-se com as respectivas dimensões horizontais. Em um primei-ro momento, a atenção do analista dirigir-se-á prevalentemente para a dimensão vertical do analisando, no sentido de conhecer e explicitar as modalidades específicas, para favorecer o seu mais harmônico e funcional desempenho, contornando ou desfazendo os nós que tinham dificultado o funcionamento. E este trabalho acontece graças à capacidade do analista, de dar ouvidos a quan-to, na sua própria dimensão vertical, ativa-se e ganha forma em relação ao analisando, uma vez após a outra.Neste sentido, mais do que de transferência e contra-transferên-cia, poderíamos definir o encontro entre as duas dimensões ver-ticais como uma dupla relação transferencial: a transferência do analisando para o analista e aquela do analista para o analisando, considerando, entre outros, que a transferência caracteriza qual-quer relação entre seres humanos. Somente em um segundo momento da experiência analítica, após que os principais nós que estavam presentes na área verti-cal foram desatados, a atenção pode ser dirigida à maneira com a qual o analisando se representa, ora em relação a si mesmo, ora em relação ao mundo exterior.

Os Registros De Linguagem.

Com esta expressão, na hipótese do Objeto Originário Concreto (Ferrari, 1992, 1995), entende-se representar o conjunto de to-das as formas expressivas que emergem do tender das sensações marasmáticas emergentes da área entrópica em direção da busca de dizibilidade e pensabilidade. No ponto de articulação entre a corporeidade e a psiquicidade, através da função de rede de con-tato e o formar-se de correspondências significativas entre signifi-cados potenciais contidos na dimensão vertical e representações possibilitadas pelo encontro com a linguagem e a cultura, através da ativação de possíveis formas de expressão, como os registros de linguagem, surge o pensamento. “É evidente quanto a lingua-gem esteja em relação com a dimensão vertical: em outras pala-vras, tudo quanto precede a linguagem é uma das condições para o nascimento da própria linguagem, que não poderia nascer sem este pano de fundo (...) eis por que não falamos em linguagens, mas falamos em registros da linguagem, que são aspectos primi-tivos da linguagem e têm relação com a psicose, a alucinação, a paranoia etc. (...) em certo sentido, o próprio pensamento é algo de alucinatório. Bion, a este assunto, dedica interessantes obser-vações de notável valor teórico e técnico” (Ferrari, 1998 pág. 145,

tradução livre).Os registros de linguagem, portanto, na hipótese de Ferrari, precedem a linguagem histórico-comum e ao mesmo tempo a subtendem e nela confluem, de forma que a linguagem, em sua essência, responderá às características dominantes do indivíduo que a utilizar e será, portanto, possível diferenciar, dentro dela, uma nuance estruturante de tipo delirante, fóbico, paranóico, ob-sessivo, etc. sem que isto indique nenhuma desarmonia.Em outras palavras, os registros de linguagem são modalidades expressivas, sem o estatuto de uma autêntica linguagem, que ad-vêm da necessidade de configurar e representar quanto emergir da área entrópica, a cada vez. Portanto, podem ser considerados como “linguagens de emergência” que se formam e se ativam no momento em que a emocionalidade emerge arrebatadora e requer uma capacidade peculiar de contenção e cessam no mo-mento em que a angústia que os ativou diminui em intensidade, tendo sido contida e expressada. O interesse clínico desta formulação consiste em dois pontos principais: em primeiro lugar, será possível observar, através do ativar-se e esgotar-se destes registros no decorrer da mesma ses-são, o andamento da angústia e a capacidade do analisando de enfrentá-la.Em segundo lugar, eles constituem um importantíssimo instru-mento clínico. É de fato fundamental que o analista reconheça em si mesmo a existência dos seus vários registros de linguagem e tenha condições de utilizá-los a cada vez, diante do emergir de análogos registros do analisando. Isto significa que no decorrer de uma sessão, no momento em que, por exemplo, no analisan-do ativar-se-á um registro de linguagem psicótica ou delirante ou paranóica etc., o analista poderá, por sua vez, utilizar o mesmo registro expressivo, sendo capaz de entrar e sair de forma fluida e harmônica deste, com o objetivo de ladear o analisando nas suas específicas modalidades de expressão e não exigindo que seja o analisando a assumir a linguagem do analista. Desta forma, po-derá ajudá-lo a decodificar os significados e não mais ser vítima de um só dos seus registros de linguagem. De fato, “o perigo e o limite de linguagens de emergência residem na inexistência de comparação entre realidade psíquica e realidade externa ou, que-rendo, de síntese entre a dimensão vertical e a horizontal. Faltam justamente de uma função de rede de contato operante e flexível, capaz de adaptar-se continuamente às circunstâncias” (Ferrari, ib., pág. 149, tradução livre).Entre os registros de linguagem, Ferrari enumera a atividade oní-rica, considerada justamente como uma das possíveis expressões comunicativas dentro da relação vertical do analisando.

A Consciência Sobre Si Mesmo.

A questão da consciência de si é tema muito complexo e ampla-mente debatido desde as origens do pensamento do homem e do pensamento filosófico. E a questão da consciência não pode não abranger, naturalmente, também o âmbito da relação analítica. O que seja a consciência é questão muito difícil a ser definida e isto tem que ser deixado aos filósofos e pensadores das ciências da cognição, que estão aprofundando este tema altamente com-plexo. Podemos dizer, entretanto, que em relação ao restrito am-biente da experiência analítica, o que nos interessa não é apenas a consciência em sentido geral, como a questão da autoconsciên-cia. Trata-se, isto é, a nosso ver, no âmbito de uma experiência analítica, não tanto de desvendar ou trazer à luz algo que no siste-ma do analisando é inconsciente, como de solicitá-lo a tornar-se responsável pelo conjunto de teorias e modelos que subtendem as afirmações das quais ele é consciente. Acreditamos que esta função possa favorecer, no analisando, o alcance da “liberdade”, entendida não no sentido de liberdade absoluta, mas no sentido de referir-se continuamente a si mesmo e ao seu específico modo de ser.

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O conceito de consciência, entendida como algo com existência au-tônoma e independente, cessa de ser identificável com o conceito cartesiano de res cogitans, para ser profundamente embrechado na matriz biológica do ser humano. Isto na hipótese de Ferrari (Fer-rari, 2005) e também no campo das chamadas “ciências cognitivas”, que subtraem o conceito de consciência ao exclusivo predomínio filosófico, para afirmar que um ato intencional já foi precedente-mente “decidido” pelo nosso cérebro: ou seja, tem algo na nossa corporeidade que, de alguma forma, “decide” já o que sucessiva-mente nos parece ser um ato intencional.Afinal, já Ferrari tinha chegado a observar que não tudo na dimen-são corporal é biologicamente determinado, estando presente na dimensão corporal certa capacidade de adaptação às condições in-ternas e externas e que, vice-versa, nem tudo na dimensão psíquica do Bino explica-se em termos de livre arbítrio, já que o Bino é pro-duto e gerado pelo Uno, isto é, da corporeidade e tendo que, em última análise, prestar contas a ela. (Ferrari, 2005, 2004)Isto é, se sairmos das estreitas malhas da separação entre corpo e mente, para chegarmos a considerar o indivíduo como um con-junto complexo de funções entre si em relação dinâmica, também a questão do determinismo e do livre arbítrio não podem não ser novamente consideradas. Estas observações revestem uma relevância peculiar em âmbito clínico, já que, na maioria dos casos, o analisando apresenta uma forma de equilíbrio muito desarmônico, no qual alguns componen-tes tendem a predominar sobre outros, e ele está aprisionado por axiomas e modos de ver que não lhe permitem uma adaptação plástica e adaptativa às vivências internas e externas do viver. Nes-ta perspectiva, a experiência analítica, mais do que tender para a

busca de verdade inconsciente, tende para a ciência das teorias e das crendices redutivas e rígidas que subtendem o dizer e o fazer ciente do analisando, de forma que ele possa revê-las e modificá-las em sentido flexível e adaptativo.

Referências bibliográficasFerrari, A.B., (1982) Relação analítica: sistema ou processo?, Rev. Brasil. Psicanla. 16,3: 335 – 363.Ferrari A.B., (1983) Relazione analitica: sistema o processo?, Rivista di Psicoanalisi, 29, 4: 476 – 496.Ferrari A.B., Garroni E., (1987), La narrazione originaria. La tempo-ralità nella relazione analitica e nel racconto.. In Aa.Vv. Psicanalisi e narrazione, Il Lavoro Editoriale, Ancona.Ferrari A.B. (1992), L’eclissi del corpo. Un’ipotesi psicoanalitica, Borla Roma. (1995) Imago, Rio de Janeiro.Ferrari A.B., Stella A., (1998) L’alba del pensiero, Borla Roma. (2000) Editora34, Sao Paulo.Ferrari A.B., (2005), Il pulviscolo di Giotto, Franco Angeli, Milano (2004) Casa do Psicologo (Sao Paulo).Prigogine I., Stengers I., (1999), La nuova alleanza. Metamorfosi della scienza, (Torino, Einaudi)Varela F.(2001), La coscienza nelle neuroscienze,http://www.emsf.rai.it/scripts/iterviste.asp?d=452.Enciclopedia multimediale delle Scienze Filosofiche

* Presidente do Istituto Psicoanalitico di Formazione e Ricerca A. B. Ferrari (Roma, Itália). Com a colaboraçao de Paolo Bucci, Chia-ra Bergeroni, Alberto Panza, Daniela Radano, Massimo Romanini, Silvia Tauriello.

NÚCLEO PSICANALÍTICO DE MACEIÓX Jornada de Psicanálise- Tema: Drogadição - Des-AmparoLocal: Maceió Mar Hotel -Informações Comunicação Eventos- fones: 82-33257590-33253468Data(s): 13/07 a 14/07

SOCIEDADE PSICANALÍTICA DO RECIFEXVII Jornada de Psicanálise da SPR e XIII Encontro de Psicanálise da Criança/Adolescente Local: Mar Hotel Recife Data(s): 10/08 a 11/08

VII CONGRESSO DA ASSOCIAÇÃO PSICANALÍTICA DO URUGUAI Tema: A Angústia Data(s): 9, 10 e 11/08/2012

NÚCLEO PSICANALÍTICO DE ARACAJUCongresso Internacional de Psicanálise - VII Encontro Ítalo-BrasileiroLocal: Quality Hotel - Aracaju - SEData(s): 17/08 a 18/08

FEPAL 29º Congresso Latino-americano de Psicanálise (FEPAL)Invenção – TradiçãoLocal: Sheraton World Trade Center de São PauloData(s): 10/10 a 13/10

ATIVIDADES NPA

PSICANÁLISE E CINEMA & CINE SOMESE

Exibição do filme: O Preço do AmanhãComentários Isaque dos SantosData(s): 26/07

Exibição do filme: Lars e a Garota real Comentários Angélica Hermínia Oliveira SeroaData(s): 30/08

CURSO DE PSICOTERAPIA PSICANALÍTICA Aos sábados quinzenalmente

CURSO DE PSICOPATOLOGIA DA INFÂNCIA E DA ADOLESCÊNCIA Aos sábados quinzenalmente

GRUPO DE ESTUDOS DAS QUINTAS-FEIRAS Semanalmente, todas as quintas-feiras.

GRUPO DE ESTUDOS DE PSICANÁLISE DA INFÂNCIAE DA ADOLESCÊNCIA Semanalmente, todas as quartas-feiras.

PSICANÁLISE E LITERATURAJorge Luiz Borges e a PsicanáliseComentários: Carlos Vieira Data: 06/07Local: Auditório do Centro Médico Luiz Cunha

Calendário de Eventos

Jean Laplanche, um dos mais impor-tantes pensadores da psicanálise, deixa uma vasta obra publicada em

livros e revistas científicas, sendo, talvez, o volume mais conhecido o “Vocabulário de Psicanálise”, traduzido para diversos idiomas, escrito em colaboração com J.B. Pontalis. O filósofo, psiquiatra e psicanalista,

Laplanche nasceu na região da Bourgogne em 21 de junho de 1924 e morreu em Beaune (centro-oeste da França) aos 87 anos, no dia 06 de maio próximo passado. Entre 1943 e 1944, participou ativamente do movimento de resistên-cia à invasão nazista em Paris e na Borgonha. Depois de 1945, aderiu ao movimento de Extrema-esquerda contra o Stalinismo e foi um dos fundadores do grupo e da revista “Socialisme ou barbarie”. Cursou inicialmente Filosofia, na École Normale Supérieure, tendo sido aluno de Maurice Merleau-Ponty. Em 1950 iniciou sua análise com Jacques Lacan e logo sua formação médica, posteriormente se dedicando à formação psicanalítica. Acabou por se distanciar de Lacan e fundou em 1964 a Associação Psicanalítica da França.Em 1960 no Colóquio de Bonneval, apresentou com Serge Leclaire o relatório : “O Inconsciente, um estudo psicanalítico”.Convidado por Daniel Lagache, ensinou na Sorbonne a partir de 1962. Nos anos 70, nas Presses Universitaires de France (PUF), dirigiu a Bi-blioteca de Psicanálise e a coleção Novas Vozes em Psicanálise, além da Revista Psicanálise na Universidade, entre 1975 e 1994. Com a originalidade de seu pensamento em sua “Teoria da sedução generalizada” desenvolveu conceitualmente suas ideias sobre a gêne-se do aparelho psíquico sexual humano, a partir da relação intersub-jetiva, considerando a sedução não como um acontecimento pontual nas experiências precoces da criança, mas o que torna possível pensar as origens de um sujeito psíquico no que ele tem de universal.Laplanche foi presidente da Association Psychanalytique de France e professor honorário de Psicanálise na Sorbonne – Universidade de Paris VII, doutor honoris causa da Universidade de Lausanne, Univer-sidade de Buenos-Aires, Universidade de Athen, cavaleiro das Artes e Letras (1990), laureado do Mary S. Sigourney Award (1995).Jean Laplanche foi proprietário de um conceituado domaine na região da Borgonha, onde produzia o vinho Château de Pommard, incluído entre os grandes tintos franceses.Entre suas principais obras destacam-se: Hölderlin e a questão do pai, Vocabulário da psicanálise (com Pontalis), Vida e morte em psicaná-lise, Problemáticas I: A Angústia, Problemáticas II: Castração-Simboli-zações, Problemáticas III: A Sublimação, Problemáticas IV: O Incons-ciente e o id, A pulsão para fazer o quê? (com D. Anzieu, R. Dorey, D. Widlöcher), Novos fundamentos para a psicanálise, Teoria da Sedução Generalizada.

REFERÊNCIAS: FEBRAPSI, WIKIPEDIA, LE MONDE* Membro Titular e Psicanalista Didata do NPA

Nasceu em 12 de março de 1927 no Cairo (Egito). Formou-se em Medici-na, especializando-se em Psiquiatria,

na Faculdade de Medicina Parisiense, traba-lhando em vários hospitais. Em 1965, depois de completar sua formação psicanalítica, se juntou como membro da Sociedade Psicana-lítica de Paris, da qual foi presidente de 1986 a 1989. De 1975 a 1977 foi vice-presidente da Associação Psicanalítica Internacional e de 1979 até 1980 foi professor da University College London. Foi autor de vários livros sobre a teoria e a prática da psicanálise e sobre crítica psicanalítica na cultura e na literatura.Começou sua formação psicanalítica em 1956. Vivendo na França nas décadas de 1950 e 1960, pode conhecer de perto a grande revolu-ção promovida por Jacques Lacan na Psicanálise Francesa e Mundial, tendo acompanhado este durante sete anos em seu famoso Seminá-rio. Entretanto, por outro lado, sempre foi um leitor independente de Freud e, ainda, nos anos seguintes buscou na psicanálise inglesa (Melanie Klein, Donald Winnicott e Wilfred Bion) o auxílio para a sua atividade clínica e para suas ideias sobre o afeto, a vida emocional primitiva e os processos primários de constituição do psiquismo.Alguns assuntos importantes de sua pesquisa foram: a) o encontro desproporcional entre a linguagem e as pulsões e os afetos,sendo missão indispensável o favorecimento desse encontro através da cura pela fala psicanalítica,vindo à luz,desta forma,o discurso vivo; b)a necessidade de se considerar a relação da pulsão com seus objetos primários,principalmente na clínica quando esta se debruça sobre os pacientes psicóticos,narcisistas, borderlines etc. Foi a partir destes estudos que Green escreveu um de seus mais importantes trabalhos intitulado “A mãe morta”(1980);c)o “trabalho do negativo”assentado nos confrontos,conflitos e mútuas negativações decorrentes das rela-ções entre as pulsões e os objetos, produzindo consequências psíqui-cas nos diversos casos clínicos;d)o pensar sobre a questão do limite sob a ótica da atividade terapêutica,teorizando sobre as condições em que ele não pode ser estabelecido de forma plena.André Green morreu em 22 de janeiro de 2012,em Paris.Ele,em seu livro “Sobre a loucura pessoal”(1988), diz:”A obra escrita de um analis-ta é,provavelmente,um outro modo de continuar sua autoanálise,de uma forma pela qual outros podem tirar proveito.”Quiçá a sua liber-dade de pensamento e o frescor de suas ideias sejam fonte de inspi-ração para continuarmos pensando a teoria e a clínica psicanalítica.

Referências: Wikipedia; Viver Mente & Cérebro: Coleção Memória da Psicanálise, vol.6; Sobre a Loucura Pessoal (Green, 1988).

*Diretora Científica do NPA / Membro Associado da SPRPE

Jean louis laplanche1924-2012

*Adalberto Goulart Vanda Pimenta*

André Green (1927 – 2012)

Homenagens

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Estava relendo o livro “As Novas doenças da Alma” da psicanalista Júlia Kristeva e me senti motivada a escrever sobre o que seria o adoecimento da alma e até mesmo que alma nós, seres huma-

nos, temos?Desde tempos imemoriais é feita uma distinção entre doença da alma e doença somática. Um dualismo que perdurou por muito tempo, criando domínios distintos: a psique e o somático. Portanto, associa-do às doenças da alma estariam as paixões, a tristeza, a alegria, os delírios .... A alma seria uma estrutura relacionada ao sentir e que também representaria as ligações do ser falante com o outro.Nos primórdios do pensamento humano a alma ocupava um lugar elevado em relação ao corpo, nos mitos a alma é vista como o que vivifica a matéria, e o termo “psyche”, em grego, que traduzimos por alma, significa sopro e também princípio vital.Platão em Fedora nos diz: “cada corpo movido de fora é inanimado. O corpo movido de dentro é animado, porque o movimento é a nature-za da alma”. Ou seja a alma seria o que anima o corpo biológico, a au-sência de alma representaria o corpo morto. Na contemporaneidade podemos concordar com Júlia Kristeva quando ela nos diz que: “você está vivo se, e somente se, tiver uma vida psíquica”.Ao longo do desenvolvimento da humanidade a alma mística, reli-giosa, chega à modernidade postulada de “aparelho psíquico”, com a psicanálise sabe-se que a mente, regida por lógicas autônomas, pro-duz sintomas e se modifica na transferência, em consonância com a filosofia que já nos diz que a alma forma com o corpo um único todo material, “ a alma está inteiramente em cada parte do corpo” (Platão).A mente estar em cada parte do corpo foi a percepção de Freud ao compreender os fenômenos histéricos, por exemplo. No entanto a psicanálise diversifica a idéia de “psique” para reconhecer as singula-ridades de nossos meios de significação. Assim a alma do sujeito está em relação com o outro, é afetada por ele e muitas vezes expressa no corpo toda dor e angústias provenientes dessas relações únicas.Mesmo todo o avanço tecnológico, o desenvolvimento crescente das neurociências não tiraram o espaço para o sujeito com a sua alma, o cognitismo surge para, junto com as teorias científicas, nos dizer que: “a imagem está presente no cérebro antes do objeto”. Ou seja é a rede neural que é penetrada pela atividade cognitiva que aí se processa, e não a arquitetura cognitiva que sofre a coerção da rede nervosa”, como Júlia Kristeva menciona no seu livro. Portanto, o sen-tir nos impulsiona e a alma então nos personaliza.

De que a alma é feita? Que tipo de representações, que diversidades de lógicas a constituem? Não sabemos, mas a psicanálise, com seu método interpretativo, sua escuta e seu cuidado com o outro, tenta procurar essas respostas e interpretar o sentido que mobiliza o modo de viver do sujeito. A alma, na análise, pode se apresentar, pode ser compreendida, permitindo que um sentido de integração se organize no analisando.Podemos questionar também se na atualidade há tempo e espaço para constituir uma alma, uma vez que cada vez mais o homem é narcisista, o sofrimento aprisiona-se, muitas vezes, no corpo e ele so-matiza. É também um ser de fronteira, um “borderline” ou um “falso-self”, ou seja penso que hoje, mais do que nunca transparecem as doenças da alma, refletindo as impossibilidades de simbolização de traumas insustentáveis e tendo como denominador comum a dificul-dade de representação.A psicanálise oferece a oportunidade de restaurar a vida psíquica pela escuta verdadeira e singular do analisando. A alma pode ser cuidada e tratada. Acaba sendo um renascimento para quem sofre por não poder aguentar mais não dizer e não ser entendido. O analisando re-encontra a palavra através da “reverie” e do vínculo com o analista. Nesse aspecto cada tratamento equivale a uma obra de arte, uma criação única, possibilitando que uma ponte se forme entre mentes, permitindo o trânsito, as trocas, o enriquecimento e o crescimento mental.Talvez as doenças da alma não sejam tão novas, o que é novo é a crescente dificuldade de nós, seres humanos, nos relacionarmos, de compreendermos e tolerarmos as diferenças em relação ao outro, condição vital para a sanidade mental e adequação à realidade.

Referências:

KRISTEVA, J. - “As Novas Doenças da Alma”, ed. Rocco, Rio de Janeiro, 2002.

GHIRALDELLI JR, P. - “Introdução à Filosofia”, ed. Mahole, Barueri, SP, 2003.

FERRO, A - “Técnica e Criatividade”, ed. IMAGO, Rio de Janeiro, 2008

*Médica e Psicoterapeuta

As Novas doenças da Alma

* Marisilda Nascimento

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