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Editorial Direitos Humanos

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Page 1: Editorial Direitos Humanos

Proclamada em 10 de dezembro de 1948, a Declaração Universal Direitos Humanos constitui o princípio mais básico que alicerça nossa sociedade. Fruto da tomada de consciência e do clamor que o horror da II Guerra produziu, o documento não reflete na realidade aquilo tão belamente descrito no papel. A indiferença da maior parte dos cidadãos e a negligência do poder público são sintomas óbvios deste problema. Infelizmente, a busca preponderante ainda é a do interesse próprio. O egoísmo é regra, o altruísmo, fenômeno raro.

O senso comum nem sempre erra. Marginalizada pelo discurso pseudo-intelectual, a sabedoria popular finca raízes na consciência mais profunda de uma cultura. De maneira simples, o povo sabe dizer verdades profundas. No meio de uma conversa, entre um causo e outro, de repente alguém pronuncia: “O pior cego é aquele que não quer ver.” E é mesmo. Pior do que a cegueira física, é aquela voluntária. O desrespeito ao direito do próximo não raramente se traduz em indiferença, em “fingir que não se vê”. A pior burrice é a do homem soberbo, do humano direito, que por valor e por princípio discrimina o outro por ser diferente.

A comunidade do Juquiá, distante do olhar e da consciência da maior parte dos cidadãos joinvilenses, é mais uma prova deste triste estado de coisas. “Entulho, lama, esgoto a céu aberto, casebres de madeira mal construídos, é este o cenário em que as crianças crescem e para onde os pais e mães de família retornam depois da longa jornada de trabalho.” Longe de tudo, o Juquiá é ignorado por todos. “O que os olhos não vêem o coração não sente”, diz um outro ditado. A pobreza alheia dói menos na consciência amortecida pelo entretenimento fútil, pelo consumo desvairado, pelo culto de si mesmo.

Sinais de esperança existem, e são muitos por aí. Organizações não-governamentais (ONGs) se multiplicam, atendendo às demandas das mais distintas: o compromisso com as pessoas em situação de pobreza, risco e exclusão social; a defesa da liberdade de orientação sexual, da liberdade de expressão; a luta por moradia, por terra, pelo respeito aos direitos da criança, do adolescente e da mulher.

Apesar de tantos e tão variados esforços, ainda há muito a ser feito. Mais do que soluções paliativas, a sociedade urge por uma verdadeira quebra de paradigmas. A inversão da lógica do individualismo para a ascensão de um olhar mais coletivo, mais social. O critério econômico estabelecido como valor máximo considera a vida como mercadoria. Uma sociedade que se considere moderna não pode compactuar com essa dinâmica homicida. A mudança será, com certeza, “custosa”, mas valerá a pena, no fim. O caminho é antes de tudo pessoal: tentar fazer do zelo pelo direito do outro um ato cotidiano, uma postura de vida, o modo como escolhemos viver neste mundo, o princípio a partir do qual educamos nossas crianças.