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  Noemi Alfieri  Número de alun o 43794 [email protected] Seminário de Literaturas Ibero-americanas Comparada s Prof. Maria Fernanda de Abreu Ano Letivo 2014/15 2º semestre Ficha de Leitura  Eduar do C outi nho –  Reconfigurando Identidades: Literatura C omparada em tempos pó s- c oloniais na Ari c a Lati na O autor evidencia logo no início do artigo como os estudos comparatistas na América Latina, já existentes a partir de medos do século XX, tiveram grande impulso de meados dos anos de 1970, depois da hegemonia da perspectiva formalista norte-americana. O discurso da disciplina passou de ser unívoco e universalizante a ser plural e descentrado, denotando uma renovada consciência das diferenças internas do corpus literário objecto da análise. A Literatura Comparada, inicialmente historicista e baseada em teorias etnocêntricas e com uma constr uçã o de teo r heg emónico. A maioria dos compa rat ist as eram provenie nte s do co nte xto europeu ou norte-americano, razão pela qual os parâmetros aplicados a literaturas da América central e do sul eram desenvolvidos sobre o cânone literário europeu, que foi inevitavelmente identificado com o universal. Para além disso, era comum uma tendência de apolitização do discurso comparatista, que acabava de facto por privilegiar silenciosamente a reafirmação do sistema europeio sobre os demais. A partir dos 70, houve uma aproximação às questões de identidade nacional e cultural, uma atenção  para os grupos étnicos o sexuais minoritários, que buscavam espaço para formas alternativas de expressão. Surgiram então questões como as relações entre as tradições locais e as importadas, as influências sócias, culturais e políticas, a necessidade duma revisão do cânone literário e dos critérios tradicionais de periodização. Os conceitos de nação e idioma foram postos em discussão,  para deixar maior espaço às con siderações relaciona das com a interacção de culturas. Con sequência inevitável foi a reivindicação de uma História Literária calcada na tradição local, e a politização implícita e enfatizada do discurso comparatista. A questão do cânone tinha sempre sido central no âmbito da Literatura Comparada e configurou-se a partir daquele momento como forma de luta ao eurocentrismo (atacado em particular pelos

Eduardo Coutinho – Reconfigurando Identidades Nom Ficha de Leitura PDF

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  • Noemi AlfieriNmero de aluno [email protected]

    Seminrio de Literaturas Ibero-americanas ComparadasProf. Maria Fernanda de Abreu

    Ano Letivo 2014/152 semestre

    Ficha de Leitura

    Eduardo C outinho Reconfigurando Identidades: Literatura C omparada em tempos ps- c oloniaisna Amri c a Latina

    O autor evidencia logo no incio do artigo como os estudos comparatistas na Amrica Latina, j

    existentes a partir de medos do sculo XX, tiveram grande impulso de meados dos anos de 1970,

    depois da hegemonia da perspectiva formalista norte-americana. O discurso da disciplina passou de

    ser unvoco e universalizante a ser plural e descentrado, denotando uma renovada conscincia das

    diferenas internas do corpus literrio objecto da anlise.

    A Literatura Comparada, inicialmente historicista e baseada em teorias etnocntricas e com uma

    construo de teor hegemnico. A maioria dos comparatistas eram provenientes do contexto

    europeu ou norte-americano, razo pela qual os parmetros aplicados a literaturas da Amrica

    central e do sul eram desenvolvidos sobre o cnone literrio europeu, que foi inevitavelmente

    identificado com o universal. Para alm disso, era comum uma tendncia de apolitizao do

    discurso comparatista, que acabava de facto por privilegiar silenciosamente a reafirmao do

    sistema europeio sobre os demais.

    A partir dos 70, houve uma aproximao s questes de identidade nacional e cultural, uma ateno

    para os grupos tnicos o sexuais minoritrios, que buscavam espao para formas alternativas de

    expresso. Surgiram ento questes como as relaes entre as tradies locais e as importadas, as

    influncias scias, culturais e polticas, a necessidade duma reviso do cnone literrio e dos

    critrios tradicionais de periodizao. Os conceitos de nao e idioma foram postos em discusso,

    para deixar maior espao s consideraes relacionadas com a interaco de culturas. Consequncia

    inevitvel foi a reivindicao de uma Histria Literria calcada na tradio local, e a politizao

    implcita e enfatizada do discurso comparatista.

    A questo do cnone tinha sempre sido central no mbito da Literatura Comparada e configurou-se

    a partir daquele momento como forma de luta ao eurocentrismo (atacado em particular pelos

  • Estudos Culturais e Ps- Coloniais), sendo o mesmo conceito de cnone coincidente com um

    sistema de valores legitimado por grupos detentores de poder, que estabeleceram a sua validade. Os

    comparatistas actuais que questionam a hegemonia das culturas colonizadoras preferem, portanto,

    abandonar o paradigma conceptual dicotmico e enfatizar a pluralidade originada do contacto entre

    colonizador e colonizado. A desierarquizao dos elementos envolvidos no processo de comparao

    e a conscincia de que os estudos comparatistas levados a cabo respeitavam um sistema em que a

    anlise era feita na base dum texto fonte ou primrio que era tomado como referencial na

    comparao (obra europeia ou norte-americana) evidenciaram a urgncia de desconstruo do

    modelo dominante.

    Fundamental a contribuio de Angel Rama, o qual extraiu dos estudos antropolgicos do cubano

    Fernando Ortiz o termo transculturao, explicitando a forma em que a literatura latino-americana

    se apropria de formas e movimentos da europeia: as formas desta fundem-se e articulam-se com o

    complexo das tendncias j existentes no continente. Rama evidencia a necessidade de considerar

    no s a deformao dos modelos europeus no processo de apropriao, mas tambm as relaes

    destas com a dinmica do sistema a que pertencem.

    necessrio considerar os diferentes registos dentro uma mesma literatura nacional e os nveis

    distintos, como o erudito e o popular, quase sempre marginalizado: a valorizao da pluralidade

    deve ser ento ponto de partida e chegada do comparatismo no contexto das Amrica Latina.