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ATIVIDADE 1: Introdução ao Tema EDUARDO NAVARRETE 1 - Leiam os textos, disponíveis no Material de apoio, de Jean-Claude Schmitt, Evelyne Patlagean e Hilário Franco Jr. selecionados para a introdução do curso, e façam uma reflexão sobre a importância dos estudos do imaginário para o conhecimento de uma determinada sociedade. Através dos textos selecionados para discussão podemos perceber que o imaginário é uma categoria explicativa de suma importância para a compreensão de qualquer sociedade. Os autores consultados nos mostraram que tal conceito revela as angústias, medos, necessidades, interesses, etc., dos homens de todas as épocas. Antes de expor o que cada um deles afirma sobre a aplicação do imaginário a determinados contextos, vejamos como um deles o define. Para Hilário Franco Júnior, o imaginário não se opõe de uma forma tão nítida à realidade. Na verdade, entre ambos há fortes ligações e é possível compreender um através do outro. No caso das Sociedades Imaginárias (que são o foco de seu estudo no livro Cocanha – A História de um País Imaginário) tratam-se de miragens de sociedades idealizadas, que permite uma reflexão e faz uma crítica à sociedade real, podendo também funcionar como simples evasão conformista da realidade. Ao mesmo tempo, por serem miragens idealizadas da sociedade, elas contêm elementos da sociedade real através do exagero ou da inversão. A esse respeito, podemos mencionar Jean-Claude Schmitt que no texto Imagens afirma que, sendo a imagem um conceito muito amplo, ela permite aos historiadores se colocarem novas questões sobre o funcionamento social, as funções ideológicas e o poder das imagens. Há, portanto, inúmeros pontos de ligação entre um e outro e são

Eduardo Navarrete - Atividade 1

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ATIVIDADE 1: Introdução ao Tema

EDUARDO NAVARRETE

1 - Leiam os textos, disponíveis no Material de apoio, de Jean-Claude Schmitt, Evelyne Patlagean e Hilário Franco Jr. selecionados para a introdução do curso, e façam uma reflexão sobre a importância dos estudos do imaginário para o conhecimento de uma determinada sociedade.

Através dos textos selecionados para discussão podemos perceber que o imaginário é uma categoria

explicativa de suma importância para a compreensão de qualquer sociedade. Os autores consultados nos

mostraram que tal conceito revela as angústias, medos, necessidades, interesses, etc., dos homens de todas

as épocas.

Antes de expor o que cada um deles afirma sobre a aplicação do imaginário a determinados

contextos, vejamos como um deles o define. Para Hilário Franco Júnior, o imaginário não se opõe de uma

forma tão nítida à realidade. Na verdade, entre ambos há fortes ligações e é possível compreender um

através do outro. No caso das Sociedades Imaginárias (que são o foco de seu estudo no livro Cocanha –

A História de um País Imaginário) tratam-se de miragens de sociedades idealizadas, que permite uma

reflexão e faz uma crítica à sociedade real, podendo também funcionar como simples evasão conformista

da realidade. Ao mesmo tempo, por serem miragens idealizadas da sociedade, elas contêm elementos da

sociedade real através do exagero ou da inversão. A esse respeito, podemos mencionar Jean-Claude

Schmitt que no texto Imagens afirma que, sendo a imagem um conceito muito amplo, ela permite aos

historiadores se colocarem novas questões sobre o funcionamento social, as funções ideológicas e o poder

das imagens. Há, portanto, inúmeros pontos de ligação entre um e outro e são justamente eles que devem

ser analisados pela história social do imaginário.

Para Júnior, objeto maior desta é, assim, a influência do imaginário nas sociedades históricas e os

condicionamentos sociais das produções imaginárias consideradas sempre como produções sociais,

coletivas. E, de fato, para o autor, imaginário não é uma construção individual; trata-se antes, de um

conjunto de imagens visuais e verbais gerado por um grupo social na sua relação consigo mesmo, com

outros grupos ou com o universo em geral. O imaginário pode apresentar-se sob a forma de três

modalidades diferentes, embora elas acabem se misturando e assumindo umas as funções das outras:

“A modalidade do imaginário que foca sua atenção em um passado indefinido para explicar o presente é o que chamamos de mito. Aquela que projeto no futuro as experiências históricas do grupo (...) é ideologia. A terceira modalidade, que parte do presente na tentativa de antecipar ou preparar um futuro que é recuperação de um passado idealizado, é utopia.” (p. 17).

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Como se pode notar o imaginário é um conceito amplo e multifacetado. E, por isso, em cada época

ele assume determinadas formas. A autora Evelyne Patlagean, em seu texto A História do Imaginário,

traça uma história da aplicação desse conceito para cada período histórico. A Antiguidade Grega, com sua

expressão mítica de grande riqueza, segundo a autora, teve seu imaginário explorado por historiadores

que se apropriaram do instrumental teórico da antropologia, principalmente de Lévi-Strauss. Marcel

Detienne foi um dos que se dedicaram a pesquisas com essa perspectiva, vendo nos mitos uma espécie de

alfabeto da visão de mundo grega. Jean-Pierre Vernant seguiu na mesma esteira e contribuiu para uma

história do pensamento grego, mostrando que transição do mito para a razão no século VI foi tão-

somente a laicização do pensamento mítico e não o aparecimento de um pretensa razão atemporal.

Vernant, junto a Vidal-Naquet, fez análises dos mitos as quais revelaram coisas como a condição

atribuída às mulheres, os ritos de passagem, etc.. Já a Antiguidade Romana, conforme nos mostra

Patlagean, foi explorada, sobretudo, por Georges Dumézil, que estudou os mitos Indo-europeus e lançou

tese de que eles expressavam a imagem que as sociedades indo-européias tinham de si mesmas, qual seja,

uma sociedade dividida hierarquicamente em três funções: meditação sagrada, ímpeto guerreiro e

fecundidade laboriosa.

Com a cristianização do mundo europeu, há o nascimento de um novo sistema de representações que

se tornou objeto de estudos de inúmeros historiadores. Para a autora, os melhores trabalhos produzidos

sobre esse momento histórico – Idade Média – mostram como o imaginário manifesta a História Social.

Henri Focillon, por exemplo, estabelecendo os princípios de análise estrutural, estudou a arte medieval,

alegando que as formas não são expressões passivas nem simples cenários da sociedade, e sim um

elemento determinante que fez a própria Idade Média. Dentro desses estudos, o processo de cristianização

foi estudado, dentre outras perspectivas, na dialética estabelecida entre cultura popular e cultura erudita.

Jacques Le Goff e Georges Duby foram exemplos nesse sentido, aquele tratando das trocas entre clérigos

e povo, este dos contatos que o homem medieval estabeleceu entre o visível e o invisível. Emanuel Le

Roy Ladurie constatou esse mesmo contato entre erudito e popular nas crenças dos habitantes de

Montaillou, atestando seu arcaísmo. Apesar de a cristianização ter sido o a direção central da história do

imaginário, Patlagean concluí que houve certas continuidades da Antiguidade, representadas não só pela

cultura popular, como também pela presença de traços da cultura oriental.

Nesse ponto, deve-se lembrar a contribuição que o texto Imagens de Jean-Claude Schmitt traz para o

estudo do imaginário medieval. O autor diz que, sendo a Idade Média um período em que a sociedade,

marcadamente sagrada, assume uma postura cristã com relação ao mundo e à vida, e tendo as imagens

medievais uma função ritual e cultual, fica claro que a noção de imaginário é extremamente fecunda para

o estudo dessa sociedade. A idéia de imagem está no centro da concepção de mundo medieval, de modo

que o próprio homem é, na antropologia cristã, definido com imagem. Mas a Idade Média constitui-se

numa cultura de imagens que possuí certas originalidades e especificidades. Em primeiro lugar, o

cristianismo deixou sua marca o repertório iconográfico, bem como nas teorias e finalidades das imagens:

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as imagens medievais se opunham aos “ídolos pagãos”, se opunha a recusa do judaísmo por imagens e se

diferencia do cristianismo grego de Bizâncio, adotando formas, suportes e temas que contrastam com a

fixidez dos ícones ortodoxos. Schmitt arrola ainda, outras especificidades das imagens medievais: elas são

fixas, não móveis; não se constroem a partir das regras de perspectivas; não são representações realistas e

sim um código simbólico; não são meras ilustrações de textos; e são também ambivalentes, descontínuas,

passíveis de condensação e aparecem como uma manifestação divina. O autor comenta, por fim, sobre as

funções que as imagens religiosas: elas poderiam servir para fins pedagógicos, instruindo os analfabetos

na doutrina cristã; a construção dessas imagens (vitrais, igrejas, retábulos, etc.), podia ser uma forma de

expira um pecado pelo sacrifício de altas somas na construção; e essa imagens poderiam também servir

para “sustentar uma devoção (...), permitindo uma elevação do ‘visível’ para o invisível” (p. 601). Enfim,

as funções variavam muito e, muitas vezes, eram simultâneas.

Resta comentar sobre o imaginário na modernidade. Sobre esse período, que é marcado pela

laicização da sociedade, há uma multiplicação de estudos sobre as imagens, assim como dos temas e

fontes utilizados. Como nos mostra Patlagean, um dos novos temas abordados é a morte. Huizinga e

Duby demonstram que na representação que se passa a fazer dela há um deslocamento do além para a

morte na carne. Bernard Groethuysen, num projeto estrutural, defendeu a idéia de que a burguesia se

emancipou da igreja porque a sua necessidade de prever engendrava a visão de um mundo em que o

homem se conforma por si mesmo, e onde Deus era apenas um motor abstrato e o inferno uma ficção

literária. Seguindo essa linha de pesquisa está também o trabalho de François Lebrun que estudou as

atitudes do homem diante da morte em Provença a partir da demografia, e Gabrille e Michel Vovelle que

analisam a ascensão da iconografia do purgatório, concluindo que ela corresponde à idéia moderna de

julgamento individual. A autora afirma que outros temas foram as bruxas, os loucos e os possessos, e os

trabalhos que se dedicaram a eles sempre apontam para a predominância do discurso científico, médico

sobre o discurso religioso no tratamento que a sociedade passou a dispensar a esses casos. Com relação

aos séculos XIX e XX, há uma aproximação da história com a etnologia e antropologia e muitos estudos

deixam de se concentrar no campo a passam a investigar as cidades, como é caso de Edgar Morin e

Roland Barthes que sabem que imaginário pode ser detectado na literatura e na política. Patlagean

encerra seu texto sobre a modernidade dizendo que se tem aberto novos horizontes para os estudos do

imaginário: Eros e Tânatos, que foi abordado por Foucault quando investigou o sadismo e concluiu que

ele tinha sido o rebrotar do desatino reprimido pela razão clássica; e a História psicanalítica, a qual teria

de se decidir sobre o estudo de casos individuais ou coletivos.