Eduardo Schenberg - Maio Da Maconha

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  • www.neip.infoMaiodaMaconhaPor eduardo schenberg, 05/05/2010 s 15:11 Arquivado em Ambiente, Cincia, Economia, Sociedade Etiquetado Cannabis, Carlini, Descriminalizacao, Expresso, legalizao, Liberdade, maconha, Marcha, Medicinal, Paraguai, Rota, Simposio, Trafico, UNIFESP

    A maconha est em alta. Segundo notcia do jornal Destak, apreenses recordes da planta levaram o preo do quilograma em So Paulo dos usuais R$200 para R$2000. O jornal afirma ainda que a dificuldade de se encontrar a planta no mercado ilcito est relacionada a uma preferncia dos traficantes pelo mais rentvel negcio da cocana e do crack. O que esta notcia no conta (assim como outras usuais sobre o assunto), quanto custa aos cofres pblicos as tais apreenses e pra onde vai a droga apreendida. Mistrio Outra notcia, do portal G1, afirma que Lula e o presidente paraguaio Lugo declararam que devem trabalhar juntos para conter a criminalidade na regio, principal rota da maconha entre os dois pases. Novamente no dizem quanto dinheiro ser gasto em tais medidas, mas podemos imaginar que bastante. A Califrnia j reconheceu o fato e ir votar em novembro a legalizao da planta que j est sendo legalmente vendida em farmcias especializadas.

    O principal argumento para a liberao , pasmem, econmico. Os clculos indicam que o comrcio ilegal de drogas no mundo gira bilhes de dlares, tendo sido um dos pontos que evitou maiores consequncias na crise financeira 08-09. A califrnia pretende portanto economizar sua parcela em foras repressivas e gerar alguns milhes em impostos, tornando um ralo de dinheiro em fonte de renda para a sociedade. Outra idia que por aqui tambm se evita debater.

    Na contramo das foras repressivas e disputas de mercado ferro e fogo est a Holanda, como todo mundo sabe, mas tambm Portugal, o que quase ningum sabe. Tendo legalizado geral h uma dcada, o pas europeu viu o consumo diminuir, o comrcio se regularizar e os problemas por abuso carem, pois com o fim da proibio abrem-se avenidas educativas sobre o assunto.

    AsituaoemPortugal

    Este ano completa 10 anos uma experincia tida como ousada e inconseqente, mas que resultou na mais eficiente poltica de drogas que se tem notcias no mundo atual. Ao contrrio do que se imagina, no papel, no a Holanda que possui a poltica de drogas mais liberal da Europa

    Era 2000 e Portugal estava sofrendo o amargor de ter uma parcela significativa de cidados viciados em drogas. Cerca de 150 mil portugueses, praticamente 1,5% da populao, estavam com problemas relacionados ao abuso e vcio em opiceos (herona, morfina), segundo um levantamento de 1990. No incio deste milnio o governo portugus teve uma medida ousada e descriminalizou as drogas em todo o pas. Sim, todas as drogas, no somente as consideradas leves, como a maconha. Portugal descriminalizou geral.

  • www.neip.infoHoje, 10 anos aps esta medida, que fez com que usurios de drogas deixassem de ser criminosos, e a

    punio deu lugar informao e oportunidade de tratamento, o resultado global foi a reduo do consumo de drogas em todas as faixas etrias. Alguns nmeros marcantes: - As mortes anuais por overdose caram de 400 para 290. - As infeces por HIV via seringas compartilhadas caram de 2.000 para 1.400 casos - Portugal no se tornou um destino turstico de jovens europeus vidos por se drogarem. - O consumo de maconha passou de 10 para 1% da populao acima dos 15 anos.

    Estes so nmeros de um relatrio independente publicado pelo Cato Institute (Washington), apresentado em Washington por Gleen Greenwald Descriminalizao da Droga em Portugal: lies para criar polticas justas e bem sucedidas com as drogas e noticiado na revista TIME.

    Portanto, a descriminalizao contribuiu para a reduo do consumo e para a preveno dos possveis problemas de sade nos indivduos que perderam o controle sobre o uso das drogas. Como conseqncia, o usurio, que antes se via no submundo, tratado como criminoso, passou a ser um cidado comum, inclusive com oportunidade de buscar tratamento, se e quando for necessrio.

    ASituaonoBrasil

    Falar sobre o assunto, alis, questo to polmica aqui em terras tupiniquins que at o ano passado no conseguiram realizar a Marcha da Maconha, movimento internacional de manisfestaes pblicas a favor da legalizao, ou ao menos da descriminalizao da planta.

    Eis que neste ms est agendada a Marcha para o prximo dia 23 de maio e os organizadores tomaram

    a dianteira realizando abaixo assinado a favor do movimento, garantido pela constituio brasileira como direito liberdade de expresso, solicitando que o mesmo no possa ser impedido de ltima hora com recursos jurdicos como as liminares utilizadas nos anos anteriores.

  • www.neip.infoEnquanto a polmica nas ruas segue seu caminho, a maconha vai abrindo avenidas na rea da cincia

    biomdica. E o elo direto, porque a proibio da planta no mundo obviamente liderada pelos EUA, pas que se diz terra da liberdade, mas que no o . Os EUA so bem claros quanto aos critrios para uma substncia qualquer ser classificada como Schedule 1: vica e no tem potenciais teraputicos. Eles s no so e nunca foram claros com base em quais pesquisas classificaram a maconha (e muitas outras substncias) como sendo viciantes e sem potencial mdico. A maconha, no caso, tem inmeros. So tantos que elaborar uma lista tarefa herclea, mas s pra dar uma idia: enxaquecas, anemia, bulimia, dores crnicas, bronquite, asma, vmitos e at cncer. A Califrnia j reconheceu o fato e vem fazendo bons negcios (sem tiroteios) com seus depsitos legalizados de maconha medicinal. E olha que a planta verde claro e cheirosa que andam fumando por l quase nada tem a ver com esses tijolos marrom escuro e fedidos que circulam entre o Brasil e o Paraguai. Essa talvez no tenha potenciais teraputicos mesmo, devido grande quantidade de toxinas e conservantes que se aplica para poder transport-la em condies e locais indevidos.

    Os movimentos populares parecem estar sintonizados com o avano da abordagem mdico-cientfica da

    planta mais famosa do mundo em nosso pas. Poucos dias antes da data planejada para o movimento pacfico e constitucional da marcha da maconha (23/05) ocorrer em So Paulo o simpsio Por uma agncia Brasileira da cannabis medicinal?, dias 17 e 18/05 na UNIFESP. Organizado pelo Dr. Elisaldo Carlini, Professor de Psicofarmacologia, membro do Painel de especialistas em dependncia de drogas e lcool da OMS, ex-membro da Comisso Internacional de Narcticos e coordenador da Cmara de Assessoramento Tcnico Cientfico da Secretaria Nacional Antidrogas, o simpsio deixa claro que no tratar das questes legais do uso, comrcio, distribuio etc; mas sim dos potenciais teraputicos da planta:

    Hoje, a maconha e seus derivados so reconhecidos como medicamentos em pelo menos quatro pases. Para lidar com a maconha como medicamento, a ONU recomenda a criao de uma Agncia Nacional da Cannabis Medicinal para aprovar e controlar adequadamente seu uso mdico. O Simpsio reunir cientistas do Brasil e do exterior, sociedades cientficas e Agncias Governamentais para discutir a oportunidade de ser criada a Agncia Brasileira da Cannabis Medicinal, que permitiria e controlaria o uso mdico da maconha e seus derivados.

    Lembrando que a proibio da planta teve em sua origem o argumento de que alm de perigosa e viciante no possi potenciais teraputicos, o elo entre o simpsio medicinal e as manifestaes pblicas fica evidente, pois o negcio que de fato reduz com a proibio a pesquisa mdico-cientfica, e no o consumo. Hoje so 4 dcadas de proibio no mundo e se tudo isso no resolveu a questo, jogar mais lenha no vai apagar a fogueira.

    A pergunta que fica : Como seria a fronteira Brasil-Paraguai, onde hoje h mais homicdios do que no Rio e em So Paulo juntos, se a maconha fosse comercializada legalmente e os produtores disputassem o mercado com propaganda, como fazem os produtores de cerveja? Originalmente publicado no blog do Plantando Consciencia (www.plantandoconsciencia.wordpress.com)