EDUCAÇÃO EM SEXUALIDADE: DESAFIOS E CONQUISTAS NA FORMAÇÃO CONTINUADA E NOS ESPAÇOS ESCOLARES

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    EDUCAO EM SEXUALIDADE: DESAFIOS E CONQUISTAS NAFORMAO CONTINUADA E NOS ESPAOS ESCOLARES

    Sirlene Mota Pinheiro da Silva

    Resumo

    Este estudo objetiva analisar nas polticas pblicas brasileiras, questes voltadas formao docentecontinuada, para o trabalho com educao em sexualidade no espao escolar, buscando responder osseguinte questionamentos: quais os pontos de partida para a implementao do Curso Gnero eDiversidade na Escola (GDE) no Brasil, e especificamente na Universidade Federal do Maranho

    UFMA? Que marcas o Curso GDE deixou nos sujeitos egressos, especialmente em relao

    a educao em sexualidade no contexto escolar? Destaca a iniciativa da Secretaria de EducaoContinuada, Alfabetizao e Diversidade (SECADI), para a oferta do Curso GDE, oferecido namodalidade semipresencial e destinado formao docente continuada, sobre as temticas gnero,sexualidade, orientao sexual e relaes tnico-raciais. As narrativas orais, constitui-se a principal

    fonte do estudo, permitindo, em situao de entrevista semiestruturada, a gerao dos dados einformaes junto aos professores e professoras egressas do curso. Analisa as narrativas utilizando-seconceitos desenvolvidos por Bourdieu (1999; 2001; 2003) como habitus eviolncia simblica.Demonstra alguns dos desafios e conquistas durante o processo de formao no Ambiente Virtual deAprendizagem (AVA), bem como nas prticas escolares ps curso. Constata-se que o Curso GDEcontempla um ingrediente ativo para que profissionais da educao possam posicionar-se diante detransformaes polticas e sociais contemporneas, dentre elas, o respeito diversidade e a luta pelaeducao em sexualidade no espao escolar.

    Palavras-chave: Gnero. Sexualidade. Polticas pblicas de formao continuada. Curso GDE.

    SEXUALITY EDUCATION: CHALLENGES AND ACHIEVEMENTS IN CONTINUINGEDUCATION AND SPACES IN SCHOOL

    Abstract

    This study aims to analyze the Brazilian public policy issues facing the continuing teacher education ,to work with sexuality education in school, seeking to answer the following questions: what are the

    starting points for the implementation of the Course Gender and Diversity in School ( GDE ) in Brazil ,and specifically the Federal University of Maranho - UFMA ? What makes the Travel GDE left us

    graduating subject , especially regarding sexuality education in the school context ? Highlights theinitiative of Department of Continuing Education , Literacy and Diversity ( SECADI ) , for the provisionof GDE Course offered in blended mode and for the continuing teacher training , on thematic gender,sexuality , sexual orientation and ethnic-racial relations . Oral narratives, constitutes the main source of

    the study, allowing , in a situation of semi-structured interview , the generation of data and informationfrom the alumni, teachers and teachers of the course . Analyzes narratives using concepts developed byBourdieu (1999, 2001, 2003) as "habitus" and "symbolic violence". Demonstrates some of thechallenges and achievements during the training on the Virtual Learning Environment (VLE), as wellas in after school practice course. It appears that the GDE course includes an active ingredient foreducation professionals can position themselves on contemporary political and social changes, amongthem, respect for diversity and the struggle for sexuality education in school.

    Introduo

    Desde as ltimas dcadas do sculo XX, as temticas gneroe sexualidade tm

    suscitado vrios estudos que apontam para a necessidade de reconstruo da formao

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    docente e da prtica pedaggica do (a) profissional da educao. Analisamos nas polticas

    pblicas brasileiras, questes voltadas formao continuada de professores (as) da

    educao bsica, para o trabalho com gnero e sexualidade no espao escolar, com nfase

    no Curso Gnero e Diversidade na Escola GDE, ofertado pela Universidade Federal doMaranho - UFMA.

    Consideramos que, de modo geral, a escola e os (as) profissionais da educao

    esto pouco preparados (as) para lidar com questes de gnero e sexualidade, conforme

    constatado em diferentes estudos realizados por mim, especialmente durante a elaborao

    da dissertao de mestrado intitulada Mulheres professoras e a sexualidade: representaes

    e prticas no espao escolar, apresentada em maio de 2009. Alm disso, importante

    ressaltar a transversalidade dessas questes nas Polticas Pblicas Educacionais, por

    estarem implicadas em relaes de poder, desigualdades, hierarquizaes, construo de

    sujeitos, corpos e identidades nas mais variadas expresses.

    Neste intento, buscamos responder os seguintes questionamentos: quais os pontos

    de partida para a implementao de polticas pblicas voltadas s questes de gnero? As

    polticas pblicas voltadas para a formao continuada do (a) professor (a) tm se preocupado

    com questes de gnero e sexualidade no espao escolar? De que forma, essas questes

    vm sendo trabalhadas na formao continuada e nas prticas escolares no estado do

    Maranho?

    Logo, para apreendermos essas questes, faz-se necessrio reconhecer a

    contribuio dos movimentos sociais e, em especial do movimento feminista na construo

    do conceito de gnero e na luta pela implementao de polticas pblicas educacionais de

    formao de professores (as), em especial a formao continuada, bem como o trabalho

    desenvolvido no Curso GDE e em relao s questes de gnero e sexualidade, no espao

    escolar, analisando-se relatos de cursistas egressos do curso, sujeitos do presente estudo.

    Gnero e Sexualidade nas Polticas Educacionais e na Formao Continuada

    Em se tratando da formao continuada de professores (as), as atuais mudanas e

    necessidades sociais trazem como alternativa aos sistemas tradicionais de ensino, a

    Educao Distncia (EaD), uma modalidade que vem se consolidando e ganhando

    visibilidade poltica nos ltimos anos. A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB)

    Lei 9.394/96 apresenta especialmente nos artigos 80 e 87 destaques para a realizao de

    programas de capacitao dos professores em exerccio, podendo-se utilizar tambm a

    EaD.

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    No que se refere aos direitos humanos, Vianna e Umbehaum (2004), argumentam

    que esse iderio embora esteja presente nos documentos por elas analisados, inclusive nos

    PCNs (BRASIL, 2000), as questes de gnero aparecem em aspectos relativos aos

    significados e s implicaes de gnero nas relaes e nos contedos escolares. Alm disso,

    trazem como eixo central da educao escolar o exerccio da cidadania apresentando a

    igualdade de direitos e a participao ativa na sociedade. Entretanto, verifica-se que h um

    tratamento breve da questo de gnero nesses documentos e, alm disso, eles associam

    gnero com sexualidade e doena.

    Por entender a escola como um espao scio cultural em que as diferentes

    identidades se encontram e se modelam, ressalto a importncia de se formarem professores

    e professoras, orientadores/as pedaggicos/as, gestores e demais profissionais da educao

    bsica quanto aos contedos especficos das relaes de gnero, sexualidade e da

    diversidade de orientao-sexual, para que saibam trabalhar com seus educandos (as) o tema

    da diversidade em suas variadas formas e, transversalmente.

    Os movimentos sociais, especialmente o movimento feminista, tm desempenhado,

    ao longo da histria, um papel essencial na luta pela conquista de direitos fundamentais,

    denunciando hierarquias e desigualdades de gnero. A histria dos conceitos de gnero

    surgiu paralelamente histria de diferentes movimentos sociais, cujas trajetrias tm sido

    partilhadas na sociedade atravs da implementao de polticas pblicas, decorrentes,especialmente dos seguintes movimentos: o Movimento Feminista, o Movimento de Lsbicas,

    Gays, Bissexuais, Transexuais e Travestis (LGBT), o Movimento de Mulheres Negras e o

    Movimento de Mulheres Indgenas, dentre outros (GPP-GeR, 2010). Contudo, a incluso das

    questes de gnero nas polticas pblicas somente pode ser efetivada a partir da 4

    Conferncia Mundial sobre a Mulher, realizada pelas Naes Unidas, em Beijing, em 1995,

    momento em que diversos (as) chefes de Estado e de governo presentes, incluindo do Brasil,

    comprometeram-se em adotar estratgias para internalizar a igualdade de gnero nas

    polticas pblicas, alm de avaliar o impacto dessas polticas, conforme apontado no Relatrio

    Final de Implementao do I Plano Nacional de Polticas para as Mulheres 2005-2007

    (BRASIL, 2009).

    Nesse contexto, preciso tecer algumas ressalvas com relao forma como as

    questes de gnero so tratadas na Constituio Federal promulgada em 1988, na Lei de

    Diretrizes e Bases da Educao NacionalLei n 9394/96, no Plano Nacional de Educao

    (PNE), de 2001 e mesmo nos Parmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e Referenciais

    Curriculares Nacionais da Educao Infantil (RECNEI). Dentre as (os) estudiosas (os), que

    tm analisado tais polticas, destacamos Vianna e Umbehaum (2004), quando ressaltam que

    o gnero aparece velado, com trs diferentes caractersticas: na linguagem empregada, que

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    enfatiza a forma masculina; na referncia aos direitos humanos, nos quais o gnero fica

    subentendido e, quando aparece, de forma breve, em alguns tpicos desses documentos.

    Nos temas transversais, gnero aparece e trabalhado, no volume que trata da

    Orientao Sexual, juntamente Preveno de Doenas Sexualmente Transmissveis/Aids

    (BRASIL, 2000). Vale destacar que atualmente tem havido ampla discusso sobre o termo

    orientao sexual e muitas linhas de pesquisa e debates referem-se a ele como o

    posicionamento (nem sempre permanente) da pessoa como heterossexual, homossexual ou

    bissexual. Embora haja certo avano em relao questo de gnero, a temtica deveria

    estar considerada em todo o documento de forma mais clara e mais contundente, e estar mais

    presente nos cursos de formao de professores (as), tanto inicial, como continuada, o que

    ainda no acontece de forma efetiva.

    A partir do entendimento de que devemos pensar o gnero como um campo de

    representao na histria e na poltica, vale resgatar Rosemberg (2001), outra estudiosa que

    vem se dedicando aos estudos sobre a insero do gnero nas polticas pblicas brasileiras,

    dentre elas, o Programa Nacional de Direitos Humanos, os PCNs. A autora destaca:

    O Programa Nacional de Direitos Humanos e as reformas educacionais dos anos 1990acolheram trs itens antigos da agenda do movimento de mulheres/feministasbrasileiro no plano da educao, com impactos variveis: a incluso deeducao/orientao sexual no currculo escolar; o combate ao sexismo no currculoescolar, especialmente nos livros didticos; a expanso da educao infantil como

    forma de cuidado e educao da prole da me trabalhadora (ROSEMBERG, 2001, p.189)

    As reformas educacionais da dcada de 1990 previram e incluram questes de

    gnero e sexualidade, especialmente nos PCNs, o que representa segundo Vianna e

    Unbehaum (2006, p. 416), o mais importante avano em relao adoo de uma

    perspectiva de gnero nas polticas educacionais, por nortear o currculo das escolas

    brasileiras, um importante passo na incluso da perspectiva de gnero na educao,

    objetivando combater relaes autoritrias; questionar a rigidez dos padres de conduta

    estabelecidos para homens e mulheres e apontar para sua transformao e incentivar a

    diversidade de comportamento de homens e mulheres, a relatividade das concepes

    tradicionalmente associadas ao masculino e ao feminino, o respeito pelo outro sexo e pelas

    variadas expresses do feminino e do masculino, conforme apontado no PCN que trata da

    Orientao Sexual (BRASIL, 2000, v. 10). Contudo, durante o estudo desenvolvido no

    Mestrado em Educao pude constatar que

    [...] embora os PCNs e os Temas Transversais, dentre eles a Orientao Sexual,tenham sido aprovados h mais de dez anos, ainda hoje questes de gnero e

    sexualidade so pouco discutidas nas escolas. E quando h essa discusso, s sotrabalhadas as questes disciplinares, atuando como vigilncia das prticas sexuais,de acordo com os ideais do Estado e da sociedade, utilizando-se de seus diversosmecanismos, dentre eles a escola, para controlar o exerccio da sexualidade, tratando

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    apenas questes biolgicas, como reproduo, aparelho genital e preveno dagravidez precoce, as DSTs e AIDS. (SILVA, 2009, p. 99).

    O Ministrio da Educao (MEC), em especial, atravs da Secretaria de Educao

    Continuada, Alfabetizao e Diversidade (SECAD) criada em julho de 2004, e a partir das

    lutas e reivindicaes de movimentos sociais, representados por diferentes grupos humanos,

    tem financiado e incentivado a oferta de cursos para atender diferentes necessidades,

    objetivando reduzir desigualdades educacionais por meio da participao de diferentes

    membros da sociedade em polticas pblicas que buscam assegurar a ampliao do acesso

    educao. Vale ressaltar que a SECAD passou a ser denominada Secretaria Educao

    Continuada, Alfabetizao, Diversidade e Incluso (SECADI) com a aprovao do Decreto n

    7.480, de 16 de maio de 2011 que trata da reestruturao regimental e organizacional do

    Ministrio da Educao.

    Dentre os Programas e Aes da SECAD, atual SECADI, temos a Rede de

    Educao para a Diversidade que se configura como um grupo de instituies pblicas

    dedicado formao continuada de profissionais da educao, nas mais diversas reas,

    oferecendo cursos de Extenso, Aperfeioamento, Especializao que tm se materializado

    em aes de enfrentamento e superao de prticas sociais marcadas por discriminaes

    em relao ao ser humano.

    E, nesse contexto o Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos

    (CLAM/UERJ) prope no ano de 2006, o curso piloto Gnero e Diversidade na Escola

    GDE, oferecendo-se 1.200 vagas para professores e professoras das disciplinas de Ensino

    Fundamental de 5 a 8 sries, sendo elas distribudas em nmero de 200 para cada um dos

    06 municpios de diferentes regies do pas. O total de inscritos foi de 1.415, embora 1.071

    tenham efetivamente iniciado o curso. Destes, 865 concluram as atividades (PEREIRA;

    ROHDEN, 2007).

    O Curso destinado formao continuada de profissionais da educao bsica,sobre as temticas gnero, sexualidade, orientao sexual e relaes tnico-raciais,

    objetivando fornecer elementos para transformar as prticas de ensino, desconstruir

    preconceitos e romper o ciclo de sua reproduo pela escola, alm de possibilitar a aquisio

    de instrumentos para lidar com atitudes e comportamentos que envolvem tais questes no

    cotidiano da sala de aula, e possam demonstrar aos seus discentes a importncia da reflexo

    sobre essas questes e do respeito diversidade sociocultural de nosso pas.

    Mediante a avaliao daquela experincia, publicada em 2007, passou-se para uma

    nova fase de realizao desse projeto em dimenso mais ampliada. Assim, em 2008,

    realizada uma parceria com a SECAD/MEC, a Secretaria Especial de Polticas para as

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    mulheres (SPM), a Secretaria de Polticas Pblicas de Promoo da Igualdade Racial

    (SEPPIR), a Secretaria de Educao Distncia (SEED/MEC), momento em que ampliam a

    proposta para que as Instituies de Ensino Superior Pblicas pudessem ofertar o Curso GDE

    com recursos pblicos federais, passando a ser oferecido por meio de edital da SECAD/MECpara todas as Instituies Pblicas de Ensino Superior do pas que quisessem ofertar o curso

    pelo Sistema da Universidade Aberta do Brasil UAB, na modalidade distncia, com 20

    horas presenciais e uma carga horria total de 200 horas. E, passa a ser o programa de

    formao continuada com a maior oferta para professoras e professores da educao bsica

    no mbito da Rede de Educao para a Diversidade da SECAD.

    Com essa iniciativa, os temas gnero, identidade de gnero e orientao sexual

    puderam ser considerados pela poltica educacional como uma questo de direitos humanos,

    atravs da promoo de uma poltica de formao continuada de professores (as) e de

    atitudes didtico-pedaggicas voltadas a garantir igualdade de direitos e de oportunidades a

    todos os indivduos e grupos, independentemente de suas diferenas de gnero, identidade

    de gnero ou orientao sexual. Esse percurso mostra-se bastante pertinente ao favorecer o

    redimensionamento das experincias de formao e das trajetrias profissionais e tendem a

    fazer com que se infiltrem na prtica atual novas opes, novas buscas e novos modos de

    conduzir o ensino (Catani, 2006, p.19).

    Segundo o Livro de Contedo do Curso GDE (2009) a opo pelos temas especficosa serem trabalhados - gnero, orientao sexual e relaes tnico-raciais, assim como a

    disposio de seu tratamento concomitante, parte do princpio de que os fenmenos se

    relacionam de modo complexo. Com isso necessria formao de profissionais de

    educao que estejam preparados para lidar com esta complexidade e com novas formas de

    confronto na sociedade.

    Gnero e Sexualidade nos espaos escolares

    Os espaos escolares so dotados de significados que guardam e transmitem

    diferentes contedos. Zabala (1998) trata os significados e tipologia dos contedos,

    explicando que so ampliados para alm da questo do que ensinar, e encontram sentido na

    indagao sobre por que ensinar. Os contedos assumem o papel de envolver todas as

    dimenses da pessoa, caracterizando as seguintes tipologias de aprendizagem: factuais e

    conceituais (o que se deve aprender?); procedimentais (o que se deve fazer?); e atitudinais

    (como se deve ser?). Estes so carregados de valores, perpassados na escola,

    especialmente atravs do currculo oculto, impondo regras e comportamentos disciplinares.

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    Atravs de entrevista semiestruturada, quatro professoras e um professor relataram

    suas vivncias, em situaes relacionadas a gnero, sexualidade e educao sexual na

    formao continuada realizada no Curso GDE e em suas prticas escolares. Neste intento,

    vale ressaltar que no podemos esquecer que a pessoa entrevistada tem um conhecimentodo seu prprio mundo, ao mesmo tempo em que demonstra representaes em sua fala, com

    ocultamentos e distores, o que inevitvel e relevante para nosso estudo. Todavia, durante

    as entrevistas procuramos manter uma postura aberta, deixando os sujeitos bem vontade

    para responder as questes. Sobre esses sujeitos, cumpre ressaltar que, no intuito de

    preservarmos suas identidades, escolhemos nomes fictcios e apresentamos a seguir o perfil

    scio profissional dos sujeitos do estudo:

    Perfil scio profissional dos sujeitos da pesquisa

    Nome -Pseud

    nimoIdade

    Orient.Sexual

    EstadoCivil

    Religio

    Formao

    EM ES

    PG

    (Latu e StrictoSensu

    ngela 25 Heterossexual Solteira Evanglica Magistrio PedagogiaPsicopedagogia(em andamento)

    Elza 36 Heterossexual Casada Evanglica FormaoGeral Pedagogia Supervisoescolar

    Joo 30 Bissexual Solteiro Catlico MagistrioPedagogia eMatemtica

    Educao Infantil

    Maria 34 Heterossexual Casada EvanglicaFormao

    GeralPedagogia

    Metodologia daEducaoSuperior

    Selma 50 Heterossexual Casada Catlica Magistrio Pedagogia Gesto Escolar

    Fonte: Elaborado pela autora

    As professoras e professor entrevistadas (o) estiveram prontas (o) a contribuir,

    socializar suas experincias, estabelecendo, de forma instantnea, a interao conosco.

    Todavia encontramos algumas delas que se moveram mais lentamente nas reflexes sobre

    suas representaes e prticas, mas, no decorrer das entrevistas, revelaram importantes

    questes sobre a temtica em foco.

    Todas as professoras afirmaram ser heterossexuais, sendo que apenas uma

    solteira e duas delas no tm filhos/as. O professor solteiro, sem filhos (as) e bissexual.

    Este ressalta que assumiu sua orientao durante a realizao do Curso GDE, pois antes sesentia reprimido, somente depois do Curso, o conflito apareceu e compreendeu o que sentia:

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    No havia o desejo ou a inquietao de falar sobre sexualidade. Desde criana, ouat a adolescncia, isso era reprimido, tanto pelos conselhos paternos, como pelospreceitos da igreja. Estava adormecido [...]. Eu lembro que quando estudava nos anosiniciais, era sempre colocado como aquele que fazia todas as atividades, emprestavao caderno... Quando eu no brincava, como os outros meninos de pegar na bundadas meninas, de fazer algum ato de salincia, eles j comentavam: ele gay, ouento o viadinho. Mas, logo isso acabava, porque eles sabiam que eu tinha algo aoferecer, que era emprestar o caderno, com as atividades prontas. Ento, eu mesentia um pouco mais com fora e tambm no me sentia ameaado por eles, porqueeu tinha certo poder em relao a eles, ento acabava a histria. J nos anos finaisdo ensino fundamental, foi diferente. Eu tinha interesse pelas meninas, mas tambmtinha um olhar para os meninos. E eu no sabia por que isto acontecia e achava queera normal. Depois de mais um tempo, j no ensino mdio, essa normalidadecomeou a me inquietar, porque no era s olhar, mas sim, olhar e ter interesse,vontade de estar perto, de abraar, de beijar, de fazer coisas que os meninos faziamcom as meninas, normalmente. Achava que isso no era certo. Porque sempre ouviem minha casa e, nos preceitos da igreja, que isto no era certo, porque Deus fez ohomem e a mulher para viverem juntos [...]. At o Ensino Mdio, no sei dizer se viviaum conflito, porque em nenhum momento eu fiquei triste, em nenhum momento euficava num canto, ou me afastei. Mas, depois que eu sa do ensino mdio e entrei no

    ensino superior, comecei a me inquietar, porque algumas matrias foram seconflitando com as questes religiosas que tinha aprendido. E, quando iniciei o CursoGDE, o conflito apareceu. At o ensino mdio, s namorei meninas, duas meninas,mas s namorava um ms, dois meses [...] e, era s por fachada. Namorar rapazes,s depois do curso GDE. Depois do curso, a sim, eu entendi que essas questesreligiosas so colocadas como imposies (Joo)

    Nesse sentido, constatamos que os desenvolvidos no curso contriburam na

    aceitao de seus sentimentos e aes e na subverso das normas que vigoram em nossa

    sociedade. Isto aconteceu, segundo Bourdieu, porque nossas estruturas so elaboradas de

    acordo com as prticas individuais que se do em funo do habitus:

    [...] um sistema de disposies, modos de perceber, de sentir, de fazer, depensar, que nos levam a agir de determinada forma em uma circunstnciadada. As disposies no so nem mecnicas, nem determinsticas. Soplsticas, flexveis. Podem ser fortes ou fracas. Refletem o exerccio dafaculdade de ser condicionvel, como capacidade natural de adquirircapacidades no naturais, arbitrrias (BOURDIEU, 2001, p.189).

    O habitus segue estratgias prprias que so regidas pela sociedade, contudo

    homens e mulheres so capazes de subvert-las. Foi o que aconteceu com Joo, durante os

    estudos na universidade e no Curso GDE. De acordo com Bourdieu, para se compreender o

    habitus de um indivduo, precisa-se analisar sua trajetria individual, buscando conhecer suas

    estratgias no seio das estruturas. Nesse sentido, o curso possibilitou que Joo pudesse

    produzir prticas que tendem a reproduzir regularidades imanentes s condies objetivas

    da produo do seu princpio gerador, mas ajustando-se s exigncias inscritas a ttulo de

    potencialidades objetivas na situao diretamente enfrentada (BOURDIEU, 2002, p. 68).

    Assim, o habitus se define como imanente s condies objetivas que se ajustam s

    exigncias de uma estrutura estruturada e estruturante, constitudo por um conjunto de

    disposies para a ao, a histria incorporada, inscrita no crebro e tambm no corpo, nos

    gestos, nos modos de falar, ou em tudo que somos [...] que funciona como princpio gerador

    do que fazemos ou das respostas que damos realidade social (CATANI, 2006, p. 20).Em

    se tratando de habitus de gnero, por exemplo, podemos concluir que so frutos de uma

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    educao informal e de um trabalho pedaggico de inculcao de valores que se inicia no

    processo de socializao desde o nascimento, e que continua sendo incorporada nas variadas

    estratgias educativas, muitas vezes implcitas nas prticas de diversos agentes e instituies

    sociais como a famlia, a escola, a igreja, a mdia, dentre outras. Sobre esse processo deinculcao, ressaltamos uma fala de ngela quando perguntamos sobre o trabalho com

    gnero e sexualidade nas prticas escolares. Ela respondeu:

    Eu tento sempre inculcarneles alguns valores, que eu acredito que fazem parte daformao. Eu creio que tanto a menina, quanto o menino tem que ter uma formao decarter desde pequenos, ento eu sempre tento discutir alguns princpios como aquesto do homem respeitar a mulher... (grifo nosso)

    Elzadestaca que trabalha em suas prticas a questo da diferena entre o que

    aceito para o homem e o que no aceito para a mulher. Em A Dominao Masculina,

    Bourdieu (1999) explica a (re) produo dos gneros e a insistncia das relaes dedominao de gnero a partir do conceito de habitus. A professora enfatiza o que aceito

    para o homem e o que no aceito para a mulher. A subjetividade de gnero, estruturada

    internamente e expressa em posturas masculinas ou femininas so as experincias

    individuais, estas por sua vez, so sucessivamente alimentadas pela objetividade da

    sociedade, por uma organizao social baseada em divises de gnero, ou seja, pela

    experincia histrica. De acordo com Bourdieu, gnero um conceito relacional e uma

    estrutura de dominao simblica: os gneros so um par de opostos que constituem uma

    relao e as relaes de gnero so relaes de poder em que "o princpio masculino

    tomado como medida de todas as coisas" (BOURDIEU, 1999, p. 23), demonstrando que os

    princpios da diviso sexual parecem estar na ordem das coisas, inseridos em um sistema

    de oposies: alto/baixo, sim/no, em cima/embaixo, fora (pblico)/dentro(privado),

    duro/mole, dentre outras que so cobertas de sentido social.

    Sobre as contribuies do Curso em suas formaes e prticas, dentre os relatos

    apresentados, destacamos a fala de Mariaquando destaca que:

    [...] depois da realizao do Curso GDE foi possvel inserir como temticas naspalestras que desenvolvemos, por exemplo, a questo da violncia contra mulher,buscando trabalhar com aquelas senhoras, com aquelas jovens e resgatando suahistria trabalhando a lei Maria da Penha e junto com homens e mulheres, que euacho interessante que os homens participem, pois precisam desconstruir algumasposturas.

    Joonos relatou que aps os conhecimentos adquiridos no Curso GDE, props que

    fosse includo, no processo de reformulao do Projeto Pedaggico do Curso de Pedagogia

    da UFMA, Campus de Imperatriz, a insero da disciplina Educao e Sexualidade,

    aprovada como optativa. Alm disso, destacou que est...[...] orientando mais dois trabalhos de graduao sobre o assunto, um na UFMA eoutro na UEMA: o da UFMA sobre gnero, pesquisando os casos de homens que

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    passaram no concurso pblico para auxiliar de magistrio, mas, depois que passaram,foram remanejados da funo, porque tanto a secretaria, como os prprios pais noqueriam eles l. E, eles mesmos aceitaram a situao.

    Segundo Elza o curso contribuiu significativamente em sua formao pessoal eprofissional por que...

    [...] a partir do momento que voc muda seu olhar, se comea a quebrar vriospreconceitos que se tinha em relao sexualidade, em relao, a gnero, em relao raa... e se observa que carter no tem nada a ver com a cor, no tem nada a vercom sua orientao sexual, ento convivemos melhor em sociedade.

    Selma disse que o Curso contribuiu na ampliao do conhecimento sobre as

    questes de gnero, sexualidade e relaes tnico-raciais e Joana ressalta que depois do

    curso tem mais respaldo pra trabalhar essas questes na sala de aula, e que agora tem

    mais coragem de trabalhar nesse sentido, mais coragem de deixar claro esse respeito que

    voc tem que ter pelo outro dentro da sala de aula. Destarte pudemos identificar as

    contribuies do Curso GDE, tanto na formao, como nas prticas escolares dos professores

    e professoras que o realizaram.

    Os professores e professoras, independente de sua origem, acumularam ao longo

    de suas trajetrias de vida, conhecimentos, valores, crenas, que os pem em um lugar de

    produtores/detentores de saberes e poderes. O que os (as) colocam hierarquicamente, em

    uma posio superior, ou diferenciada, se os (as) compararmos aos discentes, pois so os

    docentes que detm, pelo menos em tese, a tarefa de ensinar. Essas e outras so

    problemticas sociais e culturais que acabam por fazer parte do cotidiano escolar, e exigem

    uma nova postura do professor e professora. Alm de a sala de aula ser um espao em que

    o (a) docente demonstra suas concepes, crenas, valores, ou seja, seus saberes e seus

    fazeres.

    Consideraes finais

    A importncia de temas como gnero e sexualidade na formao continuada e nas

    prticas escolares se justifica, pois, alm de serem pressupostos da democracia e dos direitos

    humanos, necessrio considerar, conforme aponta Louro (2001, p. 87-88), que atravs de

    um aprendizado continuado e de forma sutil que, na escola meninos e meninas, jovens,

    mulheres e homens aprendem e incorporam gestos, movimentos, habilidades e sentidos. E,

    na escola, currculos, normas, procedimentos de ensino, teorias, linguagem, materiais

    didticos, processos de avaliao constituem-se em espaos da construo das diferenas

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    de gnero, de sexualidade, de etnia, de classe. O que os estudos atuais sobre gnero e

    sexualidade no espao escolar buscam discutir, de forma problematizada, refere-se s formas

    como essa normalidade e as diferenas so produzidas na sociedade, bem como os efei tos

    de poder dessas produes.

    Vale lembrar que diante de tanta heterogeneidade nas situaes educacionais,

    preciso rever velhos modelos e formular novas propostas que estejam em consonncia com

    as demandas escolares. Nesse sentido, a prtica pode ser reconhecida como fonte de

    aprendizagem e desenvolvimento profissional, experincias pessoais, posturas,

    comportamentos que no podem ser totalmente explicados. Alm disso, a educao

    diferenciada entre meninas e meninos acontece mesmo que eles estejam na mesma sala de

    aula com o (a) mesmo (a) professor (a), lendo os mesmos livros didticos, s vezes de formas

    sutis outras mais visveis. E ns docentes envolvidos nesses espaos, na grande maioria das

    vezes no percebemos os jogos de poder que ali esto presentes, a servio das

    desigualdades, atravs de palavras, gestos e atitudes de omisso, silenciamento,

    consideradas como banais, mas que so carregadas de preconceitos, podendo transformar

    nossos (as) discentes em futuros homens e mulheres racistas e sexistas.

    Diante dessas consideraes, enfatizamos a necessidade de que esses temas

    devam estar presentes tambm no currculo dos Cursos de Formao Inicial e Continuada de

    professores (as), para que os novos saberes e novaspraxissejam geradas. Destarte, o CursoGDE contempla um ingrediente ativo para que profissionais da educao possam desenvolver

    em suas prticas escolares, as temticas gnero, sexualidade, orientao sexual, diversidade

    sexual, dentre outros que so aprendidos atravs de uma experincia distncia de formao

    continuada, a capacidade de compreender e posicionar-se diante de transformaes polticas

    e sociais contemporneas, dentre elas, o respeito diversidade, alm de conhecer a

    perspectiva histrica, social e cultural sobre gnero e sexualidade, analisando-as de forma

    crtica, e assim, repensar o espao da educao sexual escolar; refletindo e questionando

    preconceitos, tabus, interditos e valores construdos e acumulados na sociedade nos ltimos

    sculos.

    Referncias

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