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EDUCAÇÃO HISTÓRICA COMO PERSPECTIVA DE ENSINO: UMA REFLEXÃO SOBRE A COPA DO MUNDO FIFA NO BRASIL -2014
Silvana Maura Batista de Carvalho Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG
Agência financiadora – CAPES
Resumo: Tendo em vista que a História assume objetivos pertinentes a cada sociedade, adentrando o século XXI como disciplina escolar visa contribuir no processo de constituição de identidades locais, regionais e nacional, na formação intelectual e política das novas gerações. Assim, a criação de instrumentos cognitivos que possibilitem o desenvolvimento de um pensamento crítico constitui-se um desafio à formação docente. Nesse sentido, atua o projeto de História – PIBID/UEPG-2014-2015, oportunizando aos futuros professores maior aproximação do campo de trabalho, no cotidiano do ensino de História e da ação docente, criando espaços de um pensar e agir conjunto, na implantação/implementação de inovações no ensino de História. A linha adotada visa formar professor-pesquisador, tendo como opção metodológica a pesquisa-ação. Assim sendo, destaca-se uma das propostas desenvolvidas pelos pibidianos, por sugestão da CAPES, o trabalho sobre a temática “Copa do Mundo FIFA-2014”. Nesse projeto, opta-se pela alternativa metodológica da Educação Histórica que procura compreender como o aluno apreende, nos avanços conceituais apresentados. Essa abordagem abrange a interpretação de fontes e a problematização de relações entre passado, presente e horizontes de futuro, cujos resultados se apresentam na produção final, decorrente do trabalho de análise de fontes históricas midiáticas, escritas e observação da realidade local, para reconhecer os prós e contras desse evento, diante das condições político-econômicas do país, expressa nas conclusões provisórias divulgadas em frases, cartazes, charges, entre outros. Os resultados alcançados abrangem da satisfação dos professores e acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, na produção do conhecimento histórico em sala de aula.
Palavras-chave: formação docente – educação histórica – copa do mundo.
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O ensino de História na atualidade tem como um de seus objetivos centrais
contribuir para a formação da identidade do aluno, por meio do estudo da história
local/regional, relacionada à história nacional e mundial, o que ainda constitui-se um
dos desafios enfrentados nos cursos de formação inicial e, na atuação dos
professores na educação básica. A esse objetivo corresponde uma questão inerente
à função atribuída da disciplina escolar de História, desde a sua criação, no século
XIX, até os dias de hoje, investir na formação para a cidadania.
Entretanto, desde as últimas décadas do século XX, esse conceito vem sendo
redimensionado, avançando de uma visão liberal baseada nos deveres e direitos
políticos, para uma perspectiva social, abrangendo os “[...] conceitos de igualdades,
justiça, de diferenças, de lutas e de conquistas, de compromissos e de rupturas [...].”
(BITTENCOURT, 1997, p. 22).
Nessa direção estão as propostas curriculares de História apontando para
uma formação intelectual e política das novas gerações, isto é, para o
desenvolvimento do pensamento crítico do aluno visando à compreensão da
realidade em que vive. As quais, segundo Bittencourt, “[...] devem atender a uma
articulação entre os fundamentos conceituais históricos, provenientes da ciência de
referência e as transformações pelas quais a sociedade tem passado, em especial
as que se referem às novas gerações [...]”.( In: BARRETO, 2000, p. 138).
Em consonância com tais propostas estão as Diretrizes Curriculares
Estaduais do Paraná – História (DCE‟s –PR) (2009), preconizando que,
[...] a aprendizagem histórica configura a capacidade dos jovens se orientarem na vida e constituírem uma identidade a partir da alteridade. A constituição desta identidade se dá na relação com os múltiplos sujeitos e suas respectivas visões de mundo e temporalidades em diversos contextos espaço-temporais por meio da narrativa histórica. Entende-se que esta implica que o passado seja compreendido em relação ao processo de constituição das experiências sociais, culturais e políticas do Outro, no domínio próprio do conhecimento histórico. [...] (PARANÁ, 2009, p. 57).
Assim, nota-se que novas propostas de ensino correspondem aos avanços
das concepções historiográficas e pedagógicas, no reconhecimento do aluno
enquanto sujeito da construção de seu conhecimento, no processo de constituição
de identidade, pelo estudo e construção de narrativas históricas sobre a vida do
homem em sociedade, em diversos contextos espaço-temporais. Pressuposto
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ratificado por Bittencourt, ao afirmar que,
O ensino de História pode possibilitar ao aluno „ reconhecer a existência da história crítica e interiorizada‟ e „ a viver conscientemente as especificidades de cada uma delas‟. O estudo de sociedades de outros tempos e lugares pode possibilitar a constituição da própria identidade coletiva na qual o cidadão comum está inserido, à medida que introduz o conhecimento sobre a dimensão do „outro‟, de uma „outra sociedade‟, „outros valores e mitos‟, de diferentes momentos históricos . Identidade e diferença se complementam para a compreensão do que é ser cidadão e suas reais possibilidades de ação política e de autonomia intelectual [...], em sua capacidade de manter e gerar diferenças econômicas, sociais e culturais [...]. ( 2004, p. 27)
Mediante tais possibilidades atribuídas ao ensino de História, infere-se que,
no contexto da educação básica ocorre a produção de um conhecimento próprio do
contexto educacional. Pois, esse processo requer pressupostos teórico-
metodológicos que viabilizam a mediação didática feita pelo professor e seus
saberes oriundos de sua formação escolar, familiar, social e acadêmica, na
proposição de ensino baseado na reflexão/problematização do conhecimento
histórico produzido, levando-se em conta o conhecimento prévio dos alunos. Dessa
forma, se dá a construção e produção do “saber histórico escolar”.
Nessa perspectiva, a disciplina de História atende aos objetivos centrais de
seu ensino frente às demandas sociais do século XXI – “ a constituição da
identidade do aluno e a formação para a cidadania social”. Para atingi-los destaca-
se, entre outros fatores, a opção de uma alternativa metodológica, dando-se
destaque neste trabalho à Educação Histórica, cujos encaminhamentos busca
compreender como o aluno apreende e como realiza os avanços conceituais. O que
para Barca constitui-se um ensino investigativo, atendendo aos seguintes passos:
1. Recolha inicial de dados sobre as ideias prévias dos alunos acerca de um conceito substantivo, seleccionado dentro de uma determinada unidade em estudo [...]. 2. Análise das ideias prévias dos alunos segundo um modelo (simplificado) de progressão conceptual: categorização das ideias de alunos desde ideias incoerentes e alternativas até às relativamente válidas. 3. Desenho, planeamento e implementação de uma unidade temática tendo em conta um refinamento progressivo das ideias históricas dos alunos previamente diagnosticadas. 4. Recolha de dados sobre as ideias dos alunos a posteriori, aplicando o mesmo instrumento do momento inicial. 5. Aplicação de um instrumento de metacognição aos alunos para monitorizar o processo de ensino e aprendizagem. [...]. ( 2004, p. 46-47).
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Assim, partindo-se do conhecimento prévio dos alunos para instrumentalizá-lo
com o conhecimento científico, na condução à construção de uma narrativa
histórica própria sobre determinado tema e/ou conceito, que apresenta as
conclusões pessoais, como resultado provisório do processo de ensino e
aprendizagem.
Mas, o trabalho docente de Educação Histórica requer uma formação inicial e
continuada de consistência histórica, historiográfica e didático-pedagógica que
proporcione aos professores condições de estabelecer relação entre teoria e prática,
pressupostos teórico-metodológicos e a ação cotidiana em sala de aula. Portanto,
como afirma Barca,
[...] proporcionando-lhes âncoras na autoconstrução do perfil de professor-investigador social [...]. Esse perfil de profissionalidade avançada requer um refinamento das competências de análise de dados teoricamente guiada pela reflexão epistemológica sobre a História. As categorias de análise, numa linha de progressão de ideias em História, poderão (deverão) refletir-se depois, de forma aproximada, na avaliação convencional dos resultados de aprendizagem dos alunos – se esta for orientada para a qualidade do pensamento histórico, envolvendo interpretação de fontes e problematização de relações entre passado, presente e horizontes de futuro. (Ibidem, p. 47).
Vislumbrando a construção desse perfil de profissionalidade docente, do
professor pesquisador/investigador está o projeto de História, do Programa
Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência, na Universidade Estadual de Ponta
Grossa - PIBID/UEPG-2014-2015, da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de
Pessoal do Ensino Superior (CAPES). Com a finalidade de oportunizar aos futuros
professores maior aproximação do campo de trabalho, no cotidiano do ensino de
História e da ação docente, criando espaços de um pensar e agir conjunto, com
professores atuantes na educação básica, na implantação/implementação de
inovações no ensino de História (CARVALHO, 2013, p. 3).
Como base desse projeto complementar na formação inicial de professores de
História, ressalta-se a importância da área de prática de ensino e estágio
supervisionado como eixo central dos cursos de licenciatura e, fundamentado na
articulação entre ensino-pesquisa-extensão. Assim, busca-se oferecer subsídios
para a construção de uma práxis docente em História, nas experiências pré-
profissionais aos alunos do curso presencial de licenciatura em História/UEPG.
Experiências realizadas pela aproximação do futuro campo de trabalho, na
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inserção dos acadêmicos no contexto escolar para um reconhecimento das
singularidades da escola, do ensino de História, na concretude do cotidiano escolar
da ação docente, em seus diversos aspectos e envolvimentos. Para que, na relação
prática-teoria-prática, os futuros professores edifiquem um arcabouço teórico-
metodológico de consistência, num trabalho conjunto, pelo acompanhamento do
professor coordenador, e parceria com os professores supervisores, atuantes no
ensino de História, na rede pública estadual de ensino, como co-formadores.
A linha adotada pelo projeto visa à formação do professor-pesquisador,
tendo como opção metodológica a pesquisa-ação, em sua perspectiva crítica, a qual
está
[...] estruturada dentro de seus princípios geradores, é uma pesquisa eminentemente pedagógica, dentro da perspectiva de ser o exercício pedagógico, configurado como uma ação que cientificiza a prática educativa, a partir de princípios éticos que visualizam a contínua formação e emancipação de todos os sujeitos da prática.[...]. (FRANCO, 2009, p. 5-6).
Assim, proporciona-se aos acadêmicos, a participação em experiências
didáticas, no exercício pedagógico caracterizado pela relação prática-teoria-prática,
norteada pela metodologia de ensino da educação histórica, objetivando contribuir
para a emancipação dos sujeitos envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
Entre os projetos de ensino desenvolvidos, apresenta-se o intitulado: A COPA DO
MUNDO NO BRASIL: o que ganham os brasileiros?, realizado entre os meses de
abril e agosto/2014.
O ponto de partida dessa experiência segue a sequência lógica da ação
docente, definição da temática, do recorte espaço-temporal, da abordagem a ser
dada, para a elaboração conjunta do projeto e seus desdobramentos. Nesse sentido,
buscou-se “Proporcionar experiências pré-profissionais extra-curriculares aos
alunos-bolsistas do PIBID a cerca de temáticas atuais, numa perspectiva crítica.” E,
consequentemente, “Oportunizar aos alunos da educação básica, uma discussão
sobre os acontecimentos atuais que envolvem a Copa do Mundo 2014, no contexto
político-econômico e social brasileiro.[...] (CARVALHO et al, 2014, p.2).
O projeto teve início com a fundamentação teórico-metodológica da área de
ensino de História, a distribuição entre os alunos-bolsistas de subtemas para
pesquisa bibliográfica e documental sobre a temática em questão. Em seguida, os
conteúdos foram organizados de forma didática, fez-se a previsão, seleção e
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confecção do material didático necessário, como: vídeos, cartazes, textos, jogos
didáticos e mural para a socialização dos resultados das oficinas pedagógicas.
Essas foram projetadas e orientadas pelos professores supervisores e,
planejadas conjuntamente com os acadêmicos, visando os seguintes objetivos:
- Contribuir no processo de formação cidadã dos alunos da educação básica, articulando acontecimentos esportivos atuais e suas implicações na vida do país. - Conduzir os alunos a uma reflexão crítica acerca das informações sobre a organização da Copa do Mundo no Brasil com base na exposição de conteúdos diversificados que apresentem os prós e contras da realização deste evento no país. ( WILLENBORG, KLOSTER, 2014, p. 02)
Frente aos objetivos propostos, fez-se o detalhamento de cada um dos
momentos previstos para a oficina pedagógica e, a adequação da proposta aos
diferentes anos escolares, do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e, às três séries
do ensino médio. Seguindo os encaminhamentos metodológicos da Educação
Histórica, contemplando a interpretação de fontes e a problematização de relações
entre passado, presente e horizontes de futuro. (BARCA, 2004). Assim, o trabalho
didático aconteceu em três momentos (WILLENBORG, KLOSTER, 2014), conforme
a sequência a seguir:
1º - Sensibilização dos alunos e localização espaço-temporal da temática.
- Exibição de vídeos sobre a Copa do Mundo no Brasil/2014.
- Discussão sobre o evento, a partir dos vídeos e com a localização no mapa
mundi, dos países participantes e um breve histórico sobre o futebol e participação
de cada um, nas Copas do Mundo, desde a criação do campeonato.
- Exposição didática, com recurso de power point, sobre a origem e difusão da
prática do futebol na história da sociedade ocidental, assim como, as inúmeras
edições da Copa do Mundo desde o início do século XX, adentrando o século XXI.
- Apresentação e orientação sobre o “jogo da Copa” em figurinhas.
- Realização do “jogo da Copa” no qual o aluno fez a leitura do texto impresso nas
figuras, dispondo-os em ordem cronológica as diversas edições da Copa do Mundo.
Dessa forma, possibilitou-se ao aluno organizar as ideias e elaborar sua própria
síntese sobre o tema em estudo.
Nesse primeiro momento, buscou-se situar os alunos no contexto da temática
proposta, oferecendo-lhe subsídios para pensar sobre a questão e recorrendo e
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expondo os seus conhecimentos prévios sobre o assunto. Na continuidade,
direcionou-se para um trabalho investigativo, assim desenvolvido:
2º – Problematização do tema
- Realização de leitura comentada de textos sobre os “prós e contras” à realização
da Copa do Mundo no Brasil.
- Apresentação das imagens, propagandas, textos trazidos pelos alunos sobre o
assunto.
- Discussão sobre os diferentes pontos de vista a respeito do evento, a partir dos
textos lidos e do material apresentado.
- Orientação aos grupos formados por até seis alunos, para que, diante das
argumentações de cada um, dos subsídios apresentados, cheguem a um consenso
no grupo, e, com posicionamento assumido, expressassem-no na produção de
frases ou slogans, a partir das discussões, leituras e propagandas.
Para a problematização do tema, além de textos sobre os aspectos positivos
e negativos da Copa do Mundo, para o país, serviram como fontes históricas sobre a
história recente, as imagens e reportagens sobre o tema, trazidas pelos alunos para
a sala de aula, com diferentes argumentações e pontos de vista. Após os
questionamentos sobre as questões levantadas pelos alunos e pelo professor,
debatendo-se os prós e contras, os alunos tiveram condições de se posicionar, com
suas próprias argumentações, o que ocorreu na fase seguinte.
3ª. Produção do conhecimento histórico escolar
- Elaboração dos cartazes, com a utilização de gravuras, desenhos e frases, como
expressão das conclusões do grupo, como resultado da problematização do
assunto, das argumentações expostas nas reportagens de revista e jornais,
discussões em sala de aula.
- Montagem de um painel com cartazes construídos pelos alunos, para leitura dos
mesmos e, verificação dos diferentes saberes construídos pelos grupos, a respeito
de um mesmo assunto problematizado durante a oficina.
Os resultados apresentados na produção final, decorreram do trabalho de
análise de fontes históricas midiáticas, escritas e observação da realidade, para
reconhecer os prós e contras da Copa, diante das condições político-econômicas do
país e, expressados nas conclusões provisórias divulgadas em frases e cartazes.
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A exposição realizada no espaço escolar constituiu-se uma forma de
publicação, em âmbito educacional, do conhecimento histórico produzido no
exercício pedagógico, ou seja, na prática reflexiva , compartilhada pelo professor
supervisor com os pibidianos em todas as fases que envolvem o trabalho docente,
do planejamento à avaliação final e, com os alunos da educação básica, na
interação no desenvolvimento do trabalho.
As oficinas pedagógicas contaram com a participação efetiva de
aproximadamente 240 alunos, nas duas escolas de atuação do projeto PIBID de
História. Analisando os resultados obtidos frente aos objetivos propostos, verifica-se
que os mesmos foram atingidos, pela presença de visões críticas sobre o tema
Copa do Mundo no Brasil, em 80% dos cartazes apresentados, sendo que os
demais retrataram apenas a tomada de conhecimento sobre o evento, seus
símbolos, entre outros.
O conhecimento/saber escolar construído, produzido e divulgado na
exposição dos resultados, evidenciam a concretização de uma aprendizagem
histórica, demonstrada na construção de uma narrativa, como produto da reflexão
realizada pela articulação entre o conhecimento prévio dos alunos, os conteúdos
abordados na problematização do tema de estudo, cujas conclusões provisórias
foram expressas nos cartazes elaborados.
Quanto aos resultados apresentados pelos alunos do 6º e 7º anos, do ensino
fundamental nota-se a presença de uma visão crítica sobre os acontecimentos, mas
os autores não se colocam como partícipes desse processo. Demonstram
conhecimento sobre o assunto, apontam para uma visão crítica, ao enunciar alguns
aspectos sociais, políticos e econômicos, mas não assumem um posicionamento
diante da questão, como se apresenta nos cartazes a seguir.
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Cartaz elaborado por alunos do 6º ano do Ensino Fundamental (CELB), jun/2014.
Cartaz elaborado por alunos do 7º ano do Ensino Fundamental(CELB) jun/2014
A visão sobre os acontecimentos demonstrada no conhecimento histórico
apresentado pelos alunos do ensino fundamental, permitem apontar para os
diferentes níveis de aprendizagem histórica, a qual para Rüsen leva em conta a
experiência, a interpretação e a orientação e, “ [...] as três operações podem ser
analisadas e distinguidas uma da outra em diferentes níveis ou dimensões da
aprendizagem histórica [...]” (In: SCHMIDT et al, 2010, p. 84).
Ainda, segundo esse autor, a aprendizagem histórica possibilita o
desenvolvimento da consciência histórica, quando traz à tona um aumento na
experiência do passado humano que possibilita um aumento da competência
histórica, com a qual se atribui significado à experiência e a capacidade de aplicar
os significados históricos na orientação da vida prática (Ibidem).
Assim sendo, constata-se que na aprendizagem histórica dos alunos do
ensino fundamental, deve-se levar em conta que entre as três operações previstas
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por Rüsen (2010), “a experiência de vida” corresponde à sua faixa etária e, a partir
dessa operação é que ocorrem as demais. Por isso, os resultados correspondem ao
grau de consciência histórica alcançado por esses sujeitos.
Nos trabalhos realizados por alunos do ensino médio nota-se a presença de
uma visão crítica baseada nas contradições sociais, pelo reconhecimento dos
problemas existentes, da falta de vontade política em resolvê-los dos prós e contras,
com um posicionamento questionador, como se demonstra a seguir.
Cartaz elaborado por alunos do 1º ano do Ensino Médio (CEJER) - jun/2014
Nessa produção percebe-se a constatação da contraditoriedade do contexto
social brasileiro, frente à ostentação da Copa Mundo e, a presença de caráter
questionador, o que demonstra que na aprendizagem histórica, a maior experiência
do aluno sobre o passado lhe possibilita assumir uma postura questionadora frente
ao tema e suas implicações sociais, políticas e econômicas.
A mensagem expressa no próximo cartaz como no anterior, apresenta um
posicionamento político diante dos fatos, acrescentando à visão crítica sobre o tema,
possibilidade de ação dos sujeitos, na busca por mudanças, na constatação dos
fatos, no questionamento e, no desafio “ O PODER... nas tuas mãos.”
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Cartaz elaborado por alunos do 1º ano do Ensino Médio - Jun/2014 (CEJER)
O próximo cartaz apresenta uma produção mais consistente, dada uma
entonação de denúncia sobre as questões precárias e, anúncio de luta pelos
direitos, pela valorização da vida, da educação e saúde, apontando para a
dignidade humana, em suas condições de vida e nas ações.
Cartaz elaborado por alunos do 1º ano do Ensino Médio (CEJER) - jun/2014
Os resultados expostos na produção dos alunos, permitem verificar que
houve aprendizagem e avanços conceituais, para uma maioria significativa dos
alunos participante, o que se denota nos exemplos aqui exibidos, entre os demais.
Tais resultados alcançados possibilitam avaliar a validade da experiência
no processo de formação inicial e continuada de professores, englobando os
momentos da prática educativa. Para tanto, realizou-se uma reunião da equipe do
Projeto PIBID de História/UEPG, na qual fez-se a avaliação final do projeto de
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ensino sobre a Copa, no dia 27/06/2014, quando os participantes fizeram suas
considerações.
Sob o olhar dos professores supervisores, o projeto “oportunizou o trabalho
didático com um tema inusitado, permitiu pensar sobre acontecimentos atuais, como
históricos e, relacionados ao passado, além de proporcionar um trabalho em equipe”
( Professor 2). Dessa forma, nota-se o presente também é história e, suscita uma
reflexão sobre os acontecimentos presentes relacionando-os com o passado.
O aspecto do trabalho em equipe também foi enfatizado pelo outro professor
que ressaltou a importância da integração da equipe PIBID para o desenvolvimento
do projeto, o que geralmente não acontece no cotidiano escolar e, que se faz
necessário aprendê-lo, como uma das formas de viabilizar um trabalho conjunto, tão
necessário e, no espaço escolar e, também como caminho para um trabalho
interdisciplinar, visando oferecer ao aluno um ensino relacionado à sua vida e
realidade, possibilitado pela ação conjunta de várias áreas de ensino.
Para os acadêmicos pibidianos, recém-chegados no PIBID, foi a primeira
experiência de inserção no processo de ensino e aprendizagem, ultrapassando as
observações da realidade escolar. Mas, os depoimentos e avaliações feitas junto a
esses, revelam aspectos importantes vivenciados na experiência. O primeiro ponto
valorizado foi a possibilidade de aproximação dos alunos da educação básica, a
participação e correspondência desses na oficina desenvolvida, numa alternativa
metodológica que viabilizou a expressão das ideias pelos alunos, um trabalho
diferente do cotidiano da sala de aula.
Com relação ao trabalho docente do planejamento, execução e avaliação, os
acadêmicos ressaltaram a importância do planejamento , preparação do conteúdo e
do material didático com antecedência, reconheceram a característica fundamental
do planejamento didático, a flexibilidade do mesmo na execução da oficina, assim
como, no aprimoramento e/ou adequação ao momento vivenciado.
Dessa forma, se reconhece como a educação histórica pode contribuir para
a emancipação de todos os sujeitos da prática educativa, professores supervisores,
acadêmicos e alunos, na efetivação da práxis docente e, da produção do
conhecimento histórico em sala de aula.
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Referências
BARCA, isabel. Ideias chave para uma educação história: em busca de (inter)identidades. In: Hist. R., Goiânia, v. 17, n. 1, p. 37-51, jan./jun. 2012.
BITTENCOURT.Circe (org). O saber histórico em sala de aula. São Paulo: Contexto, 1997.
------------- “ -------------- Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004. (Coleção Docência em formação: ensino fundamental).
-------------“ --------------. História nas atuais propostas curriculares In: Ensino de História: fundamentos e métodos. São Paulo: Cortez, 2004 (Coleção Docência em formação. Série ensino fundamental) ( p. 97 a 132).
CARVALHO, Silvana Maura Batista de. Copa do Mundo: o que ganham os brasileiros. Ponta Grossa:UEPG-PIBID de História, 2014
FRANCO, Maria Amélia Santoro Franco. Prática pedagógica-pedagogia da pesquisa-ação. Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/pedagogia/artigos/. Acesso em 29/07/2011.
PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação - Superintendência de Educação – Diretrizes para o ensino fundamental – História. Curitiba: 2009. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/diretrizes/dce_hist.pdf.
RÜSEN, Jörn. Experi^rncia, interpretação, orientação: as três dimensões da aprendizagem histórica. In: SCHMIDT, M. A., BARCA. I. , MARTIN, E. R. Jörn Rüsen e ensino de História. Curitiba: UFPR, 2010.
SCHMIDT, Maria Auxiliadora; CAINELLI, Marlene. Ensinar história. São Paulo: Scipione, 2004. (Pensamento e ação no magistério).
WILLENBORG, Adreane Marceli, KLOSTER, Marcelo. COPA DO MUNDO NO BRASIL: prós e contras. Ponta Grossa: UEPG-PIBID de História,2014.