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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar Waldereze Maria Santos Nascimento 2014 Educadores e Educandos: Tempos Históricos

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Waldereze Maria Santos Nascimento

2014

Educadores e Educandos: Tempos Históricos

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Presidenta da República Dilma Vana Rousseff Vice-presidente da República Michel Temer Ministro da Educação José Henrique Paim Fernandes Secretário de Educação Profissional e Tecnológica Aléssio Trindade de Barros Diretor de Integração das Redes Marcelo Machado Feres Coordenação Geral de Fortalecimento Carlos Artur de Carvalho Arêas Coordenador Rede e-Tec Brasil Cleanto César Gonçalves

Governador do Estado de Pernambuco João Soares Lyra Neto

Secretário de Educação e Esportes de

Pernambuco José Ricardo Wanderley Dantas de Oliveira

Secretário Executivo de Educação Profissional

Paulo Fernando de Vasconcelos Dutra

Gerente Geral de Educação Profissional Luciane Alves Santos Pulça

Coordenador de Educação a Distância

George Bento Catunda

Coordenação do Curso Terezinha Beltrão (Multimeios Didáticos)

Sheila Ramalho (Secretaria Escolar)

Coordenação de Design Instrucional Diogo Galvão

Revisão de Língua Portuguesa

Eliane Azevedo

Diagramação Roberta Cursino

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INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 3

1. COMPETÊNCIA 01 l PRINCIPAIS ASPECTOS DA EDUCAÇÃO BRASILEIRA – DA COLÔNIA À

PRIMEIRA REPÚBLICA ............................................................................................................... 5

1.1 Os Jesuítas ............................................................................... 5

1.2 As Reformas Pombalinas e seus Efeitos para a Educação

Colonial ....................................................................................... 10

1.3 A Política Educacional de D. João .......................................... 18

1.4 A Educação no Brasil após a Emancipação Política ................ 20

2. COMPETÊNCIA 02 | EDUCAÇÃO BRASILEIRA: DO MANIFESTO DOS PIONEIROS AO

MANIFESTO MAIS UMA VEZ ................................................................................................... 32

2.1 A Educação Brasileira e a “Revolução de 1930” ..................... 32

2.2 O Manifesto dos Pioneiros .................................................... 34

2.3 O Movimento Mais uma Vez ................................................. 38

2.4 A Política Educacional do Governo Militar (1964) .................. 43

2.5 O Significado do Golpe Militar para a Educação .................... 47

3. COMPETÊNCIA 03 | IDENTIDADE PROFISSIONAL E O PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO . 53

4. COMPETÊNCIA 04 | PRINCIPAIS ASPECTOS DO DIREITO E DA GESTÃO DAS POLÍTICAS

PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA .................................................................................................. 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................................... 60

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .............................................................................................. 63

Sumário

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

INTRODUÇÃO

Olá, caro aluno! É com grande satisfação que apresento o caderno

“Educadores e Educandos: tempos históricos”. Como consideramos a

Educação de um povo sendo o conjunto de práticas e conhecimentos

sistematizados ou não, que é repassado e transformado por meio das

gerações, ou seja, a cultura que nos identifica e com a sociedade na qual

estamos inseridos; para compreendermos algumas atitudes e organizações, é

necessário o estudo da formação da origem de instituições e costumes.

Nesse contexto a História como ciência que estuda as transformações

humanas ao longo do tempo, permite-nos, analisar como a Educação se

transformou, e a quais interesses ele estava relacionado. No que diz respeito

ao Brasil iremos analisar de forma crítica seu sistema educacional, sua

filosofia e suas principais características.

Por isso, achamos por bem dividir nosso tema em quatro competências.

A primeira, representada no primeiro capítulo, tem por título: Principais

Aspectos da Educação Brasileira, onde conversaremos sobre a Educação no

Brasil com a chegada dos Jesuítas até o período da Primeira República.

Destacando a importância e a hegemonia da Companhia de Jesus até o século

XVIII na colônia e as Reformas Pombalinas. Além disso, trocaremos ideias

sobre as repercussões da vinda da Família Real Portuguesa (1808), para o

ensino. O que precisou ser feito com a instauração do governo central do

império no Brasil?

E com a emancipação política, quais as consequências para o sistema

educacional do país? A Independência política tornou-se sinônimo de alcance

de direitos educacionais para todos?

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O Brasil que era um império, o único das Américas, tornou-se uma República

em 1889. Assim, com a mudança da forma de governo chegaram também

novas concepções e ideias de organização do sistema escolar.

No segundo capítulo Educação Brasileira: do Manifesto dos Pioneiros ao

Manifesto Mais uma Vez, teremos um bate-papo sobre a influência da Escola

Nova na elaboração da Constituição de 1934, no que diz respeito aos aspectos

educacionais do país, através do Manifesto dos Pioneiros. Além disso,

analisaremos também, o Manifesto de 1959, em defesa da escola pública. Por

fim conversaremos sobre o Golpe de 1964 e suas implicações na formação

organizacional e filosófica do sistema educacional do país.

No terceiro capítulo, teremos como tema a Identidade Profissional e o

Projeto Político-Pedagógico e relacionaremos a nossa formação com a

construção de diretrizes para o bom andamento da escola, ou seja, que os

objetivos sejam realmente alcançados.

No quarto capítulo discutiremos os Principais Aspectos do Direito e da

Gestão das Políticas para a Educação Pública.

Assim, mãos a obra e bom trabalho para você!

Waldereze Maria Santos Nascimento.

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

1. COMPETÊNCIA 01 l PRINCIPAIS ASPECTOS DA EDUCAÇÃO

BRASILEIRA – DA COLÔNIA À PRIMEIRA REPÚBLICA

Quando os navios portugueses chegaram ao Brasil em 1500 seus tripulantes

encontraram um território hostil e desconhecido, onde seus habitantes

possuíam hábitos e costumes bastante diferentes dos europeus.

Esse é considerado como o primeiro grande momento de mudanças no

processo de formação da História da Educação Brasileira. Pois, apesar de,

tradicionalmente considerarmos o ano de 1500 como marco inicial para

contarmos a História da Educação Brasileira, não podemos esquecer que

antes da chegada dos portugueses os povos nativos desenvolviam sua prática

educacional. Muitas vezes ignorada ou desconsiderada pela História da

Educação, essa maneira própria de educar desprovida de artifícios repressores

em que o indivíduo aprendia a partir das vivências do cotidiano, pela

observação ou ao ouvir as experiências dos membros mais velhos da

comunidade, é sinônimo de resistência após mais de quinhentos anos de

dominação.

1.1 Os Jesuítas

Com a instituição do Governo Geral, em 1549, chegaram os primeiros

jesuítas1. Liderados por Manoel da Nóbrega, os “soldados de Cristo” tinham a

missão de catequizar e instruir os indígenas para a fé católica.

A partir de então, a ordem religiosa tornou-se a responsável por organizar o

sistema educacional da Colônia, assim como, seus padres representavam os

únicos professores oficiais do Governo Português. Assim, por mais de 200

anos os jesuítas dedicaram-se à conversão e catequização dos índios, à

catequese e ensino das primeiras letras aos filhos dos homens brancos, à

cuidar e zelar pelos antigos fieis recém chegados na colônia.

1. Os Jesuítas são os membros da ordem religiosa denominada de Companhia de

Jesus, constituída em 1534 por Inácio

de Loyola.

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Competência 01

Os padres jesuítas eram missionários religiosos, por isso, apesar de possuírem

responsabilidades diversas na Colônia, inicialmente, o principal objetivo da

ordem religiosa era a conquista de fiéis para a Igreja Católica, por isso, a

conversão e a catequese dos índios era a atividade em que os religiosos

depositavam maiores esforços.

Figura 1 Fonte: http://apenas-nana.blogspot.com.br/2012/10/educacao-brasileira-no-sec-xx.html

Os jesuítas consideravam os índios como homens bons, porém pervertidos em

seus maus hábitos, cujos piores pecados por eles praticados eram o

canibalismo, a nudez e a poligamia. Além disso, os indígenas, ou seja, os

gentios, não possuíam religião, nem deuses por isso a conversão desses povos

significava um reinício a partir do nada, ou seja, para os jesuítas ao

encontrarem o Cristianismo os índios estavam criando seus primeiros

referenciais espirituais, pois até então não possuíam fé ou religião. Eram

considerados um “papel em branco”, pois aceitavam sem resistência o

ensinamento europeu cristão. A estratégia utilizada no processo de

evangelização era o contato e convencimento, mímicas, discursos, presentes;

além de alianças com lideranças indígenas e tradutores denominados de

“línguas”. ( HILSDORF).

Os indígenas por sua vez reagem com a aceitação disfarçada, ou seja,

simulavam a conversão como uma forma de resistir ao domínio da nova

cultura e adquirir “vantagens”, com a condição de gentio convertido, na

sociedade colonial.

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Competência 01

Ao perceberem o quanto se tornaram comuns essas práticas entre os nativos,

os jesuítas mudaram o conceito que tinham dos indígenas. Saíram da

condição de “homem bom” para “fera brava”, “boca infernal” e “malicioso”.

Assim, foi necessário também a mudança de estratégia para convertê-los, por

isso, foram criadas por volta de 1552 e 1553 os aldeamentos adultos e os

recolhimentos de crianças, inicialmente na Bahia e em São Vicente,

institucionalizando-se, dessa forma, as missões, por iniciativa de Nóbrega e

com o apoio da Coroa.

Dessa forma, construíam uma igreja próxima das aldeias e de tempos em

tempos um sacerdote visitava a comunidade. Estes eram os aldeamentos2 ou

reduções jesuíticas.

Nos recolhimentos de crianças, também chamados de “casas de meninos” o

objetivo era formar fiéis mais fervorosos, já que os jesuítas perceberam que

os indígenas adultos se convertiam mas não perseveravam na fé. Assim, a

catequização de crianças seria uma solução, pois elas permaneceriam ainda

mais tempo na fé católica. O plano de ensino das “casas de meninos” era que

paralelamente à catequese fossem ensinadas as primeiras letras, que serviria

ao mesmo tempo como instrumento de evangelização dos curumins, porém,

essa alfabetização só era interessante até quando eram atingidos os objetivos

da catequese.

Figura 2 - São Miguel das Missões, Rio Grande do Sul Fonte: http://www.historiabrasileira.com/brasil-colonia/missoes-jesuiticas-no-brasil/

2. Aldeamentos ou

Recolhimentos eram locais onde os

jesuítas arregimentavam

índios para serem catequisados.

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Competência 01

As reduções e recolhimentos representaram um grande sucesso evangelístico,

pois representavam a aceitação dos hábitos de trabalho pelos nativos, assim

como sua sedentarização. Porém os aldeamentos se transformaram em alvos

fáceis para aqueles que buscavam mão de obra para escravizar. Lá era o local

mais fácil de se conseguir, os colonos não entravam mato a dentro em busca

do índio, eles estavam todos em um só lugar, por isso aldeias inteiras se

desfizeram por conta das fugas em massa para o interior por conta da ameaça

de escravização executada pelos colonos.

Para escapar dos jesuítas e dos colonos, tribos inteiras fugiram para o interior, despovoando recolhimentos e aldeamentos e interrompendo o trabalho catequético. Para os índios o resultado permanente das práticas de homogeneização da Aldeia foi a perda de uma identidade cultural e o desaparecimento ou a marginalização (...).

A catequese, do ponto de vista religioso, interessava à Companhia como fonte de novos adeptos do catolicismo, bastante abalado com o movimento da Reforma. Do ponto de vista econômico, interessava tanto a ela como ao colonizador, à medida que tornava o índio mais dócil e, portanto, mais fácil de ser aproveitado como mão de obra. (Ribeiro, pag. 25)

Em seus trabalhos de catequização os missionários faziam uso de técnicas

diversas, desde a utilização do canto a encenações teatrais, todos executados

em idioma Tupi. A utilização do Tupi nas Missões foi possível devido a

organização da Gramática Tupi pelo padre jesuíta José de Anchieta com o

título “Arte gramática da língua mais usada na costa do Brasil”. Essa gramática

foi utilizada pelos padres jesuítas como manual de preparo dos missionários

para seus trabalhos de catequese.

Ao mesmo tempo em que realizavam sua obra missionária de evangelização,

os jesuítas se dedicavam também ao ensino formal e fundaram vários colégios

nesse período: Colégio da Bahia (1556), Colégio do Rio de Janeiro (1567),

Colégio de Pernambuco, em Olinda (1576), e nos anos seguintes até 1779,

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Competência 01

quando ocorreu a expulsão da Companhia, fundaram mais seis colégios e 4

seminários.

Os colégios foram instituídos nas áreas mais urbanizadas da colônia e

recebiam os filhos da elite colonial, não aceitando mestiços, mamelucos e

índios, pois justificavam essa postura argumentando que os colégios eram

destinados a formação de padres para a Companhia.

O plano de ensino dos colégios seguia o Ratio Studiorum, documento

publicado em 1599 que regulamentava o ensino promovido pela Companhia.

Assim: “Um colégio jesuíta modelar abrangia aulas de gramática latina,

humanidades, retórica e filosofia, em uma gradação de estudos que se

cumpria integralmente, depois de oito ou nove anos de frequência, levaria à

formação do letrado.” (Maria Lucia Spedo Hilsdorf, pag. 09), além da leitura

de clássicos de autoria de: Cícero, César, Ovídio, entre outros. No entanto,

dependendo do quantitativo de alunos ou do número de professores esse

currículo podia ser flexibilizado, além disso, os alunos iniciantes, em sua

maioria, não dominavam o português, já que o idioma predominante era o

tupi, por isso ao iniciarem os estudos nos colégios jesuítas era necessário o

ensino das primeiras letras e das operações matemáticas. E ao concluírem

seus estudos, esses deveriam ser feitos no exterior, na Universidade de

Coimbra. Em suas práticas de ensino nos colégios, os jesuítas eram bem mais

rígidos que com os indígenas: “para aculturar seus alunos brancos, os jesuítas

usavam as formas da tradição, da repetição, da disciplina rigorosa com

castigos físicos, da reclusão, da repressão e da exclusão.” (Hilsdorf, pag 9)

A elite era preparada para o trabalho intelectual seguindo o modelo religioso (Católico), mesmo que muitos de seus membros não chegassem a ser sacerdotes. Isto porque, diante do apoio real oferecido, a Companhia de Jesus se tornou a ordem dominante no campo educacional. Isto, por sua vez, fez com que os seus colégios fossem procurados por muitos que não tinham realmente vocação religiosa mas que

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Competência 01

reconheciam que esta era a única via de preparo intelectual.” (Ribeiro, pag. 25).

Temos assim, um ensino de orientação universalista que tomava como base a

língua latina, privilegiando o trabalho intelectual em detrimento do manual, e

que fazia do exterior a referência de sociedade ideal. Ou seja, a educação

formal exercida na colônia neste período além de excluir a maioria da

população desse processo, ainda contribuía para a manutenção desse modelo

excludente de dominação.

1.2 As Reformas Pombalinas e seus Efeitos para a Educação Colonial

Sabemos que o século XVIII é considerado o Século das Luzes, isso porque

neste período vários pensadores burgueses passaram a questionar a

sociedade do Antigo Regime que tinha como característica o tradicionalismo

católico, a organização feudal, o mercantilismo e o absolutismo Monárquico

da Europa. Este movimento intelectual que tinha como ponto irradiador a

França, ficou conhecido como Iluminismo ou Ideias Ilustradas, que fortemente

influenciaram a Europa durante o este período.

Sendo influenciados pelos intelectuais iluministas, alguns monarcas

absolutistas adotaram partes desses princípios em suas administrações, e

uniram o Estado Absolutista à cultura das Luzes, “no qual o Príncipe é servidor

do Estado ordenado e burocratizado pela razão ilustrada para garantir a

felicidade e o bem-estar dos súditos”(Hildsford, pág. 16). Esse fenômeno pode

ser denominado de “Despotismo Esclarecido” ou “Absolutismo Ilustrado”, e

esses monarcas são os “déspotas esclarecidos” ou “Monarcas ilustrados”.

Para conhecer mais

sobre a Administração do

Marquês de Pombal acesse

http://www.youtube.com/watch?v=vGf

2bxkNVho

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Competência 01

Figura 03 – Marquês de Pombal Fonte:http://hepaticas.wordpress.com/2012/05/31/278-o-marques-de-pombal-e-o-portugues/

Assim, apesar do caráter revolucionário iluminista, os monarcas ilustrados

limitaram-se a implementação de uma série de reformas que fortaleceram o

centralismo, a burocracia e a subordinação da Igreja ao Estado. Ou seja, o

Absolutismo Ilustrado conseguiu afastar a ameaça das revoluções burguesas

e, ao mesmo tempo, fortalecer ainda mais o regime absolutista em seus

impérios.

Em Portugal o representante do Absolutismo Ilustrado foi o Marquês de

Pombal que assumiu em 1759 o cargo de primeiro ministro do governo

português. Admirador das ideias iluministas do século XVIII ele implementou

várias reformas políticas, econômicas e também educacionais em Portugal e

em todo império ultramarino com o objetivo de retirar o reino de sua

condição de isolamento cultural e atraso econômico.

Isso porque no século XVIII Portugal enfrentava uma grave crise econômica,

que se agravara desde a dominação de Portugal pelos espanhóis (a

denominada União Ibérica de 1580 a 1640), além da ascensão de uma nova

potência econômica, a Inglaterra, que como pioneira da industrialização,

conseguiu invadir Portugal com seus produtos manufaturados através do

Tratado de Methuen assinado entre as duas nações em 1703. Esses e outros

fatores contribuíram para que o governo português desenvolvesse ações

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Competência 01

capazes de conter a crise e alavancar o reino à situação de potência

econômica. Assim:

Diante desta realidade, era necessário tirar o maior proveito possível da colônia, era necessária uma mais intensa fiscalização das atividades aqui desenvolvidas. Para tanto, o aparato material e humano deveria ser aumentado e, ainda mais, deveria ser discriminado o nascido na colônia do nascido na metrópole, quando da distribuição dos cargos: as posições superiores deveriam ser ocupadas apenas pelos metropolitanos. (Ribeiro, pág. 31).

Além disso, na área do conhecimento o reino encontrava-se em nítida

desvantagem com relação aos demais países europeus, haja vista que em

pleno século XVIII, Portugal possuía apenas uma Universidade, a de Coimbra,

e não conhecia os princípios básicos da Filosofia Natural.

Apesar das reformas possuírem um perfil transformador para a sociedade

portuguesa elas se mostravam predominantemente mercantilista, porém

marcadas pelo cientificismo pragmático, fortalecendo, assim, o poder

absolutista através da implementação das reformas.

No campo educacional, Pombal foi fortemente influenciado pelos

“estrangeirados”, esses eram defensores das novas ideias que conheceram

em outras nações europeias, acreditavam na necessidade de mudanças,

combatiam o provincianismo cultural e político do pensamento jesuítico.

Também contribuíram para as mudanças no campo científico com as obras:

“Apontamentos para a educação de hum menino nobre” (1734), de Martinho

de Mendonça Pina e Proença (1693-1743), o “Verdadeiro Método de Estudar”

(1746), de Luís António Verney (1713-1792) e as “Cartas sobre a Educação da

Mocidade” (1760), de António Nunes Ribeiro Sanches (1699-1782).

Assim, entre as principais reformas destacamos: o decreto impedindo os

jesuítas de exercerem o ensino; a transferência da responsabilidade do ensino

para o Estado; a instituição de aulas de Gramática latina, hebraica e de

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

Retórica; a criação de uma Aula de Comércio em Lisboa (1755); a fundação do

Colégio Real dos Nobres de Lisboa (1761); a Reforma da Universidade de

Coimbra (1772); a Reforma dos Estudos Menores (1772), que reestruturou as

classes de estudos de humanidades, de filosofia, de retórica e de línguas latina

e grega, estabelecendo oficialmente escolas de ler e escrever e instituindo a

cobrança do Subsídio Literário, imposto especial para as Escolas Menores.

Além da fundação de várias instituições voltadas para o estudo científico, tais

como: o Jardim Botânico de Portugal, o Observatório Real Astronômico da

Marinha; a Academia Real da Marinha; a Academia dos Guarda-Marinhas; o

Gabinete de Física Experimental e de História Natural e algumas Sociedades

Científicas.

As reformas educacionais pombalinas tinham o objetivo de renovar as letras e

estimular a produção de conhecimentos científicos através da observação e

da experimentação. E dessa forma construir uma nova elite cultural que

através do conhecimento racional, científico e pragmático, fosse capaz de pôr

em prática as reformas até então instituídas.

Apesar da forte influência iluminista essas reformas apenas fortaleceram a

monarquia e o modelo colonial, colocando a religião como mola propulsora

desse modelo. Por isso, o controle dos escritos, por exemplo, continuou sob

forte vigilância do governo central de forma a impedir o acesso de qualquer

documento que questionasse a Monarquia, a Igreja e o modelo colonial.

No Brasil, o impacto das reformas de ensino se limitaram aos estudos

menores, ou seja, aos ensinos elementares e secundários, já que os filhos das

famílias ricas deveriam completar seus estudos em Portugal, onde eram

influenciados pelos ideais anti-monarquistas e anti-clericais.

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Competência 01

Figura 04 – Jesuítas Fonte: http://www.multirio.rj.gov.br/historia/modulo01/tema95.html

Nesse contexto temos a Companhia de Jesus que representava uma ordem de

grande poder econômico e com um planejamento educacional voltado para o

favorecimento da própria ordem, já que os indivíduos eram formados para

servirem a própria Companhia. Dessa forma, havia um desejo entre os

intelectuais portugueses de retirar o poder dos jesuítas, tanto econômico,

como de educadores para que os indivíduos formados servissem à nação.

Para isso “a orientação adotada foi a de formar o perfeito nobre, agora

negociante; simplificar e abreviar estudos fazendo com que um maior

número se interessasse pelos cursos superiores; propiciar o aprimoramento

da língua portuguesa; diversificar o conteúdo, incluindo o de natureza

científica; torná-los os mais práticos possíveis”. (Ribeiro, pág. 34).

Em 1759, um Alvará do dia 28 de junho fechou as escolas administradas pelos

jesuítas e criou um novo sistema educacional que visava lançar Portugal a

uma condição de nação desenvolvida. Assim, o sistema educacional passou

para a responsabilidade do Estado com a expulsão dos jesuítas e o

oferecimento de aulas régias (avulsas) de Primeiras Letras, Gramática,

Retórica e Filosofia.

Em 1772 também foi estabelecida a Reforma da Universidade de Coimbra, a

criação das novas Escolas Menores, cujo sustento seria através do Subsídio

Literário, um imposto criado e instituído no mesmo alvará que criou as tais

escolas.

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

Com a criação das aulas régias de Latim foi instituído que também fosse

ensinada a Língua Portuguesa ao mesmo tempo em que se estudava o Latim.

Dessa forma, foi proibida a utilização do Tupi nas aulas executadas na Colônia,

assim como a utilização dos manuais jesuíticos como recurso didático. Dessa

forma, houve também uma mudança na bibliografia básica no ensino

secundário, passando-se a utilizar Gramática Portuguesa, de A. J. Reis Lobato

(1772), A Arte Latina, de A. Félix Mendes (1737), a Arte Latina, do oratoriano

Antonio Pereira de Figueredo (1752), entre outras obras que continham

textos selecionados retirados de obras clássicas latinas e gregas, acabando

com a prática jesuítica de leitura dos clássicos originais.

As aulas de Filosofia deixaram de ter a moral prática como mote principal para

assumir o método científico-indutivo da filosofia natural, a Física passou a ser

analisada nos currículos da reforma do ensino pombalino.

No caso das aulas elementares, ensinava-se ortografia da língua portuguesa,

doutrina cristã, história da pátria e aritmética destinada a moedas, dinheiro,

medidas, frações, e ainda normas de comportamento social.

A reforma pombalina no ensino na Colônia iniciou com a disponibilidade

inicial de 44 aulas avulsas e essas seriam expandidas a partir da ampliação na

arrecadação do Subsídio Literário. Assim:

A expansão da rede seria financiada pelo Subsídio Literário, imposto criado por Lei de 10/11/1772, no Brasil cobrava-se 1 real3 em cada arrátel de carne verde cortada nos açougues e 10 réis em cada canada de pinga destilada nos engenhos. Para que o dinheiro fosse aplicado segundo o previsto, Pombal criou um fundo específico para o Subsídio Literário, evitando que os recursos “desaparecessem” nas contas do Erário Régio. (Hilsdember, pag. 22).

Incialmente as reformas pombalinas no ensino enfrentaram grandes

problemas em sua execução, primeiro pela falta de dinheiro, segundo por

3. Real: moeda

corrente colonial e do império, cujo

significado advém de ‘realeza’, e seu

plural era ‘réis’.

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Competência 01

conta da falta de professores com formação não jesuítica, na metrópole e

ainda mais na colônia.

Como Pombal pretendia transformar Portugal em uma nação capitalista e

moderna, o Brasil como sua colônia, deveria adaptar-se às novas condições de

sua metrópole, e sua elite deveria preparar-se de maneira mais eficiente para

que conseguisse articular e executar as atividades que correspondiam aos

interesses da classe dominante metropolitana.

Mas de maneira geral houve vários empecilhos para que as reformas

pombalinas fossem implementadas de forma efetiva na colônia, e vários

foram os fatores que para isso contribuíram, entre eles podemos citar o

isolamento geográfico ocasionado pela a falta de estradas, os meios de

transporte e de comunicação problemáticos, povoamento disperso.

Acrescente-se a isso o fato de que muitos da elite colonial não se

interessavam em frequentar as aulas régias, já que para assumir cargos na

administração pesava muito mais a condição de nascimento e o poder

econômico, que a formação intelectual.

Como a principal atividade econômica colonial era a produção agrícola de

subsistência, e essa representava a colaboração do maior número possível de

membros da família, muitos jovens não se interessavam pela cultura das

letras, e optavam por se dedicar às atividades agrícolas que mantinham o

grupo familiar. Quando não, e sobreviviam às doenças endêmicas, já que o

índice de mortalidade juvenil era altíssimo, ingressavam em milícias. Além da

sociedade colonial escravocrata que não criava demanda para o interesse

pelo ensino.

Outro aspecto que deve ser citado foi a utilização do Subsídio Literário em

áreas que os governantes consideravam mais importantes que a educação.

De uma forma geral, percebemos que as reformas pombalinas, apesar de

promoverem uma mudança nos aspectos metodológicos, dos conteúdos e da

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

organização, porém não foi suficiente para banir vários dos aspectos do

ensino jesuíta tais como: as práticas de memorização, disputas orais e a

utilização de autores latinos do cânone jesuítico, ao invés da observação ou a

experiência pregados pelo programa educacional de Pombal.

Além disso, no que diz respeito às ideias iluministas essas foram reprimidas

pelo novo sistema educacional pombalino, porém essas conseguiram

penetrar, tanto na metrópole, através dos “estrangeirados”, como na colônia,

através dos jovens que se dirigiam para a Europa para complementar os

estudos e voltavam com livros, panfletos e ideias, consideradas “impróprias”

pelo governo metropolitano. Nesse contexto de disseminação do pensamento

ilustrado existiam também as denominadas sociedades coloniais letradas, que

podem ser divididas em lojas maçônicas e academias literárias. As primeiras

tinham um caráter de sociedade iniciática e secreta com forte relação com o

movimento iluminista, e propagou de maneira clandestina a ideologia e a

literatura iluminista na colônia. As academias literárias, por sua vez, com um

perfil conservador, mas que pareciam ser espaços em que eram, pelo menos,

apresentadas a ilustração pombalina e a clandestina (revolucionária).

Apesar das dificuldades enfrentadas pelos reformistas, gradativamente, foram

implantadas aulas avulsas segundo o padrão pombalino em Salvador, São

Paulo e em Pernambuco, que além das aulas régias, conseguiu fundar em

1800 um Seminário em Olinda.

O responsável pela inauguração do Seminário de Olinda foi o Arcebispo e

também governador da capitania, Azeredo Coutinho. Utilizando-se de

princípios ilustrados o Seminário conseguiu formar vários sacerdotes com

atuação marcante na sociedade da capitania, sendo eles grandes personagens

das revoluções que marcaram Pernambuco no Século XIX, como a Revolução

de 1817, e a Confederação do Equador em 1824. Maria Lúcia Spedo

Hilsdeford ilustra por que o Seminário se mostrava tão progressista para

época:

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Competência 01

pelos seus objetivos, de formação de padres que atuassem como agentes da metrópole para a modernização econômica da colônia, pois seriam preparados segundo os princípios do conhecimento científico moderno, ilustrado. Além de ‘pastores de almas’, os alunos seriam futuros - padres exploradores - conhecedores das riquezas minerais, vegetais, hídricas, e realizariam estudos para o seu aproveitamento pela Coroa Portuguesa; Pelo seu plano de estudos, que deveria incorporar às literaturas e línguas clássicas, as línguas modernas, a gramática portuguesa, as modernas ciências naturais e exatas, desenho, geografia, cronologia e teologia; Pela sua metodologia, que se baseava em relações novas entre mestres e discípulos, mais brandas, sem castigos físicos e com apelo à personalidade do aluno indicando que a sensibilidade não era cultivada apenas pelos leitores de Rousseau, mas atraía também os adeptos da ilustração oficial. (Hilsderford, pág. 34).

Cabe esclarecer que o Seminário de Olinda afastou-se dos princípios jesuítas,

porém conseguiu ir além das reformas pombalinas, sendo um centro

formador de ideias ilustradas que progrediram para o sentimento rebelde.

1.3 A Política Educacional de D. João

Em 1808, a Família Real Portuguesa chega ao Brasil com toda a sua corte,

fugindo das tropas francesas, que através do Bloqueio Continental imposto

por Napoleão Bonaparte ameaçava todas as nações europeias a terem seus

territórios invadidos pelos franceses, caso comercializassem com a Inglaterra.

Como Portugal possuía acordos econômicos e diplomáticos seculares com os

ingleses, a fuga para o Brasil tornou-se uma solução viável.

Assim, que a Corte chegou ao Brasil, o príncipe regente, D. João, decretou a

“Abertura dos Portos às Nações Amigas”, isso significava o fim do Pacto

Colonial, ou seja, o Brasil agora estava liberado para comercializar com as

nações amigas do reino português, ou seja, com a Inglaterra.

Para entender

Para entender

melhor a fuga da

Família Real

Portuguesa Acesse

o link

http://www.youtu

be.com/watch?v=Z

Yc_5Avj2Vs

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

Figura 05 - Chegada de D. João VI a Salvador/Óleo sobre tela Cândido

Portinari/1952/Coleção Banco BBM S/A

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil

A vinda da família real provocou várias mudanças econômicas, mas não fiscais

ou militares, de acordo com Maria Odila Leite da Silva Dias, percebe-se uma

interiorização da metrópole, que sai da Europa, e fixa-se no interior da própria

colônia, agora no Rio de Janeiro.

Tendo o Rio de Janeiro como sede do reino foi necessário agora criar uma

série de instituições capazes de responder à burocracia estatal. Assim:

Em 13/05/1808 foi criada a Imprensa Régia;

Em 12/10/1808 foi criado o Banco do Brasil;

Em 1810 foi criada a Biblioteca Pública e o Jardim Botânico;

1818 o Museu Nacional;

Para atender às necessidades dessas instituições, entre outras, D. João

também proporcionou a formação de pessoal capacitado para tais funções,

por isso foram criadas:

A Academia Real de Marinha (1810), visando à defesa militar do reino;

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Competência 01

Cursos de cirurgia, na Bahia, e de anatomia no Rio de Janeiro, em 1808,

e no ano seguinte, também no Rio a formação de médicos e cirurgiões

para o Exército e a Marinha.

Foram também criadas escolas de serralheiros, oficiais de lima e

espingardeiros em 1812, em Minas Gerais;

Na Bahia foram criados os cursos de agricultura (1812), química (1817)

e de desenho (1817), considerados os primeiros cursos universitários de

nível superior instituídos no Brasil;

No Rio também foi fundado o laboratório de química (1812) e o curso

de agricultura (1814).

Percebe-se, desta forma, que as interferências da política educacional de D.

João se mostram pontuais, com uma organização isolada e instrumentalista,

isso por que havia uma necessidade imediata de profissionais capazes de

fazer funcionar a complexa burocracia do Reino.

Além disso, não houve reformulações nos estudos elementares e secundários

e alguns desses cursos considerados “superiores”, como o de biologia ou de

economia, ficaram restritos mais a análise literária do que científica, sem

qualquer interligação universitária e com o intuito de formação apenas

profissionalizante.

No entanto, não se pode deixar de considerar a importância desses centros de

ensino para suas localidades formando não só profissionais como também

idealizadores de uma nova sociedade brasileira.

1.4 A Educação no Brasil após a Emancipação Política

Enquanto a Família Real Portuguesa continuava no Brasil, Portugal estava sob

a administração inglesa, pois foram eles que expulsaram os franceses, em

1809. Essa condição de Portugal provocou a organização de um movimento

que pretendia a organização de um regime liberal e o fortalecimento político

das cortes. Com receio de perder o controle político de Portugal, D. João

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

decide voltar para Europa em 1821, contribuindo assim para a independência

da colônia, em 1822.

Esse episódio seria executado por seu próprio filho, o príncipe regente D.

Pedro, isso porque as cortes além de exigirem a volta do rei para Portugal

ainda exigiam que fosse retirado o Brasil da condição de Reino Unido a

Portugal e Algarves, e consequentemente, seria realizado o fechamento dos

Portos. Essa situação ia de encontro aos interesses ingleses na colônia e ainda

desagradava a própria elite colonial, por isso aliado a senhores de terras e

escravos, além de intelectuais liberais moderados e conservadores, D. Pedro

realizou a independência do Brasil em 7 de setembro de 1822. Ou seja, esse

fato histórico restringiu-se ao âmbito político, pois se manteve a estrutura

econômica e social, não atendendo às expectativas das camadas sociais

populares, formada por escravos, pequenos comerciantes pobres,

trabalhadores rurais, pequenos proprietários de terra, entre outros, que

constituíam a maioria da população.

Figura 06 - Independência do Brasil: óleo sobre tela.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Independ%C3%AAncia_do_Brasil

De acordo com Emília Viotti da Costa:

Leia o artigo O

IMPÉRIO E AS

PRIMEIRAS

TENTATIVAS DE

ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL

(1822-1889) no link: http://www.histedbr.fae.unicamp.br/navegando/periodo_im

perial_intro.html

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Competência 01

A emancipação política realizada pelas categorias dominantes interessadas em assegurar a preservação da ordem estabelecida, cujo único objetivo era romper o sistema colonial no que ele significava de restrição à liberdade de comércio e à autonomia administrativa, não ultrapassaria seus próprios limites. A ordem econômica seria preservada, a escravidão, mantida. A nação independente continuaria subordinada à economia colonial, passando do domínio português à tutela britânica. A fachada liberal construída pela elite europeizada ocultava a miséria e escravidão da maioria dos habitantes do país. Conquistar a emancipação definitiva da nação, ampliar o significado dos princípios constitucionais seria tarefa relegada aos pósteros. (COSTA, 125, In. MOTA).

Com este formato de instituição do estado brasileiro não é de se esperar a

implantação de um sistema educacional que alcançasse as camadas sociais

menos favorecidas.

Em 1823, foi instaurada a Assembleia Constituinte, que propôs para a

organização do sistema escola uma lei própria sobre instrução. Porém, a

Assembleia foi fechada por D. Pedro, que em 1824 outorgou a primeira

Constituição do país nela foi declarado que: “A instrução primária é gratuita

para todos os cidadãos”.

Por isso, nos anos seguintes desencadearam-se na Assembleia Legislativa

vários debates sobre educação, e em 15 de outubro de 1827, foi promulgada

a primeira e única lei destinada aos estudos elementares até 1946. Em seu

texto fica estabelecido que “em todas as cidades, vilas e lugares populosos

haverá escolas de primeiras letras que forem necessárias”. Além disso, as

escolas deveriam ser de ensino mútuo; Suas principais características eram:

Descrições dos locais onde deveriam existir escolas e de como elas

deveriam ser;

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

Fundamentação de princípios da contratação de professores através de

concursos;

Definição dos salários dos mestres sem distinção de gênero: os

responsáveis pelos salários dos professores seriam as províncias;

Organização dos princípios básicos do currículo: as disciplinas estudadas

deveriam ser de preferência moral cristã, doutrina da religião católica e

apostólica romana, e para as aulas de leitura deveriam ser utilizados temas

relacionados à Constituição do Império e História do Brasil;

Concepções sobre o ensino de escrita, leitura e aritmética;

Instituição do método pedagógico Mútuo e do Lancasteriano4;

Apoio do estado para a execução de castigos.

Mas devido aos diversos problemas enfrentados pelo império brasileiro tais

como a balança comercial desfavorável, a concorrência com os produtos

importados ingleses, um consumo intenso acompanhado de uma produção

industrial quase que inexistente, um aparelho estatal burocrático clientelista,

provocava insatisfação de vários setores sociais. Assim, foram tomadas

medidas paliativas e impopulares, como a taxação dos produtos importados,

empréstimos estrangeiros a juros quase que impagáveis, que colocaram a

economia brasileira na condição de dependente do capital externo,

transformando a educação escolarizada em um setor não prioritário no

processo de construção de um estado nacional.

Várias eram as dificuldades da educação brasileira na segunda metade do

século XIX: poucas escolas das chamadas “primeiras letras”, poucos

profissionais preparados para o magistério. A carreira não interessava aos

4. Método

Lancaster, criado de forma simultânea,

porém separadamente

pelos Andrew Bell e Lancaster no final do

século XVIII. Suas principais

características eram a disciplina e a

formação do homem militar e socialmente

obediente.

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Competência 01

jovens, por conta da falta de amparo profissional, entre outros. De acordo

com Ribeiro:

“Tais níveis de instrução sofrem, desta maneira, as consequências da

instabilidade política, da insuficiência de recursos, bem como do regionalismo

que imperava nas províncias, hoje Estados.” (RIBEIRO, pág. 47).

Contudo, em 1831, o Ministro do Império Lino Coutinho justifica os maus

resultados, apesar de reconhecer a culpa do poder público para fornecimento

de recursos materiais, como os edifícios públicos e livros didáticos, previstos

pela lei, os baixos salários dos professores e o método inadequado para as

condições articulares do país, apontou como uma consequência da

ineficiência da administração e fiscalização municipal, assim como, o desleixo

dos professores e a “vadiagem” dos alunos, os maus resultados advindos da

implantação da Lei.

Em 1834 o Ato adicional5 repassou para as províncias o direito de criar

estabelecimento de ensino, e regulamentar e promover a educação primária

e secundária. Com a criação das Assembleias Legislativa e lhes deu poder de,

dentre outros, criar leis sobre a instrução pública local. Assim, o governo

central passou a ser responsável apenas pelo ensino superior.

Dessa forma, em 1835, são criadas as primeiras escolas normais para a

formação de professores, com cursos de no máximo dois anos que possuíam

nível secundário.

Percebe-se também um aumento significativo de aulas avulsas e particulares

para a formação secundarista de meninos, cujos conteúdos consistiam em:

latim, retórica, filosofia, geometria, francês e comércio. Mas como não

atendiam às exigências dos exames preparatórios, e devido aos problemas

que os professores enfrentavam para receber esses alunos em suas casas,

esse tipo de aula foi, aos poucos, sendo menos utilizado.

5. Ato Adicional foi o

conjunto de mudanças que transformaram

alguns princípios da Constituição de

1824.

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

Visando atender essa demanda, são criados, em 1825, os Liceus provinciais,

que reuniam em um mesmo espaço as aulas antes avulsas. Tivemos desta

forma:

1825, Ateneu do Rio Grande do Norte;

1836, os Liceus da Bahia e da Paraíba;

1837, o Colégio Pedro II na Corte.

Este último “estava destinado a servir de padrão de ensino: adotaria e

manteria bons métodos, resistiria a inovações que não tivessem demonstrado

bons resultados e combateria os espertos e charlatões.” (RIBEIRO, pag. 48).

As aulas avulsas não desapareceram por completo, e, tornaram-se mais

comuns para atender a clientela que não tinha condições financeiras para

cursar um curso superior, mas queriam ter algum conhecimento, ou adquirir

esses conhecimentos e mais tarde, caso fosse possível, pudessem cursar um

colégio ou faculdade.

Temos assim, um processo de subvenção do ensino secundário nas mãos de

particulares, ou seja, uma desestruturação do ensino devido aos escassos

investimentos, tanto do governo provinciano quanto do governo central, e

pela falta de uma política educacional.

No que diz respeito ao ensino superior são criados:

Um curso jurídico provisório, em 1825 na Corte;

Para o ensino médico foram apresentados vários projetos;

A Academia de Belas Artes foi inaugurada em 1831;

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Competência 01

Observatório astronômico foi fundado em 1827.

Percebe-se que este era o nível de ensino que mais interessava ao governo

central, visto que era necessário formar os dirigentes político-burocráticos da

máquina administrativa do Estado. Apesar do interesse político voltado para

os cursos superiores existiam problemas crônicos, como: alunos mal

preparados, professores que buscavam fontes financeiras alternativas de

modo a completar o orçamento doméstico, o que provocava faltas e atrasos

frequentes dos mestres. Além desses entraves, os cursos continuavam

desconectados, profissionalizantes e tendo como referência a literatura do

Velho Continente.

De uma forma geral era nítido que o ensino no Brasil imperial era elitista, e as

classes dominantes não demonstravam qualquer interesse em ampliar essa

educação às classes populares. Como consequência, o número crescente de

analfabetos era uma vergonha para o único império das Américas.

A partir de 1850, o país passa por mais transformações políticas e econômicas.

O café aparece como principal produto de exportação produzindo grandes

lucros para seus produtores e, consequentemente, à economia do império,

além de várias mudanças nas relações de trabalho e estruturação do Estado.

Atrelado a isso, o país se torna mais urbanizado e detentor de uma elite

intelectual dinâmica e questionadora.

Nesse contexto as ideias positivistas e liberais estimulam os pensadores da

época a discutirem sobre o fim dos privilégios da aristocracia latifundiária,

laicização do Estado, casamento civil, instrução feminina, entre outros

debates considerados extravagantes para época.

Esses debates também se estendiam às questões educacionais e estimularam

o governo imperial a instaurar a reforma de Leôncio de Carvalho, em 19 de

abril de 1879, que apesar de possuir vários pontos modificadores do status

quo educacional necessitava da aprovação de vários pontos pelo Legislativo,

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

fato que nunca chegou a ocorrer, tendo como consequência direta apenas a

liberdade de credo nas escolas e a abertura de colégios de tendência

positivista.

Mas somente em 1885 com o Plano Geral de Reforma conseguimos perceber

alguma transformação no sistema de ensino do império. Através deste plano:

Divisão das Províncias em distritos escolares de tal forma a facilitar a

fiscalização do ensino;

Criação de um Conselho Diretor e de um Conselho de Instrução nos

Municípios;

Determinação para que os alunos não católicos pudessem frequentar as

escolas públicas;

Ao final do século XIX, houve também a criação de escolas destinadas ao

público feminino, que até então era uma maioria de analfabetas educadas

apenas para serem boas mães de família. Por isso, quando recebiam alguma

escolarização, estas limitavam-se às primeiras letras, prendas domésticas e

boas maneiras. Com a instituição dos colégios femininos, este ensino

estendeu-se a formação secundária, mas não destinada ao ensino superior,

por isso seu currículo era composto por línguas modernas, ciências e cadeiras

pedagógicas.

Foram criadas também uma instituição educacional protestante

estadudinense, a Escola Americana, 1870, e uma positivista Escola

Neutralidade, 1884.

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Competência 01

A EDUCAÇÃO BRASILEIRA NA REPÚBLICA

Ao final do século XIX o governo imperial não atendia às expectativas da

crescente camada média da população, que interessada pelos diversos

aspectos que correspondiam a vida pública do estado, promovia discussões

que fortaleciam o movimento republicano, crescente desde 1870. Por isso, o

governo imperial procurou ajustar-se, através de várias medidas, e atender

alguns anseios desta camada de modo a se manter no poder.

A partir da década de 1870, o Brasil passa por várias transformações com a

mecanização da produção cafeeira no Oeste paulista, assim como os

engenhos, com a instalação das usinas. Além disso, temos o desenvolvimento

dos meios de transporte, o crescimento populacional, o surgimento de

indústrias e a crise do sistema escravista, que culminou com a abolição da

escravatura em 1888.

Essa camada média formada por intelectuais e militares aliam-se a alguns

setores de produtores cafeeiros, já que, segundo Maria Luiza Ribeiro, as

camadas populares devido a sua condição de marginalização não conseguiram

se tornar uma força política. Além disso, esses também se encontravam

distanciados da camada média urbana no sentido das aspirações e de seus

problemas vividos por conta da exclusão social.

Em 1889, com o apoio dessas camadas médias, os militares proclamaram a

República no Brasil, que se espelhava no modelo norte-americano, ou seja,

modelo representativo, federativo e presidencialista. E, em 1891, foi

elaborada a primeira constituição do período republicano, com características

descentralizadoras, para atender aos senhores de café, pois, por terem altos

rendimentos, não necessitavam dividir seus rendimentos com outras regiões

do país.

No que diz respeito ao ensino, a influência positivista era evidente. “Era a

forma de tentar implantar e difundir tais ideias através da educação

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

escolarizada, já que, politicamente, tal corrente de pensamento sofre declínio

de influência a partir de 1890”. (RIBEIRO, pág. 68). Assim, a escola seria

responsável não só pela formação intelectual, mas também moral e cívica,

como uma maneira de sedimentar o advento republicano.

Desta forma, em 1891, foi decretada a reforma Benjamin Constant, que

seguindo a orientação do texto constitucional prezava pela gratuidade, a

liberdade e a laicidade do ensino.

Como foi mantida a descentralização e o ensino primário permaneceu sob a

responsabilidade dos estados, essa reforma só atendia os ensinos primários e

secundários do Distrito Federal, e o ensino superior, artístico e técnico do

restante do território.

O ensino estava dividido em escola primária, subdividida em duas categorias,

1º grau, para crianças de 7 a 13 anos, e de 2º grau, para crianças de 13 a 15

anos. A escola secundária tinha duração de 7 anos.

Através desta reforma pretendia-se transformar o ensino que deixaria de ser

preparador para o ensino superior, para ser formador. Por isso foi criado o

“exame madureza” que verificava se o estudante possuía o conhecimento

necessário para terminar o curso. Além disso, também se pretendia uma

reformulação do currículo que deixaria de ter um caráter humanista para se

tornar mais científico, por isso foram introduzidas as ciências de acordo com a

ordenação positivista.

Porém, essa reforma obteve várias críticas dos próprios positivistas, que

afirmavam ser ela uma contradição às ideias de Comte, e significou apenas o

acréscimo de disciplinas ao conteúdo curricular.

O ensino primário, nível esse que as classes populares conseguiam alcançar,

continuou limitado ao ensino das primeiras letras sem que houvesse qualquer

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Competência 01

interesse em se transformar tal situação até 1920, quando foram implantadas

algumas reforma estaduais.

No que se refere ao ensino secundário, a União era responsável apenas em

manter o Colégio Pedro II, que servia de referência curricular para os ginásios-

modelos que existiam, um em cada capital, sob a responsabilidade dos

Estados.

Permanecia, dessa forma, o interesse das classes dominantes em privilegiar o

ingresso de seus membros no curso superior, controlando dessa maneira as

escolas secundárias do país. Por isso, diante de tantas reformas da Primeira

República houve uma preocupação com a interdependência entre o ensino

secundário e superior, sendo instaurado inclusive o vestibular como forma de

garantia através de exames finais, frequência e certificação secundária para

ingresso no ensino superior.

A exclusão das classes populares era evidente, visto que além do quantitativo

insuficiente de escolas, ainda eram cobradas taxas, selos, contribuições, que

transformavam as escolas públicas em espaços privados, de difícil acesso para

a camada menos favorecida da sociedade.

Devido às complexidades da sociedade brasileira e aos graves problemas

educacionais, já que a maioria da população, cerca de 75% era analfabeta,

foram implantadas várias reformas no sistema de ensino, entre elas:

Código Epitácio Pessoa (1901): seguia uma corrente mais humanista,

acentuando a concepção literária, incluindo a lógica, e retirando a biologia, a

sociologia e a moral;

Reforma Rivadávia (1911): tenta inserir uma tendência mais positivista

dando um critério prático ao ensino, substituindo o diploma secundário pelo

certificado, fazendo com que fosse de responsabilidade das faculdades a

seleção para inserção ao curso superior;

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Competência 01

Como os resultados foram insatisfatórios, houve ainda as reformas de Carlos

Maximiliano (1915) e de Luis Alves e Rocha Vaz (1925). Assim:

Enquanto uma reforma, com base em determinado modelo, era vista como solução para os problemas apresentados, pelo outro modelo, os problemas reais agravaram-se e, no dia a dia escolar, profissionais e alunos solucionavam como podiam, isto é, improvisadamente e, portanto, também de forma ineficiente. Daí sair desacreditada tanto a teoria importada, e por isso desligada da prática, como a prática sem a teoria, ou melhor, uma prática com base numa teoria fruto do senso comum, onde não havia consciência clara das razões desta forma de agir. (RIBEIRO, pág. 74)

Como se percebe essas reformas não garantiram o acesso nem a qualidade do

ensino às camadas populares do país, desencadeando uma série de

movimentos para que fosse aumentado o número de escolas. Para atender

essas reinvindicações foram criados os “grupos escolares”, em 1907. Esses

consistiam em escolas primárias com um único professor e uma única classe,

que atendia alunos que apresentavam vários níveis de formação.

Com ralação ao ensino secundário, a ampliação se deu no nível do ensino

privado, porém o ensino profissional, que atendia uma pequena, porém

crescente clientela.

Quanto à formação do professor, não foi dada a devida atenção, continuando

a prevalecer o curso Normal e os critérios de seleção dos professores de nível

superior não eram eficientes.

O curso superior não obteve grandes mudanças a não ser a união de cursos

para a fundação da Universidade do Rio de Janeiro, em 1920, através da

reunião dos cursos de Medicina, Escola Politécnica e das Faculdades Livres de

Direito.

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

2. COMPETÊNCIA 02 | EDUCAÇÃO BRASILEIRA: DO MANIFESTO

DOS PIONEIROS AO MANIFESTO MAIS UMA VEZ

2.1 A Educação Brasileira e a “Revolução de 1930”

A política na Primeira República foi marcada pela consolidação do poder dos

estados mais ricos do país: São Paulo e Minas Gerais. Esses, com a ajuda do

Rio de Janeiro, conseguiam se revezar nas esferas do poder da União,

principalmente na Presidência da República, criando assim, aquilo que viria

ser denominado de Política “Café-com-Leite”.

Como o Congresso servia aos interesses da Presidência da República, para

promover a aliança entre a União e os Estados criou-se uma prática de trocas

de favores para que os grupos políticos regionais pudessem ter seus

interesses assegurados, e ao mesmo tempo, o poder executivo da União

tivesse seus “desejos” atendidos.

Assim, os governadores sempre apoiavam os candidatos ligados ao governo

federal, este por sua vez, não interferia nos assuntos eleitorais estaduais. Essa

prática denominada de Política dos Governadores, juntamente com a Política

Café com Leite, fortaleciam as oligarquias e fortaleciam as famílias

tradicionais em suas esferas de poder local. O apoio aos candidatos fiéis à

presidência ocorria através da prática do “Voto de Cabresto”, em que os

coronéis6 obrigavam a todos os seus dependentes a votarem nos candidatos

por eles indicados.

A sociedade encontrava-se em plena ebulição com o desenvolvimento das

indústrias, o processo de urbanização, a ampliação do trabalho assalariado, a

divisão e diversificação do trabalho, que promoveram a formação de novas

classes sociais. Além disso, surgiu a organização dos sindicatos, com suas lutas

por melhores salários e condições de trabalho.

Para saber mais

sobre a “Revolução

de 1930” acesse o

link :

http://www.youtube

.com/watch?v=vOPe

Tl3fzd8

6. O título de

coronel surgiu no Império, dado a

senhores de terra, mas mesmo com o

advento da República esses

continuaram com prestígio.

Competência 02

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33

Educadores e Educandos: Tempos Históricos

No que diz respeito à economia, ainda continuava predominante a

agroexportação, latifundiária e monocultora, tendo como principal produto o

café, apesar da expansão industrial.

O preço do café já vinha caindo desde 1926, e para piorar, em 1929, a quebra

da Bolsa de Nova York provocou a crise do sistema agroexportador, e diante

da crise política e econômica, preparou-se o caminho para o movimento de

1930, que colocaria fim ao período da Primeira República.

Com o rompimento da aliança Minas-São Paulo, o estado de Minas aliou-se

aos estados do Rio Grande e Paraíba, e lançou a candidatura de Getúlio

Vargas à Presidência, em oposição à candidatura de Júlio Prestes,

representante da oligarquia cafeeira. Após uma eleição conturbada, com

fraudes realizadas de ambos os lados, Júlio Prestes venceu o pleito eleitoral,

porém não chegou a assumir devido ao levante armado, denominado de

Revolução de 30.

O descontentamento dos vários setores da sociedade brasileira possibilitou a

união de forças visando retirar o poderio de São Paulo e Minas do governo

central. Assim, organizou-se a Aliança liberal, que apesar de seu caráter

regionalista, conseguiu reunir diversos setores de grupos sem interesse na

economia cafeeira.

Com a denominada Revolução de 1930, chegou à Presidência da República

Getúlio Vargas, inaugurando assim um período de centralização política e de

um Estado forte por 15 anos.

Atrelado a isso, houve uma ampliação do mercado consumidor e das forças

produtivas, com o desenvolvimento de indústrias, promovendo maiores

possibilidades de mobilidade social. Passou-se a exigir, cada vez mais, a

modernização econômica com aperfeiçoamento da indústria, dos meios de

comunicação, e ampliação das estradas de ferro.

Competência 02

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34

Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

No campo educacional o país continuava, mesmo com a série de reformas do

início da República, com poucas escolas, que eram frequentadas por

estudantes oriundos da classe média, enquanto as classes mais abastadas

pagavam professores que ensinavam seus filhos em casa, ou os matriculavam

nos caros colégios religiosos ou estrangeiros que existiam na maioria das

capitais. Esses colégios atuavam em regime de internato ou semi-internato e

possuíam grande prestígio e notoriedade junto à sociedade da época.

O que se via no campo da política educacional eram várias reformas ou

medidas na esfera estadual que não mudavam o quadro de decadência do

ensino do país.

Assim, no discurso para transformação do Brasil em uma nação moderna, a

educação era sempre colocada em condição de proeminência para que o

cidadão fosse capaz de se adequar às novas condições nas relações de

trabalho.

Mas para isso era necessário que houvesse uma transformação do modelo

educacional, bandeira esta defendida pelos intelectuais liberais da Escola

Nova.

2.2 O Manifesto dos Pioneiros

A Escola Nova foi um movimento liberal que chegou ao Brasil na década de

1920, e teve como representante principal a Associação Brasileira da

Educação (ABE), fundada em 1924.

A ABE era formada por educadores interessados em discutir caminhos para a

educação do país, já que esta encontrava-se em situação crítica de descaso,

com resultados sobre rendimento escolar pífios, em uma sociedade que

possuía um percentual alarmante de analfabetos.

Link1:

http://www.youtube.com/watch?v=f

6LTmh7Vn04

Link 2: http://www.youtube.com/watch?v=Y

bp6pzgLyQ8

Competência 02

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35

Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Esses debates tinham o seu ápice nos congressos realizados pela entidade.

Um deles foi a IV Conferência Nacional da Educação que ocorreu em 1931,

cujo tema era “As grandes diretrizes da Educação Popular”, e objetivava

pressionar o governo provisório da Revolução de 1930 a tomar medidas

concretas a respeito das questões educacionais do país.

Por ocasião do evento estavam presentes o Presidente da República, Getúlio

Vargas, e seu Ministro de Educação e Saúde Pública, Francisco Campos, para

os tais foi questionado “qual o sentido pedagógico da Revolução?” conforme

palavras de Nóbrega da Cunha (2003, pag.40). Assim, a partir das discussões

oriundas dessa conferência foi elaborado um documento cujo título original

era “A Reconstrução Educacional do Brasil: ao povo e ao governo”, foi

redigido por Fernando de Azevedo, e assinado por vinte e seis educadores, e

publicado de forma simultânea em vários jornais do país no dia 19 de março

de 1932. O movimento transformou-se em um importante documento

histórico-pedagógico do Brasil, e pretendia transformar o país em uma nação

moderna tendo como base a educação.

Seguindo o princípio democrático a educação seria um direito de todos,

perante a igualdade de condições sociais. Assim, o Estado deveria ser o

responsável em proporcionar uma escola pública e que alcançasse todos os

cidadãos, independente de classe social. Dessa forma, a escola deveria ser

única, gratuita, obrigatória, até certo nível e limite de idade, leiga7, e oferecer

condições de igualdade independente de sexo.

O processo educacional deveria ser integral e natural, respeitando-se as

particularidades individuais de cada um, relacionando-as também com os

aspectos histórico-sociais de seu tempo, visando à cooperação e a

solidariedade, de tal forma que as reponsabilidades de cada cidadão viessem

a promover o bem-comum. Para efetivação desse processo deveriam ser

utilizados os conhecimento das Ciências Sociais, da Psicologia e de técnicas

pedagógicas modernas, que seriam utilizados também para medir o

7. Escola em que o ensino é dissociado

de qualquer doutrina religiosa.

Competência 02

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36

Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

rendimento dos sistemas escolares, de tal forma a garantir a ascensão do

estudante mediante sua capacidade e não prever seu destino traçado através

do poder econômico.

No que diz respeito ao professor, este deveria, por conta de sua grande

responsabilidade para a formação do cidadão e da Nação, ser bem

remunerado, de tal forma a exercer de maneira digna e respeitável seu

trabalho.

Os “pioneiros” pretendiam a organização do sistema de ensino a partir de

uma organização científica propondo a escola laica, gratuita e obrigatória,

sendo o Estado o responsável em difundir a nova escola brasileira. Ou seja,

esse documento marca a inauguração da luta pela democratização do ensino

às classes populares.

No contexto de debate ideológico da educação houve um forte embate entre

os defensores da escola pública, laica, gratuita para todos, e os defensores

das escolas particulares confessionais ou não. Sobre isso Romanelli afirma:

É evidente que na ordem social oligárquica-aristocrática, na qual a educação escolar se constituía em privilégio das elites, carecia de sentido a ação estatal, com vistas a fazer expandir o ensino público gratuito. A elite pagava a sua educação e a Igreja exercia quase monopólio do ensino. Outra era, porém, a situação que começava a configurar-se na ordem social burguesa. As classes médias em ascensão reivindicavam o ensino médio, e as camadas populares, o ensino primário. Daí por que o movimento renovador compreendeu que havia chegado a hora de o Estado assumir o controle da educação e que, portanto, esta deveria ser gratuita e obrigatória, dadas as necessidades da nova ordem econômica em implantação. Mas a ala católica entendeu que a campanha em favor da escola pública, universal e gratuita redundaria no monopólio estatal da Educação. Não entendeu ela que nem o Estado tinha condições materiais de implantar o monopólio, nem tinha a intenção de fazê-lo. A campanha em torno da escola

Competência 02

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37

Educadores e Educandos: Tempos Históricos

pública foi uma campanha que crescendo de intensidade na época, visava, antes de tudo, à concretização de um dos princípios máximos do movimento: o do direito de todos à educação (ROMANELLI, PÁG.143).

Assim, em 1934 foi promulgada a Constituição, que no campo educacional

abraçou vários pontos do Manifesto dos Pioneiros, porém como era uma

constituição formulada a partir do debate de grupos bastante heterogêneos,

percebeu-se que várias tendências se viram respeitadas na Constituição, e

dessa forma houve a influência católica resistente com a continuidade do

ensino religioso apesar de seu caráter facultativo, no entanto a influência dos

pioneiros foi predominante na elaboração da Carta Magna, de acordo com o

que vemos abaixo:

Estímulo ao ensino musical físico, moral e cívica, e valores nacionais;

A responsabilização do Estado com a organização e manutenção do

sistema educativo;

Criação do Conselho Nacional de Educação que ficou responsável pela

elaboração do Plano Nacional de Educação;

Disciplina o financiamento público da Educação: os municípios juntamente

com a União deveriam aplicar mais de 10% em educação, enquanto os

Estados e Distrito Federal 20% ou mais;

Foram criados fundos de pensão para ajudar os alunos que necessitassem,

e 20% do que a União fosse utilizar para a Educação deveria ser aplicado nas

escolas de áreas rurais.

Os “pioneiros” pretendiam a organização do sistema de ensino a partir de

uma organização científica propondo a escola laica, gratuita e obrigatória,

sendo o Estado o responsável em difundir a nova escola brasileira. Ou seja,

Competência 02

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

esse documento marca a inauguração da luta pela democratização do ensino

às classes populares.

2.3 O Movimento Mais uma Vez

Vinte e cinco anos depois, apesar de seu impacto, o Manifesto dos Pioneiros,

não causou transformações concretas na educação do país. Dessa forma, uma

centena de educadores decidiu elaborar um novo documento denominado de

“Movimento dos educadores democratas em defesa do ensino público (1959)

– Mais uma vez Convocados – Manifesto ao Povo e ao Governo”.

Este movimento teve como ponto de partida as discussões oriundas da

elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), cuja formulação foi

concluída em 1948, e encaminhada à Câmara dos Deputados. Porém, em

1959 ele ainda não havia sido votado, e por fim o Deputado Carlos Lacerda

apresentou um substitutivo ao projeto que segundo Laerte Ramos de

Carvalho “deslocou o eixo das disputas sobre o projeto para a luta contra o

monopólio estatal, e em favor das instituições privadas de ensino”. (LAERTE,

in ROMANELLI, pag. 172). Isto por que, inicialmente as discussões giravam em

torno da organização do sistema de ensino, da sua descentralização ou

centralização. Talvez, essa tenha sido a herança dos anos de governo

autoritário vividos pelo Estado Novo.

Mas por que esse substitutivo significava uma mudança do eixo das

discussões de elaboração LDB?

O que tornou a proposta de Carlos Lacerda tão polêmica e perigosa, de

acordo com a opinião dos intelectuais da época?

Sabemos que durante séculos a Igreja foi responsável pela educação no Brasil,

e com o advento da República e a separação entre a Igreja e o Estado,

chamado processo de laicização, gradativamente a Igreja havia perdido

espaço político e também econômico.

Competência 02

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39

Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Em 1932, o discurso de luta da Igreja para que não ocorresse a laicização do

ensino, dava-se pelo fato de apesar da perda de prestígio, a Igreja continuaria

influenciando a sociedade através de suas escolas confessionais. Porém, com

a emergência de ampliação dos estabelecimentos de ensino como uma ação

efetiva do Estado, a influência católica na sociedade deveria ser ampliada com

o Ensino de Religião no currículo, apesar da escola Laica.

Em 1959, esse movimento ressurge mais complexo, agora não é mais o

discurso de oposição a laicização do ensino, mas a defesa da “liberdade de

ensino” contra “o monopólio do ensino pelo Estado”, de uma forma geral

pretendia ter o poder do sistema de ensino com o aval do Estado, essa

situação provocou a adesão de setores das escolas particulares, assim: “abrir

escolas, sem ingerência do Estado, passou a ser a bandeira de luta dos

interesses privatistas”. (ROMANELLI, pág. 177).

Ou seja, a luta não era apenas dos setores católicos, era também dos leigos

proprietários de instituições educacionais no país, que sob a bandeira dos

“direitos da família”, se colocavam contra a democratização do ensino por

questões financeiras, e através desse discurso pretendiam adquirir recursos e

a direção do sistema educacional no país.

Podemos perceber tais intenções nos artigos do substitutivo abaixo citados:

Art. 6º- É assegurado o direito paterno de prover, com prioridade absoluta, a

educação dos filhos; e dos particulares, de comunicarem a outros os seus

conhecimentos, vedado ao Estado exercer, ou de qualquer modo favorecer o

monopólio do ensino.

Art. 7º - O Estado outorgará igualdade de condições às escolas oficiais e às

particulares:

Competência 02

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

a) Pela representação adequada das instituições educacionais nos órgãos de

ensino;

b) Pela distribuição das verbas consignadas para a educação entre as escolas

oficiais e particulares, proporcionalmente ao número de alunos atendidos;

c) Pelo conhecimento, para todos os fins, dos estudos realizados nos

estabelecimentos particulares.

Ou seja, entenda-se como “liberdade de ensino”, o direito das instituições

privadas para exercerem sua prática com o financiamento estatal.

Diante do quadro, prontamente formou-se um movimento em Defesa da

Escola Pública formado por professores, estudantes, líderes sindicais e

intelectuais, alguns ainda da época do Manifesto dos Pioneiros, escreveram

mais uma vez ao Povo e ao Governo, entre os quais podemos citar: Fernando

de Azevedo, Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Laerte Ramos

Carvalho, Anísio Teixeira, entre outros. Esses setores conseguiram mobilizar a

sociedade através de debates nas escolas, conferências, e mais uma vez a

imprensa, com a publicação ao Povo e ao Governo. Mais uma vez foi redigido

por Fernando de Azevedo e publicado no Jornal Estado de São Paulo, e no

Diário do Congresso Nacional, em 1º de julho de 1959.

Esse documento apesar de ter mantido a coerência com o Manifesto de 1932,

deixou um pouco de lado a defesa dos ideais da Escola Nova e se deteve na

linha da defesa da democratização do ensino através da escola pública.

De acordo com José Luís Sanfelice, citando Ianni:

Faz-se mais uma vez o rol, sempre reiterado, de mazelas educacionais: má organização do ensino; organização arcaica, antiquada e deficiente; ensino primário ministrado em dois, três e quatro turnos, reduzido a pouco mais do que nada; escolas técnicas em pequeno número e nível secundário desqualificado; problemas

Competência 02

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

graves na rede física das escolas/ professorado de nível primário e médio, geralmente mal preparado cultural e pedagogicamente, na grande maioria leiga e com salários não condizentes; proliferação desordenada e eleitoreira de escolas superiores e particulares (faculdades de filosofia); mais de 50% da população geral analfabeta e menos da metade da população escolar (7 a 14 anos) matriculada (5700 milhões para um total de 12 milhões). Uma visão realista e condizente. O futuro havia chegado, mas não para todos ou para todas as instituições sociais. O nacional-desenvolvimentismo, tornando emblemático pelo slogan que apregoava a necessidade do desenvolvimento de cinquenta anos em cinco, mostrava suas consequências. Por outro lado, as teses reformistas crescentes bem revelavam, que o futuro não estava respondendo às demandas de toda a sociedade. (IANNI, in Sanfedice, pág 547)

Vivia-se neste momento histórico a fase de entusiasmo econômico,

desenvolvimento industrial, favorecida pelo afluxo de capital estrangeiro,

principalmente norte-americano. Este período era do governo do Presidente

Juscelino Kubitschek, Ou seja, o país vivia uma fase econômica favorável,

porém não era dada a devida assistência à educação das classes populares do

país. O desenvolvimento econômico estava acontecendo, mas o mesmo não

poderia ser dito a respeito de seu sistema educacional.

Assim, o documento apoiava a liberdade de ensino da iniciativa privada,

desde que essas fossem reguladas pelo Estado. Já que o país estava vivendo

um momento único de desenvolvimento e modernização não se admitia a

restrição do ensino primário, normal e de ofícios para as classes populares,

enquanto a elite era assistida pelo ensino secundário e superior, por isso era

necessário a ampliação da oferta educacional, com mais escolas, em diversos

níveis e tipos, para que fosse possível dinamizar ainda mais o processo de

industrialização e urbanização da nação.

Competência 02

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Por isso os intelectuais e professores defendiam no Manifesto de 1959:

Defende-se uma educação liberal e democrática para o trabalho e o desenvolvimento econômico, para o progresso das ciências e da técnica que residem na base da civilização industrial. Ao Estado, visando à solidariedade entre as diversas partes da comunidade nacional, compete promover a educação pública, universal, obrigatória e gratuita em todos os graus e integral, para assegurar o maior desenvolvimento das capacidades físicas, morais, intelectuais e artísticas de cada criança, adolescente ou jovem. Uma educação fundada na liberdade, no respeito da pessoa, com uma disciplina consciente que fortaleça o amor à pátria, o sentimento democrático, a responsabilidade profissional e cívica, a amizade e a união entre os povos. Deseja-se a formação de homens harmoniosamente desenvolvidos, do seu país e do seu tempo, capazes e empreendedores. (SANFELICE, pág. 552).

Assim, a escola pública seria o instrumento para que a democratização do

ensino se concretizasse em nosso país, cumprindo sua função de formar

cidadãos de todos os grupos sociais, desde os mais ricos aos mais pobres.

Em 20 de dezembro de 1961, a LDB foi promulgada, já no governo do

Presidente João Goulart, porém recheada de expressões e artigos genéricos

não representando uma arma de luta contundente em favor da Educação do

país. No entanto, devido à insistência e articulação política de entidades civis

e políticas da época, foi capaz de impedir a supremacia da rede privada sobre

o ensino público, mas de forma genérica representou um retrocesso sobre a

obrigatoriedade do ensino, como se observa nos artigos a seguir:

Art. 30:

Parágrafo único - Constituem casos de isenção (da obrigatoriedade) além de

outros previstos em lei:

a) Comprovado estado de pobreza do pai ou responsável;

Competência 02

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

b) Insuficiência das escolas;

c) Matrículas encerradas;

d) Doença ou anomalia grave da criança.

Dessa maneira o Estado se despia da responsabilidade de fornecer as

condições necessárias para que a obrigatoriedade da educação fosse

cumprida.

2.4 A Política Educacional do Governo Militar (1964)

Sob o discurso de combate à corrupção e ao comunismo, e como um meio

para reestruturação da democracia, os militares tomaram o poder em 1º de

abril de 1964.

Apesar de nosso objetivo ser a repercussão desse fato histórico na política

educacional do país, faremos um breve resumo histórico do Golpe.

Em 1964, João Goulart (Jango) era Presidente da República, ele assumiu após

a renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961. Após várias estratégias

visando impedir a posse de Jango, o mesmo assumiu a presidência, porém em

um Regime Parlamentarista, ou seja, poderes limitados ao Presidente.

Mas o país encontrava-se em plena ebulição e mobilização tanto no campo

quanto nas cidades. Tomemos como exemplo a organização das Ligas

Camponesas, essas eram organizações de camponeses que se formaram a

partir da segunda metade dos anos de 1950 com o objetivo de proteger os

colonos da expulsão da terra pelos grandes proprietários. Pois, a terra passou

a ter um valor muito alto com a diversificação e ampliação do mercado

agrícola e pecuário.

Competência 02

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Além disso, podemos citar também o fortalecimento do movimento

estudantil com Juventude Universitária Católica (JUC), que devido a sua

posição socialista deu origem a Ação Popular (1962).

No que diz respeito ao movimento operário ele foi fortalecido com a subida

de Jango à presidência já que este fato representava o assentamento do seu

poder “na colaboração entre o Estado, onde se incluíam os oficiais

nacionalistas das Forças Armadas e os intelectuais formuladores da política do

governo, a classe operária organizada e a burguesia industrial nacional”.

(FAUSTO, pág. 447). O Estado como articulador dessa aliança seria capaz de

realizar as reformas sociopolíticas necessárias ao país, denominadas de

Reformas de Base, entre essas reformas, temos a agrária, calcanhar de

Aquiles da elite agrária brasileira. Além da reforma agrária, existiam planos de

reforma urbana, reforma de direito político (incluindo os analfabetos como

eleitores) e intervenção estatal na economia de maneira mais precisa como:

regulação da remessa de lucros para o exterior e aumento do monopólio da

Petrobrás.

De acordo com Boris Fausto as Reformas de Base: “era uma tentativa de

modernizar o capitalismo e reduzir as profundas desigualdades sociais do

país, a partir da ação do Estado”. (FAUSTO, pág. 342)

Em 1963, após um plebiscito o presidencialismo voltou a ser o regime político

do país tendo Jango como líder do Executivo Federal. E assim, foi possível a

implantação do Plano Trienal, que previa:

Redução dos gastos públicos: através do corte de subsídios dados à

importação, e aumento de impostos sobre produtos oriundos das indústrias

estatais e sobre setores sociais de renda elevada;

Manutenção dos investimentos públicos;

Competência 02

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45

Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Reforma agrária como uma maneira de ampliar a produção agrícola e

promover a justiça social no campo;

O plano, no entanto, não deu certo e neste ano a inflação chegou a 25% e o

crescimento do PIB que foi de 5,3% em 1962, alcançou apenas 1,5% em 1963.

Esta condição da economia levou vários setores conservadores a se

mobilizarem com um discurso anticomunista, com a classe média e a Igreja

Católica.

Assim, implantou-se um regime que durou 21 anos de repressão política,

redução de direitos, censura e um Estado forte.

Do ponto de vista educacional vimos que foi aprovada a lei 4.024/61, a LDB

tão esperada, porém devido aos fortes embates anteriormente discutidos ela

não representou grandes conquistas. Mas, conseguiu: manter o ensino

primário em quatro anos, o ginasial também, subdividiu o ensino secundário

em: comercial, industrial, agrícola e normal; o ensino colegial em três anos

subdividido em secundário, comercial, industrial, agrícola e normal e o ensino

superior.

Nesse contexto também podemos incluir os movimentos de educação

popular, como representante mais característico desses, temos os Centros

Populares de Cultura (CPC), os Movimentos de Cultura Popular (MCP) e o

Movimento de Educação de Base. Esses tinham como objetivo a alfabetização

do público adulto, para que esses pudessem participar ativamente das

decisões e escolhas políticas do país.

Os CPCs estavam ligados à UNE e surgiram no ambiente universitário, entre

1962 e 1964. Sua forma de atuação era o teatro de rua, que tratava de

acontecimentos em linguagem popular, cujas apresentações ocorriam nas

praças, sindicatos e em universidades.

Competência 02

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Os MCPs surgiram em Recife, através da valorização do homem popular

estimulando-se seu processo criativo, para que através da arte ele fosse capaz

de desenvolver seu censo crítico e analítico da sua realidade social. Estimulava

que os intelectuais se despissem do assistencialismo ou filantropia para que

através disso impusessem seus padrões culturais, e procurasse aprender com

o povo através do diálogo. Por ser um movimento de grande magnitude, e de

certa complexidade, ficou restrito a Recife e Rio Grande do Norte, com a

campanha “De pé no chão também se aprende a ler”.

Ligada à CNBB e ao Governo Federal, surge em 1961, o Movimento de

Educação de Base (MEB), cuja filosofia se assentava na educação para

transformação social.

O sistema Paulo Freire fortemente relacionado nesses movimentos, pretendia

através do "antidiálogo” alfabetizar adultos em um período mínimo de 40

horas. O método dividia-se em: pesquisa vocabular dos grupos assistidos,

escolha de palavras desse universo que seriam trabalhadas no processo de

alfabetização; elaboração de situações típicas para o grupo; elaboração de

roteiros para os coordenadores; e por último, a decomposição de famílias

fonêmicas que correspondiam aos vocábulos correspondentes. (RIBIERO, 153)

Devido aos seus resultados extremamente satisfatórios, foi criado em

21/01/1964, o Plano Nacional de Alfabetização (PNA), que visava alfabetizar 5

milhões de pessoas até 1965. Mas, no mesmo ano ocorreu o golpe

extinguindo o PNA dois meses antes, e gradativamente o mesmo aconteceu

com os demais movimentos de educação popular, anteriormente

mencionados.

Com relação ao ensino superior, os intelectuais da época inspirados ainda nas

ideias dos pioneiros da educação, defendiam que a universidade não deveria

ter o objetivo de se equiparar às existentes nos países desenvolvidos, pois

dessa maneira cada vez mais ela estaria distante da sociedade brasileira, pois,

esse atraso das universidades era um reflexo dos atrasos do próprio país.

http://www.youtube

.com/watch?v=tThq

GtfFQdQ

Competência 02

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47

Educadores e Educandos: Tempos Históricos

Além disso, questionava-se qual o profissional que deveria ser formado nas

universidades, e a que interesses essa formação estaria ligada.

Nesse ambiente de discussão sobre o ensino superior foi fundada a

Universidade de Brasília em 1961, que em seu regimento pretendia implantar

essas ideias reformistas, mas foi igualmente surpreendia pelo golpe, o que

provocou a invasão, além da prisão e demissão de vários professores. E mais

tarde cerca de 90% dos docentes pediram demissão devido à situação de

intranquilidade instaurada na universidade recém-criada.

2.5 O Significado do Golpe Militar para a Educação

Percebe-se que o governo militar atacou por todos os lados todo e qualquer

instrumento que tivesse qualquer significado de reforma educacional. Até por

que educação era sinônimo de subversão, por isso era preciso caminhar para

que o sistema educacional estivesse a serviço do capitalismo e propagasse a

ideologia do regime político implantado no país a partir de então.

Como os intelectuais, fossem eles a favor ou não da revolução, não eram

considerados confiáveis, o governo militar promoveu o acordo MEC-USAID

(United States Agency International for Development). A agência

estadudinense USAID tinha como função reordenar o sistema educacional

brasileiro de forma sigilosa, através da assistência técnica e cooperação

financeira. Mas sob ameaça de abertura de processo, pelo Deputado Márcio

Moreira Alves, destinado ao Ministro da Educação e Cultura, Tarso Dutra, pelo

crime de responsabilidade, o então ministro prestou informações ao

Congresso e ficou esclarecido os reais interesses da USAID na educação do

país. Mais tarde o mesmo deputado publicou o livro Beabá do MEC/USAID.

Essa situação dos acordos MEC/USAID encontrou forte oposição entre os

estudantes, principalmente dos setores ligados à UNE (União Nacional dos

Competência 02

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Estudantes), que acusava ser esta uma forma de dominação da educação

brasileira aos interesses norte-ameircanos.

De acordo com Romanelli, a década de 1960 foi marcada pela demanda

educacional, e esta teve sua origem no aceleramento do desenvolvimento

econômico com a implantação das indústrias de base na década de 1950, e

com esfacelamento das formas tradicionais de ascensão da classe média.

Têm-se, assim, de um lado, uma crescente demanda de pessoal, por parte do sistema econômico, e, de outro, uma crescente oferta de trabalho por parte das camadas médias, que veem nas hierarquias ocupacionais das empresas a única forma de manter ou conquistar status. (ROMANELLI, pág. 205).

A educação, então, mais uma vez é apresentada como a maneira de se formar

a classe média para que essa pudesse assumir os novos postos de trabalho, e

para as empresas conseguirem preencher suas vagas de emprego.

E o quadro era de um sistema educacional que não respondia às expectativas

do desenvolvimento, nem oferecia uma rede escolar capaz de atender as

exigências da expansão econômica.

Assim, inicialmente procurou-se ampliar o número de escola, porém nada

muito significativo, pois isso poderia provocar “comprometimento da

economia do Governo”. Então, como a demanda por profissionais que

tivessem pelo menos o ensino médio era a maior, foi esse nível de ensino que

obteve maior atenção do governo. Temos então que o número de vagas no

ensino médio (de 1964 a 1968) cresceu 69%, enquanto o primário apenas 16%

nesse mesmo período. No que diz respeito ao curso superior, houve um

aumento de 120% no número de inscritos nos vestibulares de 1964 a 1968,

com relação ao período de 1960 a 1964, enquanto o número de vagas teve

um decréscimo de 11,14%, em relação ao mesmo período.

Competência 02

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

E nessa conjuntura, a USAID teve a função de instituir programas por ela

desenvolvidos com inclusão de assistência financeira, assessoria técnica aos

órgãos e instituições educacionais, que de acordo com Romanelli, a AID

pretendia:

1. Estabelecer uma relação de eficácia entre recursos aplicados e produtividades do sistema escolar; 2. Atuar sobre o processo escolar em nível de microssistema, no sentido de melhorarem os conteúdos, métodos e técnicas de ensino; 3. Atuar diretamente sobre as instituições escolares, no sentido de conseguir delas uma “função mais eficaz para o desenvolvimento”; 4. Modernizar os meios de comunicação de massas, com vistas à melhoria da “informação nos domínios da educação extra-escolar”; 5. Reforçar o ensino superior, “com vista ao desenvolvimento nacional”. (ROMANELLI, pág. 210)

Tomando como referência esses objetivos, a reforma educacional do regime

militar se deu a partir da publicação de duas leis a primeira, de número

55540/68, diz respeito à Reforma Universitária, e a segunda Lei nº 5.692/71,

que foi responsável pela reforma do 1º e do 2º grau.

A Reforma Universitária era reivindicada desde o início da década de 1960, e

seus principais pontos foram:

Instituição de uma estrutura departamental;

Implantação do sistema de crédito e de matrícula por disciplinas;

Carreira universitária única;

Pesquisa e ensino indissolúveis.

Competência 02

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Promovendo, assim, medidas de controle e desintegração da comunidade

universitária, promovendo o individualismo e a desmobilização de professores

e estudantes. (CUNHA & GÓES, In SBARDELOTTO).

Apesar de seu caráter autoritário e desmobilizador, tais medidas promoveram

o aumento das vagas e de instituições, a baixo custo e em instituições

isoladas, de tal forma a atenderem às necessidades do mercado para

suprirem a carência de recursos humanos qualificados. Esse foi o caminho

possível para a solidificação das instituições de ensino superior privadas se

expandirem no país.

A reforma do ensino do 1º e 2º grau representou em primeiro lugar a

alteração da nomenclatura, mas também a concepção educacional para esses

níveis.

Como os altos índices de analfabetismo e a baixa escolaridade significam o

subdesenvolvimento da nação e um empecilho para sua saída de tal condição,

o governo de forma legal tornou o ensino do 1º Grau obrigatório em seus oito

anos de formação. O currículo foi dividido em duas partes, uma obrigatória, e

outra que ficaria a cargo da escolha dos estados e regiões de acordo com suas

características e peculiaridades. Nesse processo de reforma do ensino foram

incluídas como disciplinas obrigatórias na matriz curricular: Educação Moral e

Cívica8 (EMC), Educação Física9 e Educação Artística. O Ensino Religioso

continuava de frequência facultativa, porém de oferecimento obrigatório

pelas instituições de ensino.

Tanto a Educação Física como a EMC tiveram a função de dar subsídios para a

sustentação da ideologia do regime, e dos setores que dele se sustentavam. A

Educação Física trabalhava o físico visando talvez que o indivíduo pudesse

estar pronto para a defesa nacional. Enquanto a EMC procurava disseminar a

ideia da sociedade harmônica que se baseava em “Deus, Pátria e Família”,

dessa forma o indivíduo não era encarado como sujeito histórico de seu

tempo, mas apenas o cidadão cumpridor de deveres.

8. Apesar de não

ter sido mencionada na

LDB, a EMC passou a fazer parte da matriz curricular

através do decreto nº 869/69 e sua regulamentação foi realizada pelo

decreto nº 68.065/71

9. Regulamentação da obrigatoriedade

da disciplina de Educação Física através da Lei

58.130 de 31/03/1966

Competência 02

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

A lei de reforma também permitia que a formação para o trabalho pudesse

ser antecipada entre as classes trabalhadoras, caso não conseguisse concluir o

Ensino do 1º Grau.

Com o 2º grau pretendia-se que a formação para o trabalho com a criação dos

GOTs, os chamados Ginásios Orientados para o Trabalho, com disciplinas de

artes industriais, técnicas comerciais, educação para o lar ou instrução geral.

Esses Ginásios foram amplamente financiados pela USAID porém, obtiveram

resultado abaixo do esperado, pois os cursos eram de baixa qualidade e com

um currículo que fugia das propostas dos cursos.

Além disso, esses Ginásios promoviam ainda mais a desigualdade social

baseada na detenção de conhecimento, já que eles eram fundados nas

capitais e principais cidades do país deixando outras regiões sem assistência

desse nível de ensino.

O que se percebe é que existia a implantação de um projeto educacional em

que o 1º e o 2º Graus seriam capazes de formar uma mão de obra

especializada, para atender os interesses da indústria crescente, composta

por empresas multinacionais ou associadas.

Assim, os fundamentos que articulam essa intervenção nos três graus de

ensino, tanto a nível regular como não regular, por parte do governo, temos

que buscar na concepção tecnicista em educação, especialmente em sua

expressão na chamada “teoria do capital humano” ou, em outras palavras,

“no economicismo educativo”. (RIBEIRO, pág. 167)

De forma geral, os anos de chumbo representaram, no âmbito da política

educacional, a criação de instrumentos capazes de conter as organizações

estudantis e o operariado, e dessa forma garantia a hegemonia dos grupos

que apoiaram o golpe, entre eles, a burguesia nacional e os grupos

estrangeiros, baseados em uma educação formadora de acordo com os

Competência 02

Competência 02

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

interesses do desenvolvimento econômico. Nesse empreendimento, a

educação deveria ter uma função disciplinadora e com objetivos imediatos e

concretos, por isso o tecnicismo da educação tornou-se seu principal

parâmetro.

Competência 02

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

3. COMPETÊNCIA 03 | IDENTIDADE PROFISSIONAL E O PROJETO

POLÍTICO-PEDAGÓGICO

Ao final da década de 1970 o regime militar já dava seus sinais gritantes de

crise: altos índices de desemprego, inflação, etc., provocando dessa forma, o

aumento da insatisfação da população, principalmente da classe média. Além

disso, por conta das várias formas de organização dos movimentos populares,

a crise do regime acentuou-se. E, na década de 1980 inicia-se o processo de

abertura, lenta e gradual, do sistema ditatorial brasileiro.

Iniciou-se o período denominado como Redemocratização Política. Este foi

um momento importantíssimo para a Educação do país, pois houve um

ímpeto de mobilização direcionada para o setor educacional, cuja crença era

de que o conhecimento fosse capaz de formar cidadãos mais participativos na

sociedade. O período que do ponto de vista econômico é considerado “a

década perdida”, para a educação, representou um momento de lutas e

conquistas.

Ao final da década de 1980 os movimentos em defesa da escola pública, os

sindicatos de professores, e outras organizações estavam muito engajados em

defesa da autonomia da escola. A Constituição Federal de 1988, como

resultado da pressão de vários setores sociais, ofereceu essas condições a

partir do estabelecimento dos princípios básicos da educação como

“pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas” e a “gestão democrática

do ensino público” (Art. 206), que são considerados os fundamentos

constitucionais da autonomia escolar.

A luta pela autonomia da escola insere-se numa luta maior pela autonomia no seio da própria sociedade. Portanto, é uma luta dentro do instituído, contra o instituído, para instituir outra coisa. A eficácia dessa luta depende muito da ousadia de cada escola em experimentar o novo e não apenas pensá-lo. Mas para isso é preciso percorrer um longo caminho de

Competência 03

Competência 02

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

construção da confiança na escola e na capacidade dela resolver seus problemas por ela mesma, confiança na capacidade de autogovernar-se. A autonomia se refere à criação de novas relações sociais que se opõem às relações autoritárias existentes. Autonomia é o oposto da uniformização. A autonomia admite a diferença e, por isso, supõe a parceria. Só a igualdade na diferença e a parceria são capazes de criar o novo. Por isso, escola autônoma não significa escola isolada, mas em constante intercâmbio com a

sociedade. (GADOTTI)

Nesse contexto de autonomia escolar e gestão democrática da educação, o

Projeto Político Pedagógico (PPP) possui papel de extrema importância na

construção da escola voltada para a formação do cidadão.

Isso por que o PPP, como um documento elaborado de forma coletiva, que

visa traçar planos e estratégias definidores dos rumos da escola, promove a

democratização do acesso e da gestão a um ensino de qualidade.

No uso de sua autonomia a comunidade escolar se identificar com tal

documento, e assim, consegue “resgatar a escola como espaço público, lugar

de debate, de diálogo, fundado na reflexão coletiva.” (VEIGA, pág. 14).

Dessa forma, seria construída uma nova escola a partir das necessidades de

todos que a constituem: professores, pais, estudantes e funcionários, que a

partir do embate de ideais podem negociar seus interesses, já que a escola

como um espaço democrático, consegue aglutinar as mais diversas formas de

pensamento. Ou seja:

“A escola, para se desvencilhar da divisão do trabalho, de sua fragmentação e

do controle hierárquico, precisa criar condições para gerar outra forma de

organização do trabalho pedagógico”. (Veiga, pág. 33)

Assim, a escola é palco da luta pela emancipação, em um ambiente aberto ao

diálogo, em que a comunicação se dá na horizontal e não de forma impositiva,

Competência 03

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

de cima para baixo. Nesse espaço, todos têm voz: gestão, professores,

administrativos, zeladores, porteiros, merendeiras, estudantes, pais e

associações ligadas ao cotidiano escolar.

Por isso, é que o PPP é uma construção coletiva, por que propicia a

participação coletiva desconstruindo a estrutura tradicional de poder escolar,

e fortalecendo a socialização por meio dos conselhos escolares.

No entanto, apesar de todos possuírem vez e voz, não se pode esquecer que o

PPP também é sinônimo de um acordo da comunidade escolar para a

promoção da educação com qualidade. Ou seja, todos devem ter o firme

propósito, para que a qualidade esteja presente em todos os aspectos da

escola e dos estudantes.

Nesse sentido, a gestão participativa é uma arma importante para a

organização dos trabalhadores em educação e na condução de educação de

qualidade.

A qualidade possui descritores fundamentais: participação, negociação,

autorreflexão, contextualização/ pluralização, processo e transformação.

Dessa forma, cada um a partir da produção coletiva contribui com sua

responsabilidade, e o PPP como um pacto, define os compromissos da

instituição escolar com os órgãos de execução da rede de ensino.

Por isso, com a publicidade e socialização da identidade da escola a partir de

seu contexto, limites e virtudes, temos a promoção real da mudança,

construída pelos atores principais envolvidos no processo, e não conduzida

por alguma outra instituição, de fora da escola, como um produto pronto e

acabado. Assim:

as mudanças não poderão ser exportadas desde um ponto central difusor. É fundamental mobilizar e motivar cada escola para que ela construa o seu

Competência 03

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

caminho e, com isso, promova maior organização dos trabalhadores da educação e sensibilize todos os servidores para a importância de seu trabalho. (Pag. 928)

Ou seja, toda a escola, gestão, professores, funcionários, pais e estudantes,

necessitam refletir sobre as reais condições da comunidade escolar e buscar

alternativas para mudá-la, suplantando o individual pelo coletivo.

Mas, o que é identidade? Qual a sua relação com o PPP?

“Identidade” pode ser definida como uma construção histórica e cultural, que

pode ser compreendida como uma representação múltipla, instável e

dependente do grupo ao qual o indivíduo está inserido. Ou seja, é a partir da

identidade que os diversos grupos, sejam eles religiosos, políticos,

comunitários, ou profissionais que a partir de valores simbólicos estabelecem

relações de poder, modo de produção ou organizam-se socialmente. São as

características comuns de um indivíduo ou grupo que os diferenciam dos

demais. É o que define “quem eu sou”, “quem é o meu grupo”, o que

queremos, para onde vamos.

O PPP, assim, é o documento que nos identifica com a escola, é ele que dá a

instituição sua singularidade, através de todos os sujeitos nela envolvidos.

Todos eles vão contribuir para a formação e caracterização da instituição

escolar.

Competência 03

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

4. COMPETÊNCIA 04 | PRINCIPAIS ASPECTOS DO DIREITO E DA

GESTÃO DAS POLÍTICAS PARA A EDUCAÇÃO PÚBLICA

Neste capítulo iremos estudar as políticas educacionais brasileiras a partir de

1989, e seu comprometimento com o FMI, Consenso de Washington, com o

Banco Mundial, e os interesses empresariais.

Ao final do ano de 1989, reuniram-se em Washington representantes do FMI,

Banco Mundial, BID com o objetivo de analisarem as reformas econômicas

implementadas nos países subdesenvolvidos. Ao final do encontro chegou-se

a algumas conclusões que seguindo o texto do economista John Williamson,

da International Institute for Economy, recebeu a denominação de “Consenso

de Washington”

A partir desse documento o FMI passou a recomendar que os países

subdesenvolvidos com dificuldades econômicas adotassem as medidas

formuladas no “Consenso”. Algumas dessas recomendações são:

Abertura comercial;

Privatização de Estatais;

Redução de Gastos Públicos;

Disciplina Fiscal;

Reforma Tributária;

Desregulamentação;

Estímulo aos Investimentos Estrangeiros Diretos;

Juros de Mercado;

Câmbio de Mercado;

Direito à Propriedade Intelectual;

Essas medidas acima são consideradas neoliberais. O neoliberalismo é uma

doutrina econômica que defende o livre-mercado e a restrição do estado na

economia.

Competência 04

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Apesar da oposição de John Williamson, o termo continuou sendo utilizado

para o documento oriundo desse encontro.

O governo brasileiro foi participante do encontro, e concordando com as

propostas acima citadas assinou um documento se comprometendo a

executar as ideias acima descritas.

Assim, o governo federal articulado com os governos estadual e municipal

necessitou tomar medidas, a fim de cumprir as orientações, tais como:

privatizou algumas empresas, reduziu o dinheiro para programas sociais,

liberou o mercado brasileiro para a atuação de empresas e bancos

internacionais; reduziu o número de servidores públicos; economizou para

pagar dívidas externas (superávit primário); baixos salários, juros altos;

isenção de impostos em áreas econômicas importantes; etc.

Em consequência dessa nova política econômica, várias outras reformas

foram necessárias, inclusive no campo da Educação Pública. Primeiro, houve

forte influência do Banco Mundial como balizador de parâmetros

educacionais, e internamente, com empresários ávidos por mão de obra.

Em 1990, o Brasil participou na cidade de Jomtien, Tailândia da Conferência

Mundial sobre Educação para Todos, promovida pela Organização das Nações

Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), pelo Fundo das Nações

Unidas para a Infância (Unicef), Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) e pelo Banco Mundial. A partir dessa conferência

foram elaborados a Declaração Mundial de Educação para Todos e o Plano de

Ação para Satisfazer as Necessidades Básicas de Aprendizagem. Assim, o Brasil

se comprometeu a investir na educação básica e promover reformas no

sistema de ensino de acordo com o documento elaborado na conferência de

Jomtier.

Inicialmente, o que percebemos é uma política educacional descentralizadora,

na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) Lei 9131/96, pois o Governo Federal é o

Competência 04

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

responsável pelo ensino superior e as escolas federais; os estados sendo

responsáveis pelo ensino médio, e os municípios pelo ensino fundamental e

educação infantil. Porém, como os municípios não conseguiram expandir sua

rede, essa descentralização tem ocorrido de forma lenta.

Em 1998, foi criado o Fundo de Manutenção do Ensino Fundamental e

Valorização do Magistério – FUNDEF, com a Lei 9.424/96, que criou um fundo

de financiamento do Ensino Fundamental. Dessa forma, 25% das receitas dos

impostos dos Estados, Distrito Federal e Municípios deveriam ser destinados à

Educação, deste montante 60% era destinado ao Ensino Fundamental.

Mais tarde, em 2006 a criação do FUNDEBE, através da Emenda Constitucional

nº 53/2006, a subvinculação passou a ser de 20% e toda a Educação Básica

passou a ser atendida pelo Fundo, de acordo com o número de alunos

matriculados no último Censo Escolar.

No que diz respeito ao Ensino Técnico, este foi separado do ensino médio,

através do Decreto de nº 2208 de 1997, propondo, assim, que o Ensino

Técnico tenha organização própria, a fim de se adaptar mais rápido às

exigências urgentes do mercado. Ou seja, criou-se um sistema voltado para a

formação da mão de obra que o mercado necessita, deixando de lado a

formação do cidadão que a sociedade precisa.

Finalmente, o ensino superior apresenta um cenário de ampliação com a

abertura de novas vagas proporcionadas pela criação de novas instituições e

ampliação dos campus a partir do Programa REUNI (Reestruturação e

Expansão das Universidades). Ao mesmo tempo, a ampliação das vagas se dá

no setor privado com a implantação do PROUNI, oferecendo bolsas totais ou

parciais aos estudantes brasileiros.

Competência 04

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A educação no país no período colonial caracterizou-se quase que

exclusivamente pela atuação dos jesuítas que se dedicaram primeiramente à

catequização da população nativa e formação dos europeus portugueses

residentes na Colônia. Ou seja, tinha-se uma educação a serviço dos princípios

religiosos que fortalecia a ideologia de dominação estabelecida através da

aliança Igreja-Estado.

O fim da hegemonia jesuítica no sistema educacional da colônia e as reformas

pombalinas para a educação colonial representaram o fortalecimento do

domínio português, mudando-se o sentido da educação que antes servia aos

interesses da ordem jesuítica, agora passando a atender os interesses da

metrópole.

Com a emancipação política do Brasil, houve, pelo menos no discurso das

autoridades governamentais do país, certa preocupação com a formação das

classes populares, porém não se percebe qualquer efetivação de medidas

capazes de realizar tal propósito. O que se realizou foi a propagação do ensino

particular, que fortalecia a formação da elite econômica do país, ou seja,

tinha-se um sistema educacional que promovia a desigualdade e a

conservação da aristocracia fundiária no poder.

O que se vê ao final do império é um sistema educacional elitista e

discriminador, com uma legislação educacional que não se efetivava, pois

além de distante da real e complexa sociedade brasileira, ainda existia um

desinteresse dos grupos dominantes em atender as camadas populares com a

educação pública, pois essa situação alimentava a conservação dos grupos

dominantes no poder.

A República promoveu novas discussões a respeito da educação, por isso tem

como característica as reformas educacionais, que não garantiram o acesso

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

nem a qualidade do ensino a esse setor social do país, desencadeando uma

série de movimentos para que fosse aumentado o número de escolas.

Com a denominada “Revolução de 1930” iniciou-se o debate da

democratização do ensino através da defesa da escola pública, gratuita e laica

defendida pelo Manifesto dos Pioneiros. Nesse momento, os intelectuais da

Escola Nova conseguiram promover a educação pública ao status de

prioridade, e transformaram tal prioridade em responsabilidade do Estado. O

Manifesto é considerado um dos mais importantes documentos históricos da

Educação do país, sendo, várias vezes, revisitado desde então, influencia

educadores, governantes, e a política educacional do país, com seus ideais

liberais, sendo a escola um espaço de mudança de transformação da

sociedade.

Porém, apesar do seu aspecto mobilizador e inovador, este movimento não

representou a defesa de uma revolução educacional tão necessária ao país

naquele momento, pois, ideologicamente, defendiam a condução das classes

populares pelos intelectuais e pelo Estado, configurando, assim, uma

concepção elitista e autoritária do sistema educacional.

O Manifesto é considerado um dos mais importantes documentos históricos

da Educação do país, sendo, várias vezes, revisitado desde então, e

influenciando educadores, governantes, e a política educacional do país, com

seus ideais liberais.

Ou seja, as ideias estavam assentadas no princípio de igualdade de condições,

como essa é inexistente em nosso país, o esforço individual seria a forma

necessária para superá-la, já que tradicionalmente nossa sociedade

caracteriza-se como antidemocrática, situação essa reiterada com o advento

do Estado Novo, em 1937.

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Técnico em Multimeios Didáticos e Secretaria Escolar

Como foi dito anteriormente, a revisitação ao Manifesto se deu várias vezes a

partir de então, e um dos momentos mais importantes se deu em 1959 com o

Manifesto mais uma vez, originário do movimento em Defesa da Escola

Pública, reafirma-se a lógica liberal de educar visando formar trabalhadores,

agora, para assumir postos na indústria, seguindo os princípios

desenvolvimentistas.

Por fim, temos o Golpe Miliar de 1964, com a implantação de um sistema

educacional limitador e desmobilizador dos grupos sociais, além de fortalecer

a ideologia tecnicista, visando à formação de mão de obra que atendesse às

exigências econômicas.

Além disso, era interessante o fortalecimento da ideologia do regime, pois

dessa maneira tentava-se a formação não questionadora do status quo da

nação.

O que vemos ao longo da História da Educação Brasileira até o momento

histórico descrito, é que o sistema educacional nunca esteve de acordo com

as reais necessidades das camadas populares, e quando elas eram lembradas

tinha-se uma concepção de que é possível conduzi-las. Sendo essa a maneira

encontrada para se formar cidadãos segundo a ótica da econômica, de tal

maneira a não destruir a ordem social vigente.

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Educadores e Educandos: Tempos Históricos

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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São Paulo: Fundação do Desenvolvimento da Educação, 1995 – (Didática, 1)

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Rodrigues, Fátima Maria Neves, organizadores. 2. Ed. Ver e ampl. Maringá:

Eduem, 2009.(Formação de Professore – EAD; v. 4).

HISDORF, Maria Lucia Spedo. História da Educação Brasileira: Leituras. Ed

Thomson, 2003.

MOTA, Carlos Guilherme. (Org.). Brasil em Perspectiva. 20 ed. Bertrana Brasil.

RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da Educação Brasileira: a organização

escolar. 12ª edição Editora Cortez.

ROMANELLI, Otaiza de Oliveira. História da Educação no Brasil. 8ª edição

Editora Vozes.

VECHIA, Renato da Silva Della. O golpe civil militar de 1964: algumas

possibilidades sobre seu significado histórico. Possível ser acessado em:

http://seer.ufrgs.br/index.php/anos90/article/view/29300/24256

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http://emaberto.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/81/83

XAVIER, Nacif Libania. O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova como

Divisor de Águas na História da Educação Brasileira. Possível acesso em:

http://www.convenio1931.ence.ibge.gov.br/web/ence/Libania_Manifesto.pd

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MINICURRICULO DA PROFESSORA

Waldereze Maria Santos Nascimento, formada em História pela Universidade

Federal de Pernambuco em 2002, com Pós-Graduação em História das Artes e

das Religiões pela Universidade Federal Rural de Pernambuco em 2008, e

professora da Rede Pública Estadual desde 2005.

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