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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1 EDUCAÇÃO EM SOLOS: AS QUESTÕES AMBIENTAIS SOB UMA ABORDAGEM EDUCATIVA AMBIENTAL CRÍTICA. Ribas Dantas do Nascimento (a) , João Osvaldo Rodrigues Nunes (b) (a) Mestrando, Programa de Pós-Graduação de Geografia - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus Presidente Prudente – SP, [email protected] (b) Professor Doutor, Departamento de Geografia- Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Campus Presidente Prudente SP - [email protected] Resumo As iniciativas de preservação e conservação do meio ambiente tem sido uma das grandes preocupações entre ambientalistas, órgãos governamentais, estudiosos e movimentos sociais comprometidos em buscar formas sustentáveis de uso dos recursos naturais diante da situação de degradação ambiental em escala mundial. Comprometidos com uma Educação Ambiental Crítica buscamos socializar experiências vivenciadas no Laboratório de Sedimentologia e Analise de Solos da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP campus Presidente Prudente SP, através de práticas educativas e transposições didáticas referentes à Educação em Solos, visando contribuir com o ensino-aprendizado da Geografia Escolar e construir junto aos educadores e educandos ambiências de aprendizado que favoreçam o fazer pensar de um modo dinâmico, capaz de motivar para ações ambientais positivas. Objetivamos o despertar de uma “consciência pedológica”, desenvolver o diálogo entre Geografia Física e Geografia Escolar (teoria cientifica e prática docente), priorizando as reflexões críticas e práticas ambientais sustentáveis. Palavras-chave: Geografia, Educação, Solos, Didática, Meio Ambiente. 1- Introdução Os sistemas naturais (geológicos, hidrológicos e biológicos) sempre foram provedores da vida humana, historicamente grupos humanos sempre se utilizaram dos recursos naturais para sobrevivência, em um primeiro momento como nômades - caçadores coletores, posteriormente se fixando em determinados territórios dando origem as sociedades sedentárias, desenvolveram técnicas para melhor se aproveitarem dos recursos naturais, o que Santos (1995) considerou como uma ruptura progressiva entre o homem e o meio entorno. Após o advento da Revolução Industrial somado ao crescimento populacional mundial estes recursos foram sendo cada vez mais explorados, através da “mecanização do planeta”, gerando maior degradação do ambiente, escassez e desequilíbrio ecológico quanto à relação desigual entre uso e conservação.

EDUCAÇÃO EM SOLOS: AS QUESTÕES AMBIENTAIS SOB UMA ... · questões ambientais, entre estes encontros podemos citar: a Primeira Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio

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ISBN: 978-85-7282-778-2 Página 1

EDUCAÇÃO EM SOLOS: AS QUESTÕES AMBIENTAIS SOB UMA

ABORDAGEM EDUCATIVA AMBIENTAL CRÍTICA.

Ribas Dantas do Nascimento (a), João Osvaldo Rodrigues Nunes (b)

(a) Mestrando, Programa de Pós-Graduação de Geografia - Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita

Filho” Campus Presidente Prudente – SP, [email protected] (b) Professor Doutor, Departamento de Geografia- Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

Campus Presidente Prudente – SP - [email protected]

Resumo

As iniciativas de preservação e conservação do meio ambiente tem sido uma das grandes preocupações entre

ambientalistas, órgãos governamentais, estudiosos e movimentos sociais comprometidos em buscar formas

sustentáveis de uso dos recursos naturais diante da situação de degradação ambiental em escala mundial.

Comprometidos com uma Educação Ambiental Crítica buscamos socializar experiências vivenciadas no

Laboratório de Sedimentologia e Analise de Solos da Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”

UNESP – campus Presidente Prudente – SP, através de práticas educativas e transposições didáticas referentes à

Educação em Solos, visando contribuir com o ensino-aprendizado da Geografia Escolar e construir junto aos

educadores e educandos ambiências de aprendizado que favoreçam o fazer pensar de um modo dinâmico, capaz

de motivar para ações ambientais positivas. Objetivamos o despertar de uma “consciência pedológica”,

desenvolver o diálogo entre Geografia Física e Geografia Escolar (teoria cientifica e prática docente),

priorizando as reflexões críticas e práticas ambientais sustentáveis.

Palavras-chave: Geografia, Educação, Solos, Didática, Meio Ambiente.

1- Introdução

Os sistemas naturais (geológicos, hidrológicos e biológicos) sempre foram provedores

da vida humana, historicamente grupos humanos sempre se utilizaram dos recursos naturais

para sobrevivência, em um primeiro momento como nômades - caçadores coletores,

posteriormente se fixando em determinados territórios dando origem as sociedades sedentárias,

desenvolveram técnicas para melhor se aproveitarem dos recursos naturais, o que Santos (1995)

considerou como uma ruptura progressiva entre o homem e o meio entorno. Após o advento da

Revolução Industrial somado ao crescimento populacional mundial estes recursos foram sendo

cada vez mais explorados, através da “mecanização do planeta”, gerando maior degradação do

ambiente, escassez e desequilíbrio ecológico quanto à relação desigual entre uso e conservação.

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O homem é considerado o ser vivo com a maior capacidade para transformar, interferir

e alterar seu meio ambiente. Como qualquer outra espécie natural, o homem, só pela

sua presença, pesa sobre os ecossistemas, uma vez que retira destes os recursos para

assegurar sua sobrevivência e descarta neles as matérias usadas (BALIM, MOTA,

SILVA, 2014, p.167)

A utilização de matrizes energéticas não renováveis de origens fósseis, as atividades

de extrativismo (mineral, vegetal e animal), a evolução dos centros urbanos e industriais, o

adensamento populacional, o avanço do agronegócio e a intensificação do uso dos

agroquímicos geraram e ainda geram agravamentos ao ambiente, como: poluição atmosférica,

desmatamentos, desertificação, contaminação de águas superficiais e subterrâneas e

depauperamento do solo. Estes são os efeitos causados pelo estagnado modelo de produção em

grande escala a nível planetário, que gerou conflitos ambientais e sociais, Becker (2000).

A partir dos anos 60 e 70 do século XX, fica claro que a degradação ambiental e os

problemas e impactos daí decorrentes colocam em cheque a sobrevivência tanto do

modelo de desenvolvimento, como do próprio homem sobre a Terra (MUGGLER;

SOBRINHO; MACHADO, 2006, p.734)

Com isso a Conferência das Nações Unidas para o Meio ambiente realizada no ano de

1972, Estocolmo (Suécia), pode ser considerada um dos pontos de partida para as discussões

de proteção do meio ambiente e a promoção da Educação Ambiental em todos os países. Em

1975, lança-se em Belgrado (Iugoslávia), o Programa Internacional de Educação Ambiental, no

qual são definidos os princípios e orientações para o futuro (BRASIL, 2007). Em 1977,

aconteceu em Tbilisi (Geórgia), a Conferência Intergovernamental sobre Educação Ambiental,

cuja organização ocorreu a partir de uma parceria entre UNESCO e o então recente Programa

das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). Estes três encontros são marcos

referenciais para as discussões sobre uso consciente dos recursos naturais, sustentabilidade e

educação ambiental a nível mundial.

Outros tantos encontros ocorreram posteriormente com a participação de vários países,

agências intergovernamentais, cientistas, ambientalistas e sociedade civil, preocupados com as

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questões ambientais, entre estes encontros podemos citar: a Primeira Conferência Mundial das

Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio 92 – Eco 92). Nesse fórum

mundial, as questões relacionadas às crescentes necessidades de proteção ambiental e a falta de

solos férteis foram muito discutidas e divulgadas. Ficou evidente que esta questão ambiental

ultrapassa os meios científicos, devendo ser levada em conta nos programas governamentais e

no dia-a-dia das populações gerais, Lepsch (2002, p. 147).

As preocupações com o agravamento das questões ambientais resultou nos Tratados

de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global, outro

importante documento aprovado durante a Rio 92 foi a Agenda 21 – referente ao planejamento

participativo que resulta na análise da situação atual de um país, estado, município, região, setor

e planeja o futuro de forma socioambientalmente sustentável (BRASIL, 2007).

A Rio 92 foi primordial para consolidação da Educação Ambiental no Brasil, assim

como a institucionalização da política de Educação Ambiental no âmbito do Sistema Nacional

de Meio Ambiente (SISNAMA). Foram vários avanços durante a década de 1990, desde a

aprovação em 1997 dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) pelo Conselho Nacional de

Educação, que estabeleceu os parâmetros para Educação Ambiental, passando pela Lei n°

9.795/99, que dispõe sobre a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), com a criação

da Coordenação-Geral de Educação Ambiental (CGEA) no MEC e da Diretoria de Educação

Ambiental (DEA) no Ministério do Meio Ambiente (MMA), até a regulamentação definitiva

da Lei pelo Decreto n° 4.281 em 2002, que define entre outras coisas, a composição e as

competências do Órgão Gestor da PNEA, lançando assim as bases para a sua execução.

1.1- Consciência ambiental, Geografia e Ensino.

Nas primeiras décadas do século XXI germinaram sementes de uma consciência

ambiental trazida das décadas finais do século passado, são ideias vitais para as gerações

presentes e futuras, contudo extremamente frágeis se não forem efetivamente colocadas em

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prática. Contudo é preciso ponderar, pois se faz necessário uma abordagem sobre o meio

ambiente de forma mais abrangente, Santos (1995, p.702) expõe a seguinte premissa: não existe

meio-ambiente diferente de meio, e nos coloca a refletir a relação sociedade natureza,

considerando o meio entorno das sociedades como um dado essencial da vida humana, a fim de

evitar uma visão puramente ideológica da questão, uma visão puramente econômica ou uma

preocupação exclusivamente tópica.

O despertar da consciência ambiental depende de uma série de reflexões críticas sobre

o comportamento predatório do ser humano em relação aos recursos naturais, é necessário

mudanças no modo de produção e no habito de consumo, adoção de práticas sustentáveis,

implantação de infraestrutura verde e, resgate dos saberes e fazeres de comunidades

tradicionais, a fim de pensar e entender o ambiente como junção dos sistemas

antrópicos/culturais (social, circulatório e metabólico) com os sistemas naturais (geológicos,

hidrológicos e biológicos), (HERZOG & ROSA, 2010, p.98).

Neste sentido devemos salientar a importância da Geografia para essa reflexão e

compreensão da relação sociedade - natureza, pois são objetos que constituem o espaço

geográfico, Santos (2006, p.46) diz que “para os geógrafos, os objetos são tudo o que existe na

superfície da Terra, toda herança da história natural e todo resultado da ação humana que se

objetivou”. Através dos estudos da Geografia articulados a outras áreas do conhecimento

podemos compreender as interações sociais e as dinâmicas naturais agindo sobre o ambiente.

A Geografia como ciência está dividida em Geografia Física e Geografia Humana,

cada uma dessas vertentes é fragmentada em suas respectivas especializações. Porém Santos

(2006) coloca que “através da história dos objetos geográficos e da forma como foram

produzidos e mudam, essa Geografia Física e essa Geografia Humana se encontram”.

Suertegaray e Nunes (2006) também falam sobre esta aproximação, em um primeiro momento

na articulação entre sociedade e natureza durante o século XIX, ressaltando que não foi uma

tarefa fácil para os geógrafos, e depois em um segundo momento, após a década de 70, período

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que emerge a discussão ambiental e com ela o resgate da Ecologia e da ideia de relação entre

os organismos e seu ambiente.

A emergência da questão ambiental vai definir novos rumos à Geografia Física. Esta

tendência e a necessidade contemporânea fazem com que as preocupações dos

geógrafos atuais se vinculem à demanda ambiental. Por conseguinte, não abandonam

a compreensão da dinâmica da natureza, mas cada vez mais não desconhecem e

incorporam a suas análises a avaliação das derivações da natureza pela dinâmica

social. (SUERTEGARAY, NUNES, p. 16)

As questões ambientais possibilitam uma articulação entre os saberes da Geografia

Física e da Geografia Humana, não se trata de um conhecimento versus o outro e sim a soma

dessa multiplicidade de conhecimentos para uma compreensão mais complexa do ambiente.

Esta articulação de saberes aplicada à Educação em Solos é de fundamental importância para o

ensino-aprendizado da Geografia Escolar.

[...] no ensino, o desafio é saber como trabalhar esta Geografia que é uma e não

dividida em Geografia Humana e Geografia Física. Esta unidade pode-nos ser dada

como perspectiva, embora muitas vezes o ponto de partida para estudar seja um

fenômeno que afigure muito mais de um lado ou de outro (do humano ou físico).

Aliás, é preciso ficar claro que o que deve ser estudado é o fenômeno, a problemática

que se concretiza no espaço criando um novo espaço, modificado, alterado e os limites

postos (as fronteiras) dependem do interesse da análise, do que se quer abarcar [...].

(CALLAI, 1995, p.40).

Deve-se compreender que no campo do ensino-aprendizado, Geografia Humana e

Geografia Física são indissociáveis, visto que o ensino e suas práticas de transposição didáticas

tem por finalidade a inter-relação entre conhecimentos e não a especialização e fragmentação

do mesmo, para que alunos/as tenham uma formação que lhe possibilite aprender a pensar o

espaço (CALLAI, 2005), assim como compreender as “causas e as origens dos processos que

formam os espaços como ele são”, Kaercher (1998, p.163).

Neste sentido nos apropriamos da proposição de Paulo Freire que “não basta saber ler

que ‘Eva viu a uva’, é preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto

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social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”, e a incorporamos

ao ensino de Geografia em referência a Educação em solos, para uma leitura mais abrangente

quanto ao a sua formação, uso e ocupação.

Lepsch (2002, p.9) define que “Solo é a coleção de corpos naturais dinâmicos, que

contém matéria viva, e é resultante da ação do clima e da biosfera sobre a rocha, cuja

transformação em solo se realiza durante certo tempo e é influenciada pelo tipo de relevo”. No

entanto o conceito de solo pode variar segundo cada área do conhecimento, onde o significado

de solo é dado conforme a sua função de uso e significância.

Assim, para o agrônomo ou agricultor, o solo é o meio necessário para o

desenvolvimento de plantas, enquanto para o engenheiro é o material que serve para

base ou fundação de obras civis; para o geólogo, o solo é visto como produto de

alteração de rochas na superfície, enquanto para o arqueólogo é o material

fundamental para as suas pesquisas, por servir de registro das civilizações passadas.

Desta forma, cada uma das especialidades possui uma definição que atende seus

objetivos. (TOLEDO; OLIVEIRA e MELFI, 2000 p. 157).

Sendo assim podemos definir que no campo do ensino e aprendizado de geografia o

elemento solo não é apenas um conteúdo programático, mas pode ser utilizado como recurso

didático pedagógico com ênfase no significado da sua importância para a manutenção da vida

no planeta.

2 Materiais e Métodos

O projeto de extensão universitária “Trilhando pelos Solos” é uma demonstração da

importância da integração universidade e comunidade, através da Educação em Solos. As

atividades do projeto são desenvolvidas no Laboratório de Sedimentologia e Analise de Solos

(LabSolos)1, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP – campus

Presidente Prudente – SP, sob a coordenação do Prof. Drº João Osvaldo Rodrigues Nunes2.

1 http://labsolos.wixsite.com/labsolos 2 NUNES, João Osvaldo Rodrigues: Professor Doutor do Departamento de Geografia da Faculdade de Ciências e Tecnologia/ UNESP – Campus Presidente Prudente - SP

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O Trilhando pelos Solos é o acumulo das contribuições de docentes e discentes dos

cursos de Geografia, Pedagogia, Química e Engenharia Ambiental, tanto da graduação, quanto

da pós-graduação, o que favoreceu trocas de experiências, saberes e fazeres, propiciando

geração de ambiência para um aprendizado singular, capaz de aguçar a curiosidade dos/as

visitantes quanto à ciência do solo. Segundo Rego (2000),

Geração de ambiências significa a criação de relações pedagógicas entre educador e

educandos, num caráter assumidamente humanista, com a criação simultânea de

modos originais e participativos para a compreensão ativa do espaço vivido.

O Trilhando dispõe de um ambiente didático visualmente atrativo, com amostras de

solos, rochas e macropedolitos de diferentes lugares, maquetes, mapas físicos e morfológicos,

experimentos com solos, jogos de cartas, tabuleiros e quebra-cabeças.

Os cinco fatores de formação dos solos (material de origem, relevo, clima, organismos

e o tempo) e os processos de intemperismo, são apresentados a partir de amostras de rochas e

solos (fig.1 esquerda). Os macropedolitos (fig.1, direita) são perfis de solos coletados em

trabalhos de campo, servem para que os visitantes possam observar a morfologia dos solos,

seus horizontes diagnósticos e algumas características (cor, textura, estrutura, consistência e

outras) que podem ser comuns ou especificas de determinados tipos de solos.

Figura 1: Amostra de solos, rochas e macropedolitos – Fonte: Acervo LabSolos.

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As maquetes (fig.2) são utilizadas como forma de representação da paisagem, a partir

dessas simbologias trabalhamos as formas de relevo, uso e ocupação dos solos em áreas urbanas

e rurais, processos erosivos, contaminação dos solos e das águas, e práticas conservacionistas.

Figura 2: Maquetes – Fonte: Acervo LabSolos.

Alguns experimentos (fig.3) são realizados a fim de evidenciar que solos expostos são

mais suscetíveis aos processos erosivos, demonstramos a importância da cobertura vegetal e

da serrapilheira na contenção de desagregação de partículas de solo, outros experimentos são

relacionados a comparação entre solos arenosos e solos argilosos, permeabilidade e capacidade

de retenção da água, explorando os conceitos de macroporosidade e microporosidade.

Figura 3: mapas físicos e morfológicos, experimentos com solos – Fonte: Acervo LabSolos.

Os jogos de cartas, tabuleiros e quebra-cabeças (fig.4) são atividades dinâmicas e

práticas, com a finalidade de reforçar conceitos e processos referentes à formação e conservação

dos solos, esses recursos didáticos possibilitam avaliar se o visitante conseguiu se apropriar das

informações, assim como se consegue socializar o que aprendeu com os demais.

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Figura 4: jogos de cartas, tabuleiros e quebra-cabeças – Fonte: Acervo LabSolos.

Além dos materiais didático, o uso de diferentes linguagens lúdicas, como: animações

em stop motion, histórias em quadrinhos, flanelógrafo, teatro de bonecos e pinturas com solo

(fig.5), também contribuem para a compreensão da ação dos fatores de formação e dos

processos pedogenéticos.

Figura 5: Animação, história em quadrinhos, flanelógrafo e bonecos – Fonte: Acervo LabSolos.

o ensino fundamental, é necessário que partamos das paisagens visíveis e não de

conceitos (isso cabe mais ao ensino médio). Ou seja, os conceitos não devem

anteceder aos conteúdos. Estes devem propiciar que os alunos construam conceitos.

Por exemplo: antes de definir “democracia” ou “relevo” ou “modo de produção” é

importante construir no dia-a-dia relações cotidianas com os alunos e propiciar-lhes

condições para que entendam a importância destas- ou de outras ideias para a

geografia (KAERCHER, 1998 p.15)

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Estes são materiais didáticos indispensáveis para uma prática pedagógica dialógica,

diversificando metodologias de ensino para Educação em Solos, que torna a leitura dos

conceitos pedológicos e morfológicos menos abstratos, facilitando o entendimento teórico a

partir das relações cotidianas e atividades práticas, que visam estimular a construção de

conhecimentos.

2- Resultados e discussões

A Geografia física através da Educação em Solos pode contribuir imensuravelmente

para uma abordagem educativa ambiental crítica, comprometida com a interpretação das

realidades locais e suas transformações. Sobrinho (2006, p.8) salienta que a Educação em solos

permite ampliar a compreensão das questões ambientais e não apenas àquelas relacionadas ao

solo.

Segundo Callai (1995 p. 61) a construção do conhecimento se dá a partir da realidade

em que se vive, fazendo com que o aluno cresça, percebendo-se como cidadão, sendo crítico e

capaz de criar coisas novas ao invés de só repetir o que está pronto.

“Solo é um componente do ambiente natural e humano, presente no cotidiano das

pessoas, que é familiar a todos” (VAN BAREN et al., 1998) citado em (MUGGLER, et al.,

2006, p.735), esta familiaridade propícia um conjunto de leituras, observações e interações,

possibilita uma aprendizagem formal e informal, integra aspectos do meio biótico e abiótico,

físico-químico, socioeconômico, histórico-cultural.

A educação em Solos tem como principal objetivo trazer o significado da importância

do solo à vida das pessoas e, portanto, da necessidade da sua conservação e do seu

uso e ocupação (MUGGLER, SOBRINHO e MACHADO, 2005, p.733).

Dentro do campo do ensino-aprendizagem o solo pode ser utilizado como um recurso

pedagógico didático, principalmente nas séries iniciais ao auxiliar no desenvolvimento aluno/a,

quanto às relações espaciais, percepções sensoriais, assimilação do concreto com o abstrato,

descrição das observações empíricas e atividades práticas, como: modelagem de argila, pintura

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com solos, coleta de amostras de solos para comparações, catalogalização dos microrganismos

presentes no solo, jardinagem, compostagem, construção de terrários e outras atividades.

Estas práticas educativas fortalecem as relações pedagógicas, estabelecem relações

mais horizontais entre professores e alunos, propiciam uma socialização do aprendizado em via

de mão dupla, em “quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender”

(FREIRE 1996 p.12).

Dentro do Trilhando pelos Solos adotar essas práticas construtivas que priorizam o

ensino-aprendizado e aprendizado-ensino, contribuíram significativamente para a socialização

dos conhecimentos da Geografia Física articulados a Geografia Humana, para um diálogo

educativo ambiental crítico junto a Geografia Escolar através da Educação em Solos.

3- Considerações finais

O despertar de uma consciência ambiental deve ser compreendido como um

envolvimento sustentável, uma mudança de comportamento quanto ao uso e consumo dos

recursos naturais ainda disponíveis, através de uma abordagem educativa ambiental crítica.

A Geografia tem muito a contribuir com as reflexões teóricas e suas práticas empíricas,

tanto no campo acadêmico da produção do conhecimento, quanto no ambiente escolar através

de práticas construtivas que favoreçam a leitura do espaço geográfico e as interrelações pessoais

que compõe e produzem determinado espaço.

As transposições didáticas pensadas e elaboradas para facilitar a socialização do

conhecimento geram ambiências do saber, espaços de saberes formais e informais que se

articulam e rearticulam, visando a produção/construção de conhecimento, em substituição a

reprodução ou apenas transferência de conteúdo.

Através do projeto Trilhando pelos Solos foi possível perceber a necessidade de pensar

transposições didáticas que tornem os conceitos da Geografia física relacionados aos estudos

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de solos menos abstratos e, mais próximos da geografia vivida pelos visitantes, na busca de

fomentar e difundir a Educação em Solos para além do espaço acadêmico.

4- Referências Bibliográficas

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