20
A enfermagem, hoje, enfrenta o duplo desafio da recontextualizaçao e da expansão do seu papel na sociedade brasileira. As práticas da enfermagem para terem efetividade precisam encontrar, na dinâmica das mudanças em curso, a essencialidade e o foco de sua prática específica, pois uma profissão é um projeto em permanente construção com outros atores sociais da área, envolvidos na formulação e no processo de tomada de decisão do setor saúde. Daí a necessidade de diálogo permanente, em torno de áreas de interesse comum que fortaleçam o sentido da cooperação e a possibilidade de agendas de pactuação no lugar das convencionais disputas corporativas e competitivas. A ABEn se fortaleceu, principalmente, por manter um compromisso permanente com o desenvolvimento da educação e com a história da construção do conhecimento na enfermagem e sua difusão entre os profissionais de saúde, assim como sua aplicação na prática da enfermagem/saúde. Compromisso comprovado pelas iniciativas em criar e manter o principal acervo de teses da área e por sua participação na articulação do Colegiado de Coordenadores de Programas de Pós-graduação no período da gestão 1986/1989. O colegiado é um espaço privilegiado para o desenvolvimento técnico e político dos atores envolvidos e para ampliar a capacidade de formulação dos atores envolvidos com os programas. Considerando a importância do conhecimento para o desenvolvimento da enfermagem, reconhecemos o valor das instituições de ensino e dos grupos de pesquisadores com tradição em pesquisa de enfermagem e a necessidade de criação de políticas de incentivo a grupos de pesquisa nas fases de implantação e consolidação. Assim sendo, o fortalecimento permanente dessas instituições é uma das premissas da agenda de trabalho da ABEn. A ABEn tem como diretriz política promover a integração de todas as regiões brasileiras na construção de uma política nacional de desenvolvimento científico e tecnológico que valorize as potencialidades de cada região e propicie uma efetiva articulação das ações dos diferentes atores públicos e privados, locais e regionais, bem como a difusão e apropriação/incorporação do conhecimento técnico-científico na prática em enfermagem. A capacidade de articular atores institucionais e políticos dará as condições para o incremento da política de formação de novos pesquisadores, diante da necessidade de cobertura nacional, visando superar os desequilíbrios regionais. É importante observar o momento que vive a gestão nacional das ações programáticas de saúde, trabalho, educação e de ciência e tecnologia, que tendem a se colocar como espaços de construção de políticas públicas de Estado com a participação efetiva das entidades representativas da sociedade civil organizada, entre as quais estão as sociedades científicas/profissionais, como a ABEn. Uma política para a pós-graduação em enfermagem deve preservar a excelência que a tem caracterizado: aperfeiçoar a política de concessão de bolsas de formação e pesquisa, com vistas ao aumento do número de pesquisadores em atividade, à desconcentração regional da pesquisa e à garantia de oportunidades para uma efetiva inserção no debate científico e intercâmbio internacional. Além disso, assegurar o suporte à infra-estrutura de pesquisa, pois é condição fundamental para o desenvolvimento da capacidade científica e tecnológica. Por outro lado, deve também dar respostas às demandas sociais que indicam a necessidade de políticas e programas que incentivem a implantação e consolidação de programas de pós-graduação nas Regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste. Edward Burne-Jones (detalhe) ISSN 1518-0948 IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO Nº 0701/02 ECT/DR/RN ABEn - Assoc. Bras. de Enf. ACF B. GONÇALVES Compromisso com o desenvolvimento da educação e com a história da construção do conhecimento na enfermagem Francisca Valda da Silva Presidenta da ABEn Ajustando contas/Pavilhão do leitor Agenda de trabalho ABEn Notícias Especial Pesquisa e Pós-graduação Memória ABEn 02 03 04 07 19 Ajustando contas/Pavilhão do leitor Agenda de trabalho ABEn Notícias Especial Pesquisa e Pós-graduação Memória ABEn 02 03 04 07 19 O conhecimento é uma aventura em espiral que tem um ponto de partida histórico. Edgar Morin

educação e com a história da construção · e os representantes dos grupos técnicos da IEPE e do Programa Sustentabilidade na Implantação das Diretrizes Nacionais Curriculares

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Page 1: educação e com a história da construção · e os representantes dos grupos técnicos da IEPE e do Programa Sustentabilidade na Implantação das Diretrizes Nacionais Curriculares

A enfermagem, hoje, enfrenta o duplo desafio da recontextualizaçao e da expansãodo seu papel na sociedade brasileira. As práticas da enfermagem para teremefetividade precisam encontrar, na dinâmica das mudanças em curso, aessencialidade e o foco de sua prática específica, pois uma profissão é um projeto empermanente construção com outros atores sociais da área, envolvidos na formulaçãoe no processo de tomada de decisão do setor saúde. Daí a necessidade de diálogopermanente, em torno de áreas de interesse comum que fortaleçam o sentido dacooperação e a possibilidade de agendas de pactuação no lugar das convencionaisdisputas corporativas e competitivas.

A ABEn se fortaleceu, principalmente, por manter um compromisso permanentecom o desenvolvimento da educação e com a história da construção do conhecimentona enfermagem e sua difusão entre os profissionais de saúde, assim como sua aplicaçãona prática da enfermagem/saúde. Compromisso comprovado pelas iniciativas emcriar e manter o principal acervo de teses da área e por sua participação na articulaçãodo Colegiado de Coordenadores de Programas de Pós-graduação no período dagestão 1986/1989. O colegiado é um espaço privilegiado para o desenvolvimentotécnico e político dos atores envolvidos e para ampliar a capacidade de formulaçãodos atores envolvidos com os programas.

Considerando a importância do conhecimento para o desenvolvimento daenfermagem, reconhecemos o valor das instituições de ensino e dos grupos depesquisadores com tradição em pesquisa de enfermagem e a necessidade de criaçãode políticas de incentivo a grupos de pesquisa nas fases de implantação e consolidação.Assim sendo, o fortalecimento permanente dessas instituições é uma das premissasda agenda de trabalho da ABEn.

A ABEn tem como diretriz política promover a integração de todas as regiõesbrasileiras na construção de uma política nacional de desenvolvimento científico etecnológico que valorize as potencialidades de cada região e propicie uma efetivaarticulação das ações dos diferentes atores públicos e privados, locais e regionais,bem como a difusão e apropriação/incorporação do conhecimento técnico-científicona prática em enfermagem. A capacidade de articular atores institucionais e políticosdará as condições para o incremento da política de formação de novos pesquisadores,diante da necessidade de cobertura nacional, visando superar os desequilíbriosregionais.

É importante observar o momento que vive a gestão nacional das açõesprogramáticas de saúde, trabalho, educação e de ciência e tecnologia, que tendema se colocar como espaços de construção de políticas públicas de Estado com aparticipação efetiva das entidades representativas da sociedade civil organizada,entre as quais estão as sociedades científicas/profissionais, como a ABEn.

Uma política para a pós-graduação em enfermagem deve preservar a excelênciaque a tem caracterizado: aperfeiçoar a política de concessão de bolsas de formaçãoe pesquisa, com vistas ao aumento do número de pesquisadores em atividade, àdesconcentração regional da pesquisa e à garantia de oportunidades para umaefetiva inserção no debate científico e intercâmbio internacional. Além disso, asseguraro suporte à infra-estrutura de pesquisa, pois é condição fundamental para odesenvolvimento da capacidade científica e tecnológica. Por outro lado, deve tambémdar respostas às demandas sociais que indicam a necessidade de políticas e programasque incentivem a implantação e consolidação de programas de pós-graduação nasRegiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste.

Edward Burne-Jones (detalhe)

ISS

N 1

518-

0948

IMPRESSO ESPECIAL

CONTRATO Nº 0701/02

ECT/DR/RN

ABEn - Assoc. Bras. de Enf.

ACF B. GONÇALVES

Compromisso com o desenvolvimento daeducação e com a história da construçãodo conhecimento na enfermagem

Francisca Valda da SilvaPresidenta da ABEn

Aju s t a n d o con t a s /P a vi lh ã o d o le i t orA g e n d a d e t r a ba lh o AB E n

N ot íci a sE s p ecia l P es qu is a e P ós -gr a d u a çã o

M e m ór i a AB E n

0 20 30 40 71 9

Aju s t a n d o con t a s /P a vi lh ã o d o le i t orA g e n d a d e t r a ba lh o AB E n

N ot íci a sE s p ecia l P es qu is a e P ós -gr a d u a çã o

M e m ór i a AB E n

0 20 30 40 71 9

O conhecimento é umaaventura em espiral que tem

um ponto de partidahistórico.

Edgar Morin

Page 2: educação e com a história da construção · e os representantes dos grupos técnicos da IEPE e do Programa Sustentabilidade na Implantação das Diretrizes Nacionais Curriculares

E X P E D I E N T EDiretoria da ABEn

Presidenta: Francisca Valda da Silva

Vice-presidenta: Maria Celi de Albuquerque

Secretária-geral: Maria da Glória Lima

Primeira Secretária: Maria Ângela Alves do Nascimento

Primeiro Tesoureiro: Carlos Eduardo dos Santos

Segunda Tesoureira: Marysia Alves da Silva

Diretora de Assuntos Profissionais: Lúcia de Fátima da Silva

Diretor de Publicações e Comunicação Social: Joel R. Mancia

Diretora Científico-cultural: Sandra Andreoni de O. Ribeiro

ABEn - Jornal da Associação Brasileira de Enfermagem -Brasília/DF Ano 45 N. 3Conselho editorial: Francisca Valda Silva, Milta Neide Freire

Barron Torrez, Lúcia de Fátima da Silva, Sandra Andreoni de

O. Ribeiro, Jane Lynn Garrison Dytz.

Coordenação editorial e gráfica: UNA produção gráfico-editorial

(84) 9988-2812/6412138 - [email protected] responsável: Marize CastroDiagramação e arte final: Alessandro AmaralRevisão: Risoleide Rosa

SGAN Quadra 603 Avenida L2 NorteConjunto B Asa Norte CEP 70.830-030Brasília DF - Fone (61) 225 4473 - Fax 226 0653E-mail [email protected] www.abennacional.org.br

A ABEn agradece a Alzirene Nunes de Carvalho e a Janete Lima de Castro pela assessoria na realização desta edição.

Esta edição foi financiada pelo Programa de Sustentabilidade para a Implantação das Diretrizes Curriculares dos Cursos deGraduação em Enfermagem / Cooperação ABEn / Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde-MS.

Receitas operacionaisContribuição de associadosRealização de congressoReceita de aplicações financeirasAssinatura da RebenConvêniosReceitas diversasDespesas operacionaisDespesas com administraçãoPessoal e encargosMaterial de consumoServ. terc. e encargosDespesas financeirasImpostos e taxasContrib. a ent. de classeDespesas com a diretoriaDespesas com diretoriasCepenDivulgação e publicaçãoEducaçãoCentífico-culturalAssuntos profissionaisProjeto Unesco/ProfaePrograma de SustentabilidadeResultado operacionalReceita extra-operacionalDoações recebidasResultado do período

Demonstrativo de resultados1º/01/2003 a 30/09/2003

128.892,11124.151,4521.600,8063.517,30

133.931,601.133,17

253.657,85

12.847,0529.923,2274.346,95

700,60116.097,21

-

473.226,43

495.572,88

(13.504,67)

(22.346,45)-

(22.346,45)

100.560,2819.996,22

117.586,871.910,12

13.604,36

1.660,9971.609,89

75,0080,00

921,07

-

A j u s t a n d o c o n t a s P a v i l h ã o d o l e i t o r

Balanço patrimonial da ABEn1º/01/2003 a 30/09/2003

A T I V O

Ativo circulante 244.743,92 Passivo circulante 89.306,05

Fundo fixo 1.232,16 Enc. fiscais e trabalhistas 773,71

Bancos c/movimento 2.749,69 Convênios a aplicar 82.117,34

Bancos c/aplic.financeira 181.461,55 Outras contas a pagar 6.415,00

Adiantamentos concedidos 59.300,52

Créditos diversos -

Ativo permanente 3.616.096,32 Patrimônio líquido 3.771.534,19

Maq., equip. e instalações 37.767,06 Patrimônio social 3.793.880,64

Móveis e utensílios 41.000,37 Resultado do período (22.346,45)

Edifícios 3.704.088,45

Equip. de informática 25.357,83

Direito de uso linha tel. -

(-) Depreciações (192.117,39)

Total do ativo 3.860.840,24 Total do passivo 3.860.840,24

Diretora de Educação: Milta Neide Freire Barron Torrez

Diretora do Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem:

Jane Lynn Garrison Dytz

Membros do Conselho Fiscal: Rosilda Silva Dias, Maria do

Livramento Figueiredo Carvalho, Maria Emilia de Oliveira.

26º Encontro Nacional dos Estudantes de Enfermagem

De 20 a 26 de julho, em Recife-PE, estudantes de enfermagem de todo o Brasilestiveram reunidos no 26º Encontro Nacional do Estudantes de Enfermagem(ENEEn). Promovido pela Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem(ENEEnf) e organizado pelos DAs Identidade (UPE) e Fundamental (UFPE),esse encontro teve como tema central “Enfermagem: a prática vigente, suarepresentação social e seus novos rumos”.

Esse encontro foi um espaço para que estudantes pudessem refletir, trocandoexperiências sobre a situação geral do país, da educação, da saúde e daenfermagem, e construir coletivamente propostas para intervenção do MovimentoEstudantil de Enfermagem.

Com uma metodologia diferente dos últimos encontros, o ENEEn deste anofoi organizado por eixos temáticos que iam de uma discussão mais geral sobreconjuntura até chegar a uma discussão mais específica sobre enfermagem. Oseixos foram: “Conjuntura”, Mercantilização da Educação”, “O SUS naContração do neoliberalismo”, “O reflexo da formação da enfermagem na saúde”e “ Que outra enfermagem nós queremos?” Tais eixos foram trabalhados empainéis, grupos de discussão e em grupos de trabalho. Outra inovação foram asoficinas A primeira vez a gente nunca esquece”, para iniciantes no MovimentoEstudantil, e “Trabalho de base e movimentos sociais”, para os DAs e CAs.

Merece destaque ainda o ato público que levou para as ruas do centro doRecife um manifesto em defesa do SUS, chamando a atenção da populaçãopara a importância da sua participação no controle social. Os acadêmicostomaram todos os espaços alegremente, soltando a voz em defesa do movimentoestudantil, do SUS, do controle social e contra a política neoliberal.Mais queuma bela e encantadora cidade, com pontos turísticos mundialmente admirados,Recife transformou-se, por alguns dias, num pólo de discussões e debates sobre aenfermagem e seus caminhos.

Curitiba foi a cidade escolhida na Assembléia Final do ENEEn para sediaro próximo Encontro Nacional, a nova gestão do ENEEnf traz como principalpropósito uma maior aproximação dos estudantes do movimento estudantil deenfermagem. Assim, desde já, desejamos que nesse futuro encontro tenhamosuma participação cada vez mais expressiva de estudantes.

Para finalizar, lembramos que de 31 a 2 de novembro, estará ocorrendo o 81ºConselho Nacional de Entidades Estudantis de Enfermagem (CONEENF)que terá como tema “O protagonismo das entidades de base na construção domovimento estudantil de enfermagem”. Será sediado pelo CAMAR-USP, emRibeirão Preto. Salientamos que esse será um espaço para trocarmos esocialibizarmos nossas ações e idéias. Mais informações no site www.eerp.usp.br/camar/eventos/coneenf81.

Executiva Nacional dos Estudantes de Enfermagem (ENEEnf)

Parlamentares cumprimentam ABEn

Francisca Valda da Silva recebeu correspondências dos senadores Papaleo Paes,Sergio Guerra, Mozarildo Cavalcanti e Marcelo Crivela, cumprimentando aAssociação pelas últimas edições dos jornal da ABEn.

As cartas poderão ser resumidas e revisadas por questão de espaço e clareza desentido.

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ABEn Nacional e ABEn-DF, no dia 16 de julho, organizaram com a FNE, ENEEnf e FEPPEn um café damanhã para o ministro da Saúde, Humberto Costa, parlamentares, representantes do FENTAS, CNTSS,CNTS, CIRH e do Conselho Nacional de Saúde. Na pauta estavam os seguintes assuntos: 12a. ConferênciaNacional de Saúde, projetos de lei em tramitação, 7o SENADEn, 11o CPEn, 55o CBEn, além de projetos decooperação técnica entre a ABEn e o Ministério da Saúde.

ABEn e FNE participaram, em 22 de julho de 2003, de reunião com Maria Luíza Jaeger (SEGETE-MS)e Jorge Sola (SAS-MS). Na pauta, a discussão da aprovação do PL das 30 horas sem emendas, ou seja, comooriginalmente foi proposto. Pelo resultado das discussões, ficou claro que ainda há um longo caminho a serpercorrido em busca do reconhecimento legal desse direito. Nessa reunião, a Associação Brasileira deEnfermagem foi representada por sua secretária-geral Maria da Glória Lima.

Estiveram reunidos nos dias 1º e 21 de agosto, na sede da OPAS, em Brasília, os representantes institucionaise os representantes dos grupos técnicos da IEPE e do Programa Sustentabilidade na Implantação dasDiretrizes Nacionais Curriculares dos Cursos de Graduação em Enfermagem. O objetivo dos encontros foidiscutir e acordar alguns encaminhamentos em torno da Agenda de Cooperação ABEn/OPAS-IEPE.

Na pauta: contrato de cooperação técnica entre ABEn/OPAS-IEPE; contrato de cooperação técnicaentre ABEn/SEGETE-MS/OPAS-Programa Sustentabilidade; articulação IEPE/Programa Sustentabilidade;programação agenda Fase I da IEPE (7o SENADEn, 11º. CPEn, 55º CBEn e fórum de discussão sobreeducação permanente); discussão das bases para uma nova fase da IEPE e agenda de implantação da IEPEnos Estados.

Foram feitos os seguintes encaminhamentos: formalização do termo de cooperação ABEn/OPAS;elaboração do termo aditivo ABEn/EEUFMG; doação de kit Estação de Trabalho pela OPAS à Diretoria deEducação da ABEn para apoiar as atividades da IEPE; e doação de kit Estação de Trabalho à escola deenfermagem indicada como centro dinamizador da IEPE.

Essas reuniões contaram com a participação de José Paranaguá de Santana, Francisca Valda da Silva,Jane Lynn, Maria da Glória Lima, Milta Torres, Eliane Palhares e Abigail Moura.

Em 18 de agosto, a ABEn participou como convidada da SEGETE-MS, do Seminário sobre Regulação doExercício Profissional no Mercosul. Organizado pelo DEGE/SEGETE-MS, o evento foi coordenado porMaria Helena Machado. A representação da ABEn foi feita pelas professoras Francisca Valda da Silva eLúcia de Fátima da Silva, respectivamente presidenta e diretora de Assuntos Profissionais da ABEn-Nacional.

A ABEn, nos dias 20 e 21 de agosto de 2003, participou do Seminário de Educação Permanente, promovidopelo DEGE/SEGETE-MS. Representaram a Associação Francisca Valda da Silva, Maria da Glória Lima eEliane Palhares.

Em 3 de setembro, a ABEn, representada por sua presidenta Francisca Valda da Silva, participou do Grupode Trabalho para Estudo das Necessidades de Profissionais de Saúde no País, coordenado pelo DEGE/SEGETE-MS. A discussão acumulada fortaleceu a proposta de uma pesquisa nacional que será encaminhadapelo coordenador do DEGE, Ricardo Ceccin.

Em 19 de agosto e 25 de setembro, aconteceram duas reuniões da CIRH. Na pauta foram abordadas arecontextualização do papel da CIRH, a programação da 12a Conferência Nacional de Saúde e a organizaçãoda oficina de planejamento estratégico da CIRH. Participaram dessas reuniões a presidenta da ABEn,Francisca Valda da Silva e a coordenadora da CIRH, Maria Natividade Santana.

A ABEn participou do Seminário Nacional sobre Política de Desprecarização das Relações de Trabalho noSUS, promovido pelo Departamento de Gestão e da Regulação do Trabalho em Saúde-SEGETE/MS, nosdias 26 e 27 de agosto, na sede da OPAS, em Brasília. A Associação foi representada por Lúcia de Fátima daSilva, diretora de Assuntos Profissionais da ABEn Nacional.

Com o tema “Construindo saberes e práticas na enfermagem: um enfoque na saúde da família”, a ABEn-PR realizou de 27 a 29 de agosto de 2003, em Curitiba, o XIII ENFSUL. Como atividades prévias aconteceramcursos, oficinas e uma reunião do Fórum de Escolas de Enfermagem do Paraná.

A ABEn-PB realizou de 5 a 9 de setembro, em João Pessoa, o XIX ENFNORDESTE. Durante esse encontroaconteceu reunião do Fórum Regional de Escolas de Enfermagem.

A ABEn-SC realizou o 1o SITEn, contando com expressivo contingente de enfermeiros docentes e deserviço, sindicalistas e estudantes de graduação. Em clima de ampla participação, a plenária final deliberouque as entidades devem encaminhar um calendário de discussão abrangente sobre a organização política daenfermagem brasileira, objetivando uma tomada de decisão coletiva até 2004 (ver mais informações na seçãoNotícias desta edição).

A organização do 11o Congresso Panamericano de Enfermeria e do 55º Congresso Brasileiro de Enfermagemcaminha em ritmo acelerado, com grande potencial de mobilização dos atores sociais internos da enfermagem:entidades de enfermagem, escolas, pesquisadores, gestores da rede de serviços. Esses dois importantes encontrospara a enfermagem brasileira, sob a luz do tema “Vida com justiça social”, serão realizados de 10 a 15 denovembro de 2003, no Rio de Janeiro ( ver a seção Notícias desta edição).

ABEnjul.ago.set. 2003 3

A g e n d a d e t r a b a l h o A B E n

O ministro Humberto Costa, parlamentares erepresentantes de entidades da saúde, na sede daABEn

A presidenta da ABEn durante sua fala no1º SITEn

Seminário Internacional sobre o Trabalho naEnfermagem, promovido pela ABEn-SC, emFlorianópolis, de 7 a 9 de agosto

Fotos: Acervo ABEn

O ministro da Saúde no café da manhãorganizado pelas entidades de saúde

Page 4: educação e com a história da construção · e os representantes dos grupos técnicos da IEPE e do Programa Sustentabilidade na Implantação das Diretrizes Nacionais Curriculares

ABEnjul.ago.set. 20034

SENADEn supera expectativasO 7º Seminário Nacional de Diretrizes para aEducação em Enfermagem (SENADEn), organizadopela ABEn-Seção Distrito Federal, ocorrido entre osdias 18 e 21 de setembro de 2003, em Brasília, cumpriuseus objetivos iniciais e superou as expectativas quantoao arcabouço teórico-técnico nele produzido.

O evento contou com a participação de 417pessoas entre enfermeiros docentes e da assistência,auxiliares e técnicos de enfermagem, estudantes deenfermagem de nível técnico, graduação e pós-graduação. A ABEn recebeu em Brasíliarepresentantes da enfermagem de todas as partes doBrasil, que, durante as diversas mesas-redondas,oficinas e seções de pôsteres animados, deixaram suascontribuições e enriqueceram as discussões das quaisresultarão a Carta de Brasília, na qual se pretendedivulgar as diretrizes traçadas para a educação emenfermagem no País.

O documento final de cada edição doSENADEn reflete os anseios e necessidades dosprofissionais e estudantes de educação emenfermagem, tendo subsidiado ações inovadoras emvárias escolas e cursos de enfermagem pelo Brasil econtribuído significativamente para os avançosalcançados na área de formação dos profissionais.

Escola deEnfermagem

da UFMGcompleta 70

anosA Escola de Enfermagem da UFMG completou, no

dia 7 de julho deste ano, 70 anos de existência. Desua criação, em 1933, até os dias atuais, a Escola

passou por profundas transformações e hojeexperimenta um crescimento e uma visibilidadeinegáveis na área do ensino de graduação, pós-

graduação, pesquisa e extensão.Com a criação do curso de mestrado, em 1994,

observou-se um forte impulso na pós-graduação,constituindo-se em uma referência para os

profissionais de Minas Gerais e de outros estados,tendo sido formados até então 138 mestres. Neste

momento, a Escola se prepara para a criação do seucurso de doutorado como uma forma de ampliar o

contingente de recursos humanos capacitados para apesquisa e o ensino em enfermagem.

Na modalidade Educação a Distância, salienta-se a participação da Escola na Iniciativa de Educação

Permanente em Enfermagem (IEPE), projeto daAssociação Brasileira de Enfermagem apoiado pela

Organização Pan-americana de Saúde (OPAS).

Escola de Enfermagem de Ribeirão Pretorealizou simpósio internacional paracomemorar os seus 50 anosEm comemoração a seu Jubileu de Ouro, a Escola deEnfermagem de Ribeirão Preto/USP (EERP/USP)realizou o Simpósio Internacional “Inovação eDifusão do Conhecimento em Enfermagem”, noperíodo de 5 a 7 de agosto de 2003.

O evento discutiu questões como o papel socialda enfermagem, pesquisa e difusão do conhecimentona conquista do desenvolvimento sustentado,educação e cidadania, além de aspectos históricos daEERP/USP e a sua contribuição para o avanço daenfermagem brasileira. Dele participaram 392profissionais da saúde, sendo 376 do Brasil, oriundosde 13 unidades federativas e 16 enfermeiros dosseguintes países: Suíça, Angola, Canadá, Inglaterra,Colômbia, Estados Unidos, México e Portugal.

Segundo Isabel Amélia Costa Mendes, diretorada EERP/USP e do Centro Colaborador da OMSpara o desenvolvimento da pesquisa em enfermagem,e Ida Mara Brunelli da Silveira, assistente técnicaacadêmica da Escola, atualmente a EERP, bem comoas demais unidades da USP, inicia um processo deavaliação institucional e o delineamento do seuprojeto acadêmico para os próximos dez anos. Asmensagens dos conferencistas e os contatos pessoaisproporcionados pelo evento certamente contribuirãonesse processo, indicando caminhos a serempercorridos na construção do futuro, que aponta umgrande número de desafios.

Reflexões para os profissionais deenfermagem

Num texto assumidamente provocador Marta deFatima Lima Barbosa, Sandra Bittar e Fernando

Porto convidaram os profissionais da enfermagem detodo o País para o 110 Congreso Panamericano de

Profesionales de Enfermería e para o 550 CongressoBrasileiro de Enfermagem, ambos a se realizarem de

10 a 15 de novembro, no Rio de Janeiro.Eis alguns trechos desse texto:

Já fez sua inscrição para 110 Congreso Panamericanode Profesionales de Enfermería e o 550 CongressoBrasileiro de Enfermagem ?A resposta a esta questão, talvez, implica reflexões,certamente, já desenvolvidas por você ao sequestionar sobre aspectos de sua vida pessoal,profissional e social, e aqui tomamos a liberdade delhe propor um exercício de pensar alguns aspectosrelacionados ao seu dia-a-dia, quais sejam:Que sentimentos e emoções lhe fazem decidir ir auma festa, a um jogo de futebol, a um encontro comos amigos? O que você sente quando vê lágrimas nosolhos de uma futura mamãe ao escutar, pela primeiravez, o “coraçãozinho” do bebê que está em seuventre? Como você entende os comportamentosdiferentes dos indivíduos diante de um mesmo fato?Qual é o seu sentimento diante de um cliente querecebeu alta pelo restabelecimento de sua saúde,sabendo que o diagnóstico de enfermagem e aimplementação das ações de enfermagemcontribuíram para esta alta? [...]Se você entende que o 110 Congreso Panamericano deProfesionales de Enfermería e o 550 CongressoBrasileiro de Enfermagem representam umapossibilidade efetiva de congraçamento, atualização,

aprofundamento, aperfeiçoamento, reflexão,questionamento, troca de experiências, como tambéma possibilidade de mobilizar questões adormecidas ounão vividas, as quais você não teve a oportunidade dediscutir/escutar/pensar/acreditar, com certeza, vocênão pensará duas vezes antes de decidir sua vindapara os congressos. [...]

ABEn amplia instalações do Centro dePesquisaO Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem(CEPEn) no mês de setembro de 2003, ampliou suasinstalações na sede da ABEn Nacional.

Segundo a bibliotecária do CEPEn, SôniaKazuko Sakai Teixeira, a grande preocupação desseCentro de Pesquisa é de proporcionar ao usuário umbom atendimento e de qualidade. Com esse objetivoforam efetuados levantamentos bibliográficos e estãosendo feitas orientações aos leitores em suas pesquisas.O acervo de teses e dissertações do CEPEn já possuimais de 3.500 trabalhos registrados, disponíveis paraconsulta e reprodução. Além disso, o CEPEn tambémé responsável pela indexação dos artigos da RevistaBrasileira de Enfermagem na alimentação das Basesde Dados LILACS e BDENF e continua a atendernormalmente o Serviço Cooperativo de Acesso aoDocumento (SCAD). O SCAD foi introduzido noCEPEn a partir de 27 de novembro de 2002, porocasião da assinatura do Convênio BIREME/OPAS,cuja finalidade é garantir o acesso ao texto completodos documentos científicos registrados em LILACS,assim como o acesso ao texto completo de artigos derevistas que fazem parte das coleções das bibliotecasda Rede (Convênio BIREME).

A Iniciativa de Educação Permanente emEnfermagem consolida-se em 2003

A Iniciativa de Educação Permanente emEnfermagem (IEPE), desde seu lançamento no 54ª.Congresso Brasileiro de Enfermagem, em novembro

de 2002, tem feito esforços para o oferecimento deatividades de capacitação de enfermeiros, utilizando

os recursos da Internet. As atividades realizadas em2003 foram as seguintes:

• 12º SENPE – realização da Oficina de Planejamentoda IEPE/2003, com a participação de 19 escolas degraduação, na qual foi definida, como prioridade, arealização de fóruns virtuais de discussão,operacionalizados no website IEPE(www.abennacional.org.br/IEPE), com o objetivo dediscutir o conceito de educação permanente e suaaplicação na enfermagem.

• 1º Curso Internet no Ensino de Enfermagem (em parceriacom o NUTES/UFRJ).

• 1º Fórum Virtual de Discussão – aberto a docentes eenfermeiros inseridos nas unidades prestadoras de serviçosde saúde, limitado a um número de 40 participantes. Atemática deste primeiro Fórum é “Educação Permanentecomo Desafio para a Enfermagem” e tem por objetivo aconstrução de um conceito de educação permanente quesirva de guia para as atividades da IEPE, bem como adefinição de eixos temáticos para o desenvolvimento dasatividades da Rede. A moderadora deste fórum é aprofessora. Helena S. Leal David, especialista emeducação a distância, docente da UERJ e membro dogrupo técnico da IEPE.

• 7º SENADEn – realização de oficina de trabalho com

N o t í c i a s

Page 5: educação e com a história da construção · e os representantes dos grupos técnicos da IEPE e do Programa Sustentabilidade na Implantação das Diretrizes Nacionais Curriculares

ABEnjul.ago.set. 2003 5

a seguinte pauta: apresentação da avaliação do CursoInternet no Ensino de Enfermagem; resultados parciaisdo primeiro fórum virtual; levantamento daspossibilidades de desenvolvimento de atividades deeducação permanente pelas escolas de graduaçãoenvolvidas com a IEPE e a construção da agenda detrabalho para o período outubro de 2003 a outubro de2004.

ABEn participa de discussões sobre aDesprecarização das Relações de Trabalhono SUSA Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educaçãona Saúde do Ministério da Saúde, através do seuDepartamento de Gestão e da Regulação doTrabalho em Saúde, promoveu, nos dias 26 e 27 deagosto de 2003, o Seminário Nacional sobre Políticade Desprecarização das Relações de Trabalho noSUS. Os objetivos foram analisar alternativas de açãoe as medidas já tomadas pelos gestores do SUS paracombater a precariedade do trabalho e apresentar edebater as bases do Programa Nacional deDesprecarização do Trabalho em Saúde.

Foram chamados ao debate órgãosgovernamentais e não governamentais, dentre eles, aAssociação Brasileira de Enfermagem, representadapela diretora de Assuntos Profissionais, Lúcia deFátima da Silva.

O Seminário originou-se da preocupação doMinistério da Saúde com o aumento do número depessoas que se encontram em condições de trabalhoprecário no Sistema Único de Saúde. Talprecariedade diz respeito à prestação de serviçospúblicos no SUS por trabalhadores sem o devidovínculo empregatício e, conseqüentemente, sem adevida cobertura de direitos trabalhistas legais. Trata-se de uma situação de malefício social que há muitovinha e vem preocupando os trabalhadores na áreada saúde e, de modo especial, os da enfermagem.

ABEn é convidada para audiência públicano Ministério da Educação

A ABEn participou, a convite do Ministério daEducação, de audiência pública realizada no dia 3

de junho deste ano, em Brasília-DF. A finalidade doencontro foi receber as contribuições advindas dassociedades científicas para a elaboração do Plano

Plurianual da Pós-graduação – 2004/2007,especialmente no que diz respeito a propostas

estruturantes que possam contribuir na reformulaçãodas políticas e processos em uso nos últimos anos.

Uma das preocupações do governo atual é umadistribuição mais eqüilitária dos recursos.A Associação Brasileira de Enfermagem,

representada pela diretora do CEPEn, a professoraJane Lynn Dytz, encaminhou formalmente algumas

sugestões e proposições para a pós-graduação emenfermagem. Entre elas, está o programa

Sustentabilidade da Educação: gestão moderna efinanciamento ampliado - que permeia todos os

programas,.cujo objetivo é ampliar a sustentabilidade da

educação pública por meio da implantação de umagestão moderna e da busca de novas fontes de

financiamentos com base em princípios dademocracia, da racionalização dos meios, da busca de

novos mecanismos de financiamento, datransparência das informações, do acompanhamento

e avaliação das ações (ver documento na íntegra nosite da ABEn).

CEPEn participa de discussão sobrecriação de uma biblioteca virtual emenfermagemA Diretoria do CEPEn participou, no dia 26 desetembro, em Belo Horizonte-MG, de reuniãocoordenada pelo diretor da escola de Enfermagem daUFMG para discutir a proposta de criação de umabiblioteca virtual em enfermagem, com utilização domodelo e metodologia BIREME/BVS. Estiverampresentes representantes da Revista Latino-Americana-USP/Ribeirão Preto, da Escola deEnfermagem Anna Nery, da Universidade de SantaCatarina, da BIREME, da Biblioteca Baeta Vianna,da Escola de Enfermagem da Universidade Federalde Minas Gerais, além do diretor de Tecnologia daInformação da UFMG. Nessa reunião, foi feita umaapresentação da metodologia BVS e seus subprojetose discutiram-se possíveis estratégias de construção eimplantação da proposta. A ABEn ficou responsávelpela elaboração do projeto Portal de Teses.

Maria Celi de Albuquerque representaABEn na 55ª Reunião Anual da Sociedade

Brasileira para o Progresso da CiênciaA ABEn, como uma das sociedades científicas

vinculadas, foi convidada para participar da 55ªReunião Anual da Sociedade Brasileira para o

Progresso da Ciência (SBPC), realizada de 13 a 18 dejulho de 2003, na Universidade Federal de

Pernambuco, em Recife. Maria Celi de Albuquerque,vice-presidenta da ABEn, representou a Associação

no evento. Este ano a programação da ABEn foielaborada com a participação da Seção Pernambuco

e Seção Alagoas.

Jornais e catálogos on lineInicia-se uma nova fase dos periódicos e Catálogos dePesquisa da ABEn Nacional. Os jornais e catálogosestão disponibilizados gratuitamente para a leitura.Para acessá-los o usuário deverá acessar o sitewww.abennacional.org.br.

Parlamentares e entidades de saúdeapóiam consolidação do SUS

No dia 3 de setembro de 2003, o Centro CulturalZumbi dos Palmares, na Câmara dos Deputados, emBrasília, foi palco para mais um capítulo da históriada saúde no Brasil. Parlamentares e várias entidades

de saúde, inclusive a ABEn, representada por suapresidenta, realizaram ato de apoio à consolidação

do Sistema Único de Saúde.Foi lida uma nota de apoio ao ministro

Humberto Costa, destacando, entre outrosimportantes pontos da sua gestão, a reorganização

das Secretarias com o objetivo de fortalecer o trabalhoem equipe e a reinstalação da Mesa Nacional deNegociação do SUS, para discutir as relações de

trabalho e planejar políticas permanentes deformação e qualificação profissional.

N o t í c i a s

Conselho Nacional deSaúde tentaestabelecer critériospara barrar novoscursos de graduaçãona saúdeO Conselho Nacional deSaúde (CNS), presidido

pelo ministro Humberto Costa (foto), recomendou aoMinistério da Educação suspender autorizações parafuncionamento de novos cursos na área da saúde,com o objetivo de evitar a abertura indiscriminada decursos que em geral ficam concentrados nas regiõessul e sudeste.

O CNS tomou uma posição firme na direção daregulação da abertura de cursos superiores na área dasaúde, ao deliberar pela suspensão da abertura decursos por um período de 180 dias a partir do iníciode julho, com a aprovação de resolução publicada noDiário Oficial da União.

Enquanto isso, a Secretaria de Gestão doTrabalho e da Educação na Saúde está encaminhadoa realização de uma pesquisa que identifique asnecessidades de profissionais de saúde em todas asregiões do país, como forma de subsidiar a tomada dedecisão sobre abertura de cursos pelo CNS, após oprazo dos 180 dias.

SITEn congrega profissionais da área daenfermagem

O primeiro Seminário Internacional sobre o Trabalhona Enfermagem (1º SITEn), ocorrido no período de7 a 9 de agosto de 2003, na cidade de Florianópolis,

foi idealizado para congregar profissionais da área dasaúde, de enfermagem e entidades representativas,com o objetivo de refletir, debater e produzir idéiassobre a organização profissional e as condições de

trabalho da enfermagem brasileira, tendo comoperspectiva traçar diretrizes para uma agenda política

para a enfermagem brasileira.A sistematização e operacionalização da propostade realização do Seminário, inédito no âmbito da

Associação Brasileira de Enfermagem, coube à SeçãoSanta Catarina, presidida por Angela Maria Alvarez.

A articulação da Associação Brasileira deEnfermagem com a Federação Nacional dos

Enfermeiros, com o Sindicato dos Trabalhadores naÁrea da Saúde e com a Executiva Nacional dos

Estudantes de Enfermagem foi o primeiro passo paraa concretização dessa idéia.

O 1o SITEn é parte da história de um ano deconstrução coletiva da agenda política para a

enfermagem brasileira.Cumpriu um papelimportante no processo de análise, discussão,

reflexão, sistematização e pactuação de propostasque deverão ser encaminhadas para aprofundamentodo debate no 1o Encontro Nacional de Entidades deEnfermagem (1o. ENNE), por ocasião do 11o CPEn

e 55o CBEn.

60 anos do curso de enfermagem daUniversidade Estadual do CearáFundado em 23 de março de 1943, o Curso deEnfermagem da Universidade Estadual do Ceará

Page 6: educação e com a história da construção · e os representantes dos grupos técnicos da IEPE e do Programa Sustentabilidade na Implantação das Diretrizes Nacionais Curriculares

N o t í c i a shoje contabiliza no seu acervo sete cursos deEspecialização na área de Enfermagem e dois comabordagem multiprofissional, além do Curso deEspecialização a Distância em Formação Pedagógicaem Educação Profissional de Enfermagem, emconvênio com o PROFAE/MS. Participa também,como operadora, do Programa de QualificaçãoProfissional de Nível Médio para Auxiliar e Técnicode Enfermagem.

Segundo Ana Ruth Macêdo Monteiro,coordenadora do Curso de Enfermagem daUniversidade Estadual do Ceará, sessenta anos deexistência representam o ápice da vitalidade, dossonhos e das realizações: “Possuímos algo que não seconquista da noite para o dia: experiência. É esselastro significativo que nos credencia a sonharmosalto, a ousarmos ainda mais. A pós-graduação strictosensu em breve será uma realidade, pois possuímosprofissionais para respaldar e fazer acontecer esseprojeto.”

Comissão Interinstitucional dos Hospitaisde Ensino (HEs) orienta processo de

certificação dos hospitaisA Comissão Interinstitucional dos Hospitais de

Ensino encaminhou aos Ministérios da Saúde e daEducação uma minuta de portaria para orientar o

processo de certificação dos hospitais. Essa minuta foiobjeto de discussão no 7o SENADEn. Os

participantes defenderam alteração no texto original,no primeiro item do artigo 6o , que estabelece como

requisito obrigatório para a certificação como hospitalde ensino a exigência de “abrigar formalmente as

atividades curriculares de internato de pelo menosum curso de Medicina e de um outro curso superior

na área da saúde” por “abrigar alunos de pelo menosum curso de medicina ou de enfermagem e de um

outro curso superior na área da saúde”.A Comissão também deu andamento ao projeto

piloto de avaliação da situação atual dos Hospitaisde Ensino de São Luís/MA, Santa Catarina/RS e

Salvador/BA; realizou o Seminário Nacional sobre“Novos Rumos para os HEs”, em Salvador/BA edesenvolveu estudos sobre Alta Complexidade e

Apoio à Gestão/dívidas dos HEs.A ABEn reconhece a importância dessa iniciativa

por se tratar de uma ação interministerial einterinstitucional e entende que representa um passoimportante no caminho da superação do paradigmade organização institucional no Brasil que promove

fragmentação, corporativismo e disputas setoriais.

Política Nacional de EducaçãoPermanente para o SUS é aprovada peloCNSO CNS aprovou a Política Nacional de EducaçãoPermanente para o SUS que propõe a criação de 100pólos em todo o País com recursos do TesouroNacional e do PROESF. O DEGE/SEGETE-MSfacilitará e acompanhará os processos de articulaçãoestadual e regional. É importante que as seções eregionais da ABEn participem efetivamente desseprocesso de construção local de pólos, através dasdiretorias de educação da seção/regional e daarticulação dos fóruns de escolas.

Mesa Setorial de Negociação Permanentedo Ministério da Saúde é instalada

Foi instalada, em 25 de setembro de 2003, a MesaSetorial de Negociação Permanente do Ministério daSaúde, com grande interesse e expectativa por parte

das entidades representativas dos trabalhadores. AABEn incentiva o acompanhamento para a

implementação desta política por compreender que odiálogo entre governo e trabalhadores/sociedade ésalutar e fundamental no processo permanente de

democratização.

Sistema Nacional de Avaliação do EnsinoSuperior substitui provãoA SESU/MEC lançou em 2 de setembro de 2003 oSistema Nacional de Avaliação do Ensino Superior(SINAES) em substituição ao provão. É importanteconhecer esta política e identificar o que muda doprovão para o SINAES. Importante também éparticipar ativamente do debate sobre sistema deavaliação que está sendo articulado pela Rede Unidae Fóruns de Escolas de Enfermagem.

ABEn apresenta proposta no congresso daABRASCO

Realizado de 29 de julho a 2 de agosto de 2003, ocongresso da ABRASCO contou com ampla

participação de enfermeiros de serviço e docentes,presença significativa de enfermeiros e estudantes

sócios da ABEn. A Associação Brasileira deEnfermagem participou da oficina realizada pelaSEGETE/MS e Rede Unida como atividade pré-congresso em torno da temática “Saúde Coletiva eGraduação dos Profissionais da Saúde à Luz das

Novas Diretrizes Curriculares”.

ABEn solicita participação no 1º EncontroNacional de Entidades de EnfermagemA presidenta da Associação Brasileira deEnfermagem, Francisca Valda Silva, em carta circularpara todas as seções da ABEn, FNE, UNATE eENEEnf, solicitou participação no 1º EncontroNacional de Entidades de Enfermagem:

“Estamos nos aproximando do 11o CPEn e 55o

CBEn, quando será realizado o 1º Encontro Nacionalde Entidades de Enfermagem (1º ENEE), que serealizará no Rio de Janeiro, nos dias 11 e 13 denovembro de 2003, de 8h30 às 12h, nas salas B3 e B1,respectivamente. O encontro tem o objetivo deaprovar diretrizes políticas para uma agendaestratégica para a enfermagem brasileira.Passamos o ano acumulando reflexões e discussõespara a formulação de propostas a serem debatidas porocasião dos congressos, como ficou deliberado no 41o.CONABEn.Contamos com sua contribuição no processo dearticulação local das entidades, centro (s) acadêmico(s) e fóruns de escolas com a finalidade de discutir eformular propostas conforme questões indicadas notermo de referência anexo e indicar umarepresentação de 10 pessoas para o 1o ENEE, entre osparticipantes do fórum local que tiverem vínculos/compromissos com as entidades promotoras daagenda política”.

Colaboraram nesta seção Daniela Martins Machado,Francisco Carlos Félix Lana, Tânia Couto MachadoChianca, Isabel Amélia Costa Mendes, Ida Mara Brunellida Silveira, Marta de Fatima Lima Barbosa, Sandra Bittar,Fernando Porto, Sônia Kazuko Sakai Teixeira, Jane LynnDytz, Angela Maria Alvarez, Ana Ruth Macêdo Monteiro,Francisca Valda da Silva e Lúcia Fátima da Silva.

A caminho de uma nova pactuação deagenda política para a enfermagemAs entidades ABEn, FNE, UNATE e ENEEnf,parceiras na construção coletiva da agenda políticapara a enfermagem brasileira, realizaram nestetrimestre (jul.ago.set.) importantes momentos desensibilização dos atores de enfermagem,negociação e pactuação de propostas entre asentidades promotoras da agenda e reuniões deplanejamento que aconteceram no EncontroNacional de Estudantes de Enfermagem, nocongresso da ABRASCO; no 1º SITEn, XIIIENFSUL, XIX ENFNORDESTE e no7oSENADEn.

A ABEn cumprimenta todos os parceiros pelotrabalho realizado, confiante nos desdobramentosque se darão com as formulações de propostas etomadas de decisões por ocasião do 1º EncontroNacional de Entidades de Enfermagem, durante o11o CPEn e o 55o CBEn no Rio de Janeiro.

Morre Sérgio AroucaA saúde pública perdeuem 2 de agosto de 2003

um destemido lutador, oex-deputado e professor

Sérgio Arouca (foto).Como presidente daFundação Oswaldo

Cruz e da 8ªConferência Nacional

de Saúde, o sanitaristaganhou renome

nacional e internacional. Estava organizando a12ª Conferência, agora batizada, merecidamente,

“12ª Conferência Nacional de Saúde SérgioArouca”.

Arouca acreditava que a política de saúde nopaís começa nas políticas econômica e social, esão resultantes da política de afirmação de um

povo.

ABEnjul.ago.set. 20036

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ABEnjul.ago.set. 2003 7

A ABEn, instituição legal representativa da categoria deenfermagem no País, sem dúvida alguma, com uma visãofuturista e preocupada em manter e criar novas condiçõespara o progresso e desenvolvimento da profissão, pode-sedizer que marca por uma constante preocupação com osdestinos da profissão no contexto político-social brasileiro,bem como no internacional. Assim, desde 1947, portantohá 56 anos, em seu primeiro Congresso Brasileiro deEnfermagem (CBEn), já recomendava a importância dacriação de cursos em nível de pós-graduação. Em 1961, aLei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira, no artigo69, letra b, também se referia aos cursos de pós-graduaçãocom um destaque especial, mostrando uma diferençadestes com a especialização e o aperfeiçoamento.

Nesse contexto, que configurou um movimento emprol da qualificação dos docentes em nível superior deensino, considerando que na oferta desses cursos os docentesnecessitavam desenvolver a pesquisa a fim de incrementara produção no saber da enfermagem, a Comissão de Temasdo XVI CBEn/ABEn, em 1964, determinou como temáticacentral “Enfermagem e Pesquisa”, criando a possibilidadede tornar público e criar também espaços de divulgação eintercâmbio dessas experiências e trabalhos de pesquisajunto à categoria. Surge então, em 1965, no marco daReforma Universitária Brasileira dadécada de 1960, relatado pelo professorNewton Sucupira (UFRJ), no CFE,o parecer 977/65 definindo a naturezae objetivos dos cursos de pós-graduaçãoe, ainda, distinguindo dois níveis: latosensu e stricto sensu.

Sempre atenta aos problemas daprofissão, nas áreas de ensino,pesquisa, e assistência, a Assembléiade Delegadas, do XXIII CBEn/ABEn realizado em Manaus, em1971, propôs a criação do Centro dePesquisa em Enfermagem (CEPEn),fato de grande transcendência noprocesso de pesquisa em enfermageme que se destina, dentre outros fatores,a incentivar a formação de docentese pesquisadores e a legitimar a publicação dos resultadosdas pesquisas produzidas na área de enfermagem, emnível nacional.

Um próximo acontecimento, idealizado pela ABEn,viria a coroar o processo de ampliação e consolidação dodesenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem. Referimo-nos aos Seminários Nacionais de Pesquisa emEnfermagem, os SENPEs, previstos para serem realizadoscom uma duração de dois dias e a cada dois anos, sendoo primeiro realizado na Escola de Enfermagem deRibeirão Preto da Universidade de São Paulo (EERP/USP). Aqui, devemos ressaltar que foi nessa Escola quese iniciou a investigação científica, enquanto espaço

acadêmico, quando, em 1963, a professora Glete deAlcântara defendeu tese intitulada “EnfermagemModerna como Categoria Profissional: obstáculos a suaexpansão na sociedade brasileira” para obtenção do títulode Professor Catedrático, hoje denominado ProfessorTitular, que representa o ápice da carreira no magistériosuperior. Embora não seja o propósito desta matéria,aproveitamos a oportunidade para fazer umahomenagem à EERP/USP, criada por Glete de Alcântara,que neste ano de 2003 completa o seu jubileu de ouro.

Contudo, torna-se necessário registrar que nadécada de 1950 foi realizado um estudo que se tornouum marco na pesquisa em enfermagem: Levantamentodos Recursos e Necessidades em Enfermagem, comoimpulso à produção científica.

Em 1972, com a criação do primeiro Curso deMestrado da Escola de Enfermagem Anna Nery /UFRJ,teve início a pós-graduação stricto sensu em enfermagem,experiência primeira para toda a América Latina. Épocaem que foram designadas duas professoras da EEAN/UFRJ para serem assessoras da CAPES, com o objetivo demobilizar as Escolas de Enfermagem a discutirem osinteresses da área em pós-graduação. A seguir, em 1973, aEscola de Enfermagem da USP criou também o seu curso

de mestrado, e em 1981 foiinstalado o primeiro curso dedoutorado em enfermagem noBrasil e na América Latina, atravésda união de propósitos das duasEscolas de Enfermagem da USP.

Hoje, podemos afirmar quea pós-graduação está consolidadae se impõe, estando devidamenterepresentada nas duas agênciasde fomento à pesquisa no país: aCAPES e o CNPq.

A partir de 1987, surge a co-ordenação da CAPES, com umarepresentante de área, dispondode uma equipe/comissão derepresentantes de cursos de pós-graduação indicados pelos

programa; conformam-se listas que são avaliadas por essaagência trienalmente. Até o presente ano, tivemos seisrepresentantes cuja atribuição é determinada pelas normasemanadas da agência, discutida pela comissão indicadaa dar assistência, orientar e avaliar os programas.

Quanto ao CNPq, embora tenha sido criado em 1951,a enfermagem somente foi incluída, em caráter de consultoria(ad hoc) em 1984 e, em 1985, foi considerada entre suasáreas de produção de conhecimento. Desde então já tivemosseis assessoras/representantes da área, cujas atribuições sãodeterminadas pela agência e destinam-se, principalmente,a avaliar e coordenar atividades relacionadas a financiamen-to de projetos de pesquisa e de distribuição de cotas de bolsas

para os programas de pós-graduação e para projetos depesquisadores, além de colaborar efetivamente nos eventosda ABEn.

A ABEn vem articulando e colaborando com essasrepresentações, enquanto legítima entidade derepresentação da classe, idealizando iniciativas depromoção e desenvolvimento científico, atenta comorepresentante que defende os interesses do progresso daprofissão e como promotora de eventos que, dentre outros,atuam como verdadeiros fóruns de democratização esocialização dos interesses dos enfermeiros, com destaquepara os assuntos e questões de pesquisa.

A nosso ver, imbuídas de um espírito otimista, estamosde parabéns, a ABEn, as representantes de área daCAPES e do CNPq, as escolas e os serviços de enfermageme os estudantes de enfermagem, pelas conquistas já obtidasque traduzem o amadurecimento e a construção doárduo processo de desenvolvimento da pós-graduação eda profissão. Entretanto, é nosso dever registrar, emboraseja do conhecimento da classe e das entidades querepresentam a categoria, que há muitos e complexosdesafios para enfrentar e trabalhar, tais como a criaçãode programas de pós-graduação, principalmente paraas regiões que não contam com essa modalidade deensino; o intercâmbio internacional; o fortalecimento docorpo docente e discente; a divulgação e publicação comorequeridas; além da produção intelectual.

Terminamos, mas não finalizamos, pois a intenção nãoera de esgotar o assunto, prestando a nossa homenagem àEscola de Enfermagem Anna Nery (EEAN/UFRJ), emseus 80 anos de IES e 30 anos de pós-graduação stricto sensu.

A trajetória da pós-graduaçãono Brasil e a contribuição daAssociação Brasileira deEnfermagem nesse processo

Joséte Luzia LeiteProfessora titular/emérita da UNIRIO. Doutora, ex-

representante da área no CNPq. Membro doNUPHEBRAS/DEF/EEAN/UFRJ. Professora visitante

do NUPEGEPEN/DME/EEANUFRJ.

Maria Antonieta Rubio TyrrellProfessora titular e diretora da EEAN/UFRJ. Doutora,

membro do NUPESM/DEMI/EEAN/UFRJ

á 56 anos, emseu primeiroCongresso

Brasileiro deEnfermagem (CBEn),a ABEn já recomendavaa importância dacriação de cursos emnível de pós-graduação

Pau

l K

lee

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ABEnjul.ago.set. 20038

A utilização da informação napesquisa em enfermagem*

A informação é a matéria-prima para o desenvolvimento da pesquisa,em qualquer área do conhecimento. Por outro lado, o uso dainformação gera o conhecimento. Nos últimos anos, quandopensamos em informação pensamos em acesso à informação porInternet. Quando falamos de informação para pesquisa estamos,principalmente, tratando de informação técnico-científica.

O acesso à informação atualizada, relevante e no momentooportuno é a chave para o aprimoramento dos processos de tomadade decisões em matéria de saúde, em todos os níveis: na pesquisa, naprática clínica, na universidade, na administração pública e atémesmo para o público em geral, usuário dos serviços de saúde.

A saúde é aprimorada na mesma proporção em que oconhecimento científico e o acesso a ele se ampliam. O acesso àinformação digital é cada vez mais imprescindível. A Internet viabilizae democratiza o acesso à informação, muda alguns paradigmas eobriga uma certa organização do enorme volume de textos einformações que são gerados no mundo. Na área de ciências dasaúde e na região da América Latina, a forma organizada deenfrentar este grande desafio é a Biblioteca Virtual em Saúde1 (BVS)(http://www.bireme.br).

A BVS é uma base distribuída do conhecimento científico etécnico em saúde registrado, organizado e armazenado em formatoeletrônico, acessível de forma universal na Internet. É um espaçovirtual que armazena uma ampla coleção de fontes de informaçãorelevantes para subsidiar os processos de tomada de decisões emtodas as áreas de saúde.

A Biblioteca Virtual em Saúde é real. Virtual é o processo debusca e recuperação de informação. A BVS parte do princípio deque a função de todas as bibliotecas é reunir, preservar a coleção edemocratizar o conhecimento. A grande mudança de paradigmaentre real e virtual é a transição do gerenciamento de documentos eestantes, para o âmbito eletrônico e para o grande “arquivo” daInternet. Por outro lado, uma outra grande mudança é a desin-intermediação do processo de acesso à informação: a Internet é umespaço livre, sem portas.

Um outro aspecto importante é referente a textos completosversus metadados (bases de dados). A crescente inclusão de textoscompletos na Internet não exclui a criação de bases de metadados.Ao contrário. Esses índices organizam a enorme quantidade deinformação disponível, facilitam a busca e recuperação de dados easseguram o controle de qualidade. O grande desafio é conseguirmanter os registros metadados na mesma velocidade da criação epublicação de textos eletrônicos completos.

Na BVS os recursos de informação (artigos de revistas edocumentos técnico-científicos, sites de Internet, etc.) estãoorganizados em fontes de informação (bases de dados bibliográficas,diretórios, catálogos, etc.).

Fontes de Informação da BVSRumo ao acesso eqüitativo à informação em ciências da saúde, aBVS oferece aos profissionais da área um grande conjunto de fontesde informação, das quais destacamos:• Pesquisa Bibliográfica: acesso às bases de dados LILACS,

Medline, Biblioteca Cochrane, entre outras bases de dadosespecializadas (enfermagem, odontologia, saúde do adolescente,administração de serviços de saúde, etc.). As bases de dadosbibliográficas incluem referências de artigos de revistas científicas

e outros tipos de documentos, com resumo e enriquecidos comlinks para a base de currículos de pesquisadores brasileiros (Bancode currículos Lattes – CNPq), para o texto completo eletrônico,quando disponível, e para o serviço de fornecimento dedocumentos SCAD. No conjunto das bases de dados,destacamos:LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe deInformação em Saúde: muito adequada para respondernecessidades de informação em que o contexto nacional éimportante. Analisa cerca de 500 revistas latino-americanas, sendoa maioria publicada em português ou espanhol.Biblioteca Cochrane: medicina baseada em evidências, trazrevisões sistemáticas, em texto completo. É a melhor fonte paraauxiliar o processo de tomada de decisões. Inclui também a maiorbase de dados de referências de ensaios clínicos controlados, sãomais de 350 mil.

• Biblioteca Eletrônica SciELO – Scientific Electronic LibraryOnline:coleção eletrônica das melhores revistas brasileiras, chilenas,cubanas e da área de saúde pública, em texto completoenriquecido com links às bases de dados bibliográficas a partirdas referências bibliográficas citadas nos artigos publicados, epara o banco de currículos de pesquisadores brasileiros (CurrículoLattes).

• Portal de Revistas Científicas: catálogo com mais de 5 mil revistasnacionais e internacionais da área de saúde, inclui informaçãosobre o acesso à versão eletrônica dos artigos (disponibilidade,links de acesso direto, tipo de controle de acesso), e também oregistro de coleções nas bibliotecas cooperantes da BVS (catálogocoletivo SeCS – Seriados em Ciências da Saúde).

• Diretório de Eventos em Saúde: catálogo atualizado cominformação sobre congressos, seminários, workshops, simpósios,reuniões e conferências da área, nacionais e internacionais.

• LIS – Localizador de Informação em Saúde: catálogo de sitesde Internet referentes às fontes de informação avaliadas. O LISé um buscador especializado de sites de qualidade da área desaúde, incluindo, principalmente, os sites governamentais e deinstituições internacionais como OPAS e OMS.

• DeCS – Descritores em Ciências da Saúde: terminologia emsaúde, nos idiomas português, espanhol e inglês. É um vocabuláriode uso universal que inclui a definição de termos, sinônimos evocábulos relacionados; é usado para indexar e acessar às fontesde informação, permitindo uma navegação através do conteúdo.

• SCAD – Serviço Cooperativo de Acesso a Documentos: é umserviço que facilita o acesso ao texto completo de artigos edocumentos da área. O SCAD integra coleções de mais de 100bibliotecas fornecedoras de fotocópias de documentos, que podemser solicitadas por usuários registrados do serviço (com código esenha de acesso). As fotocópias podem ser enviadas por correio,fax ou e-mail, diretamente aos solicitantes, em um prazo médiode 48 horas. Esse é o único serviço não gratuito da BVS.Na BVS, essas fontes de informação estão integradas e cada vez

mais enriquecidas com links pertinentes. O desenho ilustra o processode busca de informação na BVS e a integração das fontes.

* Apresentação no 12ºSENPE, de 27 a 30 deabril de 2003, em PortoSeguro, BA.

2 A BVS é promovidapela BIREME – CentroLatino-americano e doCaribe de Informaçãoem Ciências da Saúde,um centro daOrganização Pan-americana de Saúde(OPAS). É um projetoque conta com acooperação dosMinistérios da Saúde eda Educação do Brasil,da Secretaria da Saúdedo Estado de São Pauloe de outras instituiçõesque têm a missão depromover a saúde naRegião da AméricaLatina e do Caribe, quesão os centroscooperantes da BVS.

Carmen Verônica Mendes AbdalaMestra em Ciências da Informação

Coordenação de Serviços de Informação da BVS/BIREME

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ABEnjul.ago.set. 2003 9

Como sociedade científica afiliada à SBPC, a ABEn recebeu convite da ComissãoMista MCT/MEC para participar da atualização da classificação das áreas deconhecimento utilizadas pelas agências federais de fomento – CAPES e CNPq. Aclassificação atual, em uso há mais de 20 anos, se encontra, em muitos casos, defasada.É uma tarefa que requer a participação da academia e de representantes de distintossetores da comunidade científica para garantir a pertinência e a representatividadeno tratamento de um tema da mais alta relevância para o fomento e a organizaçãodas atividades de formação e desenvolvimento científico do país.

Alguns balizadores foram sugeridos, tais como: a classificação das áreas, subárease especialidades deve ser capaz de refletir o que se faz em termos de desenvolvimentodo conhecimento e permitir o aparecimento de subáreas e especialidades inter/multidisciplinares; a base lógica da classificação é conceitual e operacional e devecontemplar a fundamentação, o objetivo e a metodologia predominantes dos projetose cursos; a sugestão de novas subáreas ou a fusão de duas ou mais sob novadenominação são preferíveis à exclusão delas.

ABEnabr.mai.jun. 2003 9

Atualização da classificação do conhecimentona área de enfermagem: contribuição da ABEn

Jane Lynn DytzDiretora do CEPEn

A ABEn contatou membros da diretoria nacional, seções/regionais e algunsespecialistas academicamente reconhecidos, solicitando o encaminhamento desugestões e propostas. Em seguida, foi feita uma compilação de todas as sugestõesrecebidas, utilizando-se como parâmetro para a construção de sua proposta odocumento intitulado Consolidação das Propostas de Linhas de Pesquisas emEnfermagem – 2001, aprovado durante o 11º SENPE, realizado em Belém, de 27 a30 de maio de 2001. Esse documento representa o esforço conjunto desta entidade,dos coordenadores de programas de pós-graduação e dos representantes de área nosórgãos de fomento, na atualização das subáreas do conhecimento predominante nosprojetos e cursos de enfermagem.

O passo seguinte será a compilação de todas as sugestões recebidas por especialistasacademicamente reconhecidos. A proposta resultante será novamente oferecida àcomunidade para os ajustes, com previsão de estar apresentando a versão final paraas agências financiadores até o final de 2003.

Sistema Qualis– O que é?

ualis é o processo de classificação dosveículos utilizados pelos programas depós-graduação para a divulgação daprodução intelectual de seus docentes ealunos. Tal processo foi concebido pela

Capes para atender as necessidades específicasdo sistema de avaliação e baseia-se nasinformações fornecidas pelos programas atravésdo Aplicativo Coleta de Dados.

Essa classificação é feita ou coordenada pelorepresentante de cada área e passa por processoanual de atualização. Os veículos de divulgaçãocitados pelos programas de pós-graduação sãoenquadrados em categorias indicativas daqualidade – A alta, B média, ou C baixa – e doâmbito de circulação deles – local, nacional ouinternacional.

As combinações dessas categorias compõemnove alternativas indicativas da importância doveículo utilizado, e, por inferência, do própriotrabalho divulgado: circulação local de alta,média ou baixa qualidade; circulação nacionalde alta, média ou baixa qualidade; circulaçãointernacional de alta, média ou baixa qualidade.

No entanto, não se pretende, com essaclassificação, que é específica para um processode avaliação de área, definir qualidade deperiódicos de forma absoluta. Esse processo éelaborado por área de avaliação.

Lucia Alves F. e SilvaCoordenação de Organização e Tratamento da

Informação (COI) da CAPES Fontes: CAPES e COI.

Título ISSN Nível CirculaçãoActa Paulista de Enfermagem 0103-2100 C InternacionalCaderno de Pesquisa: Cuidado é Fundamental 1415-4285 C NacionalCaderno UNIABC de Enfermagem 1516-6155 C NacionalCiencia y Enfermería 0717-2079 C InternacionalCogitare em Enfermagem 1414-8586 B NacionalColetânea de Enfermagem 1519-5031 C NacionalEnfermagem 0871-0775 C NacionalEnfermagem Atual 1519-339x C NacionalEnfermagem Revista 0104-4419 C NacionalEnfermeria Integral 0214-0128 C InternacionalEscola Anna Nery - Revista de Enfermagem 1414-1845 B NacionalInternational Nursing Review 0020-8132 C InternacionalInvestigación en Enfermería Imagen y Desarrollo 0104-1169 C InternacionalJournal of Advanced Nursing 0309-2402 A InternacionalJournal of Clinical Nursing 0962-1067 A InternacionalJournal of Psychiatric and Mental Health Nursing 1351-0126 C InternacionalJournal of Transcultural Nursing 1043-6596 C InternacionalJournal Of Wound Ostomy And Continence Nursing 1071-5754 C InternacionalNursing - Revista Técnica de Enfermagem 1415-8264 B NacionalNursing Diagnosis 1046-7459 C InternacionalNursing History Review 1062-8061 C InternacionalOnline Brazilian Journal Of Nursing 1676-4285 C NacionalPediatric Nursing 0977-9805 C InternacionalReflections on Nursing Leadership 0885-8144 C InternacionalResearch In Nursing Health 0160-6891 A InternacionalRevista Avances de Enfermería 0121 -4500 C InternacionalRevista Baiana de Enfermagem 0102-5430 B NacionalRevista Brasileira de Enfermagem 0034-7167 C InternacionalRevista Campineira de Enfermagem 1415-0956 C NacionalRevista Ciencia y Enfermeria 0717-2079 C InternacionalRevista Conscientiae Enfermagem 1677-1028 C NacionalRevista da Associação Portuguesa de Enfermeiros 0871-0775 C InternacionalRevista da Escola de Enfermagem da USP 0080-6234 C InternacionalRevista da Sociedade Brasileira de Enfermeiros Pediatras 1676-3793 C NacionalRevista de Enfermagem da UERJ 0104-3552 B NacionalRevista Eletrônica de Enfermagem 1518-1944 C NacionalRevista Enfermagem Atual 1519-339X C NacionalRevista Gaúcha de Enfermagem 0102-6933 C InternacionalRevista Latino-Americana de Enfermagem 0104-1169 B InternacionalRevista Mineira de Enfermagem 1415-2762 B NacionalRevista Mexicana de Enfermería Cardiologica 1405-0315 C InternacionalRevista Paulista de Enfermagem 0100-8889 B NacionalRevista ROL Enfermería 0210-5020 C InternacionalTemas de Enfermería Actualizados 0328-5057 C InternacionalTexto & Contexto - Enfermagem 0104-0707 C InternacionalThe Journal of Neonatal Nursing - Neonatel Network 0730-0832 C Internacional

Periódicos da área de enfermagem - QUALIS: 2002

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Considerações iniciaisProcuro debater neste texto a formação dos profissionaisde enfermagem na pós-graduação segundo os modelosou padrões nacionais adotados. É disto que trato, de formapanorâmica, para promover e incitar o debate e a reflexão.

Não há como não imprimir no texto as marcas deonde falo, da teia da Amazônia. Essa teia tão grandede águas, terra, florestas, povos, riquezas, também tãogrande em impactos e problemas. Nosso desafio temsido conhecer e entender as dinâmicas sociais dos fiosque ligam esta gigante teia e construir um novoparadigma, para a região, que garanta a diversidade ea heterogeneidade necessárias à vida.

Parto do ponto de vista da globalização segundoBoaventura de Sousa Santos (2001) e discuto intenções egestos dos modelos ou padrões nacionais de pós-graduação.As (in) coerências ficam por conta do foco com o qual sequer debater o respectivo tema. Vistos por dentro, não háincoerências pois os modelos são concretizados exatamentecomo determinam os princípios nacionais aprovados. Vistospor fora, de longe dos centros de poder, há incoerênciaspois os modelos são homogêneos para um país heterogêneosocial, cultural, geográfica e etnicamente.

O texto está organizado em duas partes com umaconclusão em que culminam alguns indicativos sobre umatransição por emergir. É importante destacar que temoscomo referência o atual quadro de distribuição dos 18programas de pós-graduação em enfermagem, que,segundo as regiões de nosso país, assim apresentam-se: 11no Sudeste (61%), 4 no Nordeste (22%) e 3 no Sul (17%).

Do ponto de vista da globalizaçãoNestes tempos em que as interações transnacionaisconheceram uma intensificação assustadora, diversosautores afirmam que tais interações “de um novo tipo”seriam como uma ruptura em relação às anteriores formasde interações transfronteiriças, passando a designar talfenômeno de múltiplas maneiras: globalização, culturaglobal, sistema global etc. Vou apoiar-me neste momentoem BSS, que afirma a presença de tal fenômeno “noplural”, ou seja, para o autor estamos assistindo múltiplasglobalizações (econômica, cultural, social, política etc.).

Para o desafio que aqui me cabe, vou deter-meespecialmente na discussão sobre os modos de produçãode distintas formas de globalização. É importantedestacar que “a divisão internacional da produção deglobalização articula-se com uma divisão nacional domesmo tipo” (SANTOS, 2001, p.72). Logo, o que ocorreno âmbito global pode também ocorrer no nacional. Eisso é interessante para o nosso debate.

O que podemos evidenciar é que no caso do tema emdebate nesta mesa, a pós-graduação, as regiões centrais dopaís participam na produção e reprodução de localismosnacionalizados (como os localismos globalizados),enquanto às regiões periféricas cabe produzir e reproduziros nacionalismos localizados (como os globalismoslocalizados). Mas vejamos primeiro o que significa para oautor esses dois fenômenos de globalização.

O primeiro modo de globalização, o localismoglobalizado, “consiste no processo pelo qual determinadofenômeno local é globalizado com sucesso”(p. 71).Relacionando imediatamente ao que aqui debatemos, issopode significar que um modelo ou padrão de excelênciaobtido em um âmbito local, uma instituição ou algumasde altíssimo nível, pode passar a ser o modelo ou padrãonacional, a ser exigido e/ou cobrado em âmbito nacional,a todas as instituições, independentemente de suasdiversidades e especificidades locais.

O localismo globalizado impõe-se e volta ao localcomo globalismo localizado, o segundo modo deglobalização, que “consiste no impacto específico nascondições locais produzido pelas práticas e imperativostransnacionais que decorrem dos localismosglobalizados” (p. 71). Relacionando ao que estamosdiscutindo, isso pode significar que o modelo ou padrãonacional de pós-graduação impõe-se aos âmbitos locaise regionais, e será por estes produzido e/ou reproduzidopara que o modelo ou padrão nacional ali tambémmanifeste-se.

Segundo o autor, quando o local responde a esseimperativo nacional, “as condições locais sãodesintegradas, desestruturadas e, eventualmente,reestruturadas sob a forma de inclusão subalterna” (p.71). A meu ver, o local, ao ter que responder e/ousubmeter-se ao modelo ou padrão nacional,descaracteriza-se, podendo até perder e/ou sufocartradições, dinâmicas e especificidades muito próprias.

Com base no que foi apresentado até aqui, parto doprincípio de que não são somente as intenções e os gestos,os planos e as ações merecem reflexão, mas também asintenções dos planos e ações, visto que sob a égide do quetrata BSS, podemos estar agindo sob uma “égidehegemônica” como na globalização hegemônica, que éuma globalização de cima para baixo, dos centros para asperiferias. Podemos, desse modo, estar impondo de maneirahegemônica, a todos os locais, as intenções e gestos, osplanos e ações aceitos e reconhecidos como modelo oupadrão nacional. Talvez tais intenções e gestos sejamextremamente coerentes exatamente por estarem emsintonia com um modelo ou padrão nacional hegemônicoe a (in) coerência seria não estarem e não segui-lo.

Estamos sem saídas então? Continuando o debateapoiado em BSS, posso afirmar que para além destes doismodos de produção de globalização há outros dois, “talvezos que melhor definem as diferenças e a novidade do sistemamundial em transição em relação ao sistema mundialmoderno porque ocorrem no interior da constelação daspráticas que irrompeu com particular pujança nas últimasdécadas” ( p. 72). O autor nos fala de uma globalizaçãode resistência aos localismos globalizados e aos globalismoslocalizados. Os dois modos são designados porcosmopolitismo e por patrimônio comum da

humanidade. Vamos comentar apenas oprimeiro modo.

Se quisermos construir intenções e gestos coerentes comas diversidades, tradições, dinâmicas e especificidades locaisdeste país de dimensões continentais, poderemos acatarum modo de globalização contra-hegemônico, ocosmopolitismo, um modo genuíno de resistência. Para oautor, “a resistência consiste em transformar trocas desiguaisem trocas de autoridade partilhada, e traduz-se em lutascontra a exclusão, a inclusão subalterna, a dependência, adesintegração, a despromoção” (p. 73).

Programas de pós-graduação cosmopolitas podemorganizar-se no interior das periferias, em redes desolidariedade intelectual, com articulações entre camposde saber, de modo inter e transdisciplinar, em ummovimento de aglutinação de competências instaladas, à

Programas de pós-graduação cosmopolitas podem organizar-se no interior das periferias, em redes de solidariedade intelectual, com articulações entre campos de saber, de modo inter etransdisciplinar, em um movimento de aglutinação de competências instaladas, à busca de valores culturais alternativos, não imperialistas, contra-hegemônicos

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busca de valores culturais alternativos, não imperialistas,contra-hegemônicos. Contra os modelos ou padrõesnacionais hegemônicos, há que se contrapor com modelosou padrões de contestação gerados em (co) ligaçõesprogressistas que promovam novas intenções e gestos.

Para onde vamos?Acatando que estamos vivendo um período de transição,temos que ter clareza que em tais

períodoshá a combinação das características próprias

do sistema hegemônico (dominante) com outras queapontam para outras realidades contra-hegemônicas(emergentes). Se desejamos provocar na pós-graduaçãotal período, caso não tenhamos clareza dessa transição,vamos enfrentar muitos desafios! Será que queremosuma transição das atuais intenções e gestos?

Os períodos de transição são de grande abertura eindefinição (e também de grande resistência), “um período debifurcação cujas transformações futuras são imperscrutáveis”(p. 94). Se ousarmos romper com o modelo ou padrãonacional hegemônico (e mais homogêneo), temos que teruma contraproposta, um outro ou outros modelos ou padrõeslocais-regionais contra-hegemônicos (e mais heterogêneos).Onde estão esses modelos? Se não temos, como construir abifurcação necessária?

Lembra-nos o autor que “a própria natureza do sistemamundial em transição é problemática e a ordem possível é

a ordem da desordem” (p. 94). Não tenho constatado nosúltimos eventos a proclamação de uma contra-ordemcontra a ordem dominante do modelo ou padrão nacionalhegemônico de pós-graduação! Não tenho ouvido vozes egritos conclamando a desordem! O que tenho observadoé uma corrida desenfreada para cumprir com as ordensemanadas do modelo nacional hegemônico! Temosbuscado saber como incluir nossos modelos no padrãohegemônico muito mais que saber como construir novos ealternativos modelos ao padrão hegemônico!

Qual leitura fazer das intenções e gestos?É possível destacar a existência de dois tipos de leituraacerca das mudanças do sistema mundial em transiçãoe dos caminhos que apontam: a leitura paradigmáticae a leitura subparadigmática.

Se fizermos uma leitura paradigmática da formaçãodos profissionais de enfermagem na pós-graduação comofazem os autores desta vertente, podemos conseguirconfirmar que as décadas de 1960 e 1970 marcaram operíodo da transição, que denomino de tipo 1, poisemergiu um novo paradigma também para a nossa pós-graduação. Os autores que fazem esse tipo de leitura dosistema mundial entendem e defendem que ocorreunesse período uma ruptura radical. Eles demarcam oreferido período como de revoluções paradigmáticas, oque combina com a história da formação na pós-graduação em enfermagem no Brasil nesse mesmoperíodo, pois representou nossa inclusão no sistemanacional de pós-graduação.

Mas os autores que fazem uma leiturasubparadigmática vêem “o período atual como um

importante processo de ajustamento estrutural” (p. 95),no qual o modelo dominante mesmo tendo passado poruma crise naquele período não parece dar mostra dedeclínio ou insuficiência. Para esses autores não ocorreuruptura mas sim a resolução com sucesso de uma crise domodelo hegemônico, que se (re) estruturou para enfrentaros novos tempos. Se fizermos essa leitura subparadigmáticada formação na pós-graduação não vamos ver naqueleperíodo uma ruptura mas sim uma (re) estruturação àsexigências do modelo ou padrão hagemônico dominante,um (re) ajustamento aos novos tempos.

E agora? À qual leitura aderir? Se à primeira, maisotimista, vamos privilegiar uma atitude maisapocalíptica, como refere BSS, “na avaliação dos medos,riscos, perigos e colapsos do nosso tempo e a ser maisambiciosos relativamente ao campo de possibilidades eescolhas históricas que está a ser revelado” (p. 98). Vamos,a meu ver, acreditar que ousamos naquele períodoefetuar uma transição e conseqüentemente uma

*

ReferênciaSANTOS, Boaventura de Sousa. Globalização:fatalidade ou utopia? Porto: Edições Afrontamento,2001.

inclusão positiva no modelo nacional hegemônico, oque nos garantiu e garante status e poder.

Mas se privilegiarmos a leitura subparadigmática, maispessimista, as transformações, apesar de sua relevânciaindiscutível, não deixarão crer que “estão a forjar nem umnovo mundo utópico, nem uma catástrofe. Mas expressamapenas a turbulência temporária e o caos parcial queacompanham normalmente qualquer mudança nossistemas rotinizados” (p. 98). Vamos, a meu ver, desacreditarque ousamos romper mas apenas constatar que o queefetivamos foi nada mais nada menos que um ajuste defoco. Afinal, qual transição de intenções e gestos efetuamos?Talvez uma transição de inclusão para o modelohegemônico. Se quisermos efetuar uma outra, vamos terque efetivar uma transição que denomino de tipo 2.

Considerações finais ou sobre uma transiçãopor emergirA transição de tipo 2, por emergir na formação dosprofissionais de enfermagem na pós-graduação, poderáser do tipo contra-hegemônica, de baixo para cima, semimpor localismos nem globalismos mas expor diversidadesde um tecido que é múltiplo (o cuidar), que se manifestaem diferentes ambientes (os territórios), que se tece entrediferentes tecelões (os agentes), que veste diferentes espaços(os corpos), que engendra múltiplos fazeres (as artes) eenfim que envolve intensas reações (as emoções).

Não queremos entender a globalização comofatalidade, mas sim como utopia, se a primeira luta foipara adentrar no modelo ou padrão nacionalhegemônico, que a próxima seja para tecer uma outrateia tão plural quanto as manifestações locais.

Enfim, se quisermos intenções e gestos coerentes comos tempos atuais, talvez tenhamos que começar a pensarjá em uma transição de tipo 2. A incoerência com os temposatuais é manter as intenções e gestos até aqui adotados.Precisamos construir alternativas ao modelo contra-hegemônico e identificar os insatisfeitos com tal modelopara com eles tecer uma rede de caráter cosmopolita.

Elizabeth TeixeiraProfessora da Universidade do Estado do Pará. Doutoraem Ciências Socioambientais pela UFPA e pós-doutora

em Sociologia pela Universidade de Coimbra

* Apresentação no 7º SENADEn, de 18 a 21 de setembrode 2003, em Brasília – DF.

Programas de pós-graduação cosmopolitas podem organizar-se no interior das periferias, em redes de solidariedade intelectual, com articulações entre campos de saber, de modo inter etransdisciplinar, em um movimento de aglutinação de competências instaladas, à busca de valores culturais alternativos, não imperialistas, contra-hegemônicos

P au l K lee

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pesquisa no âmbito da graduação emenfermagem deve ser concebida como processode produção do conhecimento necessário aosProjetos Políticos Pedagógicos dos Cursos/Escolase da produção dos serviços de saúde. Tem comodesafio maior conformar o processo investigar, o

que significa desenvolver, no aluno, a curiosidade e apreocupação com a produção de novos conhecimentos etecnologias, parte inerente do processo de trabalho daenfermagem, ultrapassando a reprodução, na prática, doconhecimento transmitido na universidade. Esse processoarticulado com os demais rompe com a concepçãodicotômica entre o pensar e o fazer da enfermagem e dasociedade. Nessa perspectiva, a produção do conhecimentoestá ancorada nas necessidades da educação e da produçãodos serviços da saúde.

Qual o espaço privilegiado para a construção doprocesso investigar da enfermagem? A Universidadepode ser concebida como espaço, historicamenteprivilegiado, de produção da força de trabalho, deprodução e divulgação do saber, com o objetivo dedesenvolver a ciência e a produção de tecnologias, emestreita articulação com a realidade na qual está inserida.

Historicamente, a Universidade foi concebida comoelemento chave na construção do conhecimento, tendoem vista a ciência e a tecnologiaque produzia. O ano 2000mostrou que ela avançou emrelação ao conhecimento científicoe ao poder tecnológico. Entretanto,é perceptível a desarticulação entreesse avanço e a realidade social, bemcomo a falta de uma ética que seresponsabilize pela regulação nouso do conhecimento que aUniversidade produz (Buarque,1994).

Para o professor Alípio deSousa Filho, a ciência é oconhecimento produzido pelainvestigação e pela reflexão, e aUniversidade, em meio a outraspoucas instituições na sociedade,tem a responsabilidade deensinar e produzir ciência. Assim,em nível de graduação, o desafioé trabalhar as idéias, asconcepções, as mentalidades e as visões de mundo queinteriorizamos pelo processo de socialização e, atravésda educação social geral, reproduzimos naUniversidade. Significa ir ao encontro da ciência..

No dizer desse autor, ir ao encontro da ciência,implica vivenciar o choque e o conflito, à medida que

no espaço da Universidade está presente o sensocomum, a compreensão religiosa do mundo e da vida ecrenças, na maioria das vezes, infundadas. Enfim,diversas visões ideológicas de mundo, da vida e das coisasque se materializam em verdadeiros obstáculosepistemológicos para a produção/construção doconhecimento científico que conceba a ciência comoum modo crítico de compreender a realidade para alémdaquilo que a observação imediata permite perceber.

O desafio está na necessidade de ir além da aparência.O que não significa demolir crenças/valores, e sim colocarum patamar de reflexão que no mínimo consiga desvelarque se trata de uma crença/valor e que existem outras.Isso significa aprender a “relativizar, ou seja,(des)preconceituar, (des)sacralizar o real”. Compreenderque os valores, utilizados na formação, são valores deuma determinada cultura, por mais que se apresentemcomo a cultura e não uma cultura e que se apresentemcomo universal em um mundo particular .

Com essa compreensão, a ABEN reconhece anecessidade de uma ampla discussão sobre o texto dasDCN buscando encontrar outros tipos de expressão epossibilidades, além do texto, para que possamostraduzir diretrizes curriculares em projetos políticospedagógicos. Isso exige um questionamento dos

pressupostos básicos que asatravessam.

No que tange à pesquisa, otexto das DCN tem ainvestigação como eixo norteadorda produção enfermeiras(os)comprometidas(os) com um novofazer/pensar da saúde/enfer-magem. E, em vários momentos,refere-se ao processo de produçãodo conhecimento como espaço que“busca fortalecer a articulação dateoria com a prática, (...)valorizando a pesquisa individuale coletiva” (...) [na perspectiva daarticulação entre o] “ensino, apesquisa e a extensão/assistência”.Coloca como exigência aelaboração de um trabalho deconclusão de curso sob a orientaçãodocente.

Transformar as DCN emprojetos políticos pedagógicos, que tenham ainvestigação como eixo norteador, aponta para anecessidade de construirmos uma nova postura emrelação ao processo de produção de conhecimentos,entendendo que a pesquisa “faz parte da noção devida criativa em qualquer tempo e em qualquer lugar”.

Dessa forma, surgem os questionamentos:• Como iniciar o processo de produção de conhecimentos

no primeiro período?• Quais as necessidades de produção de conhecimentos

que dêem sustentação aos projetos políticos pedagógicose que possam ser produzidos pelos alunos durante a suaformação?

• Como conformar linhas de pesquisa tendo como eixoas necessidades da produção de conhecimento para aqualificação dos serviços de saúde e dos processosensinar/aprender dos cursos?

• Como formar um corpo docente comprometido com aprodução do conhecimento de modo a torná-lo umpesquisador?

• Como criar espaços de socialização do conhecimentoproduzido na Universidade pelos professores e alunos?

• Como criar mecanismos de aproveitamento deexperiências dos discentes e participações em eventosrelacionados à pesquisa?A resposta a esse e a outros questionamentos aponta para

novos questionamentos. Implica formar cientificamente, ouseja, ir além da tecnicidade da profissão. É preciso articular aformação técnica com a formação política, que assegure aressocialização do conhecimento. Ressocializar significaproduzir um conhecimento que possibilite a autonomiaintelectual e a construção do pensamento crítico nos indivíduosque passam pela Universidade. Não se trata de colocarsomente para a Universidade a responsabilidade de removera alienação da vida social. Porém acreditamos que ela podecontribuir produzindo enfermeiras(os) inconformadas (os),resistentes à ideologia e à dominação, capazes de se indignare produzir indignação diante das desigualdades, injustiças,discriminações e violência. Capazes de produzir atos críticos,portanto, atos filosóficos.

O professor Pedro Demo afirma: quem ensina carecepesquisar; quem pesquisa carece ensinar. Professor queapenas ensina jamais o foi. Pesquisador que só pesquisaé elitista explorador, privilegiado e acomodado.Parafraseando o professor Cristovam Buarque,”somente a paixão pelo trabalho intelectual instiga adescoberta de novos conhecimentos que não pode serconsiderado como trabalho alienado e, sim, comoexercício de um ato de paixão”.

*

Abigail MouraDoutora em Enfermagem, doutora honoris causa pela

UERN, professora titular da FESO.

Moêmia Gomes de Oliveira MirandaMestra em Enfermagem em Saúde Pública, professora

da Faculdade de Enfermagem (FAEN) da Universidadedo Estado do Rio Grande do Norte e coordenadora da

Comissão de Estudos Curriculares da FAEN.

A Universidade pode ser concebida como espaço, historicamente privilegiado, deprodução da força de trabalho, de produção e divulgação do saber

Pau

l K

lee

* Apresentação no 7º SENADEn, de 18 a 21 de setembrode 2003, em Brasília – DF.

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Ao longo de seus 24 anos de existência, o Seminário Nacional dePesquisa em Enfermagem (SENPE) tem se constituído num espaçotécnico-científico e político aglutinador, catalisador e articulador deum processo social de construção e difusão de conhecimentos para aárea de enfermagem no contexto da saúde no Brasil. Desde sua primeiraedição, no ano de 1979, na cidade de Ribeirão Preto - SP, vem marcandoa história da ABEn e da Enfermagem Brasileira como símbolo daevolução e força de nossa pós-graduação que, traduzida em números,é representada por 21 programas de mestrado/doutorado, bem comoincontáveis cursos de especialização.

A 12ª edição do SENPE aconteceu de 27 a 30 de abril deste ano,na cidade de Porto Seguro – Bahia, muito bem organizado pela SeçãoBahia. Pesquisadores experientes e iniciantes examinaram e discutiramo tema: Interface da Pesquisa em Enfermagem: aproximando o ensino eo cuidado com outros campos do conhecimento, temática crucial paranossa formação enquanto pesquisadores, assim como para questõesde adequação do ensino, da pesquisa e das práticas da Enfermagemfrente às necessidades do país.

Partindo da premissa de que a pesquisa visa desvendar uma dadarealidade para que esta possa ser compreendida e modificada, o temacentral foi desmembrado em três eixos norteadores. O primeiro abordoua produção tecnológica do cuidado em saúde, processo de envelhecer,estudos étnicos e outros que utilizam os conceitos de gênero, classe,raça, geração. Esse eixo do encontro buscou identificar, nas açõesdesvendadas pelas pesquisas, o compromisso ético da categoria com oprocesso de inclusão social.

O segundo eixo discutiu as concepções teóricas, a produção eanálise de dados em pesquisa qualitativa, ou seja, interfaces comenfoques sociológicos e antropológicos, como a etnometodologia,interacionismo simbólico, etnografia, fenomenologia, representaçãosocial, dialética. Embora a enfermagem tenha sua especificidade, ela éum espaço de conhecimento interdisciplinar e multiprofissional e atuacomo uma área de articulação intrínseca com as políticas públicas e aspráticas dos serviços. A incorporação de ações pautadas em sistemas

12º SENPE discute a interface da pesquisa emenfermagem com outros campos do conhecimento

trans e interdisciplinar é urgente hoje para qualquer área doconhecimento.

De acordo com Cecília Minayo, essa nova proposta culturalcombina “a percepção de várias lógicas, é pluridimensional;integra simultaneamente tempo e espaço e as complexasdimensões de ambos; recupera a subjetividade como dimensãoda racionalidade e a convivência de várias racionalidades;introduz as diferenças de gênero, de nacionalidades, de etnias,de experiências e de conhecimentos como enriquecimentosculturais.”

No que concerne ao terceiro eixo da programação – produçãoe difusão científica e tecnológica –, discutiu-se que, apesar doamadurecimento de vários programas de pós-graduação e osurgimento de novos, temos que avançar na criação e ampliaçãode novos pesquisadores, grupos de pesquisa e programas depós-graduação. Sabemos que ainda persistem importantesdesequilíbrios regionais, aporte insuficiente e instável de recursos,rigidez nos formatos tradicionais dos cursos, escasso entrosamentoda pós-graduação com o ensino de graduação e baixo nívelindividual e coletivo do índice de impacto de nossas publicações.É vital que enfrentemos esta realidade e consigamos traçarestratégias para minimizar, ou mesmo, sanar essas dificuldadesa curto prazo.

O rico trabalho reflexivo levado a cabo pelos participantesdo evento é a chancela de que estamos maduros para enfrentaros desafios que hoje se apresentam na reafirmação de nossarelevância social e acadêmica, preservando a tradição e os ideaisde justiça e eqüidade que deram origem e conformam opensamento do qual a ABEn se tornou, ao mesmo tempo,depositária e promotora.

Hoje, mais do que

nunca, se faz

imperativa a ética

do cuidado.

Cuidado com a

vida, com o

planeta, com os

ecossistemas

naturais que nos

mantêm vivos. A

essência do ser

humano é cuidado!

Leonardo BoffJane Lynn Dytz

Diretora do CEPEn

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Construção nacional de uma agenda estratégicapara a pesquisa e pós-graduação em enfermagemReunião de Porto Seguro, BA, 29 de abril de 2003

segunda reunião para a construção de umaagenda estratégica para a pesquisa e pós-graduação em enfermagem ocorreu duranteo 12º SENPE, na Sala Trancoso 1, no dia 29de abril, às 16h e 10min, em Porto Seguro,com a presença de 33 participantes, incluindo

membros da diretoria/conselho fiscal da ABEnNacional, diretores de escolas de enfermagem,representante da área na CAPES e da comissão deavaliação, coordenadores e docentes de programas depós-graduação.

Este documento é o resultado do trabalho conjuntoentre ABEn, representação de área na CAPES,coordenadores de programas de pós-graduação emenfermagem e docentes vinculados a grupos de pesquisano país. Apresentamos a seguir uma síntese da reunião,as principais sugestões e propostas levantadas nareunião e um quadro consolidado dos pontos quecompõem, até o momento, a agenda estratégica.

Síntese da reuniãoA reunião iniciou-se com o pedido de inclusão de item depauta (BDENF), solicitado pelo professor FranciscoLana. Em seguida, a diretora do CEPEn deu informessobre a Rede IEPE – Iniciativa em Educação Permanenteem Enfermagem, em parceria com a Organização Pan-americana de Saúde; realização do próximo SENPE,em 2005, em São Luís do Maranhão e divulgação domaterial informativo disponibilizado pela entidade. Nofinal da reunião, a presidenta deu outros informes, comoa realização do próximo SENADEn em Ouro Preto, em2004; retomada do Projeto CIPESC e apoio financeirodo Ministério da Saúde para duas publicações sobre oPROFAE. Comunicou ainda que o calendário eleitoralpara a gestão da ABEn – 2004/2007 será aprovado nareunião ordinária da Assembléia Nacional de Delegados,por ocasião do 55º Congresso Brasileiro de Enfermagem,no Rio de Janeiro.

O segundo item de pauta – a Agenda Política daABEn – foi conduzido pela professora Francisca Valdada Silva, presidenta da ABEn, que fez uma breveexplanação sobre a trajetória da Associação naformulação de propostas para o desenvolvimento depesquisa e pós-graduação em enfermagem, sobre o papelpolítico da ABEn como formadora de opinião e suafunção no processo de intermediações entre os diversosatores. Registra a importância histórica do momentoassegurado com a presença de todas(os) que sedispuseram a participar junto à ABEn do esforçocoletivo de elaborar uma agenda estratégica quefortaleça a organização da enfermagem brasileira nocaminho da superação de antigos e novos desafios. Taisdesafios limitam e/ou inviabilizam o desenvolvimento

da pós-graduação em enfermagem, no que se refere aocrescimento com a entrada de novos programas que emgeral se encontram em áreas estratégicas. Esta agendapropõe potencializar a ação coletiva de cada ator sociale do conjunto em favor do crescimento da enfermagemno cenário da ciência e da inovação tecnológica na saúde.

Em seguida, a professora Jane Lynn Dytz, diretorado CEPEn, distribuiu e apresentou o documentointitulado Pactuando uma Agenda Estratégica para aPesquisa e Pós-graduação em Enfermagem no Brasil,1

resultado da reunião realizada em 13 de novembro de2002, durante o 54o Congresso Brasileiro deEnfermagem, na cidade de Fortaleza, no qual sãoapontadas dificuldades e possibilidades para a pesquisae pós-graduação em enfermagem.

Foi feito destaque em relação ao documentointitulado “Estratégias de Ação da Pós-graduação daEnfermagem Brasileira – Proposições”, elaborado pelarepresentante da área de enfermagem na CAPES/MEC– Rosalina Aparecida Partezani Rodrigues –, pelacomissão de avaliação da área de enfermagem e peloscoordenadores e vice-coordenadores de programas de pós-graduação em enfermagem. O documento foi entregueà presidenta da ABEn durante o 54º CBEn. Apontou-se para o fato de que um número considerável dessasproposições são convergentes às estratégias levantadasem Fortaleza, o que demonstra a existência de consensoem relação a determinados problemas da pós-graduaçãoe pesquisa em enfermagem. Por exemplo, as proposições2, 6 e 12 referem-se ao fortalecimento e avanço daspesquisas na área da enfermagem; as proposições 10, 13e 17, à difusão da produção científica; as proposições 7 e24, à melhoria da qualidade da produção científica e aproposição 9 diz respeito à melhoria da qualidade dosperiódicos. Assim sendo, poderia-se pensar em construiruma agenda comum a partir desses dois documentos.

Em seguida, abriu-se a reunião para discussão do textoem plenária, tendo sido feitas algumas sugestões quanto àcorreção do texto, além de inúmeras colocações e propostasno que se refere às possibilidades ou estratégias de ação, asquais se encontram discriminadas mais adiante. No finalda reunião, deliberou-se pelo seguinte encaminhamento:após revisão do texto, com a incorporação das propostasfeitas na presente reunião, o documento seria enviado aoscoordenadores de pós-graduação, representantes de áreae demais participantes da reunião, determinando um prazopara o envio de correções e/ou de novas propostas. Para apactuação final desta agenda, foi sugerida a realização deuma oficina no 56º CBEn.

Principais sugestões e propostas da reuniãoÉ importante considerar que uma agenda estratégicapressupõe um trabalho articulado em torno de objetivos

comuns e a pontuação permanente das estratégias deação e avaliação entre as diferentes partes (ABEn,coordenadores, CAPES, EE), numa perspectiva deampliação para outros órgãos científicos egovernamentais, como, por exemplo, SBPC, ABEC.Foi sugerido ainda que fosse estudada a viabilidade dea ABEn se vincular à ALADEFE. Para melhoria dainfra-estrutura, destacou-se a importância daarticulação permanente dos programas, pesquisadorese ABEn junto a órgãos e instituições financiadoras, noâmbito local/regional/nacional, bem como a criação depolíticas que incentivem o surgimento de novosprogramas de pós-graduação, incluindo a definição deestratégias de apoio político e financeiro. Para atrairalunos, sobretudo os de iniciação científica, docentes eenfermeiros assistenciais a publicarem seus trabalhos,foi proposta a criação de estratégias de incentivo, taiscomo: a publicação dos trabalhos premiados em meioeletrônico, a divulgação do espaço da Página doEstudante, confecção de impressos sobre os prêmios depesquisa. Em relação às formas de aprimorar aqualidade dos trabalhos apresentados em eventoscientíficos, foi sugerida a dinamização das seções depôsteres (tipo pôster animado) e a criação de espaços deconvivência onde relatores e/ou especialistas presentesno evento possam conduzir uma discussão maisaprofundada sobre o referencial teórico-metodológicodas pesquisas e/ou assuntos abordados. Considerou-seimportante a manutenção das reuniões com oscoordenadores de graduação no SENADEn e com oscoordenadores de programas de pós-graduação noSENPE.

Houve dúvidas quanto à proposta de criação doFórum Nacional dos Periódicos de Enfermagem, porémesse item foi mantido para discussão posterior. Foisugerida a criação de uma revista eletrônica parapublicação de pesquisas operacionais e a montagem deum stand comum nos eventos da ABEn para divulgaçãodos periódicos de enfermagem.

Quanto ao BDENF, foi colocada a necessidade dese fazer uma ampla divulgação sobre este banco de dadose o seu valor intrínseco, já que a comunidade científicabrasileira de enfermagem, de modo geral, desconhece opapel e a função do BDENF. No momento, existempoucos centros cooperantes e, destes, poucos alimentama base de dados do BDENF. Este tem o potencial para seconstituir na memória da enfermagem brasileira nocenário nacional e internacional, na medida em que seuacervo é constituído por documentos profissionais, taiscomo: monografias, dissertações, teses, anais e programasde eventos científicos, livros, boletins e periódicos comconselhos editoriais, porém não indexados, etc., além deestar baseado na web, o que possibilita a difusão do

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Construção nacional de uma agenda estratégicapara a pesquisa e pós-graduação em enfermagem

conhecimento de enfermagem. Pelaparticipação no SCAD/Comutas, asunidades participantes do BDENFpoderão obter recursos para suas bibliotecas.Foi proposta a criação de uma comissãonacional para construção dasustentabilidade técnica, política efinanceira do BDENF.

Consolidação da agendaestratégica para a pesquisa e pós-graduação da enfermagembrasileira

No quadro ao lado, apresentamosuma consolidação das estratégias de açãopara a construção de uma agendaestratégica na área de pesquisa e pós-graduação em enfermagem, tanto aselaboradas pela ABEn,2 como aquelasconstruídas pela representante da área deenfermagem na CAPES/MEC, pelacomissão de avaliação da área deenfermagem da CAPES/MEC e peloscoordenadores e vice-coordenadores deprogramas de pós-graduação emenfermagem.3

1 Documento elaborado por FláviaRegina Souza Ramos, docente do Cursode Pós-graduação em Enfermagem,UFSC; Denise Elvira Pires de Pires,coordenadora do Curso de Pós-graduação em Enfermagem, UFSC;Alacoque Lorenzini Erdmann,membro da Comissão de Avaliação daÁrea de Enfermagem na CAPES/MECe Jane Lynn Garrison Dytz, diretorado CEPEn.

2 Propostas levantadas em reuniõesrealizadas em Fortaleza (55º CBEn) ePorto Seguro (12º SENPE), nos anosde 2002 e 2003, respectivamente.

3 Extraído do documento Estratégias deAção da Pós-graduação da EnfermagemBrasileira – Proposições, elaborado pelarepresentante da área de enfermagemna CAPES/MEC, pela comissão deavaliação da área de enfermagem daCAPES/MEC e pelos coordenadores evice-coordenadores de programas depós-graduação em enfermagem.

Consolidação das estratégias de ação para uma agenda estratégica para a pesquisa e pós-graduaçãoda enfermagem brasileira

Área

Fortaleci-mento eavanço daárea depesquisa epós-graduação

Formaçãoe/ouqualificaçãodocente

Difusão daproduçãocientífica

Melhoriadaqualidadedosperiódicos

Melhoriadaqualidadedaproduçãocientífica

Estratégias ABEn

Empenho dos programas, EE, representantes de área, com a ABEn atuando comoarticuladora do processo, na construção coletiva de uma política para o avanço efomento da pós-graduação e pesquisa em enfermagem, fundamentada na relaçãoentre as iniciativas das universidades e as demandas sociais.Empenho articulado e concentrado junto a órgãos governamentais e instituições, emâmbito local, regional e nacional, defendendo o investimento na infra-estrutura institucionale uma política equilibrada de crescimento da pós-graduação em enfermagem, bem comoo aumento no número de fontes de financiamento para subsidiar esse crescimento.Levantamento de temas/problemáticas comuns à profissão e identificação de nós críticosda prática profissional, com a finalidade de alicerçar uma prática de pesquisa consistente.Manutenção dos espaços da ABEn (SENADEn, SENPE, CBEn) como fórunsprioritários para discussão ampliada de assuntos ligados à educação, pesquisa, etc.,prevendo reuniões específicas para os programas e representantes da CAPES, ereuniões abertas para divulgação dos critérios de avaliação dos programas, situaçãodos cursos de pós-graduação em enfermagem, entre outros.Discussão aprofundada sobre as linhas de pesquisa em enfermagem, sob coordenaçãoda CAPES, com a priorização de pesquisas voltadas para a ampliação da cidadania.Elaboração de estudos multicêntricos, sob articulação da ABEn, que façam a contextualizaçãoe a caracterização do ensino de pós-graduação em enfermagem no país, do impacto daprodução científica e tecnológica nos serviços de saúde e nos grupos sociais, entre outros.Criação de medidas de solidariedade para grupos de pesquisa não consolidados e/oufuturos programas de pós-graduação que englobem estratégias de apoio político efinanceiro, como, por exemplo, a criação de Banco de Dados sobre Doutores emEnfermagem e Fontes Financiadoras.Discussão sobre a viabilidade de a ABEn se vincular à ALADEFE.Delineamento de estratégias de estímulo do corpo docente para a práticainvestigativa, na graduação e pós-graduação, bem como de estratégias de capacitaçãodocente na área da pesquisa, como a oferta de cursos, debates sobre metodologiacientífica, assessoria na elaboração de projetos de pesquisa, entre outros.Criação de um movimento de mobilização entre as escolas públicas e privadas,coordenado pela ABEn, para maior envolvimento com a prática investigativa ecapacitação docente.

Criação de um subdomínio dentro do site da ABEn que divulgue instituiçõesgovernamentais, órgãos de fomento, fontes e informações relativas às publicaçõesnacionais e internacionais de enfermagem.Criação de uma revista eletrônica para publicação de pesquisas operacionais.Montagem de um stand comum nos eventos da ABEn para divulgação dos periódicosde enfermagem.Delineamento de mecanismos de ampliação da produção da entidade (anais, boletins,cadernos, livros, etc).Criação de uma comissão nacional para construção da sustentabilidade técnica,política e financeira do BDENF.Adoção de parâmetros de qualidade, padronizados internacionalmente, pelosperiódicos de enfermagem.Manutenção da realização do Encontro Nacional dos Editores, sob coordenação daABEn, com a colaboração da representação de enfermagem na CAPES.Criação do Fórum de Editores de Enfermagem, sob coordenação da Diretoria dePublicações e Comunicação Social da ABEn, articulando representantes de enfermagemna CAPES, CNPq e editores de periódicos de enfermagem.

Delineamento de estratégias de iniciação precoce à pesquisa para alunos de graduação,tais como: divulgação de informações no site da ABEn: links, dados sobre bolsas deiniciação científica, bolsa balcão, CNPq, fundações e outras agências de fomento;publicação dos trabalhos premiados em revista eletrônica; divulgação por meioeletrônico e impresso da Página do Estudante e dos prêmios à pesquisa; estudo de línguasestrangeiras; possibilidade de publicação do texto completo dos trabalhos premiados.Delineamento de estratégias de aprimoramento da qualidade dos trabalhos apresentados emeventos científicos, tais como: melhoria no processo de seleção dos trabalhos, dinamizaçãodas seções de pôsteres (tipo pôster animado), criação de espaços de convivência onderelatores e/ou especialistas presentes no evento possam conduzir uma discussão maisaprofundada sobre o referencial teórico-metodológico das pesquisas e/ou assuntos abordados.Delineamento de estratégias de estímulo e instrumentalização dos enfermeirosassistenciais para a prática investigativa, por meio de parcerias entre as escolas e aABEn, tais como: cursos e grupos de discussão a distância, via Internet, articulaçãocom grupos de pesquisa consolidados, oferta de serviços de assessoria como formade apoio a grupos/projeto regionais de pesquisa.

Estratégias Coordenadores/CAPESImplementação de grupos depesquisa.Desenvolvimento de pesquisascooperativas e multicêntricas.Consolidação de linhas/grupos depesquisa.Melhoria da infra-estrutura paraos programas de pós-graduação.Identificação de necessidades/prioridades regionais edesenvolvimento de projetos depesquisas.Desenvolvimento e divulgação delinhas de pesquisas claras edefinidas.Maior captação de recursos pormeio do incremento no númerode projetos de pesquisa.

Discussão sobre a qualificação ereestruturação produtiva dodocente.Articulação com organismosnacionais e internacionais e odesenvolvimento de parceriasinternacionais.Participação em eventos nacionaise internacionais.Maior captação de recursos paraos periódicos.Meios para aumentar a difusão daprodução científica

Apoio logístico para os editores deperiódicos.Definição de critérios de qualidade,uniformização dos periódicos.Incentivo ao incremento decitações de trabalhos nacionais nosartigos produzidos.Indexação dos trabalhospublicados no BDENF, SCIELO,MEDLINE.Articulação entre os níveis degraduação e pós-graduação paraincrementar e qualificar a formaçãodo aluno de enfermagem na áreada pesquisa.

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atividade de pesquisa em Enfermagemno Brasil é bastante recente, sendo que osprimeiros trabalhos realizados com base emmétodo científico datam dos anos de 1950.1

Nas últimas décadas, sem dúvida,podemos considerar que a expansão dosprogramas de pós-graduação e a inserção

de enfermeiras do segmento acadêmico e assistencial,em grupos e projetos de pesquisa, têm dado impulsopara a consolidação da pesquisa como uma estratégia emeio para legitimar e definir o saber específico daenfermagem. Isso resulta na geração de novos modelose instrumentos de intervenção, não só para a prática daenfermagem, mas também dá respostas e substratospara intervenções de outras áreas profissionais,contribuindo para uma construção efetiva da ciênciana área da saúde.

Nessa vertente, a pesquisa é reconhecida como uminstrumento significativo para a promoção da saúde epara o desenvolvimento social. Como atividade social,deve estar prevista na agenda pública como um dossegmentos a ser financiado e gerenciado por umconjunto de diretrizes que combine a livre expressão ecriatividade do cientista e atenda padrões éticos ecientíficos.

Saliento, no entanto, que dessa forma a pesquisanão está apenas a serviço de responder demandas jáestabelecidas, mas também de projetar demandas e estarna vanguarda da criação do conhecimento. SegundoDavenport; Prusak (1998), “o conhecimento pode e deveser avaliado pelas decisões ou tomadas de ação às quaisele leva”, ao que Morel (2002) comenta: “ o processo detransformação do conhecimento em decisões e/ou açõesé de mais difícil compreensão, análise e implementaçãodo que aquele de transformação de dados e informaçõesem conhecimento”. Dessa forma, a pesquisa deve servista como uma atividade dinâmica e contínua, gerandoprocessos interativos entre os “dados, informação,conhecimento e ação”.

Nessa linha de pensamento, inclui-se nas agendasde discussão sobre as atividades de pesquisa, e aqui,particularmente a de enfermagem, a necessidade dedefinição de uma política de pesquisa e desenvolvimentoem saúde que inclua, também, o delineamento deprocessos avaliativos de seus resultados, na perspectivado avanço do conhecimento e da tecnologia assistencial.

Alguns estudos têm sido desenvolvidos com oobjetivo de avaliar, direta ou indiretamente, o impactoda pesquisa e a qualidade da produção científica da

enfermagem. Nesses estudos, alguns dados seconfundem. Isso se deve ao fato de que muitos delesnão buscam avaliar o impacto direto da pesquisa,mensurando os resultados como transformadores derealidades e geração de conhecimentos, mas buscamavaliar a relação que se constitui entre o setor deinvestimento em ciência e tecnologia e os resultados,reduzidos a indicadores de produção científica, namaioria das vezes por meio da bibliometria, focalizandoa dimensão da publicação científica dos resultados dapesquisa.

Por desconhecermos trabalhos que apresentamanálise da produção com a construção ou adoção deindicadores de impacto para pesquisa em Enfermagem,julgamos oportuno o desenvolvimento de um estudoque propicie um olhar para a produção científica emenfermagem e retrate o alcance dos resultados das nossaspesquisas; que propicie ao pesquisador dar sua visãodo impacto gerado pelos resultados de suas pesquisas eque dê subsídios para a formulação de indicadores quepossam compor um modelo de avaliação das pesquisasem enfermagem.

No ano de 1997, sob iniciativada Fundação de Amparo à Pesquisano Estado de São Paulo (FAPESP),foi realizado um estudo queconsiderou cinco indicadores paraavaliar a contribuição da FAPESPpara o desenvolvimento de programasde pesquisa e o impacto que estesgeraram para as áreas deconhecimento. Nesse estudo, opróprio pesquisador avalia e dá suainterpretação do grau e importânciado impacto gerado pela sua pesquisa,sendo esta uma possibilidade dealcançar dados qualitativos para aavaliação de impacto dos resultadosdos estudos, que não se conseguecom os dados bibliométricos ouquantitativos de produção, uni-camente. Os indicadores definidos e aplicados noreferido estudo foram cinco, e buscam identificar asdimensões tecnológicas, científicas, sociais e econômicasdo impacto da pesquisa. São eles:

1. Desenvolvimento científico e/ou tecnológico, sendousada a bibliometria;

2. Difusão do conhecimento e/ou formação de novoscentros, considerando-se que “a difusão e a

interiorização do conhecimento podem ser vistas emnível acadêmico, isto é, entre centros de pesquisa, e nonível social, isto é, entre os centros de pesquisa esociedade representada por seus setores produtivospúblico e privado, entidades de promoção e de difusãoda cultura em suas diversas formas e o público em geral”;

3. Desenvolvimento econômico, considerando-se queindicador relativo ao impacto econômico se “faz pelacomparação da atividade econômica do setor deaplicação do projeto, antes e depois da aplicação deseus resultados”;

4. Desenvolvimento social e/ou cultural: “Os impactos denatureza social e cultural, embora em alguns casoscomportem avaliação econômica, devem ser analisadoscom base em indicadores próprios das respectivas áreasdo conhecimento e de acordo com os objetivos doprograma em que se enquadram os projetos”;

5. Formação de políticas públicas, normas, leis, etc. “ Osimpactos são expressos pelo papel que tiveram osresultados da pesquisa na origem ou revisão deregulamentos, normas ou leis em proteção doconsumidor e de bens e produtos de interesse social oueconômico, proteção do meio ambiente, apoio e defesa

da arte e da cultura, difusão e defesada justiça e dos direitos humanos emgeral e das minorias em particular. Aavaliação se baseia no estudo dasnormas e regulamentos, suas origense resultados, recorrendo àcolaboração dos que participaram desua elaboração, implantação eacompanhamento.”

Dessa forma, com o intuito devalidar estes indicadores deimpacto para a área daEnfermagem, a Comissão dePesquisa da Escola de Enfer-magem da Universidade de SãoPaulo iniciou um trabalho junto agrupos de pesquisa cadastrados nodiretório do CNPq, versão 4.0, osquais receberam um instrumentode pesquisa on line em que opesquisador, ou líder do grupo,

registrava suas avaliações sobre o impacto de pesquisados programas/projetos de pesquisa de seu grupo. Osresultados que ora apresentamos são preliminares etemos o objetivo, tão-somente, de compartilhar comtodos, de forma descritiva, o panorama dos resultadosobtidos até o momento.

*

Alguns estudos têm sido desenvolvidos com o objetivo de avaliar, direta ouindiretamente, o impacto da pesquisa e a qualidade da produção científica da

enfermagem. Nesses estudos, alguns dados se confundem

pesquisa é

reconhecida

como um

instrumento

significativo para a

promoção da saúde e

para o

desenvolvimento

social

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Resultados preliminares do estudoNa base do diretório 4.0 do CNPq há

um total de 193 grupos de pesquisacadastrados, sendo que foram criados 108grupos de pesquisa, de 1973 a 1996, e osdemais 85 grupos entre 1997 e 2000. Do totalde 193 (100%) grupos de pesquisacadastrados no diretório de grupos depesquisa do CNPq, versão 4.0 , 56 (29,01%)grupos preencheram nosso instrumento depesquisa e 26 (46,26%) deles contribuíramcom respostas relativas a mais de um projeto.Assim, foram oferecidas respostasconcernentes a 71 projetos de 56 diferentesgrupos de pesquisadores.

Os grupos: ano de criação, composiçãoe produção científica.

Os primeiros grupos foram criados apartir de 1985, sendo que no período de 1992a 1994, percebe-se um salto quantitativo decriação de outros grupos, com novo pico decriação de grupos em 1997. A partir daí,percebe-se decréscimo gradativo da formaçãode grupos registrados na base CNPq 4.0. Onúmero de integrantes dos grupos é muitovariável. A média de pesquisadores por grupoencontrada foi de 7, havendo grupos comaté 18 pesquisadores. Quanto ao número dealunos, a média foi de 9, incluindo-se ascategorias graduação e pós-graduação. Osgrupos contam, em média, com 4 doutores e2 mestres. Aqueles com titulação máxima degraduação, ou de pós-doutoramento, nãochegam a ter um participante por grupo.Quanto à produção científica dos grupos,destaca-se o número de resumos publicadosem anais ou livros-programa em eventosnacionais, sendo que os grupos têm em média46 resumos publicados. Os artigos completospublicados em periódicos nacionais, emmédia, giram em torno de 19 e os publicadosem periódicos internacionais apresentam-sepor volta de 2, havendo grupos sem nenhumapublicação dessa categoria.

Os projetos: financiamentos, influênciados financiamentos, das condições doscentros de pesquisa, e os impactos dosresultados.

Como item de importância parasobrevivência dos grupos e manutenção dasatividades de pesquisa, o financiamentorecebido pelos grupos para os projetosreferidos neste estudo vem em sua maioria (51,4%) doCNPq, havendo a menção de outras fontes, como osórgãos estaduais (18,9%), excluindo-se, aqui, 10,8%projetos financiados pela FAPESP. Dos 71 (100%)projetos informados, 37 (52,1%) receberam algumfinanciamento e os demais 34 (47,9%), infere-se quenão tiveram financiamento. Os financiamentosrecebidos, segundo os líderes dos grupos, contribuíram,em sua maioria, para a formulação e o início do processode investigação de cerca de 45,10% dos projetos, sendoque, para 31,0% deles, contribuíram para a solução deproblemas ocorridos no decorrer do processo dapesquisa. Os grupos, em sua maioria, têm origem efuncionam em universidades públicas estaduais e

federais, e pelas suas características e condições derecursos humanos e materiais, podem influenciar asatividades de pesquisa dos grupos. No conjunto dascondições consideradas, é possível observar que ascondições dos centros de pesquisa são vistas pelos líderes,como condições que podem favorecer pouco, ou mesmograndemente, a realização de pesquisas, mas apenasum grupo referiu que as condições institucionaisdificultaram grandemente suas atividades. No queconcerne à influência das medidas de governo, demandade mercado e outras fontes de recurso, estas parecemnão interferir muito na realização das pesquisas. Osdois primeiros quesitos podem estar relacionados àscaracterísticas de estudos realizados na enfermagem,

cujos objetos de estudo não atendem necessariamente aessas categorias de análise. Por outro lado, é possíveldizer, pelas respostas recebidas, que as outras fontes derecursos também parecem não ter contribuiçãosignificativa na realização das pesquisas, uma vez quea maioria das pesquisas não sofreu interferênciassignificativas dessa ordem; entre as 37 (100%) respostaspara esse item, 14 (37,80%) e 7 (18,90%) dospesquisadores referem, respectivamente, que as outrasfontes favoreceram pouco e grandemente as pesquisas.No conjunto, é possível considerar que todas ascondições acima consideradas tiveram mais influênciafavorável do que desfavorável para a realização daspesquisas.

Pau

l K

lee

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ReferênciasSILVA , I.A. A contribuição da ABEn na produçãode conhecimentos. In: CONGRESSO BRASI-LEIRO DE ENFERMAGEM, 46, São Paulo, 1996.Anais. ABEn – SP, São Paulo, 1997, p. 96.DAVENPORT, T.H.; PRUSAK,L. Workingknowledge: how organizations manage what theyknow. Boston: Harvard Business School Press, 1998.MOREL, C.M. Geração de conhecimento,intervenções e ações de saúde. São Paulo emPerspectiva , v.16, n.4, p.57-63, 2002.SILVA, A.C. (coord) Avaliação da contribuiçãoda FAPESP ao desenvolvimento. DocumentoFAPESP. Relatório do projeto 97/001000-0, 1997.DEMO, P. Pesquisa e construção doconhecimento: metodologia científica no caminhode Habermas. 4. ed. Rio de Janeiro: TempoBrasileiro, 2000, p.102-109: desafios da avaliação.SEVERINO, A. J. Metodologia do trabalhocientífico. São Paulo: Cortez, 1996.BRASIL. Ministério da ciência e tecnologia.Prioridade de pesquisa: identificação de áreasprioritárias na saúde, CNPq. Brasília, 2000.

Isília Aparecida Silva, ElizabethFujimori, Margareth Ângelo, Maria

Cristina Komatsu Braga Massarolo MiakoKimura, Neide de Souza Praça, Vanda

Elisa Andres FelliDocentes da EEUSP/USP

* Apresentação no 12º SENPE, de 27 a 30 de abril de2003, em Porto Seguro – BA.

1 Dados preliminares do Projeto de pesquisa “Estudosde Indicadores e Impacto da Pesquisa emEnfermagem” – FAPESP/2002-2003.

Os projetos: impactos dos resultados daspesquisas.

Os indicadores de impacto, anteriormentemencionados, são considerados segundo o grau deimpacto, que pode ser nenhum, pequeno, grande,muito grande, ou um grau intermediário ou consideradoneutro, e que poderia ser assinalado pelos pesquisadores.Considerando que o grau varia de nenhum a muitogrande, espera-se que os resultados da pesquisa estejamclassificados em pelo menos um desses graus. Noentanto, nem todos os pesquisadores responderam atodos os indicadores de impacto, havendo um númerovariável de respostas para cada uma das categorias. Oindicador que recebeu o maior número de respostas foirelativo ao impacto sobre o avanço da ciência e datecnologia, para o qual obtivemos a resposta referente a54 (76,05%) projetos, sendo que para essa categoria osresultados de 23 (42,60%) pesquisas são consideradosde grande impacto, e outros 24(44,40%) referem impactoconsiderado muito grande.Destacam-se projetos que referemimpacto sobre a difusão deconhecimento e interiorização dapesquisa; dentre os respondentes,52 (100%), a maioria, 31(59,60%),aponta grau de grande impactopara essa categoria. As respostastambém apontam um predomíniode grande impacto sociocultural,por outro lado, para a maioria daspesquisas, 28 (59,60%), seusresultados foram consideradoscomo tendo nenhum impactosocioeconômico.

O impacto na formulação depolíticas públicas é disperso, emboraas respostas demonstrem que osresultados do estudo podem ser mais favoráveis do quedesfavoráveis. A distribuição é maior nos graus grande emuito grande, embora também sejam referidos os grausnenhum e pequeno. Procedemos, também, à análisemultivariada dos projetos de pesquisa, aplicando-se aAnálise de Agrupamento (Cluster). No caso desteestudo, os projetos foram agrupados considerando-seas variáveis determinadas pelos indicadores de impacto,segundo o comportamento das variáveis “impacto”.Com os dados obtidos até o momento, percebemos queos projetos podem ser agrupados em quatro unidadesdiferentes, sendo que para esta análise consideramosrespostas de 45 projetos que nos forneceram dadossuficientes e necessários para o estudo. Percebemos quehá um predomínio de projetos, 18 (40,0%), cujosimpactos estão na esfera acadêmico-cultural, enquantooutros 13 (28,9%) combinam os impactos da áreaacadêmica, política e cultural. Também obtivemosgrupos de projetos em que não há uma tendência ouidentificação de impactos específicos, mas eles sedistribuem homogeneamente entre os indicadores deimpactos determinados. Nota-se que apenas um projeto(2,2%) se coloca na indicação do impacto econômico.A referência do indicador de impacto econômico, paraas pesquisas em enfermagem, parece atender nossasexpectativas, uma vez que é consenso de que asinvestigações na área das ciências aplicadas perdem emnúmero e forma para as ciências básicas, não visando

propriamente uma demanda de mercado, maspredominantemente a demanda social. Há algo a sersalientado, as pesquisas referidas com impacto difusosão originárias de grupos com equipes diversificadas,com grande número de integrantes que demonstrambaixo nível de captação de recursos, enquanto aspesquisas referidas com impacto acadêmico, político ecultural são desenvolvidas por grupos que demonstrampossuir alta capacidade de captação de recursos e sãomuito produtivos, na área do ensino e da pesquisa.

A título de conclusãoConforme já citado, esta apresentação tem como

objetivo iniciar uma discussão que nos instiga há muitotempo: investigar qual o impacto que os resultados dapesquisa em enfermagem causa para a sociedade comoum todo. Para esta apresentação, a análise realizada não

investigou nenhum aspectoparticular, não respondeu anenhuma curiosidade específica, enem teve a intenção de testarhipóteses, uma vez que o estudobusca, em princípio, traçar opanorama da pesquisa emenfermagem, segundo algumasvariáveis, e validar indicadores deimpacto para serem aplicados paraa pesquisa em enfermagem. Ainterpretação dos resultados obtidosaté o momento não nos dá apossibilidade de firmar diagnósticosou de definir os traços da pesquisaem enfermagem, mas possibilita umavisão, ainda que parcial, dasdimensões de impacto e daaplicabilidade desses indicadorespara a enfermagem. O empenho emrealizar um estudo dessa natureza e

com esses objetivos tem a finalidade última dedemonstrar a importância e o papel da pesquisa emenfermagem no Brasil e contribuir para a elaboração deinstrumentos e de metodologia que possam ser eficazespara a mensuração quali e quantitativa dos resultadosde pesquisa segundo o impacto que geram para asociedade. Os resultados até o momento não nosautorizam a extrair conclusões, mas são capazes demostrar que a pesquisa em nossa área é capaz deresponder às demandas mais freqüentes e emergentes dasociedade, se considerarmos as diversas dimensões deimpacto apontadas pelos pesquisadores, contribuindopara o avanço da ciência e tecnologia, para odesenvolvimento científico e cultural, social e econômico.Esses resultados nos motivam a dar continuidade aoestudo, principalmente por considerarmos que estesreforçam a nossa compreensão de que o legado humanode desenvolvimento da ciência nos remete à atividadequestionadora do humano, sendo esta a alavanca quepropulsiona o conhecimento. Assim, é possível considerarque “o conhecimento tem a tarefa de intencionalizar arealidade sendo uma ferramenta de que dispomos paraa construção do sentido de nossa ação individual ecoletiva” (p.104). [...] o conhecimento só se sustenta secompreendido como um processo de efetiva construçãodos objetos abordados, conhecer significa construir oobjeto, e construir o objeto significa pesquisar. Essaconstrução não é apenas uma estruturação lógica ... é

uma estruturação histórico-social, prática. Daí arelevância da pesquisa, caminho para a efetivação doconhecimento criador ... a comunidade se vale de seusresultados para a superação de suas carências.” (p.12).Tomando como base um estudo publicado em 2000 peloCNPq, em que se procedeu a uma avaliação dos temasdas pesquisas financiadas por aquele órgão de fomento,constatou-se que das pesquisas em enfermagemrealizadas pelos pesquisadores enfermeiros, com bolsasprodutividade do CNPq, todas (100%) foramclassificadas dentro das 8 áreas de prioridades em pesquisapor ele definidas. Consideramos que a classificação dessaspesquisas, mais que uma adequação ou enquadramentodas pesquisas e pesquisadores no sistema de fomento,mostra a concentração e dispersão das áreas temáticascobertas pelas pesquisas em enfermagem. No entanto,não dá força para o que isto significa no cenário social,político e de formação de recursos operacionais para avalorização desta atividade pela e para a categoria,segundo o impacto de seus resultados. A descoberta dosignificado dos resultados de pesquisa em enfermagematrai, no mínimo, a possibilidade de as lideranças daárea formularem e defenderem políticas de criação,incentivo, desenvolvimento, consolidação e fortalecimentodos grupos de pesquisa em enfermagem, grupos quesejam capazes de atender demandas emergidas dasociedade, mas, também, antever e antecipar demandasque nos dêem subsídios para o avanço da ciência, aconsolidação da pesquisa como instrumento detransformação da realidade e o devido reconhecimentodo nosso papel social.

pesquisa não

está apenas a

serviço de

responder demandas

já estabelecidas, mas

também de projetar

demandas e estar na

vanguarda da criação

do conhecimento

E s p e c i a l P e s q u i s a e P ó s - g r a d u a ç ã o

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ABEnjul.ago.set. 2003 19

M e m ó r i a A B E n

No interesse de expor à compreensão algunscomentários que nos conduzam à reflexão e, por ela,apreciar/comentar um encontro possível com a gênesedo saber/conhecimento profissionalna enfermagem, apresentamoscinco temáticas, a nosso ver,representativas de mudanças natrajetória histórico-evolutiva. Valedizer, nesse sentido, que a classi-ficação é arbitrária. Com atençãoaos limites e/ou fronteiras de suaconstrução, este texto apresenta-secomo uma contribuição focali-zadora de aspectos significativosdesse saber/conhecimento profissionale esboça ângulos da história nocurso desenvolvimentista daprofissão.

A primeira – primórdios datrajetória – refere-se ao emblemá-tico Modelo Parsons, em si mesmouma fonte matriz de geração dosaber/conhecimento em construção,com cinco princípios inclusivos edecisivos no desenvolvimento. Asegunda – a arriscada travessia entreser e estar na dimensão profissional –trata da passagem da Enfermagempara o nível universitário, e destaca-se por alguns precedentes econseqüências. A terceira – otangenciamento de uma cultura político-social feminista– releva indícios de envolvimento da Enfermagem emconcepções e campanhas de temas sociais, maisabrangentes culturalmente e, naquela ocasião, em quese estava manifestando o debate ampliado sobre amulher na sociedade. A quarta – o saber/conhecimentoem socialização – se estabelece com o advento dosCongressos Brasileiros de Enfermagem , inauguradosnos anos 40 (Iº CBEn 1947), dando lugar a exposiçõestemáticas a partir de textos relativos ao saber/conhecimento produzido na profissão. E a quinta(historicamente presente) define-se como decisivoencontro com a pesquisa, um marco inicial da investigaçãocientífica, métodos, técnicas, sistematização, emabordagem cientifica de Enfermagem no Brasil(BARREIRA, 1979). Essa última etapa materializadaa partir da publicação de “Levantamento de Recursos eNecessidades de Enfermagem” (ABEn, 1956/58).

Pode-se dizer, sem nenhuma idéia de radicalização,que o Modelo Parsons – de Ensino e de Prática –adequado à formação de Enfermeiras, desde o início da

implantação da EnfermagemModerna em nosso país, é, em simesmo, constituído de elementossignificativos do saber/conhecimentoprofissional. Pois, do “Diagnóstico daSituação de Saúde” realizado porEthel Parsons (Chefe da MissãoTécnica de Cooperação para oDesenvolvimento da Enfermagemno Brasil – 1921/1931) aos ajustesdo Sistema Nightingale à realidadebrasileira, há indícios que ressaltama inerência de conteúdos desse saber/conhecimento, o que pode serconstatado nos demarcadores: 1) asubscrição ao paradigma Ni-ghtingale de ensino e de prática deEnfermagem; 2) a preocupaçãocom a regulamentação do trabalhodas enfermeiras; 3) as intençõesassociativas de política e organizaçãoda classe profissional; 4) as diretrizesda filosofia feminista; e 5) osprincípios científicos da Higiene e daSaúde Pública. Além de reforçaresses demarcadores, em seubrilhante relatório “A EnfermagemModerna no Brasil” (Archivos de

Hygiene/Exposições e Relatórios, DNSP, 1928), Parsonsdeixou expressa uma intencionalidade ética e a marcada consciência profissional compatível com aspectosepistemológicos quanto ao valor e aos limites dos

cuidados com os clientes prestados pelas enfermeiras.Tenha-se em consideração que tais demarcadores

na feição e concretude do saber/conhecimento profissionalna Enfermagem constituem, por outro lado, momentosdecisivos da Enfermagem Brasileira em sua trajetóriahistórico-evolutiva, o que demandou um certo tempo etudo que se fez à custa de muitos esforços em prol daidéia de Desenvolvimento da Enfermagem no Brasil(propósito da Missão Parsons). Dentre as principaisprovidências de implantar a Superintendência deEnfermagem no mesmo nível das Inspetorias queabrigavam os Distritos Sanitários e de criar a Escola deEnfermeiras (DNSP), a clarificação dos objetivos doscuidados de Enfermagem e da educação sanitáriamereceu larga atenção e esforços para delimitar asfronteiras da posição da “enfermeira de saúde pública”

O saber/conhecimento profissionalna enfermagem brasileiraComentários sobre momentos decisivosna trajetória histórico-evolutiva

Ethel Parsons, superintendente do Serviço de Enfermeirasdo Departamento Nacional de Saúde Pública

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Ethel Parsons e Johanna Schwarte, no escritório doServiço de Enfermeiras do DNSP

ode-se dizer,

sem nenhuma

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radicalização,

que o Modelo Parsons –

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adequado à formação de

Enfermeiras, desde o início

da implantação da

Enfermagem Moderna em

nosso país, é, em si

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profissional

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no trabalho nos consultórios médicos (ambulatórios edispensários), na vigilância de casos e na visitação acliente e famílias nos domicílios. Com tais providências,iniciou-se a efetivação da pragmática assistencial e doprocesso de formar profissionais de Enfermagem à luzde concepções paradigmáticas e de parâmetrosadmitidos para o plano.

Além dos desafios da formação das primeirasTurmas (Escola de Enfermeiras do DNSP/Classe 1925.As Pioneiras. Rio de Janeiro: Edição das autoras, 1925),cabe destacar a consolidação da Escola comoinstituição educacional, a criação da AssociaçãoNacional de Enfermeiras Diplomadas Brasileiras -

Lygia PaimDoutora/Docente Livre UFRJ. Professora de

Metodologia da Pesquisa de Graduação emEnfermagem e Articuladora da Pesquisa da

Universidade do Vale do Itajaí - UNlVALI/Biguaçu,Santa Catarina

Vilma de CarvalhoProfessora Emérita - EEAN/UFRJ. Pesquisadora do

CNPq

Jussara SauthierDoutora em Enfermagem - EEAN/UFRJ. Professora

adjunta/UFRJ (Aposentada)

M e m ó r i a A B E n

Este texto sobre o saber/conhecimento naenfermagem brasileira continuará na próxima edição.

ANEDB (1926), a filiação dessa entidadeassociativa ao Conselho Internacional deEnfermeiras – CIE/ICN (1929), e aconquista da primeira Lei deregulamentação do exercício daenfermagem (Decreto Nº 20.109/31). Emtodos os enfrentamentos e lutastranscorridos no panorama daEnfermagem brasileira e nos eventosinstitucionais da Escola – Diretorias deClara Louise Kieninger, LoraineGenevieve Dennhardt e Bertha LucilePullen – há a marca distintiva de EthelParsons e, portanto, do Modelo Parsons- contexto dos primeiros passos do saber/conhecimento profissional na Enfer-magem Brasileira. A Missão Técnicaencerra suas atividades e contribuições àEnfermagem Brasileira, em 1931,deixando para as sucessoras um alertasobre os riscos que a Escola Anna Nerycorria: o de não se tornar oficial (inseridana universidade) e outra escola de menorpadrão obter reconhecimento,desmoralizando a profissão; de sertransferida para dentro de um hospitalperdendo sua autonomia e identidade;de as alunas serem utilizadas comomão-de-obra; de receber alunas compadrão educacional e social inferior; denegligenciar os fundamentos teóricos epráticos; de não ser perseguida aobrigação com o desenvolvimento sociale profissional da aluna e o de nãoobservar o adequado equilíbrio entre

teoria e prática com boa supervisão (CEDOC/EEANDOC 220 CX 34, 1931).

Com a saída das enfermeiras norte-americanas,assumem posição de liderança Edith de MagalhãesFraenkel (professora da EEAN e 1ª presidenta daANEDB), na Superintendência de Enfermagem doDNSP, e Rachel Haddock Lobo que se torna a 4ªdiretora da EEAN e a 1ª diretora de nacionalidadebrasileira. Nesse particular, cabe destaque singular àcriação do órgão de divulgação da entidade associativa– Annaes de Enfermagem (1932), na realidade intra-muros e na intimidade mesma da EEAN, a qual podeser considerada como berço primário do saber e daHistória da Enfer-magem Brasileira.

Ao término daMissão Parsons (1921-1931), e em meio àconvulsão políticadesencadeada pelaRevolução de 30 e peloGoverno Vargas, suce-dem reformas estatais,uma delas reunindo a

Saúde Pública e a Educação, compondo um sóMinistério(MESP) o qual inclui ainda a Escola.Contudo, as transformações sucedidas, refletindo-se,também, na estrutura de poder revelaram um certoenfraquecimento econômico na conjunturaadministrativa do DNSP, com prejuízos para ofuncionamento e evolução da EEAN, pelo que estapassa a sofrer outros interesses e outras influências comconseqüências para seu futuro ingresso no sistemauniversitário. No entanto, vale ressaltar que o saber/conhecimento profissional, mesmo em meio à convulsãode reformas educacionais e políticas, continuou seusrumos na andança do crescimento, agora maisdecisivamente sob a regência das enfermeiras brasileiras.

Tenha-se em consideração que, na arriscadatravessia da estrutura ministerial para o ingresso nosistema universitário (1934 a 1938), a Escola já estavaincluída no “Projeto de Lei 595”, proposta de re-estruturação de Universidade do Rio de Janeiro, projetopelo qual a Escola deveria inserir-se, na estruturauniversitária, como instituição complementar, com aresponsabilidade de ministrar também o Curso deServiço Social. No entanto, enfermeiras da Escola, bematentas, trataram de preservar a especificidade do saber/conhecimento profissional e de seu patrimôniopedagógico, recompondo o currículo e criando duasnovas disciplinas – Administração e Problemas deEnfermagem. Sem dúvida, uma decisão de políticaestratégica para colocar o ensino de Enfermagem nomesmo nível do ensino de outras instituições superioresexistentes dentro e fora do país. As enfermeiras da Escolaresistiam às sanções educacionais em relação ao ingressono sistema universitário, mesmo assim isso aconteceuem 5 de julho de 1937 (Lei 452/37).

Para reforçar a relevância do saber/conhecimentoprofissional, cabe enfatizar que sem as produçõesintelectuais publicadas em Annaes de Enfermagem desdesua criação (1932), certamente estaria comprometida ainerência do patrimônio intelectual fundante e,também, toda idéia de edificação futura. Além de que,sem a preservação desse patrimônio no que tange aosignificado de memória, não se poderia promover ocrescimento do próprio saber/conhecimento profissional,posto que não se teriam as referências de ponto departida e de ponto de chegada (área de ciência) e nemcomo concretizar idéias e realizações sonhadas (área deprática na sociedade).

ABEnjul.ago.set. 200320

Capa do primeiro número da revista Annaes de Enfermagem, 1932

(Continuação da página 19)

1º CongressoNacional deEnfermagem,São Paulo, 17 a 22de março de 1947

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Foto: Reprodução do livro Associação Brasileira de Enfermagem, 1926 - 1976, Documentário

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