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WWW.OBESIDADEEMAGRECIMENTO.BLOGSPOT.COM.BR Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico da obesidade. Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.br Contato: [email protected] Efeitos do stress ocupacional na saúde do indivíduo: A obesidade e suas repercussões Por Psicóloga Daniela Souza A reorganização do estilo capitalista, e, por conseguinte, das modernas técnicas de gestão empresarial, revela o cerne da mais recente questão social adjacente às relações de trabalho firmadas no direito contemporâneo. A realidade global foi severamente modificada pelas transformações socioeconômicas manifestadas do final do século XX apontando uma nova configuração às relações de trabalho. A clássica relação empregatícia é abalada e questionada pelos novos ideais de eficiência na condução do mercado (Chapper, 2011). Assim, o conteúdo e a qualidade do trabalho humano também se modificaram. O desenvolvimento do conteúdo informativo das atividades profissionais, a difusão das ferramentas de tratamento da informação e sua inserção em uma rede de informação e comunicação tendem a fazer desaparecer as fronteiras tradicionais. Surgem novas tendências em relação ao trabalho: torna-se abstrato, intelectualizado, autônomo, coletivo, complexo e de intensas mudanças organizacionais (Chapper, 2011). Nesse contexto, exigem-se novas competências e habilidades dos trabalhadores, além de formas diferenciadas de produzir e relacionar-se com o trabalho. Nessa dimensão o stress pode ser considerado um obstáculo, uma vez que poderá interceptar e desviar o fluxo de energia, gerando assim, uma ruptura no equilíbrio pessoal. A vida acelerada dos dias atuais, principalmente nos grandes centros urbanos, contribui com um grande número de fatores capazes de interferirem nesse equilíbrio, que é considerado de fundamental importância para a saúde do indivíduo (Pereira & Zille, 2010). No processo de stress ocorre um desgaste anormal do organismo humano, ocasionando redução em sua capacidade de trabalho, provocada pela incapacidade prolongada de o indivíduo tolerar e superar as exigências psíquicas da vida ou de adaptar-se a elas. Nesse contexto, caracteriza-se o stress ocupacional, sendo uma reação do indivíduo ao seu ambiente de trabalho, no qual encontram-se agentes estressores que caracterizam uma relação pouco produtiva entre a estrutura do indivíduo e o seu ambiente ocupacional, demonstrando que excessivas mudanças estão sendo direcionadas ao trabalhador e que ele não está devidamente preparado, do ponto de vista psicológico, para internalizá-las de forma positiva (Pereira & Zille, 2010). O stress é definido por Lipp (2000) como uma reação do organismo, com componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz. A resposta do

Efeitos do stress ocupacional na saúde do indivíduo

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Psicóloga especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental e Obesidade e Emagrecimento, atuando no tratamento clínico e cirúrgico da obesidade. Autora do blog: www.obesidadeemagrecimento.blogspot.com.brContato: [email protected]

Efeitos do stress ocupacional na saúde do indivíduo: A obesidade e suas

repercussões

Por Psicóloga Daniela Souza

A reorganização do estilo capitalista, e, por conseguinte, das modernas técnicas de

gestão empresarial, revela o cerne da mais recente questão social adjacente às relações de

trabalho firmadas no direito contemporâneo. A realidade global foi severamente modificada

pelas transformações socioeconômicas manifestadas do final do século XX apontando uma

nova configuração às relações de trabalho. A clássica relação empregatícia é abalada e

questionada pelos novos ideais de eficiência na condução do mercado (Chapper, 2011).

Assim, o conteúdo e a qualidade do trabalho humano também se modificaram. O

desenvolvimento do conteúdo informativo das atividades profissionais, a difusão das

ferramentas de tratamento da informação e sua inserção em uma rede de informação e

comunicação tendem a fazer desaparecer as fronteiras tradicionais. Surgem novas tendências

em relação ao trabalho: torna-se abstrato, intelectualizado, autônomo, coletivo, complexo e

de intensas mudanças organizacionais (Chapper, 2011).

Nesse contexto, exigem-se novas competências e habilidades dos trabalhadores, além

de formas diferenciadas de produzir e relacionar-se com o trabalho. Nessa dimensão o stress

pode ser considerado um obstáculo, uma vez que poderá interceptar e desviar o fluxo de

energia, gerando assim, uma ruptura no equilíbrio pessoal. A vida acelerada dos dias atuais,

principalmente nos grandes centros urbanos, contribui com um grande número de fatores

capazes de interferirem nesse equilíbrio, que é considerado de fundamental importância para

a saúde do indivíduo (Pereira & Zille, 2010).

No processo de stress ocorre um desgaste anormal do organismo humano,

ocasionando redução em sua capacidade de trabalho, provocada pela incapacidade

prolongada de o indivíduo tolerar e superar as exigências psíquicas da vida ou de adaptar-se

a elas. Nesse contexto, caracteriza-se o stress ocupacional, sendo uma reação do indivíduo

ao seu ambiente de trabalho, no qual encontram-se agentes estressores que caracterizam

uma relação pouco produtiva entre a estrutura do indivíduo e o seu ambiente ocupacional,

demonstrando que excessivas mudanças estão sendo direcionadas ao trabalhador e que ele

não está devidamente preparado, do ponto de vista psicológico, para internalizá-las de forma

positiva (Pereira & Zille, 2010).

O stress é definido por Lipp (2000) como uma reação do organismo, com

componentes físicos e/ou psicológicos, causada pelas alterações psicofisiológicas que ocorrem

quando a pessoa se confronta com uma situação que, de um modo ou de outro, a irrite,

amedronte, excite ou confunda, ou mesmo que a faça imensamente feliz. A resposta do

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stress deve ser entendida como um processo e não uma reação estanque e independente,

pois no momento em que ela se inicia, um longo processo bioquímico se instala.

Independentemente da causa da tensão, o início se manifesta de modo bastante semelhante

em todas as pessoas, com o aparecimento de taquicardia, sudorese excessiva, tensão

muscular, boca seca e a sensação de alerta.

Do ponto de vista fisiológico, o stress é responsável por provocar nos indivíduos

alterações de modo a preparar o organismo para enfrentar e/ou superar as fontes de pressão

excessivas as quais está submetido. Quando não há um equilíbrio do organismo em relação

às pressões psíquicas do meio e a estrutura psíquica do individuo, instala-se um quadro de

stress.

O sistema nervoso e o sistema endócrino são de fundamental importância na

mediação desse processo, pois realizam a integração e coordenação entre os diversos órgãos

e sistemas do corpo humano. Indivíduos sujeitos a situações adversas reagem com

alterações hormonais, por estimulação do eixo hipotalâmico-pituitária-adrenal, estimulando a

produção de glicocorticóides, em especial o cortisol. Isso resulta em alguns efeitos no

organismo como a mobilização aumentada de glicose, proteínas e lipídios a partir de suas

reservas celulares, tornando-os disponíveis para a geração de energia.

Braga et al. (2011) cita um estudo realizado em condições experimentais com

indivíduos expostos a atividades envolvendo alta demanda e baixo controle sobre o trabalho

(uma situação similar ao trabalho em alta exigência). A experiência ocasionou a produção

elevada de cortisol e adrenalina. Em situações em que o indivíduo tinha um estressor

controlável, somente a produção de adrenalina estava aumentada, enquanto o cortisol

permanecia baixo. Ou seja, há evidências de uma relação entre a inabilidade de baixar os

níveis de cortisol sérico e a capacidade reduzida de lidar com o stress do dia a dia em alguns

indivíduos quando comparados com indivíduos que conseguiam lidar com stress.

Essas evidências corroboram a hipótese de que a falta de equilíbrio entre os

estressores no trabalho como a demanda no trabalho e nível de controle exercido, e o tempo

em que se experimenta essa situação de desequilíbrio, elevam a produção dos hormônios do

stress que, por sua vez, podem desencadear processos de adoecimento físico e mental

(Braga et al. 2011).

Do ponto de visa neuroendócrino, o elevado nível de cortisol sanguíneo é o ponto de

interseção entre o stress e o excesso de peso, já que o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal

controla a produção de cortisol e fisiologicamente é um dos responsáveis pela resposta ao

stress. De acordo com Costa et al. (2011), as situações de stress ocupacional atuariam como

fatores de risco para o desenvolvimento da obesidade visceral e suas consequências metabó-

licas e cardiovasculares. Alguns estudos sugerem que situações de sobrecarga emocional

como situações de trabalho estressantes poderiam estimular a resposta do eixo hipotálamo-

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hipófise-adrenal levando à prejuízos metabólicos em consequência da excessiva produção de

cortisol.

Existem evidências de que o desenvolvimento e manutenção, tanto da obesidade e

como do stress, estejam relacionados ao estilo de vida e traços psicológicos, estrutura

cognitiva, emoções, comportamentos e o ambiente que o indivíduo esteja inserido. Seus

hábitos alimentares inadequados, tabagismo, uso abusivo de álcool e o sedentarismo estão

intrinsecamente relacionados com esse adoecimento.

Um corpo saudável lida melhor com o stress, uma nutrição adequada oferece recursos

que ele precisa para se defender das crescentes exigências em seu ambiente de trabalho.

Uma alimentação inadequada, por outro lado, esgotará suas reservas nutricionais, deixando-

o vulnerável a doenças. Isso, por sua vez, provoca ainda mais stress, uma vez que não

possuem os recursos necessários para conseguir vencer o problema.

Dessa forma, constrói-se um ciclo vicioso: Em situações de stress, elevam-se os níveis

de cortisol, aumenta o metabolismo energético, estimulando a ingestão de alimentos. Diante

de uma alimentação hipercalórica e redução da atividade física, há o balanço energético

positivo, oferecendo condições para o ganho de peso. Portanto, a alimentação é um dos

fatores determinantes para o manejo do stress, bem como o seu consumo inadequado

poderá potencializa-lo.

Marilda Lipp, a referência e uma das precursoras do estudo e manejo do stress,

orientou um escreveu sobre o tratamento anti-stress, baseado em 4 pilares: relaxamento,

alimentação, exercício físico e modificações na área cognitiva (Lipp & Malagris, 2001). Esse

tratamento, intitulado Treino de Controle do Stress (TCS), utiliza procedimentos e técnicas

cognitivo-comportamentais, tendo apresentando bons índices de sucesso. Os profissionais

treinados e capacitados para aplicarem o treino ajudarão o paciente/indivíduo a:

1) Entender o conceito de stress;

2) Aprender a identificar os sintomas de stress;

3) Reconhecer os estressores internos e externos;

4) Aprender a lidar com a ansiedade;

5) Reestruturar a maneira de pensar;

6) Desenvolver a assertividade;

7) Aprender a manejar técnicas de resolução de problemas;

8) Reconhecer e respeitar limites;

9) Reestruturar o modo de pensar e ver o mundo;

10) Estabelecer prioridades;

11) Melhorar a qualidade de vida;

12) Aprender a utilizar o stress a seu favor;

13) E por fim, desenvolver um plano pessoal de técnicas de manejo do stress.

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Vale ressaltar que este tratamento, como qualquer outro ajudará o indivíduo tanto a

desenvolver estratégias de enfrentamento, como a aprender a conviver e lidar melhor com as

situações que provocam o stress. Não obstante, eliminará os problemas originários do

ambiente, que podem ter sua ontogênese em uma série de estímulos diferenciados.

O tratamento do stress e da obesidade requer um trabalho multiprofissional que

contemple os aspectos relacionados ao controle do stress emocional. Verificou-se que o TCS

promove mudanças duradouras no estilo de vida do indivíduo que favorecem o

gerenciamento da sua saúde e a manutenção de uma melhor qualidade de vida.

Referência Bibliográfica

Braga, V.C., Junger, W.L., Alves, M.G., Estresse no trabalho e pressão arterial: reflexões metodológicas sobre linearidade e operacionalização da exposição. Biblioteca do IMS – UERJ, Rio de Janeiro, 2011.Disponível em: http://apps.unibrasil.com.br/revista/index.php/direito/article/view/765/653Acesso em: 30 de Abril de 2012 Chapper, A.A., a relação de trabalho no direito contemporâneo e os Impactos da globalização na nova ordem econômica e social. Cadernos da Escola de Direito e Relações Internacionais, 15,Curitiba, 2011.Disponível em: www.tesesims.uerj.br/lildbi/docsonline/get.php?id=796Acesso em: 30 de Abril de 2012 Costa, M.C., Guércio, N.M., Costa, H.F., Oliveira, M.M., Alves, M.J., Possível relação entre estresse ocupacional e síndrome metabólica. HU Revista, vol.37, Juiz de Fora, 2011.Disponível em: www.seer.ufjf.br/index.php/hurevista/article/viewFile/1269/529Acesso em: 30 de Abril de 2012 Lipp, M.E.N. (2000). Inventário de sintomas do stress para adultos. São Paulo: Casa do Psicólogo.Lipp, M.E.N. (2000). Inventário de sintomas do stress para adultos. São Paulo: Casa do Psicólogo. Lipp, M. N. & Malagris, L. E. N. (2001). O stress emocional e seu tratamento. In: B. Rangé (Ed.). Terapias cognitivo-comportamentais: um diálogo com a Psiquiatria. Porto Alegre: Artmed, 475-489 Pereira, L.Z. & Zille. G.P., o estresse no trabalho: uma análise teórica de seus conceitos E suas inter-relações. Revista Gestão e Sociedade CEPEAD/UFMG vol. 4, nº 7, Jan/Abr, 2010.Disponível em: http://www.face.ufmg.br/revista/index.php/gestaoesociedade/article/viewFile/923/768Acesso em: 30 de Abril de 2012