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8 Introdução O Artigo 20º- define o casamento “a união voluntária entre um homem e uma mulher, formalizada nos termos da lei, com o objectivo de estabelecerem uma plena comunhão de vida”. O contrato de casamento poderia não determinar efeitos jurídicos, pessoais ou patrimoniais, entre os cônjuges. Estes continuariam a ser juridicamente estranhos, estabelecendo “de facto” entre si o relacionamento que entendessem. Tratar-se-ia de um modelo próximo do oferecido pelo Direito Romano, no qual, o estado de casado é um estado “de facto” assente num consenso actual.

Efeitos pessoais do casamento

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Introdução

O Artigo 20º- define o casamento “a união voluntária entre um homem e uma mulher, formalizada nos termos da lei, com o objectivo de estabelecerem uma plena comunhão de vida”.

O contrato de casamento poderia não determinar efeitos jurídicos, pessoais ou patrimoniais, entre os cônjuges. Estes continuariam a ser juridicamente estranhos, estabelecendo “de facto” entre si o relacionamento que entendessem. Tratar-se-ia de um modelo próximo do oferecido pelo Direito Romano, no qual, o estado de casado é um estado “de facto” assente num consenso actual.

 

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BREVE HISTORIAL DA EVOLUÇÃO DO CASAMENTO

Sob o ponto de vista sociológico o casamento é um fenómeno humano muito antigo que se formalizava sem qualquer acto solene.

No direito romano distinguia-se o casamento do simples concubinato pela affectio maritalis, elemento subjectivo que evidenciava o propósito comum de convivência duradoura entre o homem e a mulher. Era pois um acto voluntário que começou com vontade dos 2 e poderia terminar com o repúdio universal ou bilateral - é muito parecido com a figura da união de facto.

Na idade média e com a influência do cristianismo o casamento passou a ser encarado como um sacramento em que intervinha a vontade divina, o casamento revestia - se de forma canónica e era o ministro do culto que autorizava a celebração. Só a partir do Concilio de Trento do século XVI em que o sacerdote passou a intervir na sua celebração.

Com a separação da igreja criou-se o advento do protestantismo e seu predomínio nalguns países Europeus como a Inglaterra, retirou a igreja o controlo do casamento submetendo o ao Estado.

Foi só com a revolução francesa, no final do século XVIII que se passou a adoptar a concepção do casamento como um acto meramente civil, como um contrato, baseado na vontade dos nubentes e sem estar sujeito à intervenção obrigatória da Igreja, surgindo assim o casamento de natureza laica de competência dos representantes do Estado e independente do casamento religioso.

Já em Portugal o casamento civil só foi introduzido no código Civil no século XIX com carácter meramente facultativo mantendo-se em plena validade o casamento canónico.

Foi só com a proclamação da República que o casamento civil tornou-se obrigatório e deixando-se assim de atribuir efeitos civis ao casamento católico.

Com a celebração da concordata entre Portugal e a Santa Sé foi reintroduzida a dualidade de formas de casamento em que vigorou ate 1967. Hoje em dia em Angola reconhecesse unicamente o casamento civil pois, o Estado angolano é constitucionalmente um Estado laico. O casamento celebrado perante os órgãos do registo civil tem carácter obrigatório, art.27º- e 34º- C.F1.

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Igualdade de direitos e deveres dos cônjuges e direcção conjunta da família

A igualdade de direitos e deveres dos cônjuges implica naturalmente, que a direcção da família pertença a ambos, devendo estes acordar sobre a orientação da vida em comum (art. 1671º/2 CC).

Isto, seguramente, nos aspectos pessoais.

A comunhão de vida que é o casamento, fusão de duas pessoas numa só, significa que a vida em comum é determinada pelos dois cônjuges num só. Logo que este deixar de ser possível, o matrimónio estará mortalmente doente.

Nos aspectos patrimoniais também será, assim. Qualquer regime de separação será transformado em comunhão pela comunhão das pessoas. Portanto, na fase do casamento plenamente realizado o regime de bens é, neste sentido, indiferente.

Havendo bens comuns, o princípio de igualdade dos cônjuges parece impor a sua administração e alienação por acordo comum, mesmo sob pena de paralisia dessa administração no caso de crise, ou de graves dificuldades se a administração dos bens na sua transacção, como é o caso das carteiras de títulos. Mas é duvidoso que deva haver bens comuns.

Afectação do estado dos cônjuges: o nome

O nome serve para identificar o seu titular, distinguindo-o das outras pessoas. Tem sido utilizado para situar socialmente o seu portador, integrando-o numa certa família, relevando os seus pais, eventualmente o seu cônjuge, os seus avós.

Cada um dos cônjuges conserva os seus próprios apelidos, mas pode acrescentar-lhe apelidos do outro até ao máximo de dois. Assim, o marido poderá acrescentar dois apelidos da mulher, antes dos seus, depois deles, ou, mesmo, liberalmente misturados. O que se vai reflectir na composição do nome dos filhos, acabando o nome por deixar de estabelecer as relações familiares de um indivíduo, quase apagando a sua capacidade de identificação do sujeito.

Ter-se-á levado longe demais o princípio da igualdade dos cônjuges, num aspecto meramente formal, e em que os usos sociais eram largamente aceites e os quadros jurídicos flexíveis.

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Principio Reguladores das Relações Conjugais

Os direitos e deveres decorrentes do casamento norteiam-se pelos seguintes princípios:

Princípio da Igualdades de Direito e Deveres - este princípio decorre da própria constituição e vem previsto no código da família no art. 3º- nº 1 e 21º-. As relações conjugais são baseadas em direitos e deveres recíprocos de tal forma que cada direito corresponde a assunção de um dever, pois tais como as outras relações familiares são de natureza solidária e intercorrente

Princípio da Plena Comunhão de Vida - convivência física que abrange a convivência sexual comum pois a plena comunhão de vida constitui a finalidade legal do casamento e os cônjuges tem de viver m coabitação, terem uma residência comum art. 44º-.

Princípio da Decisão Comum ou da Diarquia - como corolário lógico do princípio da igualdade o princípio da diarquia atribui os dois iguais direitos e deveres nas relações entre si quer com os filhos, que é da decisão comum das questões de vida familiar, art.48º-.Página 15 de 30

Poderes e Deveres Matrimoniais - os poderes e deveres matrimoniais são de conteúdo predominantemente ético e jurídico e vem limitar a liberdade pessoal de cada cônjuge e vem previstos no art. 43º- em que se estabelece que ambos os cônjuges estão vinculados pelos deveres de:

Poder Dever de Respeito envolve o dever de prestar e o direito de exigir ao outro consorte o respeito pela personalidade moral e física abster – se de qualquer conduta ofensiva

Poder Dever de Fidelidade - em virtude do casamento os cônjuges obrigam-se a convivência sexual comum ficando inibidos de manter relações sexuais em terceira pessoa. Em Angola o adultério era um ilícito penal, embora hoje em dia seja considerado um ilícito civil.

O dever de fidelidade é o manter relações sexuais só com o cônjuge e é diferente do dever de débito que consiste na obrigação dos cônjuges de manterem relações e que se integra num dever de

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cooperação. Para que haja adultério tem de haver simultaneamente elementos, o elemento objectivo que são as relações sexuais consumadas e o elemento subjectivo que é a intenção ou a consciência de violar o dever de fidelidade. Relações sexuais tidas com erro ou coação não constituem adultério mas a tentativa de adultério já constitui uma violação ao dever de fidelidade.

Poder de Coabitação Dever - consiste na convivência material de marido e mulher em comunhão de cama, mesa e habitação art. 44º-.

Poder Dever de Cooperação - art. 45º- impõe a obrigação de cooperar e de participar em todos os actos de vida familiar, prestando-se reciprocamente entre ajuda.

Poder Dever de assistência art. 45º- é o prolongamento do próprio dever de cooperação, e tanto pode ser assistência material como moral.

Direitos pessoais dos cônjuges - cada cônjuge tem direito às liberdades fundamentais de natureza política, cívica, sindical, cultural ou religiosa, podendo os cônjuges terem as suas próprias convicções.

Representação comum

É um facto de vida conjugal, extremamente recente, que é a necessidade da família ser representada perante terceiros, é recente porque antigamente o código civil estabelecia que esta representação estava a cargo do marido, ao contrário de hoje em dia onde há uma representação alternativa e comum pois tanto o marido como a mulher tem plena capacidade civil.

Trata-se de um poder de representar tácito quando um cônjuge actua perante terceiros mas em resultado da vontade de ambos. Presume - se que representa a vontade comum.

Trata - se no entanto de presunção que pode ser lidida mediante declaração do outro cônjuge.Página 16 de 30

Direito ao Nome: É um rumo dos efeitos do casamento e significa que ao casarem terão de definir o nome de família.

O nosso art. 36º- n 1º, diz – nos que de qualquer dos nubentes poderá adoptar o apelido do outro ou podem ambos

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adoptarem por um apelido comum formado a partir dos apelidos dos dois. A declaração do apelido tem de ser efectuada após a celebração e pode ser por acto unilateral se consiste na adopção do apelido do outro por acto bilateral se consistir na formação de apelido comum da família.

Emancipação

O casamento de menor (ela pelo menos de 15 e ele de 16) leva á sua emancipação, o qual adquire a plena regência da sua pessoa e bens. Nacionalidade - se o cidadão estrangeiro ao casar perde a sua nacionalidade, adquire imediatamente, a nacionalidade angolana, mas caso isso não suceda terá de adquirir.

Tutela dos direitos Patrimoniais – os poderes deveres que integram o matrimónio são de natureza ético jurídico e correspondem á prestações de natureza eminentemente pessoal, pelo que o seu cumprimento é de natureza espontânea e resulta da vontade dos cônjuges.

Apesar da violação de alguns deveres ser punível por lei o facto é na esfera das relações íntimas e pessoais dos cônjuges reconhece-se a dificuldade de ingerência de terceiros para apaziguar os conflitos1. Nos diversos sistemas jurídicos procura-se cada vez mais o recurso a medidas de conciliação evitando rupturas de laços matrimoniais. Cada vez mais se procura organismos de medição, que são neutros e procuram uma forma de conciliação.

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Conclusão

O casamento é tido como uma união voluntária entre um homem e um a mulher em plena comunhão de vida. E quanto a nossa realidade jurídica o próprio conceito foi inovado pelo facto de não permitir o casamento canónico, diferente da ordem jurídica portuguesa, através do princípio da laicidade do Estado. O que significa dizer que só tem força jurídica quando celebrado por uma autoridade púbica que é, neste caso, Conservador do registo civil.

O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.

Os direitos e deveres referentes a sociedades conjugais são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. A criação da família legitima vigência e irrevogabilidade do regime de bens. Dever recíproco entre os cônjuges.

O contrato de casamento determina efeitos jurídicos, pessoais e patrimoniais, entre as partes, que originam um novo “estado” civil: estado de casado. Estado que afecta profundamente aspectos fundamentais da pessoa humana. Aspectos que estão tutelados por direitos da personalidade.

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Referencias Bibliográfica.

DINIZ, Maria Helena. Código Civil Anotado. Saraiva. São Paulo. 2004.

Venoso Sílvio de Salvo. Direito Civil. Direito de Família 3ªed. Atlas. São Paulo. 2003.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. Direito de Família Vol. 06. 25ª Ed. Saraiva São Paulo. 2000.

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