Upload
dessa-oliveira
View
148
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA
1. INTRODUÇÃO
Segundo David. Monique Abreu qualquer projeto que vise à ocupação do meio
ambiente causará danos ao mesmo. Dessa forma devem-se buscar as melhores
alternativas que conciliem desenvolvimento e meio ambiente, de forma que ocorram
menores impactos negativos possíveis para o meio ambiente e conseqüentemente
menores custos econômicos sociais. Dentre os instrumentos que contemplam isto está o
Estudo de Impacto Ambiental, que deve preceder a instalação da obra ou atividade que
tem potencial poder de causar significativa degradação no meio ambiente. Assim o
estatuto da cidade insere uma preocupação com a questão ambiental e política urbana,
de forma a instituir dois estudos visando assegurar a preservação do meio ambiente
urbano: o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV).
No estatuto da cidade art 37, define-se o EIV de forma a contemplar tantos os
efeitos negativos quanto positivos da atividade sobre a qualidade de vida da população
residente na área e seu entorno. O EIA deve ser apresentado por empreendimentos que
impactem a flora, fauna, águas, o ar e a saúde humana. Dessa forma fica claro que
ambos são necessários à implantação de um empreendimento na área urbana, sendo
que um não substitui o outro e sim se completam.
Qualquer tipo de empreendimento, que ocupe determinado lote urbano traz
conseqüências para o seu entorno. Dependendo do empreendimento, os efeitos podem
estar diretamente ou indiretamente ligados a vizinhança. A poluição sonora e o
desabrigo de muitas pessoas é um efeito direto, já a poluição de águas e do ar são
efeitos indiretos, já que a partir da poluição dos mesmos, muitas pessoas podem contrair
doenças.
1
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E OS IMPACTOS AMBIENTAIS.
O desenvolvimento das cidades, o aumento da população e das atividades
potencialmente impactantes vem ocorrendo há muitos anos. É evidente que tudo isso
causa grandes problemas ambientais, tais como uso e ocupação do solo, e sua
conseqüente impermeabilização, geração de efluentes, que, em sua maioria, não
recebem tratamento e vão direto para corpos d’água, diminuindo a qualidade destes e
disposição final do lixo de forma inadequada.
Fonte: www.ecodebate.com.brfotolixao2.jpg
Um ponto importante a ser considerado é a falta de planejamento urbano em
muitas das cidades brasileiras ao longo do tempo. Se este sempre estivesse presente,
muitos impactos seriam evitados.
Segundo Moraes (2007) mantendo-se os índices de crescimento e de
urbanização, o Brasil em 2020 possuirá 55 milhões de pessoas vivendo em favelas.
2
Isso, além de problemas sociais, também promove sobrecarga urbana, e todos os já
citados, como poluição do ar, água e solo, visual e sonora, desmatamento etc.
Fonte: www.achetudoeregiao.com.brlixo_reciclegifspoluicao.jpg
Os elevados índices de urbanização e, inversamente, os baixos níveis de
urbanismo vêm criando situações insustentáveis para o Poder Público e a coletividade.
O inchaço doentio dos centros urbanos (aumento desregrado da população) não tem
encontrado o contrapeso das estruturas urbanas necessárias (moradia, trabalho,
transporte e lazer), gerando-se daí formas endêmicas de males urbanos. E – o que é
pior – o fascínio das cidades e a concentração populacional crescem sem o necessário
controle quantitativo e qualitativo desse crescimento (Edis Milaré, 2005, p. 717)
3
Fonte: www.a23online.com/wp-content/uploads/2010/02/Screen-shot-2010-02-16-
a. 27.28.png
José Afonso da Silva (2006, p. 31) aponta que urbanismo objetiva a organização
dos espaços habitáveis visando à realização da qualidade de vida humana.
4
2.2 A Constituição Federal e o Estatuto da Cidade
Tem-se sobre a política urbana na Constituição Federal de 1988:
Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo poder público
municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno
desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes.
§ 1º - O plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades
com mais de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento
e de expansão urbana.
Portanto já se tinha a ideia de desenvolvimento sustentável e garantia da
qualidade de vida da população, além de estabelecer o plano diretor e a política de
desenvolvimento urbano.
Para regulamentar a Constituição Federal em 10 de julho 2001, com a Lei 10.257,
foi instituído o Estatuto da Cidade. Esta Lei regula o uso da propriedade urbana a favor
do bem social coletivo, bem como tem o condão de ordenar o pleno desenvolvimento da
cidade, garantindo o direito às cidades sustentáveis. (Pereira, 2007)
A Política Urbana estabelecida no Estatuto da Cidade busca a aplicação de
instrumentos que reduzam os males da urbanização, promovendo o urbanismo
necessário à qualidade de vida em nossas cidades. (Moraes, 2007).
Encontra-se na Lei 10.527:
Art. 36. Lei municipal definirá os empreendimentos e atividades privados ou
públicos em área urbana que dependerão de elaboração de Estudo Prévio de Impacto
de Vizinhança (EIV) para obter as licenças ou autorizações de construção, ampliação ou
funcionamento a cargo do Poder Público municipal.
Assim, estabelece-se o Estudo de Impacto de Vizinhança, como parte das
exigências da cidade para empreendimentos impactantes na obtenção de licenciamento.
5
2.3 ESTUDO DE IMPACTO AMBIENTAL
A Resolução CONAMA N° 01 de 1986, no Artigo 1°, definiu impacto ambiental
como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades
humanas que, direta ou indiretamente afetam: a) a saúde, a segurança e o bem-estar da
população; b) as atividades sociais e econômicas; c) a biota; d) as condições estéticas e
sanitárias do meio ambiente; e) a qualidade dos recursos ambientais.
No Artigo 2° da mesma Resolução, explicita-se que o licenciamento de quaisquer
atividades modificadoras do meio ambiente dependerá de um estudo de impacto
ambiental a ser submetido ao órgão ambiental competente.
A partir da avaliação de impacto ambiental pode-se assegurar que se faça um
exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação proposta (projeto, programa,
plano ou política) e de suas alternativas, e que os resultados sejam apresentados de
forma adequada ao público e aos responsáveis pela tomada de decisão, e por eles
devidamente considerados.
Assim, os empreendimentos impactantes além do Estudo de Impactos de
Vizinhança, previsto no Estatuto da Cidade, devem fazer um Estudo de Impacto
Ambiental. Ambos os Estudos contribuem para o desenvolvimento sustentável das
cidades.
6
3. ESTUDO DE IMPACTO DE VIZINHANÇA
3.1 DEFINIÇÃO
“O uso dos imóveis urbanos, hoje, não é tema a ser discutido somente entre
oproprietário de determinado lote ou empreendimento e o Poder Público. Isso ocorre,
pois, ainda que observados os dispositivos legais aplicáveis, o fato de interferir na
utilização ou ocupação de um determinado lote urbano pode produzir impactos sobre o
seu entorno e, conseqüentemente, causar reflexos diretos na vida e na dinâmica urbana
da vizinhança”. (Rocco; Rogério 2005 p. 1)
“Há que atentar, contudo, que o Estudo de Impacto de Vizinhança não venha
impedir a implantação de alguns empreendimentos de importância para o município. É
quase certo que cemitérios, aterros sanitários, terminais rodoviários e outros
empreendimentos fundamentais para qualquer cidade serão repudiados onde quer que
sejam instalados. O grande desafio no caso do Estudo de Impacto de Vizinhança,
portanto, é conseguir chegar a uma equação satisfatória entre os ônus e os benefícios
do empreendimento, visando a sua vizinhança imediata, sem deixar de considerar o
conjunto da cidade”. (Sampaio; Luciana, p. 26)
3.2 ASPECTOS A SEREM ANALISADOS PELO ESTUDO DE IMPACTO DE
VIZINHANÇA
EIV deve ser feito com bases em alguns aspectos que são importantíssimos para
a viabilidade do projeto. Previsto no artigo 37 da constituição:
3.2.1 ADENSAMENTO POPULACIONAL
“Um dos principais desafios no controle do uso e ocupação do solo passa por
estabelecer melhor equilíbrio da ocupação territorial, evitando vazios urbanos e a
periferização subutilizada (ou precária) dos serviços urbanos. Certamente o objeto de
análise do impacto de vizinhança se refere ao adensamento que gera sobrecarga à
infra-estrutura, mas também aos incômodos da maior animação urbana, com suas
movimentações e fluxos (quer por população provisória originária de atividades de
serviços ou comércios; quer por acréscimo de população permanente decorrente do uso
residencial)”. (MENEGASSI & OSORIO, 2002, apud Sampaio, 2005, p.24)
7
Neste item vali ressaltar a capacidade de desenvolvimento da população no local,
o possível impacto que a instalação do empreendimento causará na atração de novas
pessoas para o mesmo.
Fonte: Seminário cresce Brasil: estudo de impacto de vizinhança
3.2.2 EQUIPAMENTOS URBANOS E COMUNITÁRIOS
“A avaliação do impacto do empreendimento deverá estudar a necessidade da
inclusão de equipamentos não existentes ou não previstos para o local, conforme
estipulado pela lei de zoneamento”. (Sampaio; Luaciana 2005, p. 24). Desta forma este
item confronta uma etapa do EIA, sendo este a compensação ambiental, onde Segundo
Elias é uma ação com forte apelo social voltada à compensação de comunidades direta
e indiretamente afetadas por empreendimento impactante.
Fonte: Seminário cresce Brasil: estudo de impacto de vizinhança
8
3.2.3 USO E OCUPAÇÃO DO SOLO
O Estudo de Impacto de Vizinhança deve contemplar os aspectos inerentes ao
solo, como o desenvolvimento da atividade no mesmo, a forma como ela se dá a
ocupação do solo nos terrenos vizinhos.
Fonte: Seminário cresce Brasil: estudo de impacto de vizinhança
3.2.4 VALORIZAÇÃO IMOBILIÁRIA
Segundo Sampaio (2005), o EIV deve deixar claro como se dará a valorização ou
desvalorização imobiliária da área ao seu entorno, bem como indicar as transformações
urbanísticas provocadas pelo empreendimento, que advém de conhecer as atividades
vizinhas, como: sua natureza, seu porte, seus fornecedores e sua clientela, com impacto
direto sobre o valor dos imóveis da vizinhança.
“Mais um importante aspecto da verificação do cumprimento da função social da
propriedade, a valorização imobiliária, especialmente a decorrente do investimento
público ou da sua regulação (capacidade construtiva), tem no impacto de vizinhança um
instrumento capaz de avaliar se investimento público e valorização privada estão em
conformidade com o princípio da redistribuição de renda urbana e do uso sócial”.
(MENEGASSI & OSORIO, 2002, apud, Sampaio, 2005, p.26).
9
Fonte: Seminário cresce Brasil: estudo de impacto de vizinhança
3.2.5 GERAÇÃO DE TRÁFEGO E DEMANDA POR TRANSPORTE
PÚBLICO
È inevitável a geração de tráfego e demanda por transporte público,
posteriormente a instalação do empreendimento. Com isso, Segundo Sampaio (2005)
há de se considerar a reformulação viária necessária à adequação do tráfego e, em
conseqüência as possíveis desapropriações imobiliárias nas áreas lindeiras.
Além da geração de tráfego, haverá uma maior número de trabalhadores que
requer uma adequação do transporte públ e também da acessibilidade ao local, como o
melhoramento das vias, colocação de semáforos e sinalização em geral.
Fonte: Seminário cresce Brasil: estudo de impacto de vizinhança
10
3.2.6 ILUMINAÇÃO E VENTILAÇÃO
“Trata-se das condições de ventilação, insolação e luminosidade preexistentes no
local e das possíveis interferências causadas pelo empreendimento no microclima da
vizinhança, extrapolando o espaço privado do empreendimento e sua respectiva
construção”. (Sampaio; Luciana, 2005, p. 28).
A instalação do empreendimento pode comprometer a vizinhança, como o desvio
da corrente de ar que chegaria a tais casas e a intensidade da radiação solar que chega
nas edificações circunvizinhas. Esses parâmetros devem ser levados em conta, uma
vez que é um impacto gerado para a vizinhança.
Fonte: Seminário cresce Brasil: estudo de impacto de vizinhança
3.2.7 PAISAGEM URBANA E PATRIMÔNIO NATURAL E CULTURAL
“O EIV também deve contemplar a compatibilidade do empreendimento com a
paisagem urbana da vizinhança, por semelhança com as atividades humanas vizinhas
e/ou com a volumetria dos edifícios vizinhos. Deve demonstrar que a volumetria do
empreendimento não é impactante à paisagem urbana, à medida em que não interfere
na sua legibilidade nem se constitui num elemento obstaculizador da paisagem
descortinada, natural ou modificada”. (Sampaio;Luciana, 2005, p. 29)
11
Cabe analisar a importância histórica das imediações da área tencionada para a
implantação do empreendimento e identificar conjuntos ou mesmo edificações isoladas
que, mesmo não detendo o tombamento, tenham agregado valor histórico e cultural.
Fonte: Seminário cresce Brasil: estudo de impacto de vizinhança
3.3 ANTECEDENTES
Apesar de não constar como lei municipal anteriormente, o estudo de impacto de
vizinhança era exercido na medida que se fazia valer por outras medidas como:
regulamentação de Pólos Geradores de Tráfegos e Estudos de Impactos Ambiental .
Segundo Cymbalista ( 2004, apud Sampaio 2005, p.43), abaixo pode-se visualizar
alguns exemplos onde o EIV eram indiretamente aplicado.
3.3.1 SHOPPING CENTER ARICANDUVA, SÃO PAULO-SP; INÍCIO DA
DÉCADA DE 1990
Partindo da premissa que a instalação de determinados empreendimentos gerem
um impacto na circulação de veículos da região, aumentando o tráfego, a Prefeitura
Municipal utilizou o instrumento de Pólo Geradores de tráfegos (PGT), onde vários
aspectos técnicos são levados em conta, como: numero de vagos nos estacionamentos
ou garagem dentro dos limites dos lotes, de forma que a circulação dos veículos seja
facilitada e não interfira no entorno do local. Na negociação, obteve uma série de
contrapartidas dos empreendedores, como a instalação de semáforos, a construção de
uma ponte e a duplicação de uma avenida.
12
3.3.2 SHOPPING CENTER HIGIENÓPOLIS, SÃO PAULO-SP
Shopping instalado em um local com pessoas de alta renda e muito bem
organizadas, que prezavam pela qualidade de vida do bairro e o mantimento de dois
casarões situados no local onde seria construído o empreendimento, e reivindicavam o
impacto de tráfego que o shopping Center geraria. Obtendo do empreendedor certas
contrapartidas: relacionadas à qualidade paisagística (restrições a anúncios
publicitários, manutenção de áreas verdes próximas, restauração dos casarões, recuo
em relação às ruas), às características do próprio empreendimento (diminuição do
número de garagens e do tamanho do empreendimento), aos sistemas circulatórios
(automação da semaforização, garantia de prioridade aos pedestres, implementação de
linhas de microônibus de apoio ao público).
3.3.3 EMPREENDIMENTOS COMERCIAIS COM ÁREA SUPERIOR A 2
MIL M2, PORTO ALEGRE-RS
Empreendimentos cuja área seja maior que 2 mil m² são obrigados a realizar um
estudo de viabilidade urbanística (EVU), de inteira responsabilidade do empreendedor,
devendo este entregá-lo à secretaria municipal de planejamento. O Estudo de
Viabilidade
Urbanística é feito antes da aprovação do empreendimento, e deve apresentar os
impactos do futuro empreendimento sob três aspectos: biológico, físico e
socioeconômico. O EVU chega posteriormente as mãos da comissão de análise
urbanística, que analisará e dará um parecer sobre quais aspectos à se melhorar ou
exigir contrapartidas do empreendedor.
Em uma negociação entre a Prefeitura e a rede de hipermercados Carrefour, que
pretendia instalar uma grande unidade no bairro Passo D’Areia, o município obteve
contrapartidas em diversas áreas: no sistema viário (criação de uma nova avenida); na
proteção ao pequeno agricultor (estabelecimento de uma cota dos produtos a serem
vendidos na loja, beneficiando a produção agrícola local); no pequeno comércio local
(aumento no número de lojas no interior do empreendimento para os comerciantes
locais); na reciclagem profissional (recursos para requalificação daqueles cujos negócios
seriam afetados pelo empreendimento e reserva de parte dos empregos na loja para
pessoas acima de 30 anos); nos equipamentos sociais (construção de uma creche); na
reciclagem de resíduos (o hipermercado responsabiliza-se pelo transporte dos materiais
13
recicláveis para galpões de separação e do lixo orgânico para uma usina de
compostagem). No total, calcula-se que as negociações tenham resultado em cerca de
R$ 43 milhões de contrapartidas – revelando a capacidade dos grandes
empreendimentos de gerar recursos para ressarcir as cidades de seus impactos.
3.4 CIDADES COM O EIV REGULAMENTADO
Segundo Sampaio (2005) algumas cidade possuem o EIV regulamentado nas
suas leis municipais. São elas: São Paulo, Natal, Manaus, Porto Velho e Rio de Janeiro.
Essa cidades abrangem de forma diferentes os empreendimentos e as
características dos mesmos que deveram adotar o EIV.
3.4.1 SÃO PAULO
Segundo Sampaio (2005), a cidade de São Paulo conta com a regulamentação
deste instrumento desde 1994, quando foi instituído o Decreto nº. 34.713, que dispõe
sobre o Relatório de Impacto de Vizinhança- RIVI.
Art. 1º - São considerados como de significativo impacto ambiental, ou de infra-
estrutura urbana de projetos de iniciativa pública ou privada, referentes à implantação de
obras de empreendimento cujo uso e área de construção computável estejam
enquadrados nos seguintes parâmetros:
I. Industrial - igual ou superior a 20.000m² (vinte mil metros quadrados);
II. Institucional - igual ou superior a 40.000m² (quarenta mil metros
quadrados);
III. Serviços/Comércio - igual ou superior a 60.000m² (sessenta mil metros
quadrados);
IV. Residencial - igual ou superior a 80.000m² (oitenta mil metros
quadrados).
3.4.2 RIO DE JANEIRO
Segundo Sampaio (2005), o instrumento é tratado de forma mais rígida no Rio de
Janeiro, de forma que quando os empreendimentos não se ajustarem nos requisitos
para implantação do EIV, estes serão submetidos ao relatório de impacto ambiental
como instrumento simples de planejamento urbano, como o código de obras e
zoneamento industrial. A lei orgânica dispõe em seu art 445.
14
Art. 445 - Qualquer projeto de edificação multifamiliar ou destinado a
empreendimentos industriais ou comerciais, de iniciativa privada ou pública,
encaminhado aos órgãos públicos, para apreciação e aprovação, será acompanhado de
relatório de impacto de vizinhança, contendo, no mínimo, os seguintes aspectos de
interferência da obra sobre:
I - o meio ambiente natural e construído;
II - a infra-estrutura urbana relativa à rede de água e esgoto, gás, telefonia e
energia elétrica;
III - o sistema viário;
IV - o nível de ruído, de qualidade do ar e qualidade visual;
V - as características sócio-culturais da comunidade.
Parágrafo único - Os órgãos públicos afetos a cada item que compõe o relatório
de impacto de vizinhança responsabilizar-se-ão pela veracidade das informações
contidas nos respectivos pareceres.
3.4.3 PORTO VELHO
Segundo Sampaio Luciana, em 2001, a Lei Complementar nº 138 instituiu o Código
Municipal de Meio Ambiente que, dentre outros assuntos, trata do EIV.
Art. 60. A autorização ambiental fica condicionada a apresentação do Relatório de
Impacto de Vizinhança – RIVI, nos seguintes casos:
I – empreendimentos para fins residenciais, com área construída computável maior
ou igual a 40.000 m2 (quarenta mil metros quadrados);
II – empreendimentos, públicos ou privados, destinados a outro uso, com área
superior a 20.000 m2 (vinte mil metros quadrados);
III – empreendimentos classificados como “Pólo Gerador de Tráfego” de acordo com
o Código de Obras e Edificações ou de Posturas do Município.
15
Parágrafo único. A critério da SEMA, o RIVI poderá ser exigido de outros
empreendimentos não constantes deste artigo, visto que toda iniciativa, pública ou
privada, que interfira significativamente com o meio em que será inserida, deverá ser
submetida à apreciação ambiental desse órgão.
3.4.4 NATAL – RN
“A Lei Complementar nº 07, de 05 de agosto de 1994, que institui o Plano Diretor de
Natal-RN, trata, em seus artigos 35 a 38, dos empreendimentos de impacto e estabelece
o RIV (Relatório de Impacto de Vizinhança) como um dos estudos pertinentes. Vale
observar a responsabilidade do empreendedor em realizar obras ou adotar medidas no
sentido de atenuar, compensar ou neutralizar o impacto previsível” (Sampaio, 2005)
Art. 36 – São considerados Empreendimentos de Impacto:
I – os empreendimentos sujeitos à apresentação de RIMA – Relatório de Impacto do
Meio Ambiente, nos termos da legislação ambiental federal, estadual ou municipal em
vigor;
II – os empreendimentos sujeitos a licenciamento especial, nos termos dos arts. 31 e
33 da Lei 4.100 de 19 de junho de 1992;
III – aqueles com capacidade de reunião de mais de 300 pessoas simultaneamente;
IV – aqueles que ocupam mais de uma quadra ou quarteirão urbano;
V – qualquer empreendimento, exceto o uso residencial, cuja área construída
ultrapasse 2º (dois por cento) do estoque de área edificável prevista para o uso
pretendido, constante da Lei, para o bairro onde está localizado.
3.4.5 Manaus
É interessante que se observe no Plano Diretor de Manaus a sua minuciosidade.
Por não constar a metragem mínima balizadora, alguns itens podem ser questionados,
entendendo-se como atividades de impacto pouco significativo e, que, portanto, não
caberia EIV, como centros culturais e comerciais de reduzidas dimensões. Também
questiona-se a imposição do instrumento a equipamentos administrativos e de
segurança pública, por terem sua regulamentação por meio de outros instrumentos, que
não o EIV, como o zoneamento e o Código de Obras. (Sampaio;Luciana, 2005, p. 50).
16
4. COMPLEMENTARIDADE DO EIA E EIV
Segundo Rocco 2008, o Estudo de Impacto de Vizinhança tem por finalidade
avaliar o impacto sobre o entorno do empreendimento, bem como sobre a cidade toda. A
Constituição Federal dispõe, nos termos do § 1º, do art. 24 que caberá a União
estabelecer as normas gerais, e cabe a cada município complementar as normas gerais
de forma a torná-la mais completas de acordo as características deles, da realidade que
os cerca e do nível de desenvolvimento. “Isto é, a norma geral determinou a
competência privativa para o Poder Público municipal dispor sobre sua exigência para
empreendimentos e atividades potencialmente causadores de significativa alteração da
ordem urbanística, excluindo a possibilidade de que o referido estudo seja exigido por
órgãos estaduais ou federais”. (Rocco;Rogério, 2005, p. 11)
Já o Estudo de Impacto ambiental pode ser analisado por qualquer órgão, no
âmbito estadual, federal ou municipal, como pode ser visto abaixo:
“O EIA será analisado, na maior parte das vezes, pelo órgão estadual do
SISNAMA, uma vez que a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente estabelece que a
licença ambiental é, em regra, atribuição do órgão estadual do SISNAMA. Nos casos de
empreendimento com impacto regional ou nacional, será analisado pelo órgão federal. O
EIV será - sempre - analisado por um órgão municipal.” (Araújo, 2003, apud Rocco,
2005, p. 11)
Um risco associado à inteira liberdade dada aos municípios de complementar a lei
federal está na formulação de leis conforme a vontade dos mesmos, podendo não
condizer com a realidade encontrada, ou mesmo restringindo a participação popular na
aprovação dos EIVs.
Mas os dois estudos também guardam similaridades, como Segundo Rocco
(2005) a principal delas é a viabilização da gestão democrática do desenvolvimento, com
a garantia da participação social nos processos de deliberação de outorga nos alvarás
de licença e autorização para atividades potencialmente causadoras de degradação.
Analisando os aspectos requeridos para o EIV já citado no presente trabalho e
áqueles requeridos pelo EIA, proferido pelo art 6º da constituição
Art. 6º- (...)
17
I- o meio físico – o subsolo, as águas, o ar e o clima, destacando os recursos
minerais, a topografia, os tipos e aptidões do solo, os corpos d’água, o regime
hidrológico, as correntes
marinhas, as correntes atmosféricas;
II- o meio biológico e os ecossistemas naturais – a fauna e a flora, destacando as
espécies indicadoras da qualidade ambiental, de valor científico e econômico, raras e
ameaçadas de extinção e as áreas de preservação permanente;
III- o meio sócio-econômico – o uso e ocupação do solo, os usos da água e a
sócioeconomia, destacando os sítios e monumentos arqueológicos, históricos e culturais
da comunidade, as relações de dependência entre a sociedade local, os recursos
ambientais e a potencial utilização futura desses recursos.
Rocco (2005) respalda que , embora no estudo de impacto ambiental há uma
maior amplitude de itens a serem considerados, há uma identidades entre estes
aspectos no sentido que há uma evolução do conceito de meio ambiente natural para os
conceitos de meio ambiente cultural e construído, presentes na legislação mais recente.
Muitos do mecanismos utilizados para a e laboração do EIV forma tirados de
experiências da realização do EIA.
Ainda segundo Rocco 2005, as questões enfatizadas pelo Estudo de Impacto de
Vizinhança também podem ser entendidas como ambientais, uma vez que fazem
referência ao meio ambiente construído. Porém, elas apresentam, antes de tudo, uma
preocupação eminentemente urbanística, pautada nos princípios da função social da
cidade e da propriedade urbana. Por essa razão, o artigo 38 do Estatuto da Cidade
prevê que o Estudo de Impacto de Ambiental não supre o Estudo de Impacto de
Vizinhança.
Art. 38. A elaboração do EIV não substitui a elaboração e a aprovação do estudo
prévio de impacto ambiental (EIA), requeridas nos termos da legislação ambiental.
Fato é que a elaboração de um estudo não substitui a necessidade de elaboração
e aprovação do outro. Não se trata de uma lacuna legal. Muito pelo contrário, o
mandamento é expresso na exigência da realização dos dois estudos, de acordo com as
exigências relacionadas para cada um dos institutos. Portanto, entendeu o legislador
que ambiente e vizinhança são dois conceitos distintos e que devem ter, para as
atividades que sobre eles exerçam algum tipo de alteração em sua condição original,
instrumentos distintos para a avaliação de seus impactos
18
5. EXEMPLO DE ATUAÇÃO DO MPF FRENTE AO EIV.
No artigo de Luciana Sampaio (2005), pode-se se constatar dois exemplos de
atuação do Ministério Público Federal quanto ao cumprimento do EIV. O MPF possui
Câmara específica para assuntos atinentes a meio ambiente e patrimônio cultural, em
que os Membros contam com assessoria técnica para análise de estudos urbano-
ambientais, havendo, entre outros profissionais, arquitetos, engenheiros, geógrafos,
biólogos e antropólogos.
A título de exemplo, cabe citar a atuação do MPF quanto ao empreendimento
denominado Sapiens Parque, na cidade de Florianópolis. Trata-se de um megaprojeto
de implantação de um centro tecnológico em um terreno de 450 hectares, na região
norte da ilha de Florianópolis, localizado na vizinhança imediata de área de urbanização
consolidada, com impactos importantes sobre a malha urbana e as relações sociais
constituídas. Os empreendedores focalizaram aspectos preponderantemente
econômicos na decisão da implantação do projeto, sem avaliar corretamente os
impactos socioeconômicos decorrentes do empreendimento, em especial, a expansão
urbana acelerada na região e seu impacto na infra-estrutura existente.
As audiências públicas convocadas para apresentação do EIA-RIMA respectivo
evidenciou grande mobilização e capacidade de articulação da população atingida, que
reivindicava, dentre outros, estudo mais aprofundado das questões urbanas, em
especial da revisão do Plano Diretor para a região. O Ministério Público foi ao encontro
do anseio da população e técnicos do Instituto dos Arquitetos do Brasil-IAB, trazendo à
mesa de discussão as questões por eles abordadas. Da forma como foi apresentado, o
EIA/RIMA foi considerado insuficiente pelo Ministério Público, decisão que motivou
aplausos acalorados da audiência presente.
Outro exemplo de interesse, bastante recente, diz respeito à ACP movida pelo
MPF conjuntamente com o IPHAN, acerca de um empreendimento imobiliário na
vizinhança imediata do centro histórico de Tiradentes, em Minas Gerais. Trata-se de um
parcelamento de solo, de aproximadamente 30 hectares, para implantação de
condomínio residencial, destinado a clientela de alto poder aquisitivo. Além de
apresentar estrita ligação com o núcleo histórico tombado e ser de grande sensibilidade
ambiental, a área está inserida entre núcleos urbanos consolidados, de forma que se faz
19
necessário maior estudo das relações infra-estruturais urbanas, antes de se concluir
pela sua viabilidade.
Apesar de ter recebido a aprovação da Prefeitura, o projeto não foi submetido ao
IPHAN nem aos órgãos ambientais competentes, tornando imprescindível a atuação do
MPF na questão, que determinou a elaboração de EIV para o empreendimento.
20
6. CONCLUSÃO
Diante do trabalho desenvolvido conclui-se que o estudo de impacto de
vizinhança é um instrumento importantíssimo no que diz respeito a implementação de
uma política de controle de impacto gerado no âmbito urbanístico. Este instrumento
ainda se encontra incipiente no Brasil, mas algumas cidades já o adotam, seguindo as
características de cada local, o seu nível de desenvolvimento e o tipo de
empreendimento. O EIV nada mais é do que um complemento do EIA, uma vez que os
dois apresentam muitas similaridades, mas são instrumentos distintos em vários
aspectos, um deles é que o EIV abrange uma área mais local sendo regido por lei
municipal, já o EIA pode ser regido tanto no âmbito federal, municipal ou estadual.
21
7. REFERÊNCIAS
MORAES, I. R. O processo de urbanização e o estudo de impacto de vizinhança, 2007
.Disponível em:
<http://www.miniweb.com.br/Geografia/artigos/hidrografia/isaac_ribeiro_de_moraes.pdf>
Acesso em 14/09/2011
SIMÕES, A. P. M. P. Uma abordagem acerca do impacto de vizinhança e do
estudo prévio de impacto ambiental com instrumentos de defesa do meio ambiente
urbano, 2007 - disponível em: <http://www.conpedi.org.br/manaus/arquivos/anais/Ana
%20Paula%20Mendes%20Simoes%20Pereira.pdf> Acesso em 15/09/2011
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: doutrina, jurisprudência, glossário. São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2005.
SILVA, José Afonso da. Direito Urbanístico Brasileiro. São Paulo: Malheiros,
2006.
Disponível em : <www.a23online.com/wp-content/uploads/2010/02/Screen-shot-2010-02-
16-a. 27.28.png> Acesso em 20/09/2011
Disponível em: <www.achetudoeregiao.com.brlixo_reciclegifspoluicao.jpg> Acesso em
21/09/2011.
Disponível em: < www.ecodebate.com.brfotolixao2.jpg> Acesso em 20/09/2011.
Disponível
em :<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/plantas_on_line/
legislacao/index.php?p=12597> Acesso em 18/09/2011.
22
LEI ORGÂNICA MUNICIPAL DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. Rio de Janeiro: 1990.
Disponível em : <http://www2.rio.rj.gov.br/pgm/leiorganica/leiorganica.html#t6c5s2sb2
>Acesso em: 18/09/2011
Lei complementar nº 138 , de 28 de dezembro de 2001. Porto Velho: 2001. Disponível
em: <http://www.mp.ro.gov.br/c/document_library/get_file?
p_l_id=49484&folderId=163530&name=DLFE-38441.pdf>. Acesso em: 18 set. 2011.
Decreto nº 36.613, de 06 de dezembro de 1996, São Paulo: 1996. Disponível em:
<http://www.prefeitura.sp.gov.br/cidade/secretarias/habitacao/plantas_on_line/
legislacao/index.php?p=12597>. Acesso em: 19 set. 2011.
Diponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LEIS_2001/L10257.htm> Acesso em
19/09/2011
SAMPAIO, Luciana. Estudo de impacto de vizinhança: sua pertinência e a delimitação
de sua abrangência em face de outros estudos ambientais. Brasília: 1996. 61 p.
Disponível em: <http://4ccr.pgr.mpf.gov.br/documentos-e-publicacoes/trabalhos-
cientificos/trabalhos-cientificos/Estudo_de_Impacto.pdf>. Acesso em: 20 set. 2011.
WILLEMAM, Cyntia da Silva Almeida. Estudo de impacto de vizinhança: um instrumento
para efetivação do direito fundamental ao meio ambiente equilibrado. Faculdade de
Direito de Campos: 2007. Disponível em:
<http://www.fdc.br/Arquivos/Mestrado/Revistas/Revista10/Discente/CyntiaWilleman.pdf>.
Acesso em: 19 set. 2011.
(Texto extraído, com autorização do autor, do livro: Rogério Rocco “Estudo de
Impacto de Vizinhança – instrumento de garantia do direito às cidades
sustentáveis”, Editora Lumen Juris, Rio de Janeiro, 2005). Disponível em:
<http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/spm/usu_doc/rogerioroccoeiv_-
_capitulo_a_parte.pdf> Acesso em: 23/09/2011
23
Estudo de impacto de vizinhança. Seminário Cresce Brasil -Região Metropolitana da
Grande Florianópolis. Disponível em: http://docs.google.com/viewer?
a=v&q=cache:FHT02TGvGpEJ:www.fne.org.br/fne/index.php/fne/content/download/
2114/13934/file/ImpactoVizinhan
%25E7a.pdf+O+SOLO+URBANO+É+PALCO+DE+DIFERENTES+INTERESSES+POR+CLA
SSES,+ETINIAS,+RELIGIÕES,+ECONOMIAS,
+IDADES&hl=ptBR&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESgK9PQDaZa9IcOxjoagVKwh3tx2WTFq1q
bNg3S6XskoH6cdbiHek2L657i51lGNuEfl8zhsCe72UfiICAS_9Fwpu3cDVJYVH4uKxemWnJK
gQRmiGPIr6vp7FMeRpmWaSYgBIg9a&sig=AHIEtbT8gCCbLQU55hVNWr5zh41hH3jqDQ –
Acesso em 26/09/2011
24